a memória coletiva em “pelo fundo da agulha” · sobretudo pelas recordações do protagonista...

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A memória coletiva em “Pelo fundo da agulha” Cláudio Márcio da Silva (UNEMAT) [email protected] Resumo: O presente artigo tem como objetivo central discutir o conceito de memória de Maurice Halbwachs e suas possíveis relações com a obra Pelo fundo da agulha de Antônio Torres. Como uma obra do Modernismo brasileiro, a narrativa se apresenta de forma fragmentada, sem formar uma identidade única, mas fomentando uma rede que é tecida por angústias e buscas. O romance se constrói por lembranças das vivências de outrora, o que representa a memória do sujeito, envolvendo passado e presente, deixando de lado a linearidade da narrativa. Enfatizando o estudo desenvolvido por Maurice Halbwachs sobre o caráter de coletividade da memória, busca-se aplicar seus estudos no romance em questão. O enfoque desta análise é discutir como algumas tradições, costumes e conhecimentos são mantidos e cultivados pelo protagonista quando esse relembra de sua mãe, buscando também entender como as múltiplas facetas da memória atuam no romance moderno e como ela influencia na construção da identidade das personagens e do próprio romance. A justificativa para a escolha do tema paira sobre sua contemporaneidade, além da expectativa de contribuir para o âmbito acadêmico. O método de pesquisa empreendido segue natureza qualitativa, com pesquisa do tipo bibliográfica. Palavras-chave: Memória Coletiva, Antônio Torres, Romance, Literatura Brasileira. Abstract: This paper has as main objective to discuss the concept of memory brought by Maurice Halbwachs and its possible relations with the book Pelo fundo da agulha written by Antônio Torres. A Brazilian Modernist book, the narrative presents itself in a fragmented way, without forming a unique identity, but fostering a network that is woven by anxieties and searches. The novel is constructed by memories of the experiences of the past, which represents the memory of the subject, involving past and present, leaving behind the linearity of the narrative. Emphasizing the study developed by Maurice Halbwachs about the collective character of memory, it is sought to apply his studies inside the novel. The focus of this analysis is to discuss how some traditions, customs and knowledge are maintained and cultivated by the protagonist when he remembers his mother, also trying to understand how the multiple facets of memory work in the modern novel and how it influences the construction of the identity of the characters and of the novel itself. The justification for choosing the theme hangs on its contemporaneity, in addition to the expectation of contributing to the academic field. The research method followed is qualitative, with bibliographic research. Keywords: Collective Memory, Antônio Torres, Novel, Brazilian Literature. Introdução No século XX, a literatura rompe com as velhas formas de narrar. A mistura entre ficção e realidade, e o emprego, cada vez mais frequente da não linearidade fragmentou a narrativa, descentralizando o núcleo temático. A memória impõe ao romance novos modos de narrar.

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A memória coletiva em “Pelo fundo da agulha”

Cláudio Márcio da Silva (UNEMAT)

[email protected]

Resumo: O presente artigo tem como objetivo central discutir o conceito de memória de

Maurice Halbwachs e suas possíveis relações com a obra Pelo fundo da agulha de Antônio

Torres. Como uma obra do Modernismo brasileiro, a narrativa se apresenta de forma

fragmentada, sem formar uma identidade única, mas fomentando uma rede que é tecida por

angústias e buscas. O romance se constrói por lembranças das vivências de outrora, o que

representa a memória do sujeito, envolvendo passado e presente, deixando de lado a linearidade

da narrativa. Enfatizando o estudo desenvolvido por Maurice Halbwachs sobre o caráter de

coletividade da memória, busca-se aplicar seus estudos no romance em questão. O enfoque

desta análise é discutir como algumas tradições, costumes e conhecimentos são mantidos e

cultivados pelo protagonista quando esse relembra de sua mãe, buscando também entender

como as múltiplas facetas da memória atuam no romance moderno e como ela influencia na

construção da identidade das personagens e do próprio romance. A justificativa para a escolha

do tema paira sobre sua contemporaneidade, além da expectativa de contribuir para o âmbito

acadêmico. O método de pesquisa empreendido segue natureza qualitativa, com pesquisa do

tipo bibliográfica.

Palavras-chave: Memória Coletiva, Antônio Torres, Romance, Literatura Brasileira.

Abstract: This paper has as main objective to discuss the concept of memory brought by

Maurice Halbwachs and its possible relations with the book Pelo fundo da agulha written by

Antônio Torres. A Brazilian Modernist book, the narrative presents itself in a fragmented way,

without forming a unique identity, but fostering a network that is woven by anxieties and

searches. The novel is constructed by memories of the experiences of the past, which represents

the memory of the subject, involving past and present, leaving behind the linearity of the

narrative. Emphasizing the study developed by Maurice Halbwachs about the collective

character of memory, it is sought to apply his studies inside the novel. The focus of this analysis

is to discuss how some traditions, customs and knowledge are maintained and cultivated by the

protagonist when he remembers his mother, also trying to understand how the multiple facets

of memory work in the modern novel and how it influences the construction of the identity of

the characters and of the novel itself. The justification for choosing the theme hangs on its

contemporaneity, in addition to the expectation of contributing to the academic field. The

research method followed is qualitative, with bibliographic research.

Keywords: Collective Memory, Antônio Torres, Novel, Brazilian Literature.

Introdução

No século XX, a literatura rompe com as velhas formas de narrar. A mistura entre ficção

e realidade, e o emprego, cada vez mais frequente da não linearidade fragmentou a narrativa,

descentralizando o núcleo temático. A memória impõe ao romance novos modos de narrar.

Assim, procuraremos neste artigo mostrar diferentes formas de memória na narrativa Pelo

fundo da agulha (2006), de Antônio Torres. É por meio da memória que a narrativa se

desenvolve, numa busca incessante pelo que foi vivido, pelo entendimento de fatos e situações

que desencadearam o hoje. Num primeiro momento, por meio dos estudos propostos por

Maurice Halbwachs (1990) sobre a problemática da memória na contemporaneidade,

abriremos um espaço de discussão sobre a memória e seu caráter de coletividade. Num segundo

momento, objetiva-se analisar criticamente essa problemática na narrativa em questão,

observando a sua influência na constituição do romance. A memória individual materializa-se

sobretudo pelas recordações do protagonista Totonhim que embalado pela imagem de sua mãe

já velhinha, mas lúcida o bastante e com uma visão tão apurada que ainda é capaz de enfiar,

sem ajuda dos óculos, a linha de costura pelo fundo da agulha. Por meio dessa imagem,

Totonhim, como se olhasse por esse orifício, relembra várias cenas de sua vida, figuras que só

existem em sua memória. Porém, como afirma Connerton, “a narrativa de uma vida faz parte

de um conjunto de narrativas que se interligam, está incrustada nas histórias dos grupos a partir

dos quais os indivíduos adquirem a sua identidade”. Assim, por meio da lembrança de um

membro da família, uma memória individual, também é transmitida a memória coletiva.

A fim de problematizar a memória, a metodologia usada baseia-se na pesquisa em livros

e artigos dentro da área de conhecimento da literatura, com o intuito de estabelecer apoio

teórico para a análise e interpretação do romance em questão e problematizar o caráter de

coletividade que a memória ganha dentro da obra. As discussões feitas neste trabalho buscam

contribuir para uma problematização do romance brasileiro no tocante à memória,

demonstrando múltiplas facetas desta na literatura brasileira moderna.

Algumas considerações acerca da memória

Nas palavras de Walter Benjamin, a ausência de experiências vem caracterizando a

narrativa e isso vem causando um certo esvaziamento da obra (BENJAMIN, 1936, p. 198),

afetando não apenas seu conteúdo temático, mas sobretudo sua estrutura, tornando-a mais

sucinta e curta. Nesta nova forma de narrar, além da tensão frequente entre as personagens e o

meio, a literatura também se problematiza propondo uma discussão entre o que é ficção e o que

é realidade na trama, e é justamente esta tensão que afeta o modo tradicional de contar uma

estória, fragmentando gêneros como o romance. Aqui entra em cena a memória, e sua

capacidade de misturar realidade e fantasia, percepção e interpretação. Ela possibilita, com a

ajuda de dados emprestado do presente, a reconstrução do passado.

O discurso sobre a memória é muito antigo. Nenhum indivíduo poderia memorizar

todos os títulos que desde a Antiguidade até hoje fazem referência à memória. Considerados

como fundadores das pesquisas sobre o assunto, Henri Bergson, na filosofia, Freud, na

psicanálise e Proust na literatura, trazem grandes contribuições para o tema. Na literatura, a

memória estabelece vínculos desde os tempos remotos, vêm de quando a palavra literatura

ainda nem existia, mas ainda era chamada de poiesis, ou poesia. Remonta a Homero, quando

esta poesia era a base da cultura e da educação grega, uma forma de conservação das práticas

já que a escrita ainda era muito restrita e a poesia tinha um papel fundamental: narrar o passado,

contar a história. A memória, sem dúvida, tem algo a ver não só com o passado, mas também

com a identidade e, assim (indiretamente), com a própria persistência no futuro.

Ela é fonte de interesse de várias áreas, como a história, a antropologia, a neurociência

e a psicologia, por exemplo, mas como tema, seu estudo não se esgota somente com essas

ciências. Seu conceito é amplo e complexo, e apresenta variações ao longo do tempo e da

sociedade a qual integra. Para pensar o romance em questão, utilizaremos preferencialmente

os estudos de Maurice Halbwachs, que traz significativas contribuições para o campo de

estudo.

Com o crescimento das pesquisas no campo da memória, seu estudo também chegou às

artes, sobretudo na narrativa. Especificamente na literatura, a memória aparece nas relações de

lembrar e narrar, apresentando movimento e dinamismo ao se ficcionalizar, assim

universalizando-se. As experiências vividas e as imaginadas fundem-se na arte de narrar a fim

de driblar o cronológico, o efêmero datado, a limitada particularidade. Este jogo traz para a

narrativa o passado e presente.

À primeira vista, quando se fala em memória, pensa-se tratar-se de um fenômeno

individual, algo relativamente íntimo, próprio da pessoa. Mas segundo os estudos do teórico

que serve de base para este texto, a memória deve ser entendida como um fenômeno coletivo

e social, ou seja, como um fenômeno construído coletivamente e submetido a flutuações,

transformações, mudanças constantes, seja em relação ao espaço, seja em relação ao tempo.

Vários elementos a constituem, individual ou coletivamente, e eles podem traduzir-se em

acontecimentos vividos pessoalmente, ou em grupo:

São acontecimentos dos quais a pessoa nem sempre participou mas que, no

imaginário, tomaram tamanho relevo que, no fim das contas, é quase

impossível que ela consiga saber se participou ou não. Se formos mais longe,

a esses acontecimentos vividos por tabela vêm se juntar todos os eventos que

não se situam dentro do espaço-tempo de uma pessoa ou de um grupo. É

perfeitamente possível que, por meio da socialização política, ou da

socialização histórica, ocorra um fenômeno de projeção ou de identificação

com determinado passado, tão forte que podemos falar numa memória quase

que herdada. (POLLAK, 1992, p. 2).

Os acontecimentos e transformações espaciais que marcam tanto uma região quanto um

grupo podem, graças à memória, ser transmitidos ao longo dos séculos com altíssimo grau de

identificação. A memória também pode se constituir por pessoas, personagens e lugares. Esses

elementos, particularmente ligados à lembrança, podem por vez constituir ou modificar a

identidade do sujeito. A identidade está essencialmente fundada pela memória, ela é uma linha

que liga o sujeito ao passado, e não apenas ao passado que ele próprio viveu. Segundo Pollak,

a identidade é formada de três elementos essenciais: pertencimento ao grupo; continuidade

dentro do tempo; finalmente, o sentimento de coerência, ou seja, de que os diferentes elementos

que formam um indivíduo são efetivamente unificados. Para ele, se um desses sentimentos de

unidade se rompem, fenômenos patológicos surgem. Então, “a memória é um elemento

constituinte do sentimento de identidade, tanto individual como coletiva, na medida em que ela

é também um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerência de

uma pessoa ou de um grupo em sua reconstrução de si”. (POLLAK, 1992, p. 05).

Maurice Halbwachs (1990), sociólogo francês, aborda a questão da memória de um

ponto de vista coletivo. Para ele, a memória nunca é exclusivamente individual, uma tábula

rasa, mas sim composta do que ele chama de “quadros sociais da memória”. Mesmo que se

considere a memória individual, que nunca é isolada ou fechada, ao evocar o passado tem-se a

necessidade de apelar às lembranças dos outros para se reportar a pontos de referência que

existem no mundo exterior e que são fixados pela sociedade. “Mais ainda, o funcionamento da

memória individual não é possível sem esses instrumentos que são as palavras e as ideias, que

o indivíduo não inventou e que emprestou de seu meio” (HALBWACHS, 1990 p. 54). Isso

reforça o pensamento de que a memória é sempre constituída em grupo, condição necessária

já que as lembranças dependem de sua ausência e/ou presença nesse grupo. Durkhein, de quem

Halbwachs era discípulo, já evocava a impossibilidade de se localizar lembranças sem tomar

como referência quadros sociais que ajudam na reconstrução da memória. Apesar de coletiva,

Halbwachs também destacava a presença da memória individual, mas esta rememoração

pessoal está atrelada dentro de malhas sociais de solidariedade múltipla, traduzidas pela

linguagem.

Mas nossas lembranças permanecem coletivas, e elas nos são lembradas pelos

outros, mesmo que se trate de acontecimentos nos quais só nós estivemos

envolvidos, e com objetos que só nós vimos. É porque, em realidade, nunca

estamos sós. Não precisamos que outros homens estejam lá, que se distingam

materialmente de nós: porque temos sempre conosco e em nós uma

quantidade de pessoas que não se confundem. (HALBWACHS, 1990, p. 26).

Em outras palavras todo indivíduo possui, ou já possuiu, um grupo de referência, com

o qual estabeleceu uma rede de pensamentos. Assim, na construção da memória, recorre-se

também a grupos como a família, a religião e a classe social, materializados não pela presença

física, mas pela possibilidade de reviver os modos de pensamento e a experiência comum desse

grupo. São as relações desses grupos constituem a lembrança, que não se trata de sentimentos

isolados, mas necessita de uma comunidade afetiva sem a qual cai no esquecimento. É o apego

da comunidade, com seus dados e noções partilhadas, que permite lembrar:

[...] desde o momento em que nós e as testemunhas fazíamos parte de um

mesmo grupo e pensávamos em comum sob alguns aspectos, permanecemos

em contato com esse grupo, e continuamos capazes de nos identificar com ele

e de confundir nosso passado com o seu. Poderíamos dizer, também: é preciso

que desde esse momento não tenhamos perdido o hábito nem o poder de

pensar e de nos lembrar como membro do grupo do qual essa testemunha e

nós mesmos fazíamos parte, isto é, colocando-se no seu ponto de vista, e

usando todas as noções que são comuns a seus membros. (HALBWACHS,

1990, p. 29).

Mesmo que a memória coletiva envolva memórias individuais, aquela não se confunde

com esta, uma vez que a coletiva evolui segundo suas leis e “se algumas lembranças individuais

penetram algumas vezes nela, mudam de figura assim que sejam recolocadas num conjunto

que não é mais uma consciência pessoal.” (HALBWACHS, 1990, p. 53/54). Portanto, é

impossível realizar a rememoração e a localização das lembranças dissociadas dos contextos

sociais que servem para auxiliar na reconstrução da memória. Os espaços, os lugares e

sobretudo os grupos que ali habitam facilitam o ativamento da lembrança. Assim, a memória

se constrói a partir do contato dos indivíduos uns com os outros em uma mesma sociedade ou

grupo social. Trata-se de um trabalho de reconstruir o que se foi a partir do que se é, porque as

memórias que guardamos não são imagens exatas do acontecido, mas aquelas que nossa

consciência atual nos apresenta, mas que devido a sutileza e ao fortalecimento que o tempo traz

às relações, banalizam-se passando despercebidas no dia-a-dia.

A coletividade influência até na rememorização e no conhecimento das categorias

cronotópicas de tempo e espaço. No espaço, alguns elementos ativam lembranças contidas na

memória e, sem elementos, talvez essas lembranças caíssem no esquecimento. Até mesmo

objetos têm a capacidade de guardar marcas e lembranças de acontecimentos. “Nosso entorno

material leva nossa marca e a dos outros. Nossa casa, nossos móveis e a maneira segundo a

qual estão dispostos, o arranjo dos cômodos onde vivemos, lembram-nos nossa família e os

amigos que víamos geralmente nesse quadro”. (HALBWACHS, 2007, p. 130). Quando um

grupo está inserido numa parte do espaço, ele a transforma à sua imagem, ao mesmo tempo em

que se sujeita e se adapta às coisas materiais que a ele resistem. Mesmo o tempo é uma

representação coletiva. Novamente tomando Durkhein como base, Halbwachs (1990, p. 90)

observa que um indivíduo isolado poderia ignorar o tempo que se esvai, e se achar incapaz de

medir a duração, mas que a vida em sociedade implica que todos os homens se ajustem aos

tempos e às durações, e conheçam bem as convenções das quais são objeto. O tempo está

dividido da mesma maneira para todos os grupos e membros da sociedade, o diferencial é a

consciência da duração.

Para Ecléa Bosi (1987) a memória seria o lado subjetivo de nosso conhecimento das

coisas, um cabedal infinito do qual só registramos um fragmento. Analisando a obra de Henri

Bergson, ela alerta que:

A memória permite a relação do corpo presente com o passado e, ao mesmo

tempo, interfere no processo “atual” das representações. Pela memória, o

passado não só vem tona das águas presentes, misturando-se com as

percepções imediatas, como também empurra, “desloca” essas últimas,

ocupando o espaço todo da consciência. (BOSI, 1987, p. 47).

Ecléa diz ser importante frisar que para Bergson, o universo das lembranças não se

constitui do mesmo modo que o universo das percepções e das ideias, uma vez que de um lado,

tem-se o par percepção-ideia, nascido no coração de um presente corporal contínuo; de outro,

o fenômeno da lembrança, cujo aparecimento é descrito e explicado por outros meios. O

discurso de Bergson centra-se no como se dá a passagem da percepção das coisas para o nível

da consciência, da lembrança. Para ele, não há percepção que não esteja impregnada de

lembranças.

Aos dados imediatos e presentes dos nossos sentidos nós misturamos milhares

de pormenores da nossa experiência passada. Quase sempre essas lembranças

deslocam nossas percepções reais, das quais retemos então apenas algumas

indicações, meros signos destinados a evocar antigas imagens. (BOSI, 1987,

p. 46).

Essa lembrança é uma forma de conhecimento, uma espécie de escavação ou de busca

voluntária entre os conteúdos da alma.

O mundo em que vivemos há muito está cheio de lugares nos quais estão

presentes imagens que têm a função de trazer alguma coisa à memória.

Algumas dessas imagens, como acontece nos cemitérios, nos lembram

pessoas que não mais existem. Outras, como nos sacrários ou nos cemitérios

de guerra, relacionam a lembrança dos indivíduos à dos grandes eventos ou

das grandes tragédias. Outras ainda, como acontece nos monumentos, nos

remetem ao passado de nossas histórias, à sua continuidade presumível ou

real com o presente. Nos lugares da vida cotidiana, inúmeras imagens nos

convidam a comportamentos, nos sugerem coisas, nos exortam aos deveres,

nos convidam a fazer, nos impõem proibições, nos solicitam de diversas

maneiras. (ROSSI, 201, p. 23).

A memória é busca constante do lembrar, o combate à ameaça do esquecer, é uma

constante luta contra o esquecimento. Extremamente ligada ao ato de viver, uma vez que todos

os grupos humanos possuem memória, ela está sempre evoluindo, deformando-se, vulnerável

a todos os usos e manipulações impostas pelo esquecimento.

Tem um papel de resgate da identidade do sujeito, já que nela há um movimento que

vai do presente em direção ao passado. Assim, a forma como acontece a reconstrução dessas

recordações são importantes não apenas para a reconstituição de fatos, mas também para as

representações e construção de identidade, permitindo a relação do corpo presente com o

passado e, ao mesmo tempo, interferindo no processo atual das representações.

Pelo fundo da agulha

O escritor e jornalista Antônio Torres nasceu no interior da Bahia num lugarejo

anteriormente conhecido como Junco, mas que hoje é denominado de Sátiro Dias. Aos vinte

anos mudou-se para São Paulo e atualmente reside no Rio de Janeiro. Com uma obra expressiva

que abrange onze romances, um livro de contos, um livro para crianças e um livro de crônicas,

o escritor já foi condecorado com importantes prêmios, tanto no Brasil (Prêmio Machado de

Assis e Prêmio Jabuti), como no exterior (Chevalier des Arts et des Lettres - França).

Seu primeiro romance foi Um cão uivando para a Lua (1972), que causou tamanho

impacto que logo na estreia levou o autor a ser considerado pela crítica “a revelação do ano”.

Porém, seu grande reconhecimento veio em 1976, com a publicação de Essa terra, que mais

tarde se transformaria numa trilogia. A narrativa, que se passa na pequena cidade de Junco, a

mesma cidade do autor, aborda a questão do êxodo rural de nordestinos em busca de uma vida

melhor no Sudeste, principalmente São Paulo. O romance dialoga com uma tradição da

literatura brasileira: discutir o nordestino como tema de ficção, principalmente a questão da

migração para grandes centros em busca de melhores condições de vida. Nessa narrativa, feita

em primeira pessoa, o migrante aparece na forma de protagonista dotado de voz, e não

abordado sobre uma perspectiva externa do narrador em terceira pessoa.

Tamanho foi o sucesso de Essa terra, que a história de Totonhim, o protagonista da

narrativa, prossegue em mais dois romances, formando uma trilogia. Em 1997 é publicado O

cachorro e o lobo, que dá continuidade da saga. “E assim se passaram vinte anos, pensarei, ao

chegar lá. Assim se passaram vinte anos sem eu ver estes rostos, sem ouvir estas vozes, sem

sentir o cheiro do alecrim e das flores do mês de maio” (p.17), relembra Totonhim ao regressar

à Junco, por ocasião do aniversário de 80 anos de seu pai. Mesmo desempregado e não

conseguindo a prosperidade esperada em São Paulo, Totonhim consegue representar o papel

de homem bem-sucedido, distribuindo presentes e festejando com seus conterrâneos.

No último romance da trilogia, Pelo fundo da agulha (2006), vencedor do Prêmio

Jabuti, por meio da imagem de sua mãe passando uma linha pelo fundo da agulha, o

protagonista Totonhim, imóvel e deitado numa cama, quase pegando no sono, faz um balanço

da trajetória de sua vida, desde sua saída de Junco, aos vinte anos de idade, até sua vida em São

Paulo – o ingresso no Banco do Brasil, o casamento com a filha do general, sua vida de casado,

de separado e, finalmente, de aposentado. A associação livre da memória une elementos

irremediavelmente separados pela vida.

Esse relato se dá exatamente dez anos depois da sua única viagem de retorno a terra

natal. O protagonista está sozinho em sua primeira noite de aposentado, num quarto de hotel.

Não tem nada para fazer. Aposentou-se, separou-se da mulher e dos filhos, perdeu o melhor

amigo e faz outra viagem de volta a Junco, mas desta vez, totalmente interior. Embalado pela

imagem da mãe velhinha, mas ainda com boa visão para enfiar a linha pelo fundo da agulha,

sem usar óculos, ele repassa várias cenas de sua vida, como se a olhasse por esse orifício. As

figuras só existem na memória de Totonhim.

Essa trilogia de romances do escritor baiano Antônio Torres, como muitos outros livros

da atual literatura brasileira, ficcionaliza representações da pobreza e da marginalidade, dos

excluídos, personagens migrantes, bem como as divagações do personagem Totonhim, que

pela memória, busca a construção de sua identidade. Esses romances narram o complexo

processo de migração de nordestinos para a cidade de São Paulo, bem como a encruzilhada

cultural a que são lançados. As obras são marcadas pela mobilidade e estadias efêmeras que

acabam caracterizando personagens sem raízes.

Elas têm em comum a preocupação com questões importantes, que estão no cerne das

discussões da atual literatura: a mobilidade/deslocamento, questões de identidade,

territorialização, por meio da trajetória do protagonista Totonhim. A migração e o trânsito de

personagens têm marcado de forma acentuada a ficção brasileira contemporânea em romances

e contos. A literatura tem se caracterizado pela intensificação dos atuais processos de

globalização, tematizando os deslocamentos e as mudanças nos espaços urbanos e tantas outras

realidades, elegendo a mobilidade e a pluralidade de vozes como marca textuais.

A memória

Pelo fundo da agulha (2006), de Antônio Torres conta a história do acerto de contas

entre Totonhim e suas memórias de Junco por meio da narração de uma viagem que integra

elementos que foram inevitavelmente separados pela vida. Ela fecha a trilogia do migrante,

ou do suicídio, como também é conhecida. Totonhim retoma diversas passagens de sua vida

em uma construção clara de memórias, como se visse essas imagens justamente pelo fundo

dessa agulha. As figuras que vê existem somente na memória de Totonhim, que conta sua

história em São Paulo.

Nesse sentido, a memória aparece como ponto inicial para a análise de todo o

conteúdo da obra, já que conforme as narrativas se desenrolam, em uma incessante busca

pelo que foi vivenciado, por entender fatos e situações que levaram ao hoje, é possível

reconhecer a ideia de memória que foi anteriormente apresentada com os conceitos de

Halbwachs.

Ao contrário dos dois anteriores, onde o próprio Totonhim contava a história, às vezes

dividindo o relato com outras personagens, neste o enredo narrado por um narrador em terceira

pessoa, por meio do discurso indireto livre que centra-se nas memórias e delírios do

protagonista, conferindo uma ideia de distanciamento do passado. Seu título pode ser associado

ao trabalho de amarração, costura, das partes diversas da memória na confecção da narrativa,

produzindo uma visão abrangente da vida de Totonhim, da infância a velhice. Este romance

inicia-se com Totonhim, dez anos, após a visita ao pai, narrada em O cachorro e o lobo, já

aposentado do banco, abandonado pela família, entrega-se a solidão e deitado na cama, começa

a rememorar sua trajetória de vida, abordando as circunstâncias que o levou àquela situação

presente. Ali, ele traz a tona todo o seu passado, desde sua infância pobre e sofrida em Junco,

até seu abandono na metrópole.

Se em O cachorro e o lobo a figura central é o pai, agora a personagem coloca a mãe

como destaque, lembrando que mesmo louca, velha e internada num asilo, ela ainda possui a

habilidade de passar uma linha pelo fino e estreito buraco de uma agulha. “[...] Como o coentro

e o alecrim. Os cheiros que o faziam lembrar de sua mãe, que sempre chorava, ao cortar uma

cebola. Na última vez em que a viu – e isso fazia muito tempo –, ela se ocupava em enfiar uma

linha pelo fundo de uma agulha, sem óculos. (TORRES, 206, p. 16).” É esse o fato que

desencadeia as lembranças da vida de Totonhim, que se emergem de maneira não cronológica,

mas misturadas a sonhos, devaneios e imaginações, que o levam para fora do mundo racional

a ponto de ele estabelecer um diálogo com mortos. Embalado nessas lembranças, Totonhim

entra em transe, numa espécie de semiconsciência, até que, horas depois, finalmente adormece

e só desperta no dia seguinte, bem otimista.

Ao se reencontrar com a mãe, as lembranças de Totonhim vão girar principalmente em

torno dos eventos mais significativos de sua vida: suas primeiras relações sexuais, juras de

amor para as antigas namoradas, a vinda para São Paulo, amigos que o ajudaram a entender a

complexidade dessa cidade tão grande, o triste fato de seu irmão Nelo ter saído de Junco em

busca das maravilhas e do sucesso da cidade grande, mas que acaba com sua própria vida. Em

Junco, por meio da memória, Totonhim conversa com sua mãe internada em um sanatório e

esse fato o leva a perceber, a tomar consciência que sua vida passou muito rápido, que acabara

como a mãe, o pai e tantos outros habitantes do sertão: só e abandonado. Assim, toma para si

o papel de reconstruir sua trajetória individual e coletiva, contra o esquecimento. Ao

rememorar, repensa suas perdas e seus ganhos com a migração do sertão, imagina como seria

seu retorno, seu contato com a família, sobretudo seu reencontro com a mãe.

Segundo o autor, Pelo fundo da agulha foi “uma reflexão sobre este crepúsculo do

mundo em que vivemos. Um pós-utópico, pós-modernista, pós-tudo”. Por trás dos impasses de

Totonhim estão os impasses de cada um, de toda uma geração e que de repente todos se veem

“jovens, adultos e velhos, numa encruzilhada do tempo, em busca de uma saída para o futuro”.

Com o deslocamento das pessoas e suas vivências, acontece também o dos valores,

comportamentos e condições de vida.

Apesar de se tratar de um narrador onisciente, sua voz não excede o limite de visão da

personagem. Ele só revela ao leitor aquilo que Totonhim conhece e sabe. Só vê e sabe aquilo

que a personagem também vê, sabe, pensa ou lembra, compartilhando a todo momento do

ponto de vista da personagem. Esta forma de narração confere um efeito especial na narrativa,

já que o narrador apresenta-se como se fosse a própria personagem fora de seu corpo, a observa-

la.

Para reconstruir suas memórias, Totonhim apela para um vínculo importante na vida

social e para a construção das relações: o vínculo materno. Antes, envolto no automatismo

imposto pela cidade grande, seu passado era praticamente anulado, a personagem não sentia

necessidade de revisita-lo. Ao resgatar o passado de Totonhim, o narrador seleciona eventos

que ora se apresentam como traumáticos, ora saudosos e até curiosos, distribuídos em

diferentes momentos de sua vida. Ao relembrar a mãe, a força do trauma de vê-la louca e

internada é muito forte e o toma mais do que qualquer outra lembrança, por mais trágica que

ela tenha sido, como o suicídio do irmão. E a imagem da ausência do sorriso na velha perpassa

todas essas lembranças:

Se, ato contínuo, aquela reclamante senhora lhe sorrisse, ao enfiar a linha no

fundo da agulha sem a ajuda de óculos, ele iria achar que tinha ganhado a

viagem.

Por mais que puxasse pela memória, não conseguia se lembrar de tê-la visto

sorrir, uma única vez. (TORRES, 2006, p. 202).

Por meio da leitura dos outros romances que compõem a trilogia, sabe-se que o

protagonista não constrói uma relação tão próxima com sua mãe já que ela não escondia sua

preferência pelo irmão mais velho, Nelo, tido como o salvador: “O exemplo vivo de que a

nossa terra também podia gerar grandes homens [...] (TORRES, 2013, p. 14). Por isso seu

suicídio é tão nefasto e provoca diversas reações em seus entes: seu pai isola-se em sítio e vira

alcóolatra, passando a conversar com a galinhas; suas irmãs fogem para as cidades vizinhas

com os primeiros que aparecem, muitas se submetendo a prostituição, Totonhim foge para São

Paulo, porém, é a mãe que tem o pior de todos os destinos, é nela que a tragédia se projeta com

maior intensidade. A perda do filho mais estimando a faz enlouquecer e cabe a Totonhim a

difícil missão de interna-la em um sanatório no mesmo dia do enterro do irmão.

Que outra coisa poderia ter feito, ao vê-la se bater contra uma parede, a rasgar-

se, unhar-se, por não haver suportado o trágico reencontro com o seu filho

pródigo? Não ele. O outro. O que voltara para se matar. Ela não suportou a

dor pelo final tão infeliz de um destino que lhe parecia glorioso [..]. Ainda se

lembrava da pergunta que ela fazia, enquanto a levava para o hospício:

- Vamos passear? Estamos passeando, não estamos?

Aquilo foi de doer. Fundo. (TORRES, 2006, p. 206).

Aliás, as relações familiares não são algo duradouro na vida das personagens, que

terminam se apresentando como vítimas do mundo globalizado, cujas consequências

envolvem, especialmente esse intenso individualismo. Isso passa a permear todas as relações,

que se tornaram e tornam cada vez mais efêmeras.

Assim, temos aqui uma memória que se faz, que se constrói a partir do contato com o

outro. Mesmo sem a presença física da mãe, sua imagem permite o ativamento das lembranças,

fazendo com que a narrativa se realize. Já idoso, Totonhim se vê no papel de homem de

memória, cuja função é lembrar. Claro que ele quebra o elo com os grupos aos quais pertencia

ao se mudar para São Paulo, mas as memórias de Junco ainda existem, só não contarão com a

ajuda de outros na sua reconstrução. As memórias de Totonhim vão aos poucos construindo a

figura do deslocado, que se apresenta apenas com a memória do passado longínquo do povo

de Junco e do passado dos grupos dentro de São Paulo.

Ao se voltar para o passado, a personagem o faz principalmente retomando os espaços

partilhados com a família em busca de reanimar seu presente e mesmo que se esforce em buscar

lembranças felizes, são poucas as que consegue trazer de volta. Sua memória traz para o

presente imagens dolorosas. Os destinos trágicos compõem a maior parte da memória de

Totonhim, e a da mãe louca o marca de maneira especial.

O que ele escolhe de importante e significativo para ser recontado enquanto referência

só é possível por ser ele um indivíduo socializado, condicionado (no sentido de aprendizado já

internalizado, como lavar pratos ou dirigir um veículo), e isso é delineado pelas lembranças,

pela memória que não são só dele, mas do grupo ao qual pertence, ou pertenceu. Segundo a

teoria de Halbwachs, o que a personagem lembra e o que define suas memórias são em parte

trechos e recordações da memória de seu grupo familiar. A menor alteração do ambiente atinge

a qualidade íntima da memória. Veja esta outra lembrança que Totonhim traz de sua mãe, e

que é recorrente na narrativa:

Do que não conseguia se lembrar: do seu sorriso. Será que nunca tinha visto

a sua mãe sorrir, pelo menos uma vezinha na vida? Também, com tanta

consumição... Uma gravidez atrás da outra. Filhos e mais filhos. Cueiros para

trocar. Panos para lavar. Pratos, panelas e máquinas de costura. Não teria sido

feliz com o homem com quem se casara, o senhor meu pai? Nem com a

condição de mulher parideira, a exigir-lhe duros sacrifícios? Com o que ela

sonhava, enquanto enfiava a linha pelo fundo de uma agulha? Como teria

visto o mundo, olhando-o unicamente através de um minúsculo buraco?

(TORRES, 2006, p. 16).

Ao narrar, observando que sua memória não é capaz de se recordar do sorriso da mãe,

a personagem não conta apenas que a mãe se projetava como alguém infeliz. Ela conta também

que absorveu essa percepção de não demonstração de alegria da mãe como sinal de infelicidade

e insatisfação, de não realização com a experiência que se aflorou naquele momento da

narração e que foi trazida ou por seus pares, amigos, outros entes, enfim, pessoas com as quais

conviveu. Ela evoca uma memória que não é só dela. Por meio dessa lembrança impactante:

uma mulher forte o bastante para criar muitos filhos por meio de seu trabalho como costureira,

força que é ressaltada por elementos simbólicos como agulha, linha e dedal, mas que ao longo

do tempo é anulada pelo sofrimento, primeiro com as dificuldades impostas pelo próprio sertão,

depois pela perda de sua propriedade para um banco e logo depois a decepção e o sofrimento

com o suicídio do primogênito, que faz com que ela perca o vigor, até perder a sanidade e ser

internada em um hospício, a personagem retoma um conhecimento já construído e deseja estar

junto da mãe, para saber como ela via o mundo por meio daquele ínfimo buraco. Ao retomar

as memórias de Junco, ele conversa com a mãe, então internada no sanatório, e nota que a vida

lhe passou muito ligeira.

A narrativa é o retrato da história de um homem que, como tantos outros homens e

mulheres reais, ao se aposentar, se mune de um sentimento de viver em um não-lugar, sem

saber se possui sonhos próprios ou se segue caminhos. Totonhim relembra sua vida por meio

de metáforas e memórias de uma cidade, de um tempo, de uma vida que nem existe mais.

Espaço e tempo que são representados por meio dos pensamentos desse protagonista,

permeado por suas idas e vindas, o que se torna uma forma de representação do próprio

movimento migrante que se encontra em um eterno dilema de habitar dois mundos que se

opõem.

O leitor é colocado diante de uma personagem que se entrega às suas próprias

divagações e incertezas, direcionando suas preocupações temáticas as quais deve orientar-se

para organizar toda a trama, essas preocupações giram sobre aspectos o estrangeiro e a

metrópole, mas também o homem isolado, sem relações familiares, e o sentimento de

estranhamento resultante dessa relação.

Totonhim, de alguma forma, narra com desencanto ao ver a sociedade brasileira dos

últimos anos. A representação dessa memória coletiva ocorre por meio do cidadão cujas

raízes foram fragmentadas, até se perderem totalmente, destituídas cada vez mais de vínculos,

esperanças, alegrias, etc. Todas as personagens se envolvem em situações que não são

capazes de criar vínculos entre pessoas. Por isso o narrador relembra toda a sua vida mas não

consegue chegar efetivamente até os seus, não é capaz de romper com esse abandono e

descaso. Torres cria um querer sem querer, ou ausente de coragem para o enfrentamento de

medos, nesse espaço a angústia se torna lugar comum, implacável e residente em toda a

trajetória humana.

Bibliografia

BENJAMIN, Walter. O narrador. In: BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, arte e política:

ensaios sobre literatura e história da cultura. 2. ed., Brasiliense, 1986. [Obras Escolhidas. v. 1]

BOSI, E. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo, T.A. Queiroz, 1979.

HALBWACHS, M. A Memória coletiva. São Paulo, Vértice/Revista dos Tribunais, 1990.

POLLAK, Michel. Memória e Identidade Social. Disponível em

http://reviravoltadesign.com/080929_raiaviva/info/wp-gz/wp

content/uploads/2006/12/memoria_e_identidade_social.pdf. Acesso em 20/08/2017.

ROSSI, Paolo. O passado, a memória, o esquecimento: seis ensaios da história das ideias.

São Paulo: Unesp, 2010.

TORRES, Antonio. Essa terra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013.

________. O cachorro e o lobo. Rio de Janeiro: Record, 1997.

________. Pelo fundo da agulha. Rio de Janeiro: Record, 2006.