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    A melhor argumentao sobre a Invaso do IraqueMaro 21, 2008 porcarlos sacramento

    O caso a favor da guerra (reposio e desenvolvimento), de Joo Miranda

    Alguns Blogs tendem a reduzir o caso a favor da guerra do Iraque s posies doPentagono, ou posio americana ou questo das armas de destruo macia. Noentanto, a discusso sobre a guerra no Iraque foi muito mais rica e no pode serreduzida s posies simplistas que agora so atribudas aos defensores da interveno.O que se segue a minha justificao da Guerra contra o Iraque, escrita no dia 9 deMaro de 2003 publicadaaqui. Publico-a outra vez para mostrar que a existncia dearmas de destruio macia no Iraque foi/ para mim irrelevante para a justificao daguerra.

    1 Todo e qualquer ser humano tem o direito fundamental vida, liberdade e participao poltica numa democracia. Saddam Hussein viola sistematicamentetodos estes direitos dos iraquianos, logo o uso da fora para acabar com o regime

    iraquiano legtimo.2 Saddam Huessein um apoiante declarado do terrorismo em Israel;

    3 Saddam Hussein violou consecutivamente 17 resolues das Naes Unidas,incluindo a ltima. Logo, o uso da fora contra o Iraque legtimo.

    4 Um sistema legal internacional que no possua meios para impor as suas decisespela fora intil.

    5 Os EUA e o Reino Unido defendem a nica soluo no utpica para a violao dosdireitos humanos no Iraque e para forar o cumprimento das resolues da ONU.

    6 Os pacifistas defendem apenas a continuao do Status Quo o que significa a

    perpetuao da ditadura, da violao sistemtica dos direitos humanos, da violaode resolues da ONU e da ameaa militar iraquiana. Nenhum pacifista defendeu at aomomento uma soluo para o problema do Iraque. Alis, para os pacifistas nem parecehaver um problema.

    Perante esta situao, eu apoio a nica soluo vivel para o problema, como alis japoiei a invaso do Afganisto e as intervenes na Bosnia e no Kosovo.

    [Nota: antes da guerra j se sabia que o Iraque tinha violado a 17 resoluo doConselho de Segurana. O Iraque no colaborou activamente com os inspectores daONU como era obrigado a colaborar e no declarou, como era obrigado a declarar, odestino das armas qumicas e biolgicas que existiam em 1991. O destino dado a estasarmas nunca foi esclarecido.]

    A interveno americana no Iraque acabou com um regime desptico e puniuadequadamente as violaes constantes das decises do Conselho de Segurana. A

    presena dos americanos e dos britnicos no Iraque continua a ser a nica soluo noutpica para a transformao do Iraque num pas livre e democrtico. A esquerdacontinua sem solues para o Iraque, com a excepo das utopias que envolvem a ONU,a Frana e a Alemanha. A esquerda ainda acredita na teoria dos patriotas iraquianos quedefendem o seu pas da ocupao anglo-saxnica. A esquerda ainda no percebeu queos alegados patriotas so terroristas (em todos os sentidos possveis da palavra), muitosdos quais estrangeiros, que parecem mais interessados em combater a democracia, os

    prprios iraquianos, a ONU e a Cruz Vermelha, do que em combater os ocupantes.

    Aps meses de discusso parece que muitos Blogs de esquerda no perceberam de todoos argumentos dos vrios Blogs da UBL. Ningum defendeu a interveno do Iraque

    http://agorasocial.wordpress.com/author/carlossacramento/http://agorasocial.wordpress.com/author/carlossacramento/http://groups.yahoo.com/group/argumentos-critica/message/6695http://groups.yahoo.com/group/argumentos-critica/message/6695http://groups.yahoo.com/group/argumentos-critica/message/6695http://agorasocial.wordpress.com/author/carlossacramento/
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    seria uma soluo perfeita para os problemas do mundo. Ningum defendeu que osEUA faziam a guerra por altrusmo. Ningum defendeu que o problema ficariaresolvido de um dia para o outro. Foi defendido, em vrios Blogs, que a interveno eraa melhor das solues possveis e que todas as solues possveis eram imperfeitas.Vrios Bloggers explicaram que apoiavam a interveno americana, no porque

    acreditavam na bondade dos americanos, mas porque acreditavam no seu egosmo.

    Resumo

    Este artigo discute as possveis imbricaes entre as proposies das teoriasda argumentao e a pesquisa compreensiva dos significados sociais dateleviso. O autor prope uma crtica humanista s teorias sobre as mquinasde comunicar de nosso tempo, considerando-as como portadoras da essnciada comunicao humana. Funda sua anlise no exame do pathos aristotlico,em contraponto ao ethos e ao logos, tambm do mesmo filsofo. Faz adiscusso dos aportes para o mesmo tema das teorias da argumentao

    contemporneas, sobretudo, das proposies de Philippe Breton. Conclui coma sugesto de adoo do paradigma da argumentao como baseepistemolgica e suporte metodolgico do campo da comunicao como umtodo e dos estudos especficos sobre a comunicao televisiva.

    Palavras-chave: retrica, televiso, argumentao.

    Abstract

    This article discusses the possibles relations between the propositions of thetheories of argumentation and the comprehensive research of the television

    socials meanings. The author proposes a humanist critic for theories about thecommunication machines of our time, considering as support of the humancommunication essence. His analysis is about the Aristotles pathos exam,opposing ethos and logos, also the same philosopher. He discusses thecontributions for the same subject of the actual argumentation theories, abovethe Philippe Bretons propositions. He concludes with the suggestion of theargumentation paradigm adoption as epistemology basis and methodologysupport for the all communication field and the specifics studies about televisioncommunication.

    Key-words: rhetoric, television argumentation.

    Introduo(*)

    Primeiramente, necessrio fazer uma distino, como j a fez Breton (2002;2003), entre os meios de comunicao humanos e os feitos atravs do uso deobjetos ou de mquinas. Os meios mais antigos so aqueles provenientes docorpo, que desde a pr-histria usado para a comunicao interpessoal. Osde longa existncia, inventados nas primeiras civilizaes da face da Terra, soos objetos onde se pode gravar a comunicao humana e pereniz-la para usopresente e futuro. Os mais recentes so os que usam de mquinas paratransmitir, receber ou estocar. Os dois ltimos (objetos e mquinas) fundiram-se em um s sistema de meios tcnicos, como um dos efeitos da revoluo

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    industrial. Mas, mantiveram, como no exemplo do objeto-livro, uma autonomiasignificativa, enquanto objetos de uso social.

    Continua-se, como h milnios, a comunicar atravs do gesto, da fala (um tipoespecfico de exerccio da mirade das possibilidades da gestualidade humana)e da capacidade de produzir objetos que contenham imagens que outros

    possam observar. Da imagtica, representando coisas e idias, desenvolveu-se a escrita e todas as demais representaes grficas que funcionam comoelementos significativos de troca de mensagens.

    Se no se compreende o outro, se nada se quer comunicar ou se desejademonstrar algum desagrado, usa-se do silncio vocal ou monossilbico e deoutros tipos de reaes corpreas que os indiquem e transmitam, semprecomunicando.

    Se a escritura imagem, a imagem tambm escritura, podendo uma sertraduzida pela outra, sem serem iguais ou equivalentes. Susan Sontagacreditava na superioridade da palavra sobre a imagem, idia tambm

    compartilhada por Jos Saramago. No h dvida que o texto um meio decomunicao com qualidades excepcionais, podendo traduzir o logos humanode modo mais completo. Para os no-letrados ou pouco versados nacompreenso do escrito, a imagem o que existe, bem como o som, que nomundo de hoje, quase sempre acompanha a imagtica.

    O audiovisual sem dvida o principal veculo das representaesmidiatizadas maqunicas desenvolvidas na ltima centria. Entretanto, aconversao ordinria, em toda a sua complexidade, continua a estar muitopresente no cotidiano, sendo portadora, da emoo e da razo dos homens edas mulheres de nosso tempo. Os meios de comunicao humanos e tcnicosso cumulativos, por mais que as transformaes tecnolgicas impliquem

    mudanas nos segundos e fortes influncias nos primeiros.Um modelo hegemnico aceitvel da comunicao atual seria o de pessoasconversando, considerando-se como parte desta troca o forte impacto do queouviriam e veriam nas mdias maqunicas. A troca de mensagens teria comoreferncias: as culturas armazenadas como memrias; as experincias efetivasrelativas s suas inseres sociais (trabalho, estudo, relaes afetivas etc); oimpacto de curto, mdio ou longo prazo dos hbitos de ver televiso e deescutar rdio.

    O impacto de ler jornais, revistas e livros, usar a internet etc seria, por hora,no-hegemnico, quando se refere maioria da populao humana, em

    especial, a do hemisfrio sul. Mesmo onde a leitura no tem maior espaosocial e a oralidade dominante, tais influncias existiriam por efeito indireto.Este seria produzido pelo fato das mdias formarem um sistemaintercomunicante, resultando, por exemplo, que no seria preciso ler os jornaispara saber, pelo menos de modo sumrio, o que neles est noticiado, via aconversao, o rdio ou a televiso.

    Nem todos vo ao cinema, mas o cinema vai a todos pelo mesmo caminho,facilitado nos dias que correm pelas tecnologias do vdeo. Uma parcela temacesso internet, mas a grande maioria sabe de sua existncia e tem algumasinformaes sobre o que se trata. Obviamente, a partir deste modelohegemnico, poder-se-ia construir outros, relativos a segmentos especficos. O

    que se pretende superar o modelo habermasiano (1989; 2002), onde acomunicao fundamentalmente a conversao entre dois ou mais falantes

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    que conseguiriam dialogar de modo racional e chegariam ao entendimentomtuo. Neste, a intervenincia das mdias no mencionada ou consideradacomo fator significativo.

    As mdias maqunicas de nosso tempo no substituram de fato os meioshumanos de comunicao. Em dois sentidos, estes ltimos continuam sendo

    os mais importantes. No primeiro, o que transmitido por essas mdias antesproduzido por seres humanos reais. Estes so sujeitos sociohistricos ouoperacionais que viabilizam a existncia do contedo que as perpassam. O que produzido reflete, mesmo que de modo oblquo e sem que a nitidez seja umaregra, o contexto histrico, poltico, social e cultural envolvente. No segundo, arecepo interage com a emisso, demonstrando que a viabilidade dacomunicao depende do seu efeito social.

    No se acredita, como MacLuhan (1993), que as mdias contemporneassejam extenses do homem. Pensa-se que isto uma concepo organicista,que antropomorfiza as mquinas, dando-lhes uma relativa autonomia dos seussujeitos humanos. Ao se dizer que o homem tem como extenso um aparatomaqunico, estar-se-ia falando que os seres humanos so tambm mquinas,de modo invertido e especular.

    O anti-humanismo um dos problemas do pensamento contemporneo, cadavez mais mercantil e tecnoflico. Desde os idos da proposio de Turing (1950,1995) (Pode-se construir mquinas que possam pensar?) e da ciberntica deWiener (1950, 1971), insiste-se na idia da substituio vantajosa do homempelos artefatos da tecnocincia. Tal insistncia, derivada da adesoincondicional aos artefatos por esta produzidos, consiste em uma (im)posturade grande apelo miditico em nossa poca.

    O carter religioso destas propostas evidente por sempre se apontar para

    um futuro radioso, onde as mquinas corrigiriam os defeitos humanos. Neste,no se necessitaria mais da transcendncia e a f seria fortemente apoiada emum materialismo pragmtico. A nova transcendncia, da new age,constantemente apontada pelas grandes mdias e pelos diversos artefatos dasindstrias culturais, seria a da transformao do homem em maquinrioreprogramado para a felicidade eterna. O seu oposto mais visvel atecnofobia que se refugiaria na simples negao e na apresentao dealternativas passadistas.

    Dentre os meios tecnocientficos de comunicao atuais, continua-sedestacando, pelo menos no Brasil, a televiso como mais importante esocialmente influente destes. curioso que a discusso dos seus significadosno seja proporcional sua dimenso sociohistrica. Fala-se muito mais dainternet do que da televiso, invertendo-se o pndulo da importncia social doveculo.

    A moderna caixa de Pandora

    Acredita-se que muito da discusso sobre os significados da internet sejaaplicvel ao uso social da televiso. O mapeamento dos contendores similar.Na arena argumentativa sobre a TV, lutam os partidrios da tecnofilia, da

    tecnofobia e os que buscam uma alternativa mais equilibrada. H os queacreditam na naturalizao deste objeto social e na sua utilidade apriorstica e

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    persiste como referncia industrial e simblica. Ao grande pblico, nointeressa os aspectos tecnolgicos mais complexos referentes ao maquinrioque permite a televidncia. Alis, a televiso pouco esclarece sobre o seufuncionamento.

    Na maior parte dos casos, tal como no cinema, as cmeras, os cabos, as

    antenas, as artificialidades dos cenrios e os segredos dos auditrios, osteleprompters, o cromakey, as salas de edio, o pessoal que trabalha nasatividades de apoio etc no so mostrados. Em muitas situaes, at mesmo atemporalidade apagada, quando se esquece de se informar aos televidentesque se trata de imagens pr-gravadas ou simplesmente no se diz quando agravao foi feita. Fatos semelhantes ocorrem com a origem das imagens,gerando vrios tipos de confuso e de possibilidades manipulatrias.

    Assistir TV parece ao grande pblico estar na frente de uma tela mgica,colada em uma caixa poderosa que recebe e transmite o que as pessoas vemou acham que assistem. Cabe ao televidente aceitar o que v ou por emdvida a veracidade e eticidade da fora das imagens, sons e, sobretudo,idias recebidas. Obviamente, as possibilidades de compreenso dostelevidentes tm limites que saem de seu estrito controle, tanto do ponto devista individual, como do coletivo. Esses limites so os mesmos de qualqueroutro sujeito histrico e social, dependendo da posio ocupada e das reaispossibilidades de interpretao das mensagens.

    Se por um lado, a interatividade simblica da relao entre a televiso e seupblico tem claros contornos de evidncia da influncia da recepo, por outro,no possvel crer que no h limites impostos pela posio ocupada pelosvrios sujeitos envolvidos. Os interesses dos anunciantes, da empresaprodutora e do poder concedente (tambm importante anunciante e

    sustentador econmico do veculo) disputam espao em condio de vantagemcom os anseios e desejos do grande pblico. Acredita-se que dependendo docontexto, a pugna entre estes diferentes sujeitos tem desfechos nem sempreprevisveis. Mimetizando a vida social, o espelho translcido da TV tende adanar conforme a msica, sendo um dos elementos do contexto polticodominante.

    Argumentao e televiso: emoes, tica e razo

    O parmetro bsico da compreenso da televiso, aqui defendido, baseia-sena concepo de que ela um meio de comunicao tcnico que veicula meios

    de comunicao humanos. Como efeito deste, acredita-se que a pesquisasobre o tema deve valorizar a identificao destes ltimos e tentar entend-losa partir de suas funes sociais. Nesta senda, a TV no s imagem, som enegcios. Acredita-se que estes, viabilizando a existncia deste meio,terminam por ser suportes da parole humana, esta compreendida no sentidodado por Breton (2003), de substncia bsica da comunicao.

    A parole, no se resume palavra. Trata-se de toda e qualquer manifestaooriunda do corpo, do gesto ao texto, da imagem escrita, da voz, msica erudos aos seus registros, do projeto arquitetnico s edificaes, da idia aoobjeto, da conversao literatura etc.

    Estudar aparole televisiva implica colocar a discusso sobre os significados dateleviso no campo das modernas teorias da argumentao, sem esquecersuas origens remotas na antiga retrica. Esta descrita em obra especfica da

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    faina de Aristteles e de grande influncia no pensamento ocidental.Denomina-seArte Retrica e dividida em trs livros. Neles, as possibilidadesde articulao da argumentao, com todas as suas tecnicalidades ecaractersticas humanas so discutidas exausto.

    Neste artigo, tem-se maior interesses pelo livro segundo, o que trata do

    pathos, do ethos e do logos. O sbio grego, em uma interpretao atual daparole humana, descreveu e analisou vrias possibilidades das manifestaesemocionais (pathos), a questo da moral e da tica (ethos) - que para eledependia do carter individual - e as regras do estabelecimento de argumentosracionais, comprovados e compreensveis (logos).

    notvel a importncia dada ao pathos, descrito em detalhes, enquantopaixes humanas. Estas seriam baseadas em sentimentos menos nobrescomo os da inveja e do dio extremado, bem como, haveria outros modos desentir mais palatveis como a indignao e a compaixo. H, neste filsofo, acompreenso de que argumentar um modo de ser humano, umcomportamento, algo que vem do interior de cada pessoa. Como ele acreditavana separao entre corpo e alma, argumentar para ele era manifestar o desejode cada alma, persuadir ao outro a partir das emoes e das razes do oradore de seus auditrios.

    Aristteles entendia que a argumentao logocntrica era mais elaborada emenos natural, isto , precisava ser ensinada e desenvolvida. O pathosrivalizava com o logos, isto , as caractersticas humanas naturais tendiam apesar mais na estruturao da comunicao. O ethos, entendido como umproblema de carter individual, portanto, ainda mais naturalizado, foi menosdiscutido, possivelmente, por efeito da crena em sua inelutabilidade. Oracionalismo de feio antiga implicava na sada logocntrica como busca do

    equilbrio, da calma reiterada pelo clebre autor.Nos dias que correm, curiosamente, fecham-se os olhos para os problemascriados pelas emoes. Tende-se a ach-los menores e sem importncia. Emoutra vertente, como a habermasiana, as consideram como psicopatolgicos eas tratam como doena ou perturbao do esprito. Entretanto, a emoo jorraem profuso impressionante de todas as mdias humanas e tcnicas. Sente-semuito sobre qualquer mazela humana conhecida de perto ou noticiada.Choram-se cntaros no cancioneiro popular, nas conversas interpessoais sobrequestes afetivas, nas telenovelas, nos filmes de qualquer cepa, no teatro, nordio e na televiso. Estas emoes so legtimas, mesmo que, por vezes,alienadas. Representam o sofrimento humano e o reconhecimento coletivo de

    pertencimento ao universo.A parole televisiva, tal como a conhecemos no hemisfrio sul e em boa partedo norte, fundamentalmente tributria do pathos, tal como o descreveAristteles. A conversao ordinria, matria de grande importncia televisiva,reproduz a idia do sentimento como raiz da vida. A razo, nos sentidos dadospela lgica formal aristotlica e os surgidos a partir da poca das Luzes presente em espaos restritos, onde o logos combina-se com o pathos, semnecessariamente domin-lo. O ethos vem a reboque, no como uma razo domesmo, e sim como uma decorrncia natural.

    Em um exemplo negativo, regularmente explorado:

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    Se no gosto de algum, lcito dizer aos outros que o meu alvo nopresta, mesmo que eu no possua provas cabais ou no possasustentar logicamente o meu dio.

    Este comportamento, baseado em premissas subjetivas raramente reveladasou admitidas, recorrente nas telenovelas, em programas de auditrio, deentrevistas etc. No distante da vida cotidiana das mais variadas classes egrupos socioculturais. Obviamente, o mesmo exemplo pode ser lido oupraticado de modo invertido, falando-se bem de quem se gosta, sem qualquersustentao, alm da emocional. Quem assim se comporta, tem seu ethosadaptado s circunstncias, considera que isto natural e possui comoreferncia as crenas compartilhadas pelos extratos sociais de que faz parte.

    Revisando e atualizando os conceitos aristotlicos, no se acredita que a ticaseja natural ou um problema de cada indivduo. Ao contrrio, assim como noh moral a priori, tal como pensava Kant, no existe tica fora do domnio da

    vida, tal como foi demonstrado por Habermas (1989; 1992). Ela precisa serensinada pela sociedade de que se faz parte, bem como ocorre com asnoes de sentimento e do que seja defensvel como racional. Portanto, ologos, o pathos e o ethos so fundamentos argumentativos apreendidossocialmente, que refletem a posio em que estamos e as crenas quecompartilhamos com os demais.

    Desde Aristteles, a teoria da argumentao defronta-se com um dilemaintrnseco. Pode-se argumentar com a razo, buscando-se comprovar o que seest afirmando, em um sentido compreensivo e universal. Na vida cotidiana, omais comum que a conversao seja mais pautada pela emoo quetambm possui regras, acordadas socialmente. Amar e odiar no so

    sentimentos naturais. preciso aprender o que se deve amar, de que se deveter inveja, o que leva a se ter clera, indignao e compaixo. No sbio gregoencontra-se tanto a argumentao derivada do pathos, como a oriunda nologos.

    Em autores modernos, como Perelman (1958; 2002), o pathos vira atorsecundrio e mesmo no-argumentativo. O esforo do pensador belga foi o defornecer um roteiro para a produo de argumentos racionais ad humanitaten,isto , os que serviriam razo e se definiriam por sua universalidade. Para tal,foi preciso criticar veementemente os argumentos ad hominem, chamados depseudo-argumentos por se basearem no preconceito e nos lugares comuns, ouseja, no movimento entre a tradio, o mito e o senso comum (opinio), todossocialmente compartilhados.Se Perelman estivesse vivo e fosse convidado a assistir a televiso abertabrasileira, incluindo o seu telejornalismo, talvez dissesse que a maioria dosargumentos usados no se enquadraria em suas proposies judicirias.Poderia chegar concluso de que os televidentes estariam sendo enganadose impedidos de usar a razo. Se tivesse preconceitos com os brasileiros, oautor belga, possivelmente, diria que o visvel, nos canais com maior audincia,refletiria a baixa cultura dos televidentes e suas incapacidades de pensar demodo mais sofisticado. Defenderia, certamente, a tese de que o poder judiciriodeveria enquadrar a produo televisiva nas leis que criticam a explorao da

    boa f pblica, a propaganda abusiva de supersties e outros modosirracionais de ver a vida.

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    O problema que as culturas brasileiras atuais, com suas mltiplas origens,foram forjadas em outra histria. Esta tem cnones especficos e muito maispontos de vinculao com o mundo ibero-americano e, de modo maisgenrico, com a realidade dos pases do hemisfrio sul. Nossas elites, demodo ambguo e contraditrio, sempre desejaram ser europias ou norte-

    americanas (mais recentemente). Entretanto, a fora de nossas culturas abarcatodos, mesmo os que as negam, forjando modos de ser e de argumentaroriginais. Por mais que a televiso por aqui sofra influncia dos modelos deoutros pases, temos um modo especfico de a fazer, e isto quer dizer queconseguimos levar para a telinha mgica a marca de nossas culturas e denossos problemas.

    Na medida em que a televiso superou sua fase inicial de entronizao notecido social, em todo o mundo, ela passou a fazer parte do conjunto dosobjetos sociais disponveis para o uso das comunidades. Acredita-se queassisti-la no ver os sons e as imagens idnticas aos existentes em cadalugar fsico onde so produzidas. O que ela reproduz so representaes e no

    poderia ser diferente disto, porque junto com as imagens existem escolhas, umolhar, isto , um modo de ver o mundo. A lgica especular imprpria para aanlise, isto se considerada sem os turvamentos e obliqidades que lhes soimanentes. Feitas estas ressalvas, bom lembrar da importncia universal dateleviso. verdade que o grau de uso social bem maior em alguns pases ebem menor em outros. Em todos os casos, o mundo v televiso e os estadose sociedades utilizam-na como objeto significativo de transportes de suasparoles.

    No h dvida que este meio tcnico de comunicao audiovisual consiste emalgo que permite dependendo de seu uso social de uma aproximao maiorcom a maioria do que a experimentada pelos demais meios. Deve-seconsiderar sua instantaneidade e forte tendncia de acompanhar o desenhosocial. No Brasil, a partir da dcada de 1970, com nfase quase absoluta, aparole televisiva tambm a do poder, do consumo, da moral e dos costumes.Portanto, pode-se dizer que o estado e a sociedade brasileiros dialogam com epor meio da televiso, transformada por aqui em nossa mais importante formade fazer circular o que se diz e se pensa.

    Concluses

    Acredita-se que as teorias da argumentao mais recentes tm aportadocontribuies epistemolgicas e metodolgicas significativas para acompreenso dos processos comunicacionais. O trabalho de Breton de trazeresta discusso para o campo da comunicao um dos sintomas derenovao. Sua proposio da teoria da parole d flego novo compreensode como os homens e mulheres se comunicam com ou sem a mediao deobjetos e mquinas.

    O autor francs divide a parole, que para ele a essncia da comunicao,em trs elementos (gneros) intercambiveis: a informao, a expresso(emoes e gostos) e a argumentao. Diz que a parole pode ser diferenciadaquando se consegue ou se prope (esclarece) a presena destes trs

    elementos. Seria indiferenciada, quando no h distino. Os mesmoselementos estariam misturados, convivendo sob algum imprio especfico.

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    Pensa-se que o fator mais comum da indiferenciao o da prevalncia daexpresso, salvo nos casos onde o fenmeno comunicacional racionalmenteexpressivo, como o do gosto esttico.

    A expresso, isto , o imprio da emoo, que consiste em sua principalcaracterstica, tem a capacidade de portar de modo controlado e pouco visvel

    a informao e a argumentao lgico-racional. isso possvel ver nastelenovelas, nos telejornais mais expressivos, nos programas de auditrio e naconversao do cotidiano. A expresso, se demasiada e incontida, torna difcilo acesso aos elementos informativos e s possveis construesargumentativas e compreensivas. Em suma, veda-se a possibilidade de seproduzirem conhecimentos racionais e se apela para alguma forma deirracionalismo.

    Diferentemente do racionalismo assptico do passado, no se demoniza aemoo, tal como se fosse uma perverso do esprito. No se concorda queem todos os casos a expresso emotiva seja necessariamente um problemapsicopatolgico. A combinao entre a argumentao e a expresso que nostornaria humanos, ou ainda mais humanos, porque nos permitiria atravs doverbo a compreender com mais proficincia os problemas da vida e a encontrarsolues mais satisfatrias e realistas.

    Por fim, defendem-se as modernas teorias da argumentao, sem esquecerdas contribuies da antiguidade, como potentes instrumentos para aconstruo da epistemologia dos estudos comunicacionais e como inspiraopara novas abordagens metodolgicas.

    (*)Texto apresentado e debatido na Comps de 2005.

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