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Aula 4 A Matriz Curricular de Arte no Ensino Fundamental Profa. Me. Ana Beatriz Buoso Marcelino Período: 24/09 a 07/10 Carga horária: 08 horas

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Au

la 4

A Matriz Curricular

de Arte no Ensino Fundamental

Profa. Me. Ana Beatriz Buoso Marcelino

Período: 24/09 a 07/10

Carga horária: 08 horas

Conversa inicial • Prezados(as) cursistas

Nosso curso continua a caminhar contando com a positiva participação de todos. Nesta aula nossa conversa será focada no ensino de arte nas séries iniciais do Ensino Fundamental atrelado à PHC.

Bons estudos!

Conteúdos da aula

Nesta aula iremos abordar sobre: • O estudo de Arte e sua aplicação nas

séries iniciais do Ensino Fundamental;

• Jogo de papéis e Atividade de estudo;

• Orientações metodológicas.

Antes de começarmos, vamos relembrar...

• Nas aulas anteriores tratamos sobre os temas: – A arte e sua importância para a formação

humana;

– Os pressupostos básicos da PHC;

– Funções psíquicas superiores, as relações sociais e a formação da subjetividade;

– Características gerais da Matriz Curricular de Arte para o Ensino Fundamental Municipal;

– Teoria da Atividade e Periodização do desenvolvimento humano.

Agora, iremos retomar esses conceitos, articulando-os com os conteúdos desta aula.

Nesta aula...

• Iniciaremos nossa reflexão a partir do vídeo disponível no link:

https://www.youtube.com/watch?v=U4oxwpH_-kM

No vídeo a arte-educadora Ana Mae Barbosa aborda sobre a importância do ensino de Arte no contexto escolar, destacando como um Ensino de Arte de qualidade é capaz de desenvolver no aluno as funções psicológicas superiores: a percepção, imaginação, criação e crítica e, por conseguinte, maior autonomia, liberdade e consciência social.

Arte-educação e a PHC Como vimos, tanto Vygotsky quanto Ana Mae

Barbosa consideram a importância da Arte para a formação humana, sobretudo, para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores. Partindo desse pressuposto surge a questão:

Como proceder para que o ensino de arte possa contribuir para essa formação?

Pensando-se nos anos iniciais do EF...

Nos anos iniciais do Ensino Fundamental a criança encontra-se, sobretudo, no primeiro ano, numa fase de transição, considerando-se os períodos do desenvolvimento, da educação infantil para o Ensino Fundamental. Nesse período a atividade guia da criança é o Jogo de papéis. A partir do ingresso no ensino fundamental, por volta dos seis anos, a criança entra na Atividade de estudo, por estar constantemente em contato com o saber sistematizado oferecido, sobretudo, pelo professor.

Considerando-se o Ensino de Arte, iremos tratar, inicialmente, sobre a atividade do Jogo de papéis, levando-se em conta a fase de transição da criança da Educação Infantil para o primeiro ano do Ensino Fundamental.

Nessa fase do desenvolvimento da criança o trabalho com as diferentes linguagens artísticas é fundamental, partindo da ludicidade como norteadora das ações pedagógicas.

A ludicidade na Arte-educação

O lúdico apresenta uma grande versatilidade que possibilita inovar sempre, fazendo com que o educador seja um facilitador da aprendizagem, garantindo uma participação mais ativa dos educandos.

Um trabalho pautado em desafios estimula a criança a reagir positivamente.

Usar jogos para ensinar Arte resulta em uma estratégia metodológica que desenvolve o autodomínio da conduta, resiliência, concentração, foco e atenção, habilidades indispensáveis para o sucesso do aprendizado.

O brinquedo é a essência da criança, e reflete-se também no desenvolvimento dos maiores, no período de alfabetização estética, respeitando as fases do desenvolvimento de cada uma.

Aprender brincando

Um trabalho pautado apenas pela livre expressão, sem orientação do professor e a proposição de um saber sistematizado, o aprendizado pode ser comprometido pela desmotivação, insegurança e inconstância. Perde-se o poder de decisão, crítica, e questionamentos, facilitando a formação de sujeitos apáticos, meros reprodutores de conceitos e sem ideais estabelecidos.

Para que a função educativa do jogo seja garantida, é necessária sua efetivação dentro do planejamento escolar, priorizando-se conteúdos embasados teoricamente e trabalhados de forma sistematizada, de modo a garantir a eficácia do aprendizado.

As proposições devem ser claras e objetivas para o educando, fazendo com que o mesmo tenha consciência de que está aprendendo brincando!

Os jogos de grupos são hábeis de desenvolver e coordenar diferentes pontos de vistas, pro-atividade, atenção, foco, autonomia, resiliência e respeito, desenvolvem a comunicação e a criatividade, integrando e equilibrando o sentir, o pensar e o agir.

Os jogos também facilitam no desenvolvimento do autodomínio da conduta, numa integração mais criativa com meio, e oportunizam uma comunicação simbólica e autêntica entre as pessoas.

Jogos podem trazer reflexão, ordem, desordem, construção e desconstrução de ideais, de mundo, de ideias, de experiências ou das mais variadas relações. Possibilitam uma abertura para o novo, tornando possível que as pessoas se expressem de forma diferenciada.

Quando os conteúdos são inseridos por meio do lúdico, seja um jogo ou uma brincadeira, estabelecem-se vínculos entre os estudantes e o professor. Essa dimensão afetiva, segundo Vygotsky, é fundamental para o despertar do sentido de se aprender, gerando a motivação necessária para a qualificação do processo de ensino-aprendizado.

Atividades educativas que se utilizam do lúdico também resolvem, muitas vezes, problemas de convivência e socialização, minimizando conflitos no contexto escolar.

Ferraz e Fusari (1993) consideram importante a inclusão do brinquedo e da brincadeira como parte integrante dos métodos e procedimentos incorporadas às aulas de Arte, pois as experiências com brincadeiras, quando estruturadas adequadamente, podem motivar processos construtivos e expressivos dentro dos conteúdos da disciplina.

O jogo pode ser utilizado para introduzir conteúdos, verificar aprendizagem, fixar conceitos já estudados e ainda resgatar conteúdos anteriores. Essa prática favorece uma melhoria na relação interpessoal, havendo ainda um reforço nos valores de respeito, reciprocidade e confiança.

Mas, como a Arte pode se inserir no

Jogo de papéis?

Jogo de Papéis

• Jogo de Papéis ou Brincadeiras de papéis sociais é uma atividade mediadora do desenvolvimento da criança no período de 3 a seis anos.

• Esse termo surgiu dos estudos de Vygotsky que o denominou “faz de conta”, sendo desenvolvido por Leontiev e Elkonin, que o intitula como Jogo protagonizado.

Na aula anterior foi possível observar no filme UP – Altas Aventuras que os personagens brincavam de jogos de papéis ao fazerem o uso de situações imaginárias, realizando sequências de ações correspondentes à vida real (do mundo dos adultos), utilizando-se de objetos e conhecimentos das relações sociais estabelecidas na situação de exploradores.

O que, provavelmente enriqueceu a brincadeira destes personagens?

Antes de responder a esta questão, vamos entender o Jogo de Papéis:

Na primeira infância a criança começa a examinar os objetos, manipulando-os individualmente, e não se interessam pela brincadeira de outras crianças.

OBJETO – AÇÃO - PALAVRA

Com as crianças menores, o objeto em si determina o seu uso.

PALAVRA – OBJETO - AÇÃO

Quando a criança começa a utilizar seu próprio nome, ou seja, identifica-se com alguém que executa uma ação realizada pelos adultos, é o primeiro indício para a preparação para os jogos de papéis.

Existe um sentido entre a palavra e o sistema de ações nela implícitas.

A ação com os objetos simbólicos auxilia a criança a separar a ação do objeto com o qual está habitualmente relacionada na vida real e auxilia a mesma na tomada de consciência da ação como tal.

A palavra pode substituir o objeto, já que os objetos são considerados símbolos e devem corresponder, de alguma forma, como objeto ausente.

Por que a criança brinca de jogos de papéis?

A criança de três anos tende a querer satisfazer seus desejos imediatamente. Porém, há uma contradição entre o desejo de agir sobre o objeto do mundo adulto e sua impossibilidade de dominar as operações exigidas por essas ações.

Ela resolve a contradição colocando um objeto substituto no lugar de um objeto real e o utiliza imitando o uso que o adulto lhe confere. O conteúdo e a sequência da ação devem corresponder a ação real.

Porém, no Jogo de Papéis...

“Não basta para a criança contemplar um carro em movimento ou mesmo sentar-se nele; ele

precisa agir, precisa guiá-lo, comandá-lo”. (LEONTIEV, 1988)

Como é a atividade da criança no Jogo de papéis?

Passa a ver o adulto, sobretudo, pelo lado de suas funções.

Há uma necessidade da criança em agir não somente sobre os objetos, mas também no mundo do adulto, em suas relações.

A brincadeira é uma atividade na qual o seu motivo está no seu próprio processo, seu alvo está na ação em si mesma e não no seu resultado.

No Jogo de papéis a ação da criança não é um fim em si mesma, possui sempre um sentido auxiliar e limita-se a representar o papel com caráter sintético, abreviado e íntegro. (ELKONIN, 2009)

No filme Up Altas aventuras, o personagem percorreu o Monte Everest, o

Grand Canyon e um pico em apenas alguns segundos, sintetizando o que, na

vida real, levaria mais tempo.

“Assim, as ações próprias das crianças se objetivam na forma de ações de outra pessoa e, com isso, facilita-se sua concretização, seu controle consciente. A criança controla com dificuldades suas próprias ações; porém as controla de maneira relativamente mais fácil quando elas estão, por assim dizer, exteriorizadas e dadas na forma de ações de outra pessoa.” (ELKONIN, 2009)

Como exemplo, podemos citar um experimento realizado por pesquisadores com a seguinte situação:

Solicitou-se a uma criança que ficasse parada por 5 minutos – isto tornou-se impossível, pois logo começou a se movimentar. Porém, quando foi dito a ela que seria um soldado da rainha, procurou se comportar como tal, controlou sua conduta, permanecendo imóvel por um tempo maior.

Jogo de papéis e as regras • O brinquedo evoluiu para uma situação em

que a regra torna-se explícita e a situação imaginária e o papel, latentes, os jogos simbólicos transformam-se em jogos de regra.

• A motivação para o jogo muda. A criança não descobre somente a relação do adulto com o objeto, mas descobre também a relação das pessoas entre si.

Busca então controlar o seu próprio comportamento, subordinado a um propósito definido.

O jogo de papéis ou jogo protagonizado é somente fonte de liberdade e prazer para a criança?

O jogo satisfaz certas necessidades infantis e motivações que se encontram na esfera afetiva.

Por meio do jogo protagonizado a criança realiza desejos impossíveis de serem atendidos. Para tanto, ela recorre a uma situação imaginária.

Esta situação imaginária contém regras implícitas para a sua realização, portanto, é uma liberdade ilusória!

É necessário quebrar a crença de que o jogo é somente fonte de liberdade e prazer para a

criança, uma atividade na qual exercita livremente sua imaginação e deixa fluir sua fantasia.

A ideia de espontaneidade do desenvolvimento do jogo de papéis sustenta-se no fato dos alunos não se perceberem na direção que exercem, mesmo que de maneira inconsciente.

O jogo não é arbitrário ou alucinatório. Não provém de uma situação imaginária.

Qual a relação do jogo de papéis com o desenvolvimento?

“O que determina diretamente o desenvolvimento da psiquê de uma criança é sua própria vida e o

desenvolvimento dos processos reais desta vida – em outras palavras: o desenvolvimento da

atividade da criança, quer a atividade aparente, quer a atividade interna. Mas seu

desenvolvimento, por sua vez, depende de suas condições reais de vida.”

(LEONTIEV, 2001, p. 63).

Dessa forma, o Jogo de Papéis possibilita:

1

• Desenvolvimento da consciência das regras fixas em determinados tipos de jogos;

2

• Desenvolvimento da autoavaliação e seu desenvolvimento moral;

3

• Desenvolvimento de atividades cognitivas relevantes para atividades escolares.

O principal na atividade de jogo de papéis é se apropriar das relações humanas ao reproduzí-las.

Possibilita também a formação e o desenvolvimento:

- da linguagem oral; - do pensamento; - da memória; - da atenção; - da imaginação; - do controle da própria conduta; - formação da identidade; - socialização; - etc.

O que pode enriquecer a brincadeira?

A riqueza do entorno, os conhecimentos adquiridos com os adultos; os conteúdos formais transmitidos pela educação formal, entre outros, é o que favorece a ampliação do repertório nas brincadeiras e apropriação das relações humanas.

Qual a implicação educacional?

Elkonin afirma que conhecer e entender a natureza psicológica do jogo nos permitirá não somente compreender sua importância para o desenvolvimento da criança, mas também nos fornecerá elementos para dirigir esta atividade de forma consciente no processo educacional, planejando intencionalmente situações de jogo protagonizado, com riqueza de conteúdos e materiais.

As aventuras de uma caixa de papelão

Salientando sobre a importância do repertório para a qualidade do Jogo de papéis e a apropriação das relações humanas, segue o link com um vídeo que exemplifica a riqueza do conteúdo desta brincadeira a partir de conhecimentos adquiridos na vida real: a caixa de papelão assume diversas funções, corroborando para o desenvolvimento da imaginação, memória, criatividade, unidade afetivo-cognitiva, apropriação das funções sociais dos objetos, oralidade, movimentos, etc.

https://vimeo.com/25239728

Mas, o que é Atividade de Estudo e como o Ensino de Arte pode ser

inserido nesse contexto?

Já no Ensino Fundamental a atividade dominante da criança, nos anos iniciais, sobretudo do 2º ao 5º ano será a Atividade de Estudo.

Atividade de estudo As premissas da Atividade de Estudo surgem na

atividade de jogo, na medida em que proporcionam o surgimento de interesses cognitivos que não podem ser plenamente satisfeitos com o jogo, o que irá requerer fontes mais amplas de conhecimentos do que as oferecidas pela vida cotidiana, possibilitando uma melhor compreensão da realidade.

Apropriação do conhecimento

No Jogo de Papéis a criança sentia necessidade de fazer o que o adulto faz, neste momento ela quer saber o que o adulto sabe.

Conhecimento e realidade

Para conhecer a realidade podemos nos utilizar de conhecimentos cotidianos e não cotidianos.

Conhecimentos cotidianos

Conhecimentos científicos

Conhecimento e realidade

Conceitos Espontâneos

1. Formas rudimentares de construção de significados assimilados na vida cotidiana do indivíduo;

2. Se caracterizam pela ausência de uma percepção consciente de suas relações;

3. São orientados pelas semelhanças concretas e por generalizações isoladas;

4. São a base dos conceitos científicos.

Conceitos Científicos

1. Formas de categorização e generalização avançadas, assimiladas por meio da colaboração sistemática, organizada entre o professor e a criança;

2. São ensinados com a formalização de regras lógicas;

3. Sua assimilação envolve análise, que se inicia com uma definição verbal, operações mentais de abstração e generalização;

4. Apoiam-se em conceitos espontâneos já apropriados.

Ao ter contato com os conteúdos científicos é possível desenvolver a capacidade de generalização e operar com conceitos abstratos, havendo a superação das propriedades naturais, elementares, das funções psíquicas, em direção à conquista de propriedades superiores, culturalmente formadas: papel da arte-educação escolar!

Como você agruparia estes animais?

Provavelmente uma criança agruparia da seguinte forma:

COR

TEM ASAS

O tipo mais simples de abstração compreende em comparar dois objetos e determinar uma semelhança entre eles. Isso implica a capacidade de abstrair uma característica comum aos dois objetos como base de comparação.

BICHOS

NATUREZA

A criança vai de uma compreensão caótica dos significados das palavras até uma

compreensão que lhe permite extrapolar o significado aparente.

Os conceitos científicos se formam na escola por meio de um processo orientado, organizado e sistemático.

Toda vez que o indivíduo organiza novas estruturas ele reorganiza e transforma a estrutura de todos os conceitos anteriores.

MAMÍFEROS

AVES

RÉPTIL INSETO

O Papel da escola

A escola é um dos espaços privilegiados de humanização e tem, como especificidade, garantir que os estudantes, desde a mais tenra infância, apropriem-se das formas mais desenvolvidas de consciência social.

A entrada na escola traz profundas

transformações ao desenvolvimento infantil – há mudanças em seu lugar social e produção de neoformações psicológicas.

“[...] com o ingresso na escola, a criança começa a assimilar os rudimentos das formas mais desenvolvidas da consciência social, ou seja, a ciência, a arte, a moral, o direito, os que estão ligados com a consciência e o pensamento teórico das pessoas.” (VYGOTSKY, 1996)

Na idade escolar inicial, as crianças realizam outros tipos de atividades, mas a principal e que governa o desenvolvimento é a de estudo.

(VYGOTSKY, 1996)

A atividade guia nesse momento é a atividade de estudo.

O que é atividade de estudo?

É um tipo específico de atividade com:

– Conteúdos: conhecimentos teóricos;

– Estrutura própria: compreensão das tarefas de estudo; realização de ações de estudo, de controle e avaliação.

O professor possui papel central na atividade de estudo, pois:

-Organiza as tarefas de estudo; -Cria situações que proporcionam aos estudantes autonomia na resolução das tarefas de estudo e formação da capacidade de estudar.

O professor deve apresentar situações de aprendizagem que considerem o nível de desenvolvimento real dos estudantes, instigando e promovendo a atuação dos mesmos em sua zona de desenvolvimento próximo ou iminente.

Quais as implicações da Atividade de Estudo?

Por meio da Atividade de Estudo, as crianças reproduzem os conhecimentos e habilidades presentes nas formas de consciência social e, também, as capacidades que estão na base da formação do pensamento teórico: reflexão, análise e experimento mental.

Mas, como se desenvolve o Pensamento Teórico?

O processo de formação do pensamento teórico deve, de forma intencional e planejada, se iniciar na educação infantil, porém esse processo só se desenvolve plenamente na adolescência.

O pensamento teórico se expressa por conceitos e os mesmos são apropriados por meio do ensino, pois não se desenvolvem espontaneamente ou pelas simples representações advindas da sensorialidade.

A qualidade do ensino dos conceitos sistematizados histórico-socialmente é, portanto, o requisito fundante do

desenvolvimento do pensamento teórico.

Para a formação do pensamento teórico é necessário que a atividade de estudo seja planejada e organizada, que tenha como

finalidade a apropriação do conhecimento teórico.

No início da vida escolar, a criança não tem a necessidade específica de assimilar

conhecimentos teóricos, tal necessidade surge no processo real de apropriação desses

conhecimentos.

Exemplificando... Se perguntarmos a uma criança pequena o que

ela tem dentro do corpo, as respostas frequentes seriam: “osso, comida, sangue, coração, bichinhos (vermes), etc.”

Na escola A aprendizagem dos órgãos internos do corpo humano, ou

seja, o saber sistematizado.

O ponto de partida da assimilação conceitual é, portanto, o enfrentamento de uma situação-problema.

O papel do professor, nesse processo, é propor tarefas de estudo que possibilitem aos estudantes a reconstrução do movimento dialético do pensamento, ou seja, a reprodução do caminho histórico de elaboração do conceito, como se fosse, co-participantes da busca científica.

“O pensamento em conceitos é o meio mais adequado para conhecer a realidade porque penetra na essência interna dos objetos, já que a natureza dos mesmos não se

revela na contemplação direta de um ou outro objeto

isolado, senão por meio dos nexos e relações que se manifestam na dinâmica do objeto, em seu desenvolvimento vinculado a todo o resto da realidade. O vínculo interno das coisas se descobre com ajuda do

pensamento por conceitos, já que elaborar um

conceito sobre algum objeto, significa descobrir uma série de nexos e relações do objeto dado com toda realidade, significa incluí-lo no complexo sistema dos fenômenos.” (VYGOTSKY, 1996).

A Atividade Orientadora de Ensino como unidade dialética entre Atividade de Estudo e

Atividade de Ensino

Um dos pressupostos que orienta esta teoria é que o processo educativo que gera desenvolvimento psíquico é aquele que coloca o sujeito em atividade, ou seja, gera no indivíduo motivos, ações, finalidades e operações para aprender.

Para que o estudante entre em atividade, a intervenção do professor é essencial, e este também deve estar em atividade, nesse caso, de ensino.

ATIVIDADE DE ENSINO E DE ESTUDO

UNIDADE DIALÉTICA

Para tanto, a atividade de estudo do aluno deve encontrar motivos correspondentes na atividade de ensino do professor.

Motivo: necessidade do estudante de se apropriar do conhecimento sócio-histórico, humanizando-se.

Nessa perspectiva teórica, a finalidade principal do ensino escolar deve ser a FORMAÇÃO DO PENSAMENTO TEÓRICO DOS ESTUDANTES, pois o ensino e a educação escolar determinam o desenvolvimento psíquico.

“Todo o conhecimento transmitido no processo de escolarização, só faz sentido se levar o aluno a ler

nas entrelinhas, a perceber as contradições históricas que geraram esse próprio

conhecimento e mesmo sua vinculação com o contexto em que está inserido, de forma a buscar

transformação não somente na sua vida particular, mas na prática social.”

(FACCI, 2006)

Então, o que deve mudar na prática do professor?

O OLHAR

Com esse novo olhar... O professor deve compreender o seu objeto de

estudo e trabalho...

Ensino de conceitos

...para a formação do pensamento teórico e da constituição da consciência do estudante.

Mas, como fazer?

É fundamental trabalhar o aluno como um todo, impulsioná-lo a desenvolver sua criatividade, sua afetividade, sua percepção, sua expressão, seus sentidos, sua crítica, sua criatividade de forma a ampliar seus referenciais de mundo com todas as formas de linguagens: escrita, sonora, dramática, visual, corporal, musical, cinematográfica, dentre outras.

Orientações Metodológicas

“[...] não existe espontaneidade natural nem liberdade imediatamente criativa. É preciso dar ao sujeito os instrumentos necessários

para a sua autoexpressão.” (PORCHER, 1982, p. 15)

Ninguém nasce sabendo, desde o nascimento o sujeito interage com diversas manifestações culturais a sua volta e o conhecimento é construído, a partir da mediação com seus pares para que o sujeito produza Arte.

É necessário oportunizar sequências de aprendizagens que promovam tanto a produção quanto a reflexão sobre a arte, orientando, mediando, transmitindo e discutindo conteúdos artísticos, buscando a transformação e o desenvolvimento do ser humano.

É preciso repensar o processo educacional, preparar a pessoa para a vida e não para o mero acúmulo de informações. Quanto mais condições de acesso ao mundo da cultura, da Arte, da filosofia e ciência, tanto mais genuinamente humano o homem se faz.

• Os encaminhamentos metodológicos nas aulas de Arte devem contemplar a teoria e a prática, contextualização histórica para que o seu estudo não se restrinja tão somente ao fazer artístico como: pintura, recorte, colagem, decoração e datas comemorativas.

• É de suma importância ampliar e possibilitar aos alunos o saber e a apropriação do conhecimento estético. Teorizar, sensibilizar e produzir. Lembrando que todo saber elaborado deve ser contextualizado historicamente e socialmente, refletindo e produzindo novas formas de leitura, interpretação e sensibilização.

“[...] trata-se de uma arte que procura propiciar a reflexão e promover condições efetivas para que

as pessoas comuns se descubram capazes de criar, que possam fazer frente aos ditames da indústria cultural, embrutecedora, alienante e

avassaladora, típica das sociedades tecnológicas. Em suma, uma arte que se constitua numa

contribuição pautada pela verdade (não pela ilusão), para o processo de humanização e

libertação do homem, através da aproximação daquele que produz àquele que consome, tidos ambos, como partícipes de um mesmo e único

processo vital.” (MÉSZÁROS, 1981, p. 192-193).

Educar esteticamente consiste em ensinar o homem a ver, ouvir, movimentar, atuar, sentir e pensar e, para que ocorra o aprendizado, faz-se necessária a mediação do professor de forma intencional, nas quatro linguagens artísticas: música, dança, artes visuais e artes cênicas ou teatro.

A apropriação dessas diferentes linguagens e modos de expressão artística somente ocorrerá na escola se houver uma mediação de qualidade pelo professor, e para isso é importante maiores conhecimentos na área, conhecimento estruturado e organizado mediante aos fatos sociais, políticos, filosóficos, éticos e religiosos de cada sociedade.

O professor sendo o mediador de todo o conhecimento artístico necessita aprender continuamente por meio de oficinas, cursos, uso adequado dos materiais de apoio didático, podendo ser desenvolvidos por eles.

Toda a formação em arte deve proporcionar um preparo pedagógico para que realmente possa efetivar uma educação estética com vistas a humanizar o homem, com o objetivo de desenvolver a consciência estética e a apreensão de diferentes visões de mundo em períodos e sociedades diversas. O professor deve ir além do cotidiano, considerando as relações existentes entre arte-história-sociedade-vida.

Orientações por eixo curricular

Eixo: Artes Visuais O objeto de estudo são os elementos visuais, as

técnicas, os gêneros artísticos, os movimentos e períodos históricos que se manifestam por meio de imagens de diferentes períodos históricos, contextualizados com a sociedade contemporânea, proporcionando ao aluno entrar em contato com diferentes formas de expressões visuais construídas pela humanidade.

O trabalho deve ser desenvolvido por meio de análise e reflexão, leitura e reinterpretação de imagens, na mídia, no cinema, em obras de arte diversas, relacionando-as com o cotidiano dos alunos, sua realidade e com o conteúdo trabalhado, questionando, explorando, lendo, analisando e traduzindo uma nova compreensão sobre a realidade.

Eixo: Música Na linguagem artística da Música, cuja matéria-

prima é o som, saber ouvir, sentir e entender o que se está ouvindo são ações fundamentais do trabalho do professor.

Para isso, é necessário entender e conhecer o contexto da música, como foi composta e executada, por quem, para quem, como e com que finalidade, tornando o indivíduo sensível e receptivo ao mundo sonoro.

No ambiente escolar, o trabalho com a música deve ser realizado a partir do seu objeto de estudo, o som e seus elementos formais, composição, técnicas, gêneros, movimentos e períodos históricos.

O trabalho pedagógico deve possibilitar ao sujeito aprender a ouvir e ampliar seu repertório sonoro e sua memória auditiva, para isso ele precisa estar aberto e receptivo a uma grande variedade de novos sons.

Eixo: Dança O objeto de estudo é o movimento e seus

elementos formais: movimento corporal, espaço e tempo, composições, força, tempo, espaço e fluência, técnicas, gêneros, movimentos e períodos históricos.

É uma forma de expressão humana, na qual também é necessário considerar o contexto sócio cultural.

É uma forma de linguagem corporal que permite diferentes possibilidades de movimentos, ritmos e combinações mediante estímulos sonoros.

O ensino de teatro nas escolas deve superar a ideia de atividade espontânea ou de espetáculos comemorativos. O trabalho pedagógico deve buscar a valorização das obras teatrais como bens culturais da humanidade, seu contexto histórico, que inclui realidade, fantasia, mitos, cinema, novelas, telenovelas, danças, brincadeiras e rituais, folclore, etc.

A criatividade, a socialização, a memorização, interação e a coordenação, são possibilidades de aprendizagens oferecidas pelo teatro na educação.

Eixo: Teatro Na linguagem das Artes Cênicas ou Teatro, o objeto

de estudo é a representação e seus elementos formais, personagem, ação e espaço cênico, composições, gêneros, períodos e contextualização histórica, oportunizando ao educando as diversas técnicas, brincadeiras e jogos teatrais e dramáticos, colocar-se no lugar do outro, realizar várias experiências, sem correr riscos, dramatizar, representar, vivenciar experiências diversas envolvendo as expressões faciais, corporais, gestuais e vocais, através de várias histórias, contos, músicas, cenas do cotidiano, etc.

As atividades a serem desenvolvidas com esses conteúdos poderão explorar o conhecimento da estrutura e do funcionamento do corpo humano, sua expressão e comunicação, criação e apresentação coletiva de gestos expressivos e danças diversas, apreciação de diferentes tipos de danças, em espaços diversos, trabalhados dialeticamente.

O professor poderá desenvolver atividades de estrutura e funcionamento do movimento corporal, pois o foco será o movimento expressivo, que consiste em ultrapassar os movimentos corporais automáticos, involuntários e voluntários, como a repetição e criação de sequências simples e complexas de movimentos corporais, por meio de: brinquedos cantados, cantigas de rosa, danças folclóricas nacionais e internacionais, danças criativas e danças populares e do cotidiano nacional e internacional.

Avaliação...

Todo o trabalho realizado com o aluno nas diversas linguagens deve ser avaliado de forma diagnóstica, processual, contínua, permanente e cumulativa, isso quer dizer que deve ocorrer em todo o momento do processo de ensino-aprendizagem, cabendo ao professor planejar, direcionar e mediar o processo a partir da sistematização de apreensão dos conteúdos.

Para isso é necessário que o professor tenha clareza dos pressupostos que orientam sua prática pedagógica e ter consciência dos objetivos da disciplina.

A produção artística do aluno deve ser considerada como parte do processo, não representando sua totalidade, mas o movimento de busca dessa totalidade, envolvendo a contextualização dos conteúdos e a união da teoria com a prática. Sendo um processo de tomada de consciência para o próprio aluno, o que aprendeu e para o professor o que foi ensinado.

A avaliação ocorre durante o processo de desenvolvimento do trabalho artístico, na interação entre aluno-professor – conhecimento artístico – contexto/histórico/social/cultural, por meio de reflexões e questionamentos coletivos.

O professor deve verificar como o aluno desenvolve as atividades apresentadas e como ele discute com seus pares e elabora seus registros.

O docente deve ter clareza de quais são os critérios de avaliação pretendidos e os pressupostos que orientam

sua prática.

Além disso, poderá estar atento às respostas para perceber se houve ou não apropriação dos conteúdos trabalhados, caso contrário, deverá organizar metodologias e instrumentos avaliativos diversificados de forma que haja a recuperação paralela.

São diversos os instrumentos de avaliação que poderão ser utilizados, como: registros escritos e gráficos, sínteses, debates, autoavaliação, dramatizações, apresentações, discussões, trabalhos individuais e em grupo, relatórios, portfólios, audiovisual, provas, etc.

Referências ELKONIN, D.(2009). Psicologia do jogo. São Paulo: Martins Fontes.

FACCI, M. G. D. (2004). Valorização ou esvaziamento do trabalho do professor? Um estudo crítico-comparativo da Teoria do Professor Reflexivo, do Construtivismo e da Psicologia Vigotskiana. Campinas, SP: Autores Associados.

FERRAZ, Maria Heloísa C. de T. & FUSARI, Maria F. de Rezende e. Metodologia do ensino de arte. São Paulo: Cortez, 1993

LEONTIEV, Alexis et al. Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem. São Paulo: Scipione, 1988.

LEONTIEV, A. N. Uma contribuição à teoria do desenvolvimento da psiquê infantil. In: VIGOTSKII, L.S., LURIA, A.R.; LEONTIEV, A.N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 9ª ed. São Paulo: Ícone, 2001.

MÉSZÁROS, István. Marx: a teoria da alienação. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981.

PORCHER, L. (Org.). Educação Artística: luxo ou necessidade? 6. Ed. São Paulo: Summus, 1982.

VYGOTSKY, L. Teoria e Método em Psicologia. São Paulo, Martins Fontes, 1996.