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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X A MATERNIDADE PRÓ-MATRE: FILANTROPIA, ASSISTÊNCIA E DIREITOS DA MULHER NA PRIMEIRA REPÚBLICA Giovanna Costa Cinacchi 1 Resumo: O engendramento de políticas de assistência às mulheres e à infância se dá no processo de mudanças no atendimento ao parto e à infância na Primeira República, delineando-se a partir do movimento social que conjugava a filantropia feminina e o esforço de membros da ala mais progressista da categoria médica. Pretendemos discutir o processo de institucionalização do parto no período republicano pré-varguista na então Capital Federal, Rio de Janeiro, investigando o papel das mulheres da elite na construção de políticas públicas voltadas à maternidade e saúde da mulher. Nosso foco principal será direcionado às mulheres que fizeram parte da criação e funcionamento da Maternidade Pro-Matre, cuja figura mais proeminente foi Dona Stella Duval, que posteriormente, viria a fundar, juntamente com Bertha Lutz, dentre outras mulheres, a Federação Brasileira para o Progresso Feminino. Buscaremos situar as filantropas da Primeira República em um processo que ultrapassa os limites do “fazer filantrópico”, havendo aqui a edificação de um movimento feminista consistente no qual essas Damas da elite, ao se reunirem e organizarem ações coletivas, forjaram espaços dialógicos que ultrapassaram os limites dos salões requintados onde ocorriam as reuniões. Por fim, apontamos que esta reconstituição será feita por meio da utilização de fontes primárias do acervo histórico da cidade do Rio de Janeiro e do Pro-matre, além da literatura acadêmica concernente ao objeto de estudo. Palavras-chave: Filantropia; maternidade; gênero; assistência. Sabemos que a História Tradicional conta a história dos homens, as mulheres permanecendo marginalizadas dos processos ou retratadas como meras coadjuvantes no processo histórico. Apartada do processo histórico, a mulher torna-se cidadã de segunda classe, reduzida a sua categoria biológica, merecendo no máximo alguma menção honrosa esporádica individualizada ou, ainda, sendo estereotipada (Del Priore, 1994). A historiografia tem, desde a década de 1960, tendo a Grã- Bretanha e os Estado Unidos como precursores, iniciado um processo científico de estudo das mulheres o qual tem profundas reverberações na sociedade (Perrot, 2007). A História das Mulheres pretende resgatar contribuição destas para a vida e o desenvolvimento social ao longo do tempo e ainda, como aponta Perrot (1995, p. 9) se vincula “estreitamente à concepção de que as mulheres têm uma história e não são apenas desti nadas à reprodução, que elas são agentes históricos e possuem uma historicidade relativa às ações cotidianas, uma historicidade das relações entre os sexos”. Se a mulher não é retratada como agente histórico e político, o mesmo não ocorre com o corpo feminino, o qual “é onipresente: no discurso dos poetas, dos médicos ou dos políticos; em imagens de toda natureza - quadros, esculturas, cartazes - que povoam as nossas cidades. (Soihet; Matos; 2003, p.13). 1 Mestranda no Programa de Estudos Pós-Graduados em Política Social da Universidade Federal Fluminense, Niterói, Brasil. Bolsista Capes.

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Page 1: A MATERNIDADE PRÓ-MATRE: FILANTROPIA, ASSISTÊNCIA … · Resumo: O engendramento de ... a Federação Brasileira para o Progresso Feminino. Buscaremos situar as filantropas da Primeira

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

A MATERNIDADE PRÓ-MATRE: FILANTROPIA, ASSISTÊNCIA E DIREITOS DA

MULHER NA PRIMEIRA REPÚBLICA

Giovanna Costa Cinacchi1

Resumo: O engendramento de políticas de assistência às mulheres e à infância se dá no processo de mudanças no

atendimento ao parto e à infância na Primeira República, delineando-se a partir do movimento social que conjugava a

filantropia feminina e o esforço de membros da ala mais progressista da categoria médica. Pretendemos discutir o

processo de institucionalização do parto no período republicano pré-varguista na então Capital Federal, Rio de Janeiro,

investigando o papel das mulheres da elite na construção de políticas públicas voltadas à maternidade e saúde da

mulher. Nosso foco principal será direcionado às mulheres que fizeram parte da criação e funcionamento da

Maternidade Pro-Matre, cuja figura mais proeminente foi Dona Stella Duval, que posteriormente, viria a fundar,

juntamente com Bertha Lutz, dentre outras mulheres, a Federação Brasileira para o Progresso Feminino. Buscaremos

situar as filantropas da Primeira República em um processo que ultrapassa os limites do “fazer filantrópico”, havendo

aqui a edificação de um movimento feminista consistente no qual essas Damas da elite, ao se reunirem e organizarem

ações coletivas, forjaram espaços dialógicos que ultrapassaram os limites dos salões requintados onde ocorriam as

reuniões. Por fim, apontamos que esta reconstituição será feita por meio da utilização de fontes primárias do acervo

histórico da cidade do Rio de Janeiro e do Pro-matre, além da literatura acadêmica concernente ao objeto de estudo.

Palavras-chave: Filantropia; maternidade; gênero; assistência.

Sabemos que a História Tradicional conta a história dos homens, as mulheres permanecendo

marginalizadas dos processos ou retratadas como meras coadjuvantes no processo histórico.

Apartada do processo histórico, a mulher torna-se cidadã de segunda classe, reduzida a sua

categoria biológica, merecendo no máximo alguma menção honrosa esporádica individualizada ou,

ainda, sendo estereotipada (Del Priore, 1994). A historiografia tem, desde a década de 1960, tendo a

Grã- Bretanha e os Estado Unidos como precursores, iniciado um processo científico de estudo das

mulheres o qual tem profundas reverberações na sociedade (Perrot, 2007).

A História das Mulheres pretende resgatar contribuição destas para a vida e o

desenvolvimento social ao longo do tempo e ainda, como aponta Perrot (1995, p. 9) se vincula

“estreitamente à concepção de que as mulheres têm uma história e não são apenas destinadas à

reprodução, que elas são agentes históricos e possuem uma historicidade relativa às ações

cotidianas, uma historicidade das relações entre os sexos”. Se a mulher não é retratada como agente

histórico e político, o mesmo não ocorre com o corpo feminino, o qual “é onipresente: no discurso

dos poetas, dos médicos ou dos políticos; em imagens de toda natureza - quadros, esculturas,

cartazes - que povoam as nossas cidades. (Soihet; Matos; 2003, p.13).

1 Mestranda no Programa de Estudos Pós-Graduados em Política Social da Universidade Federal Fluminense, Niterói,

Brasil. Bolsista Capes.

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Apesar de não fazerem parte da historiografia tradicional, as mulheres [tanto da elite, quanto

das classes subalternizadas] de forma alguma foram coadjuvantes na Primeira República. A

ideologia construída em torno do projeto nacional orquestrado pelas classes dominantes faz parte do

processo de forja e contenção do feminino objetiva e subjetivamente com, por exemplo as

transformações concretas nos padrões de parto ou o novo ethus feminino. Por outro lado, não

podemos apontar que esse projeto de modelar e conter as mulheres foi totalmente bem-sucedido, já

que algumas passam a superar seus “mentores”, galgando novas posições sociais, bem como

aquelas que, imbuídas de um caráter revolucionário se enveredaram em verdadeiras contendas em

busca da emancipação feminina.

Assistência na Primeira República: o público, o privado e o lugar da filantropia.

No Brasil, a República é consolidada em torno de um processo que aliava um ímpeto

civilizatório e modernizador à manutenção do poder das elites, orquestrada que foi, pelas classes

dominantes, ou seja, de cima para baixo. Proclamada no ano seguinte à abolição da escravidão

negra, a primeira Constituição republicana (1891) tinha caráter eminentemente liberal,

especialmente pela noção individualista, embasada na ideia de federalismo, da não intervenção

econômica estatal e da descentralização

Essa ideologia da Primeira República se expressa quando da organização da carta

constitucional de 1891. A responsabilidade para com a saúde não é explicitada no referido

documento, não havendo um detalhamento acerca das competências para com as políticas de saúde

e assistência. Há apenas a vaga ideia de que essas competências pertencem aos estados da

Federação, como observamos na redação do texto constitucional:

Art 5º - Incumbe a cada Estado prover, a expensas próprias, as necessidades de seu

Governo e administração; a União, porém, prestará socorros ao Estado que, em caso de

calamidade pública, os solicitar. (BRASIL, 1891).

Depreendemos, pois, que o Estado Brasileiro consolidado a partir do modelo federativo

atende aos anseios das elites oligárquicas “que detinham o controle de todos os níveis de poder, do

central ao local”, (Groff, 2008) ou seja, a descentralização deixava a cargo dos governos locais as

tomadas de decisão acerca das políticas a serem empreendidas.

Wanderley Guilherme dos Santos aponta, entretanto, para um "falso laissez-faire" na Primeira

República. Isso porque, segundo o autor, as relações trabalhistas no setor rural confrontavam o

modelo clássico de acumulação pautado no lasseiz-faire, o que teria acontecido mais intensa e

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rapidamente nas áreas urbanas, "cujas relações econômicas e sociais deveriam pautar-se pelos

princípios que regeram as organizações sociais européias no período que vai do início da

industrialização às primeiras leis de regulação social" (1979, p.71). Além disso, no início da década

de 1920, leis sociais efetivas passam a ser produzidas no país entre patrões e empregados. Apesar de

estarem inseridas dentro da esfera privada, ou seja, não havendo prejuízo dos princípios laissez-

farianos, há aqui uma indicação de que a auto-regulação do mercado seria insuficiente para a

manutenção do lucro nas exportações.

Assim, pode-se considerar que a hegemonia ideológica do laissez-faire teve vida curta no

Brasil, restrita à área urbana, entre 1888 e 1931, no que concerne à economia, e vulnerada a

partir de 1923 no que diz respeito às relações sociais (SANTOS,1979, p. 72).

Por sua vez, Sanglard (2008) assinala ser a década de 1920 uma espécie de transição entre o

Estado liberal previsto na Carta Magna de 1889 e o Welfare State do período varguista. Carvalho

acentua que “na Primeira República a ortodoxia liberal não admitia a ação do Estado na área

trabalhista e a limitava na área social” (2002, p. 110), o que tornaria propícia a prestação de serviços

sociais por organizações privadas. Apontamos que nesse contexto, a filantropia prospera no país e a

intervenção estatal passa, em um segundo momento, a se tornar parte dos clamores de boa parte da

elite, o que só ocorreria efetivamente quando do período varguista. (Reis, 1998, p. 192). Isso porque

o projeto modernizador republicano compreendia a pobreza extrema como um entrave ao

desenvolvimento de uma nação que pretendia ser “civilizada”.

O Brasil, tendo abandonado recentemente o escravismo, percebia uma recrudescente

pauperização. A cidade do Rio de Janeiro, sendo capital da República possuía grande densidade

demográfica, especialmente nas regiões centrais. A grande massa de trabalhadores urbanos se

apertava em cortiços insalubres e a estrutura da cidade não era apropriada para os planos

civilizatórios da elite republicana. Tuberculose, varíola, malária, sífilis, hanseníase, a peste

bulbônica e toda sorte de doenças contagiosas se espalhavam pela cidade, que agora também passa

a comportar cada vez mais imigrantes (Lopes, 2000).

Essas questões, tratadas como problemas sociais, se tornam, assim, alvo de críticas por

membros proeminentes de diversas classes de intelectuais, inclusive da área médica. A evolução do

Brasil como nação, que agora, republicana, buscava ordem e progresso torna propícia a proposta

higiênica que orientará a saúde pública por meio não apenas da medicina, mas também de outras

áreas, como a pedagógica e a jurídica com um projeto de controle e docilização dos corpos. Esse

projeto societário republicano viabiliza a prestação de serviços sociais por meio da filantropia, visto

que “o Estado republicano não considerava o social como função pública” (Mestriner, 2001, p.67).

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A filantropia, diferenciando-se da caridade católica por seu caráter laicizado e cientificista (ou

a caridade científica) é assumida por parcela considerável da elite da capital que, sendo partícipe de

espaços dialógicos passa a se congregar para tentar sanar e sanear as problemáticas da vida urbana.

“Enquanto a filantropia tem uma racionalidade que já chegou a conformar uma escola social

positiva, a benemerência vai se constituir na ação do dom, da bondade, que se concretiza na ajuda

ao outro” (Mestriner, 2001, p.14).

O panorama político, econômico, social, cultural e ideológico na Primeira República e a

emergência da questão da infância, vinculada ao fortalecimento da nação engendram um

movimento de ações filantrópicas. As ações caritativas, “movidas eminentemente pela piedade

cristã”, apesar de não cessarem [inclusive até os tempos atuais] sofrem profundas influências das

transformações ideológicas que já vinham ocorrendo no processo de instauração do regime

republicano. A laicização da caridade acaba por incorrer na filantropia.

A caridade e sua postura de resignação ante à pobreza, caracterizada nas ações individuais,

coletivas e mesmo institucionalizadas não se coadunam com o novo espírito científico que imbuia a

elite carioca republicana. (Mestriner, 2001; Wadsworth 1999). Ainda que a ação filantrópica

possua, individualmente a dimensão de piedade presente nas ações benemerentes católicas,

coletivamente se fundamenta na noção de utilidade social, “as práticas filantrópicas seriam ações

reflexivas e organizadas, visando sobretudo, ao bem comum e ao progresso moral e social,

reforçando seu vínculo com a sociabilidade” (Freire, 2015, p.31).

No caso da filantropia praticada por grupos da elite carioca no primeiro momento

republicano, temos ainda o fato de que o fazer filantrópico conferia prestígio a esses indivíduos,

fato revelado pela exaustiva publicização das ações, inclusive em periódicos e jornais (Freire,

2011). Praticar a filantropia não era apenas ajudar nos “problemas sociais”, mas também reafirmar a

posição de superioridade das elites e o status que a prática filantrópica conferia a seus adeptos. A

filantropia impetrada por médicos higienistas se aproxima mais das funções públicas de assistência,

dado que sua organização coletiva tem mais capacidade que as ações caritativas.

O movimento filantrópico, possuindo maior capacidade de vinculação ao Estado, conseguirá

deste, apoio às suas atividades, seja com subsídios e com a cessão de imóveis para a instalação das

fundações e institutos, seja pela mera anuência. Rizzini reitera nossos apontamentos ao afirmar que

Em nome da manutenção da paz social e do futuro da nação, diversas instâncias de

intervenção e controle serão firmadas. Será da medicina (do corpo e da alma) o papel de

diagnosticar na infância possibilidades de recuperação e formas de tratamento. Caberá à

Justiça regulamentar a proteção (da criança e da sociedade), fazendo prevalecer a educação

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sobre a punição. À filantropia - substituta da antiga caridade - estava reservada a missão de

prestar assistência aos pobres e desvalidos, em associação às ações públicas (2006, s/p.).

Sendo assim, no quesito saúde, o Estado liberal republicano iria voltar suas energias

especialmente em momentos de crise, como ocorria com as epidemias, serviços os quais seriam

também complementados pelas instituições privadas. Nesse contexto, é fundada a Associação Pró-

Matre.

Filantropia e maternidades: a institucionalização do parto.

Os partos no Brasil realizados no país até fins do século XIX eram em sua maioria

domiciliares, geralmente realizados por parteiras leigas ou diplomadas, os médicos atuando no parto

em situações de complicação deste (Mott, 1999). Os partos realizados em hospitais ocorriam

geralmente entre as mulheres de camadas subalternizadas, mães solteiras e prostitutas, sendo

realizados por cirurgiões e geralmente incorrendo em óbitos, por não haver uma divisão entre as

alas hospitalares, o que facilitava a transmissão de doenças. Assim,

O atendimento obstétrico e ginecológico era realizado no Brasil de acordo com a origem

social e racial das mulheres. Aquelas que podiam pagar e estavam cercadas de atenções

familiares eram atendidas geralmente em casa pelo médico de família ou por uma parteira

de confiança. As mulheres pobres, mas que ainda tinham algum recurso, também recorriam

às parteiras. Somente as mulheres que viviam na mais completa miséria e abandono

procuravam as enfermarias dos hospitais (VOSNE, 2004, p. 201).

A visão do parto em hospitais como sendo adequado apenas para mulheres “sem berço” é

corroborada pela criação das Casas de Saúde nas quais parteiras diplomadas faziam o atendimento

geralmente a mulheres pobres e escravizadas. A necessidade de criação de maternidades se tornava,

entretanto, fala recorrente nos discursos de professores das escolas de medicina, bem como era

apoiada socialmente pela possibilidade de se transferir a reponsabilidade do parto de mulheres

escravizadas para essas instituições de saúde (Mott, 2002). Devemos ter em mente que o discurso

médico em prol da criação de maternidades remete a questões políticas que se engendravam no país.

A alta taxa de natalidade e baixa mortandade infantil seriam indicativos de progresso

nacional e fazem parte dos discursos nacionalistas positivados. As alocuções de médicos, portanto,

se coadunam com o próprio desenvolvimento econômico do país que se industrializava,

necessitando, pois, de indivíduos propícios ao desempenho de atividade laboral. O que esses

médicos pretendiam, era “procurar soluções para amenizar os efeitos da modernização” (Vosne,

2004, p. 2008).

Dessa forma, todas as medidas propostas e efetivadas, como a construção das maternidades,

as obras assistenciais e principalmente a discussão sobre a legislação, devem ser entendidas

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como expressão das relações de classe e de gênero e como contribuição para a construção

do discurso médico sobre a assistência materno-infantil no Brasil. (VOSNE, 2004, p. 2008).

O Estado fora convocado em ocasiões de discursos e conferencias na área médica para a

intervenção nesta seara, se mostrando, em grande medida, alheio à problemática. Isso não esteve

desvinculado da área acadêmico-científica. A publicação em periódicos e de estudos sobre a

questão da maternidade e da infância é profícua no período ao qual aqui nos remetemos, sendo os

dados recolhidos publicados em veículos das próprias instituições de saúde. Verificamos também

uma organização por parte dos médicos posicionados a favor da hospitalização do parto, sendo a

Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia do Brasil fundada em 1987, com sede na capital do país

(Rohden, 2001).

Diante da ineficiência estatal em conjugar ações “efetivas” em prol da infância, da

maternidade e da família, um movimento filantrópico passa a ser formatado. Médicos passam a

encabeçar organizações benemerentes com o apoio de membros da elite e, em grande medida, de

mulheres que, seja pela arrecadação de fundos, seja pelo trabalho, passam a se dedicar ao auxílio a

mães e crianças desassistidas. Cabe recordarmos que, neste momento, a assistência social e a

assistência à saúde não são consideradas funções públicas. O Estado concentra suas ações em

iniciativas isoladas, geralmente a partir do princípio de subsidiariedade, ou seja, subvencionando as

organizações filantrópica, com doações de imóveis, isenções impostos e direcionamento de verbas.

Se até fins do Brasil-Império, esses serviços eram prestados quase que exclusivamente por ações de

caridade da Igreja Católica, vinculada ao governo imperial, na Primeira República, essas funções

sociais serão exercidas em grande parte pela iniciativa privada, através de obras filantrópicas

(Mestriner, 2001).

A Pró-Matre

Fundada no dia 1° de abril de 1918, a Associação Pró-Matre se tornaria uma importante

sociedade civil de assistência médico-social, destinada ao auxílio de mulheres e crianças desvalidas,

sendo seu exercício sem fins lucrativos e suas atividades executadas por meio do Hospital-

Maternidade Pró- Matre e parceiros (Estatuto da Pró-Matre, 1919). A reunião de fundação teria se

dado em casa de D. Stella Guerra Duval, por sugestão do Dr. Fernando Magalhães2 que, conforme

a documentação presente no Acervo da Pró-Matre, teria idealizado a Maternidade. Senhoras da elite

carioca teriam sido convidadas a serem signatárias e tornarem-se membras, o que implicaria em

2 Fernando Magalhães era, então, “professor da Faculdade de Medicina e parte do corpo administrativo e clínico da

Maternidade de Laranjeiras” (BARRETO; OLIVEIRA, 2016, p.8).

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pagamento de mensalidades, entretanto, o número de associadas teria sido insuficiente para que se

pudesse levar adiante o projeto apenas com esse recurso. Assumem a diretoria para o primeiro

biênio da Associação Pró- Matre, no dia de sua fundação as seguintes senhoras:

1) Condessa de Affonso Celso.

2) Julia Lopes de Almeida.

3) Nair Azeredo Teixeira.

4) Maria Pimentel Barbosa.

5) Rita Alonso P roença.

6) Maria Alonso Vellozo.

7) Elvira Araripe.

8) Jenny Amaral.

9) Stella de Carválho Guerra-Duval

1 O) D. Cunha. ·

11) Maria Eugenia Celso ·carneiro de Mendonça.

12) Maria Elisa Parreiras Horta.

13) Isaura Moura Rocha Muniz.

14) Olga de Andrade Magalhães.

15) Clara Barbosa.

16) Adail Alecrim.

17) Mirandolina Sampaio.

18) Rachel Monteiro.

19) Myriam Grace.

20) MariaPaula Passos de Castro.

2l) Laura Barros Pimentel.

22) Maria Luiza Dutra.

23) Dóra Pacheco.

24) Bertha Barbosa (ESTATUTO DA PRÓ-MATRE, 1918, p. 6-7).

Havendo a necessidade de conseguir fundos suficientes para a construção da maternidade,

passaram a percorrer o comércio pedindo doações, não conseguindo a quantia esperada, dado que

boa parte dos doadores acabava por voltar suas contribuições para instituições que, como a Cruz

Vermelha, auxiliavam os marinheiros brasileiros que foram para a Europa. Conseguiram,

entretanto, um edifício para a instalação da Maternidade na Rua Venezuela, junto às docas Pedro II,

por doação a título precário, do então Presidente da República, Wenceslau Brás.

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O prédio ainda estava em reforma e a maternidade ainda não havia sido propriamente

instalada quando a epidemia de gripe espanhola chegou à cidade do Rio de Janeiro. No final de

setembro de 1918, casos de gripe espanhola já haviam sido relatados em Pernambuco e a difusão da

epidemia pelo norte e nordeste brasileiros ainda era no rio de janeiro, apenas notícias de jornais.

Entretanto, em 7 de outubro, a gripe foi constatada na cidade de Niterói, já contando com dezenas

de casos, entre soldados e trabalhadores, tendo chegado à capital por meio do navio “Demerara”, o

qual desde 23 de setembro estava ancorado no porto da capital, Rio de Janeiro (Brito, 1997).

Os 440 doentes internados no Hospital do Exército em 10 de outubro, no início ainda da

epidemia, subiram para vinte mil, quatro dias depois. Diariamente, os jornais publicavam

estatísticas desse quilate, resultantes, ao que tudo indica, de informações dispersas colhidas

em hospitais, postos de socorro e cemitérios (BRITO, 1997, p. 20).

Durante esse movimento organizativo ou pré-institucional, a epidemia de gripe espanhola se

torna um grave problema no Rio de Janeiro. Em 1918, a gripe espanhola que assola diversas cidades

do país e na capital federal, pode ser considerada uma das causas para o aumento significativo do

número de óbitos. Entre os anos de 1917 e 1918 o número de óbitos vai de 21.508 para 35.237. De

1919 até 1922 as cifras diminuem em aproximadamente dez mil óbitos. Os "Annuários" apontam

para um número maior de mortes de mulheres do que de homens, bem como número elevado de

mortes de menores de quinze anos. Outrossim, dentre as profissões com mais elevado número de

óbitos se encontram os operários (Brasil, 1931;1932).

Frente aos “calamitosos dias do mês de outubro de 1918”, a diretoria da Pró-Matre ofereceu

ao governo auxílio, tanto do serviços das sócias, como do prédio da Maternidade, o que foi aceito

por Wenceslau Brás. Em apenas vinte e quatro horas, conseguiram instalar 150 leitos destinados aos

acometidos pela gripe. O hospital, mesmo com suas instalações precárias, já que não havia

eletricidade, sistema de água e gás, funcionou até o dia 15 de novembro, quando a quantidade de

doentes diminuiu (Relatório da Pró-Matre, 1919).

Com o fechamento do hospital de “gripentos”, o prédio foi propriamente desinfetado e

preparado para receber a Maternidade. Quarenta leitos foram distribuídos entre as duas enfermarias

de ginecologia e obstetrícia, sendo instalados também uma sala de operações, uma sala de partos,

um consultório gratuito, e 17 postos de atendimentos, em uma parceria entre clínicas particulares e

a Maternidade, bem como uma creche com capacidade para vinte crianças (Ibidem). Estado a

Maternidade devidamente instalada, a diretoria passa a se compor da seguinte forma: Diretor-

médico: Professor Fernando Magalhães; Presidente: Stella de Carvalho Guerra Duval; Secretária:

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Jenny Monteiro Amaral; 1° Tesoureira: D. Jeronyma Mesquita; 2° Tesoureira: Ernestina Passos de

Castro Bulhões de Carvalho. (Estatuto da Pró-Matre, 1919).

Das mulheres da Pró-Matre e da Federação Brasileira para o Progresso Feminino

A criação e manutenção da Pró-Matre deve-se aos esforços de mulheres da elite carioca, as

quais atuaram ativamente no atendimento a mulheres de classes subalternizadas, bem como de

médicos envolvidos na empreitada filantrópica. As mulheres da elite que incorporavam a

Associação Pró-Matre se inserem também em uma lógica na qual não apenas a representatividade

de sua inserção na esfera pública e política notadamente masculina deve ser considerada, mas

também o fato de que as relações sociais engendradas a partir dessa penetração em um “outro

mundo” são agentes de transformação sócio-política.

Fato é que membras da Pró-Matre, como Stella de Carvalho Guerra Duval, presidenta da

Associaçã,D. Jeronyma Mesquita, Eugenia Hamann, Anna Amelia de Queiroz Carneiro Mendonça

e Maria Eugenia Celso Caeneiro de Mendonça viriam atuar na diretoria da Federação Brasileira

pelo Progresso Feminino (FBPF). A FBPF fora fundada em 1922, tendo como presidenta Bertha

Lutz, “é seguramente a organização feminista brasileira mais conhecida e está fortemente

relacionada com a história do feminismo no Brasil, congregando muitas associações educacionais,

profissionais e culturais de mulheres” (Vosne, 2016, s/p). Há , pois, uma articulação do movimento

feminista do início do século XX a organizações filantrópicas, o que fica muito claro no caso da

Pró-Matre, a qual estava manifestamente vinculada à referida federação feminista. Em 1930, um

suplemento do periódico carioca Correio da Manhã seria dedicado à divulgação dos feitos e da

agenda da FBPF. Nele, o seguinte artigo é veiculado: “A Pró-Matre e a Maternidade Suburbana,

nobres empreendimentos em benefício da mulher desamparada são federadas à Federação Brasileira

pelo Progresso Feminino” (Correio da Manhã, Suplemento, p. 8).

A luta das feministas pelo direito ao sufrágio foi contemplada por Getúlio Vargas em 1932,

por meio de um decreto que instituía o Código Eleitoral Brasileiro, cujo “artigo 2° disciplinava que

era eleitor o cidadão maior de 21 anos, sem distinção de sexo, alistado na forma do código” (Melo;

Bandeira, 2010, p. 17). Com a ampliação dos direitos políticos femininos, tanto Bertha Lutz, quanto

Stella Duval se candidatam a cargos públicos, a primeira, ao cargo de deputada federal e a última ao

cargo de intendente municipal, fato anunciado no primeiro Boletim da FBPF.

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É, portanto, chegado o momento de, congregadas em torno de uma única bandeira e tendo

em mente que a causa feminista paira acima de todos os partidos, que as Associações

Femininas Confederadas apresentam ao eleitorado carioca e principalmente ao eleitorado

feminino -- força nova e ediciente que não pode ser empregada em detrimento das próprias

mulheres, dois nomes de mulher, dos que melhor consubstanciam os ideais feministas, no

que eles têm de mais expressivo e de mais justo: BERTHA LUTZ e STELLA GUERRA

DUVAL (BOLETIM DA FBPF, 1934, p. 1).

Sendo assim, ao inserirmos as Damas da elite que atuavam em organizações filantrópica na

história, somos capazes de compreendê-la a partir de diferentes espectros e amplitudes. Elas, ao se

reunirem e organizarem ações coletivas, mesmo quando o faziam representando um moralismo

classista, organizaram espaços de diálogo que ultrapassaram os limites de suas reuniões. Sendo

assim, discorrer sobre a história da Pró-Matre e das mulheres que nela atuavam é também tratar de

transformações sociais, políticas e culturais que repercutem na construção dos papeis binários de

gênero [feminino e masculino], bem como se situa na seara da História do Feminismo no Brasil..

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MATERNITY PRÓ-MATRE: PHILANTHROPY, ASSISTANCE AND RIGHTS OF WOMEN

IN THE FIRST REPUBLIC

Abstract: The development of policies to assist women and children takes place in the process of

changing the care of childbirth and childhood in the First Republic, outlining the social movement

that combined female philanthropy and the efforts of members of the most progressive wing of the

medical category. We intend to discuss the process of institutionalization of childbirth during the

First Republic, in the Federal Capital at the time, Rio de Janeiro, investigating the role of elite

women in the construction of public policies focused on maternity and women's health. Our main

focus will be on the women who were part of the creation and operation of the Pró-Matre Maternity,

whose most prominent figure was Dona Stella Duval, who later, together with Bertha Lutz,

founded, among other women, the Brazilian Federation for Female Progress. We will seek to situate

the philanthropists of the First Republic in a process that goes beyond the limits of "philanthropic

doing," building here a consistent feminist movement in which these Elite Ladies, in coming

together and organizing collective actions, forged dialogic spaces that Limits of the exquisite salons

where the meetings took place. Finally, we point out that this reconstitution will be done through

the use of primary sources of the historical collection of the city of Rio de Janeiro and Pro-matre, in

addition to the academic literature concerning the object of study.

Keywords: Philanthropy; maternity; gender; assistance.