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 A CASA DE VIDRO.COM

Plugando consciências no amplificador. Um blog de Eduardo Carli de Moraes

19/04/2016 por ACASADEVIDRO.COM

 A LUTA DE CLASSES NÃO MORREU! – Sobre a atualidade doMarxismo e a relevância de “Os Sentidos do Lulismo” (André Singer)

MARX VIVE ou “A LUTA DE CLASSES NÃO MORREU”

Na tirinha que ilustra o início deste post, o Charb – cartunista assassinado por terroristas na redação do CharlieHebdo – tece um comentário sagaz sobre a sobrevivência entre nós de Marx.

O autor d’O Capital  é visto na charge a dialogar com o ex‑presidente francês Sarkozy, e em debate está apertinência ou não da luta de classes para a descrição da nossa realidade sócio‑política.

Com seu brilhante petardo anti‑idealista, o filósofo materialista‑dialético dá um touché de esgrima retórica e

mostra ao adversário Sarkoburguesista: “Não é porque vocês tiraram de moda a descrição da realidade que arealidade não existe mais”!

A batalha entre idealismo e materialismo, que muito além de uma querela filosófica, tem em Marx um dos batalhadores mais contundentes em prol do materialismo, via o comunismo não como um ideal que existe sóem “Cucolândia das Nuvens” – uma antecipação dogmática do porvir, uma fantasia totalitária… – mas simum movimento real e concreto, uma congregação coletiva de forças em luta por sua emancipação.

arx não é o pregador de uma utopia pré‑definida, é o pensador que tem sempre por base a “crítica radical darealidade dada”, como aponta Daniel Bensaïd:

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“Não queremos antecipar dogmaticamente o mundo, mas, ao contrário, encontrar o novo mundo a partir da crítica do antigo”, escreveu Marx. “Ocomunismo, enquanto negação da propriedade privada, é a reivindicação da verdadeira vida humana como propriedade do homem.” Até então, os

 filósofos tinham se contentado em interpretar o mundo de diferentes maneiras; o que importa agora é transformá‑lo. Para transformá‑lo, certamente é  preciso continuar a decifrá‑lo e interpretá‑lo, mas interpretá‑lo de outro modo, de maneira crítica e prática. Esgotou‑se a crítica da religião e da filosofia

especulativa. A ‘crítica da economia política’ vai mobilizar a inteligência de Marx até sua morte.” (BENSAÏD, p. 20 e 25)Este me parece um bom começo para tentarmos compreender de onde vem o dom da obra Marxiana de permanecer em perene presença nodebate político e perseverar como uma das ferramentas mais fecundas para a nossa correta “leitura de mundo”. Marx não se limitou arealizar uma crítica das ideias alheias (como as de Hegel, Feuerbach, Max Stirner, Bruno Bauer…), foi um intenso dialogador com outrasvertentes políticas de seu tempo (como as “encarnadas” por movimentos e partidos, agremiações e clubes secretos, que se inspiravamideologicamente nas doutrinas de Proudhon, Blanqui, Lassalle, Bakunin etc.).

Essa atualidade perene de Marx, me parece, tem a ver com o fato de que a realidade presente, de que somos contemporâneos e co‑agentes,manifesta ainda (e manifestará sempre?) indícios às mancheias de que a História tem sim o seu “motor de combustão interna”, por assimdizer, na luta de classes. Como Marx e Engels já diziam na bombástica imagética do Manifesto Comunista:

 MANIFESTO COMUNISTA (1848) DE MARX E ENGELS: ACESSE O E‑BOOK COMPLETO(hp://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/manifestocomunista.pdf)

Nele, um “espectro rondava a Europa” – o comunismo – e nele se expressava não apenas um ideal, alojado no cérebro e nos sonhossubjetivos de certas classes, mas muito mais um movimento social, visivelmente real e objetivo, palpável em sua concretude, nascido da própriarefrega interminável entre as classes e da ânsia de libertação dos oprimidos.

Comunismo, pois, como movimento real, e não apenas como ideal estéril. Movimento que lutava em prol da contestação e da tentativa‑de‑superação de uma (des)ordem social,  de uma barbárie institucionalizada, aquilo que Galeano e Ziegler batizaram, em documentáriocontundente, de “A Ordem Criminosa Do Mundo” (hps://youtu.be/GYHMC_itckg). 

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A Ordem Criminosa do Mundo / El Orden Criminal ...

Mais que sonho, portanto, o comunismo era compreendido como  força. Uma força encarnada na classe que lutava contra a injustiça social, aespoliação, a super‑exploração, o proletariado fabril que era a vítima cotidiana da opressão e da miséria. Para Marx, a engrenagem docapitalismo, cravejado de contradições, criava necessariamente uma espécie de mecanismo auto‑destrutivo. O capitalismo sempre engravidae dá à luz crises cíclicas e recorrentes, no decurso das quais vai gestando o seu coveiro. O proletariado seria a classe que anularia a divisãosocial em classes, instituindo um mundo onde o monopólio da propriedade privada dos meios de produção não tivesse permissãocomunitária para agir como um social killer, na expressão feliz de Bensaid.

A classe que monopoliza os meios de produção – a burguesia industrial e seus financistas, os banqueiros – como um vampiro de mil dentesenfia seus caninos nas carótidas da classe trabalhadora: é o que o Livro 1 de O Capital desvendará, a famosa “mais‑valia” que melhor seriacompreendida se falássemos em rapinagem de classe, de vampirismo social, de modo que a obra de Marx é excelente aliada no

 

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desvendamento da “relação de exploração, a extorsão do mais‑valor nos porões do mercado, onde se elucida o prodígio do dinheiro que parecefazer dinheiro, fertilizar a si mesmo em mistério tão fantástico quanto a imaculada conceição. Esse fato advém da separação entre otrabalhador e seus meios de produção, entre o camponês e a terra, entre o operário e as máquinas e ferramentas, transformadas empropriedade exclusiva do patrão.” (BENSAÏD, p. 41)

O moinho satânico da mais valia, que o Capital de Marx revela em minúcias, tem suas entranhas expostas também por Karl Polanyi ouSimone Weil, por Paulo Freire ou Fran蒊 Fanon; participa do Patriarcado machista que os ativismos feministas hoje contestam, tem culpa nocartório nas teorias eugenistas e higienistas tão próximas ao fascismo das “Soluções Finais”, além de ter se erguido sobre o escravismo quehoje se mantêm no racismo institucionalizado no sistema penal, policial, penitenciário.

A luta de classes pode até ter saído de moda nos discursos oficiais de chefes‑de‑Estado em democracias liberais (o neo‑liberalismo pretendeu

até decretar o “fim da História” e a pacificação total do rebanho humano, descrito como oni‑satisfeito e 100% obediente à atual encarnaçãodo capitalismo globalizado: como se fôssemos 8 bilhões de felizes, todos sorridentes e saltitantes no mundo dos shopping centers e dosagrotóxicos!).

A mais recente pesquisa da Oxfam revelou (hps://acasadevidro.com/2016/01/23/meritocracia‑ou‑plutocracia‑estudo‑da‑oxfam‑revela‑que‑1‑da‑populacao‑global‑detem‑a‑mesma‑riqueza‑dos‑99‑restantes/): “1% da população global detém mesma riqueza dos 99%restantes” (manchete da matéria da BBC Brasil (hp://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/01/160118_riqueza_estudo_oxfam_fn)). Nasobras de grandes pesquisados contemporâneos, de David Harvey a Thomas Pikkety, o cenário de grotesca desigualdade é exposto à luz dodia, o capitalismo neoliberal em sua assanhada sanha privatizadora, concentradora de capital, produtora de desigualdade, convulsionadorade tensões e antagonismos sociais, é denunciado como o que foi já nos anos 1970, no Chile de Pinochet, debute da Shock Doctrine (N. Klein), adoutrina de uma plutocracia que é avessa à democracia e à qualquer doutrina de coletivismo ou igualitarismo. E que reza de joelhos no cultodo Mercado Livre Desregulado.

A luta de classes prossegue dando o tom na base real da sociedade, nas barricadas de rua, nas guerras campais, nos choques de civilização,nas bombas que chovem sobre o Oriente Médio nas guerras do petróleo, nos clashes  entre traficantes de narcóticos ilegalizados peloproibicionismo e esquadrões de policiais militares com licença‑para‑matar (mesmo em países, como o nosso, onde pena‑de‑morte inexiste naletra da lei)… Tudo constituindo este assustador, pois profundamente dissonante e caótico, troço que é a História – a real, a profana. O Brasilde 2016 traz inumeráveis evidências disso, o que torna Marx novamente urgente e necessário, dando razão a Jacques Derrida quando disse:

“Será sempre um erro não ler, reler e discutir Marx. Será um erro cada vez maior, uma falta de responsabilidade teórica, filosófica, política.”(DERRIDA, Jacques. Espectros de Marx)

A cisão da sociedade em classes, efeito conjunto do regime da propriedade privada e da obscena desigualdade na distribuição de capital,

advém da “separação entre o trabalhador e seus meios de produção, entre o camponês e a terra, entre o operário e as máquinas eferramentas, transformadas em propriedade exclusiva do patrão.” (BENSAID, p. 41)

Nas páginas de Marx, analisam‑se os labirintos (que depois tanto inspirariam a obra de Cornelius Castoriadis) de uma sociedade cindida,rachada, cravejada de antagonismos, praticante cotidiana de injustiças e barbáries em mega escala. Longe de ser um cientista neutro diantede uma História que supostamente se poderia observar de longe, com sangue‑frio e com total desengajamento, Marx refletia na plena uniãode teoria e práxis, na soma de cabeça e coração, síntese de pensador e ativista (prenunciando nisto Eduardo Galeano ou Arundhati Roy, doisdos mais brilhantes pensadores políticos recentes).

Marx congrega sua análise crítica do capitalismo a um senso ético de indignação recorrente perante a barbárie social que o capitalismo gera,moendo gente em seus “moinhos satânicos” (para lembrar obra seminal de Karl Polanyi,  A Grande Transformação). Um aspecto da obramarxista, aliás, que costuma ser sub‑representada nas análises economicistas ou politiqueiras, é o enraizamento ético do discurso de Marx, queopera com frequência com conceitos como “fraternidade” e “justiça”, que são do âmbito dos valores e ideais, e não do juízo de fatoontológico.

Lendo Marx, vemos com frequência descortinar‑se diante de nossa consciência expandida a noção de um abismo entre o ideal e o real, edo comunismo como força real que procura edificar a ponte. Em Paris, diante dos ouvriers que se unem tendo como meta comum a edificaçãode um mundo melhor, diz: “a fraternidade não é nenhuma frase, mas sim verdade para eles, e a nobreza da humanidade nos ilumina a partirdessas figuras endurecidas pelo trabalho.” (MARX, Manuscritos econômico‑filosóficos)

 

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Sobre o esmagamento da dignidade que é imposto de cima à classe proletária, História afora, não faltam detalhes minuciosos (sobre asituação francesa no séc. 20, por exemplo, uma obra‑prima é a de Simone Weil,  A Condição Operária e outros ensaios sobre a opressão; sobre o

 berço do capitalismo fabril, a Inglaterra, ver Hobsbawn, Thompson, Engels). É boquiaberto de indignação diante disso que Marx formula ateoria da luta de classes, dizendo, do proletariado, que é “uma classe com  grilhões radicais” e que “contra ela não se comete uma injustiça

articular, mas a injustiça por excelência.” (MARX, Crítica da filosofia do Direito de Hegel, p. 156)

Ao sustentar que a História têm por essência a luta de classes, o barbudo filósofo alemão, como aponta com justiça Daniel Bensaïd, queriaromper com toda e qualquer teoria da História manchada por mofados ranços teológicos, ou seja, queria chutar para escanteio qualquervisão‑de‑mundo que postulasse um Deus lá nos céus, Senhor‑tirânico e Dono‑da‑História, que nos utilizasse como peças de seu divinoxadrez ou como bonecos em seu teatro de fantoches:

“A História para Marx não é este personagem todo‑poderoso, a História universal, da qual seríamos marionetes. (…) A história presente e aquela porvir não são a meta da história passada. Em A Ideologia Alemã, Marx e Engels esclarecem que ‘a história nada mais é do que o suceder‑se de geraçõesdistintas’ , à diferença da história religiosa, a história profana não conhece predestinação nem julgamento final. É uma história aberta, que faz no

 presente a ‘crítica radical de toda a ordem existente, uma luta entre classes, com desfecho incerto.” BENSAID, Daniel, Marx – Manual de Instruções,Boitempo, pgs. 33‑34

Ilustração: Charb (falecido, do Charlie Hebdo)

Para citar o gênio  punk Joe Strummer, do The Clash (e depois Los Mescaleros), The Future is Unwrien – o futuro histórico ainda não está

escrito. Como todo presente histórico, é o nosso também marcado pela luta de classes, não só a atual mas também a que nos foi legada pelasgerações antecedentes. Bensaïd usa a expressão impressionante: misérias herdadas. Destas o Brasil está repleto. Mas isto é tendência históricageral, segundo o marxismo, já que pesa sobre os vivos o peso das gerações humanas já mortas e de seus pesados legados, “aflige‑nos todauma série de misérias herdadas, decorrentes da permanência vegetativa de modos de produção arcaicos e antiquados, com o seu séquito derelações sociais e políticas anacrônicas” (BENSAID, p. 62).

* * * * *

II. OS SENTIDOS DO LULISMO

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Para enxergar a dinâmica e a dialética da luta de classes em ação na atualidade brasileira, vale a pena considerar uma das obras maisimportantes da ciência política nos últimos anos, Os Sentidos do Lulismo – Reforma gradual e pacto conservador, de André Singer (EditoraCompanhia das Letras, 2012). Nesta obra, o professor de ciência política da USP “realiza uma arguta radiografia das relações de classe epoder no Brasil contemporâneo”, elucidando o fenômeno sociopolítico que chamou de “lulismo”, consolidado com a eleição e reeleição, em2002 e 2006, do primeiro presidente operário do Brasil.

Os aspectos biográficos da trajetória de Lula são bem conhecidos – e já foram objeto até do filme, O(hps://pt.wikipedia.org/wiki/Lula,_o_Filho_do_Brasil_(filme))Filho do Brasil (2009, de Fábio Barreto) – e não é neles que Singer foca suaatenção. De todo modo, é extraordinário o percurso de Luiz Inácio: “a infância miserável no sertão de Pernambuco; a mudança para SãoPaulo com a mãe os irmãos num pau de arara; a perda de um dedo num acidente de trabalho; o ingresso no movimento operário; a liderançasindical e a perseguição da ditadura militar: reproduzidos em inúmeros discursos, livros e reportagens (e até mesmo no cinema) os quadrosmais dramáticos da vida de Lula certamente contribuíram para convertê‑lo numa espécie de mito entre seus seguidores mais fervorosos.”(Texto de apresentação da Cia das Letras).

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Como procura destacar Singer, os impressionantes 80% de aprovação obtidos por Lula ao final de seu segundo mandato, além dos 20milhões de votos de diferença sobre os segundos colocados que obteve nos pleitos de 2002 e 2006, demonstram a emergência de algo inéditona história da República, afinal Luiz Inácio “Lula” era o “político de origem mais humilde a ter chegado ao topo do sistema”, “o primeiropresidente da República que sofreu a experiência da miséria, o que não é irrelevante, dada a sensibilidade que demonstrou, uma vez naPresidência, para a realidade dos miseráveis.” (SINGER, p. 70)

Baseado em dados empíricos e estatísticos, Singer conclui a partir de sua pesquisa que o “lulismo” não apenas “vendeu a imagem”, de modointeresseiro e eleitoreiro, de ser uma época marcada por uma atenção estatal inédita aos miseráveis‑da‑terra e ao subproletariado. Aacusação de populismo, que tantas vezes lhe é lançada à cara como um cuspe, só seria verdadeira caso tudo não passasse de bazófia, deostentação de falsos feitos, de “propaganda enganosa”. Porém, como Singer demonstra através de seu ensaio lúcido e bem‑fundamentado,foi que Lula cumpriu sim uma parte de suas promessas e que programas sociais como o Bolsa Família, o Fome Zero, o ProUni, dentreoutros, de fato melhoraram materialmente a condição humana para milhões de brasileiros. O discurso “nunca na história dos mais humildes o Estadoolhou tanto para eles” tem embasamento na realidade concreta:

 

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“Com efeito, a partir de setembro de 2003, com o lançamento do Programa Bolsa Família (PBF) inicia‑se uma gradual melhora na condição de vida dosmais pobres. (…) O PBF foi aos poucos convertido, pela quantidade de recursos a ele destinados, uma espécie de pré‑renda mínima para as famílias quecomprovassem situação de extrema necessidade. Em 2004, o programa recebeu verba 64% maior e, em 2005, quando explode o ‘mensalão’, teve umaumento de outros 26%, mais que duplicando em dois anos o número de famílias atendidas. Entre 2003 e 2006, o Bolsa Família viu o seu orçamentomultiplicado por 13, pulando de R$ 570 milhões para R$ 7,5 bilhões, e atendia a cerca de 11,4 milhões de famílias perto da eleição de 2006.” (SINGER,

 p. 64)

“Foi sobretudo a subida na renda de 20 milhões que atravessaram a divisa da pobreza absoluta que despertou o sonho do New Deal brasileiro. Deve‑selembrar que, entre 2003 e 2008, houve uma valorização de 33% no salário mínimo. O tamanho dos indicadores de diminuição da pobreza monetáriadurante o governo Lula não dever ser, pela sua dimensão, desprezados. O economista Marcelo Neri, da FGV‑RJ, nota que ‘a pobreza caiu 45,5% entredezembro de 2003 e 2009. (…) De acordo com Marcelo Neri, considerado o intervalo de 2001 a 2009, ‘não há na história brasileira, estatisticamente

documentada desde 1960, nada similar à redução da desigualdade de renda observada’, pois segundo os cálculos da FGV‑RJ, nesse período ‘a renda dos10% mais pobres cresceu 456% mais do que a dos 10% mais ricos.ʹ” (SINGER, p. 132 e 181)

É no final do primeiro mandato de Lula, na campanha eleitoral para a re‑eleição, lá pelos idos de 2006, que emerge de fato este fenômenohistórico que Singer batiza de lulismo e que está conectado com uma espécie de “revolução eleitoral” no Brasil: o fato de que a vitória de Lulaem 2006 deveu‑se, em larga medida, ao eleitorado das classes mais desfavorecidas, dada a alta votação de Lula nas regiões Nordeste e Norte,“onde os programas sociais tiveram mais beneficiários”:

“Lula obteve percentualmente mais votos nos municípios que receberam mais recursos per capita do Bolsa Família, mostrando a repercussão do programa nos chamados grotões, tipicamente o interior do Norte / Nordeste, que sempre fora tradicional território do conservadorismo…. Entre os quevotaram em Lula pela primeira vez em 2006, a maioria eram mulheres de baixa renda, o público‑alvo por excelência do Bolsa Família, pois são as mãesque recebem o benefício.(…) O Bolsa Família foi logicamente destinado em maior proporção às regiões pobres e aos municípios de menor Índice deDesenvolvimento Humano (IDH), pois lá se localizava a maior parte das famílias que a ele faziam jus.” (SINGER, p. 65)

O lulismo, segundo Singer, tem raízes fincadas no “subproletariado brasileiro”, em especial no Nordeste, mas emerge numa época históricaem que o Partido dos Trabalhadores já vivenciava uma contenda íntima entre suas duas “almas”: a originária, mais radical, comprometidacom a construção do socialismo, que animava no passado figuras do PT original como Florestan Fernandes e Chico de Oliveira; e a almamais “recente”, aquela nascida dos pactos em prol da governabilidade e que busca num reformismo gradual e na conciliação de classesuma evitação cuidadosa e prudente do confronto aberto e violento com as elites do capitalismo nacional e internacional.

A estas “duas almas” do PT, responsáveis pelo fenômeno altamente complexo e paradoxal que o Partidos dos Trabalhadores tornou‑se hoje,em 2016, no auge de uma das piores crises políticas da República, Singer batizou de “o espírito do Sion” e “o espírito do Anhembi”:

 

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O ESPÍRITO DE SION: “Vindo à luz na crista da onda democrática que varreu o Brasil da segunda metade dos anos 1970 até o fim dos anos 1980, oPT foi embalado pela aspiração de que a volta ao estado de direito representasse também um reinício do país, como se fosse possível começar do zero,

 proclamando uma verdadeira República em lugar ‘falsa’ promulgada em 1889. Forjada na oposição à ditadura, a proposta de fundação do partido,aprovada em Congresso de Metalúrgicos (janeiro de 1979), falava em criar um partido ‘sem patrões’, que não fosse ‘eleitoreiro’ e que organizasse emobilizasse ‘os trabalhadores na luta por suas reivindicações e pela construção de uma sociedade justa, sem explorados e exploradores, expressão quesignificava, na época, uma referência cifrada a socialismo.

(…) A radicalização havia atingido também o meio católico, o qual desenvolveu, nos interstícios da repressão, extensa rede de organismos populares, asComunidades Eclesiais de Base (CEBs), ainda durante a vigência da ditadura. Iniciada a transição para a democracia, as CEBs, imbuídas de uma

 perspectiva crítica ao capitalismo, tiveram destaque na conformação do PT. Foi crucial o papel desenvolvido pelo cristianismo como fonte do sentimentoradical que caracterizou o espírito a que, não por acaso, estou chamando ‘do Sion’.

O terceiro e mais decisivo front foram os sindicatos de trabalhadores que cresceram nos recessos da ditadura, representando, em parte, camada operáriarecente, os quais propunham ruptura com o velho sindicalismo do período populista. Com o vigor típico dos gestos inaugurais, o ‘novo sindicalismo’

 pregava a liberdade sindical e a revogação da legislação varguista que, segundo se dizia, inspirada no fascismo italiano, atrelava o movimento operárioao Estado.

 A singularidade brasileira foi anotada por Perry Anderson, para quem o PT constituiu o único partido de trabalhadores de massas criado no planetadepois da 2ª Guerra Mundial. Cercado pela atmosfera eufórica da redemocratização, sobretudo a partir das greves que eclodiram em 1978 no ABC

 paulista, o PT despertou a atenção do mundo. Compreende‑se: quando em outras partes do planeta a reação neoliberal começava a desmontar o que foraconstruído no pós‑guerra, no Brasil greves de massa pareciam civilizar o que Rosa Luxemburgo chamou de ‘as formas bárbaras de exploraçãocapitalista’.

Da cultura participativa aos direitos cidadãos da Constituição de 1988, o partido cumpriu papel histórico semelhante ao desempenhado por socialistaseuropeus, a saber, o de generalizar ‘dimensões fundamentais da igualdade’, como escreve Jessé Souza em A construção social da subcidadania. (…) A

militância entusiasmada e a autenticidade das propostas fizeram do PT experiência aberta à participação. Fraco do prisma eleitoral, embora emcrescimento permanente, extraía vigor de ser a voz de forças sociais vivas… Falando por esse movimento social, o partido se propôs a combater, mesmoque isolado, os vícios e arcaísmos do patrimonialismo nacional. ” (SINGER, p. 90)

Descrita em linhas gerais a “primeira alma do PT” (Sion), ficamos melhor munidos para melhor compreender a mudança que se deu com aemergência da “segunda alma do PT” (hp://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arext&pid=S0101‑33002010000300006), o “espírito doAnhembi”. Lembremos que o PT havia disputado a eleição presidencial três vezes, sempre com Lula como candidato, até chegar à suaprimeira vitória: em 1989, Lula foi derrotado por Collor, e nos dois próximos pleitos perdeu para FHC. O “espírito do Anhembi” vaiamadurecendo com estas derrotas nas urnas, o radicalismo de Sion vai amainando seu ímpeto, até que surja o “Lulinha paz‑e‑amor”,devidamente perfumado pelos publicitários, que enfim vence as eleições. Em 2001, porém, como Singer enxergou bem, o PT das origens, oPT socialista, o PT que confrontou radicalmente a ditadura, ainda pulsava forte, determinando inclusive a ocorrência do primeiro FórumSocial Mundial em Porto Alegre:

Fórum Social Mundial, Porto Alegre, foto de Victor Caivano

“Apesar de fazer concessões eleitorais, o PT continuou a ser um vetor de polarização. As diretrizes aprovadas em dezembro de 2001 afirmavam: ‘Aimplementação do nosso programa de governo para o Brasil, de caráter democrático e popular, representará a ruptura com o atual modelo econômico,

 fundado na abertura e desregulação radicais da economia nacional e na consequente subordinação de sua dinâmica aos interesses e humores do capital financeiro globalizado.’

Sem abrir mão da perspectiva de classe, o partido foi relevante para a maior iniciativa anticapitalista do início do século XXI: o Fórum Social Mundial(2001), não por coincidência inaugurado na capital do Rio Grande do Sul, o estado mais importante governado pelo PT na época. É que entre o espíritode Porto Alegre e o do Sion havia continuidade evidente: ambos expressavam insatisfação com o mundo organizado e moldado pelo capital.” (SINGER,

 p. 95)

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Revista Veja – 04/07/2001

Presidente Dilma Roussef discursa durante festa de comemoração dos 10 anos do PT no governo, realizada no hotel do parque Anhembi (SP)

O ESPÍRITO DO ANHEMBI: “Se existe um momento específico que corresponde à irrupção da segunda alma do PT, talvez seja o da divulgação da“Carta ao Povo Brasileiro”, em junho de 2002. Houve, certamente, uma longa gestação anterior, cujos fios podem ser rastreados no mínimo à derrota de1989… No entanto, a silenciosa criatura só veio à luz quando já estavam dadas as condições para que, surgindo aparentemente do nada, se fizesseimediatamente dominante dentro do Partido dos Trabalhadores.

Quando a campanha de Lula decidiu fazer as concessões exigidas pelo capital, cujo pavor de um suposto prejuízo a seus interesses com a previsívelvitória da esquerda levava à instabilidade nos mercados financeiros, deu‑se o sinal de que o velho radicalismo petista havia sido arquivado. Foi, a

 princípio, uma decisão de campanha, mas cerca de um mês depois o Diretório Nacional, reunido no centro de convenções do Anhembi, em São Paulo,aprovou as propostas antecipadas pela carta, transformando‑as em orientações partidárias.

No programa divulgado no final de julho de 2002 pelos partidos que integravam a Coligação Lula Presidente, há um perceptível câmbio de tom em relação ao capital. Em lugar do confronto com os ‘humores do capital financeiro globalizado’, que havia sido aprovado em dezembro de 2001, o documento de campanha afirmava que “o Brasil nãodeve prescindir das empresas, da tecnologia e do capital estrangeiro”. Para dar garantias aos empresários, o textoassegura que o futuro governo iria “preservar o superávit primário o quanto for necessário”. (…) Enquanto a alma doSion, poucos meses antes, insistia na necessidade de “operar uma efetiva ruptura global com o modelo existente”, a do

 Anhembi toma como suas as “conquistas” do período neoliberal: ‘a estabilidade e o controle das contas públicas e dainflação são, como sempre foram, aspiração de todos os brasileiros’.

Por certo tempo considerada uma ‘tática’ para facilitar a transição, o ideário ali exposto compunha, na realidade, umsegundo sistema de crenças, que passaria a residir definitivamente dentro do peito partido, lado a lado com o que ohavia precedido. O compromisso com a ‘estabilidade monetária e responsabilidade fiscal’ volta a comparecer no

 programa presidencial quatro anos depois e ‘a preservação da estabilidade econômica’ continua como diretriz para o governo Dilma Roussef, oito anos mais tarde. A defesa da ordem viera para ficar, e a direção decidida no Anhembi se

tornaria programa permanente.”(SINGER, p. 97. Veja tb: debate entre os professores André Singer (USP) e Marcos Nobre (Unicamp). Imagem e som: Lucas Silveira. Organização:PET Filosofia – FFLCH/USP.

Lulismo e Pemedebismo - Debate com André Sing...

 Leitura sugerida: KEINERT. Resenha de ‘Os Sentidos do Lulismo’. (hp://www.scielo.br/pdf/ts/v24n2/v24n2a14)

Chega a ser bizarramente incorreta, portanto, a paranóia de boa parte da oposição ao criticar o PT por ser “comunista” e “bolivariano”,quando Lula na Presidência não chegou nem perto de nos “venezuelar” à la Chavez, numa autêntica revolução dedicada a Simon Bolívar eFidel Castro, seu governo foi muito mais marcado por um certo ideário Keynesiano, de Welfare State, que faz com que André Singerequipare a uma versão brazuca do New Deal de Roosevelt. O Lula de 2002 já não era o esbravejante sindicalista que ajudou a fundar o PTcomo partido socialista libertário e “sem patrão”, era já alguém predisposto à fazer a paz com o empresariado, forjando uma aliança declasses, investindo menos na fúria das contendas e mais na tentativa conciliatória e civilizatória.

 Ao invés de romper com o capitalismo, o PT vinha do espectro ideológico de uma esquerda que começou a abandonar o plano da revoluçãosocialista e embarcou na onda de conviver com o capitalismo e tentar “civilizá‑lo”. À Privataria Tucana de FHC, que aplicou ofundamentalismo de mercado de Milton Friedman e dos Chicago Boys, impondo uma economia “modelo Pinochet”, o governo Lula re‑afirmou o papel de um Estado regulador, espécie de instância ética e redistributiva que está aí para velar para que a dignidade humana nãoseja pisoteada pelas “leis do capital”.

 

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Marcado pela “reforma gradual e pelo pacto conservador” – subtítulos de Os Sentidos do Lulismo – o PT na Presidência, no debate pereneentre reformismo ou revolução, escolheu amainar seu radicalismo, sentou para negociar com as elites, com os grandes capitalistas, com osinteresses financeiros, contra os quais não se constrói “condição de governabilidade”, só para descobrir que estava de mãos sujas pelasalianças espúrias, pela repetição do modelo dos conchavos e propinas, que as castas por ali praticam há décadas, aliás, com o beneplácito deuma Justiça que deixa impunes aos tubarões enquanto pune os esfomeados ladrões de galinha.

Ao estudar as eleições de 2006 (re‑eleição de Lula) e 2010 (eleição de Dilma), Singer notou a importância crucial do voto de milhões de brasileiros do Nordeste que melhoraram de vida através das políticas ditas “assistencialistas” do governo PT: “o projeto político de reduzir apobreza sem contestar a ordem, particularmente nos bolsões de atraso regional em que a pobreza se fixou ao longo da história brasileira,conquistou coração e mentes, tornando plausível a longa duração para o lulismo” (SINGER, p. 175).

Porém, apesar da redução da desigualdade social no governo Lula, com “expressivo aumento de emprego e da renda, na qual a valorizaçãodo salário mínimo teve rol crucial”, o PT chegou ao governo federal tendo herdado de governos anteriores um país grotescamente desigual:

“Mesmo tendo havido redução da desigualdade no governo Lula, ela foi insuficiente para tirar o país do quadrante em que estão as nações maisdesiguais do mundo. O argumento, no entanto, se aplica menos ao que aconteceu no governo Lula e mais ao que veio antes de Lula. O Brasil

 permaneceu parado num escalão elevadíssimo de desigualdade, por momentos o mais alto do mundo, durante cerca de duas décadas, desde o fim dosanos 1970 até o começo dos anos 2000. A herança da brutal desigualdade legada pelo século XX foi desembocar no governo Lula, com os 10% mais ricosse apropriando de quase 50% da riqueza e deixando os 40% mais pobres apenas 8%!

Devido ao retardo secular do Brasil, havia a expectativa de que um presidente eleito por partido de orientação socialista tomasse medidas para provocarrápida contração do fosso social, mesmo que ao preço de haver confronto político. Tratar‑se‑ia da adoção do que poderíamos chamar de ‘reformismo

 forte’: ‘intensa redistribuição de renda num país obscenamente desigual’, nas palavras de Francisco de Oliveira. Reconheça‑se que a plataforma‘reformista forte’ era a perspectiva original do PT. Desde esse ponto de vista, é secundário estabelecer aqui as distinções entre vertentes petistasoriundas da inspiração revolucionária leninista ou trotskista e aquelas originárias das tradições católicas ou socialistas democráticas. Salvo engano,

todas convergiram para um programa ‘reformista forte’ nos anos 1990 e nas propostas do partido até 2001 podem‑se encontrar diversas indicações doque seria feito caso a alma do Sion tivesse prevalecido no governo Lula.

Desde a garantia do trabalho agrícola por meio da distribuição de terra até a tributação do patrimônio das grandes empresas e fortunas para criar umFundo Nacional de Solidariedade que financiasse projetos apresentados por organizações comunitárias, há um conjunto de itens, que passam peladiminuição da jornada de trabalho para 40 horas sem corte de salários, criação de Programa de Garantia de Renda Mínima, revisão das privatizações,convocação dos fóruns das cadeias produtivas etc., que desenham a perspectiva de mudanças fortes.” (SINGER, p. 185)

Dado o sistema eleitoral brasileiro, com o financiamento empresarial de campanhas e a captura do Estado pelos interesses privados ecorporativos, nenhum partido tem chance alguma de se eleger com um programa de fato revolucionário, ou mesmo “reformista forte”, demodo que o PT só conseguiu chegar à presidência amainando o ímpeto do socialismo de Sion com o Welfare State da “alma do Anhembi”.Se há de fato um fosso entre o PT governista, praticante do “assistencialismo” aos mais desfavorecidos ao mesmo tempo que ajuda osempresários a seguirem lucrando horrores, e aquele PT originário, socialista e anti‑patronal, o que se descortina em 2016 é uma nova fasepara a dialética entre “as duas almas do PT”.

Os limites estreitos deste reformismo gradual e deste pacto conservador do PT governista agora estão escancarados: mesmo sem que o PTtenha tentado a via do reformismo forte ou das medidas socialistas, as forças reacionárias de direita têm sabotado sistematicamente osegundo mandato de Dilma Rousseff, aderindo ao golpismo descarado (ainda que não mediado pela força militar), com a ameaça palpávelde um governo PMDBista‑Tucanóide que prossiga a política da Privataria, desmonte direitos trabalhistas, aniquile programas sociais comoBolsa Família, Fome Zero, Minha Casa Minha Vida, ProUni etc.

Diante deste quadro lastimável do golpismo‑de‑direita, em 2015/2016, o PT surpreendentemente acaba por encontrar aliados em partidosà esquerda, no PSOL ou no PC do B, e em movimentos sociais como o MST e o MTST, além de frentes como a Brasil Popular e a Povo SemMedo, de modo a demonstrar que, longe de morto, “o espírito de Sion”, ou o “PT Socialista”, não está tão morto e enterrado assim. Comomostra a resolução do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores (hps://www.facebook.com/pt.brasil/) em 19 de abril de 2016, diasapós o “golpe parlamentar” desferido pelo Congresso presidido por Eduardo Cunha:

“A admissão do processo de impeachment pela Câmara dos Deputados representa um golpe contra a Constituição. Viola a legalidade democrática e abrecaminho para o surgimento de um governo ilegítimo. Escancara, também, o caráter conservador, fundamentalista e fisiológico da maioria parlamentareleita pelo peso do poder econômico e de negociatas impublicáveis.

 As forças provisoriamente vitoriosas expressam coalizão antipopular e reacionária. Forjada no atropelo à soberania das urnas, aglutina‑se ao redor deum programa para restauração conservadora, marcado por ataques às conquistas dos trabalhadores, cortes nos programas sociais, privatização daPetrobras, achatamento dos salários, entrega das riquezas nacionais, retrocesso nos direitos civis e repressão aos movimentos sociais. O programaneoliberal difundido pela cúpula do PMDB, “Uma Ponte para o Futuro”, estampa com nitidez várias destas propostas.

 A coalizão golpista é dirigida pelos chefões da corrupção — trabalhados por setores incrustados nas instituições do Estado, no Judiciário e na PolíciaFederal –, da mídia monopolizada e da plutocracia, como deixou clara a votação do último domingo. Presidida por Eduardo Cunha — réu em gravescrimes de suborno, lavagem de dinheiro e recebimento de propina — a Câmara dos Deputados foi palco de um espetáculo vexaminoso, ridicularizadoinclusive pela imprensa internacional. O Diretório Nacional reitera a orientação da nossa Bancada para prosseguir na luta pelo afastamento imediatodo presidente da Câmara dos Deputados.

O circo de horrores exibido no domingo reforça a necessidade de uma reforma política e da democratização dos meios de comunicação.” (PT, Resolução

Nacional, 19/04/2016 (hp://www.pt.org.br/conheca‑a‑nova‑resolucao‑do‑diretorio‑nacional‑do‑pt/))

Vivemos neste 2016 em um clima de tão aberto complô golpista, de histérico teor anti‑petista, que vale a pena refletir com lucidez, cautela einformação detalhada sobre o que estão sendo de fato os anos Lula e Dilma no Brasil, não para idolatrá‑los, numa hagiografia populista,como “salvadores da pátria”, mas para reconhecer neles os méritos e falhas de seres humanos falíveis, apesar de sua “estatura histórica” (oslivros de História só tem gente cheia de falhas). As esquerdas, abandonando o PT à sanha difamatória e a sabotagem golpista que está emcurso, cometeriam o erro de não enxergar um inimigo comum, a classe capitalista e patronal do velho e sempre‑novo Marx!

 

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Diante disso, muitos intérpretes políticos, como Ruy Braga, sugerem que a crise política só é compreensível a partir da “perspectivaglobalizante da luta de classes” – o que torna Marx, mais que nunca, incontornável, imprescindível, inadiável: “Qualquer análise dasestruturas da atual crise política deverá, ao contrário daquele estilo de análise que se concentra na cena política, isto é, nas diatribesparlamentares e nas declarações protocolares dos governantes, o balanço sistemático da era que finda não pode prescindir da perspectivaglobalizante da luta de classes.” – RUY BRAGA, Contornos do pós‑lulismo , Revista Cult (LEIA: UMA SOCIOLOGIA À ALTURA DE JUNHO)(hps://acasadevidro.com/?s=sociologia+%C3%A0+altura+de+junho)

Paulo Freire já dizia, em  À Sombra Desta Mangueira (1995),  que não se deve esperar, da esquerda, santidade ou infalibilidade, e nadaganhamos com hagiografias de Che ou Lula, de Lenin ou Mao Tsé‑Tung, de Allende ou Fidel, que ignorem os equívocos de seus caminhos, jáque só seremos fiéis ao fecundo método de Marx ao não deixarmos de praticar a crítica perene do real‑que‑se‑move  (nós e nossas relaçõesembarcados neste fluxo, nesta História, no Tempo que nos carrega a um futuro‑em‑aberto…):

“É verdade que ninguém de bom‑senso poderia pensar em esquerdas cuja militância fosse constituída por santos e anjos. Fazer política é tarefa demulheres e de homens com suas limitações e qualidades. Mas, não apenas se poderia esperar das esquerdas que se fossem tornando mais coerentes,recusando acordos com antagônicos, como se deveria exigir delas que, em lugar de aprofundar suas diferenças adjetivas ou adverbiais as superasse tendocomo base seus pontos de identidade. Não há dúvida nenhuma, porém, de que as posições de esquerda, entre elas principalmente as do PT, têm feitoavançar o processo político brasileiro. (…) É preciso, acima de tudo, que enfrentemos, no corpo das próprias esquerdas, algumas de suas ‘enfermidades’mais daninhas e mais responsáveis pelo desacordo entre elas: o sectarismo, o messianismo autoritário e a arrogância transbordante, de que o PT, porexemplo, se ressente.

Não há partido de esquerda que permaneça fiel a seu sonho democrático se cair na tentação das chamadas palavras deordem, dos slogans, das prescrições, da indoutrinação, do poder intocável das lideranças. Tentações todas estas inibidoras do surgimento e dodesenvolvimento da tolerância sem a qual se faz inviável a democracia. Como inviável se faz também na licenciosidade. Não há partido de esquerda que

 permaneça fiel a seu sonho democrático se cair na tentação de se reconhecer como o portador da verdade sobre a qual não há salvação. (…) O partido progressista que pretenda preservar‑se como tal não pode prescindir da ética, da humildade, da tolerância, da perseverança na luta, da mansidão, dovigor, da curiosidade sempre pronta para aprender e reaprender.

Não se pode defender os interesses das classes populares, seu direito de viver com decência, seu direito de pronunciar o mundo, que implica o de estudar,o de comer, o de trabalhar, o de vestir, o de dormir, o de amar, o de cantar, o de chorar e, ao mesmo tempo, fazer vistas grossas ao roubo dos cofres

 públicos. (…) É bem verdade que um partido político não é um mosteiro de santos monges, mas deve aspirar‑se a tornar‑se, cada vez mais, umaagremiação de gente realmente séria e coerente. Gente que diminui mais e mais a distância entre o que diz e o que faz…” (PAULO FREIRE, p. 104 a106)

Para diminuir o abismo entre teoria e práxis, para não só interpretar mas também transformar o mundo, prossegue sendo inadiável o bom‑e‑

velho Marx. O espectro sempre vivo do marxismo como crítica profana e mordaz da modernidade ressurge a cada geração, em toda suavivacidade, pela perpetuação problemática dos antagonismos da sociedade capitalista. Sempre cindida em classes que se opõem, cravejadade desigualdades e injustiças, em que a hýbris de uma classe sempre é contestada pela nêmesis organizada da classe oprimida, a História,para o materialismo dialético, é disputa dinâmica em um contexto sempre fluido e revolucionável (“o tempo não pára”, o futuro não estáescrito). Será um erro, decerto, como Derrida dizia, passar ao largo de Marx, ignorando a força tremenda de seu inovador percurso, que temem Bensaïd um de seus melhores esclarecedores, com quem encerro este artigo, convidando à leitura do excelente  Marx, Manual denstruções:

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“É preciso libertar Marx dos dogmas que o mantiveram acorrentado. Sua obra aberta, sem limites, revolve em profundidade o espírito de uma época.Crítica em movimento de um sistema dinâmico. O objeto de sua crítica, em perpétuo movimento, sempre o conduzia mais longe.

Pleiadizado, Marx desfruta agora de um reconhecimento acadêmico que se esforça em contê‑lo dentro dos limites temporais de seu século: umextraordinário pensador, com certeza, mas datado e fora de moda, bom para arquivos e museus. Economista amador, filósofo digno de figurar no grandeafresco da odisseia do Espírito, historiador qualificado para concursos acadêmicos, pioneiro da sociologia? Um pouco de tudo. Um Marx em migalhas,

em suma, inofensivo. Intelectual respeitável, se não tivesse tido a infeliz ideia de se envolver com política.

No entanto, é isso que o torna um novo tipo de intelectual, que soube conciliar, nos anos 1860, a redação de O Capital e a organização material, até mesmo a colagem de selos, da Primeira Internacional.

É por isso, escreve Jacques Derrida, que não há “futuro sem Marx”. Para, contra, com, mas não “sem”. E, quando os neoliberais ligados a Hobbes,Locke, Tocqueville o chamam de velho antiquado do século XIX, o espectro sorri discretamente.

 A atualidade de Marx é a do próprio capital. Porque, se ele foi um excepcional pensador de sua época, se pensou com seu tempo, também pensou contrao seu tempo e além dele, de maneira intempestiva. Seu corpo a corpo, teórico e prático, com o inimigo irredutível, o poder impessoal do capital,transporta‑o até nosso presente.” – BENSAÏD, p. 168

* * * * * 

BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

BENSAID, Daniel. Marx – Manual de Instruções. Boitempo, 2013.BRAGA, Ruy. Contornos do pós‑lulismo. Revista Cult.

(hp://revistacult.uol.com.br/home/2015/10/contornos‑do‑pos‑lulismo/)DERRIDA, Jacques. Espectros de Marx. FREIRE, P. À Sombra Desta Mangueira. Ed. Civilização Brasileira, 2012.

MARX,K. Crítica da filosofia do Direito de Hegel. Boitempo, 2010.MARX , Manuscritos econômico‑filosóficos. Trad. Jesus Ranieri, Boitempo, 2004.

POLANYI, K. A Grande Transformação.SINGER, A. Os Sentidos do Lulismo. Companhia das Letras, 2012.

FILMOGRAFIA RECOMENDADA

eões. De Eduardo Coutinho. (hps://acasadevidro.com/2016/02/28/eduardo‑coutinho‑1933‑2014‑assista‑a‑todos‑os‑filmes‑do‑grande‑documentarista‑brasileiro/)

BC da Greve. De Leon Hirszman. (hps://youtu.be/2hhFk0cml6Y)inha de Montagem, Greve de Março e A Luta do Povo. De Renato Tapajós. (hps://acasadevidro.com/2016/01/07/a‑historia‑politica‑

 brasileira‑em‑3‑documentarios‑de‑renato‑tapajos‑linha‑de‑montagem‑greve‑de‑marco‑a‑luta‑do‑povo‑assistam‑na‑integra/)ula – Filho do Brasil. De Fabio Barreto.

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Peoes

1979/90 ABC da Greve Leon Hirzman

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Leia também:

 Jornal GGN – “A aproximação do lulismo com o New Deal” (hp://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/a‑aproximacao‑do‑lulismo‑com‑o‑new‑deal)André Singer – “Cutucando onças com varas curtas” (Sobre o primeiro mandato de Dilma, 2011‑2014)(hp://novosestudos.uol.com.br/v1/files/uploads/contents/content_1604/file_1604.pdf)Outras Palavras – Entrevista com André Singer em 2016 (hp://outras‑palavras.net/outrasmidias/?p=295329)

* * * * *

Eduardo Carli de MoraesGoiânia, Abril de 2016

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Anhembi, Os Sentidos do Lulismo ‑ Reforma Gradual e Pacto Conservador (livro), Paulo Freire, Pedagogia do Oprimido, Proudhon,Reforma, revolução, Ruy Braga , Salário Mínimo no Brasil, socialismo, sociologia , Tirinhas, trabalho.Crie um bookmark para o Link permanente.Deixe um comentário

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