a literatura do espírito santo

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A Literatura do Espírito Santo: uma marginalidade periférica Prof. Dr. Francisco Aurelio Ribeiro

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Slides disponibilizados pela Professora Carla de Paula do Colégio Castro Alves - Cariacica

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Page 3: A Literatura do Espírito Santo

“Esta capitania do Espírito Santo é rica de gado e algodões. Tem seis engenhos de açúcar e muitas madeiras de cedros e paus de bálsamo, que são árvores altíssimas: picam-se primeiro e deitam um óleo suavíssimo de que fazem rosários, e é único remédio para feridas. A vila é de Nossa Senhora da Vitória; terá mais de 150 vizinhos, com seu vigário.”

Fernão Cardim, 1583

Page 4: A Literatura do Espírito Santo

Antigo colégio dos Jesuítas e Igreja de Santiago, construídos em cerca de 1550.

Page 5: A Literatura do Espírito Santo

1. A Literatura do Espírito Santo: século XVI ao XIX

• Carta Foral do Rei Dom João III (7/10/1534): “A quantos esta minha carta virem faço saber que eu fiz doação e mercê a Vasco Fernandes Coutinho, Fidalgo de minha casa, da capitania de 50 léguas de terra na minha costa do Brasil para ele e todos os seus filhos, netos e herdeiros e sucessores, de juro e de herdade para sempre segundo mais inteiramente é contido e declarado na carta de doação que da dita terra lhe tenho passada.” (Certidão de nascimento do povo capixaba)

Page 6: A Literatura do Espírito Santo

• Vasco Fernandes Coutinho: chegou, na caravela Glória, em sua capitania, no dia 23/05/1535, dia dedicado à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, Espírito Santo. Com ele, vieram 60 pessoas, dentre as quais dois fidalgos degredados, D. Jorge de Menezes e D. Simão Castelo Branco.

Page 7: A Literatura do Espírito Santo

Romances sobre a vida do primeiro donatário:

• Vilão Farto, Renato Pacheco, 1991;

• O Capitão do Fim, Luís Guilherme Santos Neves, 2001;

• Vasco Fernandes Coutinho, AlvaritoM.Filho, 2005.

• Vasco,Cláudio Lacchini,2009

Page 8: A Literatura do Espírito Santo

1.1. Literatura informativa do século XVI:

• Pero de Magalhães Gandavo: Tratado da Terra do Brasil (Cap. VII), 1570.

______. História da Província de Santa Cruz, 1576.

• Fernão Cardim: Narrativa Epistolar de uma Viagem em Missão Jesuítica da Bahia a São Vicente, 1583 a 1590.

• Gabriel Soares de Souza: Tratado Descritivo do Brasil, 1587.

Page 9: A Literatura do Espírito Santo

1.2. Literatura Jesuítica do século XVI:

Intenção catequética, doutrinária e religiosa

Representantes : Pe. José de Anchieta (1534-

1597). Criou a poesia e o teatro no Espírito Santo, onde estreou oito dos seus 12 autos. “Na aldeia de Guarapari” é a primeira montagem de Anchieta no Espírito Santo, em 08/12/1585.

Page 10: A Literatura do Espírito Santo

Da Senhora da Vitória,

“Vitória” sou nomeada.

E, pois, sou de voz amada,

D’onze mil virgens na glória

Espero ser coroada.

Por vós sou alevantada

Mais do que nunca subi,

Para que, subindo assim,

Não seja mais derrubada,

Pois que ter-vos mereci.

(Anchieta, José de. Quando, no Espírito Santo se recebeu uma relíquia das onze mil virgens.)

Page 11: A Literatura do Espírito Santo

• Pe. Álvaro Lobo (1551-1608). Escreveu Diálogo da Ave Maria, encenada em 1884.

• Pe. Manoel da Nóbrega (1517-1570). Superior dos Jesuítas no Brasil, tendo escrito as Cartas do Brasil (1549-1560), um importante documento do início da colonização. Escreveu Diálogo sobre a conversão dos gentios, primeira obra literária da Literatura Brasileira.

A Literatura Jesuítica é medieval em sua forma e pré-barroca, pela ideologia e mundo dividido entre o bem (a religião) e o mal (as outras crenças).

Page 12: A Literatura do Espírito Santo

1.3. Barroco (1601-1768)

Praticamente inexistente no Espírito Santo, já que nos séculos XVII e XVIII, a capitania entra em decadência, fruto da descoberta do ouro e da criação da capitania das Minas Gerais.

Em 1625, na tentativa de invasão dos holandeses, consagrou-se o episódio de Maria Ortiz (1603-1646), figura lendária de heroína da mulher capixaba citada em carta do donatário da capitania, Francisco de Aguiar Coutinho ao Governador Geral.

Page 13: A Literatura do Espírito Santo

“Na repulsa dos invasores audaciosos é de justiça destacar a atitude de uma jovem moça que astuciosamente retardou o acesso dos invasores à parte alta da Vila, por eles visada, permitindo assim que organizássemos com os homens e elementos de que dispúnhamos, a defesa da sede. Essa jovem se tornou para nós um exemplo vivo de decisão, coragem e amor à terra. A ela devemos esse valioso serviço, sem o qual a nossa tarefa seria muito mais difícil e penosa. O seu entusiasmo decidido fez vibrar o dos próprios soldados, paisanos e populares na defesa e perseguição do invasor audaz e traiçoeiro.” (Apud Valle, 1971, p. 163)

Page 14: A Literatura do Espírito Santo

Vários autores capixabas ficcionalizaram a vida dessa heroína capixaba como Luiz Guilherme Santos Neves (Crônicas da Insólita Fortuna), Milson Henriques (peça teatral), Bernadette Lyra (A panelinha de breu) e Neida Lúcia Moraes, dentre outros.

Page 15: A Literatura do Espírito Santo

• Manoel de Andrade Figueiredo (1674-1735). Segundo Oscar Gama, é o primeiro capixaba nato escritor, calígrafo e educador. Publicou Nova escola para aprender a ler, escrever e contar.

• Gonçalo Soares de França (1632-17?). Um dos principais poetas barrocos, pertenceu à Academia Brasílica dos Esquecidos (Salvador), onde leu seu poema épico, Brasília. É tido como baiano, pelo Espírito Santo, na época, ter pertencido à Bahia.

Page 16: A Literatura do Espírito Santo

1.4. Arcadismo ou Neoclassicismo (1768-1835)

• Domingos de Caldas Barbosa (1740-1800), neoclássico, pré-romântico, escreveu o Poema Mariano, em 1770, uma narrativa em verso rimado sobre os milagres de Nossa Senhora da Penha, só publicado em 1854. Inaugurou a “literatura sobre o Convento da Penha”, tradicional na literatura dos capixabas.

Page 17: A Literatura do Espírito Santo

“À costa ocidental americana,Que do antártico pólo é mais vizinhaE o nome do Brasil sustenta ufana,Não o de Santa cruz que d’antes tinha,Entre o tupi infiel, gente inumana;Estão sessenta graus ao sul da linha,Duas vilas chamadas com vanglóriaUma Espírito Santo, outra – Vitória.

Estende o mar um braço pela terra Que porto faz à tal Capitania;E com grossas veias nele encerra,Grandes ilhas de tosca pedraria;Desce o rio Jucu de rica serraE outro com o santo nome de Maria,Que eivado dos mais insanos ritosVem ao mar expurgar-se dos delitos.”

(Caldas Barbosa. Poema Mariano. Prólogo. 1854)

Page 18: A Literatura do Espírito Santo

• Marcelino Pinto Ribeiro Duarte (1788-1860). Foi poeta, Derrota de uma viagem ao Rio de Janeiro, 1817; dramaturgo, O cônego e Inês; gramático, Arte de ler e escrever em pouco tempo. O mais importante escritor capixaba da 1ª metade do século XIX.

Page 19: A Literatura do Espírito Santo

“Por essas horas já descia alado,O ligeiro – jardim – que assim se chamaO barco no qual devo ser levadoÀ corte do Brasil, que Rei aclama:Já rubicundo Febo era montadoNo coche de cristal, que ao mundo inflamaQuando eu salto veloz n’alta canoa;Toda a turba predita à mesma voa.

D’africana progênie assaz ligeiroLança à mão d’alto remo, cobiçosoDe se ver, qual pratica o vil sendeiro,Isento do trabalho preguiçoso;Não sente o negro audaz bruto e grosseiro,Os efeitos de amor mais extremo,Pois, pra mais aumentar minha afliçãoForceja, empurra, grita, mas em vão.”

Page 20: A Literatura do Espírito Santo

• Domingos José Martins (1781-1817). O herói capixaba da revolução Pernambucana, foi poeta neoclássico, conhecido por seu Soneto, escrito na prisão.

“Meus ternos pensamentos, que sagrados,me fostes quase a par da liberdade!Em vós não tem poder a iniqüidade;à esposa voai, narrais meus fados!

Dizei-lhe que nos transes apertados,ao passar dessa vida à eternidade,ela n’alma reinava na metadee com a pátria partia-lhe os cuidados.

A pátria foi o meu nume primeiro,a esposa depois o mais queridoobjeto de desvelo verdadeiro;

E na morte entre ambos repartido.será de uma o suspiro derradeiro,será da outra o último gemido.” (ELTON, Elmo. Poetas do Espírito Santo. 1982, p. 15)

Page 21: A Literatura do Espírito Santo

• José Gonçalves Fraga (1793-1855). Foi autor de dramas em verso e de um poema satírico denominado Bandocada.

Soneto (a um dia chuvoso, em que o autor projetava caçar)

Quem não dirá que hoje é um bom dia,Atenta a intenção, que nós tivemos;Pois pela chuva aos Sabiás poupemosA morte com cruel mosquetaria.

Aliás, como a inocência sofreriaDas nossas espingardas os extremosMortais tiros; de que mais glória temosQuanto a grau sumo sobre a morte ímpia.

Assim foi bom chover, ninguém duvida,Mesmo até para nós por dois motivos;Um de deixar os Sabiás com vida;

Outro de não morrer, galgando altivosMontes por trilhos d’íngreme subida,Ficando os Sabiás, e até nós vivos.” (VASCONCELOS, J. M. P. de. Jardim Poético.

1856)

Page 22: A Literatura do Espírito Santo

• João Clímaco de Alvarenga Rangel (1799-1866). Poeta, orador, advogado e político. Foi o defensor dos negros insurrectos na Insurreição do Queimado, 1849. Biografado por Afonso Cláudio.

• João Luiz Fraga Loureiro (1805-1876). Poeta popular, famoso pela devoção a S. Benedito e os poemas feitos a ele como este A. S. Benedito.

Page 23: A Literatura do Espírito Santo

“Viva o grande Benedito

Estrela do firmamento

Que no claustro, e no convento

Mais fulgura, é mais bonito.

Viva sempre, e seja invicto

Nosso empenho sublimado,

Viva todo o apaixonado

Que bom gosto, e fervor tanto

Dá louvor a nosso SantoNo Convento colocado” (VASCONCELOS, J. M. P. de. Jardim Poético. 1856)

A esse primeiro período da literatura espírito-santense, Afonso Cláudio chama “Período de agregação” (1770-1870) e ao que se segue “Período de expansão consciente” (1870-1910).

Page 24: A Literatura do Espírito Santo

1.5. Romantismo (1836-1880)

Consagrou-se na segunda metade do século XIX, com seu nacionalismo, idealismo e culto à natureza. Período de ascensão da burguesia, da criação de periódicos (jornais e revistas), da publicação de folhetins, poemas e peças teatrais, incorporando um novo público, as mulheres e as crianças.

Page 25: A Literatura do Espírito Santo

• Luiz da S. A. de Azambuja Susano (1791-1873). Publicou o primeiro romance histórico capixaba, Um roubo na Pavuna, 1843, seguido de O capitão Silvestre e Frei Veloso, 1847 e A baixa de Matias, 1859.

• Antônio Cláudio Soído (1822-1889). Oficial da Marinha e poeta. Escreveu “Lembranças de Montevidéu. A menina oriental”, “O batel” e “Visita de S. M. o Imperador ao hospital dos empestados”, dentre outros.

Page 26: A Literatura do Espírito Santo

A menina oriental

A menina OrientalComo a menina ArgentinaTem de Goda alva tez fina,Feições nobres, rosto oval,E da Moura feiticeira,Como tem a Brasileira,Lindos olhos matadores,Negro, lustroso cabelo,Onde, segundo o modeloDe Paris, enxerta flores

Ela como a BrasileiraTem um forte majestoso,O seu corpo é gracioso,Esbelto como a palmeira”

(...)

Page 27: A Literatura do Espírito Santo

• Joaquim José Gomes da Silva Neto (1818-1903). Advogado, político, cronista, ficou conhecido por sua Crônica da Companhia de Jesus, 1880 e As maravilhas da Penha, 1888.

• José Marcelino Pereira de Vasconcelos (1821-1874). Advogado, político, jornalista, pesquisador, foi o mais importante escritor da segunda metade do século XIX. Deixou publicados: Jardim Poético (antologia), 1856 e 1860; Ensaio de História e Estatística da Província do Espírito Santo, 1858; Seleta Brasiliense, 2 vol., 1868-70; Catecismo Político e Histórico do Espírito Santo, 1859; além de várias obras de jurisprudência. Criou os jornais A Regeneração, O Correio da Vitória e O Semanário.

Page 28: A Literatura do Espírito Santo

• José Joaquim Pessanha Póvoa (1836-1904). Jornalista, político, educador. Publicou: Os heróis da guerra, Tiradentes, ou a voz dos mortos, Os heróis da arte, Legendas da província do Espírito Santo, Jesuítas e Reis, A cela do Padre Anchieta, dentre outros. É o autor do Hino do Espírito Santo, antes, Hino à juventude capixaba.

• Bazílio Carvalho Doemon (1834-1893). Jornalista, político e historiador. Escreveu: Arcanos, romance histórico, 1877; História e Estatística da Província do Espírito Santo, 1879 e Reminiscências, 1888.

Page 29: A Literatura do Espírito Santo

Surge ao longe a estrela Surge ao longe a estrela prometida,prometida,Que a luz sobre nós quer Que a luz sobre nós quer espalhar;espalhar;Quando ela ocultar-se no Quando ela ocultar-se no horizonte,horizonte,Há de o sol nossos feitos lumiar.Há de o sol nossos feitos lumiar.

Nossos braços são fracos, que Nossos braços são fracos, que importa?importa?Temos fé, temos crença a fartar;Temos fé, temos crença a fartar;Suprem a falta de idade e de Suprem a falta de idade e de força,força,Peitos nobres, valentes, sem par.Peitos nobres, valentes, sem par.

(estribilho)(estribilho)Salve, oh, povo espírito-santense!Salve, oh, povo espírito-santense!Herdeiro de um passado glorioso,Herdeiro de um passado glorioso,Nós somos a falange do presente,Nós somos a falange do presente,Em busca de um futuro Em busca de um futuro esperançoso.esperançoso.

Saudemos nossos pais e mestres,Saudemos nossos pais e mestres,A pátria, que estremece de A pátria, que estremece de alegria,alegria,Na hora em que seus filhos, Na hora em que seus filhos, reunidos,reunidos,Dão exemplos de amor e de Dão exemplos de amor e de harmonia.harmonia.

Venham louros, coroas, venham Venham louros, coroas, venham flores,flores,Ornar os troféus da mocidade;Ornar os troféus da mocidade;Se as glórias do presente forem Se as glórias do presente forem poucas;poucas;Acenai para nós posteridade!Acenai para nós posteridade!