a linguagem das metamorfoses em jorge de sena

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- 1 - Revista Científica Vozes dos Vales – UFVJM – MG – Brasil – Nº 06 – Ano III – 10/2014 Reg.: 120.2.095–2011 – UFVJM – QUALIS/CAPES – LATINDEX ISSN: 2238-6424 – www.ufvjm.edu.br/vozes Ministério da Educação Brasil Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri UFVJM Minas Gerais Brasil Revista Vozes dos Vales: Publicações Acadêmicas Reg.: 120.2.095 2011 UFVJM ISSN: 2238-6424 QUALIS/CAPES LATINDEX Nº. 06 Ano III 10/2014 http://www.ufvjm.edu.br/vozes A linguagem das metamorfoses em Jorge de Sena Prof. MSc. Marco Antonio Saraiva Doutorando em Literatura Portuguesa na Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ - Brasil http://lattes.cnpq.br/5342522014969602 E-mail: [email protected] Resumo: O presente trabalho tem como objetivo principal analisar a obra do poeta português Jorge de Sena intitulada Metamorfoses, buscando depreender as relações de sua poética com as diversas artes produzidas no Ocidente, a partir da gênese mitológica dos seus primórdios, universo poético que abarca objetos de arte desde os séculos VII a.C. e atingem a contemporaneidade, criando um vínculo constante com a trajetória histórica da produção artística, expandindo, da mesma forma, os significados dos poemas. Revelando, em primeiro, que a sequência cronológica que vai se formando, legitima com isso o próprio fenômeno que nomeia o livro, o encadeamento sugere as metamorfoses de um tema para outro que eclode em seguida, num périplo artístico de transformações na própria linguagem. Palavras-chave: Poesia. Metamorfoses. Jorge de Sena.

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Revista Científica Vozes dos Vales – UFVJM – MG – Brasil – Nº 06 – Ano III – 10/2014 Reg.: 120.2.095–2011 – UFVJM – QUALIS/CAPES – LATINDEX – ISSN: 2238-6424 – www.ufvjm.edu.br/vozes

Ministério da Educação – Brasil

Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM Minas Gerais – Brasil

Revista Vozes dos Vales: Publicações Acadêmicas Reg.: 120.2.095 – 2011 – UFVJM

ISSN: 2238-6424 QUALIS/CAPES – LATINDEX

Nº. 06 – Ano III – 10/2014 http://www.ufvjm.edu.br/vozes

A linguagem das metamorfoses em Jorge de Sena

Prof. MSc. Marco Antonio Saraiva

Doutorando em Literatura Portuguesa na

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ - Brasil

http://lattes.cnpq.br/5342522014969602

E-mail: [email protected]

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo principal analisar a obra do poeta português Jorge de Sena intitulada Metamorfoses, buscando depreender as relações de sua poética com as diversas artes produzidas no Ocidente, a partir da gênese mitológica dos seus primórdios, universo poético que abarca objetos de arte desde os séculos VII a.C. e atingem a contemporaneidade, criando um vínculo constante com a trajetória histórica da produção artística, expandindo, da mesma forma, os significados dos poemas. Revelando, em primeiro, que a sequência cronológica que vai se formando, legitima com isso o próprio fenômeno que nomeia o livro, o encadeamento sugere as metamorfoses de um tema para outro que eclode em seguida, num périplo artístico de transformações na própria linguagem.

Palavras-chave: Poesia. Metamorfoses. Jorge de Sena.

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Metamorfoses de Jorge de Sena

I - Sequência Temática

O livro “Metamorfoses” de Jorge de Sena se compõe dos seguintes poemas:

1- GAZELA DA IBÉRIA, 2- DEMÉTER, 3- CABECINHA ROMANA DE MILREU, 4-

ARTEMIDORO, 5- MESQUITA DE CÓRDOBA, 6- A NAVE DE ALCOBAÇA, 7-

PIETÀ DE AVIGNON, 8- CÉFALO DE PRÓCRIS, 9- RETRATO DE UM

DESCONHECIDO, 10- CAMÕES DIRIGE-SE AOS SEUS CONTEMPORÂNEOS,

11- <<ELEONORA DI TOLEDO, GRANDUCHESSA DI TOSCANA>>, DE

BRONZINO, 12- <<A MORTA>>, DE REMBRANDT, 13- <<O BALOUÇO>>, DE

FRAGONARD, 14- TURNER, 15- <<A CADEIRA AMARELA>>, DE VAN GOGH, 16-

<<OFÉLIA>>, DE FERNANDO AZEVEDO, 17- CARTA A MEUS FILHOS SOBRE

OS FUZILAMENTOS DE GOYA, 18- A MÁSCARA DO POETA, 19- DANÇARINO

DE BRUNEI, 20- A MORTE, O ESPAÇO, A ETERNIDADE. Seguindo-se outra seção

intitulada Post-Metamorfose onde constam os seguintes poemas: VARIAÇÃO

PRIMEIRA e VARIAÇÃO SEGUNDA; finalizando-se com a parte nomeada de Quatro

sonetos a Afrodite Anadiómena.

Em determinado momento na leitura do livro Metamorfoses de Jorge de Sena

ao tentar depreender seus conteúdos, a forma e a linguagem que os vazam,

comecei a dar-me conta dos títulos e as temáticas atreladas a esses, e

principalmente a seqüência que vai se formando, parecendo legitimarem com isso o

próprio fenômeno que nomeia o livro; o próprio encadeamento sugere as

transformações de um assunto para outro, o périplo das Metamorfoses. Um rumo, no

entanto, histórico, tendo a arte de várias épocas, além de objetos tecnológicos,

como vetor e marco; pois partindo dos albores da civilização alcançam uma das

balizas contemporâneas de nossa cultura Ocidental e Lusitana. E principio o rumo

deste presente trabalho com uma análise por essa orientação diacrônica.

Neste universo poético através da história encontramos objetos de valores

artísticos que vão dos séculos VII e VIII a.C. até meados do século passado,

perfazendo vinte e oito séculos de contínua criação de arte pela humanidade; são os

objetos concretos dos quais os vinte poemas de Metamorfoses se tornam outros

signos de arte formando uma sequência temporal. Assim já surgem no trajeto das

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quatro idades míticas como ressonância de Ovídio: ouro, prata, bronze e ferro, ou

seja, dão conta na realidade das metamorfoses que a pedra sofre para além do fim

do paleolítico e neolítico, a civilização do sílex, matéria prima dos arados primitivos,

onde em seguida a lavoura fixaria o homem, atingindo posteriormente novas eras.

Depreendemos que as composições que se referem propriamente a pedra passam

pela escultura como a “Gazela da Ibéria”, “Deméter”e ”Cabecinha Romana de

Milreu”; pela arte da mumificação, o corpo humano como artefato que jaz entre o

artístico e o científico, que não é mais carne pois se petrificou, que lemos em

"Artemidoro"; pela arquitetura como na "Mesquita de Córdova" e "A nave de

Alcobaça"; o tema da transitoriedade comparece na forma poética da "Pietà de

Avignon"; quanto a assunto da matéria corporal, da carne que será pó, metonímia

também da pedra, encontramos em "Céfalo e Prócris", "Retrato de um

Desconhecido", "Camões dirige-se a seus contemporâneos", "'Eleonora di Toledo,

Granduchessa di Toscana' de Bronzino", "A morta' de Rembrandt", "'O Balouço' de

Fragonard", "Turner", "'A Cadeira Amarela' de Van Gogh", "'Ofélia' de Fernando

Azevedo", "Carta a meus filhos sobre os Fuzilamentos de Goya", "A máscara do

poeta", "Dançarino de Brunei". Para finalizar então com o tema da morte em "A

Morte, o Espaço, a Eternidade".

Podemos pensar numa viagem pelos estilos de época, até determinado ponto

linear, que regem os temas dos poemas, não a linguagem de Jorge de Sena, desde

os primórdios da civilização, o estilo Clássico, a Arte Bizantina, a Idade Média, o

Humanismo e o Classicismo do Renascimento, o Barroco, o Romantismo, o

Simbolismo e por fim o Modernismo, destacando-se o Neo-Realismo e Surrealismo;

onde Apolo e Dionísio alternam-se em suas influências entre as razão e emoção,

sobrepondo-se ao processo evolutivo da sociedade guiada pelas artes, e

historicamente pelos personagens escolhidos, e estes já como signos postos dos

diversos tipos de artes.

II – O Alicerce e o Caminho Épico

Volto-me agora para as substâncias das composições que subjazem numa

camada mais funda ao próprio conteúdo fundado pela linguagem de Jorge de Sena

nos três primeiros poemas, pois são eles que dão conta da antiguidade clássica;

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formando o marco inicial do caminho latente e da rota através da arte e da história

em que a épica do poeta terá sua gênese e seu desenvolvimento, e onde se dará

sobretudo o início de sua viagem poética.

Observamos então aquela que abre o livro Metamorfoses, “Gazela da Ibéria”,

é um poema que se refere a uma escultura do século VII ou VIII a.C., de uma era,

portanto, em que o homem ainda vivia da caça, apesar da lavoura já haver se

estabelecido e ocupado grande parte do sistema de vida das sociedades de então. E

veneravam em forma de totem alguns animais, tais como a cerva cerenita

consagrada a Diana deusa da caça, e um dos doze trabalhos de Hércules. Tempo

em que faziam presentes o conto e a obviamente a fábula, dos primórdios da

formação da poesia, sem transpor-se de todo da oralidade para a escrita; porém,

inspirando agora as palavras nas presentes composições, como no primeiro poema

uma estátua da antiguidade, do período que o homem sobrevivia no limite entre a

coleta de plantas e a colheita, entre o nomadismo e o autóctone.

A partir da matéria prima em que se esculpe a “Gazela da Ibéria” recordamos

de um fato importante na chamada Época dos metais, a descoberta do bronze,

combinação do cobre e do estanho, que é um metal possível de moldar e que

fornece um gume afiado muito mais rígido. Da mesma forma que o cobre, o bronze

também permitia a reciclagem. Foi descoberto na Ásia ocidental entre os anos 4000

e 3000 a.C. e seu conhecimento estendeu-se pela Europa entre os anos 30000 e

20000 a.C. Nesse sentido, um fator que contribuiu à sua propagação foi o

desenvolvimento das rotas do comércio de metais à distância, devido à escassez

das jazidas de estanho e ouro.

O aparecimento de objetos de bronze em túmulos e outros lugares anuncia o

começo da Idade do Bronze na Europa ao redor do ano 2300 a.C. e 1200 a.C., o

seu uso estava muito difundido e, inclusive, os objetos de uso diário eram fabricados

em bronze, enquanto a pedra e o quartzo muito duro caíram em desuso.

Os artigos fabricados em bronze viajavam longas distâncias. Por isso são

encontradas espadas húngaras na Dinamarca e machados bretões na Suíça. O

resultado destes contatos entre lugares afastados foi, além do intercâmbio comercial

intenso, uma maneira eficiente para que a tecnologia e a cultura atingissem certa

uniformidade.

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A habilidade dos forjadores de bronze de cada continente aumentou gradativamente

a partir do 3000 a.C. e nos lugares onde o fornecimento de metais era abundante, o

bronze começou a ser utilizado para fabricar grandes quantidades de artigos

utilitários, por exemplo, instrumentos para arar que melhoraram muito as técnicas

agrícolas. Talvez a descoberta mais relevante dessa época foi a forja de ferro, já que

trata-se do metal mais comum. Quando misturado ao carbono, transforma-se em

aço, metal que fornece o gume mais afiado de todos. O aço foi descoberto

posteriormente aos outros metais, e a evidência mais antiga provém da Ásia

Ocidental, onde se fundiam e forjavam utensílios e armas entre o ano 2000 e o 1500

a.C. A partir de então, a utilização do cobre ficaria cada vez mais limitada às peças

ornamentais.

Dos iberos e de sua língua, sabe-se pouca coisa: desde a ‘velha Europa’ que

viu desaparecer, talvez a partir do VII milênio a.C., uma civilização que marcou

profundamente a história da humanidade. Foi designada pelo termo um tanto

enganador e redutor de neolítica, cuja etimologia evoca sobretudo a ‘pedra nova’.

Na verdade, a civilização neolítica está ligada principalmente ao cultivo do

solo e a alusão à pedra remete apenas às ferramentas de sílex talhado que as

populações daquele tempo usavam. Em vez de viverem exclusivamente do produto

da coleta, da caça ou da pesca, os homens do neolítico, ao cultivar a terra,

tornaram-se sedentários e produtores de bens: cereais, lentilhas e também de gado

e cerâmica. Os habitantes dessa ‘velha Europa’ neolítica veneravam uma deusa-

mãe que se identificava também com o despertar cíclico da natureza.

Por volta do VI milênio a.C., os iberos estavam instalados um pouco por toda

a Europa ocidental. Sua língua, que não pertence à família indo-européia, está

atestada em inscrições que utilizam ou um alfabeto particular ou o alfabeto grego.

Foram encontradas inscrições iberas (mais de mil palavras) numa região que vai de

Béziers a Saragoça e a Múrcia, ao longo do litoral do Mediterrâneo, mas não foram

decifradas: lêem-se as inscrições sem compreendê-las.

Ao se considerar agora a situação lingüística da Europa como está hoje,

pode-se deduzir que ela é resultado de movimentos de populações ocorridos após o

III milênio a.C. Essas populações vindas das estepes acabaram impondo a ‘velha

Europa’, com algumas exceções, suas línguas indo-européias: helênicas (grego),

itálicas (línguas românicas, oriundas do latim), céticas, germânicas, eslavas.

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Foi após o III milênio a.C. que as populações que falavam línguas indo-européias

começaram a se mover em direção aos países onde acabaram se fixando durante

muito tempo, após terem estado em contato com populações já residentes, como os

iberos, os aquitâneos, os lígures, os etruscos ou os siculos, que falavam línguas não

indo-européias.

O poema seguinte nos traz “Deméter”, exatamente a deusa grega da terra

cultivada, que favorece sobretudo a germinação do trigo. Representando o estágio

seguinte que a civilização iria adquirir, assim como no livro, quando o homem

abandona o extrativismo e começa com a lavoura a fixar-se, construindo os

primeiros vestígios das cidades. Assim saímos do ambiente de Cibele, mãe de

Deméter, chamada também de a Mãe dos deuses ou Grande Mãe, como no

matriarcado do neolítico, do sílex; personifica a natureza no seu poder vegetativo e

selvagem, como a Gazela da Ibéria, e chegamos nos domínios de sua filha Ceres ou

Deméter, deusa da natureza cultivada pelos homens.

A terceira composição dá conta da presença romana na Ibéria; na

extremidade do sudoeste da Europa, que Camões dizia ser o lugar “onde a terra se

acaba e o mar começa”, que nasceu o português, muito tempo após a criação da

antiga província romana LUSITANA. O mapa da Lusitânia no tempo dos romanos

mostra que seus limites não se confundiam com os de Portugal atual; ela não

possuía território ao norte do Douro (DURIUS), mais se estendia mais largamente a

leste. Pode-se observar também que ela englobava as cidades de Salamanca

(antigamente SALAMANTICA) e de Mérida – antiga capital, EMERITA AUGUSTA –

que estão hoje em território espanhol. Além disso, o porto de OLISIPPO (hoje

Lisboa) era à época apenas a segunda cidade da Lusitânia. A própria palavra

Portugal não apareceu antes da queda do Império Romano. Somente a partir do

século V d.C. foi atestada a antiga forma PORTUCALE, que originalmente

designava dois burgos na embocadura do Douro: PORTU, hoje Porto, e CALE, hoje

Vila Nova de Gaia.

Entre a Lusitânia romana e o nascimento do Reino de Portugal, passaram-se

sete séculos, durante os quais se sucederam as invasões germânicas a partir do

século V e a ocupação Árabe do século VIII. A língua portuguesa guardou traços

desiguais.

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Ocupada pelos romanos ao mesmo tempo em que o resto da Península, o território

que se transformaria em Portugal conheceu essencialmente dois grupos invasores

germânicos. Os suevos instalaram-se a partir de 411d.C. na Galícia, onde

organizaram um Estado pacífico, com Brancara (hoje Braga) como capital Portocale

(Porto) como primeira fortificação. Os visigodos sucederam-nos em 585 e exerceram

sua dominação até a chegada dos árabes em 711.

No momento de seu apogeu, no século II d.C., o Império Romano estendia-se

do Atlântico ao mar Cáspio. O latim reinava então por todo o mundo romanizado. E

toda via, durante sua expansão, Roma nunca impôs sua língua ou tomou atitudes

contra a língua dos vencido: o ibero, com tudo, foi falado provavelmente até o fim do

século I a.C.

Quando sai da esfera das épocas clássicas e outras influências começam a

despontar, novas culturas, não mais apenas dos deuses Gregos e romanos, numa

confluência inicial de povos, tais como os bárbaros germânicos que poriam fim ao

Império Romano. Eis a via que “Artemidoro”, o quarto poema, nos aponta, pois se

trata de uma que vem de um passado anterior a ele e segue adiante. Uma múmia

retirada de um cemitério copta, onde mais importante que ela, ou o que foi, é a

tampa do seu caixão, como tela para o seu possível rosto pintado, como se o seu

olhar já tivesse atravessado Creta, Veneza, o Tintoreto e Roma e chegasse até

Toledo, numa referência ao poema “<<Eleonora Di Toledo, Granduchessa Di

Toscana>>, De Bronzino”. Mostrando o afluxo de que faz parte do universo do

personagem mumificado, feito metonimicamente conservasse em seus bálsamos a

história passada, egípcios, sírios, gregos, romanos, cristãos e persas; assim como

os traços de suas culturas: Cristo Pantocrator, Ísis, Pan-háguia, os anjos e profetas,

Deméter, a Fortuna, Jano bifrontal, Ormuzd e Ariman, Pitágoras, Platão, o deus

Ptah, Adônis, Minotauro, as bacantes, e indicando metaforicamente a rota de

Metamorfoses nos seguintes versos: “(...) entre esse mar / de Ulisses e de António,

de Pafos e de Chipre,/ e o deserto da Esfinge e dos Colossos.

III – O Périplo Épico

As pedras de toques de Metamorfoses, que alicerçam sua cronografia

poética, são extraídas da matéria bruta mineral até que ela se transmute em vida

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orgânica, tudo, porém, rocha ou carne, transformadas duplamente em arte, pois as

esculturas, múmia, arquiteturas são signos bases de outros que se tornam em

poemas, regidas, portanto, pela sensibilidade e a inteligência humana; e a partir da

parte material que forma os homens Jorge de Sena atinge o cosmo, na última

composição que se refere ao Sputnik. Uma leitura ao mesmo tempo mítica e da

realidade, observamos que retorna para o espaço do nosso sistema solar, onde

habita o deus Urano diuturnamente.

Urano relacionar-se-ia ao poema “Gazela da Ibéria”, o puro espaço selvagem,

ainda não domesticado de todo pelo homem, dominado quase que apenas pelo azul,

Urano sob Gaia; depois teríamos sutilmente o período de seu filho Saturno, que o

destronou, já que “Deméter”, segundo poema, é filha de Cronos; o culto dessa

deusa grega foi introduzido em Roma em 496 a.C., fundindo-se ao de Ceres,

portanto, aproximadamente três séculos depois da época do primeiro poema; e

“Cabecinha Romana de Milreu”, o terceiro poema, seria o auge da cultura Greco-

romana, o apogeu de Zeus por intermédio do Império Romano, inclusive na

Península Ibérica, que então chamava-se Lusitânia; não coincidentemente o terceiro

deus a dominar o panteom olímpico.

A partir daí viria uma confluência da cultura bárbara germânica, bizantina e

cristã, mesclada a dos coptas do Egito, que substituíram as legiões romanas na

Europa, é o que também se exuma numa camada mais funda de leitura com a

múmia de “Artemidoro” e o seu retrato no Poema, estamos já na Idade Média. A

composição “Mesquita de Córdoba” representa a cultura muçulmana que invade o

livro Metamorfoses, mantendo a seqüência histórica; assim como a “A Nave de

Alcobaça” é, a seguir, a retomada dos territórios pelos reinos cristãos; ambos os

poemas, porém, remetem-se claramente ao espaço ibérico pelos nomes e tipos das

formas arquitetônicas.

E continuando sem alterar a via histórica da sociedade e da arte européia,

metonimicamente pela mediação da história portuguesa, como se fosse o caminho

de Santiago de Compostela, “Pietà de Avignon”, marca a influência francesa na

formação do reino português, tanto através dos costumes da corte, arte e política,

quando Avignon, como Provance, localiza-se no sul da França que erguia o

estandarte do cristianismo, a religião que fora assumida por Roma como oficial;

nesses dois últimos poemas, contudo, parece haver residualmente referências ao

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Império de Carlos Magno, o maior de toda a Idade Média, que proporcionou por um

século o retorno da cultura romana, por interposição do imperador franco, e o novo

reflorescimento das artes, com o nascimento da poesia provençal das cantigas de

amor, que os normandos e a Igreja Católica iriam aniquilar com o álibi das heresias

albigenses.

Localizando o período que viria logo depois da Idade Média, e ocupando um

espaço análogo no livro Metamorfoses de Jorge de Sena, retomando os temas

clássicos, voltando de novo para uma luz física, não somente divina, temos diante

dos olhos “Céfalo e Prócris”, que abrange o próprio tema da metamorfose,

demarcando a forte mudança que estava se processando a época de então, do

teocentrismo para o humanismo. E os desconhecidos que tanto Céfalo e depois

Prócris tornaram-se uma para outro quando aquele se metamorfoseia e ela se

camufla na paisagem, culminando com a morte dela e o suicídio de Céfalo, vemos

agora no “Retrato de um Desconhecido”.

Em detrimento da transubstanciação da carne em pão e da água em vinho do

cristianismo medieval, assistimos nesse momento histórico, a transformação do mito

grego, pintado por Piero de Cosimo, agora no retrato de um rosto de homem do

século XVI; a razão tomando o vulto no antropocentrismo. E o ápice desse período

começa a surgir com um sol a pino em “Camões Dirige-se Aos Seus

Contemporâneos”, o décimo poema, o marco da metade, o renascimento épico da

cultura clássica, um belo poema. A luz solar começa a declinar com “<<Eleonora Di

Toledo, Granduchessa Di Toscana>>, De Bronzino”, ainda dentro da renascença,

essa “geometria ideal de príncipes banqueiros” posta em “seção áurea”, com a

técnica influenciada pela “ciência de terra já redonda, as próprias proporções que o

quadro regem”.

Desta forma vemos se abater sobre a luz que emana do mediterrâneo certa

sombra no rosto da próxima poesia, “<<A Morta>>, De Rembrandt”, pintor Holandês

do período barroco; em seguida vemos o vulto feminino ressuscitar com estilo

rococó de Fragonard na França, no seu quadro “O Balouço”, representando a

estética do século XVII francês do classicismo, onde a partir dele Jorge de Sena

compõe “<<O <<Balouço>> de Fragonard”, em ambos pintores a um jogo de luz e

sombras mas em temáticas bem distintas, Rembrandt numa clara alusão a morte e

Fragonard a recreação ao meio da natureza.

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Depois do pintor francês, no entanto, realiza-se um corte na altura do

romantismo alterando a ordem seqüencial dos estilos de época no tempo histórico;

onde esperávamos o local do romantismo, na figura do espanhol Goya, surge

“Turner”, um simbolista pré-impressionista inglês com uma paisagem de tempestade

marinha; seguido devidamente de Van Gogh, com um poema sobre “<<A Cadeira

Amarela>>, De Van Gogh”, já que este era um pós-impressionista, em verdade um

pré-expressionista; para então aparecer Fernando de Azevedo, na composição

“<<Ofélia>>, De Fernando Azevedo”, artista do século vinte, nascido em 1923 em

Lisboa, pertencendo ao surrealismo, antecipando também o modernismo; para

somente então surgir Goya no poema “Carta A Meus Filhos Sobre Os Fuzilamentos

De Goya”. E em “A Máscara do Poeta” nos deslocamos apenas geograficamente da

Espanha para a Inglaterra, o poema versa sobre a Máscara de Bronze de John

Keats, poeta romântico inglês. O “Dançarino De Brunei”, penúltima composição do

livro Metamorfoses de Jorge de Sena nos faz caminhar, ou melhor, dançar, ainda

dentro da visão romântica do bom selvagem, para a modernidade da mais alta

tecnologia, com a mesma harmonia dos astros girando na gravidade de “A Morte, O

Espaço, A Eternidade”, como o próprio Sputnik, tema desta composição, ao redor da

terra.

O desvio não acontece de forma gratuita, é no romantismo em que surge uma

nova formação de gêneros a partir da tradição. A poesia épica, vigente até então,

degenera-se refratada em outras formas como o Romance e em poemas

diversificados na métrica, com presença ou ausência de rimas. Exatamente o poema

narrativo que Jorge de Sena volta a recuperar, mas o faz sem desprezar o eu lírico,

a subjetividade do olhar poético, aspecto esse totalmente inovador. E pode-se dizer

que o herói de seus poemas é o objeto da arte, que no seu périplo poema a poema

vai sofrendo as metamorfoses desde os tempos bárbaros até a modernidade,

contando através da arte um pouco da história do mundo e de Portugal. Superpostos

em alguns casos a vultos da história ou típicos de determinada cultura, que em

certos retratos agregam-se aos poemas, sugerindo definir aspectos e

comportamentos de personalidades, formando o personagem épico que se

transforma em outro, a cada nova composição, conforme a sua história e época no

espaço concernente a ele.

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E por isso Jorge de Sena desloca o tema de forma muito particular unindo-o

ao seu próprio estro, traduzindo de forma política e estética na sua linguagem o que

há de revolucionário e crítico na pintura de Goya, pois não há no romantismo apenas

a burguesia, e para um tempo que é o seu, o Modernismo de sua época, sem

precisar usar mil palavras para representar a imagem da pintura, pois ele também é

um maestro, trocando-se o pincel pela pena. Assim enquanto pondera sobre fatos

também concernentes a história através da arte, ao mesmo tempo, como um

alquimista, pratica metamorfose de objetos de arte em poemas.

IV - A Metamorfose como Linguagem

Ao criar as Metamorfoses Jorge de Sena realiza o mesmo processo que os

homens desde os primórdios sempre praticaram com as matérias primas,

transmudando-as em objetos para sua sobrevivência, pontas de lança, arados,

machados, e para o bem estar espiritual e artístico, estátuas em pedra, argila,

bronze, cobre e esculturas em madeira, quando a religião e a arte se confundiam.

Era roubar o fogo dos deuses duplamente, o que esquentava o frio, cozinhava,

afinava e moldava artefatos, acendendo assim a centelha na mente humana;

exatamente como os deuses se metamorfoseavam em quaisquer outros seres

brutos, animais, vegetais e pessoas para conseguirem realizarem seus desejos mais

torpes e/ou mais humanos, para não dizê-los divinos, enquanto invenção, eles

mesmos, dos próprios homens. Jorge de Sena produz, não como o deus bíblico que

transfunde na própria matéria-prima, o barro, o signo de sua semelhança; seu sopro

é diferente, se faz antes numa folha de papel e pelo vetor da tinta e privilegiando os

modelos que são o próprio tema e como se interligam e dão origem ao próximo. O

poeta produz a partir de signos já existentes da arte e da ciência: esculturas,

múmias, quadros, poema, pinturas, dança e satélite, outros signos na arte literária;

mudando as matérias-primas e as expressões estilísticas daquelas pelas da poesia,

as palavras e a sua linguagem.

São inúmeros os poemas em Metamorfoses baseados em retratos e pinturas,

deste processo emerge também uma relação pictórica entre as artes plásticas e a

literatura, a criação do poema-pintura. A genealogia dele, porém, provém dos

primórdios da civilização clássica, para sermos mais exatos das composições de

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Horácio. Contudo esta analogia entre ambas até o século XVIII, e mesmo no

Romantismo, não havia alcançado o pleno êxito. Os bardos do Romantismo

impelidos por uma geminada aspiração, serão os que se anteciparão no rumo de

uma poética inovadora, hábil em resumir conformações diferentes de linguagens

integrais e de modo cabal. O fenômeno original deste processo advém que em todo

o período do Romantismo havia um inflexível anseio de evasão do tempo presente,

junto com uma vontade premente de fugir da morte.

As artes plásticas são mais tangíveis em formas concretas diante dos olhos,

pois a matéria ganha vulto com a linguagem do artista, é o ser bruto que ganha uma

vida intelectiva, tornando exponencial sua durabilidade material, e geram no seu

artífice um sinal de ampliação da própria vida, que poucas vezes pode-se observar

na literatura, sempre mais contemplativa e de uma compreensão mais complexa.

Nela precisamos imaginar os vultos dos personagens, as paisagens e as diversas

conjunturas do lado de dentro da telas de nossas retinas.

E por ser no Romantismo temos a motivação do deslocamento desta escola

feito por Jorge de Sena, quando este procedimento artístico do poema-pintura é

fundamental na formação de Metamorfoses, recolocando o tema de um modo muito

especial em “Carta A Meus Filhos Sobre Os Fuzilamentos De Goya, apropriando-se

numa metamorfose do Romantismo vertido no seu estilo modernista, não apenas

como processo evolucionista dos estilos de época, deixando portanto apenas falar o

eu lírico, como nota específica também das escolas desse movimento modernista,

mas não o individualismo do liberalismo econômico que despontava na época do

Romantismo, ou do egocentrismo da Nobreza tirânica, nem da burguesia que viria a

substituí-la; prioriza antes o da própria expressão artística de Goya no quadro, a luz

que dimana do rosto dos mártires, e as sombras que se abatem nas construções

portentosas onde habitam o poder. Modifica a disposição para salvaguardar também

uma mensagem em plena ditadura de Salazar nos idos de 1963; uma relação entre

artes e épocas diferentes, mas que tem em comum o mesmo tema dos fuzilamentos

e do despotismo.

O outro ensejo que explica o empenho dos poetas do romantismo na direção

das artes plásticas foi o desenvolvimento que se propagou por todo o século XIX dos

instrumentos e técnicas visuais. Já no início deste mesmo século a Europa vê

nascer um culto a imagem, o principal evento gerado então foram as ilustrações nas

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capas e nas páginas dos livros, além dos adiantados métodos tipográficos. A

descoberta de inéditas formas de arte soma-se uma percepção diferente da poesia,

que não se alicerçava mais com a prosódia, agora a metáfora predominaria. Assim a

imagem, abrangida tanto em sua significação poética e pictórica, se metamorfoseia

em artifício essencial no momento de instituir um istmo interligando a poesia e as

artes plásticas. Nesta união sobressai, no entanto, um problema dificilmente

superável. A literatura, pelo seu estilo fundamentalmente discursivo, somente pode

ser captada aos poucos, através da mobilidade da leitura, constituindo-se logo numa

arte ativa. Por outro lado, a representação na tela, ou nas esculturas é imutável em

sua imobilidade e, diversamente da poesia, é capturada num só lance de olhar.

O livro Metamorfoses inicia-se com o poema “Gazela da Ibéria” dando

começo a uma épica modernista, quando ela salta dos desenhos nas paredes das

cavernas para tomar sua forma esculpida no bronze. Mostra que foi feita por mãos

que já sabiam entalhar com perícia, de quem já havia adquirido instrumentos mais

elaborados, inventados naquelas tempos imemoriais, quando as cidades apenas

começavam a se esboçarem, porém, pelo seu tema esse autor ainda estava íntimo

das florestas, sugere-nos a cautela do pequeno antílope sempre espreitando o

perigo de ser caçado, e ao mesmo tempo sua adoração em forma de totem, pois ela,

a gazela, é um dos símbolos da velocidade e agilidade, atributos de Diana deusa da

caça, como a Cerva Cerenita de pés de bronze e chifres de ouro que vivia no monte

Cerineu, na arcádia, que lavava ao pescoço, a inscrição “Taígete dedicou-me

Diana”; Taígete foi perseguida por Júpiter, implorou a proteção de Diana, que a

transformou numa corça. Num outro plano pode-se dizer que personifica a natureza

no seu poder vegetativo e selvagem a gazela e representaria, portanto, Cibele, a

mãe dos deuses.

Depreendemos já nos primeiros versos “suspensa nas três patas, porque se

perdeu/ uma das quatro, eis que repousa brônzea”, como a se referir a um estado de

animação suspensa da época de então na própria estátua, a história latente, a

metonímia de uma era guardada através da arte. O poema é um único bloco sem a

relha de sílex ou de chifres bovinos, nem de bronze para lavrá-la com sulcos

métricos fixos ou estrofes na sua l(e)ira, ainda vive-se no animismo das imensas e

contínuas vastidões dos campos, montanhas e das florestas selvagens da Europa,

assim como nas cidades primordiais.

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Em outra parte lemos “(...) Acaso foi/ a qualquer deus oferta? Ou ela mesma/

a deusa foi que Oferenda recebia? Talvez sacrificada, mas, não para um deus, uma

deusa deve tê-la recebido, herança do matriarcado, que não era mais Artemis o

nome grego de Diana, quando a caça não era mais o único meio de prover

alimentos, e complementava os frutos das colheitas das lavouras já implantadas. E

ao receber esta oferenda, essa divindade ainda nas sombras amorfas das

folhagens, ilumine-se com as tochas de óleos animais e vegetais nas aldeias de

antiquíssimas urbes e podemos ver então o vulto de Deméter.

Deméter é a deusa das terras cultivadas, exatamente o que fixou o homem na

terra e como consequência começou a germinarem as primeiras cidades. Notemos

que em contraste com o primeiro poema “Deméter” se faz arada por estrofes, como

as leiras das lavras, onde os arados vão e retornam criando os sulcos dos verso em

métricas que pouco se alternam entre 10 ou 12 sílabas. Seus atributos são a espiga

e o narciso; seu pássaro é o grou e a vítima que prefere nos sacrifícios em sua

honra é a porca, o que não impede a imolação da gazela, parecendo indicar que

uma era se transformou em outra, as terras selvagens fizeram-se aradas e deram

lugar as primeiras cidades à volta das lavouras. Deméter é representada sentada

com tochas ou uma serpente. “Deméter” é o segundo poema inspirado em uma

estátua mutilada, que põe em questão a terminação da obra de arte, o caráter

inconcluso da obra de arte, tal como O Torso de Belvedere, de tal forma que temos

que reconstruí-las mentalmente, exatamente como a história que ambas

representam, e assim referenciando o processo de criação da linguagem no poema

por Jorge de Sena, nos fazendo exercitar a imaginação onde o silêncio do texto se

faz numa lâmina que amputa o sentido mais claro. Imaginamos que o seu

retorcimento violento no corpo é o desespero pela perda de sua filha Prosérpina,

raptada por Plutão, deus dos infernos, mas que no poema Jorge de Sena cala, ou

falo disso obliquamente, ao capturá-la por outro ângulo quando no diz entre o sexto

e o nono verso da primeira estrofe: “(...). Assim brotou,/ vulcânica das chamas dos

primórdios dias,/ ou lenta se ascendeu da crosta entreaberta,/ para sentar-se larga à

beira das planícies,/”, referindo-se aos dias primevos da nossa civilização ligados

unicamente a terra, onde as cidades surgiam ao largo das planícies brotando as

primeiras lavouras; e assim remetendo-se ao período que Deméter vagou na terra a

procura da filha e ensinou aos homens o cultivo do solo. Como estátua matriz dos

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primórdios das lavouras representa uma época uterina e telúrica do homem. Ela

marca como o homem sai da pedra bruta para a estatuária, como a própria escultura

dela lavrada na pedra, tal como a rocha faz-se em arado, e a terra agreste, apenas

pó e pedra, torna-se entalhada pelas lavras.

Se a estátua de Deméter, além da ausência de pernas e braços, não possui a

cabeça, uma decapitação que passa a fazer parte do signo artístico, como um

entalhe da própria história, não do seu escultor, o terceiro poema, “Cabecinha

Romana de Milreu”, traz uma cabeça amputada do seu corpo perdido. “Deméter”

decapitada torna-se uma metáfora da queda do mundo grego e de sua razão,

precursor que era dos povos do Lácio. Os gregos são dominados militarmente pelos

romanos, mas estes, contudo, tornam-se cativos culturalmente dos fundadores de

Atenas; ou seja, é a metamorfose dos romanos beliciosos nos seus prórpios

escravizados, os povos da civilização helênica, cultores das artes plásticas, filosofia

e literatura. E percebemos assim que, sutilmente, a “Cabecinha Romana de Milreu”

complementa a parte que falta no torso de “Deméter”, e formam desta forma,

portanto, a cultura greco-romana.

Um dos povos que estiveram sob o domínio de Roma eram exatamente os

ibéricos, dos primórdios da história da Península Ibérica, originários da Europa, que

falavam uma língua que não pertencia ao tronco indo-europeu, de onde descendiam

as línguas latinas e gregas, e outras dos invasores da “Velha Europa”, e agora com

seus descendentes mesclados ao povo do Lácio formavam as legiões romanas. E

nos versos iniciais da única estrofe que compõem o poema capturamos o exemplo

do que acabamos de falar: “Esta cabeça evanescente e aguda,/ tão doce no seu ar

decapitado, do Império portentoso nada tem:/ “nos seus olhos vazios não se cruzam

línguas,/ na sua boca as legiões não marcham,/ na curva do nariz não há os povos/

que foram massacrados e traídos.”, aqui também, como analogamente no poema e

na estátua de “Deméter”, mostra que a degola representa, apesar de tudo que

conquistaram, a queda do Império Romano, pois o que a arte revela “É uma doçura

que contempla a vida,”, porém, sugerindo pela negatividade do poema todo o

poderio que já exerceram sobre os povos da Ibéria, ascendentes dos portugueses.

Talvez possamos entender melhor este aspecto lendo o que esta posto entre o

décimo terceiro e o décimo quinto versos do poema “Cabecinha Romana de Milreu”:

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“É uma virtude sonhadora: o escravo/ que a possuía às horas da tristeza/ de haver

um corpo, a penetrou jamais/ além de onde atingia;”.

Se a “Gazela da Ibéria” e “Deméter” foram seres de signos metamórficos de

pedra, tal como a “Cabecinha Romana de Milreu”, este poema agora é o casulo que

envolve a mortalha de “Artemidoro”, cuja metamorfose é não ser mais a pedra

entalhada, a pedra que se anima com a arte, e se humaniza, ganhando formas de

deuses ou de pessoas mortais, como no terceiro poema; agora em “Artemidoro” é a

carne do próprio ser humano que faz o trajeto contrário das estátuas e se petrifica

embalsamada; por isso o que há de mais importante é o que o poema diz nos verso

23, 24, 25 e 26: “Importa o teu caixão, ou mais, a tampa/ em que, segundo os usos

do teu tempo,/ um pintor cujo ofício principal seria/ retratar os mortos te compôs um

rosto.” Porque simboliza a própria arte, não necessariamente a sua mimese perfeita,

assim como a de sua época, que mostra uma afluência de vários povos e de regiões

que vinham pelas rotas de comércio que desembocavam naquela parte do mundo

sob o domínio de Roma, como se ressalta entre o trigésimo oitavo verso e o

quadragésimo quinto: “E o teu líquido olhar ficou fitando/ – num jeito que passou a

Creta,/ atravessou incólume Veneza/ o Tintoreto e Roma até Toledo,/em que é de

Apostolado para o Greco. / Mas para ti e os teus – um pouco egípcios,/ um pouco

sírios, gregos e romanos,/ cristãos e persas:”. “Artemidoro” é a metonímia da cultura

dos povos que se libertam da legião dos estandartes da águia, em decorrência da

derrota dos romanos pelas invasões germânicas, e que são entre outros, como os

da Lusitânia, representados por símbolos de suas culturas: “: Cristo Pantocrator,/

Ísis, Pan-háguia, os anjos e os profetas,/ Demeter, a Fortuna, o Jano bifrontal,/

Ormuzd e Ariman, Pitágoras, Platão,/ o deus Ptah, Adónis, Minotauro,/ e as

bacantes agitando o tirso –/ mas para ti e os teus, entre esse mar/ de Ulisses e de

António, de Pafos e de Chipre,/ e o deserto da Esfinge e dos Colossos/ que à

madrugada num gemer saúdam,”, localizados entre os versos de número 45 e 54.

No século VII na Lusitanea abateu-se outra série de invasões agora dos

mulçumanos, num império arrasado e de novo erguido pelos bárbaros germânicos,

sem a pompa dos antecessores. Vieram em verdade substituir Roma, que não

suportara mais as investidas, quando aqueles queriam participar do conforto da

riquezas material e cultural que os romanos detinham. Os germânico fugiam dos

Hunos liderados por Átila, e romperam as linhas de defesa e se apossaram dos

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territórios de Roma. Contudo, estes povos germânicos também sofreram a sanha

dos novos invasores.

A metamorfose se dá agora na arquitetura do British Museum de Londres que se

transforma na “Mesquita de Córdoba”, assim como naquilo que no final do poema

“Artemidoro” sugere ser um renascer das culturas que Roma dominou: o que de

deuses palpita e ressuscita em nós/ e, em que talvez, sereno mercador, nem mesmo

acreditasse? Se a múmia conserva além de seu vulto a cultura da mercancia, esta

que se origina dos povos semitas, como os fenícios, entre eles os turcos e árabes,

que derrotados quando eram apenas mercadores, futuramente já sob uma nova

ordem religiosa e política viriam a ser os muçulmanos vitoriosos, eis a outra implícita

metamorfose. Antes, nos primórdios, entraram em contado com os Gregos, ora

negociando especiarias, lapidando o alfabeto e noutra se digladiando em guerras

sempre por motivos de poderio econômico e posteriormente com os romanos que

muitas vezes os submeteram a grandes derrotas; e agora retornaram ao confronto,

tendo por álibi a religião quando as verdadeiras motivações é o que se origina desde

as épocas mais remotas do comércio. Eis o que podemos ler sobre isso em

“Mesquita de Córdoba” na segunda estrofe: “Róseos,/ brancos, irisados, foram

convocados/ para a glória de Alá. De toda a parte vieram,/ a rastros, dorso, em

carros, convergindo/ para a cidade branca, atravessando rios,/ as serranias áridas,

as planícies pálidas;/ e as chuvas lavavam-nos da poeira do tempo/ e dos

caminhos.”.

E por fim é a arquitetura da mesquita a mostrar o que moviam os invasores,

os seus princípios e resistência, ou melhor a parte dela que representaria o céu

muçulmano, e sem precisar das pilastras de sustentação, os fustes, o corpo da

coluna, entre o capitel de sua parte superior e a base, como a dizer que a

concretude da construção fosse cimentada e alicerçada com a fé nas alturas que Alá

habita. Porém aos seus fiéis se juntaram, no combate e no domínio, uma pluralidade

de crenças com seus deuses, de povos arruinados, talvez pelo domínio de Roma:

De novo um tecto é o que sustentam na viril

segurança para que não fustes. Mas um tecto só:

de toda parte vieram, ruínas fulminadas,

suportes dispersos dos deuses e dos homens,

para alinhar-se múltiplos múltiplos na escrita

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marmórea e colunar da inefável glória

do nome que é um tecto horizontal.

Contudo se este “tecto” não se derrui pela ação do tempo e dos cristãos, se

jaz intacto até os dias atuais, o que abrigava não se conservou como na múmia de

“Artemidoro”, pois mesmo nesta é a pintura do caixão o que mais importa, e junto

com a arte algo que desvela a mercancia. E os valores econômicos se sobrepõem

aos religiosos interiormente na arquitetura, mesmo que isto aqui dito esteja em

elipse no poema, está contudo dentro desta mesquita que o “tecto” abriga, já que

mais do que converter infiéis, em toda guerra religiosa o que ressuma em todas as

cúpulas de poder é o domínio econômico, e quando só resta do domínio mulçumano

a mesquita, a influência resiste apenas na língua e na arquitetura:“sobre o deserto

humano, frio como as lages, / macio como a aragem que se enrosca neles,”

Deixando entrever, logo em seguida, uma analogia entre o poder que os

muçulmanos possuíam, que emanava desta construção, símbolo de sua cultura,

também existia naqueles que iriam recuperar os territórios: “cruel como a faísca que

os derrubaria,”. Revelando através dos seus próprios signos de ocupação os

símbolos dos que iriam resgatar sua cultura cristã, sob a base racional da influência

grega e romana, e da nacionalidade em formação de parte da Planície Ibérica, como

a Espanha, o “naranjo”, laranja, pois a invasão perpetrada pelos mulçumanos iria

desencadear este processo: “e ardente como o sol que amadurece/ os laranjais do

pátio./ Vieram e ficaram/ floresta exacta.”

E por fim os invasores são expulsos, contudo algo ainda permanece de seu

caráter, como falamos acima:

Alá partiu, deixando a branca

cidade às moscas, à poeira, às torres de onde

dura de sinos se tornou a voz

do muezzin cantando à tarde.

E desvendando a metamorfose divina, o câmbio de um deus muçulmano por

outro cristão, que acontecerá no processo de formação da cultura ibérica, nos dois

últimos versos da estrofe seguinte, corroborando no próximo poema a transformação

arquitetônica de uma mesquita em um interior de igreja cristã:

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Mas alguém pode partir de uma tão rígida

viril floresta; deuses traduzidos

e congregados para sua glória.

Assim a retomada dos territórios pelos reinos cristãos se dá com a composição “A Nave de Alcobaça”. Em que podemos ler pistas desta metamorfose entre os versos décimo primeiro e o décimo sexto:

em feixes de brancura, geometria

do espírito provável, proporção

da essência tripartida, ideograma

da muda imensidão que se contrtai

na perspectiva humana. Ambulatório

da expectação tranqüila.

Em que “essência tripartida”, remete-se ao pai, o filho e o espírito santo e

“Ideograma da muda imensidão que se contrai/ na perspectiva humana.

Ambulatório/ da expectação tranqüila.” , mostra a nave da igreja como a cancha

onde impera o “vácuo puro/ do espaço preenchido”, que, como na perspectiva

humana cristã torna o cosmo, o firmamento dos astros, no céu da religião católica, é

preenchido pela fé dos cristãos. E logo, em “A Nave de Alcobaça”, podemos

identificar então o ideograma, a metamorfose através da palavra, quando lemos em

“Alcobaça”, a “loba caça”, ou seja, a igreja cristã, católica, é também de Roma, a

loba é o seu símbolo, que se reergueu contra os muçulmanos. A Nave da Igreja

Romana que ressuscita, o que iria acontecer com Carlos Magno Imperador Franco,

ao implantar no Sul da França seu reino cristão, porém, baseado nos valores do

Império Romano, e depois em toda a Europa.

Agora estamos dentro do universo cristão, o quadro do século XV, “Pietà de

Avignon”, da conta do corpo de Cristo sendo tratado antes de ser envolto pela

mortalha e posto no santo sepulcro, sem que se mostre na imagem a sua

ressurreição, mas esta é por força da história religiosa, quando ressuscita no terceiro

dia, e da fé de milhões de fiéis, implícita. De tal forma o é que nos traz a mente a

ressurreição da igreja cristã após os muçulmanos, e assim do quinto ao décimo

verso vislumbramos:

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nos cinco ali presentes, no momento em que

da morte o gesto apenas é quanto lhes resta

como presença dela que passou.

“Não há ressurreição ainda, embora o próprio ouro

contenha uma esperança que é sabê-la fé.

A pintura parece revelar antes o findar do corpo mortal, e não do eterno filho

de Deus, o os restos mortais do mais caro de todos os filhos no mesmo colo que o

trouxera para luz do mundo. E a própria Maria, sua mãe, é também posta filtrada do

sublime, uma mãe que sofre em toda sua humanidade. E vemos no quadro essa dor

como também a lemos no poema:

ao cadáver têm

dobrado sobre o colo, ou como resplendor

numa cabeça morta que há que levantar,

ou como lágrimas que um manto enxuga,

a morte humana para eles não

redime nada, que são parte dela,

e o ressurgir é só transmutação alheada

Mais adiante se refere a todos que sofreram e lutaram por essa religião,

através dos vultos na tela da “Pietà de Avignon”, e que por fim conseguem sua

liberdade de culto, movidos pela espera do Redentor; lembrando outra vez os

cristãos em “A Nave de Alcobaça” , a busca pela liberdade dos territórios e do

espírito pela sua fé em relação aos muçulmanos, como antes se dera de forma

semelhante com os romanos, que os atiravam aos leões nos espetáculos circenses

na arena do anfiteatros, como o Coliseu, mas que a esta época já estavam

convertidos ao cristianismo:

A dor dos tempos sobre todos pousa.

E são, ali, gerações que, inscientes,

viveram e morreram dia a dia, até

àquela morte que encenando vinham;

Assim também foi a esperança concretizada em Portugal, o primeiro reino a

se unificar como povo e com a sua fé cristã; quando sofreram e lutaram pra se

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libertar do julgo mulçumano e dos reinos cristãos da Península Ibérica. O quadro é

do século XV, e trata de um tema religioso muito caro para o cristianismo, a morte de

Jesus Cristo antes de ressuscitar, contudo, nos remete, através do poema, para a

autonomia e independência portuguesa no século XI, fato que parece entrevermos

no ambiente e nos personagens da pintura quando postos nos versos que finalizam

o poema “Pietà de Avignon”:

Uns pés que não caminham nunca mais

e que libertos se balouçam sobre

a terra glutinosa em que se alastram mantos.

Portugal não caminha mais com os pés opressores de fora ou de dentro da

Planície Ibérica, caminha agora com os seus, renasce espiritualmente também, ou

seja, com a sua própria cultura, costumes e economia, tendo o cristianismo em

comum com os outros reinos da Península Ibérica.

Da ressureição de Cristo, sua metamorfose em carne e espírito, passamos

para outra, a do mito grego de “Céfalo e Prócris”, que como já falamos acima no

capítulo do Périplo Épico trata da própria metamorfose. Deparamo-nos agora com o

momento que surgiria após o mundo medieval, e ocupando um lugar idêntico nas

composições das Metamorfoses senianas, voltando às matérias da antiguidade

clássica. “Céfalo e Prócris” assinalam a potente transformação de dos dias de então.

E os incógnitos que tanto Céfalo e depois Prócris transformam-se para ambos,

depreendemos depois no “Retrato de um Desconhecido”. Observamos assim o

processo de transformação de um poema para o outro: “Pietà de Avignon” é feito em

três estrofes, a primeira constando de 7 versos, a segunda, extensa, com 57 versos,

e a terceira com 13 versos, variando nessa tríade, que me faz recordar de outra: o

pai, o filho e o espírito santo, entre versos de 12, a maioria, e 10 sílabas. Enquanto o

poema “Céfalo e Prócris” é composto de duas estrofes que variam entre diversos

metros, mostrando um movimento de um plano mais fixo, talvez relacionado a

mentalidade cristã, para outro do renascimento com pluralidade. E lemos, agora,

onde fala exatamente da metamorfose:

Ciúme apenas? Não. Se transformado

pela alvorada que o raptara ele volta,

e Prócris lhe é infiel consigo mesmo;

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se, ao se revelar o esposo, ela lhe foge

Mais adiante nos diz das próprias divindades:

a geração dos deuses; se de enganos,

de mutações, de incestos, e de crimes,

é feita a liberdade de nascer-se humano,

Parecendo transplantar para outra época estes versos, metaforizando o poder

de Salazar e de seus cúmplices do alto escalão da economia. Entretanto,

continuando esta estrofe remete-se ao criador da arte, não ao Deus cristão:

nem do céu, nem da terra, nem mortal

nem imortal, mas livre e altivo artista

que o próprio ser esculpe

que o modela

na forma preferida

Que é o procedimento de Jorge de Sena também enquanto artista da palavra.

E por fim nos fala do ser incógnito, desconhecido, tal qual se tornam uma para o

outro Céfalo e Prócris, numa analogia com o processo de criação, não mais divina,

quando era feita na pura semelhança com seu criador, mas agora se faz através de

um arquétipo ignorado, talvez unicamente de sua imaginação:

cinzel e a pedra são, gesto e modelo

esse modelo ignoto, entre o devir e as coisas,

e que se perde, livre, quando Prócris morre,

e se demora, altivo, quando a mata Céfalo.”

Entendemos para a época medieval que Cristo era o modelo do quadro

anterior, modelo dos homens e ao mesmo tempo filho do todo poderoso, do criador

de tudo, mas, que agora, refrata-se no antropocentrismo do humanismo para um

modelo que se particulariza pelo desejo de um artista mortal.

Testemunhamos no poema seguinte “Retrato De Um Desconhecido” o câmbio

mitológico para um rosto humano pintado, mas também ignorado quanto ao modelo;

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notemos que o tema permanece, e relacionado, como no poema anterior, com a

visão particular do artista:

Fita-nos, como o pintor pensou,

não como jamais fitou alguém.

A metamorfose se dá com Céfalo e Prócris, personagens mitológicos que se

tornam irreconhecíveis um para o outro, que passam a tomar o vulto humano de

forma temática. O mito toma a forma humana. Se o mito explicaria fenômenos físicos

e da alma humana, agora, na representação do humano permanece incógnito:

Quem era? Qual o nome? Não sabemos

nada, inteiramente nada.

Mas esse pertence, apesar disso, as artes, e transcende a espécie humana que o

dirão pertencer, é uma pintura.

Da pintura de um desconhecido vamos agora par uma busto, que o poeta

toma como iluminura para o poema “Camões dirige-se aos seus contemporâneos”.

Saímos então de um incógnito para o mais ilustres dos vultos em língua portuguesa,

o maior poeta de todos os tempos de nossa cultura. Era a poesia discorrendo sobre

a pintura de um rosto desconhecido, que vai se transformar em outro poema falando

de um busto de Camões, o mais manifesto de todos os poetas em língua

portuguesa. Não é apenas a pedra e o bronze que dão a impressão de maior

perenidade que a literatura, é também a tela, daí o porquê de no romantismo buscar-

se a metáfora em vez da prosódia; eis então que o trecho inicial da composição

parece estar de acordo:

Podereis roubar-me tudo:

as idéias, as palavras, as imagens,

e também as metáforas, os temas, os motivos,

os símbolos, e a primazia

nas dores sofridas de uma língua nova,

Numa clareza despida de tropos, porque a metáfora está deslocada, como a

própria época, para um sentido mais interno, se refere à apropriação indébito de sua

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obra pelo regime de Salazar. Não podemos pensar apenas na intertextualidade que

alguns poetas praticam com a poesia de Camões.

Na pintura e no poema “<<Eleonora Di Toledo, Granduchessa Di Toscana>>,

De Bronzino” admiramos a tela e o poema, não obstante, intuímos uma ancestral

poderosa, de uma mentalidade econômica, que se transformará numa linha temporal

em outra, a ditadura de Salazar em Portugal. Denotando que agora não é a partir da

própria imagem de Camões que se dará a metamorfose, mas daqueles que estavam

por detrás da História e dos personagens que ele cantou nos Lusíadas, os

financiadores das “Navegações Portuguesas”, logo no início do poema

depreendemos:

Pomposa e digna, oficialmente séria

é geometria ideal de príncipes banqueiros,

sobrinhos, primos, tios de toda a Europa,

de reis, senhores de terras e armadores,

Mostra-nos as alianças econômicas que surgiam e se propagava de forma

consangüínea, a foz do sangue azul da nobreza com o vermelho da burguesia

mercantil, formando uma cor púrpura como as vestes dos antigos césares romanos.

E assim sem precisarem ocultar seu caráter tirânico, quando todo o poder na Europa

e do resto do mundo dimanava deles, o que está explícito no quadro lemos no

poema:

O mundo é um imenso cais de intolerância austera,

a que aportam escravos, pimenta, caridade

à sombra de colunas sem barbárie gótica.

A barbárie era outra agora, a da nobreza e da burguesia cristã, e de outras

religiões, não mais a dos germânicos, a muito destituídos do poder; seus sucessores

exerciam o tráfico de escravos, especiarias, sob a égide da Igreja Católica, e como

álibi praticavam o altruísmo cristão das esmolas. São os mesmos, que nas

entrelinhas dos Lusíadas puxam não os cordames das velas das naus, mas de seus

personagens, assim como na vida real o fizeram com os seus modelos. Era a época

“em que a razão de Estado era um passeio altivo/ por entre as árvores de um jardim

areado,/ com aleis racionais e relva em secção áurea.”. A razão herdada da cultura

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Greco-romana que a religião cristã havia também assimilado, assim como a política

e a economia.

E o próprio quadro segue este princípio através da técnica de Bronzini, seu

pintor, que comandava o poder de então, de um humanismo antropocêntrico, mas

respaldado por um poder absolutista:

Se dúvida que os astros presidiram,

numa ciência de terra já redonda,

às próprias proporções que o quadro regem.

Representam aqueles que na época de Camões não souberam dar-lhe o

devido valor, mas cujos herdeiros de suas mentalidades iníquas e cruéis através do

poder da Coroa Imperial, da Igreja e da economia latifundiária da nobreza e da

burguesia mercantil por meio das navegações, precisam, agora, paradoxalmente, se

apropriarem da obra de Camões como propaganda política do regime, também

déspota, de Salazar. A luz da razão dos tiranos da época de Eleonora Di Toledo,

Granduchessa Di Toscana não era diferente da que emanava do brilho nas

fogueiras da inquisição, nem dos holofotes na época da ditadura portuguesa;

provocavam as mesmas sobras físicas e as mesmas trevas no espírito e na mente:

Palácios, festas, complicadas odes,

e procissões e cadafalsos e a

de um céu toscano limpidez que pousa no pó

e nas ruínas da Imperial Toledo

Se Eleonora Di Toledo, Granduchessa Di Toscana, como personagem

histórico e modelo de Bronzino, representado no quadro, traz em si as luzes de jóias

raríssimas, as mais preciosas gemas em peças de ouro lapidas e forjadas pelos

mestres da ourivesaria, junto com a luminosidade das idéias, ela traz em si também

a opacidade de uma tradição atroz e opressora, que o magnífico quadro não mostra

claramente, mas o poema disseca por dentro de suas linhas de mestria:

A grã-duquesa – se foi, não foi, de quem é filha,

de quem foi mãe, ante um retrato assim

tão pouco importa! – fez-se pintar.

mas a pintura era outra coisa, um escudo,

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um escudo de armas e um broquel tauxiado,

para morrer tranqüilo, quando a angústia brota,

Era como a arte de embalsamar os corpos ou pintar sua imagem no caixão,

mumificar a sua imagem, como em “Artemidoro”, para a posteridade, um modo de se

fazer perene, imortal, eterno, independente, ou desconfiando daquilo mesmo que

professavam, que a continuação do trecho acima parece legitimar:

como um vómito de sangue, do singelo facto

de ter-se ou não alma, os mundos serem múltiplos,

e o Sol rodar ou não em torno à terra inteira,

iluminado as multidões, as raças, tudo,

E esse misto paradoxal de luzes racionais e sombras de poder nos leva agora

para Rembrandt. Ele dá-nos a impressão de que tanto as figuras como o fundo

surgem da mesma matéria. No estilo pictórico, o desenho e o modelado não

coincidem, geometricamente falando, com a aparência da forma plástica: só refletem

o semblante visual da coisa. O estilo pictórico vê em massas, e não em linhas de

contorno. A representação pictórica surge pelo olho e existe somente para a visão;

os valores táteis, que se associam com a visão lineal, deixam já de ter vigência;

“Uma arte mais avançada há sabido render-se a mera aparência”.

Na pintura Renascentista domina a linha estática, enquanto o barroco a linha

é dinâmica. A verticalidade e a horizontalidade caracterizavam o século XVI; se trata

de um estilo arquitetônico de composição fechada; os elementos representados na

tela aparecem agrupados em torno a um eixo central que infunde simetria e

equilíbrio à composição. É uma estrutura afim a natureza. A preferência pelas

formas primitivas de verticalidade e de horizontalidade necessita de uma exigência

incontestável: a lei de limite e ordem. “Nunca como até então se sentiu com tal força

a necessidade de proporção na figura humana e de contraste entre o vertical e o

horizontal em busca de uma harmonia interior. O estilo renascentista se esforçou em

tudo para apropriar-se dos elementos firmes e permanentes da forma. A natureza

era o cosmos e a beleza lei revelada”. (Princípios da arte histórica; 120, 125, 135).

O barroco, pelo contrário, parece mostrar uma declarada aversão a qualquer

escopo de construção representativa em torno a um eixo central estabilizador e

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simétrico. Com efeito, se busca intencionalmente o desequilíbrio e a assimetria. É

um estilo de forma aberta, e ainda que existam “limites secretos” que dão

uniformidade estética a representação, a impressão que esta suscita é a de possuir

horizontes ilimitados. Já não é a estrutura arquitetônica o elemento decisivo da

forma, senão “o sopro de vida que imprime fluxo e movimento á rigidez da forma”.

No estilo lineal se valoriza o ser: no estilo pictórico o intercâmbio, o vir a ser; em um

caso a beleza se faz depender dos limites, no outro do indeterminado.

A marginalidade da geometria no barroco opera uma alteração geral do

artístico. Para o clássico Grünewald, a luz que rodeia o Cristo ressuscitado é um

círculo; enquanto que para Rembrandt, é uma forma difusa. Na arte do século XVI,

as direções das linhas se equilibram entre si, o mesmo se sucede com as cores e as

intensidades de luz. No barroco se busca o predomínio de uma determinada direção.

Por outro lado, a distribuição desarmônica da luz e da cor origina tensões de

intranqüilidade no espectador.

Na Santa Ceia, de Leonardo da Vince, todas as mãos dos apóstolos se

distinguem com claridade; pelo contrário nas telas de Rembrandt nem todas as

mãos são visíveis. O artista do barroco resiste a pintar com detalhe o que pode ser

intuído pelo observador. A luz que distingue este estilo é uma “luz irracional” – uma

luz que não divide a tela em zonas bem limitadas, apenas que, independente de

qualquer razão plástica, irrompe sobre as formas com soberana arbitrariedade.

Em Rembrandt apesar de sua maestria pictórica, de gênio do barroco

holandês, a questão é de predomínio de um dos elementos polares. Em suas

primeira composições – O Anjo e o profeta Balaan, Tobias e Ana, etc. – os

contornos são de traço lineal perfeitos; enquanto que telas como a Crucificação,

Cristo em Emaús, A mulher surpreendida em adultério, O regresso do filho pródigo,

etc., são de claro predomínio dionisíaco. Sua famosa Ronda noturna é uma obra de

neto equilíbrio entre o apolíneo e dionisíaco.

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Abstract: The presente work has, as its main goal, to analyse the work of the Portuguese poet Jorge de Sena, trying to infer the connections between his poetics with the manifold arts created in the Occident from the mitologic genesis in its very beginig, poetic universe which includes art objects since century VII b.C. and reach contemporaneity, creating a constant link with the historical path of the artistic production, expanding, in the same way, the meanings of the poems. Showing, at first, that the cronological sequence which is being formed, legitimates the very phenomenon that gives the book its title, the enchainment sugests the metamorphosis from a theme to another which rises, afterwards, in an artistic periplus of transformations in the language itself. Keywords: Poetry. Metamorphoses. Jorge de Sena.

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Texto científico recebido em: 02/06/2014

Processo de Avaliação por Pares: (Blind Review - Análise do Texto Anônimo)

Publicado na Revista Vozes dos Vales - www.ufvjm.edu.br/vozes em: 31/10/2014

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