a libras no contexto educacional dos professores …

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Afluente, UFMA/Campus III, v.1, n.3, p. 40-59, out./dez. 2016 ISSN 2525-3441 A LIBRAS NO CONTEXTO EDUCACIONAL DOS PROFESSORES DAS ESCOLAS MUNICIPAIS DO BAIRRO CODÓ NOVO NA CIDADE DE CODÓ MA THE LIBRAS IN THE EDUCATIONAL CONTEXT OF TEACHERS OF MUNICIPAL SCHOOLS IN NEIGHBORHOOD CODÓ NOVO IN THE CITY OF CODÓ MA Guilherme Willisgnton Tavares Pereira 1 Universidade Federal do Maranhão Rosália Ferreira da Silva 2 Universidade Federal do Maranhão Cristiane Dias Martins da Costa 3 Universidade Federal do Maranhão Resumo: A utilização da Libras no âmbito escolar é de grande relevância ao possibilitar a promoção da inclusão, como também a aceitação do surdo que poderá se comunicar e desenvolver aprendizados através da utilização de sua língua materna. A pesquisa está direcionada para tratar da importância da Libras na inclusão do aluno surdo e a necessidade de Tradutores Interpretes de Língua de Sinais (TIL) nas escolas públicas de Codó. Utilizou-se da aplicação de questionários aos professores do 5º ano e aos gestores das escolas municipais do bairro Codó Novo na cidade de Codó/Ma. A pesquisa tem por base bibliográfica principalmente os autores Deus (2012), Quadros (2004) e Domingos (2014) para desenvolver conceitos sobre surdez, TIL e as posturas necessárias do professor no tratamento com o aluno surdo. Foi observado durante a pesquisa a falta de Tradutor Interprete de Língua de Sinais nas escolas pesquisadas, assim como de professores capacitados para o atendimento de alunos surdos, sem conhecimento da Libras. A maioria dos professores entrevistados está inserido no grupo dos ouvintes brasileiros que não tem o conhecimento da Libras e todos julgaram-se incapacitados de prover o atendimento adequado aos alunos surdos em uma sala de aula. Palavras-chave: Ensino; Libras; Comunicação; TIL. Abstract: The use of Libras in school is of great relevance in enabling the promotion of inclusion, as well as the acceptance of the deaf who can communicate and develop learning through the use of their mother tongue. The research is aimed at addressing the importance of Libras in the inclusion of deaf students and the need for Sign Language Interpreters (TIL) in public schools in Codó. We 1 Granduando em Licenciatura em Ciências Naturais - Biologia pela Universidade Federal do Maranhão UFMA. E-mail: [email protected]. 2 Granduanda em Licenciatura em Ciências Naturais - Biologia pela Universidade Federal do Maranhão - UFMA. E-mail: [email protected]. 3 Doutora em Educação pela Universidade Federal de Minhas Gerais - UFMG; Professora Adjunta da Universidade Federal do Maranhão - UFMA. E-mail: [email protected].

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Afluente, UFMA/Campus III, v.1, n.3, p. 40-59, out./dez. 2016 ISSN 2525-3441

A LIBRAS NO CONTEXTO EDUCACIONAL DOS PROFESSORES

DAS ESCOLAS MUNICIPAIS DO BAIRRO CODÓ NOVO NA

CIDADE DE CODÓ – MA

THE LIBRAS IN THE EDUCATIONAL CONTEXT OF TEACHERS

OF MUNICIPAL SCHOOLS IN NEIGHBORHOOD CODÓ NOVO IN

THE CITY OF CODÓ – MA

Guilherme Willisgnton Tavares Pereira

1

Universidade Federal do Maranhão

Rosália Ferreira da Silva2

Universidade Federal do Maranhão

Cristiane Dias Martins da Costa3

Universidade Federal do Maranhão

Resumo: A utilização da Libras no âmbito escolar é de grande relevância ao possibilitar a

promoção da inclusão, como também a aceitação do surdo que poderá se comunicar e desenvolver

aprendizados através da utilização de sua língua materna. A pesquisa está direcionada para tratar da

importância da Libras na inclusão do aluno surdo e a necessidade de Tradutores Interpretes de

Língua de Sinais (TIL) nas escolas públicas de Codó. Utilizou-se da aplicação de questionários aos

professores do 5º ano e aos gestores das escolas municipais do bairro Codó Novo na cidade de

Codó/Ma. A pesquisa tem por base bibliográfica principalmente os autores Deus (2012), Quadros

(2004) e Domingos (2014) para desenvolver conceitos sobre surdez, TIL e as posturas necessárias

do professor no tratamento com o aluno surdo. Foi observado durante a pesquisa a falta de Tradutor

Interprete de Língua de Sinais nas escolas pesquisadas, assim como de professores capacitados para

o atendimento de alunos surdos, sem conhecimento da Libras. A maioria dos professores

entrevistados está inserido no grupo dos ouvintes brasileiros que não tem o conhecimento da Libras

e todos julgaram-se incapacitados de prover o atendimento adequado aos alunos surdos em uma

sala de aula.

Palavras-chave: Ensino; Libras; Comunicação; TIL.

Abstract: The use of Libras in school is of great relevance in enabling the promotion of inclusion,

as well as the acceptance of the deaf who can communicate and develop learning through the use of

their mother tongue. The research is aimed at addressing the importance of Libras in the inclusion

of deaf students and the need for Sign Language Interpreters (TIL) in public schools in Codó. We

1 Granduando em Licenciatura em Ciências Naturais - Biologia pela Universidade Federal do Maranhão –

UFMA. E-mail: [email protected]. 2 Granduanda em Licenciatura em Ciências Naturais - Biologia pela Universidade Federal do Maranhão -

UFMA. E-mail: [email protected]. 3 Doutora em Educação pela Universidade Federal de Minhas Gerais - UFMG; Professora Adjunta da

Universidade Federal do Maranhão - UFMA. E-mail: [email protected].

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used questionnaires to the teachers of the 5th grade and to the managers of the municipal schools of

the Codó Novo neighborhood in the city of Codó / Ma. The research is based mainly on the authors

Deus (2012), Quadros (2004) and Domingos (2014) to develop concepts about deafness, TIL and

the teacher's necessary postures in the treatment with the deaf student. It was observed during the

research the lack of Interpreter of Sign Language in the schools surveyed, as well as of teachers

trained to attend deaf students and without knowledge of Libras. Most of the interviewed teachers

are included in the group of Brazilian listeners who are not familiar with Libras and all of them feel

that they are unable to provide adequate care for deaf students in a classroom.

Keywords: Teaching; Libras; Communication; TIL.

1 INTRODUÇÃO

A linguagem é desenvolvida pelo ser humano ouvinte de forma natural, já que

o mesmo está em contato direto com ela desde o nascer, diferente dos surdos que não

possuem a mesma relação com o som. A partir disso, surge a Língua Brasileira de Sinais –

Libras, como forma de tentar sanar as dificuldades enfrentadas pelo surdo e construir sua

identidade em meio à cultura brasileira apesar do mesmo ter o desenrolar de sua própria

cultura.

A utilização da Libras no âmbito escolar se faz de grande importância, ao

observarmos que por meio dela há a promoção da inclusão, como também a aceitação do

surdo, este tendo capacidade de se comunicar e desenvolver aprendizados por meio da

utilização de sua língua materna, sempre trabalhando de forma que os professores estejam

capacitados para o atendimento e a escola possua um Tradutor Intérprete de Língua de

Sinais – TIL.

Considerando a amplitude do município de Codó possui 67 escolas urbanas e

158 rurais do ensino da rede municipal, totalizando 225 estabelecimentos do Ensino

Fundamental, foi feita a escolha de nove escolas que participaram do projeto da

Universidade Federal do Maranhão – UFMA, intitulado “Letrar: letras e números”,

coordenado pela Profa. Dra. Cristiane Dias Martins da Costa e pelo Prof. Dr. José Carlos

Aragão Silva, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação – SEMED, que visa à

melhora do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) do município.

O projeto Letrar desenvolveu suas atividades nas turmas do quinto ano do

ensino fundamental do bairro Codó Novo durante o ano de 2015. As escolas lócus da

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pesquisa são: Unidade Escolar Municipal São Luiz, Unidade Escolar Municipal Rosalina

Zaidan, Escola Municipal José Merval Cruz, Escola Municipal Nossa Senhora da Vitória,

Escola Municipal Antônio Joaquim, Escola Municipal Santo Antônio, Escola Municipal

Presidente Lula, Unidade Escolar Municipal Pica pau e Escola Municipal Comunitária São

Sebastião.

O interesse pela temática surgiu a partir da participação como monitores no

projeto Letrar que nos possibilitou conhecer uma aluna surda do 5º ano da Escola

Municipal Nossa Senhora da Vitória que não tinha nenhum acompanhamento específico

para acompanhar as atividades escolares. A estudante em questão, que aqui nomearemos

como Maria para preservar sua identidade, não conseguia acompanhar as aulas.

Inicialmente a mesma foi direcionada pela professora da escola para salas especificas de

alfabetização do projeto, levando em consideração o fato dela não saber ler e escrever.

Durante as aulas, a professora relatou que a Maria apenas copiava as atividades

em seu caderno como se estivesse desenhando aquelas letras, pois não tinha a

compreensão/entendimento do que elas significavam. Ela comentou que a comunicação

com a Maria era difícil, mas que conseguia relacionar com a aluna através de algumas

mímicas. Ressalta-se que a professora e nem a Maria tinham conhecimento da Libras, não

havendo nenhum tipo de inclusão no contexto escolar.

Após a descoberta de sua especificidade, o Projeto “Letrar: letras e números”

solicitou a participação da professora de Libras, que ficou responsável em acompanhar e

ensinar a Libras, para que Maria pudesse se desenvolver na sua língua materna. Apesar de

o trabalho realizado ter sido apenas durante o ano de 2015, o tempo trabalhado foi

suficiente para que Maria conhecesse as coisas que por muitos anos lhe pareciam distante

de entender, assim como também seus familiares, que participavam juntamente com ela

das aulas. A professora de Libras realizava suas atividades com a Maria na sua casa,

envolvendo também a participação da família. Durante o andamento do projeto, através da

conscientização da família, a Maria foi encaminhada para a Associação Pestalozzi de Codó

para que continuasse o aprendizado da Libras.

Portanto, a partir das leituras relacionadas aos tópicos trabalhados e da prática

realizada como monitores do projeto LETRAR, fizemo-nos os seguintes questionamentos:

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Como um aluno surdo comunica-se com o seu professor e com os seus colegas? Como um

aluno surdo chega até o 5º ano sem saber ler e escrever e sem ter o conhecimento de

Libras? Qual a formação/preparação dos professores para lidarem com os alunos surdos?

Para dialogar com as questões levantadas, foi elaborado dois questionários: um

direcionado aos professores, tratando de questões relacionadas à vivência em sala de aula,

formação especifica, contato direto com os alunos; e outro, aos gestores com questões

relacionadas à convivência e organização geral na escola e participação dos alunos no

ambiente escolar. Do total de nove gestores e vinte professores, tivemos o retorno de três

gestores e oito professores.

Ao longo do texto, também será abordado a regulamentação de leis que

inserem o surdo no contexto educacional de forma ampla, digna e respeitosa, onde o

Tradutor Interprete de Língua de Sinais possui um papel fundamental para a continuação

do processo de melhoria da relação entre os surdos e ouvintes, como também da relação

entre o surdo e a sociedade.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Algumas pessoas ainda não conseguem, apesar da gama de informações que

são expostas nos meios de comunicação, diferenciar determinados conceitos e quebrar

paradigmas que já não existem mais há alguns anos. Os pressupostos a serem trabalhados

nesta pesquisa são a diferenciação que há entre deficientes auditivos e o ser surdo, a

importância da cultura surda para o desenvolvimento do aluno surdo, formas de inclusão

necessárias pelo professor para fazer com que o aluno identifique-se com o meio

independente de sua especificidade.

Escutar é desde o nascimento ser bombardeado por sons e conseguir distinguir

pessoas, animais e objetos a partir dos sons específicos que os mesmos são constituídos,

adquirindo assim, com o tempo, a estrutura de sua língua e a capacidade de relacionar

diversos elementos, sem ter havido um treino para isso. Portanto, a criança entra na escola

apta a aprendizados mais complexos, enquanto que, a criança surda não aprende a

linguagem naturalmente, tendo a necessidade de ser exposta a treinos, podendo ficar sem

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conhecer as palavras e os significados das coisas, se não for submetida a isto. A linguagem

torna-se então um obstáculo à aprendizagem, tendo que ser feita passo a passo, para ser

possível à comunicação e a obtenção do conhecimento por parte da criança. (SILVA,

2008)

Trabalhando inicialmente com termos relacionados com objeto de pesquisa,

que é a Libras no contexto educacional, vale destacar as diferenças entre surdez e

deficiência auditiva, sendo que conforme Silva (2008, p. 11) “o surdo é o individuo cujo

sentido da audição não é funcional para os objetivos comuns da vida [...] e, deficientes

auditivos ou hipoacústicos são os indivíduos cuja audição, embora deficiente, (...) é

funcional com ou sem a ajuda de prótese auditiva”.

É comum o aluno surdo ser tratado com indiferença e até mesmo como incapaz

apenas por não escutar, apesar de a surdez não ser uma incapacidade e ser considerada

apenas uma especificidade. O surdo, por considerar a surdez como uma diferença e não

uma deficiência, fazendo com que o canal preferencial para comunicação e compreensão

seja o visual, não aceita ser chamado de deficiente auditivo. (COSTA, 2003)

Pensar que o surdo é deficiente mental é comum devido as consequência do

atraso na aquisição da linguagem que a maioria dos surdos sofrem. As

dificuldades geradas pelo atraso na linguagem envolvem todos os aspectos da

aprendizagem e do desenvolvimento cognitivo do indivíduo surdo. Uma

dessas dificuldades é a abstração de conceitos o que prende os surdos a

situações mais concretas (MOREIRA, 2007, p. 2).

Conforme Bassani e Sbardelotto (2014, p. 5) “os ouvintes são acometidos de

que ser ouvinte é melhor do que ser surdo (...), pois este é o resultado da perda de uma

habilidade disponível para a maioria dos seres humanos”. Sendo que, as capacidades

físicas e mentais de surdos são iguais os de qualquer ouvinte, pois ser surdo não o torna

pior e nem melhor de ser um ouvinte, e sim, apenas diferente, sendo esta uma questão a

ser discutida em diversos âmbitos, a tolerância ao ser diferente.

A surdez não afeta a capacidade intelectual do indivíduo, nem sua habilidade

para aprender, mas uma criança surda perde a estimulação linguística como

das outras crianças. Pode ainda ter problemas emocionais e psicológicos,

alterações de aprendizado, alterações de fala, problemas no trabalho,

insatisfação e solidão. (DEUS, 2012, p.3)

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Direcionando-se então para o desenvolvimento do aluno surdo e sua

inclusão, é necessário entender que a maioria das pessoas desconhece que a surdez

possui estágios e causas, podendo surgir no decorrer da vida de um indivíduo, por causa

de alguma doença ou acidente (adquiridas), como também desde o nascimento por

algum problema durante a gestação (congênita), tendo como estágios a perda auditiva

leve, moderada, moderadamente severa, severa e profunda. (SILVA, 2008)

Partindo do principio que há indivíduos que nascem surdos e indivíduos que

adquirem a surdez no decorrer da vida, os que nascem com essa especificidade podem

ser definidos como pré-linguísticos por nunca terem ouvido ou adquirido nenhum tipo

de sonoridade, e os que adquiriram após o nascimento como pós-linguísticos, possuem

maior dificuldade na aprendizagem da Libras, as vezes por já terem sabido falar ou por

já terem escutado, pois quando a criança aprende a falar antes de perder a audição, a

apropriação da Libras torna-se como uma segunda língua (DOMINGOS, 2014).

Independente da forma pela qual a surdez foi adquirida, o processo de

inclusão de alunos surdos na sala de aula no ensino regular deve ser trabalhado seguindo

meios que envolvam os diferentes caminhos pedagógicos a serem trilhados, fazendo

com que os alunos se constituam como sujeitos pertencentes à sociedade (BASSANI,

SBARDELOTTO, 2014). Mesmo que a sociedade seja em sua maioria composta por

ouvintes, devendo neste processo ser dialogado sobre a conscientização para a

construção de um meio passível de ser vivido de forma igualitária, onde as diferenças

sejam respeitadas.

O tratamento do aluno surdo na sala de aula pelo professor também é de

grande importância para a sua inclusão, pois o surdo deve se sentir como parte do

espaço que está e não como um intruso. Sendo o professor peça fundamental para que

esse aluno não se sinta excluído ou tratado de forma diferente apenas por causa de sua

especificidade. A melhor forma de haver um desenvolvimento desse aluno é quando o

professor tem, segundo Domingos (2014, p. 23), “atitudes como a escolha adequada de

atividades e de materiais, o melhor local na sala para assentar-se, ter com este a mesma

postura que tem com outros alunos no sentido de disciplinar e orientar, sem ignorá-lo ou

superprotegê-lo”.

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Uma das necessidades do professor, como mediador da relação e

socialização do aluno surdo com os outros alunos, é ser capacitado de forma que sinta-

se a vontade e seguro para tratar com esse aluno. Com isso, sabendo que a educação é

para todos independente de sua especificidade, temos a inclusão dos alunos com

necessidades educacionais especiais no ensino regular, porém, o que não conseguimos

notar é esta inclusão, pelo menos não nas escolas onde foi realizada a pesquisa, pois não

há professores capacitados para realizarem o atendimento adequado ou desenvolver

atividades com os alunos surdos, já que as atividades são direcionadas para os alunos

ouvintes.

Vale destacar que como uma língua, a Libras possui todas as estruturas que

a compõe, existindo assim diversas formas de explorá-la, por meio da configuração de

mãos, expressão facial, classificadores, meio a ser sinalizado, direcionamento, etc. O

objetivo principal seja alcançado, sendo este a comunicação.

A Língua de Sinais são sistemas de sinais independentes das línguas faladas.

Não existe uma língua de sinais utilizada e compreendida universalmente,

diferindo uma das outras, por exemplo: no Brasil temos a LIBRAS (Língua

Brasileira de Sinais); nos EUA utiliza-se a ASL (American Sing Language);

e na França a LSF (Langue de Signes Français). Existindo como as línguas

orais, dialetos ou variabilidade regional dos sinais. A língua de sinais é uma

língua de dimensão espacial e corporal. (DEUS, 2012, p. 6).

Conforme Domingos (2014, p. 16) “a Língua de Sinais propicia o

desenvolvimento linguístico e cognitivo da criança surda, facilita o processo de

aprendizagem de línguas orais, serve de apoio para a leitura e compreensão de textos

escritos e favorece a produção escrita”, mostrando a importância da introdução do aluno

surdo a sua língua materna, a qual irá fazer com que o aluno desenvolva-se nos diversos

aspectos mais facilmente.

Diante do tratamento desta língua como necessária para a progressão do

aluno surdo no decorrer de sua vida escolar, cabe salientar a importância da forma de

ensino que este aluno deverá ter, principalmente ele estando inserido em escolas de

ensino regular, sendo necessário o complemento ao aluno surdo de aulas direcionadas

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para a seu objetivo, que é a compreensão dos conteúdos através da comunicação por

meio da Libras.

Para atender de maneira organizada o atendimento em libras deve ocorrer

diariamente em horário contrário ao das aulas na sala de aula comum,

propiciando uma oportunidade para que o professor de Atendimento

Educacional Especializado faça seu planejamento juntamente com o

professor de turma comum e o professor de Língua Portuguesa,

acompanhando o plano de conteúdo oficial da escola, pois o conteúdo é

semelhante ao desenvolvido na sala de aula comum de acordo com a série ou

ciclo que o aluno está cursando. (DEUS, 2012, p. 12)

Todo o decorrer da explanação de conteúdos é mais uma forma de exclusão

do aluno surdo, pois não há a comunicação através da fala por parte do aluno e Libras

por parte do professor. Segundo Lima (2006, p. 23), “a grande maioria das crianças

surdas (com perda severa e profunda) desenvolvem-se melhor quando, na escola, a

língua instrucional é a língua de sinais”, mostrando o quanto é importante à introdução

desta língua no contexto escolar da criança, que pode apresentar dificuldade de se

comunicar caso esta inclusão não seja realizada.

Diferente dos ouvintes, grande parte das crianças surdas entram na escola

sem o conhecimento da língua, sendo que a maioria delas vem de famílias

ouvintes que não sabem a língua de sinais, portanto, a necessidade que a

LIBRAS seja, no contexto escolar, não só língua de instrução, mas, disciplina

a ser ensinada. (BASSANI; SBARDELOTTO; 2014; p. 4)

Por esses motivos o ensino de Libras vem traçando um caminho de

reconhecimento e aceitação tanto pelos ouvintes como pelos próprios surdos,

efetivando-se como uma mudança no atendimento desses alunos e fortalecendo a

identidade surda no Brasil, fazendo com que a escola não possa ignora-la no processo

de ensino e aprendizagem, inserindo-se desde a sala de aula, metodologias diferenciadas

que consigam abranger de forma linearmente toda a diversidade ali encontrada.

(BASSANI; SBARDELOTTO, 2014)

O tratamento da Libras como uma língua é de extrema importância para o

desenvolvimento do aluno surdo e da necessidade que o mesmo tem de obtê-la, já que a

língua é principal canal para o desenvolvimento cognitivo do homem. A partir disso

insere-se a criação de escolas bilíngues, onde o tratamento do bilinguismo refere-se ao

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ensino da Libras ao surdo, esta sendo sua língua materna, como também o português,

este sendo necessário para questões de convivência, por ser a língua oficial no Brasil.

No processo de educação da criança surda deveria existir, obrigatoriamente, um

profissional ouvinte, que seria responsável pela língua da comunidade ouvinte e um

profissional surdo, responsável pela transmissão da cultura dos surdos e da língua de

sinais”.

O ensino da Libras ao aluno surdo não negligencia o ensino da língua

portuguesa, mas, é claro que o domínio da língua materna facilita o aprendizado de uma

segunda língua (DOMINGOS, 2014) e segundo Costa (2003, p. 3)

“no bilinguismo, propõe-se que o surdo adquira a Língua de Sinais desde a mais tenra

idade, assim como os ouvintes adquirem a fala. [...] pois no bilinguismo, a surdez não é

vista como uma incapacidade, mas como uma especificidade.”

Para isto, o Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005 (que regulamenta

a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002 e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro

de 2000), no seu Capitulo III, Art. 13º diz que

O ensino da modalidade escrita da Língua portuguesa, como segunda língua

para pessoas surdas, deve ser incluído como disciplina curricular nos cursos

de formação de professores para a educação infantil e para os anos iniciais do

ensino fundamental, de nível médio e superior, bem como nos cursos de

licenciatura em Letras com habilitação em Língua Portuguesa.

Referindo-se ao Tradutor Intérprete de Língua de Sinais - TIL e a

comunicação do surdo com o ouvinte, considera-se, dentre as dificuldades encontradas

para comunicação/convivência do aluno surdo com um ouvinte, sendo este colega,

professor, diretor que não sabem Libras, o TIL a solução para desconhecimento do

surdo que é o som, e do ouvinte que é a língua de sinais.

O Tradutor Intérprete de Língua de Sinais é a pessoa que traduz de uma

língua para outra, interpretando a língua de sinais para a língua falada,

podendo esta ser simultânea, onde ouve-se a enunciação e passa para outra

língua no tempo da enunciação, ou consecutiva, onde o tradutor-intérprete

ouve/vê o enunciado, e depois faz a passagem para a outra língua.

(QUADROS, 2004, p. 11).

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Além da possibilidade de um TIL em sala de aula, há a necessidade da

relação entre ele e o professor. Segundo Santos e Festa (2014, p. 9) “para que a inclusão

aconteça é necessário mais do que a presença do intérprete em sala de aula, precisa da

interação de professores e intérpretes para que sua atuação conjunta garanta uma

educação que promova desenvolvimento de potencialidades do aluno surdo”.

Ressalta-se que o exercício da profissão de Tradutor Interprete de Língua de

Sinais (TIL) é regulamentado conforme a Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010,

onde o intérprete terá competência para realizar a interpretação simultânea de duas

línguas: Libras e Língua Portuguesa, podendo ser de maneira simultânea ou

consecutiva.

Apesar da lei em favor dos TIL ter sido aprovada em 2010, os interpretes

possuem um desenrolar no processo histórico do Brasil desde a década de oitenta por

meio de instituições religiosas conforme Quadros (2004) confirma:

Presença de intérpretes de língua de sinais em trabalhos religiosos iniciados

por volta dos anos 80. Em 1988, realizou-se o I Encontro Nacional de

Intérpretes de Língua de Sinais e a avaliação sobre a ética do profissional

intérprete. Em 1992, votação do regimento interno do Departamento

Nacional de Intérpretes fundado mediante a aprovação do mesmo. A partir

dos anos 90, foram estabelecidas unidades de intérpretes ligadas aos

escritórios regionais da FENEIS. Em 2000, foi disponibilizada a página dos

intérpretes de língua de sinais www.interpretels.hpg.com.br.. No dia 24 de

abril de 2002, foi homologada a lei federal que reconhece a língua brasileira

de sinais como língua oficial das comunidades surdas brasileiras.

(QUADROS, 2004, p. 16)

Vale destacar que apesar de a presença de TIL nas escolas da pesquisa esteja

em visível falta, e o processo de ensino e aprendizagem de alunos surdos esteja

defasado pelo fato desta ausência como também da falta de capacitação adequada aos

professores atuantes, o decreto que regulamenta a lei em favor da Língua Brasileira de

Sinais apresenta a necessidade da inserção dos mesmos a todos os âmbitos. Como se

observa no seu capítulo IV:

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Art. 14, § 1o, parágrafos II e III, do Decreto nº 5.626 - deve ser ofertado,

obrigatoriamente, desde a educação infantil, o ensino de Libras e também de

Língua Portuguesa, como segunda língua para alunos surdos, assim como

prover as escolas com: Professor ou Instrutor de Libras, Tradutor Interprete

de Língua de Sinais, Professor para o ensino de Língua Portuguesa como

segunda língua e Professor regente de classe com conhecimento acerca da

singularidade linguística manifestada pelos alunos surdos. (BRASIL, 2005)

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos durante a pesquisa através da aplicação dos

questionários foram organizados em três tópicos: a inclusão do aluno surdo, a

importância da Libras e a necessidade de Tradutores Interpretes de Língua de Sinais

(TIL) nas escolas públicas. Foi realizada a análise dos dados dos dois questionários

aplicados, sendo um deles voltado para os professores e o outro voltado para os gestores

das escolas.

Observamos individualmente as respostas relacionadas a cada um dos

tópicos trabalhados e relacionamos com os teóricos da área. É importante mencionar

que para deixar os entrevistados mais a vontade para expressar suas opiniões, suas

identidades foram preservadas sendo nomeados quando professores como P1, P2, P3,

P4, P5, P6, P7 e P8 e quando gestores como G1, G2 e G3.

Ao questionar aos professores sobre o conhecimento da surdez, todos

souberam dissertar, mesmo que de maneiras diferentes, percebendo-se que todos

relacionaram surdez como uma deficiência congênita ou adquirida na região auditiva, e

que é uma deficiência que dificulta e prejudica a comunicação.

P1 – “... é o sentido que mais nos coloca dentro do mundo.”

P2 – “é uma doença auditiva que a pessoa pode nascer com ela ou adquirir

com o tempo.”

G1 – “...penso que existe surdo de nascimento ou surdez adquirida.”

Reafirmado as colocações acima Cormedi (2011) apresenta os diferentes

graus de perda auditiva:

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As pessoas com surdez apresentam diferentes graus de perda auditiva, desde

de surdez leve, passando por aqueles que com auxílio de próteses readquirem

a capacidade auditiva e surdos profundos que não conseguem ou não desejam

adquirir a língua oral e só se comunicam por meio da língua de sinais. Além

disso, existem surdos congênitos e aqueles que adquirem a surdez: antes ou

depois de adquirir a língua oral. (CORMEDI, 2011, p.27)

Das nove escolas escolhidas para participar da pesquisa, duas delas possuem

um aluno surdo cada, um deles é a aluna citada anteriormente pertencente à escola

Nossa Senhora da Vitória, e o outro estuda na Escola São Luiz, mas não faz parte das

salas do 5º ano, que foram os alunos que participaram da pesquisa. Sendo assim, os

professores participantes da pesquisa não quiseram dar opinião sobre as dificuldades

encontradas ou que poderiam ser encontradas com um aluno surdo em sala. Entretanto,

o gestor da escola São Luiz opinou da seguinte maneira:

“além do constrangimento da criança, os professores tem que falar bem

mais alto, e ele ainda termina não entendendo nada.”

Seguindo neste contexto, cabe destacar que conforme Gonçalves e Festa

(2013):

A presença do aluno Surdo em sala exige que o professor reconheça a

necessidade da elaboração de novas estratégias e métodos de ensino que

sejam adequados à forma de aprendizagem deste aluno Surdo, o aluno Surdo

está na escola, então cabe aos professores criar condições para que este

espaço promova transformações e avanços a fim de dar continuidade a um

dos objetivos da escola, ser um espaço que promove a inclusão escolar.

(GONÇALVES; FESTA, 2013, p. 2)

Todos os professores e gestores são favoráveis à presença de Tradutor

Interprete de Língua de Sinais nas escolas públicas do município, e de formas diferentes

falaram um pouco sobre o dever que eles imaginam que o TIL tenha, sendo que todas as

respostas foram relacionadas à comunicação do aluno surdo com o professor e a

melhora no aprendizado do aluno.

P3 – “...com o tradutor ele vai entender o que o professor está explicando...

interpretando a língua portuguesa para a Libras.”

P4 – “... facilitará o processo de ensino desse aluno... fazendo a ponte entre

tal aluno e as atividades da sala.”

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P5 – “... o intérprete facilita a aprendizagem de educando... fazendo gestos

aos alunos, para que eles compreendam.”

Nessa perspectiva, Santos e Festa (2014) afirmam que

O intérprete não ocupa o lugar do professor, que é de ensinar, assim como o

papel do intérprete, que é interpretar. As aulas devem ser planejadas pelo

professor e o intérprete pode sugerir atividades em que o aluno poderá ter

uma melhor compreensão do conteúdo. O trabalho em parceria ajudará no

desenvolvimento do aluno (SANTOS; FESTA, 2014, p.5).

Quando os professores foram questionados sobre a forma de comunicação

que eles acreditam que seja a usada pela maioria dos surdos (figura 1), obtivemos o

resultado que podemos observar no gráfico que mostra em forma de porcentagem a

opinião dos professores que participaram da pesquisa.

Figura 1: Gráfico de porcentagem da opinião dos professores

relacionada a forma de comunicação mais usada pelos alunos surdos.

Já quando questionados sobre como provavelmente deve ser o

desenvolvimento do aluno surdo em sala de aula (figura 2), apresentamos no gráfico

abaixo as opiniões dos professores, sabendo que as respostas são subjetivas ao

considerar que nenhum dos professores entrevistados possuía alunos surdos em suas

salas.

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Figura 2: Gráfico de porcentagem da opinião dos professores

relacionada ao desenvolvimento do aluno surdo em sala de aula.

Contextualizando de forma histórica a indicação de que a forma de

comunicação mais usada pelos alunos surdo hoje é a Libras, os autores Silva, Melo e

Cavalcante (2010) destacam que

A partir do congresso de Milão, em 1880, devido a grande presença de

ouvintes, adotou-se o oralismo, método que considera a voz como o único

meio de comunicação e de educação para os surdos [...]. Na década de 60,

surge uma corrente filosófica denominada de Comunicação total, sendo

bastante importante para estabelecer uma comunicação mais eficaz para

ambos – professor e aluno, ao propor que qualquer tipo de comunicação é

relevante (língua de sinais, a fala, a leitura oral-facial, o alfabeto manual e a

escrita) [...]. Por volta da década de oitenta e noventa toma espaço o

bilinguismo, tornando a língua de sinais, como língua principal entre a

comunicação (SILVA, MELO, CAVALCANTE; 2010, p.5-6).

Direcionando-se ao nível de conhecimento que os mesmos possuíam em

relação à Libras, as informações que já tinham ouvido falar sobre essa língua e a

necessidade da mesma tanto para a comunicação quanto para o aprendizado do aluno

surdo, obtemos como resposta que dentre todas as onze (11) pessoas que responderam o

questionário, apenas cinco (5) possuem algum conhecimento sobre Libras e que o

mesmo foi adquirido por um curso de nível básico oferecido pela Universidade Federal

do Maranhão - UFMA, através do projeto LETRAR: letras e números, que ainda esta

em andamento, já possuindo uma turma finalizada com carga horária de 180 horas

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concluídas e mais duas turmas em andamento, e os outros seis (6), não possuíam

nenhum conhecimento de tal língua.

Ao tratar da importância da capacitação dos professores Silva (2016) aponta

a questão da falta de disponibilidade de tempo dos docentes para se capacitarem

Pode-se perceber que um dos maiores entraves no que diz respeito às

metodologias para atender aos alunos surdos é a questão disponibilidade de

tempo do professor. Assim como também a falta do conhecimento

aprofundado da língua de sinais, sendo necessário um momento de estudo,

para que haja o repasse de sugestões de metodologias. Pois a falta de recursos

e a indisponibilidade de alguns professores a se capacitarem, às vezes acaba

por prejudicar a boa qualidade de aprendizagem, principalmente no que diz

respeito às provas e atividades em classe (SILVA, 2016, p.4,).

Tentamos extrair a opinião de cada um dos professores e gestores sobre a

capacitação necessária que os professores precisariam ter para conseguir desenvolver

atividades mais abrangentes para todas as especificidades que podem surgir em uma

sala de aula, as dificuldades que o surdo enfrenta na escola e as dificuldades na

ministração de aula.

P6 – “... não estamos preparados para trabalhar com esse alunos.”

P7 – “... o surdo não consegue compreender os conteúdos do dia a dia.”

P8 – “... se não houver a comunicação para a troca de conhecimento, não

haverá aprendizagem.”

G1 – “... pois o mesmo (o surdo) não consegue acompanhar os conteúdos

trabalhados.”

G2 – “porque estes professores (TIL) são treinados para trabalhar com as

nossas crianças, onde outros professores não especializados se sentem inexperientes”.

G3 – “sem a qualificação em Libras o professor não terá como explicar as

aulas”.

Pode então ser percebido, conforme as respostas acima, que os professores

se auto declaram incapacitados de desenvolver as atividades de forma que consigam

abranger os diferentes tipos de especificidades, mas mesmo assim demonstram o

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conhecimento sobre a necessidade de um TIL em sala de aula. Ressalta-se que a maioria

dos entrevistados tratam os intérpretes, como as pessoas responsáveis pelos alunos

surdos, sendo perceptível em suas falas direcionadas ao interprete como professor, mas

como foi apresentado anteriormente, nem o intérprete deve substituir o papel do

professor, assim como o professor o do interprete.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os surdos respeitam e esperam respeito das pessoas que estão a sua volta,

merecendo, apesar de possuírem suas limitações, uma educação digna e de qualidade,

que poderia ser oferecida a partir de uma iniciativa na melhora da educação através de

formações continuadas para os professores em exercício e da inserção de Tradutores

Interpretes de Língua de Sinais nas escolas da rede pública assim como um

direcionamento mais aprofundado a este assunto nos cursos de graduação/licenciatura.

Percebemos durante a pesquisa, que há necessidade de um atendimento

especial nas escolas públicas de Codó, porém a população está à mercê do

desenvolvimento educacional do município, que enquanto não se manifesta, o professor

sem capacitação suficiente para tal caso é seguir sua aula, com a desvantagem de ter

alunos com necessidades educacionais especiais diversas, que se sentem exclusos,

dificultando o processo de socialização com os colegas e interação no momento da

ministração das disciplinas.

Sem a presença de um TIL ou um professor com capacitação, que mesmo na

ausência de um profissional adequado, consiga desenvolver metodologias capazes da

inserção desses alunos durante as aulas, o surdo não conseguirá obter algum tipo de

aprendizagem, já que não consegue compreender o que está sendo ministrado.

Podemos notar também que a Língua de sinais está sendo cada vez mais

procurada pelo profissional da educação através de minicursos, cursos de

aperfeiçoamento, entre outras formações. Entretanto, observou que o conhecimento

sobre surdez ainda está escasso, pois os educadores relacionam diretamente a perda

auditiva total, não sabendo direcionar as suas variações.

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Saber a definição e a importância de cada um dos assuntos que envolvem a

vida de um surdo é extremamente necessário para que a evolução no tratamento deles

melhore, tanto no âmbito social quanto no educacional. Podemos perceber que a

diferenciações entre as necessidades de tratamento, sendo estes com o aparelho para

níveis mais leves de surdez, ou apenas o ensino da Libras para a comunicação das

pessoas, mais especificamente alunos que tenham tal deficiência, são de grande

importância para a evolução da comunicação entre ouvintes e não ouvintes.

A partir de todas as observações realizadas, vê a necessidade de um

Tradutor Intérprete de Língua de Sinais faz numa escola, o qual possui a capacidade de

desenvolver o aprendizado de um aluno surdo com a introdução de uma língua para a

comunicação do mesmo, onde o seu desenvolvimento não se estagne apenas a tentar

descobrir o que estão falando ou lutar pra que entendam o que quer.

Contudo, o processo de desenvolvimento da cultura surda e das formas de se

trabalhar com o aluno surdo desenvolveu-se continuamente, se levarmos em conta o

histórico do surdo na história do Brasil. A Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, assim

como o Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, que a regulamenta, foram de

grande avanço para a possibilidade da vivência do surdo numa sociedade onde em sua

maioria são ouvintes, apesar de ainda haver alguns tópicos a serem trabalhados,

melhorados e desenvolvidos para que o surdo possa se sentir, apesar de ter sua própria

cultura, parte integrada e indissociável da cultura brasileira.

Depois de realizadas as observações no decorrer da pesquisa, trabalhar em

leituras de pesquisas relacionadas ao tema e até mesmo em sala de aula assim como em

outros meios de observações, podemos notar o quão importante é a língua de sinais para

um surdo, e como é necessário termos esse desenvolvimento na capacitação dos

professores, não somente das escolas do nosso município, mas as de todo o Brasil.

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