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A Lei da Famflia: Do Projecto ao C6digo

Em 27 de Fevereiro de 1982 a lei mogambicana sofreu uma das suas maiores trans-formagdes desde a Independ€ncla Nacional, atrav6s da Directiva I 182 do Trlbunal Superior deRecurso. Esta Directlva determinou que entravam em vigor para eteito de serem aplicadospelos Tribunais, os prlnciplos gerals sontldos no Proiecto da Lei de Famllia respeltantes aodiv6rcio litigioso e nilo litiXfioso, unlilo de lacto e uniilo poligama, respectivamente.

Este mecanismo lnvul{ar ds alterar a lei deveu-se i necessidade de, por um lado, sesubstituirem rapidamente os aspectos do C6iltgo Civil que lossem ou lnconstitusionais, ou ul-trapassados, por outro lado, submeter-se o Proiecto da Lel da Famllia a uma apreciagflonacional antes de ser finalmente submetido i Assembleia Popular.

Nos quatro anos que so sucederam os Tribunais acumularam uma exporiOncia muitorica na apllcagio dos novos princlplos. Por outro lado loram crladas as condlgdes para umdebate profundo ao nlvel nacional sobre os fundamentos de uma nova lei da familia atrav6sda realizagilo, em t985 da Confer€ncla Extraordiniria da Organizaqilo da Mulher Mogambi-sana; os trabalhos preparat6rlos desta conlerOncia, envolveram centenas de milhar de mulhe-res e homens em reunides e debates do Rovuma ao Maputo.

A luz do orientaq6es gferals da Conler6ncia Extraordiniria, e tomando em sonta a ex-periOncia concreta Xfanha pelos Tribunals ao longo dos anos, compete agora ao Ministdrlo daJustiga, avangar para uma revisilo e aperlelgoamento do Proiecto de C6digo da Familia.

A comissilo de revisllo do Projecto, Inngou um inqu6rito a nivel nacional o qual,al6m de tratar da pr6pria concepgilo da famllia, do regime de bens, do div6rclo e da uniflode facto, levanta questdes sobrs a sucessio o a adopgilo.

A colaboragilo de todos os trabalhadores do Minlst6rio da Justiga, ospecialmento osque lidam diariamente com questdes de lamllla, 6 essencial, para garantir o €xito deste tra-balho. E de sallentar o papel lmportante dos Juizes eleitos, quer ao nivel da base, quer osque funcionam nos trlbunais superlores, as fsrnecimento das suas opinides o somentfrrlos,nesta fasg.

Si[o eles o alicsrce mais forte ontro 6 fitinist6rio o a comunidado. Sflo eles que por umlado conhecem bem o sentimento popular I por outro sonhecem os problomas concretos quosurgem nos trlbunais e que nesessitam de solugdes concretas e justas.

NiIo bastam os <slogans>, as dentncias e a moralizagilo abstracta na resolugio dosproblemas mfltlplos e dellcados assoclado3 ls questdes de famllia.

Temos de partir sempro da realldade, que 6 uma realidade em transformagf,o.O Minlst6rio tem a tarela de ldentilicar e assumir todos os aspectos progressistas o

populares no quadro desta realidads em transformagilo e convertO-los em fiXfuras e lnstru-mentos iuridicos adequados s ellcazes.

Este n{rmero de Justlga Popular 6 dedicaCo a este obiectivo. Querfamos incentivar osnossos leitores a fazerem as suas pr6prias anilises, contribuindo com as suas rellexdes paraa elaboragiio de um renovado Proiecto da Lei da Familia,

SUM2

ARto

Famil ia em Maputo Direito de Defesa

Conselho Coordenador Lobolo no Botswana . . . . .

UniSo de facto Advocacia em Cuba

As Cadeias na RPM 2l

2

4

A

t l

6

8

9

l l

r5r9

f urisprud6ncia 23

Direito Maritimo

Lei do Trabalho

n SeminArio do Minist6rio da Justiga sobre a Confer6ncia Extraordin6ria da OillM(Novembro 1985)

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NA CIDADE DE MAPUTO A FAMILIA

COMO VAI?

Bairro de Xipamanine, Abri l de | 985

A nossa tarefa 6 vir aqui fazer uma reunidosobre a Justiqa Popular. Esta 6 a Semana da Jus-t iQa. O tema 6 "a fami l ia" .

No barracSo do Conselho Executivo, onde nosencontramos, mais de 500 pessoas sa0dam-nosbatendo palmas ao r i tmo de "ngodo", danQa tra-dicional acompanhada por t imbila de Zavala. Dezdanqarinos empunhando azagaias evoluem emfrente ao pequeno estrado onde nos colocaram.As mulheres marcam o compasso da danga como seu v igoroso "sh ivuvutuana" (c lamor de j fb i lo) .

Perguntdmos a um mais velho ao nosso lado,qual a origem desse "f lgodo" tdo bom de se verdanqar e de se ouvir e ele esclarece que 6 umadanga guerreira de origem nguni, muito divulgadana zona de Zavala.

(Quem disse que o respeito pela cultura dopovo n6o tem nada a ver com Justiga Popular?).

E EEPOIS DO (NGODOD, A FAMILIA

COMO VAI, CAMARADAS?

Talvez que no Xipamanine ndo nos tenhamdito muita coisa que n6o t iv6ssemos jd ouvidosobre a famfl ia moqambicana. Proporcionaram--nos, isso sim, a renovada experiOncia, o privi16-gio importante do dialogo em directo, a oportu-nidade de sentir o calor humano, que envolve osreais problemas dos homens, que deve envolvere nortear cada decisdo que se toma, cada orien-tagSo que se d5, cada direct iva que se traga, paraa sua correcta solug6o.

Aqui, quantos s1o casados?

A maioria dos bragos se erguem, para respon-der ir nossa pergunta, para indicar a condiq6o, oestado civi l .

Por6m, lembramo-nos da nossa prdtica nostr ibunais, ao interrogar os arguidos e os decla-rantes, sobre a sua identidade... "O(a) senhorfa)6 casado(a) ou solteiro(a)? "e a resposta, quaseque invar iavelmente 6 esta, a . . . G?sodo(a) , masndo oficialmente."

E 6 aqui que bate o ponto. Para muitos, mesmona cidade, o casamento registado ainda ndo foiassumido como necessidade, parte integrante da

2

.3 MAr,iT4, A PR(l P6SITt},atitude geral do cidadSo desta Repfblica, coisaessencia l na v ida.

Aqui, quantos s6o casados oficialmente? E sdmeia d1zia de mdos se levantam.

Falamos muito sobre a importdncia que o casa-mento registado pode vir a ter no futuro, falamosda sua necessidade e das suas vantagens, navida moderna, falamos da necessidade de cimen-tar ainda mais a unidade nacional, atrav6s deuma forma rinica de casamento, reconhecida ereal izada pelo Estado: o casamento civi l . E dize-mos que o casamento civi l ndo deve excluir asprdticas culturais e tradicionais que nas diferen-tes zonas do nosso pafs assinalam a uniSo deum homem e de uma mulher, com o f im de cons-t i tu i rem a famf l ia .

E durante esta nossa fala e depois dela, ascabeqas abanam muito, para indicar que simsenhor, estd tudo claro e muito compreendido!E as cabegas continuam a abanar muito, mesmoquando um homem idoso decide expressar-se doseguinte modo:

" Mas ndo podemos abandonar a nossa tradi-q5o, at6 porque para n6s, 6 s6 a Independ6nciaque traz essa coisa de registo. Antigamente, ocolono nem nos deixava pisar nos seus palSciosde registo do casamento. Como 6 que eu podiaentrar para casar, sem sapato nem casaco? EstSoaqui nesta reuniSo muitos jovens; 6 a esses quevoc6s devem falar de casamento civil. Esses 6que vdo seguir essa nova tradig6o, juntamentecom a ant iga, se quiserem. Mas uma coisa queeu queria pedir ao Governo, era para n6o deixarque esta especulaqSo com os pagamentos delobolo, continue. Assim estS-se a estragar osignif lcado do lobolo... ! Falem com os Jovens!

Esfe casamento sem pais 6 casamento?

Hd visivel agitagSo na assembleia, principal-mente entre as mulheres, as mdes, e uma delas,levanta-se, ajeita o n6 da capulana mete as mSosnos quadris com vigor, e comega por nos dizer:

"A prop6sito dos jovens... ent6o o meu f i lho queeu criei com todos os sacriffcios, chega um diaa casa e diz-me assim: Mam6, para a semanacaso-me! E quando quero saber pelo menos comquem 6 que ele se casa, ele diz-me que 6 comuma mi fda daf da Mato la. . . Quer d izer , os nossosfi lhos jd s6o independentes de n6s? Nos os paisjd ndo merecemos consideraqSo ou 6 permit idopelo registo que a famll ia ndo acompanhe oprocesso de casamento 15 porque o f i lho tem 21anos? Assim n6o est6 certo! Este casamentosem envolver pai nem mde, 6 casamento?"

Os jovens estdo sem jeito, alguns sorr iemcontrafeitos, outros baixam os olhos e n6s dize-mos-lhes: .Jovens respondam ?rs vossas m6es,.

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PARA A SEMANA CAS(I.ME"

Temos medo de educar os nossos filhos?

Namorar-se no quarto do rapaz...

.Chamo-me Rosal ina Alber to Ubiss@.. . r . Ass imcomega outra intervenqSo. Faz-se si ldncio com-pleto, s6o vdrios os braqos que se levantaram apedir a palavra.

"Estou satisfeita com o que ouqo aqui hoje.De facto estes problemas sdo reais. Aqui emMaputo a fami l ia va i mui to mal . N6o podemosfalar com as nossas f i lhas, chamar-lhes a aten-g5o, porque a resposta ndo tarda:

"Mam5, est6s ultrapassada! Ndo foi isso queme disseram no l iceu. . . " E a rapar iga que v is i tao rapaz em sua casa, e os pais do rapaz recebern--na sem procurar saber quem 6 ela e ao que vem.Namora-se no quarto do rapaz. Ouando encontra-mos nos caminhos escuros, jovens agarradas aosnamorados e chamamos a atengSo, a respostan5o tarda: "Afinal estou a namorar na tua casa?"E como resultado, surgem as mdes solteiras,sucedem-se os engravidamentos de meninas deescola, e mesmo quando os pais forgam o casa-mento depois do engravidamento, esses laresn5o s5o duradoiros, n6o s5o consistentes, e 6frequente encotrarmos uma jovem de 1B anos,jA com dois ou tr6s f i lhos, je divorciada e jamuito vivida, j6 muito desi ludida. E h6 outracoisa: N6s os pais comeqamos a ter medo deeducar os nossos f i lhos, porque nos ndo sabe-mos nada, e eles jd trazem outras ideias do l iceu.N6o educamos as nossas f i lhas conveniente-mente. Quando elas se casam n6o respeitam afamil ia do marido. A sogra 6 sempre bruxa efeit iceira, e os irmSos do marido, quando lhesvdm visitar n6o sdo bem vindos, porque v6macabar a comida. . . !

E depois da Rosal ina Ubisse, 6 a Deol inda Bi la ,s6 para acrescentar que as mulheres da cidade,e pr inc ipalmente daquele bai r ro de Xipamanine,fazem muita l ibert inagem. J5 ndo hd moral, jdndo hd costumes, as mulheres esqueceram-se doque lhes ensinaram as suas mdes!

E falam muitos outros, porque 6 bom falar dosproblemas da nossa vida, porque falar seriamentenos problemas 6 abrir as portas para encontraras solugdes adequadas;

At6 o gado tem registo

lnformamos sobre o projecto da lei de famfl ia:Estamos a preparar uma lei para tratar dos pro-blemas da famil ia. Do casamento registado, dauniSo entre um homem e uma mulher, a uni6o defacto, dos deveres e direitos do marido e damulher, e dos f i lhos. Havemos de trazer esseassunto aqui outra vez, para discutirmos essa leiC O I ] V O S C O . . . n

Novas manifestagdes de j fbi lo. Algumas mu-lheres se levantam e dangam e depois de seatingir uma certa calmia, algu6m grita de entreos presentes: "Nessa lei devia constar que nacidade o registo de casamento 6 obrigat6rio,porque sem registo, os homens largam-nos quan-do lhes apetece, sem dar satisfagSo! Outra voz:"Na le i da famf l ia e prec iso expl icar bem asobrigag6es de cada membro da famil ia em rela-g5o aos restantes! '

E outra ainda: "E o registo das nossas crian-gas. Muitas vezes os pais nem as reconhecemcomo suas!"

E assim poderiamos ter continuado por maisuma ou duas horas, ndo fora o facto de comeqara escurecer e ndo haver i luminagdo no local.

Como nota f inal, fazemos um reparo bs mdessolteiras, sobre o registo das suas crianqas."Ndo 6 preciso esperar pela nova lei, para regis-tar as crianqas. Se os pais n6o as reconhecemou n6o as querem registar, levem-nas voc6spr6prias ao registo. Vdo ao Tribunal de Menores,l idaremos com esses homens. Mas seja comofor, registem os vossos f i lhos."

Algu6m, de entre o Povo, arremata: "No cam-po, at6 o gado tem registo! At6 as gal inhas e oscabritos se eontam e se controlam!"

Mas que belo arremate!

GITA HONWANA

f USTI€A POPULAR N.o | | Junho de 1986 -

Rua Matheus Sansdo Muthemba, 65 - Maputo

RedacAdo: Gita IIozuano, Albie Sachs e Daniel do Silua

Colaboragd,o: Nodmia Francisco, Lucinda Cruz e Athalia lt lolohotne

Fotos: ALPHA Cooperatiao de Fot|grofos

Iml>ressdo: Tiiogalio Minerao Central

N.o de Registo: I l {LD ooq/INLD/PUB - 83

Distribttigd.o:1yYp e Dept. i le Intestigagdo e Legislagdo, Ministlrio i la Justipa

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A JUSTI9A INTERROGA-SE

TEMPO DE ANALISE NO II CONSELHO

COORDENADOR DO MINISTERIO DA

f usfl9A

De 5 a 7 de Dezembro real izou-se em Maputoo l l Conselho Coordenador do Ministdrio daJustiga, para anSllse do cumprimento do Planode acgSo para 1985 do Minist6rio da Justiqa.

Este encontro constitui movimento importante,porque de ref lexSo s6ria sobre se e como osdiferentes sectores do Minist6rio da JustiQaestSo a levar b prStica a consolidaqSo de umaJustiqa que sirva os interesses da maioria, dosoperdrios e camponeses, na Repfbl ica Popularde Mogambique.

O estilo e m6todos de trabalho nos nossostr ibunais, nas nossas conservat6rias de registo,a implementaqSo de uma polft ica prisional dereeducagdo do del inquente pelo trabalho, a f isca-l izaqSo e defesa da legal idade, a assist6nciajur fd ica ao c idadSo, a d ivu lgagSo das le is e ainfornraqSo Jurfdica, foram os pontos em andlise.

No discurso de abertura proferido pelo Minis-tro da Justiga, aquele responsdvel sintet izouassim a forma como a ref lexSo sobre as ques'tdes da iust iqa deveria ser dir igida, neste l l Con-selho Coordenador.

.Teremos de ver se, em cada sector fomoscapazes de estabelecer uma identidade de pensa-mentos e de acqSo na execuqSo dos nossosprogramas de trabalho, se soubemos al iar a dis-cussSo colectiva A responsabil izagSo individualdas tarefas.

Devemos interrogar-nos repetidamente.- Oue avanqos regist6mos no aspecto organiza-

t ivo?- Oue melhorias conseguimos introduzir para

aumentarmos a qualidade e a ef icScia donosso trabalho?

- Se o Tribunal Superior de Recurso, por exem-plo, j6 assumiu a direcqSo e o controle dosis tema judic idr io? A Procurador ia da Repu-bl ica elevou a sua capacidade de f iscal izaQsoda legal idade?

- Se as cadeias deram passos signif icat ivos nasua adequaQSo a centros de transformaqSo dosdel inquentes?

* Que medidas foram tomadas para promover oregisto da propriedade imobil iar ia e dos actoscomerc ia is?

- Sabemos que na nossa actividade se acaste-lam di f icu ldades, or ig inadas pela nossa juven-tude e inexper iGncia, pela carGncia de quadros,pela situagSo de guerra que nos 6 movidapelos inimigos da Patr ia e da RevolugSo.

4

Mas devemos estar conscientes de que, quan-to maiores forem os obstdculos, maior deverdser o esforgo de cada um de n6s para material i-zar esta exaltante tarefa que nos foi confiada:levar a Justiga e a legal idade a cada canto donosso Pais, com a mais ampla e democrdticapart icipaqSo popular."Pelo seu interesse passamos a reproduzir excer-tos de alguns dos relat6rios sectoriais apresen-tados para discussSo ao Conselho Coordenador:

I , TRIBUNAIS

Movimento processua/

oNa drea criminal, no periodo que vai de Janei-ro a Outubro (1) deram entrada nos Tribunais Po-pulares Provinciais, 5 852 processos, sendo, onfmero de processos findos, no mesmo perfodo,5 571, dos quais 3 468 por sentenqas e 2103 poroutros motivos. Estes dados ndo incluem aProvincia de Gaza por n6o ter sido possivelco lh6- los."

"Nalgumas Provfncias, o nfmero de detidosconstitui apenas cerca de 10o/o da populaqSopr is ional . No c6mputo gera l ( . . . . . . ) em Outubrodo corrente ano exist iam b ordem dos TribunaisPopulares Provinciais (2) 1867 presos, contraapenas 577 detidos (3).

Contr ibuiram para a melhoria da situagSo paraal6m do mais, o reforqo do corpo de magistradoa nivel dos T. P. P's, as acq6es de organizagSointerna e uma melhor coordenag6o com a PoliciaPopular de Moqambique, em especia l a Pol ic iade InvestigagSo Criminal que garantiu uma certaceleridade na remessa dos autos ao tr ibunal eum esforqo considerdvel no cumprimento dosprazos de prisdo preventiva."

"Nas Sreas c iv i l e de menores a inda ndo seconseguiu impr imir a ce ler idade que ser ia de de-sejar, o que em parte se Justi f ica pela necessida-de que houve em concentrar maiores esforgos na6rea cr iminal . De toda a maneira, houve l ige i rosavangos, porquanto, a nivel das ac96es civeisderam entrada 885 processos e no mesmo perfo-do, f indaram 573, o que 6 mais de metade. Estesdados n6o incluem as Provincias de Sofala.Inhambane e Gaza."

APOTO, CONTROLO E TNSPECQOES

Neste dmbito importa registar a criagdo epublicagSo do diploma legal que regula a ins-pecQSo jud ic ia l e do M in is t6 r io Pub l i co ( . . . . . . )Efectuaram-se inspecq6es aos Tribunais popula,res Provinciais de Tete, Inhambane e Niassa [. . .)

Tamb6m foram real izadas visi tas de apoio einspecqSo a alguns tr ibunais Populares Distr i tais,pelos Tribunais Populares Provinciais de Manica,Zambdzi4 Nampula, Niassa, Maputo e Cidade de

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Maputo. Em quase todas as Provincias foram rea-l izados, tamb6m, semindr ios e outro t ipo deencontros entre os T. P. P's e T. P. D's e de Loca-l idade ou Bai r ro. Do t rabalho real izado e dasexperi6ncias obtidas constata-se que deve cons-tar como uma das principais tarefas dos tr ibu-nais super iores, a rev i ta l izaqSo dos Tr ibunaisPopulares de Base, pois a lguns deles por raz6esde ordem varia, cairam no esquecimento e tor-naram-se inoperantes.

Da anSlise do grau do cumprimento destaacgSo f icou tamb6m patente que a falta de trans-porte e a acqSo do bandit ismo armado em algu-mas zonas do pafs, consti tuem obstdculos a con-siderar com seriedade.

FOBMAQAO

r( . . . . . . Para formaqSo de magist rados decorremac96es nas Provincias de Manica, Nampula,Zam-b6zia, Tete, Niassa e Cidade de Maputo. Sob aresponsabi l idade do Tr ibunal Super ior de Recursotamb6m decorre um curso de magistrados dis-tr i tais.

Para a formagSo de pessoal para Cart6rio,apontam-se os cursos levados a cabo pelo Tribu-nal Super ior de Recurso e pelos Tr ibunais Popu-fares Provinciais de Manica, Maputo, Zambdzia,Te te , e C idade de Maputo ( . . . . . . ) .

Verif ica-se, assim, a necessidade de se desen-volver as acq6es de formaqSo, off l termos quan-t i tat ivos, sem prejulzo da necessdria exig6nclade qual idade.

lnfel izmente, levantam-se problemas de recrr l-tamento, que se resumem fundamentalmente noseguinte:

- A reduzida idade da maioria dos candidatos(novos e em idade mil i tar).

- O reduzido nfvel dos salSrios atr ibuidos aosmagistrados distr i tais.

- O facto de muitos juizes eleitos com condi-g6es optimas para integrarem os nossoscursos, terem logo ?r part ida, dif iculdades dese desvincularem dos locais consideradosimprescindlveis, quer porque t6m vencimentossuperiores ao de um magistrado distr i tal .

Faltam os dados de 3 Provfnclas.-Eeste Servigo fol formalmente transferldo para o Minist6rlo dolntorlor no lniclo do 1986.

2. PBOCUBADORIA DA REPUBLICA

Recomendagles gerais

- O Minist6rio Pribl ico deve trabalhar em coor-denaQSo estreita com os 6rg6os de investigaqSodir igindo efectivamente a instruqSo, ndo deve:rdoporem, subst i tu i r -se dqueles no que concerne assuas acg6es pr6prias na instrugSo preparatoria.- Necessidade de um maior controlo do cumpri-

mento, pelos orgSos pol ic ia is , dos prazos deprisSo preventiva.

- A par do a largamento da rede jud ic iar ia dota-da de quadros capacitados, recomenda-se tam-b6m o aumento da compet6ncia dos Tr ibunaisPopulares Distr i tais ndo so como melo adequadode combate b cr iminal idade corno tamb6m comoforma de se assegurar a manlrtenqSo da Legali-dade nos d is t r i tos.- Oue os Governos Provinciais procedam com

o apoio do Min is t6r io Publ ico, i r invest igaq6odas Sreas fundamenta is onde a acesscr ia aprestar pelo rnesrno Min is t6r io Pr ib l ico deverdessencia lmente inc id i r , dadas as especi f ic ida-des das prov inc ias e por forma a permi l i r queo agente do Min is t6r io Publ ico conhega atem-padamente as dreas em que deve a lcanqaruma melhor formaqSo.

- Reforgo do cumprimento pelos orgSos estatais, empresas e cidadSos, do dever de prestarcolaboragSo aos orgSos jud ic ia is , des ignada-mente atrav6s da ced€ncia rapida de peritospara real izaqSo de di l ig6nclas que se mostremnecessdr ias.

- lmp6e-se tamb6m uma coordenagSo permanelt-te entre o Min is ter io Publ ico e os adminis t ra-dore com definigSo das compet6ncias e atr i-bu ig6es do delegado, a sua posiQso como f is-ca l , f l t imo, e por excel6ncia, da Legal ic ladt ;representante dos interesses do Estaclo, pi 'o-motor da acgSo penal e dir igente efeci ivo CainstruqSo preparatoria, e por outro, das corrr-pet6ncias dos adminis t radores a f im de sepreveni rem conf l i tos e in t romiss6es da esferade acqSo da outra par te, e pr is6es i legais .

- Necessidade da independentizaqdo da Procr.r-rador ia Geral da Republ ica, conio uma unidacleorgdnica autonoma, com assento e d ignidac{econsti tucionais, dotada de orgamento, quadrose orgdnica interna pr6prios.

( t )(21

Debate com 80 juizes - presidentes dos Trlhunais de Base e de Distrito

?l em h,laputo, em Maio de | 985, como parte de urna investlgegSo nacional

sobre possiveis alterag6es i Lei da OrganizagSo judieiSria.

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f GllRREGTtl lltslsnR rrrnEilItcls lltl Rtluut'tl ltl ntPultlt

REFLEXOTS soBRE A ur.lAo DE FAcro

s0luc0Es

Ndo 6 invulgar em diversas legislag6es domundo encontrar a f igura da uniSo de facto.Admite-se que a relagSo entre pessoas que vi-vem maritalmente sem ser of icialmente casadasreceba um grau de reconhecimento of icial. Porexemplo, uff i homem separa-se da sua mulher,comeQa a viver com outra mulher; a segundarelagSo dura tr inta anos, produz f i lhos, em suma,consti tui de facto uma nova famfl ia. Ouando ohomem morre, seria injusto ignorar totalmenteos d i re i tos da segunda mulher como se e la ndotivesse t ido relaqSo nenhuma com o homem:expulsS-la da casa, consider6-la como mera"ofl l?nt€" do falecido.

O que d is t ingue a s i tuagdo na R. P. M. 6 a cen-tral idade dada b uni6o de facto. Em vez de seruma f igura d margem da le i da famf l ia , posta nof im da leg is lagSo na par te dedicada a "d isposi -g6es transitorias", ocupa um espaqo central naestrutura do actual Projecto da Lei da Famfl iaparcialmente em vigor. Em vez de ter um papelmeramente atenuante da injust iga que seria cria-da por uma ignordncia total da exist6ncia dumarelaqSo ndo oficialmente formalizada, quase equi-para esta relagdo a um casamento registado. Eatrav6s do reconhecimento pleno da uniSo defacto que a grande maioria da populagSo que ndoregistou os seus casamentos recebe a protecgSoda lei. Se ndo fosse t6o amplamente reconhecida,noventa por cento da populagSo ndo beneficiariada lei, e os Tribunais Populares n6o teriam a com-pet6ncia de responsabil izar membros daquelasfamfl ias quanto ao seu comportamento, nem deaplicar os princfpios consti tucionais na resoluqSodos seus problemas. Assim, os Tribunais conse-guem reduzir o abismo que existe entre casa-mentos registados e os ndo registados, e deavangar com o seu grande trabalho da uniformi-zagdo progressiva da lei dando solug6es substan-c ia lmente iguais a s i tuaq6es iguais , independen-mente da etnia ou rel igido das partes.

Desta maneira, a lei reconhece a exist6nciade facto (como realidade, como um facto) dumcasal, reconhece, a real idade dos vfnculosfamil iares, independentemente do modo peloqual esta sociedade conjugal foi cr iada. N6oimporta que as partes sejam muqulmanas, cr istSsou ndo tenham rel igi6o, ndo importa que sejamdo sul ou do norte, que os seus antepassadostenham vindo da Afr ica ou da Ardbia, da fndiaou da Europa, ndo importa que o lobolo t ivesse

6

sido ou ndo pago, que t ivesse havido ou n5o ma-hari, nikd ou dote. 56 importa que coabitam eque objectivamente criaram um lar, consti tuiramuma famfl ia e sdo socialmente considerados co-mo marido e mulher. Reconhecer o facto de umauniSo conjugal n6o 6 reconhecer todas as nor-mas tradicionais ou rel igiosas que atrav6s da leitradicional regulamentariam aquela uni6o. Repe-t imos: quanto aos Tribunais Populares, n5o hd leican6nica, le i mugulmana, le i a te ia; ndo hd le i dolobolo, do mahari, do pette. 56 he lei mogambi-cana, igual para todos, respondendo com solu-g6es concretas aos problemas concretos doscidadSos. "Assim, o reconhecimento extenso dauniSo de facto ref lete uma estrat6gia jurfdicaque 6 simultaneamente democrdtica e unif icado-ra, democrdtica no sentido em que destr6i oabismo jurfdico que exist ia entre a " lei" dos"civi l izados" por um lado, e os ausos e costu-f i tesr dos " indfgenasr por outro lado, e unif ica-dora no sentido em que apl ica princfpios e nor-mas iguais para todos.

O Artigo 23 do Projecto da Lei da Famflia defi-ne a uniSo de facto nos termos seguintes:( . . . . . . a l i gagSo s ingu la r en t re um homem e umamulher, que, sendo legalmente aptos para con-trair casamento, estabeleceram entre si uma co-muhSo da v ida. . . como cardcter de ser iedade. . .pr6pria da famfl ia, sendo como tal havida pelasociedade."

Em vez de dar uma definigSo general izada dosignif icado jurfdico da uniSo de facto, o Projectodel inea os contextos concretos em que a uniSopode ser invocada.

l) Para impedir a celebragSo dum casamento.(Art igos 27, 28 e 29).

2) Para fundamentar uma separaqSo, a part i lhade bens, regulamentagdo do poder paternal ea l imentos, num caso de d issoluqSo de uniSo defacto.

3) Para proteger direitos face a um terceiro,por exemplo, 6 possfvel normalmente, ap6s amorte do outro membro da unido, invocar a exis-t6ncia de uma uniSo de facto que durou durantepelo menos trds anos para obter um abono defamf l i a ,

As diferenQas entre o casamento registado e aunido de facto.

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1) O casamento registado 6 provado pela cer-t idSo emit ida pelo Registo, enquanto a exist6n-cia de uma uniSo de facto deve ser provadaatrav6s de prova testemunhal sobre os elemen-tos definidos no Projecto.

2) Um casamento registado tem os seus efei-tos juridicos independentemente de ser invoca-do por um ou outro cOnjuge, enquanto uma uniSode facto normalmente s6 tem signif icado jurfdi-co quando for invocada.

3) Um membro de um casamento registadoque pretende registar um outro casamento semser previamente divociado, comete o crime debigamia; ndo 6 cr ime casar-se of ic ia lmente quan-do ja se 6 membro de uma uniSo de facto.

4) Internacionalmente, um casamento regista-do tem em geral mais consideraqSo do que umauniSo de facto.

5) Um casamento registado s6 pode ser teg-minado por morte ou por divorcio decretado porum Tribunal competente; uma uniSo de factotamb6m 6 terminada por morte ou por uma deci-s6o por um Tr ibunal , mas adic ionalmente cessaautomiit icamente de ter efeitos jurldicos depoisde um ano de separagSo. (ar t igo 31) .

6) Um div6rcio s6 pode ser decretado por umTribunal Popular do nfvel do Distr i to ou superior.Deve ser ou por mrituo consentimento ou litigio-so, obedecendo a cri t6rios definidos pelo Pro-jecto. Uma uniSo de facto pode ser dissolvida porum Tribunal Popular de base, apl icando cri t6riosde bom senso e os princfpios guiadores de cons-trugSo do social ismo. Na real idade, as diferen-qas s6o mais de ordem processual do que subs-tantivas, porque em l inhas gerais, os TribunaisPopulares de base consideram que 6 de bomsenso dissolver uma uniSo de facto quandoambos os membros o queiram ou quando sejaprovada uma violaqSo grave dos principios quereger uma uni5o. N6o 6 por acaso que os princi-pios sdo substancialmente iguais em todos osnlveis - quando o Projecto foi elaborado, jaexist ia a experiEncia dos Tribunais da base quefoi consol idada e codif icada no Projecto.

COMENTARIO:

Hd iuristas que alegam que reconhecer a unidode facto 6 dar-lhe uma grande parte das atribui-gdes de um casamento registado desprestigian-do-se assim o casamento oficial e desencora-jando-se o afluxo ao registo. Esta ideia 6 errada.

Estudos feitos sobre o registo e a n1o registode casamenfos (v9ia Justiga Popular n.o B-9) pro-vam que o decrdscimo progressivo no n0merode casamentos registados nos rtlilmos anos ndotem nada a ver com o reconhecimento da unidode facto. Pelo contrdrio d essencialmente atra-vds desf e reconhecimento gue os tribunais popu-lares regularmente conseguem atribuir as res-ponsabilidades de um casamento registado aoscasais que, atravds de uma fuga ao registo asvezes querem ignorar os seus deveres familia-

res. Quer dizer, habitua actualmente a populagdoe ess€ncia de um casamento oficial' para queuma nova geragdo pudesse mais facilmenteaceit6-lo formal mente.

Ndo reconhecer a unido de facto seria privaros tribunais populares de uma grande parte dastJa competdncia, e transf ormar o sisfem a juri-dico num de Justiga Anti-popular.

- '

D.iSriamente, os Tribunais populares de Bairroe de Localidade utilizam - mesmo sem empre-gar essa terminologia - a unido de facto comoo mecanismo .pa.ra .fazer Justiga para aquelesque a comunidade local considera casados.

O problema central ndo 6 de diminuir a impor-tincia de unido de facto para depois ficar comuma lei chamada coerente e progressista masque na realidade estd totalmente itheia da cultu-ra, valores- e prdticas da sociedade a que deveser aplicqd?.O problema central 6 de ponderar,d luz do debate e das conclusles da Co'nferinciaExtraordindria da OMM, e tomando em contatoda a experi1ncia juridica ganha nos Altimosanos, cgmo 6 possivel enriquecer o texto do pro_jecto da Lei da Familia, e. mais concretamente,cgyo.6 possivel dar um peso adequado d tena-cidade evidente da cultur-a tradicio'nal e popularno seio da familia. E um problema t1cnicd-poli-co-cultural: como, sem abandonar o principiofundamental de unidade nacional, mosirar maissensibilidade iuridica para com o notdvel diver-sidade cultural do pais.

Aqui, para um arranque ao debate, vale a penaressuscitar duas ideias que hd uns anos atrdstinham uma certa vig1ncia, mas que desde enteo,foi esquecida, face ao entusiasmo (que o autordesta nota compartilhou) em avanQar com umajustiga que dC so/ug6es exactamente iguais asituagdes iguais do Rovuma ao Maputo. A pri-meira ideia seria em vez de arrumar todos-oscasamentos tradicionais e populares sob a rubri-ca seca e de pouca dignidade *unido de facto,,dar-lhes mais prestigio atravds do termo "unidoconjugal" o! "uni6o matrimonial". Assim, a figu-ra juridica da unido de facto conservar-se-ia paraa situagdo que internacional e popularmente 6considerada como uniSo de facto, nomeadamen-te, a em que homem e mulher vivem iuntos numarelaqdo de coabitagSo estdvel, mas sem ter se-guldo nenhuma formalidade oficial, nem tradi-cional. Assim, ficariam trls categorias do reco-nhecimento legal: (l) Casamento registado pro-vado pela certidSo; (ll) UniSo conjugal, provadapela celebragdo dos ritos popularmente aceites,quer tradicionais, quer religiosos; e (ll l) UniSode facto, provada atravds de testemunho defactos que satisfazem uma difinigSo semelhanteit que exisfe no actual Projecto da Lei da Familia.

Esfa classificagdo ndo trard grandes altera-g6es juridicas de ordem substantiva, no sentidodo reconhecimento das normas substantivasdos casa mentos tradicionais ou religiosas. Masdo ponto de vista politico e cultural, exibird umaatitude menos brusca e paternalista do que a daexpressSo "unido de facto".

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[!EffiE!E$ ffifimffiffi0:A !.EI EM VIGOR DATA

Baseado nas fornadas f uridicas n.o 2 rcalizadas em Maio de l9S5 em Maputo,o prinmeiro l ivro moganrbicanc sobre Direito Marit imo e Com6rcio I nternacionalestS a ser editado pelo ESICIL (sigla editorial do Departamento de InvestigagSo eLegislagSo do Minist6rio da fust iga).; \ legislaQio mogambicana no tocante ao direito

nrari t inro, cl :r ta enr grancle partc da dpoca das cara-vclas, c clcvc ser urgentcLncntc renovacla. Estaafirniaciro foi fci ta por uln dos intcrvenientes moqam-biczrnos durante as Jornzrdas Jur i , l i cas n .o z , sobre otema: Dircito l \{ari t imo c Direito clo Comdrcio Inter-nacional, quc t iverrrrn iu'gar nas instalag6es da Es-cola Narit ica durante uma semana no mds de Maioc le r935.

{)r ientadas pelo Professor John Wilson e Dr.Charlcs Dcbatista, do Inst i tuto clo Direito Marit imocia Universidade de Southampton, as Jornadas con-taram com a part icipaqiro dc mais de setenta juristas,

cconomistas e outros especial istas cle transportenrari t imo, el i l sess6es cl i i t r ias de 5 horas.

Com legislaqiro t ; io ultrapassada e cheia das la-cunas, corno C possivel imp6r que a lei apl icdvel numcontrato de transporte marit i rno seja a lei mogam-bicana?

Se os protocolos cia Convengiro de Bruxelas sobrercsponsabi l idade no que d\z respei ts ^ t ranspor teinari t inro, cm grandc rnedida favorecem o carregador

cl:t5 nrercadorias, mai5 do que o seu transportador,seria do intercsse da RPIVI ratificar essa Convengdo,ao mesmo tempo que cria a sua prdpria frota mari-t in ra?

Como d possivel sair desta situagdo, erl que alegislagdo exige qug todos os l i t igJios entre empresasestatais sejam resolvidos somente por arbitrag'em,quanclo os mecanismos r, le arbitragem ndo existem,o que resulta na canalizaqd.o de todos os problemasirs Companhias de seguro e no pagamento de avul-toclas somas em divisas na forma de prdmios, semqr-re ningu€m seja responsabil izado?

Iistas e outras questdes foram levantadas e deba-t idas neste Semind.r io.

As sess6es de trabalho trataram essencialmenteda relagSo, no contrato de transporte, entre o car-regador e o, transportador, por um lado, e no con-trato de compra e venda, entre o vendedor e o com-prador, por outro, sal ientando-se a importAncia dadocumentaqdo e do papel do5 bancos como fornece-dores dos crdditos.

Professor fohn Wilson e Dr. Charles Debattista do Institute of Maritime!-aw, Universidade de Southampton, enl Maputo para orientar fornadas lrr

furidicas n.o 2.

Por outro lado, seria Aill adequar mais a teoriait realidade. Na prdtica, ndo ha so/ugdes iguaispara situagles iguais em todo o pais.

O bom senso temperado pelo sentimento localaplicado pelos Tribunais Populares da base n1o6 sempre igual aos termos da legislag6o aplica-da pelos Tribunais superiores. Tambdm, hi| gran-des variag6es no mesmo escalSo judiciSrio sobrea aplicaQdo concreta da lei.

Ndo sdo somente factores culturais e da tra-diESo que tem a sua influ1ncia, mas considera-g6es de ordem sociologica, por exemplo, a au's1ncia dos maridos emigrantes, ou o impacto daseca ou guerra. Trata-se de uma distingdo entreprincipios e normas que seo essencialmenteid1nticos para todo o pais, e a apliqageo cancre'ta daqueles principios e normas a situaglesconcretas, que varia muito de zona para zona.Por exemplo, o principio de partilha equitativade bens 6 seguido em linhas gerais em todo opais, e ndo depende do facto de os cOniugesserem casados atrav{s do lobolo ou dos ritosmuQulmanos, ou do facto de serem pessoasricas da cidade ou pabres do campo (ou viceversa). Mas a decisdo concreta sobre a proprie-

B

dade da casa serd influenciada por factoresculturais fse o tribunal funciona numa zonaessencialmente patrilinear ou matrilinear) e tam-bem por factores sociolSgicos fse a casa 6 feitapor chapas de zinco que podem ser fisicamentecompartilhadas, como nos subrtrbios de Maputo,ou se 6 mais s6lida e permanente, como noss.uburbios populares de Pemba). lgualmente, adecisdo sobre a atribuigdo do poder paternal ser6sempre orientada pelo principio de melhor pro-tegey os. interesses das criangas, mas, a opinido{ocal sobre o que 6 melhor para as criangas serdinevitdvelmente influenciada por factores da tra-digdo, bem como factores socio-econdmicos. Oque seria iusto numa cooperativa em que mulhe-res divorciadas recebem muito apoio social eonde hd escola, neo seria necessariamente ade-quado numa zona de familtas dispersas, em queuma mulher ter6 grandes dificuldades de viversozinha com os seus filhos.

Em resumo: preeoniza-se estrutura iuridicaunitdria, principios uniformes, e aplicagdo flexi-vel.

ALBIE S,4 C}TS

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EPOCA DAS CARAVELASi t

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A nova lei do traba-lho n6o revoga auto-maticamente a Lei4lr98oe a outrale-gislagdo . Iaboral ante-rior, mas estabelece aestrutura jurfdica pa-ra uma nova regula-mentaqio rApida econcreta nesta 6rea

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A NOVA LEI DO TRABALHOALGUNS ASPECTOS PRINCIPAIS

A legislagdo do trabalho anterior b Independ€n-cia Nacional e as reformas empreendldas a part irdos anos 60 assentaram numa base essencial-mente capitalista das relag6es de produgSo.

Era ao capital que competia por forga do siste-ma ndo s6 a fungSo de impulsionar a exploragdodos recursos humanos e materiais e de regularos interesses em jogo, mas tambdm a de deter-minar os destinatdrios do produto do suor esangue da forga de trabalho mogambicana.

Por outro lado, o peso da administragSo colo-nial e do capital internacional contr ibuiu parao esmagamento do nascimento e evolugSo deuma esclarecida classe operdria em Moqambl'que.

A luta secular e contempordnea de resistdnciaao invasor, o car6cter revoluciondrio de guerrade l ibertagdo nacional, as greves e outras formasde luta empreendidas pelos trabalhadores mo-qambicanos e severamente reprimidas imprlmi-ram uma nova ordem poli t ica e social no domfnioda legislaqSo laboral.

No passado, desempenharam tamb6m um pa-pel importante e opiniSo publica internacional eas denfncias feitas por forgas progressistas nosforos internacionais, mormente na OlT, contra osdesmandos e prdticas retr6gradas dos patr6escoloniais em Mogambique.

S5o testemunho dessa batalha diplomdtica edas vit6rias da luta interna dos trabalhadores mo-gambicanos as reformas introduzidas na legisla-g5o laboral em a publicagSo do Codigo do Traba-lho Rural, dos Diplomas Legislat ivos 1585, 1706e 2086, entre outros, promulgados pela admlnis-tragSo colonlal.

Se algo de novo e posltivo trouxeram estesdiplomas em relagSo, por exemplo ao C6digo doTrabalho Indigena e outros regulamentos an6lo-gos, qualquer um destes textos legais na prdtica,caracterizavam-se por serem discriminat6rios e,consequentemente ndo serviram os interesseslegftimos e aspirag6es dos trabalhadores moqam-bicanos que sempre pugnaram por condig6es detrabalho humanas e condignas, de just iga e igual-dade socia l .

Da prdtica revoluciondria e do envolvimentodos trabalhadores enquadrados pelas estruturassindicais na direcgSo e gestSo da economia, comvista b criagdo e consolidaqSo de relag6es labo-rais de tipo novo, recolherem-se e sitematiza-rar-se experidncias que sdo a base fundamental

da nova Lel do Trabalho, aprovada pela Assem-ble ia Popular .

O objectivo principal da Lei do Trabalho 6, nocontexto geral do esforgo pela reconstruqSo na-cional, introduzir na nova sociedade, normasreguladoras das relag6es de trabalho e da situa-g5o jurfdica dos trabalhadores e entidades em-pregadoras, normas essas que terSo de ajustar-seis condiq6es concretas do pais.

A justeza e a viabi l idade prdtica das normascontidas na Lei e a sua adequaqSo b actual fasede desenvolvimento do pa[s, assegurarSo a mate-r ial izagSo dos principios e normas sobre os direi-tos e deveres fundamentais dos trabalhadores egarantirSo a discipl ina no trabalho, condigSo ne-cessdria para o aumento da produqSo e da pro-dutividade.

A Lei do Trabalho contdm 175 artigos ordena-dos em 18 capftulos, regulando sobre:- O direlto ao trabalho que assiste a todo ocidadSo mogambicano, sem dist ingSo de qual-quer ordem;- A relagSo juridico-laboral, estabelecendo asformas de constituiqSo, os requisitos para a suamodif icaqSo, as causas da suspensSo e cessasSo,com indicaqSo expressa das regras a seremobservadas, em atenqSo h necessidade de acau-telar eficazmente os legftimos interesses daspartes;- Acordos colectivos de trabalho a estabelecerentre os sindicataos frepresentando os trabalha-dores) e os empregadores;- Recursos laborais, indicando os principios onormas gerais relativos i polftica de emprego egestSo da forga de trabalho;- Direitos e deveres gerais dos trabalhadores,estabelecendo por um lado os princfpios e nor-mas de protecqSo dos trabalhadores no que con-cerne a defesa, respeito e Inviolabi l idade dasconquistas alcangadas contra todas as formas deinjustigas e arbitrariedades susceptfveis de severificar nos centros de trabalho. O direito departicipagSo de todos os trabalhadores na vidado centro de trabalho 6 uma inovagSo desta Lei,o direito a f6rias 6 regulado com um regimepr6prio. Os deveres gerais dos trabalhadorestraduzem-se na obrigagSo de respeitar a legali-dadc laboral como condigdo necessdria paragarantir o cumprimento do dever social do traba-lhador e dos principios 6ticos da convivdncia nocentro de trabalho;

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- A organizaqSo do trabalho, estabelecendo asnormas minimas relat ivas bs atr ibuig6es das en-t idades empregadoras para dir igir e regulamentaro trabalho, atrav6s dos regulamentos internosque cada centro de trabalho deve poss.uir, nor'mas sobre a duragSo do trabalho e do descansoe a organlzagSo cientff ica de trabalho;

- A remuneraqdo do trabalho, conteplando osprincipios fundamentais por que se deve regero sistema salarial a vigorar no pafs;- A discipl ina no trabalho e a responsabil idadepor danos, com o objectivo principal de fornecera quem haja de exercer o poder discipl inar, (comcar6cter meramente indicativo) a tipificagSo dosfactos punfveis respectivas medidas discipl ina-res, o regime de faltas e l icengas e o contefdoda responsabil idade material;

.-- [ formaqdo profissional apresentando umconjunto de princfpios e normas qu€ regem asacq6es de formagSo e capacitaqSo dos trabalha'dores para o exercfcio de uma profissSo, desta'cando-se o papel dir igente do Estado com basenos planos de desenvolvimento economico esocial superiormente aprovados, as entidadesempregadoras e as inst i tuigdes especial izadass5o responsdveis pela formaqSo dos trabalhado-res;- Aval iagSo profissional dos trabalhadores,neste quadro a Lei apresenta o conceito, osobjectivos e as formas'de aval iaqdo e regula osdspectos principais das comiss6es de aval iag6o,bem comoo os procedimentos a adoptar porestas e as garantias dos trabalhadores submeti 'dos irs provas de avaliagho;- A higie,ne e protecgdo do trabalho 6 mat6riaque a Lei regula apresentando os princfpios enormas gerais orientadas d protecqSo da integri-dade f isica e mental dos trabalhadores, desta'cando as que se referem a prevenqSo dos riscosprofissionais e responsabil izando as entidadesempregadoras;

- SeguranQa Social, remetem-se para um siste-ma pr6prio que se coaduna com as possibi l ida-des e'con6micas e f inanceiras do pafs. E que aseguranga social 6 mat6ria de grande complexi-,dade necessitando por isso de estudos maisaprofundados, daf que muitos aspectos inerentesao sistema foram remetidos para diploma espe-c i f ico;

- Condig6es part iculares de trabalho, consti-tuem mat6ria de regulamentagSo nesta parte daLei, dbs grupos mais vulnerdveis no.domfnio daactividade proof issional e, por isso estabele-cem-se normas de protecqSo especial para otrabalho das mulheres, dos menores e dosdeficientes;

- O direito de associagSo, consagrado na cons-t i tuigSo 6 retomado pela Lei do trabalho por sereconhecer o importante papel dos sindicatos noprocesso de reconstruqdo nacional, atrav6s dasua paricipagdo na execuqSo e controle dos pla-

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nos de desenvolvimento e na procura da satisfa-g5o das necessidades bdsicas dos trabalhadores;- O controle da legal idade laboral 6 fungdo quea Lei atribui aos servigos de InspecgSo do Traba-lho, cooperando com os sindicatos, sendo aresolugSo dos confl i tos laborais cometida aos6rg5os de Justiga no Trabalho;- Condiq6es sociais e culturais dos trabalhado-res, a Lei obriga as entidades empregadoras, namedida das possibi l idades materiais e f inancei-ras dos respectivos centros de trabalho, a cria-rem e melhorarem a situaqSo social e culturaldos trabalhadores, atravds de estimulos moraise infraestruturadas proprias.

A luz dos principios consti tucionais que regema nossa sociedade e em obediOncia is direct ivasecon6micas e sociais superiormente ditadas, aLei do Trabalho, como se poderd constatar pelaleitura do texto legal (confrontando com a legis-lag6o anterior), cont6m aspectos novos, que sepretende venham a melhorar a condigSo sociale econ6mica dos trabalhadores mogambicanos;estes como agentes principais do projecto deReconstrugSo Nacional em beneficio da socieda-de moqambicana.

Sem pretensSo de esgotar as inovagdes intro-duzidas na legislaqSo do trabalho, apresenta-seuma indicaqSo do que a Lei do Trabalho traz denovo:- Nenhum condic ional ismo de ordem pol i t ica ousocial pode ser invocado como impedimento parao exercicio do direito ao trabalho;- A dignif icagdo e protecgso do trabalho comodever e direito dos cidadSos, constituindo o tra-balho, cr i t6r io para a distr ibuigSo da r iquezanac iona l ;- ProtecgSo especial da mulher trabalhadora domenor e a possibi l idade de as pessoas deficien-tes exercerem uma profissdo no interesse dasociedade e da sua real izagdo pessoal;- A plena liberdade do exercfcio da actividadesindical no quadro da legal idade vigente e dosestatutos sindicais;- O direito de part icipaqSo dos trabalhadoresna gest6o, direcgso da economia e na vida docentro de trabalho, bem como no controle dalegal idade labora l ;

A formagSo profissional e a distr ibuiqSo euti l izagSo dos recursos laborais baseiam-se nosobjectivos dos planos de desenvolvimento, pelaeficiOncia economica e social do trabalho, pelavalorizagSo do trabalhador nacional, no quadro deuma politica de emprego que sirva a Reconstru-q6o Nacional e a independdncia economica doPafs.

Maputo, 12 de Abr i l de 1986.

NOEMIA FRANCISCO

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o DTRETTO DE DEFESA (r r)

Esta 6 a segunda parte de um estudo feito porLucinda Martins da Cruz, sobre o Direito da Defesa.

Na r.' parts do artigo, publicado no BoletimuJustiga Popular> n.o ro, foram explanados o prin-clpio constante do art igo 35.o da Consti tuiqSo daRPM bem como o disposto no art igo 4.o da Lei rc f 79,a lei da OrganizagSo Judicidria. Foram referidosaspecto5 gerai5 do Direito de Defesa e seu signifi-cado, e algun5 dos udireitos do arguidou.

2.2. Os Direitos do arguido

- O arguido n6o 6 obrigado a prestar quaisquerdeclaraE6es sobrg o5 factos que lhe s5o impu-tados, devendo disso ser advert ido pelo inter-rogador - ar t igo zS4.o,3 .o do C.P.P.Mais importante ainda, antes do interrogatdriosobre a matdria de facto, 6r interrogador deveexp6r ao arguido os factos de 9ue 6 acusadoe as provas em que se baseia - art igo 254.o,z .o , do C . P . P .

- Se o arguido neo responde, ndo comete o crimede desobedidncia e se mentir tambdm n5o in-corre no crime de falsas declarag6es.

- (as perguntas nao seras sugestivas n€m fac-ciosas, nem acompanhada5 de dolosas persua-s6es, falsas promessas ou ameagas)) determinao a r t . o z6 r do C .P .P .

_- (nas perguntas feitas sobre circunstAncias maisparticulares e factos mais remotos, dar-se-d aoarguido o tempo conveniente para se recordardos factos com exactidAor estabelece o art.o 255in fine;

- aos interrogatdrios de arguido preso deverdestar sempre presente um defensor - art.o 253d o C . P . P .De notar que s6 na hipdtese de arguido preso6 exigida a presenga de defensor ao interroga-t6rio. Para os casos de arguidos ndo presosprev8 o ar t .o z6S $ z .o do C.P.P. <Tanto noprimeiro interrogatdrio como nos ulteriores oarguido poderd fazer-se assistir de advogado,,.Devemos dizer que nd.o compreendemos nenlconsideramos justificdvel a distinqdo feitS pelalei para arguidos presos e n6o presos; se a leiexige para os arguidos presos a presenqa deum defensor, mesmo se o arguido o n6o sol ici-tar l ivremente, 6 nossa opinido que a mesmaregra devia valer para os arguidos n5.o presos.Os argumentos que nos levam a just i f icar e aconcordar com a exig€ncia da lei s6o, quantoa nds, inteiramente vdlidos para o caso de ar-guido n6o preso.

b) Direito de presenga

O udireito cle presenga, tambdm denontinadoudireito de compar6ncia,, exprime o direito doargu ido 'em estar presente a todos os 'actosprocessuais que digam respeito,' ao seu casocr imina l .Corn este direito (quer-se dar ao arguido amais ampla possibilidade de tomar posig6.o, atodo o momento, sobre o material que possa serfeito valer processuahnente contra si, ao mesmotempo que garantir-lhe uma relagdo de imedia-q6o com o juiz.e corn as provas" { ') . Como 6evidente este direito 6 tarnbdm essencial. paraum correcto exercicio da defesa.No C.P.P. este udireito de presenqau vem mui-tas vezes imposto como um dever. A sua previ-sdo legal vem estabelecida, principalmen'te, nosar t .o zz e 4r8 do C.P.P

J.A. Barreiros dist ingue duas formas de mani-fcstagAo do direito de presenga:

- (presenga fisica num determinado acto prooes-sual , , ;

- t<presenQa cognoscente, ou seja, como fonte depercepgAo de informaE6es de consulta de docu-mentos,. de peg4s processuais, etc., ( 'o).Mas o udireito de pr€S€nQar sofre fortes ex-cepq6es que segundo a nossa rnaneira de verlimitam extraordinAriamente o exerclcio destedircito e portanto do direito de defesa por partedo argu ido.Trata-se em primeiro lugar das dilig6ncias efec-tuadas durante a instrugdo preparat6ria, Estad secreta devendo uos magistrados que dir i jama instrugS.o e os funciondrios que nela parti-cipem guardar segredo de just igavv -,_41f.o 7eclo C.P.P. e tambdm art.o r3 do Dec.-Lein.o '15oo7

O $ r.o do art.o lo refere: (no decurso da ins-trugdo preparatdria, o prooesso poderd ser mos-trado ao assistente e ao arguido ou' aos res-pectivos advogados quando ndo houver inconve-niente para a descoberta da verdader, ; estd.assim o direito de presenqa do arguido limitadopelo poder diviciondrio da entidade que dir igea instrugAo preparat6ria.A este propdsito por ser oportuna e pertinentee por com ela concordarmos, transcrevemos acri t ica feita pelo Prof. F. Dias. <Esta solugdoconlpreencle-se - e aceita-se mesmo, sendo elacomum A general idade das legislagdes-se todaa prova recolhida na instrugAo preparatdriat iver de ser autonomamente apresentada e rep€-t ida em julgamento, onde se confere aosarguidos pleno direito de presenqa, de contra-

l l

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cliqAo e de audi€ncia. Existindo pordm a possi-

bilidade de a prova recolhida na instrugSo

preparat6ria ficar a constar dos autos e ser

valorada em julgamento independentemente da

sua nova produgdo - v.g. valorando-se certas

clilig6ncias feitas na instruqSo por um s6 pollcia,

que n6o comparece no julgamento para al ser

interrogado como testemunha ! - aquela limi-

tag6o <lo direito de presenqa torna-se insupor-

tzivel... Simplesmente o defeito n6o estard tanto

na lirnitagio deste direito de presenqa quanto

no valor processual directamente conferido a

provas recolhidas na instrugdo preparatdria

e ndo renovadas autonomamente em julga-

mento, r ( t ' ) .

Cutra limitaqSo do mesmo tipo est{ expressa

^r' art.o zo3 do C.P.P. que regulamenta a

lorma como serSo real izadas as buscas: a$ 2...

O r6u serd sempre presente A busca, quando o

entender que 6 necessdrio, ou se estiver preso

na sede da comarca, podendo f.azer'se assistir

por defensor I fora disso poder{ assistir ou

fazer-se representar pelo seu defensor, se tiver

sido admit ido a intervir no processo e o juiz

entender que a sua assist€ncia ou do represen-

tante nao 6 prejudicial I descoberta da verdade.

Mesmo na instrugSo contraditdria hd limita-

gCres ao direito de presenqa. Vejamos por

exemplo o ar t .o 33o do C.P.P. , . . .Aos actos

de instruqSo contraditdria poderdo assist ir o

agente do Minist€rio Piblico, o arguido, o seu

defensor, e o advogado dos assistentes. $ r.o

O juiz pode denegar a faculdade a que se refere

este artigo na medida em que a considere im-

compatlvel com 6xito ou a finalidade das dili-

gdnc ias u .\{ais uma vez cstd o direito de presenga con-dicionado ao entender arbitr{rio seja da enti-dade que dirige a instrugSo preparatdria sejado j u i z .

Como podemos notar estas disposiE6es leg'aissAo tambdm vdlidas para regular o direito depresenga do defensor aos actos processuais.As observagdes aqui feitas s6.o assim tambCmrelevantes para uma andlise do direito de pre-senga do defensor; caso mais grave ainda, poiscolocanrlo na maior das vezes o direito depresenga do arguido e do seu defensor no mesmopd d. igualdade, a lei retira efectivamente qual-quer possibilidade de defesa ao arguido.Numa revis6.o legal desta matdria terd que serestudada a hipdtese de ao ser l imitado o direitocle presenga ao arguido, se tal for consideradoabsolutamente necessdrio, o mesmo.seja ent6odado em pleno ao defensor e em ambas asformas: o direito de presenga flsica e o direitode tomar conhecimento oportuno de todas asdiligdncias e actos processuais realizados. Umaoutra hip6tese serd a solugdo preconizada peloProf. F. Dias, a da prova recolhida na instru-gao preparatdria ter de ser autonomamenterenovada em julgamento.

c ) Direito de interposigdo de recursos

Este direito tem a sua base legal no art.o 647n . o 2 d o C . P . P .O arguido tem direito de recorrer de todas asdecis6es contra ele proferidas; ele nio tem odireito de recorrer udas decis6es que lhe sejamfavordveis)) - $ 3." do art.o 647, o que 6 al idscompreenslvel.No entanto e mais uma vez hd. duas excepg6esa este direito geral, previstas no $ 4.o do mesmoartigo: (o rdu nd.o pode recorrer da prontncia,sem estar preso ou caucionado, nem do des-pacho que julgar quebrada a caug6o, sem terdado entrada na cadeiar.N6o entendemos o porqud da primeira exoepgioe quanto a nds a mesma ndo se justifica.

d) Direito I assist€ncia de defensor

Nao iremos tratar aqui da problemC,tica daposigao jurldica do defensor. Este assunto 6suficientemente importante, complexo e extensopara ser objecto de um estudo autdnomo.Iremos abordar tio somente as quest6es que secolocam em face das disposig6es legais queregulam a participagio do defensor em pro-cesso penal enquanto elemento que deve auxi-liar o arguido a exercer o seu direito de defesa.Atravds do udireito A assistSncia do defensorupretende-se, por exceldncia, garantir ao ar-guido um eficaz exercicio do gendrico e abs-tr:rcto

"direito de defesa,,.A razl,o de ser deste direito assenta, em nossaopini6o, em tr€s motivos fundamentais:

- Um cidadSo ao ser acusado da prdtica de umcrime passa a estar, normalmente, sob umaforte tensSo nervosa e psicol6gica que o impos-sibilitar{ de ajuizar e valorizar correctamente asua situagdo e de preparar a sua prdpria defesa.E a experi6ncia demonstra que isto se passa,na g'eneralidade dos casos, com qualquer cida-d6o, culpado ou inocente.

- O Direito 6 retirado das condig6es econdmicase sociais existentes numa dada sociedade; ele6 a manifestagSo de poder da classe dominantenessa sociedade. No entanto, na sua aplicagdoconcreta, ele 6 uma t€cnica I tCcnica essa quecomo qualquer outra, e muito particularmentenos chamados crimes graves, necessita de es-pecialistas que a saibam, a dominem e apossam manusear. Assim, um cidaddo comumsabe que n6o pode matar, roubar, etc. l masn6o terd conhecimentos exactos de como sepoderd defender do crime que lhe 6 imputado,qual a sua responsabilidade, os seus direitos ecleveres como cidaddo e como arguido.Atravds deste direito permite-se ao arguidoque ele seja em todo o processo acompanhadoexactamente por um especialista, que tendocomo rinica fungdo a de velar pelos interessesde defesa do arguido, o aconselhe a como pro-ceder e o que dizer; que verifique com conhe-cimento da matdria se a lei estd a ser cumprida,se os direitos do individuo como cidaddo ecomo arguido est6o a ser cumpridos e obser-vados rigorosamente.

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- Vdrios casos hd ern que o arguido tem que

aguardar sob prisS.o o dia do seu julgamento.

Neste caso ele ndo dispord de liberdade de mo-vimentos necessdrios para proceder, mesmoque o saiba, As dilig0ncias dteis A sua defesa.O ndireito I assistOncia de um defensor> estdconsignado no art.o 49 do Dec. - Lei n.o 35oo7e no Dec. - Lei n.o 4lZS, no seu art igo 18.Art.o 49: uO arguido pode constituir advogadoem qualquer altura do processo. E obrigatdriaa nomeagSo de defensor oficioso, se ainda n5ohouver advogado constituldo no despacho depronincia provisdria em prooesso de querela.Nos processos correccionais e de pollcia deveser nomeado para julgamento. Nos processos

de transgress6es e sumdrios o juiz sd 6 obrigadoa nomear defensor se o arguido o pedir ou sehouver lugar A aplicagdo de medidas de segu-ranqa)).Art.o 18: uO arguido pode sol ici tar ao juiz emqualquer altura e em todas as formas de pro-

cesso - crime a nomeagd,o de um defensor ofi-ciosor.Outros artigos hd que se referem a este assunto.Ass im, e como jd v imos, o ar t .o 253 do C.P.P.estipula que aos interrogatdrios de arguidopreso deverd sempre assistir o defensor.O art.o tz7 do C.P.P. obriga tamb6m A ime-diata nomeagSo de defensor no caso do examemddico - forense constatar (... a falta de inte-gridade mental do arguido de que resulte irres-

ponsabilidade ou ddvidas sobre a sua respon-sabil idade".Tambdm o art.o 416 do mesmo Cddigo disp6eque ((o rdu serd assistido - na audi8ncia dejulgamento - N.A. - por um defensor por eleconsti tuldo ou nomeado pelo juiz.. .n.

Notemos de imediato:

-- casos hd em que a lei obriga a participaqdo dodefensor do arguido I noutros casos a partici-paqSo do defensor serd facultativa e a pedidodo rdu/arguido.

* e s1f.o 98 n.o 4 do C.P.P. determina que a faltade nomeagdo de defensor ao rdu quando neces-sd.ria constitui uma nulidade do processo penal.

A reforgar esta ideia temos ainda o art.o 268tambdm do C.P.P.: <d nulo o interrogatdrioefectuado com violagdo do disposto no art.o 253

ou qualquer interrogat6rio sem a assist8ncia

do defensor, quando obrigatdrio ou se o advo-gado foi indevidamente impedido de assist ir ,quando facultat ivar.Analisando estes aspectos verificamos que a lei

distinguiu dois tipos diferentes de situhgao:uma, em que considera que a importAncia do

acto processual d tal que 6 necessdria a presenga

do defensor para salvaguardar os interesses do

arguido; d o caso fundamentalmente do inter-rogatdrio de arguido preso e da audiSncia dejulgamento. Outra situagdo, em que a lei deixa

ao critdrio do arguido a constituigdo de umdefensor.

nNesta restrigSo de hip6teses de obrigatorie-dade da defesa ter-se-d a lei deixado motivarpela ideia de que nem sempre o material pro-

cessual, de facto e de direito, d t6.o complexo,nern a personalidade do delinquente t6o dificilde avaliar, que imponham incondicionalmentea intervengdo de defensorl nestes casos poderd

bastar a actuagdo do juiz e do Ministdrio Ptl-blico, corl os seus deveres de objectividade e

imparcialidade, para atrav6s dela ficar assegu-rada a sempre indispensdvel protecgdo ao ar-g u i d o u ( " ) .Analisemos ag'ora alguns dos problemas que s€

colocam devido A vig6ncia simult6nea de dife-

rentes tipos de diplomas-legais no nosso Pals.O Dec. - Lei n: 4lZS de 16 de Agosto no seuart igo 3.o, o.o r disp6e: <56o revogadas todasas disposig6es legais que exigem a constituigdocle mandatztrio judicial para a prdtica de qual-quer acto ou intervengdo em qualquer pro@sso.:. As partes podem praticar por si todos osactos que lhes digam respeito".Serd que esta disposigSo revog'a as disposig6esacima citadas que obrigam I participagd.o dedefensor em determinados casos? Tomemos oexemplo do interrogatdrio de arguido preso ouda audi€ncia de julgamento. Se o arguido our6u disser que ele pr6prio fard a sua defesa,serd que isso possibilita a ni.o nomeagAo dedefensor pelo juiz?

Pensamos que n6o. Consideramos 9u€, tendoem consideraqdo o art.o 35 da ConstituigS.o e osargumentos j{ antes referidos sobre o porqu8da necessidade de um defensor em processopenal, esta disposigdo sd 6 vdlida para todos oscasos de processo civil em que a lei colonialobrigava e constituigdo de advogado para aprdtica de actos processuais. Outro argumentoa favor da nossa opiniSo - se bem que o De-creto n6o seja explicito - 6 o de nos parecer,pela forma como o mesmo estd elaborado, quea parte deste diploma intitulada uDisposiq6esGeraisD se refere aos processos clveis, enquantoque a parte intitulada <Disposig6es especiais,se refere aos processos penais.No entanto esta posigdo levanta-nos outra ques-teo.O art igo 8.o n.o r, integrado que estd. nas nDis-posig6es Geraisl refere (o mandato para aprdtica de actos judiciais ndo pode ser onerosoe o cardcter gratuito deve constar do instru-mento de consti tuigSo do mandato>. Isto d, alei possibi l i ta As partes actuarem por si emjuizo, mas permite a constituig6o de mandatd-r ios judiciais desde que o mandato seja gratulto.O art.o 18, integrado nas uDisposig6es Espe-ciaisu, determina: (o arg'uido pode sol ici tar aojuiz em qualquer altura e em todas as formasde processo crime a nomeagSo de um defensoroficioso,,.Ora, pela lei processual penal em conjugagSocom o Estatuto Judicidrio a obtengSo de umtdcnico jurldico em processo penal pode serfeita atravds de dois processos: constituigdode advogado, escolhido pelo arguido e em que

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se celebrava unl mandato judicial e a nomeagio

cle urn defensor oficioso pelo juiz.

Pela fornra como as disposig6es est6o formu-

ladas e tendo ainda em atengSo que uma se

insere na Area destinada aos processos civeis

e a outra na A'rea respeitante aos processos

crime, deveremos daqui deduzir que nf,o C possl-

vel hoje, a celebragSo de um mandato judicial

para a defesa em processo - crime?A resposta a esta questio tem consequ8ncias

importantes.Assim o Estatuto Judicidrio refere no seu ar-

tigo 554, z a) que a defesa, no caso de advo-gado constituido sd pode ser assumida por advo-

gados; enquanto que se for defensor nomeadopelo tribunal a fun96o da defesa poderd ser

assumida por advogados e na falta destes porpessoa iddnea - vid6 tambdm artigo 22 $ 2

do C .P .P .

Julgamos que para responder a este problema

teremos que nos reportar mais ao espirito doDecreto do que A sua forma. Em nossa opiniSo

e tendo em ateng6o a intengdo primdria do De-

creto-Lei +lZS expressa no seu PreAmbulo,deveremos chegar As seguintes conclus6es:

- o princlpio fundamental 6 de que em processo

crime o arguido pode sempre ser assistido por

um defensorl- este defensor poderd ser nomeado pelo tribu-

nal, seja nos casos em que o arguido o requeira,seja nos casos em que a assist8ncia do defensord obrigatdria nos termos das disposig6es legaisdo C.P.P. jd mencionadas; este defensor po-

derd tambdm ser escolhido pelo arguido/rdu,sob mandato judicial gratuito celebrado entreo arguido f r6u e o defensor I

- tanto num caso como noutro o defensor deverdsempre que posslvel ser um jurist. (") ; sd emcasos excepcionais seja a constituig6o de defen-sor pelo arguido, seja a sua nomeagdo peloarguido, seja a sua nomeagdo pelo juiz, poderdrecair sdmente sobre (pessoa id6nea> - en-tenda-se (sem formagS.o jurldicar. Isto porquepelas raz6es j invocadas anteriormente, adefesa s6 serd de facto bem exercida, na maio-ria dos casos, quando o defensor for um tdcnicojurldico;

- e mais uma vez, frisamos, mant€m-se em vigortodas as disposig6es processuais penais queobrigam A assistOncia do defensor para deter-minados actos processuais.Seja qual for a interpretagdo correcta dos di-ferentes diplomas - legais que regulam estarnatCria e dada a sua importAncia, pensamosque a mesma carece urgentemente de uma re-gulamentagSo nova que clarifique todos estesaspectos.Vejamos agora algumas formas concretas daactividade do defensor.A tarefa mais importante do defensor 6 acon-selhar juridicamente o arguido, esclarec&losobre quais os seus direitos e deveres e zelarpara que ele os possa exercer.Na nossa lei processual penal nio estd tanto

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em causa que o defensor realize as investiga-g6es neoessdrias ao apuramento da verdade;isto porque o art.o rz do Dec.-Lei n.o 35oozrefere: u$ r. Na instrugdo preparatdria devemefectuar-se n6o sd as diligOncias conducentesa prova a culpalidade dos arguidos, mas tam-bdm aquelas gue possam concorrer para de-monstrar a sua inoc€ncia e irresponsabilidade".O defensor deve garantir que as dilig8nciasque possam ser dteis ao arguido sejam realiza-das pela Pollcia ou pelo Tribunal; para tal oartigo 13, 36 $ z, e o art.o 4o todos do Dec.-Lein.o 35oo7 dio ao arguido a faculdade de reque-rer dilig0ncias e apresentar provas que ovenham a beneficiar. Em tanto que conhecedorda tdcnica jurldica competirC. ao defensor de-tectar todas as diligtncias que devam ser feitase apresentar provas que sirvam os interessesda defesa.Infelizmente este direito tdo essencial previstono C.P.P. e legislagSo complementar d pelosmesmos diplomas bastante limitado ao poderdiscricciondrio do juiz ou da entidade que di-rige ou realiza a instrugdo preparatdria:Assim o mencionado art.o 13 prevS a$ 6nico:Os assistentes, assim como o arguido, podemapresentar ao Ministdrio Ptiblico memoriais ourequerimentos de dilig6ncias de prova, que estetomard. em consideragio ou deferird na medidacm que entenda que podem contribuir para adescoberta da verdade... r. Como vemos deixa-seao livre critdrio da Pollcia ou do MinistCrioPriblico a apreciag6o da relevAncia de uma di-ligdncia. N6o nos parece ser isto assim t6ocorrecto, na medida em que diligtncias hd quesd podem ser realizadas por tdcnicos da pollciae a sua nao realizagSo em tempo oportunopossibilitar{ o desaparecimento de uma provC,velimportante prova par^ a defesa.Outro aspecto muito importante para umaactividade correcta do defensor C o de estepoder comunicar oralmente e por escrito c-,omo arguido. Sd assim o defensor pode, por umlado, recolher informag6es do arguido que lhepermitam preparar uma defesa eficaz, e apre-sentar requerimentos para realizagdo de dili-gdncias fundamentais para assegurar os direitosdo arguido, e por outro lado aconselhar jurldi-camente o arguido acerca de qual deve ser os€u procedimento.Ora o que se verifica na legislagdo em vigor dQue esta coarcta quase que completamente estapossibil idade.Assim o art.o 3rr $ r do C.P.P. refere que (ospresos nd.o poder5o comunicar com pessoa al-g'uma antes do primeiro interrogatdrior'; masa lei vai ainda mais longe e acrescenta <o juiz,ou o agente do Ministdrio Pfblico na instrug6opreparatdria, poderd ordenar, em decis6o fun-damentada que o arguido continue incomuni-cdvel depois de interrogado desde que a inco-municabilidade n6o exceda 48 h>. $ z. Depoisde terminada a incomunicabilidade e enquantodurar a instrugSo preparatdria, o agents doMinistdrio Pfiblico pode proibir a comunicagio

(Continrn rc p&g. zz)

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I G0nrR0vERs[ lllsffiulcl0 B0GAlll (108010) ll0 BolstTllllUm estudo sobre o costume, o direito e o etnecismo e os seus efeitos na condi-

-cio da mulher do Botswana. (Primeira parte)

Pela Dr.' Athalia Molokome

A post1do da mitulher no dominio privado daf amilia

6 opiniSo geral que o modo como a famfl iaestd estruturada bem como as suas relaq6es comoutras inst i tuiq6es tais como a cultura, o direito,o sistema polft ico e a economia determinam emgrande medida o papel e a condiqSo da mulherUm denominador comum na organizaglo da famf-l ia na maioria das sociedades 6 a divisSo dotrabalho feita com base do sexo. A sociedadeTswana tradicional atribufa certas tarefas aoshomens e outras hs mulheres. As tarefas l igadasa esfera de actividade dom6stica, tais comoeducar crianqas, cozinhar e tratar da famil ia,consti tuiam monopdlio das mulheres, enquantoque aos homens competia a tomada de decis6esglobais e o desempenho de tarefas masculinastais como o pastoreio, a caga e a participaqSoem cerim6nias pribl icas. Embora parega ter havi-do uma sobreposiqSo no tocante ao cultivo dasterras, esta divisSo do trabalho baseada no sexoera rigorosamente observada e jamais um dossexos desempenhou as tarefas que competiamao outro. Esta divisSo do trabalho manteve-se deum modo geral at6 aos nossos dias e reflecte-senos sectores modernos da educagSo e emprego.Uma vez que a posig6o da mulher no direitoconsuetudindrlo tradicional e contempordneo 6muitas vezes determinada, este merecer6 umtratamento em separado.

a) A mulher soltelra

Na sociedade Tswana tradicional a mulher ndocasada fica b guarda de seu pai ou outro pro-tector do sexo masculino independentemente dasua idade. E o protector quem, em nome dela,deverd apresentar e responder a petig6es, pres-tar-lhe assist6ncia na realizagdo de actos juridi-cos compulsivos e, juntamente com outros pa-rentes, ajustar-lhe o casamento. Se ela f6r sedu-zida, o

'protector, ndo ela pr6pria, ter6 o direito

de processar o sedutor; a crianqa que nascerem consequ6ncia desse acto ficard sob o contro-le e ao cuidado do seu protector. Nos temposantigos, tanto os rapazes como as raparilas n6oescolhiam o companheiro de matrimdnio, contudoaparentemente, esta situagSo alterou-se bastante'cedo dando aos rapazes uma oportunidade deescolha. Aparentemente, a mulher solteira queultrapassava a idade pr6pria de casar adquiriaum grau considerdvel de independ6ncia e oprotector permitia mais privacidade e atri-buia-lhe alguns bens, autorizado pef o direitoconsuetudindrio tradicional. No tocante aos direl.tos it heranga, as filhas n5o podiam herdar os

bens rffrosGUliflosr tais como gado, carrogag,espingardas, etc. e ndo se quali f icavam comoherdeiras principais salvo quando o pai n6otivesse qualquer parente do sexo masculino. Oherdeiro principal era o f i lho mais velho dodefunto e existiam normas que asseguravam queo herdeiro fosse do sexo masculino quer pordescend6ncia dos pr6prios filhos do defunto co-mo de qualquer outro homem do grupo famil iar.A ratio destas normas residia na vontade deconservar a r iqueza do agregado famil iar no seupr6prio seio e, uma vez que as f i lhas se casavamno seio de outra famil ia [ou Jd eram casadas),essa r iqueza seria dispersada caso lhes fossepermit ido herdarem a parte maior da heranga.At6 certa medida esta situaQso foi melhoradapelos costumes "tshwaiso", segundo os quaisum pai, enquanto fosse vivo, poderia marcar asorelhas de determinados animais destinados aseus f i lhos ( inc lu indo f i lhas) os quais lhes per-tenceriam ap6s a sua morte, n6o passando paraas m6os do herdeiro principal. Deste modo, urr lhomem que se preocupasse com o bem-estar dasfi lhas, especialmente daquelas que consideravaja terem uftrapassado a idade de casar, poderiatomar provid6ncias apesar da norma geral res-peitante b heranga. O Chefe Kgama (1875-1923)introduziu uma norma entre a tr ibo Bangwat paraefeito de atr ibuiqSo de gado ds f i lhas pelo paienquanto vivo ou pelo herdeiro principal ap6s amorte do pai. O direito a herdar gado revestemuita importdncia nos termos actuais dado o seugrande valor econ6mico. Fel izmente que algumasautoridades tribais t6m vindo a reconhecer estedireito e jd muitas vezes implementaram normasno sentido de que as criangas tanto do sexomasculino como feminino possam herdar gadoem condig6es de igualdade. Infel izmente, contu-do, tem havido as transformag6es ocorrem demodo irregular e muito 6 delxado ao l ivre arbftr iode Presidentes dos tr ibunais tradicionais e che-fes de famflia. N5o havendo quaisquer orienta-g6es a este respeito, os direitos das mulheressolteiras em quest6es de heranga sdo, no melhordos casos, incertos, dependendo da generosidadedos pais e, faltando esta, dos tr ibunais formais.

b) Mulheres casadas

O casamento, sendo a Inst i tuiqSo na qualassenta a famil ia, consti tui uma prioridade nodireito consuetudini ir io tal como sucede em ou-tros sistemas jurldicos e existem normas quegarantem a sua perpetuagSo. Um traqo distintivoda lei do casamento 6 que este fortalece e legi-t ima o patr iarcado concedendo ao marido o direi-to de tomar decis6es, controlar a esposa, f i lhos

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e bens e, por vezes, o destino do proprio casa-mento. Ao mesmo tempo, devemos ter presenteque na sociedade tradicional onde o cl6 enquantooposto ao individuo era importante, a questSodos .direitos" do indivfduo encontra-se desloca-da. Portanto seria incorrecto determinar o esta-tuto da mulher na sociedade af r icana t radic ionalem termos de quais os seus .,deveres" enquantoesposas, f i lhas, t ias, mdes, av6s, etc . Mais a inda,este ensaio tende a ignorar o facto de no domlnioprivado da famfl ia as mulheres serem conside-ravelmente respeitadas, e, muitas vezes, exerce-rem indirectamente grande poder em quest6esde casamentos dos f i lhos, distr ibuiqSo dos ce-reais, etc.

Seja como fOr, continuemos a considerar o quese passa em relagSo ao casamento tradicionalque actualmente se diz ter efeitos nefastossobre a posigSo da mulher dentro dele.

Em primeiro lugar, a natureza potencialmentepoligama do casamento tradicional tem muitasvezes implicagdes adversas para as mulheres,estando a sua posigSo social dependente dosdesejos do marido. Embora jd se tenha afirmadoque a pol igamia consti tui por vezes um recursoecon6mico da mulher , 6 a inda verdadei ro queapenas homens razoavelmente r icos podemactualmente possui r mais do que uma mulher efamil ia. Se um homem poligamo possui poucosrecursos, 6 frequente as suas mulheres e f i lhosv iverem na mis6r ia . Mais a inda, uma esposa n5opode tazer prevalecer a sua opiniSo sobre a decl-sdo do marido casar com outra mulher, apesardisso a afectar a ela e aos seus f i lhos de vSriasmaneiras.

Em segundo lugar temos a inst i tuigSo bogadi( lobolo) e suas consequ6ncias na condigSo damulher dentro do casamento. Embora o objectivoexacto deste costume seja controverso, existeum consenso geral sobre as suas implicaq6esno estatuto da mulher casada. O ponto de vistacolonia l e miss ionSr io de que s igni f icava umacompra da mulher ndo faz parte de modo nenhumda controv6rsia e 6 desde jd afastado. Foi t idocomo um simbolo de reconhecimento dado aospais da rapariga por terem permit ido o casamen-to; uma compensagSo pela perda dos seus ser-vigos; uma forma de registar a aprovagSo docasamento pela famfl ia e uma forma de legit imaros f i lhos nascidos do casal. Mas, aparentemente,a fungSo e consequ6ncia mais importantes dobogadi 6 a transfer6ncia do poder reprodutor damulher do seio da sua famfl ia para a famil ia domarido. Esta a raz6o porque o bogadi fou a pr6-pria mulher) 6 devolvido quando a mulher ndopossa ter filhos. Do ponto de vista do nosso tra-balho, a consequdncia mais importante do bogadi6 dar ao marido poder e controle sobre a mulhero que ele ndo teria se ndo t ivesse pago o bogadi.Por exemplo, como norma, ao homem que ndotenha pago o bogadi ndo 6 permitido castigar amulher quando esta o ofenda, sendo este "privi-l6gio" apenas dado ao homem que pagou o boga-di e desde que o faga em termos razodveis. Poroutro lado, a mulher casada com bogadi 6 tidaem mais elevada estima social do que aquela que

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tenha casado sem bogadi. A primeira poderdpedir protecgSo i familia do marldo ou a suapr6pria quando o marido a maltrate, enquantoque a fltima ndo tem este direito.

Em terceiro lugar o direito consuetudindrlol imita os direitos da mulher casada no tocantei sua personalidade juridica ( ou locus standi injudicio). Com o casamento, a mulher passa daguarda do pai para a guarda do marido. A estecabe tomar as decis6es finais sobre todos osaspectos da vida da familia devendo a mulherprestar-lhe obediEncla e conduzir-se em geralcom reserva tanto na famflia como em priblico.Ouando ela age mal (na opinlSo do marido) elepode castigS-la, n6o devendo no entanto faz6-loem excesso ou frequentemente. O fnico rem6diode que uma mulher pode disp6r contra um marl-do cruel e n5o protector conslste no apelo aosdois grupos famillares e, falhando este, ela podemover uma acgSo de div6rcio que, como veremosadiante, normalmente ndo lhe traz vantagens.Oualquer inf idel idade da sua parte ndo 6 toleradaenquanto que o marido pode ter uma concublnasem por isso sofrer sanq6es sociais ou jurfdicas.

Do mesmo modo, os seus direitos de proprie-dade dependem da cooperagSo e generosidadedo marido e, embora possa l ivremente aquir irbens e dedicar-se a transac96es comercials, deveem primeiro lugar receber (obter) o consentimen-to do marido ou protector. A posse de quaisquerbens que ela traga para o casamento ou recebacomo oferta ou heranga durante o mesmo, nuncase transmite ao seu marido. A este compete aguarda desses bens, contudo deve faz6-lo sepa-radamente dos restantes e, juridicamente falan-do, ndo tem o direito de os al inear sem o con-sentimento da mulher e ningu6m os pode confis-car para satisfazer as suas dividas. Por outrolado o marido controla o gado, os campos, aspalhotas e outros bens da familia que ndo cons-tituam propriedade pessoal da mulher. Niio existeo equivalente aos regimes matrimoniais de pro-priedade que se encontram no direito RomanoGermdnico, ou seja, os regimes de comunhdoou separagSo de bens. O "direito" da mulher aosbens da famflia que se encontram sob o controledo marido depende inteiramente da atitude egenerosidade daquele uma vez que s6 ele tempoderes globais de decisSo sobre os mesmos.Depende tamb6m em certa medida da atitude dafamilia do marldo que o pode compelir a susten-tar adequadamente a sua esposa e filhos. Opapel desempenhado pela famil ia alargada aoproporcionar protecado e um sistema alternativode sustento a uma esposa negligenciada pareceter sido activo nos dias em que os cl6s eramcoesos e desefosos de prestar assistdncia mas,hoje em dia, jd ndo pode ser tomado por certoquando se assiste d desintegragSo da famfliaatargada e b crescente tend6ncia para o indivi-dual ismo.

Em quarto lugar, a posigSo juridlca da mulhercasada' pode ser desfavordvelmente afectadapela lei que regula o div6rcio e suas consequ6n-c ias.

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Cada uma das partes num casamento tradicio-nal t inha o direito de intentar uma acgSo dediv6rcio embora as tentat ivas de reconci l iaqSodo casal ao nfvel da famfl ia consti tuissem umrequisito para o tr ibunal apreciar o pedido. Eramreconhecidos como fundamentos de divSrcio acruefdade excessiva, a falta de sustento da tami-l ia por parte do homem e a esteri l idade, a bruxa-ria, o adultdrio continuado e o n5o cumprimentodas tarefas dom6sticas por parte da mulher.Uma vez que a inf idel idade do homem 6 geral-mente tolerada pela sociedade e a pol igamiaconsti tui uma inst i tuiqSo reconhecida, o maridoencontra-se em melhor posiqdo uma vez quepode recorrer a concubinas ou casar com outramulher quando se cansar da sua esposa actual.Em qualquer caso uma mulher tem mais a perdernum processo de div6rcio do que um homemconsiderando as consequ6ncias jurfdicas e so-ciais do div6rcio tais como sdo adiante apresen-tadas.

Em pr imeiro lugar , com o d ivorc io a mulherperde o direito aos f i lhos salvo se o marido ndotiver pago o bogadi - recordemos que uma dasconsequdncias mais importantes do bogadi e ade conceder ao mar ido d i re i tos sobre os f i lhos.Portanto se o bogadi ndo foi entregue, a mulherpode manter os f i lhos raz6o pela qual algunshomens, prevendo problemas, pagam o bogadidurante o casamento de modo a ndo perderemo direito aos f i lhos. Actualmente a prdt ica temvariado e alguns tr ibunais tradicionais decidemsobre a cust6dia dos f i lhos com basp em quemse apresenta como culpado enquanto que outrosdividem os f i lhos pelos pais dependendo daidade e do sexo dos mesmos.

Em segundo lugar, embora com o div6rcio apropriedade seja dividida de acordo com ascircunst6ncias do caso, em ri l t ima andlise, ?rmulher cabe menor quantidade de bens ou bensde menor valor. Normalmente mant6m a suapropriedade pessoal e utensfl ios dom6sticos en-quanto que o marido conserva a casa e o gado,excepto se foi considerado culpado caso em quelhe poderd ser ordenado que dO algum gado 2rmulher ou construa uma palhota nova para elaap6s o div6rcio.

Em terceiro lugar, sdo as perspectivas som-brias que a mulher divorciada tem em relag-ao aum novo matrim6nio: ela 6 vista pela maioriados homens como Instdvel e indigna de casar.O estigma da mulher divorciada 6 t6o forte queum prov6rbio Tswana encoraja o homem a casar

com vir ivas em vez de divorciadas. Se algudma pretender como esposa, 6 dada uma oportuni-dade ao primeiro marido de a tomar novamentecomo esposa se ele assim o desejar, especial-mente nos casos em que o bogadi ndo tenhasido devolvido. Se este ndo estiver interessado,ela poderd casar novamente mas o segundomarido tem de pagar o bogadi aos seus paiscaso contrdrio os filhos nascidos deste casa-mento serSo t idos como pertencendo ao prirneiromar ido.

Em vista destas consequ6ncias 6 poss(vel, eaparentemente bastante comum, as mulheresconservarem um mau casamento em vez de searriscarem d condiqSo insegura de divorcladas.

Em quinto e 0lt imo lugar, os direitos da mulherir heranga por morte do marido. Perante a lei,a morte do marido n6o faz cessar a sua relag6ocom a mulher: a situagdo ideal seria a suaperman6ncia em casa da famil ia do marido sobprotecASo do herdeiro. Nos tempos antigos,aparentemente, a mulher n6o era l ivre paracontrair novo matrimonio salvo se regressassed sua casa e os seus parentes concordassem emresti tuir o bogadi. O costume de "go tsena motlung" (ou entrada na palhota) era prat icado nostempos antigos e de acordo com ele um parenteproximo podia "tomar" a viuva e a sua famil iaapos a morte do marido. Aparentemente a virjvat inha o direito de recusar especialmente se t i-vesse um f i lho em idade de tomar conta dela edo patr imonio. Hoje em dia, este costume ndo 6muito prat icado e a maioria das vir ivas jovensregressam a sua propria famfl ia devendo, con-tudo, abandonar os f i lhos e os bens de fami l ia .Portanto, segundo o direito consuetudindrioTsu;ana, uma vifva s6 poderd beneficiar do patr i-m6nio do fa lec ido mar ido se permanecer no seioda famfl ia dele. Se optar por continuar a vivercom a famfl ia do marido, tem direito a usar acasa, o mobil i6r io, os utensfl ios, etc. at6 d suamorte; O mesmo se apl ica aos campos da casa,contudo, os bens "f i loscul inosD tais como o ga-do, reverterSo a favor do herdeiro principal que6 obr igado a cuidar dela e dos f i lhos mais novos.Se o herdeiro principal n6o cumprir as suas obri-gag6es, a vifva pode apresentar queixa ao conse-lho de famf l ia e, por 6 l t imo, aos t r ibunais formaisquando, aquele ndo tenha solucionado a questdoa seu favor. Hoje em dia 6 bastante comum osPresidentes dos t r ibunais t radic ionais d iv id i remo patr imonio pelos dependentes quando o lrer-dei ro pr inc ipal ndo cuide deles adequadamente.

Os f uizes ao Domingo ao assistirem A prolecg5o do f i lme (O , uiz ao Do-

mingo>: Teve lugar re€entemente uma exibigSo especial do fi lme da BBC

!E <<Sunday fudgeD para os iuizes dos Tribunais Populares dos Bairros de Ma-

falala e Polana Canigo <<Br> e os actores do R.5dio Mogambique, os quais

puderam ver assim o resultado da sua participagSo no filme.

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A CONDIQAO PUBLICA DA MULHER NOROTS\,VANA

Tradicionalmente, a mulher aparentemente ndodesempenhava qualquer papel ao nivel pfbl icoda pol i t ica e governo no sentido de ocupar posi-g6es de chef io . "A chef ia 6 co isa de homens",dizem os prov6rbios populares, apesar de duasinstdncias de regOncia ftr ibos Ngwaketse e Tswa-na) durante o perfodo colonial. O Kogtla, inst l tui-g5o central onde as mat6rias de natureza pfbl icaeram discutidas, tomava decisdes e as disputaslevadas a julgamento ndo eram acessfveis irsmulheres a menos que estas fossem testemu-nhas ou l i t igantes. Cada uma das unidades so'ciais ja referidas era encabegada por um homem:o maiido era a cabeqa da famil ia e do agregadofamil iar se o t ivesse; o homem mais velho estavai cabega da famfl ia ou do cld; o bairro era enca-begado por um chefe; por sua vez, a tr ibo eraencabeqada por um chefe que devia ser de ascen-ddncia leal e necessariamente do sexo masculi-no. O acesso a um determinado estatuto basea-va-se na superioridade em idade e no sexo, nor-mas muito r igorosas para garantirem a perpetua'g5o desta situagSo.

Durante o periodo colonial, o papel da mulherna arena pribl ica permaneceu inalterado. Recor-demos que quando o novo regime iuridico foiintroduzido pela primeira vez destinava-se unica-mente aos europeus, consequentemente estavaorganizado a par com as regras raciais. A discri-minagSo racial aberta, e muitas vezes camuflada,contra os africanos era praticada em outrossectores tais como a educaqSo, o emprego e aprovid6ncia de serviqos sociais. A m5o de obrainigratoria inf luenciou tamb6m a confinaQso damulher d esfera rural. Para as mulheres afr icanasera uma situagSo de r isco duplo porque o estadocolonial trouxe consigo a sua pr6pria discrimi-nagSo baseada no sexo e nascida na sua pr6priaterra a qual era normalmente mais escondida doque aberta. As primeiras oportunidades de edu'caQSo e emprego foram oferecidas aos homense at6 nos casos em que as mulheres t inham osmesmos postos de trabalho que os homens osseus sal6rios eram mais baixos e nada recebiamquando em l icenga de parto. Durante os prepa-rat ivos para a independ6ncia ndo havia mullreresno conselho legislat ivo ou executivo, emboratecnicamente eitas pudessem votar e candida-tar-se irs eleiQ6es pr6-independ6ncia de 1965.

No perfodo ap6s independ6ncia, o papel pfbl i-co da 'mulher ao n lve l dos postos e posiq6es dechefia pouco progrediu. Continuam a ser domina-das pelo homem embora, em teor ia , ambos ossexos se quali f iquem para as referidas'posiQ6es.A dignidade de chefe tr ibal consti tui uma exce-pgSo not6vel pois ainda 6 determinada pela tradi-g5o, contudo, em teoria, o Presidente do Estado[em o direito de indicar qualquer pessoa adequa-da e capaz para as posiqdes tr ibais. Os costumese a cultura Tswana t6m sido acusados destas i tuaqSo e, embora em par te possam expl icar aaus6ncia de mulheres das posiq6es de chefia,

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n6o s6o de todo uma explicagSo suficiente-estatend6ncia 6 universal pelo que deve exist ir algomais do que a (cultura Botswaflar. Ertr qualquercaso, como jd foi argumentado algures 4/, atradigSo e a cultura foram usadas demasiadasvezes para impedir ou evitar que a mulher faqadeterminadas coisas, enquanto que certos aspec-tos da nossa cultura foram convenientementerejeitados (para que se adequasse b transforma-q5o social e econ6mica". Que cri tdrios s6o usa-dos para decidir que aspectos da cultura devemser retidos ou rejeitados? Tanto a teoria como aprdtica do estado actual do Botswana mostramcontradigOes claras a este respeito e outros,como veremos mais tarde.

Como jd foi indicado, o Botswana tornou-seuma rep0blica independente com constituigSoescrita estabelecendo os trds poderes do estado:o executivo, o legislat ivo e o judicial. O legisla-tivo compreende dois 619dos representativos,a Cdmara dos Chefes e a Assembleia Nacional.O f l t imo 6195o 6 efectivamente o legisladorenquanto que a Cdmara dos Chefes desempenhafunq6es consult ivas em quest6es de administra-g5o tr ibal, direito consuetudindrio e mat6riasafins. O legado colonial de um sistema jurfdicodual foi conservado, coexistindo o regime jurldi-co consuetudindrio a par com o direito comum- compreendendo este a lei recebida, os Decre-tos do Parlamento do Botswana e outras leis quendo tenham caracteristicas de direito consuetu-din6rio. Os tr ibunais estSo organizados de modosemelhante, tendo os tr ibunais tradicionais dejurisdigSo principalmente ao nfvel das quest6escivis entre membros tr ibos e uma jurisdiqSopenal muito l imitada. Em primeiro lugar compe-te-lhes a administragSo do direito consuetudinS-rio, embora os tr ibunais de jurisdiqSo geral tam-b6m possam aplicar o direito consuetudindrioaos recursos provenientes dos tr ibunais tradicio-nais. O direito consuetudindrio encontra-se semdrivida subordinado ao direito comum estandosujeito aos padrOes de aceitagSo do direitocomum escrito. Portanto, o direito consuetudind-r io que se revele contrdrio ao humanismo, mora-l ismo, just iga natural e a lei escri ta ndo temaplicaqSo. Contudo, estas restriqdes ndo foramusadas na prdtica para recusar a apl icaqSo dodireito consuetudindrio casos especff icos, semfalar no seu efeito sobre a condiqSo da mulher.As normas substantivas de direito consuetudin6-r io atrds indicadas destinam-se i maioria dapopulaqSo rural como sua lei pessoal, enquantoque o direito comum se apl ica i ls mat6rias denatureza pribl ica bem como bs mat6rias de natu-reza particular entre os n6o Batswana e os pou-cos Batswana que expressamente rejeitem oregime jurfdico consuetudindrio. Assim, enquan-to que ao nfvel geral ptiblico o direito consuetu-dindrio est6 subordinado ao direito comum, aonfvel part icular 6 intocdvel e inquestionSvel.Esta contradiqSo teve efeitos desfavordveis nacondiqSo da mulher e de outros grupos igual 'mente n6o privi legiados e discriminados pelodireito consuetudindrio.

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A IIIU||GAGIA E l|$Dois Juristas cubanos, o Dr. Jorge Antunez

Couselo, Director de "Bufetes" Colectivos doMinist6rio da Justiga e a Dr. ' Elsa Nora GarciaBueno, especial ista em Assuntos Juridicos daDirecgSo de "Bufetes" Colectivos do Minist6rioda Justiga, no decurso duma recente visi ta detrabalho ir Repribl ica Popular de Mogambique,genti lmente concederam a seguinte entrevistaa Justiqa Popular.

* * *

Qual era em Iinhas gerais a situagdo da advo-cacia e da organizagdo iudicial em Cuba aquandado triunfo da Bevolugdo?

A advocacia era exercida por privados, existin-do grandes "bufetes" nos quais trabalhavam v5-rios advogados que representavam juridicamenteos in teresses das companhias est rangei ras eda burguesia nacional , ass im como . , [s fs f6s"com um numero l imi tado de advogados, a lgunsdos quais exerc iam iso ladamente e reoresenta-vam os c idadSos nos processos jud ic ia is .

A just iqa era administrada pelo entdo conheci-do Poder Judicial, atraves de magistrados e juf-zes que, ainda que com aparente independOncia,respondiam aos interesses da burguesia explo-radora.

Os governos para se protegerem dos movi-mentos revoluciondrios suspendiam as garantiasconst i tuc ionais e soc ia is e const i tu iam os t r ibu-nais de Urg€ncia, de cardcter especia l , a f im dejulgar aqueles que lutavam contra os respectivosregimes.

A Procuradoria consti tuia um orgSo do poderimportante que defendia os interesses do estadoburgu6s o qual representava nos processos judi-c ia is .

Como e quando foram criados os primeiros

"bufetes" colectivos? Nessa altura o que aconte-ceu aos advogados privados?

Desde o tr iunfo da Revoluqdo, em Janeiro de1959, at6 ao inicio de 1974, os advogados conti-nuaram a exercer a advocacia privada. Ndoobstante, as direcgdes do Partido e do Governodecidiram comegar a organizar, sob forma expe-rimental, o exercfcio da advocacia, com o'f im deadequS-la a essGncia de classe da sociedadesocial ista en construqSo; criando-se em 1965 osprimeiros "bufetes" colectivos integrados poradvogados seleccionados atendendo as suas con-diq6es morais e polf t icas. Nos anos subsequen-tes consti tuiram-se unidades de "bufetes, ' co-lect ivos em todas as provfncias do pafs os quais,ndo obstante possuirem uma estrutura organiza-t iva central provisional, eram atendidos pelo

-Min is t6r io da Just iqa.

G|IITCIIU|I$ ET CUBACom a promulgagdo da Lei N.o 1250, de 23 de

Abri l de 1973, denominada Lei da Organizagdo doSistema Judicial, que entrou em vigor a pait ir de197.4, foi proibido o exercicio da advocacia pri-vada.

A part ir de entSo somente se podia exercer aprofissSo de advogado pertencendo a um dos"bufetes" colectivos inst i tuidos pela referida Leie, por conseguinte, sem qualquer requisito adi-cional, a maioria dos advogados que exerciam aadvocacia privada foi incorporada t los cbufetes"colectivos.

Como se encontram estruturados os "bufetes"colectlvos, orginica e hiierarquicamente?

A Organizaqdo Nacional dos "Bufetes" Colecti-vos 6 uma entidade autonoma nacional de inte-resse social e cardcter prof issional, com perso-nal idade juridica e patr im6nio pr6prio, integradavoluntariamente por jur istas e rege-se pelo De-creto-Lei N.o 81, de disposig6es dos seus orgdosde direcgSo.A direcgso da OrganizaQso 6 exercida por:

a) A Assembleia Geral;b) A Junta Directiva Nacional;c) Os Directores Provinciais;d) Os Directores de "Bufetes".

a) A Assembleia Geral ,6 o 6196o superior daOrganizaqSo. E consti tuida pelos delegadosdos "bufetes", eleitos por um perfodo decinco anos, na proporgSo e forma que deter-mina o referido Decreto-Lei. A AssembleiaGeral elege de entre os seus delegados oPresidente, o vice-Presidente, o Secretdrio eo vice-Secretdrio das suas sess6es. Reune-ordindriamente uma vez por ano; e extra-ordindriamente, quando assuntos de impor-tdncia requeiram a convocagSo da JuntaDirectiva Nacional.

b) A Junta Directiva Nacional exerce a autori-dade m6xima administrat iva dos obufetes"colectivos e 6 composta por um Presidente,um Primeiro vice-Presidente, um segundovice-Presidente, um Secretdrio, um vice-Se-cretdrio, um Tesoureiro e um vice-Tesourei-ro, eleitos pela Assembleia Geral para odesempenho das suas fung6es durante operlodo de cinco anos.A Junta Directiva Nacional reune-se mensal-mente em sessSo ordindria e em sessSoextraordin6ria, quando seja convocada poriniciat iva do seu Presidente ou da maioriados seus membros.

c) Os Directores Provinciais s5o nomeados pc!aJunta Directiva Nacional e representa aOrganizaqSo na provfncia. Aos mesmos es-t6o adstr i tas as unidades de "bufetesn co-

"BUtIEI[$"

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lect ivos radicadas nos seus terr i t6r ios res-pectivos.

d) Os Directores das Unidades de "Bufetes"Colectivos s6o designados pela Junta Direc-t iva Nacional sob proposta dos DirectoresProvinciais de "Bufetes". Os mesmos repre-sentam a unidade que dir igem nas suas res-pectivas local idades.O Minist6rio da Justiga exerce a inspecqSoa nfvel superior, a supevisSo e o controleda actividade da Organizagdo Nacional de"Bufetes" Colectivos e dos seus membros.Compete tamb6m aos OrgSos Provinciais doPoder Popular, atrav6s das Direcg6es Provin-c ia is de Just iga, inspeccionar as unidadesde "bufetes" colectivos radicadas nos seusterr i t6r ios respectivos e part icipar a pedidodo Minist6rio da Justiga, nas inspecqdes queeste real ize.

Quais sdo os requisitos exlgidos aos membrosdos 'bufetes" colectivos para desempenharemcargos de direcgSo?

Para ser membro da OrganizagSo Nacional de"Bufetes" Colectivos exige-se a capacidade deexercer advocacia comprovada por t l tulo emit idopelo Centro de EducaqSo Superior correspon-dente, no pafs ou no estrangeiro, com pr6vioreconhecimento ou val idaqSo, quando assirn fornecessdrio, de acordo com o estabelecido; tercondiq6es morais concordantes com os princi-pios da nossa sociedade; n6o ter sido punido porcrime internacional que o torne indigno no con-ceito pfbl ico nem encontrar-se sujeito a processocriminal por del i to dessa natureza; n5o se encon-trar a desempenhar fungdes judiciais, de delega-do do minist6rio pribl ico, administrat irras ou dearb i t ragem; e, por r i l t imo, ser admit ido pela JuntaDirectiva Nacional na Organizaqlo.

Os advogados membros da Organizag5o podemser eleitos ou designados para desenrpenharqualquer um dos cargos de direcado r:a Insi i tui-qeo.Dados estatisticos quanto a:- Nrimero total de juristas em CubaTemos aproximadamente 7 000 juristas- Nfmero total de advogados no paisO pafs conta com 827 advogados.- Numero total de advogados em Havana e suapopulagSo

Em Havana e no dmbito da organizagSo exercenr370 advogados, aproximadamente, para atendera uma populagSo super ior a um mi lhSo e meio dehabitantes.

De que modo os advogados prestam assisfdn-cia juridica ao Estado?

A Defesa Criminal Oficiosa, que consiste narepresentaqSo dos acusados que ndo tenhamdesignado advogados nos processos judiciaisperante os tr ibunais populares e mil i tares, 6prestada por advogados da OrganizaqSo de"Bufetes" Colectivos, a f im de garantir um direitoestabelecido na Consti tuigSo da Repribl ica deCuba; assim pois, a referida Defesa Oficiosaperante o Tribunal Popular Supremo estd a cargodos advogados do "Bufete" Colectivo Especial i-zado em Recursos de CassagSo; perante os Tri-bunais Populares Provinciais prestam-na os"Bufetes" Colectivos Especial izados ou os advo-gados designados para esse efeito pelo DirectorProv inc ia l e nos Tr ibunais Populares Munic ipais ,ass im como nos Tr ibunais Mi l i tares de GuarniQSoTerri toriais, 6 exercida pelos advogados designa-dos dos "bufetes" colectivos mais proximos dosmesmos.

Como s1o calculados e pagos os honordriosaos membros dos "bufetes" colectivos?

A tari fa of icial para a cobranga dos servigosjurfdicos que a organizagdo presta 6 aprovadapelo Comitd Estatal de Pregos, mediante pro-posta do Minist6rio de Justiqa, depois de tersido elaborada pela Junta Directiva Nacional.

A Junta Directiva Nacional determina a basede cdlculo para o pagamento dos salSrios dosadvogados, que consiste na part icipaQSo de umadeterminada percentagem da quantia cobradaque estes entregam a titulo de ajustes subscri-tos, independentemente de um vencimento f ixoque os mesmos recebem como garantia salarial,de maneira que a soma da part icipagdo mais agarantia salarial n6o excedam soma de quatro-centos pesos mensais.

Em conformidade com o disposto no Decreto--Lei N." 81, de 8 de Junho de 1984, encontra-seactualmente em revisSo o sistema vigente deremuneragSo do trabalho tanto dos advogadoscomo do resto do pessoal que trabalha nos

"bufetes" colectivos.

6 na fami l ia onde os pais educam as noyas gerag6es num ambiente de

caler humano, ailror e carinho, de resBeito pelos outros, no amor e no

frabalho, poro a formagSo da personal idade do Honrem de amanhS,

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ADVOGADOS O "

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DE CUBA

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BROCHURA SOBRE MUTATEL

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o euE FoRAM AS cADEIAS coLoNlAIS E o euE sAo AS cADEIASNA REPUBTICA PQPULAR DE MOQAMBIQUE

- do Director da Cadeia Provincial de Tete

Do Director da Cadeia Provincial de Tete, oSenhor Roberto David Marrengula, recebemosesta carta que muito agradecemos e a seguirpubl icamos.

O QUE FORAM AS CADEIAS COLONIA/S E OQUE SAO AS CADE'AS NA REPOBLICA POPU.LAB DE MOQAMBIQUE

No perfodo colonial, muito antes do desenvol 'vimento da Luta Armada, as cadeias estavamdivididas em dois grupos dist intos, nomeadamen-te: dos ndo Indfgenas e dos indfgenas, comobjectivos discriminat6rios como podemos ver:

DOS NAO.'ND'GENAS

Nas col6nias da Guin6, Macau e Timor, haviamapenas uma cadeia central para o cumprimentodb' todas as penas de prisdo simples, comsecq6es especiais para. pretos e brancos, e pre-sqs pretos-e em relagSo bs restantes col6niashavia dois t ipos de cadeias e sempre que oTribunal t iveise iurisdigSo sobre indigenas, acadeia respectiva-era dotada de secqSo e-specialpara os ddtidos a aguardar julgamento {seca6ode ind(genas nas t r6s pr imeiras co l6nias ac imareferidas).

DOS INDIGENAS

Os estabelecimentos prisionais privativos dosindigenas destinavam-se ?r detenqe_o- e ao cum-primento da pena de trabalhos pribl icos oo detrabalho correccional, onde n6o faltava os maustratos desde o trabalho forqado e sem nenhumaremuneraq6o at6 aos actos mais brutais e desu-manos at6 mesmo aos assassinatos al6m detoda a esp6cie de condiq6es anti-higi6nicas.

ESTABELECIMENTOS PFIS/ONATS DEPOIS DAINDEPEN DENCIA N ACION AL

Depois de Independdncia Naclonal , a FRELIMOpreocupou-se em criar uma s6rie de. condig6esnos estabelecimentos prisionais que permitemtratar o del inquente como um ser humano; apart ir de 1979, ano em que. se comeQou a daratengSo seriamente aos estabelecimentos prisio-nais, adoptaram-se uma s6rie de medidas organi-zativas que consist iam no contrblo ef icaz dosreclusos, tratamento humano e concessdo debeneffcios legalmente estabelecidos ou seja al iberdade condicional e o resgate da peha, deacordo com o comportamento do recluso.

Esta acQSo veio a fazer-se sentir mais com acriaqSo da DirecqSo Nacional das Prisdes e a

transformagSo das antig'as cadeias comarcds emcadeias provinciais, visto que as antigas cadeiascomarcds ndo possuiam nenhumas condiq6es quepermit issem um bom ambiente para os reclusosg eram dir igidas pelo Delegado do procurador daRepfbl ica que nada fazia para a melhoria dascondig6es de vid'a dos reclusos nessas cadeias;hojei com a criagSo da categoria de CadeiasProvinciais, deparam-se-nos imensas,dif iculdadesqara a organizagSo da vida interna dos reclusos,designadamente quanto ?r separaqio dos reclusospor grupos- ndo acusados, acusados, julgados ede entre estes, por tipo de crime e

-te-rnpo de

duragdo da pena, visto que as instalagdes queherddmos sdo inadequadas. Apesar dos'esforgosjd envidadas as nossas dif icutdades, sobejamehteconhecidaS, tornam di f ic i l e levar as condic6esde vida nestes estabelecimentos com a seleri-dade .desejada. O mesmo se apl ica em relaqdoaos'distr i tos onde outrora os calabougos esta-vam h respensabil idade dos administraiores co-lon ia is das c i rcunscr ig6es ou concelhos, sendoo t rabalho da guarda exerc ido por c ipa ios. A indahoje 6 lamentdvel a situag6o que se veri f ica nascadeias distr i tais, muito embora nalgumas pro-vfncias i6 se tenham operado coisiderdveismelhoramentos.

Actualmente, em todas as cadeias provinciaisdo pafs, ' ver i f ica-se um amplo movimento dareorganizagdo a part ir das condiq6es locais.

E assim que se promove o trabalho produtivocomo um meio educativo que contr ibui para are$eneraqdo social do recluso o qual 6 remune-rado, como estfmulo. A remuneraqSo 6 entregueao " preso, distinando-se uma parte para paga-mento das multas ou indemnizagdes, no seuprocesso, e uma outra parte ao pr6prio preso,reseruando-se esta importdncia para lhe ser en-tregue ir saida da prisSo; assist imos cada vezmais, nos estabelecimentos prisionais ao aumen-to do trabalho produtivo que permite as cadeiasl lberta,rem-se de alguns problemas orqamentaise contar com as suas proprias forqas para o seuauto'abastecimento; pode se af irmar sem exage-ro que hoje existem cadeias que n6o necessitamde recorrer aos cofres do Estado para o seudesenvolvimento. Assim, 6 possfvel em largarnedida, a transformagSo do del inquente emhomem {t i l a sociedade, incutindo nele o gostopelo trabalho, evitando assim o parasit ismo e o6cio. O melhor exemplo vem da Granja pr is ionalde Mutatel €m Maputo e estd estendendo paraos restantes centros prisionais do nosso pais.

EstS a ser editada uma colecgSo de fotografias sobre Mutatel, centro pri-

sional nos arredores de Maputo. A imagem mostra um recluso - traba-

lhador de Mutatel, fazendo apicultura'

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COLOMBIA: A MORTE DE 43 f UtzES

Num incidente lamentSvel e infeliz, 43 mem-bros da judiciflria colombiana constavam entreas 91 pessoas mortas num conflito entre o gover-no e as forqas guerri lheiras M-19. A 6 de Novem-bro de 1985, um grupo de guerri lheiros das M-l9tomou pela forga o Paliicio da Justiqa. No mo-mento do ataque encontravam-se mais de 500pessoas no interior do edificio. Aqueles que ndofugiram foram apanhados como ref6ns. Entre osref6ns encontrava-se o Presidente do TribunalSupremo, Dr. Alfonso Reyes Echandia, urn ho-mem bem conhecido da GomissSo lnternacionalde Juristas. O Dr. Echandia foi uma das pessoasmortas quando as tropas do governo assaltaramo edificio. Os outros incluiam onze membros doTribunal Supremo e 32 dos tribunais inferiores.

do arguido com certas pessoas, ou condiciond-lase tal se mostrar indispensdvel para evitar ten-tativas de perturbagio da instrug6o do pro-cesso)). Dado os termos em que estd formuladaesta restrigdo n6o h{ d(vida que ela pode seraplicdvel ao defensor o que nos parece inad-missivel e incompreenslvel. Por exemplo nor.o interrogat6rio e jd que o defensor n6o podefalar previamente com o arguido, C evidenteque aquele ird fazer aoflcio de corpo presentelpois ndo tendo oportunidade de conferenciar como arguido n6o poderd uevitar declarag6es emi-tidas por equlvoco, confusAo, receito ou igno-rAnciao ("). E quem trabalha em processo penalsabe a importAncia que assumem as primeirasdeclarag6es prestadas pelo arguido.O $ 2." mant6m esta l imitagdo deixando A livrediscrigdo do juiz ou do agente do MinistdrioPriblico - no nosso caso da Pollcia - o proi-birem ou autorizarem a comunicagdo do arguidocom o defensor.O problema continua, no entanto, mesmo queseja dada autorizagSo de confer€ncia passadoo perlodo de incomunicabilidade. De facto, asvisitas do defensor ao arguido preso est6o su-jeitas ao mesmo regime que quaisquer outrasvisitas ! Nos termos do art.o 3rz do Dec.-Lein." 26643 de z81511936 6 necessdria a autori-zagdo do director da pris6o para que a comuni-cag6o tenha lugar fora do hor{rio comum ouem lugar reservado. Al6m disso, de acordo

O ataque final pelos soldados do governotncluiu o emprego de dinamite e fogo de-artilha.ria.

Antes da tomada do edificio o Presidente doTribunal Supremo tentou contactar telefonica-mente o Presidente do pais a fim de lhe pedirque retardasse uma solugdo militar e continuasseas discuss6es com os guerrilheiros mas os seusesforgos para contactar o Presidente foram infru-tfferas.

Tanto o corpo de juizes como os advogadosprotestaram contra a acqSo do governo e boico-taram uma cerim6nia ffnebre organizada pelogoverno para os jufzes. Recentemente todos osjuizes do pafs apresentaram a sua demissSo emsinal de protesto contra as acA6es do governo.

"lnformaqSo do Boletim da Centre for the Inde-pendence ofJudges and Lawyers, Gen6ve, No 15,

(Continuagdo do ?&5. r+)

com os artigos 3r8 e 34 do mesmo Diplomalegal toda a correspond€ncia do arguido estCsujeita a fiscalizagio e censura; desta formase impede de facto e de direito a livre comuni-cagAo entre o arguido e o seu defensor.Tentdmos analisar as principais quest6es hojeexistentes em Mogambique referentes ao ins-tituto do direito da defesa. As mesmas derivam,quanto a n6s, do facto de a principal legislag5ovigente em Mogambique sobre esta mat€ria seroriunda do periodo colonial e mais ainda de umperlodo de transigdo entre os processos tipoinquisitdrio e acusatdrio; a lei ao dar os seusprimeiros passos numa doutrina considerada,para a 6poca, liberal e atC mesmo revolucio-ndria, acabava por retirar com uma m5.o aquiloque dava com a outra...Sendo o udireito de defesa)) um direito constitu-cional, e nossa opini6o, que se imp6e revertoda esta mat€ria e assegurar que o .direito dedefesa, possa ser efectiva e eficazmente exer-cido. Importa, no entanto, notar que nio bas-tard sd a revisS.o da legislag{o; fundamentalserd tambdm formar tCcnicos jurldicos @pazesde a cumprir, exercer e aplicar correctamentedentro dos princlpios fundamentais que nor-teiam a onstrugS.o da sociedade socialista mo-gambicana.

Lucinda Martins da Cruz

(8) Barreiros, Jos6 A., Processo Penal- I, Ccimbre, I98t, Pg. +oE(e) Dias, J.F., Ob. cit. pg. 432

(ro) Barreiros, J.A., Ob. cit. pg. 4o8(rr) Dis, J.F. Ob. c i t . 43:-4331tr ; Dias, J.F. , Ob. c i t . 475(r3) Empregamos aqui preferencialmente a palavra <juristel, dado que entre n6s ainda nlo especificadas legalmente as con-

dig6es para que um cidadSo possa exercer o patroclnio judiciciArio - os tdcnicos e habitualmente chamados dc advogadot(r.) Dias, J.F. Ob. cit. 5or

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ADULTERIOA luz do C5digo Penal ainda em vigor entre n6s, o adult6rio 6 considerado cri-

me, punido com pena de prisSo.Esta ideia por6m, tem sido bastante discutida guanto i sua adequagSo i nossa

realidade.Ao nivel daquilo que 6 o sentimento tradicional, a questSo tem tratamento di-

yerso, de zona para zona, mesmo dentro de uma mesma provincia. E por exemploo caso da Provincia de Cabo Delgado, otrde na zona de Pemba e em gerel na zonelitoral, o adult6rio nio merece mais do que uma censura social, quando por exemplono Distrito de Montepuez, o adult6rio suscita normalmente tal sentimento de dc-sonra, que chega a levar i pritica de homicidio, perpetrado pela <parte desonradaD.

Nos nossos Trlbunais Distritais, cromo estamos a tratar o adult6rio?

Sentenga do Tribunal Popular Distrital daMatola, proferida em 1985, sobre um casode adultririo.

Discutida a causa ficou provado que o r6uReginaldo El ias em data que n5o pode precisarno ano de 1976, manteve relag6es de sexo coma mulher do ofendido, El isa Halare que passa aser c6-r6 nestes autos. Entretanto, o adultdrio 6um crime que tem sido obJecto de reflexSo pro-funda por parte dos magistrados do Pafs e deoutras- entidades superiores do Minist6rio daJ u s t i q a ( . . . . . . ) .

Reflectiu-se profundamente sobre o valor jurf-dico que estd em causa ao punir-se o adult6rioe sobre diferenqa de concepg6es que, natural'mente, sobrev6m duma sociedade burguesa eduma sociedade social ista, como 6 a nossa.

Ghegou-se a uma conclusdo que, fundamental-mente, indica que a nossa concepq6o tem quese basear num novo slstema de valores de umasociedade social ista. Pois, na sociedade socia-lista a famflia forma-se e se consolida no amorrecfproco; a regra elementar desta unidade 6 orespeito do pi inciplo de f idel idade conjugal.Neste caso, o adult6rio 6 vlolaqSo daquele prin'c f p i o ( . . . . . . ) .

As raz6es que orlginam o adult6rio sdo varia'dfssimas, podendo ir de uma situagSo de indis-cipl ina ou leviandade, b crise irreversfvel da vidacdnjugal e infcio de outro agregado famlliar.

Mesmo assim, agora, estamos perante umaquestSo da conscidncia moral da sociedade e ndodo C6digo Penal que pune.

No sistema de direito costumeiro em que oadult6rio se pune com o pagamento de umaindemnizagSo, o contefdo da violag6o moral queo adult6rio tem, desaparece e passa-se a enten-der como se se tratasse de prostituigSo.- No sistema do C6digo Penal em que se pune

com pena de pris6o, igualmente, desapareceaquele contefdo.

Se 6 verdade que o problema deve ser medidopela consciOncia moral da socledade, ent6o, ndo6 menos certo que o amor ndo se rep6e pelapunigSo de cada c6njuge violador do princfpioestabelecido.

Desta forma, ndo se pode conceber a defesada famil ia e neste caso, o princfpio de f idel idadeconjugal, tal como se defende a propriedade deuma pessoa. Neste r i l t imo caso, quando ha vio-lagSo entram a polfcia, os tr ibunais e a cadeiaem acgdo.

Mas no caso que estamos a tratar a compe-tdncia para medir a gravidade e consequdncia deum acto de adult6rio, pertence em princfpio, aocasal e em primeiro lugar ao cOnjuge ofendido.S5o os c6njuges que devem resolver entre si oproblema.

Quando o problema aparece em tr ibunal, poriniciat iva do cOnjuge ofendido, deve ser apenasna forma de ser motivo para se invocar ou inten-tar uma acgSo de div6rcio.

Voltando ao caso concreto, feita a tentativade reconci l iagSo entre os l i t igantes, emborativesse sido dif ici l , acabaram por se entender,perdoando assim o ofendido aos r6us Reglnaldoe E l i sa Ha la re ( . . . . . . ) .

Entretanto, as rinicas solug6es que o tribunaldeve encontrar para tais situagdes s5o, ou areconci l iagSo dos cOnjuges, se ainda 6 possfvelsalvar a vida famil iar ou a concessSo de div6rcio.

Nestes termos, em nome da Repfbl ica Popularde Mogambique, o Tribunal Popular Distr i tal daMatola, associando o perdSo previsto no n.o 4do artigo 125.o do C6digo Penal A condiqSo atrdsapresentada, julga improcedente a acusaqSo eextinto o procedimento criminal, ordenando queestes autos, cumpridas que forem as formalida-legais, sejam arquivados.

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Caso:

Ambos viveram juntos 4 anos. Ndo t6m f i thos.O- marido- ds vezes agredia a mulher sem razdo,s6 pelo facto de ela n6o lazer filhos.

Um dia foram juntos visi tar a famil ia do maridoem Xai-Xai. Af, o Pedro entendeu-se com umasua cunhada.e quis mandar embora a Clara. Re-

Caso rr.o 2 homem com duas mulheresquem f ica com a casa?

Um homem viv ia casado segundo os usostradicionais, tendo registado o ieu casamentona Adminis t ragSo com M 1 e M 2, havia maisde 10 anos. Era camponds. Com as suas duasmulheres trabalhava uma machamba de 2 hecta-res ajudado por uma junta de bois com umacharrua. Para a l6m da machamba colect iva, cadauma das mulheres t inha ind iv idualmente a sua.

O homem morreu. As duas mulheres vir ivaspensaram em casar de novo, cada uma com oseu marido. Acordaram em separar-se do lar,devendo afastar-se dele a M Z. lsto criou dif i-cufdades nas estruturas organizativas do Bairro.

Caso l r .o 3 na aus6ncia do mar ido nasout'ro homem.

Fol apresentada uma questdo em que foramsurpreendidos, em f lagrante del i to , um homeme uma mulher a cometer adult6rio na ausOnciado ofendido. O Tr ibunal ndo resolveu, mas, s im,se'nsibi l izou as partes a terem calma at6 re-gressar o ofendido, pois o tr ibunal reconheceuque o ofendido e a ofendida sentem o mesmopeso da desonra e indignidade.

Regressado o marido, voltou-se b resolugdo daquestSo, tendo o ofendido declarado que perdoa-va a sua mulher depois de ter sido inforrnado eaconselhado pelo tr ibunal, sobre o que aconte-cera na sua o,us6ncia. A mulher pediu desculpasao marido, prometendo ndo voltar a cometercaso iddntico. Presentemente s6o pais de 2cr ianqas.

O Tribunal chamou maior atenQao aos 2 adf l te-ros para ndo voltar a pertubar a ordbm socialpelas suas acA6es tendo dado como castigo aoadriltero cortar 50 molhos de canigo para o traba-lho do Bairro, num periodo de 1 m€s; foramavisados para ndo falarem um com o outro, numespago de 1 ano, sob pena de se ter que resolvereste milando de outra forma.

Passados 6 meses foram vistos a conversar,sentados em casa da senhora. Ouando o sucedi-do chegou ao conhecimento do Trlbunal atrav6s' dos respcnsdveis do quarteirdo, apenas foi cha-

,?4

GAs0s IIE IAI'llll[ lf0s IRIBUNAtS ltt BlstTRIBUNAI. POPULAR DA LOCALIDADE DE RESSANO GARCIA

Caso r l .o I a mulher nio dd f i lhos - 6 mot ivo para div6rcio?A senhora Clara de 21 anos d.e if3d9 queixou- gressaram a Ressano Garcia e a Clara queixou-se'se contra Pedro de 2s anos de idade, 'ambos io t r ibunal.

residentes em Ressano Garcia.Sentenga:

Ao analisar o caso os jufzes ndo encontramfundamento para o div6rcid desta unldo de facto.Os jufzes tentaram a reconci l iagSo e consegui-ram.

O Pedro aceitou de novo ir viver com a Claramas os julzes puseram uma condig6o: O pedrodeve respeitar a Clara. A mulher tamb6m con-cordou e o casal voltou para casa junto.

morre: o problema da partilha dos bens -l

O caso foi apresentado ao tr ibunal para ajudara solucionar. Este 6195o do poder sensibi l izouas duas para acordar em que a populagdo daunidade e quarteirSo, depois de esclarecida, ir iaajudar a construir 2 palhotas: uma para dormire outra para cozinha num talhSo novo e, segui-damente, ser distr ibuida uma nova machamba det hectar, lavrada e semeada a M 2. Quanto acharrua e junta de bois f icaria b disposigSo dasduas senhoras.

A proposta foi aceite e cumprida.

minas, a mulher 6 apanhada com

mado o homem com_ seus famil iares mais pr6xi-mos, tendo-lhe sido dito que mudasse a suaresiddncia dentro de 60 dias para fora daqueleBairro, devendo ir f ixar resid6ncia num outromuito distante. Aqui o castigo equivale a maisde 30 chicotadas, disse um dos famil iares.

Depois de 5 minutos de s i l6nc io, um homemmais velho da famfl ia pediu uma audlOncia entrea famfl ia, o que foi aceite. Havida a audiOnciao conselho da famfl ia veio pedir ao tr ibunal aautorizagSo de assumir a responsabil idade de osimplicados evitarem o contacto mftuo, solici-tando, entSo que se considerasse sem efelto aordem determinada. O tr ibunal acolheu, comprazer, a preocupagSo do conselho daquela famf-lia, tendo dado sem efeito a pena arbitrada.

Assim, aquele tr ibunal ganhou mais ainda aconfianga da populagdo do Bairro Comunal. Aprova desta conflanga verificou-se quando omesmo tribunal atravds dos mesmos jufzes pe-diu da populagSo, em coordenagSo com as estru-turas locais, uma ajuda na construgSo de umnovo ediffcio para os seus trabalhos

Aqui o Tribunat comprou todo o materiat e am6o de obra, que s6o os pedreiros e carpinteiros,foram os moradores do Bairro que se ofereceramsem exigir nenhum centavo.

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