a lavanda como caminho

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VIVEMOS EM UM TEMPO EM QUE ESTADOS DE ANSIEDADE, medos e depressão estão presentes no dia a dia. O óleo de lavanda, entre outras coisas, possui propriedades calmantes, sedativas e analgésicas. É considerado, dentro da Aromaterapia, o coringa dos óleos essenciais. Além disso, é o número Um no combate ao estresse e às tensões nervosas. Junto a exercícios respiratórios, orações de aquietamento e textos iluminadores, o livro A lavanda como caminho pretende nos tornar mais tranquilos, para podermos olhar dentro de nós mesmos e enxergar que existe um jardim acolhedor que necessita de tempo e dedicação para que a semente possa germinar e florescer.

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Cláudia E. Obenaus

São Paulo, 2014

A LAVANDA COMO CAMINHO

TALENTOS DA LITERATURA BRASILEIRA

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Page 4: A lavanda como caminho

Copyright © 2014 by Cláudia E. Obenaus

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográficoda Língua Portuguesa (Decreto Legislativo no- 54, de 1995)

Obenaus, Cláudia E.A Lavanda como caminho / Cláudia E. Obenaus – 1a- ed. – Barueri, SP : Novo Século Editora, 2014.

1. Aromaterapia 2. Plantas aromáticas - Uso terapêutico I. Título.

14-05842 cdd-615.321

Índices para catálogo sistemático:1. Aromaterapia : Terapia alternativa 615.321

2014IMPRESSO NO BRASIL

PRINTED IN BRAZILDIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO

À NOVO SÉCULO EDITORA LTDA.CEA – Centro Empresarial Araguaia II

Alameda Araguaia, 2190 – 11o- andarBloco A – Conjunto 1111

CEP 06455-000 – Alphaville Industrial – SPTel. (11) 3699-7107 – Fax (11) 3699-7323

www.novoseculo.com.br

Coordenação Editorial Nair Ferraz Diagramação Edivane Andrade de Matos/Efanet Design Capa Monalisa Morato Preparação Thais Coutinho Revisão Cristiane Toledo

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

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Dedico este livro a Vera S. Zattera, a quem devo o estímulo inicial para a sua criação.

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Este livro é um trabalho de referência que não tem como objetivo tratar, diagnosticar nem receitar.

As informações nele contidas são vivências e constata-ções de várias pessoas que amam a Aromaterapia.

O livro também não habilita nenhuma pessoa que o leia a receitar os óleos essenciais sem o treinamento aromatera-pêutico adequado.

Ao leitor

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Todos nós buscamos a tranquilidade. E nessa busca per-corremos caminhos que nem sempre nos levam a ela. Pelo contrário, muitas vezes nos afastam cada vez mais do ponto onde a tranquilidade se encontra. Aprendemos a querer coi-sas que na verdade não queremos, numa total incoerência com a nossa natureza.

Desde criança, somos levados a acreditar que a tranqui-lidade será encontrada no que está fora de nós, e, ao longo do tempo, são dadas a nós muitas possíveis fórmulas para isso, muitos caminhos que apontam para a tranquilidade tão desejada.

Acabamos acreditando que, fora daqueles padrões e con-ceitos, não existe a menor chance de ser feliz. E vamos por aí, conquistando bens, cargos, status, stress, menos a tranquili-dade. Surge, então, um sentimento de vazio quando constata-mos que não era bem aquilo que esperávamos. Uma sensação de ter vencido a corrida, e não ter levado o prêmio.

Introdução

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Mas a voz do ego nos chama de muitas formas, cada vez mais atrativas e convincentes. E de novo embarcamos nessa busca desenfreada. Uma busca sem conexão com a nossa von- tade mais profunda e verdadeira.

E, em meio a tantos chamados do ego, podemos ficar perdidos, tentando chegar aos muitos finais onde suposta-mente encontram-se as recompensas prometidas, mas que nunca se concretizam. Esses finais, ao contrário, apenas nos afastam cada vez mais da tão almejada tranquilidade.

Ou podemos escolher ouvir outra voz, uma voz que nos fala suavemente, convidando-nos a descobrir o nosso pró-prio caminho, sem receitas prontas e no qual cada um escre-ve sua própria história... É a voz da alma.

Para seguir o chamado da alma, é preciso coragem e desapego, além de muita fé.

Coragem porque em alguns pontos precisamos abrir a nossa própria estrada, passar por onde ninguém ainda pas-sou, buscando nos mergulhos profundos as pistas que indi-cam a direção do próximo passo.

Desapego porque é preciso abandonar antigos conceitos e regras, principalmente os do ego. É fundamental desaprender muitas coisas que aprendemos e deixar espaço para novas pos-sibilidades e formas de enxergar o mundo que fazem mais sen- tido para a nossa história.

Sair da forma, deixar de lado a crença de boa formação, que significa rigidez e tensão.

Quando crianças, somos colocados dentro de uma forma e ali vamos crescendo, muitas vezes nos sufocando de tanto aperto. Por causa dessa forma, esquecemo-nos de respirar, de sorrir e de cantar... Enfim, de sermos autênticos.

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Quando nos damos conta, estamos encouraçados, cheios de travas e preconceitos. Não conseguimos mais sair da for-ma; estamos presos. Para reverter isso, precisamos de cons- ciência, calma e paciência.

É através da respiração consciente que temos a chance de, lentamente, sair dessa forma e retornarmos à vida. E por que não agregar o poder da lavanda nesse caminho?

Foi justamente isso que aconteceu na minha vida, uma parceria que está valendo a pena.

A lavanda me ajudou a encontrar a fé para confiar nos caminhos que a alma nos indica, sabendo que aqui não exis-tem os limites da nossa mente racional e que coisas inacredi-táveis se tornam possíveis quando menos esperamos.

Quando nos abrimos para seguir a voz da alma, aos poucos vamos descobrindo que a tranquilidade não se encontra nos prometidos finais; ela está presente em cada um de nós. E isso fica claro à medida que nos conectamos com o nosso propósito divino. Percebemos, então, que só é possível encontrar a tranquilidade à proporção que nos co-nhecemos melhor e nos aproximamos de quem realmente somos. A tranquilidade se aproxima de nós à medida que nos aproximamos de nós mesmos.

Chega um momento em que não conseguimos mais fu-gir do chamado que vem da alma, porque essa voz vai se fa-zendo tão presente e natural que entendemos que é a única a nos indicar o caminho de volta à nossa casa. Escute a voz da sua alma e a siga. Você perceberá que existem muitas possi-bilidades além do conhecido, possibilidades até de ser feliz.

Por que escolhi a lavanda?Ou será que foi ela que me escolheu?

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Sempre gostei de flores e a primeira vez que essa precio-sidade me chamou atenção foi muito tempo atrás, quando imagens de campos de lavanda apareceram para mim num quadro maravilhoso, que foi a porta de entrada para o meu trabalho.

A cada olhada, meu coração se encantava mais e mais. Naquela época, era professora de alongamento e relaxamen-to; trabalhava a respiração com minhas alunas e sabia do seu poder curativo. Até que tive uma ideia: e se eu unisse a esses exercícios algum aroma? Que delícia seria...

Lembrei-me dos tempos de criança em que brincava na terra, buscava plantas aromáticas para enfeitar meus casteli-nhos, flor de mamão e de limão eram as minhas preferidas.

E assim começou essa paixão pela lavanda, uma flor que a natureza nos presenteia com tantas propriedades curativas.

Primeiro conheci o óleo essencial, para depois conhe-cer a planta, poder esmagar as florezinhas e absorver todo seu aroma. Um longo trajeto, cheio de paixão e recompensas cada vez que me aproximava mais da natureza. Um caminho construído sobre pedras áridas, mas que foi transformado num campo de lavandas, verdadeiras e felizes.

Diante disso, muitas vezes, deparo-me com o seguinte pensamento: como transmitir tudo o que está dentro do meu coração? Não sei se vou conseguir, mas a intenção é a melhor possível.

Pretendo compartilhar aqui os benefícios que a natureza me proporcionou e também tudo o que ela me ensinou. Se neste livro foco na lavanda, é porque ela me seduziu.

Essa planta devolveu-me o equilíbrio, diminuindo a mi-nha inquietação interna e acalmando minha vida cheia de

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preocupações e angústias, carente de alegria. Aprendi com ela que posso, pela respiração, alimentar minha espirituali-dade e assim eliminar todos os meus medos...

Medos, ah os medos... Tantos que não saberia descre- vê-los. A maioria infundada, criada pelas minhas próprias crenças adquiridas ao longo dos anos.

A lavanda também me ajudou a lidar com as couraças que se formaram pelas pequenas frustações do dia a dia e que me transformaram numa pessoa pouco flexível e desconfia-da. Permitiu-me ainda ser criança novamente, olhar para o meu interior, respirar mais fundo e relaxar. A lavanda me au-xiliou e ainda me auxilia a cada dia. Por isso, preciso dividir, compartilhar essa experiência!

No momento da dúvida, da encruzilhada, da indecisão, o que fazer?

Aquietar-se, passar uma gota de lavanda e limpar; deixar sair pela expiração tudo o que embaralha, atrapalha e está sem luz. No silêncio, pela respiração consciente e profunda, receber o novo, a luz, a clareza. É por tudo isso que ela me fascina, e eu me sinto em dívida por tanto auxílio e sabedoria.

Nas páginas seguintes, explico as formas de uso, ma-nuseio e a importância da respiração para completar esse processo.

Independentemente do lugar aonde se vai, o importante é que consigamos enxergar o sol, que simboliza a nossa luz interior, e ir ao seu encontro, em busca da nossa essência. Lembrando que depois da madrugada escura vem o amanhe-cer, trazendo uma nova luz. Vamos nos imaginar no meio de muita luz, tanta luz que não enxergamos mais nada.

Luz demais às vezes ofusca!

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Correria, compromissos, estresse... Isso é o nosso dia a dia. Para modificarmos esse quadro, precisamos entrar no quarto escuro.

O que acontece?No primeiro momento, não enxergamos nada, temos

medo e pensamos em desistir. Mas se mantivermos a calma e a paciência, lentamente começamos a enxergar o essencial. E o que era escuro transforma-se em luz. Luz suave, que re-genera e constrói.

Cada um de nós possui mecanismos para sintonizar essa frequência, que vem do coração e ecoa por toda a alma. Se prestarmos atenção, veremos que de vez em quando uma ou outra nota dessa melodia toca. Basta observar nossos senti-mentos e sublinhar aqueles momentos nos quais agimos com facilidade, contentamento e prazer, os quais nossas atribui-ções fluem naturalmente, os resultados são surpreendentes e temos a nítida sensação de que nascemos para fazer aquilo. Instantes em que nosso coração vibra!

E aí nos perguntamos: onde está o essencial?Somos nós que precisamos descobrir isso.A essência do que somos e desejamos está dentro de nós.

Sobre essa luz que brilha lá no fundo de nossa alma, há uma montanha de entulho que precisamos remover para ter acesso à nossa verdade.

Parece um verdadeiro labirinto, como o daquela história do Buda de barro:

Num vilarejo muito antigo, onde havia muitos seguidores de Buda, fizeram uma belíssima estátua do mestre em ouro maciço.

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Ao final do trabalho, maravilhados com a visão daquela obra esplêndida, eles se perguntaram se não haveria o risco de roubarem a estátua.

Então, decidiram cobri-la com barro.Assim, os seguidores de Buda contemplavam a estátua dia-

riamente com adoração e a sensação de estarem diante de algo sublime.

Mas aqueles que não sabiam da verdade não viam motivo para tamanha reverência a uma simples estátua de barro, tosca e sem valor.

Precisamos descobrir o ouro que se esconde sob as ca-madas de barro que a vida foi depositando sobre nosso ser; deixá-lo brilhar e banhá-lo com nossa própria luz.

Explorar todos os benefícios da lavanda, por meio do seu poderoso óleo essencial, ajuda-nos a atingir esse estado de consciência, principalmente se o associarmos a exercí-cios respiratórios.

Para mim, a lavanda é ouro, pois ajuda a “lavar” nossas imperfeições. Seu próprio nome lavare, que vem do latim, já evidencia isso: limpar, lavar, para descobrir nosso ouro ocul-to, talentos e virtudes para realizar algo extraordinário, mas é preciso estar disposto a buscar esse ouro dentro de nós.

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Minha vida tomou um rumo diferente depois que sou-be da história da minha mãe, que foi construída em cima de seus valores e crenças.

Uma pessoa sábia, carismática e que deixou muitos en-sinamentos. De todos, acho que o maior foi este aqui, escri-to dia após dia, e que só fui saber dele quando ela já tinha partido.

Numa segunda-feira à noite, depois do meu trabalho, chego em casa e a encontro radiante. Num sorriso de luz que nunca tinha visto, ansiosa pela minha chegada. Ela, que vi-nha passando por tantos momentos de tristeza que eu des-confiava que poderia ser uma depressão. Ela, que trabalhou a vida inteira, lutou para manter a família e ainda por cima teve sérios problemas de saúde.

Quando se aposentou e conseguiu comprar seu aparta-mento, logo nos primeiros meses, tudo aquilo parecia demais e foi aí que ela teve uma caída.

Uma crônica sobre a vida

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Mas, naquela segunda-feira, o semblante era outro. Tive certeza de que algo muito importante havia acontecido, e era algo de dentro, algo que vinha do coração.

Perguntei o que tinha acontecido. Ela pediu-me que sen-tasse e falou que tinha uma história linda para contar, que era um segredo até então, mas que naquele dia resolveu compar-tilhar.

Então sentei-me à mesa perto dela, que começou a narrar:“Quando eu tinha 18 anos, já trabalhava na fábrica, de

costureira e a nossa vida em casa era muito difícil... Isso tu já sabes. Minha mãe viúva, eu, a mais velha das meninas... Pre-cisávamos batalhar muito. Naquela época, nas idas e vindas para a fábrica, conheci um rapaz lindo, alto e muito simpáti-co. O nome dele é Rafael. Por várias vezes ele chegava perto de mim e me acompanhava em grande parte do trajeto para casa. Conversávamos muito e ficamos loucamente apaixona-dos. Aqueles encontros se tornaram frequentes e os nossos sonhos foram ficando cada vez mais lindos. Ele me recita-va poemas muito bonitos, pois era inteligente e lia bastante. Coisa que eu não tinha tempo nem condições de fazer, apesar de ser meu sonho. Até que chegou um dia em que ele não veio; estranhei. Mais um dia sem ele vir, e eu sem entender. Passaram-se assim semanas... Nunca mais vi o amado Rafael. Ficava imaginando o que tinha acontecido, e nada. Até que um dia, uma amiga da fábrica que sempre nos via disse:

– Sabe o Rafael, o teu namorado? Pois é, ele foi mandado para bem longe daqui, pois a família dele achava que tu não eras a namorada ideal para ele.

Quando ouvi isso, chorei muito, de tristeza, decepção, angústia... Sei lá, até de incompreensão e desilusão por ter

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sido abandonada sem uma palavra por um amor em que me entreguei de alma. Depois disso, nunca mais soube nada a respeito, nem queria. Passaram-se dias, meses, um ano até, quando o meu coração partido e machucado encontrou teu pai, que também estava com o coração ferido, pois acabara de perder seu grande amor, que além de morrer tinha-lhe deixa-do dois filhos pequenos (um de meses e outro de dois anos). Ele estava desesperado. Seus filhos, sem mãe; ele, sem seu grande amor, sozinho no mundo. A amizade logo se instalou e resolvemos nos casar, achando que iria dar certo. Lógico que não podia dar, mas nos dois queríamos ser felizes e achá-vamos que aquele era o caminho. Casamos, cuidei com muito amor dos teus dois irmãos e depois nasceram vocês duas, tua irmã e tu. Casamento com problemas, separação, caminhada sozinha neste mundo de provas. O trabalho e a paciência, so-mados à fé em Deus, foi o que sempre me sustentou. E hoje, minha filha, toca o telefone e eu atendo:

– Alô!– Quem fala, é a Elfi?– Sim, quem está falando?– É o Rafael, lembra-se de mim?Minha filha, quase desmaiei, não quis acreditar... Anos

e anos voltaram à minha memória, mas a voz era igual, dava até para sentir o perfume dele, de tão vivo que estava na mi-nha memória.

– Como esquecer? Claro que lembro... Como me achaste?– Foi Deus, tenho certeza, pois nunca perdi a esperança

em te encontrar.Começamos a chorar no telefone e quase não conseguí-

amos mais falar. O choro se misturava com o riso, e isso pa-recia mágico.

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– Fala, por onde andavas e como me achas-te?– Estava com a lista telefônica procurando um endereço

na tua cidade e acabei achando o teu nome, o mesmo nome daquela época, não quis acreditar! Não aguentei e liguei. Esta não é a primeira vez, das outras vezes ninguém atendia, mas eu não desisti, graças a Deus.

– És o mesmo Rafael, eu sinto, mas nunca entendi o que aconteceu, por que foste embora sem nada me dizer...

– Meu Anjo – era assim que ele me chamava –, de um dia para outro fizeram minha mala e parti para um colégio interno, longe da cidade, sem saber direito o que estava acon-tecendo. Chorei muito, pensava em ti dia e noite, e não sabia como te avisar. O tempo foi passando. Graças a minha fé em Deus, consegui encontrar algum alívio nos estudos, enterrei--me nos livros e estudava dia e noite. Só assim para poder aguentar a tristeza e incompreensão de tudo isso, mas saben-do que um dia iria te encontrar.

– Por que não me procuraste quando voltaste?– Procurei, mas soube que tinhas casado e pensei que

eu não significava nada para ti. Não quis atrapalhar teu ca-samento. Depois, mudei de cidade. Anos depois também casei e permaneço casado até hoje, mas no meu coração quem mora és tu. E tu, como é a tua vida? Estás casada, tens filhos?

Aí contei a ele por que casei, como estava desiludida com o que tinham me falado, que criei dois filhos amados do teu pai e que depois tive mais duas filhas. Que hoje sou di-vorciada e moro contigo. Choramos juntos novamente pelo tempo perdido, um longe do outro. Apesar da dor, lembran-do-me de vocês, filhas e filhos, sou grata ao universo por ter

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escolhido este caminho e ter vocês perto de mim. Em seguida ele falou:

– Também tenho duas filhas amadas, que são a razão da minha vida, e uma esposa companheira e amiga... E agora, Elfi, o que vamos fazer? Eu preciso te ver, sentir teu perfume e te abraçar, senão acho que vou morrer.

– Será que todos os nossos amores merecem isso? Vão sofrer, vão ocorrer discórdias, vai surgir desunião... acho que vamos ser mais fortes do que tudo isso, Deus vai nos iluminar...”

E assim se passaram oito anos, Rafael ligando para mi-nha mãe Elfi, sem nunca terem se encontrado. Minha mãe se transformou numa pessoa de luz e gentileza. Eu diria um anjo, pois foi isso que ela foi para mim. Chegava em casa, semana sim semana não, e ela vinha com novidades, falan-do que o Rafael tinha ligado e contava as novidades que ele tinha dito para ela ou simplesmente falava do poema que ele tinha recitado. E ela seguia seu caminho, se alimentando das ligações esporádicas, mas cheias de amor. Sua autoestima se elevou, tinha palavras de consolo e amizade para qualquer pessoa, estava sempre pronta e feliz. E, olha, os problemas de saúde não eram poucos, nem pequenos.

Até que chegou aquela quarta-feira em que ela me ligou chorando, dizendo que tinha que fazer uma cirurgia car- díaca, pois seu coração já não aguentava mais. A válvula do coração estava quase totalmente fechada. Havia urgência na troca.

Juntas, fomos lá... de mãos dadas, exames preparatórios, consultas, agendamento e ida à cidade onde ela faria a cirurgia.

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