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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS CURSO DE DIREITO A JURISDIÇÃO CÍVEL DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL, À LUZ DA EMENDA CONSTITUCIONAL N. 45/2004 RICARDO SCHMITT MAES Itajaí, maio de 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS CURSO DE DIREITO

A JURISDIÇÃO CÍVEL DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL, À LUZ DA EMENDA CONSTITUCIONAL N. 45/2004

RICARDO SCHMITT MAES

Itajaí, maio de 2008

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I

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS CURSO DE DIREITO

A JURISDIÇÃO CÍVEL DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL, À LUZ DA EMENDA CONSTITUCIONAL N. 45/2004

RICARDO SCHMITT MAES

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientadora: Professora Msc. Denise Schmitt Siqueira Garcia

Itajaí, maio de 2008

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II

AGRADECIMENTO

A meus pais pela dedicação e sacrifícios, a fim de propiciar à formação humana, voltada a edificação

de valores sociais;

A Dr.ª Ana Vera, por valorosas e primordiais lições de direito e principalmente por sua

amizade, com carinho e respeito pela integridade e seriedade sempre demonstradas;

A Prof.ª Denise, pelo aceite ao desafio da construção deste projeto, cujo objeto se mostra

alheio à realidade da academia, só posso agradecer;

A meus amigos e meus irmãos, aos quais dedico intensa afeição, pela paciência e companheirismo

no curso dos anos, ainda que distante ou sob o silêncio, os sentimentos persistem a florescer;

E uma menção especial, a AMAJME e ao Dr. Getúlio Corrêa a lembrança e agradecimento pela

receptividade.

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III

DEDICATÓRIA

A Dr.ª Ana Vera, juíza, chefe e amiga.

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IV

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e a

Orientadora de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, maio de 2008

Ricardo Schmitt Maes Graduando

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V

PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Ricardo Schmitt Maes, sob o título

Jurisdição Cível da Justiça Militar estadual, à luz da Emenda Constitucional n.

45/2004, foi submetida em onze de junho de dois mil e oito à banca examinadora

composta pelos seguintes professores: Denise Schmitt Siqueira Garcia,

(Orientadora e Presidente da Banca), Márcia Sarubbi Lippmann (Examinadora), e

aprovada com a nota 10 (dez).

Itajaí, 11 de junho de 2008.

Prof.ª Msc. Denise Schmitt Siqueira Garcia Orientadora e Presidente da Banca

Prof. Msc. Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

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VI

ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ADIN Ação Direta de Inconstitucionalidade

BM Bombeiros Militares

CNJ Conselho Nacional de Justiça

CJM Circunscrições Judiciárias Militares

CPC Código de Processo Cível

CPM Código Penal Militar

CPPM Código de Processo Penal Militar

CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

EC/45 Emenda Constitucional n.º 45/2004

EUA Estados Unidos da América

LOJM Lei de Organização Judiciária Militar

MG Estado de Minas Gerais

PAD Processo Administrativo-Disciplinar

PEC Projeto de Emenda Constitucional

PM Polícia Militar

RS Estado do Rio Grande do Sul

SC Estado de Santa Catarina

SP Estado de São Paulo

STF Supremo Tribunal Federal

STJ Superior Tribunal de Justiça

STM Superior Tribunal Militar

TJM Tribunal de Justiça Militar

TJMMG Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais

TJMSP Tribunal de Justiça Militar do Estado de São Paulo

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VII

TSE Tribunal Superior Eleitoral

TST Tribunal Superior do Trabalho

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VIII

ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que o Autor considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Ação

É o instrumento empregado a fim de provocar o Estado a entregar aos

interessados a tutela jurisdicional através do procedimento judicial, em que se

busque a satisfação de uma pretensão pertinente a um direito subjetivo violado1.

Ato administrativo

É a declaração daquele que estiver investido das prerrogativas públicas inerentes

ao poder do Estado, expressa por meio de providências jurídicas complementares

da norma, a fim de dar cumprimento a tal, estando tais atos sujeitos ao controle

de legitimidade2.

Ato disciplinar militar

É a expressão de intenção da Administração Militar, com o fim de preservar a

ordem ao regular funcionamento das Instituições Militares, impondo obrigações

aos seus servidores, modificando, extinguindo ou declarando direitos3.

Castrense

Castrense, vem da expressão latina castrorum, que designava os antigos

acampamentos militares, assim convencionou-se designar aquilo que se relaciona

com Militar como Castrense4.

1 SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria geral do processo: concreta, objetiva, atual. Vol. 2.

Florianópolis: Visual Books, 2002, p. 13/14. 2 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. São Paulo: Malheiros,

2003, p. 352. 3 BATISTA, Rogério Ramos; REZENDE, Fábio Teixeira. A competência da Justiça Militar para

as ações contra atos disciplinares. Revista de Estudos e Informações. n. 15. Belo Horizonte: TJM/MG, 2005, p. 21.

4 ASSUMPÇÂO, Roberto Menna Barreto. Direito penal e processual penal militar: Doutrina, jurisprudência e súmulas. Vol. I!. Rio de Janeiro: Destaque, 1999, p. 19.

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IX

Cível

É aquilo que se relaciona com o direito civil; a jurisdição em que se julgam as

causas cíveis5.

Civil

Concernente as ligações entre os cidadãos; que não possui natureza militar ou

eclesiástica6.

Controle de legalidade

É o meio, através do qual a Administração Pública confirma se foram observados

os requisitos para a formação de determinado ato emanado de autoridade

administrativa, analisando se o ato foi praticado por agente competente e se

foram cumpridas as formalidades essenciais a sua formação7.

Disciplina

É a estrita observância as normas de procedimento estabelecidas em todos os

níveis e graus da hierarquia militar8.

Emenda Constitucional

É o procedimento legislativo, através da atuação de determinados órgãos,

observando as formalidades estabelecidas, se busca a alteração de constituições

rígidas9.

5 DICIONÁRIO da língua portuguesa. Edições poliglota. São Paulo: Cia. Melhoramentos, 1992, p.

109. 6 DICIONÁRIO da língua portuguesa. Edições poliglota. São Paulo: Cia. Melhoramentos, 1992, p.

109. 7 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. Apelação cível n.

2002.019793-4. Relator Desembargador Volnei Carlin. Diário da Justiça, Florianópolis, p. 32, 15 set. 2004. Disponível em: <http://www.tj.sc.gov.br/institucional/diario/0409/dj11515.pdf>. Acesso em: 4 fev. 2008.

8 SANTOS, Mário Olímpio Gomes dos. O “status” Militar. Revista de Estudos e Informações. n. 05. Belo Horizonte: TJM/MG, 2000, p. 05.

9 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 24. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 61/62.

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X

Jurisdição

É um poder atribuído exclusivamente ao Estado, o qual o exerce por meio do

Judiciário, e pelo qual este diz o direito de maneira determinante e imperativa,

obrigando as partes ao cumprimento das suas decisões10.

Militar

Entende-se por militar qualquer pessoa, que venham a ser incorporadas as

Forças Armadas ou auxiliares, quer em tempos de paz ou de guerra, servindo a

estas em posto, graduação, ou sujeição à disciplina militar11.

Poder-Disciplinar

É o dever da Administração de aplicar punições administrativas aos seus

servidores, pelo cometimento de faltas ou violações no exercício de suas

funções12.

Processo Administrativo-Disciplinar

É o instrumento utilizado pela Administração Pública para apuração das faltas dos

agentes públicos e outras pessoas vinculadas aos seus serviços ou atividades,

definitiva ou transitoriamente, se sujeitando ao regime funcional da Administração,

submetendo-se à sua disciplina13.

Punição disciplinar

É o ato discricionário da Administração, com vista à aplicação de sanção a agente

público pelo cometimento de delito funcional previsto em norma estabelecida pelo

órgão a que se ache vinculada o servidor14.

10 BATISTA, Rogério Ramos; REZENDE, Fábio Teixeira. A competência da Justiça Militar para

as ações contra atos disciplinares. Revista de Estudos e Informações. n. 15. Belo Horizonte: TJM/MG, 2005, p. 22.

11 LOBÃO, Célio. Direito penal militar. 3. ed. atual. Brasília: Brasília Jurídica, 2006, p. 101. 12 ROSA, Márcio Fernando Elias. Direito administrativo. 2. ed. Vol. 19. São Paulo: Saraiva, 2001,

p. 62. 13 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 28. ed. São Paulo: Malheiros,

2003, p. 666. 14 ASSIS, Jorge César de. A reforma do Poder Judiciário e a Justiça Militar. Breves

considerações sobre seu alcance. Direito Militar. n. 51. Florianópolis: AMAJME, 2005, p. 26.

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XI

Transgressão Disciplinar

Entende-se por transgressão disciplinar, quaisquer violações aos deveres,

preceitos éticos e obrigacionais militares em sua expressão elementar e

simples15.

15 SANTANA, Luiz Augusto de. O Direito Militar aplicável às polícias militares em face do

poder disciplinar. Revista de Estudos e Informações. n. 20. Belo Horizonte: TJM/MG, 2007, p. 44/45.

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XII

SUMÁRIO

RESUMO.........................................................................................XIV

INTRODUÇÃO ................................................................................... 1

CAPÍTULO 1 ...................................................................................... 3

JURISDIÇÃO...................................................................................... 3 1.1 CONCEITO .......................................................................................................3 1.2 A FUNÇÃO DA JURISDIÇÃO ..........................................................................5 1.3 CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO...........................................................7 1.4 ESPÉCIES DE JURISDIÇÃO .........................................................................11 1.4.1 JURISDIÇÃO CÍVEL OU PENAL ...........................................................................12 1.4.2 JURISDIÇÃO ESPECIAL OU COMUM....................................................................13 1.4.3 JURISDIÇÃO SUPERIOR OU INFERIOR.................................................................15 1.5 LIMITES DA JURISDIÇÃO.............................................................................17 1.6 JURISDIÇÃO CONTENCIOSA.......................................................................19 1.7 JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA..........................................................................21 1.8 ÓRGÃOS JURISDICIONAIS E DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO.................22

CAPÍTULO 2 .................................................................................... 26

JUSTIÇA MILITAR ........................................................................... 26 2.1 CONCEITO .....................................................................................................26 2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA ...............................................................................31 2.3 A JUSTIÇA MILITAR DO BRASIL .................................................................37 2.3.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA ....................................................................................37 2.3.2 JUSTIÇA MILITAR NA CONSTITUIÇÃO DE 1988...................................................40 2.3.3 JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO.............................................................................42 2.3.4 JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL ...........................................................................45

CAPÍTULO 3 .................................................................................... 49

DA JURISDIÇÃO CÍVEL DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL NA EC/45................................................................................................ 49 3.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A EC/45 ............................................................49 3.2 A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL, À LUZ DA EC/45 ..54 3.2.1 DOS CRIMES MILITARES ...................................................................................55 3.2.2 AÇÕES JUDICIAIS CONTRA ATOS DISCIPLINARES MILITARES................................58 3.3 A JURISDIÇÃO CÍVEL DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL.........................62 3.4 O PROJETO DE EMENDA CONSTITUCIONAL N. 358/05 ...........................69

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XIII

CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................. 73

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .......................................... 75

ANEXOS........................................................................................... 87

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XIV

RESUMO

A presente monografia cuida da jurisdição cível da Justiça

Militar, com o advento da Emenda Constitucional n. 45/2004 (EC/45), a qual

ampliou as competências da Justiça Castrense estadual, atribuindo-lhe

competência para o conhecimento e julgamento das ações contra atos

disciplinares militares, relativamente aos militares das Forças Auxiliares16. Para

tanto, apresenta-se o conceito de jurisdição e seus desdobramentos, a fim de

compreender seu alcance para ao final fixar os limites da jurisdição cível da

Justiça Militar estadual, assim como as vantagens desta atribuição. Aborda-se

também a evolução desta Justiça especializada ao longo dos séculos, desde a

formação das primeiras hostes, quando surgiu a necessidade de se fixar regras

rígidas de conduta, com base na hierarquia e na disciplina, aplicando-se para

tanto punições aqueles que praticassem condutas positivas ou que deixassem de

praticá-las quando tivessem por dever fazê-lo, surgindo desta maneira a

necessidade da formação de um órgão a quem coubesse o julgamento deste

direito especial destinado as atividades castrenses, além de tratar acerca da

Justiça Militar brasileira, individualizamente, desde sua instalação através do

Alvará Régio de 1º de abril de 1808, e de sua inserção como órgão do Poder

Judiciário em 1934, até a aprovação da EC/45, que alterou de sobremaneira a

estrutura do Judiciário. Na seqüência, são estudadas as principais inovações

trazidas pela EC/45, entre as quais se encontra a ampliação da competência da

Justiça Militar estadual, a qual conferiu a esta à competência para o julgamento

de ações cíveis contra quaisquer atos afetos a disciplina militar. De igual modo, é

analisado o teor do Projeto de Emenda Constitucional n. 358/2005 (PEC 358/05),

o qual apresenta a segunda fase de reforma do Judiciário. Ao final, são

apresentadas as respostas aos problemas propostos, realizando algumas

digressões acerca do objeto da presente monografia, e apontando os limites da

jurisdição da Justiça Militar e as vantagens desta.

16 Como preceitua o § 6º, do art. 144, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988:

as polícias militares e corpos de bombeiros militares são forças auxiliares e reservas do Exército.

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1

INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto a pesquisa da

jurisdição cível da Justiça Militar e as suas implicações, através das novas

competências atribuídas pela EC/45, a qual veio apresentar um novo panorama a

este órgão judicial especial, conferindo aos Juízos Militares estaduais a

competência para processar e julgar ações contra atos disciplinares militares.

Seu objetivo geral é compreender os alcances dessa nova

jurisdição, a fim de verificar quais os limites da jurisdição cível da Justiça Militar

estadual, atribuída pela EC/45, analisando para tanto as posições doutrinárias e

assentamento jurisprudencial.

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, no qual irá se tratar

da Jurisdição, destacando sua concepção dentro da ordem estatal estabelecida,

assim como a função essencial, com vista à pacificação de conflitos sociais, além

das características identificadoras que a norteiam e de suas espécies, uma vez

que embora una e indivisível, está dividida em espécies, tendo em vista à

especificidade do direito objetivo material, esclarecendo os limites ao seu

exercício e a divisão da Jurisdição, para ao final tratar dos órgãos incumbidos de

exercê-la.

No Capítulo 2, será tratado da Justiça Militar, como órgão

especial dentro da estrutura do Judiciário, revestido de caracteres peculiares,

estando sua jurisdição restrita as situações expressamente previstas em lei,

apontando sua evolução histórica, dentro do contexto global, desde o surgimento

do primeiro agrupamento de homens, os quais formaram o primeiro exército até

os dias atuais dentro da realidade brasileira, a qual se divide em Justiça Militar da

União e estadual, estando à jurisdição de cada uma fixada em razão da pessoa.

No Capítulo 3, será abordado a jurisdição cível da justiça

militar, à luz da EC/45, trazendo inicialmente comentários acerca da referida

Emenda e de sua repercussão de forma geral, abordando a seguir a competência

da Justiça Militar com a promulgação da mesma, tanto na esfera do direito penal

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militar quanto cível, como meio de adentrar especificamente no objeto do

presente trabalho científico, qual seja, a jurisdição cível da Justiça Militar estadual,

ainda repercutindo as eventuais alterações legislativas que possam ocorrer com a

aprovação do PEC 358/05.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões

sobre a jurisdição cível da Justiça Militar estadual, acompanhando a evolução

deste órgão de jurisdição especial, assim como a possível alteração na

competência da Justiça Militar da União, com a aprovação do PEC 358/05.

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

questões de pesquisa e suas hipóteses:

� Quais os limites da jurisdição cível da Justiça Militar estadual? Conforme estabelece o § 4º do art. 125 da Carta Republicana de 1988, compete a Justiça Militar estadual processar e julgar as ações judiciais contra atos disciplinares militares. � Quais as vantagens introduzidas pela ampliação da jurisdição da

Justiça Militar? Por se tratar de ramo especializado do direito, o que exige um maior aperfeiçoamento do julgador, oportunizará aos litigantes um julgamento mais condizente com os princípios castrenses, tornando mais justo, saciando os anseios sociais a medida da correta aplicação do direito ao caso, destinando a tutela especifica aos participes, evitando incongruências incompressíveis aos olhos da sociedade.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase

de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, nas diversas fases da Pesquisa,

foram acionadas as Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito

Operacional e da Pesquisa Bibliográfica.

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3

CAPÍTULO 1

JURISDIÇÃO

1.1 CONCEITO

Jurisdição, expressão do latim, jurisdictio: dizer o direito – a

qual é um poder do Estado, através do qual este pela aplicação do direto, busca

solucionar as pretensões e os conflitos, através da prestação jurisdicional.

A jurisdição é uma garantia constitucional, estabelecida no

art. 5º, XXXV17, da Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB/88),

destinada aos cidadãos, tendo por fim a proteção da sociedade contra o arbítrio,

garantindo ao cidadão os direitos essenciais18.

Na concepção de Reale: “O juiz, no ato de prolatar uma

sentença, sempre o faz em nome do Estado. A jurisdição, que é o ato através do

qual o Poder Judiciário se pronuncia sobre o objeto de uma demanda, é

indiscutivelmente um serviço público”.19

Neste vértice, jurisdição trata-se essencialmente de um

poder, atividade ou função estatal, com a qual se realiza a vontade coletiva,

revelando o direito ao conflito em questão20, nesta linha Theodoro Júnior

conceitua-a como função estatal, definindo-a como a função com a qual o Estado

manifesta e executa o que a lei deseja diante de um conflito21.

17 “XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.” 18 MARTINS, Ives Gandra da Silva. Processo judicial tributário. São Paulo: Quartier Latin, 2005.

p. 99/100. 19 REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 345. 20 FRIEDE, Reis. Comentários ao código de processo civil. Vol. 1. 3. ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2002. p. 06. 21 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: Teoria geral do direito

processual civil e processo de conhecimento. 44. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 40.

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4

Sobre jurisdição, lecionam Cintra, Grinover e Dinamarco:

(...) podemos dizer que é uma das funções do Estado, mediante a qual este se substitui aos titulares dos interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificação do conflito que os envolve, com justiça. Essa pacificação é feita mediante a atuação da vontade do direito objetivo que rege o caso apresentado em concreto para ser solucionado; e o Estado desempenha essa função sempre mediante o processo, seja expressando imperativamente o preceito (através de uma sentença de mérito), seja realizando no mundo das coisas o que o preceito estabelece (através da execução forçada).22

Assim, como assevera Marinoni, sendo a jurisdição a

manifestação do poder do Estado, esta, de acordo com os fins e objetivos

daquele, terá objetos diversos, ou seja, seguirá suas ideologias e preceitos,

atendendo a sua essência, de modo a atingir os fins sociais, políticos e jurídicos23.

E como conceitua Schlichting: “A jurisdição é um instituto

jurídico-processual específico que consiste no poder do qual estão investidos os

julgadores que compõem os juízos”24.

Colaciona-se ainda o conceito de jurisdição de Dalabrida: “É

o poder de aplicar o direito objetivo a situação concreta, com a finalidade de

assegurar a paz social”25.

Chiovenda, por sua vez ao conceituar jurisdição, afirma:

Jurisdição é a função do Estado que tem por escopo a atuação da vontade concreta da lei por meio da substituição, pela atividade de órgãos públicos, da atividade de particulares ou de outros órgãos

22 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.

Teoria geral do processo. 14. ed. ampl. e atual. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 129. 23 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Manual do processo de

conhecimento: A tutela jurisdicional através do processo de conhecimento. São Paulo: RT, 2001, p. 32.

24 SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria geral do processo: Concreta – Objetiva – Atual. Vol. 1. Florianópolis: Visual Books, 2002, p. 26.

25 DALABRIDA, Sidney Eloy. Direito processual penal. Vol. 6. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2006, p. 61.

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5

públicos, já no afirmar a vontade da lei, já no torná-la, praticamente, efetiva.26

E como exemplifica Loureiro Neto:

Vimos anteriormente que na relação processual encontramos, de um lado, o órgão do Ministério Público, que é o titular da ação penal, e, de outro, o acusado, a quem é imputada a prática de uma infração penal e que procura preservar sua liberdade, havendo, como ressaltamos, verdadeiro conflito de interesses, que será dirimido pelo Conselho de Justiça. Pois bem. Esse poder atribuído ao órgão judicante de aplicar o direito objetivo, de dizer o direito, chama-se jurisdição27.

Assim se conceituam jurisdição como o poder, a função e a

atividade exercidos pelo Estado, com o fim de prestar aos interessados a tutela

jurisdicional por meio do devido processo, com vista a estabelecer a harmonia

social.

1.2 A FUNÇÃO DA JURISDIÇÃO

Através do exercício da jurisdição o Estado, exercendo a

tutela jurídica sobre os interesses em conflito, estabelece aos particulares o direito

à tutela jurídica, através da sua atividade precípua de dirimir conflitos e decidir

controvérsias28.

À luz do texto constitucional, escreve Silva:

De passagem, já dissemos que os órgãos do Poder Judiciário têm por função compor conflitos de interesses em cada caso concreto. Isso é o que se chama função jurisdicional ou simplesmente jurisdição, que se realiza por meio de um processo judicial, dito,

26 CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de direito processual civil. Vol. 2. São Paulo: Saraiva,

1965, p. 11. 27 LOUREIRO NETO, José da Silva. Processo penal militar. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2000, p.

103. 28 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: Teoria geral do direito

processual civil e processo de conhecimento. 44. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 39/40.

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6

por isso mesmo, sistema de composição de conflitos de interesses ou sistema de composição de lides29.

Cintra, Grinover e Dinamarco ao discorrerem sobre a função

da jurisdição, esclarecem, que está tem por fim a pacificação dos anseios sociais,

através da aplicação do direito, por meio do devido processo legal, através do

qual o Estado exerce legitimamente a função jurisdicional30.

Carnelutti ao escrever sobre as misérias do processo penal,

afirma que o julgador ao decidir uma causa estabelece quem tem razão, dizendo

com qual das partes está a verdade, a qual só poderá estar de um lado, sendo

esta a função da atividade judicante31.

Reale, em suas lições preliminares, exemplifica de forma

objetiva a função da jurisdição:

(...) o Poder Judiciário sempre age em função do que é proposto ou posto pelos interessados, visando a atender, de maneira direta, à pretensão das partes. O interesse do Estado em fazer justiça opera-se, concretamente, através do interesse das partes na demanda.

O Direito Processual objetiva, pois, o sistema de princípios e regras, mediante os quais se obtém e se realiza a prestação jurisdicional do Estado necessária à solução dos conflitos de interesses surgidos entre particulares, ou ente estes e o próprio Estado32.

Na análise da função jurisdicional, pode-se dizer que é o

meio através do qual o Judiciário provocado a resolver uma situação

controvertida, através do devido processo legal, substituindo os interessados,

29 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 24. ed. rev. e atual. São

Paulo: Malheiros, 2005, p. 553. 30 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.

Teoria geral do processo. 14. ed. ampl. e atual. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 129. 31 CARNELUTTI. Francesco. As misérias do processo penal. Traduzido por José Antônio

Cardinalli. Campinas: Bookseller, 2002. p. 39. 32 REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 346.

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busca a solução do conflito, fazendo ao final coisa julgada33, seguindo também a

concepção adotada por Wambier, é a função do Estado, exercida pelo Judiciário,

como o objetivo de materializar os direitos, por meio de instrumentos que

possibilitem fazê-lo no seu tempo34.

De tal sorte, seguindo a linha de raciocínio de Theodoro

Junior, a jurisdição tem por função estabelecer aos casos concretos, nos quais

hajam uma pretensão resistida, a tutela jurídica, a qual será exercida pelo Estado

em substituição aos titulares da relação jurídica, com o fim de promover a

harmonia social, surgindo como meio de estabelecer aos cidadãos uma regra a

ser obedecida, por meio do instrumento adequado, através do qual o Estado,

proclamará a tutela jurídica, declarando aos casos concretos o direito que se

põem35.

1.3 CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO

Embora a doutrina ora cite princípios, ora características da

jurisdição, apresentando por vezes, diferentes elementos, por questões didáticas

adota-se no presente trabalho a classificação de Friede36, segundo o qual as

características da jurisdição, além da inércia são: inevitabilidade, indelegabilidade,

inafastibilidade, improrrogabilidade, investidura e juiz natural.

Nery Junior e Andrade Nery37, ao dissertarem acerca da

inevitabilidade da jurisdição, explicam que uma vez que a jurisdição serve de

instrumento a obter a pacificação social, aqueles que tiveram suas pretensões

substituídas pelo Estado, devem acatar a resolução dada por tal, quando ocorrer

à coisa julgada, pois imperativo a circunstância. 33 Arruda Alvim, apud MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 22. ed. São Paulo: Atlas,

2007, p. 488. 34 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Breves comentários à nova sistemática processual civil. 3. ed.

São Paulo: RT, 2005, p. 26. 35 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: Teoria geral do direito

processual civil e processo de conhecimento. 44. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 40/41. 36 FRIEDE, Reis. Comentários ao código de processo civil. Vol. 1. 3. ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2002, p. 11/13. 37 NERY JÚNIOR, Nelson; ANDRADE NERY, Rosa Maria. Código de processo civil comentado

e legislação extravagante. 7. ed. São Paulo: RT, 2003, p. 789.

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A indelegabilidade, por sua vez, veda que quaisquer dos

Poderes possam delegar seu múnus constitucional, de tal sorte, que ao

Legislativo, ressalvada as hipóteses previstas no texto Constitucional, não

caberão a prestação da tutela jurisdicional38, ainda como esclarece Cintra,

Grinover e Dinamarco:

O principio da indelegabilidade é, em primeiro lugar, expresso através do princípio constitucional segundo o qual é vedado a qualquer dos Poderes delegar atribuições. A constituição fixa o conteúdo das atribuições do Poder Judiciário e não pode a lei, nem pode muito menos alguma deliberação dos próprios membros deste, alterar a distribuição feita naquele nível jurídico-positivo superior. Além disso, no âmbito do próprio critério e talvez atendendo à sua própria conveniência, delegar funções a outro órgão.39

A inafastabilidade da jurisdição encontra escopo no art. 5º,

XXXV, da CRFB/88, o qual estabelece que ao ser instado o Judiciário não pode

declinar de seu encargo, ainda que a pretexto de lacuna ou obscuridade da lei40.

Neste sentido, lecionam Cintra, Grinover e Dinamarco:

O principio da inafastabilidade (ou principio do controle de jurisdição), expresso na Constituição (art. 5º, inc. XXXV), garante a todos o acesso ao Poder Judiciário, o qual não pode deixar de atender quem venha a juízo deduzir uma pretensão fundada no direito e pedir solução para ela.41

A improrrogabilidade, é mais que previsão legal, é uma

garantia constitucional, eis que as atribuições de cada órgão fracionário do

38 FRIEDE, Reis. Comentários ao código de processo civil. Vol. 1. 3. ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2002, p. 11. 39 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.

Teoria geral do processo. 14. ed. ampl. e atual. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 136/137. 40 FRIEDE, Reis. Comentários ao código de processo civil. Vol. 1. 3. ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2002, p. 12. 41 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.

Teoria geral do processo. 14. ed. ampl. e atual. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 137.

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Judiciário é traçada pela CRFB/88, sendo defeso ao legislador ordinário alterar,

reduzir ou ampliar os poderes jurisdicionais destes42.

Quanto à investidura, esta se relaciona à noção que o

julgador somente poderá conhecer e resolver dos conflitos, quando investido

legitimamente na função, segundo os preceitos da lei43, tal princípio cerra fileiras a

outro, talvez de maior envergadura, posto que o princípio do juiz natural, o qual

em sua essência prevê que somente aquele a quem a lei atribuir o poder poderá

exercer a função jurisdicional, sendo aquele integrado a Judiciário, asseguradas

todas as garantias, vedando a criação de tribunais ou juízos de exceção, e

estabelecendo estrita obediência as regras que estabelecem competências44.

Ainda segundo excerto de Theodoro Júnior:

só pode exercer a jurisdição aquele órgão a que a Constituição atribui o poder jurisdicional. Toda origem, expressa ou implícita, do poder jurisdicional só pode emanar da Constituição, de modo que não é dado ao legislador ordinário criar juizes ou tribunais de exceção, para julgamento de certas causas, nem tampouco dar aos organismos judiciários estruturação diversa daquela prevista na Lei Magna.45

Por conseguinte, como esclarece Soares, é “o Principio do

Juiz Natural, onde ninguém será processado, nem sentenciado, senão pela

autoridade competente que é aquela cujo poder jurisdicional vem fixado em

regras predeterminadas”.46

42 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: Teoria geral do direito

processual civil e processo de conhecimento. 44. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 43. 43 FRIEDE, Reis. Comentários ao código de processo civil. Vol. 1. 3. ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2002., p. 12. 44 MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p.

304. 45 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: Teoria geral do direito

processual civil e processo de conhecimento. 44. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 43. 46 SOARES, Carlos Alberto Marques. Da reforma do Poder Judiciário e a Justiça Militar da

União – Considerações. Direito Militar. n. 57. Florianópolis: AMAJME, 2006, p. 08.

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Pela característica da inércia, a Jurisdição permanece

paralisada, até que seja impulsionada pelos interessados, os quais deverão levar

a apreciação dos julgadores a sua pretensão47.

Neste sentido, é o magistério de Cintra, Grinover e

Dinamarco:

Assim, é sempre uma insatisfação que motiva a instauração do processo. O titular de uma pretensão (penal, civill, trabalhista, tributária, administrativa, etc.) vem a juízo pedir a prolação de um provimento que, eliminando a resistência, satisfaça a sua pretensão e com isso elimine o estado de insatisfação; e com isso vence a inércia a que estão obrigados os órgãos jurisdicionais através de dispositivos como o do art. 2º do Código de Processo Civil (‘nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou o interessado a requerer, nos casos e formas legais’) e o do art. 24 do de Processo Penal.48

Neste desiderato, Marcato49 explica que a inércia é um dos

princípios fundamentais da atividade jurisdicional, eis que ressalvadas as

exceções, a tutela não pode ser prestada se não for provocada pela parte

interessada, busca-se assim a intervenção mínima do Estado nas relações

privadas, quando esta não foi requerida, bem como preservando a imparcialidade

do julgador.

Desta maneira, o interessado que desejar a tutela

jurisdicional deverá pleiteá-la, sendo assegurado a todos o direito de ação, não

podendo o Judiciário eximir-se do conhecimento da causa, sob a alegação de

obscuridade na lei, sendo assegurado àqueles que buscarem a prestação deste

serviço público o devido processo legal, garantido no texto constitucional.

Ainda como ensinam Nery Junior e Andrade Nery:

47 SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria geral do processo: Concreta – Objetiva – Atual. Vol. 1.

Florianópolis: Visual Books, 2002, p. 158. 48 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.

Teoria geral do processo. 14. ed. ampl. e atual. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 133. 49 MARCATO, Antonio Carlos. Código de processo civil interpretado. 2. ed. São Paulo: Atlas,

2005, p. 38.

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Princípio da inércia. O processo se origina por iniciativa da parte (nemo judex sine actore; ne procedat judex ex officio), mas se desenvolve por impulso oficial (CPC 262). Podem provocar a atividade jurisdicional a parte ou interessado (jurisdição voluntária), bem como o Ministério Público nos casos em que estiver legitimado a ajuizar a ação civil pública (CF 129 III; CPC 81; LACP 5º caput; CDC 82 I).50

Cintra, Grinover e Dinamarco, em referência a Chiovenda,

apontam a teoria doutrinária tradicional de classificação da jurisdição, apontando

o caráter substitutivo, pelo qual como já referido, o Estado, na atividade

jurisdicional, substitui os interessados, com o fim de dirimir os conflitos e resolver

os conflitos interpessoais; além do escopo jurídico de atuação do direito, a qual

citando Grinover esclarece Friede:

(...) só existiria um comando completo, com referência a determinado caso concreto (lide), nos momentos em que é prolatada a sentença a respeito do tema; o escopo do processo seria, então, a justa composição da lide, ou seja, o estabelecimento da norma de direito material que disciplina o caso, propiciando razão a uma das partes.51

Assim, tem-se o escopo jurídico da jurisdição, como o meio

através do qual o Estado garante o cumprimento do direito objetivo material, de

maneira a preservar a autoridade e em busca da harmonia social52.

1.4 ESPÉCIES DE JURISDIÇÃO

A jurisdição, como já referido, é função indeclinável do

Estado (art. 5º, XXXV, da CRFB/88), sendo esta una e indivisível, entretanto,

encontra-se classificada em espécies, que a seguir passo a analisar.

50 NERY JÚNIOR, Nelson; ANDRADE NERY, Rosa Maria. Código de processo civil comentado

e legislação extravagante. 7. ed. São Paulo: RT, 2003, p. 327. 51 FRIEDE, Reis. Comentários ao código de processo civil. Vol. 1. 3. ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2002, p. 09. 52 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.

Teoria geral do processo. 14. ed. ampl. e atual. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 130/131.

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1.4.1 Jurisdição cível ou penal

A jurisdição enquanto função do Estado pode compreender

diversos interesses circundando diversas contendas, acerca de matérias

específicas, porém em atenção à especificidade de cada matéria, para a melhor

resolução dos conflitos, se faz necessário que o julgador se especialize, e

seguindo esta premissa surge o direito processual penal, cível e do trabalho53.

Acerca da jurisdição cível ou penal, inicialmente consoante

excerto de Cintra, Grinover e Dinamarco:

Em todo o processo, as atividades jurisdicionais exercidas têm por objeto uma pretensão. Essa pretensão, porém, varia de natureza, conforme o direito objetivo material em que se fundamenta. Há, assim, causas penais, civis, comerciais, administrativas, tributárias etc. Com base nisso, é comum dividir-se o exercício da jurisdição entre os juízes de determinado país, dando a uns a competência para apreciar as pretensões de natureza penal e a outros as demais. Fala-se, assim, em jurisdição penal (causas penais, pretensões punitivas) e jurisdição civil (por exclusão, causas e pretensões não penais). A expressão ‘jurisdição civil’, ai, é empregada em sentido bastante amplo, abrangendo toda a jurisdição não penal.54

Ainda os mesmos autores55, acerca do relacionamento entre

as diferentes espécies de jurisdição, apontam que tal separação por matéria, se

dá em razão de uma necessidade de racionalização do trabalho, uma vez que

sempre subsistirá a co-relação em as diferentes matérias, citando que ilicitude

penal sempre irá gerar um ilícito cível, cominando, entretanto, diversas sanções.

Assim, embora o direito material aplicável a cada uma das

espécies de jurisdição seja diferente, estas sempre seguiram umbilicalmente

53 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: Teoria geral do direito

processual civil e processo de conhecimento. 44. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 43. 54CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.

Teoria geral do processo. 14. ed. ampl. e atual. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 140/141. 55 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.

Teoria geral do processo. 14. ed. ampl. e atual. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 141.

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vinculadas, haja vista que por inúmeras estas versarão sobre a mesma questão,

embora seus objetivos e resultados sejam distintos.

Nas palavras de Schlichting:

Em virtude dos princípios que regem, especificamente, os Processos Civis e os Processos Criminais, a Legislação estabelece alguns pontos de contato entre ambos no que concerne ao aproveitamento de alguns atos processuais, como por exemplo, provas e decisões.56

E destaca-se da obra de Reale:

O Direito Processual discrimina-se em duas subespécies ou categorias, que são o Direito Processual Civil, destinado a solução dos conflitos que surgem nas atividades de ordem privada, de caráter civil ou comercial (o novo Código relativo a essas regras está em vigor desde 1973) e o Direito Processual Penal, que regula a forma a forma pela qual o Estado resolve os conflitos surgidos em razão de infrações da lei penal.57

Como visto a jurisdição divide-se em duas grandes espécies:

cível e criminal, estando sob a égide da primeira todas as causas não-criminais,

enquanto a segunda versa apenas acerca de matéria criminal, tal divisão parte do

princípio da especialidade das leis, bem como da necessidade de maior

especialização do julgador no caso concreto, devido a suas nuances e

peculiaridades.

1.4.2 Jurisdição especial ou comum

A jurisdição também se divide em especial e comum, pois

como explicam Marinoni e Arenhart58, porquanto, a competência para o

conhecimento de determinada matéria será exercida por um órgão do Judiciário,

56 SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria geral do processo: Concreta – Objetiva – Atual. Vol. 1.

Florianópolis: Visual Books, 2002, p. 194. 57 REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 346. 58 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Manual do processo de

conhecimento: A tutela jurisdicional através do processo de conhecimento. São Paulo: RT, 2001, p. 34.

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de conformidade com os preceitos estabelecidos pela CRFB/88, sendo a Justiça

especial, aquela incumbida do conhecimento das causas específicas, a qual em

regra será definida em face da especificidade da causa, em regra dotada de um

regramento jurídico próprio e voltada a determinadas pessoas ou grupo de

pessoas.

Neste liame, surge as Justiças Militares, Eleitoral e

Trabalhista, as quais em razão de seu caráter receberam tratamento especial,

estando previstas nos arts. 111 e ss., 118 e ss. e 122 e ss., da CRFB/88.

Por sua vez, a Justiça Federal e a Estadual, são atribuídas à

competência para o conhecimento das matérias em geral, de fora que por

exclusão, o que não for da competência das Justiças especializadas será de

competência da Justiças comuns.

E Ferreira Filho59, descreve: “Acentuando a complexidade

dessa organização, contemporaneamente se usa prever organismos destinados a

aplicar a legislação sobre matéria determinada”.

Cintra, Grinover e Dinamarco, ao discorrerem sobre o

assunto ensinam:

A Constituição instituiu vários organismos judiciários, cada um deles constituindo uma unidade administrativa autônoma e recebendo da própria Lei Maior os limites de sua competência. Trata-se da Justiça Federal (comum), da Justiça Militar, da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho, das Justiças do Estado (permite-se também que as unidades federadas instituam as suas Justiças Militares Estaduais). E a doutrina costuma, levando em conta as regras de competência estabelecidas na própria Constituição, distinguir entre ‘Justiças’ que exercem jurisdição especial e ‘Justiças’ que exercem jurisdição comum.60

59 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 32. ed. rev. e atual.

São Paulo: Saraiva, 2006, p. 252. 60 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.

Teoria geral do processo. 14. ed. ampl. e atual. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 98.

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E Schlichting61, ao explicar acerca da administração da

Justiça, divide aquelas que possuem jurisdição especial, dentre as quais se

compreendem as Justiças do Trabalho, Militar e Eleitoral, e ainda atribuições

respectivas e específicas do Tribunal Superior do Trabalho (TST), do Tribunal

Superior Eleitoral (TSE), do STM e dos Órgãos Jurisdicionais a eles diretamente

subordinados; referenciando também as Justiças comuns que abrangem a Justiça

Federal e as Justiças Estaduais, é atribuição do Superior Tribunal de Justiça

(STJ) e dos órgãos diretamente a eles subordinados.

1.4.3 Jurisdição superior ou inferior

Quanto à jurisdição superior ou inferior, deve-se esclarecer

inicialmente que esta é atribuída em razão da competência atribuída por lei ao

julgador inferior ou superior, como explica Schlichting:

Cada órgão é encarregado de dar solução a parcelas de atividades jurisdicionais que lhe é destinada, conforme já vimos.

Assim, ao Supremo Tribunal Federal, que ocupa a cúpula da pirâmide hierárquica do Poder Judiciário, além de outras, foi destinada a atribuição principal de ‘guardar a constituição’, e o processamento e julgamento, de forma originária ou em grau de recurso, dos feitos que lhe são atribuídos pela Constituição.

Aos Tribunais Superiores e aos Órgãos Jurisdicionais que lhes são hierarquicamente subordinados, cabe a administração das Justiças Especiais e da Justiça Comum, foram destinados os processamentos e julgamentos, de forma originária ou em grau de recurso, daqueles feitos que lhe são atribuídos pela Constituição, pela Legislação Processual e pela Legislação Relativa à organização judiciária.62

Cintra, Grinover e Dinamarco, sempre com muita

propriedade explicam:

61 SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria geral do processo: Concreta – Objetiva – Atual. Vol. 1.

Florianópolis: Visual Books, 2002, p. 164. 62 SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria geral do processo: Concreta – Objetiva – Atual. Vol. 1.

Florianópolis: Visual Books, 2002, p. 163/164.

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Assim, chama-se jurisdição inferior aquela exercida pelos juízes que ordinariamente conhecem do processo desde o seu início (competência originária): trata-se, na Justiça Estadual, dos juízes de direito das comarcas distribuídas por todo o Estado, inclusive da comarca da Capital. E chama-se jurisdição superior a exercida pelos órgãos a que cabem os recursos contra decisões proferidas pelos juízes inferiores (no Estado de São Paulo: Tribunal de Justiça, 1º e 2º Tribunais de Alçada Civil e Tribunal de Alçada Criminal). O órgão máximo, na organização judiciária brasileira, e que exerce a jurisdição em nível superior ao de todos os outros juízes e tribunais, é o Supremo Tribunal Federal.63

Ferreira Filho64, ao explicar sobre a organização da justiça

no Brasil, esclarece que seguindo um critério de duplicação, a Justiça divide-se

em federal e estadual, observando sempre o comando de um órgão federal, que

exerça jurisdição sob todos os demais, assim o Supremo Tribunal Federal (STF),

órgão máximo do judiciário exercendo a guarda da constituição.

Também José Afonso da Silva, ao discorrer sobre o art. 9265

da CRFB/88, esclarece que o Judiciário constituído de forma hierárquica, possui

um órgão superior, o STF, um órgão cuja atribuição precípua é a defesa do

ordenamento jurídico federal, o STJ, além dos Tribunais Superiores Federais,

com atribuições especifica. Nesta estrutura, segue ainda os Tribunais e Juízos

63 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.

Teoria geral do processo. 14. ed. ampl. e atual. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 145. 64 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 32. ed. rev. e atual.

São Paulo: Saraiva, 2006, p. 252/253. 65 “Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário:

I – O Supremo Tribunal Federal;

I-A – O Conselho Nacional de Justiça;

II – O Superior Tribunal de Justiça;

III – Os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais;

IV – Os Tribunais e Juízes do Trabalho;

V – Os Tribunais e Juízes Eleitorais;

VI – Os Tribunais e Juízes Militares;

VII – Os Tribunais e Juízes dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.”

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Federais inferiores e os Judiciários dos Estados e do Distrito Federal,

organizando-se de tal maneira a ordem judiciária no Brasil66.

Maneira pela qual, em observância a hierarquia entre os

órgãos jurisdicionais, conforme a competência privativa de cada órgão, sendo a

jurisdição inferior exercida pelos julgadores originários, e a jurisdição superior

pelos órgãos incumbidos da revisão dos julgados.

1.5 LIMITES DA JURISDIÇÃO

Embora como preveja o texto constitucional, a jurisdição,

deverá ser exercida ainda que haja obscuridade ou lacuna na lei (art. 5º, XXXV,

da CRFB/88), a mesma sofre limitações, tanto internas quanto internacionais, vez

que, mormente os Estados, por questões de conveniência e de viabilidade limitam

sua jurisdição, de acordo com normas internacionais de direito, bem como deixam

de conhecer causas que não possuam possibilidade jurídica.

Como destaca Cintra, Grinover e Dinamarco, em alguns

Estados também a limite quanto às causas de valor insignificante67.

Sobre os limites da jurisdição, como explica Cintra:

Se o processo começa por iniciativa da parte (Código de Processo Civil, artigo 262), dado que nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou o interessado a requerer, nos casos e formas legais (Código de Processo Civil, artigo 2º) é o pedido da parte que estabelece os limites do exercício da jurisdição, no caso concreto. Assim, o juiz decidirá a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe vedado conhecer de questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte (Código de Processo Civil, artigo 128). Em conseqüência, conforme estabelecido no caput da disposição em exame, é defeso ao juiz proferir sentença, a favor do autor, de natureza

66 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 24. ed. rev. e atual. São

Paulo: Malheiros, 2005, p. 556/557. 67 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.

Teoria geral do processo. 14. ed. ampl. e atual. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 149/150.

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diversa da pedida, ou em objeto diverso do que lhe foi demandado.68

Santos, ao lecionar sobre a sentença e sua relação com a

coisa julgada, ensina, que a sentença deve estar adstrita ao pedido formulado

pela proponente, fixando-se dentro de tais limites, resolvendo a pretensão:

Efetivamente, a sentença deve cingir-se à lide, contendo-se nos limites desta. Finalidade da jurisdição é compor a lide entre as partes, conforme elas deduziram no pedido e na contestação. A lide importa na existência de questões, que são aqueles pontos, de fato e de direito, em que se controvertem as partes. Exatamente por isso, 'O juiz decidirá a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer de questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte' (Cód. Proc. Civil, art. 128). No conhecimento e resolução das questões está a decisão da lide.

A sentença decide uma lide. Por isso mesmo deverá ater-se aos limites da lide, tal qual se projetou no processo. Faz a sentença coisa julgada e tem força de lei dentro desses limites.

(...) Está na conclusão da sentença, no seu dispositivo, o pronunciamento do juiz sobre o pedido, acolhendo-o ou rejeitando-o esse pronunciamento, que consiste num 'comando', acolhendo ou rejeitando o pedido, e, pois, atribuindo ou não ao autor o bem pretendido, é que se torna firme e imutável por força de coisa julgada. A sentença se prende ao pedido e ao pedido se liga a coisa julgada que da sentença dimana.69

Na ensinança de Nery Junior e Andrade Nery, ao fazer seus

requerimentos na peça inicial, o autor impõe ao magistrado os limites de sua

jurisdição, de modo que está não poderá conceder além do requerido, nem

poderá deixar de apreciar pedido que tenha sido formulado, ou fixar a menor ou a

68 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo. Comentários ao código de processo civil. Vol. IV. Rio de

Janeiro: Forense, 2001, p. 280/281. 69 SANTOS, Moacyr Amaral dos. Primeiras linhas de direito processual civil. Vol. III, 15. ed.,

São Paulo: Saraiva, 1995, p. 62/63.

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maior que o pedido, e caso ocorra uma destas hipóteses a sentença estará

maculada por vício, tendo o julgador ultrapassado os limites da jurisdição70.

Desta maneira, como se vê, a jurisdição encontra seu limite

dentro das pretensões das partes, na cabendo ao julgador modificá-la, de maneira

a aumentar, diminuir ou conceder além do pedido proposto.

1.6 JURISDIÇÃO CONTENCIOSA

Consoante redação do art. 1.º71 do Código de Processo

Cível (CPC), a jurisdição na seara cível, divide-se em voluntária e contenciosa.

Como ensina Theodoro Júnior, a jurisdição contenciosa: “é a

jurisdição propriamente dita, isto é, aquela função que o Estado desempenha na

pacificação ou composição dos litígios. Pressupõe controvérsia entre as partes

(lide), a ser solucionada pelo juiz”.72

Friede ao comentar acerca da jurisdição e da tutela

jurisdicional, escreve:

Seguindo orientação preconizada pela tradição que acabou por ser incorporada à letra da lei processual, o Código de Processo Civil – desviando-se de um maior rigor terminológico – admite expressamente a existência dual de jurisdição contenciosa em contraposição a uma jurisdição voluntária, não obstante do ponto de vista cientifico do direito existir apenas uma única forma de jurisdição: a pleonástica jurisdição contenciosa (forma singular consagrada pela doutrina contemporânea majoritária em nosso país).73

70 NERY JÚNIOR, Nelson; ANDRADE NERY, Rosa Maria. Código de processo civil comentado

e legislação processual civil extravagante em vigor. 6. ed. São Paulo: RT, 2002, p. 254. 71 “Art. 1.º A jurisdição civil, contenciosa e voluntária, é exercida pelos juízes, em todo território

nacional, conforme as disposições que este Código estabelece.” 72 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: Teoria geral do direito

processual civil e processo de conhecimento. 44. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 44. 73 FRIEDE, Reis. Comentários ao código de processo civil. Vol. 1. 3. ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2002, p. 17.

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E o Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, ao relatar o

Recurso Especial n.º 238.573/SE, bem distinguiu jurisdição voluntária e

contenciosa, esclarecendo que naquela não há ação, mas mero pleito, apenas o

procedimento, nem há partes, inexistindo lide ou coisa julgada74.

Dinamarco, ao escrever sobre a adequação do

procedimento a tutela jurisdicional pretendida:

A relação de adequação entre cada procedimento e a tutela jurisdicional que ele prepara é sobretudo um imperativo princípio lógico do sistema processual, que aconselha a seleção de meios eficazes à descoberta da verdade e das soluções corretas [...]. É também – e por essa mesma razão – uma exigência de ordem pública, na medida em que o Estado não quer aventurar-se em procedimentos menos seguros e de duvidosos resultados práticos. Daí ter construído um sistema de procedimentos diferenciados entre si e destinado cada um deles a uma situação prevista em lei. Trata-se de matéria de ordem pública, que não deve ficar à mercê da vontade das partes.

Para resguardo da efetividade das escolhas do legislador e das razões de ordem pública que lhes estão à base, o Código de Processo Civil dita a indisponibilidade do procedimento, mandando que o juiz retifique a escolha processual feita pelo autor, quando inadequada.75

Pelo que a jurisdição embora comumente seja dividida em

voluntária e contenciosa, apresenta um caráter único, sendo a prestação do

Estado aos litigantes ou interessados, com o fim de harmonizar os conflitos e

satisfazer os interesses, ainda que contrapostos.

74 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 238573/SE, da Quarta Turma.

Relator Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira. Diário da Justiça da União, Brasília, p. 153, 09 out. 2000. Disponível em: <http://www.stj.gov.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?tipo_visualizacao=RESUMO&processo=238573&b=ACOR>. Acesso em: 26 jan. 2008.

75 DINAMARCO, Candido Rangel. Instituições de direito processual civil. 4. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2004. p. 463.

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1.7 JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA

Neste subtítulo será tratado da jurisdição cível voluntária ou

graciosa, a qual nas palavras de Theodoro Júnior:

... ao Poder Judiciário são, também, atribuídas certas funções em que predomina o caráter administrativo e que são desempenhadas sem o pressuposto do litígio.

Trata-se da chamada jurisdição voluntária, em que o juiz apenas realiza gestão pública em torno de interesses privados, como se dá nas nomeações de tutores, nas alienações de bens de incapazes, na extinção do usufruto ou do fideicomisso etc.

Não se apresenta como ato substitutivo da vontade das partes, para fazer atuar impositivamente a vontade concreta da lei (como se dá na jurisdição contenciosa). O caráter predominante é de atividade negocial, em que a interferência do juiz é de natureza constitutiva integrativa, com o objetivo de tornar eficaz o negócio desejado pelos interessados. A função do juiz é, portanto, equivalente ou assemelhada à do tabelião, ou seja, a eficácia do negócio jurídico depende da intervenção pública do magistrado.76

A jurisdição voluntária ou graciosa é aquela exercida pelos

juízes quando no exercício de funções administrativas, com vista à constituição de

novas situações jurídicas, exercendo assim atos da administração pública de

interesses privados, deste modo, não há de ser pelo fato de serem exercidas pelo

órgão do Judiciário, que a tal função será dada natureza jurisdicional77. Prata, por

sua vez, assevera que ao intervir tais causas, o Estado busca a constituir situação

jurídica nova ou auxiliar incapazes, atendendo assim o interesse público, de modo

que o interesse não é solucionar litígios, constituindo um procedimento mais

simples78.

Como ensina Fidelis dos Santos: 76 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: Teoria geral do direito

processual civil e processo de conhecimento. 44. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 44. 77 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.

Teoria geral do processo. 14. ed. ampl. e atual. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 153. 78 PRATA, Edson. Jurisdição voluntária. São Paulo: Leud, 1979, p. 285

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Na jurisdição voluntária, o juiz não atua para solucionar litígio, nem para efetivar direito, nem para acautelar outro processo. Ele apenas integra-se ao negócio jurídico ou ao ato de interesse dos particulares, para verificação de sua conveniência ou de sua validade formal, quando devidamente exigida sua participação. Se não há litígio nem execução, em conseqüência, não pode haver processo no sentido jurídico; há simples procedimento que permite ao juiz, na sua função integrativo-administrativa, avaliar a conveniência do ato, ou sua validade formal.79

Corroboram tais assertivas Lacerda e Oliveira:

O juiz exerce, aqui, função de mero agente documentador, sem nada julgar ou decidir: o ato que dele se reclama é meramente ordinatório ou próprio da chamada 'jurisdição' voluntária, não pressupondo, necessariamente, a existência da lide, ou, se existente esta, não exigindo exercício da função jurisdicional, porque o pedido se apresenta desacompanhado de questão.80

Como se depreende, seguindo a linha adotada por Frederico

Marques, tem-se por jurisdição voluntária, os atos de administração pública, os

quais versem sobre interesses de particulares, emanados pelo Judiciário81.

1.8 ÓRGÃOS JURISDICIONAIS E DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO

Conforme redação do art. 92 da CRFB/88, José Afonso da

Silva, elenca os órgãos que exercem função jurisdicional e o duplo grau de

jurisdição82:

I – O Supremo Tribunal Federal;

79 SANTOS, Ernani Fidelis dos. Manual de direito processual civil. Vol. 5. São Paulo: Saraiva,

1989, p. 136/137. 80 OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro de; LACERDA, Galeno. Comentários ao código de processo

civil. Vol. VIII. Tomo II. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1991, p. 185. 81 MARQUES, José Frederico. Ensaio sobre a jurisdição voluntária. Campinas: Millennium,

2000, p. 109. 82 Classificação adotada por: SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo.

24. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 556, embora o Conselho Nacional de Justiça não exerça funções jurisdicionais próprias do Poder Judiciário, senão aquelas outorgadas a Administração Pública em geral.

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I-A – O Conselho Nacional de Justiça;

II – O Superior Tribunal de Justiça;

III – Os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais;

IV – Os Tribunais e Juízes do Trabalho;

V – Os Tribunais e Juízes Eleitorais;

VI – Os Tribunais e Juízes Militares;

VII – Os Tribunais e Juízes dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.

Acerca dos órgãos jurisdicionais, leciona Moraes:

A Constituição Federal enumera, no art. 92, os órgãos do Poder Judiciário: o Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justiça (EC n.º 45/04), o Superior Tribunal de Justiça, os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais, os Tribunais e Juízes do Trabalho, os Tribunais e Juízes Eleitorais, os Tribunais e Juízes Militares e os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios, disciplinando-os a seguir.83

Assim, o art. 92 da CRFB/88 disciplina pontualmente os

órgãos que exercem funções jurisdicionais, conforme a competência fixada.

Sobre, que garantia do duplo grau de jurisdição, insta

salientar que a mesma não é absoluta, porquanto nas ações, cuja competência

seja originária da Suprema Corte ou quando se tratar de julgamento do

Presidente da República, por crime de responsabilidade, sendo a jurisdição

exercida pelo impoluto Senado Federal, inexistindo possibilidade de revisão.

Acerca de tal principio, assevera Fux:

O Duplo Grau de Jurisdição

83 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

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(...) Decorrência do princípio é a adstrição do tribunal à causa julgada, sendo defeso ao órgão superior apreciar pedidos ou exceções materiais não formuladas na instância superior, fatos existentes e não suscitados e matérias que não foram objeto da decisão. Acaso ultrapassada essa vedação, o órgão superior estará, recebendo pela primeira vez e diretamente, nos tribunais, questões que não se submeteram ao crivo do primeiro grau de jurisdição, violando o ‘duplo grau’.84

Ainda, consoante excerto de Fux: “em respeito ao princípio

do duplo grau de jurisdição, não é lícito inaugurar pedidos na instância ad

quem”85.

Como escreve Nery Júnior:

as constituições que se lhe seguiram (à de 1824), limitaram-se a apenas mencionar a existência de tribunais, conferindo-lhes competência recursal. Implicitamente, portanto, havia previsão para existência do recurso. Mas, frise-se, não garantia absoluta ao duplo grau de jurisdição.86

No mesmo sentido, Moraes:

Menciona a Constituição Federal a existência de juízes e Tribunais, bem como prevê a existência de alguns recursos (ordinários constitucionais, especial, extraordinário), porém não existe a obrigatoriedade do duplo grau de jurisdição. Dessa forma, há competências originárias em que não haverá o chamado duplo grau de jurisdição, como, por exemplo, nas ações de competência originária dos Tribunais, em que não haverá possibilidade de reexame do mérito.87

Como se vê, a jurisdição, como função do Estado, exercida

pelos órgãos constitucionalmente estabelecidos, com o fim de harmonizar os

84 FUX, Luiz. Curso de direito processual civil. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 933. 85 FUX, Luiz. Intervenção de terceiros. São Paulo: Saraiva, 1990, p. 22. 86 NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do processo civil na Constituição Federal. 2. ed. São

Paulo: RT, 1995, p. 152. 87 MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p.

295.

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litígios e interesses particulares e públicos, em regra, sujeita a revisão por outro

órgão fracionário do Judiciário, constituindo direito, principio e garantia

fundamental do cidadão.

Embora não esgotado o assunto, o qual, considerando o

objeto da presente monografia só pode ser tratado de passagem, sem maiores

aprofundamentos, sob pena de desvirtuar do caminho traçado, deste modo,

passa-se ao segundo capítulo para tratar da Justiça Militar e suas peculiaridades.

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CAPÍTULO 2

JUSTIÇA MILITAR

2.1 CONCEITO

Trata-se de um dos ramos especializados do Judiciário, vez

que destinada ao homem da caserna, o qual por sua vida e pelas exigências que

lhe são impostas, não poderia ficar ao crivo da justiça e da legislação comum a

competência para apreciar seus atos, enquanto em operação ou sob autoridade

militar88.

Deste modo a Justiça Castrense, apresenta-se como

instrumento, através do qual são levadas ao conhecimento do Judiciário,

situações peculiares da vida na caserna, possibilitando ao julgador a obtenção de

maior conhecimento a fim de aplicar o direito ao caso concreto, sempre calcado

nos postulados fundamentais do Direito Militar89, não caracterizando juízo de

exceção.

Nos dizeres de Pinto Ferreira, a Justiça Militar constitui um

órgão judicial especial, não podendo ser entendida como Justiça de exceção, vez

que no Brasil, tal figura se caracterizaria pelas cortes marciais, o que é vedado

pelo texto constitucional, como escreve o mesmo90:

A Justiça Militar tem por objetivo o processo e o julgamento dos crimes militares. Ela constitui uma justiça especial, e não é, assim,

88 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 32. ed. rev. e atual.

São Paulo: Saraiva, 2006, p. 256. 89 Neste sentido: “Cabe ressaltar que as Forças Armadas, as Polícias Militares e os Corpos de

Bombeiros Militares formam uma sociedade baseada na hierarquia e disciplina, coluna vertebral a sustentar os rígidos postulados intramuros, ou seja, nos quartéis e estabelecimentos sob administração militar.” in LOBATO, Marcos Otaviano da Silva. A justiça militar através dos séculos: das penas e da execução penal. Revista de Estudos e Informações. n. 10. Belo Horizonte: TJM/MG, 2002, p. 43.

90 FERREIRA, Pinto. Curso de direito constitucional. 12. ed. ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 438.

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um foro de exceção. É verdade que determinados doutrinadores franceses identificam a justiça especial e os tribunais especiais com a justiça de exceção ou os tribunais de exceção. Evidentemente tal interpretação não pode ser admitida no Brasil, já que tribunais de exceção seriam entre nós as cortes marciais, cuja existência não é possível na Constituição vigente.91

A de ser destacado, que com o advento na EC/45, as

Justiças Militares Estaduais tiveram suas competências ampliadas, deixando de

julgar apenas os crimes militares previstos em lei.

Ainda, como pequena propedêutica, ressalte-se que a

Justiça Militar, como órgão especial constitucionalmente estabelecido, é a

responsável pela aplicação da lei penal militar, embora esta circunstância não

seja absoluta92, revestindo-se, no entanto, de caráter especial, porquanto embora

por vezes conheça de crimes impróprios militares, os quais estão previstos na

legislação comum, sua jurisdição é limitada em razão da pessoa.

Chaves ao dissertar acerca da Justiça Castrense exprime de

maneira esclarecedora o conceito de Justiça Militar:

À Justiça Militar cabe reprimir a lesão mais grave, o crime militar, cominando ao acusado a sanção penal. Para aplicação de um direito tão diferenciado, com objetivos tão específicos, faz-se necessária uma Justiça especial.

O Direito Penal Militar tutela os interesses jurídicos da ordem militar. Ele não ampara a pessoa do militar, o que ele protege é a função especial que ele exerce. O foro militar não é, pois, para o delito dos militares, mas para os delitos militares.93

Tesser, ao apresentar a especialidade do direito penal

militar, apresenta sua concepção sobre a Justiça Militar:

91 FERREIRA, Pinto. Curso de direito constitucional. 12. ed. ampl. e atual. São Paulo: Saraiva,

2002, p. 438. 92 LOBÃO, Célio. Direito penal militar. 3. ed. atual. Brasília: Brasília Jurídica, 2006, p. 47. 93 CHAVES, Luiz Gonzaga. Breve escorço sobre a Justiça Militar. Revista de Estudos e

Informações. n. 6. Belo Horizonte: TJM/MG, 2000, p. 16.

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Dessa forma, o Direito Penal Militar é Direito Penal especial porque é aplicado por uma Justiça própria, pela natureza do bem jurídico tutelado e devido ao fato de que tem como destinatários os militares, sejam eles federais ou estaduais, embora não possamos tomar tal assertiva como regra, já que, excepcionalmente, pode ser aplicado ao civil nos casos em que os objetos da tutela penal são bens ou interesses das instituições militares relacionados com sua destinação constitucional e legal.94

Nessa vereda, Rosa ensina que a Justiça Militar brasileira

não é parte integrante dos quadros militares, sendo órgão do Poder Judiciário,

tendo sua missão estabelecida pela CRFB/88, detendo assim autonomia e

independência, exercendo o controle das atividades desenvolvidas pelas Forças

Armadas e Auxiliares, pelo que detém função essencial a garantia do Estado

Democrático de Direito95:

É importante se observar que a Justiça Militar possui uma função essencial no Estado democrático de Direito, uma vez que exerce de forma efetiva o controle das atividades desenvolvidas pelas Forças Armadas ou pelas Forças Policiais Estaduais, que são responsáveis pela preservação dos direitos e garantais fundamentais do cidadão, previstos no art. 5 º da CF e nos tratos internacionais que foram subscritos pela República Federativa do Brasil.96

Assis, ao escrever sobre a Justiça Militar no Brasil, aponta

que esta é um gênero, o qual vem a se apresentar em duas espécies, a Justiça

Militar da União e a Justiça Militar Estadual, sendo órgão especialíssimo do

Judiciário, e encontrando-se em completa harmonia com este, de conformidade

94 TESSER, Maria Roseli. A competência cível da Justiça Militar Estadual em decorrência da

Emenda Constitucional n. 45. Jus Militaris. Santa Maria, 18 abr. 2006. Disponível em: <http://www.jusmilitaris.com.br/?secao=doutrina&cat=4>. Acesso em: 7 out. 2007.

95 ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Justiça Militar: Uma justiça de exceção?. Revista de Estudos e Informações. n. 12. Belo Horizonte: TJM/MG, 2003, p. 14/15.

96 ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Justiça Militar e o Estado Democrático de Direito. STM em revista. Ano 02. n. 03. Brasília: STM, 2006, p. 24.

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com os regramentos constitucionais estabelecidos, tutelando os pressupostos

castrenses97.

Simon de Souza, em seu mister assim conceituou a Justiça

Militar:

É preciso salientar e repetir que a Justiça Militar não é, então, justiça de exceção, mas justiça especial, criada pela Carta Magna. Tourinho Filho define as justiças de exceção como aquelas criadas post-factum, ou seja, as criadas especificamente para julgar os fatos após a prática destes, ‘seja para um caso isolado, seja para diversos casos particulares individualmente determinados’, pertencendo ou não à organização judicial. As justiças especiais, portanto, por razões objetivas, separando-se dos órgãos ordinários, são instituídas pela Constituição Federal para uma generalidade de casos indeterminados, previamente definidos em lei (e isso é importantíssimo), constituindo-se, conseqüentemente, em juízos naturais, legais e competentes para o julgamento desses casos.98

Destarte, Oliveira ao tecer suas considerações sobre a

Justiça Militar em tempos de guerra, pronuncia que a esta compete o julgamento

dos crimes previstos no Código Penal Militar (CPM), estando adstrita pelos

princípios da atividade jurisdicional99.

Dalabrida ao apontar as questões controvertidas acerca da

competência constitucional da Justiça Militar, aponta que a alta especificidade da

matéria correlata ao direito militar, considerando suas peculiaridades e

particularidades normativas, define a Justiça Militar como justiça especial dentro

do texto constitucional100.

97 ASSIS, Jorge César de. A justiça militar brasileira. Jus Militaris, Santa Maria, [sd]. Disponível

em: <http://www.jusmilitaris.com.br/?secao=justicamilitar>. Acesso em: 7 out. 2007. 98 SOUZA, Octávio Augusto Simon de. A justiça militar e a EC 45/2004. Jus Militaris. Santa

Maria, 30 jun. 2005. Disponível em: <http://www.jusmilitaris.com.br/?secao=doutrina&cat=1>. Acesso em: 7 out. 2007.

99 OLIVEIRA, Erico Lima de. Justiça militar em tempo de guerra. Direito Militar. n. 57. Florianópolis: AMAJME, 2006, p. 36.

100 DALABRIDA, Sidney Eloy. A competência constitucional da Justiça Militar: Questões controvertidas. Direito Militar. n. 56. Florianópolis: AMAJME, 2005, p. 34.

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E como definem Neves e Streifinger:

Como se pode verificar do Texto Maior, as instituições militares, são dotadas de tutela especial, que visa à manutenção de sua regularidade, pela proteção de outros bens jurídicos: a vida, a integridade física, a honra, a hierarquia, a disciplina etc.

Some-se a isso o fato de a missão das corporações militares ser revestida de uma complexidade ímpar, exigindo de seus sujeitos abnegação, robustez e coragem dignas de uma odisséia.101

Ademais, Assis citando Gusmão, afirma ser a Justiça Militar

uma Justiça especial e a comum uma Justiça ordinária, sendo que o direito,

enquanto norma, empregado na primeira, é um Direito Especial, sendo o direito

penal militar, o qual tutela pessoas ou bens jurídicos diversos da legislação

ordinária, obedecendo aos princípios gerais de direito102.

Da mesma maneira, Mirabete afirma que com vista às

distinções entre o direito penal comum e o especial, somente será assinalada ao

considerarmos o órgão incumbido da aplicação do direito no caso, de forma a

atender os critérios estabelecidos na norma objetiva comum ou na especial103.

Neste ponto, importante ressaltar o posicionamento de Roth,

quanto à análise da atuação da Justiça Militar:

O exame das peculiaridades da caserna e dos misteres enfrentados pelos militares encontram mais facilidade de compreensão quando realizados pelo próprio militar que, uma vez guindado ao exercício da judicatura militar, deverá – aplicando a lei penal militar, sob os cânones processuais penais militares -, decidir no caso concreto, situação essa que, de modo contrário, pode trazer ao juiz togado certa dificuldade de apreciação fática,

101 NEVES, Cícero Robson Coimbra; STREIFINGER, Marcello. Apontamentos de direito penal

militar. Vol. 1. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 32. 102 ASSIS, Jorge César. Comentários ao código penal militar. 5. ed. Curitiba: Juruá, 2006, p.

269. 103 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal. Vol. 1. São Paulo: Atlas, 2003, p. 26.

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levando-o a aplicar a lei sem a mesma acuidade própria dos militares.104

Por tais conceitos, compreende-se a real missão e

necessidade de órgão jurisdicional com tal atribuição, visto que como delineado

desde o princípio, as normas afetas a vida do homem da caserna, por certo não

serão assimiladas com a mesma destreza por um julgador investido na jurisdição

cível, de maneira que esta assegura a ordem jurídica militar, a qual na concepção

de Neves e Streifinger caracterizam o sustentáculo das instituições militares105.

Assimilando tal condição, ter-se que com o fim da garantia

da preservação do Estado Democrático de Direito e de suas instituições a Justiça

Castrense se organiza de modo a propiciar a aplicação do direito especifico, sem

perder-se da teoria geral do direito, não constituindo de igual maneira foro de

exceção ou de casta.

2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Ao se tratar da evolução da Justiça Castrense, impossível

analisar-se tal matéria sem traçar um paralelo com a evolução do Direito Penal

Militar, eis que a primeira surge em razão deste, com vista à necessidade de

instituir um sistema de aplicação das regras afetas a vida na caserna, porém

deve-se evoluir com acuidade a fim de não enveredar por um caminho que não se

relacione com o presente trabalho.

Acerca deste estratagema, envolvendo a evolução do Direito

Militar e da Justiça Militar, ensinam Neves e Streifinger:

que o Direito Penal Militar, em que pese a influência dos movimentos condicionantes do Direito Penal comum, desenvolve-se paralelamente e ganha notoriedade com o início da atividade

104 ROTH, Ronaldo João. Justiça Militar e as peculiaridades do juiz militar na atuação

jurisdicional. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003, p. 93. 105 NEVES, Cícero Robson Coimbra; STREIFINGER, Marcello. Apontamentos de direito penal

militar. Vol. 1. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 33.

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bélica, exigindo por conseqüência, a apreciação do fato crime por ângulo diverso, o que resultou na origem da Justiça Militar.106

Nesta esteira, Roth explica a respeito do surgimento da

Justiça Castrense, que esta nasce na antigüidade, com a constituição dos

Exércitos, aos quais eram incumbidas a defesa e expansão dos territórios107.

De tal sorte, a Justiça Militar surge para aplicar um direito

específico as atividades castrenses, uma vez que estas exigem um regime

diferenciado, com estrita observância a disciplina, premissa de primeira ordem, de

modo que ao se formar o primeiro agrupamento de homens com o fim de praticar

atividade beligerante, existe o Direito Militar, como meio de coerção nas

atividades de guerra.

Deste modo, como defende Loureiro Neto, na antigüidade

algumas civilizações, inclusive os gregos, os quais já possuíam corpos militares

formados, exerciam a atividade jurisdicional sob aqueles atos considerados

delitos castrenses108, todavia, e no Direito Romano que surgem fundamentos

rudimentares do direito penal militar, com a definição de crime militar e formação

de um foro especial aos militares.

Chaves Júnior, assevera ao tratar da Justiça Militar em

Roma, que esta se divide em quatro fases: a primeira na época dos Reis, estando

concentrada no jugo do Rei a aplicação da Justiça Castrense, o qual possuía

todos os poderes, exercendo a jurisdição militar de forma plena, possuindo ao seu

lado um conselho; na fase da República, os cônsules, o ditador, os tribunos e os

centuriões, eram encarregados pela Justiça Militar; Augusto, na terceira fase,

entregou a administração da Justiça Castrense aos prefeitos de pretório, os quais

tinham poderes extremamente amplos, restringindo-se apenas quanto aos

centuriões e a outros oficiais superiores; na última fase, Constantino atribuiu a

106 NEVES, Cícero Robson Coimbra; STREIFINGER, Marcello. Apontamentos de direito penal

militar. Vol. 1. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 02. 107 ROTH, Ronaldo João. Justiça Militar e as peculiaridades do juiz militar na atuação

jurisdicional. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003, p. 05. 108 LOUREIRO NETO, José da Silva. Direito penal militar. São Paulo: Atlas, 1999, p. 19.

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jurisdição militar aos mestres da milícia, transformando estes em juízes militares

superiores109.

Ao fim, Chaves Júnior assevera que:

De todo modo, podemos afirmar que os romanos reconheceram a necessidade de uma jurisdição especial para os militares em atividade de serviço.

Todos os magistrados representaram um papel considerável no que podemos chamar Justiça Militar Romana e aplicavam, por vezes, castigos severos com a finalidade de manter a disciplina.110

E Lobão, também esclarece que o crime penal militar já era

conhecido no Direito Romano, estando inserto naquela legislação a definição de

crime militar, no Digesto, Livro XLIX, Título XVI, L. 2, tendo a violação das

obrigações militares alçado noção jurídica perfeita e cientifica111.

Ainda acerca do Direito Penal Militar em Roma, consoante

excerto de Costa:

Em Roma se consagrou um foro especial para os milites com respeito a quaisquer classes de delitos. Sobre as gentes de armas exerciam jurisdição os antigos Praefecti sociorum e o Direito Militar romano contava com uma completa teoria de penas próprias, com modalidades de índoles análogas e algumas que conservam as legislações contemporâneas, como são a militiae mutatio, a gradus defectis, a censio hastaria e a missio ignominesa.112

A respeito da Justiça Militar da idade média, duas

considerações importam fazer, a primeira diz respeito à consideração de Lorde

109 CHAVES JÚNIOR, Edgard de Brito. Escorço histórico da Justiça Militar. Revista de Estudos

e Informações. n. 8. Belo Horizonte: TJM/MG, 2001, 14/16. 110 CHAVES JÚNIOR, Edgard de Brito. Escorço histórico da Justiça Militar. Revista de Estudos

e Informações. n. 8. Belo Horizonte: TJM/MG, 2001, p. 16. 111 LOBÃO, Célio. Direito penal militar. 3. ed. atual. Brasília: Brasília Jurídica, 2006, p. 48. 112 COSTA, Álvaro Mayrink da. Crime militar. 2. ed. reesc. e ampl. Rio de Janeiro: Lumen Juris,

2005, p. 19/20.

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Macaulay, segundo o qual nesta época não havia uma distinção entre civis e

militares, adotando todo o sistema judicial as características castrenses113.

Noutro espectro, cita-se os criticados Artigos de Guerra do

Conde de Lippe114, elaborados em 1763, e que orientaram de maneira

significativa a Jurisdição Militar em Portugal e no Brasil115.

Embora doutrinariamente se encontre registros acerca da

Justiça Militar durante a idade média, Colombo citado por Lobão relata que a idéia

Romana de infração militar se perdeu, retornando somente as luzes da revolução

francesa, a qual informou os pressupostos correspondentes à jurisdição militar

moderna, traçando um paralelo entre o poder militar e o poder civil116, sendo

questionado se algum movimento ou fenômeno na história contemporânea

influenciou tanto o direito castrense117, visto que a partir do iluminismo foram

traçadas novas linhas nas mais diversas áreas cientificas inclusive na jurídica.

O Direito Penal Militar francês espalha-se por toda a Europa,

tornando-se a principal escola de todo o ocidente, como afirma Chaves Júnior:

A legislação militar francesa influenciou não só a Europa como todo o mundo ocidental moderno.

Perde-se, na poeira dos tempos, a preocupação em dotar os militares de uma legislação específica. É o que se vê, por exemplo, no Digesto (L.49,Tit. XVI, 2):

E mais adiante assevera o mesmo autor:

113 COSTA, Álvaro Mayrink da. Crime militar. 2. ed. reesc. e ampl. Rio de Janeiro: Lumen Juris,

2005, p. 20. 114 O príncipe alemão, Conde de Lippe, recebeu do Rei de Portugal, D. José I, a dignidade de

Príncipe de Sangue, tendo formulado vários planos militares e deixado uma obra em Francês: ‘Novo Sistema da Arte de Guerra’.

115 CHAVES JÚNIOR, Edgard de Brito. Os artigos de guerra do Conde de Lippe. Revista de Estudos e Informações. n. 9. Belo Horizonte: TJM/MG, 2002, p. 16.

116 LOBÃO, Célio. Direito penal militar. 3. ed. atual. Brasília: Brasília Jurídica, 2006, p. 49. 117 NEVES, Cícero Robson Coimbra; STREIFINGER, Marcello. Apontamentos de direito penal

militar. Vol. 1. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 05.

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Os primeiros exércitos permanentes surgem por volta do século XV, principalmente, na França, Itália, Espanha e Borgonha, e daí, os primeiros rudimentos de uma Justiça Militar. Pouco depois, surgem os Conselhos de Guerra e os Auditores de Campo.

Após a Revolução Francesa, o Governo criou os cargos de Juiz de Instrução Militar e representante do Ministério Público, separando, deste modo, as funções de acusar e instruir o processo, cabendo aos Conselhos de Guerra o julgamento dos processos.118

Verifica-se de tal maneira, que após a Revolução Francesa,

a Justiça Militar fora estruturada, sendo divididas as atribuições, de forma

surgiram órgãos específicos incumbidos da acusação, da formação da culpa e do

julgamento119.

Nos tempos modernos a Justiça Militar, sob quaisquer

características, ganhou seu caráter Jurisdição especial, sendo submetido à

apreciação desta apenas as condutas cometidas por militares, no exercício das

funções.

No México, por expresso mandamento constitucional, é

vedado submeter pessoas que não pertençam à corporação militar a jurisdição

militar, sob qualquer motivo, determinando que quando um civil estiver envolvido

no ato, o caso será levado a conhecimento de autoridade civil120. A Carta Política

Portuguesa, por sua vez, até 1997 prévia além que das infrações militares, os

crimes dolosos equiparáveis a crimes essencialmente militares, estariam sujeitos

à jurisdição militar121.

118 CHAVES JÚNIOR, Edgard de Brito. A Justiça Militar em outros países. Revista de Estudos e

Informações. n. 7. Belo Horizonte: TJM/MG, 2001, p. 04. 119 CHAVES JÚNIOR, Edgard de Brito. Escorço histórico da Justiça Militar. Revista de Estudos

e Informações. n. 8. Belo Horizonte: TJM/MG, 2001, p. 18. 120 FIÚZA, Ricardo A. Malheiros. A Justiça Militar no direito constitucional comparado. Revista

de Estudos e Informações. n. 6. Belo Horizonte: TJM/MG, 2000, p. 23. 121 FIÚZA, Ricardo A. Malheiros. A Justiça Militar no direito constitucional comparado. Revista

de Estudos e Informações. n. 6. Belo Horizonte: TJM/MG, 2000, p. 22.

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Na Justiça Castrense dos Estados Unidos da América

(EUA), como explica Pinto Ferreira, só será submetido à jurisdição castrense o

militar em atividade que praticar fato previsto como crime militar, e em sendo este

desligado da corporação será julgado pela Justiça comum122. A lei castrense

estado-unidense seguiu os postulados da legislação britânica, sendo editados os

primeiros Artigos de Guerra por volta do ano de 1775, a qual regulamentava

estabelecia as regras e ordens referentes ao Exército, com o passar dos anos tais

Artigos sofreram alterações até serem promulgados pelo Congresso de 1879.

Atualmente, a lei que rege a Justiça Militar dos EUA é a Uniform Code of Military

Justice123 de 1951124.

A lei castrense britânica que inspirou a estado-unidense,

teve seus primeiros Artigos de Guerra publicados em 1642, a qual a partir de

1689 passou a promulgada anualmente, sofrendo modificações no século 19,

tendo as leis marciais inglesas por objeto principal a promoção da disciplina e

originando-se estas nos Artigos de Guerra de Guilherme, o Conquistador, de

1066. Segundo as normas castrenses inglesas, não só os militares do Exército

estavam sujeitos à jurisdição militar, mas todos os homens e mulheres que

servissem de alguma forma a força militar em campanha125.

Ao fim, segundo Chaves Jr., o Brasil é talvez o país com

maior organização a nível estrutural da Justiça castrense, uma vez que na maior

parte do ocidente as condutas previstas como infração militar, são apreciadas na

própria caserna, enquanto tal julgamento, em alguns países, é submetido à

Justiça comum126.

122 FERREIRA, Pinto. Curso de direito constitucional. 12. ed. ampl. e atual. São Paulo: Saraiva,

2002, p. 439. 123 Código Uniforme de Justiça Militar dos EUA. 124 CHAVES JÚNIOR, Edgard de Brito. A Justiça Militar em outros países. Revista de Estudos e

Informações. n. 7. Belo Horizonte: TJM/MG, 2001, p. 07/08. 125 CHAVES JÚNIOR, Edgard de Brito. A Justiça Militar em outros países. Revista de Estudos e

Informações. n. 7. Belo Horizonte: TJM/MG, 2001, p. 06/07. 126 CHAVES JÚNIOR, Edgard de Brito. A Justiça Militar em outros países. Revista de Estudos e

Informações. n. 7. Belo Horizonte: TJM/MG, 2001, p. 08.

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2.3 A JUSTIÇA MILITAR DO BRASIL

Órgão fracionário da função Judiciária, a Justiça Militar, tem

suas atribuições fixadas pelas normas em vigor, sendo o mais órgão judiciário do

país, tendo sido criado por Dom João VI, logo após a chegada da família imperial

ao Brasil, no ano de 1808, com a assinatura do Alvará de 1º de abril de 1808, por

sua Majestade o Príncipe Regente.

2.3.1 Evolução histórica

Afora toda a legislação editada durante o período em que o

Brasil permaneceu como colônia de Portugal, inicia-se a evolução histórica da

Justiça Militar no Brasil a partir da chegada da família Imperial em 1808,

considerando que anteriormente todo o sistema jurídico era baseado nas normas

emanadas da metrópole, embora tais normas tenham exercido profunda influência

no direito castrense pátrio, como explica Chaves Jr:

O Direito Penal Militar brasileiro, como de resto todos os outros ramos do Direito, tem suas origens no Direito português, que, por seu turno, hauriu suas linhas gerais do Direito romano.

No que tange à prática da Justiça Militar, Portugal acompanhou os demais países europeus. Por sua posição geográfica, sempre foi um país essencialmente militar, para sua própria sobrevivência, para a manutenção da segurança de suas fronteiras e de suas conquistas ultramarinas.127

Entrementes, considerar-se-á para fins de desenvolvimento

científico, a vinda da família Imperial para o Brasil o marco inicial da construção

lógica do raciocínio a ser seguido.

Assim, o direito castrense no Brasil, a exemplo de todas as

demais leis observadas, obedecia as Ordenações do Reino, principalmente as

Filipinas, em comunhão com os Artigos de Guerra do Conde de Lippe, os quais

127 CHAVES JÚNIOR, Edgard de Brito. A evolução legislativa da Justiça Militar no Brasil.

Revista de Estudos e Informações. n. 13. Belo Horizonte: TJM/MG, 2004, p. 37.

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passaram a serem aplicados no Brasil após a Provisão de 1763128, no entanto,

especialmente durante o Império diversos corpos normativos regraram o direito e

a Justiça Castrense, porém tais normas não se encontravam consolidadas.

Acerca do surgimento da Justiça Militar no Brasil, segundo

Chaves, esta não surgiu durante o regime militar que foi instalado com o golpe de

1º de abril de 1964, surgindo esta há exatos 156 anos, através do Alvará Régio de

1808, sendo as penas mais severas, posto que aplicável a pena capital aos mais

diversos delitos, desde a cobardia até ao militar que tendo conhecimento de fato

que fosse considerado crime e não o denunciasse129.

Neste contexto, assevera Bonfim:

A origem da Justiça Militar está ligada à transferência da Corte de Lisboa para as terras brasileiras, sendo impossível registrar sua história sem fazer referência à figura de dom João VI.

Quando chegou ao Brasil, em 1808, o príncipe regente precisava de instrumentos para governar e administrar a colônia.

Em 1º de abril, ele baixou alvará com força de lei que criava o Conselho Supremo Militar e de Justiça, que viria a ser, após algumas modificações, a Justiça Militar da União. Esse foi o primeiro órgão com jurisdição em todo o território nacional e o primeiro Tribunal Superior de Justiça do país.

O Conselho foi presidido pelo próprio dom João VI e por seus su-cessores, Pedro I e Pedro II, até a Proclamação da República, em 1889, e acumulava duas funções: uma de caráter administrativo e outra de caráter puramente judiciário. O Conselho Supremo julgava em última instância os processos criminais dos réus sujeitos ao foro militar.

O Conselho Supremo Militar era integrado pelos conselheiros de Guerra, do Almirantado e de outros oficiais. O Conselho de Justiça

128 NEVES, Cícero Robson Coimbra; STREIFINGER, Marcello. Apontamentos de direito penal

militar. Vol. 1. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 08. 129 CHAVES, Luiz Gonzaga. Breve escorço sobre a Justiça Militar. Revista de Estudos e

Informações. n. 6. Belo Horizonte: TJM/MG, 2000, p. 16/17.

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apresentava a mesma composição, acrescentando-lhe, porém, três juízes togados, um dos quais para relatar os processos.130

A Magna Carta de 1824, porém foi omissa não tratando

acerca da organização da Justiça Militar131, talvez o primeiro projeto de um

Código Processual a ser aplicado, foi apresentado somente em 1861 por

Magalhães Castro132.

Todavia, a Justiça Militar só alcançou um enfoque à luz da

Constituição durante o regime republicano, estando prevista no art. 77 da

Constituição de 1891, no art. 84, da Carta Política de 1934, seguida a de 1937, a

qual dispôs acerca da Justiça Militar em seu art. 111 e a de 1946 em seu art. 108.

Durante o regime militar a Constituição de 1967 também tratou da Justiça

Castrense no art. 129, chegando finalmente o art. 124133 da CRFB/88, cuida da

Justiça Militar134.

Porém, somente com a promulgação da Constituição de

1934, a Justiça Militar passou a ser considerado órgão do Poder Judiciário,

instituindo o foro militar para pessoas assemelhadas e para civis, tendo as demais

Constituições mantido a Justiça Militar135, como citado, e também somente

durante o Estado Novo foi autorizada a criação das Justiças Militares Estaduais,

após a aprovação da Lei n.º 192, de 17 de janeiro de 1936.

Ainda, durante após a adoção do sistema republicando,

foram editadas normas infraconstitucionais, sendo o Regulamento de Processo

Criminal Militar de 1895, o primeiro diploma a tratar das atribuições da Justiça

Militar, o qual vigorou até 1920, sendo substituído por um Código de Organização

130 BONFIM, Ana Paula. Justiça Militar da União completa 198 anos. STM em revista. Ano 02.

n. 03. Brasília: STM, 2006, p. 14. 131 FERREIRA, Pinto. Curso de direito constitucional. 12. ed. ampl. e atual. São Paulo: Saraiva,

2002, p. 439. 132 COSTA, Álvaro Mayrink da. Crime militar. 2. ed. reesc. e ampl. Rio de Janeiro: Lumen Juris,

2005, p. 21. 133 “Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei.” 134 LOBÃO, Célio. Direito penal militar. 3. ed. atual. Brasília: Brasília Jurídica, 2006, p. 51. 135 FERREIRA, Pinto. Curso de direito constitucional. 12. ed. ampl. e atual. São Paulo: Saraiva,

2002, p. 439.

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Judiciária e Processo Penal Militar, o qual foi aprovado através do Decreto n.º

14.450/1920, sofrendo modificações e sendo revogado em 1926, para finalmente

em 1938 ser editado o Código de Justiça Militar, com o advento do Decreto n.º

925, de 2 de dezembro de 1938, o qual finalmente deu lugar ao atual Código de

Processo Penal Militar (CPPM), publicado através do Decreto-Lei n.º 1.002, de 21

de outubro de 1969136.

2.3.2 Justiça Militar na Constituição de 1988

A CRFB/88 cuida da Justiça Militar em seus arts. 122 a 124

e 125, §§ 3º, 4º e 5º, estabelecendo de maneira pontual as competências desta,

fixando seu caráter de Justiça especial.

Neste espectro a CRFB/1988, como já haviam adotado as

Constituições desde 1934, previu de forma expressa a Justiça Militar, tanto na

esfera federal, quanto na estadual137, sendo aquela responsável, em regra, pelos

julgamentos dos integrantes das Forças Armadas, enquanto a esta compete o

julgamento de praças e oficiais das Forças Auxiliares, quando cometerem fato

previsto como crime militar, bem como o julgamento de ações contra atos

disciplinares.

Com a promulgação da CRFB/1988, foram fixados como

órgãos a Justiça Militar o STM, e os Tribunais e Juízes Militares instituídos por lei,

sendo definida a sua competência nos arts. 124 e 125, §§ 4º e 5º.

Neste desiderato, colhem-se os ensinamentos de Moraes:

A Constituição Federal determina que a Justiça Militar se compõe do Superior Tribunal Militar; dos Tribunais e dos Juízes Militares instituídos por lei, que a organizará, competindo-lhe processar e julgar os crimes militares definidos em lei.138

136 COSTA, Álvaro Mayrink da. Crime militar. 2. ed. reesc. e ampl. Rio de Janeiro: Lumen Juris,

2005, p. 21. 137 ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Justiça Militar: Uma justiça de exceção?. Revista de Estudos

e Informações. n. 12. Belo Horizonte: TJM/MG, 2003, p. 14. 138 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 574.

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Ao tratarem sobre a Justiça Militar na Constituição Federal,

os autores, constitucionalistas de prestigio nada ou pouco falam sobre esta

Justiça na CRFB/88, assim é buscado socorro nos trechos esparsos e

condensados acerca da matéria perseguida.

Assim, Silva ao tratar da Justiça Militar, escreve que a

CRFB/88 fixou os limites da competência desta, embora tenha outorgado ao

legislador ordinário a edição de Lei que tratasse da organização, do

funcionamento e da competência, entretanto, nesta última situação dever-se-á

observar o disposto no texto constitucional139.

Abrem-se parênteses, a posição adotada por Martins,

conquanto este defenda a noção de um Direito Constitucional Militar, visto que à

luz da CRFB/88 há todo um sistema normativo com vista ao tratamento da

disciplina militar em todos os seus aspectos, desta forma a Constituição Brasileira

vem tratar de maneira razoavelmente extensa a matéria afeta ao direito militar, o

que gera a necessidade de interpretação de tais regras140.

Sobre a Justiça Militar na CRFB/88, explica Duarte:

O fato de a Constituição Federal (CF) ter erigido a Justiça Militar como uma das vertentes do Poder Judiciário nacional, dando-lhe a conotação de Justiça especial e outorgando-lhe competência, única e exclusivamente, para o processo e julgamento dos crimes militares demarcados em lei, não a torna instituição hermética e infensa aos novos paradigmas da ciência penal, muito em particular, das novas conquistas havidas no campo da política criminal, assinalando-se, nesse ponto, institutos como o da suspensão condicional do processo e as próprias penas alternativas.141

139 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 24. ed. rev. e atual. São

Paulo: Malheiros, 2005, p. 582. 140 MARTINS, Eliezer Pereira. Direito Constitucional Militar. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.

63, mar. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3854>. Acesso em: 23 out. 2007.

141 DUARTE, Antônio Pereira. A Justiça Militar do terceiro milênio. Revista de Estudos e Informações. n. 12. Belo Horizonte: TJM/MG, 2003, p. 36.

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Como se verifica a CRFB/88 erigiu o STM a órgão de cúpula

da Justiça Militar142, sendo este composto por quinze Ministros, dos quais dez

serão militares, os quais são escolhidos livremente pelo Presidente da República,

dentre oficiais do mais alto posto da carreira, sendo quatro saídos dos quadros do

Exército, três da Marinha e três da Aeronáutica, devendo após a indicação do

Presidente serem sabatinados e aprovados pelo Senado Federal.

Os Ministros civis, em número de cinco, também serão

escolhidos pelo Presidente da República, advindo dois por escolha paritária

dentre juízes de direito do Juízo Militar e membros do Ministério Público Militar e

três advogados de notório saber jurídico e conduta ilibada, com mais de dez anos

de efetiva atividade profissional.

Os órgãos de primeiro grau que compõem a Justiça Militar

são os Tribunais e os Juízes de Direito da Justiça Militar, outrora Juízes-

Auditores, instituídos por Lei, no caso da Justiça Militar Estadual conforme

dispuser a Constituição de cada Unidade da Federação, e na Justiça Militar da

União através da Lei n.º 9.457, de 04 de setembro de 1992 – Lei de Organização

Judiciária Militar (LOJM).

Aos Juízes de Direito da Justiça Militar, assim como aos

Ministros do STM, investidos no cargo são asseguradas todas as garantias da

magistratura previstas na CRFB/88.

Sobre a divisão entre da Justiças Militares da União e dos

Estados passaremos a tratar a seguir diferenciando tais órgãos e apontando

peculiaridades de cada um destes.

2.3.3 Justiça Militar da União

A Justiça Militar da União tem sua estrutura e competência

prevista pela LOJM, além das previsões constitucionais, estando divididas em 12

circunscrições judiciárias, que constituem a primeira instância da Justiça Militar

142 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 24. ed. rev. e atual. São

Paulo: Malheiros, 2005, p. 582.

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federal, sendo sua missão precípua o julgamento dos militares das três forças143,

e em circunstâncias excepcionais civis, que cometam delitos contra as Instituições

Militares.

Como explica Rosa, o primeiro grau de jurisdição da Justiça

Militar da União é formado por Conselhos de Justiça, os quais também são

chamados de escabinado, tendo em vista sua formação. Os Conselhos são

divididos em Especiais, cuja atribuição e o julgamento de oficiais e Permanentes

com o fim de julgar os praças, tais Conselhos são formados por cinco Julgadores,

sendo um civil, o qual será juiz de carreira em atuação na Justiça Militar e quatro

militares, sendo o posto destes dependentes do posto do acusado, quando se

tratar da composição dos Conselhos Especiais. Ainda se destaca que os militares

integrantes dos Conselhos de Justiça são designados, renovando-se a formação

dos Conselhos a cada três meses144.

Acerca da Justiça Militar da União explica Barroso Filho,

que esta segundo previsão constitucional, se destina ao julgamento dos militares

que compõem a Marinha, o Exército e a Aeronáutica, e civis em casos

excepcionais, o que justificaria a relação de juízes e jurisdicionados, a qual é

significativamente inferior a Justiça comum145.

Ainda segundo o Professor Rosa:

A Justiça Militar da União possui previsão constitucional desde a Constituição Federal de 1934, e a Justiça Militar dos estadosmembros [sic] da Federação foi inserida no texto constitucional em 1946, ou seja, em data muito anterior à Revolução de 1964. Os juízes-auditores integram o Poder Judiciário, federal ou estadual, com todas as garantias asseguradas aos magistrados: vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos. A Constituição Federal de 1988,

143 Marinha, Exército e Aeronáutica. 144 ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Organização da Justiça Militar. Jus Navigandi, Teresina, ano

3, n. 35, out. 1999. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1569>. Acesso em: 23 out. 2007.

145 BARROSO FILHO, José. Justiça Militar da União. Jus Navigandi, Teresina, ano 3, n. 31, maio 1999. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1570>. Acesso em: 23 out. 2007.

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seguindo a tradição constitucionalista inaugurada com o texto de 1934, novamente fez previsão expressa tanto no âmbito federal como estadual da Justiça Militar.146

Como já explanado, conforme prevê a LOJM, doze são as

Circunscrições Judiciárias Militares (CJM), assim divididas: 1ª CJM, abrangem os

Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo; a 2ª CJM em São Paulo (SP); a 3ª

CJM no Estado do Rio Grande do Sul (RS); a 4ª CJM em Minas Gerais (MG); 5ª

CJM, abrangem os Estados do Paraná e Santa Catarina (SC); a 6ª CJM,

englobando a Bahia e Sergipe; 7ª CJM, sediada em Recife, com jurisdição nos

Estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas; 8ª CJM, nos

Estados do Pará, Amapá e Maranhão; 9ª CJM, com atuação em Mato Grosso do

Sul e Mato Grosso; 10ª CJM, exercendo sua jurisdição no Ceará e Piauí; 11ª

CJM, com atividades nos Estados de Goiás e Tocantins, além do Distrito Federal

e a 12ª CJM, abrangendo os Estados do Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia.

E como estabelece referida lei são órgãos da Justiça Militar

da União: o STM, a Auditoria de Correição, os Conselhos de Justiça e os Juízes-

Auditores e Juízes-Auditores Substitutos, atuais Juízes de Direito e Juizes

Substitutos da Justiça Militar, estando à estrutura desta Justiça especial prevista

no Título IV, da Parte I, da LOJM.

Desta maneira, explica Ferolla, acerca da organização da

Justiça Militar da União:

Constituindo a primeira instância, as auditorias assemelham-se às Varas Criminais da Justiça Comum e às Varas da Justiça Federal, pois de suas decisões caberá recurso para a instância superior. Têm, porém, suas peculiaridades, com jurisdição mista sobre as três Forças Singulares: Marinha, Exército e Aeronáutica.

Nas auditorias, reúnem-se, em tempo de paz, os Conselhos de Justiça Militar – Especiais ou Permanentes – constituídos de quatro oficiais escolhidos por sorteio e de um juiz civil, de carreira, do quadro da Magistratura da Justiça Militar, denominado Juiz-

146 ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Justiça Militar e o Estado Democrático de Direito. STM em

revista. Ano 02. n. 03. Brasília: STM., 2006, p. 24.

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Auditor. Os Conselhos são sorteados para cada Força Armada e apreciam as ações judiciais referentes aos integrantes da respectiva Força.147

Segundo Assis, a Justiça Militar da União compete o

conhecimento e julgamento das ações que visam apurar os crimes militares

definidos em lei, independente de seu autor, julgando assim inclusive civis,

possuindo esta jurisdição em todo território nacional148.

E sobre a estrutura da Justiça Militar da União, segundo

excerto de Loureiro Neto:

O Superior Tribunal Militar, cuja sede é em Brasília, constitui o órgão de segundo instância de toda a Justiça Militar Federal.

Em primeira instância, atuam os conselhos de justiça e os auditores.

Eles exercem suas atividades jurisdicionais nas auditorias, que na justiça comum correspondem às Varas.149

Como se vê, a Justiça Militar da União compõe-se

basicamente dos Juízos de Direito da Justiça Militar, conhecidas como Auditorias,

os quais são o órgão de primeiro grau, sendo o duplo grau de jurisdição

assegurado pelo STM, o qual embora se trate de um Tribunal Superior, atua como

órgão de segundo da Justiça Militar da União, além das demais atribuições

previstas na CRFB/88 e em lei.

2.3.4 Justiça Militar Estadual

As Justiças Militares Estaduais, por sua vez, cuja instituição

e organização caberão aos Estados da Federação, estando suas atribuições e

limites previstos no art. 125, §§ 3º, 4º e 5º da CRFB/88.

147 FEROLLA, Sérgio Xavier. A Justiça Militar da União. Revista de Estudos e Informações. n. 5.

Belo Horizonte: TJM/MG, 2000, p. 13. 148 ASSIS, Jorge César de. A justiça militar brasileira. Jus Militaris, Santa Maria, [sd]. Disponível

em: <http://www.jusmilitaris.com.br/?secao=justicamilitar>. Acesso em: 7 out. 2007. 149 LOUREIRO NETO, José da Silva. Processo penal militar. São Paulo: Atlas, 2000, p. 105.

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Rosa argumenta que a organização da Justiça Castrense

Estadual guardar semelhança com a Justiça Militar da União, ressalvadas

algumas peculiaridades, sendo, entretanto, o segundo de jurisdição exercido

pelos Tribunais de Justiça Militar (TJM), como em SP, MG e RS, ou pelo Tribunal

de Justiça nos demais membros da Federação. A de ser destacado também que

o STM poderá julgar recursos provenientes das Justiças Militares Estaduais150.

A organização da Justiça Castrense nos membros da

Federação será regida por lei estadual, como em SC, onde a Lei n.º 5.624, de 09

de novembro de 1979 (Código de Divisão e Organização Judiciárias do Estado de

Santa Catarina) e suas alterações, inserem a Justiça Militar como órgão do Poder

Judiciário, estando à mesma organizada de acordo com as previsões insertas no

Capítulo VI, do Título II, da Lei n.º 5.624/79, e restando sua competência fixada no

art. 117151 da mesma lei.

Neste liame, como se vê a Justiça Militar Estadual, a qual é

atribuída à missão de julgar os crimes militares praticados por oficiais e praças da

forças auxiliares, e o conhecimento e julgamento das ações contra atos

disciplinares, esta inserida dentro do Poder Judiciário dos Estados-Membros da

federação, se encontrando as melhores estruturas organizacionais em MG, SP e

RS.

E ao explanar sobre a organização da Justiça Militar

Estadual, aduz Loureiro Neto:

Assim como sucede na Justiça Militar Federal, são órgãos da primeira instância da Justiça Militar Estaduais os Conselhos de Justiça (Especial e Permanente) e os auditores, com as mesmas funções daquela, quais sejam, julgar oficiais, da competência do

150 ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Organização da Justiça Militar. Jus Navigandi, Teresina, ano

3, n. 35, out. 1999. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1569>. Acesso em: 23 out. 2007.

151 “Art. 117 – Compete aos órgãos da Justiça Militar do Estado o processo e julgamento dos crimes militares, praticados pelos integrantes da Polícia Militar, regulando-se a sua jurisdição e competência pelas normas traçadas pelo Código de Processo Penal Militar e pela Organização Judiciária Militar da União, atendido, ainda, no que couber, ao disposto no art. 144, § 1°, letra d, da Constituição Federal.”

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Conselho Especial, e julgar praças, da competência do Conselho Permanente.

Vê-se, pois, que a Constituição Federal permitiu aos Estados membros organizarem a Justiça Militar Estadual, sendo que nos estados em que o efetivo da polícia militar seja superior a vinte mil integrantes, a lei estadual pode criar, mediante proposta do Tribunal de Justiça, seu órgão de segunda instância militar, qual seja o Tribunal de Justiça Militar, como já existem nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.152

Cabe somente um adendo, tendo em vista as inovações

trazidas pela EC/45, a qual inovou ao permitir a criação do órgão de segundo grau

castrense nos Estados, quando as forças auxiliares forem superiores a vinte mil

homens, de maneira, que deixou de ser considerados somente os integrantes da

Polícia Militar (PM) passando a integrar também os Bombeiros Militares (BM).

E Rosa disserta acerca da Justiça castrense dos Estados

membros da Federação:

Na Justiça Militar Estadual, assim como na Justiça Militar da União, não existe nenhum privilégio aos jurisdicionados, mas um efetivo controle dos atos funcionais que são praticados, condenando-se o acusado quando existem provas de autoria e materialidade que demonstrem sua culpabilidade e absolvendo-o quando não existem elementos que possam levar à certeza da violação dos atos descritos na denúncia. Afinal, este é o fundamento da teoria geral do processo que se aplica no Estado Democrático de Direito.

(...)

A Justiça Militar Estadual, assim como a Justiça Militar da União, possui previsão constitucional e ainda uma função essencial no ordenamento jurídico, a qual vem sendo cumprida no decorrer dos anos. A população busca uma ordem pública efetiva que no aspecto soberania e segurança nacional é garantida pelas Forças

152 LOUREIRO NETO, José da Silva. Processo penal militar. São Paulo: Atlas, 2000, p. 107.

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Armadas e no aspecto segurança pública é garantida pelas Forças Militares Estaduais.153

Por fim, gize-se que a Justiça Militar Estadual, se encontra

inserida no texto da CRFB/88 e nas normas Estaduais, como órgão permanente e

integrante do Poder Judiciário, sendo há seus membros assegurados todas as

garantias ínsitas a carreira da magistratura, além de constituir importante órgão

para o engrandecimento do Estado, atuando de maneira isenta, garantindo a

preservação das Instituições Militares.

Neste esteio, passa-se ao terceiro capítulo, no qual será

abordada a jurisdição cível das Justiças Militares estaduais, sendo este o objeto

principal de estudo da presente pesquisa.

153 ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Justiça Militar e Estado Democrático de Direito. STM em

revista. Ano 02. n. 03. Brasília: STM, 2006, p. 25.

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CAPÍTULO 3

DA JURISDIÇÃO CÍVEL DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL NA EC/45

3.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A EC/45

No terceiro capítulo será tratada das inovações trazidas com

o advento da EC/45, assim ao dar-se início a análise de tais alterações é mister

tecer algumas digressões sobre referida Emenda, para tanto colhe-se o seguinte

excerto:

O ordenamento jurídico brasileiro erige a emenda constitucional como parte do processo legislativo, dotado de rígido processo para sua concretização, com relação a determinados pontos, permitindo, assim, somente alterações pontuais e circunstanciais. Não transige o Documento Maior com os valores supremos que ela considera insuscetíveis de reforma ou alteração.A pena, para esse deslize, é a sua total invalidade.

O abuso indiscriminado na sua utilização, no entanto, conduz à completa pulverização da Carta, valendo menos que uma lei ordinária ou simples decreto, por sua banalização, intensidade e volúpia com que é modificada, ou, como proclama o insigne jurista, Ministro Humberto Gomes de Barros, a Constituição brasileira não é nem rígida, nem elástica, ela foge ao modelo tradicional.Tampouco guarda semelhança com a lei fundamental do Reino Unido; ela é gelatinosa, pois toma a forma que lhe empresta o poderoso do momento.154

Publicada em 31 de dezembro de 2004, ou seja, após doze

anos de trâmite do Projeto de Emenda Constitucional n.º 96, a EC/45

implementou diversas alterações no Poder Judiciário brasileiro, e segundo Akashi,

154 SZKLAROWSKY, Leon Frejda. Emenda Constitucional. Revista Consulex. n. 175. Brasília:

Consulex, 2004, p. 04.

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tal reforma introduziu um maior controle sobre a atividade jurisdicional, buscando

a agilização e a segurança na atividade judiciária155.

Em contraponto, Lobão aduz que a proclamada Reforma do

Judiciário veio em satisfação aos interesses de grupos internacionais, com vista à

garantia do cumprimento dos contratos celebrados por estas no Brasil, detendo o

prévio conhecimento das decisões a serem seguidas pelos órgãos do Judiciário,

impondo tal situação a aplicação de seus recursos156.

Silva Neto, por seu turno, ao discorrer acerca da EC/45,

assevera que a mesma estabeleceu mudanças pontuais, não chegando

constituir-se em uma reforma:

A Emenda Constitucional n. 45, de 8 de dezembro de 2004, implementou mudanças no contexto do Poder Judiciário brasileiro, indicando novos regramentos à atividade jurisdicional.

Conquanto não se possa, com rigor técnico, nominá-la efetivamente de ‘reforma’ da estrutura judiciária brasileira, sendo certo que foram tão-só sedimentadas modificações pontuais no Poder Judiciário, que se não compadeceriam com a alteração de substância inerente a uma ‘reforma’, cuida de assinalar que o trabalho do legislador constituinte derivado produziu reflexos de antiplano da configuração dos direitos fundamentais.

O propósito desta investigação é apresentar as conseqüências da EC n. 45/04 para o plexo dos direitos fundamentais, não sem antes, em incursão propedêutica, analisar a dicotomia existente entre estes e os direitos humanos, passando após, à circunstanciada apreciação dos direitos fundamentais tal como tratados de modo explícito pelo constituinte derivado.157

155 AKASHI, Diogo Telles. Comentários à reforma do Poder Judiciário: emenda constitucional

n.º 45/2004. São Paulo: Letras Jurídicas, 2006, p. 19. 156 LOBÃO, Célio. Reforma do Judiciário: a competência da Justiça Militar. Direito Militar. n. 50.

Florianópolis: AMAJME, 2004, p. 06. 157 SILVA NETO, Manoel Jorge e. Direitos fundamentais na EC n. 45/2004. Reforma do

Judiciário: de acordo com a EC 45/2004. Coordenadores: Fredie Didier Jr., Edvaldo Brito e Saulo José Casali Bahia. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 135.

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Referida emenda, trabalho do constituinte derivado,

apresenta notáveis modificações em diversas normas e preceitos constitucionais,

estendendo, por exemplo, o rol de direitos e deveres coletivos e individuais,

modificando competências e alterando a estrutura administrativa do Judiciário,

bem como estabelecendo preceitos processuais, tendo a reforma do Judiciário

sido levada a efeito após longo trâmite e intensa discussão, em razão da crise

enfrentada pelo Judiciário, se fazendo necessária a celeridade na prestação

jurisdicional, assim como a segurança na atuação de tal Poder158.

Segundo escreve Hirsch, ao dissertar acerca do conteúdo da

reforme do Judiciário:

A Emenda n. 45 publicada no DOU de 31/12/2004, trata de uma vastidão considerável de matérias, sintetizando desde normas que regularam a duração razoável do processo (art. 5º, LXXVIII), passando pelo status e tratados internacionais de direitos humanos no Brasil (art. 5º, §§ 3º e 4º), ampliando a competência do Supremo Tribunal para afirmar possível intervenção federal quando houver recusa de execução de lei federal (art. 36, III), passando por uma reviravolta nas competências da Justiça do Trabalho de primeira e segunda instâncias (art. 114 e §§ 2º e 3º), da Justiça Militar estadual (art. 125, §§ 4º e 5º) e, por fim, situações específicas de competência perante o STJ (a exemplo da homologação de sentenças estrangeiras e concessão de exequatur às cartas rogatórias – art. 105, I, alínea i, bem como decidir a representação de Procurador Geral da República geradora do incidente de Deslocamento de Competência da justiça estadual para a federal – art. 109, § 5º), dentre outras.159

De tal modo, vê-se que a EC/45 trouxe inúmeras e

significativas alterações nos preceitos insertos na CRFB/88, no que concerne a

organização e estrutura do Poder Judiciário, impondo a este um órgão de controle

158 CAYMMI, Pedro Leonardo Summers. Súmula vinculante, segurança jurídica e positivismo:

o verdadeiro papel deste instrumento na construção democrática do discurso jurídico. Reforma do Judiciário: de acordo com a EC 45/2004. Coordenadores: Fredie Didier Jr., Edvaldo Brito e Saulo José Casali Bahia. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 179/180.

159 HIRSCH, Fábio Periandro de Almeida. O Poder Judiciário brasileiro e a reforma pela emenda n. 45/2004: uma análise pelos olhos de Konrad Hesse e Ferdinand Lassale. Reforma do Judiciário: de acordo com a EC 45/2004. Coordenadores: Fredie Didier Jr., Edvaldo Brito e Saulo José Casali Bahia. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 106.

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externo, muito embora no elenco do art. 92 da CRFB/88, o CNJ, esteja entre os

órgãos fracionários deste Poder.

Além do CNJ, a EC/45 criou novos órgãos, remodelou e

extinguiu outros, como os Tribunais de Alçada, onde existissem tais, passando

seus membros a compor os Tribunais de Justiça160.

Bermudes explica que a EC/45, pode ser dividida em três

partes distintas, de acordo com sua estrutura e linguagem, sendo a primeira as

alterações impostas pelo art. 1º da Emenda Constitucional, a segunda o

acréscimo dos dispositivos alfanuméricos que vem estabelecido no art. 2º do

mesmo texto e a terceira parte que compreende diversas matérias, as quais estão

previstas dos arts. 3º ao 10 de dita Emenda Constitucional161.

Entrementes, a EC/45 através das inovações que

apresentou se mostrou um instrumento para satisfação dos anseios da sociedade,

por meio de hábeis e suficientes mecanismos que possibilitem o Poder Judiciário

a rápida e eficaz prestação jurisdicional, como resultado do preceito constitucional

previsto no inciso LXXVIII162, do art. 5º, da CRFB/88, que estabelece a razoável

duração do processo, de modo a garantir a efetividade do processo e satisfação

dos que buscam socorro no Poder Judiciário163.

Em referência a Pereira, a qual esclarece que ao aprovar a

EC/45 o constituinte derivado buscar propiciar a sociedade uma prestação

jurisdicional mais célere, através de tal reforma, introduzindo novos preceitos,

redefinindo competências e atribuições, desejoso de atender os anseios do

160 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 487. 161 BERMUDES, Sergio. A reforma do Judiciário pela Emenda Constitucional n.º 45:

observações aos artigos da Constituição Federal alterados pela Emenda Constitucional n.º 45, de 08 de dezembro de 2004. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 04.

162 “LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantem a celeridade de sua tramitação.”

163 NEVES, Newton de Oliveira. A extinção dos Tribunais de Alçada e os conflitos de competência. A reforma do Poder Judiciário: uma abordagem sobre a Emenda Constitucional n.º 45/2004. Coordenador: José Luiz de Almeida. Campinas: Millennium, 2006, p. 29/30.

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cidadão, que quer uma Justiça mais ágil, entretanto, referida autora esclarece que

tal eficácia só será alcançada com a reforma da legislação processual164.

Destaca-se ainda, a crítica que referida autora faz a criação

do CNJ, de forma que este atentaria ao princípio da tripartição dos poderes165.

Tal posição, entretanto, já restou rechaçada pelo STF, na

Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) n.º 3.367/DF, relatada pelo Ministro

César Peluso, qual é citada por Moraes:

Como bem salientou o Supremo Tribunal Federal, ‘a composição híbrida do CNJ não compromete a independência do interna e externa do Judiciário, porquanto não julga causa alguma, nem dispõe de atribuição, de nenhuma competência, cujo exercício interfira no desempenho da função típica do Judiciário, a jurisdicional’.166

De tal modo, o debate acerca da criação do CNJ, embora

ainda se encontre opositores, hoje se encontra pacificada pela Suprema Corte.

Além da criação do CNJ a EC/45 trouxe em seu bojo a

adoção da súmula vinculante, através da qual ficam vinculadas as decisões dos

órgãos do Judiciário e da Administração Pública direta e indireta, em todas as

esferas, após a aprovação da referida súmula por dois terços dos membros do

STF, seguindo reiteradas decisões167.

Estas talvez sejam as mais polêmicas inovações da EC/45,

as quais ainda são tão combatidas, neste esteio colhe-se excerto de Limongi e

Stefano:

A reforma, que cria o conselho externo, que lhe permite aposentar magistrados, que adota súmula vinculante, tornando o juiz mero

164 PEREIRA, Áurea Pimentel. A reforma da justiça na Emenda Constitucional 45/2004. Rio de

Janeiro: Renovar, 2006, p. 16. 165 PEREIRA, Áurea Pimentel. A reforma da justiça na Emenda Constitucional 45/2004. Rio de

Janeiro: Renovar, 2006, p. VII 166 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 506. 167 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 24. ed. rev. e atual. São

Paulo: Malheiros, 2005, p. 565.

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carimbador de decisões, impedido-o de interpretar a lei de acordo com seus fins sociais e beneficiar as minorias, para mitigar fricções sociais, torna o Judiciário vassalo das transnacionais e do governo federal, com conseqüente enfraquecimento da democracia, acentuando o desnível entre ricos e pobres.168

Entre as inúmeras modificações trazidas pela EC/45,

destaca-se também as modificações de competência entre os órgãos do

Judiciário, como a transferência de competência para o conhecimento e

julgamento das ações que envolvam indenização por danos materiais e morais

por acidente de trabalho para a Justiça do Trabalho169, bem como foi transferida

ao STJ a competência para homologação de sentença estrangeira e a concessão

de exequatur170.

Ainda, como desta Assis, a EC/45, impôs significativas

alterações na Justiça Militar brasileira, com uma nova jurisdição ao Juiz de Direito

da Justiça Militar, a qual será separada da jurisdição do Conselho de Justiça,

assim como a principal inovação, que trata da jurisdição cível no âmbito da

Justiça Castrense171, desta maneira passe-se a aprofundar este que é o objeto da

presente pesquisa.

3.2 A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL, À LUZ DA EC/45

Como regra constitucional, compete a Justiça Militar o

conhecimento e julgamento dos crimes militares definidos em lei172, entretanto,

com o advento da EC/45 as Justiças Militares estaduais, sofreram profunda

alteração em suas atribuições, podendo se destacar as mudanças quanto à

estrutura e competência destas, as quais passam a exercer a jurisdição cível, nos

processos contra atos disciplinares militares. 168 LIMONGI, Celso Luiz; STEFANO, Claudia. Breves anotações sobre a reforma do Judiciário.

A reforma do Poder Judiciário: uma abordagem sobre a Emenda Constitucional n.º 45/2004. Coordenador: José Luiz de Almeida. Campinas: Millennium, 2006, p. 26/27.

169 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 571/572. 170 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 566. 171 ASSIS, Jorge Cesar de. A reforma do Poder Judiciário e a Justiça Militar: breves

considerações sobre seu alcance. Direito Militar. n. 51. Florianópolis: AMAJME, 2005, p. 24. 172 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 574.

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Desta feita, os parágrafos 4º e 5º, do art. 125 da CRFB/88,

passaram a ter a seguinte redação:

Art. 125. ----------------------------------------------------------------------------

§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.

§ 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais contra os atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares.

Como disposto no § 4º, do art. 125, do CRFB/88, à Justiça

Militar estadual incumbe o conhecimento e julgamento dos militares dos Estados

por crimes militares, assim como das ações judiciais contra atos disciplinares,

tendo o constituinte derivado ressalvada à competência do júri quando a vítima for

civil, situação que até então não era prevista.

3.2.1 Dos crimes militares

No que tange a competência para processar e julgar os

militares dos Estados pelo cometimento de crime militar definido em lei, Pereira

destaca que se deve estar atento a definição de crime militar, verificando-se as

disposições do art. 9.º173 do CPM, e em se tratando deste a competência será da

173 “Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:

I – os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial;

II – os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados:

a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou assemelhado;

b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;

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Justiça Militar, ressalvada a hipótese de crime doloso praticado por militar contra

civil174.

Ao proceder à análise da definição de crime militar, deve-se

destacar que este se divide em crimes propriamente militares e impropriamente

militares.

Ao dissertar acerca da distinção dos crimes militares,

Santos, assevera que os crimes próprios militares pode ser distinguido através do

simples exercício de leitura, posto que este não guardam qualquer relação com os

crimes comuns, possuindo as características próprias da atividade castrense175.

E Lobão ao definir as duas espécies, escreve quanto ao

crime propriamente militar:

c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em

formatura, ainda que fora do lugar sujeito a administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou civil;

d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;

e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração, ou a ordem administrativa militar;

f) (Revogada pela Lei nº 9.299, de 07.08.1996)

III – os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos:

a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar;

b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério Militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo;

c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras;

d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em obediência a determinação legal superior.

Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil, serão da competência da justiça comum.”

174 PEREIRA, Áurea Pimentel. A reforma da justiça na Emenda Constitucional 45/2004. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 16.

175 SANTOS, Mário Olímpio Gomes dos. Os crimes militares. Revista de Estudos e Informações. n. 08. Belo Horizonte: TJM/MG, 2001, p. 42.

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Como crime propriamente militar entende-se a infração penal, prevista no Código Penal Militar, específica e funcional do ocupante do cargo militar, que lesiona bens ou interesses das instituições militares, no aspecto particular da disciplina, da hierarquia, do serviço e do dever militar.176

E segundo lição de Costa: “A noção de crime próprio é uma

noção cujo valor é relativo e, até certo ponto, podem-se considerar próprios, em

relação aos crimes comuns, os crimes militares”.177

Assim, os crimes propriamente militares são aqueles que só

podem ser cometidos por militares, por se tratar de infração funcional praticada

somente por militar, como na deserção178.

Quanto ao conceito de crime impropriamente militar, pode-se

dizer que são aquelas que possuem grande similitude com a redação do tipo

comum, porém devido a uma circunstância específica, dentre as previstas no

CPM, passa a constituir crime militar179.

Nesse diapasão, Assis escreve:

São aqueles que estão definidos tanto no Código Penal Castrense quanto no Código Penal comum e, que, por um artifício legal tornam-se militares por se enquadrarem em uma das várias hipóteses do inc. II do art. 9º do diploma militar repressivo. São os crimes que o Doutor Clóvis Beviláqua chamava de crimes militares por compreensão normal da função militar (...).180

E consoante excerto de Costa:

176 LOBÃO, Célio. Direito penal militar. 3. ed. atual. Brasília: Brasília Jurídica, 2006, p. 84. 177 COSTA, Álvaro Mayrink da. Crime militar. 2. ed. reesc. e ampl. Rio de Janeiro: Lumen Juris,

2005, p. 15/16. 178 NEVES, Cícero Robson Coimbra; STREIFINGER, Marcello. Apontamentos de direito penal

militar. Vol. 1. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 48/49. 179 SANTOS, Mário Olímpio Gomes dos. Os crimes militares. Revista de Estudos e Informações.

n. 08. Belo Horizonte: TJM/MG, 2001, p. 42. 180 ASSIS, Jorge César. Comentários ao código penal militar. 5. ed. Vol. 1. Curitiba: Juruá,

2006, p. 38.

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Nem sempre o crime militar impropriamente exige que o sujeito ativo seja militar, o que não é suficiente para atribuir-se a classificação de crime militar; há que o tipo de proteger a ação lesiva, num interesse militar tutelado por uma lei penal militar.181

Deste modo, define-se crime impropriamente militar aquele

que encontra previsão na legislação penal comum, assim como na legislação

castrense, porém que se seja cometido em qualquer das circunstâncias do art. 9º,

do CPM182, já citado na nota de rodapé da p. 55.

3.2.2 Ações judiciais contra atos disciplinares militares

A alteração mais importante na esfera da Justiça Militar,

introduzida pela EC/45, diz respeito à atribuição de competência aos juízos

militares estaduais para processar e julgar ações judiciais contra atos

disciplinares, quais sejam, aquelas em que o pedido ou a causa de pedir se

refiram a atos disciplinares militares183.

Neste liame, como ensinam Pinho e Nascimento: “Os atos

disciplinares são manifestações do Poder Executivo para realização dos objetos

que lhe são próprios. Por meios deles o executivo cumpre seus fins e desenvolve

suas atividades”.184

Neste esteio, Antônio Pereira Duarte aponta as alterações

introduzidas com a EC/45, demonstrando sob sua perspectiva as vantagens que

esta trouxe a Justiça Castrense:

Na atual Reforma do Judiciário, já se assiste a uma indeclinável ampliação de competência, tanto da Justiça Militar federal quanto da co-irmã, a Justiça Militar estadual, que seria a de se outorgar

181 COSTA, Álvaro Mayrink da. Crime militar. 2. ed. reesc. e ampl. Rio de Janeiro: Lumen Juris,

2005, p. 16. 182 LOBÃO, Célio. Direito penal militar. 3. ed. atual. Brasília: Brasília Jurídica, 2006, p. 99. 183 SILVA, Jadir. Justiça Militar estadual: breves comentários acerca das novidades introduzidas

pela Emenda Constitucional n.º45, de 08/12/2004. Revista de Estudos e Informações. n. 14. Belo Horizonte: TJM/MG, 2005, p. 14.

184 PINHO, Ruy Rebello; NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Instituições de direito público e privado: Introdução ao estudo de direito e noções de ética profissional. 18. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 1992, p. 147.

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aos juízes-auditores, singularmente, o processo e julgamento de ações relativas às punições disciplinares, o que consideramos adequado e já sustentávamos em nosso Direito Administrativo Militar, Forense, 1995, haja vista o profundo e amplo conhecimento dos operadores do Direito Militar, lato sensu, incluindo, nesse contexto, os aspectos comezinhos e peculiares da atividade castrense. Logo, de muito boa guarida a perspectiva de mudança constitucional, o que tornaria os julgamentos muito mais técnicos e acertados, visto que, aqui, totalmente aplicável o brocardo jura novit curia!.185

De tal modo, ao entrar em vigor a EC/45 concedeu aos

juízes de direito do juízo militar o conhecimento e julgamento das ações

referentes a atos disciplinares, de modo que a estes agora incumbe resolver a

pretensão daqueles que por Processo Administrativo-Disciplinar (PAD) tenham

sofrido punição disciplinar, a qual se refere ao direito disciplinar militar.

Todo este contexto, como trazido pela doutrina castrense se

insere dentro do Direito Administrativo, o qual permite a Administração à

aplicação de sanção ao agente público que pratique ato previsto como infração

administrativa, exercendo deste modo o poder disciplinar186, o qual é intrínseco ao

exercício do poder hierárquico que permeia as Instituições Militares.

Portanto, a apreciação de tais atos está submetida ao crivo

do Judiciário, em atenção ao preceito constitucional inserto no inciso XXXV, do

art. 5º, da CRFB/88187, podendo o militar que achar-se lesado por reprimenda

imposta em razão de transgressão militar, não mais recorrerá às Varas da

Fazenda Pública na Justiça Comum, mas a Justiça Militar estadual188.

185 DUARTE, Antônio Pereira. A Justiça Militar do terceiro milênio. Revista de Estudos e

Informações. n. 12. Belo Horizonte: TJM/MG, 2003, p. 37. 186 ANJOS, Marcelo Adriano Menacho dos. O crime propriamente militar e a transgressão

disciplinar militar. Revista de Estudos e Informações. n. 12. Belo Horizonte: TJM/MG, 2003, p. 17.

187 SILVA, Jadir. Justiça Militar estadual: breves comentários acerca das novidades introduzidas pela Emenda Constitucional n.º45, de 08/12/2004. Revista de Estudos e Informações. n. 14. Belo Horizonte: TJM/MG, 2005, p. 16.

188 ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Competência do juiz militar em segunda instância para o julgamento das ações judiciais contra atos disciplinares. Revista de Estudos e Informações. n. 17. Belo Horizonte: TJM/MG, 2006, p. 38.

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Ao tratar dessa nova jurisdição do juízo militar, Assis adverte

acerca dos limites desta jurisdição, conquanto, ao analisar a questão o juiz de

direito do juízo militar deve deter-se apenas na análise dos pressupostos para

formação e validade do ato em questão:

Sendo o ato disciplinar um ato administrativo por excelência, os limites da jurisdição são exatamente os mesmos estabelecidos para a análise pela jurisdição comum ou ordinária, ou seja, não se poderá verificar o mérito do ato administrativo, mas sim os pressupostos exigidos para a sua formação e validade.

Anote-se que os dispositivos constitucionais que tratam da matéria são de aplicação imediata e de eficácia plena, não necessitando de regulamentação, a não ser, é óbvio, aquelas necessárias para se adequar o rito processual a ser seguido desde já.189

E como destaca Oliveira, a atuação da Justiça Militar na

seara cível, deve estar limitada a apreciação dos atos de caráter militar,

possuindo de tal forma cunho punitivo, os quais, é claro, devem ser conseqüência

de PAD, esclarecendo que ainda pode o juízo militar ser instado a se manifestar

sobre matéria que venha como reflexo do ato impugnado, como um eventual

pedido de reintegração, admitindo-se a cumulação de tais pedidos com

fundamento no art. 292190 do CPC191.

Neste liame, Akashi ao comentar a EC/45 afirma ter se

constituído em importante modificação a ampliação da competência da Justiça

Militar dos estados, passando para estes a atribuição desta Justiça especializada,

a apreciação de ações judiciais, com o objetivo de questionar ato disciplinar

imposta na esfera administrativa192.

189 ASSIS, Jorge César de. A reforma do Poder Judiciário e a Justiça Militar: breves

considerações sobre seu alcance. Direito Militar. n. 51. Florianópolis: AMAJME, 2005, p. 26. 190 “Art. 292. É permitida a cumulação, num único processo, contra o mesmo réu, de vários

pedidos, ainda que entre eles não haja conexão.” 191 OLIVEIRA, Rodrigo Tadeu Pimenta de. Reflexos da Emenda Constitucional n.º 45, de 08 de

dezembro de 2004, nas Justiças Militares estaduais. Direito Militar. n. 50. Florianópolis: AMAJME, 2004, p. 13/14.

192 AKASHI, Diogo Telles. Comentários à reforma do Poder Judiciário: emenda constitucional n.º 45/2004. São Paulo: Letras Jurídicas, 2006, p. 148.

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Contudo, insta salientar que tal alteração se deu somente

em relação à Justiça Militar estadual, não havendo o constituinte derivado

estendido tal competência a Justiça Militar da União, como indica Martins:

A novidade está na transferência da competência para processar e julgar as ‘ações judiciais contra atos disciplinares militares’, da Justiça Comum estadual, para a Justiça Militar.

Tal alteração, de forma incompreensível, não se fez em relação à Justiça Militar da União, quando é certo que também para este ramo da Justiça Militar seria de se estender a competência agora conferida para a Justiça Militar dos Estados.193

Outras alterações merecem destaque, embora sem o

mesmo aprofundamento, vez que foge ao objeto da pesquisa, a primeira quanto à

substituição do termo juiz-auditor por juiz de direito do juízo militar, com a

atribuição de funções especificas a este, as quais estão previstas no § 5º, do art.

125, da CRFB/88, além da transferência para este da presidência do Conselho de

Justiça, antes atribuição do oficial mais antigo194.

Gize-se também, que a EC/45, resolveu definitivamente a

questão suscitada pela Lei n.º 9.299/96, reservando o julgamento dos crimes

dolosos contra a vida praticada por militar contra civil, ao tribunal do júri195.

Retomando o referente adotado, passa-se a análise do

problema principal trazido à baila, assim passa-se a análise da jurisdição cível da

Justiça Militar estadual.

193 MARTINS, Eliezer Pereira. Emenda Constitucional 45/04 (Reforma do Judiciário) – Ações

judiciais contra atos disciplinares militares – Ampliação da competência da Justiça Militar estadual – Reflexões iniciais. Direito Militar. n. 55. Florianópolis: AMAJME, 2005, p. 15.

194 LOBÃO, Célio. Reforma do Judiciário: a competência da Justiça Militar. Direito Militar. n. 50. Florianópolis: AMAJME, 2004, p. 07.

195 AKASHI, Diogo Telles. Comentários à reforma do Poder Judiciário: emenda constitucional n.º 45/2004. São Paulo: Letras Jurídicas, 2006, p. 148.

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3.3 A JURISDIÇÃO CÍVEL DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL

Tratando especificamente da jurisdição cível da Justiça

Militar, dois são os pontos que se pretende destacar, quais sejam os limites desta

jurisdição, analisando quais espécies de ação são de competência desta Justiça

especializada, bem como as vantagens de referida alteração constitucional.

Ao entrar em vigor a EC/45 passou a exigir da Justiça Militar

o conhecimento de ações de natureza cível, até então desconhecida aos seus

operadores, impondo a esta uma série de reformas, necessárias a adequação de

sua estrutura, com vista ao atendimento da nova demanda196, para tanto o

Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais (TJMMG) criou uma

Câmara especializada para tratar da matéria cível197, enquanto o Tribunal de

Justiça Militar do Estado de São Paulo (TJMSP) desde 2005 atribuiu a 2ª

Auditoria Militar com sede na capital do Estado, a competência para processar e

julgar as ações relativas a atos disciplinares.

Sobre esta nova realidade enfrentada pelos operadores do

direito militar, assevera Assis, apontando a alteração sofrida pela Justiça

Castrense:

Não há como se negar a sensível mudança operada em relação à Justiça Militar.

Para exercer o controle jurisdicional sobre as punições disciplinares, o que fará através do processo e julgamento das ações judiciais contra atos disciplinares militares, a Justiça Militar passará a travar conhecimento com o processo cível, que até então lhe era um completo desconhecido, à exceção do julgamento do mandado de segurança pelos Tribunais.

196 MARTINS, Eliezer Pereira. Emenda Constitucional 45/04 (Reforma do Judiciário) – Ações

judiciais contra atos disciplinares militares – Ampliação da competência da Justiça Militar estadual – Reflexões iniciais. Direito Militar. n. 55. Florianópolis: AMAJME, 2005, p. 17.

197 AZEVEDO, Flávia Adriana Ferreira de. As mudanças trazidas pela Emenda Constitucional n.º 45 e seus reflexos na Justiça Militar estadual mineira. Revista de Estudos e Informações. n. 18. Belo Horizonte: TJM/MG, 2006, p. 28.

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O instrumento de aplicação dessa nova forma de atuação será o Código de Processo Civil, coadjuvado pelo novo Código Civil brasileiro e, é lógico, por toda a legislação administrativa e disciplinar aplicável à espécie de cada novo processo que ali irá aportar.198

Embora presentes tais circunstâncias, a nova ordem imposta

pela EC/45, vem em atendimento à especificidade da jurisdição e da

racionalidade da distribuição, como afirma Dalabrida, uma vez que investe a um

órgão com a qualificação adequada, o conhecimento das ações que versam sobre

questões intrínsecas a vida na caserna199.

Destarte, para se definir os feitos de natureza cível que são

de competência da Justiça Castrense, se faz necessária a análise do conceito de

ato disciplinar militar, o qual seria o “conjunto de princípios cuja observância,

como norma de conduta, é exigida aos que integram qualquer coletividade”.200

Deste modo, ao discutir a legitimidade de determinado ato

disciplinar o requerente terá, à primeira vista, dois caminhos: ingressar com ação

mandamental, com vista à garantia de direito líquido e certo ou ação declaratória,

a ser observado o procedimento ordinário, a fim de que ao final julgamento seja

declarada a nulidade do ato disciplinar.

Ao impetrar Mandado de Segurança o mesmo se restringiria

à apreciação dos aspectos formais, não discutindo o mérito do ato impugnado,

entretanto, ao ingressar com ação declaratória o pedido de declaração de

nulidade do ato poderia ser cumulado com pedidos pertinentes aos efeitos do ato

disciplinar, uma vez que a via estreita do Mandado de Segurança não permite a

dilação probatória.

198 ASSIS, Jorge César de. A reforma do Poder Judiciário e a Justiça Militar. Breves

considerações sobre seu alcance. Direito Militar. n. 51. Florianópolis: AMAJME, 2005, p. 26/27. 199 DALABRIDA, Sidney Eloy. A competência constitucional da Justiça Militar: Questões

controvertidas. Direito Militar. n. 56. Florianópolis: AMAJME, 2005, p. 33. 200 DICIONÁRIO JURÍDICO da Academia Brasileira de Letras Jurídicas. 2. ed. Rio de Janeiro:

Forense, 1991, p. 201.

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Há que se observar, de acordo com remansoso

entendimento, que ao buscar a impugnação do ato disciplinar, não caberá ao

Judiciário adentrar no mérito do PAD, assim como nas conveniências da

reprimenda aplicada, eis como explica Meirelles, ao Judiciário incumbe analisar a

legitimidade da pena e se foi observado o devido processo legal, eis que o

Judiciário não pode interferir no poder discricionário da autoridade

administrativa201.

Neste sentido, colhe-se da jurisprudência do STF:

O mandado de segurança não é meio hábil a alcançar-se, no Judiciário, a substituição da moldura fática delineada no processo administrativo. A regra segundo a qual não se dará segurança quando se tratar de ato disciplinar, salvo se praticado por autoridade incompetente ou preterida formalidade essencial - inciso III do artigo 5º da Lei n. 1.533/51 - afina-se com a exigência sobre a liquidez e certeza do direito, porquanto impossível é confundir o enquadramento jurídico dos fatos apurados com a revisão destes, somente passível de ser alcançada em fase própria, ou seja, a probatória, em que viabilizadas altas indagações sobre os acontecimentos envolvidos na controvérsia.202

De tal modo, a Justiça Militar é competente para o

julgamento de todas as ações cíveis que estejam questionando quaisquer atos

que possuam natureza disciplinar.

Rocha ainda defende a tese da competência da Justiça

Militar estadual para o conhecimento e julgamento de ação civil pública, cujo

objeto seja a alteração de normas disciplinares por autoridade administrativa

militar, quando estas possam causar lesão à garantia e à segurança pública:

201 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 21. ed. São Paulo: Malheiros,

1996, p. 601. 202 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Mandado de Segurança n. 21297-7/DF, do Tribunal

Pleno. Relator Ministro Marco Aurélio. Diário da Justiça da União, Brasília, p. 2.170, 28 fev. 1992. Disponível em: <http://www.stf.gov.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp>. Acesso em: 26 jan. 2008.

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Contudo, a competência da Justiça Militar estadual para processar e julgar as ações civis relativas à segurança pública está restrita ao exame dos fatos que digam respeito ao exercício do poder disciplinar militar. Por isso, se o Ministério Público propuser uma ação civil pública contra o Estado, pedindo a condenação na obrigação de realizar concurso público para aumentar o efetivo policial, considerado insuficiente para atender às necessidades de combate à criminalidade, será competente a Justiça Comum. Mas, se o órgão de execução ministerial propuser a ação pleiteando modificação nas regras disciplinares implementadas por autoridade administrativa militar, ao fundamento de que tais regras prejudicam a eficiência dos serviços de proteção ao direito fundamental de segurança, a competência será da Justiça Militar (...).Nestes casos, a ação civil pública visa preservar a disciplina adequada ao bom desempenho das funções protetivas da segurança pública e deve ser pro posta na Justiça Militar.203

Em contraponto, Rocha, afirma ser incompetente a Justiça

Militar para apreciação de atos administrativos que visem discutir o controle de

legalidade, pois enquanto atos disciplinares militares estão relacionados à

manutenção da disciplina, nos atos administrativos de controle de legalidade não

se verifica a ocorrência de transgressão militar, que enseje a aplicação de medida

disciplinar204.

Ainda afirma estar fora da competência da Justiça Militar as

ações previdenciárias, aquelas em que se pretenda discutir percepção de valores,

assim como de ingresso e habilitação no estágio probatório e promoção, além da

transferência para inatividade, eis que estas não caracterizam sanção por

transgressão militar205.

Todavia, o TJMMG vem seguindo a orientação de que tudo

que se relacione a disciplina militar, “seja com relação a punições, elogios,

dispensas, férias, direitos, deveres, promoções, formaturas em cursos, enfim, que

203 ROCHA, Fernando A. N. Galvão da. Ação civil pública na Justiça Militar estadual. Revista

de Estudos e Informações. n. 19. Belo Horizonte: TJM/MG, 2007, p. 21/22. 204 ROCHA, Fernando A. N. Galvão da. Ação civil pública na Justiça Militar estadual. Revista

de Estudos e Informações. n. 19. Belo Horizonte: TJM/MG, 2007, p. 15. 205 ROCHA, Fernando A. N. Galvão da. Ação civil pública na Justiça Militar estadual. Revista

de Estudos e Informações. n. 19. Belo Horizonte: TJM/MG, 2007, p. 22.

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impliquem no ‘moral da tropa’, são considerados atos disciplinares”, conceituando

ato disciplinar de forma ampla, adotando a interpretação histórica da norma,

analisando a intenção do constituinte206.

Neste sentido:

A competência da Justiça Militar Estadual, conferida pelo § 4º do art. 125 da Constituição Federal, não se restringe ao exame dos atos administrativos punitivos. Por atos administrativos disciplinares deve-se entender todos aqueles atos que, de alguma forma, possam interferir na ordenação disciplinar que é característica fundamental das instituições militares.207

E mais, consoante extraído do voto do Juiz Décio de

Carvalho Mitre, no julgamento da Apelação Cível n.º 009:

Por outro lado, mesmo o ato disciplinar punitivo, como espécie do ato administrativo, deve atender aos requisitos da competência, finalidade, forma, motivo e objeto, dentre os quais os três primeiros são vinculados, enquanto que os dois últimos são discricionários, ‘em relação aos quais a Administração decide livremente, e sem possibilidade de correção judicial, salvo quando seu proceder caracterizar excesso ou desvio de poder’ (MEIRELLES, 1997, p.138), sendo que o procedimento administrativo também deve ser analisado sob o aspecto da legalidade, mormente no que diz respeito à aplicação das garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa, previstos no art. 5º, LV, da Lei Maior.208

206 MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais. Agravo de

Instrumento Cível n. 002. Relator Juiz Cel. PM Rúbio Paulino Coelho. Diário do Judiciário, Belo Horizonte, 14 fev. 2006. Disponível em: <http://www.tjm.consultajurisprudencia.mg.gov.br/jcab/recursos/AGRAVODEINSTRUMENTOCIVELNo002.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2008.

207 MINAS GERAIS Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais. Apelação Cível n. 170. Relator Juiz Fernando Galvão da Rocha. Diário do Judiciário, Belo Horizonte, 29 jun. 2007. Disponível em: <http://www.tjm.consultajurisprudencia.mg.gov.br/jcab/recursos/APELACAOCIVELNo170.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2008.

208 MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais. Apelação Cível n. 009. Relator Juiz Décio de Carvalho Mitre. Diário do Judiciário, Belo Horizonte, 11 nov. 2005. Disponível em: <http://www.tjm.consultajurisprudencia.mg.gov.br/jcab/recursos/APELACAOCIVELNo009.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2008.

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Tal entendimento é de suma importância, pois não restringe

à competência da Justiça especializada a apreciação de sanções disciplinares,

mas a todos os atos praticados com vista à manutenção da disciplina, através dos

quais se criem obrigações ou modifiquem, extingam ou declarem direitos, como

assentou o STJ209.

Não obstante, colaciona-se da jurisprudência do STJ:

Em relação ao controle jurisdicional do processo administrativo, a atuação do Poder Judiciário circunscreve-se ao campo da regularidade do procedimento, bem como à legalidade do ato atacado, sendo-lhe defesa qualquer incursão no mérito administrativo a fim de aferir o grau de conveniência e oportunidade.210

Posto tais considerações, a Autoridade Judiciária quando

provocada a resolver uma questão processará e julgará o feito, analisando se os

preceitos legais foram observados, uma vez que o vício de legalidade enseja a

anulação do ato disciplinar211, não cabendo ao Judiciário analisar o substrato do

referido ato, vez que tal é deixado à discrição da Administração.

Ainda, consoante entendimento do STJ:

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. VOLUNTÁRIO DA POLÍCIA MILITAR. CONDUTA INCOMPATÍVEL. DESLIGAMENTO. ATO DISCIPLINAR MILITAR. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR.

209 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Conflito de competência n. 62346/MG, da Primeira

Seção. Relatora Ministra Denise Arruda. Diário da Justiça da União, Brasília, p. 449, 06 ago. 2007. Disponível em: <http://www.stj.gov.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?processo=62346&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=1>. Acesso em: 26 jan. 2008.

210 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Ordinário em Mandado de Segurança n. 19846/RS, da Quinta Turma. Relator Ministro Gilson Dipp. Diário da Justiça da União, Brasília, p. 269, 29 mai. 2006. Disponível em: <http://www.stj.gov.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?processo=19846&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=5>. Acesso em: 26 jan. 2008.

211 ROCHA, Fernando A. N. Galvão da. Ação civil pública na Justiça Militar estadual. Revista de Estudos e Informações. n. 19. Belo Horizonte: TJM/MG, 2007, p. 15.

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1. O desligamento do serviço militar por conduta incompatível com o serviço constitui verdadeiro ato disciplinar, o qual exige, inclusive, decisão fundamentada.

2. Em regra, compete à Justiça Militar estadual processar e julgar atos disciplinares militares, nos termos do § 4º do art. 125 da Constituição da República.

3. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito da 2ª Auditoria Militar de São Paulo/SP, o suscitante.212

O TJMMG, nos julgamentos dos Conflitos de Competência

n.º 001213 e 002214, reconheceu sua competência para o julgamento de ações que

tem por objeto a jornada de trabalho de militar, entendendo que esta possui

natureza disciplinar.

Ademais, o TJMMG já reconheceu a competência da Justiça

Militar para o julgamento de ações de improbidade administrativa cometida por

militares, as quais possam resultar na exclusão destes das fileiras da corporação,

medida prevista na Lei n.º 8.429, de 02 junho de 1992 (Lei de Improbidade

Administrativa), sendo a competência para o processamento e julgamento de tais

feitos, originária do Tribunal215.

212 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Conflito de competência n. 54518/SP, da Terceira

Seção. Relator Ministro Arnaldo Esteves Lima. Diário da Justiça da União, Brasília, p. 226, 02 ago. 2006. Disponível em: <http://www.stj.gov.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?processo=54518&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=2>. Acesso em: 26 jan. 2008.

213 MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais. Conflito de Competência n. 001. Relator Juiz Décio de Carvalho Mitre. Diário do Judiciário, Belo Horizonte, 23 nov. 2006. Disponível em: <http://www.tjm.consultajurisprudencia.mg.gov.br/jcab/recursos/ConflitodeCompetenciano001.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2008.

214 MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais. Conflito de Competência n. 002. Relator Juiz Cel. PM Paulo Duarte Pereira. Diário do Judiciário, Belo Horizonte, 09 mar. 2007. Disponível em: <http://www.tjm.consultajurisprudencia.mg.gov.br/jcab/recursos/ConflitodeCompetenciaCivelno002.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2008.

215 MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais. Agravo de Instrumento n. 008. Relator Juiz Cel. PM Sócrates Edgard dos Anjos. Diário do Judiciário, Belo Horizonte, 01 jun. 2007. Disponível em: <http://www.tjm.consultajurisprudencia.mg.gov.br/jcab/recursos/AGRAVODEINSTRUMENTOCIVELNo008.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2008.

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Neste mesmo sentido, a ação de perda do posto e da

patente dos oficiais e da graduação das praças é de competência originária do

TJM do Estado, ou do Tribunal de Justiça onde não houver TJM, conforme

preceito inserto no § 4º, do art. 125, da CRFB/88, embora as praças possam

perder a graduação mediante PAD, conforme Súmula n.º 673216 do STF.

Assim, considerando a interpretação adotada pelos órgãos

jurisdicionais, podemos concluir que a competência da Justiça castrense não está

adstrita ao conhecimento e julgamento das ações que versem sobre punições

disciplinares, mas abrangendo também os reflexos destas, principalmente a

reintegração do militar que tenha sido excluído da corporação, além é claro de

indenização por abalo moral e pelos danos materiais ocasionados pelo ato.

Deste modo, embora Assis argumente que “não houve

avanço nem melhoria na prestação jurisdicional da Justiça Especializada”217, a

EC/45 vem de atender o princípio da especificidade, proporcionando maior

eficácia na prestação jurisdicional, ao passo que o juiz de direito da Justiça Militar

pode interpretar de maneira mais adequada os ditames das normas castrenses.

3.4 O PROJETO DE EMENDA CONSTITUCIONAL N. 358/05

O Projeto de Emenda Constitucional n. 358/05 (PEC 358/05)

vem apresentar a segunda etapa da reforma do Judiciário, com novas alterações

na estrutura do Judiciário, as quais não foram aprovadas quando da promulgação

da EC/45, tendo o texto retornado para discussão dos constituintes derivados,

sofrendo diversas emendas.

De tal sorte, com a promulgação do PEC 358/05, a Justiça

Militar da União terá uma ampliação de sua competência, passando a exercer o

controle jurisdicional sobre as punições disciplinares, o que, segundo o Ministro

Carlos Alberto Marques Soares exigirá reformulações na LOJM e no Regimento

216 “Súmula do STF n. 673 – O art. 125, § 4º, da constituição não impede a perda da graduação de

militar mediante procedimento administrativo.” 217 ASSIS, Jorge César de. A reforma do Poder Judiciário e a Justiça Militar. Breves

considerações sobre seu alcance. Direito Militar. n. 51. Florianópolis: AMAJME, 2005, p. 27.

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Interno do STM, asseverando ainda, que a Justiça Militar da União só exercerá

sua nova competência mediante julgamento de Habeas Corpus, e em casos

excepcionais, para a apreciação de MS218.

Carvalho Júnior, ao tecer suas considerações sobre tal

projeto, explica acerca do processo legislativo:

O PEC 358/05 encontra-se tramitando na Comissão Especial de Reforma do Judiciário; está aguardando parecer de aprovação par que possa ser submetida em dois turnos pelo Plenário da Câmara. Se houver modificações gritantes que comprometam a tese legislativo-constitucional nela albergada, ela retorna à casa de origem (Senado Federal) que deverá apreciar os pontos divergentes também em dois turnos e fazer o reenvio à Câmara dos Deputados para apreciação do debate. Caso não encontre resistência e a tese nela agasalhada resulte intacta, ela deverá ir para votação em dois turnos e se aprovada será promulgada em sessão conjunta, das duas casas, pelo Congresso Nacional.219

Além das inúmeras modificações na estrutura de todo o

Poder Judiciário, o PEC 358/05, trará novidades para a Justiça Militar da União, a

qual passará a exercer o controle jurisdicional sobre as punições disciplinares

aplicadas aos militares das Forças Armadas, sendo as ações correspondentes de

natureza cível, além de alterar a composição do STM, o qual passará de quinze

para onze ministros, sendo esta realizada de maneira gradativa como inserto no

art. 3º do PEC 358/05220.

Tessler, apresenta argumentos favoráveis e contrários à

alteração da competência, citando como pontos favoráveis, a autora lista: o

principio da unificação por pertinência temática; o princípio da eficiência; o

fortalecimento da Instituição; o argumento da eficácia; argumento da

218 SOARES, Carlos Alberto Marques. Da reforma do Poder Judiciário e a Justiça Militar da

União – Considerações. Direito Militar. n. 57. Florianópolis: AMAJME, 2006, p. 08. 219 CARVALHO JÚNIOR, Astor Nina de. A segunda etapa da reforma do Judiciário e o novo

perfil do Superior Tribunal Militar. Direito Militar. n. 61. Florianópolis: AMAJME, 2006, p. 18. 220 OLIVEIRA, Alexandre Nery de. Comentários à reforma do Judiciário (XVII). Propostas

pendentes (PEC nº 358/2005 e apensos). Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1402, 4 maio 2007. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9786>. Acesso em: 29 jan. 2008.

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especialidade. Todavia, em contraponto a tais argumentos, a mesma menciona:

perda de poder da Justiça Federal, frente à transferência de competência para a

Militar; o peso para a fixação dos controles processuais adequados para os feitos

de natureza cível; a definição dos limites da jurisdição e o alcance desta; a

estruturação das Auditorias Militares para o julgamento deste tipo de ação, sendo

necessários ajustes nos estatutos e regimentos; por fim, trata do exame de

admissibilidade dos recursos interpostos, necessitando a designação de quem o

faça221.

Como se extrai do texto do PEC 358/05, há uma sensível

incongruência entre a jurisdição cível atribuída a Justiça Militar estadual daquela

que poderá advir a Justiça Militar da União, porquanto o art. 125, § 4º, da

CRFB/88, estabelece a competência da Justiça Castrense estadual para

processar e julgar as ações judiciais contra atos disciplinares, enquanto se

aprovado o projeto citado, o art. 124 da CRFB/88, estabelecerá a competência da

Justiça Militar da União para exercer o controle jurisdicional sobre as punições

disciplinares aplicadas aos membros das Forças Armadas, assim se eleva na

doutrina a discussão acerca de tal diferenciação.

Neste sentido, Azevedo assevera:

Como brilhantemente expôs o juiz de direito da 2ª Auditoria da Justiça Militar mineira, Dr. Paulo Tadeu Rodrigues Rosa, na IX Jornada de Estudos de Direito Penal Militar, a expressão ato disciplinar, trazida pela EC nº 45/04, distancia-se e muito da expressão punição disciplinar utilizada na PEC nº 358/05, que como já foi dito trata da competência da Justiça Militar da União.222

Todavia, para Oliveira, a Justiça Militar da União exercerá o

controle jurisdicional sobre os atos disciplinares nos quais tenha sido aplicada

221 TESSLER, Marga Inga Barth. A competência da Justiça Militar da União com a provável

aprovação da PEC n.º 358/2005. Direito Militar. n. 62. Florianópolis: AMAJME, 2006, p. 16/18. 222 AZEVEDO, Flávia Adriana Ferreira de. As mudanças trazidas pela Emenda Constitucional

n.º 45 e seus reflexos na Justiça Militar estadual mineira. Revista de Estudos e Informações. n. 18. Belo Horizonte: TJM/MG, 2006, p. 28.

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sanção disciplinar a militar das Forças Armadas, devendo, entretanto o

interessado provocar o Judiciário a se manifestar223.

Atualmente o PEC 358/05 encontra-se na Mesa Diretora da

Câmara Federal aguardando sua inclusão na pauta para discussão e posterior

deliberação224, sendo aprovada em dois turnos pelo Plenário da Casa baixa do

Congresso Nacional, havendo alterações, a mesma retornará ao Senado.

223 OLIVEIRA, Alexandre Nery de. Comentários à reforma do Judiciário (XVII). Propostas

pendentes (PEC nº 358/2005 e apensos). Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1402, 4 maio 2007. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9786>. Acesso em: 29 jan. 2008.

224 Informações acerca do andamento do PEC n. 358/2005 estão disponíveis no portal da Câmara, através do endereço: <http://www.camara.gov.br/Sileg/Prop_Detalhe.asp?id=274765>. Acesso em 29 jan. 2008.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio da presente pesquisa, buscou-se compreender o

fenômeno evolutivo ocorrido na Justiça Militar, destacando que o Judiciário ao

exercer a jurisdição, substitui as partes, buscando de maneira neutra a

composição dos conflitos, como forma de pacificação social, sendo esta exercida

através do devido processo legal.

Esta função de dizer o direto e estabelecer ao lado de quem

está a razão, é exercida pelo Judiciário de forma una é indivisível, sendo as

competências divididas para melhor administração da justiça, sendo cada órgão

incumbido de uma competência específica, assim a Justiça Militar com a evolução

dos tempos sofreu alterações tanto em suas atribuições como na sua estrutura,

detendo cada vez mais uma identidade de órgão judicial e menos de Corte

Marcial.

Conforme estabelece o § 4º do art. 125 da CRFB/88,

compete a Justiça Militar estadual processar e julgar as ações judiciais contra

atos disciplinares militares, ou seja, ações de natureza cível, implicando ainda no

conhecimento de pretensões cujo objeto seja conseqüência de tais atos, tendo

em vista a especificidade da matéria, bem como a possibilidade de conjugação

dos pedidos.

Embora os debatedores sejam controversos, o que é

implícito ao direito, para obter-se uma resposta objetiva acerca dos limites da

jurisdição cível da Justiça Militar, obtive-se socorro nas decisões dos Tribunais, os

quais vêm reconhecendo a competência da Justiça castrense estadual para julgar

todas as ações contra atos disciplinares, eis que este vem conforme a intenção do

constituinte derivado, como instrumento para resolução dos conflitos com maior

eficiência e da forma mais adequada.

Assim, esta Justiça especializada vem conhecendo e

julgando todas as ações que tenham como escopo questionar atos afetos a

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disciplina militar, ou seja, que abalem o “moral da tropa”, sendo tal entendimento

adotado de forma reiterada pelos Tribunais de Justiça Militar e Tribunais

Superiores.

Isto posto, considera-se que as alterações introduzidas pela

EC/45, com o devido acatamento aos entendimentos diversos, trazem ganhos,

tanto a Justiça Militar, quanto aos seus jurisdicionados, eis que tal veio em

atendimento à especificidade da jurisdição, considerando que os atos

questionados são intrínsecos a vida na caserna, exigindo do julgador uma maior

familiaridade com o cotidiano dos quartéis.

E em se tratando de ramo especializado do direito,

oportunizarão as partes uma prestação jurisdicional mais condizente com os

princípios castrenses, saciando os anseios sociais a medida da correta aplicação

do direito ao caso, uma vez que aplicado por operadores familiarizados à matéria,

evitando incongruências incompressíveis aos olhos da sociedade.

Neste vértice, salienta-se que o estudo do direito positivo,

como concebido neste trabalho, surge à luz do texto constitucional, pois não há

como fugir da lei maior, eis que em última análise a lei deve ser interpretada de

conformidade com os interesses sociais e da coletividade, eis que este é o seu

destinatário.

Ao final, concluí-se que as transformações advindas com a

EC/45, e no caso específico a Justiça Militar serve para o fortalecimento do

Estado Democrático de Direito, uma vez que contribui para solidificação das

Instituições, possibilitando a atuação livre e isenta, ainda que por mais das vezes,

em decorrência de circunstâncias alheias, as mesmas sejam utilizadas de forma

inidônea na contramão da corrente evolutiva, restando confirmadas as hipóteses

levantadas no início da pesquisa como delineado.

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ANEXOS

Anexo I – Artigos de Guerra do Conde de Lippe...................................................88

Anexo II – Lei de Organização Judiciária Militar....................................................92

Anexo III – PEC 358/05........................................................................................131

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ANEXO I

ARTIGOS DE GUERRA DO CONDE DE LIPPE225

Advertências aos Artigos de Guerra:

1ª - Os artigos de guerra obrigam a todo militar de qualquer grau que seja, e sem

exceção alguma; e servirão de base, ou de leis fundamentais, em todos os conselhos de

guerra.

2ª - Em todos os dias de pagamento, serão lidos na frente das companhias; e nenhum

soldado tomará o juramento de fidelidade às bandeiras sem que, primeiro, lhe sejam lidos

e claramente explicados.

3ª - Depois da publicação dos artigos de guerra, o auditor fará compreender muito bem

aos soldados de recruta a força do juramento, representando-lhes vivamente os castigos

divinos e humanos, com que são punidos os perjuros.

4ª - Isso feito, irá lendo o juramento, o qual irá repetindo, palavra por palavra, aquele que

o tomar.

5ª - Não somente aos soldados de recruta se deferirá, mas também o tomarão aqueles

que tiverem desertado, e se lhes houver perdoado.

ARTIGOS DE GUERRA

Art. 1º - Aquele que recusar, por palavras, ou discursos, obedecer às ordens dos seus

superiores, concernentes ao serviço, será condenado a trabalhar nas fortificações;

porém, se se lhe opuser, servindo-se de qualquer arma, ou ameaça, será arcabuzado.

Art. 2º - Todo o oficial, de qualquer graduação que seja, que, estando melhor informado,

der aos seus superiores, por escrito, ou de boca, sobre qualquer objeto militar, alguma

falsa informação, será expulso com infâmia.

Art. 3º - Todo o oficial, de qualquer graduação que seja, ou oficial inferior, que, sendo

atacado pelo inimigo, desamparar o seu posto sem ordem, será punido de morte. Porém, 225 Texto extraído da Revista de Estudos e Informações: in CHAVES JÚNIOR, Edgard de Brito. Os

artigos de guerra do Conde de Lippe. Revista de Estudos e Informações. n. 9. Belo Horizonte: TJM/MG, 2002, p. 16/18.

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quando for atacado por um inimigo superior em forças, será preciso provar, perante um

conselho de guerra, que ele fez toda a defesa possível e que não cedeu senão na maior,

e última, extremidade; mas, se tiver ordem expressa para não se retirar, suceda o que

suceder, neste caso, nada o poderá escusar; porque é melhor morrer no seu posto, do

que deixá-lo.

Art. 4º - Todo o militar que cometer uma fraqueza, escondendo-se, ou fugindo quando for

preciso combater, será punido de morte.

Art. 5º - Todo o militar que, em uma batalha, ação, ou combate, ou em outra ocasião de

guerra, der um grito de espanto, como dizendo: - O inimigo nos tem cercado - Nós somos

cortados - Quem puder escapar-se, escape-se -, ou qualquer palavra semelhante que

possa intimidar as tropas, no mesmo instante o matará o primeiro oficial mais próximo

que o ouvir, e, se por acaso isto lhe não suceder, será logo preso e passará pelas armas

por sentença do conselho de guerra.

Art. 6º - Todos são obrigados a respeitar as sentinelas, ou outras guardas; aquele que

não o fizer será castigado rigorosamente; e aquele que atacar qualquer sentinela será

arcabuzado.

Art. 7º - Todos os oficiais inferiores e soldados devem ter toda a devida obediência e

respeito aos seus oficiais, do primeiro até o último em geral.

Art. 8º - Todas as diferenças e disputas são proibidas, sob pena de rigorosa prisão; mas,

se suceder a qualquer soldado ferir o seu camarada à traição, ou o matar, será

condenado ao carrinho perpetuamente, ou castigado com pena de morte, conforme as

circunstâncias.

Art. 9º - Todo soldado deve achar-se onde for mandado, e à hora que se lhe determinar,

posto que não lhe toque, sem murmurar, nem pôr dificuldades; e, se entender que lhe

fizeram injustiça, depois de fazer o serviço, se poderá queixar, porém sempre com toda

moderação.

Art. 10 - Aquele que fizer estrondo, ruído, bulha, ou gritaria ao pé de alguma guarda,

principalmente de noite, será castigado rigorosamente, conforme a intenção com que o

houver feito.

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Art. 11 - Aquele que faltar a entrar de guarda, ou que for à parada tão bêbado que a não

possa montar, será castigado no dia sucessivo com cinqüenta pancadas de espada de

prancha.

Art. 12 - Se algum soldado se deixar dormir, ou se embebedar estando de sentinela, ou

deixar o seu posto antes de ser rendido, sendo em tempo de paz, será castigado com

cinqüenta pancadas de espada de prancha e condenado por tempo de seis meses a

trabalhar nas fortificações; porém, se for em tempo de guerra, será arcabuzado.

Art. 13 - Nenhuma pessoa, de qualquer grau, ou condição que seja, entrará em qualquer

fortaleza, senão pelas portas, e lugares ordinários, sob pena de morte.

Art. 14 - Todo aquele que desertar, ou que entrar em conspiração de deserção, ou que

sendo informado dela, não a delatar, se for em tempo de guerra, será enforcado; e

aquele que deixar a sua companhia, ou regimento, sem licença, para ir ao lugar do seu

nascimento, ou a qualquer outra parte que seja, será castigado com pena de morte, como

se desertasse para fora do reino e, sendo em tempo de paz, será condenado por seis

anos a trabalhar nas fortificações.

Art. 15 - Todo aquele que for cabeça de motim, ou de traição, ou tiver parte, ou concorrer

para estes delitos, ou souber que se urdem e não delatar a tempo os agressores, será

infalivelmente enforcado.

Art. 16 - Todo aquele que falar mal do seu superior nos corpos de guarda, ou nas

companhias, será castigado aos trabalhos de fortificação; porém, se na indagação que se

fizer, se conhecer que aquela murmuração não fora procedida somente de uma soltura

de língua, mas encaminhada à rebelião, será punido de morte, como cabeça de motim.

Art. 17 - Todo o soldado se deve contentar com a paga, com o quartel e com o uniforme

que se lhe der, e, se se opuser, não o querendo receber, tal qual se lhe der, será tido e

castigado como amotinador.7

Art. 18 - Todos os furtos, e assim mesmo todo gênero de violências para extorquir

dinheiro, ou qualquer gênero, serão punidos severamente; porém aquele furto que se

fizer em armas, munições, ou outras cousas pertencentes a Sua Majestade, ou aquele

que roubar o seu camarada, ou cometer furtos com violência, ou for ladrão de estrada,

perderá a vida conforme as circunstâncias; ou também, se qualquer sentinela cometer

furto, ou consentir que alguém o cometa, será castigado severamente e, conforme as

circunstâncias, incurso em pena capital.

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Art. 19 - Todo o soldado que não tiver cuidado nas suas armas, no seu uniforme e em

tudo que lhe pertence, que o lançar fora, que o romper, ou arruinar de propósito, e sem

necessidade, e que o vender, empenhar, ou jogar, será, pela primeira e segunda vez,

preso; porém, à terceira, punido de morte.

Art. 20 - Todo soldado deve ter sempre o seu armamento em bom estado e fazer o

serviço com as suas próprias armas; aquele que se servir das alheias, ou as pedir

emprestadas ao seu camarada, será castigado com prisão rigorosa.

Art. 21 - Aquele soldado que contrair dívidas às escondidas dos seus oficiais, será punido

corporalmente.

Art. 22 - Todo aquele que fizer passaportes falsos, ou usar mal de sua habilidade, por

qualquer modo que seja, será punido com rigorosa prisão; porém, se, por este meio,

facilitar a fuga a qualquer desertor, será reputado e punido como desertor.

Art. 23 - Todo o soldado que ocultar um criminoso, ou buscar meios para se escapar

aquele que estiver preso como tal, ou o deixar fugir; ou, sendo encarregado de o guardar,

não puser todas as precauções para este efeito, será posto no lugar do criminoso.

Art. 24 - Se qualquer soldado cometer algum crime estando bêbado, de nenhum modo o

escusará do castigo a bebedice, antes pelo contrário, será punido dobradamente

conforme as circunstâncias do caso.

Art. 25 - Todo o soldado que, de propósito e deliberadamente, se puser incapaz de fazer

o serviço será condenado ao carrinho perpetuamente.

Art. 26 - Nenhum soldado poderá emprestar dinheiro ao seu camarada, nem ao superior.

Art. 27 - Nenhum soldado poderá se casar sem licença do seu coronel.

Art. 28 – Todo o oficial, de qualquer graduação que seja, que se valer do seu emprego

para tirar qualquer lucro, por qualquer maneira que seja, e de que não puder inteiramente

verificar a legalidade, será infalivelmente expulso.

Art. 29 - Todo o militar deve regular os seus costumes pelas regras da virtude, da

candura, e da probidade; deve temer a Deus; reverenciar e amar ao seu Rei, e executar

exatamente as ordens que lhe forem prescritas.

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ANEXO II

LEI DE ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA MILITAR226

LEI Nº 8.457, DE 4 DE SETEMBRO DE 1992.

Organiza a Justiça Militar da União e

regula o funcionamento de seus Serviços

Auxiliares.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu

sanciono a seguinte lei:

PARTE I

Da Estrutura da Justiça Militar da União

TÍTULO I

Das Disposições Preliminares

Art. 1° São órgãos da Justiça Militar:

I – o Superior Tribunal Militar;

II – a Auditoria de Correição;

III – os Conselhos de Justiça;

IV – os Juízes-Auditores e os Juízes-Auditores Substitutos.

TÍTULO II

Das Circunscrições Judiciárias Militares

Art. 2° Para efeito de administração da Justiça Militar em tempo de paz, o território

nacional divide-se em doze Circunscrições Judiciárias Militares, abrangendo:

226 Texto da Lei n. 8.457, de 04 de setembro de 1992, disponível no portal da Presidência da

República, através do endereço: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8457.htm>. Acesso em 4 fev. 2008.

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a) a 1ª - Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo;

b) a 2ª - Estado de São Paulo;

c) a 3ª - Estado do Rio Grande do Sul;

d) a 4ª - Estado de Minas Gerais;

e) a 5ª - Estados do Paraná e Santa Catarina;

f) a 6ª - Estados da Bahia e Sergipe;

g) a 7ª - Estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas;

h) a 8ª - Estados do Pará, Amapá e Maranhão;

i) a 9ª - Estados do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso; (Redação dada pela Lei nº 8.719,

de 19.10.93)

j) a 10ª - Estados do Ceará e Piauí;

l) a 11ª - Distrito Federal e Estados de Goiás e Tocantins;

m) a 12ª - Estados do Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia. (Redação dada pela Lei nº

8.719, de 19.10.93)

TÍTULO III

Do Superior Tribunal Militar

CAPÍTULO I

Da Composição

Art. 3° O Superior Tribunal Militar, com sede na Capital Federal e jurisdição em todo o

território nacional, compõe-se de quinze ministros vitalícios, nomeados pelo Presidente

da República, depois de aprovada a indicação pelo Senado Federal, sendo três dentre

oficiais-generais da Marinha, quatro dentre oficiais-generais do Exército e três dentre

oficiais-generais da Aeronáutica, todos da ativa e do posto mais elevado da carreira, e

cinco dentre civis.

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§ 1° Os Ministros civis são escolhidos pelo Presidente da República, dentre brasileiros

com mais de trinta e cinco e menosde sessenta e cinco anos de idade, sendo:

a) três dentre advogados de notório saber jurídico e conduta ilibada, com mais de dez

anos de efetiva atividade profissional;

b) dois por escolha paritária, dentre Juízes-Auditores e membros do Ministério Público da

Justiça Militar.

§ 2° Os Ministros militares permanecem na ativa, em quadros especiais da Marinha,

Exército e Aeronáutica.

Art. 4° Observadas as disposições legais, o Regimento Interno do Superior Tribunal

Militar poderá instituir Turmas e fixar-lhes a competência, bem como instituir Conselho de

Administração para decidir sobre matéria administrativa da Justiça Militar. (Redação dada

pela Lei nº 9.283, de 13.6.96)

Parágrafo único. O Conselho de Administração será presidido pelo Presidente do

Tribunal e integrado pelo vice-presidente e por mais três ministros, conforme dispuser o

Regimento Interno. (Parágrafo incluído pela Lei nº 9.283, de 13.6.96)

Art. 5° A eleição do Presidente e Vice-Presidente do Tribunal obedecerá ao disposto em

seu regimento interno.

CAPÍTULO II

Da Competência

SEÇÃO I

Da Competência do Superior Tribunal Militar

Art. 6° Compete ao Superior Tribunal Militar:

I – processar e julgar originariamente:

a) os oficiais generais das Forças Armadas, nos crimes militares definidos em lei;

(Redação dada pela Lei nº 8.719, de 19.10.93)

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b) o Juiz-Auditor Corregedor, os Juízes-Auditores, os Juízes-Auditores Substitutos, os

membros do Ministério Público Militar e os Defensores Públicos junto à Justiça Militar,

nos crimes referidos na alínea a deste artigo; (Revogada pela Lei nº 8.719, de 19.10.93)

c) os pedidos de habeas corpus e habeas data, nos casos permitidos em lei;

d) o mandado de segurança contra seus atos, os do Presidente do Tribunal e de outras

autoridades da Justiça Militar;

e) a revisão dos processos findos na Justiça Militar;

f) a reclamação para preservar a integridade da competência ou assegurar a autoridade

de seu julgado;

g) os procedimentos administrativos para decretação da perda do cargo e da

disponibilidade de seus membros e demais magistrados da Justiça Militar, bem como

para remoção, por motivo de interesse público, destes últimos, observado o Estatuto da

Magistratura;

h) a representação para decretação de indignidade de oficial ou sua incompatibilidade

para com o oficialato;

i) a representação formulada pelo Ministério Público Militar, Conselho de Justiça, Juiz-

Auditor e advogado, no interesse da Justiça Militar;

II - julgar:

a) os embargos apostos às suas decisões;

b) os pedidos de correição parcial;

c) as apelações e os recursos de decisões dos juízes de primeiro grau;

d) os incidentes processuais previstos em lei;

e) os agravos regimentais e recursos contra despacho de relator, previstos em lei

processual militar ou no regimento interno;

f) os feitos originários dos Conselhos de Justificação;

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g) os conflitos de competência entre Conselhos de Justiça, entre Juízes-Auditores, ou

entre estes e aqueles, bem como os de atribuição entre autoridades administrativa e

judiciária militares;

h) os pedidos de desaforamento;

i) as questões administrativas e recursos interpostos contra atos administrativos

praticados pelo Presidente do Tribunal;

j) os recursos de penas disciplinares aplicadas pelo Presidente do Tribunal, Corregedor

da Justiça Militar e Juiz-Auditor;

III – declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, pelo voto

da maioria absoluta de seus membros;

IV – restabelecer a sua competência quando invadida por juiz de primeira instância,

mediante avocatória;

V – resolver questão prejudicial surgida no curso de processo submetido a seu

julgamento;

VI – determinar medidas preventivas e assecuratórias previstas na lei processual penal

militar, em processo originário ou durante julgamento de recurso, em decisão sua ou por

intermédio do relator;

VII – decretar prisão preventiva, revogá-la ou restabelecê-la, de ofício ou mediante

representação da autoridade competente, nos feitos de sua competência originária;

VIII – conceder ou revogar menagem e liberdade provisória, bem como aplicar medida

provisória de segurança nos feitos de sua competência originária;

IX – determinar a restauração de autos extraviados ou destruídos, na forma da lei;

X – remeter à autoridade competente cópia de peça ou documento constante de

processo sob seu julgamento, para o procedimento legal cabível, quando verificar a

existência de indícios de crime;

XI – deliberar sobre o plano de correição proposto pelo Corregedor da Justiça Militar e

determinar a realização de correição geral ou especial em Auditoria;

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XII – elaborar seu regimento interno com observância das normas de processo e das

garantias processuais das partes, dispondo sobre a competência e funcionamento dos

respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos, bem como decidir os pedidos de

uniformização de sua jurisprudência;

XIII – organizar suas Secretarias e Serviços Auxiliares, bem como dos juízos que lhe

forem subordinados, provendo-lhes os cargos, na forma da lei;

XIV – propor ao Poder Legislativo, observado o disposto na Constituição Federal:

a) alteração do número de membros dos tribunais inferiores;

b) a criação e a extinção de cargos e fixação de vencimentos dos seus membros, do Juiz-

Auditor Corregedor, dos Juízes-Auditores, dos Juízes-Auditores Substitutos e dos

Serviços Auxiliares;

c) a criação ou a extinção de Auditoria da Justiça Militar;

d) a alteração da organização e da divisão judiciária militar;

XV – eleger seu Presidente e Vice-Presidente e dar-lhes posse; dar posse a seus

membros, deferindo-lhes o compromisso legal;

XVI – conceder licença, férias e outros afastamentos a seus membros, ao Juiz-Auditor

Corregedor, aos Juízes-Auditores, Juízes-Auditores Substitutos e servidores que lhe

forem imediatamente vinculados;

XVII – aplicar sanções disciplinares aos magistrados;

XVIII – deliberar, para efeito de aposentadoria, sobre processo de verificação de invalidez

de magistrado;

XIX – nomear Juiz-Auditor Substituto e promovê-lo, pelos critérios alternados de

antigüidade e merecimento;

XX – determinar a instauração de sindicância, inquérito e processo administrativo,

quando envolvido magistrado ou servidores da Justiça Militar;

XXI – demitir servidores integrantes dos Serviços Auxiliares;

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XXII – aprovar instruções para realização de concurso para ingresso na carreira da

Magistratura e para o provimento dos cargos dos Serviços Auxiliares;

XXIII – homologar o resultado de concurso público e de processo seletivo interno;

XXIV – remover Juiz-Auditor e Juiz-Auditor Substituto, a pedido ou por motivo de

interesse público;

XXV – remover, a pedido ou ex officio, servidores dos Serviços Auxiliares;

XXVI – apreciar reclamação apresentada contra lista de antigüidade dos magistrados;

XXVII – apreciar e aprovar proposta orçamentária elaborada pela Presidência do

Tribunal, dentro dos limites estipulados conjuntamente com os demais Poderes na Lei de

Diretrizes Orçamentárias;

XXVIII – praticar os demais atos que lhe são conferidos por lei.

§ 1° O Tribunal pode delegar competência a seu Presidente para concessão de licenças,

férias e outros afastamentos a magistrados de primeira instância e servidores que lhe

sejam imediatamente vinculados, bem como para o provimento de cargos dos Serviços

Auxiliares.

§ 2º Ao Conselho de Administração, após a sua instituição, caberá deliberar sobre

matéria administrativa, conforme dispuser o Regimento Interno. (Parágrafo incluído pela

Lei nº 9.283, de 13.6.96)

§ 3° É de dois terços dos membros do Tribunal o quorum para julgamento das hipóteses

previstas nos incisos I, alíneas h e i, II, alínea f, XVIII e XXIV, parte final, deste artigo.

(Parágrafo renumerado pela Lei nº 9.283, de 13.6.96)

§ 4° As decisões do Tribunal, judiciais e administrativas, são tomadas por maioria de

votos, com a presença de, no mínimo, oito ministros, dos quais, pelo menos, quatro

militares e dois civis, salvo quorum especial exigido em lei. (Parágrafo renumerado pela

Lei nº 9.283, de 13.6.96)

Art. 7° O regimento interno disciplinará o procedimento e o julgamento dos feitos,

obedecido o disposto na Constituição Federal, no Código de Processo Penal Militar e

nesta lei.

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Art. 8° Após a distribuição e até a inclusão em pauta para julgamento, o relator conduz o

processo, determinando a realização das diligências que entender necessárias.

Parágrafo único. Na fase a que se refere este artigo, cabe ao relator adotar as medidas

previstas nos incisos V, VI, VII e VIII do art. 6° desta lei.

SEÇÃO II

Da Competência do Presidente

Art. 9° Compete ao Presidente:

I – dirigir os trabalhos do Tribunal, presidir as sessões plenárias e proclamar as decisões;

II – manter a regularidade dos trabalhos do Tribunal, mandando retirar do recinto as

pessoas que perturbarem a ordem, autuando-as no caso de flagrante delito;

III – representar o Tribunal em suas relações com outros poderes e autoridades;

IV – corresponder-se com autoridades, sobre assuntos de interesse do Tribunal e da

Justiça Militar;

V – praticar todos os atos processuais nos recursos e feitos de competência originária do

Tribunal, antes da distribuição e depois de exaurida a competência do relator;

VI – declarar, no caso de empate, a decisão mais favorável ao réu ou paciente;

VII – proferir voto nas questões administrativas, inclusive o de qualidade, no caso de

empate, exceto em recurso de decisão sua;

VIII – decidir questões de ordem suscitadas por Ministro, por representante do Ministério

Público Militar ou por advogado, ou submetê-las ao Tribunal, se a este couber a decisão;

IX – conceder a palavra ao representante do Ministério Público Militar e a advogado, pelo

tempo permitido em lei e no regimento interno, podendo, após advertência, cassá-la no

caso de linguagem desrespeitosa;

X – conceder a palavra, pela ordem, ao representante do Ministério Público Militar e a

advogado que funcione no feito, para, mediante intervenção sumária, esclarecer

equívoco ou dúvida em relação a fatos, documentos ou afirmações que possam influir no

julgamento;

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XI – convocar sessão extraordinária nos casos previstos em lei ou no regimento interno;

XII – suspender a sessão quando necessário à ordem e resguardo de sua autoridade;

XIII – presidir a audiência pública de distribuição dos feitos;

XIV – providenciar o cumprimento dos julgados do Tribunal e sua execução nos

processos de competência originária;

XV – decidir sobre o cabimento de recurso extraordinário, determinando, em caso de

admissão, seu processamento, nos termos da lei;

XVI – prestar às autoridades judiciárias informações requisitadas para instrução de feitos,

podendo consultar o relator do processo principal, se houver;

XVII – assinar com o relator e o revisor, ou somente com aquele, quando for o caso, os

acórdãos do Tribunal e, com o Secretário do Tribunal Pleno, as atas das sessões;

XVIII – decidir sobre liminar em habeas corpus, durante as férias e feriados forenses,

podendo ouvir previamente o Ministério Público;

XIX – expedir salvo-conduto a paciente beneficiado com habeas corpus, preventivo;

XX – requisitar força federal ou policial para garantia dos trabalhos do Tribunal ou de

seus Ministros;

XXI – requisitar oficial de posto mais elevado, ou do mesmo posto de maior antigüidade,

para conduzir oficial condenado presente à sessão de julgamento, observada a Força a

que este pertencer;

XXII – convocar para substituir Ministros, os oficiais-generais das Forças Armadas e

magistrados, na forma do disposto no art. 62, incisos II, III, IV e V, desta lei;

XXIII – adotar providências para realização de concurso público e processo seletivo

interno;

XXIV – expedir atos sobre matéria de sua competência, bem como assinar os de

provimento e vacância dos cargos dos Serviços Auxiliares;

XXV – (Vetado)

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XXVI – dar posse e deferir o compromisso legal a Juiz-Auditor Substituto e a todos os

nomeados para cargos do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores do Quadro da

Secretaria do Tribunal;

XXVII – velar pelo funcionamento regular da Justiça Militar e perfeita exação das

autoridades judiciárias e servidores no cumprimento de seus deveres, expedindo

portarias, recomendações e provimentos que se fizerem necessários;

XXVIII – designar, observada a ordem de antigüidade, Juiz-Auditor para exercer a função

de Diretor do Foro, definindo suas atribuições;

XXIX – conhecer de representação formulada contra servidores, por falta de exação no

cumprimento do dever;

XXX – determinar a instauração de sindicância, inquérito e processo administrativo,

exceto quanto a magistrado;

XXXI – aplicar penas disciplinares da sua competência, reconsiderá-las, relevá-las e

revê-las;

XXXII – providenciar a publicação mensal de dados estatísticos sobre os trabalhos do

Tribunal;

XXXIII – apresentar ao Tribunal, até o dia 15 de março, anualmente, relatório

circunstanciado das atividades dos órgãos da Justiça Militar;

XXXIV – determinar a publicação anual da lista de antigüidade dos magistrados;

XXXV – comunicar ao Presidente da República a ocorrência de vaga de Ministro,

indicando, no caso de Ministro civil, o critério de provimento;

XXXVI – conceder licença e férias aos servidores que lhe são diretamente subordinados;

XXXVII – encaminhar a proposta orçamentária aprovada pelo Tribunal e gerir os recursos

orçamentários da Justiça Militar, podendo delegar competência na forma da lei;

XXXVIII – praticar os demais atos que lhe forem atribuídos em lei e no regimento interno.

§ 1º Durante as férias coletivas, pode o Presidente, ou seu substituto legal, decidir de

pedido liminar em mandado de segurança, determinar liberdade provisória ou sustação

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de ordem de prisão, e demais medidas que reclamem urgência, devendo, em qualquer

caso, após as férias, o feito prosseguir, na forma da lei.

§ 2º O Presidente do Tribunal, de comum acordo com o Vice-Presidente, pode delegar-

lhe atribuições.

§ 3º A providência enunciada no inciso XIV, 2ª parte, deste artigo pode ser delegada a

Juiz-Auditor, com jurisdição no local onde os atos executórios devam ser praticados.

SEÇÃO III

Da Competência do Vice-Presidente

Art. 10. Compete ao Vice-Presidente:

a) substituir o Presidente nas licenças, férias, faltas e impedimentos, assumindo a

presidência, em caso de vaga, até a posse do novo titular, na forma do regimento interno;

b) exercer funções judicante e relatar os processos que lhe forem distribuídos;

c) desempenhar atribuições delegadas pelo Presidente do Tribunal, na forma do § 2º do

artigo anterior.

Parágrafo único. Quando no exercício temporário da presidência, não serão

redistribuídos os feitos em que o Vice-Presidente for relator ou revisor.

TÍTULO IV

Dos Órgãos de Primeira Instância da Justiça Militar

CAPÍTULO I

Das Disposições Preliminares

Art. 11. A cada Circunscrição Judiciária Militar corresponde uma Auditoria, excetuadas as

primeira, segunda, terceira e décima primeira, que terão:

a) a primeira: seis Auditorias;

a) a primeira: 4 (quatro) Auditorias;(Redação dada pelo Lei nº 10.333, de 19.12.2001)

b) a terceira três Auditorias;

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c) a segunda e a décima primeira: duas Auditorias.

§ 1º Nas Circunscrições com mais de uma Auditoria, essas são designadas por ordem

numérica.

§ 2º As Auditorias tem jurisdição mista, cabendo-lhes conhecer dos feitos relativos à

Marinha, Exército e Aeronáutica.

§ 3º Nas Circunscrições em que houver mais de uma Auditoria e sedes coincidentes, a

distribuição dos feitos cabe ao Juiz-Auditor mais antigo.

§ 4º Nas circunscrições em que houver mais de uma Auditoria com sede na mesma

cidade, a distribuição dos feitos relativos a crimes militares, quando indiciados somente

civis, faz-se, indistintamente, entre as Auditorias, pelo Juiz-Auditor mais antigo.

CAPÍTULO II

Da Auditoria de Correição

SEÇÃO ÚNICA

Da Composição e Competência

Art. 12. A Auditoria de Correição é exercida pelo Juiz-Auditor Corregedor, com jurisdição

em todo o território nacional.

Art. 13. A Auditoria de Correição, órgão de fiscalização e orientação judiciário-

administrativa, compõe-se de Juiz-Auditor Corregedor, um Diretor de Secretaria e

auxiliares constantes de quadro previsto em lei.

Art. 14. Compete ao Juiz-Auditor Corregedor:

I – proceder às correições:

a) gerais e especiais nas Auditorias, na forma desta lei;

b) nos processos findos;

c) nos autos de inquérito mandados arquivar pelo Juiz-Auditor, representando ao

Tribunal, mediante despacho fundamentado, desde que entenda existente indícios de

crime e de autoria;

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d) nos autos em andamento nas Auditorias, de ofício, ou por determinação do Tribunal;

II – apresentar ao Tribunal, para aprovação, o plano bianual de correição;

III – comunicar ao Presidente do Tribunal fato que exija pronta solução, verificado durante

correição, independentemente das providências de sua alçada;

IV – baixar provimentos necessários ao bom funcionamento dos serviços que lhe

incumbe fiscalizar;

V – requisitar de autoridades judiciária e administrativa, civil ou militar, as informações

que julgar necessárias ao exercício de suas funções;

VI – instaurar procedimento administrativo para apuração de falta cometida por servidor

que lhe seja subordinado, e aplicar pena disciplinar, ressalvada a competência do

Tribunal e de seu Presidente;

VII – providenciar a uniformização de livros, registros e impressos necessários ao bom

andamento dos serviços nas Auditorias, observados os modelos instituídos em lei;

VIII – praticar os demais atos que lhe forem atribuídos em lei.

Parágrafo único. As correições gerais a que se refere este artigo compreendem o exame

dos processos em andamento, dos livros e documentos existentes na Auditoria e a

verificação das providências relativas a medidas preventivas e assecuratórias para o

resguardo de bens da Fazenda Pública, sob a administração militar.

CAPÍTULO III

Das Auditorias e dos Conselhos de Justiça

SEÇÃO I

Da Composição das Auditorias

Art. 15. Cada Auditoria tem um Juiz-Auditor, um Juiz-Auditor Substituto, um Diretor de

Secretaria, dois Oficiais de Justiça Avaliadores e demais auxiliares, conforme quadro

previsto em lei.

SEÇÃO II

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Da Composição dos Conselhos

Art. 16. São duas as espécies de Conselhos de Justiça:

a) Conselho Especial de Justiça, constituído pelo Juiz-Auditor e quatro Juízes militares,

sob a presidência, dentre estes, de um oficial-general ou oficial superior, de posto mais

elevado que o dos demais juízes, ou de maior antigüidade, no caso de igualdade;

b) Conselho Permanente de Justiça, constituído pelo Juiz-Auditor, por um oficial superior,

que será o presidente, e três oficiais de posto até capitão-tenente ou capitão.

Art. 17. Os Conselhos Especial e Permanente funcionarão na sede das Auditorias, salvo

casos especiais por motivo relevante de ordem pública ou de interesse da Justiça e pelo

tempo indispensável, mediante deliberação do Superior Tribunal Militar.

Art. 18. Os juízes militares dos Conselhos Especial e Permanente são sorteados dentre

oficiais da Marinha, Exército e Aeronáutica, em serviço ativo na sede da Auditoria,

recorrendo-se a oficiais fora deste local, porém no âmbito da jurisdição da Auditoria,

quando insuficientes os da sede.

Art. 18. Os juízes militares dos Conselhos Especial e Permanente são sorteados dentre

oficiais de carreira, da sede da Auditoria, com vitaliciedade assegurada, recorrendo-se a

oficiais no âmbito de jurisdição da Auditoria se insuficientes os da sede e, se persistir a

necessidade, excepcionalmente a oficiais que sirvam nas demais localidades abrangidas

pela respectiva Circunscrição Judiciária Militar.(Redação dada pela Lei nº 10.445, de

7.5.2002)

Art. 19. Para efeito de composição dos conselhos de que trata o artigo anterior, nas

respectivas Circunscrições, os comandantes de Distrito ou Comando Naval, Região

Militar e Comando Aéreo Regional organizarão, trimestralmente, relação de todos os

oficiais em serviço ativo, com respectivos posto, antigüidade e local de serviço,

publicando-a em boletim e remetendo-a ao Juiz-Auditor competente.

§ 1° A remessa a que se refere esse artigo será efetuada até o quinto dia do último mês

do trimestre e as alterações que se verificarem, inclusive os nomes de novos oficiais em

condições de servir, serão comunicadas mensalmente.

§ 2° Não sendo remetida no prazo a relação de oficiais, serão os Juízes sorteados pela

última relação recebida, consideradas as alterações de que trata o parágrafo anterior.

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§ 3° A relação não incluirá:

a) os oficiais dos Gabinetes dos Ministros de Estado;

b) os oficiais agregados;

c) os comandantes, diretores ou chefes, professores instrutores e alunos de escolas,

institutos, academias, centros e cursos de formação, especialização, aperfeiçoamento,

Estado-Maior e altos estudos;

d) na Marinha: os Almirantes-de-Esquadra e oficiais que sirvam em seus gabinetes, os

Comandantes de Distrito Naval e de Comando Naval, o Vice-Chefe do Estado-Maior da

Armada, o Chefe do Estado-Maior do Comando de Operações Navais e os oficiais

embarcados na tropa, em condições de, efetivamente, participar de atividades operativas

programadas para o trimestre;

e) no Exército: os Generais-de-Exército, Generais Comandantes de Divisão de Exército e

de Região Militar, bem como os respectivos Chefes de Estado-Maior ou de Gabinete e

oficiais do Estado-Maior Pessoal;

f) na Aeronáutica: os Tenentes-Brigadeiros, bem como seus Chefes de Estado-Maior ou

de Gabinete, Assistente e Ajudantes-de-Ordens, ou Vice-Chefe e o Subchefe do Estado-

Maior da Aeronáutica.

Art. 20. O sorteio dos juízes do Conselho Especial de Justiça é feito pelo Juiz-Auditor, em

audiência pública, na presença do Procurador, do Diretor de Secretaria e do acusado,

quando preso.

Art. 21. O sorteio dos juízes do Conselho Permanente de Justiça é feito pelo Juiz-Auditor,

em audiência pública, entre os dias cinco e dez do último mês do trimestre anterior, na

presença do Procurador e do Diretor de Secretaria.

Parágrafo único. Para cada Conselho Permanente, são sorteados dois juízes suplentes,

sendo um oficial superior - que substituirá o Presidente em suas faltas e impedimentos

legais e um oficial até o posto de capitão-tenente ou capitão, que substituirá os demais

membros nos impedimentos legais.

Art. 22. Do sorteio a que se referem os arts. 20 e 21 desta lei, lavrar-se-á ata, em livro

próprio, com respectivo resultado, certificando o Diretor de Secretaria, em cada processo,

além do sorteio, o compromisso dos juízes.

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Parágrafo único. A ata é assinada pelo Juiz-Auditor e pelo Procurador, cabendo ao

primeiro comunicar imediatamente à autoridade competente o resultado do sorteio, para

que esta ordene o comparecimento dos juízes à sede da Auditoria, no prazo fixado pelo

juiz.

Art. 23. Os juízes militares que integrarem os Conselhos Especiais serão de posto

superior ao do acusado, ou do mesmo posto e de maior antigüidade.

§ 1° O Conselho Especial é constituído para cada processo e dissolvido após conclusão

dos seus trabalhos, reunindo-se, novamente, se sobrevier nulidade do processo ou do

julgamento, ou diligência determinada pela instância superior.

§ 2º No caso de pluralidade de agentes, servirá de base à constituição do Conselho

Especial a patente do acusado de maior posto.

§ 3° Se a acusação abranger oficial e praça ou civil, responderão todos perante o mesmo

conselho, ainda que excluído do processo o oficial.

§ 4° No caso de impedimento de algum dos juízes, será sorteado outro para substituí-lo,

observado o disposto no parágrafo único do art. 21 desta lei.

§ 4o No caso de impedimento de algum dos juízes, será sorteado outro para substituí-

lo.(Redação dada pela Lei nº 10.445, de 7.5.2002)

Art. 24. O Conselho Permanente, uma vez constituído, funcionará durante três meses

consecutivos, coincidindo com os trimestres do ano civil, podendo o prazo de sua

jurisdição ser prorrogado nos casos previstos em lei.

Parágrafo único. O oficial que tiver integrado Conselho Permanente não será sorteado

para o trimestre imediato, salvo se para sua constituição houver insuficiência de oficiais.

Art. 25. Os Conselhos Especial e Permanente de Justiça podem instalar-se e funcionar

com a maioria de seus membros, sendo obrigatória a presença do Juiz-Auditor e do

Presidente, observado o disposto no art. 31, alíneas a e b desta lei.

§ 1° As autoridades militares mencionadas no art. 19 desta lei devem comunicar ao Juiz-

Auditor a falta eventual do juiz militar.

§ 2° Na sessão de julgamento são obrigatórios a presença e voto de todos os juízes.

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Art. 26. Os juízes militares dos Conselhos Especial e Permanente ficarão dispensados do

serviço em suas organizações, nos dias de sessão.

§ 1° O Juiz-Auditor deve comunicar a falta do juiz militar, sem motivo justificado, ao seu

superior hierárquico, para as providências cabíveis.

§ 2° Aplica-se o disposto no parágrafo anterior ao Juiz-Auditor, aos representantes da

Defensoria Pública da União e Ministério Público Militar e respectivos Substitutos,

devendo a comunicação ser efetivada pelo Presidente do Conselho ao Presidente do

Superior Tribunal Militar, ou à autoridade competente, conforme o caso.

SEÇÃO III

Da Competência dos Conselhos de Justiça

Art. 27. Compete aos conselhos:

I – Especial de Justiça, processar e julgar oficiais, exceto oficiais-generais, nos delitos

previstos na legislação penal militar,

II – Permanente de Justiça, processar e julgar acusados que não sejam oficiais, nos

delitos de que trata o inciso anterior, excetuado o disposto no art. 6°, inciso I, alínea b,

desta lei.

Art. 28. Compete ainda aos conselhos:

I – decretar a prisão preventiva de acusado, revogá-la ou restabelecê-la;

II – conceder menagem e liberdade provisória, bem como revogá-las;

III – decretar medidas preventivas e assecuratórias, nos processos pendentes de seu

julgamento;

IV – declarar a inimputabilidade de acusado nos termos da lei penal militar, quando

constatada aquela condição no curso do processo, mediante exame pericial;

V – decidir as questões de direito ou de fato suscitadas durante instrução criminal ou

julgamento;

VI – ouvir o representante do Ministério Público sobre as questões suscitadas durante as

sessões;

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VII – conceder a suspensão condicional da pena, nos termos da lei;

VIII – praticar os demais atos que lhe forem atribuídos em lei.

SEÇÃO IV

Da Competência dos Presidentes dos Conselhos de Justiça

Art. 29. Compete aos Presidentes dos Conselhos Especial e Permanente de Justiça:

I – abrir as sessões, presidi-las, apurar e proclamar as decisões do conselho;

II – mandar proceder à leitura da ata da sessão anterior;

III – nomear defensor ao acusado que não o tiver e curador ao revel ou incapaz;

IV – manter a regularidade dos trabalhos da sessão, mandando retirar do recinto as

pessoas que portarem armas ou perturbarem a ordem, autuando-as no caso de flagrante

delito;

V – conceder a palavra ao representante do Ministério Público Militar, ou assistente, e ao

defensor, pelo tempo previsto em lei, podendo cassá-la após advertência, no caso de

linguagem desrespeitosa;

VI – resolver questões de ordem suscitadas pelas partes ou submetê-las à decisão do

conselho, ouvido o Ministério Público;

VII – mandar consignar em ata incidente ocorrido no curso da sessão.

SEÇÃO V

Da Competência do Juiz-Auditor

Art. 30. Compete ao Juiz-Auditor:

I – decidir sobre recebimento de denúncia, pedido de arquivamento, de devolução de

inquérito e representação;

II – relaxar, quando ilegal, em despacho fundamentado, a prisão que lhe for comunicada

por autoridade encarregada de investigações policiais;

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III – manter ou relaxar prisão em flagrante, decretar, revogar e restabelecer a prisão

preventiva de indiciado, mediante despacho fundamentado em qualquer caso;

IV – requisitar de autoridades civis e militares as providências necessárias ao andamento

do feito e esclarecimento do fato;

V – determinar a realização de exames, perícias, diligências e nomear peritos;

VI – formular ao réu, ofendido ou testemunha suas perguntas e as requeridas pelos

demais juízes, bem como as requeridas pelas partes para serem respondidas por

ofendido ou testemunha;

VII – relatar os processos nos Conselhos de Justiça e redigir, no prazo de oito dias, as

sentenças e decisões;

VIII – proceder ao sorteio dos conselhos, observado o disposto nos arts. 20 e 21 desta

lei;

IX – expedir alvará de soltura e mandados;

X – decidir sobre o recebimento de recursos interpostos;

XI – executar as sentenças, inclusive as proferidas em processo originário do Superior

Tribunal Militar, na hipótese prevista no § 3° do art. 9° desta lei;

XII – renovar, de seis em seis meses, diligências junto às autoridades competentes, para

captura de condenado;

XIII – comunicar, à autoridade a que estiver subordinado o acusado, as decisões a ele

relativas;

XIV – decidir sobre livramento condicional;

XV – revogar o benefício da suspensão condicional da pena;

XVI – remeter à Corregedoria da Justiça Militar, no prazo de dez dias, os autos de

inquéritos arquivados e processos julgados, quando não interpostos recursos;

XVII – encaminhar relatório ao Presidente do Tribunal, até o dia trinta de janeiro, dos

trabalhos da Auditoria, relativos ao ano anterior;

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111

XVIII – instaurar procedimento administrativo quando tiver ciência de irregularidade

praticada por servidor que lhe é subordinado;

XIX – aplicar penas disciplinares aos servidores que lhe são subordinados;

XX – dar posse, conceder licenças, férias e salário-família aos servidores da Auditoria;

XXI – autorizar, na forma da lei, o pagamento de auxílio-funeral de magistrado e dos

servidores lotados na Auditoria;

XXII – distribuir alternadamente, entre si e o Juiz-Auditor Substituto e, quando houver, o

Substituto de Auditor estável, os efeitos aforados na Auditoria, obedecida a ordem de

entrada;

XXIII – cumprir as normas legais relativas às gestões administrativa, financeira e

orçamentária e ao controle de material;

XXIV – praticar os demais atos que lhe forem atribuídos em lei.

Parágrafo único. Compete ao Juiz-Auditor Substituto praticar todos os atos enumerados

neste artigo, com exceção dos atos previstos nos incisos VIII, XVII, XVIII, XIX, XX, XXI,

XXII e XXIII, que lhes são deferidos somente durante as férias e impedimentos do Juiz-

Auditor. (Redação dada pela Lei nº 8.719, de 19.10.93)

SEÇÃO VI

Das Substituições dos Juízes Militares

Art. 31. Os juízes militares são substituídos em suas licenças, faltas e impedimentos:

Art. 31. Os juízes militares são substituídos em suas licenças, faltas e impedimentos, bem

como nos afastamentos de sede por movimentação, que decorram de requisito de

carreira, ou por outro motivo justificado e reconhecido pelo Superior Tribunal Militar como

de relevante interesse para a administração militar.(Redação dada pela Lei nº 10.445, de

7.5.2002)

a) o Presidente de Conselho Especial, por oficial-general ou oficial superior, imediato em

posto ou antigüidade, e, na falta destes na composição do conselho, mediante sorteio,

observado o disposto no art. 16, alínea a, desta lei;

b) o Presidente de Conselho Permanente, por oficial superior, na forma do art. 21,

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parágrafo único, desta lei, e, na sua falta, mediante sorteio;

c) os juízes de Conselho Especial, mediante sorteio;

d) os juízes de Conselho Permanente, pelos suplentes previstos no art. 21, parágrafo

único, desta lei e, na falta destes, mediante sorteio.

§ 1° Quando sorteado oficial em gozo de férias, ou no desempenho de comissão ou

serviço fora da sede da Auditoria, ocorrerá sua definitiva substituição.

§ 2° Aplica-se o disposto no parágrafo anterior ao juiz militar que for preso, responder a

inquérito ou processo, entrar em licença ou deixar o serviço ativo das Forças Armadas,

bem como ao juiz de Conselho Permanente que for promovido a oficial superior.

§ 3° Em caso de luto, casamento e dispensa médica por prazo igual ou inferior a vinte

dias, far-se-á, a substituição do juiz militar, pelo período do afastamento.(Revogado pela

Lei nº 10.445, de 7.5.2002)

TÍTULO V

Dos Magistrados

CAPÍTULO I

Das Disposições Gerais

Art. 32. Aplicam-se aos Ministros do Superior Tribunal Militar, Juízes Auditores e Juízes

Substitutos as disposições do Estatuto da Magistratura, desta lei e, subsidiariamente, as

do Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos Civis da União.

CAPÍTULO II

Do Provimento dos Cargos e da Remoção

Art. 33. O ingresso na carreira da Magistratura da Justiça Militar dar-se-á no cargo de

Juiz-Auditor Substituto, mediante concurso público de provas e títulos organizado e

realizado pelo Superior Tribunal Militar, com a participação da Ordem dos Advogados do

Brasil, em todas as suas fases.

Parágrafo único. A nomeação dar-se-á com estrita observância da ordem de classificação

no concurso.

Art. 34. Exigir-se-á dos candidatos a satisfação dos seguintes requisitos, além de outros

previstos no Estatuto da Magistratura:

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I – ser brasileiro;

II – ter mais de vinte e cinco e menos de quarenta anos de idade, salvo se ocupante de

cargo ou função pública;

III – estar no gozo dos direitos políticos;

IV – ser bacharel em Direito, graduado por estabelecimento oficial ou reconhecido;

V – haver exercido durante três anos, no mínimo, no último decênio, a advocacia,

magistério jurídico em nível superior ou função que confira prática forense;

VI – ser moralmente idôneo e gozar de boa saúde física e mental, comprovada a última

pela aplicação de teste de personalidade por órgão oficial especializado e no curso de

inspeção de saúde.

§ 1° Das instruções do concurso constarão os programas das diversas disciplinas, a

constituição da Comissão Examinadora, vagas existentes e sua localização, assim como

outros esclarecimentos reputados, úteis aos candidatos, inclusive ao direito assegurado

no art. 38 desta lei.

§ 2° O concurso terá validade por dois anos, contados da homologação, prorrogável uma

vez, por igual período.

Art. 35. As nomeações e promoções serão feitas por ato do Superior Tribunal Militar.

Art. 36. A promoção ao cargo de Juiz-Auditor é feita dentre os Juízes-Auditores

Substitutos e obedece aos critérios de antigüidade e merecimento, alternadamente,

observado o seguinte:

a} na apuração da antigüidade, o Tribunal somente pode recusar o juiz mais antigo pelo

voto de dois terços de seus membros, conforme procedimento próprio, repetindo-se a

votação até fixar-se a indicação;

b) havendo simultaneidade na posse, a promoção por antigüidade recairá

preferentemente sobre o de melhor classificação no concurso de ingresso na carreira;

c) é obrigatória a promoção de juiz que figure por três vezes consecutivas, ou cinco

alternadas, em lista de merecimento, desde que conte dois anos de efetivo exercício e

integre a primeira quinta parte da lista de antigüidade;

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d) a promoção por merecimento pressupõe dois anos de exercício no cargo, salvo se não

houver com tal requisito quem aceite a vaga;

e) aferição do merecimento pelos critérios de presteza e segurança no exercício da

jurisdição e, ainda, pela freqüência e aproveitamento em cursos reconhecidos de

aperfeiçoamento;

f) o merecimento do magistrado de primeira instância é aferido no efetivo exercício do

cargo.

Art. 37. O magistrado não será removido ou promovido senão com seu assentimento,

manifestado na forma da lei, ressalvada a remoção compulsória.

Art. 38. Ao provimento inicial e à promoção por merecimento precederá a remoção,

observando-se, para preferência, a ordem de antigüidade para o Juiz-Auditor e a ordem

de classificação em concurso público para o Juiz-Auditor Substituto, quando os

concorrentes forem do mesmo concurso e, sendo eles de concursos diferentes, a ordem

de antigüidade na classe.

§ 1° Preenchido o claro em decorrência de remoção publica-se notícia da vaga, fixando-

se prazo de quinze dias contado da publicação, aos interessados, para requererem.

§ 2º O candidato habilitado em concurso público, no momento de sua nomeação,

somente pode optar por vaga existente após terem-se pronunciado os Juízes Substitutos

que tiverem interesse em remoção.

§ 3° Somente após dois anos de exercício na Auditoria onde estiver lotado, pode o juiz

ser removido, salvo se não houver candidato com tal requisito.

Art. 39. A nomeação para cargo de Juiz-Auditor Corregedor é feita mediante escolha do

Superior Tribunal Militar, em escrutínio secreto, dentre Juízes-Auditores situados no

primeiro terço da classe.

CAPÍTULO III

Da Posse e do Exercício

Art. 40. A posse terá lugar no prazo de trinta dias, contado da publicação do ato de

provimento no órgão oficial.

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Parágrafo único. A requerimento do interessado, o prazo previsto neste artigo poderá, a

critério do Tribunal ou do seu Presidente, ser prorrogado por igual período.

Art. 41. Do termo de posse, assinado pela autoridade competente e pelo magistrado,

constará o compromisso de desempenhar com retidão as funções do cargo, cumprindo a

Constituição e as leis.

§ 1° O magistrado, no ato da posse, deverá apresentar declaração pública de seus bens.

§ 2° Não haverá posse nos casos de remoção, promoção e reintegração.

Art. 42. São competentes para dar posse:

I – o Superior Tribunal Militar a seus Ministros;

II – o Presidente do Superior Tribunal Militar ao Juiz-Auditor Corregedor e a Juiz-Auditor

Substituto.

Art. 43. As datas de início, interrupção e reinício do exercício devem ser comunicadas

imediatamente ao Tribunal, para registro no assentamento individual do magistrado.

Art. 44. O exercício do cargo terá início no prazo de trinta dias, contado:

I – da data da posse;

II – da data da publicação oficial do ato, no caso de reintegração.

Art. 45. É considerado como de efetivo exercício o período de tempo necessário à viagem

para a nova sede.

§ 1° O período de que trata este artigo constará do ato de remoção ou de designação do

magistrado promovido e não excederá de trinta dias.

§ 2° O magistrado removido ou promovido com designação para nova sede, quando

licenciado ou afastado em virtude de férias, casamento ou luto, terá o prazo a que se

refere o parágrafo anterior contado a partir do término do afastamento.

Art. 46. A promoção não interrompe o exercício, que é contado a partir da data da

publicação do ato que promover o magistrado.

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Art. 47. Não se verificando a posse ou exercício dentro dos prazos previstos nesta lei, o

ato de nomeação, promoção ou remoção será revogado, não produzindo qualquer efeito.

Art. 48. Os magistrados de carreira adquirem vitaliciedade após dois anos de exercício.

§ 1° Os magistrados de que trata este artigo, e que não hajam adquirido a vitaliciedade,

não perdem o cargo senão por proposta do Tribunal, adotada pelo voto de dois terços de

seus membros.

§ 2° Os magistrados podem praticar todos os atos reservados por lei aos juízes vitalícios,

mesmo que não hajam adquirido a vitaliciedade.

CAPÍTULO IV

Da Antigüidade

Art. 49. Considera-se de efetivo exercício o afastamento em virtude de:

I – férias;

II – casamento;

III – falecimento de cônjuge, ascendente, descendente ou irmão;

IV – prestação de serviços à Justiça Eleitoral;

V – licença à gestante;

VI – licença-paternidade;

VII – licença por acidente em serviço;

VIII – licença para tratamento de saúde, em decorrência de moléstia especificada em lei;

IX – período de trânsito;

X – freqüência a cursos ou seminários de aperfeiçoamento e estudos, a critério do

Superior Tribunal Militar, pelo prazo máximo de dois anos;

XI – afastamento do exercício do cargo, em virtude de inquérito ou processo criminal ou

administrativo, desde que reconhecida a inocência do magistrado ou quando não resultar

pena disciplinar, ou esta se limitar a advertência ou censura.

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Art. 50. A antigüidade do Ministro do Superior Tribunal Militar conta-se a partir da posse.

Parágrafo único. Em caso de empate, prevalece:

I – a antigüidade na carreira militar;

II – o maior tempo de efetivo exercício em cargo anterior do serviço público federal,

prevalecendo, neste caso, o de serviço na Justiça Militar;

III – a idade, em benefício de quem a tiver maior.

Art. 51. A antigüidade de Juiz-Auditor Substituto é determinada pelo tempo de efetivo

exercício nos respectivos cargos.

Art. 52. Em caso de empate na classificação por antigüidade, prevalece, sucessivamente;

I – maior tempo de serviço na posse;

II – maior tempo de serviço na carreira da Magistratura da Justiça Militar;

III – maior tempo de serviço público federal, prevalecendo, neste caso, o de serviço na

Justiça Militar;

IV – idade, em benefício de quem a tiver maior.

Parágrafo único. Na classificação inicial, o primeiro desempate é determinado pela

classificação em concurso para ingresso na carreira da Magistratura.

Art. 53. Anualmente, até o dia 31 de janeiro, o Superior Tribunal Militar organizará e

publicará no Diário da Justiça a lista de antigüidade dos magistrados de carreira.

Art. 54. Contra a lista de que trata o artigo anterior, podem ser apresentadas reclamações

dentro de trinta dias contados da publicação, que serão processadas e julgadas pelo

Superior Tribunal Militar.

Parágrafo único. O relator e o Tribunal podem determinar diligências, inclusive mandar

ouvir os interessados, marcando-lhes prazo que não excederá de trinta dias.

CAPÍTULO V

Das Férias, Licenças e Aposentadoria

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Art. 55. Os Ministros do Superior Tribunal Militar gozam férias coletivas de 2 a 31 de

janeiro e de 2 a 31 de julho.

Parágrafo único. Se a necessidade do serviço judiciário lhes exigir a contínua presença

no Tribunal, o Presidente e Vice-Presidente gozarão trinta dias consecutivos de férias

individuais, por semestre.

Art. 56. Os magistrados de primeira instância da Justiça Militar gozam férias individuais,

de sessenta dias, concedidas segundo a conveniência do serviço.

Parágrafo único. As férias de que trata este artigo não podem fracionar-se por períodos

inferiores a trinta dias, podendo acumular-se somente por necessidade do serviço e pelo

máximo de dois meses.

Art. 57. Os Magistrados gozam licenças na forma do Estatuto da Magistratura.

Art. 58. A aposentadoria dos magistrados da Justiça Militar com vencimentos integrais é

compulsória por invalidez ou aos setenta anos de idade, e facultativa aos trinta anos de

serviço, após cinco anos de exercício efetivo na judicatura.

Art. 59. A verificação de invalidez, para o fim de aposentadoria, far-se-á na forma da lei e

do Regimento Interno do Superior Tribunal Militar.

Parágrafo único. O magistrado que, por dois anos consecutivos, afastar-se, ao todo, por

seis meses ou mais, para tratamento de saúde, deve submeter-se, ao requerer nova

licença, para igual fim, dentro de dois anos, a exame para verificação de invalidez .

Art. 60. O processo de aposentadoria obedece às disposições de lei especial.

CAPÍTULO VI

Das Incompatibilidade

Art. 61. Não podem servir, conjuntamente, os magistrados, membros do Ministério

Público e advogados que sejam entre si cônjuges, parentes consangüíneos ou afins em

linha reta, bem como em linha colateral, até o terceiro grau, e os que tenham vínculo de

adoção.

§ 1° A incompatibilidade a que se refere este artigo se resolve:

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I – antes da posse, contra o último nomeado ou contra o menos idoso, se as nomeações

forem da mesma data;

II – depois da posse, contra quem lhe deu causa; e contra o mais moderno, se a

incompatibilidade for imputada a ambos.

§ 2º Se a incompatibilidade se der com advogado, este deverá ser substituído.

CAPÍTULO VII

Das Substituições

Art. 62. Os magistrados da Justiça Militar são substituídos:

I – o Presidente do Superior Tribunal Militar, pelo Vice-Presidente e este pelo Ministro

civil mais antigo;

II – os Ministros militares, mediante convocação pelo Presidente do Tribunal, por oficiais

da Marinha, Exército ou Aeronáutica, do mais alto posto, sorteados dentre os constantes

da lista enviada pelos Ministros das respectivas Pastas;

III – Os Ministros civis pelo Juiz-Auditor Corregedor e, na falta deste, por convocação do

Presidente do Tribunal, após sorteio público ao qual concorrerão os cinco Juízes-

Auditores mais antigos;

IV – os Juízes-Auditores pelos Juízes-Auditores Substitutos do Juízo, ou, na falta destes,

mediante convocação do Presidente do Tribunal dentre Juízes-Auditores Substitutos,

observado, quando for o caso, o disposto no art. 64 desta lei;

V – o Juiz-Auditor Corregedor, por convocação do Presidente do Tribunal, dentre os

Juízes-Auditores titulares.

Parágrafo único. A convocação prevista nos incisos II e III deste artigo só se fará para

completar o quorum de julgamento.

Art. 63. Em caso de afastamento de Ministro ou de vaga por prazo superior a trinta dias,

poderá ser convocado substituto, por decisão da maioria absoluta dos membros do

Superior Tribunal Militar.

§ 1° O substituto de Ministro militar será escolhido na forma do inciso II do artigo anterior.

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§ 2° O substituto de Ministro civil será escolhido na forma do inciso III do artigo anterior.

§ 3° Em caso de afastamento, por período superior a trinta dias, os feitos em poder do

magistrado afastado e aqueles em que tenha proferido relatório, como os que haja

colocado em mesa para julgamento, são redistribuídos aos demais membros do Tribunal,

mediante oportuna compensação. Os feitos em que seja revisor passam ao substituto, na

forma do regimento interno.

§ 4° O julgamento que tiver sido iniciado prosseguirá, computando-se os votos já

proferidos, ainda que o magistrado afastado seja o relator.

§ 5° Quando o afastamento for por período igual ou superior a três dias, são

redistribuídos, mediante oportuna compensação, os habeas corpus, os mandados de

segurança, e os feitos que, consoante fundada alegação do interessado, reclamem

solução urgente.

§ 6° Em caso de vaga, ressalvados os processos a que se refere o parágrafo anterior, os

demais serão atribuídos ao nomeado para preenchê-la.

§ 7° Não concorrerão ao sorteio de que trata o inciso III do artigo anterior os magistrados

punidos com as penas de advertência, censura, remoção compulsória e disponibilidade.

Art. 64. Nas Circunscrições Judiciárias com mais de uma Auditoria na mesma sede, a

substituição de Juiz-Auditor, quando não houver substituto disponível na Auditoria, faz-se

por magistrado em exercício na mesma sede.

Parágrafo único. A substituição de que trata este artigo ocorrerá nos casos de licença,

falta e impedimento do substituído, sem prejuízo das funções do substituto.

Art. 65. A substituição nos casos de ausência ou impedimento eventual não autoriza a

concessão de qualquer vantagem, salvo diárias e transporte, se for o caso.

Art. 66. O magistrado convocado para substituir Ministro civil perceberá a diferença de

vencimentos correspondente, durante o período da convocação, inclusive diárias e

transporte, se for o caso.

TÍTULO VI

Do Ministério Público da União junto à Justiça Militar

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CAPÍTULO ÚNICO

Do Ministério Público

Art. 67. O Ministério Público mantém representantes junto à Justiça Militar.

Art. 68. Os membros do Ministério Público desempenham, junto à Justiça Militar,

atribuições previstas no Código de Processo Penal Militar e leis especiais.

TÍTULO VII

Da Defensoria Pública da União junto à Justiça Militar

CAPÍTULO ÚNICO

Da Defensoria Pública

Art. 69. A Defensoria Pública da União mantém representantes junto à Justiça Militar.

Art. 70. Os membros da Defensoria Pública, junto à Justiça Militar, desempenham as

atribuições previstas no Código de Processo Militar e leis especiais.

PARTE II

Dos Serviços Auxiliares

TÍTULO I

Das Disposições Gerais

Art. 71. Os Serviços Auxiliares da Justiça Militar são executados:

I – pela Secretaria do Superior Tribunal Militar;

II – pelas Secretarias das Auditorias.

Art. 72. Aos funcionários da Justiça Militar aplica-se o Regime Jurídico Único dos

Servidores Públicos Civis da União, observadas as disposições desta lei.

Art. 73. (Vetado)

Art. 74. O provimento dos cargos de direção e Assessoramento, classificados nos três

primeiros níveis do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores, do Quadro das

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Secretarias do Superior Tribunal Militar e das Auditorias, faz-se dentre os ocupantes de

cargos de nível superior do respectivo quadro, que atendam aos seguintes requisitos:

a) qualificação específica para a área relativa à direção ou assessoramento, mediante

graduação em curso de nível superior;

b) experiência para o respectivo exercício, de acordo com as normas regulamentares

expedidas pelo Tribunal.

§ 1° O provimento dos cargos do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores,

vinculados a Gabinete de Ministro, faz-se por indicação da respectiva autoridade, dentre

pessoas com formação de nível superior.

§ 2º O provimento dos cargos do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores,

classificados nos demais níveis, observado o limite de 50% (cinqüenta por cento),

somente pode recair em funcionário da Justiça Militar que atenda aos requisitos

estabelecidos na parte final do caput deste artigo e suas alíneas a e b.

TÍTULO II

Da Competência

Art. 75. A competência dos órgãos da Secretaria do Superior Tribunal Militar será definida

em ato próprio, baixado pelo Tribunal.

Art. 76. Às Secretarias das Auditorias incumbe a realização dos serviços de apoio aos

respectivos juízos, nos termos das leis processuais, atos e provimentos do Superior

Tribunal Militar e Corregedoria da Justiça Militar, bem como portarias e despachos dos

Juízes-Auditores, aos quais estejam diretamente subordinados.

TÍTULO III

Das Atribuições dos Servidores

CAPÍTULO I

Da Secretaria do Superior Tribunal Militar

Art. 77. As atribuições dos servidores da Secretaria do Superior Tribunal Militar serão

definidas em ato próprio por este baixado, observadas as especificações de classes.

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CAPÍTULO II

Das Secretarias das Auditorias

Art. 78. Os servidores da Secretaria são, nos processos em que funcionarem, auxiliares

do juiz e a ele subordinados.

SEÇÃO I

Dos Diretores de Secretaria

Art. 79. São atribuições do Diretor de Secretaria:

I – ter em boa guarda os autos e papéis a seu cargo e os que, por força de ofício, receber

das partes;

II – conservar a Secretaria em boa ordem e classificar, por espécie, número e ordem

cronológica, os autos e papéis a seu cargo, quer os em andamento, quer os arquivados;

III – escrever em forma legal e de modo legível, ou datilografar, os termos do processo,

mandados, precatórios, depoimentos, atas das sessões dos conselhos e demais atos

próprios do seu ofício;

IV – providenciar, com diligência, o cumprimento de decisões ou despachos do juiz, com

vistas à notificação ou intimação das partes, testemunhas, ofendido ou acusado, para

comparecerem em dia, hora e lugar designados no curso do processo, bem como cumprir

quaisquer atos que lhe incumba por dever de ofício;

V – lavrar procuração apud acta;

VI – prestar as informações que lhe forem pedidas sobre processos em andamento, salvo

quanto a matéria que tramite em segredo de justiça;

VII – fornecer, independentemente de despacho, certidões requeridas pelos interessados,

submetendo ao Juiz-Auditor os casos que versarem a matéria referida na parte final do

inciso anterior, bem como aqueles passíveis de dúvidas;

VIII – numerar e rubricar as folhas dos autos e quaisquer peças neles juntadas;

IX – providenciar o registro das sentenças e decisões dos Conselhos de Justiça e do

Juiz-Auditor;

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X – registrar, em livro próprio, os nomes dos réus condenados e a data da condenação,

bem como a pena aplicada e o seu término;

XI – registrar, em ordem cronológica, a entrada de processos e inquéritos, sua

distribuição, a remessa a outro juízo ou autoridade, bem como as devoluções ocorridas;

XII – providenciar livros, classificadores, fichas e demais materiais necessários à ordem e

a boa guarda dos processos;

XIII – providenciar o expediente administrativo da Secretaria;

XIV – acompanhar o Juiz-Auditor nas diligências de ofício;

XV – fornecer ao Juiz-Auditor, de três em três meses, a relação de inquérito e demais

processos que se encontrarem parados na Secretaria;

XVI – apresentar, até o dia quinze de janeiro de cada ano, relatório das atividades anuais

da Secretaria;

XVII – praticar os atos de que tratam os arts. 20, 21 e 22 desta lei;

XVIII – distribuir o serviço pelos servidores da secretaria, fiscalizando sua execução e

representando ao Juiz-Auditor em caso de irregularidade ou desobediência de ordem.

SEÇÃO III

Dos Técnicos Judiciários

Art. 80. São atribuições do Técnico Judiciário:

I – substituir o Diretor da Secretaria, nas férias, licenças, faltas e impedimentos, por

designação do Juiz-Auditor;

II – executar os serviços determinados pelo Juiz-Auditor e Diretor de Secretaria, inclusive

os atos previstos nos incisos III, VIII, X e XI do art. 79 desta lei que serão por este último

subscritos;

III – lavrar procuração apud acta, quando estiver funcionando em audiência.

SEÇÃO III

Dos Oficiais de Justiça Avaliadores

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Art. 81. São atribuições do Oficial de Justiça Avaliador:

I – funcionar, nos casos indicados em lei como perito oficial na determinação de valores,

salvo quando exigidos conhecimentos técnicos especializados;

II – fazer, de acordo com a lei processual penal militar, as citações por mandado, bem

como as notificações e intimações de que for incumbido;

III – convocar pessoas idôneas para testemunharem atos de seu ofício, quando a lei o

exigir;

IV – dar contrafé e certificar os atos e diligências que houver cumprido;

V – lavrar autos, efetuar prisões, diligências e medidas preventivas ou assecuratórias

determinadas por Conselhos de Justiça ou Juiz-Auditor;

VI – apregoar a abertura e o encerramento das sessões do Conselho de Justiça;

VII – fazer a chamada das partes e testemunhas;

VIII – passar a certidão de pregões e de fixação de editais;

IX – praticar outros atos compatíveis com a natureza do cargo, ordenados por presidente

de Conselho de Justiça, Juiz-Auditor e Diretor de Secretaria.

SEÇÃO IV

Dos Demais Servidores

Art. 82. As atribuições previstas nos incisos II e III do art. 80 desta lei poderão, no

interesse do serviço, ser deferidas ao Auxiliar Judiciário.

Art. 83. Aos demais servidores da Secretaria incumbe a execução das tarefas pertinentes

a seus cargos, conforme for determinado pelo Juiz-Auditor e pelo Diretor de Secretaria.

CAPÍTULO III

Do Regime Disciplinar

Art. 84. Os funcionários dos Serviços Auxiliares da Justiça Militar estão sujeitos ao regime

disciplinar estabelecido no Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos Civis da

União, observadas as disposições desta lei.

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Art. 85. Para aplicação de pena disciplinar são competentes:

a) o Presidente do Superior Tribunal Militar, aos ocupantes de cargos do Grupo-Direção e

Assessoramento Superiores do Quadro do Tribunal, bem como aos servidores

subordinados a Ministro, mediante representação deste;

b) o Juiz-Auditor Corregedor e Juiz-Auditor, aos servidores que lhes são subordinados;

c) o Diretor-Geral, aos servidores do Quadro da Secretaria, não compreendidos na alínea

a deste artigo.

§ 1° A pena de suspensão por mais de trinta dias será aplicada pelo Presidente do

Superior Tribunal Militar.

§ 2º A aplicação da pena de destituição de função caberá à autoridade que houver feito a

designação, mediante representação da autoridade a que estiver subordinado o

funcionário.

§ 3° Independe de processo a aplicação das penas de repressão, multa e suspensão até

trinta dias.

Art. 86. As penas de demissão e de cassação de aposentadoria ou disponibilidade serão

impostas pelo Superior Tribunal Militar.

Art. 87. A aplicação de pena disciplinar poderá ser precedida de advertência, a juízo da

autoridade competente, no caso de negligência no cumprimento dos deveres do cargo.

Parágrafo único. A advertência, que poderá se fazer reservadamente, não constará dos

assentamentos funcionais.

Art. 88. Caberá recurso para o Superior Tribunal Militar das penas aplicadas pelas

autoridades referidas nas alíneas a e b do art. 85 desta lei, no prazo de quinze dias

contado da data da ciência de sua aplicação ou do indeferimento do pedido de

reconsideração.

Parágrafo único. Das penas aplicadas pelo Diretor-Geral caberá recurso ao Presidente do

Tribunal, na forma deste artigo.

PARTE III

CAPÍTULO ÚNICO

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127

Da Organização da Justiça Militar em Tempo de Guerra

Art. 89. Na vigência do estado de guerra, são órgãos da Justiça Militar junto às forças em

operações:

I – os Conselhos Superiores de Justiça Militar;

II – os Conselhos de Justiça Militar;

III – os Juízes-Auditores.

Art. 90. Compete aos órgãos referidos no artigo anterior o processo e julgamento dos

crimes praticados em teatro de operações militares ou em território estrangeiro,

militarmente ocupados por forças brasileiras, ressalvado o disposto em tratados e

convenções internacionais.

Parágrafo único. O agente é considerado em operações militares desde o momento de

seu deslocamento para o teatro de operações ou para o território estrangeiro ocupado.

Art. 91. O Conselho Superior de Justiça é órgão de segunda instância e compõe-se de

dois oficiais-generais, de carreira ou reserva convocado, e um Juiz-Auditor, nomeados

pelo Presidente da República.

Parágrafo único. A Presidência do Conselho Superior de Justiça Militar é exercida pelo

juiz de posto mais elevado, ou pelo mais antigo, em caso de igualdade de posto.

Art. 92. Junto a cada Conselho Superior de Justiça funcionarão um Procurador e um

Defensor Público, nomeados pelo Presidente da República, dentre os membros do

Ministério Público da União junto à Justiça Militar e da Defensoria Pública da União,

respectivamente.

Parágrafo único. O Presidente do Conselho Superior de Justiça requisitará, ao Ministro

militar competente, o pessoal necessário ao serviço de secretaria, designando o

Secretário, que será de preferência bacharel em Direito.

Art. 93. O Conselho de Justiça compõe-se de um Juiz-Auditor ou Juiz-Auditor Substituto e

dois oficiais de posto superior ou igual ao do acusado, observado, na última hipótese, o

princípio da antigüidade de posto.

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§ 1° O conselho de que trata este artigo será constituído para cada processo e dissolvido

após o término do julgamento, cabendo a presidência ao juiz de posto mais elevado, ou

ao mais antigo em caso de igualdade de posto.

§ 2° Os Oficiais da Marinha, do Exército e da Aeronáutica serão julgados, quando

possível, por juízes militares da respectiva Força.

Art. 94. Haverá, no teatro de operações, tantas Auditorias quantas forem necessárias.

§ 1° Compõe-se a Auditoria de um Juiz-Auditor, um Procurador, um Defensor Público, um

Secretário e auxiliares necessários, podendo as duas últimas funções ser exercidas por

praças graduadas.

§ 2° Um dos auxiliares de que trata o parágrafo anterior, exercerá, por designação do

Juiz-Auditor, a função de oficial de justiça.

Art. 95. Compete ao Conselho Superior de Justiça:

I – processar e julgar originariamente os oficiais-generais;

II – julgar as apelações interpostas das sentenças proferidas pelos Conselhos de Justiça

e Juízes-Auditores;

III – julgar os embargos opostos às decisões proferidas nos processos de sua

competência originária.

Parágrafo único. O comandante do teatro de operações responderá a processo perante o

Superior Tribunal Militar, condicionada a instauração da ação penal à requisição do

Presidente da República.

Art. 96. Compete ao Conselho de Justiça:

I – o julgamento dos oficiais até o posto de coronel, inclusive;

II – decidir sobre arquivamento de inquérito e instauração de processo, nos casos de

violência praticada contra inferior para compeli-lo ao cumprimento do dever legal, ou em

repulsa a agressão.

Art. 97. Compete ao Juiz-Auditor:

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I – presidir a instrução criminal dos processos em que forem réus praças, civis ou oficiais

até o posto de capitão-de-mar-e-guerra ou coronel, inclusive;

II – julgar as praças e os civis.

PARTE IV

Das Disposições Gerais, Transitórias e Finais

CAPÍTULO I

Das Disposições Gerais

Art. 98. No exercício de suas funções na Justiça Militar, há recíproca independência entre

os membros da Magistratura, do Ministério Público e da Defesa.

Art. 99. Os magistrados, os representantes do Ministério Público, os Defensores, o

Secretário do Tribunal Pleno, o Diretor de Secretaria, o Oficial de Justiça Avaliador e

outros servidores usarão, nas sessões e audiências, o vestuário e insígnias estabelecidos

em lei ou no Regimento Interno do Tribunal.

Art. 100. Aplica-se o disposto no art. 61 desta lei aos representantes do Ministério

Público, advogados e servidores da Justiça Militar, observada, quanto a estes, a exceção

prevista no Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos Civis da União .

Art. 101. Nos atos de seu ofício, estão investidos de fé pública o Secretário do Tribunal

Pleno, os Diretores de Secretaria, os Oficiais de Justiça Avaliadores e, bem assim, o

Diretor-Geral do Tribunal e aqueles que realizem atividades processuais nos autos de

recursos ou processos de competência originária.

CAPÍTULO II

Das Disposições Transitórias e Finais

Art. 102. As Auditorias da Justiça Militar têm por sede: as da Primeira Circunscrição

Judiciária Militar, a Cidade do Rio de Janeiro (RJ); as da Segunda, a Cidade de São

Paulo (SP); as da Terceira, respectivamente, as Cidades de Porto Alegre, Bagé e Santa

Maria (RS); a da Quarta, a Cidade de Juiz de Fora (MG); a da Quinta, a Cidade de

Curitiba (PR); a da Sexta, a Cidade de Salvador (BA); a da Sétima, a Cidade de Recife

(PE); a da Oitava, a Cidade de Belém (PA); a da Nona, a Cidade de Campo Grande

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(MS); a da Décima, a Cidade de Fortaleza (CE); a da Décima Primeira, a Cidade de

Brasília (DF); e a da Décima Segunda, a Cidade de Manaus (AM).

Parágrafo único. A instalação da 2ª Auditoria da 11ª Circunscrição Judiciária Militar, a que

se refere o art. 11, alínea c, desta lei, que terá por sede a Cidade de Brasília, fica

condicionada à existência de recursos orçamentários específicos.

Art. 103. O atual quadro de Defensores Públicos da Justiça Militar da União

permanecerá, funcionalmente, na forma da legislação anterior, até que seja organizada a

Defensoria Pública da União.

Art. 104. Esta lei entra em vigor sessenta dias após a sua publicação, revogadas as

disposições em contrário (Decreto-Lei n° 1.003, de 21 de outubro de 1969) e, em

especial, o § 2° do art. 470 do Código de Processo Penal Militar.

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ANEXO III

PEC 358/05227

As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, nos termos do § 3º do art. 60

da Constituição Federal, promulgam a seguinte Emenda ao texto constitucional:

Altera dispositivos dos arts. 21, 22, 29, 48,

93, 95, 96, 98, 102, 103-B, 104, 105, 107,

111-A, 114, 115, 120, 123, 124, 125, 128,

129, 130-A e 134 da Constituição Federal,

acrescenta os arts. 97-A, 105-A, 111-B e

116-A, e dá outras providências.

Art. 1º Os arts. 21, 22, 29, 48, 93, 95, 96, 98, 102, 103-B, 104, 105, 107, 114, 120, 123,

124, 125, 128, 129, 130-A e 134 da Constituição Federal passam a vigorar com a

seguinte redação:

“Art. 21. Compete privativamente à União:

......................................................................................................

XIII – organizar e manter o Poder Judiciário e o Ministério Público

do Distrito Federal e dos Territórios;

............................................................................................” (NR)

“Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

......................................................................................................

XVII – organização judiciária e do Ministério Público do Distrito

Federal e dos Territórios, bem como organização administrativa

destes;

............................................................................................” (NR)

“Art. 29. ........................................................................................ 227 Texto do PEC n. 358/2005, disponível no portal da Câmara, através do endereço:

<http://www.camara.gov.br/Sileg/Prop_Detalhe.asp?id=274765>. Acesso em 4 fev. 2008.

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......................................................................................................

X – julgamento do Prefeito, por atos praticados no exercício da

função ou a pretexto de exercê-la, perante o Tribunal de Justiça;

............................................................................................” (NR)

“Art. 48. ........................................................................................

......................................................................................................

IX – organização administrativa, judiciária, do Ministério Público e

da Defensoria Pública da União e dos Territórios e organização

judiciária e do Ministério Público do Distrito Federal;

........…...........………...................................…....................” (NR)

“Art. 93. ....................................….....………..........…...................

...................…...............................…...................…......................

II – ......................................................................…......................

......................................................................................................

b) a promoção por merecimento pressupõe dois anos de exercício

na respectiva entrância e integrar o juiz a primeira metade da lista

de antigüidade, salvo se não houver com tais requisitos quem

aceite o lugar vago;

......................................................................................................

III – o acesso aos tribunais de segundo grau far-se-á por

antigüidade e merecimento, alternadamente, apurados na última

ou única entrância, na forma do inciso II;

......................................................................................................

XVI – no âmbito da jurisdição de cada tribunal ou juízo, é vedada

a nomeação ou designação, para cargos em comissão e para as

funções comissionadas, de cônjuge, companheiro ou parente até

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133

o segundo grau, inclusive, dos respectivos membros ou juízes

vinculados, salvo a de servidor ocupante de cargo de provimento

efetivo das carreiras judiciárias, caso em que a vedação é restrita

à nomeação ou designação para servir junto ao magistrado

determinante da incompatibilidade.” (NR)

“Art. 95. ........................................................................................

I – vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após três

anos de exercício, observado o disposto no art. 93, IV,

dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do

tribunal a que o juiz estiver vinculado e, nos demais casos, de

sentença judicial transitada em julgado, em processo que poderá

ser iniciado por representação ao Ministério Público tomada pelo

voto de três quintos do Conselho Nacional de Justiça, inclusive

nos casos de:

a) negligência e desídia reiteradas no cumprimento dos

deveres do cargo, arbitrariedade ou abuso de poder;

b) procedimento incompatível com o decoro de suas funções;

c) infração do disposto no parágrafo único deste artigo.

............................................................................................” (NR)

“Art. 96. Compete privativamente:

I – aos Tribunais:

a) eleger seus órgãos diretivos, por maioria absoluta e voto

secreto, para mandato de dois anos, vedada a reeleição para

mandato subseqüente, e elaborar seus regimentos internos, com

observância das normas de processo e das garantias processuais

das partes, dispondo sobre a criação, a competência, a

composição e o funcionamento dos respectivos órgãos

jurisdicionais e administrativos;

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b) organizar suas secretarias, polícia e serviços auxiliares e os

dos juízes que lhes forem vinculados, velando pelo exercício da

atividade correicional respectiva;

............................................................................................” (NR)

“Art. 98. ........................................................................................

I – juizados especiais, providos por juízes togados ou togados e

leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a

execução de causas cíveis de pequeno valor ou menor

complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo,

mediante os procedimentos oral e sumariíssimo, permitidos, nas

hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos

por turmas de juízes de primeiro grau, integrantes, sempre que

possível, do sistema dos juizados especiais;

..................................................................…....................……….

§ 3º Os interessados em resolver seus conflitos de interesse

poderão valer-se de juízo arbitral, na forma da lei.” (NR)

“Art. 102. ...........…......……........…........…….….…………………

I – ..............…………..…….....................………………..…………

a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo

federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade

de lei ou ato normativo federal ou estadual;

b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o

Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, os

membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho

Nacional do Ministério Público, seus próprios Ministros e o

Procurador-Geral da República;

......................................................................................................

d) o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas

referidas nas alíneas a, b e c; o mandado de segurança e o

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habeas data contra atos do Presidente da República, das Mesas

da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de

Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio

Supremo Tribunal Federal; e a ação popular e a ação civil pública

contra atos do Presidente da República, do Congresso Nacional,

da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e do Supremo

Tribunal Federal;

......................................................................................................

§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo

Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas

ações declaratórias de constitucionalidade de lei ou ato normativo

federal ou estadual produzirão eficácia contra todos e efeito

vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e

à administração pública direta e indireta, nas esferas federal,

estadual e municipal.

.........................…............…..........…..................................” (NR)

“Art. 103-B. …................…......…….........………….………………

………………....................................................…………..……….

VI – um desembargador federal de Tribunal Regional Federal,

indicado pelo Superior Tribunal de Justiça;

......................................................................................................

VIII – um desembargador federal do trabalho de Tribunal Regional

do Trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho;

......................................................................................................

§ 8º É vedado ao membro do Conselho, referido nos incisos XII e

XIII, durante o exercício do mandato:

a) exercer outro cargo ou função, salvo uma de magistério;

b) dedicar-se a atividade político-partidária;

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c) exercer, em todo o território nacional, a advocacia.” (NR)

“Art. 104. ......................................................................................

Parágrafo único. ..........................................................................

I – um terço dentre desembargadores federais dos Tribunais

Regionais Federais e um terço dentre desembargadores dos

Tribunais de Justiça, oriundos da carreira da magistratura,

indicados em lista tríplice elaborada pelo próprio Tribunal;

……………………………….…………..............…….………” (NR)

“Art. 105. …...........…….………………….…….........…………......

I – .............................……….....………………..……........………..

......................................................................................................

b) os mandados de segurança, os habeas data, as ações

populares e as ações civis públicas contra ato de Ministro de

Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da

Aeronáutica ou do próprio Tribunal;

......................................................................................................

III – ...............................................................................................

a) contrariar dispositivo desta Constituição, de tratado ou lei

federal, ou negar-lhes vigência;

......................................................................................................

§ 1º (parágrafo único) ................................................................

§ 2º Nas ações civis públicas e nas propostas por entidades

associativas na defesa dos direitos de seus associados,

representados ou substituídos, quando a abrangência da lesão

ultrapassar a jurisdição de diferentes Tribunais Regionais Federais

ou de Tribunais de Justiça dos Estados ou do Distrito Federal e

Territórios, cabe ao Superior Tribunal de Justiça, ressalvada a

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competência da Justiça do Trabalho e da Justiça Eleitoral, definir

a competência do foro e a extensão territorial da decisão.

§ 3º A lei estabelecerá os casos de inadmissibilidade do recurso

especial.” (NR)

“Art. 107. Os Tribunais Regionais Federais compõem-se de, no

mínimo, sete desembargadores federais, recrutados, quando

possível, na respectiva região e nomeados pelo Presidente da

República dentre brasileiros com mais de trinta e menos de

sessenta e cinco anos, sendo:

......................................................................................................

II – os demais, mediante promoção de juízes federais com mais

de cinco anos de exercício na respectiva classe, que integrem a

primeira metade da lista de antigüidade desta, salvo se não

houver com tais requisitos quem aceite o lugar vago.

……………...............…..…………….……….............………” (NR)

“Art. 111-A. ..........................…...…..............................................

.............................….....................................................................

II – os demais dentre desembargadores federais do trabalho dos

Tribunais Regionais do Trabalho, oriundos da magistratura da

carreira, indicados em lista tríplice elaborada pelo próprio Tribunal

Superior.

§ 1º A lei disporá sobre a competência do Tribunal Superior do

Trabalho, inclusive sobre a reclamação para preservação de sua

competência e garantia da autoridade de suas decisões.

............................................................................................” (NR)

“Art. 114. ......................................................................................

I – as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes

de direito público externo e da administração pública direta e

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indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios, exceto os servidores ocupantes de cargos criados por

lei, de provimento efetivo ou em comissão, incluídas as autarquias

e fundações públicas dos referidos entes da Federação;

......................................................................................................

X – os litígios que tenham origem no cumprimento de seus

próprios atos e sentenças, inclusive coletivas;

XI – a execução, de ofício, das multas por infração à legislação

trabalhista, reconhecida em sentença que proferir;

XII – a execução, de ofício, dos tributos federais incidentes sobre

os créditos decorrentes das sentenças que proferir.

............................................................................................” (NR)

“Art. 115. Os Tribunais Regionais do Trabalho compõem-se de, no

mínimo, sete desembargadores federais do trabalho, recrutados,

quando possível, na respectiva região, e nomeados pelo

Presidente da República dentre brasileiros com mais de trinta e

menos de sessenta e cinco anos, sendo:

............................................................................................” (NR)

“Art. 120. .....……………..………........................….......…............

§ 1º ..............................................................................................

......................................................................................................

III – por nomeação, pelo Presidente da República, de dois juízes

dentre advogados de notável saber jurídico e reputação ilibada,

indicados em lista tríplice, para cada vaga, elaboradas pelo

Tribunal Superior Eleitoral.

............................................................................................” (NR)

“Art. 123. O Superior Tribunal Militar compor-se-á de onze

Ministros vitalícios, nomeados pelo Presidente da República,

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depois de aprovada a indicação pela maioria absoluta do Senado

Federal, sendo dois dentre oficiais-generais da Marinha, três

dentre oficiais-generais do Exército, dois dentre oficiais-generais

da Aeronáutica, todos da ativa e do posto mais elevado da

carreira, e quatro dentre civis.

Parágrafo único. Os Ministros civis serão escolhidos pelo

Presidente da República dentre brasileiros com mais de trinta e

cinco e menos de sessenta e cinco anos, sendo:

I – dois dentre juízes-auditores;

II – um dentre advogados de notório saber jurídico e reputação

ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional;

III – um dentre membros do Ministério Público Militar.” (NR)

“Art. 124. À Justiça Militar da União compete processar e julgar os

crimes militares definidos em lei, bem como exercer o controle

jurisdicional sobre as punições disciplinares aplicadas aos

membros das Forças Armadas.

............................................................................................” (NR)

“Art. 125. ......................................................................................

......................................................................................................

§ 2º Cabe aos Estados a instituição de representação de

constitucionalidade de lei estadual, e de inconstitucionalidade de

lei estadual ou municipal, em face da Constituição Estadual, e de

argüição de descumprimento de preceito constitucional estadual

fundamental, cujas decisões poderão ser dotadas de efeito

vinculante, vedada a atribuição da legitimação para agir a um

único órgão.

......................................................................................................

§ 8º Os Tribunais de Justiça criarão ouvidorias de justiça,

competentes para receber reclamações e denúncias de qualquer

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interessado contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, ou

contra seus serviços auxiliares, representando diretamente ao

Conselho Nacional de Justiça.” (NR)

“Art. 128. ......................................................................................

......................................................................................................

§ 1º O Ministério Público da União tem por chefe o Procurador-

Geral da República, nomeado pelo Presidente da República

dentre integrantes da carreira do Ministério Público Federal,

maiores de trinta e cinco anos, após aprovação de seu nome pela

maioria absoluta dos membros do Senado Federal, para mandato

de dois anos, permitida uma recondução.

......................................................................................................

§ 5º...............................................................................................

I – .................................................................................................

a) vitaliciedade, após três anos de exercício, não podendo perder

o cargo senão por sentença judicial transitada em julgado, em

processo que poderá ser iniciado por representação ao Ministério

Público, tomada pelo voto de três quintos do Conselho Nacional

do Ministério Público, inclusive nos casos de:

1) negligência e desídia reiteradas no cumprimento dos deveres

do cargo, arbitrariedade ou abuso de poder;

2) procedimento incompatível com o decoro de suas funções;

3) infração do disposto no inciso II do § 5º deste artigo.

............................................................................................” (NR)

“Art. 129. ......................................................................................

......................................................................................................

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§ 6º Os membros dos Ministérios Públicos dos Estados e do

Distrito Federal são denominados Promotores de Justiça.” (NR)

“Art. 130-A. …………………….………….............…….....………..

......................................................................................................

§ 2º ..............................................................................................

......................................................................................................

III A – representar ao Ministério Público, no caso de crime contra a

administração pública ou de abuso de autoridade.

......................................................................................................

§ 6º É vedado ao membro do Conselho, referido nos incisos V e

VI do caput, durante o exercício do mandato:

a) exercer outro cargo ou função, salvo uma de magistério;

b) dedicar-se a atividade político-partidária;

c) exercer, em todo o território nacional, a advocacia.” (NR)

“Art. 134. ......................................................................................

§ 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União,

e prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados e

no Distrito Federal, em cargos de carreiras, providos, na classe

inicial, mediante concurso público de provas e títulos, assegurada

a seus integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o

exercício da advocacia fora das atribuições institucionais.

§ 2º ..............................................................................................

§ 3º Aplica-se o disposto no § 2º às Defensorias Públicas da

União e do Distrito Federal.” (NR)

Art. 2º A Constituição Federal passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 97-A, 105-A,

111-B e 116-A:

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“Art. 97-A. A competência especial por prerrogativa de função, em

relação a atos praticados no exercício da função pública ou a

pretexto de exercê-la, subsiste ainda que o inquérito ou a ação

judicial venham a ser iniciados após a cessação do exercício da

função.

Parágrafo único. A ação de improbidade de que trata o art. 37, §

4º, referente a crime de responsabilidade dos agentes políticos,

será proposta, se for o caso, perante o tribunal competente para

processar e julgar criminalmente o funcionário ou autoridade na

hipótese de prerrogativa de função, observado o disposto no

caput deste artigo.”

“Art. 105-A. O Superior Tribunal de Justiça poderá, de ofício ou

por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus

membros, após reiteradas decisões sobre a matéria, aprovar

súmula que, a partir de sua publicação, constituir-se-á em

impedimento à interposição de quaisquer recursos contra a

decisão que a houver aplicado, bem como proceder à sua revisão

ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.

§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a

eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja

controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a

administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e

relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica.

§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a

aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá ser

provocada originariamente perante o Superior Tribunal de Justiça

por aqueles que podem propor a ação direta de

inconstitucionalidade.

§ 3º São insuscetíveis de recurso e de quaisquer meios de

impugnação e incidentes as decisões judiciais, em qualquer

instância, que dêem a tratado ou lei federal a interpretação

determinada pela súmula impeditiva de recurso.”

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143

“Art. 111-B. O Tribunal Superior do Trabalho poderá, de ofício ou

por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus

membros, após reiteradas decisões sobre a matéria, aprovar

súmula que, a partir de sua publicação, constituir-se-á em

impedimento à interposição de quaisquer recursos contra decisão

que a houver aplicado, bem como proceder à sua revisão ou

cancelamento, na forma estabelecida em lei.

§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a

eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja

controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a

administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e

relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica.

§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a

aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá ser

provocada originariamente perante o Tribunal Superior do

Trabalho por aqueles que podem propor a ação direta de

inconstitucionalidade.

§ 3º São insuscetíveis de recurso e de quaisquer meios de

impugnação e incidentes as decisões judiciais, em qualquer

instância, que dêem à legislação trabalhista a interpretação

determinada pela súmula impeditiva de recurso.”

“Art. 116-A. A lei criará órgãos de conciliação, mediação e

arbitragem, sem caráter jurisdicional e sem ônus para os cofres

públicos, com representação de trabalhadores e empregadores,

que terão competência para conhecer de conflitos individuais de

trabalho e tentar conciliá-los, no prazo legal.

Parágrafo único. A propositura de dissídio perante os órgãos

previstos no caput interromperá a contagem do prazo

prescricional do art. 7º, XXIX.”

Art. 3º A composição do Superior Tribunal Militar será adaptada à medida que ocorrerem

as vagas, sendo extintos os cargos de Ministro até que se chegue ao número

estabelecido nesta Emenda.

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Art. 4º Não se aplica aos magistrados oriundos do quinto constitucional da advocacia e

do Ministério Público, empossados até a data da promulgação desta Emenda, a restrição

estabelecida pelo inciso I do parágrafo único do art. 104 da Constituição Federal.

Art. 5º O membro do Ministério Público admitido antes da promulgação desta Emenda

poderá exercer atividade político-partidária, na forma da lei.

Art. 6º Os Procuradores-Gerais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal são

denominados Promotores-Gerais de Justiça.

Art. 7º Esta Emenda Constitucional entra em vigor na data de sua publicação.