a jurisdiÇÃo cÍvel da justiÇa militar estadual, À …siaibib01.univali.br/pdf/ricardo schmitt...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS CURSO DE DIREITO
A JURISDIÇÃO CÍVEL DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL, À LUZ DA EMENDA CONSTITUCIONAL N. 45/2004
RICARDO SCHMITT MAES
Itajaí, maio de 2008
I
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS CURSO DE DIREITO
A JURISDIÇÃO CÍVEL DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL, À LUZ DA EMENDA CONSTITUCIONAL N. 45/2004
RICARDO SCHMITT MAES
Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como
requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.
Orientadora: Professora Msc. Denise Schmitt Siqueira Garcia
Itajaí, maio de 2008
II
AGRADECIMENTO
A meus pais pela dedicação e sacrifícios, a fim de propiciar à formação humana, voltada a edificação
de valores sociais;
A Dr.ª Ana Vera, por valorosas e primordiais lições de direito e principalmente por sua
amizade, com carinho e respeito pela integridade e seriedade sempre demonstradas;
A Prof.ª Denise, pelo aceite ao desafio da construção deste projeto, cujo objeto se mostra
alheio à realidade da academia, só posso agradecer;
A meus amigos e meus irmãos, aos quais dedico intensa afeição, pela paciência e companheirismo
no curso dos anos, ainda que distante ou sob o silêncio, os sentimentos persistem a florescer;
E uma menção especial, a AMAJME e ao Dr. Getúlio Corrêa a lembrança e agradecimento pela
receptividade.
III
DEDICATÓRIA
A Dr.ª Ana Vera, juíza, chefe e amiga.
IV
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo
aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do
Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e a
Orientadora de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Itajaí, maio de 2008
Ricardo Schmitt Maes Graduando
V
PÁGINA DE APROVAÇÃO
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale
do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Ricardo Schmitt Maes, sob o título
Jurisdição Cível da Justiça Militar estadual, à luz da Emenda Constitucional n.
45/2004, foi submetida em onze de junho de dois mil e oito à banca examinadora
composta pelos seguintes professores: Denise Schmitt Siqueira Garcia,
(Orientadora e Presidente da Banca), Márcia Sarubbi Lippmann (Examinadora), e
aprovada com a nota 10 (dez).
Itajaí, 11 de junho de 2008.
Prof.ª Msc. Denise Schmitt Siqueira Garcia Orientadora e Presidente da Banca
Prof. Msc. Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia
VI
ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ADIN Ação Direta de Inconstitucionalidade
BM Bombeiros Militares
CNJ Conselho Nacional de Justiça
CJM Circunscrições Judiciárias Militares
CPC Código de Processo Cível
CPM Código Penal Militar
CPPM Código de Processo Penal Militar
CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
EC/45 Emenda Constitucional n.º 45/2004
EUA Estados Unidos da América
LOJM Lei de Organização Judiciária Militar
MG Estado de Minas Gerais
PAD Processo Administrativo-Disciplinar
PEC Projeto de Emenda Constitucional
PM Polícia Militar
RS Estado do Rio Grande do Sul
SC Estado de Santa Catarina
SP Estado de São Paulo
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
STM Superior Tribunal Militar
TJM Tribunal de Justiça Militar
TJMMG Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais
TJMSP Tribunal de Justiça Militar do Estado de São Paulo
VII
TSE Tribunal Superior Eleitoral
TST Tribunal Superior do Trabalho
VIII
ROL DE CATEGORIAS
Rol de categorias que o Autor considera estratégicas à
compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.
Ação
É o instrumento empregado a fim de provocar o Estado a entregar aos
interessados a tutela jurisdicional através do procedimento judicial, em que se
busque a satisfação de uma pretensão pertinente a um direito subjetivo violado1.
Ato administrativo
É a declaração daquele que estiver investido das prerrogativas públicas inerentes
ao poder do Estado, expressa por meio de providências jurídicas complementares
da norma, a fim de dar cumprimento a tal, estando tais atos sujeitos ao controle
de legitimidade2.
Ato disciplinar militar
É a expressão de intenção da Administração Militar, com o fim de preservar a
ordem ao regular funcionamento das Instituições Militares, impondo obrigações
aos seus servidores, modificando, extinguindo ou declarando direitos3.
Castrense
Castrense, vem da expressão latina castrorum, que designava os antigos
acampamentos militares, assim convencionou-se designar aquilo que se relaciona
com Militar como Castrense4.
1 SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria geral do processo: concreta, objetiva, atual. Vol. 2.
Florianópolis: Visual Books, 2002, p. 13/14. 2 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. São Paulo: Malheiros,
2003, p. 352. 3 BATISTA, Rogério Ramos; REZENDE, Fábio Teixeira. A competência da Justiça Militar para
as ações contra atos disciplinares. Revista de Estudos e Informações. n. 15. Belo Horizonte: TJM/MG, 2005, p. 21.
4 ASSUMPÇÂO, Roberto Menna Barreto. Direito penal e processual penal militar: Doutrina, jurisprudência e súmulas. Vol. I!. Rio de Janeiro: Destaque, 1999, p. 19.
IX
Cível
É aquilo que se relaciona com o direito civil; a jurisdição em que se julgam as
causas cíveis5.
Civil
Concernente as ligações entre os cidadãos; que não possui natureza militar ou
eclesiástica6.
Controle de legalidade
É o meio, através do qual a Administração Pública confirma se foram observados
os requisitos para a formação de determinado ato emanado de autoridade
administrativa, analisando se o ato foi praticado por agente competente e se
foram cumpridas as formalidades essenciais a sua formação7.
Disciplina
É a estrita observância as normas de procedimento estabelecidas em todos os
níveis e graus da hierarquia militar8.
Emenda Constitucional
É o procedimento legislativo, através da atuação de determinados órgãos,
observando as formalidades estabelecidas, se busca a alteração de constituições
rígidas9.
5 DICIONÁRIO da língua portuguesa. Edições poliglota. São Paulo: Cia. Melhoramentos, 1992, p.
109. 6 DICIONÁRIO da língua portuguesa. Edições poliglota. São Paulo: Cia. Melhoramentos, 1992, p.
109. 7 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. Apelação cível n.
2002.019793-4. Relator Desembargador Volnei Carlin. Diário da Justiça, Florianópolis, p. 32, 15 set. 2004. Disponível em: <http://www.tj.sc.gov.br/institucional/diario/0409/dj11515.pdf>. Acesso em: 4 fev. 2008.
8 SANTOS, Mário Olímpio Gomes dos. O “status” Militar. Revista de Estudos e Informações. n. 05. Belo Horizonte: TJM/MG, 2000, p. 05.
9 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 24. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 61/62.
X
Jurisdição
É um poder atribuído exclusivamente ao Estado, o qual o exerce por meio do
Judiciário, e pelo qual este diz o direito de maneira determinante e imperativa,
obrigando as partes ao cumprimento das suas decisões10.
Militar
Entende-se por militar qualquer pessoa, que venham a ser incorporadas as
Forças Armadas ou auxiliares, quer em tempos de paz ou de guerra, servindo a
estas em posto, graduação, ou sujeição à disciplina militar11.
Poder-Disciplinar
É o dever da Administração de aplicar punições administrativas aos seus
servidores, pelo cometimento de faltas ou violações no exercício de suas
funções12.
Processo Administrativo-Disciplinar
É o instrumento utilizado pela Administração Pública para apuração das faltas dos
agentes públicos e outras pessoas vinculadas aos seus serviços ou atividades,
definitiva ou transitoriamente, se sujeitando ao regime funcional da Administração,
submetendo-se à sua disciplina13.
Punição disciplinar
É o ato discricionário da Administração, com vista à aplicação de sanção a agente
público pelo cometimento de delito funcional previsto em norma estabelecida pelo
órgão a que se ache vinculada o servidor14.
10 BATISTA, Rogério Ramos; REZENDE, Fábio Teixeira. A competência da Justiça Militar para
as ações contra atos disciplinares. Revista de Estudos e Informações. n. 15. Belo Horizonte: TJM/MG, 2005, p. 22.
11 LOBÃO, Célio. Direito penal militar. 3. ed. atual. Brasília: Brasília Jurídica, 2006, p. 101. 12 ROSA, Márcio Fernando Elias. Direito administrativo. 2. ed. Vol. 19. São Paulo: Saraiva, 2001,
p. 62. 13 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 28. ed. São Paulo: Malheiros,
2003, p. 666. 14 ASSIS, Jorge César de. A reforma do Poder Judiciário e a Justiça Militar. Breves
considerações sobre seu alcance. Direito Militar. n. 51. Florianópolis: AMAJME, 2005, p. 26.
XI
Transgressão Disciplinar
Entende-se por transgressão disciplinar, quaisquer violações aos deveres,
preceitos éticos e obrigacionais militares em sua expressão elementar e
simples15.
15 SANTANA, Luiz Augusto de. O Direito Militar aplicável às polícias militares em face do
poder disciplinar. Revista de Estudos e Informações. n. 20. Belo Horizonte: TJM/MG, 2007, p. 44/45.
XII
SUMÁRIO
RESUMO.........................................................................................XIV
INTRODUÇÃO ................................................................................... 1
CAPÍTULO 1 ...................................................................................... 3
JURISDIÇÃO...................................................................................... 3 1.1 CONCEITO .......................................................................................................3 1.2 A FUNÇÃO DA JURISDIÇÃO ..........................................................................5 1.3 CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO...........................................................7 1.4 ESPÉCIES DE JURISDIÇÃO .........................................................................11 1.4.1 JURISDIÇÃO CÍVEL OU PENAL ...........................................................................12 1.4.2 JURISDIÇÃO ESPECIAL OU COMUM....................................................................13 1.4.3 JURISDIÇÃO SUPERIOR OU INFERIOR.................................................................15 1.5 LIMITES DA JURISDIÇÃO.............................................................................17 1.6 JURISDIÇÃO CONTENCIOSA.......................................................................19 1.7 JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA..........................................................................21 1.8 ÓRGÃOS JURISDICIONAIS E DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO.................22
CAPÍTULO 2 .................................................................................... 26
JUSTIÇA MILITAR ........................................................................... 26 2.1 CONCEITO .....................................................................................................26 2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA ...............................................................................31 2.3 A JUSTIÇA MILITAR DO BRASIL .................................................................37 2.3.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA ....................................................................................37 2.3.2 JUSTIÇA MILITAR NA CONSTITUIÇÃO DE 1988...................................................40 2.3.3 JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO.............................................................................42 2.3.4 JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL ...........................................................................45
CAPÍTULO 3 .................................................................................... 49
DA JURISDIÇÃO CÍVEL DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL NA EC/45................................................................................................ 49 3.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A EC/45 ............................................................49 3.2 A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL, À LUZ DA EC/45 ..54 3.2.1 DOS CRIMES MILITARES ...................................................................................55 3.2.2 AÇÕES JUDICIAIS CONTRA ATOS DISCIPLINARES MILITARES................................58 3.3 A JURISDIÇÃO CÍVEL DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL.........................62 3.4 O PROJETO DE EMENDA CONSTITUCIONAL N. 358/05 ...........................69
XIII
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................. 73
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .......................................... 75
ANEXOS........................................................................................... 87
XIV
RESUMO
A presente monografia cuida da jurisdição cível da Justiça
Militar, com o advento da Emenda Constitucional n. 45/2004 (EC/45), a qual
ampliou as competências da Justiça Castrense estadual, atribuindo-lhe
competência para o conhecimento e julgamento das ações contra atos
disciplinares militares, relativamente aos militares das Forças Auxiliares16. Para
tanto, apresenta-se o conceito de jurisdição e seus desdobramentos, a fim de
compreender seu alcance para ao final fixar os limites da jurisdição cível da
Justiça Militar estadual, assim como as vantagens desta atribuição. Aborda-se
também a evolução desta Justiça especializada ao longo dos séculos, desde a
formação das primeiras hostes, quando surgiu a necessidade de se fixar regras
rígidas de conduta, com base na hierarquia e na disciplina, aplicando-se para
tanto punições aqueles que praticassem condutas positivas ou que deixassem de
praticá-las quando tivessem por dever fazê-lo, surgindo desta maneira a
necessidade da formação de um órgão a quem coubesse o julgamento deste
direito especial destinado as atividades castrenses, além de tratar acerca da
Justiça Militar brasileira, individualizamente, desde sua instalação através do
Alvará Régio de 1º de abril de 1808, e de sua inserção como órgão do Poder
Judiciário em 1934, até a aprovação da EC/45, que alterou de sobremaneira a
estrutura do Judiciário. Na seqüência, são estudadas as principais inovações
trazidas pela EC/45, entre as quais se encontra a ampliação da competência da
Justiça Militar estadual, a qual conferiu a esta à competência para o julgamento
de ações cíveis contra quaisquer atos afetos a disciplina militar. De igual modo, é
analisado o teor do Projeto de Emenda Constitucional n. 358/2005 (PEC 358/05),
o qual apresenta a segunda fase de reforma do Judiciário. Ao final, são
apresentadas as respostas aos problemas propostos, realizando algumas
digressões acerca do objeto da presente monografia, e apontando os limites da
jurisdição da Justiça Militar e as vantagens desta.
16 Como preceitua o § 6º, do art. 144, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988:
as polícias militares e corpos de bombeiros militares são forças auxiliares e reservas do Exército.
1
INTRODUÇÃO
A presente Monografia tem como objeto a pesquisa da
jurisdição cível da Justiça Militar e as suas implicações, através das novas
competências atribuídas pela EC/45, a qual veio apresentar um novo panorama a
este órgão judicial especial, conferindo aos Juízos Militares estaduais a
competência para processar e julgar ações contra atos disciplinares militares.
Seu objetivo geral é compreender os alcances dessa nova
jurisdição, a fim de verificar quais os limites da jurisdição cível da Justiça Militar
estadual, atribuída pela EC/45, analisando para tanto as posições doutrinárias e
assentamento jurisprudencial.
Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, no qual irá se tratar
da Jurisdição, destacando sua concepção dentro da ordem estatal estabelecida,
assim como a função essencial, com vista à pacificação de conflitos sociais, além
das características identificadoras que a norteiam e de suas espécies, uma vez
que embora una e indivisível, está dividida em espécies, tendo em vista à
especificidade do direito objetivo material, esclarecendo os limites ao seu
exercício e a divisão da Jurisdição, para ao final tratar dos órgãos incumbidos de
exercê-la.
No Capítulo 2, será tratado da Justiça Militar, como órgão
especial dentro da estrutura do Judiciário, revestido de caracteres peculiares,
estando sua jurisdição restrita as situações expressamente previstas em lei,
apontando sua evolução histórica, dentro do contexto global, desde o surgimento
do primeiro agrupamento de homens, os quais formaram o primeiro exército até
os dias atuais dentro da realidade brasileira, a qual se divide em Justiça Militar da
União e estadual, estando à jurisdição de cada uma fixada em razão da pessoa.
No Capítulo 3, será abordado a jurisdição cível da justiça
militar, à luz da EC/45, trazendo inicialmente comentários acerca da referida
Emenda e de sua repercussão de forma geral, abordando a seguir a competência
da Justiça Militar com a promulgação da mesma, tanto na esfera do direito penal
2
militar quanto cível, como meio de adentrar especificamente no objeto do
presente trabalho científico, qual seja, a jurisdição cível da Justiça Militar estadual,
ainda repercutindo as eventuais alterações legislativas que possam ocorrer com a
aprovação do PEC 358/05.
O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as
Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos
destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões
sobre a jurisdição cível da Justiça Militar estadual, acompanhando a evolução
deste órgão de jurisdição especial, assim como a possível alteração na
competência da Justiça Militar da União, com a aprovação do PEC 358/05.
Para a presente monografia foram levantadas as seguintes
questões de pesquisa e suas hipóteses:
� Quais os limites da jurisdição cível da Justiça Militar estadual? Conforme estabelece o § 4º do art. 125 da Carta Republicana de 1988, compete a Justiça Militar estadual processar e julgar as ações judiciais contra atos disciplinares militares. � Quais as vantagens introduzidas pela ampliação da jurisdição da
Justiça Militar? Por se tratar de ramo especializado do direito, o que exige um maior aperfeiçoamento do julgador, oportunizará aos litigantes um julgamento mais condizente com os princípios castrenses, tornando mais justo, saciando os anseios sociais a medida da correta aplicação do direito ao caso, destinando a tutela especifica aos participes, evitando incongruências incompressíveis aos olhos da sociedade.
Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase
de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, nas diversas fases da Pesquisa,
foram acionadas as Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito
Operacional e da Pesquisa Bibliográfica.
3
CAPÍTULO 1
JURISDIÇÃO
1.1 CONCEITO
Jurisdição, expressão do latim, jurisdictio: dizer o direito – a
qual é um poder do Estado, através do qual este pela aplicação do direto, busca
solucionar as pretensões e os conflitos, através da prestação jurisdicional.
A jurisdição é uma garantia constitucional, estabelecida no
art. 5º, XXXV17, da Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB/88),
destinada aos cidadãos, tendo por fim a proteção da sociedade contra o arbítrio,
garantindo ao cidadão os direitos essenciais18.
Na concepção de Reale: “O juiz, no ato de prolatar uma
sentença, sempre o faz em nome do Estado. A jurisdição, que é o ato através do
qual o Poder Judiciário se pronuncia sobre o objeto de uma demanda, é
indiscutivelmente um serviço público”.19
Neste vértice, jurisdição trata-se essencialmente de um
poder, atividade ou função estatal, com a qual se realiza a vontade coletiva,
revelando o direito ao conflito em questão20, nesta linha Theodoro Júnior
conceitua-a como função estatal, definindo-a como a função com a qual o Estado
manifesta e executa o que a lei deseja diante de um conflito21.
17 “XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.” 18 MARTINS, Ives Gandra da Silva. Processo judicial tributário. São Paulo: Quartier Latin, 2005.
p. 99/100. 19 REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 345. 20 FRIEDE, Reis. Comentários ao código de processo civil. Vol. 1. 3. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2002. p. 06. 21 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: Teoria geral do direito
processual civil e processo de conhecimento. 44. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 40.
4
Sobre jurisdição, lecionam Cintra, Grinover e Dinamarco:
(...) podemos dizer que é uma das funções do Estado, mediante a qual este se substitui aos titulares dos interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificação do conflito que os envolve, com justiça. Essa pacificação é feita mediante a atuação da vontade do direito objetivo que rege o caso apresentado em concreto para ser solucionado; e o Estado desempenha essa função sempre mediante o processo, seja expressando imperativamente o preceito (através de uma sentença de mérito), seja realizando no mundo das coisas o que o preceito estabelece (através da execução forçada).22
Assim, como assevera Marinoni, sendo a jurisdição a
manifestação do poder do Estado, esta, de acordo com os fins e objetivos
daquele, terá objetos diversos, ou seja, seguirá suas ideologias e preceitos,
atendendo a sua essência, de modo a atingir os fins sociais, políticos e jurídicos23.
E como conceitua Schlichting: “A jurisdição é um instituto
jurídico-processual específico que consiste no poder do qual estão investidos os
julgadores que compõem os juízos”24.
Colaciona-se ainda o conceito de jurisdição de Dalabrida: “É
o poder de aplicar o direito objetivo a situação concreta, com a finalidade de
assegurar a paz social”25.
Chiovenda, por sua vez ao conceituar jurisdição, afirma:
Jurisdição é a função do Estado que tem por escopo a atuação da vontade concreta da lei por meio da substituição, pela atividade de órgãos públicos, da atividade de particulares ou de outros órgãos
22 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.
Teoria geral do processo. 14. ed. ampl. e atual. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 129. 23 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Manual do processo de
conhecimento: A tutela jurisdicional através do processo de conhecimento. São Paulo: RT, 2001, p. 32.
24 SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria geral do processo: Concreta – Objetiva – Atual. Vol. 1. Florianópolis: Visual Books, 2002, p. 26.
25 DALABRIDA, Sidney Eloy. Direito processual penal. Vol. 6. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2006, p. 61.
5
públicos, já no afirmar a vontade da lei, já no torná-la, praticamente, efetiva.26
E como exemplifica Loureiro Neto:
Vimos anteriormente que na relação processual encontramos, de um lado, o órgão do Ministério Público, que é o titular da ação penal, e, de outro, o acusado, a quem é imputada a prática de uma infração penal e que procura preservar sua liberdade, havendo, como ressaltamos, verdadeiro conflito de interesses, que será dirimido pelo Conselho de Justiça. Pois bem. Esse poder atribuído ao órgão judicante de aplicar o direito objetivo, de dizer o direito, chama-se jurisdição27.
Assim se conceituam jurisdição como o poder, a função e a
atividade exercidos pelo Estado, com o fim de prestar aos interessados a tutela
jurisdicional por meio do devido processo, com vista a estabelecer a harmonia
social.
1.2 A FUNÇÃO DA JURISDIÇÃO
Através do exercício da jurisdição o Estado, exercendo a
tutela jurídica sobre os interesses em conflito, estabelece aos particulares o direito
à tutela jurídica, através da sua atividade precípua de dirimir conflitos e decidir
controvérsias28.
À luz do texto constitucional, escreve Silva:
De passagem, já dissemos que os órgãos do Poder Judiciário têm por função compor conflitos de interesses em cada caso concreto. Isso é o que se chama função jurisdicional ou simplesmente jurisdição, que se realiza por meio de um processo judicial, dito,
26 CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de direito processual civil. Vol. 2. São Paulo: Saraiva,
1965, p. 11. 27 LOUREIRO NETO, José da Silva. Processo penal militar. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2000, p.
103. 28 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: Teoria geral do direito
processual civil e processo de conhecimento. 44. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 39/40.
6
por isso mesmo, sistema de composição de conflitos de interesses ou sistema de composição de lides29.
Cintra, Grinover e Dinamarco ao discorrerem sobre a função
da jurisdição, esclarecem, que está tem por fim a pacificação dos anseios sociais,
através da aplicação do direito, por meio do devido processo legal, através do
qual o Estado exerce legitimamente a função jurisdicional30.
Carnelutti ao escrever sobre as misérias do processo penal,
afirma que o julgador ao decidir uma causa estabelece quem tem razão, dizendo
com qual das partes está a verdade, a qual só poderá estar de um lado, sendo
esta a função da atividade judicante31.
Reale, em suas lições preliminares, exemplifica de forma
objetiva a função da jurisdição:
(...) o Poder Judiciário sempre age em função do que é proposto ou posto pelos interessados, visando a atender, de maneira direta, à pretensão das partes. O interesse do Estado em fazer justiça opera-se, concretamente, através do interesse das partes na demanda.
O Direito Processual objetiva, pois, o sistema de princípios e regras, mediante os quais se obtém e se realiza a prestação jurisdicional do Estado necessária à solução dos conflitos de interesses surgidos entre particulares, ou ente estes e o próprio Estado32.
Na análise da função jurisdicional, pode-se dizer que é o
meio através do qual o Judiciário provocado a resolver uma situação
controvertida, através do devido processo legal, substituindo os interessados,
29 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 24. ed. rev. e atual. São
Paulo: Malheiros, 2005, p. 553. 30 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.
Teoria geral do processo. 14. ed. ampl. e atual. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 129. 31 CARNELUTTI. Francesco. As misérias do processo penal. Traduzido por José Antônio
Cardinalli. Campinas: Bookseller, 2002. p. 39. 32 REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 346.
7
busca a solução do conflito, fazendo ao final coisa julgada33, seguindo também a
concepção adotada por Wambier, é a função do Estado, exercida pelo Judiciário,
como o objetivo de materializar os direitos, por meio de instrumentos que
possibilitem fazê-lo no seu tempo34.
De tal sorte, seguindo a linha de raciocínio de Theodoro
Junior, a jurisdição tem por função estabelecer aos casos concretos, nos quais
hajam uma pretensão resistida, a tutela jurídica, a qual será exercida pelo Estado
em substituição aos titulares da relação jurídica, com o fim de promover a
harmonia social, surgindo como meio de estabelecer aos cidadãos uma regra a
ser obedecida, por meio do instrumento adequado, através do qual o Estado,
proclamará a tutela jurídica, declarando aos casos concretos o direito que se
põem35.
1.3 CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO
Embora a doutrina ora cite princípios, ora características da
jurisdição, apresentando por vezes, diferentes elementos, por questões didáticas
adota-se no presente trabalho a classificação de Friede36, segundo o qual as
características da jurisdição, além da inércia são: inevitabilidade, indelegabilidade,
inafastibilidade, improrrogabilidade, investidura e juiz natural.
Nery Junior e Andrade Nery37, ao dissertarem acerca da
inevitabilidade da jurisdição, explicam que uma vez que a jurisdição serve de
instrumento a obter a pacificação social, aqueles que tiveram suas pretensões
substituídas pelo Estado, devem acatar a resolução dada por tal, quando ocorrer
à coisa julgada, pois imperativo a circunstância. 33 Arruda Alvim, apud MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 22. ed. São Paulo: Atlas,
2007, p. 488. 34 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Breves comentários à nova sistemática processual civil. 3. ed.
São Paulo: RT, 2005, p. 26. 35 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: Teoria geral do direito
processual civil e processo de conhecimento. 44. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 40/41. 36 FRIEDE, Reis. Comentários ao código de processo civil. Vol. 1. 3. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2002, p. 11/13. 37 NERY JÚNIOR, Nelson; ANDRADE NERY, Rosa Maria. Código de processo civil comentado
e legislação extravagante. 7. ed. São Paulo: RT, 2003, p. 789.
8
A indelegabilidade, por sua vez, veda que quaisquer dos
Poderes possam delegar seu múnus constitucional, de tal sorte, que ao
Legislativo, ressalvada as hipóteses previstas no texto Constitucional, não
caberão a prestação da tutela jurisdicional38, ainda como esclarece Cintra,
Grinover e Dinamarco:
O principio da indelegabilidade é, em primeiro lugar, expresso através do princípio constitucional segundo o qual é vedado a qualquer dos Poderes delegar atribuições. A constituição fixa o conteúdo das atribuições do Poder Judiciário e não pode a lei, nem pode muito menos alguma deliberação dos próprios membros deste, alterar a distribuição feita naquele nível jurídico-positivo superior. Além disso, no âmbito do próprio critério e talvez atendendo à sua própria conveniência, delegar funções a outro órgão.39
A inafastabilidade da jurisdição encontra escopo no art. 5º,
XXXV, da CRFB/88, o qual estabelece que ao ser instado o Judiciário não pode
declinar de seu encargo, ainda que a pretexto de lacuna ou obscuridade da lei40.
Neste sentido, lecionam Cintra, Grinover e Dinamarco:
O principio da inafastabilidade (ou principio do controle de jurisdição), expresso na Constituição (art. 5º, inc. XXXV), garante a todos o acesso ao Poder Judiciário, o qual não pode deixar de atender quem venha a juízo deduzir uma pretensão fundada no direito e pedir solução para ela.41
A improrrogabilidade, é mais que previsão legal, é uma
garantia constitucional, eis que as atribuições de cada órgão fracionário do
38 FRIEDE, Reis. Comentários ao código de processo civil. Vol. 1. 3. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2002, p. 11. 39 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.
Teoria geral do processo. 14. ed. ampl. e atual. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 136/137. 40 FRIEDE, Reis. Comentários ao código de processo civil. Vol. 1. 3. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2002, p. 12. 41 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.
Teoria geral do processo. 14. ed. ampl. e atual. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 137.
9
Judiciário é traçada pela CRFB/88, sendo defeso ao legislador ordinário alterar,
reduzir ou ampliar os poderes jurisdicionais destes42.
Quanto à investidura, esta se relaciona à noção que o
julgador somente poderá conhecer e resolver dos conflitos, quando investido
legitimamente na função, segundo os preceitos da lei43, tal princípio cerra fileiras a
outro, talvez de maior envergadura, posto que o princípio do juiz natural, o qual
em sua essência prevê que somente aquele a quem a lei atribuir o poder poderá
exercer a função jurisdicional, sendo aquele integrado a Judiciário, asseguradas
todas as garantias, vedando a criação de tribunais ou juízos de exceção, e
estabelecendo estrita obediência as regras que estabelecem competências44.
Ainda segundo excerto de Theodoro Júnior:
só pode exercer a jurisdição aquele órgão a que a Constituição atribui o poder jurisdicional. Toda origem, expressa ou implícita, do poder jurisdicional só pode emanar da Constituição, de modo que não é dado ao legislador ordinário criar juizes ou tribunais de exceção, para julgamento de certas causas, nem tampouco dar aos organismos judiciários estruturação diversa daquela prevista na Lei Magna.45
Por conseguinte, como esclarece Soares, é “o Principio do
Juiz Natural, onde ninguém será processado, nem sentenciado, senão pela
autoridade competente que é aquela cujo poder jurisdicional vem fixado em
regras predeterminadas”.46
42 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: Teoria geral do direito
processual civil e processo de conhecimento. 44. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 43. 43 FRIEDE, Reis. Comentários ao código de processo civil. Vol. 1. 3. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2002., p. 12. 44 MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p.
304. 45 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: Teoria geral do direito
processual civil e processo de conhecimento. 44. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 43. 46 SOARES, Carlos Alberto Marques. Da reforma do Poder Judiciário e a Justiça Militar da
União – Considerações. Direito Militar. n. 57. Florianópolis: AMAJME, 2006, p. 08.
10
Pela característica da inércia, a Jurisdição permanece
paralisada, até que seja impulsionada pelos interessados, os quais deverão levar
a apreciação dos julgadores a sua pretensão47.
Neste sentido, é o magistério de Cintra, Grinover e
Dinamarco:
Assim, é sempre uma insatisfação que motiva a instauração do processo. O titular de uma pretensão (penal, civill, trabalhista, tributária, administrativa, etc.) vem a juízo pedir a prolação de um provimento que, eliminando a resistência, satisfaça a sua pretensão e com isso elimine o estado de insatisfação; e com isso vence a inércia a que estão obrigados os órgãos jurisdicionais através de dispositivos como o do art. 2º do Código de Processo Civil (‘nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou o interessado a requerer, nos casos e formas legais’) e o do art. 24 do de Processo Penal.48
Neste desiderato, Marcato49 explica que a inércia é um dos
princípios fundamentais da atividade jurisdicional, eis que ressalvadas as
exceções, a tutela não pode ser prestada se não for provocada pela parte
interessada, busca-se assim a intervenção mínima do Estado nas relações
privadas, quando esta não foi requerida, bem como preservando a imparcialidade
do julgador.
Desta maneira, o interessado que desejar a tutela
jurisdicional deverá pleiteá-la, sendo assegurado a todos o direito de ação, não
podendo o Judiciário eximir-se do conhecimento da causa, sob a alegação de
obscuridade na lei, sendo assegurado àqueles que buscarem a prestação deste
serviço público o devido processo legal, garantido no texto constitucional.
Ainda como ensinam Nery Junior e Andrade Nery:
47 SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria geral do processo: Concreta – Objetiva – Atual. Vol. 1.
Florianópolis: Visual Books, 2002, p. 158. 48 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.
Teoria geral do processo. 14. ed. ampl. e atual. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 133. 49 MARCATO, Antonio Carlos. Código de processo civil interpretado. 2. ed. São Paulo: Atlas,
2005, p. 38.
11
Princípio da inércia. O processo se origina por iniciativa da parte (nemo judex sine actore; ne procedat judex ex officio), mas se desenvolve por impulso oficial (CPC 262). Podem provocar a atividade jurisdicional a parte ou interessado (jurisdição voluntária), bem como o Ministério Público nos casos em que estiver legitimado a ajuizar a ação civil pública (CF 129 III; CPC 81; LACP 5º caput; CDC 82 I).50
Cintra, Grinover e Dinamarco, em referência a Chiovenda,
apontam a teoria doutrinária tradicional de classificação da jurisdição, apontando
o caráter substitutivo, pelo qual como já referido, o Estado, na atividade
jurisdicional, substitui os interessados, com o fim de dirimir os conflitos e resolver
os conflitos interpessoais; além do escopo jurídico de atuação do direito, a qual
citando Grinover esclarece Friede:
(...) só existiria um comando completo, com referência a determinado caso concreto (lide), nos momentos em que é prolatada a sentença a respeito do tema; o escopo do processo seria, então, a justa composição da lide, ou seja, o estabelecimento da norma de direito material que disciplina o caso, propiciando razão a uma das partes.51
Assim, tem-se o escopo jurídico da jurisdição, como o meio
através do qual o Estado garante o cumprimento do direito objetivo material, de
maneira a preservar a autoridade e em busca da harmonia social52.
1.4 ESPÉCIES DE JURISDIÇÃO
A jurisdição, como já referido, é função indeclinável do
Estado (art. 5º, XXXV, da CRFB/88), sendo esta una e indivisível, entretanto,
encontra-se classificada em espécies, que a seguir passo a analisar.
50 NERY JÚNIOR, Nelson; ANDRADE NERY, Rosa Maria. Código de processo civil comentado
e legislação extravagante. 7. ed. São Paulo: RT, 2003, p. 327. 51 FRIEDE, Reis. Comentários ao código de processo civil. Vol. 1. 3. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2002, p. 09. 52 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.
Teoria geral do processo. 14. ed. ampl. e atual. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 130/131.
12
1.4.1 Jurisdição cível ou penal
A jurisdição enquanto função do Estado pode compreender
diversos interesses circundando diversas contendas, acerca de matérias
específicas, porém em atenção à especificidade de cada matéria, para a melhor
resolução dos conflitos, se faz necessário que o julgador se especialize, e
seguindo esta premissa surge o direito processual penal, cível e do trabalho53.
Acerca da jurisdição cível ou penal, inicialmente consoante
excerto de Cintra, Grinover e Dinamarco:
Em todo o processo, as atividades jurisdicionais exercidas têm por objeto uma pretensão. Essa pretensão, porém, varia de natureza, conforme o direito objetivo material em que se fundamenta. Há, assim, causas penais, civis, comerciais, administrativas, tributárias etc. Com base nisso, é comum dividir-se o exercício da jurisdição entre os juízes de determinado país, dando a uns a competência para apreciar as pretensões de natureza penal e a outros as demais. Fala-se, assim, em jurisdição penal (causas penais, pretensões punitivas) e jurisdição civil (por exclusão, causas e pretensões não penais). A expressão ‘jurisdição civil’, ai, é empregada em sentido bastante amplo, abrangendo toda a jurisdição não penal.54
Ainda os mesmos autores55, acerca do relacionamento entre
as diferentes espécies de jurisdição, apontam que tal separação por matéria, se
dá em razão de uma necessidade de racionalização do trabalho, uma vez que
sempre subsistirá a co-relação em as diferentes matérias, citando que ilicitude
penal sempre irá gerar um ilícito cível, cominando, entretanto, diversas sanções.
Assim, embora o direito material aplicável a cada uma das
espécies de jurisdição seja diferente, estas sempre seguiram umbilicalmente
53 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: Teoria geral do direito
processual civil e processo de conhecimento. 44. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 43. 54CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.
Teoria geral do processo. 14. ed. ampl. e atual. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 140/141. 55 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.
Teoria geral do processo. 14. ed. ampl. e atual. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 141.
13
vinculadas, haja vista que por inúmeras estas versarão sobre a mesma questão,
embora seus objetivos e resultados sejam distintos.
Nas palavras de Schlichting:
Em virtude dos princípios que regem, especificamente, os Processos Civis e os Processos Criminais, a Legislação estabelece alguns pontos de contato entre ambos no que concerne ao aproveitamento de alguns atos processuais, como por exemplo, provas e decisões.56
E destaca-se da obra de Reale:
O Direito Processual discrimina-se em duas subespécies ou categorias, que são o Direito Processual Civil, destinado a solução dos conflitos que surgem nas atividades de ordem privada, de caráter civil ou comercial (o novo Código relativo a essas regras está em vigor desde 1973) e o Direito Processual Penal, que regula a forma a forma pela qual o Estado resolve os conflitos surgidos em razão de infrações da lei penal.57
Como visto a jurisdição divide-se em duas grandes espécies:
cível e criminal, estando sob a égide da primeira todas as causas não-criminais,
enquanto a segunda versa apenas acerca de matéria criminal, tal divisão parte do
princípio da especialidade das leis, bem como da necessidade de maior
especialização do julgador no caso concreto, devido a suas nuances e
peculiaridades.
1.4.2 Jurisdição especial ou comum
A jurisdição também se divide em especial e comum, pois
como explicam Marinoni e Arenhart58, porquanto, a competência para o
conhecimento de determinada matéria será exercida por um órgão do Judiciário,
56 SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria geral do processo: Concreta – Objetiva – Atual. Vol. 1.
Florianópolis: Visual Books, 2002, p. 194. 57 REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 346. 58 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Manual do processo de
conhecimento: A tutela jurisdicional através do processo de conhecimento. São Paulo: RT, 2001, p. 34.
14
de conformidade com os preceitos estabelecidos pela CRFB/88, sendo a Justiça
especial, aquela incumbida do conhecimento das causas específicas, a qual em
regra será definida em face da especificidade da causa, em regra dotada de um
regramento jurídico próprio e voltada a determinadas pessoas ou grupo de
pessoas.
Neste liame, surge as Justiças Militares, Eleitoral e
Trabalhista, as quais em razão de seu caráter receberam tratamento especial,
estando previstas nos arts. 111 e ss., 118 e ss. e 122 e ss., da CRFB/88.
Por sua vez, a Justiça Federal e a Estadual, são atribuídas à
competência para o conhecimento das matérias em geral, de fora que por
exclusão, o que não for da competência das Justiças especializadas será de
competência da Justiças comuns.
E Ferreira Filho59, descreve: “Acentuando a complexidade
dessa organização, contemporaneamente se usa prever organismos destinados a
aplicar a legislação sobre matéria determinada”.
Cintra, Grinover e Dinamarco, ao discorrerem sobre o
assunto ensinam:
A Constituição instituiu vários organismos judiciários, cada um deles constituindo uma unidade administrativa autônoma e recebendo da própria Lei Maior os limites de sua competência. Trata-se da Justiça Federal (comum), da Justiça Militar, da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho, das Justiças do Estado (permite-se também que as unidades federadas instituam as suas Justiças Militares Estaduais). E a doutrina costuma, levando em conta as regras de competência estabelecidas na própria Constituição, distinguir entre ‘Justiças’ que exercem jurisdição especial e ‘Justiças’ que exercem jurisdição comum.60
59 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 32. ed. rev. e atual.
São Paulo: Saraiva, 2006, p. 252. 60 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.
Teoria geral do processo. 14. ed. ampl. e atual. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 98.
15
E Schlichting61, ao explicar acerca da administração da
Justiça, divide aquelas que possuem jurisdição especial, dentre as quais se
compreendem as Justiças do Trabalho, Militar e Eleitoral, e ainda atribuições
respectivas e específicas do Tribunal Superior do Trabalho (TST), do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), do STM e dos Órgãos Jurisdicionais a eles diretamente
subordinados; referenciando também as Justiças comuns que abrangem a Justiça
Federal e as Justiças Estaduais, é atribuição do Superior Tribunal de Justiça
(STJ) e dos órgãos diretamente a eles subordinados.
1.4.3 Jurisdição superior ou inferior
Quanto à jurisdição superior ou inferior, deve-se esclarecer
inicialmente que esta é atribuída em razão da competência atribuída por lei ao
julgador inferior ou superior, como explica Schlichting:
Cada órgão é encarregado de dar solução a parcelas de atividades jurisdicionais que lhe é destinada, conforme já vimos.
Assim, ao Supremo Tribunal Federal, que ocupa a cúpula da pirâmide hierárquica do Poder Judiciário, além de outras, foi destinada a atribuição principal de ‘guardar a constituição’, e o processamento e julgamento, de forma originária ou em grau de recurso, dos feitos que lhe são atribuídos pela Constituição.
Aos Tribunais Superiores e aos Órgãos Jurisdicionais que lhes são hierarquicamente subordinados, cabe a administração das Justiças Especiais e da Justiça Comum, foram destinados os processamentos e julgamentos, de forma originária ou em grau de recurso, daqueles feitos que lhe são atribuídos pela Constituição, pela Legislação Processual e pela Legislação Relativa à organização judiciária.62
Cintra, Grinover e Dinamarco, sempre com muita
propriedade explicam:
61 SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria geral do processo: Concreta – Objetiva – Atual. Vol. 1.
Florianópolis: Visual Books, 2002, p. 164. 62 SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria geral do processo: Concreta – Objetiva – Atual. Vol. 1.
Florianópolis: Visual Books, 2002, p. 163/164.
16
Assim, chama-se jurisdição inferior aquela exercida pelos juízes que ordinariamente conhecem do processo desde o seu início (competência originária): trata-se, na Justiça Estadual, dos juízes de direito das comarcas distribuídas por todo o Estado, inclusive da comarca da Capital. E chama-se jurisdição superior a exercida pelos órgãos a que cabem os recursos contra decisões proferidas pelos juízes inferiores (no Estado de São Paulo: Tribunal de Justiça, 1º e 2º Tribunais de Alçada Civil e Tribunal de Alçada Criminal). O órgão máximo, na organização judiciária brasileira, e que exerce a jurisdição em nível superior ao de todos os outros juízes e tribunais, é o Supremo Tribunal Federal.63
Ferreira Filho64, ao explicar sobre a organização da justiça
no Brasil, esclarece que seguindo um critério de duplicação, a Justiça divide-se
em federal e estadual, observando sempre o comando de um órgão federal, que
exerça jurisdição sob todos os demais, assim o Supremo Tribunal Federal (STF),
órgão máximo do judiciário exercendo a guarda da constituição.
Também José Afonso da Silva, ao discorrer sobre o art. 9265
da CRFB/88, esclarece que o Judiciário constituído de forma hierárquica, possui
um órgão superior, o STF, um órgão cuja atribuição precípua é a defesa do
ordenamento jurídico federal, o STJ, além dos Tribunais Superiores Federais,
com atribuições especifica. Nesta estrutura, segue ainda os Tribunais e Juízos
63 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.
Teoria geral do processo. 14. ed. ampl. e atual. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 145. 64 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 32. ed. rev. e atual.
São Paulo: Saraiva, 2006, p. 252/253. 65 “Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário:
I – O Supremo Tribunal Federal;
I-A – O Conselho Nacional de Justiça;
II – O Superior Tribunal de Justiça;
III – Os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais;
IV – Os Tribunais e Juízes do Trabalho;
V – Os Tribunais e Juízes Eleitorais;
VI – Os Tribunais e Juízes Militares;
VII – Os Tribunais e Juízes dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.”
17
Federais inferiores e os Judiciários dos Estados e do Distrito Federal,
organizando-se de tal maneira a ordem judiciária no Brasil66.
Maneira pela qual, em observância a hierarquia entre os
órgãos jurisdicionais, conforme a competência privativa de cada órgão, sendo a
jurisdição inferior exercida pelos julgadores originários, e a jurisdição superior
pelos órgãos incumbidos da revisão dos julgados.
1.5 LIMITES DA JURISDIÇÃO
Embora como preveja o texto constitucional, a jurisdição,
deverá ser exercida ainda que haja obscuridade ou lacuna na lei (art. 5º, XXXV,
da CRFB/88), a mesma sofre limitações, tanto internas quanto internacionais, vez
que, mormente os Estados, por questões de conveniência e de viabilidade limitam
sua jurisdição, de acordo com normas internacionais de direito, bem como deixam
de conhecer causas que não possuam possibilidade jurídica.
Como destaca Cintra, Grinover e Dinamarco, em alguns
Estados também a limite quanto às causas de valor insignificante67.
Sobre os limites da jurisdição, como explica Cintra:
Se o processo começa por iniciativa da parte (Código de Processo Civil, artigo 262), dado que nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou o interessado a requerer, nos casos e formas legais (Código de Processo Civil, artigo 2º) é o pedido da parte que estabelece os limites do exercício da jurisdição, no caso concreto. Assim, o juiz decidirá a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe vedado conhecer de questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte (Código de Processo Civil, artigo 128). Em conseqüência, conforme estabelecido no caput da disposição em exame, é defeso ao juiz proferir sentença, a favor do autor, de natureza
66 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 24. ed. rev. e atual. São
Paulo: Malheiros, 2005, p. 556/557. 67 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.
Teoria geral do processo. 14. ed. ampl. e atual. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 149/150.
18
diversa da pedida, ou em objeto diverso do que lhe foi demandado.68
Santos, ao lecionar sobre a sentença e sua relação com a
coisa julgada, ensina, que a sentença deve estar adstrita ao pedido formulado
pela proponente, fixando-se dentro de tais limites, resolvendo a pretensão:
Efetivamente, a sentença deve cingir-se à lide, contendo-se nos limites desta. Finalidade da jurisdição é compor a lide entre as partes, conforme elas deduziram no pedido e na contestação. A lide importa na existência de questões, que são aqueles pontos, de fato e de direito, em que se controvertem as partes. Exatamente por isso, 'O juiz decidirá a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer de questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte' (Cód. Proc. Civil, art. 128). No conhecimento e resolução das questões está a decisão da lide.
A sentença decide uma lide. Por isso mesmo deverá ater-se aos limites da lide, tal qual se projetou no processo. Faz a sentença coisa julgada e tem força de lei dentro desses limites.
(...) Está na conclusão da sentença, no seu dispositivo, o pronunciamento do juiz sobre o pedido, acolhendo-o ou rejeitando-o esse pronunciamento, que consiste num 'comando', acolhendo ou rejeitando o pedido, e, pois, atribuindo ou não ao autor o bem pretendido, é que se torna firme e imutável por força de coisa julgada. A sentença se prende ao pedido e ao pedido se liga a coisa julgada que da sentença dimana.69
Na ensinança de Nery Junior e Andrade Nery, ao fazer seus
requerimentos na peça inicial, o autor impõe ao magistrado os limites de sua
jurisdição, de modo que está não poderá conceder além do requerido, nem
poderá deixar de apreciar pedido que tenha sido formulado, ou fixar a menor ou a
68 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo. Comentários ao código de processo civil. Vol. IV. Rio de
Janeiro: Forense, 2001, p. 280/281. 69 SANTOS, Moacyr Amaral dos. Primeiras linhas de direito processual civil. Vol. III, 15. ed.,
São Paulo: Saraiva, 1995, p. 62/63.
19
maior que o pedido, e caso ocorra uma destas hipóteses a sentença estará
maculada por vício, tendo o julgador ultrapassado os limites da jurisdição70.
Desta maneira, como se vê, a jurisdição encontra seu limite
dentro das pretensões das partes, na cabendo ao julgador modificá-la, de maneira
a aumentar, diminuir ou conceder além do pedido proposto.
1.6 JURISDIÇÃO CONTENCIOSA
Consoante redação do art. 1.º71 do Código de Processo
Cível (CPC), a jurisdição na seara cível, divide-se em voluntária e contenciosa.
Como ensina Theodoro Júnior, a jurisdição contenciosa: “é a
jurisdição propriamente dita, isto é, aquela função que o Estado desempenha na
pacificação ou composição dos litígios. Pressupõe controvérsia entre as partes
(lide), a ser solucionada pelo juiz”.72
Friede ao comentar acerca da jurisdição e da tutela
jurisdicional, escreve:
Seguindo orientação preconizada pela tradição que acabou por ser incorporada à letra da lei processual, o Código de Processo Civil – desviando-se de um maior rigor terminológico – admite expressamente a existência dual de jurisdição contenciosa em contraposição a uma jurisdição voluntária, não obstante do ponto de vista cientifico do direito existir apenas uma única forma de jurisdição: a pleonástica jurisdição contenciosa (forma singular consagrada pela doutrina contemporânea majoritária em nosso país).73
70 NERY JÚNIOR, Nelson; ANDRADE NERY, Rosa Maria. Código de processo civil comentado
e legislação processual civil extravagante em vigor. 6. ed. São Paulo: RT, 2002, p. 254. 71 “Art. 1.º A jurisdição civil, contenciosa e voluntária, é exercida pelos juízes, em todo território
nacional, conforme as disposições que este Código estabelece.” 72 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: Teoria geral do direito
processual civil e processo de conhecimento. 44. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 44. 73 FRIEDE, Reis. Comentários ao código de processo civil. Vol. 1. 3. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2002, p. 17.
20
E o Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, ao relatar o
Recurso Especial n.º 238.573/SE, bem distinguiu jurisdição voluntária e
contenciosa, esclarecendo que naquela não há ação, mas mero pleito, apenas o
procedimento, nem há partes, inexistindo lide ou coisa julgada74.
Dinamarco, ao escrever sobre a adequação do
procedimento a tutela jurisdicional pretendida:
A relação de adequação entre cada procedimento e a tutela jurisdicional que ele prepara é sobretudo um imperativo princípio lógico do sistema processual, que aconselha a seleção de meios eficazes à descoberta da verdade e das soluções corretas [...]. É também – e por essa mesma razão – uma exigência de ordem pública, na medida em que o Estado não quer aventurar-se em procedimentos menos seguros e de duvidosos resultados práticos. Daí ter construído um sistema de procedimentos diferenciados entre si e destinado cada um deles a uma situação prevista em lei. Trata-se de matéria de ordem pública, que não deve ficar à mercê da vontade das partes.
Para resguardo da efetividade das escolhas do legislador e das razões de ordem pública que lhes estão à base, o Código de Processo Civil dita a indisponibilidade do procedimento, mandando que o juiz retifique a escolha processual feita pelo autor, quando inadequada.75
Pelo que a jurisdição embora comumente seja dividida em
voluntária e contenciosa, apresenta um caráter único, sendo a prestação do
Estado aos litigantes ou interessados, com o fim de harmonizar os conflitos e
satisfazer os interesses, ainda que contrapostos.
74 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 238573/SE, da Quarta Turma.
Relator Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira. Diário da Justiça da União, Brasília, p. 153, 09 out. 2000. Disponível em: <http://www.stj.gov.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?tipo_visualizacao=RESUMO&processo=238573&b=ACOR>. Acesso em: 26 jan. 2008.
75 DINAMARCO, Candido Rangel. Instituições de direito processual civil. 4. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2004. p. 463.
21
1.7 JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA
Neste subtítulo será tratado da jurisdição cível voluntária ou
graciosa, a qual nas palavras de Theodoro Júnior:
... ao Poder Judiciário são, também, atribuídas certas funções em que predomina o caráter administrativo e que são desempenhadas sem o pressuposto do litígio.
Trata-se da chamada jurisdição voluntária, em que o juiz apenas realiza gestão pública em torno de interesses privados, como se dá nas nomeações de tutores, nas alienações de bens de incapazes, na extinção do usufruto ou do fideicomisso etc.
Não se apresenta como ato substitutivo da vontade das partes, para fazer atuar impositivamente a vontade concreta da lei (como se dá na jurisdição contenciosa). O caráter predominante é de atividade negocial, em que a interferência do juiz é de natureza constitutiva integrativa, com o objetivo de tornar eficaz o negócio desejado pelos interessados. A função do juiz é, portanto, equivalente ou assemelhada à do tabelião, ou seja, a eficácia do negócio jurídico depende da intervenção pública do magistrado.76
A jurisdição voluntária ou graciosa é aquela exercida pelos
juízes quando no exercício de funções administrativas, com vista à constituição de
novas situações jurídicas, exercendo assim atos da administração pública de
interesses privados, deste modo, não há de ser pelo fato de serem exercidas pelo
órgão do Judiciário, que a tal função será dada natureza jurisdicional77. Prata, por
sua vez, assevera que ao intervir tais causas, o Estado busca a constituir situação
jurídica nova ou auxiliar incapazes, atendendo assim o interesse público, de modo
que o interesse não é solucionar litígios, constituindo um procedimento mais
simples78.
Como ensina Fidelis dos Santos: 76 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: Teoria geral do direito
processual civil e processo de conhecimento. 44. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 44. 77 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.
Teoria geral do processo. 14. ed. ampl. e atual. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 153. 78 PRATA, Edson. Jurisdição voluntária. São Paulo: Leud, 1979, p. 285
22
Na jurisdição voluntária, o juiz não atua para solucionar litígio, nem para efetivar direito, nem para acautelar outro processo. Ele apenas integra-se ao negócio jurídico ou ao ato de interesse dos particulares, para verificação de sua conveniência ou de sua validade formal, quando devidamente exigida sua participação. Se não há litígio nem execução, em conseqüência, não pode haver processo no sentido jurídico; há simples procedimento que permite ao juiz, na sua função integrativo-administrativa, avaliar a conveniência do ato, ou sua validade formal.79
Corroboram tais assertivas Lacerda e Oliveira:
O juiz exerce, aqui, função de mero agente documentador, sem nada julgar ou decidir: o ato que dele se reclama é meramente ordinatório ou próprio da chamada 'jurisdição' voluntária, não pressupondo, necessariamente, a existência da lide, ou, se existente esta, não exigindo exercício da função jurisdicional, porque o pedido se apresenta desacompanhado de questão.80
Como se depreende, seguindo a linha adotada por Frederico
Marques, tem-se por jurisdição voluntária, os atos de administração pública, os
quais versem sobre interesses de particulares, emanados pelo Judiciário81.
1.8 ÓRGÃOS JURISDICIONAIS E DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO
Conforme redação do art. 92 da CRFB/88, José Afonso da
Silva, elenca os órgãos que exercem função jurisdicional e o duplo grau de
jurisdição82:
I – O Supremo Tribunal Federal;
79 SANTOS, Ernani Fidelis dos. Manual de direito processual civil. Vol. 5. São Paulo: Saraiva,
1989, p. 136/137. 80 OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro de; LACERDA, Galeno. Comentários ao código de processo
civil. Vol. VIII. Tomo II. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1991, p. 185. 81 MARQUES, José Frederico. Ensaio sobre a jurisdição voluntária. Campinas: Millennium,
2000, p. 109. 82 Classificação adotada por: SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo.
24. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 556, embora o Conselho Nacional de Justiça não exerça funções jurisdicionais próprias do Poder Judiciário, senão aquelas outorgadas a Administração Pública em geral.
23
I-A – O Conselho Nacional de Justiça;
II – O Superior Tribunal de Justiça;
III – Os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais;
IV – Os Tribunais e Juízes do Trabalho;
V – Os Tribunais e Juízes Eleitorais;
VI – Os Tribunais e Juízes Militares;
VII – Os Tribunais e Juízes dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
Acerca dos órgãos jurisdicionais, leciona Moraes:
A Constituição Federal enumera, no art. 92, os órgãos do Poder Judiciário: o Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justiça (EC n.º 45/04), o Superior Tribunal de Justiça, os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais, os Tribunais e Juízes do Trabalho, os Tribunais e Juízes Eleitorais, os Tribunais e Juízes Militares e os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios, disciplinando-os a seguir.83
Assim, o art. 92 da CRFB/88 disciplina pontualmente os
órgãos que exercem funções jurisdicionais, conforme a competência fixada.
Sobre, que garantia do duplo grau de jurisdição, insta
salientar que a mesma não é absoluta, porquanto nas ações, cuja competência
seja originária da Suprema Corte ou quando se tratar de julgamento do
Presidente da República, por crime de responsabilidade, sendo a jurisdição
exercida pelo impoluto Senado Federal, inexistindo possibilidade de revisão.
Acerca de tal principio, assevera Fux:
O Duplo Grau de Jurisdição
83 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
24
(...) Decorrência do princípio é a adstrição do tribunal à causa julgada, sendo defeso ao órgão superior apreciar pedidos ou exceções materiais não formuladas na instância superior, fatos existentes e não suscitados e matérias que não foram objeto da decisão. Acaso ultrapassada essa vedação, o órgão superior estará, recebendo pela primeira vez e diretamente, nos tribunais, questões que não se submeteram ao crivo do primeiro grau de jurisdição, violando o ‘duplo grau’.84
Ainda, consoante excerto de Fux: “em respeito ao princípio
do duplo grau de jurisdição, não é lícito inaugurar pedidos na instância ad
quem”85.
Como escreve Nery Júnior:
as constituições que se lhe seguiram (à de 1824), limitaram-se a apenas mencionar a existência de tribunais, conferindo-lhes competência recursal. Implicitamente, portanto, havia previsão para existência do recurso. Mas, frise-se, não garantia absoluta ao duplo grau de jurisdição.86
No mesmo sentido, Moraes:
Menciona a Constituição Federal a existência de juízes e Tribunais, bem como prevê a existência de alguns recursos (ordinários constitucionais, especial, extraordinário), porém não existe a obrigatoriedade do duplo grau de jurisdição. Dessa forma, há competências originárias em que não haverá o chamado duplo grau de jurisdição, como, por exemplo, nas ações de competência originária dos Tribunais, em que não haverá possibilidade de reexame do mérito.87
Como se vê, a jurisdição, como função do Estado, exercida
pelos órgãos constitucionalmente estabelecidos, com o fim de harmonizar os
84 FUX, Luiz. Curso de direito processual civil. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 933. 85 FUX, Luiz. Intervenção de terceiros. São Paulo: Saraiva, 1990, p. 22. 86 NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do processo civil na Constituição Federal. 2. ed. São
Paulo: RT, 1995, p. 152. 87 MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p.
295.
25
litígios e interesses particulares e públicos, em regra, sujeita a revisão por outro
órgão fracionário do Judiciário, constituindo direito, principio e garantia
fundamental do cidadão.
Embora não esgotado o assunto, o qual, considerando o
objeto da presente monografia só pode ser tratado de passagem, sem maiores
aprofundamentos, sob pena de desvirtuar do caminho traçado, deste modo,
passa-se ao segundo capítulo para tratar da Justiça Militar e suas peculiaridades.
26
CAPÍTULO 2
JUSTIÇA MILITAR
2.1 CONCEITO
Trata-se de um dos ramos especializados do Judiciário, vez
que destinada ao homem da caserna, o qual por sua vida e pelas exigências que
lhe são impostas, não poderia ficar ao crivo da justiça e da legislação comum a
competência para apreciar seus atos, enquanto em operação ou sob autoridade
militar88.
Deste modo a Justiça Castrense, apresenta-se como
instrumento, através do qual são levadas ao conhecimento do Judiciário,
situações peculiares da vida na caserna, possibilitando ao julgador a obtenção de
maior conhecimento a fim de aplicar o direito ao caso concreto, sempre calcado
nos postulados fundamentais do Direito Militar89, não caracterizando juízo de
exceção.
Nos dizeres de Pinto Ferreira, a Justiça Militar constitui um
órgão judicial especial, não podendo ser entendida como Justiça de exceção, vez
que no Brasil, tal figura se caracterizaria pelas cortes marciais, o que é vedado
pelo texto constitucional, como escreve o mesmo90:
A Justiça Militar tem por objetivo o processo e o julgamento dos crimes militares. Ela constitui uma justiça especial, e não é, assim,
88 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 32. ed. rev. e atual.
São Paulo: Saraiva, 2006, p. 256. 89 Neste sentido: “Cabe ressaltar que as Forças Armadas, as Polícias Militares e os Corpos de
Bombeiros Militares formam uma sociedade baseada na hierarquia e disciplina, coluna vertebral a sustentar os rígidos postulados intramuros, ou seja, nos quartéis e estabelecimentos sob administração militar.” in LOBATO, Marcos Otaviano da Silva. A justiça militar através dos séculos: das penas e da execução penal. Revista de Estudos e Informações. n. 10. Belo Horizonte: TJM/MG, 2002, p. 43.
90 FERREIRA, Pinto. Curso de direito constitucional. 12. ed. ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 438.
27
um foro de exceção. É verdade que determinados doutrinadores franceses identificam a justiça especial e os tribunais especiais com a justiça de exceção ou os tribunais de exceção. Evidentemente tal interpretação não pode ser admitida no Brasil, já que tribunais de exceção seriam entre nós as cortes marciais, cuja existência não é possível na Constituição vigente.91
A de ser destacado, que com o advento na EC/45, as
Justiças Militares Estaduais tiveram suas competências ampliadas, deixando de
julgar apenas os crimes militares previstos em lei.
Ainda, como pequena propedêutica, ressalte-se que a
Justiça Militar, como órgão especial constitucionalmente estabelecido, é a
responsável pela aplicação da lei penal militar, embora esta circunstância não
seja absoluta92, revestindo-se, no entanto, de caráter especial, porquanto embora
por vezes conheça de crimes impróprios militares, os quais estão previstos na
legislação comum, sua jurisdição é limitada em razão da pessoa.
Chaves ao dissertar acerca da Justiça Castrense exprime de
maneira esclarecedora o conceito de Justiça Militar:
À Justiça Militar cabe reprimir a lesão mais grave, o crime militar, cominando ao acusado a sanção penal. Para aplicação de um direito tão diferenciado, com objetivos tão específicos, faz-se necessária uma Justiça especial.
O Direito Penal Militar tutela os interesses jurídicos da ordem militar. Ele não ampara a pessoa do militar, o que ele protege é a função especial que ele exerce. O foro militar não é, pois, para o delito dos militares, mas para os delitos militares.93
Tesser, ao apresentar a especialidade do direito penal
militar, apresenta sua concepção sobre a Justiça Militar:
91 FERREIRA, Pinto. Curso de direito constitucional. 12. ed. ampl. e atual. São Paulo: Saraiva,
2002, p. 438. 92 LOBÃO, Célio. Direito penal militar. 3. ed. atual. Brasília: Brasília Jurídica, 2006, p. 47. 93 CHAVES, Luiz Gonzaga. Breve escorço sobre a Justiça Militar. Revista de Estudos e
Informações. n. 6. Belo Horizonte: TJM/MG, 2000, p. 16.
28
Dessa forma, o Direito Penal Militar é Direito Penal especial porque é aplicado por uma Justiça própria, pela natureza do bem jurídico tutelado e devido ao fato de que tem como destinatários os militares, sejam eles federais ou estaduais, embora não possamos tomar tal assertiva como regra, já que, excepcionalmente, pode ser aplicado ao civil nos casos em que os objetos da tutela penal são bens ou interesses das instituições militares relacionados com sua destinação constitucional e legal.94
Nessa vereda, Rosa ensina que a Justiça Militar brasileira
não é parte integrante dos quadros militares, sendo órgão do Poder Judiciário,
tendo sua missão estabelecida pela CRFB/88, detendo assim autonomia e
independência, exercendo o controle das atividades desenvolvidas pelas Forças
Armadas e Auxiliares, pelo que detém função essencial a garantia do Estado
Democrático de Direito95:
É importante se observar que a Justiça Militar possui uma função essencial no Estado democrático de Direito, uma vez que exerce de forma efetiva o controle das atividades desenvolvidas pelas Forças Armadas ou pelas Forças Policiais Estaduais, que são responsáveis pela preservação dos direitos e garantais fundamentais do cidadão, previstos no art. 5 º da CF e nos tratos internacionais que foram subscritos pela República Federativa do Brasil.96
Assis, ao escrever sobre a Justiça Militar no Brasil, aponta
que esta é um gênero, o qual vem a se apresentar em duas espécies, a Justiça
Militar da União e a Justiça Militar Estadual, sendo órgão especialíssimo do
Judiciário, e encontrando-se em completa harmonia com este, de conformidade
94 TESSER, Maria Roseli. A competência cível da Justiça Militar Estadual em decorrência da
Emenda Constitucional n. 45. Jus Militaris. Santa Maria, 18 abr. 2006. Disponível em: <http://www.jusmilitaris.com.br/?secao=doutrina&cat=4>. Acesso em: 7 out. 2007.
95 ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Justiça Militar: Uma justiça de exceção?. Revista de Estudos e Informações. n. 12. Belo Horizonte: TJM/MG, 2003, p. 14/15.
96 ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Justiça Militar e o Estado Democrático de Direito. STM em revista. Ano 02. n. 03. Brasília: STM, 2006, p. 24.
29
com os regramentos constitucionais estabelecidos, tutelando os pressupostos
castrenses97.
Simon de Souza, em seu mister assim conceituou a Justiça
Militar:
É preciso salientar e repetir que a Justiça Militar não é, então, justiça de exceção, mas justiça especial, criada pela Carta Magna. Tourinho Filho define as justiças de exceção como aquelas criadas post-factum, ou seja, as criadas especificamente para julgar os fatos após a prática destes, ‘seja para um caso isolado, seja para diversos casos particulares individualmente determinados’, pertencendo ou não à organização judicial. As justiças especiais, portanto, por razões objetivas, separando-se dos órgãos ordinários, são instituídas pela Constituição Federal para uma generalidade de casos indeterminados, previamente definidos em lei (e isso é importantíssimo), constituindo-se, conseqüentemente, em juízos naturais, legais e competentes para o julgamento desses casos.98
Destarte, Oliveira ao tecer suas considerações sobre a
Justiça Militar em tempos de guerra, pronuncia que a esta compete o julgamento
dos crimes previstos no Código Penal Militar (CPM), estando adstrita pelos
princípios da atividade jurisdicional99.
Dalabrida ao apontar as questões controvertidas acerca da
competência constitucional da Justiça Militar, aponta que a alta especificidade da
matéria correlata ao direito militar, considerando suas peculiaridades e
particularidades normativas, define a Justiça Militar como justiça especial dentro
do texto constitucional100.
97 ASSIS, Jorge César de. A justiça militar brasileira. Jus Militaris, Santa Maria, [sd]. Disponível
em: <http://www.jusmilitaris.com.br/?secao=justicamilitar>. Acesso em: 7 out. 2007. 98 SOUZA, Octávio Augusto Simon de. A justiça militar e a EC 45/2004. Jus Militaris. Santa
Maria, 30 jun. 2005. Disponível em: <http://www.jusmilitaris.com.br/?secao=doutrina&cat=1>. Acesso em: 7 out. 2007.
99 OLIVEIRA, Erico Lima de. Justiça militar em tempo de guerra. Direito Militar. n. 57. Florianópolis: AMAJME, 2006, p. 36.
100 DALABRIDA, Sidney Eloy. A competência constitucional da Justiça Militar: Questões controvertidas. Direito Militar. n. 56. Florianópolis: AMAJME, 2005, p. 34.
30
E como definem Neves e Streifinger:
Como se pode verificar do Texto Maior, as instituições militares, são dotadas de tutela especial, que visa à manutenção de sua regularidade, pela proteção de outros bens jurídicos: a vida, a integridade física, a honra, a hierarquia, a disciplina etc.
Some-se a isso o fato de a missão das corporações militares ser revestida de uma complexidade ímpar, exigindo de seus sujeitos abnegação, robustez e coragem dignas de uma odisséia.101
Ademais, Assis citando Gusmão, afirma ser a Justiça Militar
uma Justiça especial e a comum uma Justiça ordinária, sendo que o direito,
enquanto norma, empregado na primeira, é um Direito Especial, sendo o direito
penal militar, o qual tutela pessoas ou bens jurídicos diversos da legislação
ordinária, obedecendo aos princípios gerais de direito102.
Da mesma maneira, Mirabete afirma que com vista às
distinções entre o direito penal comum e o especial, somente será assinalada ao
considerarmos o órgão incumbido da aplicação do direito no caso, de forma a
atender os critérios estabelecidos na norma objetiva comum ou na especial103.
Neste ponto, importante ressaltar o posicionamento de Roth,
quanto à análise da atuação da Justiça Militar:
O exame das peculiaridades da caserna e dos misteres enfrentados pelos militares encontram mais facilidade de compreensão quando realizados pelo próprio militar que, uma vez guindado ao exercício da judicatura militar, deverá – aplicando a lei penal militar, sob os cânones processuais penais militares -, decidir no caso concreto, situação essa que, de modo contrário, pode trazer ao juiz togado certa dificuldade de apreciação fática,
101 NEVES, Cícero Robson Coimbra; STREIFINGER, Marcello. Apontamentos de direito penal
militar. Vol. 1. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 32. 102 ASSIS, Jorge César. Comentários ao código penal militar. 5. ed. Curitiba: Juruá, 2006, p.
269. 103 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal. Vol. 1. São Paulo: Atlas, 2003, p. 26.
31
levando-o a aplicar a lei sem a mesma acuidade própria dos militares.104
Por tais conceitos, compreende-se a real missão e
necessidade de órgão jurisdicional com tal atribuição, visto que como delineado
desde o princípio, as normas afetas a vida do homem da caserna, por certo não
serão assimiladas com a mesma destreza por um julgador investido na jurisdição
cível, de maneira que esta assegura a ordem jurídica militar, a qual na concepção
de Neves e Streifinger caracterizam o sustentáculo das instituições militares105.
Assimilando tal condição, ter-se que com o fim da garantia
da preservação do Estado Democrático de Direito e de suas instituições a Justiça
Castrense se organiza de modo a propiciar a aplicação do direito especifico, sem
perder-se da teoria geral do direito, não constituindo de igual maneira foro de
exceção ou de casta.
2.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA
Ao se tratar da evolução da Justiça Castrense, impossível
analisar-se tal matéria sem traçar um paralelo com a evolução do Direito Penal
Militar, eis que a primeira surge em razão deste, com vista à necessidade de
instituir um sistema de aplicação das regras afetas a vida na caserna, porém
deve-se evoluir com acuidade a fim de não enveredar por um caminho que não se
relacione com o presente trabalho.
Acerca deste estratagema, envolvendo a evolução do Direito
Militar e da Justiça Militar, ensinam Neves e Streifinger:
que o Direito Penal Militar, em que pese a influência dos movimentos condicionantes do Direito Penal comum, desenvolve-se paralelamente e ganha notoriedade com o início da atividade
104 ROTH, Ronaldo João. Justiça Militar e as peculiaridades do juiz militar na atuação
jurisdicional. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003, p. 93. 105 NEVES, Cícero Robson Coimbra; STREIFINGER, Marcello. Apontamentos de direito penal
militar. Vol. 1. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 33.
32
bélica, exigindo por conseqüência, a apreciação do fato crime por ângulo diverso, o que resultou na origem da Justiça Militar.106
Nesta esteira, Roth explica a respeito do surgimento da
Justiça Castrense, que esta nasce na antigüidade, com a constituição dos
Exércitos, aos quais eram incumbidas a defesa e expansão dos territórios107.
De tal sorte, a Justiça Militar surge para aplicar um direito
específico as atividades castrenses, uma vez que estas exigem um regime
diferenciado, com estrita observância a disciplina, premissa de primeira ordem, de
modo que ao se formar o primeiro agrupamento de homens com o fim de praticar
atividade beligerante, existe o Direito Militar, como meio de coerção nas
atividades de guerra.
Deste modo, como defende Loureiro Neto, na antigüidade
algumas civilizações, inclusive os gregos, os quais já possuíam corpos militares
formados, exerciam a atividade jurisdicional sob aqueles atos considerados
delitos castrenses108, todavia, e no Direito Romano que surgem fundamentos
rudimentares do direito penal militar, com a definição de crime militar e formação
de um foro especial aos militares.
Chaves Júnior, assevera ao tratar da Justiça Militar em
Roma, que esta se divide em quatro fases: a primeira na época dos Reis, estando
concentrada no jugo do Rei a aplicação da Justiça Castrense, o qual possuía
todos os poderes, exercendo a jurisdição militar de forma plena, possuindo ao seu
lado um conselho; na fase da República, os cônsules, o ditador, os tribunos e os
centuriões, eram encarregados pela Justiça Militar; Augusto, na terceira fase,
entregou a administração da Justiça Castrense aos prefeitos de pretório, os quais
tinham poderes extremamente amplos, restringindo-se apenas quanto aos
centuriões e a outros oficiais superiores; na última fase, Constantino atribuiu a
106 NEVES, Cícero Robson Coimbra; STREIFINGER, Marcello. Apontamentos de direito penal
militar. Vol. 1. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 02. 107 ROTH, Ronaldo João. Justiça Militar e as peculiaridades do juiz militar na atuação
jurisdicional. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003, p. 05. 108 LOUREIRO NETO, José da Silva. Direito penal militar. São Paulo: Atlas, 1999, p. 19.
33
jurisdição militar aos mestres da milícia, transformando estes em juízes militares
superiores109.
Ao fim, Chaves Júnior assevera que:
De todo modo, podemos afirmar que os romanos reconheceram a necessidade de uma jurisdição especial para os militares em atividade de serviço.
Todos os magistrados representaram um papel considerável no que podemos chamar Justiça Militar Romana e aplicavam, por vezes, castigos severos com a finalidade de manter a disciplina.110
E Lobão, também esclarece que o crime penal militar já era
conhecido no Direito Romano, estando inserto naquela legislação a definição de
crime militar, no Digesto, Livro XLIX, Título XVI, L. 2, tendo a violação das
obrigações militares alçado noção jurídica perfeita e cientifica111.
Ainda acerca do Direito Penal Militar em Roma, consoante
excerto de Costa:
Em Roma se consagrou um foro especial para os milites com respeito a quaisquer classes de delitos. Sobre as gentes de armas exerciam jurisdição os antigos Praefecti sociorum e o Direito Militar romano contava com uma completa teoria de penas próprias, com modalidades de índoles análogas e algumas que conservam as legislações contemporâneas, como são a militiae mutatio, a gradus defectis, a censio hastaria e a missio ignominesa.112
A respeito da Justiça Militar da idade média, duas
considerações importam fazer, a primeira diz respeito à consideração de Lorde
109 CHAVES JÚNIOR, Edgard de Brito. Escorço histórico da Justiça Militar. Revista de Estudos
e Informações. n. 8. Belo Horizonte: TJM/MG, 2001, 14/16. 110 CHAVES JÚNIOR, Edgard de Brito. Escorço histórico da Justiça Militar. Revista de Estudos
e Informações. n. 8. Belo Horizonte: TJM/MG, 2001, p. 16. 111 LOBÃO, Célio. Direito penal militar. 3. ed. atual. Brasília: Brasília Jurídica, 2006, p. 48. 112 COSTA, Álvaro Mayrink da. Crime militar. 2. ed. reesc. e ampl. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2005, p. 19/20.
34
Macaulay, segundo o qual nesta época não havia uma distinção entre civis e
militares, adotando todo o sistema judicial as características castrenses113.
Noutro espectro, cita-se os criticados Artigos de Guerra do
Conde de Lippe114, elaborados em 1763, e que orientaram de maneira
significativa a Jurisdição Militar em Portugal e no Brasil115.
Embora doutrinariamente se encontre registros acerca da
Justiça Militar durante a idade média, Colombo citado por Lobão relata que a idéia
Romana de infração militar se perdeu, retornando somente as luzes da revolução
francesa, a qual informou os pressupostos correspondentes à jurisdição militar
moderna, traçando um paralelo entre o poder militar e o poder civil116, sendo
questionado se algum movimento ou fenômeno na história contemporânea
influenciou tanto o direito castrense117, visto que a partir do iluminismo foram
traçadas novas linhas nas mais diversas áreas cientificas inclusive na jurídica.
O Direito Penal Militar francês espalha-se por toda a Europa,
tornando-se a principal escola de todo o ocidente, como afirma Chaves Júnior:
A legislação militar francesa influenciou não só a Europa como todo o mundo ocidental moderno.
Perde-se, na poeira dos tempos, a preocupação em dotar os militares de uma legislação específica. É o que se vê, por exemplo, no Digesto (L.49,Tit. XVI, 2):
E mais adiante assevera o mesmo autor:
113 COSTA, Álvaro Mayrink da. Crime militar. 2. ed. reesc. e ampl. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2005, p. 20. 114 O príncipe alemão, Conde de Lippe, recebeu do Rei de Portugal, D. José I, a dignidade de
Príncipe de Sangue, tendo formulado vários planos militares e deixado uma obra em Francês: ‘Novo Sistema da Arte de Guerra’.
115 CHAVES JÚNIOR, Edgard de Brito. Os artigos de guerra do Conde de Lippe. Revista de Estudos e Informações. n. 9. Belo Horizonte: TJM/MG, 2002, p. 16.
116 LOBÃO, Célio. Direito penal militar. 3. ed. atual. Brasília: Brasília Jurídica, 2006, p. 49. 117 NEVES, Cícero Robson Coimbra; STREIFINGER, Marcello. Apontamentos de direito penal
militar. Vol. 1. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 05.
35
Os primeiros exércitos permanentes surgem por volta do século XV, principalmente, na França, Itália, Espanha e Borgonha, e daí, os primeiros rudimentos de uma Justiça Militar. Pouco depois, surgem os Conselhos de Guerra e os Auditores de Campo.
Após a Revolução Francesa, o Governo criou os cargos de Juiz de Instrução Militar e representante do Ministério Público, separando, deste modo, as funções de acusar e instruir o processo, cabendo aos Conselhos de Guerra o julgamento dos processos.118
Verifica-se de tal maneira, que após a Revolução Francesa,
a Justiça Militar fora estruturada, sendo divididas as atribuições, de forma
surgiram órgãos específicos incumbidos da acusação, da formação da culpa e do
julgamento119.
Nos tempos modernos a Justiça Militar, sob quaisquer
características, ganhou seu caráter Jurisdição especial, sendo submetido à
apreciação desta apenas as condutas cometidas por militares, no exercício das
funções.
No México, por expresso mandamento constitucional, é
vedado submeter pessoas que não pertençam à corporação militar a jurisdição
militar, sob qualquer motivo, determinando que quando um civil estiver envolvido
no ato, o caso será levado a conhecimento de autoridade civil120. A Carta Política
Portuguesa, por sua vez, até 1997 prévia além que das infrações militares, os
crimes dolosos equiparáveis a crimes essencialmente militares, estariam sujeitos
à jurisdição militar121.
118 CHAVES JÚNIOR, Edgard de Brito. A Justiça Militar em outros países. Revista de Estudos e
Informações. n. 7. Belo Horizonte: TJM/MG, 2001, p. 04. 119 CHAVES JÚNIOR, Edgard de Brito. Escorço histórico da Justiça Militar. Revista de Estudos
e Informações. n. 8. Belo Horizonte: TJM/MG, 2001, p. 18. 120 FIÚZA, Ricardo A. Malheiros. A Justiça Militar no direito constitucional comparado. Revista
de Estudos e Informações. n. 6. Belo Horizonte: TJM/MG, 2000, p. 23. 121 FIÚZA, Ricardo A. Malheiros. A Justiça Militar no direito constitucional comparado. Revista
de Estudos e Informações. n. 6. Belo Horizonte: TJM/MG, 2000, p. 22.
36
Na Justiça Castrense dos Estados Unidos da América
(EUA), como explica Pinto Ferreira, só será submetido à jurisdição castrense o
militar em atividade que praticar fato previsto como crime militar, e em sendo este
desligado da corporação será julgado pela Justiça comum122. A lei castrense
estado-unidense seguiu os postulados da legislação britânica, sendo editados os
primeiros Artigos de Guerra por volta do ano de 1775, a qual regulamentava
estabelecia as regras e ordens referentes ao Exército, com o passar dos anos tais
Artigos sofreram alterações até serem promulgados pelo Congresso de 1879.
Atualmente, a lei que rege a Justiça Militar dos EUA é a Uniform Code of Military
Justice123 de 1951124.
A lei castrense britânica que inspirou a estado-unidense,
teve seus primeiros Artigos de Guerra publicados em 1642, a qual a partir de
1689 passou a promulgada anualmente, sofrendo modificações no século 19,
tendo as leis marciais inglesas por objeto principal a promoção da disciplina e
originando-se estas nos Artigos de Guerra de Guilherme, o Conquistador, de
1066. Segundo as normas castrenses inglesas, não só os militares do Exército
estavam sujeitos à jurisdição militar, mas todos os homens e mulheres que
servissem de alguma forma a força militar em campanha125.
Ao fim, segundo Chaves Jr., o Brasil é talvez o país com
maior organização a nível estrutural da Justiça castrense, uma vez que na maior
parte do ocidente as condutas previstas como infração militar, são apreciadas na
própria caserna, enquanto tal julgamento, em alguns países, é submetido à
Justiça comum126.
122 FERREIRA, Pinto. Curso de direito constitucional. 12. ed. ampl. e atual. São Paulo: Saraiva,
2002, p. 439. 123 Código Uniforme de Justiça Militar dos EUA. 124 CHAVES JÚNIOR, Edgard de Brito. A Justiça Militar em outros países. Revista de Estudos e
Informações. n. 7. Belo Horizonte: TJM/MG, 2001, p. 07/08. 125 CHAVES JÚNIOR, Edgard de Brito. A Justiça Militar em outros países. Revista de Estudos e
Informações. n. 7. Belo Horizonte: TJM/MG, 2001, p. 06/07. 126 CHAVES JÚNIOR, Edgard de Brito. A Justiça Militar em outros países. Revista de Estudos e
Informações. n. 7. Belo Horizonte: TJM/MG, 2001, p. 08.
37
2.3 A JUSTIÇA MILITAR DO BRASIL
Órgão fracionário da função Judiciária, a Justiça Militar, tem
suas atribuições fixadas pelas normas em vigor, sendo o mais órgão judiciário do
país, tendo sido criado por Dom João VI, logo após a chegada da família imperial
ao Brasil, no ano de 1808, com a assinatura do Alvará de 1º de abril de 1808, por
sua Majestade o Príncipe Regente.
2.3.1 Evolução histórica
Afora toda a legislação editada durante o período em que o
Brasil permaneceu como colônia de Portugal, inicia-se a evolução histórica da
Justiça Militar no Brasil a partir da chegada da família Imperial em 1808,
considerando que anteriormente todo o sistema jurídico era baseado nas normas
emanadas da metrópole, embora tais normas tenham exercido profunda influência
no direito castrense pátrio, como explica Chaves Jr:
O Direito Penal Militar brasileiro, como de resto todos os outros ramos do Direito, tem suas origens no Direito português, que, por seu turno, hauriu suas linhas gerais do Direito romano.
No que tange à prática da Justiça Militar, Portugal acompanhou os demais países europeus. Por sua posição geográfica, sempre foi um país essencialmente militar, para sua própria sobrevivência, para a manutenção da segurança de suas fronteiras e de suas conquistas ultramarinas.127
Entrementes, considerar-se-á para fins de desenvolvimento
científico, a vinda da família Imperial para o Brasil o marco inicial da construção
lógica do raciocínio a ser seguido.
Assim, o direito castrense no Brasil, a exemplo de todas as
demais leis observadas, obedecia as Ordenações do Reino, principalmente as
Filipinas, em comunhão com os Artigos de Guerra do Conde de Lippe, os quais
127 CHAVES JÚNIOR, Edgard de Brito. A evolução legislativa da Justiça Militar no Brasil.
Revista de Estudos e Informações. n. 13. Belo Horizonte: TJM/MG, 2004, p. 37.
38
passaram a serem aplicados no Brasil após a Provisão de 1763128, no entanto,
especialmente durante o Império diversos corpos normativos regraram o direito e
a Justiça Castrense, porém tais normas não se encontravam consolidadas.
Acerca do surgimento da Justiça Militar no Brasil, segundo
Chaves, esta não surgiu durante o regime militar que foi instalado com o golpe de
1º de abril de 1964, surgindo esta há exatos 156 anos, através do Alvará Régio de
1808, sendo as penas mais severas, posto que aplicável a pena capital aos mais
diversos delitos, desde a cobardia até ao militar que tendo conhecimento de fato
que fosse considerado crime e não o denunciasse129.
Neste contexto, assevera Bonfim:
A origem da Justiça Militar está ligada à transferência da Corte de Lisboa para as terras brasileiras, sendo impossível registrar sua história sem fazer referência à figura de dom João VI.
Quando chegou ao Brasil, em 1808, o príncipe regente precisava de instrumentos para governar e administrar a colônia.
Em 1º de abril, ele baixou alvará com força de lei que criava o Conselho Supremo Militar e de Justiça, que viria a ser, após algumas modificações, a Justiça Militar da União. Esse foi o primeiro órgão com jurisdição em todo o território nacional e o primeiro Tribunal Superior de Justiça do país.
O Conselho foi presidido pelo próprio dom João VI e por seus su-cessores, Pedro I e Pedro II, até a Proclamação da República, em 1889, e acumulava duas funções: uma de caráter administrativo e outra de caráter puramente judiciário. O Conselho Supremo julgava em última instância os processos criminais dos réus sujeitos ao foro militar.
O Conselho Supremo Militar era integrado pelos conselheiros de Guerra, do Almirantado e de outros oficiais. O Conselho de Justiça
128 NEVES, Cícero Robson Coimbra; STREIFINGER, Marcello. Apontamentos de direito penal
militar. Vol. 1. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 08. 129 CHAVES, Luiz Gonzaga. Breve escorço sobre a Justiça Militar. Revista de Estudos e
Informações. n. 6. Belo Horizonte: TJM/MG, 2000, p. 16/17.
39
apresentava a mesma composição, acrescentando-lhe, porém, três juízes togados, um dos quais para relatar os processos.130
A Magna Carta de 1824, porém foi omissa não tratando
acerca da organização da Justiça Militar131, talvez o primeiro projeto de um
Código Processual a ser aplicado, foi apresentado somente em 1861 por
Magalhães Castro132.
Todavia, a Justiça Militar só alcançou um enfoque à luz da
Constituição durante o regime republicano, estando prevista no art. 77 da
Constituição de 1891, no art. 84, da Carta Política de 1934, seguida a de 1937, a
qual dispôs acerca da Justiça Militar em seu art. 111 e a de 1946 em seu art. 108.
Durante o regime militar a Constituição de 1967 também tratou da Justiça
Castrense no art. 129, chegando finalmente o art. 124133 da CRFB/88, cuida da
Justiça Militar134.
Porém, somente com a promulgação da Constituição de
1934, a Justiça Militar passou a ser considerado órgão do Poder Judiciário,
instituindo o foro militar para pessoas assemelhadas e para civis, tendo as demais
Constituições mantido a Justiça Militar135, como citado, e também somente
durante o Estado Novo foi autorizada a criação das Justiças Militares Estaduais,
após a aprovação da Lei n.º 192, de 17 de janeiro de 1936.
Ainda, durante após a adoção do sistema republicando,
foram editadas normas infraconstitucionais, sendo o Regulamento de Processo
Criminal Militar de 1895, o primeiro diploma a tratar das atribuições da Justiça
Militar, o qual vigorou até 1920, sendo substituído por um Código de Organização
130 BONFIM, Ana Paula. Justiça Militar da União completa 198 anos. STM em revista. Ano 02.
n. 03. Brasília: STM, 2006, p. 14. 131 FERREIRA, Pinto. Curso de direito constitucional. 12. ed. ampl. e atual. São Paulo: Saraiva,
2002, p. 439. 132 COSTA, Álvaro Mayrink da. Crime militar. 2. ed. reesc. e ampl. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2005, p. 21. 133 “Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei.” 134 LOBÃO, Célio. Direito penal militar. 3. ed. atual. Brasília: Brasília Jurídica, 2006, p. 51. 135 FERREIRA, Pinto. Curso de direito constitucional. 12. ed. ampl. e atual. São Paulo: Saraiva,
2002, p. 439.
40
Judiciária e Processo Penal Militar, o qual foi aprovado através do Decreto n.º
14.450/1920, sofrendo modificações e sendo revogado em 1926, para finalmente
em 1938 ser editado o Código de Justiça Militar, com o advento do Decreto n.º
925, de 2 de dezembro de 1938, o qual finalmente deu lugar ao atual Código de
Processo Penal Militar (CPPM), publicado através do Decreto-Lei n.º 1.002, de 21
de outubro de 1969136.
2.3.2 Justiça Militar na Constituição de 1988
A CRFB/88 cuida da Justiça Militar em seus arts. 122 a 124
e 125, §§ 3º, 4º e 5º, estabelecendo de maneira pontual as competências desta,
fixando seu caráter de Justiça especial.
Neste espectro a CRFB/1988, como já haviam adotado as
Constituições desde 1934, previu de forma expressa a Justiça Militar, tanto na
esfera federal, quanto na estadual137, sendo aquela responsável, em regra, pelos
julgamentos dos integrantes das Forças Armadas, enquanto a esta compete o
julgamento de praças e oficiais das Forças Auxiliares, quando cometerem fato
previsto como crime militar, bem como o julgamento de ações contra atos
disciplinares.
Com a promulgação da CRFB/1988, foram fixados como
órgãos a Justiça Militar o STM, e os Tribunais e Juízes Militares instituídos por lei,
sendo definida a sua competência nos arts. 124 e 125, §§ 4º e 5º.
Neste desiderato, colhem-se os ensinamentos de Moraes:
A Constituição Federal determina que a Justiça Militar se compõe do Superior Tribunal Militar; dos Tribunais e dos Juízes Militares instituídos por lei, que a organizará, competindo-lhe processar e julgar os crimes militares definidos em lei.138
136 COSTA, Álvaro Mayrink da. Crime militar. 2. ed. reesc. e ampl. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2005, p. 21. 137 ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Justiça Militar: Uma justiça de exceção?. Revista de Estudos
e Informações. n. 12. Belo Horizonte: TJM/MG, 2003, p. 14. 138 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 574.
41
Ao tratarem sobre a Justiça Militar na Constituição Federal,
os autores, constitucionalistas de prestigio nada ou pouco falam sobre esta
Justiça na CRFB/88, assim é buscado socorro nos trechos esparsos e
condensados acerca da matéria perseguida.
Assim, Silva ao tratar da Justiça Militar, escreve que a
CRFB/88 fixou os limites da competência desta, embora tenha outorgado ao
legislador ordinário a edição de Lei que tratasse da organização, do
funcionamento e da competência, entretanto, nesta última situação dever-se-á
observar o disposto no texto constitucional139.
Abrem-se parênteses, a posição adotada por Martins,
conquanto este defenda a noção de um Direito Constitucional Militar, visto que à
luz da CRFB/88 há todo um sistema normativo com vista ao tratamento da
disciplina militar em todos os seus aspectos, desta forma a Constituição Brasileira
vem tratar de maneira razoavelmente extensa a matéria afeta ao direito militar, o
que gera a necessidade de interpretação de tais regras140.
Sobre a Justiça Militar na CRFB/88, explica Duarte:
O fato de a Constituição Federal (CF) ter erigido a Justiça Militar como uma das vertentes do Poder Judiciário nacional, dando-lhe a conotação de Justiça especial e outorgando-lhe competência, única e exclusivamente, para o processo e julgamento dos crimes militares demarcados em lei, não a torna instituição hermética e infensa aos novos paradigmas da ciência penal, muito em particular, das novas conquistas havidas no campo da política criminal, assinalando-se, nesse ponto, institutos como o da suspensão condicional do processo e as próprias penas alternativas.141
139 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 24. ed. rev. e atual. São
Paulo: Malheiros, 2005, p. 582. 140 MARTINS, Eliezer Pereira. Direito Constitucional Militar. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n.
63, mar. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3854>. Acesso em: 23 out. 2007.
141 DUARTE, Antônio Pereira. A Justiça Militar do terceiro milênio. Revista de Estudos e Informações. n. 12. Belo Horizonte: TJM/MG, 2003, p. 36.
42
Como se verifica a CRFB/88 erigiu o STM a órgão de cúpula
da Justiça Militar142, sendo este composto por quinze Ministros, dos quais dez
serão militares, os quais são escolhidos livremente pelo Presidente da República,
dentre oficiais do mais alto posto da carreira, sendo quatro saídos dos quadros do
Exército, três da Marinha e três da Aeronáutica, devendo após a indicação do
Presidente serem sabatinados e aprovados pelo Senado Federal.
Os Ministros civis, em número de cinco, também serão
escolhidos pelo Presidente da República, advindo dois por escolha paritária
dentre juízes de direito do Juízo Militar e membros do Ministério Público Militar e
três advogados de notório saber jurídico e conduta ilibada, com mais de dez anos
de efetiva atividade profissional.
Os órgãos de primeiro grau que compõem a Justiça Militar
são os Tribunais e os Juízes de Direito da Justiça Militar, outrora Juízes-
Auditores, instituídos por Lei, no caso da Justiça Militar Estadual conforme
dispuser a Constituição de cada Unidade da Federação, e na Justiça Militar da
União através da Lei n.º 9.457, de 04 de setembro de 1992 – Lei de Organização
Judiciária Militar (LOJM).
Aos Juízes de Direito da Justiça Militar, assim como aos
Ministros do STM, investidos no cargo são asseguradas todas as garantias da
magistratura previstas na CRFB/88.
Sobre a divisão entre da Justiças Militares da União e dos
Estados passaremos a tratar a seguir diferenciando tais órgãos e apontando
peculiaridades de cada um destes.
2.3.3 Justiça Militar da União
A Justiça Militar da União tem sua estrutura e competência
prevista pela LOJM, além das previsões constitucionais, estando divididas em 12
circunscrições judiciárias, que constituem a primeira instância da Justiça Militar
142 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 24. ed. rev. e atual. São
Paulo: Malheiros, 2005, p. 582.
43
federal, sendo sua missão precípua o julgamento dos militares das três forças143,
e em circunstâncias excepcionais civis, que cometam delitos contra as Instituições
Militares.
Como explica Rosa, o primeiro grau de jurisdição da Justiça
Militar da União é formado por Conselhos de Justiça, os quais também são
chamados de escabinado, tendo em vista sua formação. Os Conselhos são
divididos em Especiais, cuja atribuição e o julgamento de oficiais e Permanentes
com o fim de julgar os praças, tais Conselhos são formados por cinco Julgadores,
sendo um civil, o qual será juiz de carreira em atuação na Justiça Militar e quatro
militares, sendo o posto destes dependentes do posto do acusado, quando se
tratar da composição dos Conselhos Especiais. Ainda se destaca que os militares
integrantes dos Conselhos de Justiça são designados, renovando-se a formação
dos Conselhos a cada três meses144.
Acerca da Justiça Militar da União explica Barroso Filho,
que esta segundo previsão constitucional, se destina ao julgamento dos militares
que compõem a Marinha, o Exército e a Aeronáutica, e civis em casos
excepcionais, o que justificaria a relação de juízes e jurisdicionados, a qual é
significativamente inferior a Justiça comum145.
Ainda segundo o Professor Rosa:
A Justiça Militar da União possui previsão constitucional desde a Constituição Federal de 1934, e a Justiça Militar dos estadosmembros [sic] da Federação foi inserida no texto constitucional em 1946, ou seja, em data muito anterior à Revolução de 1964. Os juízes-auditores integram o Poder Judiciário, federal ou estadual, com todas as garantias asseguradas aos magistrados: vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos. A Constituição Federal de 1988,
143 Marinha, Exército e Aeronáutica. 144 ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Organização da Justiça Militar. Jus Navigandi, Teresina, ano
3, n. 35, out. 1999. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1569>. Acesso em: 23 out. 2007.
145 BARROSO FILHO, José. Justiça Militar da União. Jus Navigandi, Teresina, ano 3, n. 31, maio 1999. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1570>. Acesso em: 23 out. 2007.
44
seguindo a tradição constitucionalista inaugurada com o texto de 1934, novamente fez previsão expressa tanto no âmbito federal como estadual da Justiça Militar.146
Como já explanado, conforme prevê a LOJM, doze são as
Circunscrições Judiciárias Militares (CJM), assim divididas: 1ª CJM, abrangem os
Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo; a 2ª CJM em São Paulo (SP); a 3ª
CJM no Estado do Rio Grande do Sul (RS); a 4ª CJM em Minas Gerais (MG); 5ª
CJM, abrangem os Estados do Paraná e Santa Catarina (SC); a 6ª CJM,
englobando a Bahia e Sergipe; 7ª CJM, sediada em Recife, com jurisdição nos
Estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas; 8ª CJM, nos
Estados do Pará, Amapá e Maranhão; 9ª CJM, com atuação em Mato Grosso do
Sul e Mato Grosso; 10ª CJM, exercendo sua jurisdição no Ceará e Piauí; 11ª
CJM, com atividades nos Estados de Goiás e Tocantins, além do Distrito Federal
e a 12ª CJM, abrangendo os Estados do Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia.
E como estabelece referida lei são órgãos da Justiça Militar
da União: o STM, a Auditoria de Correição, os Conselhos de Justiça e os Juízes-
Auditores e Juízes-Auditores Substitutos, atuais Juízes de Direito e Juizes
Substitutos da Justiça Militar, estando à estrutura desta Justiça especial prevista
no Título IV, da Parte I, da LOJM.
Desta maneira, explica Ferolla, acerca da organização da
Justiça Militar da União:
Constituindo a primeira instância, as auditorias assemelham-se às Varas Criminais da Justiça Comum e às Varas da Justiça Federal, pois de suas decisões caberá recurso para a instância superior. Têm, porém, suas peculiaridades, com jurisdição mista sobre as três Forças Singulares: Marinha, Exército e Aeronáutica.
Nas auditorias, reúnem-se, em tempo de paz, os Conselhos de Justiça Militar – Especiais ou Permanentes – constituídos de quatro oficiais escolhidos por sorteio e de um juiz civil, de carreira, do quadro da Magistratura da Justiça Militar, denominado Juiz-
146 ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Justiça Militar e o Estado Democrático de Direito. STM em
revista. Ano 02. n. 03. Brasília: STM., 2006, p. 24.
45
Auditor. Os Conselhos são sorteados para cada Força Armada e apreciam as ações judiciais referentes aos integrantes da respectiva Força.147
Segundo Assis, a Justiça Militar da União compete o
conhecimento e julgamento das ações que visam apurar os crimes militares
definidos em lei, independente de seu autor, julgando assim inclusive civis,
possuindo esta jurisdição em todo território nacional148.
E sobre a estrutura da Justiça Militar da União, segundo
excerto de Loureiro Neto:
O Superior Tribunal Militar, cuja sede é em Brasília, constitui o órgão de segundo instância de toda a Justiça Militar Federal.
Em primeira instância, atuam os conselhos de justiça e os auditores.
Eles exercem suas atividades jurisdicionais nas auditorias, que na justiça comum correspondem às Varas.149
Como se vê, a Justiça Militar da União compõe-se
basicamente dos Juízos de Direito da Justiça Militar, conhecidas como Auditorias,
os quais são o órgão de primeiro grau, sendo o duplo grau de jurisdição
assegurado pelo STM, o qual embora se trate de um Tribunal Superior, atua como
órgão de segundo da Justiça Militar da União, além das demais atribuições
previstas na CRFB/88 e em lei.
2.3.4 Justiça Militar Estadual
As Justiças Militares Estaduais, por sua vez, cuja instituição
e organização caberão aos Estados da Federação, estando suas atribuições e
limites previstos no art. 125, §§ 3º, 4º e 5º da CRFB/88.
147 FEROLLA, Sérgio Xavier. A Justiça Militar da União. Revista de Estudos e Informações. n. 5.
Belo Horizonte: TJM/MG, 2000, p. 13. 148 ASSIS, Jorge César de. A justiça militar brasileira. Jus Militaris, Santa Maria, [sd]. Disponível
em: <http://www.jusmilitaris.com.br/?secao=justicamilitar>. Acesso em: 7 out. 2007. 149 LOUREIRO NETO, José da Silva. Processo penal militar. São Paulo: Atlas, 2000, p. 105.
46
Rosa argumenta que a organização da Justiça Castrense
Estadual guardar semelhança com a Justiça Militar da União, ressalvadas
algumas peculiaridades, sendo, entretanto, o segundo de jurisdição exercido
pelos Tribunais de Justiça Militar (TJM), como em SP, MG e RS, ou pelo Tribunal
de Justiça nos demais membros da Federação. A de ser destacado também que
o STM poderá julgar recursos provenientes das Justiças Militares Estaduais150.
A organização da Justiça Castrense nos membros da
Federação será regida por lei estadual, como em SC, onde a Lei n.º 5.624, de 09
de novembro de 1979 (Código de Divisão e Organização Judiciárias do Estado de
Santa Catarina) e suas alterações, inserem a Justiça Militar como órgão do Poder
Judiciário, estando à mesma organizada de acordo com as previsões insertas no
Capítulo VI, do Título II, da Lei n.º 5.624/79, e restando sua competência fixada no
art. 117151 da mesma lei.
Neste liame, como se vê a Justiça Militar Estadual, a qual é
atribuída à missão de julgar os crimes militares praticados por oficiais e praças da
forças auxiliares, e o conhecimento e julgamento das ações contra atos
disciplinares, esta inserida dentro do Poder Judiciário dos Estados-Membros da
federação, se encontrando as melhores estruturas organizacionais em MG, SP e
RS.
E ao explanar sobre a organização da Justiça Militar
Estadual, aduz Loureiro Neto:
Assim como sucede na Justiça Militar Federal, são órgãos da primeira instância da Justiça Militar Estaduais os Conselhos de Justiça (Especial e Permanente) e os auditores, com as mesmas funções daquela, quais sejam, julgar oficiais, da competência do
150 ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Organização da Justiça Militar. Jus Navigandi, Teresina, ano
3, n. 35, out. 1999. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1569>. Acesso em: 23 out. 2007.
151 “Art. 117 – Compete aos órgãos da Justiça Militar do Estado o processo e julgamento dos crimes militares, praticados pelos integrantes da Polícia Militar, regulando-se a sua jurisdição e competência pelas normas traçadas pelo Código de Processo Penal Militar e pela Organização Judiciária Militar da União, atendido, ainda, no que couber, ao disposto no art. 144, § 1°, letra d, da Constituição Federal.”
47
Conselho Especial, e julgar praças, da competência do Conselho Permanente.
Vê-se, pois, que a Constituição Federal permitiu aos Estados membros organizarem a Justiça Militar Estadual, sendo que nos estados em que o efetivo da polícia militar seja superior a vinte mil integrantes, a lei estadual pode criar, mediante proposta do Tribunal de Justiça, seu órgão de segunda instância militar, qual seja o Tribunal de Justiça Militar, como já existem nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.152
Cabe somente um adendo, tendo em vista as inovações
trazidas pela EC/45, a qual inovou ao permitir a criação do órgão de segundo grau
castrense nos Estados, quando as forças auxiliares forem superiores a vinte mil
homens, de maneira, que deixou de ser considerados somente os integrantes da
Polícia Militar (PM) passando a integrar também os Bombeiros Militares (BM).
E Rosa disserta acerca da Justiça castrense dos Estados
membros da Federação:
Na Justiça Militar Estadual, assim como na Justiça Militar da União, não existe nenhum privilégio aos jurisdicionados, mas um efetivo controle dos atos funcionais que são praticados, condenando-se o acusado quando existem provas de autoria e materialidade que demonstrem sua culpabilidade e absolvendo-o quando não existem elementos que possam levar à certeza da violação dos atos descritos na denúncia. Afinal, este é o fundamento da teoria geral do processo que se aplica no Estado Democrático de Direito.
(...)
A Justiça Militar Estadual, assim como a Justiça Militar da União, possui previsão constitucional e ainda uma função essencial no ordenamento jurídico, a qual vem sendo cumprida no decorrer dos anos. A população busca uma ordem pública efetiva que no aspecto soberania e segurança nacional é garantida pelas Forças
152 LOUREIRO NETO, José da Silva. Processo penal militar. São Paulo: Atlas, 2000, p. 107.
48
Armadas e no aspecto segurança pública é garantida pelas Forças Militares Estaduais.153
Por fim, gize-se que a Justiça Militar Estadual, se encontra
inserida no texto da CRFB/88 e nas normas Estaduais, como órgão permanente e
integrante do Poder Judiciário, sendo há seus membros assegurados todas as
garantias ínsitas a carreira da magistratura, além de constituir importante órgão
para o engrandecimento do Estado, atuando de maneira isenta, garantindo a
preservação das Instituições Militares.
Neste esteio, passa-se ao terceiro capítulo, no qual será
abordada a jurisdição cível das Justiças Militares estaduais, sendo este o objeto
principal de estudo da presente pesquisa.
153 ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Justiça Militar e Estado Democrático de Direito. STM em
revista. Ano 02. n. 03. Brasília: STM, 2006, p. 25.
49
CAPÍTULO 3
DA JURISDIÇÃO CÍVEL DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL NA EC/45
3.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A EC/45
No terceiro capítulo será tratada das inovações trazidas com
o advento da EC/45, assim ao dar-se início a análise de tais alterações é mister
tecer algumas digressões sobre referida Emenda, para tanto colhe-se o seguinte
excerto:
O ordenamento jurídico brasileiro erige a emenda constitucional como parte do processo legislativo, dotado de rígido processo para sua concretização, com relação a determinados pontos, permitindo, assim, somente alterações pontuais e circunstanciais. Não transige o Documento Maior com os valores supremos que ela considera insuscetíveis de reforma ou alteração.A pena, para esse deslize, é a sua total invalidade.
O abuso indiscriminado na sua utilização, no entanto, conduz à completa pulverização da Carta, valendo menos que uma lei ordinária ou simples decreto, por sua banalização, intensidade e volúpia com que é modificada, ou, como proclama o insigne jurista, Ministro Humberto Gomes de Barros, a Constituição brasileira não é nem rígida, nem elástica, ela foge ao modelo tradicional.Tampouco guarda semelhança com a lei fundamental do Reino Unido; ela é gelatinosa, pois toma a forma que lhe empresta o poderoso do momento.154
Publicada em 31 de dezembro de 2004, ou seja, após doze
anos de trâmite do Projeto de Emenda Constitucional n.º 96, a EC/45
implementou diversas alterações no Poder Judiciário brasileiro, e segundo Akashi,
154 SZKLAROWSKY, Leon Frejda. Emenda Constitucional. Revista Consulex. n. 175. Brasília:
Consulex, 2004, p. 04.
50
tal reforma introduziu um maior controle sobre a atividade jurisdicional, buscando
a agilização e a segurança na atividade judiciária155.
Em contraponto, Lobão aduz que a proclamada Reforma do
Judiciário veio em satisfação aos interesses de grupos internacionais, com vista à
garantia do cumprimento dos contratos celebrados por estas no Brasil, detendo o
prévio conhecimento das decisões a serem seguidas pelos órgãos do Judiciário,
impondo tal situação a aplicação de seus recursos156.
Silva Neto, por seu turno, ao discorrer acerca da EC/45,
assevera que a mesma estabeleceu mudanças pontuais, não chegando
constituir-se em uma reforma:
A Emenda Constitucional n. 45, de 8 de dezembro de 2004, implementou mudanças no contexto do Poder Judiciário brasileiro, indicando novos regramentos à atividade jurisdicional.
Conquanto não se possa, com rigor técnico, nominá-la efetivamente de ‘reforma’ da estrutura judiciária brasileira, sendo certo que foram tão-só sedimentadas modificações pontuais no Poder Judiciário, que se não compadeceriam com a alteração de substância inerente a uma ‘reforma’, cuida de assinalar que o trabalho do legislador constituinte derivado produziu reflexos de antiplano da configuração dos direitos fundamentais.
O propósito desta investigação é apresentar as conseqüências da EC n. 45/04 para o plexo dos direitos fundamentais, não sem antes, em incursão propedêutica, analisar a dicotomia existente entre estes e os direitos humanos, passando após, à circunstanciada apreciação dos direitos fundamentais tal como tratados de modo explícito pelo constituinte derivado.157
155 AKASHI, Diogo Telles. Comentários à reforma do Poder Judiciário: emenda constitucional
n.º 45/2004. São Paulo: Letras Jurídicas, 2006, p. 19. 156 LOBÃO, Célio. Reforma do Judiciário: a competência da Justiça Militar. Direito Militar. n. 50.
Florianópolis: AMAJME, 2004, p. 06. 157 SILVA NETO, Manoel Jorge e. Direitos fundamentais na EC n. 45/2004. Reforma do
Judiciário: de acordo com a EC 45/2004. Coordenadores: Fredie Didier Jr., Edvaldo Brito e Saulo José Casali Bahia. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 135.
51
Referida emenda, trabalho do constituinte derivado,
apresenta notáveis modificações em diversas normas e preceitos constitucionais,
estendendo, por exemplo, o rol de direitos e deveres coletivos e individuais,
modificando competências e alterando a estrutura administrativa do Judiciário,
bem como estabelecendo preceitos processuais, tendo a reforma do Judiciário
sido levada a efeito após longo trâmite e intensa discussão, em razão da crise
enfrentada pelo Judiciário, se fazendo necessária a celeridade na prestação
jurisdicional, assim como a segurança na atuação de tal Poder158.
Segundo escreve Hirsch, ao dissertar acerca do conteúdo da
reforme do Judiciário:
A Emenda n. 45 publicada no DOU de 31/12/2004, trata de uma vastidão considerável de matérias, sintetizando desde normas que regularam a duração razoável do processo (art. 5º, LXXVIII), passando pelo status e tratados internacionais de direitos humanos no Brasil (art. 5º, §§ 3º e 4º), ampliando a competência do Supremo Tribunal para afirmar possível intervenção federal quando houver recusa de execução de lei federal (art. 36, III), passando por uma reviravolta nas competências da Justiça do Trabalho de primeira e segunda instâncias (art. 114 e §§ 2º e 3º), da Justiça Militar estadual (art. 125, §§ 4º e 5º) e, por fim, situações específicas de competência perante o STJ (a exemplo da homologação de sentenças estrangeiras e concessão de exequatur às cartas rogatórias – art. 105, I, alínea i, bem como decidir a representação de Procurador Geral da República geradora do incidente de Deslocamento de Competência da justiça estadual para a federal – art. 109, § 5º), dentre outras.159
De tal modo, vê-se que a EC/45 trouxe inúmeras e
significativas alterações nos preceitos insertos na CRFB/88, no que concerne a
organização e estrutura do Poder Judiciário, impondo a este um órgão de controle
158 CAYMMI, Pedro Leonardo Summers. Súmula vinculante, segurança jurídica e positivismo:
o verdadeiro papel deste instrumento na construção democrática do discurso jurídico. Reforma do Judiciário: de acordo com a EC 45/2004. Coordenadores: Fredie Didier Jr., Edvaldo Brito e Saulo José Casali Bahia. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 179/180.
159 HIRSCH, Fábio Periandro de Almeida. O Poder Judiciário brasileiro e a reforma pela emenda n. 45/2004: uma análise pelos olhos de Konrad Hesse e Ferdinand Lassale. Reforma do Judiciário: de acordo com a EC 45/2004. Coordenadores: Fredie Didier Jr., Edvaldo Brito e Saulo José Casali Bahia. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 106.
52
externo, muito embora no elenco do art. 92 da CRFB/88, o CNJ, esteja entre os
órgãos fracionários deste Poder.
Além do CNJ, a EC/45 criou novos órgãos, remodelou e
extinguiu outros, como os Tribunais de Alçada, onde existissem tais, passando
seus membros a compor os Tribunais de Justiça160.
Bermudes explica que a EC/45, pode ser dividida em três
partes distintas, de acordo com sua estrutura e linguagem, sendo a primeira as
alterações impostas pelo art. 1º da Emenda Constitucional, a segunda o
acréscimo dos dispositivos alfanuméricos que vem estabelecido no art. 2º do
mesmo texto e a terceira parte que compreende diversas matérias, as quais estão
previstas dos arts. 3º ao 10 de dita Emenda Constitucional161.
Entrementes, a EC/45 através das inovações que
apresentou se mostrou um instrumento para satisfação dos anseios da sociedade,
por meio de hábeis e suficientes mecanismos que possibilitem o Poder Judiciário
a rápida e eficaz prestação jurisdicional, como resultado do preceito constitucional
previsto no inciso LXXVIII162, do art. 5º, da CRFB/88, que estabelece a razoável
duração do processo, de modo a garantir a efetividade do processo e satisfação
dos que buscam socorro no Poder Judiciário163.
Em referência a Pereira, a qual esclarece que ao aprovar a
EC/45 o constituinte derivado buscar propiciar a sociedade uma prestação
jurisdicional mais célere, através de tal reforma, introduzindo novos preceitos,
redefinindo competências e atribuições, desejoso de atender os anseios do
160 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 487. 161 BERMUDES, Sergio. A reforma do Judiciário pela Emenda Constitucional n.º 45:
observações aos artigos da Constituição Federal alterados pela Emenda Constitucional n.º 45, de 08 de dezembro de 2004. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 04.
162 “LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantem a celeridade de sua tramitação.”
163 NEVES, Newton de Oliveira. A extinção dos Tribunais de Alçada e os conflitos de competência. A reforma do Poder Judiciário: uma abordagem sobre a Emenda Constitucional n.º 45/2004. Coordenador: José Luiz de Almeida. Campinas: Millennium, 2006, p. 29/30.
53
cidadão, que quer uma Justiça mais ágil, entretanto, referida autora esclarece que
tal eficácia só será alcançada com a reforma da legislação processual164.
Destaca-se ainda, a crítica que referida autora faz a criação
do CNJ, de forma que este atentaria ao princípio da tripartição dos poderes165.
Tal posição, entretanto, já restou rechaçada pelo STF, na
Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) n.º 3.367/DF, relatada pelo Ministro
César Peluso, qual é citada por Moraes:
Como bem salientou o Supremo Tribunal Federal, ‘a composição híbrida do CNJ não compromete a independência do interna e externa do Judiciário, porquanto não julga causa alguma, nem dispõe de atribuição, de nenhuma competência, cujo exercício interfira no desempenho da função típica do Judiciário, a jurisdicional’.166
De tal modo, o debate acerca da criação do CNJ, embora
ainda se encontre opositores, hoje se encontra pacificada pela Suprema Corte.
Além da criação do CNJ a EC/45 trouxe em seu bojo a
adoção da súmula vinculante, através da qual ficam vinculadas as decisões dos
órgãos do Judiciário e da Administração Pública direta e indireta, em todas as
esferas, após a aprovação da referida súmula por dois terços dos membros do
STF, seguindo reiteradas decisões167.
Estas talvez sejam as mais polêmicas inovações da EC/45,
as quais ainda são tão combatidas, neste esteio colhe-se excerto de Limongi e
Stefano:
A reforma, que cria o conselho externo, que lhe permite aposentar magistrados, que adota súmula vinculante, tornando o juiz mero
164 PEREIRA, Áurea Pimentel. A reforma da justiça na Emenda Constitucional 45/2004. Rio de
Janeiro: Renovar, 2006, p. 16. 165 PEREIRA, Áurea Pimentel. A reforma da justiça na Emenda Constitucional 45/2004. Rio de
Janeiro: Renovar, 2006, p. VII 166 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 506. 167 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 24. ed. rev. e atual. São
Paulo: Malheiros, 2005, p. 565.
54
carimbador de decisões, impedido-o de interpretar a lei de acordo com seus fins sociais e beneficiar as minorias, para mitigar fricções sociais, torna o Judiciário vassalo das transnacionais e do governo federal, com conseqüente enfraquecimento da democracia, acentuando o desnível entre ricos e pobres.168
Entre as inúmeras modificações trazidas pela EC/45,
destaca-se também as modificações de competência entre os órgãos do
Judiciário, como a transferência de competência para o conhecimento e
julgamento das ações que envolvam indenização por danos materiais e morais
por acidente de trabalho para a Justiça do Trabalho169, bem como foi transferida
ao STJ a competência para homologação de sentença estrangeira e a concessão
de exequatur170.
Ainda, como desta Assis, a EC/45, impôs significativas
alterações na Justiça Militar brasileira, com uma nova jurisdição ao Juiz de Direito
da Justiça Militar, a qual será separada da jurisdição do Conselho de Justiça,
assim como a principal inovação, que trata da jurisdição cível no âmbito da
Justiça Castrense171, desta maneira passe-se a aprofundar este que é o objeto da
presente pesquisa.
3.2 A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL, À LUZ DA EC/45
Como regra constitucional, compete a Justiça Militar o
conhecimento e julgamento dos crimes militares definidos em lei172, entretanto,
com o advento da EC/45 as Justiças Militares estaduais, sofreram profunda
alteração em suas atribuições, podendo se destacar as mudanças quanto à
estrutura e competência destas, as quais passam a exercer a jurisdição cível, nos
processos contra atos disciplinares militares. 168 LIMONGI, Celso Luiz; STEFANO, Claudia. Breves anotações sobre a reforma do Judiciário.
A reforma do Poder Judiciário: uma abordagem sobre a Emenda Constitucional n.º 45/2004. Coordenador: José Luiz de Almeida. Campinas: Millennium, 2006, p. 26/27.
169 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 571/572. 170 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 566. 171 ASSIS, Jorge Cesar de. A reforma do Poder Judiciário e a Justiça Militar: breves
considerações sobre seu alcance. Direito Militar. n. 51. Florianópolis: AMAJME, 2005, p. 24. 172 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 574.
55
Desta feita, os parágrafos 4º e 5º, do art. 125 da CRFB/88,
passaram a ter a seguinte redação:
Art. 125. ----------------------------------------------------------------------------
§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.
§ 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais contra os atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares.
Como disposto no § 4º, do art. 125, do CRFB/88, à Justiça
Militar estadual incumbe o conhecimento e julgamento dos militares dos Estados
por crimes militares, assim como das ações judiciais contra atos disciplinares,
tendo o constituinte derivado ressalvada à competência do júri quando a vítima for
civil, situação que até então não era prevista.
3.2.1 Dos crimes militares
No que tange a competência para processar e julgar os
militares dos Estados pelo cometimento de crime militar definido em lei, Pereira
destaca que se deve estar atento a definição de crime militar, verificando-se as
disposições do art. 9.º173 do CPM, e em se tratando deste a competência será da
173 “Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
I – os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial;
II – os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados:
a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou assemelhado;
b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
56
Justiça Militar, ressalvada a hipótese de crime doloso praticado por militar contra
civil174.
Ao proceder à análise da definição de crime militar, deve-se
destacar que este se divide em crimes propriamente militares e impropriamente
militares.
Ao dissertar acerca da distinção dos crimes militares,
Santos, assevera que os crimes próprios militares pode ser distinguido através do
simples exercício de leitura, posto que este não guardam qualquer relação com os
crimes comuns, possuindo as características próprias da atividade castrense175.
E Lobão ao definir as duas espécies, escreve quanto ao
crime propriamente militar:
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em
formatura, ainda que fora do lugar sujeito a administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou civil;
d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração, ou a ordem administrativa militar;
f) (Revogada pela Lei nº 9.299, de 07.08.1996)
III – os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos:
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar;
b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério Militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo;
c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras;
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em obediência a determinação legal superior.
Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil, serão da competência da justiça comum.”
174 PEREIRA, Áurea Pimentel. A reforma da justiça na Emenda Constitucional 45/2004. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 16.
175 SANTOS, Mário Olímpio Gomes dos. Os crimes militares. Revista de Estudos e Informações. n. 08. Belo Horizonte: TJM/MG, 2001, p. 42.
57
Como crime propriamente militar entende-se a infração penal, prevista no Código Penal Militar, específica e funcional do ocupante do cargo militar, que lesiona bens ou interesses das instituições militares, no aspecto particular da disciplina, da hierarquia, do serviço e do dever militar.176
E segundo lição de Costa: “A noção de crime próprio é uma
noção cujo valor é relativo e, até certo ponto, podem-se considerar próprios, em
relação aos crimes comuns, os crimes militares”.177
Assim, os crimes propriamente militares são aqueles que só
podem ser cometidos por militares, por se tratar de infração funcional praticada
somente por militar, como na deserção178.
Quanto ao conceito de crime impropriamente militar, pode-se
dizer que são aquelas que possuem grande similitude com a redação do tipo
comum, porém devido a uma circunstância específica, dentre as previstas no
CPM, passa a constituir crime militar179.
Nesse diapasão, Assis escreve:
São aqueles que estão definidos tanto no Código Penal Castrense quanto no Código Penal comum e, que, por um artifício legal tornam-se militares por se enquadrarem em uma das várias hipóteses do inc. II do art. 9º do diploma militar repressivo. São os crimes que o Doutor Clóvis Beviláqua chamava de crimes militares por compreensão normal da função militar (...).180
E consoante excerto de Costa:
176 LOBÃO, Célio. Direito penal militar. 3. ed. atual. Brasília: Brasília Jurídica, 2006, p. 84. 177 COSTA, Álvaro Mayrink da. Crime militar. 2. ed. reesc. e ampl. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2005, p. 15/16. 178 NEVES, Cícero Robson Coimbra; STREIFINGER, Marcello. Apontamentos de direito penal
militar. Vol. 1. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 48/49. 179 SANTOS, Mário Olímpio Gomes dos. Os crimes militares. Revista de Estudos e Informações.
n. 08. Belo Horizonte: TJM/MG, 2001, p. 42. 180 ASSIS, Jorge César. Comentários ao código penal militar. 5. ed. Vol. 1. Curitiba: Juruá,
2006, p. 38.
58
Nem sempre o crime militar impropriamente exige que o sujeito ativo seja militar, o que não é suficiente para atribuir-se a classificação de crime militar; há que o tipo de proteger a ação lesiva, num interesse militar tutelado por uma lei penal militar.181
Deste modo, define-se crime impropriamente militar aquele
que encontra previsão na legislação penal comum, assim como na legislação
castrense, porém que se seja cometido em qualquer das circunstâncias do art. 9º,
do CPM182, já citado na nota de rodapé da p. 55.
3.2.2 Ações judiciais contra atos disciplinares militares
A alteração mais importante na esfera da Justiça Militar,
introduzida pela EC/45, diz respeito à atribuição de competência aos juízos
militares estaduais para processar e julgar ações judiciais contra atos
disciplinares, quais sejam, aquelas em que o pedido ou a causa de pedir se
refiram a atos disciplinares militares183.
Neste liame, como ensinam Pinho e Nascimento: “Os atos
disciplinares são manifestações do Poder Executivo para realização dos objetos
que lhe são próprios. Por meios deles o executivo cumpre seus fins e desenvolve
suas atividades”.184
Neste esteio, Antônio Pereira Duarte aponta as alterações
introduzidas com a EC/45, demonstrando sob sua perspectiva as vantagens que
esta trouxe a Justiça Castrense:
Na atual Reforma do Judiciário, já se assiste a uma indeclinável ampliação de competência, tanto da Justiça Militar federal quanto da co-irmã, a Justiça Militar estadual, que seria a de se outorgar
181 COSTA, Álvaro Mayrink da. Crime militar. 2. ed. reesc. e ampl. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2005, p. 16. 182 LOBÃO, Célio. Direito penal militar. 3. ed. atual. Brasília: Brasília Jurídica, 2006, p. 99. 183 SILVA, Jadir. Justiça Militar estadual: breves comentários acerca das novidades introduzidas
pela Emenda Constitucional n.º45, de 08/12/2004. Revista de Estudos e Informações. n. 14. Belo Horizonte: TJM/MG, 2005, p. 14.
184 PINHO, Ruy Rebello; NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Instituições de direito público e privado: Introdução ao estudo de direito e noções de ética profissional. 18. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 1992, p. 147.
59
aos juízes-auditores, singularmente, o processo e julgamento de ações relativas às punições disciplinares, o que consideramos adequado e já sustentávamos em nosso Direito Administrativo Militar, Forense, 1995, haja vista o profundo e amplo conhecimento dos operadores do Direito Militar, lato sensu, incluindo, nesse contexto, os aspectos comezinhos e peculiares da atividade castrense. Logo, de muito boa guarida a perspectiva de mudança constitucional, o que tornaria os julgamentos muito mais técnicos e acertados, visto que, aqui, totalmente aplicável o brocardo jura novit curia!.185
De tal modo, ao entrar em vigor a EC/45 concedeu aos
juízes de direito do juízo militar o conhecimento e julgamento das ações
referentes a atos disciplinares, de modo que a estes agora incumbe resolver a
pretensão daqueles que por Processo Administrativo-Disciplinar (PAD) tenham
sofrido punição disciplinar, a qual se refere ao direito disciplinar militar.
Todo este contexto, como trazido pela doutrina castrense se
insere dentro do Direito Administrativo, o qual permite a Administração à
aplicação de sanção ao agente público que pratique ato previsto como infração
administrativa, exercendo deste modo o poder disciplinar186, o qual é intrínseco ao
exercício do poder hierárquico que permeia as Instituições Militares.
Portanto, a apreciação de tais atos está submetida ao crivo
do Judiciário, em atenção ao preceito constitucional inserto no inciso XXXV, do
art. 5º, da CRFB/88187, podendo o militar que achar-se lesado por reprimenda
imposta em razão de transgressão militar, não mais recorrerá às Varas da
Fazenda Pública na Justiça Comum, mas a Justiça Militar estadual188.
185 DUARTE, Antônio Pereira. A Justiça Militar do terceiro milênio. Revista de Estudos e
Informações. n. 12. Belo Horizonte: TJM/MG, 2003, p. 37. 186 ANJOS, Marcelo Adriano Menacho dos. O crime propriamente militar e a transgressão
disciplinar militar. Revista de Estudos e Informações. n. 12. Belo Horizonte: TJM/MG, 2003, p. 17.
187 SILVA, Jadir. Justiça Militar estadual: breves comentários acerca das novidades introduzidas pela Emenda Constitucional n.º45, de 08/12/2004. Revista de Estudos e Informações. n. 14. Belo Horizonte: TJM/MG, 2005, p. 16.
188 ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Competência do juiz militar em segunda instância para o julgamento das ações judiciais contra atos disciplinares. Revista de Estudos e Informações. n. 17. Belo Horizonte: TJM/MG, 2006, p. 38.
60
Ao tratar dessa nova jurisdição do juízo militar, Assis adverte
acerca dos limites desta jurisdição, conquanto, ao analisar a questão o juiz de
direito do juízo militar deve deter-se apenas na análise dos pressupostos para
formação e validade do ato em questão:
Sendo o ato disciplinar um ato administrativo por excelência, os limites da jurisdição são exatamente os mesmos estabelecidos para a análise pela jurisdição comum ou ordinária, ou seja, não se poderá verificar o mérito do ato administrativo, mas sim os pressupostos exigidos para a sua formação e validade.
Anote-se que os dispositivos constitucionais que tratam da matéria são de aplicação imediata e de eficácia plena, não necessitando de regulamentação, a não ser, é óbvio, aquelas necessárias para se adequar o rito processual a ser seguido desde já.189
E como destaca Oliveira, a atuação da Justiça Militar na
seara cível, deve estar limitada a apreciação dos atos de caráter militar,
possuindo de tal forma cunho punitivo, os quais, é claro, devem ser conseqüência
de PAD, esclarecendo que ainda pode o juízo militar ser instado a se manifestar
sobre matéria que venha como reflexo do ato impugnado, como um eventual
pedido de reintegração, admitindo-se a cumulação de tais pedidos com
fundamento no art. 292190 do CPC191.
Neste liame, Akashi ao comentar a EC/45 afirma ter se
constituído em importante modificação a ampliação da competência da Justiça
Militar dos estados, passando para estes a atribuição desta Justiça especializada,
a apreciação de ações judiciais, com o objetivo de questionar ato disciplinar
imposta na esfera administrativa192.
189 ASSIS, Jorge César de. A reforma do Poder Judiciário e a Justiça Militar: breves
considerações sobre seu alcance. Direito Militar. n. 51. Florianópolis: AMAJME, 2005, p. 26. 190 “Art. 292. É permitida a cumulação, num único processo, contra o mesmo réu, de vários
pedidos, ainda que entre eles não haja conexão.” 191 OLIVEIRA, Rodrigo Tadeu Pimenta de. Reflexos da Emenda Constitucional n.º 45, de 08 de
dezembro de 2004, nas Justiças Militares estaduais. Direito Militar. n. 50. Florianópolis: AMAJME, 2004, p. 13/14.
192 AKASHI, Diogo Telles. Comentários à reforma do Poder Judiciário: emenda constitucional n.º 45/2004. São Paulo: Letras Jurídicas, 2006, p. 148.
61
Contudo, insta salientar que tal alteração se deu somente
em relação à Justiça Militar estadual, não havendo o constituinte derivado
estendido tal competência a Justiça Militar da União, como indica Martins:
A novidade está na transferência da competência para processar e julgar as ‘ações judiciais contra atos disciplinares militares’, da Justiça Comum estadual, para a Justiça Militar.
Tal alteração, de forma incompreensível, não se fez em relação à Justiça Militar da União, quando é certo que também para este ramo da Justiça Militar seria de se estender a competência agora conferida para a Justiça Militar dos Estados.193
Outras alterações merecem destaque, embora sem o
mesmo aprofundamento, vez que foge ao objeto da pesquisa, a primeira quanto à
substituição do termo juiz-auditor por juiz de direito do juízo militar, com a
atribuição de funções especificas a este, as quais estão previstas no § 5º, do art.
125, da CRFB/88, além da transferência para este da presidência do Conselho de
Justiça, antes atribuição do oficial mais antigo194.
Gize-se também, que a EC/45, resolveu definitivamente a
questão suscitada pela Lei n.º 9.299/96, reservando o julgamento dos crimes
dolosos contra a vida praticada por militar contra civil, ao tribunal do júri195.
Retomando o referente adotado, passa-se a análise do
problema principal trazido à baila, assim passa-se a análise da jurisdição cível da
Justiça Militar estadual.
193 MARTINS, Eliezer Pereira. Emenda Constitucional 45/04 (Reforma do Judiciário) – Ações
judiciais contra atos disciplinares militares – Ampliação da competência da Justiça Militar estadual – Reflexões iniciais. Direito Militar. n. 55. Florianópolis: AMAJME, 2005, p. 15.
194 LOBÃO, Célio. Reforma do Judiciário: a competência da Justiça Militar. Direito Militar. n. 50. Florianópolis: AMAJME, 2004, p. 07.
195 AKASHI, Diogo Telles. Comentários à reforma do Poder Judiciário: emenda constitucional n.º 45/2004. São Paulo: Letras Jurídicas, 2006, p. 148.
62
3.3 A JURISDIÇÃO CÍVEL DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL
Tratando especificamente da jurisdição cível da Justiça
Militar, dois são os pontos que se pretende destacar, quais sejam os limites desta
jurisdição, analisando quais espécies de ação são de competência desta Justiça
especializada, bem como as vantagens de referida alteração constitucional.
Ao entrar em vigor a EC/45 passou a exigir da Justiça Militar
o conhecimento de ações de natureza cível, até então desconhecida aos seus
operadores, impondo a esta uma série de reformas, necessárias a adequação de
sua estrutura, com vista ao atendimento da nova demanda196, para tanto o
Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais (TJMMG) criou uma
Câmara especializada para tratar da matéria cível197, enquanto o Tribunal de
Justiça Militar do Estado de São Paulo (TJMSP) desde 2005 atribuiu a 2ª
Auditoria Militar com sede na capital do Estado, a competência para processar e
julgar as ações relativas a atos disciplinares.
Sobre esta nova realidade enfrentada pelos operadores do
direito militar, assevera Assis, apontando a alteração sofrida pela Justiça
Castrense:
Não há como se negar a sensível mudança operada em relação à Justiça Militar.
Para exercer o controle jurisdicional sobre as punições disciplinares, o que fará através do processo e julgamento das ações judiciais contra atos disciplinares militares, a Justiça Militar passará a travar conhecimento com o processo cível, que até então lhe era um completo desconhecido, à exceção do julgamento do mandado de segurança pelos Tribunais.
196 MARTINS, Eliezer Pereira. Emenda Constitucional 45/04 (Reforma do Judiciário) – Ações
judiciais contra atos disciplinares militares – Ampliação da competência da Justiça Militar estadual – Reflexões iniciais. Direito Militar. n. 55. Florianópolis: AMAJME, 2005, p. 17.
197 AZEVEDO, Flávia Adriana Ferreira de. As mudanças trazidas pela Emenda Constitucional n.º 45 e seus reflexos na Justiça Militar estadual mineira. Revista de Estudos e Informações. n. 18. Belo Horizonte: TJM/MG, 2006, p. 28.
63
O instrumento de aplicação dessa nova forma de atuação será o Código de Processo Civil, coadjuvado pelo novo Código Civil brasileiro e, é lógico, por toda a legislação administrativa e disciplinar aplicável à espécie de cada novo processo que ali irá aportar.198
Embora presentes tais circunstâncias, a nova ordem imposta
pela EC/45, vem em atendimento à especificidade da jurisdição e da
racionalidade da distribuição, como afirma Dalabrida, uma vez que investe a um
órgão com a qualificação adequada, o conhecimento das ações que versam sobre
questões intrínsecas a vida na caserna199.
Destarte, para se definir os feitos de natureza cível que são
de competência da Justiça Castrense, se faz necessária a análise do conceito de
ato disciplinar militar, o qual seria o “conjunto de princípios cuja observância,
como norma de conduta, é exigida aos que integram qualquer coletividade”.200
Deste modo, ao discutir a legitimidade de determinado ato
disciplinar o requerente terá, à primeira vista, dois caminhos: ingressar com ação
mandamental, com vista à garantia de direito líquido e certo ou ação declaratória,
a ser observado o procedimento ordinário, a fim de que ao final julgamento seja
declarada a nulidade do ato disciplinar.
Ao impetrar Mandado de Segurança o mesmo se restringiria
à apreciação dos aspectos formais, não discutindo o mérito do ato impugnado,
entretanto, ao ingressar com ação declaratória o pedido de declaração de
nulidade do ato poderia ser cumulado com pedidos pertinentes aos efeitos do ato
disciplinar, uma vez que a via estreita do Mandado de Segurança não permite a
dilação probatória.
198 ASSIS, Jorge César de. A reforma do Poder Judiciário e a Justiça Militar. Breves
considerações sobre seu alcance. Direito Militar. n. 51. Florianópolis: AMAJME, 2005, p. 26/27. 199 DALABRIDA, Sidney Eloy. A competência constitucional da Justiça Militar: Questões
controvertidas. Direito Militar. n. 56. Florianópolis: AMAJME, 2005, p. 33. 200 DICIONÁRIO JURÍDICO da Academia Brasileira de Letras Jurídicas. 2. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1991, p. 201.
64
Há que se observar, de acordo com remansoso
entendimento, que ao buscar a impugnação do ato disciplinar, não caberá ao
Judiciário adentrar no mérito do PAD, assim como nas conveniências da
reprimenda aplicada, eis como explica Meirelles, ao Judiciário incumbe analisar a
legitimidade da pena e se foi observado o devido processo legal, eis que o
Judiciário não pode interferir no poder discricionário da autoridade
administrativa201.
Neste sentido, colhe-se da jurisprudência do STF:
O mandado de segurança não é meio hábil a alcançar-se, no Judiciário, a substituição da moldura fática delineada no processo administrativo. A regra segundo a qual não se dará segurança quando se tratar de ato disciplinar, salvo se praticado por autoridade incompetente ou preterida formalidade essencial - inciso III do artigo 5º da Lei n. 1.533/51 - afina-se com a exigência sobre a liquidez e certeza do direito, porquanto impossível é confundir o enquadramento jurídico dos fatos apurados com a revisão destes, somente passível de ser alcançada em fase própria, ou seja, a probatória, em que viabilizadas altas indagações sobre os acontecimentos envolvidos na controvérsia.202
De tal modo, a Justiça Militar é competente para o
julgamento de todas as ações cíveis que estejam questionando quaisquer atos
que possuam natureza disciplinar.
Rocha ainda defende a tese da competência da Justiça
Militar estadual para o conhecimento e julgamento de ação civil pública, cujo
objeto seja a alteração de normas disciplinares por autoridade administrativa
militar, quando estas possam causar lesão à garantia e à segurança pública:
201 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 21. ed. São Paulo: Malheiros,
1996, p. 601. 202 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Mandado de Segurança n. 21297-7/DF, do Tribunal
Pleno. Relator Ministro Marco Aurélio. Diário da Justiça da União, Brasília, p. 2.170, 28 fev. 1992. Disponível em: <http://www.stf.gov.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp>. Acesso em: 26 jan. 2008.
65
Contudo, a competência da Justiça Militar estadual para processar e julgar as ações civis relativas à segurança pública está restrita ao exame dos fatos que digam respeito ao exercício do poder disciplinar militar. Por isso, se o Ministério Público propuser uma ação civil pública contra o Estado, pedindo a condenação na obrigação de realizar concurso público para aumentar o efetivo policial, considerado insuficiente para atender às necessidades de combate à criminalidade, será competente a Justiça Comum. Mas, se o órgão de execução ministerial propuser a ação pleiteando modificação nas regras disciplinares implementadas por autoridade administrativa militar, ao fundamento de que tais regras prejudicam a eficiência dos serviços de proteção ao direito fundamental de segurança, a competência será da Justiça Militar (...).Nestes casos, a ação civil pública visa preservar a disciplina adequada ao bom desempenho das funções protetivas da segurança pública e deve ser pro posta na Justiça Militar.203
Em contraponto, Rocha, afirma ser incompetente a Justiça
Militar para apreciação de atos administrativos que visem discutir o controle de
legalidade, pois enquanto atos disciplinares militares estão relacionados à
manutenção da disciplina, nos atos administrativos de controle de legalidade não
se verifica a ocorrência de transgressão militar, que enseje a aplicação de medida
disciplinar204.
Ainda afirma estar fora da competência da Justiça Militar as
ações previdenciárias, aquelas em que se pretenda discutir percepção de valores,
assim como de ingresso e habilitação no estágio probatório e promoção, além da
transferência para inatividade, eis que estas não caracterizam sanção por
transgressão militar205.
Todavia, o TJMMG vem seguindo a orientação de que tudo
que se relacione a disciplina militar, “seja com relação a punições, elogios,
dispensas, férias, direitos, deveres, promoções, formaturas em cursos, enfim, que
203 ROCHA, Fernando A. N. Galvão da. Ação civil pública na Justiça Militar estadual. Revista
de Estudos e Informações. n. 19. Belo Horizonte: TJM/MG, 2007, p. 21/22. 204 ROCHA, Fernando A. N. Galvão da. Ação civil pública na Justiça Militar estadual. Revista
de Estudos e Informações. n. 19. Belo Horizonte: TJM/MG, 2007, p. 15. 205 ROCHA, Fernando A. N. Galvão da. Ação civil pública na Justiça Militar estadual. Revista
de Estudos e Informações. n. 19. Belo Horizonte: TJM/MG, 2007, p. 22.
66
impliquem no ‘moral da tropa’, são considerados atos disciplinares”, conceituando
ato disciplinar de forma ampla, adotando a interpretação histórica da norma,
analisando a intenção do constituinte206.
Neste sentido:
A competência da Justiça Militar Estadual, conferida pelo § 4º do art. 125 da Constituição Federal, não se restringe ao exame dos atos administrativos punitivos. Por atos administrativos disciplinares deve-se entender todos aqueles atos que, de alguma forma, possam interferir na ordenação disciplinar que é característica fundamental das instituições militares.207
E mais, consoante extraído do voto do Juiz Décio de
Carvalho Mitre, no julgamento da Apelação Cível n.º 009:
Por outro lado, mesmo o ato disciplinar punitivo, como espécie do ato administrativo, deve atender aos requisitos da competência, finalidade, forma, motivo e objeto, dentre os quais os três primeiros são vinculados, enquanto que os dois últimos são discricionários, ‘em relação aos quais a Administração decide livremente, e sem possibilidade de correção judicial, salvo quando seu proceder caracterizar excesso ou desvio de poder’ (MEIRELLES, 1997, p.138), sendo que o procedimento administrativo também deve ser analisado sob o aspecto da legalidade, mormente no que diz respeito à aplicação das garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa, previstos no art. 5º, LV, da Lei Maior.208
206 MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais. Agravo de
Instrumento Cível n. 002. Relator Juiz Cel. PM Rúbio Paulino Coelho. Diário do Judiciário, Belo Horizonte, 14 fev. 2006. Disponível em: <http://www.tjm.consultajurisprudencia.mg.gov.br/jcab/recursos/AGRAVODEINSTRUMENTOCIVELNo002.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2008.
207 MINAS GERAIS Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais. Apelação Cível n. 170. Relator Juiz Fernando Galvão da Rocha. Diário do Judiciário, Belo Horizonte, 29 jun. 2007. Disponível em: <http://www.tjm.consultajurisprudencia.mg.gov.br/jcab/recursos/APELACAOCIVELNo170.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2008.
208 MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais. Apelação Cível n. 009. Relator Juiz Décio de Carvalho Mitre. Diário do Judiciário, Belo Horizonte, 11 nov. 2005. Disponível em: <http://www.tjm.consultajurisprudencia.mg.gov.br/jcab/recursos/APELACAOCIVELNo009.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2008.
67
Tal entendimento é de suma importância, pois não restringe
à competência da Justiça especializada a apreciação de sanções disciplinares,
mas a todos os atos praticados com vista à manutenção da disciplina, através dos
quais se criem obrigações ou modifiquem, extingam ou declarem direitos, como
assentou o STJ209.
Não obstante, colaciona-se da jurisprudência do STJ:
Em relação ao controle jurisdicional do processo administrativo, a atuação do Poder Judiciário circunscreve-se ao campo da regularidade do procedimento, bem como à legalidade do ato atacado, sendo-lhe defesa qualquer incursão no mérito administrativo a fim de aferir o grau de conveniência e oportunidade.210
Posto tais considerações, a Autoridade Judiciária quando
provocada a resolver uma questão processará e julgará o feito, analisando se os
preceitos legais foram observados, uma vez que o vício de legalidade enseja a
anulação do ato disciplinar211, não cabendo ao Judiciário analisar o substrato do
referido ato, vez que tal é deixado à discrição da Administração.
Ainda, consoante entendimento do STJ:
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. VOLUNTÁRIO DA POLÍCIA MILITAR. CONDUTA INCOMPATÍVEL. DESLIGAMENTO. ATO DISCIPLINAR MILITAR. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR.
209 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Conflito de competência n. 62346/MG, da Primeira
Seção. Relatora Ministra Denise Arruda. Diário da Justiça da União, Brasília, p. 449, 06 ago. 2007. Disponível em: <http://www.stj.gov.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?processo=62346&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=1>. Acesso em: 26 jan. 2008.
210 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Ordinário em Mandado de Segurança n. 19846/RS, da Quinta Turma. Relator Ministro Gilson Dipp. Diário da Justiça da União, Brasília, p. 269, 29 mai. 2006. Disponível em: <http://www.stj.gov.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?processo=19846&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=5>. Acesso em: 26 jan. 2008.
211 ROCHA, Fernando A. N. Galvão da. Ação civil pública na Justiça Militar estadual. Revista de Estudos e Informações. n. 19. Belo Horizonte: TJM/MG, 2007, p. 15.
68
1. O desligamento do serviço militar por conduta incompatível com o serviço constitui verdadeiro ato disciplinar, o qual exige, inclusive, decisão fundamentada.
2. Em regra, compete à Justiça Militar estadual processar e julgar atos disciplinares militares, nos termos do § 4º do art. 125 da Constituição da República.
3. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito da 2ª Auditoria Militar de São Paulo/SP, o suscitante.212
O TJMMG, nos julgamentos dos Conflitos de Competência
n.º 001213 e 002214, reconheceu sua competência para o julgamento de ações que
tem por objeto a jornada de trabalho de militar, entendendo que esta possui
natureza disciplinar.
Ademais, o TJMMG já reconheceu a competência da Justiça
Militar para o julgamento de ações de improbidade administrativa cometida por
militares, as quais possam resultar na exclusão destes das fileiras da corporação,
medida prevista na Lei n.º 8.429, de 02 junho de 1992 (Lei de Improbidade
Administrativa), sendo a competência para o processamento e julgamento de tais
feitos, originária do Tribunal215.
212 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Conflito de competência n. 54518/SP, da Terceira
Seção. Relator Ministro Arnaldo Esteves Lima. Diário da Justiça da União, Brasília, p. 226, 02 ago. 2006. Disponível em: <http://www.stj.gov.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?processo=54518&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=2>. Acesso em: 26 jan. 2008.
213 MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais. Conflito de Competência n. 001. Relator Juiz Décio de Carvalho Mitre. Diário do Judiciário, Belo Horizonte, 23 nov. 2006. Disponível em: <http://www.tjm.consultajurisprudencia.mg.gov.br/jcab/recursos/ConflitodeCompetenciano001.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2008.
214 MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais. Conflito de Competência n. 002. Relator Juiz Cel. PM Paulo Duarte Pereira. Diário do Judiciário, Belo Horizonte, 09 mar. 2007. Disponível em: <http://www.tjm.consultajurisprudencia.mg.gov.br/jcab/recursos/ConflitodeCompetenciaCivelno002.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2008.
215 MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais. Agravo de Instrumento n. 008. Relator Juiz Cel. PM Sócrates Edgard dos Anjos. Diário do Judiciário, Belo Horizonte, 01 jun. 2007. Disponível em: <http://www.tjm.consultajurisprudencia.mg.gov.br/jcab/recursos/AGRAVODEINSTRUMENTOCIVELNo008.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2008.
69
Neste mesmo sentido, a ação de perda do posto e da
patente dos oficiais e da graduação das praças é de competência originária do
TJM do Estado, ou do Tribunal de Justiça onde não houver TJM, conforme
preceito inserto no § 4º, do art. 125, da CRFB/88, embora as praças possam
perder a graduação mediante PAD, conforme Súmula n.º 673216 do STF.
Assim, considerando a interpretação adotada pelos órgãos
jurisdicionais, podemos concluir que a competência da Justiça castrense não está
adstrita ao conhecimento e julgamento das ações que versem sobre punições
disciplinares, mas abrangendo também os reflexos destas, principalmente a
reintegração do militar que tenha sido excluído da corporação, além é claro de
indenização por abalo moral e pelos danos materiais ocasionados pelo ato.
Deste modo, embora Assis argumente que “não houve
avanço nem melhoria na prestação jurisdicional da Justiça Especializada”217, a
EC/45 vem de atender o princípio da especificidade, proporcionando maior
eficácia na prestação jurisdicional, ao passo que o juiz de direito da Justiça Militar
pode interpretar de maneira mais adequada os ditames das normas castrenses.
3.4 O PROJETO DE EMENDA CONSTITUCIONAL N. 358/05
O Projeto de Emenda Constitucional n. 358/05 (PEC 358/05)
vem apresentar a segunda etapa da reforma do Judiciário, com novas alterações
na estrutura do Judiciário, as quais não foram aprovadas quando da promulgação
da EC/45, tendo o texto retornado para discussão dos constituintes derivados,
sofrendo diversas emendas.
De tal sorte, com a promulgação do PEC 358/05, a Justiça
Militar da União terá uma ampliação de sua competência, passando a exercer o
controle jurisdicional sobre as punições disciplinares, o que, segundo o Ministro
Carlos Alberto Marques Soares exigirá reformulações na LOJM e no Regimento
216 “Súmula do STF n. 673 – O art. 125, § 4º, da constituição não impede a perda da graduação de
militar mediante procedimento administrativo.” 217 ASSIS, Jorge César de. A reforma do Poder Judiciário e a Justiça Militar. Breves
considerações sobre seu alcance. Direito Militar. n. 51. Florianópolis: AMAJME, 2005, p. 27.
70
Interno do STM, asseverando ainda, que a Justiça Militar da União só exercerá
sua nova competência mediante julgamento de Habeas Corpus, e em casos
excepcionais, para a apreciação de MS218.
Carvalho Júnior, ao tecer suas considerações sobre tal
projeto, explica acerca do processo legislativo:
O PEC 358/05 encontra-se tramitando na Comissão Especial de Reforma do Judiciário; está aguardando parecer de aprovação par que possa ser submetida em dois turnos pelo Plenário da Câmara. Se houver modificações gritantes que comprometam a tese legislativo-constitucional nela albergada, ela retorna à casa de origem (Senado Federal) que deverá apreciar os pontos divergentes também em dois turnos e fazer o reenvio à Câmara dos Deputados para apreciação do debate. Caso não encontre resistência e a tese nela agasalhada resulte intacta, ela deverá ir para votação em dois turnos e se aprovada será promulgada em sessão conjunta, das duas casas, pelo Congresso Nacional.219
Além das inúmeras modificações na estrutura de todo o
Poder Judiciário, o PEC 358/05, trará novidades para a Justiça Militar da União, a
qual passará a exercer o controle jurisdicional sobre as punições disciplinares
aplicadas aos militares das Forças Armadas, sendo as ações correspondentes de
natureza cível, além de alterar a composição do STM, o qual passará de quinze
para onze ministros, sendo esta realizada de maneira gradativa como inserto no
art. 3º do PEC 358/05220.
Tessler, apresenta argumentos favoráveis e contrários à
alteração da competência, citando como pontos favoráveis, a autora lista: o
principio da unificação por pertinência temática; o princípio da eficiência; o
fortalecimento da Instituição; o argumento da eficácia; argumento da
218 SOARES, Carlos Alberto Marques. Da reforma do Poder Judiciário e a Justiça Militar da
União – Considerações. Direito Militar. n. 57. Florianópolis: AMAJME, 2006, p. 08. 219 CARVALHO JÚNIOR, Astor Nina de. A segunda etapa da reforma do Judiciário e o novo
perfil do Superior Tribunal Militar. Direito Militar. n. 61. Florianópolis: AMAJME, 2006, p. 18. 220 OLIVEIRA, Alexandre Nery de. Comentários à reforma do Judiciário (XVII). Propostas
pendentes (PEC nº 358/2005 e apensos). Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1402, 4 maio 2007. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9786>. Acesso em: 29 jan. 2008.
71
especialidade. Todavia, em contraponto a tais argumentos, a mesma menciona:
perda de poder da Justiça Federal, frente à transferência de competência para a
Militar; o peso para a fixação dos controles processuais adequados para os feitos
de natureza cível; a definição dos limites da jurisdição e o alcance desta; a
estruturação das Auditorias Militares para o julgamento deste tipo de ação, sendo
necessários ajustes nos estatutos e regimentos; por fim, trata do exame de
admissibilidade dos recursos interpostos, necessitando a designação de quem o
faça221.
Como se extrai do texto do PEC 358/05, há uma sensível
incongruência entre a jurisdição cível atribuída a Justiça Militar estadual daquela
que poderá advir a Justiça Militar da União, porquanto o art. 125, § 4º, da
CRFB/88, estabelece a competência da Justiça Castrense estadual para
processar e julgar as ações judiciais contra atos disciplinares, enquanto se
aprovado o projeto citado, o art. 124 da CRFB/88, estabelecerá a competência da
Justiça Militar da União para exercer o controle jurisdicional sobre as punições
disciplinares aplicadas aos membros das Forças Armadas, assim se eleva na
doutrina a discussão acerca de tal diferenciação.
Neste sentido, Azevedo assevera:
Como brilhantemente expôs o juiz de direito da 2ª Auditoria da Justiça Militar mineira, Dr. Paulo Tadeu Rodrigues Rosa, na IX Jornada de Estudos de Direito Penal Militar, a expressão ato disciplinar, trazida pela EC nº 45/04, distancia-se e muito da expressão punição disciplinar utilizada na PEC nº 358/05, que como já foi dito trata da competência da Justiça Militar da União.222
Todavia, para Oliveira, a Justiça Militar da União exercerá o
controle jurisdicional sobre os atos disciplinares nos quais tenha sido aplicada
221 TESSLER, Marga Inga Barth. A competência da Justiça Militar da União com a provável
aprovação da PEC n.º 358/2005. Direito Militar. n. 62. Florianópolis: AMAJME, 2006, p. 16/18. 222 AZEVEDO, Flávia Adriana Ferreira de. As mudanças trazidas pela Emenda Constitucional
n.º 45 e seus reflexos na Justiça Militar estadual mineira. Revista de Estudos e Informações. n. 18. Belo Horizonte: TJM/MG, 2006, p. 28.
72
sanção disciplinar a militar das Forças Armadas, devendo, entretanto o
interessado provocar o Judiciário a se manifestar223.
Atualmente o PEC 358/05 encontra-se na Mesa Diretora da
Câmara Federal aguardando sua inclusão na pauta para discussão e posterior
deliberação224, sendo aprovada em dois turnos pelo Plenário da Casa baixa do
Congresso Nacional, havendo alterações, a mesma retornará ao Senado.
223 OLIVEIRA, Alexandre Nery de. Comentários à reforma do Judiciário (XVII). Propostas
pendentes (PEC nº 358/2005 e apensos). Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1402, 4 maio 2007. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9786>. Acesso em: 29 jan. 2008.
224 Informações acerca do andamento do PEC n. 358/2005 estão disponíveis no portal da Câmara, através do endereço: <http://www.camara.gov.br/Sileg/Prop_Detalhe.asp?id=274765>. Acesso em 29 jan. 2008.
73
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio da presente pesquisa, buscou-se compreender o
fenômeno evolutivo ocorrido na Justiça Militar, destacando que o Judiciário ao
exercer a jurisdição, substitui as partes, buscando de maneira neutra a
composição dos conflitos, como forma de pacificação social, sendo esta exercida
através do devido processo legal.
Esta função de dizer o direto e estabelecer ao lado de quem
está a razão, é exercida pelo Judiciário de forma una é indivisível, sendo as
competências divididas para melhor administração da justiça, sendo cada órgão
incumbido de uma competência específica, assim a Justiça Militar com a evolução
dos tempos sofreu alterações tanto em suas atribuições como na sua estrutura,
detendo cada vez mais uma identidade de órgão judicial e menos de Corte
Marcial.
Conforme estabelece o § 4º do art. 125 da CRFB/88,
compete a Justiça Militar estadual processar e julgar as ações judiciais contra
atos disciplinares militares, ou seja, ações de natureza cível, implicando ainda no
conhecimento de pretensões cujo objeto seja conseqüência de tais atos, tendo
em vista a especificidade da matéria, bem como a possibilidade de conjugação
dos pedidos.
Embora os debatedores sejam controversos, o que é
implícito ao direito, para obter-se uma resposta objetiva acerca dos limites da
jurisdição cível da Justiça Militar, obtive-se socorro nas decisões dos Tribunais, os
quais vêm reconhecendo a competência da Justiça castrense estadual para julgar
todas as ações contra atos disciplinares, eis que este vem conforme a intenção do
constituinte derivado, como instrumento para resolução dos conflitos com maior
eficiência e da forma mais adequada.
Assim, esta Justiça especializada vem conhecendo e
julgando todas as ações que tenham como escopo questionar atos afetos a
74
disciplina militar, ou seja, que abalem o “moral da tropa”, sendo tal entendimento
adotado de forma reiterada pelos Tribunais de Justiça Militar e Tribunais
Superiores.
Isto posto, considera-se que as alterações introduzidas pela
EC/45, com o devido acatamento aos entendimentos diversos, trazem ganhos,
tanto a Justiça Militar, quanto aos seus jurisdicionados, eis que tal veio em
atendimento à especificidade da jurisdição, considerando que os atos
questionados são intrínsecos a vida na caserna, exigindo do julgador uma maior
familiaridade com o cotidiano dos quartéis.
E em se tratando de ramo especializado do direito,
oportunizarão as partes uma prestação jurisdicional mais condizente com os
princípios castrenses, saciando os anseios sociais a medida da correta aplicação
do direito ao caso, uma vez que aplicado por operadores familiarizados à matéria,
evitando incongruências incompressíveis aos olhos da sociedade.
Neste vértice, salienta-se que o estudo do direito positivo,
como concebido neste trabalho, surge à luz do texto constitucional, pois não há
como fugir da lei maior, eis que em última análise a lei deve ser interpretada de
conformidade com os interesses sociais e da coletividade, eis que este é o seu
destinatário.
Ao final, concluí-se que as transformações advindas com a
EC/45, e no caso específico a Justiça Militar serve para o fortalecimento do
Estado Democrático de Direito, uma vez que contribui para solidificação das
Instituições, possibilitando a atuação livre e isenta, ainda que por mais das vezes,
em decorrência de circunstâncias alheias, as mesmas sejam utilizadas de forma
inidônea na contramão da corrente evolutiva, restando confirmadas as hipóteses
levantadas no início da pesquisa como delineado.
75
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS
AKASHI, Diogo Telles. Comentários à reforma do Poder Judiciário: Emenda
constitucional n.º 45/2004. São Paulo: Letras Jurídicas, 2006.
ANJOS, Marcelo Adriano Menacho dos. O crime propriamente militar e a
transgressão disciplinar militar. Revista de Estudos e Informações. n. 12. Belo
Horizonte: TJM/MG, 2003.
ASSIS, Jorge César de. A justiça militar brasileira. Jus Militaris, Santa Maria,
[sd]. Disponível em: <http://www.jusmilitaris.com.br/?secao=justicamilitar>. Acesso
em: 07 out. 2007.
ASSIS, Jorge César de. A reforma do Poder Judiciário e a Justiça Militar.
Breves considerações sobre seu alcance. Direito Militar. n. 51. Florianópolis:
AMAJME, 2005.
ASSIS, Jorge César de. Comentários ao código penal militar. 5. ed. Vol. 1.
Curitiba: Juruá, 2006. 316 p.
ASSUMPÇÃO, Roberto Menna Barreto. Direito penal e processual penal
militar: Doutrina, jurisprudência e súmulas. Vol. I!. Rio de Janeiro: Destaque,
1999.
AZEVEDO, Flávia Adriana Ferreira de. As mudanças trazidas pela Emenda
Constitucional n.º 45 e seus reflexos na Justiça Militar estadual mineira.
Revista de Estudos e Informações. n. 18. Belo Horizonte: TJM/MG, 2006.
BATISTA, Rogério Ramos; REZENDE, Fábio Teixeira. A competência da
Justiça Militar para as ações contra atos disciplinares. Revista de Estudos e
Informações. n. 15. Belo Horizonte: TJM/MG, 2005.
76
BARROSO FILHO, José. Justiça Militar da União. Jus Navigandi, Teresina, ano
3, n. 31, maio 1999. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1570>. Acesso em: 23 out. 2007.
BERMUDES, Sergio. A reforma do Judiciário pela Emenda Constitucional n.º
45: observações aos artigos da Constituição Federal alterados pela Emenda
Constitucional n.º 45, de 8 de dezembro de 2004. Rio de Janeiro: Forense, 2005.
BONFIM, Ana Paula. Justiça Militar da União completa 198 anos. STM em
revista. Ano 02. n. 03. Brasília: STM, 2006.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Conflito de competência n. 54518/SP, da
Terceira Seção. Relator Ministro Arnaldo Esteves Lima. Diário da Justiça da
União, Brasília, p. 226, 02 ago. 2006. Disponível em:
<http://www.stj.gov.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?processo=54518&&b=ACOR
&p=true&t=&l=10&i=2>. Acesso em: 26 jan. 2008.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Conflito de competência n. 62346/MG, da
Primeira Seção. Relatora Ministra Denise Arruda. Diário da Justiça da União,
Brasília, p. 449, 06 ago. 2007. Disponível em:
<http://www.stj.gov.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?processo=62346&&b=ACOR
&p=true&t=&l=10&i=1>. Acesso em: 26 jan. 2008.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 238573/SE, da
Quarta Turma. Relator Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira. Diário da Justiça
da União, Brasília, p. 153, 09 out. 2000. Disponível em:
<http://www.stj.gov.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?tipo_visualizacao=RESUMO&
processo=238573&b=ACOR>. Acesso em: 26 jan. 2008.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Ordinário em Mandado de
Segurança n. 19846/RS, da Quinta Turma. Relator Ministro Gilson Dipp. Diário
da Justiça da União, Brasília, p. 269, 29 mai. 2006. Disponível em:
<http://www.stj.gov.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?processo=19846&&b=ACOR
&p=true&t=&l=10&i=5>. Acesso em: 26 jan. 2008.
77
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Mandado de Segurança n. 21297-7/DF, do
Tribunal Pleno. Relator Ministro Marco Aurélio. Diário da Justiça da União,
Brasília, p. 2.170, 28 fev. 1992. Disponível em:
<http://www.stf.gov.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp>. Acesso em:
26 jan. 2008.
CARNELUTTI. Francesco. As misérias do processo penal. Traduzido por José
Antônio Cardinalli. Campinas: Bookseller, 2002.
CARVALHO JÚNIOR, Astor Nina de. A segunda etapa da reforma do
Judiciário e o novo perfil do Superior Tribunal Militar. Direito Militar. n. 61.
Florianópolis: AMAJME, 2006.
CAYMMI, Pedro Leonardo Summers. Súmula vinculante, segurança jurídica e
positivismo: o verdadeiro papel deste instrumento na construção
democrática do discurso jurídico. Reforma do Judiciário: de acordo com a EC
45/2004. Coordenadores: Fredie Didier Jr., Edvaldo Brito e Saulo José Casali
Bahia. São Paulo: Saraiva, 2006.
CHAVES, Luiz Gonzaga. Breve escorço sobre a Justiça Militar. Revista de
Estudos e Informações. n. 6. Belo Horizonte: TJM/MG, 2000.
CHAVES JÚNIOR, Edgard de Brito. A evolução legislativa da Justiça Militar no
Brasil. Revista de Estudos e Informações. n. 13. Belo Horizonte: TJM/MG, 2004.
CHAVES JÚNIOR, Edgard de Brito. A Justiça Militar em outros países. Revista
de Estudos e Informações. n. 7. Belo Horizonte: TJM/MG, 2001.
CHAVES JÚNIOR, Edgard de Brito. Escorço histórico da Justiça Militar.
Revista de Estudos e Informações. n. 8. Belo Horizonte: TJM/MG, 2001.
CHAVES JÚNIOR, Edgard de Brito. Os artigos de guerra do Conde de Lippe.
Revista de Estudos e Informações. n. 9. Belo Horizonte: TJM/MG, 2002.
78
CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de direito processual civil. Vol. 2. São
Paulo: Saraiva, 1965.
CINTRA, Antonio Carlos de Araújo. Comentários ao código de processo civil.
Vol. IV. Rio de Janeiro: Forense, 2001.
CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO,
Cândido Rangel. Teoria geral do processo. 14. ed. ampl. e atual. São Paulo:
Malheiros, 1998.
COSTA, Álvaro Mayrink da. Crime militar. 2. ed. reesc. e ampl. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2005.
DALABRIDA, Sidney Eloy. A competência constitucional da Justiça Militar:
Questões controvertidas. Direito Militar. n. 56. Florianópolis: AMAJME, 2005.
DALABRIDA, Sidney Eloy. Direito processual penal. Vol. 6. Florianópolis:
OAB/SC Editora, 2006.
DICIONÁRIO JURÍDICO da Academia Brasileira de Letras Jurídicas. 2. ed. Rio
de Janeiro: Forense, 1991.
DICIONÁRIO da língua portuguesa. Edições poliglota. São Paulo: Cia.
Melhoramentos, 1992.
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 4. ed.
rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2004.
DUARTE, Antônio Pereira. A Justiça Militar do terceiro milênio. Revista de
Estudos e Informações. n. 12. Belo Horizonte: TJM/MG, 2003.
FEROLLA, Sérgio Xavier. A Justiça Militar da União. Revista de Estudos e
Informações. n. 5. Belo Horizonte: TJM/MG, 2000.
79
FERREIRA, Pinto. Curso de direito constitucional. 12. ed. ampl. e atual. São
Paulo: Saraiva, 2002.
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 32. ed.
rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006.
FIÚZA, Ricardo A. Malheiros. A Justiça Militar no direito constitucional
comparado. Revista de Estudos e Informações. n. 6. Belo Horizonte: TJM/MG,
2000.
FRIEDE, Reis. Comentários ao código de processo civil. 3. ed. Vol. 1. Rio de
Janeiro: Forense, 2002.
FUX, Luiz. Curso de direito processual civil. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2004.
FUX, Luiz. Intervenção de terceiros. São Paulo: Saraiva, 1990.
HIRSCH, Fábio Periandro de Almeida. O Poder Judiciário brasileiro e a
reforma pela emenda n. 45/2004: uma análise pelos olhos de Konrad Hesse e
Ferdinand Lassale. Reforma do Judiciário: de acordo com a EC 45/2004.
Coordenadores: Fredie Didier Jr., Edvaldo Brito e Saulo José Casali Bahia. São
Paulo: Saraiva, 2006.
LIMONGI, Celso Luiz; STEFANO, Claudia. Breves anotações sobre a reforma
do Judiciário. A reforma do Poder Judiciário: uma abordagem sobre a Emenda
Constitucional n.º 45/2004. Coordenador: José Luiz de Almeida. Campinas:
Millennium, 2006.
LOBATO, Marcos Otaviano da Silva. A justiça militar através dos séculos: das
penas e da execução penal. Revista de Estudos e Informações. n. 10. Belo
Horizonte: TJM/MG, 2002.
LOBÃO, Célio. Direito penal militar. 3. ed. atual. Brasília: Brasília Jurídica, 2006.
80
LOBÃO, Célio. Reforma do Judiciário: a competência da Justiça Militar. Direito
Militar. n. 50. Florianópolis: AMAJME, 2004.
LOUREIRO NETO, José da Silva. Processo penal militar. 5. ed. São Paulo:
Atlas, 2000.
MARCATO, Antonio Carlos. Código de processo civil interpretado. 2. ed. São
Paulo: Atlas, 2005.
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Manual do processo de
conhecimento: A tutela jurisdicional através do processo de conhecimento. São
Paulo: RT, 2001.
MARQUES, José Frederico. Ensaio sobre a jurisdição voluntária. Campinas:
Millennium, 2000.
MARTINS, Eliezer Pereira. Direito Constitucional Militar. Jus Navigandi,
Teresina, ano 7, n. 63, mar. 2003. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3854>. Acesso em: 23 out. 2007.
MARTINS, Eliezer Pereira. Emenda Constitucional 45/04 (Reforma do
Judiciário) – Ações judiciais contra atos disciplinares militares – Ampliação da
competência da Justiça Militar estadual – Reflexões iniciais. Direito Militar. n. 55.
Florianópolis: AMAJME, 2005.
MARTINS, Ives Gandra da Silva. Processo judicial tributário. São Paulo:
Quartier Latin, 2005.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 21. Ed. São Paulo:
Malheiros, 1996.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 28. ed. São Paulo:
Malheiros, 2003.
81
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. São
Paulo: Malheiros, 2003.
MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais. Agravo
de Instrumento Cível n. 002. Relator Juiz Cel. PM Rúbio Paulino Coelho. Diário
do Judiciário, Belo Horizonte, 14 fev. 2006. Disponível em:
<http://www.tjm.consultajurisprudencia.mg.gov.br/jcab/recursos/AGRAVODEINST
RUMENTOCIVELNo002.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2008.
MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais. Agravo
de Instrumento n. 008. Relator Juiz Cel. PM Sócrates Edgard dos Anjos. Diário
do Judiciário, Belo Horizonte, 01 jun. 2007. Disponível em:
<http://www.tjm.consultajurisprudencia.mg.gov.br/jcab/recursos/AGRAVODEINST
RUMENTOCIVELNo008.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2008.
MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais. Apelação
Cível n. 009. Relator Juiz Décio de Carvalho Mitre. Diário do Judiciário, Belo
Horizonte, 11 nov. 2005. Disponível em:
<http://www.tjm.consultajurisprudencia.mg.gov.br/jcab/recursos/APELACAOCIVEL
No009.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2008.
MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais. Apelação
Cível n. 170. Relator Juiz Fernando Galvão da Rocha. Diário do Judiciário, Belo
Horizonte, 29 jun. 2007. Disponível em:
<http://www.tjm.consultajurisprudencia.mg.gov.br/jcab/recursos/APELACAOCIVEL
No170.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2008.
MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais. Conflito
de Competência n. 001. Relator Juiz Décio de Carvalho Mitre. Diário do
Judiciário, Belo Horizonte, 23 nov. 2006. Disponível em:
<http://www.tjm.consultajurisprudencia.mg.gov.br/jcab/recursos/ConflitodeCompet
enciano001.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2008.
82
MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais. Conflito
de Competência n. 002. Relator Juiz Cel. PM Paulo Duarte Pereira. Diário do
Judiciário, Belo Horizonte, 09 mar. 2007. Disponível em:
<http://www.tjm.consultajurisprudencia.mg.gov.br/jcab/recursos/ConflitodeCompet
enciaCivelno002.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2008.
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal. Vol. 1. São Paulo: Atlas,
2003.
MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada. 4. ed. São Paulo:
Atlas, 2004.
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios do processo civil na Constituição Federal.
2. ed. São Paulo: RT, 1995.
NERY JÚNIOR, Nelson; ANDRADE NERY, Rosa Maria. Código de processo
civil comentado e legislação processual civil extravagante em vigor. 6. ed.
São Paulo: RT, 2002.
NERY JÚNIOR, Nelson; ANDRADE NERY, Rosa Maria. Código de processo
civil comentado e legislação extravagante. 7. ed. São Paulo: RT, 2003.
NEVES, Cícero Robson Coimbra; STREIFINGER, Marcello. Apontamentos de
direito penal militar. Vol. 1. São Paulo: Saraiva, 2005.
NEVES, Newton de Oliveira. A extinção dos Tribunais de Alçada e os conflitos
de competência. A reforma do Poder Judiciário: uma abordagem sobre a
Emenda Constitucional n.º 45/2004. Coordenador: José Luiz de Almeida.
Campinas: Millennium, 2006.
OLIVEIRA, Alexandre Nery de. Comentários à reforma do Judiciário (XVII).
Propostas pendentes (PEC nº 358/2005 e apensos). Jus Navigandi, Teresina, ano
83
11, n. 1402, 4 maio 2007. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9786>. Acesso em: 29 jan. 2008.
OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro de; LACERDA, Galeno. Comentários ao
código de processo civil. 2. ed. rev. e atual. Vol. VIII. Tomo II. Rio de Janeiro:
Forense, 1991.
OLIVEIRA, Erico Lima de. Justiça militar em tempo de guerra. Direito Militar. n.
57. Florianópolis: AMAJME, 2006.
OLIVEIRA, Rodrigo Tadeu Pimenta de. Reflexos da Emenda Constitucional n.º
45, de 08 de dezembro de 2004, nas Justiças Militares estaduais. Direito
Militar. n. 50. Florianópolis: AMAJME, 2004.
PEREIRA, Áurea Pimentel. A reforma da justiça na Emenda Constitucional
45/2004. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.
PINHO, Ruy Rebello; NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Instituições de direito
público e privado: Introdução ao estudo de direito e noções de ética profissional.
18. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 1992.
PRATA, Edson. Jurisdição voluntária. São Paulo: Leud, 1979.
REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva,
2002.
ROCHA, Fernando A. N. Galvão da. Ação civil pública na Justiça Militar
estadual. Revista de Estudos e Informações. n. 19. Belo Horizonte: TJM/MG,
2007.
ROSA, Márcio Fernando Elias. Direito administrativo. 2. ed. Vol. 19. São Paulo:
Saraiva, 2001.
84
ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Competência do juiz militar em segunda
instância para o julgamento das ações judiciais contra atos disciplinares.
Revista de Estudos e Informações. n. 17. Belo Horizonte: TJM/MG, 2006
ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Justiça Militar: Uma justiça de exceção?.
Revista de Estudos e Informações. n. 12. Belo Horizonte: TJM/MG, 2003.
ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Justiça Militar e o Estado Democrático de
Direito. STM em revista. Ano 02. n. 03. Brasília: STM, 2006.
ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Organização da Justiça Militar. Jus Navigandi,
Teresina, ano 3, n. 35, out. 1999. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1569>. Acesso em: 23 out. 2007.
ROTH, Ronaldo João. Justiça Militar e as peculiaridades do juiz militar na
atuação jurisdicional. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003.
SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. Apelação
cível n. 2002.019793-4. Relator Desembargador Volnei Carlin. Diário da Justiça,
Florianópolis, p. 32, 15 set. 2004. Disponível em:
<http://www.tj.sc.gov.br/institucional/diario/0409/dj11515.pdf>. Acesso em: 4 fev.
2008.
SANTANA, Luiz Augusto de. O Direito Militar aplicável às polícias militares em
face do poder disciplinar. Revista de Estudos e Informações. n. 20. Belo
Horizonte: TJM/MG, 2007.
SANTOS, Ernani Fidelis dos. Manual de direito processual civil. Vol. 5. São
Paulo: Saraiva, 1989.
SANTOS, Mário Olímpio Gomes dos. O “status” Militar. Revista de Estudos e
Informações. n. 05. Belo Horizonte: TJM/MG, 2000.
85
SANTOS, Mário Olímpio Gomes dos. Os crimes militares. Revista de Estudos e
Informações. n. 08. Belo Horizonte: TJM/MG, 2001.
SANTOS, Moacyr Amaral dos. Primeiras linhas de direito processual civil. 15.
ed. Vol. III. São Paulo: Saraiva, 1995.
SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria geral do processo: concreta, objetiva, atual.
Vol. 1. Florianópolis: Visual Books, 2002.
SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria geral do processo: concreta, objetiva, atual.
Vol. 2. Florianópolis: Visual Books, 2002.
SILVA, Jadir. Justiça Militar estadual: breves comentários acerca das novidades
introduzidas pela Emenda Constitucional n.º 45, de 08/12/2004. Revista de
Estudos e Informações. n. 14. Belo Horizonte: TJM/MG, 2005.
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 24. ed. rev. e
atual. São Paulo: Malheiros, 2005.
SILVA NETO, Manoel Jorge e. Direitos fundamentais na EC n. 45/2004. Reforma
do Judiciário: de acordo com a EC 45/2004. Coordenadores: Fredie Didier Jr.,
Edvaldo Brito e Saulo José Casali Bahia. São Paulo: Saraiva, 2006.
SOARES, Carlos Alberto Marques. Da reforma do Poder Judiciário e a Justiça
Militar da União – Considerações. Direito Militar. n. 57. Florianópolis: AMAJME,
2006.
SOUZA, Octávio Augusto Simon de. A justiça militar e a EC 45/2004. Jus
Militaris. Santa Maria, 30 jun. 2005. Disponível em:
<http://www.jusmilitaris.com.br/?secao=doutrina&cat=1>. Acesso em: 7 out. 2007.
SZKLAROWSKY, Leon Frejda. Emenda Constitucional. Revista Consulex. n.
175. Brasília: Consulex, 2004.
86
TESSER, Maria Roseli. A competência cível da Justiça Militar Estadual em
decorrência da Emenda Constitucional n. 45. Jus Militaris, Santa Maria, 18 abr.
2006. Disponível em: <http://www.jusmilitaris.com.br/?secao=doutrina&cat=4>.
Acesso em: 7 out. 2007.
TESSLER, Marga Inga Barth. A competência da Justiça Militar da União com a
provável aprovação da PEC n.º 358/2005. Direito Militar. n. 62. Florianópolis:
AMAJME, 2006.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: Teoria
geral do direito processual civil e processo de conhecimento. 44. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2006.
WAMBIER, Luiz Rodrigues. Breves comentários à nova sistemática
processual civil. 3. ed. São Paulo: RT, 2005.
87
ANEXOS
Anexo I – Artigos de Guerra do Conde de Lippe...................................................88
Anexo II – Lei de Organização Judiciária Militar....................................................92
Anexo III – PEC 358/05........................................................................................131
88
ANEXO I
ARTIGOS DE GUERRA DO CONDE DE LIPPE225
Advertências aos Artigos de Guerra:
1ª - Os artigos de guerra obrigam a todo militar de qualquer grau que seja, e sem
exceção alguma; e servirão de base, ou de leis fundamentais, em todos os conselhos de
guerra.
2ª - Em todos os dias de pagamento, serão lidos na frente das companhias; e nenhum
soldado tomará o juramento de fidelidade às bandeiras sem que, primeiro, lhe sejam lidos
e claramente explicados.
3ª - Depois da publicação dos artigos de guerra, o auditor fará compreender muito bem
aos soldados de recruta a força do juramento, representando-lhes vivamente os castigos
divinos e humanos, com que são punidos os perjuros.
4ª - Isso feito, irá lendo o juramento, o qual irá repetindo, palavra por palavra, aquele que
o tomar.
5ª - Não somente aos soldados de recruta se deferirá, mas também o tomarão aqueles
que tiverem desertado, e se lhes houver perdoado.
ARTIGOS DE GUERRA
Art. 1º - Aquele que recusar, por palavras, ou discursos, obedecer às ordens dos seus
superiores, concernentes ao serviço, será condenado a trabalhar nas fortificações;
porém, se se lhe opuser, servindo-se de qualquer arma, ou ameaça, será arcabuzado.
Art. 2º - Todo o oficial, de qualquer graduação que seja, que, estando melhor informado,
der aos seus superiores, por escrito, ou de boca, sobre qualquer objeto militar, alguma
falsa informação, será expulso com infâmia.
Art. 3º - Todo o oficial, de qualquer graduação que seja, ou oficial inferior, que, sendo
atacado pelo inimigo, desamparar o seu posto sem ordem, será punido de morte. Porém, 225 Texto extraído da Revista de Estudos e Informações: in CHAVES JÚNIOR, Edgard de Brito. Os
artigos de guerra do Conde de Lippe. Revista de Estudos e Informações. n. 9. Belo Horizonte: TJM/MG, 2002, p. 16/18.
89
quando for atacado por um inimigo superior em forças, será preciso provar, perante um
conselho de guerra, que ele fez toda a defesa possível e que não cedeu senão na maior,
e última, extremidade; mas, se tiver ordem expressa para não se retirar, suceda o que
suceder, neste caso, nada o poderá escusar; porque é melhor morrer no seu posto, do
que deixá-lo.
Art. 4º - Todo o militar que cometer uma fraqueza, escondendo-se, ou fugindo quando for
preciso combater, será punido de morte.
Art. 5º - Todo o militar que, em uma batalha, ação, ou combate, ou em outra ocasião de
guerra, der um grito de espanto, como dizendo: - O inimigo nos tem cercado - Nós somos
cortados - Quem puder escapar-se, escape-se -, ou qualquer palavra semelhante que
possa intimidar as tropas, no mesmo instante o matará o primeiro oficial mais próximo
que o ouvir, e, se por acaso isto lhe não suceder, será logo preso e passará pelas armas
por sentença do conselho de guerra.
Art. 6º - Todos são obrigados a respeitar as sentinelas, ou outras guardas; aquele que
não o fizer será castigado rigorosamente; e aquele que atacar qualquer sentinela será
arcabuzado.
Art. 7º - Todos os oficiais inferiores e soldados devem ter toda a devida obediência e
respeito aos seus oficiais, do primeiro até o último em geral.
Art. 8º - Todas as diferenças e disputas são proibidas, sob pena de rigorosa prisão; mas,
se suceder a qualquer soldado ferir o seu camarada à traição, ou o matar, será
condenado ao carrinho perpetuamente, ou castigado com pena de morte, conforme as
circunstâncias.
Art. 9º - Todo soldado deve achar-se onde for mandado, e à hora que se lhe determinar,
posto que não lhe toque, sem murmurar, nem pôr dificuldades; e, se entender que lhe
fizeram injustiça, depois de fazer o serviço, se poderá queixar, porém sempre com toda
moderação.
Art. 10 - Aquele que fizer estrondo, ruído, bulha, ou gritaria ao pé de alguma guarda,
principalmente de noite, será castigado rigorosamente, conforme a intenção com que o
houver feito.
90
Art. 11 - Aquele que faltar a entrar de guarda, ou que for à parada tão bêbado que a não
possa montar, será castigado no dia sucessivo com cinqüenta pancadas de espada de
prancha.
Art. 12 - Se algum soldado se deixar dormir, ou se embebedar estando de sentinela, ou
deixar o seu posto antes de ser rendido, sendo em tempo de paz, será castigado com
cinqüenta pancadas de espada de prancha e condenado por tempo de seis meses a
trabalhar nas fortificações; porém, se for em tempo de guerra, será arcabuzado.
Art. 13 - Nenhuma pessoa, de qualquer grau, ou condição que seja, entrará em qualquer
fortaleza, senão pelas portas, e lugares ordinários, sob pena de morte.
Art. 14 - Todo aquele que desertar, ou que entrar em conspiração de deserção, ou que
sendo informado dela, não a delatar, se for em tempo de guerra, será enforcado; e
aquele que deixar a sua companhia, ou regimento, sem licença, para ir ao lugar do seu
nascimento, ou a qualquer outra parte que seja, será castigado com pena de morte, como
se desertasse para fora do reino e, sendo em tempo de paz, será condenado por seis
anos a trabalhar nas fortificações.
Art. 15 - Todo aquele que for cabeça de motim, ou de traição, ou tiver parte, ou concorrer
para estes delitos, ou souber que se urdem e não delatar a tempo os agressores, será
infalivelmente enforcado.
Art. 16 - Todo aquele que falar mal do seu superior nos corpos de guarda, ou nas
companhias, será castigado aos trabalhos de fortificação; porém, se na indagação que se
fizer, se conhecer que aquela murmuração não fora procedida somente de uma soltura
de língua, mas encaminhada à rebelião, será punido de morte, como cabeça de motim.
Art. 17 - Todo o soldado se deve contentar com a paga, com o quartel e com o uniforme
que se lhe der, e, se se opuser, não o querendo receber, tal qual se lhe der, será tido e
castigado como amotinador.7
Art. 18 - Todos os furtos, e assim mesmo todo gênero de violências para extorquir
dinheiro, ou qualquer gênero, serão punidos severamente; porém aquele furto que se
fizer em armas, munições, ou outras cousas pertencentes a Sua Majestade, ou aquele
que roubar o seu camarada, ou cometer furtos com violência, ou for ladrão de estrada,
perderá a vida conforme as circunstâncias; ou também, se qualquer sentinela cometer
furto, ou consentir que alguém o cometa, será castigado severamente e, conforme as
circunstâncias, incurso em pena capital.
91
Art. 19 - Todo o soldado que não tiver cuidado nas suas armas, no seu uniforme e em
tudo que lhe pertence, que o lançar fora, que o romper, ou arruinar de propósito, e sem
necessidade, e que o vender, empenhar, ou jogar, será, pela primeira e segunda vez,
preso; porém, à terceira, punido de morte.
Art. 20 - Todo soldado deve ter sempre o seu armamento em bom estado e fazer o
serviço com as suas próprias armas; aquele que se servir das alheias, ou as pedir
emprestadas ao seu camarada, será castigado com prisão rigorosa.
Art. 21 - Aquele soldado que contrair dívidas às escondidas dos seus oficiais, será punido
corporalmente.
Art. 22 - Todo aquele que fizer passaportes falsos, ou usar mal de sua habilidade, por
qualquer modo que seja, será punido com rigorosa prisão; porém, se, por este meio,
facilitar a fuga a qualquer desertor, será reputado e punido como desertor.
Art. 23 - Todo o soldado que ocultar um criminoso, ou buscar meios para se escapar
aquele que estiver preso como tal, ou o deixar fugir; ou, sendo encarregado de o guardar,
não puser todas as precauções para este efeito, será posto no lugar do criminoso.
Art. 24 - Se qualquer soldado cometer algum crime estando bêbado, de nenhum modo o
escusará do castigo a bebedice, antes pelo contrário, será punido dobradamente
conforme as circunstâncias do caso.
Art. 25 - Todo o soldado que, de propósito e deliberadamente, se puser incapaz de fazer
o serviço será condenado ao carrinho perpetuamente.
Art. 26 - Nenhum soldado poderá emprestar dinheiro ao seu camarada, nem ao superior.
Art. 27 - Nenhum soldado poderá se casar sem licença do seu coronel.
Art. 28 – Todo o oficial, de qualquer graduação que seja, que se valer do seu emprego
para tirar qualquer lucro, por qualquer maneira que seja, e de que não puder inteiramente
verificar a legalidade, será infalivelmente expulso.
Art. 29 - Todo o militar deve regular os seus costumes pelas regras da virtude, da
candura, e da probidade; deve temer a Deus; reverenciar e amar ao seu Rei, e executar
exatamente as ordens que lhe forem prescritas.
92
ANEXO II
LEI DE ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA MILITAR226
LEI Nº 8.457, DE 4 DE SETEMBRO DE 1992.
Organiza a Justiça Militar da União e
regula o funcionamento de seus Serviços
Auxiliares.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu
sanciono a seguinte lei:
PARTE I
Da Estrutura da Justiça Militar da União
TÍTULO I
Das Disposições Preliminares
Art. 1° São órgãos da Justiça Militar:
I – o Superior Tribunal Militar;
II – a Auditoria de Correição;
III – os Conselhos de Justiça;
IV – os Juízes-Auditores e os Juízes-Auditores Substitutos.
TÍTULO II
Das Circunscrições Judiciárias Militares
Art. 2° Para efeito de administração da Justiça Militar em tempo de paz, o território
nacional divide-se em doze Circunscrições Judiciárias Militares, abrangendo:
226 Texto da Lei n. 8.457, de 04 de setembro de 1992, disponível no portal da Presidência da
República, através do endereço: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8457.htm>. Acesso em 4 fev. 2008.
93
a) a 1ª - Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo;
b) a 2ª - Estado de São Paulo;
c) a 3ª - Estado do Rio Grande do Sul;
d) a 4ª - Estado de Minas Gerais;
e) a 5ª - Estados do Paraná e Santa Catarina;
f) a 6ª - Estados da Bahia e Sergipe;
g) a 7ª - Estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas;
h) a 8ª - Estados do Pará, Amapá e Maranhão;
i) a 9ª - Estados do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso; (Redação dada pela Lei nº 8.719,
de 19.10.93)
j) a 10ª - Estados do Ceará e Piauí;
l) a 11ª - Distrito Federal e Estados de Goiás e Tocantins;
m) a 12ª - Estados do Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia. (Redação dada pela Lei nº
8.719, de 19.10.93)
TÍTULO III
Do Superior Tribunal Militar
CAPÍTULO I
Da Composição
Art. 3° O Superior Tribunal Militar, com sede na Capital Federal e jurisdição em todo o
território nacional, compõe-se de quinze ministros vitalícios, nomeados pelo Presidente
da República, depois de aprovada a indicação pelo Senado Federal, sendo três dentre
oficiais-generais da Marinha, quatro dentre oficiais-generais do Exército e três dentre
oficiais-generais da Aeronáutica, todos da ativa e do posto mais elevado da carreira, e
cinco dentre civis.
94
§ 1° Os Ministros civis são escolhidos pelo Presidente da República, dentre brasileiros
com mais de trinta e cinco e menosde sessenta e cinco anos de idade, sendo:
a) três dentre advogados de notório saber jurídico e conduta ilibada, com mais de dez
anos de efetiva atividade profissional;
b) dois por escolha paritária, dentre Juízes-Auditores e membros do Ministério Público da
Justiça Militar.
§ 2° Os Ministros militares permanecem na ativa, em quadros especiais da Marinha,
Exército e Aeronáutica.
Art. 4° Observadas as disposições legais, o Regimento Interno do Superior Tribunal
Militar poderá instituir Turmas e fixar-lhes a competência, bem como instituir Conselho de
Administração para decidir sobre matéria administrativa da Justiça Militar. (Redação dada
pela Lei nº 9.283, de 13.6.96)
Parágrafo único. O Conselho de Administração será presidido pelo Presidente do
Tribunal e integrado pelo vice-presidente e por mais três ministros, conforme dispuser o
Regimento Interno. (Parágrafo incluído pela Lei nº 9.283, de 13.6.96)
Art. 5° A eleição do Presidente e Vice-Presidente do Tribunal obedecerá ao disposto em
seu regimento interno.
CAPÍTULO II
Da Competência
SEÇÃO I
Da Competência do Superior Tribunal Militar
Art. 6° Compete ao Superior Tribunal Militar:
I – processar e julgar originariamente:
a) os oficiais generais das Forças Armadas, nos crimes militares definidos em lei;
(Redação dada pela Lei nº 8.719, de 19.10.93)
95
b) o Juiz-Auditor Corregedor, os Juízes-Auditores, os Juízes-Auditores Substitutos, os
membros do Ministério Público Militar e os Defensores Públicos junto à Justiça Militar,
nos crimes referidos na alínea a deste artigo; (Revogada pela Lei nº 8.719, de 19.10.93)
c) os pedidos de habeas corpus e habeas data, nos casos permitidos em lei;
d) o mandado de segurança contra seus atos, os do Presidente do Tribunal e de outras
autoridades da Justiça Militar;
e) a revisão dos processos findos na Justiça Militar;
f) a reclamação para preservar a integridade da competência ou assegurar a autoridade
de seu julgado;
g) os procedimentos administrativos para decretação da perda do cargo e da
disponibilidade de seus membros e demais magistrados da Justiça Militar, bem como
para remoção, por motivo de interesse público, destes últimos, observado o Estatuto da
Magistratura;
h) a representação para decretação de indignidade de oficial ou sua incompatibilidade
para com o oficialato;
i) a representação formulada pelo Ministério Público Militar, Conselho de Justiça, Juiz-
Auditor e advogado, no interesse da Justiça Militar;
II - julgar:
a) os embargos apostos às suas decisões;
b) os pedidos de correição parcial;
c) as apelações e os recursos de decisões dos juízes de primeiro grau;
d) os incidentes processuais previstos em lei;
e) os agravos regimentais e recursos contra despacho de relator, previstos em lei
processual militar ou no regimento interno;
f) os feitos originários dos Conselhos de Justificação;
96
g) os conflitos de competência entre Conselhos de Justiça, entre Juízes-Auditores, ou
entre estes e aqueles, bem como os de atribuição entre autoridades administrativa e
judiciária militares;
h) os pedidos de desaforamento;
i) as questões administrativas e recursos interpostos contra atos administrativos
praticados pelo Presidente do Tribunal;
j) os recursos de penas disciplinares aplicadas pelo Presidente do Tribunal, Corregedor
da Justiça Militar e Juiz-Auditor;
III – declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, pelo voto
da maioria absoluta de seus membros;
IV – restabelecer a sua competência quando invadida por juiz de primeira instância,
mediante avocatória;
V – resolver questão prejudicial surgida no curso de processo submetido a seu
julgamento;
VI – determinar medidas preventivas e assecuratórias previstas na lei processual penal
militar, em processo originário ou durante julgamento de recurso, em decisão sua ou por
intermédio do relator;
VII – decretar prisão preventiva, revogá-la ou restabelecê-la, de ofício ou mediante
representação da autoridade competente, nos feitos de sua competência originária;
VIII – conceder ou revogar menagem e liberdade provisória, bem como aplicar medida
provisória de segurança nos feitos de sua competência originária;
IX – determinar a restauração de autos extraviados ou destruídos, na forma da lei;
X – remeter à autoridade competente cópia de peça ou documento constante de
processo sob seu julgamento, para o procedimento legal cabível, quando verificar a
existência de indícios de crime;
XI – deliberar sobre o plano de correição proposto pelo Corregedor da Justiça Militar e
determinar a realização de correição geral ou especial em Auditoria;
97
XII – elaborar seu regimento interno com observância das normas de processo e das
garantias processuais das partes, dispondo sobre a competência e funcionamento dos
respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos, bem como decidir os pedidos de
uniformização de sua jurisprudência;
XIII – organizar suas Secretarias e Serviços Auxiliares, bem como dos juízos que lhe
forem subordinados, provendo-lhes os cargos, na forma da lei;
XIV – propor ao Poder Legislativo, observado o disposto na Constituição Federal:
a) alteração do número de membros dos tribunais inferiores;
b) a criação e a extinção de cargos e fixação de vencimentos dos seus membros, do Juiz-
Auditor Corregedor, dos Juízes-Auditores, dos Juízes-Auditores Substitutos e dos
Serviços Auxiliares;
c) a criação ou a extinção de Auditoria da Justiça Militar;
d) a alteração da organização e da divisão judiciária militar;
XV – eleger seu Presidente e Vice-Presidente e dar-lhes posse; dar posse a seus
membros, deferindo-lhes o compromisso legal;
XVI – conceder licença, férias e outros afastamentos a seus membros, ao Juiz-Auditor
Corregedor, aos Juízes-Auditores, Juízes-Auditores Substitutos e servidores que lhe
forem imediatamente vinculados;
XVII – aplicar sanções disciplinares aos magistrados;
XVIII – deliberar, para efeito de aposentadoria, sobre processo de verificação de invalidez
de magistrado;
XIX – nomear Juiz-Auditor Substituto e promovê-lo, pelos critérios alternados de
antigüidade e merecimento;
XX – determinar a instauração de sindicância, inquérito e processo administrativo,
quando envolvido magistrado ou servidores da Justiça Militar;
XXI – demitir servidores integrantes dos Serviços Auxiliares;
98
XXII – aprovar instruções para realização de concurso para ingresso na carreira da
Magistratura e para o provimento dos cargos dos Serviços Auxiliares;
XXIII – homologar o resultado de concurso público e de processo seletivo interno;
XXIV – remover Juiz-Auditor e Juiz-Auditor Substituto, a pedido ou por motivo de
interesse público;
XXV – remover, a pedido ou ex officio, servidores dos Serviços Auxiliares;
XXVI – apreciar reclamação apresentada contra lista de antigüidade dos magistrados;
XXVII – apreciar e aprovar proposta orçamentária elaborada pela Presidência do
Tribunal, dentro dos limites estipulados conjuntamente com os demais Poderes na Lei de
Diretrizes Orçamentárias;
XXVIII – praticar os demais atos que lhe são conferidos por lei.
§ 1° O Tribunal pode delegar competência a seu Presidente para concessão de licenças,
férias e outros afastamentos a magistrados de primeira instância e servidores que lhe
sejam imediatamente vinculados, bem como para o provimento de cargos dos Serviços
Auxiliares.
§ 2º Ao Conselho de Administração, após a sua instituição, caberá deliberar sobre
matéria administrativa, conforme dispuser o Regimento Interno. (Parágrafo incluído pela
Lei nº 9.283, de 13.6.96)
§ 3° É de dois terços dos membros do Tribunal o quorum para julgamento das hipóteses
previstas nos incisos I, alíneas h e i, II, alínea f, XVIII e XXIV, parte final, deste artigo.
(Parágrafo renumerado pela Lei nº 9.283, de 13.6.96)
§ 4° As decisões do Tribunal, judiciais e administrativas, são tomadas por maioria de
votos, com a presença de, no mínimo, oito ministros, dos quais, pelo menos, quatro
militares e dois civis, salvo quorum especial exigido em lei. (Parágrafo renumerado pela
Lei nº 9.283, de 13.6.96)
Art. 7° O regimento interno disciplinará o procedimento e o julgamento dos feitos,
obedecido o disposto na Constituição Federal, no Código de Processo Penal Militar e
nesta lei.
99
Art. 8° Após a distribuição e até a inclusão em pauta para julgamento, o relator conduz o
processo, determinando a realização das diligências que entender necessárias.
Parágrafo único. Na fase a que se refere este artigo, cabe ao relator adotar as medidas
previstas nos incisos V, VI, VII e VIII do art. 6° desta lei.
SEÇÃO II
Da Competência do Presidente
Art. 9° Compete ao Presidente:
I – dirigir os trabalhos do Tribunal, presidir as sessões plenárias e proclamar as decisões;
II – manter a regularidade dos trabalhos do Tribunal, mandando retirar do recinto as
pessoas que perturbarem a ordem, autuando-as no caso de flagrante delito;
III – representar o Tribunal em suas relações com outros poderes e autoridades;
IV – corresponder-se com autoridades, sobre assuntos de interesse do Tribunal e da
Justiça Militar;
V – praticar todos os atos processuais nos recursos e feitos de competência originária do
Tribunal, antes da distribuição e depois de exaurida a competência do relator;
VI – declarar, no caso de empate, a decisão mais favorável ao réu ou paciente;
VII – proferir voto nas questões administrativas, inclusive o de qualidade, no caso de
empate, exceto em recurso de decisão sua;
VIII – decidir questões de ordem suscitadas por Ministro, por representante do Ministério
Público Militar ou por advogado, ou submetê-las ao Tribunal, se a este couber a decisão;
IX – conceder a palavra ao representante do Ministério Público Militar e a advogado, pelo
tempo permitido em lei e no regimento interno, podendo, após advertência, cassá-la no
caso de linguagem desrespeitosa;
X – conceder a palavra, pela ordem, ao representante do Ministério Público Militar e a
advogado que funcione no feito, para, mediante intervenção sumária, esclarecer
equívoco ou dúvida em relação a fatos, documentos ou afirmações que possam influir no
julgamento;
100
XI – convocar sessão extraordinária nos casos previstos em lei ou no regimento interno;
XII – suspender a sessão quando necessário à ordem e resguardo de sua autoridade;
XIII – presidir a audiência pública de distribuição dos feitos;
XIV – providenciar o cumprimento dos julgados do Tribunal e sua execução nos
processos de competência originária;
XV – decidir sobre o cabimento de recurso extraordinário, determinando, em caso de
admissão, seu processamento, nos termos da lei;
XVI – prestar às autoridades judiciárias informações requisitadas para instrução de feitos,
podendo consultar o relator do processo principal, se houver;
XVII – assinar com o relator e o revisor, ou somente com aquele, quando for o caso, os
acórdãos do Tribunal e, com o Secretário do Tribunal Pleno, as atas das sessões;
XVIII – decidir sobre liminar em habeas corpus, durante as férias e feriados forenses,
podendo ouvir previamente o Ministério Público;
XIX – expedir salvo-conduto a paciente beneficiado com habeas corpus, preventivo;
XX – requisitar força federal ou policial para garantia dos trabalhos do Tribunal ou de
seus Ministros;
XXI – requisitar oficial de posto mais elevado, ou do mesmo posto de maior antigüidade,
para conduzir oficial condenado presente à sessão de julgamento, observada a Força a
que este pertencer;
XXII – convocar para substituir Ministros, os oficiais-generais das Forças Armadas e
magistrados, na forma do disposto no art. 62, incisos II, III, IV e V, desta lei;
XXIII – adotar providências para realização de concurso público e processo seletivo
interno;
XXIV – expedir atos sobre matéria de sua competência, bem como assinar os de
provimento e vacância dos cargos dos Serviços Auxiliares;
XXV – (Vetado)
101
XXVI – dar posse e deferir o compromisso legal a Juiz-Auditor Substituto e a todos os
nomeados para cargos do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores do Quadro da
Secretaria do Tribunal;
XXVII – velar pelo funcionamento regular da Justiça Militar e perfeita exação das
autoridades judiciárias e servidores no cumprimento de seus deveres, expedindo
portarias, recomendações e provimentos que se fizerem necessários;
XXVIII – designar, observada a ordem de antigüidade, Juiz-Auditor para exercer a função
de Diretor do Foro, definindo suas atribuições;
XXIX – conhecer de representação formulada contra servidores, por falta de exação no
cumprimento do dever;
XXX – determinar a instauração de sindicância, inquérito e processo administrativo,
exceto quanto a magistrado;
XXXI – aplicar penas disciplinares da sua competência, reconsiderá-las, relevá-las e
revê-las;
XXXII – providenciar a publicação mensal de dados estatísticos sobre os trabalhos do
Tribunal;
XXXIII – apresentar ao Tribunal, até o dia 15 de março, anualmente, relatório
circunstanciado das atividades dos órgãos da Justiça Militar;
XXXIV – determinar a publicação anual da lista de antigüidade dos magistrados;
XXXV – comunicar ao Presidente da República a ocorrência de vaga de Ministro,
indicando, no caso de Ministro civil, o critério de provimento;
XXXVI – conceder licença e férias aos servidores que lhe são diretamente subordinados;
XXXVII – encaminhar a proposta orçamentária aprovada pelo Tribunal e gerir os recursos
orçamentários da Justiça Militar, podendo delegar competência na forma da lei;
XXXVIII – praticar os demais atos que lhe forem atribuídos em lei e no regimento interno.
§ 1º Durante as férias coletivas, pode o Presidente, ou seu substituto legal, decidir de
pedido liminar em mandado de segurança, determinar liberdade provisória ou sustação
102
de ordem de prisão, e demais medidas que reclamem urgência, devendo, em qualquer
caso, após as férias, o feito prosseguir, na forma da lei.
§ 2º O Presidente do Tribunal, de comum acordo com o Vice-Presidente, pode delegar-
lhe atribuições.
§ 3º A providência enunciada no inciso XIV, 2ª parte, deste artigo pode ser delegada a
Juiz-Auditor, com jurisdição no local onde os atos executórios devam ser praticados.
SEÇÃO III
Da Competência do Vice-Presidente
Art. 10. Compete ao Vice-Presidente:
a) substituir o Presidente nas licenças, férias, faltas e impedimentos, assumindo a
presidência, em caso de vaga, até a posse do novo titular, na forma do regimento interno;
b) exercer funções judicante e relatar os processos que lhe forem distribuídos;
c) desempenhar atribuições delegadas pelo Presidente do Tribunal, na forma do § 2º do
artigo anterior.
Parágrafo único. Quando no exercício temporário da presidência, não serão
redistribuídos os feitos em que o Vice-Presidente for relator ou revisor.
TÍTULO IV
Dos Órgãos de Primeira Instância da Justiça Militar
CAPÍTULO I
Das Disposições Preliminares
Art. 11. A cada Circunscrição Judiciária Militar corresponde uma Auditoria, excetuadas as
primeira, segunda, terceira e décima primeira, que terão:
a) a primeira: seis Auditorias;
a) a primeira: 4 (quatro) Auditorias;(Redação dada pelo Lei nº 10.333, de 19.12.2001)
b) a terceira três Auditorias;
103
c) a segunda e a décima primeira: duas Auditorias.
§ 1º Nas Circunscrições com mais de uma Auditoria, essas são designadas por ordem
numérica.
§ 2º As Auditorias tem jurisdição mista, cabendo-lhes conhecer dos feitos relativos à
Marinha, Exército e Aeronáutica.
§ 3º Nas Circunscrições em que houver mais de uma Auditoria e sedes coincidentes, a
distribuição dos feitos cabe ao Juiz-Auditor mais antigo.
§ 4º Nas circunscrições em que houver mais de uma Auditoria com sede na mesma
cidade, a distribuição dos feitos relativos a crimes militares, quando indiciados somente
civis, faz-se, indistintamente, entre as Auditorias, pelo Juiz-Auditor mais antigo.
CAPÍTULO II
Da Auditoria de Correição
SEÇÃO ÚNICA
Da Composição e Competência
Art. 12. A Auditoria de Correição é exercida pelo Juiz-Auditor Corregedor, com jurisdição
em todo o território nacional.
Art. 13. A Auditoria de Correição, órgão de fiscalização e orientação judiciário-
administrativa, compõe-se de Juiz-Auditor Corregedor, um Diretor de Secretaria e
auxiliares constantes de quadro previsto em lei.
Art. 14. Compete ao Juiz-Auditor Corregedor:
I – proceder às correições:
a) gerais e especiais nas Auditorias, na forma desta lei;
b) nos processos findos;
c) nos autos de inquérito mandados arquivar pelo Juiz-Auditor, representando ao
Tribunal, mediante despacho fundamentado, desde que entenda existente indícios de
crime e de autoria;
104
d) nos autos em andamento nas Auditorias, de ofício, ou por determinação do Tribunal;
II – apresentar ao Tribunal, para aprovação, o plano bianual de correição;
III – comunicar ao Presidente do Tribunal fato que exija pronta solução, verificado durante
correição, independentemente das providências de sua alçada;
IV – baixar provimentos necessários ao bom funcionamento dos serviços que lhe
incumbe fiscalizar;
V – requisitar de autoridades judiciária e administrativa, civil ou militar, as informações
que julgar necessárias ao exercício de suas funções;
VI – instaurar procedimento administrativo para apuração de falta cometida por servidor
que lhe seja subordinado, e aplicar pena disciplinar, ressalvada a competência do
Tribunal e de seu Presidente;
VII – providenciar a uniformização de livros, registros e impressos necessários ao bom
andamento dos serviços nas Auditorias, observados os modelos instituídos em lei;
VIII – praticar os demais atos que lhe forem atribuídos em lei.
Parágrafo único. As correições gerais a que se refere este artigo compreendem o exame
dos processos em andamento, dos livros e documentos existentes na Auditoria e a
verificação das providências relativas a medidas preventivas e assecuratórias para o
resguardo de bens da Fazenda Pública, sob a administração militar.
CAPÍTULO III
Das Auditorias e dos Conselhos de Justiça
SEÇÃO I
Da Composição das Auditorias
Art. 15. Cada Auditoria tem um Juiz-Auditor, um Juiz-Auditor Substituto, um Diretor de
Secretaria, dois Oficiais de Justiça Avaliadores e demais auxiliares, conforme quadro
previsto em lei.
SEÇÃO II
105
Da Composição dos Conselhos
Art. 16. São duas as espécies de Conselhos de Justiça:
a) Conselho Especial de Justiça, constituído pelo Juiz-Auditor e quatro Juízes militares,
sob a presidência, dentre estes, de um oficial-general ou oficial superior, de posto mais
elevado que o dos demais juízes, ou de maior antigüidade, no caso de igualdade;
b) Conselho Permanente de Justiça, constituído pelo Juiz-Auditor, por um oficial superior,
que será o presidente, e três oficiais de posto até capitão-tenente ou capitão.
Art. 17. Os Conselhos Especial e Permanente funcionarão na sede das Auditorias, salvo
casos especiais por motivo relevante de ordem pública ou de interesse da Justiça e pelo
tempo indispensável, mediante deliberação do Superior Tribunal Militar.
Art. 18. Os juízes militares dos Conselhos Especial e Permanente são sorteados dentre
oficiais da Marinha, Exército e Aeronáutica, em serviço ativo na sede da Auditoria,
recorrendo-se a oficiais fora deste local, porém no âmbito da jurisdição da Auditoria,
quando insuficientes os da sede.
Art. 18. Os juízes militares dos Conselhos Especial e Permanente são sorteados dentre
oficiais de carreira, da sede da Auditoria, com vitaliciedade assegurada, recorrendo-se a
oficiais no âmbito de jurisdição da Auditoria se insuficientes os da sede e, se persistir a
necessidade, excepcionalmente a oficiais que sirvam nas demais localidades abrangidas
pela respectiva Circunscrição Judiciária Militar.(Redação dada pela Lei nº 10.445, de
7.5.2002)
Art. 19. Para efeito de composição dos conselhos de que trata o artigo anterior, nas
respectivas Circunscrições, os comandantes de Distrito ou Comando Naval, Região
Militar e Comando Aéreo Regional organizarão, trimestralmente, relação de todos os
oficiais em serviço ativo, com respectivos posto, antigüidade e local de serviço,
publicando-a em boletim e remetendo-a ao Juiz-Auditor competente.
§ 1° A remessa a que se refere esse artigo será efetuada até o quinto dia do último mês
do trimestre e as alterações que se verificarem, inclusive os nomes de novos oficiais em
condições de servir, serão comunicadas mensalmente.
§ 2° Não sendo remetida no prazo a relação de oficiais, serão os Juízes sorteados pela
última relação recebida, consideradas as alterações de que trata o parágrafo anterior.
106
§ 3° A relação não incluirá:
a) os oficiais dos Gabinetes dos Ministros de Estado;
b) os oficiais agregados;
c) os comandantes, diretores ou chefes, professores instrutores e alunos de escolas,
institutos, academias, centros e cursos de formação, especialização, aperfeiçoamento,
Estado-Maior e altos estudos;
d) na Marinha: os Almirantes-de-Esquadra e oficiais que sirvam em seus gabinetes, os
Comandantes de Distrito Naval e de Comando Naval, o Vice-Chefe do Estado-Maior da
Armada, o Chefe do Estado-Maior do Comando de Operações Navais e os oficiais
embarcados na tropa, em condições de, efetivamente, participar de atividades operativas
programadas para o trimestre;
e) no Exército: os Generais-de-Exército, Generais Comandantes de Divisão de Exército e
de Região Militar, bem como os respectivos Chefes de Estado-Maior ou de Gabinete e
oficiais do Estado-Maior Pessoal;
f) na Aeronáutica: os Tenentes-Brigadeiros, bem como seus Chefes de Estado-Maior ou
de Gabinete, Assistente e Ajudantes-de-Ordens, ou Vice-Chefe e o Subchefe do Estado-
Maior da Aeronáutica.
Art. 20. O sorteio dos juízes do Conselho Especial de Justiça é feito pelo Juiz-Auditor, em
audiência pública, na presença do Procurador, do Diretor de Secretaria e do acusado,
quando preso.
Art. 21. O sorteio dos juízes do Conselho Permanente de Justiça é feito pelo Juiz-Auditor,
em audiência pública, entre os dias cinco e dez do último mês do trimestre anterior, na
presença do Procurador e do Diretor de Secretaria.
Parágrafo único. Para cada Conselho Permanente, são sorteados dois juízes suplentes,
sendo um oficial superior - que substituirá o Presidente em suas faltas e impedimentos
legais e um oficial até o posto de capitão-tenente ou capitão, que substituirá os demais
membros nos impedimentos legais.
Art. 22. Do sorteio a que se referem os arts. 20 e 21 desta lei, lavrar-se-á ata, em livro
próprio, com respectivo resultado, certificando o Diretor de Secretaria, em cada processo,
além do sorteio, o compromisso dos juízes.
107
Parágrafo único. A ata é assinada pelo Juiz-Auditor e pelo Procurador, cabendo ao
primeiro comunicar imediatamente à autoridade competente o resultado do sorteio, para
que esta ordene o comparecimento dos juízes à sede da Auditoria, no prazo fixado pelo
juiz.
Art. 23. Os juízes militares que integrarem os Conselhos Especiais serão de posto
superior ao do acusado, ou do mesmo posto e de maior antigüidade.
§ 1° O Conselho Especial é constituído para cada processo e dissolvido após conclusão
dos seus trabalhos, reunindo-se, novamente, se sobrevier nulidade do processo ou do
julgamento, ou diligência determinada pela instância superior.
§ 2º No caso de pluralidade de agentes, servirá de base à constituição do Conselho
Especial a patente do acusado de maior posto.
§ 3° Se a acusação abranger oficial e praça ou civil, responderão todos perante o mesmo
conselho, ainda que excluído do processo o oficial.
§ 4° No caso de impedimento de algum dos juízes, será sorteado outro para substituí-lo,
observado o disposto no parágrafo único do art. 21 desta lei.
§ 4o No caso de impedimento de algum dos juízes, será sorteado outro para substituí-
lo.(Redação dada pela Lei nº 10.445, de 7.5.2002)
Art. 24. O Conselho Permanente, uma vez constituído, funcionará durante três meses
consecutivos, coincidindo com os trimestres do ano civil, podendo o prazo de sua
jurisdição ser prorrogado nos casos previstos em lei.
Parágrafo único. O oficial que tiver integrado Conselho Permanente não será sorteado
para o trimestre imediato, salvo se para sua constituição houver insuficiência de oficiais.
Art. 25. Os Conselhos Especial e Permanente de Justiça podem instalar-se e funcionar
com a maioria de seus membros, sendo obrigatória a presença do Juiz-Auditor e do
Presidente, observado o disposto no art. 31, alíneas a e b desta lei.
§ 1° As autoridades militares mencionadas no art. 19 desta lei devem comunicar ao Juiz-
Auditor a falta eventual do juiz militar.
§ 2° Na sessão de julgamento são obrigatórios a presença e voto de todos os juízes.
108
Art. 26. Os juízes militares dos Conselhos Especial e Permanente ficarão dispensados do
serviço em suas organizações, nos dias de sessão.
§ 1° O Juiz-Auditor deve comunicar a falta do juiz militar, sem motivo justificado, ao seu
superior hierárquico, para as providências cabíveis.
§ 2° Aplica-se o disposto no parágrafo anterior ao Juiz-Auditor, aos representantes da
Defensoria Pública da União e Ministério Público Militar e respectivos Substitutos,
devendo a comunicação ser efetivada pelo Presidente do Conselho ao Presidente do
Superior Tribunal Militar, ou à autoridade competente, conforme o caso.
SEÇÃO III
Da Competência dos Conselhos de Justiça
Art. 27. Compete aos conselhos:
I – Especial de Justiça, processar e julgar oficiais, exceto oficiais-generais, nos delitos
previstos na legislação penal militar,
II – Permanente de Justiça, processar e julgar acusados que não sejam oficiais, nos
delitos de que trata o inciso anterior, excetuado o disposto no art. 6°, inciso I, alínea b,
desta lei.
Art. 28. Compete ainda aos conselhos:
I – decretar a prisão preventiva de acusado, revogá-la ou restabelecê-la;
II – conceder menagem e liberdade provisória, bem como revogá-las;
III – decretar medidas preventivas e assecuratórias, nos processos pendentes de seu
julgamento;
IV – declarar a inimputabilidade de acusado nos termos da lei penal militar, quando
constatada aquela condição no curso do processo, mediante exame pericial;
V – decidir as questões de direito ou de fato suscitadas durante instrução criminal ou
julgamento;
VI – ouvir o representante do Ministério Público sobre as questões suscitadas durante as
sessões;
109
VII – conceder a suspensão condicional da pena, nos termos da lei;
VIII – praticar os demais atos que lhe forem atribuídos em lei.
SEÇÃO IV
Da Competência dos Presidentes dos Conselhos de Justiça
Art. 29. Compete aos Presidentes dos Conselhos Especial e Permanente de Justiça:
I – abrir as sessões, presidi-las, apurar e proclamar as decisões do conselho;
II – mandar proceder à leitura da ata da sessão anterior;
III – nomear defensor ao acusado que não o tiver e curador ao revel ou incapaz;
IV – manter a regularidade dos trabalhos da sessão, mandando retirar do recinto as
pessoas que portarem armas ou perturbarem a ordem, autuando-as no caso de flagrante
delito;
V – conceder a palavra ao representante do Ministério Público Militar, ou assistente, e ao
defensor, pelo tempo previsto em lei, podendo cassá-la após advertência, no caso de
linguagem desrespeitosa;
VI – resolver questões de ordem suscitadas pelas partes ou submetê-las à decisão do
conselho, ouvido o Ministério Público;
VII – mandar consignar em ata incidente ocorrido no curso da sessão.
SEÇÃO V
Da Competência do Juiz-Auditor
Art. 30. Compete ao Juiz-Auditor:
I – decidir sobre recebimento de denúncia, pedido de arquivamento, de devolução de
inquérito e representação;
II – relaxar, quando ilegal, em despacho fundamentado, a prisão que lhe for comunicada
por autoridade encarregada de investigações policiais;
110
III – manter ou relaxar prisão em flagrante, decretar, revogar e restabelecer a prisão
preventiva de indiciado, mediante despacho fundamentado em qualquer caso;
IV – requisitar de autoridades civis e militares as providências necessárias ao andamento
do feito e esclarecimento do fato;
V – determinar a realização de exames, perícias, diligências e nomear peritos;
VI – formular ao réu, ofendido ou testemunha suas perguntas e as requeridas pelos
demais juízes, bem como as requeridas pelas partes para serem respondidas por
ofendido ou testemunha;
VII – relatar os processos nos Conselhos de Justiça e redigir, no prazo de oito dias, as
sentenças e decisões;
VIII – proceder ao sorteio dos conselhos, observado o disposto nos arts. 20 e 21 desta
lei;
IX – expedir alvará de soltura e mandados;
X – decidir sobre o recebimento de recursos interpostos;
XI – executar as sentenças, inclusive as proferidas em processo originário do Superior
Tribunal Militar, na hipótese prevista no § 3° do art. 9° desta lei;
XII – renovar, de seis em seis meses, diligências junto às autoridades competentes, para
captura de condenado;
XIII – comunicar, à autoridade a que estiver subordinado o acusado, as decisões a ele
relativas;
XIV – decidir sobre livramento condicional;
XV – revogar o benefício da suspensão condicional da pena;
XVI – remeter à Corregedoria da Justiça Militar, no prazo de dez dias, os autos de
inquéritos arquivados e processos julgados, quando não interpostos recursos;
XVII – encaminhar relatório ao Presidente do Tribunal, até o dia trinta de janeiro, dos
trabalhos da Auditoria, relativos ao ano anterior;
111
XVIII – instaurar procedimento administrativo quando tiver ciência de irregularidade
praticada por servidor que lhe é subordinado;
XIX – aplicar penas disciplinares aos servidores que lhe são subordinados;
XX – dar posse, conceder licenças, férias e salário-família aos servidores da Auditoria;
XXI – autorizar, na forma da lei, o pagamento de auxílio-funeral de magistrado e dos
servidores lotados na Auditoria;
XXII – distribuir alternadamente, entre si e o Juiz-Auditor Substituto e, quando houver, o
Substituto de Auditor estável, os efeitos aforados na Auditoria, obedecida a ordem de
entrada;
XXIII – cumprir as normas legais relativas às gestões administrativa, financeira e
orçamentária e ao controle de material;
XXIV – praticar os demais atos que lhe forem atribuídos em lei.
Parágrafo único. Compete ao Juiz-Auditor Substituto praticar todos os atos enumerados
neste artigo, com exceção dos atos previstos nos incisos VIII, XVII, XVIII, XIX, XX, XXI,
XXII e XXIII, que lhes são deferidos somente durante as férias e impedimentos do Juiz-
Auditor. (Redação dada pela Lei nº 8.719, de 19.10.93)
SEÇÃO VI
Das Substituições dos Juízes Militares
Art. 31. Os juízes militares são substituídos em suas licenças, faltas e impedimentos:
Art. 31. Os juízes militares são substituídos em suas licenças, faltas e impedimentos, bem
como nos afastamentos de sede por movimentação, que decorram de requisito de
carreira, ou por outro motivo justificado e reconhecido pelo Superior Tribunal Militar como
de relevante interesse para a administração militar.(Redação dada pela Lei nº 10.445, de
7.5.2002)
a) o Presidente de Conselho Especial, por oficial-general ou oficial superior, imediato em
posto ou antigüidade, e, na falta destes na composição do conselho, mediante sorteio,
observado o disposto no art. 16, alínea a, desta lei;
b) o Presidente de Conselho Permanente, por oficial superior, na forma do art. 21,
112
parágrafo único, desta lei, e, na sua falta, mediante sorteio;
c) os juízes de Conselho Especial, mediante sorteio;
d) os juízes de Conselho Permanente, pelos suplentes previstos no art. 21, parágrafo
único, desta lei e, na falta destes, mediante sorteio.
§ 1° Quando sorteado oficial em gozo de férias, ou no desempenho de comissão ou
serviço fora da sede da Auditoria, ocorrerá sua definitiva substituição.
§ 2° Aplica-se o disposto no parágrafo anterior ao juiz militar que for preso, responder a
inquérito ou processo, entrar em licença ou deixar o serviço ativo das Forças Armadas,
bem como ao juiz de Conselho Permanente que for promovido a oficial superior.
§ 3° Em caso de luto, casamento e dispensa médica por prazo igual ou inferior a vinte
dias, far-se-á, a substituição do juiz militar, pelo período do afastamento.(Revogado pela
Lei nº 10.445, de 7.5.2002)
TÍTULO V
Dos Magistrados
CAPÍTULO I
Das Disposições Gerais
Art. 32. Aplicam-se aos Ministros do Superior Tribunal Militar, Juízes Auditores e Juízes
Substitutos as disposições do Estatuto da Magistratura, desta lei e, subsidiariamente, as
do Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos Civis da União.
CAPÍTULO II
Do Provimento dos Cargos e da Remoção
Art. 33. O ingresso na carreira da Magistratura da Justiça Militar dar-se-á no cargo de
Juiz-Auditor Substituto, mediante concurso público de provas e títulos organizado e
realizado pelo Superior Tribunal Militar, com a participação da Ordem dos Advogados do
Brasil, em todas as suas fases.
Parágrafo único. A nomeação dar-se-á com estrita observância da ordem de classificação
no concurso.
Art. 34. Exigir-se-á dos candidatos a satisfação dos seguintes requisitos, além de outros
previstos no Estatuto da Magistratura:
113
I – ser brasileiro;
II – ter mais de vinte e cinco e menos de quarenta anos de idade, salvo se ocupante de
cargo ou função pública;
III – estar no gozo dos direitos políticos;
IV – ser bacharel em Direito, graduado por estabelecimento oficial ou reconhecido;
V – haver exercido durante três anos, no mínimo, no último decênio, a advocacia,
magistério jurídico em nível superior ou função que confira prática forense;
VI – ser moralmente idôneo e gozar de boa saúde física e mental, comprovada a última
pela aplicação de teste de personalidade por órgão oficial especializado e no curso de
inspeção de saúde.
§ 1° Das instruções do concurso constarão os programas das diversas disciplinas, a
constituição da Comissão Examinadora, vagas existentes e sua localização, assim como
outros esclarecimentos reputados, úteis aos candidatos, inclusive ao direito assegurado
no art. 38 desta lei.
§ 2° O concurso terá validade por dois anos, contados da homologação, prorrogável uma
vez, por igual período.
Art. 35. As nomeações e promoções serão feitas por ato do Superior Tribunal Militar.
Art. 36. A promoção ao cargo de Juiz-Auditor é feita dentre os Juízes-Auditores
Substitutos e obedece aos critérios de antigüidade e merecimento, alternadamente,
observado o seguinte:
a} na apuração da antigüidade, o Tribunal somente pode recusar o juiz mais antigo pelo
voto de dois terços de seus membros, conforme procedimento próprio, repetindo-se a
votação até fixar-se a indicação;
b) havendo simultaneidade na posse, a promoção por antigüidade recairá
preferentemente sobre o de melhor classificação no concurso de ingresso na carreira;
c) é obrigatória a promoção de juiz que figure por três vezes consecutivas, ou cinco
alternadas, em lista de merecimento, desde que conte dois anos de efetivo exercício e
integre a primeira quinta parte da lista de antigüidade;
114
d) a promoção por merecimento pressupõe dois anos de exercício no cargo, salvo se não
houver com tal requisito quem aceite a vaga;
e) aferição do merecimento pelos critérios de presteza e segurança no exercício da
jurisdição e, ainda, pela freqüência e aproveitamento em cursos reconhecidos de
aperfeiçoamento;
f) o merecimento do magistrado de primeira instância é aferido no efetivo exercício do
cargo.
Art. 37. O magistrado não será removido ou promovido senão com seu assentimento,
manifestado na forma da lei, ressalvada a remoção compulsória.
Art. 38. Ao provimento inicial e à promoção por merecimento precederá a remoção,
observando-se, para preferência, a ordem de antigüidade para o Juiz-Auditor e a ordem
de classificação em concurso público para o Juiz-Auditor Substituto, quando os
concorrentes forem do mesmo concurso e, sendo eles de concursos diferentes, a ordem
de antigüidade na classe.
§ 1° Preenchido o claro em decorrência de remoção publica-se notícia da vaga, fixando-
se prazo de quinze dias contado da publicação, aos interessados, para requererem.
§ 2º O candidato habilitado em concurso público, no momento de sua nomeação,
somente pode optar por vaga existente após terem-se pronunciado os Juízes Substitutos
que tiverem interesse em remoção.
§ 3° Somente após dois anos de exercício na Auditoria onde estiver lotado, pode o juiz
ser removido, salvo se não houver candidato com tal requisito.
Art. 39. A nomeação para cargo de Juiz-Auditor Corregedor é feita mediante escolha do
Superior Tribunal Militar, em escrutínio secreto, dentre Juízes-Auditores situados no
primeiro terço da classe.
CAPÍTULO III
Da Posse e do Exercício
Art. 40. A posse terá lugar no prazo de trinta dias, contado da publicação do ato de
provimento no órgão oficial.
115
Parágrafo único. A requerimento do interessado, o prazo previsto neste artigo poderá, a
critério do Tribunal ou do seu Presidente, ser prorrogado por igual período.
Art. 41. Do termo de posse, assinado pela autoridade competente e pelo magistrado,
constará o compromisso de desempenhar com retidão as funções do cargo, cumprindo a
Constituição e as leis.
§ 1° O magistrado, no ato da posse, deverá apresentar declaração pública de seus bens.
§ 2° Não haverá posse nos casos de remoção, promoção e reintegração.
Art. 42. São competentes para dar posse:
I – o Superior Tribunal Militar a seus Ministros;
II – o Presidente do Superior Tribunal Militar ao Juiz-Auditor Corregedor e a Juiz-Auditor
Substituto.
Art. 43. As datas de início, interrupção e reinício do exercício devem ser comunicadas
imediatamente ao Tribunal, para registro no assentamento individual do magistrado.
Art. 44. O exercício do cargo terá início no prazo de trinta dias, contado:
I – da data da posse;
II – da data da publicação oficial do ato, no caso de reintegração.
Art. 45. É considerado como de efetivo exercício o período de tempo necessário à viagem
para a nova sede.
§ 1° O período de que trata este artigo constará do ato de remoção ou de designação do
magistrado promovido e não excederá de trinta dias.
§ 2° O magistrado removido ou promovido com designação para nova sede, quando
licenciado ou afastado em virtude de férias, casamento ou luto, terá o prazo a que se
refere o parágrafo anterior contado a partir do término do afastamento.
Art. 46. A promoção não interrompe o exercício, que é contado a partir da data da
publicação do ato que promover o magistrado.
116
Art. 47. Não se verificando a posse ou exercício dentro dos prazos previstos nesta lei, o
ato de nomeação, promoção ou remoção será revogado, não produzindo qualquer efeito.
Art. 48. Os magistrados de carreira adquirem vitaliciedade após dois anos de exercício.
§ 1° Os magistrados de que trata este artigo, e que não hajam adquirido a vitaliciedade,
não perdem o cargo senão por proposta do Tribunal, adotada pelo voto de dois terços de
seus membros.
§ 2° Os magistrados podem praticar todos os atos reservados por lei aos juízes vitalícios,
mesmo que não hajam adquirido a vitaliciedade.
CAPÍTULO IV
Da Antigüidade
Art. 49. Considera-se de efetivo exercício o afastamento em virtude de:
I – férias;
II – casamento;
III – falecimento de cônjuge, ascendente, descendente ou irmão;
IV – prestação de serviços à Justiça Eleitoral;
V – licença à gestante;
VI – licença-paternidade;
VII – licença por acidente em serviço;
VIII – licença para tratamento de saúde, em decorrência de moléstia especificada em lei;
IX – período de trânsito;
X – freqüência a cursos ou seminários de aperfeiçoamento e estudos, a critério do
Superior Tribunal Militar, pelo prazo máximo de dois anos;
XI – afastamento do exercício do cargo, em virtude de inquérito ou processo criminal ou
administrativo, desde que reconhecida a inocência do magistrado ou quando não resultar
pena disciplinar, ou esta se limitar a advertência ou censura.
117
Art. 50. A antigüidade do Ministro do Superior Tribunal Militar conta-se a partir da posse.
Parágrafo único. Em caso de empate, prevalece:
I – a antigüidade na carreira militar;
II – o maior tempo de efetivo exercício em cargo anterior do serviço público federal,
prevalecendo, neste caso, o de serviço na Justiça Militar;
III – a idade, em benefício de quem a tiver maior.
Art. 51. A antigüidade de Juiz-Auditor Substituto é determinada pelo tempo de efetivo
exercício nos respectivos cargos.
Art. 52. Em caso de empate na classificação por antigüidade, prevalece, sucessivamente;
I – maior tempo de serviço na posse;
II – maior tempo de serviço na carreira da Magistratura da Justiça Militar;
III – maior tempo de serviço público federal, prevalecendo, neste caso, o de serviço na
Justiça Militar;
IV – idade, em benefício de quem a tiver maior.
Parágrafo único. Na classificação inicial, o primeiro desempate é determinado pela
classificação em concurso para ingresso na carreira da Magistratura.
Art. 53. Anualmente, até o dia 31 de janeiro, o Superior Tribunal Militar organizará e
publicará no Diário da Justiça a lista de antigüidade dos magistrados de carreira.
Art. 54. Contra a lista de que trata o artigo anterior, podem ser apresentadas reclamações
dentro de trinta dias contados da publicação, que serão processadas e julgadas pelo
Superior Tribunal Militar.
Parágrafo único. O relator e o Tribunal podem determinar diligências, inclusive mandar
ouvir os interessados, marcando-lhes prazo que não excederá de trinta dias.
CAPÍTULO V
Das Férias, Licenças e Aposentadoria
118
Art. 55. Os Ministros do Superior Tribunal Militar gozam férias coletivas de 2 a 31 de
janeiro e de 2 a 31 de julho.
Parágrafo único. Se a necessidade do serviço judiciário lhes exigir a contínua presença
no Tribunal, o Presidente e Vice-Presidente gozarão trinta dias consecutivos de férias
individuais, por semestre.
Art. 56. Os magistrados de primeira instância da Justiça Militar gozam férias individuais,
de sessenta dias, concedidas segundo a conveniência do serviço.
Parágrafo único. As férias de que trata este artigo não podem fracionar-se por períodos
inferiores a trinta dias, podendo acumular-se somente por necessidade do serviço e pelo
máximo de dois meses.
Art. 57. Os Magistrados gozam licenças na forma do Estatuto da Magistratura.
Art. 58. A aposentadoria dos magistrados da Justiça Militar com vencimentos integrais é
compulsória por invalidez ou aos setenta anos de idade, e facultativa aos trinta anos de
serviço, após cinco anos de exercício efetivo na judicatura.
Art. 59. A verificação de invalidez, para o fim de aposentadoria, far-se-á na forma da lei e
do Regimento Interno do Superior Tribunal Militar.
Parágrafo único. O magistrado que, por dois anos consecutivos, afastar-se, ao todo, por
seis meses ou mais, para tratamento de saúde, deve submeter-se, ao requerer nova
licença, para igual fim, dentro de dois anos, a exame para verificação de invalidez .
Art. 60. O processo de aposentadoria obedece às disposições de lei especial.
CAPÍTULO VI
Das Incompatibilidade
Art. 61. Não podem servir, conjuntamente, os magistrados, membros do Ministério
Público e advogados que sejam entre si cônjuges, parentes consangüíneos ou afins em
linha reta, bem como em linha colateral, até o terceiro grau, e os que tenham vínculo de
adoção.
§ 1° A incompatibilidade a que se refere este artigo se resolve:
119
I – antes da posse, contra o último nomeado ou contra o menos idoso, se as nomeações
forem da mesma data;
II – depois da posse, contra quem lhe deu causa; e contra o mais moderno, se a
incompatibilidade for imputada a ambos.
§ 2º Se a incompatibilidade se der com advogado, este deverá ser substituído.
CAPÍTULO VII
Das Substituições
Art. 62. Os magistrados da Justiça Militar são substituídos:
I – o Presidente do Superior Tribunal Militar, pelo Vice-Presidente e este pelo Ministro
civil mais antigo;
II – os Ministros militares, mediante convocação pelo Presidente do Tribunal, por oficiais
da Marinha, Exército ou Aeronáutica, do mais alto posto, sorteados dentre os constantes
da lista enviada pelos Ministros das respectivas Pastas;
III – Os Ministros civis pelo Juiz-Auditor Corregedor e, na falta deste, por convocação do
Presidente do Tribunal, após sorteio público ao qual concorrerão os cinco Juízes-
Auditores mais antigos;
IV – os Juízes-Auditores pelos Juízes-Auditores Substitutos do Juízo, ou, na falta destes,
mediante convocação do Presidente do Tribunal dentre Juízes-Auditores Substitutos,
observado, quando for o caso, o disposto no art. 64 desta lei;
V – o Juiz-Auditor Corregedor, por convocação do Presidente do Tribunal, dentre os
Juízes-Auditores titulares.
Parágrafo único. A convocação prevista nos incisos II e III deste artigo só se fará para
completar o quorum de julgamento.
Art. 63. Em caso de afastamento de Ministro ou de vaga por prazo superior a trinta dias,
poderá ser convocado substituto, por decisão da maioria absoluta dos membros do
Superior Tribunal Militar.
§ 1° O substituto de Ministro militar será escolhido na forma do inciso II do artigo anterior.
120
§ 2° O substituto de Ministro civil será escolhido na forma do inciso III do artigo anterior.
§ 3° Em caso de afastamento, por período superior a trinta dias, os feitos em poder do
magistrado afastado e aqueles em que tenha proferido relatório, como os que haja
colocado em mesa para julgamento, são redistribuídos aos demais membros do Tribunal,
mediante oportuna compensação. Os feitos em que seja revisor passam ao substituto, na
forma do regimento interno.
§ 4° O julgamento que tiver sido iniciado prosseguirá, computando-se os votos já
proferidos, ainda que o magistrado afastado seja o relator.
§ 5° Quando o afastamento for por período igual ou superior a três dias, são
redistribuídos, mediante oportuna compensação, os habeas corpus, os mandados de
segurança, e os feitos que, consoante fundada alegação do interessado, reclamem
solução urgente.
§ 6° Em caso de vaga, ressalvados os processos a que se refere o parágrafo anterior, os
demais serão atribuídos ao nomeado para preenchê-la.
§ 7° Não concorrerão ao sorteio de que trata o inciso III do artigo anterior os magistrados
punidos com as penas de advertência, censura, remoção compulsória e disponibilidade.
Art. 64. Nas Circunscrições Judiciárias com mais de uma Auditoria na mesma sede, a
substituição de Juiz-Auditor, quando não houver substituto disponível na Auditoria, faz-se
por magistrado em exercício na mesma sede.
Parágrafo único. A substituição de que trata este artigo ocorrerá nos casos de licença,
falta e impedimento do substituído, sem prejuízo das funções do substituto.
Art. 65. A substituição nos casos de ausência ou impedimento eventual não autoriza a
concessão de qualquer vantagem, salvo diárias e transporte, se for o caso.
Art. 66. O magistrado convocado para substituir Ministro civil perceberá a diferença de
vencimentos correspondente, durante o período da convocação, inclusive diárias e
transporte, se for o caso.
TÍTULO VI
Do Ministério Público da União junto à Justiça Militar
121
CAPÍTULO ÚNICO
Do Ministério Público
Art. 67. O Ministério Público mantém representantes junto à Justiça Militar.
Art. 68. Os membros do Ministério Público desempenham, junto à Justiça Militar,
atribuições previstas no Código de Processo Penal Militar e leis especiais.
TÍTULO VII
Da Defensoria Pública da União junto à Justiça Militar
CAPÍTULO ÚNICO
Da Defensoria Pública
Art. 69. A Defensoria Pública da União mantém representantes junto à Justiça Militar.
Art. 70. Os membros da Defensoria Pública, junto à Justiça Militar, desempenham as
atribuições previstas no Código de Processo Militar e leis especiais.
PARTE II
Dos Serviços Auxiliares
TÍTULO I
Das Disposições Gerais
Art. 71. Os Serviços Auxiliares da Justiça Militar são executados:
I – pela Secretaria do Superior Tribunal Militar;
II – pelas Secretarias das Auditorias.
Art. 72. Aos funcionários da Justiça Militar aplica-se o Regime Jurídico Único dos
Servidores Públicos Civis da União, observadas as disposições desta lei.
Art. 73. (Vetado)
Art. 74. O provimento dos cargos de direção e Assessoramento, classificados nos três
primeiros níveis do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores, do Quadro das
122
Secretarias do Superior Tribunal Militar e das Auditorias, faz-se dentre os ocupantes de
cargos de nível superior do respectivo quadro, que atendam aos seguintes requisitos:
a) qualificação específica para a área relativa à direção ou assessoramento, mediante
graduação em curso de nível superior;
b) experiência para o respectivo exercício, de acordo com as normas regulamentares
expedidas pelo Tribunal.
§ 1° O provimento dos cargos do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores,
vinculados a Gabinete de Ministro, faz-se por indicação da respectiva autoridade, dentre
pessoas com formação de nível superior.
§ 2º O provimento dos cargos do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores,
classificados nos demais níveis, observado o limite de 50% (cinqüenta por cento),
somente pode recair em funcionário da Justiça Militar que atenda aos requisitos
estabelecidos na parte final do caput deste artigo e suas alíneas a e b.
TÍTULO II
Da Competência
Art. 75. A competência dos órgãos da Secretaria do Superior Tribunal Militar será definida
em ato próprio, baixado pelo Tribunal.
Art. 76. Às Secretarias das Auditorias incumbe a realização dos serviços de apoio aos
respectivos juízos, nos termos das leis processuais, atos e provimentos do Superior
Tribunal Militar e Corregedoria da Justiça Militar, bem como portarias e despachos dos
Juízes-Auditores, aos quais estejam diretamente subordinados.
TÍTULO III
Das Atribuições dos Servidores
CAPÍTULO I
Da Secretaria do Superior Tribunal Militar
Art. 77. As atribuições dos servidores da Secretaria do Superior Tribunal Militar serão
definidas em ato próprio por este baixado, observadas as especificações de classes.
123
CAPÍTULO II
Das Secretarias das Auditorias
Art. 78. Os servidores da Secretaria são, nos processos em que funcionarem, auxiliares
do juiz e a ele subordinados.
SEÇÃO I
Dos Diretores de Secretaria
Art. 79. São atribuições do Diretor de Secretaria:
I – ter em boa guarda os autos e papéis a seu cargo e os que, por força de ofício, receber
das partes;
II – conservar a Secretaria em boa ordem e classificar, por espécie, número e ordem
cronológica, os autos e papéis a seu cargo, quer os em andamento, quer os arquivados;
III – escrever em forma legal e de modo legível, ou datilografar, os termos do processo,
mandados, precatórios, depoimentos, atas das sessões dos conselhos e demais atos
próprios do seu ofício;
IV – providenciar, com diligência, o cumprimento de decisões ou despachos do juiz, com
vistas à notificação ou intimação das partes, testemunhas, ofendido ou acusado, para
comparecerem em dia, hora e lugar designados no curso do processo, bem como cumprir
quaisquer atos que lhe incumba por dever de ofício;
V – lavrar procuração apud acta;
VI – prestar as informações que lhe forem pedidas sobre processos em andamento, salvo
quanto a matéria que tramite em segredo de justiça;
VII – fornecer, independentemente de despacho, certidões requeridas pelos interessados,
submetendo ao Juiz-Auditor os casos que versarem a matéria referida na parte final do
inciso anterior, bem como aqueles passíveis de dúvidas;
VIII – numerar e rubricar as folhas dos autos e quaisquer peças neles juntadas;
IX – providenciar o registro das sentenças e decisões dos Conselhos de Justiça e do
Juiz-Auditor;
124
X – registrar, em livro próprio, os nomes dos réus condenados e a data da condenação,
bem como a pena aplicada e o seu término;
XI – registrar, em ordem cronológica, a entrada de processos e inquéritos, sua
distribuição, a remessa a outro juízo ou autoridade, bem como as devoluções ocorridas;
XII – providenciar livros, classificadores, fichas e demais materiais necessários à ordem e
a boa guarda dos processos;
XIII – providenciar o expediente administrativo da Secretaria;
XIV – acompanhar o Juiz-Auditor nas diligências de ofício;
XV – fornecer ao Juiz-Auditor, de três em três meses, a relação de inquérito e demais
processos que se encontrarem parados na Secretaria;
XVI – apresentar, até o dia quinze de janeiro de cada ano, relatório das atividades anuais
da Secretaria;
XVII – praticar os atos de que tratam os arts. 20, 21 e 22 desta lei;
XVIII – distribuir o serviço pelos servidores da secretaria, fiscalizando sua execução e
representando ao Juiz-Auditor em caso de irregularidade ou desobediência de ordem.
SEÇÃO III
Dos Técnicos Judiciários
Art. 80. São atribuições do Técnico Judiciário:
I – substituir o Diretor da Secretaria, nas férias, licenças, faltas e impedimentos, por
designação do Juiz-Auditor;
II – executar os serviços determinados pelo Juiz-Auditor e Diretor de Secretaria, inclusive
os atos previstos nos incisos III, VIII, X e XI do art. 79 desta lei que serão por este último
subscritos;
III – lavrar procuração apud acta, quando estiver funcionando em audiência.
SEÇÃO III
Dos Oficiais de Justiça Avaliadores
125
Art. 81. São atribuições do Oficial de Justiça Avaliador:
I – funcionar, nos casos indicados em lei como perito oficial na determinação de valores,
salvo quando exigidos conhecimentos técnicos especializados;
II – fazer, de acordo com a lei processual penal militar, as citações por mandado, bem
como as notificações e intimações de que for incumbido;
III – convocar pessoas idôneas para testemunharem atos de seu ofício, quando a lei o
exigir;
IV – dar contrafé e certificar os atos e diligências que houver cumprido;
V – lavrar autos, efetuar prisões, diligências e medidas preventivas ou assecuratórias
determinadas por Conselhos de Justiça ou Juiz-Auditor;
VI – apregoar a abertura e o encerramento das sessões do Conselho de Justiça;
VII – fazer a chamada das partes e testemunhas;
VIII – passar a certidão de pregões e de fixação de editais;
IX – praticar outros atos compatíveis com a natureza do cargo, ordenados por presidente
de Conselho de Justiça, Juiz-Auditor e Diretor de Secretaria.
SEÇÃO IV
Dos Demais Servidores
Art. 82. As atribuições previstas nos incisos II e III do art. 80 desta lei poderão, no
interesse do serviço, ser deferidas ao Auxiliar Judiciário.
Art. 83. Aos demais servidores da Secretaria incumbe a execução das tarefas pertinentes
a seus cargos, conforme for determinado pelo Juiz-Auditor e pelo Diretor de Secretaria.
CAPÍTULO III
Do Regime Disciplinar
Art. 84. Os funcionários dos Serviços Auxiliares da Justiça Militar estão sujeitos ao regime
disciplinar estabelecido no Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos Civis da
União, observadas as disposições desta lei.
126
Art. 85. Para aplicação de pena disciplinar são competentes:
a) o Presidente do Superior Tribunal Militar, aos ocupantes de cargos do Grupo-Direção e
Assessoramento Superiores do Quadro do Tribunal, bem como aos servidores
subordinados a Ministro, mediante representação deste;
b) o Juiz-Auditor Corregedor e Juiz-Auditor, aos servidores que lhes são subordinados;
c) o Diretor-Geral, aos servidores do Quadro da Secretaria, não compreendidos na alínea
a deste artigo.
§ 1° A pena de suspensão por mais de trinta dias será aplicada pelo Presidente do
Superior Tribunal Militar.
§ 2º A aplicação da pena de destituição de função caberá à autoridade que houver feito a
designação, mediante representação da autoridade a que estiver subordinado o
funcionário.
§ 3° Independe de processo a aplicação das penas de repressão, multa e suspensão até
trinta dias.
Art. 86. As penas de demissão e de cassação de aposentadoria ou disponibilidade serão
impostas pelo Superior Tribunal Militar.
Art. 87. A aplicação de pena disciplinar poderá ser precedida de advertência, a juízo da
autoridade competente, no caso de negligência no cumprimento dos deveres do cargo.
Parágrafo único. A advertência, que poderá se fazer reservadamente, não constará dos
assentamentos funcionais.
Art. 88. Caberá recurso para o Superior Tribunal Militar das penas aplicadas pelas
autoridades referidas nas alíneas a e b do art. 85 desta lei, no prazo de quinze dias
contado da data da ciência de sua aplicação ou do indeferimento do pedido de
reconsideração.
Parágrafo único. Das penas aplicadas pelo Diretor-Geral caberá recurso ao Presidente do
Tribunal, na forma deste artigo.
PARTE III
CAPÍTULO ÚNICO
127
Da Organização da Justiça Militar em Tempo de Guerra
Art. 89. Na vigência do estado de guerra, são órgãos da Justiça Militar junto às forças em
operações:
I – os Conselhos Superiores de Justiça Militar;
II – os Conselhos de Justiça Militar;
III – os Juízes-Auditores.
Art. 90. Compete aos órgãos referidos no artigo anterior o processo e julgamento dos
crimes praticados em teatro de operações militares ou em território estrangeiro,
militarmente ocupados por forças brasileiras, ressalvado o disposto em tratados e
convenções internacionais.
Parágrafo único. O agente é considerado em operações militares desde o momento de
seu deslocamento para o teatro de operações ou para o território estrangeiro ocupado.
Art. 91. O Conselho Superior de Justiça é órgão de segunda instância e compõe-se de
dois oficiais-generais, de carreira ou reserva convocado, e um Juiz-Auditor, nomeados
pelo Presidente da República.
Parágrafo único. A Presidência do Conselho Superior de Justiça Militar é exercida pelo
juiz de posto mais elevado, ou pelo mais antigo, em caso de igualdade de posto.
Art. 92. Junto a cada Conselho Superior de Justiça funcionarão um Procurador e um
Defensor Público, nomeados pelo Presidente da República, dentre os membros do
Ministério Público da União junto à Justiça Militar e da Defensoria Pública da União,
respectivamente.
Parágrafo único. O Presidente do Conselho Superior de Justiça requisitará, ao Ministro
militar competente, o pessoal necessário ao serviço de secretaria, designando o
Secretário, que será de preferência bacharel em Direito.
Art. 93. O Conselho de Justiça compõe-se de um Juiz-Auditor ou Juiz-Auditor Substituto e
dois oficiais de posto superior ou igual ao do acusado, observado, na última hipótese, o
princípio da antigüidade de posto.
128
§ 1° O conselho de que trata este artigo será constituído para cada processo e dissolvido
após o término do julgamento, cabendo a presidência ao juiz de posto mais elevado, ou
ao mais antigo em caso de igualdade de posto.
§ 2° Os Oficiais da Marinha, do Exército e da Aeronáutica serão julgados, quando
possível, por juízes militares da respectiva Força.
Art. 94. Haverá, no teatro de operações, tantas Auditorias quantas forem necessárias.
§ 1° Compõe-se a Auditoria de um Juiz-Auditor, um Procurador, um Defensor Público, um
Secretário e auxiliares necessários, podendo as duas últimas funções ser exercidas por
praças graduadas.
§ 2° Um dos auxiliares de que trata o parágrafo anterior, exercerá, por designação do
Juiz-Auditor, a função de oficial de justiça.
Art. 95. Compete ao Conselho Superior de Justiça:
I – processar e julgar originariamente os oficiais-generais;
II – julgar as apelações interpostas das sentenças proferidas pelos Conselhos de Justiça
e Juízes-Auditores;
III – julgar os embargos opostos às decisões proferidas nos processos de sua
competência originária.
Parágrafo único. O comandante do teatro de operações responderá a processo perante o
Superior Tribunal Militar, condicionada a instauração da ação penal à requisição do
Presidente da República.
Art. 96. Compete ao Conselho de Justiça:
I – o julgamento dos oficiais até o posto de coronel, inclusive;
II – decidir sobre arquivamento de inquérito e instauração de processo, nos casos de
violência praticada contra inferior para compeli-lo ao cumprimento do dever legal, ou em
repulsa a agressão.
Art. 97. Compete ao Juiz-Auditor:
129
I – presidir a instrução criminal dos processos em que forem réus praças, civis ou oficiais
até o posto de capitão-de-mar-e-guerra ou coronel, inclusive;
II – julgar as praças e os civis.
PARTE IV
Das Disposições Gerais, Transitórias e Finais
CAPÍTULO I
Das Disposições Gerais
Art. 98. No exercício de suas funções na Justiça Militar, há recíproca independência entre
os membros da Magistratura, do Ministério Público e da Defesa.
Art. 99. Os magistrados, os representantes do Ministério Público, os Defensores, o
Secretário do Tribunal Pleno, o Diretor de Secretaria, o Oficial de Justiça Avaliador e
outros servidores usarão, nas sessões e audiências, o vestuário e insígnias estabelecidos
em lei ou no Regimento Interno do Tribunal.
Art. 100. Aplica-se o disposto no art. 61 desta lei aos representantes do Ministério
Público, advogados e servidores da Justiça Militar, observada, quanto a estes, a exceção
prevista no Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos Civis da União .
Art. 101. Nos atos de seu ofício, estão investidos de fé pública o Secretário do Tribunal
Pleno, os Diretores de Secretaria, os Oficiais de Justiça Avaliadores e, bem assim, o
Diretor-Geral do Tribunal e aqueles que realizem atividades processuais nos autos de
recursos ou processos de competência originária.
CAPÍTULO II
Das Disposições Transitórias e Finais
Art. 102. As Auditorias da Justiça Militar têm por sede: as da Primeira Circunscrição
Judiciária Militar, a Cidade do Rio de Janeiro (RJ); as da Segunda, a Cidade de São
Paulo (SP); as da Terceira, respectivamente, as Cidades de Porto Alegre, Bagé e Santa
Maria (RS); a da Quarta, a Cidade de Juiz de Fora (MG); a da Quinta, a Cidade de
Curitiba (PR); a da Sexta, a Cidade de Salvador (BA); a da Sétima, a Cidade de Recife
(PE); a da Oitava, a Cidade de Belém (PA); a da Nona, a Cidade de Campo Grande
130
(MS); a da Décima, a Cidade de Fortaleza (CE); a da Décima Primeira, a Cidade de
Brasília (DF); e a da Décima Segunda, a Cidade de Manaus (AM).
Parágrafo único. A instalação da 2ª Auditoria da 11ª Circunscrição Judiciária Militar, a que
se refere o art. 11, alínea c, desta lei, que terá por sede a Cidade de Brasília, fica
condicionada à existência de recursos orçamentários específicos.
Art. 103. O atual quadro de Defensores Públicos da Justiça Militar da União
permanecerá, funcionalmente, na forma da legislação anterior, até que seja organizada a
Defensoria Pública da União.
Art. 104. Esta lei entra em vigor sessenta dias após a sua publicação, revogadas as
disposições em contrário (Decreto-Lei n° 1.003, de 21 de outubro de 1969) e, em
especial, o § 2° do art. 470 do Código de Processo Penal Militar.
131
ANEXO III
PEC 358/05227
As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, nos termos do § 3º do art. 60
da Constituição Federal, promulgam a seguinte Emenda ao texto constitucional:
Altera dispositivos dos arts. 21, 22, 29, 48,
93, 95, 96, 98, 102, 103-B, 104, 105, 107,
111-A, 114, 115, 120, 123, 124, 125, 128,
129, 130-A e 134 da Constituição Federal,
acrescenta os arts. 97-A, 105-A, 111-B e
116-A, e dá outras providências.
Art. 1º Os arts. 21, 22, 29, 48, 93, 95, 96, 98, 102, 103-B, 104, 105, 107, 114, 120, 123,
124, 125, 128, 129, 130-A e 134 da Constituição Federal passam a vigorar com a
seguinte redação:
“Art. 21. Compete privativamente à União:
......................................................................................................
XIII – organizar e manter o Poder Judiciário e o Ministério Público
do Distrito Federal e dos Territórios;
............................................................................................” (NR)
“Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
......................................................................................................
XVII – organização judiciária e do Ministério Público do Distrito
Federal e dos Territórios, bem como organização administrativa
destes;
............................................................................................” (NR)
“Art. 29. ........................................................................................ 227 Texto do PEC n. 358/2005, disponível no portal da Câmara, através do endereço:
<http://www.camara.gov.br/Sileg/Prop_Detalhe.asp?id=274765>. Acesso em 4 fev. 2008.
132
......................................................................................................
X – julgamento do Prefeito, por atos praticados no exercício da
função ou a pretexto de exercê-la, perante o Tribunal de Justiça;
............................................................................................” (NR)
“Art. 48. ........................................................................................
......................................................................................................
IX – organização administrativa, judiciária, do Ministério Público e
da Defensoria Pública da União e dos Territórios e organização
judiciária e do Ministério Público do Distrito Federal;
........…...........………...................................…....................” (NR)
“Art. 93. ....................................….....………..........…...................
...................…...............................…...................…......................
II – ......................................................................…......................
......................................................................................................
b) a promoção por merecimento pressupõe dois anos de exercício
na respectiva entrância e integrar o juiz a primeira metade da lista
de antigüidade, salvo se não houver com tais requisitos quem
aceite o lugar vago;
......................................................................................................
III – o acesso aos tribunais de segundo grau far-se-á por
antigüidade e merecimento, alternadamente, apurados na última
ou única entrância, na forma do inciso II;
......................................................................................................
XVI – no âmbito da jurisdição de cada tribunal ou juízo, é vedada
a nomeação ou designação, para cargos em comissão e para as
funções comissionadas, de cônjuge, companheiro ou parente até
133
o segundo grau, inclusive, dos respectivos membros ou juízes
vinculados, salvo a de servidor ocupante de cargo de provimento
efetivo das carreiras judiciárias, caso em que a vedação é restrita
à nomeação ou designação para servir junto ao magistrado
determinante da incompatibilidade.” (NR)
“Art. 95. ........................................................................................
I – vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após três
anos de exercício, observado o disposto no art. 93, IV,
dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do
tribunal a que o juiz estiver vinculado e, nos demais casos, de
sentença judicial transitada em julgado, em processo que poderá
ser iniciado por representação ao Ministério Público tomada pelo
voto de três quintos do Conselho Nacional de Justiça, inclusive
nos casos de:
a) negligência e desídia reiteradas no cumprimento dos
deveres do cargo, arbitrariedade ou abuso de poder;
b) procedimento incompatível com o decoro de suas funções;
c) infração do disposto no parágrafo único deste artigo.
............................................................................................” (NR)
“Art. 96. Compete privativamente:
I – aos Tribunais:
a) eleger seus órgãos diretivos, por maioria absoluta e voto
secreto, para mandato de dois anos, vedada a reeleição para
mandato subseqüente, e elaborar seus regimentos internos, com
observância das normas de processo e das garantias processuais
das partes, dispondo sobre a criação, a competência, a
composição e o funcionamento dos respectivos órgãos
jurisdicionais e administrativos;
134
b) organizar suas secretarias, polícia e serviços auxiliares e os
dos juízes que lhes forem vinculados, velando pelo exercício da
atividade correicional respectiva;
............................................................................................” (NR)
“Art. 98. ........................................................................................
I – juizados especiais, providos por juízes togados ou togados e
leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a
execução de causas cíveis de pequeno valor ou menor
complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo,
mediante os procedimentos oral e sumariíssimo, permitidos, nas
hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos
por turmas de juízes de primeiro grau, integrantes, sempre que
possível, do sistema dos juizados especiais;
..................................................................…....................……….
§ 3º Os interessados em resolver seus conflitos de interesse
poderão valer-se de juízo arbitral, na forma da lei.” (NR)
“Art. 102. ...........…......……........…........…….….…………………
I – ..............…………..…….....................………………..…………
a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo
federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade
de lei ou ato normativo federal ou estadual;
b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o
Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, os
membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho
Nacional do Ministério Público, seus próprios Ministros e o
Procurador-Geral da República;
......................................................................................................
d) o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas
referidas nas alíneas a, b e c; o mandado de segurança e o
135
habeas data contra atos do Presidente da República, das Mesas
da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de
Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio
Supremo Tribunal Federal; e a ação popular e a ação civil pública
contra atos do Presidente da República, do Congresso Nacional,
da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e do Supremo
Tribunal Federal;
......................................................................................................
§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo
Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas
ações declaratórias de constitucionalidade de lei ou ato normativo
federal ou estadual produzirão eficácia contra todos e efeito
vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e
à administração pública direta e indireta, nas esferas federal,
estadual e municipal.
.........................…............…..........…..................................” (NR)
“Art. 103-B. …................…......…….........………….………………
………………....................................................…………..……….
VI – um desembargador federal de Tribunal Regional Federal,
indicado pelo Superior Tribunal de Justiça;
......................................................................................................
VIII – um desembargador federal do trabalho de Tribunal Regional
do Trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho;
......................................................................................................
§ 8º É vedado ao membro do Conselho, referido nos incisos XII e
XIII, durante o exercício do mandato:
a) exercer outro cargo ou função, salvo uma de magistério;
b) dedicar-se a atividade político-partidária;
136
c) exercer, em todo o território nacional, a advocacia.” (NR)
“Art. 104. ......................................................................................
Parágrafo único. ..........................................................................
I – um terço dentre desembargadores federais dos Tribunais
Regionais Federais e um terço dentre desembargadores dos
Tribunais de Justiça, oriundos da carreira da magistratura,
indicados em lista tríplice elaborada pelo próprio Tribunal;
……………………………….…………..............…….………” (NR)
“Art. 105. …...........…….………………….…….........…………......
I – .............................……….....………………..……........………..
......................................................................................................
b) os mandados de segurança, os habeas data, as ações
populares e as ações civis públicas contra ato de Ministro de
Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica ou do próprio Tribunal;
......................................................................................................
III – ...............................................................................................
a) contrariar dispositivo desta Constituição, de tratado ou lei
federal, ou negar-lhes vigência;
......................................................................................................
§ 1º (parágrafo único) ................................................................
§ 2º Nas ações civis públicas e nas propostas por entidades
associativas na defesa dos direitos de seus associados,
representados ou substituídos, quando a abrangência da lesão
ultrapassar a jurisdição de diferentes Tribunais Regionais Federais
ou de Tribunais de Justiça dos Estados ou do Distrito Federal e
Territórios, cabe ao Superior Tribunal de Justiça, ressalvada a
137
competência da Justiça do Trabalho e da Justiça Eleitoral, definir
a competência do foro e a extensão territorial da decisão.
§ 3º A lei estabelecerá os casos de inadmissibilidade do recurso
especial.” (NR)
“Art. 107. Os Tribunais Regionais Federais compõem-se de, no
mínimo, sete desembargadores federais, recrutados, quando
possível, na respectiva região e nomeados pelo Presidente da
República dentre brasileiros com mais de trinta e menos de
sessenta e cinco anos, sendo:
......................................................................................................
II – os demais, mediante promoção de juízes federais com mais
de cinco anos de exercício na respectiva classe, que integrem a
primeira metade da lista de antigüidade desta, salvo se não
houver com tais requisitos quem aceite o lugar vago.
……………...............…..…………….……….............………” (NR)
“Art. 111-A. ..........................…...…..............................................
.............................….....................................................................
II – os demais dentre desembargadores federais do trabalho dos
Tribunais Regionais do Trabalho, oriundos da magistratura da
carreira, indicados em lista tríplice elaborada pelo próprio Tribunal
Superior.
§ 1º A lei disporá sobre a competência do Tribunal Superior do
Trabalho, inclusive sobre a reclamação para preservação de sua
competência e garantia da autoridade de suas decisões.
............................................................................................” (NR)
“Art. 114. ......................................................................................
I – as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes
de direito público externo e da administração pública direta e
138
indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, exceto os servidores ocupantes de cargos criados por
lei, de provimento efetivo ou em comissão, incluídas as autarquias
e fundações públicas dos referidos entes da Federação;
......................................................................................................
X – os litígios que tenham origem no cumprimento de seus
próprios atos e sentenças, inclusive coletivas;
XI – a execução, de ofício, das multas por infração à legislação
trabalhista, reconhecida em sentença que proferir;
XII – a execução, de ofício, dos tributos federais incidentes sobre
os créditos decorrentes das sentenças que proferir.
............................................................................................” (NR)
“Art. 115. Os Tribunais Regionais do Trabalho compõem-se de, no
mínimo, sete desembargadores federais do trabalho, recrutados,
quando possível, na respectiva região, e nomeados pelo
Presidente da República dentre brasileiros com mais de trinta e
menos de sessenta e cinco anos, sendo:
............................................................................................” (NR)
“Art. 120. .....……………..………........................….......…............
§ 1º ..............................................................................................
......................................................................................................
III – por nomeação, pelo Presidente da República, de dois juízes
dentre advogados de notável saber jurídico e reputação ilibada,
indicados em lista tríplice, para cada vaga, elaboradas pelo
Tribunal Superior Eleitoral.
............................................................................................” (NR)
“Art. 123. O Superior Tribunal Militar compor-se-á de onze
Ministros vitalícios, nomeados pelo Presidente da República,
139
depois de aprovada a indicação pela maioria absoluta do Senado
Federal, sendo dois dentre oficiais-generais da Marinha, três
dentre oficiais-generais do Exército, dois dentre oficiais-generais
da Aeronáutica, todos da ativa e do posto mais elevado da
carreira, e quatro dentre civis.
Parágrafo único. Os Ministros civis serão escolhidos pelo
Presidente da República dentre brasileiros com mais de trinta e
cinco e menos de sessenta e cinco anos, sendo:
I – dois dentre juízes-auditores;
II – um dentre advogados de notório saber jurídico e reputação
ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional;
III – um dentre membros do Ministério Público Militar.” (NR)
“Art. 124. À Justiça Militar da União compete processar e julgar os
crimes militares definidos em lei, bem como exercer o controle
jurisdicional sobre as punições disciplinares aplicadas aos
membros das Forças Armadas.
............................................................................................” (NR)
“Art. 125. ......................................................................................
......................................................................................................
§ 2º Cabe aos Estados a instituição de representação de
constitucionalidade de lei estadual, e de inconstitucionalidade de
lei estadual ou municipal, em face da Constituição Estadual, e de
argüição de descumprimento de preceito constitucional estadual
fundamental, cujas decisões poderão ser dotadas de efeito
vinculante, vedada a atribuição da legitimação para agir a um
único órgão.
......................................................................................................
§ 8º Os Tribunais de Justiça criarão ouvidorias de justiça,
competentes para receber reclamações e denúncias de qualquer
140
interessado contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, ou
contra seus serviços auxiliares, representando diretamente ao
Conselho Nacional de Justiça.” (NR)
“Art. 128. ......................................................................................
......................................................................................................
§ 1º O Ministério Público da União tem por chefe o Procurador-
Geral da República, nomeado pelo Presidente da República
dentre integrantes da carreira do Ministério Público Federal,
maiores de trinta e cinco anos, após aprovação de seu nome pela
maioria absoluta dos membros do Senado Federal, para mandato
de dois anos, permitida uma recondução.
......................................................................................................
§ 5º...............................................................................................
I – .................................................................................................
a) vitaliciedade, após três anos de exercício, não podendo perder
o cargo senão por sentença judicial transitada em julgado, em
processo que poderá ser iniciado por representação ao Ministério
Público, tomada pelo voto de três quintos do Conselho Nacional
do Ministério Público, inclusive nos casos de:
1) negligência e desídia reiteradas no cumprimento dos deveres
do cargo, arbitrariedade ou abuso de poder;
2) procedimento incompatível com o decoro de suas funções;
3) infração do disposto no inciso II do § 5º deste artigo.
............................................................................................” (NR)
“Art. 129. ......................................................................................
......................................................................................................
141
§ 6º Os membros dos Ministérios Públicos dos Estados e do
Distrito Federal são denominados Promotores de Justiça.” (NR)
“Art. 130-A. …………………….………….............…….....………..
......................................................................................................
§ 2º ..............................................................................................
......................................................................................................
III A – representar ao Ministério Público, no caso de crime contra a
administração pública ou de abuso de autoridade.
......................................................................................................
§ 6º É vedado ao membro do Conselho, referido nos incisos V e
VI do caput, durante o exercício do mandato:
a) exercer outro cargo ou função, salvo uma de magistério;
b) dedicar-se a atividade político-partidária;
c) exercer, em todo o território nacional, a advocacia.” (NR)
“Art. 134. ......................................................................................
§ 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União,
e prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados e
no Distrito Federal, em cargos de carreiras, providos, na classe
inicial, mediante concurso público de provas e títulos, assegurada
a seus integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o
exercício da advocacia fora das atribuições institucionais.
§ 2º ..............................................................................................
§ 3º Aplica-se o disposto no § 2º às Defensorias Públicas da
União e do Distrito Federal.” (NR)
Art. 2º A Constituição Federal passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 97-A, 105-A,
111-B e 116-A:
142
“Art. 97-A. A competência especial por prerrogativa de função, em
relação a atos praticados no exercício da função pública ou a
pretexto de exercê-la, subsiste ainda que o inquérito ou a ação
judicial venham a ser iniciados após a cessação do exercício da
função.
Parágrafo único. A ação de improbidade de que trata o art. 37, §
4º, referente a crime de responsabilidade dos agentes políticos,
será proposta, se for o caso, perante o tribunal competente para
processar e julgar criminalmente o funcionário ou autoridade na
hipótese de prerrogativa de função, observado o disposto no
caput deste artigo.”
“Art. 105-A. O Superior Tribunal de Justiça poderá, de ofício ou
por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus
membros, após reiteradas decisões sobre a matéria, aprovar
súmula que, a partir de sua publicação, constituir-se-á em
impedimento à interposição de quaisquer recursos contra a
decisão que a houver aplicado, bem como proceder à sua revisão
ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.
§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a
eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja
controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a
administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e
relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica.
§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a
aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá ser
provocada originariamente perante o Superior Tribunal de Justiça
por aqueles que podem propor a ação direta de
inconstitucionalidade.
§ 3º São insuscetíveis de recurso e de quaisquer meios de
impugnação e incidentes as decisões judiciais, em qualquer
instância, que dêem a tratado ou lei federal a interpretação
determinada pela súmula impeditiva de recurso.”
143
“Art. 111-B. O Tribunal Superior do Trabalho poderá, de ofício ou
por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus
membros, após reiteradas decisões sobre a matéria, aprovar
súmula que, a partir de sua publicação, constituir-se-á em
impedimento à interposição de quaisquer recursos contra decisão
que a houver aplicado, bem como proceder à sua revisão ou
cancelamento, na forma estabelecida em lei.
§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a
eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja
controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a
administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e
relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica.
§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a
aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá ser
provocada originariamente perante o Tribunal Superior do
Trabalho por aqueles que podem propor a ação direta de
inconstitucionalidade.
§ 3º São insuscetíveis de recurso e de quaisquer meios de
impugnação e incidentes as decisões judiciais, em qualquer
instância, que dêem à legislação trabalhista a interpretação
determinada pela súmula impeditiva de recurso.”
“Art. 116-A. A lei criará órgãos de conciliação, mediação e
arbitragem, sem caráter jurisdicional e sem ônus para os cofres
públicos, com representação de trabalhadores e empregadores,
que terão competência para conhecer de conflitos individuais de
trabalho e tentar conciliá-los, no prazo legal.
Parágrafo único. A propositura de dissídio perante os órgãos
previstos no caput interromperá a contagem do prazo
prescricional do art. 7º, XXIX.”
Art. 3º A composição do Superior Tribunal Militar será adaptada à medida que ocorrerem
as vagas, sendo extintos os cargos de Ministro até que se chegue ao número
estabelecido nesta Emenda.
144
Art. 4º Não se aplica aos magistrados oriundos do quinto constitucional da advocacia e
do Ministério Público, empossados até a data da promulgação desta Emenda, a restrição
estabelecida pelo inciso I do parágrafo único do art. 104 da Constituição Federal.
Art. 5º O membro do Ministério Público admitido antes da promulgação desta Emenda
poderá exercer atividade político-partidária, na forma da lei.
Art. 6º Os Procuradores-Gerais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal são
denominados Promotores-Gerais de Justiça.
Art. 7º Esta Emenda Constitucional entra em vigor na data de sua publicação.