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A INTERVENÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL NA DEPRESSÃO INFANTIL Conceição Aparecida Defendi de Oliveira Elaine Cristina Mendes Renata Tunes Antoneli Lins SP 2009

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A INTERVENÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL NA DEPRESSÃO INFANTIL

Conceição Aparecida Defendi de Oliveira Elaine Cristina Mendes Renata Tunes Antoneli

Lins SP 2009

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A INTERVENÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL NA

DEPRESSÃO INFANTIL

RESUMO

Os distúrbios do humor em crianças têm sido cada vez mais diagnosticados e tratados, sendo a depressão infantil o transtorno que mais afeta o emocional dessas crianças, levando a danos afetivos, sociais e acadêmicos. A Terapia Ocupacional através das atividades que representa a base fundamental do trabalho do terapeuta ocupacional, e sendo seu uso definido como mediador desta relação, visa favorecer a reabilitação desta clientela, buscando consequentemente uma melhoria em sua qualidade de vida, e promovendo uma participação mais ativa em seu meio. Aprender através das atividades é o que vai possibilitar as mudanças, que farão parte de seu cotidiano. Está em andamento, estudo de caso no CAPS infantil de Lins, com acompanhamento, descrição e análise da intervenção da Terapia Ocupacional na clientela assistida. Os atendimentos estão sendo realizados uma vez por semana em sessões com duração de 50 minutos.

Palavras-chave: Terapia Ocupacional, Depressão Infantil, Atividades.

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INTRODUÇÃO

A intervenção da Terapia Ocupacional assume um papel crescente no

tratamento de vários transtornos psiquiátricos da infância, fato este, confirmado

através de levantamento bibliográfico que reforça a importância de sua atuação

com esta clientela; sendo a depressão infantil um dos transtornos que

comumente afeta esta população. Com base nestes dados, torna-se relevante

aprofundar os conhecimentos teóricos e a atuação prática nesta área clínica.

Segundo Pellegrini (2007) a Terapia Ocupacional proporciona a

realização de atividades a partir dos interesses e possibilidades de cada

criança, favorecendo assim experiências que despertem o interesse para que

esta possa experimentar o prazer de fazer, brincar e interagir com o seu meio e

com o outro.

Os transtornos do humor em crianças e adolescentes têm sido cada vez

mais diagnosticados e tratados por uma equipe de saúde mental. Ainda que os

clínicos e os pais tenham sempre reconhecido que os mesmos podem

experimentar tristeza e desespero transitório, ficou claro que transtornos

persistentes do humor ocorrem em crianças de todas as idades e sob várias

circunstâncias. Dois critérios para transtorno do humor em crianças e

adolescentes são as alterações do humor como depressão ou euforia, e a

irritabilidade (SADOCK; SADOCK, 2007).

O termo depressão, em seu contexto clínico, não se refere somente ao

humor deprimido, mas sim ao complexo sindrômico caracterizado por

alterações do humor, de psicomotricidade e por uma variedade de distúrbios

somáticos neurovegetativos (CRIVELATTI; DURMAN; HOFSTATTER, 2006).

Isto pode levar a uma redução do desempenho escolar, perda do sono e

apetite, perda da auto-estima, sentimento de tristeza, falta de interesse por

situações que antes lhe davam prazer, sintomas físicos como cefaléia, fadiga,

podendo seu grau de intensidade variar de um indivíduo para o outro.

Portanto considerando-se a intervenção da Terapia Ocupacional como

meio eficaz e de extrema importância junto à equipe de saúde mental, o

trabalho tem como proposta enfocar a intervenção da Terapia Ocupacional com

um grupo de crianças com depressão, no CAPS i Girassol de Lins.

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Baseando-se nesse pressuposto, o trabalho procurará responder o

seguinte questionamento: a Terapia Ocupacional ao intervir na depressão

infantil, favorece a reabilitação desta clientela, propiciando consequentemente

uma melhoria em sua qualidade de vida?

1 PROCESSO HISTÓRICO

Segundo Barbosa; Gaião, (2001) as primeiras descrições sobre

depressão infantil (DI) datam de 1621, quando Robert Burton escreve sobre a

anatomia da melancolia. Em 1852, Delasiauve, em suas Leçons sur La manie

infantile, fala da DI. De 1836 a 1850, foi realizado um estudo epidemiológico

sobre suicídio sendo uma porcentagem de 0,70% em menores de 16 anos. Em

1907, Augusto Vidal refere-se em seu tratado de Psiquiatria Infantil à

sintomatologia da criança melancólica. Em 1933, Erich Stern enfatiza a DI em

um texto de seu livro, descrição esta que abre caminho para os estudos

psicopatológicos.

Em 1966, Rie publica um trabalho fazendo ampla revisão e discussão

sobre o tema. Rutter publica o primeiro trabalho sobre DI em filhos de pais

depressivos. Ainda nesta década, a classificação das alterações psiquiátricas

da criança Group for the Advancement of Psychiatry (GAP), contempla a

depressão infantil. Já em 1977, Kovacs e Beck consideraram a DI uma

entidade sindrômica, independente do adulto, conceito aceito e investigado até

o presente momento. (BARBOSA; LUCENA, 1995)

2 CONCEITUAÇÃO

Para Garnier et al., (2002) a depressão refere-se à baixa do tônus

neuropsíquico associado a um sentimento de tristeza e a uma inibição

psicomotora com lentificação. Sua forma extrema é a melancolia.

A depressão infantil é um transtorno que afeta diretamente o emocional

da criança, acarretando em danos na área afetiva, social e acadêmica.

(BARBOSA; GAIÃO, 2001, p. 318)

De acordo com Caló (2005) não é um simples estado de tristeza, de

estar na fossa, ou de baixo astral. É um estado corporal indesejável e

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constante, acompanhado de mudanças comportamentais que independem da

vontade daquele que os vivenciam. Algo extremamente preocupante é a alta

correlação entre depressão e suicídio.

3 ETIOLOGIA

Segundo Barbosa; Gaião, (2001) muitos fatores podem levar uma

criança à depressão como: problemas conjugais, problemas financeiros,

cobrança exagerada por parte dos pais e da sociedade em relação ao

desenvolvimento da criança, falta de contato da criança com os pais em função

de suas responsabilidades profissionais e necessidades de sobrevivência, o

que impede que haja um vínculo afetivo positivo, além disso, pode-se destacar

morte de um dos pais, avós ou ente querido muito próximo, maus tratos dentro

da família, filho indesejado, filho somente de um dos pais, alcoolismo, entre

outros.

4 EPIDEMIOLOGIA

De acordo com estudos de Barbosa; Gaião (apud BARBOSA; GAIÃO,

1996) sua prevalência se situa em torno de 3% na população infanto-juvenil.

Para Caetano (2009) a depressão infantil atinge oito em cada cem

meninos e meninas.

5 QUADRO CLÍNICO

Conforme aborda a Classificação Internacional das Doenças (CID-10),

nos episódios depressivos o paciente apresenta rebaixamento do humor,

redução da energia e diminuição da atividade. Existe alteração da capacidade

de experimentar o prazer, perda de interesse, diminuição da capacidade de

concentração, associadas em geral a fadiga acentuada, mesmo após um

esforço mínimo. Observam-se em geral problemas de sono e diminuição do

apetite. Existe quase sempre uma diminuição da auto-estima e da

autoconfiança e frequentemente ideias de culpabilidade e/ou indignidade,

mesmo nas formas leves. O humor depressivo varia pouco de dia para dia ou

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segundo as circunstâncias, e pode acompanhar-se de sintomas ditos

somáticos como: perda de interesse ou prazer, despertar matinal precoce,

várias horas antes da hora habitual do despertar, agravamento matinal da

depressão, lentidão psicomotora acentuada, agitação, perda de apetite, perda

de peso e perda da libido. O número e a gravidade dos sintomas permitem

determinar três graus de um episódio depressivo: leve, moderado e grave.

Já o transtorno depressivo recorrente é caracterizado pela ocorrência

repetida de episódios depressivos (F32.) na ausência de todo antecedente de

episódios independentes de exaltação de humor e de aumento de energia

(mania). Este pode comportar breve episódios caracterizados por um ligeiro

aumento de humor e de atividade (hipomania), sucedendo imediatamente a um

episódio depressivo, e por vezes precipitados por um tratamento

antidepressivo. (CID-10, 2003)

Crianças deprimidas de seis a doze anos aparentam estarem tristes; choram à toa; podem ficar apáticas com escassez de manifestações emocionais; têm movimentos lentos; voz monótona; falam de modo desesperançoso e sofrido; falam sobre si mesmas em termos negativos: sou ruim mesmo , sou tonto , ninguém se preocupa comigo , com baixa auto-estima; os pensamentos suicidas ou de morte estão presentes; o humor é irritadiço ou instável; há perda de interesses e abstenção de atividades extracurriculares (anedonia); a deterioração escolar é frequente; assim como os sintomas sintomáticos como dor de cabeça e dor abdominal. (AKISKAL & WELLER, 1989; WELLER & WELLER, 1989 e 1995 in ASSUMPÇÃO JR., s.d.)

Barbosa e Gaião (2001) relatam que a depressão infantil é caracterizada

pela presença dos seguintes sintomas: baixo desempenho escolar, anedonia,

sonolência ou insônia, mudança no padrão alimentar, fadiga excessiva, queixas

físicas, irritabilidade, sentimentos de culpa, sentimentos de desvalia, ideação e

atos suicidas, choro, afeto deprimido, fácies depressivas, hiperatividade ou

hipoatividade, podendo estes sintomas apresentar-se de forma mascarada.

6 DIAGNÓSTICO

Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais

(DSM-IV) citado por Sadock & Sadock (2007):

a) Pelo menos cinco dos seguintes sintomas devem estar presentes

por um período de duas semanas:

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- Humor deprimido ou irritável na maior parte do dia;

- Diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase todas

as atividades;

- Perda ou ganho de peso sem estar em dieta;

- Insônia ou hipersonia;

- Agitação ou retardo psicomotor;

- Fadiga ou perda de energia;

- Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva;

- Capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se;

- Pensamento de morte e ideação suicida recorrentes.

b) Os sintomas não satisfazem os critérios para um episódio misto.

c) Os sintomas causam sofrimento ou prejuízo no funcionamento

social, ocupacional ou outras áreas da vida do indivíduo.

d) Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma

substância ou de uma condição médica geral.

e) Os sintomas não são mais bem explicados por luto, ou seja, os

mesmos persistem por mais de dois meses.

Ainda não existe uma uniformidade nos critérios para o diagnóstico da

depressão na criança. Nota-se que os sintomas variam de acordo com a idade

da criança; quanto menor a criança, mais somáticos são os sintomas

apresentados e maior irritabilidade. À medida que a criança cresce, ela poderá

apresentar mais sintomas do tipo adulto. (LIMA, 2004)

Na abordagem do (CID-10), no episódio depressivo leve (F32.0)

geralmente estão presentes ao menos dois ou três dos sintomas citados no

quadro clínico deste trabalho. Apesar disso, será capaz de desempenhar a

maior parte das atividades; no episódio depressivo moderado (F32.1)

geralmente estão presentes quatro ou mais dos sintomas já citados

anteriormente, e o paciente apresenta dificuldades para desempenhar as

atividades de rotina; no episódio depressivo grave sem sintomas psicóticos

(F32.2) vários dos sintomas são acentuados e angustiantes, tipicamente a

perda da auto-estima e ideias de desvalia ou culpa. As ideias e os atos suicidas

são comuns e observa-se em geral uma série de sintomas somáticos.

Em continuidade ainda com o (CID-10), o transtorno depressivo

recorrente, episódio atual leve (F33.0) caracteriza-se pela ocorrência repetida

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de episódios depressivos, na ausência de qualquer antecedente de mania; o

transtorno depressivo recorrente, episódio atual moderado (F33.1) é

caracterizado pela ocorrência repetida de episódios depressivos, na ausência

de qualquer antecedente de mania; o transtorno depressivo recorrente,

episódio atual grave sem sintomas psicóticos (F33.2) caracteriza-se pela

ocorrência repetida de episódios depressivos, na ausência de qualquer

antecedente de mania.

6.1 Diagnóstico Diferencial

O diagnóstico de transtorno do humor devido a uma condição médica

geral descreve um transtorno causado por uma condição médica não

psiquiátrica ou por substâncias. Deixar de obter uma boa historia clínica ou de

considerar o contexto da situação atual de vida do paciente pode levar a erros

diagnósticos. Os pacientes com transtornos depressivos em geral fazem a

primeira visita ao clínico com queixas somáticas. A maioria das causas

médicas de transtornos depressivos pode ser detectada com uma história

médica detalhada, exames físicos e neurológicos completos e exames de

rotina de sangue e urina, testes para as funções endócrinas, medicamentos

diversos também são associados a sintomas depressivos. (SADOCK;

SADOCK, 2007)

7 TRATAMENTO

O tratamento deve ser orientado para vários objetivos: garantia da

segurança do paciente, avaliação diagnóstica completa, tratar os sintomas

imediatos e contribuir para o bem estar futuro, farmacoterapia e psicoterapia.

(SADOCK; SADOCK, 2007)

Acontecimentos estressantes da vida também se associam a aumentos

nas taxas de recaída. Dessa forma, o tratamento precisa reduzir o número e a

gravidade dos estressores. (SADOCK; SADOCK, 2007, p. 599)

Sendo assim, o controle dos fatores de risco associados à

farmacoterapia e intervenção interdisciplinar, reduzem as possibilidades de

recaídas e favorecem o processo de reabilitação.

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7.1 Farmacoterapia

Fica a critério do médico o tipo de fármaco que pretende utilizar. Entre

os tricíclicos, a amitriptilina além de atuar na sintomatologia depressiva, atua

também sobre os sintomas ansiosos muito frequente em quadros depressivos.

Entre os inibidores seletivos de recaptura de serotonina (ISRS), a fluoxetina

tem mostrado eficácia na remissão dos sintomas depressivos. (BARBOSA;

GAIÃO, 2001)

7.2 Terapia Psicossocial

A Terapia psicossocial engloba três tipos de psicoterapia

cognitiva,

interpessoal e comportamental que têm sido estudados para determinar sua

eficiência no tratamento do transtorno depressivo. Ainda que não seja tão bem

pesquisada como as terapias citadas, a psicoterapia de orientação psicanalítica

tem sido considerada para vários clínicos como método principal. (SADOCK;

SADOCK, 2007)

8 EQUIPE INTERDISCIPLINAR

A equipe compreende um conjunto de diferentes especialistas que

possuem formação, treinamentos, valores, opiniões e, por vezes, objetivos

diferentes. Estes especialistas trabalham em conjunto, sob diferentes

configurações, dependendo das necessidades do cliente. A equipe

interdisciplinar compartilha um conceito comum das preocupações do cliente e

uma filosofia comum de controle de cuidados; sintetiza as informações obtidas;

trabalha em conjunto para formular e programar um plano de cuidados e deve

agir como uma unidade funcional, cujos membros estejam dispostos a

aprender com os outros membros, e a modificar, quando necessário, suas

próprias opiniões, com base na experiência de todo o grupo. (NEISTADT;

CREPEAU, In: COHN, 2002)

9 CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL INFANTIL (CAPS i)

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De acordo com a Portaria/GM nº336 de 2002, o Centro de Atenção

Psicossocial (CAPS) é um local de referência e tratamento para pessoas que

sofrem com transtornos mentais, psicoses, neuroses graves e demais quadros,

cuja severidade e/ou persistência justifiquem sua permanência num dispositivo

de cuidado intensivo, comunitário, personalizado e promotor de vida.

Os CAPS são instituições destinadas a acolher os pacientes com transtornos mentais, estimular sua integração social e familiar, apoiá-los em suas iniciativas de busca da autonomia, oferecer-lhes atendimento médico e psicológico. (COSTA, 2004, p. 9)

Ainda segundo a Portaria/GM nº336 de 2002, o Centro de Atenção

Psicossocial Infantil (CAPS i) destina-se ao atendimento de crianças e

adolescentes gravemente comprometidos psiquicamente. Estão incluídos

nessa categoria os portadores de autismo, psicoses, neuroses graves e todos

aqueles que, por sua condição psíquica, estão impossibilitados de manter ou

estabelecer laços sociais.

São designados para atender a municípios com uma população de cerca

de 200.000 habitantes, ou outro parâmetro populacional a ser definido pelo

gestor local. (BRASIL, Portaria/GM nº336, 2002)

10 A INTERVENÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL NA DEPRESSÃO

INFANTIL

Tomando como base Benetton (2006) a Terapia Ocupacional através da

sua visão holística procura compreender o sujeito dentro de um contexto

biopsicossocial, por meio de ações que deem sentido a sua vida, favorecendo

a reabilitação social, cultural e emocional, tendo como norteadora de seu

processo de intervenção a relação triádica, sendo esta composta pela tríade

terapeuta-paciente-atividade.

É uma relação dinâmica, no sentido de possuir movimento, ora o

paciente está mais próximo da atividade, ora do terapeuta, e assim acontece

com os três termos. (MORAES, 2007, p. 19)

Os terapeutas ocupacionais ajudam o indivíduo a selecionar, e em

seguida a se engajar em atividades que sejam significativas para sua vida.

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Focaliza a identidade da pessoa, durante as intervenções terapêuticas. A

adesão ao tratamento é o ponto de partida. O envolvimento na atividade é

central. Aprender através da atividade é o que possibilita a mudança. As

capacidades funcionais novas ou diferentes devem ser integradas ao

autoconceito da pessoa. (NEISTADT; CREPEAU, In: ROBERTSON, 2002)

Durante o processo de mudança de seu cotidiano, os pacientes podem

descobrir coisas novas sobre si mesmos. O terapeuta habilidoso ajuda os

pacientes a integrar este novo autoconhecimento dentro da nova identidade.

(NEISTADT; CREPEAU, In: ROBERTSON, 2002)

11 AS ATIVIDADES NO PROCESSO DE INTERVENÇÃO

Para Benetton (2006) é preciso distinguir atividade e atividades. A

atividade é a manifestação do ser, que tende a conservar, a aumentar, a

construir ou reproduzir o próprio ser. As atividades são formas mais ou menos

concretas, através das quais a atividade se manifesta, implicam num agente,

numa matéria, num objetivo, são promotoras de outras tantas, objetivas e

subjetivas que criam espaços para cadeias associativas no fazer ou construir

algo.

A atividade representa a base fundamental do trabalho do terapeuta

ocupacional, sendo seu uso definido como o mediador da relação terapêutica e

tendo de ser, para tanto, adaptada ao paciente. (BENETTON apud PERSON,

1994)

As atividades são definidas por Benetton como:

O terceiro termo de uma relação, que ocorre a partir do pressuposto de que existe uma terapeuta ocupacional e um segundo indivíduo que apresenta qualquer tipo de motivo, necessidade ou vontade de lá se encontrar para fazer terapia ocupacional. (BENETTON, 2006, p. 88)

Conforme Pádua; Magalhães, In: Balarin (2003) a atividade pode ser

entendida como estímulo, como elemento central do processo terapêutico

ocupacional, como mediadora da relação terapêutica, como forma de

comunicação e expressão dos conteúdos internos dos pacientes.

Baseando-se nos autores mencionados acima, a possibilidade de

realização das atividades no dia a dia, por parte do sujeito, é quem confere

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entre outros fatores o alcance e a manutenção de uma melhor qualidade de

vida. Este valor implícito e atribuído às atividades, as evidenciam como

elemento central e mediador na relação entre paciente e terapeuta

ocupacional, no processo de intervenção.

12 O ATENDIMENTO EM GRUPO NO PROCESSO DE INTERVENÇÃO

Um grupo de Terapia Ocupacional pode ser definido como aquele em

que os participantes se reúnem na presença do terapeuta ocupacional, num

mesmo local e horário, com objetivo de realizar uma atividade. Assim, no

contexto grupal, os participantes têm a possibilidade de experimentar outras

formas de se relacionar e de vivenciar situações relativas ao fazer,

possibilitando que a ação ganhe um sentido e um significado. (CAVALCANTI;

GALVÃO, In: BALLARIN, 2007)

De acordo com Pádua; Magalhães, In: Balarin (2003) para que um grupo

de atividades em terapia ocupacional se constitua é fundamental o papel do

terapeuta ocupacional na preparação e planejamento do mesmo avaliando

criteriosamente suas características como: número de participantes,

encaminhamentos, critérios de seleção, contrato terapêutico, preparação do

ambiente e dos materiais, podendo ser grupos homogêneos onde os

participantes apresentam distúrbios comuns e, estruturalmente podem ser

abertos ou fechados.

13 O SETTING TERAPÊUTICO NO PROCESSO DE INTERVENÇÃO

Para Tito; Moraes (2007) o setting em Terapia Ocupacional inclui o

terapeuta, o paciente, os materiais e as atividades, sendo caracterizado como

um espaço potencial para a construção de novas histórias na vida do paciente.

Poderá também ser compreendido como a apropriação que o terapeuta ocupacional faz de um lugar existencial, corporal e conceitual, para atender e acolher o outro, e de todas as formas vinculares de presença, ações e linguagem, que atravessem os atendimentos. (CAVALCANTI; GALVÃO, In: CASTRO, 2007, p. 31)

O setting é um espaço de fazer, de criar, de produzir, de construir e de

reconstruir história. Em situações excepcionais considera-se o setting

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estendido, como uma aplicação com mínimo de alterações principalmente na

conduta do terapeuta e na condução terapêutica. (BENETTON; TEDESCO;

FERRARI, 2003)

14 METODOLOGIA

Após aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Unisalesiano,

protocolo nº 235 em 26/05/09, está em andamento, estudo de caso no CAPS

infantil de Lins localizado à Rua Rodrigues Alves, nº 372, com

acompanhamento, descrição e análise da intervenção da Terapia Ocupacional

na clientela que será assistida. Os atendimentos serão realizados uma vez por

semana em sessões com duração de 50 minutos. Serão colhidos depoimentos

do Médico Psiquiatra, Psicólogo, Terapeuta Ocupacional, Professores e

Cuidadores para complementar a pesquisa.

Serão observados, analisados e acompanhados os procedimentos

aplicados durante a intervenção da Terapia Ocupacional com os clientes

assistidos, com relatórios semanais, após cada atendimento, como suporte

para o desenvolvimento do estudo de caso.

CONCLUSÃO

Acredita-se que a Terapia Ocupacional, ao intervir em crianças com

depressão infantil, favorece a reabilitação desta clientela, promovendo uma

participação mais ativa em seu meio e proporcionando assim, uma melhora em

sua qualidade de vida.

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LEVEL OF OCCUPATIONAL THERAPY IN CHILDHOOD

DEPRESSION

ABSTRACT

The disorders of humour in children have been increasingly diagnosed and treated, and childhood depression disorder that affects the most emotional of these children, causing emotional damage, social and academic. Occupational therapy through activities that represents the fundamental basis of the work of occupational therapists, and its use is defined as a mediator of this relationship, aims to promote the rehabilitation of its clientele, thus seeking an improvement in their quality of life, and promoting more active participation in their midst. Learning through the activities is what will enable the changes, which will be part of their daily lives. Are in research, case study in childhood CAPS Lins, with accompanying description and analysis of occupational therapy intervention in clients'. The sessions are being held once a week in sessions lasting 50 minutes.

Keywords: Occupational Therapy, Child Depression, Activities.

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AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Renata Tunes Antoneli, nossa orientadora por sempre estar à disposição quando solicitada e pela paciência e carinho com que nos atende.

Agradecemos a Jovira Maria Sarraceni, pelo estímulo que nos proporciona.

Autores: Conceição Aparecida Defendi de Oliveira

Graduanda em Terapia Ocupacional [email protected]

fone: (14) 3522-6528 Elaine Cristina Mendes

Graduanda em Terapia Ocupacional [email protected]

fone: (14) 3546-1385

Orientadora: Prof. Esp. Renata Tunes Antoneli Docente em Terapia Ocupacional [email protected]

fone: (14) 3523-1321

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