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1 A INTERPRETAÇÃO DE UMA ESTROFE DA CANÇÃO “BREATHE”, DO U2, COMO UMA EXPERIÊNCIA RELIGIOSA E EM BREVE DIREÇÃO À DOUTRINA ESPÍRITA THE INTERPRETATION OF A VERSE OF THE SONG “BREATHE”, U2, LIKE A RELIGIOUS EXPERIENCE AND SOON TOWARDS THE SPIRITIST DOCTRINE Rogério Duarte Fernandes dos Passos 1 Resumo: O trabalho objetiva considerar uma das estrofes da canção “Breathe”, do grupo de rock irlandês U2, e, superando o mero deleite e o comumente visível na cena pop musical, proceder a uma análise e interpretação consoante à da Doutrina Espírita, especialmente, em um de seus fundamentos básicos, justamente a reencarnação. Palavras-chave: U2, canção “Breathe”, cultura pop e religiosa, Doutrina Espírita, interpretação de música, rock Abstract: The study aims to consider one of the stanzas of the song “Breathe”, from the Irish rock group U2, and, overcoming the simple delight and the commonly visible in the music pop scene, make out an analysis and interpretation according to the Spiritist doctrine, especially in one of its fundamentals: the reincarnation. Keywords: U2, song “Breathe”, pop and religious culture, Spiritism, music interpretation, rock INTRODUÇÃO Objetiva-se com o presente texto trazer a interpretação de uma estrofe da canção “Breathe”, do grupo de rock irlandês U2, acrescentando uma análise não tradicional ou eurocêntica, de forma a alcançar a ótica e os fundamentos da Doutrina Espírita ou o Espiritismo, e/ ou mesmo, simplesmente, Doutrina , dentre eles, notadamente a reencarnação. Para tanto, resgataremos brevemente a história da trajetória musical e pessoal dos integrantes da banda, bem como os elementos principais da Doutrina Espírita e a própria canção citada em análise, culminando na conclusão que a mesma possui referenciais aptos à permissão da leitura sugerida no artigo, e mesmo, de outras não triviais ao universo corriqueiro da indústria do entretenimento. 1 Mestre em Direito Internacional pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP). Doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Docente em escolas técnicas do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza (CEETEPS), em Hortolândia e Campinas, no Estado de São Paulo. E-mail: [email protected].

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Page 1: A INTERPRETAÇÃO DE UMA ESTROFE DA CANÇÃO “BREATHE”, … · rock irlandês U2, e, superando o mero deleite e o comumente visível na cena pop musical, proceder a uma análise

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A INTERPRETAÇÃO DE UMA ESTROFE DA CANÇÃO “BREATHE”, DO U2,

COMO UMA EXPERIÊNCIA RELIGIOSA E EM BREVE DIREÇÃO À DOUTRINA

ESPÍRITA

THE INTERPRETATION OF A VERSE OF THE SONG “BREATHE”, U2, LIKE A

RELIGIOUS EXPERIENCE AND SOON TOWARDS THE SPIRITIST DOCTRINE

Rogério Duarte Fernandes dos Passos1

Resumo: O trabalho objetiva considerar uma das estrofes da canção “Breathe”, do grupo de

rock irlandês U2, e, superando o mero deleite e o comumente visível na cena pop musical,

proceder a uma análise e interpretação consoante à da Doutrina Espírita, especialmente, em

um de seus fundamentos básicos, justamente a reencarnação.

Palavras-chave: U2, canção “Breathe”, cultura pop e religiosa, Doutrina Espírita,

interpretação de música, rock

Abstract: The study aims to consider one of the stanzas of the song “Breathe”, from the Irish

rock group U2, and, overcoming the simple delight and the commonly visible in the music pop

scene, make out an analysis and interpretation according to the Spiritist doctrine, especially

in one of its fundamentals: the reincarnation.

Keywords: U2, song “Breathe”, pop and religious culture, Spiritism, music interpretation,

rock

INTRODUÇÃO

Objetiva-se com o presente texto trazer a interpretação de uma estrofe da canção

“Breathe”, do grupo de rock irlandês U2, acrescentando uma análise não tradicional ou

eurocêntica, de forma a alcançar a ótica e os fundamentos da Doutrina Espírita – ou o

Espiritismo, e/ ou mesmo, simplesmente, Doutrina –, dentre eles, notadamente a

reencarnação.

Para tanto, resgataremos brevemente a história da trajetória musical e pessoal dos

integrantes da banda, bem como os elementos principais da Doutrina Espírita e a própria

canção citada em análise, culminando na conclusão que a mesma possui referenciais aptos à

permissão da leitura sugerida no artigo, e mesmo, de outras não triviais ao universo

corriqueiro da indústria do entretenimento.

1 Mestre em Direito Internacional pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP). Doutor em Educação

pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Docente em escolas técnicas do Centro Estadual de

Educação Tecnológica Paula Souza (CEETEPS), em Hortolândia e Campinas, no Estado de São Paulo. E-mail:

[email protected].

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1. UMA BREVE TRAJETÓRIA DO U2 COM ÊNFASE NOS PRIMEIROS ANOS:

RISCOS, ÊXITOS E, FINALMENTE, AS VISITAS AO BRASIL

Não é tarefa simples reconstruir a trajetória do U2, uma das mais importantes bandas

de rock da história da música e os artistas de maior projeção popular irlandesa em todos os

tempos, no que atentar-nos-emos, sobretudo, aos seus anos iniciais, assim tomando o período

que se localiza entre o surgimento do grupo, em 1976, até à consolidação definitiva no

mercado norte-americano e mundial, consubstanciada no álbum “The Joshua Tree”, lançado

no ano de 1987.

Outrossim, como dito, o marco inicial do grupo remonta ao ano de 1976 – período na

história da banda conhecido como “early years” –, quando alunos da “Mount Temple

Comprehensive School”, na Malahide Road, em Clontarf, Dublin, Irlanda, responderam a um

anúncio do baterista Lawrence Joseph Mullen Junior para a formação de uma banda. Naquele

cenário pós-punk, dos jovens que compareceram para o primeiro e caótico ensaio na cozinha

da casa do fundador, restaram o próprio Lawrence – adquirindo o nome artístico “Larry

Mullen Junior” –, Paul David Hewson –, vocalista, assumindo o nome artístico de Bono

(sendo que no começo de carreira ficou conhecido também como “Bono Vox”) –, David

Howell Evans – nome artístico “The Edge”, o guitarrista –, e Adam Charles Clayton – nome

artístico “Adam Clayton”, o contrabaixista –, que conseguiu entrar no grupo especialmente

por possuir um instrumento. Os músicos ainda detinham uma formação musical precária e

faziam “covers” de outras bandas até alcançar a coesão necessária para sustentar a convicção

da arriscada, incerta e difícil carreira musical do universo pop rock, em especial para artistas

que gravam na Língua Inglesa e que são oriundos de um país então periférico neste cenário.

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Figura 1. O U2 no palco em seus primeiros anos de carreira (na história da banda, os chamados “early years”).

Fonte: U2BR (2018). Disponível em <http://u2br.com/u2br-entrevista-brian-boyd/>. Acesso 25 Dez. 2018.

Após os provisórios nomes de “Feedback”, entre 1976 e 1977, e “The Hype”, entre

1977 e 1978, surge a denominação “U2” – nome do famoso avião de espionagem norte-

americano abatido sobre a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas em 1960 ou mesmo

um possível trocadilho com a expressão “you too” (você também, em inglês) –, com Bono

assumindo a liderança do grupo com entusiasmo e personalidade, ainda que toda a banda

engajasse-se no seu aperfeiçoamento técnico-criativo e igualmente pela busca por

oportunidades de divulgação de suas canções na mídia e à possíveis gravadoras.

Desse período é curiosa (e famosa) uma carta assinada pelo executivo Alexander

Sinclair, em 10 de Maio de 1979 à frente da gravadora “RSO Records Limited”, de Londres.

Nela, em resposta a Bono – à época ainda residindo na casa de seu pai, localizada no notório

(e agora turístico) endereço da Cedarwood Road, nº 10 (na correspondência provavelmente

datilografada de forma equivocada como “Cobewood Road”), em Dublin –, ele gentilmente

recusa o pedido de gravação de um álbum, ainda que tivesse ouvido a fita cassete com o

material do U2 (FOLHA DE SÃO PAULO, 2014).

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Figura 2. Carta de resposta do executivo Alexander Sinclair rejeitando a proposta do U2 para a gravação de um

álbum no ano de 1979.

Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO (2014). Disponível em

<https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/03/1422401-carta-em-que-gravadora-recusa-u2-e-colocada-na-

internet.shtml>. Acesso 25 Dez. 2018.

Nesse ínterim inicial, o U2 entregava-se ao palco de forma visceral, com performances

muito intensas – inclusive com Bono jogando-se sobre a plateia –, em exemplo do que se

deduz da audição do disco “Another Time, Another Place: Live at the Marquee London”, rara

e incompleta gravação de 29 de Setembro de 1980 (e cujo original formato físico em vinil

encontra-se restrito a colecionadores e assinantes do “site” oficial do grupo), obtida no “The

Marquee Club”, lendária casa de música que existiu na capital inglesa entre 1958 e 2008. Os

shows prosseguiam também em turnês pela Europa feitas em vans velhas, cujas viagens eram

pausadas pelo descanso em surrados sacos de dormir (PASSOS, 2017a, p. 181).

Ao lado da divulgação europeia, a popularidade na terra natal era crescente, a ponto do

U2, mesmo sem um álbum de estúdio gravado, registrar em apresentação no estádio nacional

de Dublin um público de cerca de duas mil pessoas, igualmente revelando a proximidade dos

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fãs com os integrantes da banda no momento em que mais de trinta pessoas da plateia sobem

ao palco para com eles dançar, expondo o grupo ao interesse de produtores musicais (U2. A

BIOGRAFIA ILUSTRADA, 2013, p. 26).

Com a ajuda dos familiares, a deambulação pelo êxito global não se revelou longa,

uma vez que a gravação do primeiro álbum, “Boy”, também ocorre já em 1980, disparando a

escalada crescente – com significativa participação a partir de 1978 do empresário Paul

McGuinness, que ficou com o grupo até 2013, quando, então, vendeu sua participação nos

negócios da banda e foi substituído por Guy Oseary –, em que capítulos de destaque podem

ser mencionados em álbuns como “War”, de 1983 – sublinhado pelo período da Guerra Fria

(1945-1991) –, “The Unforgettable Fire”, de 1984 – inaugurando novas sonoridades, o tema

dos direitos humanos e a contemplação da natureza –, “The Joshua Tree”, de 1987 –

celebrando a experiência existencial com a música popular norte-americana –, e “Achtung

Baby”, de 1991, este último parcialmente gravado no icônico “Hansa Studios”, de Berlim,

apropriando-se da profusão de reunificação alemã (Deutsche Wiedervereinigung) e da

redefinição geopolítica mundial, simbolizada pela queda do Muro de Berlim a partir de 09 de

Novembro de 1989.

Porém, a trajetória do U2 não foi construída sem a assunção de riscos, no que o projeto

de internacionalização da banda apostou quase que exclusivamente no aspecto performático

do grupo, como se viu no show “Live at Red Rocks: Under a Blood-Red Sky” – gravado em

05 de Junho de 1983 no expressivo “Red Rocks Amphitheatre”, em Morrison, localidade

próxima a Denver, capital do Colorado, nos Estados Unidos da América. Na ocasião, em data

da turnê do álbum “War”, embora com intensa chuva e lotação incompleta, Bono, The Edge,

Larry Mullen Junior e Adam Clayton, cientes do imenso volume de recursos investidos na

empreitada – que contaria com a direção de Gavin Taylor (1942-2013) e produção de Jimmy

Iovine –, decidiram ir adiante com o evento, notabilizando-o com um dos grandes momentos

do rock na década de 1980, a ponto do magazine “Rolling Stone”, publicação especializada

em música e cultura pop, incluí-lo no rol dos cinquenta épicos e maiores álbuns gravados ao

vivo em todos os tempos (MENCONI, 2015), tendo a apresentação da canção “Sunday

Bloody Sunday” – na qual Bono se destaca por pendurar-se em equipamentos de som e fincar

junto ao público uma bandeira branca, enunciando um libelo pacifista – como uma das

imagens icônicas da união entre música, religiosidade, política e direitos humanos que

afirmaram o grupo daí em diante.

Por sinal, nesse período, sem receio de investir nas letras temas políticos e religiosos,

ao modo de “New Year’s Day”, reconhecida pelo “riff” de contrabaixo – em grande

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desenvoltura de Adam Clayton – e piano, “Sunday Bloody Sunday” torna-se marcante pela

introdução assinalada por uma bateria de compasso militar – em originalíssima contribuição

de Larry Mullen Junior – que a faz notória em todas as apresentações da banda, trazendo

referência ao domingo de 30 de Janeiro de 1972 no qual, no bojo do conflito religioso que

marcou a história da Irlanda e Irlanda do Norte, em um protesto pacífico na cidade norte-

irlandesa de Derry (conhecida também como Londonderry), soldados britânicos reprimiram

os ativistas e alvejaram manifestantes católicos, deixando quatorze mortos e vinte e seis

feridos.

Igualmente com referências religiosas e apesar das controvérsias iniciais acerca do

significado da letra – inserida no delicado contexto do conflito religioso e político irlandês –,

vale destacar que “Sunday Bloody Sunday” torna-se referência entre as canções pacifistas e

de protesto, inaugurando uma longa agenda do U2 dedicada a causas ambientais – em

exemplo do concerto em desaprovação à usina nuclear de Sellafield (“Stop Sellafield”), em 08

de Dezembro de 1992 –, de direitos humanos e civis, de filantropia, desarmamento, combate à

fome e pobreza, comércio justo entre as nações e perdão da dívida externa de países em

desenvolvimento, em pautas que ao longo dos anos foram amplamente defendidas nos shows

e pronunciamentos públicos dos integrantes do grupo.

No mesmo esteio é importante mencionar que no ano de 1984, no contexto de assumir

os riscos de esboçar uma nova sonoridade, é que o U2 concebe o álbum “The Unforgettable

Fire”, trazendo a produção musical de Brian Eno e Daniel Lanois e com eles estreando uma

decisiva parceria para o encontro de arranjos ainda mais inventivos e etéreos na gravação das

composições em estúdio. Desse trabalho, em tributo ao líder pacifista Martin Luther King

(1929-1968) tem-se a canção “Pride (In the Name of Love)”, que se tornando um dos grandes

êxitos comerciais do disco, credencia o grupo a apresentar-se em 13 de Julho de 1985 na data

inglesa do “Live Aid”, festival protagonizado pelos músicos Bob Geldof e Midge Ure que

objetivava arrecadar fundos para o combate à fome na Etiópia. Nesse concerto registrado no

antigo Estádio de Wembley, em Londres, a banda planejava incluir “Pride (In the Name of

Love)” – seu sucesso no momento – no “setlist” de três faixas. Contudo, após “Sunday

Bloody Sunday”, ao longo da canção “Bad”, com um desempenho imprevisível para a

audiência de milhões de pessoas ao redor do mundo, Bono retira uma fã da plateia para

dançar, praticamente abandonando o palco e forçando a banda, de forma visceral, a

improvisar a melodia por mais de dez minutos. O que poderia ser considerado como um erro

de performance do vocalista, acabou por trazer a exposição e popularidade em âmbito norte-

americano e mundial.

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No bojo dessa exposição, após estampar a capa da edição de 27 de Abril de 1987 da

revista norte-americana “Time” e apostando no impacto das apresentações ao vivo em

estádios lotados ao longo da turnê do álbum “The Joshua Tree” – na qual se registraram

ameaças de morte a Bono, especialmente por conta da canção “Pride (In the Name of Love)”

–, o U2 confia ao então jovem diretor Phil Joanou a direção do filme-concerto “Rattle and

Hum”, que lançado em 1988, mescla gravações em preto e branco com outras fortemente

coloridas. Mesmo tendo um baixo orçamento e recepção não muito calorosa da crítica, a

película alcança condição de registro fundamental para a compreensão da gênese da banda, de

suas convicções, interações e influências musicais.

Ademais, a partir da trajetória construída nas músicas e turnês que se seguiram ao

primeiro trabalho de estúdio, com a assunção e administração de riscos inerentes àqueles que

publicamente defendem causas e convicções de ordem religiosa, política, e que igualmente

desejam consolidar-se no universo artístico “mainstream”, o status da banda no universo pop-

rock revelou-se grandioso e com sucesso – ainda que sem exposição maciça e permanente na

mídia –, materializando uma jornada apta a muitas considerações que não caberiam neste

texto.

Figura 3. U2 recebendo o prêmio Grammy pelo álbum The Joshua Tree. Da esquerda para a direita: The Edge,

Adam Clayton, Larry Mullen Junior e Bono.

Fonte: O POVO (s. d.). Disponível em <https://especiais.opovo.com.br/40anosu2/>. Acesso 25 Dez. 2018.

Após anos de espera e expectativa dos fãs, o U2 desembarcou no Brasil para shows no

Rio de Janeiro em 28 de Janeiro de 1998 (que inicialmente aconteceria no Estádio Mário

Filho, o “Estádio do Maracanã”, mas, por problemas de logística, acabou tendo lugar no

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Autódromo Internacional de Jacarepaguá Nelson Piquet), além de outras duas datas no

Estádio Cícero Pompeu de Toledo, o “Estádio do Morumbi”, em São Paulo, justamente, 30 e

31 de Janeiro de 1998, trazendo a turnê “Pop Mart” (de divulgação do álbum “Pop”).

Houve um breve retorno em 23 de Novembro de 2001 para uma apresentação nos

estúdios da tevê Globo, no Rio de Janeiro (para a divulgação do álbum “All That You Can’t

Leave Behind”), cidade que inclusive serviu de cenário para a gravação do videoclipe da

canção “Walk On”.

Já em uma turnê propriamente dita – a “Vertigo Tour”, de divulgação do álbum “How

to Dismantle an Atomic Bomb” –, a banda retornou para mais duas apresentações no

Morumbi em 20 e 21 de Fevereiro de 2006, voltando ao mesmo estádio com a “360º Tour”

em 09, 10 e 13 de Abril de 2011, e com a “The Joshua Tree Tour 2017” (em celebração aos

trinta anos do lançamento do icônico álbum “The Joshua Tree”), nas datas de 19, 21, 22 e 25

de Outubro de 2017.

Em todas as ocasiões as entradas rapidamente esgotaram-se.

Ao que tange aos trabalhos musicais propriamente ditos, sem mencionar a

contribuição majoritária na trilha sonora do filme “The Million Dollar Hotel”, dirigido pelo

alemão Wim Wenders em 2000, os fonogramas lançados pelas diferentes plataformas da

Internet, “singles”– materiais contendo uma ou três canções, “cada uma com menos de dez

minutos de duração” –, os “extended play” (EP) – tendo de uma a três canções com “pelo

menos dez minutos de duração e um tempo de execução total de trinta minutos ou menos”, ou

com “quatro a seis músicas com um tempo de execução total de trinta minutos ou menos”

(LANDR, 2015), os registros não oficiais (os chamados “bootlegs”, geralmente gravados de

apresentações na televisão, rádios ou mesmo shows, até mesmo tidos como gravações

“piratas”), trilhas sonoras para o cinema, coletâneas, “lados b” (“b-sides”), e os discos

disponibilizados apenas para os assinantes do “site” oficial do U2, podemos cronologicamente

mencionar ao longo da carreira do grupo os seguintes álbuns – “long play” (LP) –, assim

considerados os registros “com seis ou mais músicas com mais de trinta minutos de duração”

(LANDR, 2015): 1) “Boy”, de 1980; 2) “October”, de 1981); 3) “War”, de 1983; 4) “Under a

Blood-Red Sky” (1983, ao vivo, também disponível em formato EP e em vídeo); 5) “The

Unforgettable Fire”, de 1984; 6) “The Joshua Tree”, de 1987; 7) “Rattle and Hum”, de 1988

(contendo performances ao vivo e ainda em formato de vídeo); 8) “Achtung Baby”, de 1991;

9) “Zooropa”, de 1993 (por muitos também considerado em EP); 10) “Original Soundtracks

1” (projeto experimental de trilhas sonoras imaginárias não assinado pela banda e gravado sob

o pseudônimo “Passengers”, ao lado de Brian Eno e outros artistas convidados, em exemplo

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de Howie B. e do tenor Luciano Pavarotti, 1935-2007), de 1995; 11) “Pop”, de 1997; 12) “All

That You Can’t Leave Behind”, de 2000; 13) “How to Dismantle an Atomic Bomb”, de 2004;

14) “No Line on the Horizon”, de 2009; 14) “Songs of Innocence”, de 2014; e 15) “Songs of

Experience”, de 2017, sendo que estes dois últimos trabalhos trazem a influência conceitual

da poesia de William Blake (1757-1827).

Figura 4. U2 em pôster promocional de divulgação do álbum “Pop”, de 1997. Da esquerda para a direita, Larry

Mullen Junior, The Edge, Bono e Adam Clayton.

Fonte: HOT PRESS (2017). Disponível em <https://www.hotpress.com/music/hot-press-celebrates-20th-

anniversary-of-u2s-legendary-pop-mart-tour-2001882 >. Acesso 25 Dez. 2018.

Sem crises públicas ou midiáticas entre os seus membros, a formação da banda

permanece a mesma ao longo de mais de quatro décadas, explorando mensagens poéticas,

pessoais, políticas, pacifistas, humanitárias e inventivas do ser humano na busca por sentido

da existência e, em especial, pela incorporação do memorando religioso como algo tangível

no cenário pop, como exploraremos a seguir, em especial em estrofe da canção “Breathe”,

apta a permitir leituras em diferentes vertentes cristãs.

2. O DELEITE E A INTERPRETAÇÃO DAS CANÇÕES DO U2

É surpreendente como uma banda tão talentosa e de tão significativo conteúdo artístico

como o U2, traga sucesso ao mesmo tempo em que não apareça com frequência na grande

mídia de muitos países, e que ao longo de mais de quatro décadas arraste multidões em seus

shows por quaisquer lugares do mundo por onde se apresente. Mesmo cantando em inglês, o

U2 consegue exibir para os fãs de outros idiomas uma linguagem musical e visual que se

torna universal, transmitindo uma mensagem de empolgação, volúpia e – em menor medida

para o grande público – de religiosidade, atraindo até mesmo aqueles que se declaram ateus.

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Figura 5. U2 (da esquerda para a direita, Adam Clayton, Bono, The Edge e Larry Mullen Junior) em uma de suas

exibições ao longo da segunda The Joshua Tree Tour (na canção Where the Streets Have no Name), que

inclusive teve lugar no Estádio do Morumbi, em São Paulo, Brasil, no segundo semestre de 2017.

Fonte: CONCERTS IN BRAZIL (s. d.). Disponível em

<https://concertsinbrazil.wordpress.com/2017/06/14/u2/>. Acesso 25 Dez. 2018.

Para a maioria dos fãs, por exemplo, em canções como “Until the End of the World”, é

perfeitamente possível crer no embate, no descontentamento e desilusão entre um casal de

namorados. Contudo, sendo parte da trilha sonora do filme de 1991 de mesmo nome de Wim

Wenders, leituras mais profundas como as de DIRANI (2005), STOCKMAN (2006) e

CROPP (2013), nos indicam uma “veia religiosa” – perfeitamente apoiada pela performance

da banda ao vivo – em que o U2 noticia o contato de Jesus Cristo e Judas Iscariotes a partir da

Última Ceia, materializando a vitória do bem contra o mal.

Dentre tantas outras canções, podemos encontrar essa veia religiosa do U2 em “Out of

Control”, do álbum “Boy”; em todas as canções do álbum “October”; em “Sunday Bloody

Sunday”, “Drowning Man”, e “40”, do álbum “War”; em “I Still Haven’t Found what I’m

Looking For”, “Bullet the Blue Sky” e “Where the Streets Have no Name”, do álbum “The

Joshua Tree”; “Silver and Gold” e “Angel of Harlem”, do álbum “Rattle and Hum”; em

“Ultraviolet (Light my Way)”, “One”, “Mysterious Ways” e a própria “Until the End of the

World”, do álbum “Achtung Baby”; em “Stay (Faraway, So Close!)” (igualmente integrante

de filme homônimo de Wim Wenders, de 1993), do álbum “Zooropa”; as faixas “Please”,

“Wake up Dead Man”, e “If God will Send his Angels”, do álbum “Pop”; em “Walk on” e

“Grace”, do álbum “All that You Can’t Leave Behind”; em “Vertigo”, “Love and Peace or

Else” e “Yahweh”, do álbum “How to Dismantle an Atomic Bomb”; além de “Magnificent” e

“Breathe”, do álbum “No Line on the Horizon”.

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Mais recente expansão de espiritualidade do U2 pode ser constatada na faixa

“Ahimsa” – a palavra em sânscrito para não violência –, lançada em 21 de Novembro de 2019

em parceria com o músico e produtor musical indiano A. R. Rahman e as cantoras Khatija

Rahman e Raheema Rahman (U2.COM, 2019). Executada na primeira visita do grupo à Índia

em 15 de Dezembro de 2019, exalta a meditação e a superação do sofrimento como “o ato de

acordar para um sonho”, trazendo na letra trechos do hino do “Tirukkural”, um texto clássico

do idioma tâmil que traz mil e trezentas e trinta estrofes de conteúdo ético e moral (JOE,

2019).

Vale mencionar outras significativas experiências de sentimentalidade e vivência

espiritual da banda – e, sobretudo, do vocalista Bono –, como nas letras do mais recente

álbum “Songs of Experience”, lançado em 1º de Dezembro de 2017 – em particular nas faixas

“Love is All we Have Left”, “Lights of Home” e “Love is Bigger than Anything in its Way”

(PASSOS, 2017b) –, bem como em canções como “One Tree Hill”, do álbum “The Joshua

Tree”, dedicada ao amigo e assistente pessoal do vocalista, o maori neozelandês Greg Carroll

(1960-1986) – e com menção ao cantor chileno Victor Jara (1932-1973) –, novamente em

“Out of Control” e “I Will Follow”, de “Boy”, “Tomorrow”, música do já citado repertório do

disco “October”, “Lemon”, de “Zooropa”, “Mofo”, de “Pop”, e “Iris (Hold me Close)”, do

trabalho “Songs of Innocence”, as nove últimas inspiradas em sua mãe, Iris Rankin Hewson –

nascida em 1926 e que faleceu em 1974 quando o cantor do U2 contava com quatorze anos de

idade – e “Kite”, do álbum “All that You Can’t Leave Behind”, e “Sometimes You Can’t

Make It on your Own”, de “How to Dismantle an Atomic Bomb”, com versos compostos por

Bono a partir da experiência de convívio com as filhas e dedicadas a seu pai, Bob Hewson,

nascido em 1925 e falecido de câncer em 2001.

Feitas essas considerações, nossa análise se concentrará em um dos versos da canção

“Breathe”, no que acreditamos que esse exercício de interpretação, incorporação e

apropriação do U2 em vários contextos – sobretudo, o religioso – são fundamentais para

ultrapassar a dimensão do mero deleite e proporcionar um aprofundamento na compreensão

da própria arte da banda irlandesa, portadora de grandeza estética e complexidade.

3. O VERSO EM ANÁLISE DA CANÇÃO “BREATHE”

Com produção secundária da dupla Eno/ Lanois e primordial de Steve Lillywhite – o

produtor principal dos álbuns “Boy”, “October” e “War” e a quem também coube a mixagem

da canção – “Breathe” é construída em “riffs” de guitarra que mesclam acordes e notas

intercaladas por “delays” e outros efeitos – característica marcante das contribuições de The

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Edge no grupo –, expondo na letra, em princípio, reflexões oriundas de um contexto de

inquietações amplas, que se deslocam desde a circunstância singular de viver angustiado e de

necessitar atenção em New York – cidade muito apreciada por Bono e importante no histórico

de turnês da banda –, até mesmo à instabilidade da vicissitude presente relacionada a distintas

questões perpassadas no quotidiano de forma mais ou menos intensa, como as materiais, as de

saúde, as espirituais e, mesmo, as econômicas de um mundo globalizado.

Ademais, a canção “Breathe”, como nos indica CALHOUN (2009) e JOE (2010), no

geral, é capaz de trazer vários indícios de interpretação, em que no início, mencionando o dia

de 16 de Junho, pode estar ligada ao feriado “Bloomsday”, na Irlanda (relacionado à

personagem Leopold Bloom, da obra “Ulysses”, do escritor dublinense James Joyce (1882-

1941) – cujo enredo acontece justamente nesta data –, ou ao Massacre de Soweto, na África

do Sul (“Soweto uprising”), ocorrido em 16 de Junho de 1976, congruente à luta do grupo

contra o “Apartheid”, o regime racista que vigorou oficialmente na África do Sul entre 1948 e

1994. No encarte da edição “deluxe” do álbum “No Line on the Horizon”, Bono dedica um

“feliz aniversário” ao amigo, ativista e político Nelson Mandela (1918-2013) – personalidade

notória na luta contra o citado regime segregacionista e vencedor do prêmio Nobel da Paz em

1993, e que em sua trajetória acabou por comandar a nação entre 1994 e 1999 –, modificando

essa data para 18 de Junho, dia do nascimento do ex-presidente sul-africano, como que

fazendo uma versão definitiva e final para a letra (CALHOUN, 2009; JOE, 2010).

“Breathe” revela-se uma canção complexa em melodia e letra, na qual Bono parece

agregar ingredientes do “rap” ao encaixar astutamente a voz ao longo dos compassos –

controlando eficientemente a respiração para a audição das palavras –, e enunciando o viés

humanístico tradicional do U2, conjuga elementos exteriores e interiores do eu lírico em

argumentos que remontam, já no início da música, aos aspectos “grosseiros” da existência –

como na citação das “ações chinesas” e do “novo vírus asiático” –, até a busca pelo alívio

definitivo, o espiritual, por meio da fé – visto a referência simbólica do “benzedeiro”, o “Ju Ju

man”, e que culmina na presença diante da Igreja de St. John Divine, em New York –,

induzindo-nos conclusivamente à possibilidade de restauração obtida no espectro não

vingativo ou comutável em penas cruéis ou perpétuas e, evidentemente, de amor justo e

infinito de Deus, como não apenas se estuda no Espiritismo – como se verá a seguir –, mas,

igualmente em outras religiões e vertentes cristãs.

Aprofundando a perspectiva que desejamos nos concentrar – e alcançado o trecho que

nos propusemos a analisar –, contido na “quinta estrofe” – assim considerada a partir da

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respiração do vocalista do U2 na música (visto que o encarte do álbum não traz indicação

específica de versos) –, a letra de Bono nos diz:

Every day I die [Todos os dias morro], again [novamente], and again I’m reborn [e

novamente renasço]; Every day I have to find the courage [Todos os dias tenho que

encontrar a coragem]; To walk out into the street [Para caminhar pela rua]; With arms

out [De braços abertos]; Got a love you can’t defeat [Pois possuo um amor que você

não pode derrotar]; Neither down or out [Nem rebaixar ou desprezar]; There’s nothing

you have that I need [Afinal não há nada em você que eu necessite]; I can breathe

[Posso respirar]; Breathe now [Respirar agora]... [a tradução livre é nossa]

Não se negue que Bono, o autor da letra, como publicamente se sabe, é um católico

irlandês, trazendo essa circunstância em seu trabalho. Todavia, como já dito em outro escrito

(PASSOS, 2016), mesmo com explicações reveladoras como as de STOCKMAN (2006), e,

igualmente de DIRANI (2005) e CALHOUN (2009), não é raro encontrar admiradores do U2

que afirmam que nas canções a banda escreve as histórias de suas vidas pessoais. Dito isso,

acreditamos que é possível fazer apropriações particulares do conteúdo do U2 – inclusive fora

da perspectiva eurocêntrica, da língua inglesa e da vertente católica – no que inserimos a

interpretação da Doutrina Espírita e um dos seus fundamentos basilares, justamente a

reencarnação, que acrescente-se, não é criação ou revelação do Espiritismo, estando registrada

e presente desde as escrituras mais antigas da humanidade.

4. “BREATHE” EM UMA LEITURA ESPÍRITA

4.1. Breves notas sobre o Espiritismo

Codificada pelo pedagogo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, pseudônimo Allan

Kardec (1804-1869) – que adotou para diferenciar seus trabalhos espirituais dos de natureza

pedagógica –, inicialmente com o auxílio de diferentes médiuns, a Doutrina Espírita, enquanto

sistematização vem à tona a partir de 1857 com suas obras básicas – “O Livro dos Espíritos”,

de 1857, “O Livro dos Médiuns”, de 1861, “O Evangelho segundo o Espiritismo”, de 1864,

“O Céu e o Inferno, ou A Justiça Divina Segundo o Espiritismo”, de 1865, e “Obras

Póstumas”, lançado em 1890 – trazendo como fundamentos a existência de Deus – princípio e

finalidade de tudo – e Jesus, nosso exemplo, modelo e guia para a humanidade; a

comunicabilidade entre encarnados e desencarnados por meio da mediunidade, representando

mundo corporal e mundo espiritual; a lei da causa e efeito (em que a nossa condição atual é

decorrente de atos pretéritos, sobretudo, de vidas anteriores); a pluralidade de mundos

habitados com vida inteligente; e, claro, a reencarnação, em que no livre arbítrio, o espírito

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nasce e renasce para aprender, tendo no esteio da bondade divina, a possibilidade de se

redimir e evoluir através de muitas existências (LAURENTI, s.d.).

Assinale-se que, dessa forma, os espíritos reencarnam, e com a bênção do

esquecimento na vida encarnada presente, justamente para não reviver rivalidades e

sentimentos deletérios – concedida no desiderato de um Deus não vingativo, perfeito e

infinitamente bom –, renascem quantas vezes forem necessárias para atingir a evolução, no

que a Doutrina Espírita manifesta respeito a todas as religiões e a todos os povos, valorizando

todos os esforços feitos em direção da caridade e do bem, inclusive, entendendo-os aptos a

guindarem o indivíduo ao progresso e à felicidade.

Como bem explicou o próprio Allan Kardec (1966, p. 7), as manifestações objeto de

estudo da Doutrina Espírita são fonte de muitas ideias novas, sem representação na linguagem

usual e que requerem em princípio o uso da analogia e a construção de um novo vocabulário,

abordando a totalidade dos pontos da metafísica e da moral, e mesmo, a quase totalidade de

conhecimentos humanos.

Objetivando trazer respostas para a existência material presente, o Espiritismo – sem

possuir sacerdotes, ritos ou símbolos – apresenta a vida metafisicamente, tendo obtido grande

desenvolvimento no Brasil pelo trabalho de caridade, filantropia, assistência social e

aprofundamento doutrinário de numerosos trabalhadores e médiuns. Entre estes últimos,

destaca-se Francisco Cândido Xavier, o “Chico Xavier” (1910-2002), expoente da cultura

brasileira que trouxe maior completude, engrandecimento e elevação ao legado codificado por

Kardec, complementando, em essência – no que se adiciona o concurso do espírito

Emmanuel, o seu mentor espiritual – que as provações do mundo não devem nos abater e que

as dificuldades que nos surpreendem são testes os quais nos cabe buscar aproveitamento, de

forma que vivenciamos a situação mais adequada em relação ao nosso próprio aspecto

espiritual, onde possuímos o corpo físico que nos favorece aos avanços no âmbito íntimo

(EMMANUEL; XAVIER, 1977, p. 25-27). Acresça-se que o clima social é o cenário das

atividades à nossa disposição para o emprego dos recursos da experiência, na presença dos

companheiros que nos auxiliarão no aperfeiçoamento desejado, de maneira que aqueles que

nos deixam na jornada são afeições que se afastam provisoriamente para a aquisição de maior

segurança (EMMANUEL; XAVIER, 1977, p. 27).

Na percepção que o ser humano é um espírito ainda em evolução e na convicção que

Deus é o mesmo para todos, a prática do bem, do bom senso, do livre arbítrio conjugado à

responsabilidade, do autocontrole, do perdão, do desapego à matéria, do diálogo e tolerância,

dos bons pensamentos, atos e boas palavras, e exercício da humildade e simplicidade, da

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justiça, da oração, da resignação, da reparação, da não maledicência, da não violência, da fé

no futuro, da reforma íntima e do estudo e trabalho orientado em favor de auxiliar sem

julgamentos e não fazer ao outro aquilo que não se queira receber, somando-se a tarefa da

caridade e da fé raciocinada – reitere-se, com Jesus Cristo na referência e modelo a ser

seguido – são valores que se constituem também em alicerces do Espiritismo, consolidado por

desenvolvimento histórico e pela experiência, reflexão e proposta de esforço rumo ao

inadiável e incessante adiantamento.

Ciência, religião, filosofia e proposta de vida, superadas estão as fases de

demonstrações ou de fenômenos físicos afirmadores da Doutrina em “caráter permanente” ou

“contínuo”, de sorte a termos a conclamação para o progresso e evolução em temas prementes

da humanidade e à própria reforma íntima rumo a um planeta de regeneração.

Ademais, em termos de Espiritismo – concretizando o Consolador prometido por Jesus

–, como em meados de 1920 lecionou Fred Figner (1866-1947) (s.d., p 9-10, 20, 24-25, 33),

objetiva-se seguir os ensinos do Cristo, que, por sua vez, os fez em nome d’Aquele – o maior

de todos – sem atacar crenças ou pessoas, afinal, na convicção que fatos não são ficção e que

o pensar é o que cada um pode e não o que quer, reafirma-se o dever de não fazer aos outros

aquilo que não gostaria que fosse feito a si mesmo, de forma que a busca pela verdade não é

destrutível via sofismas, visto ser ela de Deus.

Como já afirmado anteriormente, sendo eixo axiológico de toda a Doutrina, Jesus

Cristo é o Mestre, sendo portador de uma filosofia que ora parece muito simples, ora deveras

complexa em seu significado e alcance como bússola orientadora do comportamento e destino

humano. Sobre o tema, Terezinha Oliveira (1930-2013) (OLIVEIRA, 2017, p. 8) traz

relevante contribuição, aduzindo que

Era comum, em seus discursos, o Mestre recorrer às parábolas, histórias singelas e

comparativas, que contém, sob a forma alegórica, verdades importantes e uma

conclusão moralizante. Adequadas ao público heterogêneo, porque a narrativa prende

a atenção e o simbolismo facilita a compreensão em assuntos transcendentes, as

parábolas também auxiliam na guarda e reprodução do ensino e permitem se

enunciem verdades que, de outro modo, dificilmente seriam aceitas ou sequer

escutadas. Contando parábolas Jesus evitou, ainda, que, no futuro, preciosos

ensinamentos seus chegassem a ser deturpados pela ignorância ou pela má fé.

Assim, a autora assevera que algumas parábolas encantando gerações por meio da

beleza e elevação dos ensinamentos, e outras apresentando complexidade no entendimento,

nos desafiam à inteligência e sensibilidade na busca da interpretação que seja mais lógica e

condizente com o pensamento do Cristo, no que podemos ter o auxílio do Espiritismo e a

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inspiração de bons espíritos (OLIVEIRA, 2017, p. 9). A isso, acrescentamos que todos os

esforços feitos dentro dos princípios da busca de transcendência e aperfeiçoamento para o

alcance do bem – até mesmo por meio da arte concebida em favor do progresso moral – são

aptos para a aproximação e melhor compreensão dos ensinamentos do Mestre, e mesmo,

capazes de pugnar por uma existência em elevação, objeto do Espiritismo e de qualquer

religião.

4.2. A leitura do U2 – e em especial de verso da canção “Breathe” – no contexto espírita

Feita a breve digressão sobre a Doutrina, na interpretação das canções do U2, além do

consumível e visível na cena pop (PASSOS, 2016), ela nos traz a possibilidade de uma

experiência transcendental, metafísica, artística e religiosa, apta, inclusive, a nos guindar na

reflexão espírita, inclusive com apoio no Evangelho, especialmente no fundamento da

reencarnação. Sobre ela, no bojo de um excerto da canção “Breathe” e nesse sentido

interpretativo, podemos mencionar a passagem das Escrituras contida em João 3:1-7, na qual

Nicodemos vai se encontrar à noite com Jesus – provavelmente querendo se proteger das

convenções sociais – interpelando o Mestre em exercício de humildade acerca dos

ensinamentos que pregava, afinal, deveria ser um enviado de Deus; ele, inclusive, indaga,

como sendo velho, poderia novamente estar no ventre materno e nascer, no que escuta que se

não houver nascimento da água e do espírito, não se entra no Reino de Deus; o que é nascido

da carne é carne, e do espírito é espírito; há de se renascer de novo. Assim, como dito,

protegido das convenções sociais – afinal, era um doutor da Lei de Moisés, conhecedor da

Torá –, Nicodemos busca sabedoria e completude junto a Jesus, em passagem apta a trazer

sentido restituidor ao real conteúdo do Evangelho, que não olvida acerca do processo

evolutivo do espírito através de várias vidas em direção ao bem e à felicidade.

Novamente Therezinha Oliveira (OLIVEIRA, 2016, p. 108), bem nos elucida essa

passagem no diálogo de Nicodemos com Jesus:

Neste diálogo, Jesus ensina teoricamente a reencarnação. Nicodemos pensou no

mesmo corpo nascendo de novo (o que não é possível). Jesus corrigiu esse erro: “o

que é nascido da carne é carne”, o corpo segue a lei natural da decomposição da

matéria; reafirmou que para “entrar no reino de Deus” (alcançar planos espirituais

elevados) há necessidade de renascer tanto da água (símbolo da matéria) como do

espírito; ou seja, reencarnar no mundo material, mas também renovar-se intimamente,

progredir. Usou o ar (pneuma, símbolo do elemento espiritual) como comparação para

explicar que sentimos a presença e manifestação do Espírito reencarnado, através do

seu novo corpo, mas não podemos identificar de onde veio (o passado é

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providencialmente esquecido) nem apontar-lhe um futuro (vai depender do seu livre

arbítrio) [itálicos e negritos no original].

Já se mencionou acerca das várias possibilidades interpretativas de “Breathe”, no que

uma das mais sólidas, como já mencionamos, está na homenagem a Nelson Mandela, cuja

música, inclusive, consta da trilha sonora do documentário que o aborda intitulado “Miracle

Rising: South Africa”, dirigido em 2013 por Yann Arthus-Bertrand – portanto, posterior ao

lançamento do álbum “No Line on the Horizon”, de 2009 – no que é de se anotar também que

ali há a inserção de uma letra diferente, mencionando a data de nascimento do líder sul-

africano, em que Bono chegou a declarar à Michele Sparks, produtora da película, que a

canção, de fato, tinha sido escrita para ele (McGEE, 2013). Por sinal, essa mesma versão

alternativa de “Breathe”– quase só com voz, “backing vocals de The Edge”, efeitos e violão –

foi incluída no “compact disk single” da música “Ordinary Love”, lançado em 29 de

Novembro de 2013.

Deixando de lado essa letra e tomando o texto daquela contida no álbum “No Line on

the Horizon”, nesse exercício exegético, pode-se alcançar um enfoque multidisciplinar,

trazendo outra abordagem cultural e religiosa, sobretudo, ligada ao Espiritismo, onde, até

mesmo indo por um caminho distinto do Catolicismo de Bono, encontre-se na menção de

morrer e renascer a assertiva da reencarnação – como dito, um dos fundamentos da Doutrina

codificada por Kardec –, em que o ato de abrir os braços seja metaforicamente a misericórdia

de Deus no perdão e na oportunidade do espírito de se redimir das faltas cometidas em uma de

suas existências. Prosseguindo nessa estrofe, só o amor e a bondade levam à evolução, jamais

configurando um desperdício, no que o mal nada pode contribuir ao progresso. Assim, esse

mesmo perdão vindo da bondade infindável de Deus é justamente a possibilidade necessária e

ofertada através da reencarnação, onde a esperança do espírito que busca se redimir, reparar o

mal e progredir se faz representar no ato de respirar ao longo de uma existência infinita e

imortal no plano imaterial.

Bono pensou na reencarnação ou mesmo na Doutrina Espírita para escrever essa

estrofe? Essa pergunta poderia ser feita diretamente a ele, no que a sua filiação católica não

nos indica essas probabilidades. No entanto, não se pode subestimar Bono, um intérprete com

capacidade de domar plateias, um intelectualizado letrista apto a alcançar percepções não

triviais e transmitir mensagens que talvez até ele próprio desconheça, e que cujo talento

encanta fãs por conseguir ilustrar a trajetória individual de cada um deles.

E é justamente aí que reside a beleza da mensagem, em uma linguagem de alcance

inestimável, vindo de encontro ao chamado do coração de cada ser humano.

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Ademais, é certo que o vocalista do U2 não se deixa guiar pelo óbvio e a

complexidade de suas letras nos conduz para muito além do vazio, da superfície e do

tradicionalmente visível na cena consumista, instantânea, passageira e frágil do

entretenimento pop, proporcionando uma experiência interior e metafísica.

Bono vai além até mesmo das mensagens características de louvor do estilo gospel,

uma vez que ele e o U2 despertam inquietações não raro pouco assimiladas por alguns críticos

e pela mídia, que, no lançamento de um novo álbum, não raro tecem críticas desfavoráveis,

mas anos mais tarde, o reverenciam na condição de clássico.

Defensor dos direitos humanos e civis – assim como toda a banda – Bono nunca

desprezou nenhuma religião – a ponto de ao longo de toda a turnê “Vertigo”, na performance

de “Sunday Bloody Sunday”, introduzir a pequena canção (“snippet”) “Coexist”, que afirma

“Jesus, Jew, Muhammad, it’s true, all sons of father Abraham” (Jesus, Judeu, Maomé, é

verdade, todos filhos do pai Abraão) –, colocando-se verdadeiramente tolerante e cristão, e

mesmo com os acertos e erros de todo o ser humano imperfeito, demonstra por meio de ações

práticas ser um espírito que muito se esforçou para alcançar a evolução, como preconiza a

Doutrina Espírita. Afinal, como da mesma forma se enuncia em Tiago 2:14-20, temos que a fé

sem obras, torna-se morta. E Bono e o U2, na sua militância em favor de um mundo melhor,

como são de conhecimento notório, têm obras de sobra, não se intimidando pela exposição da

imagem e, paradoxalmente ao lado do carinho dos fãs, também por ameaças e pelo

recebimento de maledicências severas.

Não se negue a importância do guitarrista The Edge nessa missão. Soberano no

instrumento, com os característicos arpejos e “delays” – onde combina diferentes afinações e

recursos, possivelmente separando amplificadores para maior controle na mixagem das

músicas (DARLING, 2006) –, ajuda a comunicar por meio de distintos modelos de guitarra

com melodias impressionantes – inclusive com vocais e tocando teclado, piano e outros –, no

que é seguido com competência na harmonia rítmica por Adam Clayton – autodidata no

contrabaixo que formalmente somente viria a estudá-lo quando a banda já possuía renome

mundial –, e Larry Mullen Junior (reconhecidamente com o status de fundador do grupo), na

bateria, e posteriormente, percussão e também teclado. Aliás, todos os membros do U2

envolvem-se com ações de caridade, que numerosas, nem caberiam nesse texto.

O espírito Emmanuel, de grande importância no Espiritismo, enuncia que “a maior

caridade que podemos fazer pela Doutrina Espírita é a sua própria divulgação”. E é inclusive

nesse sentido que temos o presente ensaio.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O U2 fez de sua trajetória musical algo que foi muito além da música, embora ela

tenha sido o vetor para a realização de seus sonhos e propostas de vida. A ponto de nesse

sentido ouvirmos na parte final da letra da própria canção “Breathe” a crença de “alcançar-se

a graça dentro do som”. Por sinal, a fé em um futuro melhor alicerçada nas boas ações do

presente – fundamento do próprio Espiritismo e amplamente demonstrada em obras da

codificação da Doutrina, em exemplo de “O Céu e o Inferno, ou A Justiça Divina Segundo o

Espiritismo”, de Kardec (KARDEC, 2007) – é uma atitude constante da banda, mesmo

quando os seus integrantes assumiram uma postura típica de estrelas de rock no ínterim e a

partir do álbum “Achtung Baby”, período que inaugura Bono trazendo consecutivamente as

figuras de “The Fly”, “The Mirrorball Man”, “Mr. McPhisto”, “Bonoman” e “Shadow Man”

como variações de seu alter ego, desenvolvidas até mesmo para ironizar os críticos e os

“haters”, que nunca lhe deram descanso, e o próprio “showbusiness” como um espaço que

não deveria ser levado tão a sério.

Figura 6. Bono no visual de seu alter ego “The Fly”, exibido na turnê “Zoo TV”, promocional do álbum

“Achtung Baby”.

Fonte: TRIPOD (s. d.). Disponível em <http://alh0922.tripod.com/bonofly.jpg>. Acesso 25 Dez. 2018.

Dentre inúmeras outras ações, este é o U2, que corajosamente já chamou a atenção do

mundo para o Cerco de Sarajevo – ao longo da Guerra da Bósnia-Herzegovina, entre 1992 e

1995 – trazendo talvez o primeiro grande show na capital bósnia após o conflito, ocorrido no

Estádio Koševo em 23 de Setembro de 1997, com ingressos a preços reduzidos –, que clamou

e contribuiu pela liberdade da líder oposicionista Aung San Suu Kyi, em Mianmar (antiga

Birmânia) – ainda que no contexto da “realpolitik” estivesse ela posteriormente envolvida nas

controvérsias acerca da repressão à minoria étnica muçulmana rohingya no próprio país –, que

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pôs-se em turnê em favor da Anistia Internacional em 1986 (“A Conspiracy of Hope Tour”),

que registra Bono ilustrando ao lado das filhas Jordan e Eve versão de “Pedro e o Lobo”, de

Sergei Prokofiev (1891-1953), em benefício do tratamento especializado de pacientes

terminais (PROKOFIEV, 2003), e que o tem caminhando na noite de Natal pela “Grafton

Street”, em Dublin, cantando gratuita e entusiasticamente ao lado dos amigos ao mesmo

tempo em que pede donativos para a caridade.

Figura 7. Pôster de divulgação do show do U2 em Sarajevo, em 23 de Setembro de 1997. Da esquerda para a

direita, Adam Clayton, Bono, Larry Mullen Junior e The Edge.

Fonte: PINTEREST (s. d.). Disponível em <https://br.pinterest.com/pin/397301998367187992/>. Acesso 25

Dez. 2018.

Se o objetivo da prece é elevar a alma a Deus, a distinção de fórmulas não deve trazer

desigualdade entre crentes e descrentes de sua eficácia, menos ainda dentro do Espiritismo, no

que deve acrescentar-se ao fato a assertiva que Deus aceita todas as orações, bastando que

consigo tragam a sinceridade (KARDEC, 2014, p. 10).

Independentemente da interpretação, pela obra e, especialmente, pela música, o U2 se

converte em prece para os ouvintes.

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REFERÊNCIAS

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