a internet como ambiente mediador na produção e compreensão … · 2009-11-30 · de acordo com...

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1 A Internet como ambiente mediador na produção e compreensão de textos em língua inglesa. Vera Lucia Kremer Takamatu 1 RESUMO Este artigo relata as considerações feitas sobre o desenvolvimento de atividades utilizando a Internet como ferramenta de suporte às práticas educacionais voltadas à produção de material didático para as aulas de língua inglesa no ensino fundamental. Assumindo que a Internet é a mídia que tem a característica de possibilitar diversos tipos de comunicações e interações entre culturas, este artigo tem como objetivo sugerir a reflexão e a utilização da Internet como ambiente virtual de aprendizagem, lúdico e motivador, que proporcione a maior exposição do aluno à língua inglesa e implemente atividades de leitura e escrita, buscando desenvolver uma consciência crítica a respeito dos valores, das concepções e visões de mundo nos diferentes contextos socioculturais e históricos. 1 Professora de Língua Inglesa da Rede Pública do Estado do Paraná, especialista em Metodologia do Ensino de Língua Estrangeira Moderna pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), participante do Programa PDE 2008.

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1

A Internet como ambiente mediador na produção

e compreensão de textos em língua inglesa.

Vera Lucia Kremer Takamatu1

RESUMO

Este artigo relata as considerações feitas sobre o desenvolvimento

de atividades utilizando a Internet como ferramenta de suporte às práticas

educacionais voltadas à produção de material didático para as aulas de língua

inglesa no ensino fundamental.

Assumindo que a Internet é a mídia que tem a característica de possibilitar

diversos tipos de comunicações e interações entre culturas, este artigo tem como

objetivo sugerir a reflexão e a utilização da Internet como ambiente virtual de

aprendizagem, lúdico e motivador, que proporcione a maior exposição do aluno à

língua inglesa e implemente atividades de leitura e escrita, buscando desenvolver

uma consciência crítica a respeito dos valores, das concepções e visões de

mundo nos diferentes contextos socioculturais e históricos.

1 Professora de Língua Inglesa da Rede Pública do Estado do Paraná, especialista em

Metodologia do Ensino de Língua Estrangeira Moderna pela Universidade Federal do

Paraná (UFPR), participante do Programa PDE 2008.

2

As atividades de leitura e escrita propostas para os alunos têm como

objetivo levantar temas que gerem discussão, análise, reflexão e estimulem o

pensamento crítico. Além disso, pretende-se estimular a criatividade, a pesquisa,

a busca de informações e troca de experiências através da elaboração de uma

webquest com atividades práticas para o professor desenvolver com seus alunos

do ensino fundamental, em sala de aula e no laboratório de informática.

As atividades aqui relatadas foram aplicadas em sala de aula e no laboratório de

informática da Escola Estadual República Oriental do Uruguai em Curitiba (PR),

atendendo a um público composto de 71 alunos de 7ª série do ensino

fundamental. E também compartilhado com os professores do Grupo de Trabalho

em Rede/2008 (GTR)2 que colaboraram com o estudo, reflexões e aplicação de

algumas atividades em sua prática pedagógica.

Palavras-chave: internet, laboratório de informática, webquest

ABSTRACT

This article reports the assumptions made about the development of

activities using the Internet to support educational practices aimed at producing

teaching materials for English language lessons in elementary school.

2 Os Grupos de Trabalho em Rede - GTR - constituem-se numa atividade do PDE e

caracterizam-se pela interação virtual entre o Professor PDE e os demais professores da

rede pública estadual, e busca efetivar o processo de Formação Continuada já em curso,

promovido pela SEED/PDE.

3

Assuming that the Internet is the medium that has the feature to enable

various types of communications and interactions between cultures, this article

aims to reflect on the use of the Internet as a virtual fun and motivating learning

environment, providing greater exposure of student to the English language.

The activities of reading and writing suggested to the students are intended

to raise issues that generate discussion, analysis, reflection and encourage critical

thinking. It also aims to stimulate creativity, research, information gathering and

exchange of experiences through the creation of a webquest with practical

activities to be used by teachers with their elementary school students in the

classroom and in the computer lab .

The activities presented here were implemented at Escola Estadual República

Oriental do Uruguai in Curitiba (PR), serving an audience of 71 students in 7th

grade of elementary school. And also shared with teachers of Grupo de Trabalho

em Rede/2008 (GTR), that cooperated with the study, reflection and

implementation of some activities in their schools.

Key words: internet, computer lab, webquest

INTRODUÇÃO

Vivemos em uma sociedade mediada pela tecnologia,. Esta se faz presente

em nosso dia-a-dia, em todos os segmentos da sociedade: trabalho, saúde,

entretenimento, telecomunicações, ... A presença de tecnologia em todos os

setores da sociedade corrobora a necessidade de sua presença na educação,

auxiliando na formação de um cidadão pró-ativo, na sua interação com os outros,

com o conhecimento e com o meio.

4

Com a implantação do Programa “Paraná Digital” nas escolas públicas do

Paraná , a Secretaria de Estado de Educação disponibilizou laboratórios de

informática com conectividade à internet com o objetivo de difundir o uso

pedagógico das tecnologias de Informação e Comunicação – TIC’s e facilitar

dessa forma, o acesso dos alunos à web e auxiliar o professor em novas práticas

educativas.

Buscando atingir os objetivos propostos, meu trabalho pressupõe o uso de

atividades online como jogos e exercícios pesquisados e avaliados previamente

na Internet, assim como a utilização de recursos do Portal Dia a Dia Educação

como os simuladores e animações, além da criação de uma webquest própria

para as turmas em estudo. Com a criação da webquest surgiu a necessidade de

se encontrar um host que pudesse hospedar a mesma. Após algumas pesquisas

e tentativas, decidi criar uma wiki para inseri-la e aproveitei o espaço para também

incluir sugestões de sítios, vídeos, exercícios interativos, dicionários e outros

materiais pertinentes ao ensino de língua inglesa e que poderiam ser utilizados

nas aulas ou em casa pelos alunos ou outros professores.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A Internet é a nova mídia do momento. Ela nos trouxe a possibilidade de

acessarmos bibliotecas, universidades, jogos, músicas, serviços e diversas outras

fontes de pesquisa mundo afora, a qualquer momento e em qualquer lugar.

A Internet nasceu nos Estados Unidos em 1969, no auge da Guerra Fria,

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tendo como característica ser uma rede de computadores interligados sem uma

administração central, com o objetivo de evitar que a rede parasse em caso de

bombardeio. Ficou por duas décadas restrita ao meio acadêmico e científico e só

liberada para uso comercial nos EUA em 1987. Somente em 1995, a Internet foi

liberada para uso comercial no Brasil. O recurso ‘web’ nasceu na Suíça em 1991,

no laboratório CERN, com o objetivo de facilitar o acesso a documentos

científicos.

A Internet é uma rede mundial de computadores ligados entre si e que se

comunicam por meio de uma linguagem em comum (protocolo), partilhando dados

da mais diversa ordem. Estar conectado à ela significa ter acesso a um novo

mundo de possibilidades, impensáveis há alguns anos atrás.

Como meio de comunicação, a Internet contribui para interligar pessoas no

mundo todo, possibilitando discussões sobre os mais diferentes assuntos. Diminui

distâncias de tempo e espaço e reduz consideravelmente o custo em relação ao

telefone ou quaisquer outros meios conhecidos.

No Brasil, a incorporação da tecnologia aos processos educacionais ainda

sofre devido ao reduzido grau de envolvimento dos professores com a informática.

Problemas advindos da falta de treinamento dos docentes, de tempo para

pesquisar e analisar informações provenientes da web, a falta de recursos, os

temores de não saber lidar com a máquina e de os alunos saberem mais sobre

computadores do que eles, o medo de ser substituído pelo computador, entre

outros.

Segundo Kalinke (2003:12), a internet é uma das ferramentas educacionais

com maior possibilidade de agregar valor e ressaltar a importância dos

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professores. Por isso, é necessário que os professores estejam abertos a recebê-

la, ou do contrário, estarão à margem do processo de evolução.

De acordo com Tajra (2007:12) a escola e os professores devem oferecer a

seus alunos os recursos disponíveis nos seus meios, a fim de cumprirem com seu

papel de preparar cidadãos pró-ativos para um mundo cada vez mais competitivo

e repleto de desigualdades sociais. Cabe aos educadores assumirem os riscos de

novas experiências e reverem suas crenças enquanto facilitadores e

coordenadores de ambientes de aprendizagem.

Também Moran (2007) afirma que:

“a educação escolar precisa, cada vez mais, ajudar todos a aprender de

forma mais integral, humana, afetiva e ética, integrando o individual e o

social, os diversos ritmos, métodos, tecnologias, para construir cidadãos

plenos em todas as dimensões.”

Ele também aponta que a Internet ajuda a desenvolver a intuição, a

flexibilidade mental, a adaptação a ritmos diferentes. Que facilita a motivação dos

alunos, pela novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de pesquisa que

oferece e que através dela, desenvolvemos novas formas de escrita:

“passamos a escrever de forma mais aberta, hipertextual, conectada,

multilinguística, aproximando texto e imagem”.

Brito (2006:98) diz que cabe a nós educadores usarmos o computador de

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forma planejada na escola, de modo a possibilitar modificações na forma de atuar

em sala de aula e no ensino de modo geral.

A autora diz:

“o uso do computador na educação tem um potencial enorme, que não

está diretamente relacionado à presença da máquina, mas sim do

profissional professor que firmou um compromisso com a pesquisa, com a

elaboração própria, com o desenvolvimento da crítica e da criatividade,

superando a cópia, o mero ensino e a mera aprendizagem”.

Segundo a autora, a Internet veio para mexer com os paradigmas

educacionais, os quais não comportam mais a arbitrariedade de opiniões e a

linearidade de pensamento. Se buscamos a formação de um sujeito para um

mundo em transformação, cabe a nós propormos uma nova forma de integrar a

internet no processo de comunicação com nosso aluno, mostrando que as

informações são apresentadas sob diferente óticas e em conjunto, poderemos

analisá-las, relacioná-las e contextualizá-las.

Como dissemos anteriormente, a utilização da web demanda mudanças no

processo ensino-aprendizagem. Autores como Paiva (2001) apontam para a

mudança no papel do professor, que deixa de ser aquele que simplesmente

transmite conhecimentos e passa a ser aquele que ajuda a organizar as

informações, orientando os alunos em novos caminhos a serem trilhados. O

professor passa a ser um facilitador.

Collins (apud Paiva, 2001) afirma:

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“the teacher guides and empowers students to discover facts, processes

and concepts necessary to complete their understanding of a topic and to

use this in writing a paper, creating a plan or carrying out a project. There

is a strong evidence that students become empowered and engaged in

the activities they carry out while using computers.”

A autora também salienta que, pelo fato de a web ser rica em

possibilidades, ela naturalmente apresenta pontos positivos e negativos.

A internet, quando trabalhada de forma inteligente, sabendo-se como lidar

com suas limitações, pode ser uma ferramenta poderosa a ser utilizada com os

alunos como recurso de aprendizagem na construção do conhecimento.

O professor precisa apropriar-se da tecnologia em função de seus interesses

profissionais.

Conforme Hack (2005:2)

“capacitar-se continuamente para acompanhar as mudanças estruturais

dos saberes, assumir postura de questionamento e criticidade diante das

informações, exercer o papel de orientação e cooperação com os discentes.”

Então, o que se busca neste projeto é a utilização da Internet como um

meio para proporcionar a interação com o outro, onde o aluno possa reconhecer e

compreender a diversidade lingüística e cultural através do contato com diversos

tipos de textos. Um meio onde o aluno possa se envolver discursivamente,

expandir sua capacidade interpretativa e cognitiva, formar subjetividades e

perceber as possibilidades de construção de significados através do contato com

os outros no ambiente virtual.

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Partindo da afirmação de Bakhtin (1998) de que “todo discurso se constrói

no processo de interação e em função de um outro. E é no espaço discursivo

criado na relação entre o eu e o outro que os sujeitos se constituem socialmente”,

o trabalho pedagógico com textos verbais e não verbais fará o aluno ter contato

com diversos discursos subjacentes, promovendo várias possibilidades de leitura

e a construção de novos significados, relacionando os apresentados pelos textos

com os construídos na sua cultura.

Warschauer et al (2000:7) listam 5 razões principais para o uso da Internet

no ensino de inglês: contextos autênticos e significativos; aumento de letramento

através da leitura, escrita e oportunidades de publicação na Internet; interação, a

melhor forma para se adquirir uma língua; vitalidade obtida pela comunicação em

um meio flexível e multimídia; e empowerment, pois o domínio das ferramentas da

Internet os torna autônomos ao longo da vida.

Baseado nas Diretrizes Curriculares de LEM, que se ancoram na corrente

sociológica e nas teorias do Círculo de Bakhtin, que concebe a língua como

discurso, procurar-se-á o desenvolvimento de atividades de leitura que contribuam

para o desenvolvimento de uma consciência crítica a respeito do papel das

línguas na sociedade, utilizando a Internet como recurso para a pesquisa, leitura,

produção e socialização dos textos construídos pelos alunos. E ao mesmo tempo,

sugerindo aos professores fontes de pesquisas e idéias de como trabalhar esta

ferramenta em favor de aulas mais dinâmicas, utilizando o laboratório de

informática de forma mais adequada. Mas para que isto aconteça de fato, é

necessário que o professor tenha em mente que a simples modernização dos

equipamentos da escola não ocasionará automaticamente uma melhoria na

qualidade do ensino ministrado a seus alunos se não houver um repensar da sua

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prática pedagógica.

Então, a partir das reflexões aqui apresentadas tomei a decisão de criar

uma webquest onde os alunos pudessem ter a chance de interagir com o meio

digital e a web na busca de dados para sua pesquisa, construção de

conhecimento e apresentação dos resultados. Para melhor entendimento,

webquest3 é uma atividade investigativa, em que alguma ou toda a informação

com que os alunos interagem provém da Internet”.(Dodge)

Em geral, uma webquest é elaborada pelo professor, para ser solucionada pelos

alunos, reunidos em grupos. O conceito de webquest foi criado em 1995 por

Bernie Dodge, professor da universidade estadual da Califórnia (EUA), como

proposta metodológica para usar a Internet de forma criativa.

INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA

Nesta seção, será descrito o desenvolvimento do plano de implementação

na escola com os alunos da 7ª série do Ensino Fundamental, descrevendo cada

etapa da ação realizada e seus resultados de implementação.

Será apresentado um material didático utilizado via web elaborado pela

professora o qual é uma wiki onde está hospedada a webquest criada sobre o

tema Hip Hop, tendo como objetivo levar os alunos a fazerem uma análise da

3 Fonte: http://webquest.sp.senac.br/textos/oque

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linguagem e das ideologias por detrás de cada discurso presente nas letras de

músicas, imagens e contexto sociocultural deste gênero musical, assim como uma

pequena produção textual.

1ª etapa: familiarização com o laboratório e a web

A primeira ação desenvolvida foi o encaminhamento dos alunos ao

laboratório de informática da escola, em meados de fevereiro, para a realização

de alguns exercícios interativos utilizando os simuladores do Portal “Dia a Dia

Educação”,vide www.diaadiaeducacao.pr.gov.br da SEED. Os exercícios a serem

realizados foram previamente selecionados pela professora e relacionavam-se à

revisão de vocabulário. Os mesmos foram escolhidos com o intuito de realizar

uma observação no desempenho e reação dos alunos frente aos computadores e

a navegação na internet. Os alunos trabalharam em duplas e se auto-ajudavam. A

atividade foi bem recebida e executada sem maiores dificuldades.

A atividade seguinte tinha como objetivo a pesquisa na internet.

Novamente, os alunos foram encaminhados ao laboratório de informática com o

objetivo de responder algumas perguntas de conhecimento geral, em inglês. Esta

atividade é chamada de miniquest, ou seja, é uma caça ao tesouro. Com um

tempo pré-determinado, a tarefa consiste em encontrar respostas para o maior

número de perguntas apresentadas. Neste tipo de atividade, meu propósito era

observar que ferramentas de pesquisas que eles utilizam na internet e como lidam

com informações que desconhecem. E ainda, que recursos buscam para

resolverem os problemas. Foi observado que uma grande maioria opta pelo

Google para pesquisas. E também utilizam o Google Translator para sanar

12

dúvidas referentes ao idioma. A atividade foi realizada sem muitas dificuldades

pois, novamente os alunos trabalharam em duplas devido ao número restrito de

computadores disponíveis no laboratório (18). Trabalhando em duplas, a troca de

informações e negociação de sentidos é maior assim como a divisão de tarefas.

2ª etapa: utilização da internet e outros recursos multimídia

No mês de março, novamente trabalhou-se com exercícios interativos de

sites diversificados, que abordassem textos simples para exercícios de

compreensão, estudo de vocabulário e de elementos gramaticais. Foram

utilizados também textos de revistas (impressas) para leitura crítica e

apresentação de gêneros textuais. Algumas vezes, os alunos receberam um

endereço de site para realizarem uma tarefa em casa. Não era obrigatório, visto

que nem todos dispõem de computador em casa. O objetivo era perceber se eles

tinham disposição em fazer tarefas on-line. Observou-se que os mesmos

precisariam de monitoramento e certo grau de incentivo, uma vez que apenas

uma pequena parcela realizou as tarefas sugeridas.

Foram utilizados outros endereços e recursos da internet para produção de

material didático próprio a ser aplicado em sala de aula, tanto para exercícios

impressos como para uso da TV multimídia.

No início do mês de abril, decidi criar minha página na internet4 (para que a

4 HTTP://lovenglish.wikispaces.com

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webquest pudesse se hospedada) com o objetivo de postar as atividades

selecionadas para os alunos. Lá constam algumas atividades de reforço, assim

como jogos, vídeos, tarefas e a webquest em si. Na segunda quinzena do mês de

abril, foram iniciados os trabalhos com as músicas. Foram apresentados aos

alunos, na TV multimídia, vários slides em PowerPoint com imagens sobre a

música selecionada: “Where’s the Love?” da banda ‘Black Eyed Peas’. Os alunos

não foram informados sobre esta música. A tarefa consistia em fazer um

‘brainstorm’, um levantamento de idéias sobre o vocabulário apresentado. E ao

final, fazer uma correlação entre alguma música conhecida e palavras ou idéias.

Várias opiniões surgiram até o momento em que puderam relacionar suas idéias

com a apresentação do vídeo clipe. A partir daí, eles tentaram achar as palavras

na música, só ouvindo. Algumas foram fáceis e outras só identificáveis por

ouvidos mais treinados. A atividade abriu espaço para debatermos as idéias

transmitidas pelas imagens do vídeo clipe. Foram citadas a discriminação racial,

posição social, minorias, papel da mídia e interferência de gangues nos guetos

(violência, drogas).

Na aula seguinte, a sala foi dividida em equipes compostas por 3 alunos e

foi distribuída para cada equipe uma folha contendo algumas perguntas sobre os

grupos que são mencionados na letra da música. Foi perguntado a eles se

conheciam alguns do nomes citados ( The Bloods, The Crips, KKK, CIA). Houve

menção somente à CIA. Foi então explicado que iríamos ao laboratório de

informática onde seria feita a pesquisa e os resultados seriam apresentados na

próxima aula. Esta atividade foi necessária para situar os alunos no contexto,

alargar sua visão de mundo e prepará-los para o debate.

Na semana seguinte, após as apresentações ocorreram os debates sobre a

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existência de grupos semelhantes no Brasil e na região e suas características,

qual era o contexto em que estavam inseridos, qual a faixa etária e a condição

social dos envolvidos e se haveria possíveis soluções para os problemas

enfrentados. Foram trabalhados recursos de imagens, rimas, semântica, refrão

para inferir sentido.

Este tipo de atividade abriu espaço para a discussão da discriminação racial e

direitos civis, diferenças entre Brasil e Estados Unidos. Foi aproveitado o

momento para introduzir textos sobre Martin Luther King, Rosa Parks e Gandhi,

suas lutas, diferenças e semelhanças na defesa de causas humanitárias. As

atividades foram apresentadas em forma de vídeos e textos escritos. Foram

apresentados também trechos do filme “Mississipi em Chamas” e o famoso

discurso “I have a dream” para ser trabalhado em sala. Após este trabalho, os

alunos puderam entender melhor o discurso presente na letra de música da banda

“Black Eyed Peas” e fazer conexão com o grau de discriminação racial/social

ainda presente no Brasil e nos Estados Unidos.

A continuidade das atividades foi momentaneamente prejudicada com a

suspensão das aulas devido à Influenza A.

3ª etapa: trabalhando com o Hip Hop

Assim que as aulas recomeçaram, as atividades foram retomadas. As

discussões sobre discriminação racial e direitos civis abriram o tema para o ‘hip

hop’ , pois este tipo de gênero musical contempla a crítica às questões sociais.

Para um novo trabalho no laboratório de informática, os alunos receberam

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uma tarefa que constava da leitura de um hipertexto sobre o hip hop. A partir

desta leitura, fazer o preenchimento de um diagrama com as principais

características do movimento extraídas do texto e apresentação ao grande grupo.

Na aula seguinte, os alunos receberam uma lista de vocabulário sobre o hip hop e

características específicas e sua tarefa era manusear os dicionários digitais e

completar os exercícios. Atividade feita sem dificuldade. A partir deste exercício,

foi pedido aos alunos que fizessem um ‘profile’, um perfil de alguns nomes de

pessoas famosas ligadas ao hip hop e sua história. Os nomes foram indicados

pela professora e novamente a atividade foi realizada no laboratório da escola. Os

alunos criaram pastas individuais e armazenaram o material lá para consulta

posterior. Com esta atividade trabalhou-se o gênero textual biografia.

A atividade determinada para a aula seguinte era a de selecionar um cantor

de hip hop preferido, escolher uma de suas músicas, fazer sua análise e

apresentar para os outros grupos. Alguns alunos aprenderam a montar slides no

laboratório e fizeram uso da TV multimídia para apresentação. Outros preferiram o

uso de cartazes.

4ª etapa: a utilização da webquest

Primeiro contato com o material produzido na internet pela professora para

os alunos. Esta webquest pode ser visualizada no endereço:

http://lovenglish.wikispaces.com Para nos situarmos, uma webquest é composta

por: introdução, tarefa, processo, referência, avaliação e conclusão.

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Segue abaixo a visualização da webquest criada.

� Introdução

A introdução da webquest apresenta o tema gerador das atividades,

geralmente com uma pergunta que aguce a curiosidade dos alunos e os motive a

pesquisar. Neste caso, a introdução foi apresentada da seguinte forma:

� Tarefa

A Tarefa descreve que “produto” se espera dos alunos ao final da webquest

e que ferramentas devem ser utilizadas para elaborá-lo.

Na onda Introdução

Introdução

Tarefa

Processo

Referências

Avaliação

Conclusão

Você já ficou imaginando o que passa pela cabeça do pessoal do hip

hop quando escrevem suas músicas? Você consegue entender o que eles

estão dizendo?

Esta webquest lhe dará a chance de descobrir estas coisas e ainda

demonstrar o seu talento! Mãos a obra!

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Neste caso, era uma pesquisa que conduziria a montagem de um painel sobre o

movimento Hip Hop.

� Processo

O Processo deve apresentar o passo a passo que os alunos deverão

percorrer para desenvolver a Tarefa. Sabe-se que quanto mais detalhado for o

processo, melhor será a forma de trabalhar. Nesta etapa, também cabe sugerir de

que forma os alunos deverão organizar as informações reunidas.

Eis como foi apresentado o processo:

Na onda Tarefa

Introdução

Tarefa

Processo

Referências

Avaliação

Conclusão

Pesquisar sobre o gênero hip hop.

Elaborar um painel que ilustre os elementos que compõem o hip hop

Selecionar um intérprete (internacional) e analisar uma letra de

música.

18

� Referência

O item referência traz as fontes de pesquisa para desenvolvimento do

trabalho, que podem ser listas de sites e páginas da Web que o professor escolhe

e que devem ser consultados pelos alunos para a realização da tarefa. Esta lista

também pode oferecer opções de outras mídias.

Na onda Processo

Introdução

Tarefa

Processo

Referências

Avaliação

Conclusão

. Sua equipe será formada de 5 integrantes.

Sua equipe deverá:

� Selecionar 1 grupo hip hop internacional e fazer seu profile.

� Criar uma letra de música dentro das características do hip

hop, com mensagem positiva e em inglês.

� Apresentar a música para a classe podendo utilizar a tv

multimídia.

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� Avaliação

Aqui os alunos conhecem como será a avaliação do grupo pela professora

contendo alguns critérios. O aluno deve ser informado sobre como o seu

desempenho será avaliado e em que casos a verificação será individual ou

Na Referências

Introdução

Tarefa

Processo

Referências

Avaliação

Conclusão

Você pode pesquisar em websites, livros, revistas ou jornais.

Sites sugeridos:

http://culturahiphop.uol.com.br/#

http://culturahiphop.uol.com.br/rapnews/ : revista on-line#

http://www.lastfm.com.br/tag/hip-hop : rádio, vídeos, downloads

mp3#

http://www.dancaderua.com.br/historia.htm : história do hip hop

http://letras.terra.com.br/ : letras e traduções

http://vagalume.uol.com.br : letras e traduções

http://en.wikipedia.org/wiki/Hip_hop_music : informação geral

20

coletiva.

� Conclusão

E por último, a conclusão. Este é o espaço para incentivar o aluno a

continuar refletindo sobre o assunto, através de questões retóricas e links

adicionais.

Na onda Avaliação

Introdução

Tarefa

Processo

Referências

Avaliação

Conclusão

� Seu trabalho será avaliado pela apresentação, criatividade,

clareza,veracidade dos fatos, ordem, originalidade e trabalho em

equipe.

� Vocês receberão notas individuais e de conjunto.

Lembrem-se: seu trabalho é o seu reflexo! Faça algo que te deixe orgulhoso.

21

Avaliação da Intervenção

Antes das idas ao laboratório de informática para a realização de exercícios

propostos no planejamento, foram trabalhados textos referentes à discriminação

racial, social e de gêneros. Os textos foram apresentados de formas variadas:

impressos, slides ou vídeos, para compreensão de vocabulário, interpretação e

debate.

Quando eram marcadas as aulas no laboratório, a recepção era sempre

favorável. As instruções eram passadas em sala de aula e os alunos seguiam

para o laboratório sem problemas. Agrupavam-se em duplas pois dispomos

apenas de 20 computadores, dos quais 18 estavam operacionais na época do

projeto.

Na onda Conclusão

Introdução

Tarefa

Processo

Referências

Avaliação

Conclusão

Esta webquest proporcionou a oportunidade de divulgar o seu

trabalho e o seu talento, assim como chamar a atenção para o

discurso presente nas variadas formas do gênero Hip hop.

Aprendemos muito trabalhando em grupo!

Parabéns!

22

As aulas sempre foram feitas com agendamento da atividade no

laboratório, sem maiores problemas. Cabe ao professor estar atento as datas

possíveis de uso do mesmo e ciente de prováveis problemas com os

computadores. Faz-se necessário o conhecimento do ambiente antes de

operacionalizar as atividades.

Foi observado que os alunos não apresentaram grandes dificuldades em

trabalhar no laboratório e na realização das tarefas. As mesmas eram realizadas

com interesse. Dúvidas eram solucionadas pelos próprios colegas ou pela

professora. As demais aulas neste ambiente transcorreram da mesma maneira.

Os alunos freqüentemente demonstraram interesse e comprometimento em

terminar as atividades propostas: pesquisas, exercícios online, jogos educativos e

montagem dos trabalhos.

As apresentações também ocorreram sem problemas. Os alunos montaram

seus slides com a informação necessária, utilizando os recursos da web em favor

de sua criatividade.

As produções textuais ocorreram nos diversos momentos de conclusão dos

debates observando-se a sintaxe e a semântica e buscando ajuda da professora e

de sites da internet sempre que necessário.

O fator mais delicado e difícil foi realmente a produção de pequenos textos

em forma de poesia (rap). Trabalhar com rimas em inglês não é uma tarefa fácil,

uma vez que é um processo bem diferente da língua portuguesa. Mas os textos

surgiram, alguns bem humorados outros mais simples. O que importa é que os

alunos conseguiram demonstrar seu talento e criatividade ao enfrentar uma

atividade deste porte.

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Alguns exemplos dos textos criados:

“ I have no money,

I have no car,

But my honey,

Be my lucky star.”

( Ester, Hellen, Maira, Ana)

“ Hey, yoh, pay attention to this world

Children are dying on the streets,

No Love, no food, no care,

Hey, brother, do something about this shit.

Help each other, we are on despair

respect your brothers, be aware

Say no to crack, say no to smoke,

Attention!!

It’s not a joke. Yoh!”

(Luis, Laura, Paulo)

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Considerações Finais

O objetivo principal deste trabalho foi alcançado ao serem desenvolvidas

atividades utilizando a Internet como um meio para proporcionar a interação com

o outro, onde o aluno pudesse reconhecer e compreender a diversidade

lingüística e cultural através do contato com diversos gêneros textuais.

Nas atividades propostas durante a implementação do projeto, os alunos

puderam se envolver discursivamente, expandindo sua capacidade interpretativa

e cognitiva, formando subjetividades e percebendo as possibilidades de

construção de significados através do contato com os outros no ambiente virtual.

Ficou comprovado que sair da sala de aula para realizar atividades no

laboratório foi muito produtivo. Os alunos mais tímidos se sentiram à vontade ao

trabalhar com a Internet e produziram ótimos trabalhos. As turmas que fizeram

este trabalho demonstraram seriedade, comprometimento e não houve registro de

indisciplina. Houve também sugestão de mais projetos envolvendo este tipo de

abordagem.

Outro ponto positivo apresentado é o fato de o aluno poder acessar em

casa, o endereço eletrônico da wiki e realizar as outras atividades sugeridas

quantas vezes quiser. Algumas atividades são exercícios de revisão, outras de

fixação e outras incluídas apenas para atiçar a curiosidade no idioma, neste caso

os vídeos e os jogos.

São inúmeras as possibilidades de utilização da Internet na sala de aula.

Lembrando Tajra (2007:12), se desejamos realmente preparar cidadãos

pró-ativos para este mundo cada vez mais competitivo, com sua parcela de

25

desigualdades sociais, cabe-nos assumir os riscos de novas experiências e

revermos nossas crenças, oferecendo aos nossos alunos todos os recursos

disponíveis em nosso meio. Assumirmos a postura de questionamento e

criticidade diante das informações e da tecnologia e exercermos o papel de

orientadores no processo de ensino e aprendizagem.

E finalmente, nas palavras de Paulo Freire:

“É preciso ousar, aprender a ousar, para dizer NÃO a burocratização da

mente a que nos expomos diariamente. É preciso ousar para jamais

dicotomizar o cognitivo do emocional. Não deixe que o medo do difícil paralise

você".

26

Referências

BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. 12ª Ed, Michel Lahud e Yara Frateschi. São Paulo: Hucitec, 2006.

BRITO, G.S, PURIFICAÇÃO, I. Educação e Novas Tecnologias: um repensar. Curitiba: IBPEX, 2006.

FREIRE, Paulo. Disponível em http://angelzion.blogspot.com/2008/02/frases-de-paulo-freire.html Acesso em 23 nov. 2009.

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