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1 A influência da Escola Superior de Guerra na construção do aparato repressivo chileno (1964-1974) 1 Fernanda Durazzo de Oliveira (Universidade de São Paulo) O contexto latino-americano na Guerra Fria Com o mundo dividido entre o sistema capitalista e comunismo no pós-segunda guerra mundial, a atitude dos Estados Unidos com os seus países satélites era de rigorosa proteção. Não tanto pela preocupação do bem-estar dos povos, mas sim pela ameaça de fragilização de sua hegemonia, sobretudo na região da América Latina, que segundo os governos estadunidenses, pressupõe uma automática aliança entre seus vizinhos. No entanto, na década de sessenta essa projeção não se realiza, ao contrário, os países do Sul buscam autonomia em relação aos Estados Unidos, que muitas vezes foi encarada como afronta, tendendo a pensar que se tratava de uma presença soviética na região. Para cercar o espectro do comunismo na América Latina, golpes “preventivos” foram impostos em nome da democracia e da defesa dos valores cristãos. Se antes o alinhamento militar entre os países sul-americanos e os Estados Unidos era fortalecido na guerra contra os nazistas, agora estes acordos foram solidificados para combaterem um inimigo comum: o comunismo. A política adotada pelos Estados Unidos na região para defender o ocidente foi a implantação da Doutrina Truman 2 , em 1947, com a criação do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR) que “abriu caminho para o Sistema Militar Interamericano, o que acabou proporcionando “a primeira série de acordos bilaterais para o estabelecimento de missões de assessoria militar” (MARTINS FILHO, 1999 apud FERNANDES, 2009, p. 833). Mas a questão da segurança na América Latina estava além da preocupação com a democracia. A região é por sua vez um grande mercado para os Estados Unidos, e além disso, parte de suas empresas estão concentradas nestes territórios, era primordial manter a estabilidade destes países. Em 1948 foi criada e vinculada a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização dos Estados Americanos (OEA) que previa defender com desenvolvimento socioeconômico a segurança regional. 1 “44ª Encontro Anual da ANPOCS” GT46 – Violência Política e Forças Armadas na América Latina. Pesquisa financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) / Brasil. 2 A Doutrina Truman foi criada, em 1947, para conter o avanço do comunismo, que para seus teóricos, se assemelhava ao caráter expansionista dos nazistas, e, portanto, caberia aos Estados Unidos enviar sua força militar para outros países a fim de impedi-lo.

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1

A influência da Escola Superior de Guerra na construção do

aparato repressivo chileno (1964-1974)1

Fernanda Durazzo de Oliveira (Universidade de São Paulo)

O contexto latino-americano na Guerra Fria

Com o mundo dividido entre o sistema capitalista e comunismo no pós-segunda guerra

mundial, a atitude dos Estados Unidos com os seus países satélites era de rigorosa proteção.

Não tanto pela preocupação do bem-estar dos povos, mas sim pela ameaça de fragilização de

sua hegemonia, sobretudo na região da América Latina, que segundo os governos

estadunidenses, pressupõe uma automática aliança entre seus vizinhos. No entanto, na década

de sessenta essa projeção não se realiza, ao contrário, os países do Sul buscam autonomia em

relação aos Estados Unidos, que muitas vezes foi encarada como afronta, tendendo a pensar

que se tratava de uma presença soviética na região. Para cercar o espectro do comunismo na

América Latina, golpes “preventivos” foram impostos em nome da democracia e da defesa dos

valores cristãos. Se antes o alinhamento militar entre os países sul-americanos e os Estados

Unidos era fortalecido na guerra contra os nazistas, agora estes acordos foram solidificados

para combaterem um inimigo comum: o comunismo.

A política adotada pelos Estados Unidos na região para defender o ocidente foi a

implantação da Doutrina Truman2, em 1947, com a criação do Tratado Interamericano de

Assistência Recíproca (TIAR) que “abriu caminho para o Sistema Militar Interamericano, o

que acabou proporcionando “a primeira série de acordos bilaterais para o estabelecimento de

missões de assessoria militar” (MARTINS FILHO, 1999 apud FERNANDES, 2009, p. 833).

Mas a questão da segurança na América Latina estava além da preocupação com a democracia.

A região é por sua vez um grande mercado para os Estados Unidos, e além disso, parte de suas

empresas estão concentradas nestes territórios, era primordial manter a estabilidade destes

países. Em 1948 foi criada e vinculada a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização

dos Estados Americanos (OEA) que previa defender com desenvolvimento socioeconômico a

segurança regional.

1 “44ª Encontro Anual da ANPOCS” GT46 – Violência Política e Forças Armadas na América Latina. Pesquisa financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) / Brasil. 2 A Doutrina Truman foi criada, em 1947, para conter o avanço do comunismo, que para seus teóricos, se

assemelhava ao caráter expansionista dos nazistas, e, portanto, caberia aos Estados Unidos enviar sua força militar

para outros países a fim de impedi-lo.

2

O medo persistente dos estadunidenses sobre o expansionismo soviético foi

intensificado com os movimentos de libertação iniciados na década de cinquenta, nos países da

África e Ásia. Como visualizou Allen Dulles, chefe da CIA, “que os Estados Unidos estavam

diante de ‘uma revolta dos despossuídos (have-nots), particularmente na América Latina, na

Ásia e na África’” (RABE, 1988 apud MARTINS FILHO, 1999, p. 71). A Revolução Cubana

foi a razão maior para a intervenção indireta nos países que apresentasse uma postura mais à

esquerda. O país caribenho3 foi o país “cobaia” para as novas ações de contra-insurgência

adotada pelos militares dos Estados Unidos. As novas técnicas de guerra, desenvolvidas pelos

franceses que lutaram na Indochina, em 1954, foram adotadas no treinamento militar norte-

americano e difundida para as escolas militares latino-americanas.

O Governo democrata de J. Kennedy não permitiria, que os republicanos os acusassem

de perder outra “China” (MARTINS, FILHO, 1999), referindo-se a Revolução Chinesa de

1949. E mais significativo, perder um país que está a 150km de distância, aproximadamente,

de seu território. A questão da segurança volta com maior força na região, agora não mais

apenas como mera defesa de uma ameaça externa, mas como um problema de segurança

nacional. O inimigo estava infiltrado no coração dos países, e era necessário que os militares

nacionais cumprissem o seu dever em defender a ordem democrática como confere os

princípios da instituição. Tratando-se de segurança interna, não haveria intervenção direta dos

Estados Unidos, mas a cooperação entre os militares continuou através da “combinação de

investimentos e esforços militares e programas de ação cívica no combate às mazelas sociais

dos países do terceiro mundo, principal motivo e atração do ideário do comunista”

(FERNANDES, 2009, P. 836), e, de ajuda em golpes militares que foram instalados

posteriormente em outros países do continente.

A noção de defesa interna foi elaborada no que ficou conhecido como a Doutrina de

Segurança Nacional. Esta que previa a ameaça dentro dos territórios nacionais e, que, diante de

uma ameaça ideológica, o inimigo poderia ser qualquer cidadão que se dispusesse contra a

ordem estabelecida. Conhecido como “inimigo interno”, conceito este elaborado pelo oficial

Roger Trinquier em sua teoria sobre a Guerra Revolucionária. A Doutrina da Segurança

Nacional visava garantir que a sociedade estivesse protegida desse “mal invisível” que

rondavam as “mentes e os corações” da população mundial, sobretudo, latino-americana, e

3 “A partir de 1959, os gastos dos Estados Unidos com a América Latina rapidamente aumentaram e a estratégia

da contra-insurgência foi imensamente difundida pelas escolas de guerra, principalmente após a desastrosa

tentativa de invasão da Baía dos Porcos, em 1961, sendo acentuada com a Crise dos Mísseis, em 1962”

(FERNANDES, 2009, p. 835)

3

“fundamentava-se na necessidade da segurança nacional para a defesa dos valores cristãos e

democráticos do mundo ocidental” (FERNANDES, 2009, p. 837). A estrutura para combater a

ameaça foi além da questão militar, era também composta por recursos: econômicos e

psicossocial. Tratando-se de um potente inimigo, os países precisavam se preparar para uma

guerra nunca jamais vista.

No esforço de garantir uma formação adequada aos militares, a principal preocupação

estadunidense foi operar programas de formação militar (FERNANDES, 2009). As escolas

militares na América Latina foram as receptoras da nova doutrina e responsáveis pela defesa

nacional. No caso do brasileiro, a Escola Superior de Guerra foi criada também para este fim.

A Escola Superior de Guerra brasileira

A Escola Superior de Guerra (ESG) foi criada em dois momentos, o primeiro, em 1948,

quando os militares percebem a necessidade de uma nova formação militar frente as novas

ameaças. E, posteriormente, em 1949, para atender as emergências nacionais que o país

enfrentava. Dentre suas funções de formação, esta serviu tanto para os militares quanto para os

civis, como explica o trecho abaixo:

A Escola Superior de Guerra é uma instituição sui generis. Depende exclusivamente

do Estado-Maior das Forças Armadas. Goza de uma grande independência em relação

ao exército, à Marinha e à Aeronáutica. Além do mais, destina-se a formar civis e

militares: uma classe de dirigentes. Depois de 1964, os mais altos postos da

administração serão ocupados por ex-alunos da Escola Superior de Guerra.

(COMBLIN, 1978, p. 155)

A ESG como uma escola de formação militar se especializou “no estudo da Segurança

Nacional no âmbito da guerra fria, inicialmente, e no da <guerra revolucionária> no contexto

seguinte” (OLIVEIRA, 1976, p. 20). Já desde a década de cinquenta que O Estado-Maior das

Forças Armadas discute a questão da guerra revolucionária. Os Estados Unidos, como

demonstrado, colaborou na renovação de seu equipamento e treinamento frente a nova ameaça,

mas a discussão sobre o perigo do comunismo ganhava mais ênfase na escola brasileira, isso

porque a mesma também incorporou à sua escola os estudos da Doutrina militar francesa4. As

discussões passavam pela questão que seria da responsabilidade dos países sul-americanos a

tarefa de defender o “sul da fronteira” do perigo do “mal vermelho”, e inclusive, que os mesmos

4 No final dos anos de 1950, antes mesmo da eclosão da Revolução Cubana, os franceses eram os únicos a tratar

do tema da guerra revolucionária. Desde meados dessa década, após a fragorosa derrota em Dien-Bien-Phu e a

eclosão da rebelião na Argélia, fortaleceu-se no Exército francês a idéia [sic] de que a razão da derrocada na

Indochina fora o fato de que a doutrina militar não estava preparada para enfrentar um novo tipo de guerra. A

principal característica desta forma de conflito era a indistinção entre os meios militares e os não militares e a

particular combinação entre política, ideologia e operações bélicas que era proporcionava. (MARTINS FILHO,

2008, p. 67)

4

estariam mais vulneráveis dada sua condição social e econômica pois, “enquanto os Estados

Unidos e seus aliados estavam hipnotizados pela perspectiva da guerra nuclear, o comunismo

flanqueava as defesas do Ocidente a partir do Sul, e se não fosse contido destruiria, ao fim, a

civilização ocidental” (SHY E COLLIER, 1986 apud MARTINS FILHO, 2008, p. 67).

Os militares brasileiros foram em busca de teorias que atendessem suas necessidades,

como foi o caso da doutrina militar francesa que, “oferecia aos militares de nossos países uma

definição flexível e funcional do inimigo a enfrentar, ao mesmo tempo em que, no plano

geopolítico, valorizava o Terceiro Mundo como cenário do confronto mundial da Guerra Fria”

(MARTINS FILHO, 2008, p. 67). A adaptação da DSN no Brasil se deu com a incorporação

da noção de “desenvolvimento”. No qual para a escola, a partir da sua concepção da guerra

revolucionária, acreditava que as vulnerabilidades de um país subdesenvolvido aumentavam as

chances da infiltração comunista, e, portanto, “era necessário um rápido aceleramento da

economia, via desenvolvimento industrial, para que a população apoiasse o governo”

(FERNANDES, 2009, p. 851). Nesse sentido, era preciso garantir a segurança interna contra

aqueles que impedissem este desenvolvimento, considerados como “inimigo interno”.

Os aparatos repressivos aperfeiçoados durante a ditadura militar foram sistematizados

para impedir que estes inimigos atuassem em território nacional e internacional, e, “em nome

do anticomunismo, a DSN com ênfase na segurança interna, leva inexoravelmente ao abuso de

poder, a prisões arbitrárias, à tortura e à supressão de toda liberdade de expressão” (ALVES,

1989, 27). O Brasil posicionou-se como um defensor dos valores ocidentais e da ameaça vinda

dos ventos do atlântico contra os seus países vizinhos. Conhecida como “teoria do cerco”, o

país se viu como responsável pela sobrevivência da soberania da região, e como o maior país

do continente sul-americano e pelo prestígio internacional que carregava, Golbery do Couto e

Silva descreveu as razões do potencial brasileiro em tornar-se a muralha na América Latina:

[...] o Brasil, pelo prestígio de que já goza no continente e no mundo, pelas suas

variadas riquezas naturais, pelo seu elevado potencial humano e, além disso, pela sua

inigualável posição geopolítica ao largo do atlântico Sul, ocupa situação de

importância singular quanto à satisfação de tôdas [sic] essas imperiosas necessidades

da defesa do Ocidente. (SILVA, 1967, p. 246)

Para identificar o inimigo, sobretudo para eliminar o comunismo visto como um “câncer

que precisava ser extirpado”, é criado o Sistema Nacional de Informação (SNI). A partir do

SNI, criado sob decreto, em 1965, “foi um passo decisivo para a formação do Aparato

Repressivo e a efetiva organização de uma rede de informação necessária na busca da

Segurança Interna” (ALVES, 1989, p. 79). Desta forma, o país se manteve militarizado desde

5

os sindicatos aos órgãos governamentais. Em todos os órgãos públicos e ministérios havia um

agente do SNI que mantinha a vigilância sob a justificativa de impedir que ideias à esquerda

ganhasse terreno.

“Te estamos mirando”

O sistema de informação nas ações contra-revolucionária é um método defensivo. Como

já dito, o inimigo não é um sujeito identificado, e, portanto, se faz necessário um sistema

eficiente que o localize e desarticule suas táticas subversivas. Os métodos comprometem toda

a sociedade que permanece em constante vigia. Através da imposição do medo, em ser

confundido com o próprio inimigo, a população vive em clima de suspense e divisão (ALVES,

1989). Pilar Calveiro, descreve a lógica deste “universo binário” de amigos-inimigos no qual

foi fundamental para mobilizar moralmente a população sobre o perigo do comunismo:

As lógicas totalitárias são lógicas binárias, que concebem o mundo como dois grandes

campos contrários: o próprio e o alheio. E, além de imaginar que tudo aquilo que não

é idêntico a si mesmo é parte de um outro ameaçador, o pensamento autoritário e

totalizador entende que o diferente constitui um perigo eminente ou latente, que deve

ser extirpado. A redução da realidade a das grandes esferas pretende, em última

instância, eliminar as diversidades e impor uma realidade única e total representada

pelo núcleo duro do poder, o Estado. (CALVEIRO, 2013, p. 88)

Para garantir a segurança e o desenvolvimento, e eliminar aqueles que o ameaçasse, o

Sistema Nacional de Informação brasileiro foi decretado como lei na década de sessenta, o

órgão tinha como “finalidade identificar os antagonismos e pressões capazes de atuar no âmbito

interno do país e avaliar os modos de atuação de seus agentes para permitir que sejam adotadas

medidas que se destinem a identifica-los, neutralizá-los ou anulá-los (BRASIL, 1977, p. 267).

Assim como a criação da Divisão de Ordem Social e Divisão da Ordem Política (DOPS) criada

na década de vinte para manter o controle social diante das enormes greves e manifestações que

ocorreram na época, o sistema de informação também seria um braço importante para manter

todo o território nacional – e internacional- em constante vigia e controle.

A discussão sobre sua criação se deu em conferências realizadas na ESG ainda no final

da década de cinquenta, no qual a Central Intelligence Agency (CIA) se tornou um modelo para

os militares brasileiros, amadurecendo e atendendo até a data de sua oficialização, as

necessidades internas do Brasil. Diferente da CIA, o sistema brasileiro estaria valorizando as

preocupações de âmbito interno, mas “incorporou da CIA as concepções que valorizavam uma

estrutura de informações centralizadas como base para a tomada de decisões governamentais e

formação de políticas de segurança nacional” (CARVALHO, 2019, p. 5), garantindo ao

executivo esclarecimentos sobre a realidade do país. Sendo assim, a ESG e o SNI foram

6

fundamentais para a consolidação do Estado de Segurança Nacional, reconhecido inclusive por

oficiais militares, como destacado no artigo de Aloysio Carvalho:

Ao proferir uma palestra sobre o SNI em 1966, o tenente-coronel Amerino Raposo

Filho assinalou que a ESG e o SNI “complementam-se, conceptual e funcionalmente”.

O SNI, acrescentou, “foi aqui gerado, é fruto da ESG”. Na visão do oficial militar, a

ESG e o SNI identificam-se, isolam-se na problemática da Segurança Nacional em

termos de Doutrina, de Planejamento e de Atuação Operacional tendo em vista a

conjuntura brasileira (CARVALHO, 2019, p. 6).

Em 1970, quando é criado o SISNI (Sistema Nacional de Informação), chefiado pelo

SNI, este centraliza todos os órgãos de informação das Forças Armadas, inclusive os Centro de

Operações de Defesa Interna e Destacamento de Operações e Informações (CODI-DOI), órgãos

de operação e informação que atuava em âmbito regional. Segundo documentos analisados por

Aloysio Carvalho “ (...) o SISNI atuava na atividade de informação e contrainformação nos

campos internos e externos, com a finalidade de conter as manifestações da “Guerra Psicológica

Adversa” (CARVALHO, 2019, p. 19). O sistema CODI-DOI foi - segundo os militares- um

eficiente sistema repressivo que atuava em todo território nacional, como aponta Carlos Fico:

O sistema CODI-DOI passou a ser valorizado pela comunidade de segurança como

uma genuína criação brasileira, em função das operações “peculiares e perfeitamente

adaptadas ao ambiente da contra-subversão no Brasil”. Assim, não surpreende que

esse “produto nacional” fosse exportado para outros países, como se deu em relação

ao Chile e ao Uruguai, causa de grande orgulho para a repressão brasileira (...) (FICO,

2001, p. 135).

O órgão bem sistematizado, neste contexto, no que cabe a responsabilidade da ESG,

está em sua função de formar estes militares para a guerra revolucionária, e a maneira que estes

deveriam agir para garantir a segurança nacional. Segundo Fico:

Os doutrinadores da segurança nacional”, como Castelo, Geisel e Golbery, ao

estabelecerem a noção de “guerra interna”, acabaram por ocasionar o nivelamento dos

oficiais militares aos mais baixos níveis da tradicional truculência policial dos países

pobres (FICO, 2001, p. 123).

Além do mais, a sistematização do órgão de informação criado a partir das discussões

na escola, da qual, além de oficializar a sua existência (foi criado em 1965, no governo de

Castelo Branco) também contribuiu na formação dos agentes em sua Escola Nacional de

Informação (EsNI). Nesta escola passaram tanto os militares brasileiros como estrangeiros. Um

dos seus mais brilhantes alunos foi agente da DINA, Osvaldo Enrique Romo Mena (PADRÓS;

SIMÕES, 2013).

O sistema nacional de informação brasileiro como dito, foi eficaz ao ponto de ser

exportado. O Brasil ficou conhecido como o “exportador de tortura”, como afirmou Marie-

Monique Robin: “Entre 1965 e 1970, os militares brasileiros se tornam especialistas da tortura

7

a ponto de exportar mais tarde seu savoir-faire ao Chile do general Pinochet” (DUARTE-

PLON, 2016, p. 77), e seu modelo serviu de exemplo para outros órgãos de informação. Neste

caso, e, portanto, que cabe a este trabalho, em reconhecer a importância da colaboração do

Brasil na sistematização do aparato repressivo chileno, mais especificamente de informação, no

caso, da Dirección de Inteligencia Nacional (DINA). Embora esta última também foi auxiliada

pelos EUA, o Brasil também colaborou na disponibilização do seu modelo de repressão.

O Golpe no Chile

A vitória nas eleições da Unidade Popular, em 1970, deu aos chilenos um clima de

“festa” como definiu o sociólogo Tomás Moulian. Seria a primeira experiência socialista na

América Latina alcançada através do voto, no qual seu principal candidato, Salvador Allende,

era declarado marxista. Nas ruas, a vitória popular:

“Foi como um Carnaval” lembrou uma trabalhadora comunista. “Foi algo que jamais

havíamos esperado. Foi algo que aqueles que viveram aquele momento iriam se

lembrar pelo resto da vida. Foi uma alegria que não conseguíamos conter, ver todos

os compañeros se abraçando – fossem eles pobres, famintos ou bem-vestidos.... Nós

gritamos o nosso direito na rua: ‘Vida longa à Unidade Popular! Vida longa ao

compañero Allende’...Eu comemorei até a manhã seguinte” (WINN, 2009, p. 69)

Incrédulos com o ocorrido, a burguesia tenta, desde este momento impedir o resultado

e, como a porcentagem dos votos de 36,3% contra 34,9% de Jorge Alessandri Rodríguez e

27,8% Rodomiro Tomic foi acirrada, Alessandri não reconheceu a vitória de Salvador Allende

e propôs que o congresso ratificasse a eleição mesmo que Tomic já havia reconhecido sua

vitória. A intenção de Alessandri em levar o resultado para ratificação no congresso5 era porque

os democratas-cristãos eram a maioria. O candidato que disputava as eleições neste período

pela DC tendia a governar pelo campo mais progressista. Mesmo tentando coagir os deputados,

optou-se por garantir a legitimidade das eleições e então o Salvador Allende se torna o primeiro

presidente socialista declarado na América Latina.

Os primeiros anos da Unidade Popular houveram grandes progressos sociais no campo

da cultura, na educação, moradia, inclusive econômica, nos quais a participação popular foi

essencial. Discutia-se a “Revolução vinda de baixo” na qual os trabalhadores tinham a certeza

que não seriam reprimidos seguindo na conquista por melhorias de vida, pois “o que antes era

pessoal tornou-se político, e os atos do dia a dia eram carregados de significados mais

profundos” (WINN, 2009, p. 130). Salvador Allende reconhecia a importância do povo naquele

5 Os democratas-cristãos divididos decidiram exigir um conjunto de emendas constitucionais garantindo tanto um

conjunto de emendas constitucionais garantindo tanto as liberdades civis quanto a segurança dos democratas do

governo democrata-cristão em troca do seu apoio no Congresso (WINN, 2009, p. 72)

8

contexto, no entanto, manteve-se fiel ao juramento de seguir rigorosamente a constituição.

Houve uma luz amarela em seu governo para mudanças estruturais, embora sua intenção fosse

criar condições para paulatinamente obter confiança e levar o Chile “ao caminho do

socialismo”.

Com o impasse do governo frente a responsabilidade de manter a constitucionalidade e

assim também ter o respaldo das Forças Armadas, que manteriam seu apoio ao governo

socialista desde que estes não rompessem com a legalidade, distanciou-se dos chamados da sua

base principal, os chilenos de classe mais baixa. Estes de maneira geral foram os que mais

sofreram nos anos que a direita começa a se reerguer e manipular a situação política e

econômica do país. Enquanto o governo manteve uma linha de garantir o apoio da classe média,

os mais pobres sofreram com os desabastecimentos frequentes ocasionados pela “estocagem

exagerada e as operações no mercado negro foram reações inevitáveis à escassez de produtos,

mas elas também foram promovidas pela mídia direitista e faziam parte da conspiração para

desestabilizar o país” (WINN, 2009, p. 140).

Entre 1972 e 1973 o Chile foi marcado por protestos e paralisações. O governo inclusive

incorpora as Forças Armadas para compor o seu governo para evitar uma guerra civil, e

principalmente para garantir as eleições municipais previstas para outubro, que “representou,

de fato, uma medida destinada a acalmar os temores das camadas médias, tanto do ponto de

vista da DC quanto das correntes reformistas do governo e da UP” (MARINI, 2019, p. 55).

Frente as várias greves, a mais ofensiva foi em 1972, com a greve dos caminhoneiros6 que

deixaram milhares de chilenos desabastecidos na intenção de deslegitimar o governo e fazer

ruir sua política socialista. No entanto, este não foi suficiente para as massas se posicionarem

contra a UP, ao contrário, embora existisse a dificuldade, Salvador Allende ainda tinha apoio

do povo. Pela primeira vez na história política do Chile as massas tiveram de fato grandes feitos

sociais. Os mais pobres defendiam o governo enquanto a burguesia criava condições para

destituir Salvador Allende e as conquistas dos trabalhadores.

As políticas tanto do âmbito interno quanto externo foram contestadas pela oposição na

qual denunciavam a perda de soberania7, a infiltração comunista, desordem social, econômica

6 O setor de transporte envolvia cerca de 12.000 empresários, donos de um ou vários caminhões, que trabalhavam

à base de contratos para os centros de produção pela distribuição de produtor alimentícios, perecíveis ou não,

combustíveis, insumos agrícolas, materiais de construção, bens de consumo etc. Sua paralisação afetaria toda a

população do Chile, todo o sistema produtivo e produziria o colapso econômico (BANDEIRA, 2008, p. 360) 7 A oposição denunciava (sem provas) o apoio dos comunistas para os peruanos recuperarem os territórios perdidos

nas Guerras do Pacífico, e também, em devolver a saída para o mar a Bolívia.

9

e política, além da difamação e calunia contra o governo nos jornais de direita, como o El

Mercúrio. Este ponto fica claro quando da declaração da Junta, em 1974, justificando o golpe

dada a inconstitucionalidade da Unidade Popular. O “crear crear poder popular” jargão

utilizado pelos militantes do bloco socialista, serviu de pretexto para indicar uma forte presença

comunista no território, e então da necessidade de reprimi-lo.

O Condor e o Carcará: a repressão chilena e a colaboração brasileira

Os militares se apoiaram na ideia de que havia um horizonte de revolução popular no

estilo cubano no país, e, portanto, era necessário varrer toda movimentação rebelde que pudesse

existir. Ainda no governo de Salvador Allende, as manobras de fragilizar as massas se deu com

a lei de armas, em 1972, na qual garantiu para os setores das Forças Armadas a busca violenta

de resquícios armados em bairros populares, fábricas ocupadas e sedes de partidos de esquerda

“não sem motivo a imprensa da oposição saudou a promulgação da lei sobre o controle de armas

como ‘importante vitória da democracia’” (BANDEIRA, 2008, p. 375). Esta perseguição e

apreensão dos dispositivos enfraqueceu as massas como as manteve sem resistência armada

para combater o forte aparato repressivo que viria se voltar contra ela. Mesmo se existisse uma

resistência contra o golpe, seria difícil a vitória popular, tendo em vista o grande aparato de

repressão contra oposição.

Em “O Estado e a Revolução” 8Vladimir Lenin reforça a afirmação de Karl Marx na

importância de destruir o aparelho de Estado que sustenta a ordem burguesa para construir um

novo exército popular, pois só assim, com a vértebra burguesa destruída, as massas conseguirão

avançar. No entanto, isso não ocorreu no Chile.

Suas Forças Armadas não se haviam desintegrado, como acontecera na Rússia, em

1917, ou na Bolívia, em 1952, nem foram derrotadas e desmoralizadas, como em

Cuba, quando Fidel Castro assumiu o poder, em 1959. Ainda mantinham o monopólio

da violência, a disciplina e a verticalidade do comando. (BANDEIRA, 2008, p. 322)

Ao contrário, a Unidade Popular, mais precisamente o partido comunista e o presidente

Salvador Allende confiaram no histórico constitucionalista9 da instituição, e acreditou na

legalidade das Forças Armadas, e “a primeira razão que permitiu atrasar em três anos a

intervenção militar foi o respeito do novo governo à estrutura hierárquica técnico-profissional

das Forças Armadas” (GARCÉS, 1993, p.125). Em 29 de junho de 1973, o Tancazo, como

8 LENIN, V. I. O estado e a revolução. Trad. (J. Ferreira). Porto: Vale Formoso, 1970. 9 O Exército chileno – de formação prussiana, com uma forte linha vertical de mando – obedecia ao comandante-

em-chefe, o general René Schneider, que determinara, claramente, que os fardados não interviriam em política,

acatariam a Constituição e as leis da República (VERDUGO, 2003, p. 49). Posteriormente com a sua morte, o

general Carlos Prats seguiu a mesma doutrina de Schneider até o pedido de sua renúncia em 1973.

10

ficou conhecido o levante militar, no qual “representou, (...), a mais série advertência ao

governo sobre o estado de espírito existente em todos os escalões das Forças Armadas”

(BANDEIRA, 2008, p. 457). Embora respeitassem a legalidade do governo, a instituição militar

não corroborava com a ideologia marxista do governo. O caos perpetrado pela burguesia

nacional e internacional contribuíram para dividir, sobretudo, o exército:

O temor de que Allende e a UP implantasse no Chile uma ditadura do proletariado,

um regime semelhante a Cuba e ao da União Soviética, foi o que infeccionou,

amplamente, a oficialidade das Forças Armadas e dissolveu qualquer veleidade

constitucionalista que ainda quisessem preservar (BANDEIRA, 2008, p. 470).

Carlos Prats em seu segundo pedido de renúncia, confiou o cargo ao general Augusto Pinochet,

a peça que faltava para dar coesão as três forças militares e dos carabineiros para encaminhar o

golpe de 11 de setembro de 1973.

A repressão contra os grupos de esquerda foi então uma demonstração de forças das

classes burguesas contra aqueles que queriam destruir a ordem vigente. Nos três primeiros

meses da ditadura, de setembro a dezembro, a repressão foi massiva sem pensar em selecionar

quem era o inimigo. Era necessário impor o medo, desestabilizar e desarticular os grupos que

ainda persistiam em lutar. Neste período, concentrou-se o grande número de presos e

desaparecidos, assim como os mortos pela repressão. Foi neste período que o famoso “Estádio

Nacional” serviu de campo de concentração para deixar visível a força da junta que tomara o

poder.

Em “La cordillera de los Sueños”, 10de Patrício Guzmán, o documentarista Pablo

Salas11, registrou o momento da entrada de trabalhadores no campo de concentração

improvisado, e os “selos” que a polícia deixava nas casas dos trabalhadores indicando que

naquele território já teria feito a vistoria. A maioria dos presos eram homens moradores de

poblaciones, sendo “(...) a maior parte das vítimas do Estado de terror de Pinochet foram jovens

desconhecidos – trabalhadores, camponeses e pobladores – que ousaram resistir à ditadura ou

foram considerados capazes de organizar uma resistência ao governo” (WINN, 2009, p. 183)

O sistema de inteligência construído no Chile, a Dirección Nacional de Inteligencia

(DINA), em dezembro de 1973 e oficializado, em 14 de junho de 1974, foi fundamental para

diminuir a repressão generalizada e selecionar os seus inimigos, além de monitorar a população

que vivia sob o medo.

10 La Cordillera de Los Sueños. Direção de Patrício Guzmán. Chile - França: Renate Sachse, 2019 (90 min.). 11 Patrício Guzmán documentarista chileno, volta ao país e entrevista o documentarista Pablo Salas que não deixou

o Chile durante a ditadura e realizou inúmeros registros de repressão, resistência e memórias.

11

A violência contrarrevolucionária passou ao que mais tarde descobriu-se terem sido

mais de mil câmaras de tortura secretas. Uma das mais famosas foi Villa Grimaldi,

uma antiga mansão luxuosa para onde a DINA levava comunistas, socialistas e

miristas nos anos subsequentes ao golpe, mantinha-os com olhos vendados e em

condições subumanas, torturava-os selvagemente, e depois dava fim a seus corpos

(WINN, 2009, p. 186)

A DINA foi fundamental para buscar seus inimigos que viviam na clandestinidade.

Com seus agentes formados, sob a lógica do combate a guerra revolucionária, a DINA foi o

principal órgão da repressão chilena. A importância de sua atuação não foi apenas na repressão,

mas contribuiu no respaldo político ao executivo, no caso, para Augusto Pinochet. “E esse

Estado de terror também foi uma violência contrarrevolucionária – para impedir a resistência à

contrarrevolução econômica e social que a ditadura estava prestes a iniciar” (WINN, 2009, p.

186). A doutrina de segurança nacional no Chile foi fundamental para legitimar seu estado

militar, indicando que a sua atuação repressiva era necessária para “construir uma nova

sociedade baseada em seu mito da nação unificada unânime e gloriosa” (COMBLIN, 1978, p.

183).

A atuação brasileira neste contexto se deu antes mesmo do golpe militar. Atuando em

nome da segurança nacional, da ameaça que os exilados representavam as suas fronteiras,

agentes do SNI atuavam no território chileno para vigiar seus inimigos. Visavam desestabilizar

o governo de Salvador Allende, enquanto também se articulava as relações entre os militares

dos dois países (PADRÓS, SIMÕES; 2013). O modelo de desestabilização e repressão

brasileiro foram compartilhados tanto por militares como por civis. E sua colaboração foi

colocada a prova, em 1973, quando agentes da informação atuaram em território chileno

perseguindo, interrogando, torturando e prendendo cidadãos brasileiros e ensinando na prática

os militares chilenos como recolher informações de um subversivo, como demonstra no relato

do ex-preso político Nielsen de Paula Pires:

“Entre golpes de cassetete, socos, coronhadas na cara e cabeça (que romperam meus

óculos e supercílio) acompanhadas de ofensas verbais, militares chilenos nos

interrogavam orientados por perguntas escritas por agentes brasileiros presentes a esta

macabra sessão” recordou o professor Nielsen de Paula Pires, assinalando que os

remédios que tomavam no Estádio Nacional tinham impresso em seus invólucros

“doado pela Marinha de Guerra do Brasil” (BANDEIRA, 2008, 560)

O Brasil foi o primeiro país a reconhecer a ditadura de Augusto Pinochet a pedido do

próprio general. Dada as alianças, o país enviou insumos alimentares e medicamentos. No envio

destes produtos, em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) foram enviados os agentes

militares do CODI-DOI para auxiliar os militares chilenos, para Mcsherry “o Brasil se tornou

uma importante força contrarrevolucionária e aliado dos Estados Unidos na América do Sul.

12

Ofereceu capacitação a outros militares e métodos repressivos, incluindo a tortura12”

(MCSHERRY, 2009, 97, tradução própria).

Declarada os princípios da Junta Militar, em 1974, os “Objetivos Nacionais”, “Poder

Nacional”, “Estratégia Nacional” e “Política de Segurança Nacional” foram conceitos

estabelecidos conforme divulgado pela ESG, no qual reclamavam pela legitimidade da ação

para restabelecer a ordem no país, e justificando a repressão para garantir a segurança nacional.

Na declaração a chilenidade foi exaltada para se contrapor as ideias e valores estrangeiros. O

comunismo era o vírus que precisava ser eliminado do “coração e mentes” do povo. A repressão

contra os grupos, em sua maioria das esquerdas, garantiu a ditadura iniciar programas

econômicos antipopulares presentes até os dias de hoje em 2020.

“Ancho Camino”: a repressão no Chile em 2019.

A transição para a democracia foi preparada ainda durante a ditadura. O medo de ocorrer

como na Espanha de Francisco Franco, no qual logo após a sua morte as estruturas políticas

arquitetadas pelo ditador foram destruídas, “os militares buscaram uma estratégia de

legitimação múltipla para estabelecer a nova ordem política13” (HENEEUS, 2016, p. 21,

tradução própria). Segundo Heneeus (2016), a primeira estratégia foi a legitimação histórica,

denunciando a UP de tentar instalar uma ditadura marxista; a segunda, legal-constitucional para

estabelecer uma nova ordem política que se consolidasse mesmo depois que os militares

voltassem aos quarteis, e, terceira, no êxito econômico, na imposição de um modelo econômico

radical para acabar – segundos os militares- com a crise causada pela UP. Passados quase trinta

anos da ditadura, inúmeros foram os protestos contra os governos que mantiveram essa

estrutura. Houveram algumas reformas pontuais em cada governo, sobretudo daqueles

progressistas como Ricardo Lagos (2000-2006) e Michelle Bachelet (2006-2010; 2014-2018)

mas não uma transformação substantiva que enterrasse o “entulho da ditadura”.

A situação mais emblemática talvez seja o modelo econômico imposto no final da

década de 1970. O Chile experimentou o neoliberalismo em sua economia no qual “começou

seus programas de maneira dura: desregulação, desemprego massivo, repressão sindical,

redistribuição de renda em favor dos ricos, privatização de bens públicos. ” (ANDERSON,

1995, p. 14). Um sistema econômico excludente que aumentou a desigualdade social e mantém

12 Brasil se convirtió en una importante fuerza contrarrevolucionaria y en aliado de los Estados Unidos en América

del Sur. Ofreció capacitación a otros militares en métodos repressivos, incluida la tortura. 13 Los militares recurrieran a una estrategia de legitimación múltiple para estabelecer un nuevo orden politico.

13

uma insustentável vida de bem-estar social, tendo o próprio Estado de subsidiar serviços básicos

para garantir o mínimo para a população, privada de educação, saúde e previdência, resultado

das privatizações.

A ditadura foi uma “contrarrevolução” das transformações sociais que estavam por vir.

Os movimentos sociais, a coesão dos povos na participação política, tudo isso foi eliminado

com prisão, desaparecimento, exílio e morte daqueles que buscavam transformar a política do

país. Passado mais de 30 anos, este sistema foi saturado, e desde 2006 com a “Revolta dos

Pinguins”, a Reforma Universitária, em 2010, e em 2019, com as manifestações iniciadas pelo

aumento do transporte público, ambas manifestações denunciavam o precário sistema

econômico e político imposto no Chile e corroborado pela classe política que se declara

democrática.

As manifestações que ocorreram no final ano de 2019 foram mais intensas nos dois

primeiros meses. Iniciada em 18 de outubro, os manifestantes saíram às ruas para denunciar

“no son 30 pesos, son 30 años” e escancarar os problemas sociais enfrentados por grande parte

da população chilena. A falta de saúde pública, educação, moradia e previdência levou milhares

de chilenos a viverem na miséria. Muitas vezes com empregos rotativos que o salário não é

suficiente para pagar além dos serviços básicos como aluguel, alimentação e transporte. O

“movimento” evade, incentivo de pular a catraca do metrô para protestar contra o aumento da

passagem, foi iniciado por estudantes secundaristas. Uma nova geração que não carrega o medo

da ditadura, mas vivência as dificuldades de seus familiares e amigos. No trecho abaixo, Perry

Anderson descreve os ganhos do sistema neoliberal na vida social dos cidadãos, pois o mesmo

se impõe como algo imutável:

Socialmente, ao contrário, o neoliberalismo conseguiu muitos dos seus objetivos,

criando sociedades marcadamente mais desiguais, embora não tão desestatizadas

como queria. Política e ideologicamente, todavia, o neoliberalismo alcançou êxito

num grau com o qual seus fundadores provavelmente jamais sonham, disseminando

a simples idéia de que não há alternativas para os seus princípios, que todos, seja

confessando ou negando, têm de adaptar-se a suas normas (ANDERSON, 1995, p.

12)

As manifestações foram apoiadas por grande parte da população. A maioria dos

integrantes eram jovens, estudantes e trabalhadores. Ocorrendo toda semana, sobretudo às

sextas-feiras na antiga praça Baquedano, agora intitulada “Plaza de la dignidade”. O nome não

é por acaso: é a busca por condições melhores de vida. No dia 25 de outubro de 2019, 1,2 milhão

de pessoas se concentraram em torno da praça. Número representativo, tendo em vista que

Santiago têm 7 milhões de habitantes. Entrevistada pelo El País, uma manifestante declarou:

14

Queremos dignidade. O Chile era uma panela de pressão. Sempre se pensou que nós

chilenos somos chatos e sem iniciativa, mas nossa criatividade ficou evidente nas ruas.

As projeções nos edifícios, a música que sai toda hora pelas janelas, os cartazes e o

humor, apesar dos momentos complicados. Esse fenômeno nos mobilizou. Respira-se

um fervor que nos estimula”, diz a ilustradora Paloma Valdivia, que participou de

todas as mobilizações dos últimos dias e afirma, sem nenhuma dúvida, que a de sexta-

feira foi a maior de todas.14

E para alcançar este ideal, o objetivo era acabar com as políticas neoliberais que cercam suas

vidas em vários níveis: tanto social quanto econômico. O povo chileno, desacreditado da

política, tendo em vista a baixa adesão15 na última eleição presidencial que garantiu a vitória

do direitista Sebástian Piñera, demonstraram nas ruas sua insatisfação.

A frase "Estamos em guerra contra um inimigo poderoso, implacável, que não respeita

nada nem ninguém e que está disposto a usar a violência e delinquência sem nenhum limite"16

foi declarado em rede nacional pelo presidente da república Sebastián Piñera17. O mesmo impôs

o estado de emergência18 no dia 19 de outubro de 2019 garantindo as forças policiais o controle

das cidades tomadas pelos manifestantes, que segundo o presidente ‘"O objetivo deste estado

de emergência é muito simples, mas muito profundo: garantir a ordem pública, a tranquilidade

dos habitantes da cidade de Santiago, proteger bens públicos e privados e, acima de tudo,

garantir os direitos de todos"’19

As cenas que repercutiram nos jornais do mundo foram de choque, medo e lembranças.

A ditadura de Augusto Pinochet foi brutal e denunciada ao redor do mundo. A repressão de

2019 foi comparada à época da ditadura, e em alguns momentos, considerada ainda mais feroz

diante dos usos das novas tecnologias. Foram centenas de manifestantes com sequela ocular,

denúncias de abusos sexuais, casos de tortura, prisão arbitrária e uso desproporcional da força.

14 MONTES, R. Mais de um milhão de pessoas protesta no Chile na maior marcha pós-Pinochet. El Pais, Santiago,

26 de outubro de 2019. Disponível em: <

https://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/24/internacional/1571937300_504889.html>. Acesso em: 10/11/2020. 15 O voto no Chile não é obrigatório 16 Presidente do Chile diz que país está em guerra. O Estado de São Paulo, Santiago, 21 de outubro de 2019.

Disponível em: < https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,apos-tres-dias-de-confrontos-violentos-

presidente-do-chile-diz-que-pais-esta-em-guerra,70003057853>. Acesso em: 01/11/2020. 17 O irmão de Sebastian Piñera, o José Piñera, foi integrante do governo ditatorial, sendo ele um dos realizadores

da privatização do sistema previdenciário. 18 O estado de emergência é garantido pelo artigo Lei 42 no qual garante o presidente da república declará-lo em

caso de alteração na ordem pública ou de grave dano na segurança nacional. O estado de emergência tem um

prazo de quinze dias, a prorrogação, no entanto, é necessária a aprovação do congresso. Durante a ditadura de

Augusto Pinochet, foi imposto o “estado de sítio” que designava o papel tutelar das Forças Armadas.

Posteriormente, esteve em “estado de emergência” em todo o período sob a justificativa da segurança nacional.

Segundo Rouquié: “os eufemismos (“estado de emergência “ por “estado de sítio”, assim como “restrição de

locomoção noturna” em lugar de “toque de recolher” [...]) têm como objetivo melhorar, sobretudo no exterior, a

imagem bastante degradada de um regime colocado no ostracismo pelas nações” (ROUQUIÉ, 1982, p.307). 19 Chile declara estado de emergência na capital. DW, 19 de outubro de 2019. Disponível em: <

https://www.dw.com/pt-br/chile-declara-estado-de-emerg%C3%AAncia-na-capital/a-50897441> Acesso em:

01/11/2020.

15

Segundo dados do Instituto Nacional de Direitos Humanos do Chile, 2.825 pessoas sofreram

violações de direitos humanos, sendo 153 de trauma ocular. A repressão foi principalmente

vinda dos Carabineiros com 3.806 denúncias, seguidas por 159 do exército, 71 do PDI e 39 de

outros20. A grande marca da repressão chilena, em 2019, foram as centenas de pessoas com

sequelas oculares. Isso demonstra que as bombas de dispersão eram miradas no rosto do

manifestante e/ou que a arma estava bem próxima, o que para especialistas, demonstra o

despreparo dos Carabineiros, como explicou o especialista Charles “Sid” Heal, para a Folha de

São Paulo:

Esferas de borracha como as que os cirurgiões tiram dos rostos e dos olhos não devem

ser disparadas diretamente contra as pessoas, mas a cerca de dois a dez metros de

distância de um alvo, disse Charles "Sid" Heal, um Comandante aposentado do

departamento de polícia de Los Angeles que ensina técnicas de controle de tumultos

em todo o mundo.21

Depois de intensa repressão e denúncias, foi apresentado no congresso o pedido de

impeachment contra o presidente. O mesmo que buscava negociar com a oposição para seguir

com seu programa de reforma econômica, pediu desculpas por “declarar guerra” e buscou uma

saída pacifica no congresso. A saída foi propor um plesbicito para a mudança da constituição.

Diante da repressão, o congresso acatou o pedido do executivo em convocar um plebiscito em

abril de 2020, segundo o presidente do Senado Jaime Quintana: ‘“É uma saída pacífica e

democrática para a crise, que busca um novo contrato social no Chile."’22. A data foi estendida

para o dia 25 de outubro do mesmo ano, pois em março o país teve seu primeiro caso de infecção

da COVID-19, razão da neutralização dos protestos.

A pandemia escancarou ainda mais a desigualdade social que os chilenos vivem. Sem

acesso a saúde e a proteção social, o período quarentenário23 causou desemprego e fome. Diante

desses agravamentos, importantes movimentos que ocorreram na década de 1980 durante a

20 Dados registrados pelo Instituto Nacional de Direitos Humanos do Chile no período de dia 17/10/2019 –

14/03/2020. In: Mapa de violaciones a los derechos humanos. Disponível em: < https://mapaviolacionesddhh.indh.cl/public/estadisticas> Acesso em: 10/10/2020. 21 BOYD, S.; LOMBRANA, L. M. Repressão violenta da polícia chilena a protestos deixa dezenas de pessoas

cegas. Folha de São Paulo, 1/11/2019. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/11/repressao-

violenta-da-policia-chilena-a-protestos-deixa-dezenas-de-pessoas-cegas.shtml?origin=folha> Acesso em:

20/10/2020. 22 MONTES, Rocío. Chile fará referendo em abril para sepultar a Constituição de Pinochet. El Pais. Santiago,

15/11/2019. Disponível em:

<https://brasil.elpais.com/brasil/2019/11/15/internacional/1573787959_556610.html> Acesso em: 15/11/2020. 23 A quarentena foi uma medida sanitária adotada por quase todos os países no mundo para conter o avanço da

doença.

16

crise econômica voltaram: as “ollas comunes”,24 garantindo a subsistência dos mais pobres.

Com a falta de assistência por parte do Estado, o povo, sobretudo das periferias e bairros

operários, voltaram às ruas e foram recebidos com repressão.

Assim como as manifestações não cessaram, a violência policial também permaneceu.

Inclusive, um caso ainda a ser investigado, mas relevante para este artigo, os jornalistas Chico

Alves e Jamil Chade, do UOL, site de notícias brasileiro, receberam a informação que Sebastián

Piñera rondou utilizar a inteligência brasileira para encontrar o foco das manifestações. “Uma

consulta informal chegou à área estratégica do governo Jair Bolsonaro. Em reunião reservada,

militares chilenos reclamaram que os governos civis desmontaram o aparato de inteligência

estatal”25 O caso está sendo investigado, mas segundo os jornalistas: “Segundo apurou o UOL,

o presidente Bolsonaro não chegou a ficar sabendo da consulta, que acabou sendo tratada entre

os militares dos dois países”.26

Frente aos protestos, o governo brasileiro de Jair Messias Bolsonaro (sem partido),

declarou que “devemos sempre nos preparar para o pior”. E ainda alertou “"Tenho conversado

com a Defesa nesse sentido. A tropa tem que estar preparada porque ao ser acionada por um

dos três Poderes, de acordo com o artigo 142, estarmos em condição de fazer manutenção da

lei e da ordem"27, comentou ele, sobre a possibilidade de a turbulência chegar ao Brasil. Ruy

Mauro Marini em seu artigo “O Estado Contraingurgente” discute sobre a presença permanente

das Forças Armadas como um quarto poder no sistema político, e mesmo sob um regime

democrático, está à disposição para fazer ruir qualquer movimento contrária a ordem

estabelecida.

Conclusão

Diante da ameaça comunista que rondava os países aliados dos Estados Unidos,

sobretudo na América Latina com a Revolução Cubana, em 1959, buscaram se especializar na

guerra revolucionária, na qual o inimigo não é mais um sujeito fardado ou reconhecido, segundo

a teoria e tática da doutrina francesa instruída aos americanos, qualquer cidadão era um

potencial inimigo, sendo ele trabalhador, estudante, operário ou dona de casa. Os movimentos

24 As “Ollas Comunes”, organizadas majoritariamente por mulheres, na década de 1980 tinha a intenção de

preparar uma refeição em comunidade. Além da preparação dos alimentos, os vizinhos se reuniam para discutir os

problemas econômicos, sociais e de moradia. 25 ALVES, C.; CHADE,J. Chile sondou inteligência brasileira para achar origem de protestos em 2019. UOL, 08

de outubro de 2020. Disponível em: < https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2020/10/08/chile-

pediu-ajuda-a-inteligencia-brasileira-nos-protestos-de-2019.htm> Acesso em: 10/10/2020. 26 Ibid.

17

sociais e a participação popular na política em alguns países causaram medo na classe burguesa,

que no caso chileno, sentiram-se encurralados. Neste embate, os militares sob a justificativa da

segurança interna, se preparam para lutar dentro do próprio território.

O Brasil, em 1964, foi o primeiro a adequar as técnicas e teorias da doutrina à sua escola.

A Escola Superior de Guerra foi a precursora da especialização sobre guerra revolucionária.

Embora o debate a respeito do problema já estivesse no país antes mesmo do golpe militar, foi,

em 1964, que suas bases foram institucionalizadas no Estado brasileiro. Entre elas, da

necessidade de um sistema de informação para manter o estado de segurança e evitar que os

novos inimigos criassem obstáculos para o projeto de desenvolvimento do país. Disposto a

defender os valores cristãos e da democracia ocidental contra a ditadura do proletariado.

O Chile que, em 1970, foi visto pelo mundo sob dois olhares: esperança e perigo. Diante

do alcance de um partido de esquerda chegar ao governo através do voto popular e das

transformações que vieram acontecer durante o governo de Salvador Allende, melhorando a

vida de milhares de cidadãos, a direita local e internacional, agiram para transformar o sonho

em caos. As manipulações, calunias e mentiras tomaram conta dos jornais da direita que

denunciava a ilegitimidade do governo, causando a instabilidade política, social e econômica.

A saída para resolver o problema foi criar condições para um golpe militar, o que ocorreu em

setembro de 1973.

A força repressora para eliminar os resquícios de revolução que pudesse existir foi

altamente brutal. Como Rouquié (1982) explica, que as Forças Armadas chilenas não sabiam

atuar de outra maneira, mas esta não foi a única razão, também esteve presente o ódio de classe

e o medo de perder privilégios frente a um possível golpe de esquerda, razão pela qual

contribuiu para a “operação limpeza” dos opositores. Para enfrentá-los, usou-se de recursos

semelhantes ao brasileiro para identificar o inimigo: a Dirección Nacional de Inteligencia

(DINA), da qual preservou o governo e perseguiu, prendeu e matou opositores. Sem um plano

para atuar, tendo em vista a necessidade de conter o avanço da “revolução comunista”, o modelo

repressor brasileiro foi essencial neste combate. A diferença de nove anos de uma ditadura para

outra foi suficiente para afeiçoar o seu sistema a ponto de exportá-lo.

Um dos interesses brasileiros era garantir sua segurança nacional, pois acreditavam na

ameaça do governo da UP, e além do mais, os exilados brasileiros naquele território

permaneciam em atividade política colocando em risco à ditadura. Houve outros atores e razões

para o golpe chileno, como as direitas nacional, os Estados Unidos e as multinacionais, mas o

18

fundamental era que ambos ambicionavam um novo projeto político e econômico para o país

andino, um sistema que perpetuou por mais de trinta anos, simbolizado pelo experimento do

neoliberalismo.

O modelo neoliberal que na democracia foi contestado pela sociedade em vários

momentos, principalmente, em 2019, quando a população sai às ruas, mesmo sob a

receptividade repressiva do Estado que não consegue frear a fúria do povo. O Chile de 2019

novamente foi visto como esperança para a América Latina em meio a vários governos

autoritários e de direita e extrema-direita, como é o caso brasileiro. O modelo chileno era ideal

para apresentar ao povo sobre a eficácia do sistema econômico adotado na ditadura. No Brasil,

era algo a se espelhar, mas com as manifestações o Chile ficou “esquecido”, como declarou o

presidente Jair Bolsonaro: “que não ocorresse no Brasil o que aconteceu no Chile”, referindo-

se as manifestações. O presente nos faz compreender melhor o medo que aquele país de 1970

representou para a classe burguesa, e, como estes se articulam com outras burguesias para

impedir e conter novas ebulições.

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