a influência do princípio ordenador ético na construção do ... · técnicas discursivas que...
TRANSCRIPT
A influência do princípio ordenador ético na construção do Ethos discursivo em
redações do vestibular indígena1
Renan Paulo Bini – UNIOESTE2
Solange Goretti Moreira Pizzatto – UNIOESTE3
Resumo: Objetiva-se, neste trabalho, identificar como o princípio ordenador ético manifesta-
se na construção do Ethos discursivo em redações de vestibular indígena. A partir da temática
proposta para a redação do vestibular de 2009, “A demarcação das terras indígenas”, são
analisados enunciados de redações resultantes da prova do IX vestibular dos povos indígenas
do Paraná /Unioeste/2009. Parte-se da perspectiva de Guimarães (2001) em considerar que os
fatores semânticos do Ethos, do Pathos e do Logos, na argumentação, incorporam o princípio
ordenador ético a partir de um quadro de valores explícitos e implícitos. Aplica-se a análise
com base nos estudos de Maingueneau (2016), Perelman e Olbrechts-Tyteca (2017),
Guimarães (2001), entre outros autores. Este trabalho possibilitará evidenciar, a partir de
Ducrot (1981), como o componente linguístico incorpora o componente retórico, considerando
que os enunciados comportam diversas expressões ou termos que direcionam a orientação
argumentativa ao enunciado com o intuito de conduzir os interlocutores a uma determinada
direção.
Palavras-Chave: Retórica; Ética; Ethos; Redações Indígenas.
Resumen: Se objetiva, en este trabajo, identificar cómo el principio ordenador ético se
manifiesta en la construcción del Ethos discursivo en redacciones de vestibular indígena. A
partir de la temática propuesta para la redacción del vestibular de 2009, "La demarcación de
las tierras indígenas", se analizan enunciados de redacciones resultantes de la prueba del IX
vestibular de los pueblos indígenas del Paraná / Unioeste / 2010. Se parte de la perspectiva de
Guimarães (2001) en considerar que los factores semánticos del Ethos, del Pathos y del Logos,
en la argumentación, incorporan el principio ordenador ético a partir de un cuadro de valores
explícitos e implícitos. Se aplica el análisis basado en los estudios de Maingueneau (2016),
Perelman y Olbrechts-Tyteca (2017), Guimarães (2001), entre otros autores. Este trabajo
posibilitará evidenciar, a partir de Ducrot (1981), como el componente lingüístico incorpora el
componente retórico, considerando que los enunciados comportan varias expresiones o
términos que orientan la orientación argumentativa al enunciado con el propósito de conducir
a los interlocutores a una determinada dirección.
Palabras Clave: Retórica; Ética; Ethos; Redacciones Indígenas.
1 Trabalho orientado pela Professora Dra. Aparecida Feola Sella. 2 Mestrando em Letras pela Unioeste; Graduado em Comunicação Social - habilitação em Jornalismo - Univel;
Acadêmico do Curso de Letras Português/Italiano da Unioeste; Discente do MBA em Marketing, Propaganda e
Vendas da Univel. E-mail: [email protected]. 3 Graduada em Letras Português/ Espanhol pela Unioeste; Discente na especialização Educação a Distância com
Ênfase na Formação de Tutores, na Faculdade São Braz; Discente na especialização Formação continuada de
professores de língua inglesa. E-mail: [email protected].
Considerações Iniciais
Pretende-se, neste artigo, tecer reflexões sobre como o princípio ordenador ético
influencia na construção do Ethos discursivo em redações indígenas. Para a análise,
consideramos fragmentos de sete redações desenvolvidas por candidatos do IX Vestibular dos
Povos Indígenas do Paraná, realizado pela Unioeste, em 2009. Nesse concurso, houve 341
inscrições, dentre elas, 273 cumpriram a realização da prova de redação.
De acordo com Marcuschi (2011, p. 91), a língua como atividade “é indeterminada sob
o ponto de vista semântico e sintático” e, por isso, “as significações e os sentidos textuais e
discursivos não podem estar aprisionados no interior dos textos pelas estruturas linguísticas”.
Assim, considerando o contexto social e histórico em que a comunidade indígena se insere, e,
o papel e a identidade social que seus integrantes ocupam, a partir da temática “A demarcação
das terras indígenas”, entende-se que o processo seletivo propiciou que os candidatos tecessem
comentários centrados no Ethos e no Pathos: mais emotivos e focados na identidade indígena.
Apesar de compreendermos a importância da exterioridade aos elementos linguísticos,
destacamos que, conforme aponta Ducrot (1981), o componente linguístico incorpora o
componente retórico a partir das diversas expressões ou termos que direcionam a orientação
argumentativa dos enunciados, conduzindo os interlocutores a uma determinada direção. Por
meio dos estudos de Koch (2002), pode-se destacar que diversos elementos linguísticos dotados
de argumentatividade são utilizados na tessitura textual: desde a escolha lexical, escolha dos
elementos de referenciação, escolha dos operadores argumentativos etc., sendo variáveis a
partir do estilo linguístico de cada locutor. Para a pesquisadora, por meio dessas estruturas,
Evidencia-se, portanto, que essas instruções, codificadas, da natureza
gramatical, supõem evidentemente um valor retórico da construção, ou seja,
um valor retórico – ou argumentativo – da própria gramática. O fato de se
admitir a existência de relações retóricas ou argumentativas inscritas na
própria língua é que leva a postular a argumentação como ato linguístico
fundamental (KOCH, 2002, p. 109).
Assim, destacamos que esta análise observará a macroestrutura e a microestrutura dos
fragmentos textuais selecionados. Em relação à macroestrutura, consideramos a exposição das
teses e dos argumentos, bem como as categorias Ethos, Pathos e Logos. Em relação à
microestrutura, consideramos a tipologia dos argumentos (que compõem o Logos), como os
elementos modalizadores e estruturas linguísticas específicas que demonstram a materialização
do Ethos e do princípio ordenador ético.
Entendendo a necessidade da dominação do léxico e da sintaxe da língua para que o
falante argumente e expresse seu conhecimento de mundo de forma eficaz, e, considerando que
a língua portuguesa não é a língua materna da maioria dos candidatos que desenvolveram textos
ao vestibular indígena, ressalta-se que o corpus de análise foi selecionado a partir de critérios
de coerência apontados por Koch e Travaglia (1993). Ressaltamos que até mesmo nos textos
que apresentam pouca coerência, nota-se a forte presença do Ethos na argumentação a partir
de marcas textuais que inferem orgulho e unidade em relação à identidade indígena.
Teoria Retórica
De acordo com Perelman (1999, p. 177), “a retórica clássica, a arte de bem falar de
modo persuasivo se propunha estudar os meios discursivos de ação sobre um auditório, com o
intuito de conquistar ou aumentar sua adesão às teses que se apresentam ao seu assentimento”.
Em outro trecho da obra, o autor afirma que a retórica possui como objetivo “o estudo das
técnicas discursivas que visam a provocar ou a aumentar a adesão das mentes às teses que se
apresentam ao seu assentimento” (PERELMAN, 1999, p. 2007). Com o intuito ainda de definir
a teoria, recorremos aos estudos de Barili:
Disciplina formal, como a dialética e a analítica, porque tem seu campo de
ação no discurso, no material verbal; mas, por outro lado, forçada também a
valer-se de conteúdos psicológicos, éticos e políticos. Arte, pelo seu caráter
de habilidade geral não ligada a setores particulares e técnicas operativas, mas
também ciência porque necessita de uma determinada bagagem de noções, de
conhecimentos efetivos. E, por fim, atividade teórica, porque inscrita todavia
no corpo logístico, mas também prática, porque agitadora de multidões que
arrasta para a ação (BARILLI, 1979, p.24).
Considerando a evolução da Teoria Retórica desde sua utilização pelos gregos4 até a
atualidade, a partir dos estudos de Mosca (2001), Abreu (2013), Massmann (2017) e de Silva,
Oliveira e Cordeiro (2012), podemos afirmar que a Retórica sofreu as mais diversas
abordagens. Atualmente, convivemos com diversas Retóricas: Retórica Antiga, Retórica
4 Abreu (2017, p. 27) aponta que a Retórica, ou a arte de convencer e persuadir, “surgiu em Atenas, na Grécia
Antiga, por volta de 427 a.C., quando os atenienses, tendo consolidado na prática os princípios do legislador
Sólon, estavam vivendo a primeira experiência de democracia de que se tem notícia na História”.
Clássica, Retórica das Figuras, Retórica Nova e a Retórica Semiótica, além dos estudos
realizados pela Linguística, pela Pragmática, pela Análise do Discurso e pela Semântica
Argumentativa, que também consideram os elementos retóricos.
Essa diversidade teórica, metodológica e terminológica acerca dos estudos em
argumentação mostra que o estudo do discurso argumentativo pode ser realizado a partir de
diferentes ângulos. Considerando os estudos da Retórica Clássica, por exemplo, para
Aristóteles (2017)5, o orador deve ser verdadeiro, uma vez que a verdade é uma virtude (areté)
de honestidade (epieikés/spoudaios) que fortalece o Ethos, ou o sujeito da enunciação,
aumentando a probabilidade de adesão às teses defendidas. Segundo Abreu,
A primeira tarefa da retórica clássica tinha natureza heurística6. Tratava-se de
descobrir temas conceituais para discussão. Um dos temas mais célebres,
escolhido por Górgias, foi “o direito que a paixão tem de se impor sobre a
razão”. Para se defender essa tese, Górgias escreveu um discurso intitulado
Elogio a Helena, em 414 a.C. (ABREU, 2017, p. 28-29).
Nessa perspectiva, apontamos os estudos realizados por Perelman e Olbrechts-Tyteca
(2017). A obra propõe uma teoria da argumentação cujo objetivo “é o estudo das técnicas
discursivas que permitem provocar ou aumentar a adesão dos espíritos às teses que se lhes
apresentam assentimento” (PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 2017, p. 07).
Considerando estes estudos que foram denominados como Nova Retórica, Mosca (2001, p. 24)
afirma que “não existe discurso sem auditório e não há argumentação sem retórica”.
De acordo com Aristóteles (2017, p. 45), existem “três meios de persuasão supridos
pela palavra falada. O primeiro depende do caráter pessoal do orador; o segundo, de levar o
auditório a uma certa disposição de espírito; e o terceiro, do próprio discurso no que diz respeito
ao que demonstra ou parece demonstrar”. Destacamos que esta visão teórica é compartilhada
por Perelman e Olbrechts-Tyteca (2017), diferindo-se apenas em alguns aspectos. Para os
pesquisadores, o conceito de “verdade” defendido por Aristóteles é substituído pelo conceito
5 Na época de Aristóteles, era muito importante que os cidadãos conseguissem dominar a Retórica nas assembleias
populares e nos tribunais. Para suprir essa necessidade, existiam profissionais que ensinavam essa arte: os sofistas.
Os mais importantes sofistas foram Protágoras e Górgias. Destaca-se que o pensamento de Aristóteles divergia
do pensamento dos sofistas, uma vez que se afastava da dialética (ou da busca pela verdade). Protágoras, por
exemplo, tornou-se famoso por sua afirmação “O homem é a medida de todas as coisas”, que o levou a afirmar
que o verdadeiro sábio é aquele capaz de julgar as coisas segundo as circunstâncias em que elas se inserem e não
aquele que pretende expressar verdades absolutas (ABREU, 2017, p. 28). 6 Heurística, segundo Abreu (2017), é o método de análise que se visa ao descobrimento e ao estudo de verdades
científicas. A palavra se origina do verbo grego eurisko, que significa “achar”, “encontrar”.
de “verossimilhança”, ou seja, alcançará resultados aquele orador que aparentar ser verdadeiro
e não o que necessariamente seja. Além disso, Perelman e Olbrechts-Tyteca (2017) passam a
aplicar as noções teóricas formuladas por Aristóteles também em gêneros textuais escritos. De
acordo com Perelman (1999):
A concordância dos interlocutores concerne ao que, o meio que representam,
é considerado válido, obrigatoriamente aceito, até prova em contrário. O
ponto inicial de uma argumentação dialética não consiste em proposições
necessárias, válidas em toda parte e sempre, mas em proposições
efetivamente aceitas em dado meio e que, noutro meio, noutro contexto
histórico e social, poderiam não usufruir o favor geral (PERELMAN, 1999,
p. 52).
Nessa perspectiva, entendemos que argumentar é um ato de persuasão que se origina a
partir da relação entre Ethos (categoria inicialmente proposta por Cícero e posteriormente
ampliada por Quintiliano), Pathos (categoria proposta por Platão) e Logos (categoria
inicialmente proposta por Aristóteles e posteriormente estudada por teóricos como Perelman e
Olbrechts-Tyteca e Ducrot). Considerando as definições contemporâneas destes termos,
apontamos, aqui, os estudos de Eggs (2016).
Assim, considerando os estudos destes teóricos, compreendemos que, na
contemporaneidade, Logos é o poder dialético do discurso com o intuito da adesão a partir da
razão, ou o próprio discurso, uma vez que demonstra algo ou parece demonstrar; Pathos ocorre
no fato de colocar os interlocutores em certa disposição a partir do lugar em que se inserem
(convenções sociais e culturais, contexto e comportamento); e Ethos caracteriza-se pela
imagem de confiabilidade que o orador inspira (EGGS, 2016). É importante destacar que estas
categorias representam um olhar atualizado a partir de observações já tecidas por Aristóteles,
conforme apresentado anteriormente. De acordo com Ducrot (2004), considerando a
argumentação retórica,
a persuasão exige que apresentemos não somente razões, formando aquilo
que chamamos de logos, mas que desenvolvamos igualmente no ouvinte o
desejo do crer verdadeiro (o pathos) e enfim, que o ouvinte tenha confiança
no orador, que deve lhe parecer alguém confiável, sério e bem intencionado.
O orador deve, portanto, oferecer em seu próprio discurso uma imagem
favorável de si, correspondendo àquilo que a retórica clássica chama de ethos
(DUCROT, 2004, p. 4-5).
Segundo Eggs (2016), o lugar que engendra o Ethos é o Logos do Enunciador. Perelman
e Olbrechts-Tyteca (2017, p. 18) afirmam que, para argumentar de forma eficaz, o orador
“precisa ter apreço pela adesão do interlocutor, pelo seu consentimento, pela sua participação
mental”. Assim, considerando que a adesão às teses ocorrerá apenas a partir do momento em
que o auditório estabelecer uma relação de confiança com o orador, pode-se afirmar que o
Ethos constitui a mais importante das três provas engendradas pelo discurso.
Destacamos, também, a importância do estudo dos elementos microestruturais da
retórica que se encontram no Logos, ou na argumentação linguística, como define Ducrot, tais
como, os operadores argumentativos e os elementos modalizadores. Segundo Ducrot (2004, p.
5), observa-se que o Logos discursivo se manifesta “por meio de encadeamentos
argumentativos”. O pesquisador afirma, ainda, que a argumentação não se constrói apenas por
meio destes encadeamentos: “Esse logos, manifestado pelos encadeamentos argumentativos,
teria necessidade, em vista de suas insuficiências, de ser completado pelo recurso a fatores
irracionais, o ethos e o pathos”. De acordo com Ducrot:
O papel do componente retórico consiste, então, em procurar na situação os
elementos susceptíveis de preencher os espaços vazios inscritos na
significação da frase, fazendo isto segundo instruções encontráveis nesta
significação. Em termos matemáticos, a significação é, neste caso, uma
função, a situação de discurso é seu argumento, e a interpretação “retórica”
consiste em calcular o valor da função quando aplicada ao argumento
(DUCROT, 1987, p. 92).
Observamos que os elementos linguísticos argumentativos estudados pela Semântica
Argumentativa mais recorrentes na tessitura dos textos indígenas são os elementos
modalizadores. Sobre a categoria, Ducrot (1972) a identifica como manobra criada para
determinar uma conclusão. Segundo Neves (2000, p. 253), “com os modalizadores, o falante
exprime reações emotivas, isto é, manifesta disposição de espírito em relação ao que é afirmado
ou negado”. De acordo com Travaglia (1991, p. 65), a modalização reflete “a atitude do falante
em relação ao que é dito, bem como a atitude de outrem, mas que o falante insere, por alguma
razão, no que diz”.
Os elementos de cunho deôntico, segundo Castilho e Castilho (1992), indicam que o
falante considera o conteúdo proposicional como um estado de coisas que “deve”, ou seja,
precisa ocorrer obrigatoriamente. E, de acordo com Nascimento (2010, p. 36), podem ser
classificados em modalizadores de obrigatoriedade, de proibição e de possibilidade. Já os
modalizadores epistêmicos, de acordo com Castilho e Castilho (1992), referem-se ao eixo da
crença, reportando-se ao conhecimento do locutor sobre um estado de coisa, podendo ser
asseverativos, quase asseverativos e delimitadores.
A influência do princípio ordenador ético na construção do Ethos discursivo
De acordo com Ducrot (1981), o valor argumentativo de um enunciado não é somente
uma consequência das informações contidas em sua tessitura. Segundo o autor, os enunciados
podem apresentar expressões que têm por intuito aplicar uma orientação argumentativa ao texto
e conduzir o auditório em uma determinada direção. Nessa mesma perspectiva, Guimarães
(2001) afirma que:
Existem os mecanismos retóricos presentes ao nível linguístico fundamental,
inscritos na própria significação dos enunciados; existem os mecanismos
retóricos que se manifestam em outros níveis que não são propriamente
linguísticos, mas que constituem manobra discursiva, tal como a ironia, a
sátira, a insinuação (GUIMARÃES, 2001, p. 149).
Segundo Guimarães (2001, p. 149), observa-se que enquanto a Gramática considera
apenas as técnicas internas do sistema linguístico e sua funcionalidade objetiva (valores
morfológicos, lexicais e sintáticos), a Retórica “cataloga as várias possibilidades de pôr em
movimento aquela funcionalidade para obter uma expressão tão eficaz quanto possível” e
também considera a face subjetiva do ato linguístico. Assim, para a pesquisadora, a Retórica
passa a considerar também as cargas afetivas.
Segundo Perelman e Olbrechts-Tyteca (2017, p. 85), considerando as cargas afetivas,
os pesquisadores afirmam que os enunciados estão “inseridos num sistema de crenças, que se
pretende valorizar aos olhos de todos, alguns valores que podem ser tratados como fatos ou
verdades”. Assim, de acordo com Guimarães (2001), o léxico e os enunciados são
determinados pelas práticas sociais. A partir disso, o fator semântico de um determinado
enunciado incorpora os seguintes princípios ordenadores: “éticos, com base em um quadro de
valores explícitos ou implícitos; argumentativos, que determinavam a seleção das formas
expressivas por seu poder de persuasão; estético-literários, conforme os padrões artísticos
vigentes” (GUIMARÃES, 2001, p. 152, grifos nossos).
Nessa perspectiva, considerando que o princípio ordenador ético é variável a partir de
valores explícitos e implícitos, recorremos a Valls (1994) que, sobre ética, afirma:
Tradicionalmente ela é entendida como um estudo ou uma reflexão, científica
ou filosófica, e eventualmente até teológica, sobre os costumes ou sobre as
ações humanas. Mas também chamamos de ética a própria vida, quando
conforme aos costumes considerados corretos. A ética pode ser o estudo das
ações ou dos costumes, e pode ser a própria realização de um tipo de
comportamento. [...] O que seria um comportamento correto, em ética? Não
seria nada mais do que um comportamento adequado aos costumes vigentes,
e enquanto vigentes, isto é, enquanto estes costumes tivessem força para
coagir moralmente, o que aqui quer dizer, socialmente. Quem se comportasse
de maneira discrepante, divergindo dos costumes aceitos e respeitados, estaria
no erro, pelo menos enquanto a maioria da sociedade ainda não adotasse o
comportamento ou o costume diferente. Quer dizer: esta ação seria errada
apenas enquanto ela não fosse o tipo de um novo comportamento vigente
(VALLS, 1994, p. 9-10).
A partir da reflexão tecida por Valls (1994) e considerando o curpus, que é constituído
por recortes de 7 redações indígenas, observamos que o Ethos aciona valores universais para
convencer, como a Regra de Justiça. Para Abreu (2013, p. 50), “a regra de justiça fundamenta-
se no tratamento idêntico a seres e situações integrados em uma mesma categoria. [...] É um
argumento de justiça, fundamentado na importância de um precedente”. Além disso, de acordo
com o autor: “Os mesmos valores não são impostos a todo mundo. Eles estão ligados à
multiplicidade de grupos e de emoções. Aquele que quer persuadir deve saber previamente
quais os valores de seu interlocutor ou do grupo de constitui o auditório” (ABREU, 2013, p.
79).
De acordo com Eggs (2016), a imagem que o auditório concebe sobre o orador ocorre
a partir da héxis7, do habitus8 e do tipo social. Assim, considerando o papel de valores externos
na construção imagética do Ethos, recorremos novamente aos estudos de Aristóteles. Para o
filósofo, o Ethos desenvolve-se a partir de dois campos: um de sentido moral e fundado na
epieikeia9, que se constitui a partir de virtudes como honestidade, benevolência e equidade; e
outro mais objetivo a partir da héxis, que se constitui a partir dos hábitos, dos costumes e do
7 O termo héxis era utilizado entre os filósofos gregos para designar valores morais e caráter. Mais tarde, entre os
romanos, o termo passou a ser traduzido como habitus. 8 De acordo com o dicionário de filosofia Nicola Abbagnano (2007, p. 496), o termo habitus é compreendido
como o “compromisso moral de dizer a verdade”. 9 Segundo Hobuss (2010), a epieikeia está ligada à preocupação retórica em obter sucesso nos tribunais. Destaca-
se que, para Aristóteles, este sucesso é inerente ao senso de justiça do orador, sua imparcialidade e equidade.
caráter. Segundo Aristóteles (2014), na argumentação, o auditório observa no orador duas
espécies de héxis: os habitus dianoéticos e os habitus éticos, conforme exemplificamos no
quadro a seguir:
Quadro 1 – Héxis para Aristóteles
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de conceitos apresentados por Aristóteles (2014) na obra Ética a Nicômaco.
Para Perelman e Olbrechts-Tyteca (2017), os valores devem ser observados enquanto
objetos de acordo que possibilitam uma comunhão sobre modos particulares de agir.
Destacamos que os valores anteriormente apresentados a partir da visão de Aristóteles eram
considerados verdadeiros e indiscutíveis. Já para Perelman e Olbrechts-Tyteca, o auditório
realiza suas escolhas e conclusões a partir da verossimilhança. De acordo com os próprios
autores, esta forma de pensar é embasada a partir dos estudos de Descartes. Assim, destacamos
o pensamento do filósofo:
É assim, como as ações da vida frequentemente não suportam nenhuma
delonga, é uma verdade muito certa que, quando não está em nosso poder
discernir as opiniões mais verdadeiras, devemos seguir as mais prováveis; e
considera-las depois, não mais como duvidosas, no que diz respeito a práticas,
mas como muito verdadeiras e muito certas, porque a razão que a isso nos
determinou o é (DESCARTES, p.75 apud PERELMAN; OLBRECHTS-
TYTECA, 2017, p. 84).
Segundo Perelman e Olbrechts-Tyteca (2017, p. 85), os valores intervêm em todas as
argumentações: “Recorre-se a eles para motivar o ouvinte a fazer certas escolhas em vez de
outras e, sobretudo, para justificar estas, de modo que se tornem aceitáveis e aprovadas por
outrem”. Além disso, os autores afirmam que estas motivações são ancoradas em valores
concretos, como nas noções de “fidelidade”, de “lealdade”, de “solidariedade” e de
Héxis
(Habitus/disposições)
Dianoéticos
(phrónesis)
bom
(sabedoria/inteligência)
mau
(pobreza de espírito)
Éticos
(areté)
bom
(coragem/justiça)
mau
(covardia/injustiça)
“disciplina”; e em valores abstratos, como na noção de “igualdade” (PERELMAN;
OLBRECHTS-TYTECA, 2017, p. 87-88).
O Ethos discursivo e o princípio ordenador ético nas redações indígenas
Optamos, nesta análise, pela utilização do termo “Ethos discursivo” de Maingueneau
(2016), considerando que, para essa concepção teórica, o Ethos está ligado à própria
enunciação e não ao conhecimento externo do auditório sobre os locutores. A escolha é ideal
neste artigo, uma vez que os enunciadores são indígenas cujas identidades pessoais são
desconhecidas pela banca de redação e por nós, demais interlocutores.
O tema proposto contribuiu para que os candidatos adotassem as estratégias
argumentativas escolhidas. Considerando os fatores semânticos e retóricos e a influência dos
princípios ordenadores, ambos discutidos no referencial teórico deste artigo, destacamos que a
temática “Demarcação das Terras indígenas” influenciou de tal forma na construção do Ethos,
a partir da ativação de memórias e de experiências relacionadas à identidade da comunidade,
assim como a temática Guerra influenciaria um grupo de refugiados que participasse de um
concurso de vestibular, por exemplo (grifos nossos). Observemos os recortes:
Recorte 1: Nós povos indígenas somos considerados um atraso para a
economia brasileira por parte da sociedade não índia [...] muitas vezes eles
esquecem que somos nós que possuímos uma sabedoria milenar da
sobrevivência, onde é garantida a vida da humanidade [...];
Recorte 2: É claro que nós índios temos muitos direitos [...] hoje tem
pessoas que acham [que] por sermos índios não temos direitos por exemplo
sobre as terras, muitos não-índios acabam invadindo terra[...];
Recorte 3: não estão respeitando nossas vidas, eles deveriam ouvir,
conversar, explicar [...];
Recorte 4: as terras indígenas vêm sofrendo muito por causa da ignorância
de pessoas não indígenas [...] (grifos nossos).
Nos recortes acima é perceptível que os locutores assumem o Ethos de representantes
da comunidade indígena, deslocando-a e distinguindo-a dos demais segmentos da sociedade:
“não índios”. Assumindo esta posição, os candidatos constroem o Ethos discursivo no
imaginário dos interlocutores com o intuito de provar que, por vivenciarem aquela realidade,
possuem credibilidade para fazer afirmações pessoais sobre a temática, ou que são verdadeiros,
conforme afirma Aristóteles (2017). Sendo verdadeiros ou não, destaca-se que os locutores
alcançam a verossimilhança descrita por Perelman e Olbrechts-Tyteca (2017), fundamental ao
processo argumentativo.
Nestes primeiros quatro fragmentos, observamos que os locutores acionam valores
éticos e dianoéticos para tecer seus argumentos: No recorte 1, o locutor afirma que os povos
indígenas possuem “sabedoria milenar, o que garante a vida humana”, valor dianoético que
qualifica os indígenas, na perspectiva de Aristóteles (2014), como bons ou sábios; e aqueles
que esquecem da importância desta sabedoria como maus ou pobres de espírito. Esta estratégia
de argumentação também é observada no recorte 4, quando o enunciador fala sobre a
“ignorância das pessoas não indígenas”.
Considerando a argumentação em sua microestrutura, no recorte 2, observamos a
modalização epistêmica “é claro” utilizada com o intuito de orientar as conclusões do auditório.
Na sequência, o ethos, “nós índios”, por meio do Logos, aciona o valor ético de “justiça”,
qualificando os indígenas como bons; e os não-índios que desencadearam a injustiça como
maus. Também observamos modalização no recorte 3: “eles deveriam”. Por meio desta
expressão, pode-se afirmar que o Ethos aciona de forma deôntica o valor concreto da
solidariedade, descrito por Perelman e Olbrechts-Tyteca (2017). Estes movimentos que o Ethos
promove regulam o Logos que deve mobilizar o Pathos (meu interlocutor deve acreditar na
minha estratégia).
Nos recortes que apresentaremos a seguir, destacamos a recorrência do uso do Pathos
na construção dos argumentos:
Recorte 5: as injustiças prevalecem, como que querem tirar, diminuir e até
mesmo roubar um patrimônio nosso, quantas vidas já se perderam nas
grandes batalhas travadas por terras indígenas, e os sangues que foram
derramados vão ser esquecidos?
Recorte 6: os povos indígenas vêm lutando por um mundo melhor. Muitos
indígenas são discriminados pelos não índios. Antigamente os índios eram
vistos como um animal pela sociedade.
Recorte 7: Muitos dos aspectos que faziam parte da nossa cultura se
perderam desde o período da colonização como: a língua, a história, as
crenças e entre outros inúmeros costumes da cultura indígena (grifos nossos).
No recorte 5, além do forte apelo ao Pathos, observa-se novamente o acionamento do
valor ético como uma estratégia inserida no Logos. No recorte, observamos que os indígenas
são inseridos no lugar de injustiçados, enquanto os “não-índios” são classificados na héxis de
covardes e injustos. Também por meio do Logos, observamos, no recorte, a utilização do
operador argumentativo “até mesmo”, que gera no auditório uma expectativa e ampliação de
importância em relação à carga semântica do argumento que é apresentado na sequência. Ao
final do recorte, observamos o acionamento do valor dianoético de sabedoria e, ao mesmo
tempo, o valor ético de justiça, inferindo que esquecer “os sangues que foram derramados”10
seria um ato de injustiça e de pobreza de espírito.
No recorte 6, nota-se que o enunciador aciona o valor ético de coragem ao afirmar que
os indígenas “lutam por um mundo melhor”. Além disso, ao abordar sobre a temática
“discriminação”, destaca-se que o enunciador aciona o valor abstrato de “igualdade” proposto
por Perelman e Olbrechts-Tyteca. Também no recorte 6, observamos o acionamento da héxis
dianoética ao apontar a pobreza de espírito dos não-índios que consideraram os indígenas como
animais. Já no recorte 7, observamos a utilização do que Abreu (2013, p. 58) classifica como
argumento pragmático, uma vez que estrutura sua tessitura a partir de acontecimentos
sucessivos vinculados que mantêm relação e que fazem com que o auditório concorde com o
valor de consequência.
Considerações Finais
Na tentativa de se estabelecer um paralelo entre as culturas diferentes que se cruzam no
trabalho apresentado: a inferente no Ethos indígena e a ocidental contemporânea,
especificamente a brasileira, ousamos afirmar que os enunciadores indígenas recorrem a um
modo diferente de organização retórica. Esta afirmação é possível considerando que,
subjacente a essa retórica, existem visões de mundo diferenciadas e modos distintos de se
categorizar a realidade (a sabedoria, para os indígenas, está ligada ao contato e à preservação
da natureza e não ao acúmulo material). Assim, recorremos à Mosca (2001, p. 44), ao afirmar
que as representações de mundo “estão diretamente ligadas aos modos de sua expressão e são
o resultado de relações intersubjetivas no discurso. Pode-se mesmo falar numa espécie de
apreensão enunciativa do mundo”.
10 Considerando os estudos de Abreu (2011, p. 70) e a estrutura do argumento, destaca-se o enunciador articula
os valores discutidos no parágrafo por meio do argumento da pergunta complexa: “esse tipo de argumento parte
de uma pergunta que traz uma afirmação embutida dentro dela”.
A partir da análise dos recortes apresentados acima, destaca-se que, por meio de
estruturas linguísticas inseridas no Logos, os candidatos desenvolvem a argumentação
utilizando princípios de moralidade que a cultura indígena possui em comum com a cultura
ocidental pós-moderna, estabelecendo-se o Pathos. Nota-se que os discursos são organizados
de forma emotiva e que os candidatos esperam persuadir os interlocutores de que a demarcação
das terras indígenas é necessária por apresentar-se como ação mínima e compensatória diante
das explorações anteriores vindas da cultura dominante.
Entendemos que o Ethos constituído a partir das redações se estrutura através da
imagem que os enunciadores projetaram nos enunciados e por meio de escolhas que os
enunciadores consideraram serem mais ideais para agradar o auditório. Quanto ao Logos,
destacamos que apesar de ser uma competência singular que depende do conhecimento
enciclopédico e dialético de cada candidato, nota-se que a estratégia argumentativa de tecer
considerações a partir de héxis éticas e dianoéticas, ou por meio do princípio ordenador ético,
conforme define Guimarães (2001), é uma estratégia recorrente de organização retórica em
praticamente todas as redações.
Referências
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. Tradução: Alfredo Bosi. São Paulo: Martins
Fontes, 2007.
ABREU, A. S. A arte de argumentar: Gerenciando Razão e Emoção. 13. ed. Cotia: Ateliê
Editorial, 2013.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução, textos adicionais e notas: Edson Bini. São
Paulo: EDIPRO, 2014.
ARISTÓTELES. Retórica. Tradução, textos adicionais e notas: Edson Bini. São Paulo:
EDIPRO, 2017.
BARILI, R. Retórica. Lisboa: Editorial Presença, 1979.
CASTILHO, A. T.; CASTILHO, C. Advérbios modalizadores. In: ILARI, Rodolfo (Org.).
Gramática do português falado. Campinas: UNICAMP; FAPESP, 1992. v. 2. p. 213-261.
DUCROT, O. Argumentação Retórica e Argumentação Linguística. Revista Polifonia, v. 8, n.
08. 2004. Disponível em: < http://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/polifonia/article/view/1125/889>. Acesso
em 20 out. 2017.
DUCROT, O. O dizer e o dito. Campinas: Pontes Editores, 1987.
DUCROT, O. Princípios de semântica lingüística: dizer e não dizer. Cultrix: São Paulo, 1972.
DUCROT, O. Provar e dizer. Tradução: Global Universitária. São Paulo: Global
Universitária, 1981.
EGGS, E. Ethos aristotélico, convicção e pragmática moderna. In: AMOSSY, R. (org.).
Imagens de si no discurso: a construção do ethos. Trad. Dilson Ferreira da Cruz, Fabiana
Komesu e Sírio Possenti. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2016.
GUIMARÃES, E. Figuras de retórica e argumentação. In: MOSCA, L. L. S. (org.). Retóricas
de ontem e de hoje. 2 ed. São Paulo: Humanitas, 2001.
HOBUSS, J. Epieikeia e particularismo na ética de Aristóteles. Revista Internacional de
Filosofia da Moral. Florianópolis, v. 9, n. 2, p. 163 - 174, Dez. 2010. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.5007/1677-2954.2010v9n2p163>. Acesso em 10 out. 2017.
KOCH, I. G. V.; TRAVAGLIA, L. C. Texto e Coerência. 2ª. Ed. São Paulo: Cortez, 1993.
KOCH, I. V. Argumentação e Linguagem. 8 ed. São Paulo: Cortez, 2002.
MAINGUENEAU, D. Ethos, cenografia, incorporação. In: AMOSSY, R. (org.). Imagens de
si no discurso: a construção do ethos. Trad. Dilson Ferreira da Cruz, Fabiana Komesu e Sírio
Possenti. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2016.
MARCUSCHI, L. A. Compreensão textual como trabalho criativo. In: UNIVERSIDADE
ESTADUAL PAULISTA. Prograd. Caderno de formação: formação de professores didática
geral. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011, p. 89-103, v. 11.
MASSMANN, D. Retórica e Argumentação: Percursos de sentidos na biculturalidade.
Campinas: Pontes Editores, 2017.
MOSCA, L. L. S. Velhas e Novas Retóricas: Convergências e desdobramentos. In: MOSCA,
L. L. S. (org.). Retóricas de ontem e de hoje. 2 ed. São Paulo: Humanitas, 2001.
NASCIMENTO, E. P. A modalização deôntica e suas peculiaridades semântico-pragmáticas.
In Fórum Lingüístico, Florianópolis, v.7, n.1 (30-45), jan-jun, 2010. Disponível em:
<https://periodicos.ufsc.br/index.php/forum/article/viewFile/1984-
8412.2010v7n1p30/17100> Acesso em 24 nov 2016.
NEVES, M. H. M. Gramática de usos do português. São Paulo, Editora UNESP, 2000.
PERELMAN, C. Retóricas. Tradução: Maria Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
PERELMAN, C.; OLBRECHTS-TYTECA, L. Tratado da argumentação: a nova retórica.
Tradução: Maria Ermantina de Almeida Prado Galvão. 3 ed. São Paulo: Editora WMF Martins
Fontes, 2017.
SILVA, S.; OLIVEIRA, E. G.; CORDEIRO, I. C.. Os Lugares Retóricos na Publicidade. In:
SELLA, A. F.; BUSSE, S.; CORBARI, A. T. (Org.). Argumentação e Texto: Revisitando
Conceitos, Propondo Análises. Pontes Editores: Campinas, SP; Edunioeste: Cascavel, PR,
2012.
TRAVAGLIA, L. C. Um estudo textual-discursivo do verbo no português do Brasil.
Campinas, 1991. Tese (Doutorado em Linguística) – Instituto de Estudos da Linguagem,
Unicamp. Disponível em <www.ileel.ufu.br/travaglia>. Acesso em: 01 jun 2017.
VALLS, Álvaro L. M. O Que é Ética. São Paulo: Editora Brasiliense: 1994.