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A influência do princípio ordenador ético na construção do Ethos discursivo em redações do vestibular indígena 1 Renan Paulo Bini UNIOESTE 2 Solange Goretti Moreira Pizzatto UNIOESTE 3 Resumo: Objetiva-se, neste trabalho, identificar como o princípio ordenador ético manifesta- se na construção do Ethos discursivo em redações de vestibular indígena. A partir da temática proposta para a redação do vestibular de 2009, “A demarcação das terras indígenas”, são analisados enunciados de redações resultantes da prova do IX vestibular dos povos indígenas do Paraná /Unioeste/2009. Parte-se da perspectiva de Guimarães (2001) em considerar que os fatores semânticos do Ethos, do Pathos e do Logos, na argumentação, incorporam o princípio ordenador ético a partir de um quadro de valores explícitos e implícitos. Aplica-se a análise com base nos estudos de Maingueneau (2016), Perelman e Olbrechts-Tyteca (2017), Guimarães (2001), entre outros autores. Este trabalho possibilitará evidenciar, a partir de Ducrot (1981), como o componente linguístico incorpora o componente retórico, considerando que os enunciados comportam diversas expressões ou termos que direcionam a orientação argumentativa ao enunciado com o intuito de conduzir os interlocutores a uma determinada direção. Palavras-Chave: Retórica; Ética; Ethos; Redações Indígenas. Resumen: Se objetiva, en este trabajo, identificar cómo el principio ordenador ético se manifiesta en la construcción del Ethos discursivo en redacciones de vestibular indígena. A partir de la temática propuesta para la redacción del vestibular de 2009, "La demarcación de las tierras indígenas", se analizan enunciados de redacciones resultantes de la prueba del IX vestibular de los pueblos indígenas del Paraná / Unioeste / 2010. Se parte de la perspectiva de Guimarães (2001) en considerar que los factores semánticos del Ethos, del Pathos y del Logos, en la argumentación, incorporan el principio ordenador ético a partir de un cuadro de valores explícitos e implícitos. Se aplica el análisis basado en los estudios de Maingueneau (2016), Perelman y Olbrechts-Tyteca (2017), Guimarães (2001), entre otros autores. Este trabajo posibilitará evidenciar, a partir de Ducrot (1981), como el componente lingüístico incorpora el componente retórico, considerando que los enunciados comportan varias expresiones o términos que orientan la orientación argumentativa al enunciado con el propósito de conducir a los interlocutores a una determinada dirección. Palabras Clave: Retórica; Ética; Ethos; Redacciones Indígenas. 1 Trabalho orientado pela Professora Dra. Aparecida Feola Sella. 2 Mestrando em Letras pela Unioeste; Graduado em Comunicação Social - habilitação em Jornalismo - Univel; Acadêmico do Curso de Letras Português/Italiano da Unioeste; Discente do MBA em Marketing, Propaganda e Vendas da Univel. E-mail: [email protected]. 3 Graduada em Letras Português/ Espanhol pela Unioeste; Discente na especialização Educação a Distância com Ênfase na Formação de Tutores, na Faculdade São Braz; Discente na especialização Formação continuada de professores de língua inglesa. E-mail: [email protected].

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A influência do princípio ordenador ético na construção do Ethos discursivo em

redações do vestibular indígena1

Renan Paulo Bini – UNIOESTE2

Solange Goretti Moreira Pizzatto – UNIOESTE3

Resumo: Objetiva-se, neste trabalho, identificar como o princípio ordenador ético manifesta-

se na construção do Ethos discursivo em redações de vestibular indígena. A partir da temática

proposta para a redação do vestibular de 2009, “A demarcação das terras indígenas”, são

analisados enunciados de redações resultantes da prova do IX vestibular dos povos indígenas

do Paraná /Unioeste/2009. Parte-se da perspectiva de Guimarães (2001) em considerar que os

fatores semânticos do Ethos, do Pathos e do Logos, na argumentação, incorporam o princípio

ordenador ético a partir de um quadro de valores explícitos e implícitos. Aplica-se a análise

com base nos estudos de Maingueneau (2016), Perelman e Olbrechts-Tyteca (2017),

Guimarães (2001), entre outros autores. Este trabalho possibilitará evidenciar, a partir de

Ducrot (1981), como o componente linguístico incorpora o componente retórico, considerando

que os enunciados comportam diversas expressões ou termos que direcionam a orientação

argumentativa ao enunciado com o intuito de conduzir os interlocutores a uma determinada

direção.

Palavras-Chave: Retórica; Ética; Ethos; Redações Indígenas.

Resumen: Se objetiva, en este trabajo, identificar cómo el principio ordenador ético se

manifiesta en la construcción del Ethos discursivo en redacciones de vestibular indígena. A

partir de la temática propuesta para la redacción del vestibular de 2009, "La demarcación de

las tierras indígenas", se analizan enunciados de redacciones resultantes de la prueba del IX

vestibular de los pueblos indígenas del Paraná / Unioeste / 2010. Se parte de la perspectiva de

Guimarães (2001) en considerar que los factores semánticos del Ethos, del Pathos y del Logos,

en la argumentación, incorporan el principio ordenador ético a partir de un cuadro de valores

explícitos e implícitos. Se aplica el análisis basado en los estudios de Maingueneau (2016),

Perelman y Olbrechts-Tyteca (2017), Guimarães (2001), entre otros autores. Este trabajo

posibilitará evidenciar, a partir de Ducrot (1981), como el componente lingüístico incorpora el

componente retórico, considerando que los enunciados comportan varias expresiones o

términos que orientan la orientación argumentativa al enunciado con el propósito de conducir

a los interlocutores a una determinada dirección.

Palabras Clave: Retórica; Ética; Ethos; Redacciones Indígenas.

1 Trabalho orientado pela Professora Dra. Aparecida Feola Sella. 2 Mestrando em Letras pela Unioeste; Graduado em Comunicação Social - habilitação em Jornalismo - Univel;

Acadêmico do Curso de Letras Português/Italiano da Unioeste; Discente do MBA em Marketing, Propaganda e

Vendas da Univel. E-mail: [email protected]. 3 Graduada em Letras Português/ Espanhol pela Unioeste; Discente na especialização Educação a Distância com

Ênfase na Formação de Tutores, na Faculdade São Braz; Discente na especialização Formação continuada de

professores de língua inglesa. E-mail: [email protected].

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Considerações Iniciais

Pretende-se, neste artigo, tecer reflexões sobre como o princípio ordenador ético

influencia na construção do Ethos discursivo em redações indígenas. Para a análise,

consideramos fragmentos de sete redações desenvolvidas por candidatos do IX Vestibular dos

Povos Indígenas do Paraná, realizado pela Unioeste, em 2009. Nesse concurso, houve 341

inscrições, dentre elas, 273 cumpriram a realização da prova de redação.

De acordo com Marcuschi (2011, p. 91), a língua como atividade “é indeterminada sob

o ponto de vista semântico e sintático” e, por isso, “as significações e os sentidos textuais e

discursivos não podem estar aprisionados no interior dos textos pelas estruturas linguísticas”.

Assim, considerando o contexto social e histórico em que a comunidade indígena se insere, e,

o papel e a identidade social que seus integrantes ocupam, a partir da temática “A demarcação

das terras indígenas”, entende-se que o processo seletivo propiciou que os candidatos tecessem

comentários centrados no Ethos e no Pathos: mais emotivos e focados na identidade indígena.

Apesar de compreendermos a importância da exterioridade aos elementos linguísticos,

destacamos que, conforme aponta Ducrot (1981), o componente linguístico incorpora o

componente retórico a partir das diversas expressões ou termos que direcionam a orientação

argumentativa dos enunciados, conduzindo os interlocutores a uma determinada direção. Por

meio dos estudos de Koch (2002), pode-se destacar que diversos elementos linguísticos dotados

de argumentatividade são utilizados na tessitura textual: desde a escolha lexical, escolha dos

elementos de referenciação, escolha dos operadores argumentativos etc., sendo variáveis a

partir do estilo linguístico de cada locutor. Para a pesquisadora, por meio dessas estruturas,

Evidencia-se, portanto, que essas instruções, codificadas, da natureza

gramatical, supõem evidentemente um valor retórico da construção, ou seja,

um valor retórico – ou argumentativo – da própria gramática. O fato de se

admitir a existência de relações retóricas ou argumentativas inscritas na

própria língua é que leva a postular a argumentação como ato linguístico

fundamental (KOCH, 2002, p. 109).

Assim, destacamos que esta análise observará a macroestrutura e a microestrutura dos

fragmentos textuais selecionados. Em relação à macroestrutura, consideramos a exposição das

teses e dos argumentos, bem como as categorias Ethos, Pathos e Logos. Em relação à

microestrutura, consideramos a tipologia dos argumentos (que compõem o Logos), como os

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elementos modalizadores e estruturas linguísticas específicas que demonstram a materialização

do Ethos e do princípio ordenador ético.

Entendendo a necessidade da dominação do léxico e da sintaxe da língua para que o

falante argumente e expresse seu conhecimento de mundo de forma eficaz, e, considerando que

a língua portuguesa não é a língua materna da maioria dos candidatos que desenvolveram textos

ao vestibular indígena, ressalta-se que o corpus de análise foi selecionado a partir de critérios

de coerência apontados por Koch e Travaglia (1993). Ressaltamos que até mesmo nos textos

que apresentam pouca coerência, nota-se a forte presença do Ethos na argumentação a partir

de marcas textuais que inferem orgulho e unidade em relação à identidade indígena.

Teoria Retórica

De acordo com Perelman (1999, p. 177), “a retórica clássica, a arte de bem falar de

modo persuasivo se propunha estudar os meios discursivos de ação sobre um auditório, com o

intuito de conquistar ou aumentar sua adesão às teses que se apresentam ao seu assentimento”.

Em outro trecho da obra, o autor afirma que a retórica possui como objetivo “o estudo das

técnicas discursivas que visam a provocar ou a aumentar a adesão das mentes às teses que se

apresentam ao seu assentimento” (PERELMAN, 1999, p. 2007). Com o intuito ainda de definir

a teoria, recorremos aos estudos de Barili:

Disciplina formal, como a dialética e a analítica, porque tem seu campo de

ação no discurso, no material verbal; mas, por outro lado, forçada também a

valer-se de conteúdos psicológicos, éticos e políticos. Arte, pelo seu caráter

de habilidade geral não ligada a setores particulares e técnicas operativas, mas

também ciência porque necessita de uma determinada bagagem de noções, de

conhecimentos efetivos. E, por fim, atividade teórica, porque inscrita todavia

no corpo logístico, mas também prática, porque agitadora de multidões que

arrasta para a ação (BARILLI, 1979, p.24).

Considerando a evolução da Teoria Retórica desde sua utilização pelos gregos4 até a

atualidade, a partir dos estudos de Mosca (2001), Abreu (2013), Massmann (2017) e de Silva,

Oliveira e Cordeiro (2012), podemos afirmar que a Retórica sofreu as mais diversas

abordagens. Atualmente, convivemos com diversas Retóricas: Retórica Antiga, Retórica

4 Abreu (2017, p. 27) aponta que a Retórica, ou a arte de convencer e persuadir, “surgiu em Atenas, na Grécia

Antiga, por volta de 427 a.C., quando os atenienses, tendo consolidado na prática os princípios do legislador

Sólon, estavam vivendo a primeira experiência de democracia de que se tem notícia na História”.

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Clássica, Retórica das Figuras, Retórica Nova e a Retórica Semiótica, além dos estudos

realizados pela Linguística, pela Pragmática, pela Análise do Discurso e pela Semântica

Argumentativa, que também consideram os elementos retóricos.

Essa diversidade teórica, metodológica e terminológica acerca dos estudos em

argumentação mostra que o estudo do discurso argumentativo pode ser realizado a partir de

diferentes ângulos. Considerando os estudos da Retórica Clássica, por exemplo, para

Aristóteles (2017)5, o orador deve ser verdadeiro, uma vez que a verdade é uma virtude (areté)

de honestidade (epieikés/spoudaios) que fortalece o Ethos, ou o sujeito da enunciação,

aumentando a probabilidade de adesão às teses defendidas. Segundo Abreu,

A primeira tarefa da retórica clássica tinha natureza heurística6. Tratava-se de

descobrir temas conceituais para discussão. Um dos temas mais célebres,

escolhido por Górgias, foi “o direito que a paixão tem de se impor sobre a

razão”. Para se defender essa tese, Górgias escreveu um discurso intitulado

Elogio a Helena, em 414 a.C. (ABREU, 2017, p. 28-29).

Nessa perspectiva, apontamos os estudos realizados por Perelman e Olbrechts-Tyteca

(2017). A obra propõe uma teoria da argumentação cujo objetivo “é o estudo das técnicas

discursivas que permitem provocar ou aumentar a adesão dos espíritos às teses que se lhes

apresentam assentimento” (PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 2017, p. 07).

Considerando estes estudos que foram denominados como Nova Retórica, Mosca (2001, p. 24)

afirma que “não existe discurso sem auditório e não há argumentação sem retórica”.

De acordo com Aristóteles (2017, p. 45), existem “três meios de persuasão supridos

pela palavra falada. O primeiro depende do caráter pessoal do orador; o segundo, de levar o

auditório a uma certa disposição de espírito; e o terceiro, do próprio discurso no que diz respeito

ao que demonstra ou parece demonstrar”. Destacamos que esta visão teórica é compartilhada

por Perelman e Olbrechts-Tyteca (2017), diferindo-se apenas em alguns aspectos. Para os

pesquisadores, o conceito de “verdade” defendido por Aristóteles é substituído pelo conceito

5 Na época de Aristóteles, era muito importante que os cidadãos conseguissem dominar a Retórica nas assembleias

populares e nos tribunais. Para suprir essa necessidade, existiam profissionais que ensinavam essa arte: os sofistas.

Os mais importantes sofistas foram Protágoras e Górgias. Destaca-se que o pensamento de Aristóteles divergia

do pensamento dos sofistas, uma vez que se afastava da dialética (ou da busca pela verdade). Protágoras, por

exemplo, tornou-se famoso por sua afirmação “O homem é a medida de todas as coisas”, que o levou a afirmar

que o verdadeiro sábio é aquele capaz de julgar as coisas segundo as circunstâncias em que elas se inserem e não

aquele que pretende expressar verdades absolutas (ABREU, 2017, p. 28). 6 Heurística, segundo Abreu (2017), é o método de análise que se visa ao descobrimento e ao estudo de verdades

científicas. A palavra se origina do verbo grego eurisko, que significa “achar”, “encontrar”.

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de “verossimilhança”, ou seja, alcançará resultados aquele orador que aparentar ser verdadeiro

e não o que necessariamente seja. Além disso, Perelman e Olbrechts-Tyteca (2017) passam a

aplicar as noções teóricas formuladas por Aristóteles também em gêneros textuais escritos. De

acordo com Perelman (1999):

A concordância dos interlocutores concerne ao que, o meio que representam,

é considerado válido, obrigatoriamente aceito, até prova em contrário. O

ponto inicial de uma argumentação dialética não consiste em proposições

necessárias, válidas em toda parte e sempre, mas em proposições

efetivamente aceitas em dado meio e que, noutro meio, noutro contexto

histórico e social, poderiam não usufruir o favor geral (PERELMAN, 1999,

p. 52).

Nessa perspectiva, entendemos que argumentar é um ato de persuasão que se origina a

partir da relação entre Ethos (categoria inicialmente proposta por Cícero e posteriormente

ampliada por Quintiliano), Pathos (categoria proposta por Platão) e Logos (categoria

inicialmente proposta por Aristóteles e posteriormente estudada por teóricos como Perelman e

Olbrechts-Tyteca e Ducrot). Considerando as definições contemporâneas destes termos,

apontamos, aqui, os estudos de Eggs (2016).

Assim, considerando os estudos destes teóricos, compreendemos que, na

contemporaneidade, Logos é o poder dialético do discurso com o intuito da adesão a partir da

razão, ou o próprio discurso, uma vez que demonstra algo ou parece demonstrar; Pathos ocorre

no fato de colocar os interlocutores em certa disposição a partir do lugar em que se inserem

(convenções sociais e culturais, contexto e comportamento); e Ethos caracteriza-se pela

imagem de confiabilidade que o orador inspira (EGGS, 2016). É importante destacar que estas

categorias representam um olhar atualizado a partir de observações já tecidas por Aristóteles,

conforme apresentado anteriormente. De acordo com Ducrot (2004), considerando a

argumentação retórica,

a persuasão exige que apresentemos não somente razões, formando aquilo

que chamamos de logos, mas que desenvolvamos igualmente no ouvinte o

desejo do crer verdadeiro (o pathos) e enfim, que o ouvinte tenha confiança

no orador, que deve lhe parecer alguém confiável, sério e bem intencionado.

O orador deve, portanto, oferecer em seu próprio discurso uma imagem

favorável de si, correspondendo àquilo que a retórica clássica chama de ethos

(DUCROT, 2004, p. 4-5).

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Segundo Eggs (2016), o lugar que engendra o Ethos é o Logos do Enunciador. Perelman

e Olbrechts-Tyteca (2017, p. 18) afirmam que, para argumentar de forma eficaz, o orador

“precisa ter apreço pela adesão do interlocutor, pelo seu consentimento, pela sua participação

mental”. Assim, considerando que a adesão às teses ocorrerá apenas a partir do momento em

que o auditório estabelecer uma relação de confiança com o orador, pode-se afirmar que o

Ethos constitui a mais importante das três provas engendradas pelo discurso.

Destacamos, também, a importância do estudo dos elementos microestruturais da

retórica que se encontram no Logos, ou na argumentação linguística, como define Ducrot, tais

como, os operadores argumentativos e os elementos modalizadores. Segundo Ducrot (2004, p.

5), observa-se que o Logos discursivo se manifesta “por meio de encadeamentos

argumentativos”. O pesquisador afirma, ainda, que a argumentação não se constrói apenas por

meio destes encadeamentos: “Esse logos, manifestado pelos encadeamentos argumentativos,

teria necessidade, em vista de suas insuficiências, de ser completado pelo recurso a fatores

irracionais, o ethos e o pathos”. De acordo com Ducrot:

O papel do componente retórico consiste, então, em procurar na situação os

elementos susceptíveis de preencher os espaços vazios inscritos na

significação da frase, fazendo isto segundo instruções encontráveis nesta

significação. Em termos matemáticos, a significação é, neste caso, uma

função, a situação de discurso é seu argumento, e a interpretação “retórica”

consiste em calcular o valor da função quando aplicada ao argumento

(DUCROT, 1987, p. 92).

Observamos que os elementos linguísticos argumentativos estudados pela Semântica

Argumentativa mais recorrentes na tessitura dos textos indígenas são os elementos

modalizadores. Sobre a categoria, Ducrot (1972) a identifica como manobra criada para

determinar uma conclusão. Segundo Neves (2000, p. 253), “com os modalizadores, o falante

exprime reações emotivas, isto é, manifesta disposição de espírito em relação ao que é afirmado

ou negado”. De acordo com Travaglia (1991, p. 65), a modalização reflete “a atitude do falante

em relação ao que é dito, bem como a atitude de outrem, mas que o falante insere, por alguma

razão, no que diz”.

Os elementos de cunho deôntico, segundo Castilho e Castilho (1992), indicam que o

falante considera o conteúdo proposicional como um estado de coisas que “deve”, ou seja,

precisa ocorrer obrigatoriamente. E, de acordo com Nascimento (2010, p. 36), podem ser

classificados em modalizadores de obrigatoriedade, de proibição e de possibilidade. Já os

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modalizadores epistêmicos, de acordo com Castilho e Castilho (1992), referem-se ao eixo da

crença, reportando-se ao conhecimento do locutor sobre um estado de coisa, podendo ser

asseverativos, quase asseverativos e delimitadores.

A influência do princípio ordenador ético na construção do Ethos discursivo

De acordo com Ducrot (1981), o valor argumentativo de um enunciado não é somente

uma consequência das informações contidas em sua tessitura. Segundo o autor, os enunciados

podem apresentar expressões que têm por intuito aplicar uma orientação argumentativa ao texto

e conduzir o auditório em uma determinada direção. Nessa mesma perspectiva, Guimarães

(2001) afirma que:

Existem os mecanismos retóricos presentes ao nível linguístico fundamental,

inscritos na própria significação dos enunciados; existem os mecanismos

retóricos que se manifestam em outros níveis que não são propriamente

linguísticos, mas que constituem manobra discursiva, tal como a ironia, a

sátira, a insinuação (GUIMARÃES, 2001, p. 149).

Segundo Guimarães (2001, p. 149), observa-se que enquanto a Gramática considera

apenas as técnicas internas do sistema linguístico e sua funcionalidade objetiva (valores

morfológicos, lexicais e sintáticos), a Retórica “cataloga as várias possibilidades de pôr em

movimento aquela funcionalidade para obter uma expressão tão eficaz quanto possível” e

também considera a face subjetiva do ato linguístico. Assim, para a pesquisadora, a Retórica

passa a considerar também as cargas afetivas.

Segundo Perelman e Olbrechts-Tyteca (2017, p. 85), considerando as cargas afetivas,

os pesquisadores afirmam que os enunciados estão “inseridos num sistema de crenças, que se

pretende valorizar aos olhos de todos, alguns valores que podem ser tratados como fatos ou

verdades”. Assim, de acordo com Guimarães (2001), o léxico e os enunciados são

determinados pelas práticas sociais. A partir disso, o fator semântico de um determinado

enunciado incorpora os seguintes princípios ordenadores: “éticos, com base em um quadro de

valores explícitos ou implícitos; argumentativos, que determinavam a seleção das formas

expressivas por seu poder de persuasão; estético-literários, conforme os padrões artísticos

vigentes” (GUIMARÃES, 2001, p. 152, grifos nossos).

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Nessa perspectiva, considerando que o princípio ordenador ético é variável a partir de

valores explícitos e implícitos, recorremos a Valls (1994) que, sobre ética, afirma:

Tradicionalmente ela é entendida como um estudo ou uma reflexão, científica

ou filosófica, e eventualmente até teológica, sobre os costumes ou sobre as

ações humanas. Mas também chamamos de ética a própria vida, quando

conforme aos costumes considerados corretos. A ética pode ser o estudo das

ações ou dos costumes, e pode ser a própria realização de um tipo de

comportamento. [...] O que seria um comportamento correto, em ética? Não

seria nada mais do que um comportamento adequado aos costumes vigentes,

e enquanto vigentes, isto é, enquanto estes costumes tivessem força para

coagir moralmente, o que aqui quer dizer, socialmente. Quem se comportasse

de maneira discrepante, divergindo dos costumes aceitos e respeitados, estaria

no erro, pelo menos enquanto a maioria da sociedade ainda não adotasse o

comportamento ou o costume diferente. Quer dizer: esta ação seria errada

apenas enquanto ela não fosse o tipo de um novo comportamento vigente

(VALLS, 1994, p. 9-10).

A partir da reflexão tecida por Valls (1994) e considerando o curpus, que é constituído

por recortes de 7 redações indígenas, observamos que o Ethos aciona valores universais para

convencer, como a Regra de Justiça. Para Abreu (2013, p. 50), “a regra de justiça fundamenta-

se no tratamento idêntico a seres e situações integrados em uma mesma categoria. [...] É um

argumento de justiça, fundamentado na importância de um precedente”. Além disso, de acordo

com o autor: “Os mesmos valores não são impostos a todo mundo. Eles estão ligados à

multiplicidade de grupos e de emoções. Aquele que quer persuadir deve saber previamente

quais os valores de seu interlocutor ou do grupo de constitui o auditório” (ABREU, 2013, p.

79).

De acordo com Eggs (2016), a imagem que o auditório concebe sobre o orador ocorre

a partir da héxis7, do habitus8 e do tipo social. Assim, considerando o papel de valores externos

na construção imagética do Ethos, recorremos novamente aos estudos de Aristóteles. Para o

filósofo, o Ethos desenvolve-se a partir de dois campos: um de sentido moral e fundado na

epieikeia9, que se constitui a partir de virtudes como honestidade, benevolência e equidade; e

outro mais objetivo a partir da héxis, que se constitui a partir dos hábitos, dos costumes e do

7 O termo héxis era utilizado entre os filósofos gregos para designar valores morais e caráter. Mais tarde, entre os

romanos, o termo passou a ser traduzido como habitus. 8 De acordo com o dicionário de filosofia Nicola Abbagnano (2007, p. 496), o termo habitus é compreendido

como o “compromisso moral de dizer a verdade”. 9 Segundo Hobuss (2010), a epieikeia está ligada à preocupação retórica em obter sucesso nos tribunais. Destaca-

se que, para Aristóteles, este sucesso é inerente ao senso de justiça do orador, sua imparcialidade e equidade.

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caráter. Segundo Aristóteles (2014), na argumentação, o auditório observa no orador duas

espécies de héxis: os habitus dianoéticos e os habitus éticos, conforme exemplificamos no

quadro a seguir:

Quadro 1 – Héxis para Aristóteles

Fonte: Elaborado pelos autores a partir de conceitos apresentados por Aristóteles (2014) na obra Ética a Nicômaco.

Para Perelman e Olbrechts-Tyteca (2017), os valores devem ser observados enquanto

objetos de acordo que possibilitam uma comunhão sobre modos particulares de agir.

Destacamos que os valores anteriormente apresentados a partir da visão de Aristóteles eram

considerados verdadeiros e indiscutíveis. Já para Perelman e Olbrechts-Tyteca, o auditório

realiza suas escolhas e conclusões a partir da verossimilhança. De acordo com os próprios

autores, esta forma de pensar é embasada a partir dos estudos de Descartes. Assim, destacamos

o pensamento do filósofo:

É assim, como as ações da vida frequentemente não suportam nenhuma

delonga, é uma verdade muito certa que, quando não está em nosso poder

discernir as opiniões mais verdadeiras, devemos seguir as mais prováveis; e

considera-las depois, não mais como duvidosas, no que diz respeito a práticas,

mas como muito verdadeiras e muito certas, porque a razão que a isso nos

determinou o é (DESCARTES, p.75 apud PERELMAN; OLBRECHTS-

TYTECA, 2017, p. 84).

Segundo Perelman e Olbrechts-Tyteca (2017, p. 85), os valores intervêm em todas as

argumentações: “Recorre-se a eles para motivar o ouvinte a fazer certas escolhas em vez de

outras e, sobretudo, para justificar estas, de modo que se tornem aceitáveis e aprovadas por

outrem”. Além disso, os autores afirmam que estas motivações são ancoradas em valores

concretos, como nas noções de “fidelidade”, de “lealdade”, de “solidariedade” e de

Héxis

(Habitus/disposições)

Dianoéticos

(phrónesis)

bom

(sabedoria/inteligência)

mau

(pobreza de espírito)

Éticos

(areté)

bom

(coragem/justiça)

mau

(covardia/injustiça)

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“disciplina”; e em valores abstratos, como na noção de “igualdade” (PERELMAN;

OLBRECHTS-TYTECA, 2017, p. 87-88).

O Ethos discursivo e o princípio ordenador ético nas redações indígenas

Optamos, nesta análise, pela utilização do termo “Ethos discursivo” de Maingueneau

(2016), considerando que, para essa concepção teórica, o Ethos está ligado à própria

enunciação e não ao conhecimento externo do auditório sobre os locutores. A escolha é ideal

neste artigo, uma vez que os enunciadores são indígenas cujas identidades pessoais são

desconhecidas pela banca de redação e por nós, demais interlocutores.

O tema proposto contribuiu para que os candidatos adotassem as estratégias

argumentativas escolhidas. Considerando os fatores semânticos e retóricos e a influência dos

princípios ordenadores, ambos discutidos no referencial teórico deste artigo, destacamos que a

temática “Demarcação das Terras indígenas” influenciou de tal forma na construção do Ethos,

a partir da ativação de memórias e de experiências relacionadas à identidade da comunidade,

assim como a temática Guerra influenciaria um grupo de refugiados que participasse de um

concurso de vestibular, por exemplo (grifos nossos). Observemos os recortes:

Recorte 1: Nós povos indígenas somos considerados um atraso para a

economia brasileira por parte da sociedade não índia [...] muitas vezes eles

esquecem que somos nós que possuímos uma sabedoria milenar da

sobrevivência, onde é garantida a vida da humanidade [...];

Recorte 2: É claro que nós índios temos muitos direitos [...] hoje tem

pessoas que acham [que] por sermos índios não temos direitos por exemplo

sobre as terras, muitos não-índios acabam invadindo terra[...];

Recorte 3: não estão respeitando nossas vidas, eles deveriam ouvir,

conversar, explicar [...];

Recorte 4: as terras indígenas vêm sofrendo muito por causa da ignorância

de pessoas não indígenas [...] (grifos nossos).

Nos recortes acima é perceptível que os locutores assumem o Ethos de representantes

da comunidade indígena, deslocando-a e distinguindo-a dos demais segmentos da sociedade:

“não índios”. Assumindo esta posição, os candidatos constroem o Ethos discursivo no

imaginário dos interlocutores com o intuito de provar que, por vivenciarem aquela realidade,

possuem credibilidade para fazer afirmações pessoais sobre a temática, ou que são verdadeiros,

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conforme afirma Aristóteles (2017). Sendo verdadeiros ou não, destaca-se que os locutores

alcançam a verossimilhança descrita por Perelman e Olbrechts-Tyteca (2017), fundamental ao

processo argumentativo.

Nestes primeiros quatro fragmentos, observamos que os locutores acionam valores

éticos e dianoéticos para tecer seus argumentos: No recorte 1, o locutor afirma que os povos

indígenas possuem “sabedoria milenar, o que garante a vida humana”, valor dianoético que

qualifica os indígenas, na perspectiva de Aristóteles (2014), como bons ou sábios; e aqueles

que esquecem da importância desta sabedoria como maus ou pobres de espírito. Esta estratégia

de argumentação também é observada no recorte 4, quando o enunciador fala sobre a

“ignorância das pessoas não indígenas”.

Considerando a argumentação em sua microestrutura, no recorte 2, observamos a

modalização epistêmica “é claro” utilizada com o intuito de orientar as conclusões do auditório.

Na sequência, o ethos, “nós índios”, por meio do Logos, aciona o valor ético de “justiça”,

qualificando os indígenas como bons; e os não-índios que desencadearam a injustiça como

maus. Também observamos modalização no recorte 3: “eles deveriam”. Por meio desta

expressão, pode-se afirmar que o Ethos aciona de forma deôntica o valor concreto da

solidariedade, descrito por Perelman e Olbrechts-Tyteca (2017). Estes movimentos que o Ethos

promove regulam o Logos que deve mobilizar o Pathos (meu interlocutor deve acreditar na

minha estratégia).

Nos recortes que apresentaremos a seguir, destacamos a recorrência do uso do Pathos

na construção dos argumentos:

Recorte 5: as injustiças prevalecem, como que querem tirar, diminuir e até

mesmo roubar um patrimônio nosso, quantas vidas já se perderam nas

grandes batalhas travadas por terras indígenas, e os sangues que foram

derramados vão ser esquecidos?

Recorte 6: os povos indígenas vêm lutando por um mundo melhor. Muitos

indígenas são discriminados pelos não índios. Antigamente os índios eram

vistos como um animal pela sociedade.

Recorte 7: Muitos dos aspectos que faziam parte da nossa cultura se

perderam desde o período da colonização como: a língua, a história, as

crenças e entre outros inúmeros costumes da cultura indígena (grifos nossos).

No recorte 5, além do forte apelo ao Pathos, observa-se novamente o acionamento do

valor ético como uma estratégia inserida no Logos. No recorte, observamos que os indígenas

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são inseridos no lugar de injustiçados, enquanto os “não-índios” são classificados na héxis de

covardes e injustos. Também por meio do Logos, observamos, no recorte, a utilização do

operador argumentativo “até mesmo”, que gera no auditório uma expectativa e ampliação de

importância em relação à carga semântica do argumento que é apresentado na sequência. Ao

final do recorte, observamos o acionamento do valor dianoético de sabedoria e, ao mesmo

tempo, o valor ético de justiça, inferindo que esquecer “os sangues que foram derramados”10

seria um ato de injustiça e de pobreza de espírito.

No recorte 6, nota-se que o enunciador aciona o valor ético de coragem ao afirmar que

os indígenas “lutam por um mundo melhor”. Além disso, ao abordar sobre a temática

“discriminação”, destaca-se que o enunciador aciona o valor abstrato de “igualdade” proposto

por Perelman e Olbrechts-Tyteca. Também no recorte 6, observamos o acionamento da héxis

dianoética ao apontar a pobreza de espírito dos não-índios que consideraram os indígenas como

animais. Já no recorte 7, observamos a utilização do que Abreu (2013, p. 58) classifica como

argumento pragmático, uma vez que estrutura sua tessitura a partir de acontecimentos

sucessivos vinculados que mantêm relação e que fazem com que o auditório concorde com o

valor de consequência.

Considerações Finais

Na tentativa de se estabelecer um paralelo entre as culturas diferentes que se cruzam no

trabalho apresentado: a inferente no Ethos indígena e a ocidental contemporânea,

especificamente a brasileira, ousamos afirmar que os enunciadores indígenas recorrem a um

modo diferente de organização retórica. Esta afirmação é possível considerando que,

subjacente a essa retórica, existem visões de mundo diferenciadas e modos distintos de se

categorizar a realidade (a sabedoria, para os indígenas, está ligada ao contato e à preservação

da natureza e não ao acúmulo material). Assim, recorremos à Mosca (2001, p. 44), ao afirmar

que as representações de mundo “estão diretamente ligadas aos modos de sua expressão e são

o resultado de relações intersubjetivas no discurso. Pode-se mesmo falar numa espécie de

apreensão enunciativa do mundo”.

10 Considerando os estudos de Abreu (2011, p. 70) e a estrutura do argumento, destaca-se o enunciador articula

os valores discutidos no parágrafo por meio do argumento da pergunta complexa: “esse tipo de argumento parte

de uma pergunta que traz uma afirmação embutida dentro dela”.

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A partir da análise dos recortes apresentados acima, destaca-se que, por meio de

estruturas linguísticas inseridas no Logos, os candidatos desenvolvem a argumentação

utilizando princípios de moralidade que a cultura indígena possui em comum com a cultura

ocidental pós-moderna, estabelecendo-se o Pathos. Nota-se que os discursos são organizados

de forma emotiva e que os candidatos esperam persuadir os interlocutores de que a demarcação

das terras indígenas é necessária por apresentar-se como ação mínima e compensatória diante

das explorações anteriores vindas da cultura dominante.

Entendemos que o Ethos constituído a partir das redações se estrutura através da

imagem que os enunciadores projetaram nos enunciados e por meio de escolhas que os

enunciadores consideraram serem mais ideais para agradar o auditório. Quanto ao Logos,

destacamos que apesar de ser uma competência singular que depende do conhecimento

enciclopédico e dialético de cada candidato, nota-se que a estratégia argumentativa de tecer

considerações a partir de héxis éticas e dianoéticas, ou por meio do princípio ordenador ético,

conforme define Guimarães (2001), é uma estratégia recorrente de organização retórica em

praticamente todas as redações.

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