a influência do facebook nas camadas...
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Metodologia de Investigação
Licenciatura
Ciências da Comunicação: Jornalismo, Assessoria, Multimédia
Faculdade de Letras da Universidade do Porto
A influência do Facebook nas camadas jovens
Um olhar sobre padrões de utilização e consequentes efeitos
Realização:
Rita Gordo
Telma Parada
Diogo Azeredo
Pedro Maia
Sara Gonçalves
Docente:
Fernanda Martins
Data:
22 de Junho de 2012
2 Ciências da Comunicação: Jornalismo, Assessoria, Multimédia | Faculdade de Letras da U.Porto
RESUMO
Este artigo propõe uma visão mais aprofundada sobre as formas de influência da rede soci-
al Facebook sobre os mais jovens (nomeadamente dos 15 aos 24 anos).
Comprova-se que o Facebook é, maioritariamente, usado para navegar na Página Principal
e visitar perfis e murais de amigos.
Quem despende mais tempo na sua utilização são os jovens dos 20 aos 24 anos, preferindo
navegar no site por motivos de família ou amigos; já os jovens dos 15 aos 19 anos preferem
navegar no Facebook, essencialmente, devido a questões de entretenimento e lazer.
A maioria dos utilizadores passa de 1 a 3 dias sem aceder à sua conta, referindo que conti-
nua a privilegiar o contacto pessoal em detrimento do contacto virtual.
Apesar de ser difícil discernir o que constitui ou não viciação, 20% dos inquiridos conside-
ra-se viciado no Facebook.
Palavras-chave: Facebook, jovens, utilização
ABSTRACT
This article proposes to provide a further insight on how the social network Facebook in-
fluences young people (aged 15 to 24).
It is verified that Facebook is mostly used for browsing on Home and visiting our Friends’
profiles.
Who spends more time on their use are young people between 20 and 24 years old, choos-
ing to spend their time surfing in the site due to family and friends. People between 15 and 19
years old prefer to browse, essentially, for their entertainment.
Most users spend from 1 to 3 days without accessing to their accounts, stating that they
continue to focus on personal relations rather than virtual ones.
Although it is difficult to state what is an addiction, 20% of the people who answered the
survey consider themselves addicted to Facebook.
Keywords: Facebook, young, use
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INTRODUÇÃO
Perscrutando o fenómeno das redes sociais na afirmação das comunidades virtuais e o de-
senvolvimento dos media participativos, o presente estudo, tendo como base o Facebook, pre-
tende aferir a dimensão da influência desta rede no comportamento dos jovens.
Criado em 2004, a missão do Facebook, segundo a informação veiculada no site da própria
empresa, é tornar o mundo mais aberto e interligado. De facto, desde o seu surgimento, a rede
tem investido na contínua modernização e aproximação às necessidades e desejos dos seus utili-
zadores. Estar em contacto com amigos e familiares, estar a par do que se passa no mundo atra-
vés de publicações de páginas noticiosas, exprimir e partilhar ideias e pensamentos, aprovar
sites (aquilo que vulgarmente designamos como fazer “Like”) e conteúdos partilhados por
“amigos” ou criar eventos e convidar toda a nossa lista de contactos são algumas das múltiplas
funcionalidades à distância da criação de uma conta e de uma ligação à internet. É simples e a
receita parece estar a dar resultado, propagando-se pelos quatro cantos do globo. Disponível em
70 línguas, a rede social de Zuckerberg contava, já no final de março, com 901 milhões de utili-
zadores ativos. Em Portugal, o número ascende aos 4 379 380 utilizadores, com uma penetração
na população de 40.79% (38º lugar no ranking de países).
Entendemos que a utilização do Facebook é cada vez mais generalizada e ocupa um espaço
de destaque no dia-a-dia dos jovens, contudo com algumas diferenças consoante a idade e o
respetivo quadro de prioridades. Podemos, assim, falar de diferentes padrões de utilização da
rede, com os mais novos apontados como os que mais acedem. Ainda que uma larga percenta-
gem não tenha consciência do tempo despendido na plataforma, esperamos que muitos já se
afirmem “viciados” no Facebook. Por último, procuramos perceber se o contacto virtual, poten-
ciado através das interações no seio da rede, tem vindo a diminuir a importância do contacto
pessoal, uma vez que assistimos a um crescente sedentarismo dos jovens e à proliferação de
casos de isolamento e dificuldades de integração.
ENQUADRAMENTO TEÓRICO
Para situar o nosso estudo, tendo em conta a sua natureza e objetivos, procedemos a uma
ampla pesquisa de estudos e artigos que pudessem estar relacionados com o tema e que nos
mostrassem diferentes ângulos de análise, bem como dados complementares ao mesmo.
O levantamento de diferentes artigos e relatórios deu-nos, assim, as primeiras coordenadas
para a realização do estudo.
O estudo de Leonel Santos, do Departamento de Antropologia do Instituto Universitário de
Lisboa, publicado em outubro de 2010, intitulado Redes sociais e usos da internet em dois gru-
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pos de jovens, foi o ponto de partida da pesquisa. Este, apesar de aplicar numa metodologia
diferente da nossa (realização de entrevistas), orienta a investigação com base na comparação de
dois grupos de jovens com idades distintas: um primeiro grupo com idade média de 18 anos e o
segundo com idades a rondar os 16. As entrevistas foram realizadas em duas fases, com um
intervalo temporal de cerca de um ano e meio para averiguar a evolução nas respostas dos en-
trevistados. Desta forma, na primeira fase e relativamente ao primeiro grupo pode ler-se que
“Todos têm conta no Facebook.” (Santos, 2010). Passado cerca de ano e meio, “A utilização da
rede social [facebook] parece ter decrescido num caso e aumentado em três (…) quatro dos
jovens gastam uma boa parte do dia a introduzir fotos e a comentar as novidades dos amigos. O
Hi5 desapareceu deste grupo e um dos rapazes classifica-o como um programa de cusquice e
perda de tempo.” (Ibidem). Quanto ao segundo grupo, no início do estudo “Nenhum dos entre-
vistados possui conta no Facebook. O Messenger é de longe o programa mais utilizado por to-
dos e o Hi5 é bastante popular.” (Ibidem). Na segunda fase de entrevistas, verifica-se uma evo-
lução nas preferências dos jovens “Surge o Facebook em quatro dos inquiridos e a maioria passa
cada vez menos tempo no Hi5.” (Ibidem). Estes resultados mostram-nos que, apesar da pequena
diferença de idades entre os dois grupos, à semelhança da nossa amostra, estes apresentam um
comportamento diferenciado relativamente à utilização de redes sociais, nomeadamente do Fa-
cebook. À medida que os jovens crescem, o interesse pelo Facebook tende a aumentar em de-
trimento de outras redes, como o Hi5, consideradas mais “infantis” (Ibidem).
Mas será que podemos dizer que há um utilizador-tipo do Facebook? Segundo um estudo
do site Pingdom, publicado em 2010, intitulado Ages of Social Network Users, o utilizador-tipo
desta rede social tem cerca de 38 anos. O estudo incidiu sobre 19 redes sociais, com o LinkedIn,
rede de natureza profissional, a registar a segunda média etária mais elevada, situada nos 44
anos. Os utilizadores-tipo de plataformas como o Twitter e o MySpace têm 39 e 31 anos, respe-
tivamente. Relativamente às diferenças entre homens e mulheres, outra das variáveis do nosso
estudo, o estudo complementar, Males vs. females on social network sites, mostra que Twitter e
Facebook não apresentam muitas discrepâncias, possuindo, respetivamente, 59% e 57% de uti-
lizadores do sexo feminino. Considerando o total da amostra, as mulheres estão em maioria:
53% contra 47% de utilizadores do sexo masculino.
É cada vez mais recorrente associarmos redes sociais, nomeadamente o Facebook, ao peri-
go de viciação. A questão pode ser entendida de duas formas: se por um lado temos utilizadores
que passam um grande número de horas na rede; outros não conseguem passar um dia afastados
das atualizações da sua lista de amigos. Todavia, determinar um critério uniforme para diagnos-
ticar se estamos viciados ou não, ou até mesmo, ter consciência do nosso grau de dependência,
não é uma tarefa fácil. O estudo, Development of a Facebook Addiction Scale, de Torbjørn
Torsheim, Geir Scott Brunborg e Ståle Pallesen, alunas do Departamento de Psicologia Social
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da Universidade de Bergen, na Noruega, publicado em 2012, apresenta uma possível solução no
diagnóstico desta nova dependência do século XXI. Segundo a investigação liderada por Cecilie
Schou Andreassen, foi criado um questionário com seis questões que determinam o vício na
rede social. Contudo, a questão é muito complexa e tem gerado alguma discussão.
No nosso estudo, centramo-nos nos jovens e na sua relação com o Facebook. Mais do que o
Facebook, poderíamos falar da sua relação privilegiada com a Internet e a interação em meio
cibernauta. Segundo um estudo de Ana Delicado e Nuno de Almeida Alves, publicado em 2010,
Children, internet cultures and online social networks, “The internet currently occupies a core
role in cultural practices by children. It has replaced TV as the main purveyor of mass culture to
younger generations (…) Online social networks play a particular role in this issue and children
and young people are among their most intensive users.” (Delicado e Alves, 2010). O estudo
mostra a influência e as potencialidades da utilização generalizada da internet e dos media parti-
cipativos enquanto meios de consumo e produção de conteúdos culturais.
Associando o crescimento explosivo do Facebook à revolução tecnológica dos smartphones
e aplicativos, que permitiu a ligação à rede a qualquer hora e lugar, um estudo do ConsumerLab,
laboratório de pesquisas de comportamento da Ericsson, avaliou os hábitos de comunicação dos
jovens com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos. Este trabalho de investigação cha-
mou-nos particularmente a atenção pelo facto das duas faixas etárias – dos 15 aos 19 e dos 20
aos 24 – analisadas coincidirem com a nossa amostra. Publicado em 2011, os resultados do es-
tudo, intitulado How teenagers are using technology in their social lives, apontam o Facebook
como o principal agente de mudanças na comunicação entre jovens nos últimos anos. Contudo,
apesar de desempenhar um papel de destaque nas plataformas de interação online, o estudo in-
dica que os jovens conseguem viver sem ele. “In a teenage context, the concept of social media
effectively means Facebook. But while teenagers like it, they could live without it.” (Allon e
Wright, 2012) Na Suécia, em 2005, 37% dos jovens entre os 15 e os 19 anos acediam semanal-
mente ao Facebook. Em 2010, a percentagem subiu para 69%. Em igual período, a percentagem
de jovens entre os 20 e os 24 anos subiu de 33% para 74%. Quanto aos jovens brasileiros, cerca
de 7% acede mais de 10 vezes ao dia, e aproximadamente 24% despendem mais de três horas
diárias. Por último, o estudo conclui ainda algumas diferenças entre os padrões de utilização do
Facebook por jovens e adultos. “The research also highlights differences in the ways teenagers
and adults use Facebook. While adults tend to use it to exchange information by making state-
ments, teenagers express themselves through song lyrics and movie quotes. Teenagers also use
Facebook emotionally, as an extension of their real-life relationships, whereas adults use it more
rationally as a substitute for other forms of communication.” (Ibidem)
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Para concluir, e em resposta à nossa primeira hipótese – O uso contínuo do Facebook pro-
picia uma cada vez maior utilização desta rede social – encontrámos um estudo do Pew Re-
search Center. Segundo o mesmo, as pessoas que usam o Facebook há muito tempo não se mos-
tram cansados de publicar fotos, atualizar estados ou simplesmente navegar na página principal.
Pelo contrário, conforme estão há mais tempo na rede, mais tempo despendem, aprovando
fotografias e páginas específicas, escrevendo mais comentários e partilhando mais conteúdos.
“There is no evidence in this sample that veteran users of Facebook suffer from Facebook fa-
tigue. There is a positive relationship between length of time using the site and frequency of
using the “like” button, commenting on friends’ content, posting status updates or wall posts,
and tagging friends in photos.” (Hampton, Goulet, Marlow, Rainie, 2012)
OBJETIVOS
Este artigo pretende aferir algumas hipóteses que foram objetivadas no planeamento da in-
vestigação e, nomeadamente, de uma questão-problema: “De que forma o uso generalizado do
Facebook influencia o comportamento dos jovens?”. Esta foi a nossa linha orientadora do estu-
do e o principal objectivo do estudo passou por responder a esta questão.
Determinar o tempo despendido diariamente no Facebook foi uma das hipóteses e questões
que surgiram do aprofundamento da questão-problema. Consideramos que este é um dos pontos
com maior destaque, já que está diretamente ligado à proliferação desta rede em todo o mundo.
Esta ideia baseia-se no seguinte pensamento: Se surgem cada vez mais utilizadores, há uma
maior possibilidade de estar em contacto com familiares e amigos, o que poderá aumentar, en-
tão, o nosso interesse em estarmos ligados durante mais tempo.
Um outro objetivo é averiguar os diferentes padrões de utilização segundo as faixas etárias.
Este ponto permite diferenciar os comportamentos dos utilizadores e estabelecer comparações.
Por fim, aferir se o contacto interpessoal tem vindo a diminuir com a crescente utilização
desta rede social. Seria interessante compreender se a adesão cada vez maior ao Facebook de-
termina ou não a perda das relações interpessoais por parte dos seus utilizadores.
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HIPÓTESES
Seis hipóteses foram formuladas para serem possivelmente comprovadas a partir da análise
de resultados.
Subjacente ao primeiro objetivo, surge “O uso contínuo do Facebook propicia uma cada
vez maior utilização desta rede social”. Queremos, portanto, saber se o aumento da sua utiliza-
ção é fruto do uso contínuo da rede.
Também referente a tempos de utilização, elaborámos a hipótese: “A maioria das pessoas
considera-se viciada no Facebook”, esperando descodificar a impressão que as pessoas têm de si
próprias enquanto utilizadoras do Facebook.
Relacionada com esta hipótese há uma outra: “Os utilizadores do Facebook vão privilegi-
ando o contacto virtual em detrimento do contacto pessoal”. Baseada no nosso último objetivo,
pretendemos descodificar os efeitos da utilização da rede sobre as relações interpessoais.
Em termos de comparações entre faixas etárias, apresentamos “Pessoas entre os 20 e os 24
anos acedem menos ao Facebook do que pessoas entre os 15 e os 19 anos”, por termos a perce-
ção que os maiores utilizadores são os mais jovens.
Em termos de padrões de utilização, formulámos “Pessoas entre os 20 e 24 anos usam o
Facebook, maioritariamente, por motivos profissionais.” e “Pessoas entre os 15 e os 19 anos dão
prioridade à interação com os amigos no uso do Facebook.”, selecionando os pontos de maior
interesse de cada grupo.
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METODOLOGIA
- Participantes/Amostra
A análise de resultados subjacente a este artigo pretende aferir quais os comportamentos de
um determinado conjunto de utilizadores da rede social Facebook. De entre os vários conjuntos,
o que desperta mais interesse, sendo suscetível de providenciar informação mais complexa, e,
por conseguinte, resultados mais promissores, constitui um grupo com idades entre os 15 e os
24 anos. Este foi o nosso universo/população.
Esta opção baseia-se na perceção de que os utilizadores mais assíduos do Facebook se situ-
am nestas faixas etárias. Segundo os dados do site socialbakers.com, as duas faixas etárias que,
em Portugal, aderem com mais frequência ao Facebook são: dos 25 aos 34 anos (com 27%) e
dos 18 aos 24 anos (com 23%).
Partindo do princípio que a faixa etária dos 25 aos 34 anos não se integra no grupo que pre-
tendemos analisar (camadas jovens), optámos por selecionar para amostra a faixa etária dos 18
aos 24 anos, alargando um pouco o universo da amostra, já que estávamos também interessados
em descobrir os dados relativos a utilizadores mais jovens.
Assim, elegemos um grupo que, mais tarde, foi dividido entre duas faixas: dos 15 aos 19
anos e dos 20 aos 24, de forma a podermos fazer comparações.
Com o objetivo de obter resultados coerentes, os participantes da nossa amostra teriam de
se distribuir equitativamente em termos de sexo. Optámos, por isso, por vinte pessoas do sexo
masculino e outras vinte do sexo feminino. Cada sexo com dez pessoas de cada faixa etária.
- Material/Técnica
Para levar a cabo a nossa pesquisa, elaborámos um inquérito por questionário de forma a
inquerir a nossa amostra sobre o assunto.
As dez questões por nós formuladas foram de encontro à constituição das nossas hipóteses.
Elaboramos perguntas cujas respostas fossem passíveis de ser quantificadas e que pudéssemos
estabelecer correlações com outras variáveis. Pretendemos descobrir há quanto tempo os inqui-
ridos possuíam conta de utilizador no Facebook; o tempo que despendem no seu uso e as varia-
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ções relativas ao mesmo; a sua opinião quanto ao tempo despendido; e as preferências de utili-
zação desta rede social. Para este último parâmetro, definimos as seguintes possibilidades:
- Navegar na Página Principal;
- Visitar perfis de amigos;
- Visitar perfis/páginas específicas;
- Partilhar música, imagens ou outros conteúdos;
- Interagir/Comentar/Responder a perguntas;
- Participar em fóruns de discussão de grupos;
- Conversar no chat;
- Recomendar notícias e conteúdos de outros sites da Internet;
- Usar as aplicações de jogos;
- Aderir a eventos e convidar amigos.
- Procedimentos
Em relação aos procedimentos, optámos por distribuir os 40 questionários que elaborámos
pelo pólo de Ciências da Comunicação, curso do qual fazemos parte, e pela Faculdade de Letras
da Universidade do Porto, à qual o nosso curso pertence. Distribuímos ainda, em locais suscetí-
veis de encontrar utilizadores mais jovens (dos 15 aos 17 anos), tendo, por isso, visitado o Clube
de Ténis de Ermesinde.
Procedemos à entrega dos inquéritos juntamente com uma breve explicação do que pretendí-
amos com a investigação, as instruções de preenchimento e asseguramos a manutenção do ano-
nimato nas respostas. Os inquéritos foram de administração direta, ou seja, os inquiridos tiveram
o inquérito na mão e preencheram-no diretamente.
- ANÁLISE DE RESULTADOS
Tendo como base os objetivos e hipóteses formulados à priori, partimos para a análise dos
resultados para podermos tirar as devidas ilações do nosso estudo. Decidimos focarmo-nos na
nossa questão problema - “De que forma o uso generalizado do Facebook influencia o compor-
tamento dos jovens?” -, debruçando-nos, portanto, na comparação dos resultados por faixas
etárias.
Quanto aos Objetivos:
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Iniciamos a nossa análise debruçando-nos sobre o primeiro objetivo do nosso estudo: de-
terminar o tempo despendido no Facebook pelos jovens, não diferenciando qualquer intervalo
de idades. Para tal, calculamos a frequência de respostas à pergunta 6 do inquérito, “Atualmen-
te, quando tempo pensa que despende diariamente no Facebook?”.
Limitando as respostas a seis intervalos de tempo de utilização, quatro deles foram selecio-
nados pelos inquiridos. Ninguém respondeu despender mais de oito horas diárias no Facebook.
47,5% dos jovens confirmaram que passam entre 2 a 4 horas, por dia, na rede social. O nosso
objetivo foi claramente atingido.
Nas hipóteses que levantamos antes de partirmos para a elaboração deste trabalho, conside-
ramos que este valor seria inferior aquando da adesão à rede social, ou seja, quando criaram
conta no Facebook, os utilizadores não despendiam tanto tempo nele como despendem agora.
Esta hipótese será futuramente explorada e analisada.
Para o nosso segundo objetivo – “Averiguar os diferentes padrões de utilização segundo as
faixas etárias” – resolvemos escolher 3 vertentes, o tempo despendido, o tempo sem utilizar esta
rede social e como ocupa o tempo quando se encontra no Facebook, e relacioná-las de seguida
com as faixas etárias.
Começamos então por estabelecer uma associação entre a pergunta 6 “Atualmente, quando
tempo pensa que despende diariamente no Facebook?” com a variável das faixas etárias. Deste
modo conseguiríamos saber o tempo despendido tanto por jovens entre os 15 e 19 anos como os
jovens entre os 20 e 24 anos. Apuramos então que 52,2% dos jovens entre os 15 e os 19 anos
passam 2 a 4 horas nesta rede social e apenas 21,7% passam 1 a 2 horas. Relativamente às pes-
soas entre os 20 e 24 anos, a tendência mantém entre as 2 e 4 horas, no entanto a percentagem
desce para 41,4% (ver Anexo 1). Apesar destes dados, a associação efetuada não é significante (
(3) = 2.994, p = 0,393).
Na segunda vertente optamos por cruzar a pergunta 7 “Consegue passar quanto tempo sem
aceder ao Facebook?”, mais uma vez, com a variável idade e constatamos que os jovens entre
15 e 19 anos dividiram-se, com igual percentagem (26,1%), em três das cinco opções, sendo
elas de 6horas a 1 dia, de 1 dia a 3 dias e de 3 dias a 1 semana. Relativamente às pessoas com 20
a 24 anos, a percentagem fez-se notar (58,8%) no intervalo de tempo compreendido entre 1 a 3
dias sem aceder ao Facebook (ver anexo 1). Mais uma vez, não conseguimos obter significância
( (4) = 5,217, p = 0,266).
Na terceira e última vertente, cruzámos os dados da pergunta 10 “Como prefere passar o
tempo no Facebook?” com as idades e chegámos à conclusão que existiram três opções em que
a diferença das respostas entre faixas etárias era mais significativa. A b) “Visitar perfis de ami-
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gos: mural, álbuns e informação pessoal”, 21,7% dos jovens entre os 15 e 19 anos colocam esta
opção em primeiro lugar e nos jovens entre 20 e 24 anos 5,9% faz o mesmo; a d) “Partilhar mú-
sica, imagens ou outros conteúdos”, que é a opção colocada em quinto lugar pela maioria dos
jovens entre os 15 e 19 anos e em primeiro por 23,5% dos jovens entre os 20 e 24 anos; e, por
último, a opção g) “Conversar no chat”, que é colocada, em primeira opção, por 17,4% dos jo-
vens mais novos e por nenhum dos jovens com idades entre os 20 e 24 anos (ver Anexo 1). Com
todos estes resultados apurados podemos afirmar que o nosso segundo objetivo foi cumprido,
visto termos definido padrões de utilização diferentes consoante as diversas faixas etárias, ainda
que os resultados não tenham sido significativos.
Em relação ao terceiro objetivo, aferir se o contacto interpessoal tende a diminuir com a
crescente utilização do Facebook, optamos por fazer uma pergunta direta no inquérito sobre a
opinião das pessoas em relação à influência do Facebook nas suas relações pessoais e procede-
mos ao cálculo da frequência das respostas.
Dos quarenta inquiridos, apenas um respondeu que tem vindo a privilegiar o contacto vir-
tual em detrimento do contacto pessoal nas suas relações. Este resultado, de tal modo esclarece-
dor, não deixa margem para dúvidas sobre a concretização deste objetivo. Ainda que a rede
social não tenha afetado as relações interpessoais da forma que prevíamos, como iremos explo-
rar mais à frente no tratamento das hipóteses, é conclusivo que, segundo o nosso estudo, 2,5%
dos inquiridos sentiu, de facto, uma transformação.
Quanto às Hipóteses:
Numa rede social que cresce por retroação positiva, onde a deposição de conteúdo atrai
ainda mais conteúdo, num efeito “bola de neve”, o uso contínuo da mesma propicia, igualmente,
uma cada vez maior utilização dessa rede social. Para tal conclusão, comparamos a evolução do
tempo despendido no Facebook dias após a adesão ao mesmo e o atual tempo despendido diari-
amente no mesmo, através de uma análise quantitativa. Esta hipótese já foi introduzida quando
começamos a análise do primeiro objetivo do estudo.
Enquanto mais de metade – 52,5% - dos inquiridos gastava inicialmente menos de uma ho-
ra a navegar na rede social, a moda no conjunto de dados do tempo gasto atualmente é o interva-
lo de tempo entre 2-4 horas, representativa de quase metade – 47,5% - da nossa amostra. Inter-
valo de tempo esse que, pouco depois da inscrição dos utilizadores do Facebook, apareceu so-
mente em 10% das respostas. Uma clara evolução que vai de encontro à confirmação da hipóte-
se formulada.
Antes de apresentarmos a análise dos resultados da nossa segunda hipótese, consideramos
que a mesma resulta de uma possível precipitação da nossa parte. Levantamos a hipótese que a
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maioria dos utilizadores do Facebook seriam viciados na rede social mas, contudo, nenhum dos
membros constituintes do nosso grupo se considera viciado na mesma.
Seria logo à partida um indício que esta hipótese seria refutada, o que se veio a confirmar
através do cruzamento dos resultados da questão 8 “Considera-se viciado no Facebook?” com as
perguntas 6 e 7: “Atualmente, quando tempo pensa que despende diariamente no Facebook?” e
“Consegue passar quanto tempo sem aceder ao Facebook?”, respetivamente. No entanto, existe
uma associação muito pouco significativa entre as questões já anunciadas (( (3) = 6.813, p =
0,078), no caso de p8*p6; e ( (4) = 3.672, p = 0,452), no caso de p8*p7). Concluímos que
apenas 20% dos inquiridos se considera viciado no Facebook, mas a subjetividade do conceito
“ser-se viciado”, coloca em causa a significância dos nossos resultados.
O que é “ser viciado” para umas pessoas, pode não ser para outras. Não existe um critério
homogéneo que formule que, a partir de um X número de horas de uso diário duma rede social
ou de um X número de horas que um utilizador não se consiga privar da sua página, essa pessoa
é viciada. Os nossos resultados provam isso mesmo. Mesmo que nos baseemos no bom senso de
cada um e consigamos definir um critério, uma pessoa que é, de facto, viciada no Facebook ou
noutro caso de vício qualquer, tem, por vezes, extrema dificuldade em admitir esta situação.
Dentro do universo restrito de pessoas que se consideraram viciadas no Facebook, 12,5%
respondeu despender 1-2 horas a navegar pela rede social enquanto 87,5% respondeu 2-4 horas.
Ninguém respondeu 4-8 horas, o intervalo que engloba as maiores durações de tempo despendi-
do e que seria indiciosa de um grau de viciação. Por sua vez, 6,3% dos inquiridos que não se
consideraram viciados no Facebook, assinalaram como resposta esse intervalo (ver Anexo 2).
Provas da subjetividade e indefinição do termo “viciado” que, caso desejássemos explorar
devidamente, obrigar-nos-ia a realizar um segundo inquérito orientado numa questão-problema
relativo ao mesmo.
Para a terceira hipótese levantada, em que os jovens com a faixa etária localizada entre os
20 e os 24 anos acedem menos ao Facebook do que os jovens entre os 15 e 19 anos, começamos
por estabelecer uma associação entre a variável faixa etária e a pergunta 7, “Consegue passar
quanto tempo sem aceder ao Facebook?”. Optamos por este cruzamento porque pretendíamos
quantificar o número de conexões dos inquiridos à rede social, tendo como base o tempo máxi-
mo que conseguem despender sem aceder à mesma, e não o tempo gasto na mesma que, por
muito elevado que fosse, podia ser resultante de uma única conexão diária.
Contudo, a associação, mais uma vez, não foi significativa ( (3) = 5.217, p = 0,266). O in-
tervalo de tempo que mais surgiu na faixa etária dos 20-24 anos foi o 1-3 dias, aparecendo
58,8% das vezes, claramente a moda desta faixa etária. No entanto, na faixa etária dos 15-19
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anos, os resultados surgem mais distribuídos, com três intervalos a serem selecionados com a
mesma frequência, ou seja, o conjunto de dados é multimodal. 6h-1 dia, 1-3 dias e 3 dias-1 se-
mana apresentam, cada um, 26,1% das opções (ver Anexo 3).
Perante estes resultados inconclusivos ou de difícil leitura, decidimos optar por uma nova
abordagem: calcular a média do tempo máximo que cada faixa etária consegue passar sem ace-
der ao Facebook. Quanto menor for esse valor, maior é o número de conexões à rede social.
Assim sendo, depois de encontrado um valor médio para cada um dos intervalos de tempo das
alíneas da pergunta 7, multiplicamos esse valor pelo número de pessoas de uma faixa etária que
selecionou esses intervalos e somamos todos os intervalos. Por fim, dividimos pelo número total
de pessoas pertencentes à faixa etária e obtivemos a média. No caso dos inquiridos entre os 15 e
os 19 anos, 4 dias e 7 horas é o tempo médio que conseguem passar sem aceder ao Facebook.
Nos indivíduos de idades compreendidas entre os 20 e os 24 anos, esse valor não vai além dos 2
dias e 19 horas, em média.
Perante estas conclusões, é possível refutar a nossa hipótese inicial que os jovens entre os
20 e os 24 anos, devido a iniciarem a sua entrada no mercado de trabalho e terem, porventura,
menos tempo livre para acederem e conectarem-se a redes sociais, acederiam menos do que os
jovens entre os 15 e os 19 anos. Mais do que nunca, justifica-se saber o uso que ambas as faixas
etárias dão ao Facebook.
Levantamos como quarta hipótese que os indivíduos entre os 20 e os 24 anos usariam o Fa-
cebook, maioritariamente, por motivos profissionais, pela razão já expressa no parágrafo ante-
rior: a entrada no mercado de trabalho. Para procedermos a esta análise associamos a variável
idade à pergunta 3, “O que o levou a criar conta de utilizador no Facebook?”. Como em todos os
cruzamentos que realizamos no nosso trabalho, este foi mais um que não teve grande significân-
cia ( (5) = 6.852, p = 0,232).
Concluímos que os motivos profissionais constituíram somente 11,8% das razões que leva-
ram à criação de conta na rede social na faixa etária dos 20 aos 24 anos, longe de assim ser o
principal motivo. A grande justificação para a adesão ao Facebook foi o contacto com a família
e amigos, que reuniu 41,2% das preferências dos inquiridos (ver Anexo 4). Levanta-se assim
uma nova perspetiva: a entrada no mercado de trabalho e a consequente redução do tempo livre,
combinada com as deslocações geográficas a que um emprego pode conduzir e consequente
afastamento e redução das relações pessoais e familiares. Esta conjuntura poderá assim justificar
os resultados que obtivemos.
No entanto, há que ter outro aspeto em atenção à relevância desta análise. O motivo de ade-
são ao Facebook pode, hoje em dia, não se concretizar. Alguém que tenha criado conta há vários
14 Ciências da Comunicação: Jornalismo, Assessoria, Multimédia | Faculdade de Letras da U.Porto
anos por causa de jogo em particular, pode, atualmente e com uma idade mais avançada, dar um
uso completamente diferente à sua conta. É necessário considerar que o motivo de adesão ao
Facebook poderá não corresponder ao atual uso efetivo do mesmo.
Depois de analisado o padrão de utilização do Facebook – ou, pelo menos, o uso suposto
que justificou criação da conta - da faixa etária compreendida entre os 20 e os 24 anos, debru-
çamo-nos sobre a faixa etária mais nova. Levantamos como hipótese que estes inquiridos iriam
privilegiar a interação com os amigos no uso do Facebook. Partindo da mesma associação e
cruzamento de dados que realizamos na análise da hipótese anterior, voltamos a refutar a nossa
ideia inicial.
39,1% dos jovens inquiridos entre os 15 e os 19 anos dão prioridade ao lazer e entreteni-
mento na utilização da rede social. A interação com amigos e familiares surge em segundo lu-
gar, com 30,4% (ver Anexo 5). Refutamos a nossa hipótese ainda que os resultados obtidos não
sejam de todo surpreendentes, visto que o entretenimento fora igualmente considerado por nós
como uma forte possibilidade de se tratar do principal motivo da utilização do Facebook por
parte dos jovens. É de salientar ainda que nenhum dos inquiridos desta faixa etária tenha res-
pondido motivos profissionais quando a inserção no ensino secundário e universitário poderia
justificar a criação de conta na rede social. A criação de grupos de curso onde se partilha infor-
mação, apontamentos e trabalhos é, cada vez mais, uma prática corrente entre os jovens.
Por fim, levantamos a hipótese “Os utilizadores do Facebook vão privilegiando o contacto
virtual em detrimento do contacto pessoal”. Esta hipótese vai de encontro com o nosso terceiro
objetivo, já explorado no início da análise dos resultados. Optamos por fazer uma pergunta dire-
ta no inquérito sobre a opinião das pessoas em relação à influência do Facebook nas suas rela-
ções pessoais e procedemos ao cálculo da frequência das respostas.
O resultado foi esclarecedor e a hipótese completamente refutada: apenas 2,5% dos inqui-
ridos passaram a privilegiar o uso da rede social e do contacto virtual em vez do contacto pesso-
al. Contudo, e à semelhança do que se passou com a hipótese do grau de vício dos utilizadores
do Facebook, é complicado averiguar a relevância dos nossos resultados devido à suscetibilida-
de do estudo em questão. Muitos utilizadores poderão ter alterado as suas rotinas e ter passado a
privilegiar o contacto virtual em inúmeras ocasiões mas sem, no entanto, se terem apercebido.
Levanta-se também outra possível justificação para os resultados obtidos que passa pela
não compreensão da pergunta. Nós não pretendíamos saber se os utilizadores do Facebook dei-
xaram de conviver com os seus amigos nos tempos livres e passaram a comunicar exclusiva-
mente pelo meio virtual. O que pretendíamos saber era se a rede social fez com que começas-
sem a privilegiar, gradualmente, o contacto virtual em detrimento do pessoal, nos tempos livres.
15 Ciências da Comunicação: Jornalismo, Assessoria, Multimédia | Faculdade de Letras da U.Porto
Pelos resultados esmagadores que obtivemos consideramos que, muito provavelmente, a ques-
tão não foi entendida pela generalidade dos inquiridos. Este não entendimento poderá ter sido
fruto da administração directa que seguimos no preenchimento dos questionários.
O facto de cinco das nossas seis hipóteses terem sido refutadas e nenhuma das associações
que estabelecemos ter encontrado elevada significância, não implica que o trabalho tenha sido
em vão. Pelo contrário, este serviu para desmistificar e acabar com ideias pré-concebidas que
tínhamos antes de partirmos para este estudo.
- DISCUSSÃO
Será o Facebook uma solução ou um problema? Esta é possivelmente uma das questões
mais pertinentes quando falamos sobre o uso desta rede social, cada vez mais um vício para a
sociedade em geral.
A internet é cada vez mais um meio multifuncional que abrange uma série de componentes
que agradam o consumidor comum, sendo que o particular destaque vai obviamente para as
redes sociais. Sendo nós estudantes universitários, entendemos que seria de todo relevante abor-
dar esta temática numa questão problema base - “De que forma o uso generalizado do Facebook
influencia o comportamento dos jovens?”.
Tendo por base vários estudos sobre este tema, procuramos analisar num enquadramento
teórico se algumas das nossas hipóteses coincidiam com alguns dos estudos publicados sobre a
influência do Facebook nos jovens. Em relação à primeira hipótese, um estudo do Pew Research
Center revela que as pessoas que usam continuadamente o Facebook não se cansam de conti-
nuar a aceder a esta página, seja para publicar fotos ou atualizar estados no seu mural. Isto acaba
por evidenciar que a nossa hipótese está correta quando verificamos a relação entre o uso do
Facebook e a contínua utilização desta rede social. Relativamente à segunda hipótese, que pro-
cura associar esta rede ao perigo de viciação, encontramos um estudo levado a cabo por três
alunas da Universidade de Bergen, na Noruega, que apresentam uma possível solução no diag-
nóstico desta nova dependência em relação ao Facebook. Contudo, é facilmente percetível que
não é coerente nem simples ter consciência do nosso grau de dependência relativamente ao tem-
po despendido nesta rede social.
A nossa terceira hipótese também vai ao encontro de um dos estudos que analisamos. Este
foi um estudo do ConsumerLab, um laboratório de pesquisas de comportamento da Ericsson
que procurou avaliar os hábitos de comunicação dos jovens com idades entre os 15 e os 24 anos,
o que coincide perfeitamente com a amostra usada no nosso artigo científico. Desta forma, o
16 Ciências da Comunicação: Jornalismo, Assessoria, Multimédia | Faculdade de Letras da U.Porto
resultado deste estudo determina que os jovens privilegiam cada vez mais o Facebook como
plataforma de comunicação. Contudo, o mesmo contraria a nossa terceira hipótese, revelando
que a grande maioria consegue viver sem esta rede social, não sobrepondo o contacto virtual ao
contacto pessoal.
Por outro lado, o principal intuito deste artigo científico passava por compararmos as nos-
sas hipóteses com os dados obtidos e daí retirar as conclusões deste estudo de investigação. Em
relação à primeira hipótese, esta foi totalmente confirmada. De facto, enquanto mais de metade
dos inquiridos (52,5%) gastava inicialmente menos de uma hora a navegar na rede social, atu-
almente a moda no conjunto de dados do tempo gasto é o intervalo entre as 2 e as 4 horas. Rela-
tivamente à segunda hipótese, rapidamente percebemos que dificilmente esta seria confirmada.
Isto resulta de que a grande maioria dos utilizadores do Facebook não se considera viciado nesta
rede social.
A partir das perguntas 6 e 7, percebemos que apenas 20% dos inquiridos se considera vici-
ado nesta rede social, fator subjetivo que põe em causa os resultados apresentados, pois o “ ser
viciado” para umas pessoas pode não ser para outras. Relativamente à terceira hipótese levanta-
da, e tal como já referimos aquando da análise dos resultados, averiguamos que as pessoas com
idades compreendidas entre os 20 e os 24 anos conseguem passar menos tempo (2 dias e 19
horas) sem aceder ao Facebook do que os inquiridos entre os 15 e os 19 anos (4 dias e 7 horas).
Se numa primeira perspetivávamos que a faixa etária mais jovem iria passar menos tempo sem
aceder ao Facebook, após os resultados a nossa hipótese foi desmentida.
Como quarta hipótese, levantamos a possibilidade de os indivíduos entre os 20 e os 24 anos
acederem ao Facebook devido a motivos profissionais. No entanto, esta hipótese foi refutada
pois os motivos profissionais constituíram somente 11,8 % das razões que levaram à criação de
conta na rede social. Ao invés, a grande justificação para a adesão à rede social foi o contacto
com a família e amigos, ao contrário daquilo que considerávamos que era a realidade.
Posteriormente, decidimos explorar também a faixa etária mais jovem, entre os 15 e os 19
anos. A nossa hipótese propunha que os jovens iriam privilegiar a interação com os amigos no
uso do Facebook. Esta foi uma hipótese refutada pois quase 40% dos jovens dão prioridade ao
lazer e entretenimento no Facebook, contrastando com os 30, 4 % relativos à interação com a
família e amigos. Por último, outra das nossas hipóteses procurava aferir se os utilizadores desta
rede social vão privilegiando o contacto virtual em detrimento do contacto pessoal. Esta hipóte-
se foi categoricamente refutada pois apenas 2,5% dos inquiridos passaram a privilegiar o uso da
rede social e do contacto virtual em vez do contacto pessoal.
17 Ciências da Comunicação: Jornalismo, Assessoria, Multimédia | Faculdade de Letras da U.Porto
Em suma, facilmente, percebemos que cinco das nossas seis hipóteses foram refutadas.
Como objeto de análise e discussão, este é um fator que se torna completamente relevante pois
permite-nos, não só conhecermos um pouco melhor a realidade deste tema, como também lan-
çar novas ideias, sugestões e questões para futuras investigações sobre uma temática tão debati-
da nos nossos dias, se de facto, o Facebook tem influência nas camadas jovens.
18 Ciências da Comunicação: Jornalismo, Assessoria, Multimédia | Faculdade de Letras da U.Porto
CONCLUSÕES
De acordo com o estudo efetuado na disciplina de Metodologia de Investigação, chegamos
à conclusão que, apenas uma das seis hipóteses se verificaram, sendo ela: “O uso contínuo pro-
picia uma cada vez maior utilização desta rede social”.
Como podemos verificar, os resultados não foram os que estávamos à espera. No entanto,
não quer dizer que seja necessariamente mau ou que o trabalho tenha sido mal executado. Por
vezes, um estudo serve para refutar algumas ideias ou crenças existentes na cabeça das pessoas.
Assim, este estudo serviu para desmistificar algumas ideias que tínhamos acerca da utilização
do Facebook, como é o caso da hipótese “Pessoas entre os 20 e 24 anos usam o Facebook, ma i-
oritariamente, por motivos profissionais”. Considerávamos que as pessoas mais velhas viam
esta rede social como um meio eficaz na comunicação profissional, no entanto, estas utilizam o
Facebook para interagir com família e amigos, deixando os motivos profissionais para segundo
plano.
Ao longo do trabalho, as dificuldades que mais sentimos foram, principalmente, a formula-
ção de hipóteses que fossem ao encontro do que pretendíamos, a ausência de resultados signifi-
cativos e o tratamento de dados no programa SPSS, já que era a primeira vez que estávamos a
trabalhar no mesmo. Contudo, com esforço e coordenação de comunicação e trabalho dos diver-
sos elementos do grupo, conseguimos superar os obstáculos nutridos.
Relativamente a futuros projetos/estudos, podemos afirmar que uma opção a considerar se-
ria a de ir mais longe neste mesmo estudo, ou seja, aplicando um questionário mais profundo e
ambicioso que compreenda um maior número de faixas etárias e onde outras variáveis, como
por exemplo a classe social ou o grau de escolaridade, se incluem. Deste modo, poderemos ob-
ter resultados mais pormenorizados da maneira como o Facebook é utilizado.
Para além disso, seria interessante aplicar o mesmo estudo a outras redes sociais, como o
Twitter ou o Google+, ou noutros países, para se proceder a comparações entre redes sociais e
entre países.
Este trabalho foi bastante útil e positivo na medida que, não só ficamos a conhecer os mo-
tivos por que as pessoas, particularmente os jovens, utilizam a rede social mais famosa e usada
do Mundo, mas também porque contactamos com programas até ao momento desconhecidos,
como o SPSS, e fomentamos conhecimentos na área da investigação, ao elaborar, por exemplo
os questionários.
19 Ciências da Comunicação: Jornalismo, Assessoria, Multimédia | Faculdade de Letras da U.Porto
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Social Bakers (2012). Portugal Facebook Statistics. Acedido a 18 de junho de 2012, em:
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Ståle. Development of a Facebook Addiction Scale; Department of Psychosocial Science, Uni-
versity of Bergen, Norway, 2012.
SANTOS, Leonel. Redes sociais e usos da Internet em dois grupos de jovens; Departamento de
Antropologia, Instituto Universitário de Lisboa, Portugal, 2010.
Facebook (2012). Newsroom – Key Facts. Acedido a 17 de junho de 2012, em
http://newsroom.fb.com/content/default.aspx?NewsAreaId=22
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http://royal.pingdom.com/2010/02/16/study-ages-of-social-network-users/
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HAMPTON, Keith N.; GOULET, Lauren Sessions; MARLOW, Cameron; RAINIE, Lee. Why
most Facebook users get more than they give; Pew Research Center’s Internet & American Life
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ALLON, Benjamin; WRIGHT, Harry. How teenagers are using technology in their social lives;
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DELICADO, Ana; ALVES, Nuno de Almeida. Children, internet cultures and online social
networks; Institute of Social Sciences; University of Lisbon, Portugal, 2010.
20 Ciências da Comunicação: Jornalismo, Assessoria, Multimédia | Faculdade de Letras da U.Porto
ANEXOS
Anexo 1
P6 - Quanto tempo passa no Facebook? P7 - Passa quanto tempo sem aceder?
P10b - Visitar perfis de amigos (preferência
por ordem decrescente)
P10d – Partilhar música, imagens e multimédia
(preferência por ordem decrescente)
P10g – Conversar no chat (preferência por
ordem decrescente)
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Anexo 2 – Relação entre tempo despendido (P6) e se se consideram ou não viciados (P8)
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Anexo 3 – Quanto tempo consegue passar asem aceder? (P7)
Anexo 4 – O que o levou a criar uma conta no Facebook? (P3)
Discriminação de duas das diferentes razões pela faixa etária dos 20 aos 24 anos
41,2%
11,8%
23 Ciências da Comunicação: Jornalismo, Assessoria, Multimédia | Faculdade de Letras da U.Porto
Anexo 5 – O que o levou a criar uma conta no Facebook? (P3)
Discriminação de duas das diferentes razões pela faixa etária dos 15 aos 19 anos
39,1%
30,4%
24 Ciências da Comunicação: Jornalismo, Assessoria, Multimédia | Faculdade de Letras da U.Porto
Anexo 6 – Questionário
A INFLUÊNCIA DO FACEBOOK NAS CAMADAS JOVENS
O Facebook é uma rede social que reúne aproximadamente 845 milhões de utilizadores ati-
vos. Este fenómeno de massas permite a publicação e partilha de mensagens e conteúdos mul-
timédia, registando um crescimento acelerado desde a sua criação em 2004.
Somos um grupo de estudantes da licenciatura de Ciências da Comunicação: Jornalismo, As-
sessoria, Multimédia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto que está a desenvolver
um estudo sobre a influência do Facebook no comportamento dos jovens. Garantindo o seu
anonimato, pedimos que responda com sinceridade ao seguinte questionário.
1. Sexo: □ Masculino □ Feminino
2. Faixa etária: □ 15-19 □ 20-24
3. O que o levou a criar conta de utilizador no Facebook? (Assinale apenas a principal razão)
□ Para estar em contacto com Família/Amigos
□ A divulgação desta rede social despertou o seu interesse
□ Por motivos profissionais
□ Para lazer/entretenimento
□ Para estar a par de actualidade mundial/consultar páginas noticiosas
□ Outro. Qual?______________________________________________________________
4. Há quanto tempo criou conta no Facebook?
□ Há menos de duas semanas (se assinalou esta opção, passe para a questão número 6)
□ Há um mês
□ Há três meses
□ Há seis meses
□ Há um ano
□ Há dois anos
□ Há mais de dois anos
5. Quando criou conta no Facebook, quanto tempo dispensava no seu uso?
□ Até uma hora
□ De uma a duas horas
□ De duas a quatro horas
□ De quatro a oito horas
□ De oito a doze horas
□ Mais de doze horas
6. Atualmente, quando tempo pensa que despende diariamente no Facebook?
□ Até uma hora
□ De uma a duas horas
□ De duas a quatro horas
□ De quatro a oito horas
25 Ciências da Comunicação: Jornalismo, Assessoria, Multimédia | Faculdade de Letras da U.Porto
□ De oito a doze horas
□ Mais de doze horas
7. Consegue passar quanto tempo sem aceder ao Facebook?
□ De uma a seis horas
□ De seis horas a um dia
□ De um dia a três dias
□ De três dias a uma semana
□ De uma semana a um mês
□ Outro. Quanto tempo?_____________________________________________________
8. Considera-se viciado no Facebook?
□ Sim □ Não
9. Nos tempos livres privilegia o contacto virtual ou pessoal?
□ Contacto virtual □ Contacto pessoal
10. Como prefere passar o tempo no Facebook?
(Classifique por ordem de preferência, sendo 1 o mais alto e 10 o mais baixo)
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