a industrialização no mundo e no...

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1 www.mundogeografico.com.br https://youtube.com/c/MundoGeográficoMG A industrialização no mundo e no Brasil Disponível em: https://escolamunicipalpaulofreire.files.wordpress.com/2014/02/basf_werk_ludwigshafen_1881.jpgacesso , acesso em 05 de Jan de 2016. O setor industrial é responsável pela transformação de matérias primas em mercadorias. Essa transformação implica no uso de máquinas, que ao contrário do artesanato ou do trabalho humano puro e simples, conseguem produzir em grande quantidade em tempo reduzido, o que confere a indústria a eficiência produtiva. As máquinas por sua vez, ao transformarem matérias primas em produtos industrializados agregam valor a eles. Esse valor embutido nas mercadorias industriais varia de acordo com o grau de sofisticação (conhecimento empregado) na produção industrial, como também de acordo com o tipo de mercadoria a ser produzida. Dessa forma podemos classificar a atividade industrial em: Indústrias tradicionais: pouco automatizadas, elas utilizam máquinas pesadas e, na maioria das vezes, ainda empregam grande número de operários. São exemplos: têxtil, vestuário e calçados, moveleira, metalúrgicas e siderúrgicas Indústrias modernas: caracterizam-se pela utilização de recursos tecnológicos e equipamentos mais modernos, além de maior grau de

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www.mundogeografico.com.br https://youtube.com/c/MundoGeográficoMG

A industrialização no mundo e no Brasil

Disponível em:

https://escolamunicipalpaulofreire.files.wordpress.com/2014/02/basf_werk_ludwigshafen_1881.jpgacesso , acesso em 05 de Jan de 2016.

O setor industrial é responsável pela transformação de matérias primas em mercadorias. Essa transformação implica no uso de máquinas, que ao contrário do artesanato ou do trabalho humano puro e simples, conseguem produzir em grande quantidade em tempo reduzido, o que confere a indústria a eficiência produtiva. As máquinas por sua vez, ao transformarem matérias primas em produtos industrializados agregam valor a eles. Esse valor embutido nas mercadorias industriais varia de acordo com o grau de sofisticação (conhecimento empregado) na produção industrial, como também de acordo com o tipo de mercadoria a ser produzida.

Dessa forma podemos classificar a atividade industrial em:

Indústrias tradicionais: pouco automatizadas, elas utilizam máquinas pesadas e, na maioria das vezes, ainda empregam grande número de operários. São exemplos: têxtil, vestuário e calçados, moveleira, metalúrgicas e siderúrgicas

Indústrias modernas: caracterizam-se pela utilização de recursos tecnológicos e equipamentos mais modernos, além de maior grau de

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automação. Tal fato faz com que o número de funconários seja reduzido e se amplie a capacitação necessária dos mesmos. São exemplos: petroquímica, papel e celulose, além das montadoras de automóveis.

Indústrias de ponta: produzem recursos tecnológicos cada vez mais sofisticados, resultantes dos investimentos em pesquisa-desenvolvimento produtivo. Neste segmento, quando associadas em grandes áreas de produção, geralmente perto de centros de pesquisa ou universidades, temos a formação dos tecnopolos. São exemplos: informática (produzindo softwares), aeroespacial, biotecnologia (medicamentos, herbicidas, etc..)

Ainda podem ser classificadas em função do tipo de mercadorias a

serem produzidas e a finalidade delas:

Indústria de bens de produção: produzem a matéria-prima para outros tipos de indústria (bens de capital e consumo). Por exemplo, a metalurgia produz o alumínio (entre outros ligas metálicas), a siderurgia o aço, a petroquímica, os derivados do petróleo.

Indústria de bens de capital: dedica-se a produção de máquinas e equipamentos que serão utilizados por outras indústrias. A palavra “Capital” deriva do fato do dinheiro empregado na compra de máquinas ser um tipo de investimento, já que as máquinas produzirão outras mercadorias, e portanto, mais dinheiro.

Indústria de bens de consumo:

I) Duráveis: produzem mercadorias que o consumo não implica em seu esgotamento. Exemplos: automóveis, eletrodomésticos, móveis, etc.

II) Semiduráveis: estão relacionadas a produção de mercadorias que não se esgotam imediatamente ao uso, mas que também não tem um ampla duração. Exemplos: calçados, roupas, brinquedos, etc.

III) Não Duráveis: produzem mercadorias que quando consumidas

se esgotam. Exemplo: alimentos, bebidas, medicamentos, etc.

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O nascimento da indústria

O desenvolvimento das indústrias marca a mudança no padrão de

produção de mercadorias no mundo a partir do final do século XVIII no continente europeu, mais precisamente na Inglaterra. Para entendermos como se deu esse processo, temos antes de mais nada contextualizá-lo.

O fim da era feudal trouxe o avanço do sistema capitalista, que já no

século XVI consolidava-se como um modelo econômico baseado no acúmulo de riquezas, naquele momento obtidas através das trocas comerciais realizadas entre metrópoles e colônias. Nas metrópoles verificava-se a produção de manufaturados, mercadorias com algum grau de transformação, obtida por meio do emprego de máquinas simples, em que o trabalho manual fazia-se necessário (daí o nome “manu”, feito a mão; “fatura”, com o emprego de máquinas simples).

Por sua vez, nas colônias, a produção voltou-se para as matérias-

primas, fundamentais ao desenvolvimento das manufaturas das metrópoles europeias. As máquinas, mesmo que simples, forneciam às mercadorias metropolitanas um maior valor agregado (embutido) do que as matérias-primas coloniais. Dessa forma, o comércio entre esses dois atores, permitiu um acúmulo de riquezas maior às metrópoles.

Esses recursos acumulados foram fundamentais para o

desenvolvimento industrial europeu, juntamente com o reorganização social, em que era fortalecida a divisão da sociedade em classes. Os burgueses, detentores dos meios de produção (capital, terra, maquinário, etc.), e os proletários, cuja força de trabalho era adquirida pela classe burguesa mediante o pagamento de salários.

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Trabalhadores industriais início do século XIX

Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Child_workers_in_Millville,_NJ.jpg, acesso em10 de Nov de 2015.

O capitalismo industrial A 1a Revolução Industrial repercutiu não só na forma como as

mercadorias passaram a ser produzidas, mas também na organização da economia Europeia. O capitalismo industrial promoveu uma nova maneira de acumulação de riqueza que ocorria não só através da produção e venda de mercadorias industrializadas, mas também por meio da exploração do trabalho. As extensas jornadas diárias, em que se empregavam, adultos e crianças, as segundas com salários bem menores, se estendiam para além do tempo necessário para o trabalhador produzir o suficiente para o seu sustento. A remuneração (salário), extremamente baixa, não representava o que realmente foi produzido de valor através do trabalho, sendo aí extraída pelo patrão a mais valia (lucro).

Neste contexto a classe trabalhadora passa a ser designada como

proletariado, enquanto os empresários, representados por concentrar os

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meios de produção (máquinas, espaço da fábrica, matérias primas, trabalhadores, etc.) compunham a burguesia. Esta segregação social representava não só uma divisão econômica e social mas afetava, sobretudo, a organização espacial das classes dentro das próprias cidades.

A 1a Revolução Industrial No final do século XVIII, a Inglaterra encontrava-se a frente das

demais nações europeias no processo industrial, por meio da ampliação do poder político da burguesia e pelos recursos acumulados durante o período pré-industrial. A 1a Revolução Industrial foi marcada pelo desenvolvimento tecnológico no sentido de ampliar a produção de mercadorias e reduzir o tempo gasto nessa produção. O desenvolvimento da máquina a vapor possibilitou uma produção em maior escala, bem como permitiu o avanço nos transportes ferroviário e marítimo.

Contudo, o crescimento industrial exigiu também novas matérias- primas. A principal delas, o aço, começou a ser obtido através da transformação do ferro, que associado ao carvão mineral, possibilitou o surgimento da indústria de base, tipo de indústria responsável pela produção da matéria prima industrial, crucial para o desenvolvimento de outros tipos de mercadorias industriais.

Do ponto de vista da mão de obra, a revogação da posse da terra na Inglaterra no campo, por meio do processo de cercamentos, acabou por gerar uma intensa migração para as cidades, locais em que estavam concentradas as indústrias. Dessa forma, um grande excedente de mão de obra foi formado, o que permitiu aos donos das indústrias a contratação dos trabalhadores a baixíssimo custo, com salários que na maioria das vezes eram insuficiente para a manutenção da vida nas cidades, o que obrigava todos os membros de uma família a trabalhar nas indústrias, incluindo crianças e idosos.

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Máquina a vapor em funcionamento. Pela seta vermelha, a esquerda, entra o vapor quente. Pela seta azul da direita sai o vapor que passou pelo circuito.

Disponível em:

https://es.wikipedia.org/wiki/Máquina_de_vapor#/media/File:Steam_engine_in_action.gif, acesso em 10 de Nov de 2015.

Os fatores locacionais

No período os principais ramos industriais que se sobressaíram foram

o têxtil (tecidos), o metalúrgico e o de mineração. Alguns fatores se mostraram preponderantes para que este processo tivesse início neste determinado país. A este conjunto de condições damos o nome de fatores locacionais. No caso inglês:

Disponibilidade de matérias primas: a existência de grandes depósitos de minério de ferro e carvão mineral, além das amplas terras em que predominavam a criação de ovelhas (lei de cercamentos).

Força de trabalho: neste caso, a saída de pessoas do campo para as cidades criando uma massa proletária nos centros urbanos.

Mercado consumidor: tanto internamente, mas sobretudo em suas colônias e nos países com que tinham acordos comerciais.

Urbanização e condições de vida À medida em que as cidades cresciam, pela chegada cada vez maior

de pessoas vindas do campo, cresciam também os problemas decorrentes

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da infraestrutura precária. As condições de saneamento básico eram péssimas, o que somado a baixa qualidade do ar em virtude do excesso de fuligem e gases tóxicos, reduziam de forma significativa a expectativa de vida nas cidades.

A situação era agravada pela grande disparidade social, originada pela

divisão de classes. De um lado os donos dos meios de produção, que residiam em áreas em que as condições de vida eram menos insalubres, geralmente longe dos centros industriais. Por outro lado, a classe operária se concentrava nos bairros onde as condições de vida refletiam os baixos salários, e principalmente o descaso com as condições básicas necessárias a uma vida digna.

Obra de 1870 que retrata a densidade demográfica e as condições de vida das cidades

industriais. Disponível em:

https://en.wikipedia.org/wiki/Industrial_Revolution#/media/File:Dore_London.jpg , acesso em 10 de Nov de 2015.

A 2a Revolução Industrial

Para muitos historiadores, a 2a Revolução Industrial, ao final do século

XIX, mais precisamente a partir de 1860, marca a continuação do processo de industrialização na Inglaterra, e a disseminação do processo para outros países da Europa, como também para países fora do continente europeu, a dizer Estados Unidos e Japão. Em termos tecnológicos, o desenvolvimento de novas máquinas, que produzem mais em menos tempo, acaba por gerar o aumento substancial da produção.

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Entre as principais inovações tecnológicas, destaca-se a utilização da energia elétrica nas fábricas, que além de alimentar as máquinas, permitiu que o aumento do horário de trabalho, pois as instalações industriais passaram a contar com iluminação artificial. Ao mesmo tempo, cresce a exploração do trabalho fabril, uma vez que os operários permanecem mais tempo nas indústrias. Outro aspecto importante, com o estabelecimento de uma rede elétrica as indústrias passaram a se dispersar espacialmente, pois não havia mais a necessidade da proximidade com as minas de carvão mineral.

Central da companhia de energia elétrica gerada através de dínamos. Destinada ao

fornecimento de eletricidade para a iluminação pública de Nova York, em 1880.

Diposnível em: https://en.wikipedia.org/wiki/History_of_electric_power_transmission#/media/File:Brush_central_power_station_dynamos_New_York_1881.jpg , acesso em

10 de Nov de 2015.

Na Alemanha, o desenvolvimento do motor a combustão interna em 1867, e do primeiro automóvel, em 1885, possibilitou a incorporação de uma nova fonte energética que se perpetuaria por muitos e muitos anos, o petróleo. Esse composto de carbono e hidrogênio, formado pela decomposição de restos orgânicos de origem marinha, começa a ser explorado nos Estados Unidos na segunda metade do século XIX, mas só adquire a importância como fonte energética quando do avanço da indústria automobilística e do transporte rodoviário.

Do ponto de vista da circulação de mercadorias (logística), o

desenvolvimento do transporte rodoviário por meio dos primeiros automóveis, resultou no fracionamento da produção, pois as mercadorias passaram a ser distribuídas em quantidades menores (de acordo com a capacidade do automóvel), com maior flexibilidade, ou seja, chegando a locais em que seria inviável a entrega por meio de trens.

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Monopólios industriais O aumento da produtividade e do comércio de mercadorias industriais,

potencializou os lucros obtidos, contudo o crescimento da riqueza das empresas não ocorreu de forma homogênea. Algumas delas obtiveram maior lucratividade do que as demais, em virtude principalmente da maior capitalização de seus donos. Dessa forma, nem todas as indústrias sobreviveram ao aumento da concorrência. Indústrias menores, passaram a ser adquiridas por indústrias maiores, cuja alta produtividade garantiu posição de destaque nos mercados.

O desenrolar desse processo levou a constituição de monopólios, ou

o domínio de determinados setores industriais por uma única empresa. Muitas vezes, o volume de recursos financeiros gastos com a aquisição de uma indústria por outra eram tamanhos, que algumas delas recorreriam aos bancos como forma de obter financiamentos que as possibilitavam concluir a compra. Esse novo contexto econômico implicou na transformação do capitalismo industrial, que passou a ser designado como capitalismo monopolista ou financeiro.

Monopólio, o que é?

De acordo com o Dicionário de Economia, o monopólio consiste em “uma forma de organização de mercado, nas economias capitalistas, em que uma empresa domina a oferta de determinado produto ou serviço que não tem substituto. O monop lio puro raro, sendo mais comum o oligopólio, no qual um pequeno grupo de empresas detém a oferta de produtos e serviços, ou a concorrência imperfeita, na qual uma ou mais características de monop lio estão sempre presentes.”

Fonte: SANDRONI, Paulo. n a m n a nan a . ão aulo est eller C rculo do ivro, , reimpressão 2001

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Disponível em: https://historiaon.files.wordpress.com/2012/04/k0pv0.jpg?w=620, acesso em 10 de Dez de 2015.

Por sua vez, os bancos, concentravam-se nas cidades, fato que

modificou o perfil urbano na 2a Revolução Industrial. As cidades já não eram mais apenas centros industriais, em que condições gerais de vida eram precárias. Elas passaram por intensas transformações, algumas sendo reconstruídas de forma a reduzir as péssimas condições de vida, e adequarem-se a nova função, a de centros financeiros e comerciais. Apesar das transformações urbanas, as melhorias não eliminaram as desigualdades sociais oriundas da distribuição desigual da riqueza industrial. Os bairros operários continuaram a apresentar os problemas de infraestrutura tão marcantes no início do processo de industrialização.

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Taylorismo

Em Frederick Taylor publica sua mais importante obra “ rinc pio da Administração Cient fica”. Neste livro, o engenheiro propôs que a administração empresarial devesse ser encarada como ciência, com o desenvolvimento de teorias que ampliassem a produtividade e o lucro das indústrias.

A ideia principal do livro é a racionalização do trabalho, que envolve

a divisão de funções, pois segundo Taylor, a hierarquização evitava a desordem no ambiente industrial, principal causa de gasto de tempo desnecessário na produção. Por meio do Taylorismo, o trabalho industrial foi fragmentado, pois cada trabalhador passou a exercer uma atividade específica no sistema industrial.

A organização foi hierarquizada e sistematizada, e o tempo de

produção passou a ser cronometrado. Separou, dessa forma, o trabalho manual do trabalho intelectual, dividindo os funcionários entre aqueles que eram pagos para planejar, e aqueles que eram pagos, para executar. O estudo de "tempos e movimentos" mostrou que um "exército" industrial desqualificado significava baixa produtividade e lucros decrescentes, o que forçava as empresas a contratarem mais operários. Taylor tinha o objetivo de acelerar o processo produtivo, ou seja, produzir mais em menos tempo, e com qualidade.

Tempos Modernos – (Charles Chaplin) crítica à teoria Taylorista

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Fordismo

“P m p uz au móv qualqu , qu jam p ” (Henri Ford).

Em 1914, Henri Ford, grande empresário americano do ramo de

automóveis, coloca em prática os princípios de racionalização do trabalho, elaborado por Taylor. Ele os associou ao trabalho em cadeia ou linha de produção, em que o trabalho literalmente chegava ao trabalhador que se encontrava em uma posição fixa, através de uma esteira em movimento.

Ford padronizou a duração do dia de trabalho, estabelecendo um

limite para jornada de trabalho (nas fábricas Ford, de oito horas diárias), com o propósito de dar aos trabalhadores tempo para consumir os produtos produzidos em massa (não só os carros Ford). O Fordismo foi caracterizado como um sistema de produção e consumo em massa baseado na racionalização do trabalho e no ritmo máximo de produção da empresa. Ford desenvolveu três princípios de administração:

A) Princípio da intensificação: reduzir o tempo de produção com o

emprego imediato dos equipamentos e matérias-primas e a rápida colocação do produto no mercado.

B) Princípio da economicidade: reduzir ao mínimo o estoque da matéria-prima em transformação, de tal forma que uma determinada quantidade de automóveis (a maior possível) já estivesse sendo vendida no mercado antes do pagamento das matérias-primas consumidas e dos salários dos empregados. O que gerava GRANDES ESTOQUES.

C) Princípio de produtividade: consiste em aumentar a quantidade de produção por trabalhador na unidade de tempo mediante a especialização e a introdução da LINHA DE MONTAGEM.

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Estes princípios formaram a base de um sistema de produção que, mediante sua linha de montagem, foi capaz de otimizar a produção reduzindo seus custos e, consequentemente, otimizado o lucro. Uma de suas principais características era seu caráter VERTICAL, pois o modelo fordista visou reduzir os custos de deslocamento dos materiais dentro do processo produtivo, além da melhorar gestão, em menor tempo, a homogeneização das peças, e a organização produtiva em espaços próximos, ou mesmo dentro de uma única fábrica.

Críticas ao Taylorismo e ao Fordismo A redução do tempo de produção e o aumento da produtividade

presentes tanto no Taylorismo, quanto no Fordismo, submeteram os trabalhadores a condições de trabalho exaustivas, com longas jornadas de trabalho dentro de uma mesma rotina, de forma repetitiva, de forma a exigir um trabalho manual pouco qualificado, com um controle quase inexistente do trabalhador sobre a mercadoria que ele estava produzindo.

Pode-se por assim dizer, que os dois modelos produtivos foram

responsáveis diretamente pela alienação do trabalhador, que pouco tinha contato com as demais fase da produção para além daquela que ele desenvolvia. Por tratar-se de um trabalho repetitivo e pouco especializado, a qualquer sinal de baixa produtividade, o trabalhador era apenas substituído por outro que rapidamente adquiria as funções do demitido.

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A 3a Revolução Industrial A 2a Guerra Mundial, no período de 1939 a 1945, promoveu intensas

modificações no processo de desenvolvimento industrial. O aumento da demanda por artigos industriais dos maios variados, com destaque para aqueles que empregados no próprio conflito, fez com que as máquinas tornam-se ainda mais modernas, e que passassem a incorporar o conhecimento científico cada vez mais sofisticado.

Com o aumento do conhecimento científico empregado, as máquinas

e processos industriais foram transformados de forma a possibilitar um crescimento substancial da produtividade, com a redução do tempo gasto, o que tornou a produção industrial ainda mais eficiente, e com maior valor agregado. Esse processo, no entanto, assim como as demais revoluções industrias, não ocorreu de forma homogênea no mundo.

Os primeiros países a passarem pela 3a Revolução Industrial, ou

Revolução Técnico-Cient fica (e mais tarde, tamb m “informacional”), foram aquelas que já haviam contemplado as revoluções industriais anteriores, ou seja, os países que nos dias atuais são conhecidos como desenvolvidos.

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As inovações O aumento da eficiência das máquinas obtido por meio da introdução

do conhecimento científico mais avançado, traduziu-se no processo de automação industrial, principalmente pelo uso mais intenso da robótica e informática na produção. Por outro lado, a medida que máquinas mais modernas eram trazidas à linha de produção, menos trabalhadores passaram ser necessários para a operação delas.

Assim, o aumento da produtividade industrial teve como reflexo a

redução do contingente de trabalhadores fabris, e o crescimento do desemprego estrutural, aquele gerado pela redução da presença humana na produção, e o aumento de máquinas avançadas, poupadoras de mão de obra nas fábricas.

A automação industrial representada: observe a ausência de mão de obra na linha de

montagem.

Disponível em: http://www.coficpolo.com.br/2012/imagens/fotos2.jpg, acesso em 10 de Nov de 2015

Além das máquinas mais eficientes, a Revolução Técnico-Científica,

foi marcada pelo avanço dos meios de transporte e de comunicação, que encurtaram o tempo de circulação de mercadorias e capitais. Dessa forma, as transações comerciais foram ampliadas, pois a circulação de mercadorias tornou-se mais ágil, e o fluxo de capitais mais intenso.

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Os tigres asiáticos e o modelo de plataforma de exportações

Entre as décadas de 1960 e 1980 o Japão e os Estados Unidos experimentaram grande crescimento econômico. Contudo, os grandes impactos mundiais causados pelos choques do petróleo na década de 1970 fizeram com que esses dois países buscassem reorganizar seus sistemas e sua lógica produtiva. A elevação do custo da mão de obra interna, aliada ao crescente custo de importação do petróleo, fez com que as empresas buscassem novas estratégias produtivas, como a abertura de unidades em outros países.

Por meio da automação e da transferência dos parques industriais, as empresas japonesas e estadunidenses buscavam maiores vantagens de produção. Os investimentos foram realocados provocando um surto de industrialização em Hong Kong, Cingapura, Taiwan e Coréia do Sul, os Tigres Asiáticos. A denominação tem relação direta com o rápido desenvolvimento econômico experimentado por esses países, por meio dos investimentos estrangeiros e o foco nas exportações de mercadorias.

O grande crescimento gerado nestes países fez com que, com

investimentos da própria região, surgisse um novo impulso de crescimento em países vizinhos como Malásia, Tailândia e Indonésia, Filipinas e Vietnã (Novos Tigres).

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Este grupo de países, os primeiros e os segundos tigres, representam uma organização heterogênea tanto no aspecto populacional, como econômico e social. Hong Kong e Cingapura têm pequenas populações. Coréia do Sul e Taiwan consolidaram a capacidade tecnológica nacional, o que não foi observado nos Tigres da “segunda onda”. Nos primeiros Tigres os níveis de renda se equiparam a países desenvolvidos. Já nos demais, a renda se mostra média e, no caso da indonésia, o país pode ser considerado pobre, devido sua grande desigualdade social.

A industrialização dos Tigres Asiáticos foi baseada no modelo de

Plataforma de Exportação, que privilegia a produção industrial voltada para o abastecimento do mercado externo, em detrimento do mercado interno. Os investimentos japoneses e estadunidenses foram convertidos em pesquisa científica, tecnológica e desenvolvimento educacional em alguns destes países, sobretudo na Coréia do Sul. A atenção a essas questões repercutiu no crescimento de grandes empresas de tecnologia, hoje mundialmente conhecidas, como Samsung, Hyundai, Lucky Goldstar (LG).

Revolução Técnico – Científica e a rede de cidades Os avanços tecnológicos nas áreas de comunicação e transporte,

trouxeram impactos para as cidades. Ao longo das revoluções industriais, as funções urbanas foram alteradas à medida que os processo produtivos também passavam por alterações. Na 3a Revolução Industrial, os principais centros urbanos nos Estados Unidos, Japão, e Europa Ocidental, foram interconectados de forma mais ágil e intensa, reflexo direto das inovações tecnológicas da Revolução Técnico-Científica.

Dessa forma, uma rede urbana (ou de cidades) surgia, com

conexões principalmente econômicas cada vez mais fortes. O maior destaque de algumas cidades, como no caso Nova York e Londres, tornou-se evidente, fruto da força econômica dos Estados Unidos e Inglaterra no contexto comercial mundial. Como esses países ocupavam posição de destaque também nas trocas comerciais mundiais, as conexões mais numerosas de suas principais cidades deram a elas grande destaque na rede urbana mundial.

Com um volume de conexões desigual fruto das diferenças econômicas e do volume de transações comerciais realizadas, a rede urbana assumiu uma configuração hierárquica, ou seja, passou a ser organizada em diferentes níveis de influência e subordinação econômica, dentro de um mesmo território, como observado no esquema abaixo:

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Tecnopolos O desenvolvimento cada vez maior das tecnologias e a especificidade

criada pelos mercados demandavam diferentes modelos de organização produtiva. Deste contexto emergiram novas formas de arranjo espacial que, congregando empresas voltadas a atividade de P & D a centros universitários e de pesquisa, fez surgir um novo conceito baseado na existência de um conjunto geográfico-econômico determinado pela existência de centros de alta tecnologia, os Tecnopolos. Como características principais estas áreas apresentam:

Elevado grau de integração entre laboratórios de pesquisa e sistema produtivo.

Presença de centros universitários para formação de força de trabalho de alta qualificação e aplicação direta dos resultados de pesquisa.

Sistema de telecomunicações que se torna o coração do sistema, integrando de maneira eficaz os centros à rede global.

Presença de grandes grupos industriais.

Instalações de serviços completos e dinâmicos capazes de atender às funções empresariais modernas (instituições financeiras, PME – marketing, publicidade, engenharia, etc).

Associações que congregam os atores ligados ao suporte da inteligência do tecnopolo (engenheiros, técnicos, pesquisadores).

Como alguns dos principais exemplos globais desta nova dinâmica organizacional temos o Vale do Silício (Parque Tecnológico de Stanford, EUA); Tsukuba e Kansai (Japão); Taedok (Coréia do Sul); Paris (França);

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Munique (Alemanha); Cambridge (Reino Unido); Bangalore (Índia); Campinas e São José dos Campos (Brasil).

No tecnopolo brasileiro, se concentram atividades do setor bélico, metalúrgico e aeroespacial. Estão instaladas em São José dos Campos, no vale do Paraíba, importantes empresas como Philips, Panasonic, Johnson & Johnson, General Motors (GM), Petrobras, Ericsson, Monsanto, a sede da Embraer entre outras. No setor aeroespacial destaca-se o CTA, o INPE, o IEAV, o IAE e o ITA.

A industrialização do Brasil

Para compreender o processo de industrialização brasileiro é preciso

em primeiro lugar entender o contexto econômico o qual o país vivia no início do século XX. Os primeiros anos deste século evidenciaram a grande dependência brasileira da produção e venda de matérias-primas, mercadorias de baixo valor agregado, que geravam grandes receitas ao país por serem exportadas em enormes quantidades. Boa parte desses recursos foram obtidos por meio das exportações de café, produto que chegou a corresponder a mais da metade do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.

Queima do

estoque de café durante a crise de 1929.

Diposnível em: http://revistaescola.abril.com.br/img/plano-de-aula/ensino-medio/2006_plano53_3.jpg

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Contudo, a elevada dependência das exportações expôs a fragilidade da economia nacional, pois a cada oscilação na exportação cafeeira, o país se via a mercê dos mercados internacionais. Apesar disso, os cafeicultores, a maior parte, membros da elite econômica brasileira, construíram grandes reservas de capitais, que mais tarde foram importantes para o processo de industrialização.

É importante destacar, que em relação aos países pioneiros no mundo

na industrialização, o Brasil, assim como algumas nações sul-americanas, desenvolveu-se tardiamente em termos industriais. O atraso se deveu principalmente a elevada lucratividade obtida com a atividade cafeeira, controlada pela elite agrária, que também dispunha de grande poder político, e assim, influência nos rumos econômicos do país.

A Era Vargas e a concentração espacial da indústria

Quando Getúlio Vargas assume a presidência brasileira em 1930, o desenvolvimento industrial brasileiro ganha um novo capítulo. Até então apenas algumas manufaturas existiam de forma espalhada pelo território nacional, fábricas que empregam máquinas simples, na produção de tecidos, calçados, alimentos, entre outros.

O grande impulso para o desenvolvimento industrial do Brasil veio a

reboque da crise econômica que atingiu a economia dos Estados Unidos em 1929. Como maior comprador de café do Brasil, os estadunidenses acabaram por desencadear o avanço da industrialização brasileira através da redução das importações de café. Como a economia mundial foi duramente afetada, todos os demais importadores do café brasileiro também o foram.

Como consequência do cenário econômico mundial desfavorável, a

crise cafeeira acabou por redirecionar os recursos financeiros que ainda restavam para a atividade industrial. Entretanto, esses recursos não forma suficientes, o que implicou na chegada de capital estrangeiro no país. Na outra ponta os esforços do governo Vargas voltaram-se para a execução de projetos de infraestrutura.

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O território interligado e a concentração no Sudeste

Em termos espaciais, a economia brasileira do início do século XX era

marcada pela desarticulação territorial, o que dificultou a formação de um mercado interno forte, capaz de fazer frente às exportações de café. As precária ligação viária entre as diferentes regiões brasileiras acabou por gerar verdadeiros arquipélagos econômicos, em que as mercadorias produzidas em uma determinada região tinham sua circulação limitada a suas proximidades (exceção a borracha).

Dessa forma, o Vargas intensificou os investimentos na abertura de

rodovias e estradas de ferro. A ideia era permitir um maior intercâmbio de mercadorias entre as diferentes partes do Brasil, e principalmente, criar condições para a produção industrial concentrada na região Sudeste, pois eram necessárias matérias primas e mercados para os bens industriais produzidos.

A concentração industrial no Sudeste foi consequência da

concentração histórica da riqueza nessa porção do território nacional. Nessa região manifestou-se a força das economias de aglomeração ou fatores locionais, estratégicos e fundamentais para desenvolvimento do setor produtivo nacional.

O destaque de São Paulo

Todo contexto preexistente, principalmente no que diz respeito aos

últimos dois grandes ciclos econômicos brasileiros (ouro e café), fizeram com que a região Sudeste, em especial, São Paulo, fosse a área que apresentaria inicialmente o primeiro surto industrial. Privilegiada também por sua localização geográfica, porção oriental do estado constituindo passagem obrigatória para se chegar ao porto de Santos (o mais importante do pais desde o final do século XIX), São Paulo reunia:

A riqueza oriunda da produção e exportação cafeeira foram

responsáveis por dotar a cidade de uma infraestrutura invejável (rede

de água, esgoto, eletricidade, bondes, sistema bancário, etc).

Elava concentração populacional (força de trabalho barata e amplo

mercado consumidor)

Grande contingente de imigrantes (hábitos de consumo industriais);

Proximidade do centro político nacional (Rio de Janeiro - capital até

1960).

Proximidade e ligação logística com grandes reservas de matérias-

primas (minério de ferro (MG), principalmente).

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Chegada dos imigrantes na hospedaria, 1907 (Arquivo Público do Estado de São Paulo)

A política de substituição de importações

A década de 1930 pode ser considerada como a época que impulsionou o desenvolvimento industrial brasileiro, que contou diretamente também com a política de substituição das importações de bens leves de consumo. Entre 1937 e 1945 (Estado Novo) ocorreu uma melhora nas trocas comerciais brasileiras com outros países e um aumento das exportações, tendo em vista que as nações industrializadas direcionaram sua produção para as atividades de guerra, o que acabou reduzindo significativamente a oferta de produtos importados para o Brasil.

Com a redução das importações, a concorrência com os produtos estrangeiros, normalmente mais baratos e de melhor qualidade em relação aos produtos brasileiros diminuiu significativamente, o que permitiu ascensão mesmo que momentânea das indústrias de bens de consumo brasileiras.

O desenvolvimento da indústria de base

Estes fatores ocasionaram uma nova onda de oportunidades para a realização de investimentos e a esperança de outro surto de desenvolvimento industrial. Porém, tal fato não ocorreu devido à elevada dependência da indústria brasileira às importações de equipamentos.

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Pensando nessa dependência o governo federal Vargas inicia os investimentos nas indústrias de base, ou seja, aquelas que irão fornecer a matéria-prima para outras indústrias. Entre elas:

Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em 1941: empresa responsável pela produção de aço;

Companhia Vale Do Rio Doce (CVRD), em 1943: localizada em Minas Gerais especializou-se na extração do minério de ferro (matéria-prima do aço);

Petrobrás, em 1953: indústria petroquímica dedicada a extração e produção de derivados do petróleo (ex: gasolina, diesel, lubrificantes, entre outros)

A abertura econômica e o impacto nas indústrias

A eleição de Juscelino Kubitschek a presidência da república em 1955,

representou uma mudança nos rumos da industrialização brasileira. Durante o governo JK (1956- ), o projeto de “Cinquenta anos de progresso em 5 anos de governo” foi colocado em prática por meio do chamado “ lano de Metas”, um conjunto de medidas com o objetivo de alavancar o crescimento econômico brasileiro.

Entre as medidas estava o estímulo ao desenvolvimento do setor

siderúrgico (produção de aço), da produção de alumínio, da indústria de bens capital (máquinas e equipamentos), além do setor energético, fundamental para o desenvolvimento industrial. Contudo, um dos principais setores industriais impactados pelas medidas econômicas adotadas foi o da indústria de bens de consumo duráveis, não duráveis e semiduráveis.

Juscelino Kubitschek promoveu a abertura econômica do país ao

capital estrangeiro, bem como a indústrias de bens de consumo oriundas do exterior. A ideia de JK era a de “modernizar” a produção industrial brasileira, mediante a importação de máquinas, que nos países desenvolvidos economicamente tornaram-se obsoletas, frente às novas tecnologias trazidas pela Revolução Técnico-Científica desencadeada ao final da 2a Guerra Mundial.

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Disponível em: https://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/imagens/dossies/jk/fotos/4_Desenvolvimentismo/foto11.jpg, acessado em 10 Dez. De 2015.

Ao mesmo tempo, as indústrias estrangeiras eram atraídas por

vantagens comparativas que já não estavam mais acessíveis nos respectivos países de origem, entre elas a abundância de mão de obra, que por ser abundante também era barata. Os investimentos estatais na produção de aço, energia e nos transportes, principalmente com ampliação da malha rodoviária, também foram fatores preponderantes na atração do capital produtivo estrangeiro.

Por fim, o crescimento dos debates ambientais nos países pioneiros

na industrialização, acabou por endurecer as punições às indústrias poluidoras, principalmente aquelas que faziam uso intenso de recursos naturais escassos, como os metais. Dessa forma, o Brasil representou para essas indústrias uma excelente oportunidade de obtenção de lucros expressivos sem grandes preocupações ambientais, já que a legislação brasileira previa punições brandas, além de dispor de fraca fiscalização ambiental.

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O processo de desconcentração industrial

Da década de 1970 em diante, à medida que as indústrias passavam a se concentrar em determinadas áreas, as economias de aglomeração ou fatores locacionais que as atraíram incialmente, passaram de grandes vantagens para problemas econômicos. Com a ampliação dos parques industriais cada vez mais diversificados, o preço dos imóveis e da terra foram elevados, pois tornaram-se cada vez mais disputados.

Simultaneamente, os trabalhadores urbanos começaram a se

organizar em sindicatos, como forma de questionar as condições de trabalho as quais eram submetidos, e principalmente reivindicar melhores salários. As conquistas por eles obtidas legitimamente, implicaram no encarecimento da mão de obra urbana-industrial, o que despertou o interesse das indústrias por outras localidades no território nacional, de preferência aquelas em que a organização sindical fosse mais branda.

Por outro lado, a sobrecarga na infraestrutura produtiva presente nos grandes centros industriais, converteu-se na redução das margens de lucro das fábricas, fruto do sucateamento das rodovias, ferrovias, portos e da geração de energia. Aliado a esse fato o aumento dos tributos pagos pelas empresas nos estados de grande concentração industrial, resultou na busca por incentivos fiscais em estados com pouca tradição industrial, principalmente aqueles localizados nas regiões Norte, Nordeste e Sul do país.

Todos esses fatores somados configuram as deseconomias de

aglomeração (ou de escala), pois tem relação direta com a deteriorização das vantagens econômicas comparativas antes existentes na região Sudeste e suas principais áreas urbanas, em comparação às demais regiões do país.

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Distribuição Espacial de Empresas Industriais no Brasil - 2010

Disponível em: http://atlasescolar.ibge.gov.br/images/atlas/mapas_brasil/brasil_distribuicao_industrias.pdf, acesso em 10 Dez de 2015.

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O Fim da Guerra Fiscal? Por Beatriz Santos, 16 de Outubro de 2015

Nas engrenagens do desenvolvimento de uma sociedade, a geração

de emprego, renda e infraestrutura por meio da indústria se faz necessária. Porém, para que um determinado local desperte o interesse de uma companhia, é preciso que haja condições que tornem viável o negócio e que em poucos anos traga o devido retorno.

É fato que o polo industrial brasileiro se concentra em determinadas

regiões. Levando em conta as dimensões continentais do país, alguns estados e municípios buscam maneiras de se tornarem atraentes aos olhos dos empresários para que levem seus investimentos. Uma das alternativas é o chamado incentivo fiscal.

Os benefícios nas alíquotas tributárias são mais comuns sobre o ICMS

(Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), quando concedidos pelo estado, e pelo ISS (Imposto sobre Serviços), quando se trata de municípios. O analista da Tendências Consultoria Fabio Klein explica que os privilégios fiscais são oferecidos justamente para atrair empresas. “Os estados e municípios oferecem impostos reduzidos por meio de uma carga tributária melhor, para que seja possível baratear o custo da empresa em um determinado local”, afirma e completa dizendo que o lugar, por sua vez, ganha uma melhor oferta de empregos e melhora o desenvolvimento econômico.

Guerra fiscal? A guerra fiscal está no centro das discussões ao longo dos anos.

Algumas alternativas foram pensadas, mas ainda não há um fim para essa história. Umas das pautas sobre o assunto é a unificação das alíquotas do ICMS a 4%. A legislação tributária nacional divide o Brasil em dois: o Sul (estados do Sul e do Sudeste, menos o Espírito Santo) e o Norte (Norte, Nordeste, Centro-Oeste e mais o Espírito Santo). Quando um contribuinte que está no Sul vende para um contribuinte que está no Norte, a alíquota é de 7%. Quando um estado do Norte vende para um que está no Sul, a alíquota é de 12%. Nas vendas entre estados do Sul e entre os do Norte, é de 2%. “A ideia era acabar com as desigualdades, então é preciso colocar mais dinheiro no Norte, porque o ul já mais desenvolvido”, exemplifica Zotelli. Para a advogada, o meio termo para a questão são os 4%.

Como parte da reforma do ICMS, o Diário Oficial da União trouxe em

julho deste ano a criação de dois fundos: o Fundo de Desenvolvimento Regional e Infraestrutura (FDRI) e o Fundo de Auxílio à Convergência das Alíquotas do Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação, batizado de FAC-ICMS. O primeiro vai compensar a perda dos estados com a confluência das alíquotas interestaduais do imposto para 4% e o segundo será destinado à infraestrutura dos estados e ao

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estímulo de investimentos. A Medida Provisória 683/15 é um dos primeiros passos para acabar

com a guerra fiscal. “ e a União já começou a se mexer, sinal de que ela está perto do fim”, diz Zotelli. [...]

Disponível em : http://brasilamericaeconomia.com.br/revista/o-fim-da-guerra-fiscal/ , acessado em 10 de Dez de 2015.

A influência do II PND

Outro aspecto que contribuiu para a desconcentração espacial da indústria brasileira foi a atuação direta dos militares nos rumos da economia nacional. Ao final do ano 1974 o surto de crescimento econômico, denominado “Milagre Econômico”, chegava ao seu fim, fruto principalmente da elevação do preço do petróleo no mercado mundial, o que estava relacionado aos reflexos da primeira crise do petróleo, que reduziu drasticamente a oferta desse combustível no mercado mundial.

Dessa forma, é lançado o II Plano Nacional de Desenvolvimento

(PND), em 1975, resultado das ações do então presidente Ernesto Geisel (1974-1979), no sentido de retomar a trajetória de crescimento econômico do início dos anos 1970. O Plano previu o estímulo econômico à indústria de base (produção e capital), como também grandes investimentos governamentais em projetos de infraestrutura, principalmente no setor de transportes, energia (através da construção de hidrelétricas), petroquímico e siderúrgico.

Em termos espaciais, foi observada uma maior atenção às diferenças econômicas regionais do país, com destaque para a comparação da região Sudeste (a mais rica do país), em relação as demais porções do território nacional. O II PND repercutiu na execução de obras de infraestrutura, bem como em programas de exploração agrícola e industrial de propiciassem a redução das disparidades de geração de riquezas entre as regiões do país.

A formação do espaço urbano-industrial

Desencadeado o processo de industrialização, os reflexos logo foram

sentidos nas cidades, com destaque para as capitais, principalmente da região Sudeste. A medida que crescia a oferta de trabalho nelas e diminuía no campo, em virtude incialmente da crise do café, e com o passar do tempo, da gradativa incorporação de tecnologias poupadoras de mão de obra na atividade agropecuária, mais pessoas partiam do campo em direção à cidade, em um processo conhecido como êxodo rural.

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O intenso êxodo rural, por sua vez, trouxe para as cidades grandes contingentes de pessoas, em busca das oportunidades de trabalho disponíveis na indústria. Dessa forma, as cidades que apresentavam maior concentração da atividade industrial cresceram substancialmente, em um rápido processo de urbanização. Ao mesmo tempo que a população urbana aumentava, crescia também a necessidade por moradias, infraestrutura adequada de saneamento básico, transporte, assistência médica, escolas, etc.

Com o não atendimento dessas demandas de infraestrutura, assim como ocorreu nos países pioneiros na industrialização no mundo durante as Revoluções Industrias, foi observado o rápido crescimento das desigualdades sociais urbanas. A principal delas, a segregação sócio-espacial, evidenciou a desigualdade de riquezas presentes nas grandes cidades, além de alimentar o processo de especulação imobiliária, que ao precificar o espaço urbano de forma diferenciada, alimentou a divisão social do espaço urbano.

Cortiços no início do século XX no Rio de Janeiro.

Disponível em : http://educaterra.terra.com.br/literatura/realnaturalismo/rea_cortico.jpg, acesso em 20 de Dez de 2015.

O surgimento das metrópoles

O crescimento acelerado de algumas cidades industriais, acabou por

gerar grandes concentrações populacionais, e por consequência uma elevada densidade demográfica urbana. As cidades que atingiram o patamar de mais de um milhão de habitantes passaram a ser denominadas metrópoles (cidades mãe). Além do grande montante populacional, as metrópoles concentraram a riqueza gerada pela indústria, o que alavancou a atividade comercial e a prestação de serviços, que passaram a gerar postos de trabalho, aumentando o êxodo rural e o inchaço urbano.

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As metrópoles brasileiras, porém, potencializaram os problemas

sociais gerados pelo crescimento urbano acelerado. Nos dias atuais, elas representam a minoria das cidades brasileiras, o que demonstra como a urbanização do país foi concentrada espacialmente. Ao mesmo tempo, à medida que a população urbana das metrópoles aumentava e o espaço urbano diferenciava de acordo com os valores dos imóveis (segregação socioespacial), teve início o crescimento urbano horizontal, em que as cidades literalmente começaram a crescer em direção às suas extremidades.

População por Situação de Domicílio no Brasil – 2000-2010

Disponível em: http://atlasescolar.ibge.gov.br/images/atlas/mapas_brasil/brasil_urbanizacao.pdf, acesso em 10 de Dez de 2015.