a indústria têxtil de são bento-pb_da manufatura à maquinofatura

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Monografia de graduação sobre a mecanização da indústria de redes de dormr de são bento-pb

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA

CENTRO DE EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA

Rosalvo Nobre carneiro

A INDÚSTRIA TÊXTIL EM SÃO BENTO – PB: da manufatura à maquinofatura 

CAMPINA GRANDE2001

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ROSALVO NOBRE CARNEIRO

A INDÚSTRIA TÊXTIL EM SÃO BENTO – PB:da manufatura à maquinofatura 

Monografia de Conclusão de Cursoapresentada ao Departamento de História eGeografia da UEPB para a obtenção do graude licenciatura em Geografia, tendo comoorientador o professor Hélio de OliveiraNascimento  e como co-orientadora aprofessora Maria Aparecida da Silva. 

CAMPINA GRANDE2001

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL-UEPB

C289i Carneiro, Rosalvo NobreA indústria têxtil em São Bento-PB: da manufatura à

maquinofatura / Rosalvo Nobre Carneiro.– CampinaGrande: UEPB, 2001.

66f.: il. col.

Monografia (Trabalho Acadêmico Orientado – TAO)– Universidade Estadual da Paraíba

1- Indústria Têxtil I. Título

22. ed. CDD 338.47677

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ROSALVO NOBRE CARNEIRO

A INDÚSTRIA TÊXTIL EM SÃO BENTO – PB: da manufatura à maquinofatura 

Monografia de Conclusão de Cursoapresentada ao Departamento de História eGeografia da UEPB para a obtenção do graude licenciatura em Geografia, tendo comoorientador o professor Hélio de OliveiraNascimento  e como co-orientadora aprofessora Maria Aparecida da Silva. 

COMPONENTES DA BANCA EXAMINADORA:

 _________________________________________________ Prof. Ms Hélio de Oliveira Nascimento (UEPB)

 _________________________________________________ Prof. Ms Maria Aparecida da Silva (UEPB)

 _________________________________________________ Prof. Ms Marisa Braga de Sá (UEPB)

Campina Grande _____ de ______________ de 2001

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Dedico a meus pais, João e Rosalvae a Teresinha

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente a DEUS, pois sem ele não seria possível realizar esse

trabalho.

Agradeço também a todos aqueles que confiaram em mim e sempre me deram apoio

para conseguir realizar meus objetivos e meus sonhos.

Especialmente, agradeço à professora Maria Aparecida da Silva, que mesmo não

estando mais na UEPB não deixou de orientar este trabalho, no qual já o acompanha de

perto por quase dois anos.

Não posso deixar de mencionar a compreensão de todos aqueles proprietários de

fábricas que gentilmente se dispuseram a me atender, mesmo quando não possuíam tampo

disponível. Destacamos também a atenção e paciência com a qual os trabalhadores (as)

das tecelagens nos atenderam.

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LISTA DE FOTOS

FOTO 1 – Fio tinto ou de cor................................................................................................. 39

FOTO 2 – Urdição manual de fio........................................................................................... 54

FOTO 3 – Urdição de fio em equipamento elétrico (Urdideira elétrica)................................. 54

FOTO 4 – Tingimento em equipamento elétrico.................................................................... 55

FOTO 5 – Tecelagem (Teares elétricos)............................................................................... 56

FOTO 6 – Enchimento de espula (Espuladeira elétrica)....................................................... 56

FOTO 7 – Mulher empunhando rede (Banco de empunhar)................................................. 57

FOTO 8 – Trabalhador fazendo caré..................................................................................... 58 

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – São Bento: Mecanização das unidades produtivas por grupos de classe deano.................................................................................................................... 25

Tabela 2 – São Bento: Número de unidades produtivas por classe de ano de início deprodução........................................................................................................... 33

Tabela 3 – São Bento: Tipo de equipamento empregado no início da produção............... 33

Tabela 4 – São Bento: Mecanização das unidades de produção por grupos de classe deano e intervalo de início de produção............................................................... 34

Tabela 5 – São Bento: Média mensal de pessoas trabalhando nas unidades produtivas porfunção ou tarefa e sexo.................................................................................... 35

Tabela 6 – São Bento: Média mensal de pessoas trabalhando nas unidades produtivas porfunção ou tarefa e tipo de contrato de trabalho................................................ 36

Tabela 7 – São Bento: Média semanal de consumo de fio nos estabelecimentos industriais

por intervalos de peso...................................................................................... 37

Tabela 8 – São Bento: Média mensal de consumo de fio nas unidades produtivas porintervalo de peso.............................................................................................. 38

Tabela 9 – São Bento: Tipo de fio empregado na produção e número de unidades......... 39

Tabela 10 – São Bento: Número de máquinas e equipamentos nas unidades de produçãopor tipo de instrumento..................................................................................... 40

Tabela 11 – São Bento: Faixa etária dos trabalhadores da indústria por função ou tarefa egrupos de idade................................................................................................ 43

Tabela 12 – São Bento: Grau de instrução dos trabalhadores da indústria por função outarefa................................................................................................................ 44

Tabela 13 – São Bento: Grau de especialização profissional dos trabalhadores da indústriapor função ou tarefa que sabe executar no processo produtivo...................... 45

Tabela 14 – São Bento: Situação habitacional dos trabalhadores fabris segundo a função

ou tarefa........................................................................................................... 46

Tabela 15 – São Bento: Média mensal dos valores das residências de aluguel segundo

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valores de preço pago pelos trabalhadores..................................................... 47

Tabela 16 – São Bento: Número de trabalhadores por lugar de residência anterior........... 48

Tabela 17 – São Bento: Número de trabalhadores por função ou tarefa e lugar deresidência anterior............................................................................................ 49

Tabela 18 – São Bento: Número de trabalhadores nas unidades produtivas por função outarefa e tipo de emprego anterior segundo os setores da economia............... 50

Tabela 19 – São Bento: Produção média semanal dos produtos da indústria têxtil eunidades de medida correspondente............................................................... 62

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO....................................................................................................................... 9

1 O PROCESSO DE PRODUÇÃO DO ESPAÇO DE SÃO BENTO.................................. 12

1.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA.................................................................................... 12

1.2 ASPECTOS SÓCIO-POLÍTICOS E ECONÔMICOS.................................................... 14

2 SÃO BENTO: DA MANUFATURA À MAQUINOFATURA............................................. 17

2.1 DO ARTESANATO À MANUFATURA..........................................................................17

2.2 A TRANSIÇÃO DA MANUFATURA PARA A MAQUINOFATURA.............................. 20

3 A ESTRUTURA DA MAQUINOFATURA DE REDES DE DORMIR............................... 32

3.1 CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DA MAQUINOFATURA.......................................... 40

3.2 CARACTERÍSTICAS SÓCIO-ECONÔMICAS DOS TRABALHADORES FABRIS...... 42

3.3 A INDÚSTRIA TÊXTIL COMO FATOR DE ATRAÇÃO POPULACIONAL................... 48

4 O PROCESSO DE PRODUÇÃO DE REDES-DE-DORMIR........................................... 52

4.1 A PRIMEIRA FASE DO PROCESSO DE PRODUÇÃO............................................... 52

4.2 A SEGUNDA FASE DO PROCESSO DE PRODUÇÃO.............................................. 57

5 O PROCESSO DE COMERCIALIZAÇÃO....................................................................... 60

CONCLUSÃO........................................................................................................................ 63

REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 65

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INTRODUÇÃO

O objetivo do presente estudo é mostrar como se deu o processo de transição da

manufatura para a maquinofatura em São Bento – PB. Tenta-se analisar as circunstâncias

internas e externas que favoreceram o processo de mecanização da indústria têxtil local.

Para tanto, salienta-se o modo particular de desenvolvimento do capitalismo pelo qual

adentra no Brasil a partir de 1955 e passa a comandar a reestruturação do espaço e da

sociedade brasileira, bem como a forma como se apresenta nesse início de século XXI, no

qual é chamado de globalização.

A escolha do tema resultou, entre outras coisas, do fato de que, a indústria têxtil de

São Bento representa, ao nosso ver, um exemplo patente das rápidas transformações por

que vêm passando o mundo e o Brasil em particular, especialmente a partir do século

passado. Por outro lado, basta salientar que, é durante o século XX que a indústria assume

papel central na produção e na organização sócio-espacial brasileira, relegando, assim, as

atividades primárias (até então o carro chefe da economia nacional) para um plano

secundário.

A indústria de um modo geral passou, no decorrer da história por três fases distintas,

tais como a familiar, a artesanal e a atual chamada industrial. Essa última teve início no

século XVIII e se caracteriza pela utilização da máquina ferramenta, que é

um mecanismo que, uma vez lhe seja transmitido o movimento adequado, executa,com ferramentas, as mesmas operações que antes o operário executava com outrasferramentas semelhantes [...] ferramenta  converte-se de simples ferramenta emmáquina , quando passa das mãos do homem para peça de um mecanismo1.

Se a manufatura surge e pode ser entendida como a reunião de uma “[...] quantidade

relativamente grande de operários que trabalham ao mesmo tempo, em um mesmo lugar e

sob o comando do próprio capitalista”2 a maquinofatura, ou seja, a indústria moderna “[...]

1 MARX apud HARNECKER, Marta. Os conceitos elementares do materialismo histórico . 2. ed. rev. Rio de Janeiro.Global, 1983. p. 58. grifo do autor.

2 HARNECKER, op cit. p. 54.

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diferencia-se da manufatura pela forma que adquiriu nela o meio de trabalho [...]. O

processo de produção já não pode ser definido como a reunião de certo número de

operários, mas como um conjunto de máquinas dispostas a receber qualquer operário”

3

.Posto isto, e observando a ocorrência de semelhante processo no espaço de estudo,

decidiu-se por trabalhar a temática, isto é, a indústria têxtil em São Bento: da manufatura à

maquinofatura.

A partir desse contexto, busca-se analisar, por tanto, a especificidade do processo de

transformação da manufatura para a maquinofatura, enfatizando as suas peculiaridades

atuais e a permanência de velhas estruturas nessa atividade na área de pesquisa.

Este trabalho é resultado de uma pesquisa realizada entre os meses de novembro de

2000 a janeiro de 2001 nas tecelagens de redes de dormir de São Bento – PB. Na ocasião,

foram entrevistadas 35 unidades produtivas, e que se constituiu no universo de pesquisa do

presente trabalho. A listagem com os nomes das empresas foi adquirida na COLETORIA

ESTADUAL na cidade.

A coleta de dados foi realizada através de questionários estruturados com questões

fechadas e uma entrevista por meio de questões abertas. No primeiro caso, elaborou-se

dois tipos de questionários: um primeiro, destinado aos proprietários de fábricas e no qual

constavam de 21 perguntas; e um segundo, destinado aos trabalhadores fabris, estando

estruturado com 20 questões; No segundo caso, a entrevista foi dirigida para os produtores

locais.

A pesquisa procedeu-se nos horários normais de funcionamento da indústria local.

As entrevistas com os donos de tecelagens foram realizadas, em grande parte, dentro das

próprias unidades de produção e, em alguns casos, em horário programado pelo

proprietário. Quanto à aplicação de questionários junto aos funcionários das fábricas,

ocorreu de forma paralela ao horário de produção, ou seja, foram aplicados enquanto o

funcionário realizava sua função e, em determinados casos, foram feitas nos horários de

3 HARNECKER, Marta. Os conceitos elementares do materialismo histórico . 2. ed. rev. Rio de Janeiro. Global,1983. p. 58-59.

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folga, tanto pela manhã como pela tarde.

O presente trabalho está estruturado em cinco capítulos, que tentam assim,

responder aos objetivos propostos no trabalho.No capítulo 1, aborda-se o processo de produção do espaço de São Bento a partir do

século xx até os dias atuais.

No capítulo 2, analisa-se a transição da manufatura para a maquinofatura de redes

de dormir em São Bento. Nesse momento, busca-se analisar as condições que favoreceram

a mecanização da indústria têxtil no espaço em apreço.

Destaca-se ainda, nesse capítulo, o processo de transição do artesanato para a

manufatura na cidade, com o intuito de propiciar uma visão mais abrangente do processo

industrial em São Bento, a partir de suas origens e evolução histórica, e conseqüentemente

auxiliar na conclusão do presente estudo.

No capítulo 3, enfatiza-se a estrutura da maquinofatura de redes de dormir. Nesse

caso, abordando aspectos da atividade tais como, a estrutura da produção, as relações

sociais e a divisão social do trabalho etc. Destaca-se, ainda, nesse capítulo, a influência da

indústria têxtil de São Bento na atração populacional regional.

Os capítulos 4 e 5 destacam, respectivamente, o processo de produção e

comercialização de redes de dormir.

Por último, apresenta-se as conclusões ensejadas pelo presente trabalho,

destacando-se, entre outras coisas, a dinamicidade da industria têxtil de São Bento bem

como as deficiências do próprio trabalho, que se apresenta, por exemplo, na relatividade

das informações aqui contidas.

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1 O PROCESSO DE PRODUÇÃO DO ESPAÇO DE SÃO BENTO

1.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA

O município de São Bento localiza-se na mesorregião do sertão paraibano, mais

especificamente na microrregião geográfica de Catolé do Rocha no estado da Paraíba.

Apresenta como limites municipais, ao norte, o município de Brejo do Cruz; a oeste, Riacho

dos Cavalos e Catolé do Rocha; ao sul, Paulista e Serra Negra do Norte e a leste, Jardim de

Piranhas. Estas duas últimas cidades pertencentes à microrregião do Seridó no estado do

Rio Grande do Norte, e Paulista fazendo parte da microrregião de Sousa na Paraíba (Mapa

1).

Situa-se sobre os terrenos geológicos conhecidos como pediplano sertanejo, ou seja,

“uma sucessão de várias áreas deprimidas entre as cristas das serras, distribuídas ao longo

das bacias hidrográficas do Piranhas, Espinharas etc”4. Essas áreas, que abrangem o

pediplano sertanejo, apresentam altitudes que podem variar de 100 até 300 metros em

relação ao nível do mar. O município apresenta, de modo geral, um relevo aplainado e com

pequenas variações de terrenos, bem como a ocorrência de pequenas serras, localmente

chamadas de “serrotes”.

A vegetação, de caatinga, é formada por gêneros de árvores da família das

leguminosas-mimosáceas como as piptadenias (angicos), pithecolobium tortum (jurema) e

por árvores da família das ramnáceas à exemplo da zizyphus joazeiro (juazeiro) etc.

Compõe-se ainda por plantas da família das euforbiáceas (oiticicas), principalmente às

margens do Rio Piranhas que atravessa a cidade e aparecem como testemunhos de antigas

matas ciliares.

4 RODRIGUES, Janete Lins (coord). Atlas Escolar da Paraíba : espaço geo-histórico e cultural. João Pessoa:GRAFSET, 1997. p. 29.

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 MAPA 1 - SÃO BENTO: LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA NA MICRORREGIÃO DE CATOLÉ DO ROCHA – P

Fonte: IBGE, IBG – DEGEO, IBE - DECEN. Divisão municipal : microrregiões homogêneas. Estado da Paraíba. 1970. Escala 1: 5CARTOGRAFIA. Municípios, micro e mesorregiões. Estado do Rio Grande do Norte. 1970. Escala 1: 1 000 000. SIMIELLI, MaPaulo: Ática, 2002, p. 41. Escala 1:10. 000. 000. RODRIGUES, Janete Lins. Atlas escolar da Paraíba : espaço geo-histórico e cul1: 1. 000. 000.

Desenho: Rosalvo Nobre Carneiro.

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O clima é quente e seco, com temperaturas variando entre 18°C  e 38°C.

Corresponde na classificação climática de W koppen ao tipo climático identificado como

bsh

5

, ou seja, clima seco ou de estepes muito quente e com temperatura média anualsuperior a 18°C.

Apesar da pouca ocorrência de chuvas no sertão nordestino e em particular em São

Bento, o Rio Piranhas é perene desde 1958, o que contribui para diminuir os efeitos da

estiagem na cidade e região.

Os solos, como a maior parte dos solos paraibanos, são rasos e pedregosos. Porém,

apresenta na área banhada pelo Rio Piranhas solos de várzea, mais profundos e de maior

fertilidade.

1.2 ASPECTOS SÓCIO-POLÍTICO E ECONÔMICO

A origem do município de São Bento remonta ao final do século XIX, quando em

1889 é fundada uma pequena igreja ao redor da qual a cidade passa a erguer-se. A sua

emancipação política ocorre em 29 de abril de 1959, sendo que, até essa data, fazia parte

do município vizinho Brejo do Cruz – PB.

Após sua emancipação política tratou-se de escolher aquele que seria o primeiro

prefeito da cidade, o comerciante de fio João Silveira Guimarães.

De acordo com o IBGE6 a população absoluta de São Bento em 1991 era de 21.583

habitantes. Em 19957 ela passou para 24.594, atingindo no ano 2000 um total de 26.136

habitantes, conforme o guia rodoviário 2001 da editora Abril, o que corresponde a uma

densidade demográfica de 95, 04 hab/km².

O crescimento populacional da cidade ultrapassa os 3,0%, tendo chegado em 1991 a

5 RODRIGUES, Janete Lins (coord). Atlas Escolar da Paraíba : espaço geo-histórico e cultural. João Pessoa:GRAFSET, 1997. p. 33. 

6 IBGE. Censo demográfico da Paraíba . 2001.7 Idem., Contagem da população. 2006.

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3, 61%, sendo considerado um dos índices mais elevados do estado da Paraíba juntamente

com cidades como Cabedelo (3, 90%) e a capital João Pessoa (3, 80%) entre outras8.

A base econômica de São Bento é a indústria, mais especificamente a têxtil. Astecelagens de redes de dormir marcam intensamente a paisagem do município. Essa

atividade é responsável pela absorção da maior parte da população economicamente ativa

local.

No setor de comércio as atividades formais vêm aumentando nos últimos anos, com

o surgimento de novos estabelecimentos comerciais, através da abertura de filiais de lojas

como a N.  CLAUDINO, ARMAZÉM PARAÍBA, LOJAS POTYGUAR, entre outros de capitais locais.

Simultaneamente a esse aumento das atividades do setor formal da economia, está

havendo um recuo das atividades do setor informal, isto é, dos ambulantes ou camelôs que

realizam a feira livre da cidade, comumente feita nas segundas-feiras.

A tradicional feira da pedra9 possui, no entanto, grande importância local e regional

no que diz respeito ao setor terciário. Nela, são comercializados ao ar livre, grande parte dos

produtos têxteis fabricados na cidade, estes geralmente dos pequenos produtores locais.

Sua importância regional advém, principalmente, do fato de que os produtores dos

artigos têxteis das demais cidades da região costumam vender aí seus produtos, disputando

o mercado local e em alguns casos concorrendo com vantagem. Isso se explica pelo fato

desses produtos serem geralmente baratos, pois boa parte deles são produzidos de modo

informal, sem arcar, por tanto, com nenhum tipo de ônus, barateando, assim, o produto final,

como afirmaram alguns proprietários de fábricas entrevistados.

O setor primário apresenta-se pouco desenvolvido, com destaque para a pecuária

bovina, principalmente o leiteiro, embora haja o criatório voltado para o abate.

Na atividade agrícola, o município se destaca no cultivo de feijão, milho e arroz.

Apesar de apresentar condições favoráveis à cultura irrigada, como é o caso da perenização

8

RODRIGUES, Janete Lins. Atlas Escolar da Paraíba : espaço geo-histórico e cultural. João Pessoa: GRAFSET,1997. p. 42.9 Espaço físico, na feira livre de São Bento que se realiza, tradicionalmente, nas segundas-feiras, reservado

exclusivamente para a comercialização de redes e demais artigos têxteis fabricados pela indústria têxtil local,e das cidades circunvizinhas. 

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do Rio Piranhas, esse tipo de cultura ainda se apresenta pouco desenvolvido. Entre as

culturas irrigadas destaca-se a da banana, melão, coco, feijão e milho etc.

Por falta de análises mais acuradas a respeito da atividade agrícola local, restringe-se os comentários mais profundos acerca dessa realidade, bem como por não fazer parte

dos objetivos do trabalho.

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2 SÃO BENTO: DA MANUFATURA À MAQUINOFATURA

A questão que se coloca nesse capítulo é, que circunstâncias ou fatores foram

favoráveis ao processo de transformação da manufatura para a maquinofatura em São

Bento.

No que tange a essa problemática, busca-se identificá-la e analisá-la, reconhecendo

a sua real importância e contribuições para esse processo.

2.1 DO ARTESANATO À MANUFATURA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES10 

A atividade industrial em São Bento tem início com a fabricação de redes de dormir

de forma artesanal. Estas eram fabricadas com instrumentos rudimentares, como é o caso

dos teares de três panos11, sendo o cordão produzido manualmente e pelas mulheres,

enquanto o tingimento realizava-se tendo como matéria-prima, cascas de árvores que

possuíam pigmentos de cor, tais como a aroeira e o coassú e outras que eram postas em

panelas de barro para ferver.

A comercialização das redes era feita, tendo em vista as condições técnicas de

produção, então vigentes, com muita dificuldade e limitava-se à troca ou à venda em feiras

livres da região. Basta salientar que essa atividade surge em São Bento nas primeiras

décadas do século passado, período em que o processo industrial brasileiro começa a dar

os primeiros passos e onde as condições de infra-estrutura do espaço nacional se

constituem de forma precária, o que, em última análise, dificultava sobremaneira o comércio

10

Escrito com base no trabalho de ROCHA, José Bolívar V. Do artesanato à manufatura. In: São Bento : Estudosobre a manufatura de redes de dormir. João Pessoa. CGS, 1983. p. 39-43.11 Tear de dimensões pequenas na qual à tecelagem do fio não se usa lançadeira. Esse nome advém do fato de

que para confeccionar a rede no tamanho adequado se tecem três tiras de panos que em seguidas sãounidas ou costuradas para formar a largura apropriada da rede de dormir.

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dos produtos do espaço em questão.

Um fato importante que contribuiu de forma marcante para alterar a situação em que

se encontrava a produção local, foi o aparecimento do fio industrializado em São Bento.Essa matéria-prima foi trazida, inicialmente, das cidades de João Pessoa, Campina Grande

e Natal por comerciantes locais de pequenos estabelecimentos comerciais.

Esse fato, toda via, não revolucionou o modelo produtivo, a priori, então vigente, que

permanecia com suas características de produção familiar. Porém, lança as bases para uma

transformação substancial no caráter produtivo dessa atividade em nível local, que podem

ser vistos nos seguintes pontos:

a) Inicialmente os comerciantes locais passaram a vender o fio a credito e

posteriormente receber redes prontas como forma de pagamento, por parte

dos produtores familiares;

b) Com a utilização do fio industrializado e o gradativo abandono das técnicas

de fiar manual começa a haver excedentes de maiores proporções, em

função, principalmente, do ganho de tempo e aumento da produtividade

proporcionado pela “nova” matéria-prima (fio industrializado) empregado na

produção.

Esses fatores vão, posteriormente, com a introdução do tear batelão12 na produção,

em fins da década de 1920 e início da seguinte, formar o alicerce sobre o qual se erguerá a

manufatura.

Com o aparecimento desse tear, mais moderno, estabelece-se uma divisão do

trabalho na produção familiar: os homens passaram a se dedicar exclusivamente à primeira

fase da produção já que envolve maior força física, podendo ser dividida em várias etapas

tais como, a da urdição, a do alvejamento e tingimento e da tecelagem do fio entre outros.

12 Tear batelão: corresponde a um tear largo e que permite tecer o fio (pano) na largura apropriada para aconfecção da rede de dormir. Diferentemente do tear de três panos, ele inclui o uso da lançadeira. O nomebatelão advém das grandes dimensões que esse tipo de tear apresenta.

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As mulheres passam a se dedicar exclusivamente da segunda fase da produção,

chamada de acabamento e que corresponde à confecção do fio já tecido (pano) em rede de

dormir.Assim, é através de uma matéria-prima fabricada industrialmente (fio de algodão) e

o aparecimento de um novo tipo de tear em São Bento que os produtores familiares passam

a se subordinar aos comerciantes de fio locais (na época dois) já que eles monopolizavam

sua venda.

Esses fatos apesar de representarem um avanço no sistema produtivo,

concomitantemente, parece ter agido contraditoriamente para o surgimento “prematuro” da

manufatura em São Bento. Primeiro, em função do próprio monopólio da venda do fio pelos

comerciantes locais que, desse modo, exploravam o modelo produtivo de base familiar;

segundo, porque a comercialização dos produtos passava pelas mãos dos mesmos

comerciantes. Assim, apesar dos avanços técnicos referidos, a atividade não sofreu grandes

transformações em sua estrutura, ficando a produção dos produtos a cargo das unidades

familiares.

A primeira manufatura se instala em São Bento em 1958, sendo essa data

representativa do novo estágio de produção da atividade em ralação à fase anterior.

A introdução da primeira manufatura na região foi feita pelo senhor Manoel Lúcio, na

época, filho de agricultores que também trabalhavam com a tecelagem de fio. Após deixar a

região retornou dez anos mais tarde e implantou a manufatura na cidade. Antes mesmo de

realizar esse empreendimento em São Bento, ele já era proprietário de tecelagem de redes

de dormir em Mossoró, no Rio Grande do Norte.

A par da conceitualização sobre manufatura basta salientar que ela veio representar

o ponto limite das mudanças na atividade da cidade e introduziu algumas características

peculiares no processo produtivo, quais sejam:

a) O modelo técnico até então vigente tinha por principal característica o

trabalho familiar, sendo o trabalho assalariado em pouquíssimas

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proporções. Com a manufatura adota-se o assalariamento como forma de

trabalho regular em função principalmente da elevada quantidade de teares

empregada na produção;b) A introdução do alvejamento13 do fio através do uso do cloro e o emprego de

tintas industriais para tingi-lo;

c) Deu início à venda regular, dos produtos têxteis, para outros estados por

meios de veículos próprios, localmente chamados de mecedinhas14.

2.2 A TRANSIÇÃO DA MANUFATURA À MAQUINOFATURA

No decorrer das entrevistas com os proprietários das tecelagens, foi possível

identificar alguns fatores que favoreceram o processo de mecanização da indústria têxtil de

São Bento, quais sejam:

a) A expansão do mercado. Nesse caso, corresponde ao mercado do Centro

Sul, uma vez que, o mercado nordestino e do Norte já era palco de

distribuições e comercialização de seus produtos;

b) A exploração da força de trabalho e a questão das leis sociais;

c) A concorrência interna;

d) A localização espacial do município de São Bento, próxima aos pólos têxteis

(fiações) do Nordeste;

e) A política governamental de incentivos financeiros a pequenas empresas,

através de instituições bancárias;

f) O reaparelhamento da indústria têxtil do Centro Sul;

13 Ver à esse respeito o capitulo 4, que trata sobre o processo de produção de redes de dormir e na qual define-se essa expressão. 

14 São veículos da MERCEDES BENZ e são chamados de mecedinhas devido às suas pequenas dimensões,quando comparados a outros tipos de caminhões.

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g) A nova divisão regional do trabalho no Brasil, que se instala a partir de 1960;

h) O crescimento demográfico do país e do espaço de estudo.

Buscando demonstrar como esses fatores repercutiram na atividade local,

contribuindo para o seu desenvolvimento e mecanização das fábricas, buscar-se-á as

conexões e interligações entre eles, de modo a manter uma coerência estrutural das idéias

aqui formuladas.

A sociedade e o espaço brasileiro vão passar por profundas transformações a partir

de 1955 com o chamado período desenvolvimentista, e de integração econômica regional.

Mostra-se que tais transformações repercutiram positivamente em São Bento no que tange

ao processo de mecanização de suas manufaturas.

Nesse momento (1955), o governo JK, ao implantar o Plano de Metas15 passa a

privilegiar, entre outros setores, o de investimentos na melhoria da infra-estrutura do país, o

que irá repercutir em melhores condições de escoamento da produção de São Bento para

outras regiões do Brasil. Porém, esse é o período em que a manufatura vai ser introduzida

no espaço em questão. Pode-se dizer que, nesse momento, tem-se início a comercialização

dos produtos manufaturados locais, embora, em pequenas proporções.

No entanto, a partir da década de 1970, quando ganha impulso o processo de

integração nacional através do PIN (PROGRAMA DE INTEGRAÇÃO NACIONAL), os efeitos na

economia local vão ser significativos. Um dos produtores locais, assim respondeu, quando

indagado a respeito das condições que favoreceram a mecanização da indústria têxtil de

São Bento: “[...] o primeiro passo que fez isso, foi essa venda de rede para o sul, que

começou no final dos anos 80 pra 90, fez com que escoasse a produção para o sul do país

[...] com certeza foi isso que levou a mecanizar a fabricação de redes” (informação verbal).

“Enquanto o país melhora a sua fluidez e conhece uma maior expansão do

capitalismo, bom número de bens que eram produzidos apenas como bens de consumo

15 “O Plano de Metas consistia no planejamento de trinta metas prioritárias distribuídas em cinco grandesgrupos, mais a construção da nova capital do país – Brasília – no Planalto Central”. BRUM, Argemiro. O desenvolvimento econômico brasileiro . 18. ed. Petrópolis: Vozes, 1998. p. 234. 

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local, ou outros que tinham apenas valor de uso, transformam-se em valores de troca”16.

Desse modo, a difusão dos produtos têxteis fabricados em São Bento por todo o território

nacional pode ser considerado decisivo para o reaparelhamento de sua indústria, ou, emoutras palavras, para o processo de transição da manufatura para a maquinofatura.

A influência do mercado nacional nesse processo é apenas um recurso necessário à

explicação do mesmo, pois há tempos que a cidade vende seus produtos para o mercado

exterior, particularmente o latino americano. Assim, pode-se destacar que, desde pelo

menos a segunda metade da década de 1970 há comercialização de redes para países que

fazem fronteira com o Brasil, como é o caso da Bolívia e do Paraguai17

.

Destarte, pode-se afirmar que a reestruturação territorial do espaço brasileiro,

principalmente nas quatro últimas décadas do século xx, vai ser decisivas para a expansão

comercial dos produtos têxteis locais e conseqüente acumulação de capital, necessário,

para o reinvestimento na “modernização” das suas fábricas ou tecelagens. Isso porque

é apenas após a segunda guerra mundial que a integração do território se torna viável,quando [...] constroem-se estradas de rodagem, pondo em contato as diversas regiões

entre elas e com a região polar do País, empreende-se um ousado programa deinvestimentos em infra-estruturas18.

A situação em que se encontra a classe dos trabalhadores fabris de São Bento, no

decorrer do século xx e da história da indústria têxtil do município, aparece como um dos

principais alicerces para a sustentação da atividade e sua mecanização.

Observa-se que os operários da indústria de São Bento, historicamente foram e

continuam sendo marginalizados – à exceção de um pequeno número – de quais querproteção das leis trabalhistas, em função do fato de não trabalharem mediante vínculo

empregatício formalizado com as unidades de produção na qual fazem parte.

Esse fato “marginaliza” o proletariado da indústria de São Bento, pois relega a eles

os direitos sociais básicos garantidos por leis, como o seguro desemprego, inscrição no

FGTS, INSS, entre outros.

16 SANTOS, Milton. A urbanização brasileira . 4. ed. São Paulo: Hucitec, 1998. p. 43.17 ROCHA, José Bolívar V. da. São Bento: Estudo sobre a manufatura de redes de dormir . João Pessoa: CGS,

1983. p. 116.18 SANTOS, op. cit., p. 36.

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Por outro lado, isso privilegia uma parcela de pessoas – proprietários de fábricas –

que se apropriam desse sobretrabalho, ou com mais propriedade, dos lucros que esse

sobretrabalho proporciona (mais valia relativa). No dizer de CORRÊA19

“o trabalho excedenteé a fonte do valor excedente ([...] mais valia etc). O valor excedente apropriado e acumulado

é em parte investido em novas atividades [...] visando a geração de novos e ampliados

excedentes”.

Pode-se visualizar melhor essa situação observando a figura 1, que mostra a

porcentagem de trabalhadores com vínculo empregatício formal e informal na indústria têxtil

de São Bento em 1979 e 2001.

FIGURA 1 – SÃO BENTO: PERCENTAGEM DE TRABALHADORES COM VÍNCULOEMPREGATÍCIO FORMAL E INFORMAL COM AS UNIDADESPRODUTIVAS

21

33

67

79

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

Formal 1

Formal 2

Informal 3

Informal 4

      C      O      N      T      R      A

      T      O

TRABALHADORES (%)

 Fonte: (2/4) 2001. Dados primários – pesquisa de campo. (1/3) 1979. Rocha, JoséBolivar V. da. São Bento : estudo sobre a manufatura de redes de dormir. João Pessoa:

CGS, 1983. p. 89.

A ampliação das manufaturas e das unidades manufatureiras, ligadas a uma

histórica, mas relativa informalidade da atividade, que se traduz, por exemplo, na não

inscrição de algumas unidades junto à COLETORIA ESTADUAL, e a situação, já mencionada,

dos trabalhadores fabris de São Bento propiciou aos proprietários das tecelagens,

conseqüentemente, obterem maiores lucros, ou, em outras palavras, reduzir os custos de

produção e despesas.

19  CORRÊA, Roberto Lobato. A Rede urbana . 2. ed. São Paulo: Ática, 1994. p. 51.

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Esse montante de capital, proporcionado pela situação acima descrita, podia, assim,

ser carreado para a própria atividade sobre a forma de investimento ou reinvestimento,

utilizado, desse modo, sobre a forma de capital produtivo. Este, acumulado na manufatura,poderia, assim, servir como estímulo ao processo de industrialização de São Bento,

favorecendo o processo de transição da manufatura para a maquinofatura. Basta salientar

que para CORRÊA20 

a lógica capitalista de acumulação, caracterizada pela minimização dos custos emaximização de lucros e apoiada no progresso técnico, suscita o aumento da escalade produção assim como da área onde esta se realiza. Amplia-se também acirculação, e a acessibilidade é redefinida em função dos novos modos de circulação.

Essa colocação é exemplar para mostrar o que ocorrera no espaço em apreço, no

que tange ao processo de transição da manufatura para a maquinofatura. A acumulação de

capital no período da produção manufatureira e a sua conseqüente reinversão na atividade,

estimularam a mecanização da produção, contribuindo, em parte, para o “desenvolvimento

técnico” da indústria local, isto é, a sua mecanização.

Essa transformação implicou, por seu turno, em aumento da escala de produção dos

artigos têxteis (redes particularmente) locais, tornando, dessa forma, imperativo ampliar o

mercado dos produtos, bem como a circulação das mercadorias.

De grande importância para esse processo, foi a localização espacial de São Bento,

em especial após 1960 quando passa a se dar uma nova divisão regional do trabalho no

país.

Nos anos recentes, movimentos importantes da economia brasileira tiveramrepercussões fortes na região Nordeste. Tendências da acumulação privadareforçadas pela ação estatal, quando não comandadas pelo Estado brasileiro,fizeram surgir e se desenvolver no Nordeste diversos subespaços dotadosde estruturas econômicas modernas e ativas, focos de dinamismo em grandeparte responsáveis pelo desempenho relativamente positivo apresentado pelasatividades econômicas na região21.

Desse modo, admite-se que a sua localização (São Bento) privilegiada, em lugar

onde se permite fácil acesso a esses subespaços dinâmicos (Pólo têxtil de Fortaleza,

Campina Grande e Sergipe etc) contribuiu decisivamente para o seu processo de

20 CORRÊA, Roberto Lobato. A rede urbana. 2. ed. São Paulo: Ática, 1994. p. 48-49.21 ARAÚJO, Tânia Bacelar de. Nordeste & Nordeste . Recife: UFPE, 1979. p. 132.

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mecanização. Esse fato deve ser ressaltado, particularmente, quando se considera que

o [...] pólo têxtil de Fortaleza [...] desponta como um dos mais importantes centros dosetor, tanto em âmbito regional como nacional. Entre 1970 e 1985, o número deestabelecimentos têxteis do Ceará cresceu de 155 para 358, enquanto os ligados ao

vestuário passavam de 152 para 85022

.

Vê-se que, esses dados que indicam crescimento de novas unidades em Fortaleza,

deve-se, sobretudo, a dinamização de seu parque industrial têxtil. Esse aumento de

estabelecimentos têxteis no Ceará, que ocorre entre 1970 e 1985 se dá concomitantemente

a uma maior mecanização, a partir dessa data, das unidades manufatureiras de São Bento,

conforme tabela 1, embora, não se possa afirmar, que haja uma relação direta entre as duas

situações.

TABELA 1 - SÃO BENTO: MECANIZAÇÃO DAS UNIDADES PRODUTIVAS PORGRUPOS DE CLASSE DE ANO23 

CLASSE DE ANO NÚMERO DE UNIDADES %Antes de 1980 2 101980 – 1985 5 25

1985 – 1990 5 251990 – 1995 8 401995 – 2000 - -TOTAL 20 100

Fonte: Dados primários – pesquisa de campo

Os dados da tabela 1 mostram que apenas duas indústrias se mecanizam antes de

1980, cinco conseguem entre 1980 – 1985, outras cinco de 1985 – 1990, e oito unidades

mecanizam sua produção no período que vai de 1990 – 1995. O intervalo de ano que seguede 1995 – 2000 não apresenta nenhuma unidade, o que se pode, a princípio concluir, que, o

ano de 1994 aproximadamente marca ou baliza o limite entre a fase anterior (manufatureira)

e a posterior (maquinofatureira) da indústria têxtil de São Bento, e que se constitui na fase

atual.

É necessário, no entanto, frisar que, por localizar-se próximo ao mercado de fio – sua

22 ARAÚJO, Tânia Bacelar de. Nordeste & Nordeste . Recife: UFPE, 1979. p. 133.23 As outras 15 unidades produtivas não estão incluídas, pois, quando do seu início, elas já surgem em caráter

de maquinofatura.

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principal matéria-prima – São Bento foi amplamente favorecida por essa situação em seu

processo de mecanização, haja vista que, esse fato representa redução de custos de

transporte, quando comparado a outras regiões brasileiras também vendedoras dessesprodutos.

Essa análise, não implica dizer, porém, que a existência desses pólos no Nordeste

foi a responsável pela localização da indústria têxtil em São Bento, no semi-árido paraibano,

pois, nos lembra ESTALL; BUCHANAN24 quando dizem que algumas “[...] indústrias estão

presas aos custos e inconveniências de movimentar matérias-primas e produtos, mas não

precisam atribuir aos custos de transferências o primeiro lugar quanto às decisões de

localização”.

A necessidade de ampliar a produção de modo a atender a demanda, ampliada, bem

como a necessidade de ganho de competitividade atuou como estimulante para que os

proprietários buscassem mecanizar suas fábricas têxteis. Um deles [produtores] afirmou que

a mecanização da indústria têxtil ocorreu “[...] porque agente tava atrás de uma produção

maior, o manual não tinha como atender. Todo mundo começou a ampliar e agente teve que

acompanhar o desenvolvimento” (informação verbal)25.

Este desenvolvimento refere-se, sobretudo, ao reaparelhamento da indústria de São

Bento, ou seja, ao abandono gradual dos equipamentos manuais e a sua substituição pelos

elétricos.

No final da década de 1960, a indústria têxtil do estado era constituída basicamente depequenas unidades familiares que produziam redes de dormir [...]26  A atividade

ganhou intensidade na década de 70, quando começaram a chegar a São Bento osteares aposentados pelas modernas indústrias têxteis do Sudeste brasileiro. A maiorparte das máquinas veio de Americana, interior de São Paulo27.

Atualmente, todas as tecelagens que foram objeto de estudo dessa pesquisa ou

24 ESTALL, R. C & BUCHANAN, R. Cogilvie. Atividade industrial e geografia econômica . 2. ed. Rio de Janeiro: ZaharEditores, 1976. p. 22.

25 Fala do início de sua produção, gastos com máquinas e mão-de-obra, do início das vendas de redes dedormir para o sudeste e o sul na década de 1980, da influencia do cruzeiro e do real na atividade, dacomercialização de seus produtos, entre outros temas.

26

RAPOSO, Patrícia. Expansão ganha reforço mineiro: gigante de Minas Gerais chega ao estado, criando o maiorcomplexo mundial do setor. Gazeta Mercantil: Balanço Anual Paraíba, Recife, ano II, n. 2, ago. 2000. p. 32.27 FRANCO, Luciana; RAPOSO, Patrícia. Cair na rede é negocio seguro: São Bento é fértil, tem água, mas a

população prefere o artesanato ao campo. Gazeta Mercantil: Balanço Anual Paraíba, Recife, ano II, n. 2, ago.2000. p. 35.

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trabalho encontram-se industrializadas, ou seja, utilizando equipamento elétrico na linha de

produção. Este fato foi facilitado pela modernização do parque industrial têxtil do Sudeste,

que passou a vender suas antigas máquinas (sucatas), a preço irrisório, no que São Bentose beneficiou, já que passou a adquirir esses equipamentos rapidamente e a introduzi-los no

processo produtivo.

Embora uma parte desses fabricantes ainda empregue urdideiras manuais no

processo produtivo, não implica dizer que essa industrialização/mecanização da indústria

têxtil do espaço em questão não se efetivou, ou que possui limites.

Desse modo, salienta-se que, a permanência desses equipamentos, deve-se, ao fato

de que algumas unidades produtivas trabalham com pequena quantidade de teares, abaixo

de oito, o que, segundo os produtores, não justifica adquirir uma urdideira elétrica, já que a

manual atende a demanda de fio urdido, necessário para a tecelagem do pano.

Foi identificado, também, que, essa permanência (urdideira manual) dá-se em função

da falta de local, nas fábricas, para instalar a urdideira elétrica, devido à sua grande, mas

relativa, dimensão.

MOREIRA28, mostrando a relação entre os tipos de indústria e os financiamentos no

Nordeste, por parte dos recursos advindos do 34/18, identifica que as pequenas empresas

“não tinham condições institucionais nem empresariais para obterem estes recursos, dadas

as próprias características de utilização e disponibilidade do 34/1829. Este fato comprova a

exclusividade do 34/18 e reafirma o seu caráter concentrador”.

Essa questão é colocada para que se possa perceber que a indústria têxtil de São

Bento desenvolveu-se basicamente com a utilização de capitais próprios, gerados

localmente, e a revelia desses incentivos governamentais, a exemplo das atividades

industriais nordestinas quando do início de sua implantação, e, no qual ANDRADE30 

demonstra, quando afirma que essas atividades tiveram duas fases distintas na região:

28 MOREIRA, Raimundo. O Nordeste brasileiro : uma política regional de industrialização. Rio de janeiro: Paz e

Terra, 1979. p. 119.29  “Tal designação provém dos artigos 34, da lei nº 3995 de 14.2.61, e 18, da lei 4239, de 27.6.63, que criaram eregulamentaram os incentivos para inversões no Nordeste”. Ibidem. 1979, p 88.

30 ANDRADE, Manuel Correia de. Geografia econômica do Nordeste : o espaço e a economia nordestina. 4. ed.São Paulo: Atlas, 1997. p. 121.

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A primeira processou-se espontaneamente, sem planejamento e feita sobretudo porgrupos econômicos locais, que utilizavam os capitais de que dispunham ouconseguiam mobilizar. Estava ligada, principalmente, à produção agrícola regional eresultava muitas vezes do crescimento e transformação de uma atividade artesanal. Asegunda resultou de uma política de planejamento organizada e dirigida pela Sudene,visando a transferir para o Nordeste capitais de grupos econômicos nacionais eestrangeiros instalados sobretudo no Sudeste do País.

Desse modo, a atividade industrial de São Bento, não fugiu a regra regional no que

diz respeito a sua primeira fase industrial. Todavia, o que nos interessa mais de perto é

analisar até que ponto a indústria têxtil local em seu processo de constituição em

maquinofatura foi beneficiada por recursos financeiros de instituições governamentais.

Esse aspecto do financiamento é destacado por ROCHA31 já em fins da década de

1960, quando mostra a relação ente o surgimento de novas unidades produtivas em nível

local e a recuperação da economia nacional em 68/69. Essa recuperação teria beneficiado a

indústria de São Bento através, dentre outras coisas, do crédito bancário, que teria se

tornado mais acessível.

Pode-se depreender de tudo isso que, embora as pequenas e mesmo as grandes

empresas de São Bento não tenham sido atingidas pelas benesses dos recursos da

SUDENE, o Estado tratou de suprir essa deficiência por meio das instituições bancárias.

Assim, passada a fase em que a indústria de São Bento se desenvolveu apoiada,

sobretudo, ao capital individual investido ou reinvestido na atividade, ela adentra numa nova

etapa – a do financiamento governamental – este, passando, dessa forma, a atuar como um

mecanismo “modernizante” da economia local.

Em uma outra passagem ROCHA32

 mostra que era de praxe os pequenos produtoresobterem empréstimos através de uma linha de crédito do BANCO DO BRASIL, denominada por

eles de “empréstimo industrial” e que era concedida uma vez por ano.

Constatou-se nas entrevistas realizadas com os proprietários fabris que algumas

unidades produtivas, em algum momento, optou em adquirir empréstimo bancário como

forma de aumentar o seu empreendimento industrial. Há caso, inclusive, em que os

31 ROCHA, José Bolivar V. da São Bento: Estudo sobre a manufatura de redes de dormir . João Pessoa: CGS,1983. p. 48. 

32 Ibidem., 1983. p. 110.

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equipamentos elétricos foram, adquiridos todos, mediante financiamento concedido por

alguns organismos financeiros federais, como o SEBRAE.

Um dos produtores entrevistados, e industrial remanescente da época do surgimentoda manufatura em São Bento, tendo iniciado sua atividade em 1964, seis anos após a

introdução da primeira manufatura na região, colocou que é a partir da passagem da

manufatura para a maquinofatura que há uma maior facilidade de obtenção do crédito

bancário por parte dos produtores locais. Afirma ele:

[...] nesse período que houve essa mudança desse tear de madeira para o tearmecânico, não sei se tem uma relação direta, mas foi justamente o período que haviacrédito mais barato, 6% ao ano. Você tinha 6 meses de carência pra começar a

pagar, no final do período, os meses, quando você não conseguia pagar, aí oBanco chegava, renegociava aquele seu déficit, renovava seu crédito com aquelasmesmas taxas de juros (Informação verbal)33.

A princípio, pode-se aferir, com base no que foi dito acima, que essa facilidade na

obtenção de empréstimo bancário se constituiu em um dos fatores responsáveis pela

“modernização” da indústria têxtil da área de estudo, contribuindo de forma significativa para

o abandono, por tanto, da produção em moldes artesanais, como era o caso da manufatura,

para a produção mecanizada.

O crescimento populacional do país, por sua vez, pode ser tido como uma condição,

indireta, para a expansão da maquinofatura de São Bento, embora esse crescimento não

tenha representado uma melhora nas condições de vida (renda) da população.

Se antes de 1960 parece ter havido uma melhora na distribuição de renda da

população, após essa data há uma inversão em direção a concentração de renda da

população. “O impacto negativo da concentração de renda [...] foi, porém, em parte,

atenuado pelo aumento expressivo das vagas de trabalho, decorrente da expansão

econômica e empresarial, o que permitiu acesso ao emprego a maior número de pessoas

por família, na área urbana”34.

Essas observações, no entanto, não se constituíram num entrave da demanda de

33 Fala do financiamento para a indústria têxtil de São Bento na década de 1970 e seguintes, destacando opapel do Banco do Brasil como prestador desse serviço. Inclui informação sobre compra e venda de matérias-primas para São Bento nesse período e o papel do cruzeiro e do real na economia local.

34 BRUM, Argemiro. O desenvolvimento econômico brasileiro . 18ª ed. Petrópolis: Vozes. 1998. p. 353. 

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redes de dormir e outros produtos têxteis fabricados em São Bento, haja vista que a

expansão da sua indústria ocorreu concomitantemente às já consolidadas desigualdades

sociais do Brasil.Essa situação se deve, principalmente, ao fato de que a rede de dormir é

considerada um artigo popular, ou seja, de baixo valor comercial, e que, por isso, pode ser

adquirido sem maiores dificuldades por pessoas de baixa renda ou poder aquisitivo.

Acrescenta-se a isso, que ela (rede), diferente de alguns produtos de vestuário que se

consomem facilmente, é um artigo que tem um elevado, mas relativo tempo de vida útil.

A aglomeração aparece, desse modo, como um fator da produção e do consumo dos

artigos têxteis locais. SANTOS35, comentando sobre alguns efeitos positivos da aglomeração,

enfatiza que “a aglomeração favorece a produção porque favorece a distribuição e favorece

o consumo”.

ROCHA36 ao estudar a manufatura de redes de dormir em São Bento, em 1979, época

em que a mecanização já havia se iniciado, colocava dois possíveis problemas que

tenderiam a freá-la, quais sejam:

a) O primeiro diz respeito à necessidade de mecanizar toda a preparação do

fio, antes da tecelagem, o que envolve a compra de urdideiras, conicaleiras

e tingimento mecânico etc, representando tal investimento uma soma

considerável de capital;

b) O segundo, porque há um período necessário para confeccionar a rede que

pode chegar até trinta dias desde a entrada do fio na tecelagem até obter-se

o produto acabado.

Mais adiante, afirma que o aumento da produção via mecanização possui limites,

sendo que, talvez o mais significativo seja o representado pela possibilidade de produção da

35 O FUTURO já chegou. Carta Capital . São Paulo, Ano IV, nº 84, out. 1998. p. 55.  36

  ROCHA, José Bolivar V. da Rocha. São Bento: Estudo sobre a manufatura de redes-de-dormir. João Pessoa:CGS. 1983. p. 96-97.

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rede popular como processo manual. É admissível uma maior mecanização para a produção

de redes de luxo, que, não compõe a parcela mais significativa da produção (p. 97).

Caberia aqui uma indagação. Por que se admitir essa mecanização em relação àprodução de redes de luxo, que, no caso, serão destinadas a mercados específicos ou a

nichos de mercado, quando na verdade, as maiores vendas se dão em relação aos artigos

populares?

A indústria têxtil de São Bento, que surge no campo, como atividade secundária, se

desenvolve e torna-se dominante no contexto econômico local, colocando em segundo

plano as atividades típicas do semi-árido nordestino (agropecuária). Essa transformação não

representou apenas mudança de hegemonia de setores econômicos na área em questão,

mas indicou, sobretudo, a passagem de um espaço agrícola para outro, urbano industrial,

dotado de dinamismo social, político e econômico.

Para lembrar LEFEVBRE37 quando mostra que na concorrência entre o campo e a

cidade, esta leva sempre vantagem, pois “a tendência centralizadora a domina e cada

indústria criada no campo tem em si o germe de uma cidade industrial”.

Todavia, é necessário enfatizar que, não só esses, mas outros fatores, devem ser

analisados de modo a se chegar a uma conclusão satisfatória sobre as condições que

permitiram ou possibilitaram a industrialização da atividade fabril de São Bento.

37 LEFEBVRE, Henri. A cidade do capital . Rio de Janeiro: DP & A, 1999. p. 12.

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  32

3 A ESTRUTURA DA MAQUINOFATURA DE REDES DE DORMIR

Até aqui se falou do processo de transição da manufatura para maquinofatura

tentando identificar as condições mais gerais que possibilitaram esse desenvolvimento.

Neste capítulo, abordar-se-á as características técnicas da maquinofatura em São Bento,

ressaltando, entre outros aspectos, a quantidade e fio e de maquinaria empregada na linha

de produção, as relações de trabalho, as características sócio-econômicas dos

trabalhadores fabris etc.

O estudo de campo que resultou nesse trabalho foi realizado junto às unidades

produtivas cadastradas na COLETORIA ESTADUAL, e que, somavam na época (2000) um total

de 44 tecelagens situadas na zona urbana do município.

Das 44 unidades apenas 35 foram contempladas com a aplicação de questionários e

entrevistas. As demais tecelagens por motivos tais como, o proprietário viajando, o repentino

fechamento, não foram passíveis de investigação.

A par dessas informações, passa-se à análise dos dados obtidos na pesquisa de

campo, que correspondem ao período de novembro de 2000 a janeiro de 2001, por tanto,

três meses.

Tendo como base, o início da produção regular das unidades produtivas, tabela 2,

observou-se que apenas duas unidades de produção surgem antes de 1970, cinco, são

identificadas entre 1970 – 1979, enquanto de 1980 – 1989 ocorre aumento exponencial de

21 tecelagens, número que cai para apenas sete entre os anos 1990 – 2000. Nota-se,

nessa primeira observação, que a década de 1980 desponta como o período em que ocorre

maior surgimento de novas fábricas.

Como foi exposto anteriormente, a pesquisa valeu-se de informações colhidas junto

às 35 unidades cadastradas na COLETORIA ESTADUAL. Dessas, todavia, nem todas ao serem

instaladas começaram a produzir em caráter de manufatura, mas já surgem como

maquinofatura, conforme pode ser visualizado na tabela 3.

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Nota-se que 57% das fábricas começam a produzir com equipamentos

especificamente manual ao passo que, 43% empregavam apenas equipamentos elétricos e

nenhuma tecelagem começou sua produção utilizando equipamento misto, isto é, manual eelétrico.

Dessa forma, torna-se um relativo agravante para o resultado final desse trabalho, já

que, são apenas 20 fábricas que passaram pelo processo de transição das estruturas

manuais para as elétricas.

TABELA 2 – SÃO BENTO: NÚMERO DE UNIDADES PRODUTIVAS POR CLASSE DEANO DE INÍCIO DE PRODUÇÃO

CLASSES DE ANO UNIDADES PRODUTIVAS %Antes de 1960 - -1960 – 1969 2 61970 – 1979 5 141980 – 1989 21 601990 – 2000 7 20TOTAL 35 100

Fonte: Dados primários – pesquisa de campo

TABELA 3 – SÃO BENTO: TIPO DE EQUIPAMENTO EMPREGADO NO INÍCIO DAPRODUÇÃO

EQUIPAMENTO NÚMERO DE UNIDADES %MANUAL 20 57ELÉTRICO * 15 43MISTO* - -TOTAL 35 100

Fonte: Dados primários – pesquisa de campo.* Está sendo levada em consideração principalmente a utilização de

teares elétricos

A tabela 4 mostra uma visão mais pormenorizada desse processo transitório, com

base no intervalo de ano de mecanização das unidades manufatureiras a partir de seu início

de produção.

A mecanização dá-se de forma mais intensa nos anos de 1985 – 1995, quando treze

manufaturas atingem o estágio de mecanização. Partindo-se do intervalo de 1980 – 1990,esse número cai para dez unidades de produção, enquanto, antes de 1985 aparecem

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apenas sete fábricas.

TABELA 4 – SÃO BENTO: MECANIZAÇÃO DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO PORGRUPOS DE CLASSE DE ANO E INTERVALO DE INÍCIO DEPRODUÇÃO

INTERVALO DE CLASSEDE ANO DE

MECANIZAÇÃO

INTERVALO DECLASSE DE ANO DE

INÍCIO DEPRODUÇÃO

NÚMERO DEUNIDADES

   A  n   t  e

  s   d  e   1   9   8   0

   1   9   8   0  –   1   9   8   5

   1   9   8   5  –   1   9   9   0

   1   9   9   0  –   1   9   9   5

   1   9   9   5  –   2   0   0   0

Antes de 1960 - - - - - -1960 – 1969 2 1 1 - - -1970 – 1979 5 1 2 - 2 -1980 – 1989 12 - 2 5 5 -1990 – 2000 1 - - - 1 -

TOTAL  20 2 5 5 8 -% 100 10 25 5 40 -

Fonte: Dados primários – pesquisa de campo

O período de 1990 – 1994 demarca o limite final do processo de transição da

manufatura para a maquinofatura. Observando a quantidade de novas unidades que surgem

no período de 80 – 90, fica claro, que apenas duas unidades produtivas se industrializaram

antes de 1985, e o restante, dez, após esse mesmo ano. São treze tecelagens que

alcançam a mecanização após o ano de 1985, ao passo, que apenas sete delas alcançam

sua industrialização antes dessa data.Essas 35 unidades industriais, objeto do presente trabalho, empregaram pouco mais

de 523 pessoas, estas exercendo suas funções ou tarefas no local de produção.

A discriminação da força de trabalho por função ou tarefa e sexo, encontra-se na

tabela 5. Nela, pode-se observar que, a categoria de tecelão é a mais expressiva em termos

numéricos, chegando a 263 trabalhadores, sem que tenha sido encontrada uma única

mulher trabalhando como tecelã. Desse modo, coloca-a (tarefa de tecelão) como

eminentemente masculina.

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TABELA 5 – SÃO BENTO: MÉDIA MENSAL DE PESSOAS TRABALHANDO NASUNIDADES PRODUTIVAS POR FUNÇÃO OU TAREFA E SEXO 

SEXOFUNÇÃO OU TAREFA Masculino (%) Feminino (%) TOTALTECELÃO 263 64 - - 263ESPULEIRO 41 10 7 6 48URDIDOR 29 7 1 1 30ALVEJADOR/TINGIDOR 20 5 - - 20ACABAMENTO 18 4 47 41 65COSTUREIRA - - 29 26 29SERVIÇO GERAL 28 7 9 8 37OUTROS 12 3 20 18 31

TOTAL 412 100 111 100 523Fonte: Dados primários – pesquisa de campo 

Em ordem decrescente, a função de espuleiro representa, a segunda maior parcela

de pessoal ocupado na indústria, com 48 trabalhadores, sendo sete deles do sexo feminino.

As tarefas de acabamento e de serviço geral (cortadores e dobradores de tecido) vêm em

seguida, com 65 e 37 operários respectivamente. Enquanto no primeiro tipo (acabamento)

de tarefa a maioria dos trabalhadores são mulheres (45 contra apenas 18 homens), no

segundo são do sexo masculino (28 contra 9 mulheres).

As outras duas funções, importantes no conjunto dos trabalhadores, são, a de

urdidor com 30 pessoas e a de alvejador/tingidor, que representam 20 produtores. Em

ambos os casos (urdidor e alvejador/tingidor), toda a força de trabalho, à exceção de uma

única mulher que é urdidora, é do sexo masculino.

A força de trabalho que engloba a categoria outros, envolve os cargos deadministração, mecânico, emendador de fio e outros de pouca participação, que, desse

modo, decidiu-se agrupá-los em um único grupo. Por último, aparece o cargo de costureira,

num total de 29 pessoas dedicadas exclusivamente a essa função, todas do sexo feminino.

Observa-se, pelo exposto, que a grande maioria da mão-de-obra empregada nas

fábricas compõe-se de trabalhadores do sexo masculino, num total de 412, ao passo que as

mulheres somam 111 trabalhadoras industriais, correspondendo a 78,8% e 21,2%

respectivamente.

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Conclui-se que, existem tarefas que podem ser classificadas como exclusivamente

masculina, como é o caso da tecelagem, da urdição, do alvejamento e do tingimento do fio.

Do mesmo modo que outras, permanecem eminentemente femininas, como por exemplo, afunção de costureira ou de passar ponto. Outras, no entanto, são mistas, embora prevaleça

uma das partes, como a função de acabamento, onde é constituída por uma participação

massiva de mulheres, mas que, os homens aparecem nela, apesar de sua pouca

expressividade.

A tabela 6, por seu turno, mostra a média mensal de pessoas trabalhando na

indústria por função ou tarefa e tipo de contrato estabelecido com a unidade de produção.

TABELA 6 – SÃO BENTO: MÉDIA MENSAL DE PESSOAS TRABALHANDO NASUNIDADES PRODUTIVAS POR FUNÇÃO OU TAREFA E TIPO DECONTRATO DE TRABALHO

TIPO DE CONTRATOFORMAL INFORMAL TOTALFUNÇÃO OU TAREFA

Absoluto (%) Absoluto (%) Absoluto (%)

TECELÃO 78 15 185 35,6ESPULEIRO 9 1,7 38* 7,3URDIDOR 7 1,3 22* 4,2ALVEJADOR/TINGIDOR 13 0,6 17 3,3ACABAMENTO 14 2,7 51 9,8COSTUREIRA 22 4,2 7 1,3SERVIÇO GERAL 20 3,8 16* 3,1OUTROS 7 3,3 14 2,7

TOTAL 170 32,6 350 7,3 520 99,9Fonte: Dados primários – pesquisa de campo

* Tarefas onde se observou a presença de trabalhadores (todos do sexo masculino) familiares, mas

que, não estão incluídos nesses dados.

Nota-se que 32,6% dos trabalhadores possuem carteira de trabalho registrada contra

67,3%, sem. Esses números, por si só, indicam que o grau de exploração da força de

trabalho apresenta-se de forma acentuada, uma vez que essa imensa maioria de

trabalhadores realiza seu trabalho sem nenhuma proteção legal, tais como, o seguro

desemprego, FGTS, e outros de não menor importância.

Esse aspecto é sobremaneira agravante quando se constata que a grande maioria

dos trabalhadores desconhece a existência de sua instituição legal, de defesa dos seus

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interesses, como é o caso do sindicato dos trabalhadores. Desconhece-se, na história da

atividade industrial de São Bento qual quer tentativa, por parte dos trabalhadores da

indústria, de se organizarem em sindicatos.De outro lado, os proprietários de fábricas alegam que não dá pra trabalhar com

contratos registrados, já que, as despesas são grandes e os impostos elevados, além do

fato de que os produtores que não são legalizados, por não terem nem um tipo de ônus

extra, podem vender suas mercadorias mais baratas. Esse fato pode ser visto, no discurso

de um produtor local quando perguntado sobre a concorrência interna e externa. Diz ele

que, a concorrência “prejudica muito porque são poucos os cadastrados [...] aí fica difícil

vender a mercadoria por que são poucos os que pagam impostos [...]” (informação verbal).

No que tange ao consumo de fio no processo produtivo tem-se a sua proporção

semanal e mensal, de acordo com as tabelas 7 e 8.

TABELA 7 – SÃO BENTO: MÉDIA SEMANAL DE CONSUMO DE FIO NOSESTABELECIMENTOS INDUSTRIAIS POR INTERVALOS DE PESO

INTERVALOS DEPESO (kg)

UNIDADESPRODUTIVAS PESO (Kg) %

Menos de 500 - - -500 – 1.000 7 4.100 6,51.000 – 2.000 13 16.050 25,52.000 – 3.000 7 15.650 24,83.000 – 4.000 3 9.200 14,64.000 – 5.000 2 8.000 12,75.000 – 10.000 2 10.000 15,910.000 Acima - - -

TOTAL 34* 63.000 100Fonte: Dados primários – pesquisa de campo* 1 produtor não soube informar o consumo semanal nem mensal

Interpretando os dados referentes ao consumo de fio semanal nos estabelecimentos

industriais, pode-se ver que, nenhuma unidade emprega uma quantidade de fio inferior a

500 e superior a 10.000 quilos por semana. Sete tecelagens apresentam consumo semanal

entre 500 e 1000 quilogramas, abrangendo um total de 4.100 quilos; Treze unidades se

encontram no intervalo de peso entre 1.000 – 2.000, e consomem, juntas, 16.050 quilos;

Outras sete apresentam-se com um consumo de 15.650 quilos, e abrangem o intervalo de

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3.000 – 4.000 quilos; Três fábricas empregam no intervalo de 3.000 – 4.000 quilos, um total

de 9.200 quilogramas, ao passo que, apenas duas, estão no intervalo de 4.000 – 5000, e

outras duas, entre 5.000 – 10.000, com um consumo semanal de 8.000 e 10.000 quilos defio respectivamente.

Esses dados, apesar de sua validade para o estudo, podem passar uma idéia

equivocada sobre o tamanho das unidades produtivas, pois, entende-se que, uma análise

que privilegie o consumo mensal por intervalo de peso, pode ser uma maneira mais

adequada de tratamento dessa questão. O fato, porém, de utilizar essas informações, acima

descritas, ou seja, do consumo semanal de fio, advém de sua contribuição ao tratamento da

questão.

TABELA 8 – SÃO BENTO: MÉDIA MENSAL DE CONSUMO DE FIO NAS UNIDADESPRODUTIVAS POR INTERVALO DE PESO

INTERVALOS DEPESO (kG)

UNIDADESPRODUTIVAS

PESO (Kg) %

Menos de 2000 - - -

2000 – 3000 5 10.000 43000 – 4000 2 6.400 2,54000 – 5000 9 39.800 15,85000 – 10.000 8 57.000 22,110.000 Acima 10 138.000 55,1

TOTAL 34 252.000 100Fonte: Dados primários – pesquisa de campo

Assim, observando a tabela 8, que mostra a quantidade de fio empregado nas

indústrias têxteis mensalmente, nota-se que nenhuma unidade consome mensalmente

menos de 2.000 quilos. Cinco delas, representam 4% do total de consumo, com 10.000

quilos, situando-se no intervalo de 2.000 – 3.000; entre o intervalo de peso 3.000 – 4.000,

encontra-se apenas duas fábricas, e cujo consumo médio gira em torno de 6.400 quilos; por

sua vez, entre o intervalo 4.000 – 5.000 aparecem nove unidades produtivas com um

emprego de 39.800 quilos mensais de fio; oito tecelagens são responsáveis por um

consumo de 57.000 quilos, situando-se nos intervalos de 5.000 à 10.000, enquanto a

maioria, 10 indústrias, têm um consumo médio mensal superior a 138.000, fazendo parte do

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intervalo de peso superior a 10.000 quilogramas mensais.

Com relação ao tipo de fio utilizado nos estabelecimentos industriais tem-se que o

mais empregado é o chamado fio “cru”, seguido do fio tinto (foto 1), e, em menor proporçãoo fio sintético, este, sendo mais requisitado na fabricação de cordão. O número de unidades

produtivas e os respectivos tipos de fio empregados na linha de produção podem ser vistos

na tabela 9.

FOTO 1 – FIO DE ALGODÃO CRU E FIO DE ALGODÃO COLORIDO COMERCIALIZADOEM SÃO BENTO

Foto: Rosalvo Nobre Carneiro. 

TABELA 9 – SÃO BENTO: TIPO DE FIO EMPREGADO NA PRODUÇÃO E NÚMERO DEUNIDADES

TIPOS DE FIO UNIDADES PRODUTIVAS %

FIO CRU 6 17,1FIO TINTO 1 2,8FIO SINTÉTICO - -FIO CRU E TINTO 27 77,1FIO CRU E SINTÉTICO 1 2,8

TOTAL 35 100Fonte: Dados primários – pesquisa de campo

Pode-se averiguar, que, seis tecelagens utilizam apenas o fio cru ou alvejado na

fabricação de seus produtos; vinte e sete, empregavam um misto de fio cru e fio tinto, e

apenas uma fábrica utiliza o fio sintético, este, porém, em conjunto com o fio cru; uma

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unidade produtiva, ainda, empregava apenas o fio tinto.

O fio tinto ou de cor é utilizado, principalmente, para se fazer a trama do tecido, já

que ele é um fio de malha, como afirma os produtores, acrescentando que ele (fio tinto) nãoé melhor que o fio cru para tecer “[...] porque ele é fio de fábrica, ele tem bastante pêlo,

agente usa ele só pra tapar o tecido, pra fazer o tecido [...] porque no estirão [...] que vai

para o tear a matéria-prima sendo crua é melhor, tece melhor [...] compra bruta, mas quando

agente classifica, fica melhor” (informação verbal).

Pode-se afirmar que, dentre os três tipos de fio empregado na fabricação dos artigos

têxteis de São Bento, o consumo médio, por tipo de fio, nas tecelagens, gira em torno de

44.450 kg mensais para o fio do tipo cru; 15.150 kg para o do tipo tinto (de cor) e 600 quilos

para o de tipo sintético ou de poliéster.

3.1 CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DA MAQUINOFATURA

A tabela 10 sintetiza a quantidade dos diversos equipamentos empregados na linha

de produção das fábricas têxteis de São Bento, no período da pesquisa.

TABELA 10 – SÃO BENTO: NÚMERO DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS NASUNIDADES DE PRODUÇÃO POR TIPO DE INSTRUMENTO

INSTRUMENTOS QUANTIDADE %TEARES 400 65,5ESPULADEIRAS 116 19URDIDEIRAS ELÉTRICAS 25 4,1URDIDEIRAS MANUAIS 26 4,2TACHO ELÉTRICO 9 1,5MÁQUINA DE TRANCELIM 12 2MÁQUINA DE PASSAR PONTO 13 2,1MÁQUINA DE SENTAR ROLO 4 0,7CONICALEIRAS 5 0,8MÁQUINA DE FAZER VARANDA 1 0,2TOTAL 611 99,9

Fonte: Dados primários – pesquisa de campo 

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Observa-se que, o maior número de equipamentos corresponde aos teares, que

perfazem um total de 400 máquinas, todas elétricas. Desse total, predominam os teares da

marcaANDIGRETTI

eRIBEIRO

, e uma pequena quantidade de teares automáticos da marcaHOWA, o que significa dizer que o atraso tecnológico é marca principal da indústria têxtil de

São Bento. Assim, há uma intensa defasagem tecnológica no parque industrial da cidade,

conforme um produtor local:

“O parque industrial de São Bento tem 40 anos de defasagem. Pra você ter uma

idéia, os teares [...] ele emprega duas máquinas pra cada pessoa [...] enquanto no sul, se

emprega 18 [...] O tear da gente dá 70 batidas por minuto , no sul , dá 700, 800. Quer dizer

que um tear lá produz por dez daqui” (informação verbal).

A produtividade média por trabalhador – máquina na indústria têxtil em São Bento

gira em torno de 1,52 máquinas por homem, quando tomados os dados em conjunto.

Abstraindo-se desse total, uma unidade produtiva local, que possui a quase totalidade dos

teares automáticos, num total de 63 teares, e que absorve apenas vinte operários (tecelão),

verifica-se que a produtividade geral cai de 1 trabalhador para cada 1,4 máquina. Os teares

automáticos possuem um sistema elétrico que possibilita trocar três lançadeiras sem

necessidade de pará-lo, o que não ocorre com os teares de marca Andigretti e Ribeiro.

O segundo tipo de instrumento que apresenta maior quantidade é a espuladeira,

localmente chamada de “espuleira”. Suas características, função e finalidade serão vistas no

capítulo 4, que trata do processo de produção. Basta salientar que, fora os teares, elas são

os instrumentos de produção que mais absorvem mão-de-obra, perfazendo um total de 116

equipamentos, o que corresponde a 9% do total dos instrumentos de produção.

Com relação as urdideiras, nota-se que juntas (manual e elétrica) somam 51

unidades, o que corresponde 8,4% do total da maquinaria da indústria. Isoladamente, a

diferença entre uma e outra é de apenas uma urdideira manual a mais. O fato de a

quantidade de urdideiras manuais serem relativamente maiores que as elétricas, não implica

dizer que elas constituem um obstáculo a ser vencido pela indústria de São Bento. O fato de

permanecerem como parte do processo produtivo, deve-se mais ao fato de que elas dão

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conta das necessidades de fio urdido solicitado pelas tecelagens, do que ao preço de

obtenção de uma urdideira elétrica, como ficou evidente em todas as entrevistas.

3.2 CARACTERÍSTICAS SÓCIO-ECONÔMICAS DOS TRABALHADORES FABRIS

Busca-se agora, fazer uma interpretação e análise dos caracteres sócio-econômicos

dos trabalhadores das 35 unidades produtivas e que foram objeto de pesquisa desse

trabalho. Observa-se, nesse caso, as informações referentes a idade, grau de instrução,

grau de qualificação, situação habitacional entre outras.

Pode-se observar pela tabela 11, que mostra a distribuição dos operários fabris por

grupos de classe de ano que a faixa etária compreendida entre 18 – 23 anos compreende o

maior número de trabalhadores, num total de 141, seguido pelo intervalo de 23 – 28, que

apresenta a quantidade de 123 operários.

Nota-se, que a partir do intervalo de ano formado por pessoas com idade entre 18 –

23 a participação passa a declinar acentuadamente até o grupo compreendido entre 38 – 43

anos, quando chega a marca de apenas 22 pessoas, e, em seguida, há um pequeno

aumento para 28 na classe de ano composta por trabalhadores com idade superior a 47

anos.

Depreende-se por esses dados que a população empregada na indústria em São

Bento compõe-se basicamente de adultos, ou seja, 94% enquanto a população jovem de 0 –

18 anos compreende apenas 6% do total. Dos 94%, 74,5% situam-se na faixa etária que vai

dos 18 – 32 anos de idade. Se considerarmos, com idade superior aos 47 anos, a população

idosa desse conjunto de trabalhadores, teríamos que ela formaria apenas 5,55% dos

trabalhadores fabris.

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TABELA 11 – SÃO BENTO: FAIXA ETÁRIA DOS TRABALHADORES DA INDÚSTRIAPOR FUNÇÃO OU TAREFA E GRUPOS DE IDADE

FUNÇÃO OU TAREFA

GRUPOS DEIDADE

   T   E   C   E   L    Ã   O 

   E   S   P   U   L   E   I   R   O 

   U   R   D   I   D   O   R

   T   I   N   G   I   D   O   R   /   A   L   V   E   J   A   D   O   R

   A   C   A   B   A   M   E   N   T   O 

   S   E   R   V   I   Ç   O    G

   E   R   A   L

   C   O   S   T   U   R   E   I   R   A

   O   U   T   R   O   S

 

TOTAL %

Menos de 18 10 9 - - 5 1 6 - 31 5,918 – 23 60 20 5 4 21 9 12 10 141 26,9

23 – 28 70 9 7 2 13 4 6 12 123 23,528 – 33 53 3 1 4 8 7 5 4 85 16,333 – 38 36 3 4 3 4 4 2 3 59 11,338 – 43 14 1 2 3 10 1 2 1 34 6,543 – 48 8 2 5 2 1 1 3 - 22 4,248 Acima 12 1 6 2 3 2 1 1 28 5,4TOTAL 263 48 30 20 65 29 37 31 523 100

Fonte: Dados primários – pesquisa de campo

Se é verdade que a maior parte da população que trabalha nas tecelagens é

composta de adultos, é verdade também que há um significativo déficit de escolarização

entre eles, conforme dados contidos na tabela 12.

Desse modo, dos 523 trabalhadores da indústria, 391 não concluíram se quer o

primeiro grau, enquanto apenas 6 o fizeram. Com relação ao segundo grau, 22 não o

terminaram e 25, chegaram a concluí-lo. Outros 79 se encontram nas condições de

analfabeto e não chegaram nem mesmo a iniciar o primeiro grau.Esses dados podem ser explicados pelo fato de que na indústria têxtil, os

trabalhadores geralmente começam cedo a trabalhar – não existe horário de trabalho

estabelecido – do mesmo modo que saem no horário que lhes achar conveniente, pois o

seu ganho não é dado em função do acertado em carteira de trabalho, com poucas

exceções, e sim pela produção.

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TABELA 12 – SÃO BENTO: GRAU DE INSTRUÇÃO DOS TRABALHADORES DAINDÚSTRIA POR FUNÇÃO OU TAREFA

FUNÇÃO OU TAREFA

GRAU DE INSTRUÇÃO

   T   E   C   E   L    Ã   O 

   E   S   P   U   L   E   I   R   O 

   U   R   D   I   D   O   R

   T   I   N   G   I   D   O   R   /   A   L   V   E   J   A   D   O   R

   A   C   A   B   A   M   E   N   T   O 

   S   E   R   V   I   Ç   O    G

   E   R   A   L

   C   O   S   T   U   R   E   I   R   A

   O   U   T   R   O   S

 

TOTAL %

1º GRAU INCOMPLETO 193 36 25 14 53 28 20 22 391 74,81º GRAU COMPLETO 1 - - 1 3 1 - - 6 1,1

2º GRAU INCOMPLETO 6 5 - - 3 3 4 1 22 4,22º GRAU COMPLETO 4 2 3 - 5 2 3 6 25 4,8OUTROS 59 5 2 5 1 3 2 2 79 15,1TOTAL 263 48 30 20 65 37 29 31 523 100

Fonte: Dados primários – pesquisa de campo

Nessas condições torna-se difícil aos trabalhadores da têxtil, se dedicar aos estudos,

mesmo durante a noite, devido ao dispêndio de força nas fainas diurnas. Há ainda, em

alguns casos, um certo “preconceito” ou desprezo pela educação, por parte dos jovens da

cidade, em função, talvez, da “cultura industrial” de São Bento, e na qual aparece nos

chavões do tipo: “meu pai nunca estudou e é rico”, “tecendo eu ganho mais do que quem é

formado”etc.

Ao ser perguntado sobre quais os problemas que entravam o desenvolvimento

industrial de São Bento, um dos proprietários de fábricas, prontamente respondeu que “o

primeiro problema, fundamental, é o nível de instrução do povo que trabalha com rede, é

baixo demais e por isso não inovam, não tem nenhuma idéia nova, vive só de copiar a dos

outros” (informação verbal).

No que tange ao grau de especialização ou qualificação profissional, isto é, a

quantidade de tarefas38 que um determinado operário sabe realizar, além da que exerce,

38 Considera-se nesse caso apenas os trabalhadores do sexo masculino já que as mulheres se dedicam deforma mais intensa apenas ao acabamento. As tarefas ou funções que foram contempladas para medir o graude qualificação ou especialização da força de trabalho foram as seguintes; tecelagem, urdição, alvejamento etingimento do fio e acabamento. Neste último caso, principalmente o empunhamento.

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funções essas relacionadas especificamente à indústria têxtil de São Bento pode-se

visualiza-las na tabela 13.

TABELA 13 – SÃO BENTO: GRAU DE ESPECIALIZAÇÃO PROFISSIONAL DOSTRABALHADORES DA INDÚSTRIA POR FUNÇÃO OU TAREFA QUESABE EXECUTAR NO PROCESSO PRODUTIVO

ESPECIALIZAÇÃO/TAREFAS

FUNÇÃO A QUEEXECUTA

ALGUMAS TODASTOTAL

TECELÃO 34 176 53 263ESPULEIRO 12 28 1 41

URDIDOR 3 9 18 30TINGIDOR/ALVEJADOR 3 10 7 20ACABAMENTO 5 12 1 18SERVIÇO GERAL 9 13 6 28OUTROS 3 6 2 11

TOTAL 69 254 88 411% 16,8 61,8 21,4 100

Fonte: Dados primários - pesquisa de campo

No geral, observa-se que de um total de 411 trabalhadores, 69 deles podem serconsiderados como especialistas, o que quer dizer que, dentre todas as tarefas

contempladas, eles sabem realizar apenas a que executa na fábrica. Por outro lado, 254,

estão qualificados para exercerem outras funções além da que exerce e 88, podem ser

considerados com elevado grau de qualificação profissional, pois sabem exercer todas as

tarefas do processo de produção de redes de dormir.

Considerando-se essas informações, por função específica, tem-se que o tecelão é o

profissional que apresenta tanto o maior grau de qualificação quanto o de especialização,

seguido logo atrás pela função de urdidor. Nos demais casos domina a categoria em que os

trabalhadores sabem realizar apenas algumas tarefas produtivas à exceção da que

exercem.

A especialização extrema de uma boa parte da mão-de-obra empregada na têxtil, 16,

8%, se constitui ou pode constituir-se num agravante ao seu desenvolvimento sócio-

econômico, em função do fato de que, sabendo realizar apenas uma função produtiva pode

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tornar-se relativamente difícil encontrar um posto de trabalho em uma outra tecelagem, caso

venha fazer parte da imensa lista de desempregados do país.

Esse particular mostra-se ainda mais preocupante quando se sabe que a indústriatêxtil de São Bento trabalha por “época”, isto é, aproximadamente de 4 a 6 meses com

capacidade máxima de produção e o restante de forma ociosa, chegando, às vezes, em

alguns casos, a fechar as portas e paralisar as atividades em função da retração das

vendas.

De acordo com os dados da tabela 14, nota-se que 406 trabalhadores residem em

casa própria39

, ao passo que 117 moram em residência de aluguel. Em termos percentuais,

seriam, respectivamente, 77,6% contra 22,4%.

TABELA 14 – SÃO BENTO: SITUAÇÃO HABITACIONAL DOS TRABALHADORESFABRIS SEGUNDO A FUNÇÃO OU TAREFA

FUNÇÃO OU TAREFA

SITUAÇÃOHABITACIONAL

   T   E   C   E   L    Ã   O 

   E   S   P   U   L   E   I   R   O 

   U   R   D   I   D   O   R

   T   I   N   G   I   D   O   R   /   A   L   V   E   J   A   D   O   R

   A   C   A   B   A   M   E   N   T   O 

   S   E   R   V   I   Ç   O    G

   E   R   A   L

   C   O   S   T   U   R   E   I   R   A

   O   U   T   R   O   S

 

TOTAL %

CASA PRÓPRIA 205 35 25 17 55 27 21 21 406 77,6CASA DE ALUGUEL 58 13 5 3 10 10 8 10 117 22,4

TOTAL 263 48 30 20 65 37 29 31 523 100

Fonte: Dados primários – pesquisa de campo

Essas análises podem ser enriquecidas pelas informações da tabela 15, quando se

nota que, os valores médios mensais dos aluguéis, pago pelos trabalhadores, não

ultrapassam 100 Reais em 95,7% dos casos, e uma reduzidíssima parcela, 4,3% pagam

aluguéis acima desse valor. 

39

Alguns trabalhadores quando da aplicação dos questionários responderam que, por serem casados e nãoterem condições de adquirir casa própria residiam na casa do sogro (coisa desse tipo. Levou-se emconsideração os trabalhadores que por serem solteiros, residiam com os pais. Esses dois casos, foramincluídos na categoria casa própria, pois, estabeleceu-se como critério de análise se o operariado da indústriapagava ou não aluguel, para incluí-lo em uma ou em outra categoria.

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TABELA 15 – SÃO BENTO: MÉDIA MENSAL DOS VALORES DAS RESIDÊNCIAS DEALUGUEL SEGUNDO VALORES DE PREÇO PAGO PELOSTRABALHADORES

INTERVALOS DE PREÇO QUANTIDADE %Menos de 60 49 41,960 – 100 63 53,8100 Acima 5 4,3

TOTAL 117 100Fonte: Dados primários – pesquisa de campo

Visualiza-se que, 49 trabalhadores, dos 117 que pagam aluguel, o valor médio pago

pelas residências corresponde a menos de 60 Reais; 65 gastam entre 60 e 100 Reais uma

parte de seu salário com esse tipo de despesa, e, apenas 5 pessoas, residem em casas

cujo valor do aluguel ultrapassa os limites de 100 Reais mensais.

São valores relativamente altos, comparando-se ao salário médio de um trabalhador

da indústria têxtil de São Bento. Tomando-se, por exemplo, um salário pago ao trabalho

exercido por um espuleiro, tem-se que, ele varia em torno de 50-70 Reais semanais, o que

pode chegar a 200-280 mensais. Em outras funções, como a de tecelão, esses valores se

ampliam.

Faz-se necessário esclarecer que, esses dados, por si sós, não são suficientes para

fazer uma classificação das condições sócio-econômicas dos trabalhadores fabris da

indústria têxtil de São Bento em boa, regular ou coisa desse tipo, visto que para isso, seria

necessário um estudo mais aprofundado da questão, e que fogem, por tanto, ao escopo

desse trabalho. Basta salientar que essa mão-de-obra dispõe de possibilidades para obter

maiores avanços sócio-econômicos em função do desenvolvimento da atividade industrial

local e de sua qualificação para o exercício da cidadania.

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3.3 A INDÚSTRIA TÊXTIL COMO FATOR DE ATRAÇÃO POPULACIONAL

A Revolução industrial que surgiu a partir da segunda metade do século XVIII

provocou os mais diversos tipos de mudança entre o homem e o seu entorno, seu espaço

de vivência. A sua força é de tal sorte que atrai pessoas dos mais longínquos recantos do

mundo, onde quer que se instalem (indústrias), em busca de trabalho e de melhores

condições de vida.

Nesse contexto, o da atração populacional, a indústria têxtil de São Bento não foge à

regra e, como um centro industrial dinâmico em plena zona semi-árida paraibana, provoca

intenso processo migratório das populações das cidades circunvizinhas, como também

provoca o êxodo-rural. A tabela 16, mostra o número de trabalhadores por lugar de

residência anterior, e pode ilustrar melhor essa questão.

TABELA 16 – SÃO BENTO: NÚMERO DE TRABALHADORES POR LUGAR DERESIDÊNCIA ANTERIOR

RESIDÊNCIA ANTERIOR TRABALHADORES %ZONA RURAL – MUNICÍPIO 211 40ZONA URBANA * 140 27OUTRA CIDADE 157 30ZONA RURAL – RESIDENTE 15 3

TOTAL 523 100Fonte: Dados primários – pesquisa de campo* zona urbana: refere-se às pessoas que aí sempre residiram e continuam residindo.

Conforme se pode visualizar, a imensa maioria dos trabalhadores que compõe as 35

unidades de produção são oriundos ou da zona rural ou de outras cidades, no geral

circunvizinhas a São Bento. Assim, 211 são procedentes da zona rural do município, outros

157 são imigrantes advindos de outras cidades, 140, sempre tiveram como local de

residência a zona urbana do município, e 15, continuam residindo na zona rural. Nesse

caso, são sítios municipais, próximos ao espaço urbano, em que o trabalhador faz ummovimento pendular do local de moradia ao de trabalho pela manhã, retornando no horário

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de almoço e repetindo o trajeto pela tarde, quando retorna para casa ao anoitecer.

Analisando a tabela 17, que mostra o lugar de residência anterior de acordo com as

funções ou tarefas, pode-se ver de forma mais detalhada o local de origem de cada grupode trabalhadores. Nota-se que, de modo geral, domina a população advinda da zona rural

entre todas as funções.

Comparando-se a força de trabalho que sempre residiu na zona urbana com a

advinda de outras cidades, temos que, entre os primeiros, o número é maior na categoria de

espuleiro na proporção de 16 para 11 imigrantes, na de costureira a diferença é de apenas

um residente, ou seja, 9 para 8, enquanto a categoria outros apresenta uma proporção de

13 para 7. Por outro lado, levando em consideração o número de imigrantes com o número

de pessoas que sempre residiram na zona urbana de São Bento, a quantidade maior se

verifica entre os tecelões (87 contra 61 respectivamente), e urdidores, 10 contra 6. Já, na

categoria acabamento, há uma estabilidade, apresentando 18 contra 17 pessoas.

TABELA 17 – SÃO BENTO: NÚMERO DE TRABALHADORES POR FUNÇÃO OUTAREFA E LUGAR DE RESIDÊNCIA ANTERIOR

FUNÇÃO OU TAREFA

LUGAR DE RESIDÊNCIAANTERIOR

   T   E   C   E

   L    Ã   O 

   E   S   P   U

   L   E   I   R   O 

   U   R   D   I   D   O   R

   T   I   N   G   I   D   O   R   /   A   L   V   E   J   A   D

   O   R

   A   C   A   B

   A   M   E   N   T   O 

   S   E   R   V

   I   Ç   O    G

   E   R   A   L

   C   O   S   T

   U   R   E   I   R   A

   O   U   T   R

   O   S

 

TOTAL%

ZONA RURAL/MUNICÍPIO 106 20 14 9 28 14 10 10 211 40ZONA URBANA * 61 16 6 4 18 13 9 13 140 27OUTRA CIDADE 87 11 10 7 17 10 8 7 157 30ZONA RURAL/RESIDENTE 9 1 - - 2 - 2 1 15 3TOTAL 263 48 30 20 65 37 29 31 523 100

Fonte: Dados primários – pesquisa de campo* ver nota da tabela 16.

Considerando-se, a distribuição dos trabalhadores fabris, por setores econômicos no

qual trabalhavam antes de se dedicarem às atividades ligadas à fabricação de redes de

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dormir, tem-se os dados da tabela 18. A partir dessas análises, poder-se-á ter uma

corroboração do que foi mostrado acima sobre a origem da mão-de-obra empregada na

indústria têxtil de São Bento.

TABELA 18 – SÃO BENTO: NÚMERO DE TRABALHADORES DAS UNIDADESPRODUTIVAS POR FUNÇÃO OU TAREFA E TIPO DE EMPREGOANTERIOR SEGUNDO OS SETORES DA ECONOMIA

FUNÇÃO OU TAREFA

SETORESECONÔMICOS

   T   E   C   E   L    Ã   O 

   E   S   P   U   L   E   I   R   O 

   U   R   D   I   D   O   R

   T   I   N   G   I   D   O   R   /   A   L   V   E   J   A

   D   O   R

   A   C   A   B   A   M   E   N   T   O 

   S   E   R   V   I   Ç   O    G

   E   R   A   L

   C   O   S   T   U   R   E   I   R   A

   O   U   T   R   O   S

 

TOTAL %

SECUNDÁRIO 117 32 9 7 55 22 26 22 290 55,5PRIMÁRIO 125 5 18 12 4 7 - 3 180 34,4TERCIÁRIO 21 11 13 1 6 8 3 6 53 10,1TOTAL 263 48 30 20 65 37 29 31 523 100

Fonte: Dados primários – pesquisa de campo

Constata-se, pela observação dos números, que, de um total de 523 trabalhadores,

55,5% sempre trabalharam com atividades ligadas ao setor secundário, 34,4% se

dedicavam a atividades que correspondiam ao setor primário da economia, e 10,1%, tiveram

como primeira atividade de trabalho, as do setor terciário.

O setor secundário, toda via, apresenta trabalhadores que, mesmo advindos do

campo, se dedicavam à indústria, em função de essa atividade, em São Bento,

espacialmente não se concentrar apenas no espaço urbano, mas apresentar-se difusa pelo

município. Assim, apesar de algumas pessoas terem residido no campo e só posteriormente

terem vindo para a cidade, não implicam que tenham se dedicado à agropecuária, mas à

própria atividade industrial. Esse fenômeno, porém, deve ser visto não como uma regra,

mas como exceção.

De maneira geral, toda via, o setor secundário e primário predomina com 470

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trabalhadores, ao passo que o setor terciário apresenta apenas 55 pessoas que se

dedicaram inicialmente a essas atividades.

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4 O PROCESSO DE PRODUÇÃO DE REDES DE DORMIR

Nesse capítulo, busca-se descrever o processo de produção de redes de dormir em

São Bento – PB, destacando as diversas e diferentes etapas que o compõe, desde a

preparação do fio necessário à produção até a confecção do pano (fio tecido) em redes.

Utilizando-se do recurso didático, comumente empregado pelas ciências sociais, o

da divisão de alguns estudos em partes, podemos “regionalizar” o processo produtivo da

indústria têxtil de São Bento em duas grandes fases, a da tecelagem e a da confecção da

rede, cada uma com as suas respectivas etapas.

4.1 A PRIMEIRA FASE DO PROCESSO DE PRODUÇÃO

Essa primeira fase do processo de produção, que corresponde à fase de tecelagem

do fio, envolve diferentes etapas antes que o fio seja levado aos teares para transformação

em pano. Assim, elas são: a etapa da urdição, do alvejamento, do tingimento e da

tecelagem. Poderia-se acrescentar, a estas, o trabalho realizado nas espuladeiras e nas

meadeiras de fio.

Passa-se agora, a descrição de cada etapa, em separado, e as suas respectivas

características, finalidade e trabalhador específico.

A primeira etapa do processo produtivo corresponde a urdição do fio, ou seja,

preparar o fio que formará a massa de fios verticais da rede. Por tanto, ela diz respeito à

preparação de fio que servirá para a composição do comprimento do produto (rede ou

manta).

Inicialmente, o fio empregado nas tecelagens é adquirido nos depósitos (casas de

comércio de fio) de São Bento que, por sua vez os adquirem diretamente das fiações em

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cones de papelão. Esse fio que não passou ainda por nenhum processo de beneficiamento

local como o alvejamento e o tingimento é denominado localmente de “fio cru”.

Nenhum dos produtores locais, à exceção de um, que é dono de um depósito nacidade, adquirem fio diretamente das fiações, tendo, por tanto, que comprá-los a

atravessadores. Isso se deve basicamente ao fato de que inexiste na cidade organizações

de produtores, tais como, uma associação ou uma cooperativa, pois, por meio dessa, poder-

se-ia comprar quantidade considerável de fio à preços, provavelmente mais baixos,

diretamente das fiações.

Depois de adquirido o fio, passa-se à parte de urdição, onde, a matéria-prima é

encaminhada para a urdideira, que pode ser manual ou elétrica. Primeiramente mostrar-se-á

o processo de urdição no equipamento manual, que se constitui numa engenhoca muito

simples, de madeira, e que pode ser feita nas marcenarias da cidade.

A urdideira manual corresponde a um retângulo composto por quatro traves de

madeira na qual são dispostos lateralmente 24 pinos, de madeira ou de ferro, aonde o

trabalhador, num movimento de vai e vem, vai enganchando nos pinos um conjunto de fio

formado por 24 pernas chamado cabrestilho. Esse fio é disposto num equipamento

denominado gaiola, e que compõe a urdideira, nela sendo dispostos os 24 cones de fio (foto

2).

Após urdir o fio, passa-se para o processo de alvejamento que é realizado em

tanques de dimensões variadas onde se acrescenta ao fio uma porção de cloro e água.

Esse processo, segundo os produtores locais, é feito, para “classificar o fio”, ou seja, torná-

lo de melhor qualidade para utilização.

As urdideiras elétricas, vão ter funcionamento diferente das manuais, já que, elas

não precisam que o trabalhador despenda força física com o movimento de ida e volta,

como ocorre na manual. A urdideira elétrica é formada, por outro lado, por duas e até três

gaiolas onde são dispostos os fios, e, por um rolo de ferro que ao ser acionada, a máquina,

passa a girar enrolando o fio automaticamente, sem nenhuma intervenção do trabalhador,

que fica, nesse caso, apenas supervisionando e emendando os fios na máquina após o

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termino de cada operação (foto 3).

FOTO 2 – URDIÇÃO MANUAL DE FIO

Foto: Rosalvo Nobre Carneiro 

FOTO 3 – URDIÇÃO DE FIO EM EQUIPAMENTO ELÉTRICO (URDIDEIRA ELÉTRICA) 

Foto: Rosalvo Nobre Carneiro 

A escolha das cores que deverá ser dada ao fio faz parte do processo de tingimento.

Nesse caso, emprega-se um equipamento elétrico, composto por um tacho de ferro, onde se

acrescenta à água, a tinta, e, por um rolo de ferro situado logo acima do tacho, onde o

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tingidor faz um movimento lateral com a massa de fio já alvejada (foto 4).

FOTO 4 – TINGIMENTO EM EQUIPAMENTO ELÉTRICO

Foto: Rosalvo Nobre Carneiro

A tecelagem (foto 5) é a última etapa da primeira fase do processo de produção, e, é

nela, que ocorre a transformação do fio em pano de rede. Esse processo se dá da seguinte

forma:

a) Primeiro, esse fio que passou pelo processo de urdição, alvejamento e

tingimento será enrolado em um outro rolo de ferro (encher barcada), que

será acoplado ao tear para formar o comprimento do pano da rede;

b) Segundo, tem-se a etapa do enchimento de espulas, que ocorre,

concomitantemente ao lado dos teares, sendo esse trabalho responsável

pelo fornecimento do fio que corresponde à trama horizontal do pano, ou

seja, que formará a largura da rede (foto 6).

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FOTO 5 – TECELAGEM (TEARES ELÉTRICOS)

Foto: Rosalvo Nobre Carneiro 

FOTO 6 – ENCHIMENTO DE ESPULA (ESPULADEIRA ELÉTRICA)

Foto: Rosalvo Nobre Carneiro 

Essas espulas serão, depois de enchidas, adaptadas na lançadeira, que, levadas ao

tear são lançadas de uma à outra extremidade do tear, realizando o tapamento do pano.

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4.2 A SEGUNDA FASE DO PROCESSO DE PRODUÇÃO

Essa fase corresponde ao momento de transformação do pano (fio) tecido em rede

propriamente dito, e é composta pelas etapas de costurar a rede (passar ponto),

empunhamento, confecção da varanda, “botar” o caré, enfiar cordão e estampagem.

Terminada a fase de tecelagem o fio tecido é retirado do tear e cortado nas

dimensões apropriadas para a confecção da rede. Em seguida, realiza-se o enfiamento do

cordão, que consiste em fazer as argolas onde serão dispostos os fios ou cordões, estes

fabricados pelas máquinas de trancelim.

Em seguida, esse pano, com as argolas já feitas, será encaminhado para as

máquinas de costura, onde, as extremidades da rede serão costuradas, de modo a

assegurar que as argolas fiquem resistentes e não desprendam.

O passo seguinte será o do empunhamento (foto 7) da rede ou “botar cordão”. Esse

trabalhado é realizado em um instrumento de madeira chamado “banco de empunhar” e que

possui quatro pernas, nas quais sustentam uma haste horizontal composta por dois pinos

verticais.

FOTO 7 – MULHER EMPUNHANDO REDE (BANCO DE EMPUNHAR)

Foto: Rosalvo Nobre Carneiro 

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No empunhamento, primeiramente, o cordão é introduzido em todas as argolas que

foram costuradas no pano, para em seguida ser realizado o trabalho de alinhamento dos

cordões da rede. Paralelamente a esse trabalho de empunhar ocorre a tarefa chamada fazerou botar caré, ou seja, um revestimento com fio nas extremidades dos cordões da rede que

vão ser encaixadas nos armadores (foto 8).

FOTO 8 – TRABALHADOR FAZENDO CARÉ

Foto: Rosalvo Nobre Carneiro 

A varanda é feita logo em seguida, e, nesse caso, existe uma variedade de formas,

desde as mais simples às mais elaboradas, que vai depender do tipo de rede na qual será

feita, se em redes populares ou em redes de luxo. Há, ainda, em alguns casos, a confecção

de bordados na rede, onde se exige grande paciência.

A estampagem da rede é feita à semelhança dos processos de silk screen, com a

utilização de telas adquiridas nas serigrafias. Como a parte de bordado, nem todas as redes

possuem estampagem, sendo a sua utilização realizada principalmente nos caso em que se

produzem panos de prato. Nesse caso utilizam-se desenhos variados e com as

denominações “Segunda-Feira, Terça-Feira etc”. No caso das redes é comum a

estampagem de emblemas demonstrativos de times de futebol do Brasil.

Existe ainda, a tarefa de mamucaba, que consiste em tecer, com um pequeno tear

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de madeira, uma tira fina de pano, nas extremidades da rede onde se localizam as argolas,

de modo a torná-la resistente.

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5 O PROCESSO DE COMERCIALIZAÇÃO

A comercialização dos produtos têxteis fabricados em São Bento hoje, se realiza nos

mesmos moldes de meio século atrás, quando da introdução da manufatura na cidade, isto

é, sendo feita de forma ambulante com o vendedor indo de porta em porta com o produto

nos ombros, percorrendo centenas de quilômetros a pé nos mais variados lugares do Brasil

e da América latina, esses, são chamados localmente de corretores.

Por outro lado, permanece também, o sistema de distribuição, onde veículos,

geralmente caminhões e caminhonetes, partem, do espaço em questão, carregados de

mercadorias e a onde são feitas adaptações nos mesmos para que as pessoas (corretores)

dispostas a vender os produtos nos mercados consumidores possam se acomodar à

viagem.

O motorista do veículo geralmente é o encarregado de distribuir a mercadoria para

os corretores e de fazer a contabilidade e pagamento das vendas. O vendedor ambulante ou

corretor não possui vínculo empregatício formalizado com a unidade produtiva e ganha por

produção, ou seja, se o valor da mercadoria for estipulado em “x” Reais ele deverá vendê-la

por x’, x’’ etc, correspondendo essa diferença, ao seu ganho. Caso venha a vender a rede

ou outro produto pelo mesmo preço “x” estipulado pelo dono do veículo ele terá direito a

uma pequena comissão “que é pra ele poder comer, para sobrevivência dele”.

Se é verdade que a estrutura de comercialização continua semelhante a de tempos

pretéritos, é verdade também que essa comercialização na atualidade (período

maquinofatureiro) incluiu estratégias de venda “inovadoras”, mas não necessariamente

modernas, tais como a adaptação de veículos com alto-falantes e que são chamados, na

cidade, de “bocas de ferro”, bem como formas avançadas como a exportação de produtos

para países europeus e para os Estados Unidos.

A distribuição dos produtos até os mercados consumidores é feita com base em

caminhonetes e caminhões, inclusive da marca SCANIA, estes em menor proporção. Essa

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distribuição é realizada de formas variadas: ela é feita por alguns produtores, que, nesse

caso, possuem veículo próprio e fazem, além da distribuição a comercialização; por

comerciantes que se dedicam exclusivamente à venda desses produtos (redes etc) epossuem, também, veículos próprios, são eles os que mais utilizam o expediente comercial

das bocas de ferro. Estas, não se limitam a caminhonetes, mas podem abranger as

“fozinhas” e “ mecedinhas”. E, por último, tem-se a distribuição realizada por meio de fretes

de transportadoras locais, que dispõem de caminhões para prestar esse tipo de serviço aos

produtores e negociantes de redes e demais artigos têxteis produzidos em São Bento.

A indústria têxtil de São Bento, produziu, nos meses de pesquisa, uma produção de

artigos têxteis que podem ser vislumbrados de acordo com os diversos artigos fabricados e

que foram identificados no trabalho de campo. Leva-se em consideração as informações

colhidas junto aos operários fabris sobre o seu rendimento produtivo médio mensal.

É importante destacar que, pode-se dividir os artigos produzidos nas indústrias

têxteis de São Bento, em dois tipos principais, quais sejam:

a) Aqueles na qual a produção é medida em função da quantidade de peças40 

produzidas. Neste grupo situam-se as redes e as mantas ou cobertas.

b) E aqueles em que a produção é medida de acordo com a quantidade de

quilogramas produzidos. Nesse tipo de artigo estão incluídos o panos de

prato, telas ou sacos (utilizados para a fabricação de panos de limpeza) e

outros mais.

Analisando os dados contidos na tabela 19, fica claro que, a rede é o artigo de maior

fabricação local, com uma produção aproximada de 107.800 peças, incluindo aí, os diversos

tipos de redes. A manta é o segundo tipo de mercadoria mais produzida, com uma produção

média semanal de 16.440 unidades/peças, correspondendo, a uma proporção de 65.760

40 A peça corresponde ao pano já tecido e cortado nas dimensões apropriadas para a confecção da rede e damanta.

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peças mensais.

Levando em consideração aqueles artigos no qual a sua produção é dada em função

dos quilogramas produzidos, tem-se que, a tela (pano de limpeza) é o primeiro colocado,com uma produção média semanal de 5.800 kg, resultando numa faixa de 23.200

quilos/mês. Em seguida, aparece a produção dos panos de prato, com 1.710 quilos, e, em

menores proporções, aparecem a produção de toalhas – 70 kg – e a de tapetes, com 80 kg.

TABELA 19 – SÃO BENTO: PRODUÇÃO MÉDIA SEMANAL DOS PRODUTOS DAINDÚSTRIA TÊXTIL E UNIDADES DE MEDIDA CORRESPONDENTE

PRODUTOS PRODUÇÃO SEMANAL UNIDADE DE MEDIDARedes 26.950 por peçaMantas 16.440 por peçaPanos de prato 1.710 por kgTela 5.800 por kgTapete 80 por kgToalha 70 por kg

Fonte: Dados primários – pesquisa de campo

No que tange ao mercado internacional, apenas uma única tecelagem exporta seus

produtos, e nesse caso para os Estados Unidos e Suíça, tendo, já tido exportado para o

Peru, Finlândia e França. Boa parte dos produtos, porém, é comercializada na própria

cidade, na chamada feira da pedra, na própria residência ou escritório dos proprietários

fabris.

Os produtos de exportação ainda se constituem raridade na cidade e isto, conforme

um produtor se deva talvez “[...] a burocracia muito grande, agente tem que fazer uma

licitação, tem que colocar uma pessoa especializada para fazer esse tipo de venda, tem

que ser uma mercadoria totalmente com etiqueta e isso trás algumas dificuldades na

fabricação desses produtos e também na saída” (informação verbal).

Vê-se, por tanto, que o mercado internacional se constitui numa “fronteira

econômica” para os produtos de São Bento, mas que devido à deficiente estrutura

administrativa das unidades produtivas esbarra em sérias dificuldades para adentrá-lo.

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CONCLUSÃO

O presente trabalho objetivou mostrar o processo de superação de antigas (arcaicas)

formas de produção para formas mais evoluídas na indústria têxtil de São Bento – PB. Em

outras palavras, teve por mote analisar o processo de transição da manufatura para a

maquinofatura no espaço em questão, identificando as condições gerais que favoreceram o

mesmo.

Destaca-se que as informações apresentadas nesse trabalho, sobre a indústria local,

muitas se constituem como extremamente relativas, pois, a atividade em questão, como foi

destacado no trabalho, apresenta momentos de pique de produção ao lado de outros de

ociosidade, o que implica dizer que os dados obtidos nos meses de pesquisa,

provavelmente, já apresenta-se hoje, com outras características.

Assim, por exemplo, as informações sobre a quantidade de trabalhadores com

registro ou sem registro de trabalho junto às unidades produtivas podem se apresentar de

forma contrária ao que foi exposto no presente.

Foi possível constatar que a indústria de São Bento apresentou, desde sua origem,

nas primeiras décadas do século xx até o momento atual, grande dinamismo, que se

expressa, por exemplo, na transformação do artesanato para a manufatura e desta para a

maquinofatura em pouco menos de um século.

Embora a mecanização tenha se generalizado nas unidades produtivas de São

Bento, nota-se que a mesma se dá apenas em relação à primeira fase da produção,

enquanto a segunda fase permanece nos mesmos moldes do período do artesanato e da

manufatura, ou seja, sendo realizada manualmente. Esse fato provoca uma verdadeira

horizontalização do trabalho já que para atender a demanda das tecelagens no que tange

ao acabamento das redes é necessário contratar maior número de feiteiras que se dedicam

a essa atividade.

A permanência de velhas estruturas na atividade local, no entanto, é acompanhada

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por avanços significativos, quais sejam, a expansão das vendas dos produtos locais por

todo o território nacional, em países latino americanos, sobretudo aqueles que fazem

fronteira com o Brasil, e nos últimos anos, países europeus e os Estados Unidos.Acrescenta-se, que, as condições e fatores aqui identificados como favoráveis ao

processo de mecanização da indústria têxtil local (expansão do mercado, exploração da

força de trabalho, acumulação de capital na manufatura, reestruturação técnica da indústria

do Centro-Sul etc) não devem ser tomados como absoluto, pois outros podem ser

acrescentados. O presente trabalho, mostra, por tanto, apenas uma realidade parcial da

atividade local que se constitui de forma complexa.

A reestruturação técnica da indústria de São Bento, por outro lado, não é

acompanhada por melhoras nas condições de trabalho da grande maioria de trabalhadores

que se dedicam à atividade industrial na cidade e que por não estarem organizados

politicamente para defenderem seus interesses agrava-se ainda mais essa situação.

Apesar de seu grande dinamismo e rapidez com que a indústria têxtil de São Bento

se mecanizou, a atividade local apresenta alguns problemas que se forem vencidos poderão

proporcionar grande desenvolvimento a mesma. Esse problema diz respeito particularmente

a inexistência na cidade de qualquer associação de produtores bem como a organização

das unidades produtivas em uma cooperativa.

Destarte, destaca-se que só através de um estudo mais profundo e pormenorizado

da atividade industrial do espaço em questão é que se poderá tirar conclusões mais reais

sobre a realidade dessa atividade, e que não foi, por tanto, objetivo do presente trabalho.

Por outro lado, uma pesquisa mais aprofundada da questão exigiria um espaço de tempo

maior e disponibilidade de recursos financeiros e humanos para a realização da mesma,

entre outros fatores.

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