a industria do maranhão um novo ciclo

Upload: pdanilo

Post on 11-Jul-2015

640 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

A INDSTRIA DO MARANHO: uM NOvO cIclO

Jos Ribamar Dourado Roberto Guimares Boclin

Braslia 2008

A INDSTRIA DO MARANHO

CONFEDERAO NACIONAL DA INDSTRIA CNIArmando de Queiroz Monteiro Neto Presidente

FEDERAO DAS INDSTRIAS DO ESTADO DO MARANHO FIEMAJorge Machado Mendes Presidente SERVIO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL SENAI Conselho Nacional Armando de Queiroz Monteiro Neto Presidente SENAI - Departamento Nacional Jos Manuel de Aguiar Martins Diretor-Geral Regina Maria de Ftima Torres Diretora de Operaes INSTITUTO EUVALDO LODI IEL Conselho Superior Armando de Queiroz Monteiro Neto Presidente IEL Ncleo Central Paulo Afonso Ferreira Diretor-Geral Carlos Roberto Rocha Cavalcante Superintendente IEL Maranho Afonso Sergio Ferreira de Oliveira Superintendente

Federao das Indstrias do Estado do Maranho

Confederao Nacional da Indstria

A INDSTRIA DO MARANHO: uM NOvO cIclO

Jos Ribamar Dourado Roberto Guimares Boclin

Braslia 2008

2008. IEL Ncleo Central Qualquer parte desta obra poder ser reproduzida, desde que citada a fonte. IEL/NC Unidade de Gesto Executiva UGE

FICHA CATALOGRFICAD739i Dourado, Jos Ribamar A indstria do Maranho: um novo ciclo / Jos Ribamar Dourado, Roberto Guimares Boclin. Braslia : IEL, 2008. 195 p. : il. ISBN 978-85-87257-33-8 1. Indstria - Maranho I. Roberto Guimares Boclin II.Ttulo.

CDU 65 (812.1)

Instituto Euvaldo Lodi IEL/Ncleo Central Setor Bancrio Norte, Quadra 1, Bloco B Edifcio CNC 70041-902 Braslia Tel.(0XX61) 3317-9080 Fax. (0XX61) 3317-9360 www.iel.org.br

sumrioaPreSentaO PrefciO a nOVa ecOnOMia MaranHenSe, 13 a inDStria na ecOnOMia DO MaranHO, 19 a inDStria traDiciOnaL, 29a inDStria DO acar, 29 O aLGODO e a inDStria txtiL, 34 cuLtiVO e BeneficiaMentO DO arrOz, 42 a inDStria DO LeO De BaBau, 48

a inDStria MODerna: SetOreS DinMicOS, 59a MinerOMetaLurGia, 59 crOnOLOGia, 68 a inDStria De LeOS VeGetaiS, 71 caDeia PrODutiVa Da Pecuria, 73 a cOnStruO ciViL, 78 a inDStria De BiOcOMBuStVeiS, 85

DiVerSificaO Da eStrutura inDuStriaL, 91turiSMO, 92 PeSca aLternatiVa inDuStriaL eM aBertO, 101 a Pequena inDStria De cOnfeceS, 105 a cacHaa arteSanaL, 107

O PequenO eMPreenDiMentO inDuStriaL, 109 nOVOS ruMOS Para a inDStria MaranHenSe, 115O cOrreDOr centrO-nOrte De exPOrtaO, 116 O zOneaMentO ecOLGicO-ecOnMicO DO eStaDO DO MaranHO (zee-Ma), 120 O PLanO eStratGicO De DeSenVOLViMentO inDuStriaL DO eStaDO DO MaranHO, 122

OPOrtuniDaDeS De inVeStiMentO, 135 POLticaS eStaDuaiS De atraO De inVeStiMentOS, 143 infra-eStrutura e LOGStica, 147enerGia eLtrica, 147 eStraDa De ferrO carajS (efc), 148 ferrOVia nOrte-SuL, 150 SiSteMa rODOViriO, 151 POrtO DO itaqui , 153 terMinaL POrturiO De POnta Da MaDeira, 156

O SiSteMa eMPreSariaL Da inDStria, 159feDeraO DaS inDStriaS DO eStaDO DO MaranHO (fieMa), 159 SerViO SOciaL Da inDStria (SeSi), 169 SerViO naciOnaL De aPrenDizaGeM inDuStriaL (Senai), 177 inStitutO euVaLDO LODi (ieL), 185

POSfciO, 189 refernciaS, 191

Edgar Rocha

Chapu de fitas, adereo tpico do Bumba-meu-boi, principal manifestao folclrica do Maranho

apresentao

Tenho como um privilgio especial a oportunidade de editar este livro, que pretende ser, antes de tudo, um registro da indstria maranhense de hoje como a continuidade de um processo histrico conduzido por grandes empreendedores do passado, e referencial para aqueles que vierem depois, construindo a indstria do futuro. inquestionvel a importncia da histria empresarial maranhense, cujos grandes feitos, alm do papel marcante que tiveram na vida econmica do Maranho, deixaram marcas indelveis na formao social e cultural desse estado, motivo por que so causa de orgulho para sua gente e especialmente para ns, empresrios, que assumimos a misso de honrar as tradies de fibra, coragem e valentia daqueles que nos antecederam. O Maranho desde sempre se tem apresentado como um estado promissor, dotado de riquezas naturais abundantes, habitado por um povo originrio de um caldeamento de raas diversas, com apreo pela cultura, pela terra e por suas razes. Este documento focaliza, em primeiro lugar, aquelas atividades empresariais em que por primeiro se aplicaram os maranhenses, no objetivo de sustentar con-

dies dignas de vida, para si e para as geraes futuras, e capazes de garantir o crescimento econmico do estado ao longo do tempo. Grandes experincias e grandes exemplos nos deixaram esses empreendedores, ora por suas conquistas e xitos memorveis, ora por sua fortaleza diante das adversidades geradas por fatores exgenos, alheios ao seu campo de ao e influncia, mas que em nenhum momento arrefeceram-lhes o nimo e a perseverana. O trabalho faz, assim, uma breve abordagem histrica sobre a atividade aucareira iniciada ainda na primeira metade do sculo XVII; sobre o cultivo do algodo como principal atividade econmica durante todo o perodo colonial e no Imprio e que, depois, serviu de base para a indstria txtil; sobre o cultivo secular do arroz, que era beneficiado ao longo do tempo por uma indstria primitiva mas eficiente; e sobre o babau, j no sculo XX, como atividade extrativista e industrial. Foram experincias pioneiras que nos deixaram lies inesquecveis de empreendedorismo, de adequao realidade contempornea, de enfrentamentos de adversidades muitas vezes intransponveis; experincias de vida que so exemplos vivos de grandeza, de perseverana e de apego causa da prosperidade no presente e no futuro. Em seguida, o estudo tece breves consideraes sobre a realidade industrial do Maranho de hoje, com as transformaes havidas nas ltimas dcadas, decorrentes da presena de grandes empreendimentos industriais que redirecionaram a economia do estado, vinculando-a ao mercado externo e dando-lhe uma funo macrorregional, ao mesmo tempo em que menciona os principais ramos industriais instalados e as oportunidades que se abrem para o adensamento das mais importantes cadeias produtivas. So apresentadas tambm as novas diretrizes e estratgias que esta Federao das Indstrias entende devem tomar o esforo produtivo e a ao de governo para garantir o crescimento e a consolidao da atividade econmica, com foco no segmento industrial. Trata-se da viso macrorregional, dos princpios de sustentabilidade e do planejamento estratgico adotado, que tm como principal objetivo ajustar a atividade industrial maranhense a essa nova realidade, acentuando o papel de relevo que tem no processo de desenvolvimento.

Nesse enfoque sobressai o papel dos micro, pequenos e mdios empreendedores por sua expressiva participao quantitativa e qualitativa na economia e no segmento industrial do estado e por sua importncia na necessria poltica de expanso e interiorizao da indstria e substituio de importaes. Registrar a moderna indstria maranhense um dos objetivos deste trabalho, bem como convocar energias para increment-la, diversific-la, sempre de acordo com a realidade nova de integrao multirregional e de insero internacional. Por isso so apresentados tambm os principais instrumentos que esto disponveis para apoiar e subsidiar o eventual interessado em investir no Maranho: o sistema estadual da indstria, com os seus mecanismos de apoio tcnico e incentivos financeiros, e o Sistema FIEMA, com sua estrutura de suporte ao empreendimento em todas as reas da educao, sade, lazer e responsabilidade social capacitao profissional, gesto e aperfeioamento empresarial. Por fim, esta obra quer exprimir a profunda convico que o empresariado industrial maranhense tem do papel histrico do Maranho contemporneo na economia brasileira. O Maranho no mais simplesmente o osis do Nordeste; tem um lugar fundamental no processo de desenvolvimento econmico do pas como um todo, integrado que est s suas grandes regies produtoras, interligando-as ao mundo, oferecendo-lhes acima de tudo competitividade e condies extraordinrias de crescimento. O Maranho, como o Brasil, no mais um estado do futuro; o Maranho do presente tem a misso de ser um dos mais importantes plos de desenvolvimento do pas; cabe a ns, empresrios e industriais, realiz-la. o que queremos, e o haveremos de fazer.

JORGE MACHADO MENDES Presidente da Fiema

Edgar Rocha

Centro Histrico de So Lus testemunha o secular dinamismo empresarial maranhense

prefcio

O livro A Indstria do Maranho: um novo ciclo apresenta uma descrio sucinta da atividade industrial do estado do Maranho assim como ela se encontra hoje, no sem antes percorrer os momentos mais importantes de sua histria. No revela um propsito de constituir um documento de pesquisa histrica mas, ao contrrio, uma descrio de fatos e acontecimentos ligados ao processo de desenvolvimento do estado que, de algum modo e em certos momentos, tangenciam com importantes destaques o passado rico em situaes que retratam traos do perfil da gente e em particular dos empreendedores maranhenses. O desapego pelo histrico foi uma opo que se justifica por ser um tratamento coerente com os objetivos da obra, que se identificam com a anlise do processo histrico da indstria no estado e com o estudo das potencialidades presentes para oferecer alternativas de desenvolvimento para o futuro. Tudo certamente comeando com Daniel de La Touche, o corsrio, Senhor de La Ravardire, ttulo que lhe foi concedido pela rainha-regente Maria de Mdice para explorar as terras da linha equinocial e que resultaram na fundao do Forte e da Vila de So Lus, em 1612, em homenagem ao rei Lus XIII.

As culturas da cana-de-acar, do algodo, do arroz e do babau so apresentadas como exemplos da coragem, da obstinao e da determinao do empresariado maranhense, desde suas origens at a atualidade, de suas lutas fortalecendo a construo de lideranas inesquecveis, que fizeram da FIEMA, herdeira do legado de combatividade e vitrias, uma instituio respeitada e admirada por suas realizaes. indstria txtil foi reservado espao que abrigasse a verdadeira grandeza de sua notvel expresso econmica e social. A obra ora editada aborda tambm o desempenho estratgico dos pequenos e mdios empresrios destacando a sua importncia, fruto da capacidade empreendedora e das habilidades gerenciais inatas que, desenvolvidas, certamente sero determinantes do nosso progresso industrial. Os grandes empreendimentos como Carajs, Alumar, Porto do Itaqui, plo gusa, construo civil, entre outros, tm o mrito de, ao serem citados, apontar para o futuro que se aproxima, aceleradamente, para o estado do Maranho. A jornada de trabalho e de glrias que construram a FIEMA apresentada, com os louvores merecidos, ao lado das realizaes de suas instituies vinculadas SESI, SENAI e IEL, indiscutveis contribuies econmicas e sociais da indstria brasileira. O planejamento estratgico proposto pela FIEMA para o nosso estado completa o qualitativo da obra de inestimvel valor para o acervo de nossa indstria. Quem, um dia, ler este livro editado pela FIEMA por brilhante iniciativa do lder empresarial Jorge Mendes , concluir, com o orgulho que simboliza o carter de nossa gente, que as cores do passado se projetam no futuro, fortalecendo as nossas esperanas e expectativas de felicidade, conquistas e realizaes.

JOS MANUEL DE AGUIAR MARTINS Diretor-Geral do SENAI/DN

a noVa economia maranHense

Para a maioria dos historiadores, a primeira tentativa real de colonizao do Maranho deveu-se aos franceses, que trouxeram para c profissionais artesos, como carpinteiros, pedreiros, teceles, serralheiros, fundidores, sapateiros, alfaiates, alm de astrnomos e padres, e construram os fortes de Itapari, Sardinha e Cahur, estabelecendo-se para consolidar aqui o que seria a Frana Equinocial, de objetivo nitidamente comercial. Mas, logo depois, vieram os portugueses sob o comando de Jernimo de Albuquerque e Diogo de Campos; aportaram em Guaxenduba, prximo da foz do rio Munim, onde ergueram o forte de Santa Maria, enfrentaram os franceses e os expulsaram. Mais tarde, tambm os holandeses chegaram a ocupar So Lus por trs anos, e do mesmo modo foram expulsos. A primeira atividade econmica realizada no Maranho, com franceses ou portugueses, foi o comrcio de produtos da terra tabaco, algodo, pimenta e madeiras. Consta a existncia de extensos algodoais j no incio do sculo XVII; uma bem montada serraria deixada pelos franceses talvez represente a primeira empresa industrial do estado.

13

Edgar Rocha

So Lus: a nova cidade se espraia pela faixa litornea

Da segunda metade do sculo em diante, passaram a compor o leque de produtos extrativos de interesse comercial o cravo, a salsaparrilha, a baunilha, o mbar, a canela, o pau-brasil, o pau preto, o anil e o urucu, com o governo colonial aconselhando e ordenando medidas que levassem a uma grande produo. Dentre os produtos agrcolas comercializados e com produo incentivada pelo governo colonial, destacam-se o algodo, o acar, o tabaco e o arroz. O algodo, que percorreu toda a histria econmica do Maranho at as primeiras dcadas do sculo XX como o mais importante produto econmico do estado, manteve em destaque o seu valor, chegando inclusive a ser utilizado como moeda por um longo tempo.

14

O acar e o arroz, ao lado do algodo, sero objeto de abordagem especial neste trabalho. O tabaco teve sua importncia assegurada pelos bons preos que conseguia em alguns pases da Europa. No relevante a produo industrial dos tempos coloniais, at porque a indstria por muito tempo foi vedada aos colonos. A principal exceo a essa regra foi o acar e a aguardente da mesma origem, a cana-de-acar. Todos os demais bens industriais eram trazidos da metrpole. O surto industrial maranhense teve incio efetivo a partir da segunda metade do sculo XIX, no fim do Imprio e incio da Repblica, como sada encontrada pelo empresariado para superar as dificuldades por que passava a atividade algodoeira do estado. Outros ramos industriais foram surgindo a partir de ento, com maior ou menor sucesso, merecendo destaque a extrao, j no sculo XX, do leo de babau, que dcadas depois veio a assumir a condio de mais importante produto industrial do Maranho. Transformaes profundas ocorreram na indstria maranhense, principalmente depois do declnio do leo de babau. A minerometalurgia e a siderurgia surgem como os ramos mais proeminentes dos instalados no estado a partir do Projeto Grande Carajs, dos anos 80 do sculo passado, alm de outros que vo surgindo na esteira do fortalecimento do agronegcio. Diante dessa realidade, mantm-se as expectativas de um forte crescimento industrial, o que de algum modo vem ocorrendo, embora em ritmo menos acelerado do que o esperado. exceo desses grandes projetos, a grande maioria dos empreendimentos industriais do Maranho de hoje encontra-se na categoria das micro, pequenas e mdias empresas. Reproduzem elas, no estado, atividades tradicionais que, em maior ou menor volume ou especializao, so encontradas em todo o pas. So elas responsveis por parte significativa do produto industrial maranhense, tm papel relevante na organizao econmica e social e se constituem na forma mais eficaz de tornar efetivas as polticas voltadas para elevao da renda e do emprego, e para a substituio de importaes, interesse do estado e das classes empresariais. So de ramos industriais os mais diferentes, com forte destaque para a construo civil, que tem o maior nmero de empresas instaladas, seguida da fa-

15

bricao de produtos alimentcios e bebidas, produtos minerais no-metlicos, artigos de vesturio e acessrios, mveis, mquinas e equipamentos, edio e impresso, produtos qumicos, entre vrios outros. Destacam-se no ramo de bebidas duas modernas fbricas de cervejas, filiais de grandes marcas nacionais, alm de numerosas outras de refrigerantes. Fios, tecidos, fibras vegetais, madeiras e mveis, compensados e laminados, confeces de roupas, metalurgia bsica, panificao e confeitaria, leos vegetais e produtos qumicos e farmacuticos, curtimento de couros, artefatos de cimento, gesso e amianto, indstrias grficas, construo pesada, plsticos, calados de couro, entre outros, so ramos presentes no estado, mas cuja explorao tem ainda muito campo para crescer e fortalecer-se. No caso especfico da agroindstria atrelada ao agronegcio, embora a regio de Balsas j conte com um plo agropecurio mais antigo e consolidado, com unidades dedicadas ao beneficiamento do arroz e outras ocupadas em produzir fertilizantes a partir da mistura de produtos qumicos importados do exterior, ainda no dispe de um parque de agroindstrias compatvel com a produo primria que gera. Na mesma situao encontram-se a regio tocantina, que tem um setor primrio tambm muito importante, e, mais recentemente, a regio do Baixo Parnaba, polarizada pelo municpio de Chapadinha, onde o cultivo da soja comea a destacar-se em quantidade e qualidade. No inteno deste trabalho descrever todos os ramos da indstria existentes no estado, nem relatar as unidades que deles se ocupam, mas destacar alguns segmentos ditos estruturantes, ou seja, aqueles cuja amplitude e dinamismo podem reorientar a atividade industrial de modo a construir cadeias produtivas fortes, especializadas, de acordo com a realidade econmica do estado que carrega potencialidades e vantagens competitivas indiscutveis e grande disponibilidade de recursos naturais e humanos. So consideradas, assim, algumas cadeias produtivas indutoras do adensamento e da dinamizao do segmento como um todo, gerando efeitos multiplicadores para frente e para trs, como o caso das cadeias da minero-metalurgia, da construo civil e de todas aquelas relacionadas ao agronegcio, por exemplo. Dentre essas, vale ressaltar a produo de biocombustveis, que assume papel

16

Edgar Rocha Edgar Rocha

A nova atividade produtiva, a infra-estrutura e a logstica reconfiguram as cidades e a economia do estado

Edgar Rocha Edgar Rocha Dourado

17

cada vez mais relevante no contexto produtivo do estado, e o beneficiamento e industrializao da soja e demais produtos agrcolas de escala. Este trabalho, que um quadro muito sucinto da atividade industrial do Maranho, se atribui duas finalidades bsicas. Em primeiro lugar, aps uma breve retrospectiva histrica, quer registrar o momento por que passa a indstria maranhense os principais ramos em explorao, os projetos de destaque em porte e modernidade, as oportunidades de investimento; depois, tecendo consideraes sobre os rumos que deve tomar a atividade no Maranho, pretende discorrer sobre potencialidades industriais do estado, vantagens competitivas e instrumentos disponveis para o investidor industrial em territrio maranhense, inclusive sobre sistemas de incentivo e apoio institucional e corporativo com que pode contar.Edgar Rocha

18

a indstria na economia do maranHo

Com mais de 333.000km, o Maranho o segundo maior estado nordestino em extenso territorial e tem o segundo maior litoral brasileiro nos dois casos, s suplantado pela Bahia. A disponibilidade de terras agricultveis, excluindo-se alguns estados da Amaznia Legal, a maior do pas, mesmo considerando as reas de reserva legal e as reas protegidas; uma extensa rede hidrogrfica perene e clima favorvel durante o ano todo compem o quadro de vantagens naturais do estado para o investimento produtivo. Uma importante infra-estrutura ferroviria, composta pela Estrada de Ferro Carajs (EFC), pela Ferrovia Norte-Sul (FNS) e pela Companhia Ferroviria do Nordeste (CFN), do mesmo modo como uma vasta malha rodoviria federal e estadual, corta o territrio maranhense em todas as direes; na ilha de So Lus, um extraordinrio complexo porturio formado pelos portos do Itaqui, da Alumar e da Ponta da Madeira constitui, de fato, o terminal martimo brasileiro mais prximo dos mercados americano e europeu.

19

O terminal multimodal de transportes, de Estreito (MA), integra as regies produtoras do Norte, Centro-Oeste e do sul maranhense com o Porto do Itaqui via Estrada de Ferro Norte-Sul

duas ltimas dcadas, a ponto de promover alteraes profundas na economia assim como na prpria organizao urbana e social. O extrativismo, primeira atividade econmica do Maranho e que ultimamente se concentrou na explorao madeireira e do babau, vem perdendo fora ano a ano, ora em conseqncia da extino das florestas e ocupao dos espaos por pastagens ou projetos agrcolas, ora pelas dificuldades ainda no superadas na explorao do babau de modo a torn-lo um produto competitivo. Observase, todavia, crescimento importante, com grandes perspectivas, na explorao de minerais no-metlicos, como o calcrio, o gesso e outros, sinalizando para utilizaes industriais importantes na rea da construo civil assim como na atividade agrcola. A agricultura e a pecuria deixam, aos poucos, as caractersticas de atividades extensivas e de sobrevivncia e vo assumindo porte e qualidade de agronegcio, transformando os sistemas produtivos, agora sustentados na pesquisa

Dourado

Grandes transformaes ocorreram no sistema produtivo do estado, nas

Edgar Rocha

20

e na alta tecnologia. A mecanizao viabiliza a expanso sempre maior da rea de produo; os recursos tecnolgicos, o manejo adequado, a logstica de armazenagem e transporte possibilitam o escoamento e a exportao em condies competitivas. Enfim, a agropecuria tradicional substituda por uma atividade moderna de larga escala e alta tecnologia que ocupa espaos cada vez maiores no territrio estadual: a produo de soja, arroz e cana-de-acar predomina na regio sul-maranhense (municpios de Balsas, Riacho, Tasso Fragoso, Alto Parnaba, Fortaleza dos Nogueiras, Sambaba e So Raimundo das Mangabeiras) e se expande pela regio tocantina (Imperatriz, Aailndia, Porto Franco e outros). A soja especificamente j se destaca tambm na regio do Baixo Parnaba (municpios de Chapadinha, Anapurus, Brejo e outros). Uma pecuria com tecnologias modernas de manejo e melhoramento gentico consolida-se na regio do Mdio Mearim (municpio de Bacabal e adjacncias) e na regio do Pindar (municpios de Santa Ins, Z Doca e outros). O mesmo fenmeno ocorre com menor intensidade, mas firmemente, nas demais regies do estado, citando-se por sua importncia as de Caxias, Presidente Dutra e Timon.Arquivo FIEMA

Transporte ferrovirio, Maranho

21

At o ano 2000, a maior parte da rea ocupada pela agricultura destinava-se ao cultivo do arroz, seguido do milho. A partir de ento, essa realidade comeou a mudar com o aumento continuado da rea destinada soja, cuja produo cresce seguidamente em razo daquele aumento, como tambm pela adoo sempre maior de recursos tcnicos predominantes nesse tipo de atividade. De 1996 para 2005 a rea colhida da soja passou de 62.328ha para 372.074ha; e a produo, de 135.123 toneladas, para 996.909 toneladas; ou seja, para um aumento de quase 600% na rea colhida, houve um incremento de 738% na produo. No mesmo perodo o arroz aumentou 20% em rea colhida, crescendo 28% na produo. A maior concentrao se d na regio sul do estado, particularmente nas microrregies Gerais de Balsas e Chapadas das Mangabeiras. A produo do arroz ocorre com maior intensidade nas microrregies do Pindar, Alto Mearim e Graja, alm das Chapadas do Alto Itapecuru, Presidente Dutra, Imperatriz, Caxias e Mdio Mearim; a mandioca, nas microrregies da Baixada Maranhense, do Gurupi, do Baixo Parnaba e do Litoral Norte. J o feijo registra maior presena nas microrregies de Pindar, Alto Mearim, Graja e Baixo Parnaba. O cultivo da cana-de-acar, embora distribudo em vrias microrregies, tende a ter uma presena mais marcante no leste, sul e sudeste do estado, com forte presena nos municpios de So Raimundo das Mangabeiras, Porto Franco e Coelho Neto. A rea colhida, que em 1996 foi de 16.906ha, para uma produo de 829.257 toneladas, passou para 31.728ha, em 2005, para uma produo de 1.968.414 toneladas incrementos de 67 ,67% e 137 ,37%, respectivamente. A pecuria vai obtendo um destaque importante na economia maranhense; o crescimento significativo do rebanho bovino coloca o Maranho como o segundo maior produtor do Nordeste, depois da Bahia, com mais de 18% do total do rebanho regional. Do ano 2000 para 2005, o rebanho bovino passou de 4 milhes de cabeas para 6,5 milhes, um crescimento superior a 60% em cinco anos; hoje, contam-se mais de 7 milhes de cabeas. Devem ser ressaltadas as polticas de defesa animal e de melhoramento gentico como caractersticas cada vez mais presentes na atividade pecuria maranhense.

22

Em geral, a agropecuria do Maranho experimenta assim um processo de crescimento bastante significativo, que repercute no aumento das exportaes e numa alterao importante na pauta exportadora tradicional do estado. Alm do minrio de ferro e derivados, e do alumnio, nela se destacam os gros de soja como o terceiro item de maior valor, com US$ 189 milhes, e participao de 15,36 %, em 2004, e US$ 222 milhes e participao de 14,78%, em 2005. De 2000 para 2005, o valor das exportaes saltou de US$ 758 milhes para US$ 1,5 bilho, apresentando um crescimento de quase 100%. Quanto ao setor secundrio, por ramos ou gneros, observa-se na ltima dcada o crescimento muito significativo da metalurgia. Ferro fundido bruto, alumnio no-ligado, ligas de alumnio em forma bruta e alumina calcinada representaram, sozinhos, quase 60% das exportaes maranhenses em 2005. Do ponto de vista do mercado, interessante observar que, no ano 2000, apenas 16,7% da produo industrial destinava-se ao mercado interno alimentos, txtil, madeira e construes; a forte concentrao se dava na produo de bens intermedirios para exportao. Essa realidade explica a grande dependncia da economia maranhense da importao de produtos industriais vindos de outras regies do pas ou do exterior. No h dvida de que o Projeto Ferro Carajs, conduzido pela Vale, e o Consrcio Alumnio do Maranho (Alumar) abriram um novo ciclo da economia maranhense ao redirecionar a atividade produtiva para outros setores que no aqueles tradicionais do extrativismo e industrializao do babau, da indstria txtil, do cultivo e beneficiamento do arroz, por exemplo. Viabilizou-se a explorao sustentada em larga escala da siderurgia e da metalurgia como elos fortes da produo industrial do estado. Para Polary1,a economia do Maranho est estruturada em dois grandes eixos de dinamismo e modernizao: o agronegcio, com destaque para a moderna produo da regio sul-maranhense, onde se expandem a soja e a pecuria, e o complexo minerometalrgico, concentrado no oeste e norte do estado, em torno do alumnio e do minrio de ferro.

1

Jos H. Braga Polary, economista, professor da Universidade Federal do Maranho.

23

Mudou tambm, profundamente, nas duas ltimas dcadas, a infra-estrutura de transportes. A malha rodoviria cobre todas as regies do estado e interliga todos os municpios entre si, com a capital e com os demais estados e regies do pas. Foi reincorporado economia o sistema de transporte ferrovirio, com a construo da Estrada de Ferro Carajs e da Ferrovia Norte-Sul no trecho maranhense e no do norte do estado do Tocantins e com a modernizao da Companhia Ferroviria do Nordeste, antiga Estrada de Ferro So Lus-Teresina. O moderno complexo porturio sinaliza a expanso do transporte martimo que, alm de produtos primrios, inclua produtos industriais e pessoas e se integre ao dinamismo do sistema econmico regional e do estado. A convergncia da logstica e infra-estrutura disponveis para o Porto do Itaqui, aliada ao fato de ser a capital e contar com a maior densidade de recursos humanos e centros de ensino, consolidou So Lus como o ncleo urbano mais influente e importante da economia maranhense.Edgar Rocha

Embarque de alumnio no Porto do Itaqui

24

O PIB do estado, que era de R$ 13,88 bilhes em 2003, passou para R$ 16,55 bilhes, em 2004, um dos maiores crescimentos entre os estados da federao. Esse desempenho resulta de atividades vinculadas minerometalurgia especialmente o ferro-gusa, a alumina calcinada, o alumnio no-ligado e ao agronegcio, com a soja: esses dois setores tm sido o carro-chefe das exportaes do estado e so responsveis pelo seu crescimento econmico com ndices superiores mdia brasileira e nordestina. De fato, desde 1980 que esse crescimento se acelera, ampliando a participao relativa do estado no Produto Interno Bruto (PIB) da regio Nordeste. Relativamente ao Produto Interno Bruto do Brasil, a participao em percentual do estado foi de 0,90% em 2003, passando para 0,94% em 2004. Na formao do PIB maranhense, o setor industrial responsvel por 25,4% (ou seja, R$ 4,2 bilhes, a preos correntes de 2004), contra 20,1% do setor agropecurio e 54,4% do tercirio. Dentre as atividades secundrias, destacamse a Indstria de Transformao, responsvel por 17 ,9% do PIB estadual, vindo depois o segmento da Construo (4,6%) e os servios industriais de utilidade pblica (Eletricidade, Gs e gua) com 2,9%. A indstria maranhense ocupa, assim, o segundo lugar na composio do Produto Interno Bruto do estado, e essa participao vem crescendo ao longo dos ltimos dez anos. No essa uma posio histrica. Os produtos primrios sempre prevaleceram sobre os produtos industriais, inclusive constituram a base da exportao maranhense ao longo dos sculos. At mesmo o acar, cuja produo se iniciou ainda na primeira metade do sculo XVII, em nenhum momento suplantou os produtos oriundos do extrativismo e da agricultura e, no mais das vezes, sequer foi capaz de atender o mercado interno. Criou-se mesmo, no meio empresarial maranhense, a convico de ser o Maranho um estado essencialmente agrcola e extrativista: uma indstria dinmica, de valor expressivo, sempre se apresentou como um fenmeno histrico raro, de breve durao. No o que indica o novo quadro econmico do estado. Recursos naturais, infra-estruturas de transportes, logstica, integrao com as macrorregies Norte,

25

Centro-Oeste e Nordeste abrem perspectivas concretas de crescimento e fortalecimento para a indstria maranhense ao lhe darem funes essenciais para o desenvolvimento regional. A essa nova realidade prendem-se o governo do estado e a classe dos empresrios da indstria, que definem polticas voltadas para o aproveitamento maior da potencialidade industrial do Maranho de modo a capacit-lo a exercer o seu novo papel na economia das regies integradas e do pas. E os empresrios industriais esto respondendo a essa nova realidade com alguns investimentos de vulto, ora ampliando, ora relocalizando projetos existentes, ora modernizando-os, mas conscientes de que ainda muito grande o espao que precisa ser ocupado para alcanar aquele objetivo. E tm propostas para isso. O Plano Estratgico de Desenvolvimento Industrial do Maranho o exemplo bvio dos ideais e dos propsitos empresariais. Nele esto expressas polticas e prioridades cuja materializao implica o envolvimento da sociedade como um todo, dos empresrios e agentes de governo, principais atores no processo de ajustamento da economia nova realidade, especificamente no setor industrial, ao qual compete adensar as cadeias produtivas vinculadas agregao de valor. Esse processo est em andamento, assim o indicam os dados econmicos. Todavia, evidente que exige nova dinmica no aproveitamento sustentado das potencialidades de recursos naturais e humanos, na agregao de valor aos produtos do agronegcio e na efetivao das vantagens comparativas do estado desde a localizao estratgica em relao aos mercados internacionais e ao eixo de desenvolvimento e integrao regional do AraguaiaTocantins at a disponibilidade de infra-estrutura e logstica especiais. Uma outra constatao instiga o empresrio industrial maranhense: a grande prevalncia, no estado, do micro e pequeno empreendimento e o amplo e valioso mercado interno para produtos industriais de menor valor. Trata-se de um mercado pouco destacado pelos analistas econmicos, mas que mostra a sua fora quando se avalia o volume das importaes realizadas pelo estado de outras regies do pas, expondo o grande potencial inexplorado pelos investidores locais.

26

Em sntese, esses so indicadores que, no conjunto, desvelam a amplitude das oportunidades que a nova realidade econmica do Maranho oferece aos empreendedores industriais. De um lado, o grande investimento focado na agregao de valor a commodities oriundas da explorao mineral e do agronegcio, por exemplo, destinadas ao grande mercado nacional e ao mercado externo; de outro, o pequeno/mdio investimento, orientado a explorar de forma sustentada o grande mercado interno do pequeno consumo industrial, materializando, na realidade, um efetivo e necessrio programa de substituio de importaes. Esses dois aspectos vm definindo estratgias de atuao para a Federao das Indstrias do Estado do Maranho (FIEMA). So dados considerados pelo Plano Estratgico de Desenvolvimento Industrial do Estado que, ao tempo em que tem como fundamentais para a economia os grandes projetos industriais de agregao de valor s commodities hoje principal item das exportaes d nfase a vetores relacionados ao pequeno investimento: arranjos produtivos locais, programas de substituio de importaes. O quadro econmico aqui sucintamente visualizado o campo em que a FIEMA se disps a atuar quando assumiu para si a prioridade do desenvolvimento industrial, lado a lado com suas outras atribuies institucionais. Alm da elaborao do Plano, numerosos outros atos ela tem levado a efeito no objetivo de divulgar, esclarecer, estimular e apoiar o investimento produtivo na indstria, como forma de dar complementaridade aos investimentos que ocorrem nos outros setores da economia, contribuindo dessa forma para fortalecer e consolidar o desenvolvimento econmico, social e humano do estado.Edgar Rocha Edgar Rocha

Fotos do complexo porturio Itaqui/Ponta da Madeira

27

Edgar Rocha

Coco babau, principal produto do extrativismo vegetal maranhense

a indstria tradicionaL

a indstria do acarOs historiadores acreditam que a cana-de-acar se tornou conhecida h 10 ou 12 mil anos a.C., e o acar, h cerca de 3 mil anos a.C. No incio, o acar foi manipulado para fins teraputicos e ainda no sculo XVI era empregado pelos ricos e nobres como valioso remdio para muitas doenas. Somente a partir do sculo XVII que passou a ser produzido em escala comercial; na Europa, como alimento, era iguaria das cozinhas de todas as classes sociais. Nesse tempo, Portugal plantava cana-de-acar nas ilhas de Cabo Verde, Aores e Madeira em terras que eram poucas para a cultura de um produto caro, escasso e de grande demanda. Com a descoberta e colonizao do Brasil, este logo foi visto como alternativa comercialmente vantajosa para os plantadores e para os negcios portugueses. Mais tarde, o emprego de mode-obra escrava trazida da frica possibilitou a Portugal abastecer a Europa com o acar aqui produzido e enriquecer, atraindo a cobia de franceses, espanhis e ingleses.

29

As primeiras mudas, vindas da ilha da Madeira, chegaram ao Brasil em 1502, constituindo a primeira lavoura a ser instalada no Brasil; ainda na primeira metade do sculo XVI, o cultivo da cana-de-acar difundia-se da faixa litornea para o interior, e j em 1550, ao longo do litoral, numerosos engenhos fabricavam acar de qualidade equivalente ao produzido pela ndia. No Nordeste, fixou-se nas manchas midas do serto, desenvolvendo-se em dois tipos de organizao do trabalho: 1) a grande lavoura, voltada para a produo e exportao do acar, com o uso extensivo da terra e intensivo da mode-obra, representando parcela importante no volume de produo do Brasil, at mesmo nos dias atuais; e 2) a pequena lavoura, empregando mo-de-obra reduzida, voltada para a subsistncia do proprietrio ou para o pequeno mercado regional ou local, em volume de produo pouco significativo, se comparado com o sistema anterior. Estratgica por todo o perodo colonial, a cana-de-acar foi sinnimo de prosperidade; incentivado com a iseno do imposto de exportao, o Brasil tornou-se, desde meados do sculo XVII, o maior produtor de acar de cana do mundo, posio que manteve por muito tempo. O cultivo da cana e a fabricao do acar deram origem a uma das mais fortes caractersticas do Brasil Colnia, a casa do engenho, que, em geral, consistia nas instalaes necessrias produo do acar moenda, fornos, casa de purgar e posto para secar. No entorno ficavam a casa-grande, moradia do proprietrio e sua famlia, e a senzala, onde viviam os escravos. No Maranho, o cultivo da cana e a fabricao do acar tiveram papel relevante at o sculo XIX, com a instalao de numerosos engenhos nos vales dos principais rios, em praticamente todas as regies, com a utilizao intensiva de mo-de-obra africana, durante o ltimo sculo do trfico de escravos para o Brasil (1750-1850). Concentrado principalmente no Vale do Itapecuru e na Baixada Maranhense, regies onde se desenvolveram grandes plantaes de algodo e de cana-de-acar, e em So Lus e Alcntara, o contingente africano exerceu forte influncia sociocultural, contribuindo para tornar essas cidades famosas, sobretudo pela grandiosidade dos sobrades coloniais, construdos com mo-

30

Reproduo: Edgar Rocha

Engenho So Pedro, o nico exemplar da poltica dos engenhos centrais, no Maranho (sc. XIX)

de-obra escrava, e pela forte influncia africana na msica, com sua harmonia e beleza, e na culinria. No Par, os primeiros engenhos foram instalados pelos holandeses, possivelmente antes de 1600 (o primeiro engenho portugus no Par comeou a funcionar entre 1616 e 1618). Tanto no Par quanto no Amazonas os engenhos desviaram sua produo para a cachaa, em detrimento do acar. A fabricao do acar iniciou-se ainda na primeira metade do sculo XVI, com a construo do primeiro engenho, em 1622, por Antnio Muniz Barreiros, margem do rio Itapecuru. Quando da invaso holandesa, em 1641, j existiam cinco dessas fbricas, que se constituam de simples molinetes movidos por animais. Os holandeses, no perodo em que aqui estiveram, construram outros sete engenhos, inclusive um na Ilha Grande, no lugar por nome Araagy.

31

Com a expulso dos holandeses, a produo aucareira espalhou-se pelos vales dos rios Mearim e Pindar e ainda em Guimares, produzindo o acar branco e o mascavo; no entanto, polticas de preo equivocadas e at mesmo a falta de navios para exportao fizeram com que os engenhos passassem a produzir aguardente, que tinha preo bem melhor. Em 1712 havia molinetes espalhados por toda parte, mas produzindo aguardente, em vez de acar. Nessa poca a colnia enfrentou um perodo de extrema penria, abeirandose da misria. A recuperao somente se deu a partir da criao, em 1755, da Companhia Geral de Comrcio do Gro-Par e Maranho, que, no fim da era colonial, viabilizou ao Maranho e ao Par um perodo de franca prosperidade. Foi um fausto, no entanto apoiado muito mais no algodo e no arroz que no acar; este, por toda a segunda metade do sculo XVIII, com uma produo insignificante, no atendia sequer ao consumo interno, situao que perdurou por toda a primeira metade do sculo XIX. O Maranho era abastecido por Pernambuco. A recuperao do acar iniciou-se em meados do sculo XIX sob o estmulo do governador Joaquim Franco de S, que assumiu como prioridade desenvolver a lavoura em geral, com destaque para a cana-de-acar. Para isso desencadeou intensa divulgao das possibilidades econmicas da fabricao do acar a partir da utilizao de maquinrios modernos: mquina a vapor, engenho de trs moendas, caldeira de cobre, alambique do sistema de Deirone e Caile, e retificador. A propaganda surtiu efeito: multiplicaram-se os engenhos e, em 1860, j existiam 410 fbricas de acar, das quais 284 utilizando mquinas movidas a vapor ou por fora hidrulica e 136 a trao animal. S o vale do Pindar contava com 96 instalaes, vindo depois Guimares, na Baixada. Em 1870 eram 500 os engenhos de acar na provncia. Os resultados apareceram e a indstria aucareira passou a apresentar nmeros positivos, tornando-se no s auto-suficiente em relao ao consumo interno, mas ainda voltando a exportar: 1873, 5.000 toneladas; 1874, 6.800; 1875, 6.900; 1876, 10.900; 1877 10.200; 1878, 5.200; 1879, 7 , .000; 1880, 9.500; 1881, 13.500; 1882, 16.100, no se incluindo nesses nmeros o consumo da provncia, que era em mdia de 1.000 toneladas ao ano.

32

Foi esse o segundo ciclo do acar no Maranho; o terceiro seria a fase dos engenhos centrais, de curta durao, e que, no Maranho, consistiu apenas no Engenho So Pedro, no vale do Pindar. A proposta dos engenhos centrais teve origem no governo imperial, numa tentativa de racionalizar a produo aucareira no pas, ou seja, separar a atividade agrcola da atividade industrial, ambas operadas pelos fazendeiros que tradicionalmente plantavam, colhiam e industrializavam a cana-de-acar. O Engenho So Pedro, construdo a partir de 1881, foi inaugurado em 1884, iniciando sua produo na mesma data. Era um grande complexo industrial que, alm de um extenso e moderno maquinrio, contava, inclusive, com um trecho de ferrovia, o primeiro construdo no Maranho, para o transporte da cana. Mas, por uma srie de circunstncias negativas queda nos preos do acar, problemas no fornecimento da cana e questes administrativo-financeiras os resultados ficaram muito aqum do esperado: 846 toneladas em 1884 e 1.375 em 1885. A partir de 1886 a produo comeou a decair ainda mais, e os problemas avolumaram-se nos anos seguintes, agravados, ainda, pela proibio do trabalho escravo. Aps vrias tentativas para preservar o empreendimento, o Engenho So Pedro, endividado e descapitalizado, teve leiloadas suas mquinas e instalaes, e a produo do acar voltou a ser operada apenas pelo sistema tradicional, perdendo importncia nas dcadas seguintes, principalmente se comparada produo dos outros estados nordestinos e do sudeste do pas. Na atualidade, a indstria aucareira maranhense resume-se praticamente manipulao do produto para comercializao: grandes depsitos que se encarregam de embalar e distribuir o produto. Vale mencionar, todavia, que as empresas de produo de lcool combustvel instaladas no estado propem-se tambm a produzir acar de primeira qualidade. Mas o cultivo da cana-de-acar se mantm nos dias atuais, ora como base de uma pequena produo artesanal de aguardente; ora como suporte a unidades de produo de lcool combustvel. Vale mencionar que estudos tcnicocientficos indicam uma disponibilidade muito significativa de terras aptas para o cultivo, sinalizando para a expanso da cultura como uma das mais destacadas alternativas na poltica estadual de fomento produo de biocombustveis.

33

o algodo e a indstria txtilO algodo, conhecido pelos nativos antes da chegada dos portugueses, foi o mais importante produto econmico do Maranho, desde o perodo colonial at meados do sculo XX. No incio foi utilizado na fabricao de tecidos para as roupas de colonos e escravos. A partir da segunda metade do sculo XVIII, em decorrncia da Revoluo Industrial, iniciada na Inglaterra, houve grande desenvolvimento na produo de tecidos na Europa, com o algodo ocupando lugar muito expressivo na exportao brasileira, e no Maranho, sendo responsvel por importante acumulao de capital e fator determinante das diferentes fases do desenvolvimento estadual. O ciclo econmico do algodo, essencial na construo do estado, iniciouse e desenvolveu-se no modelo mercantilista, com a utilizao intensiva da mo-de-obra escrava, sob a gide da Companhia do Comrcio do Maranho, criada em 1682 para promover o desenvolvimento da colnia com base na monocultura. O governo portugus ameaava confiscar lavouras de quem no plantasse algodo ou cravo, produtos que interessavam comercialmente metrpole, provocando protestos dos lavradores locais, como a rebelio comandada pelos lderes do comrcio, Manoel e Toms Beckman, em 1684. Embora duramente reprimida, a revolta afetou o desempenho da Companhia, conduzindo a seu encerramento pouco depois. No entanto, em 1752, a Cmara de So Lus props metrpole a criao de uma nova companhia, com o objetivo de promover o desenvolvimento da colnia, regularizando a navegao e estimulando a lavoura, com exclusividade na explorao do comrcio de escravos negros. A deciso de adotar-se a mo-de-obra escrava foi aceita pelo governador-geral do estado, Francisco Xavier de Mendona Furtado, que a encaminhou ao seu irmo, o ministro do governo portugus, Sebastio Jos de Carvalho e Melo, o Marqus de Pombal, que no apenas encampou a idia, mas ampliou seus objetivos, dando o monoplio do comrcio da Regio Norte do Brasil a um grupo de comerciantes portugueses.

34

Companhia de Fiao e Tecidos de Cnhamo, em So Lus, hoje Ceprama (Centro de Comercializao de Produtos Artesanais do Maranho)Reproduo: Edgar Rocha

Gomador da fbrica Rio Anil

Reproduo: Edgar Rocha

35

A Companhia detinha o monoplio da exportao e importao no estado do Maranho, promovendo o aquecimento da economia de Portugal, integrando as colnias ao mercantilismo e assegurando lucros necessrios superao do quadro crtico em que se encontrava o pas. O nico produto excludo do sistema era o vinho, privilgio de outra empresa lusa. Na segunda metade do sculo XVIII, com o incio da Revoluo Industrial, as exportaes brasileiras de algodo apresentaram forte crescimento, contribuindo para a prosperidade econmica e o aumento da populao. Para se ter uma idia dos benefcios auferidos, entre 1760 e 1771 as exportaes de algodo passaram de 651 para 25.473 arrobas. A Companhia contribuiu efetivamente para a modernizao dos negcios, importando mo-de-obra escrava, adotando novas tcnicas agrcolas e, principalmente, implantando o crdito, medidas que impulsionaram a agricultura, principalmente o algodo, matria-prima fundamental para a indstria txtil inglesa, que nesse momento deixara de contar com a produo norte-americana em virtude da declarao da independncia de treze colnias inglesas, em 1776. Mesmo tendo obtido excelentes resultados, a Companhia enfrentou a oposio dos jesutas, que protestavam contra a abolio da Mesa do Bem, e de muitos comerciantes, que se atreveram at a critic-la. Em 1778, a rainha D. Maria I, atendendo a apelos e presses, encerrou as atividades da empresa, mas o impulso dado por esta economia maranhense foi decisivo para a fase de prosperidade experimentada pelo Maranho no final daquele sculo. Em 1780 o algodo respondia por 24% das exportaes do Brasil Colnia, superado apenas pelo acar, que liderava com 34%. A importncia das exportaes brasileiras nesse perodo foi de tal sorte significativa que chegava a ser comparada s exportaes dos Estados Unidos. E provvel at que a economia colonial brasileira tivesse tamanho e diversificao bem maiores que a dos Estados Unidos, podendo ter sido a maior economia do Novo Mundo nos trs sculos de mercantilismo. Nessa poca, o PIB per capita do Brasil era de 61,2 dlares, e o do estado do Maranho e Piau resultante da diviso administrativa de 1772 , era de 112 dlares, enquanto o da regio da Paraba, 22,4 dlares.

36

Em 1808, com a poltica de abertura dos portos, as exportaes maranhenses, cujo valor anual superava um milho de libras e movimentava 155 navios, estavam frente das de Pernambuco, igualando-se s da Bahia. Nesse mesmo tempo, o Par exportava o equivalente a 14% desse valor, e So Jos do Rio Negro, atual Amazonas, apenas 5%. Em 1815, elevado categoria de Reino Unido de Portugal e Algarves, o Brasil deixa oficialmente de ser colnia, passando a capitania do Maranho condio de provncia, quando contribua para o tesouro portugus com mais tributos do que as colnias do reino. O Maranho evolui, sua populao prospera, d apreo cultura. So Lus cresce a ponto de, em 1822, ser a quarta cidade brasileira em nmero de habitantes, suplantada apenas pelo Rio de Janeiro, Salvador e Recife. O progresso econmico, no entanto, no se mantm. Aps as lutas da Independncia, a economia maranhense entra em declnio. A estagnao prolonga-se e d causa a revoltas, como a Balaiada, de 1838, e mais tarde migrao para os seringais da Amaznia. No incio da Repblica a economia do estado sustentada pela manufatura algodoeira e do acar e pela produo e beneficiamento de arroz.

o parque txtil do maranhoA cotonicultura, alm de expandir a economia, deu ao Maranho a condio de pioneiro no Brasil em alguns aspectos do negcio do algodo. Em fins do sculo XVIII, foi o primeiro grande produtor e exportador brasileiro. Ao final do terceiro decnio do sculo XIX, a economia do Maranho poderia ser denominada a economia do algodo . A participao desse produto na exportao do estado variou entre 73% e 82%, e mesmo nos perodos de crise o algodo se manteve como o mais importante produto de exportao maranhense, at os primrdios do sculo XX. Entretanto, a partir de 1846, a cultura maranhense do algodo passou a fazerse a custos crescentes. A importao de escravos se tornara invivel; a expanso da economia agroexportadora do caf, no sudeste brasileiro, e o conseqente aumento da demanda de mo-de-obra escrava transformaram o trfico interno dessa fora de trabalho em negcio cada vez mais atrativo para proprietrios maranhenses; vender escravos era mais lucrativo que produzir algodo.

37

Reproduo: Edgar Rocha

38

Fbrica Manufactura de Caxias, Maranho, incio do sculo XX.

39

Novo nimo sobreveio com a Guerra de Secesso, nos Estados Unidos, de 1860 a 1865, que teve como efeito o aumento forte da demanda pelo algodo no mercado internacional, estimulando a atividade algodoeira tambm no Maranho. Contudo, os americanos, ao retomarem sua produo aps o conflito, logo reverteram esse quadro, com a melhor produtividade dos seus cultivos, entre outros fatores. E a lavoura algodoeira maranhense entrou novamente em crise, agravada pela extino da escravatura, em 1888, e pela fora do extrativismo da borracha amaznica, que entrou na disputa pela fora de trabalho ainda disponvel no Maranho. Jernimo de Viveiros descreve a situao: Para logo, cerca de 70% dos engenhos de cana e 30% das fazendas algodoeiras fecharam as portas Por tudo ... isso, no prprio ano de 1888, a desvalorizao da fazenda agrcola maranhense atingia a 90% . Foi nessa poca que aconteceu o que o mesmo Jernimo de Viveiros chama de loucura industrial. Os lavradores, pressionados pela mudana do sistema de produo e pelas dificuldades na comercializao dos seus produtos, decidem investir em fbricas. Em 1895 existiam no estado 27 unidades fabris, sendo que 17 pertencentes a sociedades annimas e 10 a particulares. Desse total, 10 fbricas de fiao e tecidos de algodo; 1 de fiar algodo; 1 de tecido de cnhamo; 1 de tecido de l; 1 de meias; 1 de fsforos; 1 de chumbo e pregos; 1 de calados; 1 de produtos cermicos; 4 de pilar arroz; 2 de pilar arroz e fabricar sabo; 1 de sabo e 2 de acar e aguardente. A primeira fbrica txtil maranhense foi inaugurada em 1883. Trata-se da Companhia Industrial Caxiense: 1.000 contos de capital, incorporado pelo Dr. Francisco Dias Carneiro, com 130 teares e 250 operrios, produzindo tecidos crus e tintos. Em seguida, em 1889 era instalada a Companhia Unio Caxiense, investimento de 850 contos, 220 teares, com 350 empregados, produzindo tecidos crus. O Dr. Francisco Dias Carneiro tambm participava deste empreendimento juntamente com dois outros empresrios, Antonio Joaquim Ferreira Guimares e Manuel Correia Baima do Lago. Em Caxias ainda se instalou a Fbrica Sanhar, 150 contos, 26 teares, 60 operrios; fabricava panos de algodo.

40

Em So Lus, a primeira fbrica do gnero s se instalou em 1890; foi a Companhia de Fiao e Tecidos Maranhense, construda na Camboa do Mato, s margens do rio Anil, com capital de 1.200 contos, 300 teares, produzindo tecidos em geral, riscados grossos e finos e fios em novelos. Outras fbricas viriam associar-se s pioneiras: a Companhia de Fiao e Tecidos de Cnhamo, em 1891, 900 contos de capital, com 105 teares e objetivo de fabricar tecidos de juta; a Companhia Progresso Maranhense, em 1892, com 150 teares, 160 operrios, produzindo panos de algodo; a Companhia Fabril Maranhense Santa Isabel, capital realizado de 1.700 contos, 450 teares, 600 operrios, produzindo riscado e domsticos de algodo; a Companhia de Fiao e Tecidos do Rio Anil, em 1893, 1.600 contos, 172 teares, 60 mquinas de fiao e 18 de branqueamento, produzindo morins e madapoles, com 209 operrios; a Companhia Manufatureira e Agrcola, de Cod, capital de 1.000 contos, 150 teares, produzindo fazenda, fios e corda, com 250 operrios; a Fbrica de Tecidos de Malha Ewerton, instalada em So Lus, em 1893, produzindo meias e tecidos para camisas, com 30 operrios; a Companhia Industrial Maranhense, 250 contos, 1894, destinada manufatura de fio, punhos e linha de pesca, com 50 operrios; a Companhia Lanifcios Maranhenses, 600 contos, 22 teares e outros aparelhos, com o objetivo de tecer todos os produtos de l, seda e algodo, ocupando 50 operrios. Ao todo, em 1921, a indstria txtil maranhense tinha um capital investido da ordem de 8.028 contos de ris, empregando 3.537 operrios, com 2.336 teares, 71.608 fusos e uma produo estimada em 11.776 contos de ris. Entre 1921 e 1945, essa produo alcanava 4 milhes e meio de metros de tecidos, ocupando 3.871 operrios. A tecnologia e os equipamentos adotados eram de procedncia inglesa; movidos a vapor, ainda operavam por volta dos anos 60 do sculo XX. Os teares e fusos utilizados at os anos 50 do sculo XX eram de fabricao anterior a 1900.

41

A fraca competio de outros estados do Nordeste pela matria-prima e as restries da mo-de-obra decorrentes das novas leis trabalhistas no favoreceram os investimentos na renovao dos equipamentos, e isso resultou na estagnao tecnolgica da indstria maranhense. Por conta disso, o estado experimentou um perodo de intensa reduo da produo e dos investimentos, que, aos poucos, passaram a direcionar-se para as fibras sintticas, nas novas fbricas do Sudeste. A partir do final dos anos 60, novas possibilidades surgiram, com o BNDES incluindo o setor txtil nos grupos preferenciais para financiamento. Entretanto, os investimentos maranhenses nesse setor foram pouco representativos at 1970, devido ao alto ndice de obsolescncia do parque fabril, notadamente no tocante fiao e tecelagem de algodo. No resistindo ao confronto com as fbricas do Sul e Sudeste, a indstria txtil maranhense sucumbiu. Dentre as causas mais notrias, cita-se a falta de atualizao tecnolgica e o custo elevado dos encargos sociais, alm de circunstncias locais como baixo poder aquisitivo do consumidor, a escassez de mo-de-obra qualificada e a impossibilidade material para a modernizao dos maquinrios. Hoje, o segmento txtil do estado se resume a umas poucas fbricas de fiao, que, embora demonstrem dinamismo empresarial, no traduzem a potencialidade estadual para o setor, principalmente agora, quando o cultivo do algodo volta a assumir posio de relevo no setor primrio maranhense.

cultivo e Beneficiamento do arrozO arroz j existia no Maranho como produto nativo; a espcie, conhecida como Vermelho ou Veneza, mida e quebradia, no foi aceita pelos colonizadores, que, sem xito de incio, impuseram o cultivo do arroz Carolina no correr do sculo XVIII. O nome arroz da Carolina uma aluso sua procedncia, mais precisamente a Carolina do Sul, nos Estados Unidos, onde floresceu uma prspera sociedade baseada nesse cultivo, entre os sculos XVIII e XIX; ali, o arroz foi introduzido pelos escravos oriundos do oeste africano ainda no perodo da Amrica Colonial.

42

O arroz branco que enfrentou forte resistncia por parte dos agricultores locais, teve excelente adaptao s condies edafoclimticas da regio compreendida pelas ento vilas de Itapecuru-Mirim, Alcntara, Guimares, Icatu e Mearim, na provncia do Maranho, contribuindo para o soerguimento econmico da colnia, levando o governo colonial a proibir o cultivo de qualquer outro arroz que no fosse o da Carolina. A proibio do arroz de Veneza pelo governador do Maranho ainda tem reflexos at hoje, porquanto terminou se disseminando para as demais provncias do Nordeste, onde no houve restrio ao cultivo, sendo ainda muito plantado e tendo a preferncia dos orizicultores, especialmente nas vrzeas do Semi-rido dos estados do Cear, Rio Grande do Norte, Paraba e Pernambuco. No MeioNorte, a variedade foi praticamente extinta, havendo apenas registro, no municpio de Guimares (MA), em 1982, da coleta de sementes de duas variedades nativas conhecidas como Agulha Vermelho e Agulhinha Vermelho (Mesquita, 1984). As primeiras produes significativas do arroz Carolina s apareceram na segunda metade do sculo XVIII, quando foram exportadas para Lisboa 2.800 arrobas, consignadas Companhia do Gro-Par e Maranho, que, considerando a boa qualidade do produto, enviou para a colnia os utenslios necessrios construo da primeira fbrica de soque de arroz de que se tem notcia. As colheitas foram crescendo, e o arroz passou a constar entre os itens de exportao da Colnia. Por volta de 1770 j eram trs as fbricas de soque que substituam os piladores de madeira movidos pelo vento. Segundo Jernimo de Viveiros, em Histria do comrcio do Maranho, em 1772 a colheita foi de 64.959 arrobas, exigindo treze naus para transport-la para a Metrpole; no ano seguinte a produo chegou a 100.000 arrobas, que foram para o Reino em 15 naus. No ltimo ano da Companhia do Gro-Par e Maranho (1777) foram colhidas 360.000 arrobas, registrando-se, a partir de ento, uma trajetria ascendente de produo at os primeiros anos do sculo XIX, quando havia carga para trinta navios anualmente. Desde ento o arroz passou a fazer parte da economia maranhense, para consumo interno e como item importante de exportao, por muitos momentos da histria, assegurando, ao lado do algodo, a prosperidade da provncia e, mais

43

Fbrica So Lus, de beneficiamento de arroz

Fbrica de beneficiamento de arroz no incio do sculo XX

Reproduo: Edgar Rocha Reproduo: Edgar Rocha

44

O beneficiamento de arroz em tempos modernos, Itapecuru-Mirim (MA)

Beneficiamento de arroz, vista interna das instalaes

Dourado Dourado

45

adiante, a do estado do Maranho, com as reas produtivas mais destacadas localizando-se no Vale do Itapecuru e na Baixada Maranhense. No meio-norte do Brasil, regio que compreende os estados do Maranho e Piau, o arroz cultivado em praticamente todos os municpios, sendo a principal cultura na maioria deles e, diferentemente do que ocorre nos demais estados nordestinos, o alimento bsico da populao. Embora no existam referncias estatsticas confiveis, razovel afirmar que o consumo de arroz pelos habitantes da regio se situa bem acima da mdia do consumo per capita nacional, que de 52kg. O estado do Maranho, historicamente, tem sido auto-suficiente em arroz, produzindo, hoje, um volume mais que duas vezes o necessrio para seu consumo, estimado em 400 mil toneladas/ano. Mas enfrenta um problema: a qualidade do produto, em parcela ainda muito significativa, deixa a desejar, com reflexos negativos principalmente na exportao para outros estados. No Rio de Janeiro, por exemplo, o arroz originrio do Maranho, em grande parte comercializado na Rua do Acre, era conhecido como arroz maranhense como indicativo de sua baixa qualidade. , Outra conseqncia dessa realidade ocorre no prprio mercado interno, que, pela mesma razo da qualidade inferior do produto local, absorve quantidades expressivas de arroz proveniente de regies produtoras tradicionais do pas e at mesmo de outros pases. No ano de 1945 a produo maranhense de arroz chegava a 42 mil toneladas, produzidas numa rea colhida de cerca de 32 mil hectares. Em 1982, no incio do processo de abertura dos cerrados, a produo atingiu o seu pice, com mais de 1,5 milho de toneladas numa rea de quase 1,2 milho de hectares. De l para c, a produo tem oscilado em volumes bem menores. Hoje, o cultivo do arroz se concentra nas mesorregies do oeste maranhense, que responde por 30% do volume produzido no estado destaque para a microrregio Pindar: sozinha, produz o equivalente a 24% do total do estado; vem depois a regio leste maranhense, com 22%, a norte maranhense, com 11%, e a sul maranhense, correspondente aos cerrados do sul do Maranho, com menos de 10%, muito embora seja onde se utiliza tecnologia de nvel mais elevado. A variedade desenvolvida pela Embrapa para as terras altas de sequeiro a Primavera apropriada para o Maranho. ,

46

O clima trpico-semi-rido exerce forte influncia sobre as safras e o principal problema enfrentado pelos produtores, que, em grande maioria, se utilizam do sistema de sequeiro; muito poucos fazem uso da irrigao. Levantamento com base em dados de rendimento de gros e pluviosidade desde o ano de 1945 mostra que pelo menos oito das ltimas 53 safras de arroz do Maranho (1951, 1981, 1983, 1985, 1987 1990, 1992 e 1993) foram afetadas pela seca. , Antes de ser levado ao consumo o arroz descascado e polido pelo processo conhecido como alvejamento, que o deixa branco; em seguida, submetido oleatura, um leve engorduramento dos gros para ficarem brilhantes; passa ento, por um processo de seleo, onde os gros, para fins de comercializao, so separados em Tipo 1 e Tipo 2, quebrados, defeituosos, marinheiros e quirera. Finalmente, empacotado e est pronto para o mercado. A demanda do arroz integral no polido expande-se a cada dia, na medida em que cresce o conhecimento sobre seu valor nutricional, superior ao do arroz polido. Mesmo o farelo de arroz, destinado ao arraoamento animal, passa a ser progressivamente utilizado para consumo humano, isoladamente. No Maranho, o beneficiamento do arroz ocorre da maneira mais simples e tradicional e tambm por processos mais modernos de seleo, padronizao e ensacamento. Pequenos usineiros, localizados em zonas rurais, vilas ou cidades menores, transformam o arroz em casca em arroz branco, numa prestao de servio aos pequenos produtores. O pagamento feito em dinheiro ou, em alguns casos, pela entrega de parte da mercadoria. Outro servio que prestam a guarda dos subprodutos farelo e quirela (ou quirera), que so vendidos como rao para animais. O arroz cultivado pelos pequenos produtores do Maranho o chamado comum com gros redondos e curtos, e quase sempre vendido na mes, ma regio em que produzido e processado. Assim, a populao rural costuma comprar o cereal a granel, fazendo com que o empacotamento do gro no seja necessrio. Alm do mais, como o arroz comum no tem classificao legal, no pode ser comercializado sob marcas e nomes de fantasia. na regio de Balsas que o arroz se apresenta com a melhor qualidade, resultado do uso de tcnicas de cultivo mais avanadas e de melhor estrutura

47

produtiva. A agricultura local cresceu muito nos ltimos anos por fora de investimentos da iniciativa privada. Usinas de beneficiamento de mdio porte so encontradas tanto em pequenas quanto nas grandes cidades; utilizam baixa tecnologia para descascar o arroz e vend-lo em sacos de 60kg. A descapitalizao freqentemente enfrentada por esses agentes impede a modernizao da estrutura de beneficiamento, que exige altos investimentos. As grandes indstrias, por sua vez, localizam-se nas regies onde se produz arroz longo ou longo-fino, sobretudo no centro-sul do Maranho, tm facilidade para comprar grandes quantidades de arroz em casca e possuem alta tecnologia para processar e empacotar o gro, imprimindo sua marca. Comercializam o produto beneficiado no mercado local, estadual ou para outros estados do Nordeste. Um dos problemas que as grandes agroindstrias maranhenses enfrentam a falta de padronizao do arroz em casca e, em menor escala, a falta de constncia da oferta. Isso resulta num gro beneficiado pouco uniforme e dificulta a conquista do consumidor. O custo de transformao para esses agentes mais elevado do que para os de pequeno e mdio porte, sobretudo por causa da embalagem. Contudo, suas margens de lucro so tambm maiores, por venderem um produto mais valorizado. O Maranho ainda um grande produtor de arroz. A expanso das tecnologias de cultivo mais modernas, assim como da irrigao, alm de impulsionar o crescimento da produo, ser fator de melhoria da qualidade do produto e de expanso e fortalecimento da indstria de beneficiamento, viabilizando, tambm nesse setor, a poltica de substituio de importaes.

a indstria do leo de BabauNa produo do babau, contribuem espcies do gnero orbignya: o babau propriamente dito (orbignya speciosa), a piassava (orbignya bichleri) e o perino (orbignya teixeirna), que podem coexistir em mistura na mesma localidade, mas que so facilmente reconhecveis. No Maranho, embora ocorram as duas outras espcies, prevalece o babau propriamente dito, uma palmeira brasileira de grande porte (at 20m), tronco cilndri-

48

co e copa em formato de taa, de grande ocorrncia no Maranho. Desde longa data suas folhas e tronco foram utilizados na construo de casebres, e o leo extrado de suas amndoas serviu para iluminao das fazendas durante o Imprio. Dada a grande abundncia, era um produto sem valor comercial at fins do sculo XIX, quando teve sua primeira cotao: 140 ris por quilo de amndoa, feita no Maranho pela firma comercial Martins & Irmo, pioneira na extrao de leos vegetais a partir do babau. O fruto o coco babau d em cachos, tem formato elipsoidal, pesa entre 90 e 280 gramas e se constitui de quatro partes: o epicarpo, ou casca, camada mais externa bastante rija; o mesocarpo, camada farinhosa rica em amido, de 0,5cm a 1,0cm de espessura; o endocarpo, material fibroso e rijo, de 2cm a 3cm de espessura, e as amndoas, de 3 a 4 por fruto, com 2,5cm a 6cm de comprimento e 1cm a 2cm de largura. A safra ocorre entre setembro e maro. Ainda hoje as palhas da palmeira so usadas para cobrir casas e para a fabricao de produtos artesanais; o palmito, para alimento e industrializao; o fruto o coco babau tem mltiplo aproveitamento: da casca, fazem-se produtos artesanais; do mesocarpo, extraem-se amido e farinha protica; do endocarpo, energia, quer pela queima direta como lenha, quer pelo carvo vegetal; da amndoa, leos vegetais, entre outros produtos. Os produtos do babau tradicionalmente comercializados so o leo extrado da amndoa, que representa 7% do peso total do fruto, e a torta, que resulta do processo de extrao. Historicamente, o babau tem sido de grande importncia para a economia maranhense, principalmente na primeira metade do sculo XX, quando ganha espao diante do predomnio do algodo e do arroz. E o ponto de partida foi a I Guerra Mundial, quando se iniciou um crescente fluxo exportador para o mercado europeu, com destaque para a Alemanha, por muito tempo o principal comprador. Do babau eram ento exportadas exclusivamente as amndoas. Jernimo de Viveiros apresenta os nmeros dessa exportao: em 1912, 588 quilos; em 1913, 16,9 toneladas; em 1914, 19,5; em 1915, 836,4; em 1918, 4.010,1; e em 1919, 5.603,2 toneladas.

49

Dourado

Fbrica de detergentes em que se utiliza o leo de babau

Com o crescimento do negcio, logo se evidenciou a importncia econmica que teria a quebra mecnica do coco. Apesar das inmeras tentativas, nenhuma delas obteve xito desejvel; mesmo assim, o volume de amndoas extradas a machado no deixou de crescer, e a economia do babau, ao lado da do algodo e do acar, contribuiu fortemente para a superao da crise generalizada resultante das mudanas no sistema de produo desencadeadas pela abolio da escravatura. Entre 1828 e 1930, ainda segundo Jernimo de Viveiros, seis grandes firmas da praa de So Lus exportavam a amndoa de babau: Francisco Aguiar & Cia, Berringer & Cia, Jorge & Santos, Leo & Cia., Oliveira & Irmo e C. S. de Oliveira & Cia. Na dcada de 30 o babau se firmou como um dos principais itens exportados, chegando em 1939 a ser o mais importante de todos, representando nada menos que 50,1% do valor da exportao total do estado. Com a ecloso da II Guerra Mundial, o Brasil perdeu o mercado europeu, que, para o Maranho, sig-

50

nificava o mercado da Alemanha, principal comprador do babau. Esse fato levou busca de outros mercados, principalmente o dos Estados Unidos. Esse objetivo se concretizou com a assinatura do Acordo Geral do Babau, em 1942, pelo qual se assegurava aos Estados Unidos o suprimento de matriaprima para a fabricao de leo, margarina e sabo, e ao Maranho, a garantia da colocao da maior parte do seu principal produto. Durante a vigncia desse acordo, de 70% a 75% da produo do babau do Maranho foram exportados para aquele pas. Logo os preos internos da amndoa e do leo de babau elevaram-se, tornando-se a principal fonte de renda de muitos dos proprietrios de terras, que praticamente sobreviviam dos lucros auferidos pela atividade de venda das amndoas; as quebradeiras de coco que se ocupavam da extrao desse produto foram estimuladas a aumentar sua produo nessa atividade, que tinha reflexos positivos na sua qualidade de vida. At ento, a grande parte da produo de amndoas de babau era exportada sem beneficiamento situao vantajosa para os estados produtores do leo de babau e prejudicial ao Maranho, no caso um simples fornecedor da matria-prima. O contrato mencionado tinha vigncia de quatro anos, prorrogada, no entanto, at junho de 1947 estipulando-se preos maiores e a diviso por igual da , produo: 50% para o mercado externo, 50% para o mercado interno. Condio esta, no entanto, prejudicada pela crescente indstria de leo do sul do pas, que forou a subida do preo da amndoa para que no faltasse matria-prima. Essa nova realidade repercutiu na exportao maranhense. A indstria do babau comea a se firmar: em 1948, as amndoas industrializadas no Maranho representavam 10,11% da produo total; em 1949, 20,17%. Neste ltimo ano, segundo o Departamento de Estatstica da Associao Comercial, foram exportadas 31.383 toneladas de amndoas e 5.420, de leo; em 1950, 33.797 toneladas de amndoas e 11.057 de leo. Em 1951, existiam 58 usinas de leo de babau em todo pas, das quais 11 estavam no Maranho. O encerramento do contrato de exportao para os Estados Unidos resultou em um grande abalo na economia maranhense, que ento passou a depender

51

somente das indstrias de leo do Sudeste; estas buscavam na extrao do leo de babau o aproveitamento dos seus potenciais ociosos, e a maior disponibilidade de amndoas forava a baixa dos preos para os nveis que lhes eram mais favorveis. Assim, contribuindo com quase 90% da produo nacional de amndoas, o Maranho no era, contudo, o primeiro produtor nacional de leo, detendo uma participao de apenas 17% do total nacional. Da por que, a partir da dcada de 50 do sculo XX, surgiram vrias empresas processadoras da amndoa do babau. At o incio da dcada de 80 constituram-se na mais importante atividade econmica do estado, definindo o auge da economia babaueira. No perodo, 49 empresas de mdio e de grande porte instalaram-se no Maranho, produzindo leo refinado e leo industrial para abastecimento das indstrias alimentcias e de higiene e limpeza, alm de torta e farelo, itens estes exportados exclusivamente para o exterior. A produo anual de leo de babau girava em torno de 130 mil toneladas e era o principal item da pauta de exportao do estado. Dos anos 80 para c, no entanto, o processamento de amndoas de babau caiu muito. O nmero de empresas esmagadoras reduziu-se drasticamente; hoje, exceo de uma importante indstria instalada em So Lus, a atividade est restrita a pequenas usinas integradas a fbricas de sabo e de material de higiene e limpeza, em cujo processo industrial utilizado o leo por elas produzido. As causas dessa nova realidade so muitas e vo desde a expanso expressiva da produo de leos vegetais de outras origens e a preos menores em pases asiticos at o crescimento explosivo da produo de leo de soja no Brasil, repercutindo na migrao da demanda por leos comestveis e derivados. O fato que a indstria de leos maranhense teve que se direcionar basicamente para os segmentos de higiene, limpeza e cosmticos. Mesmo assim, desde a dcada de 90 vem sofrendo concorrncia forte dos leos asiticos, dada a reduo das alquotas de importao que favorece a entrada dos produtos a preos inferiores aos do mercado brasileiro.

52

Edgar Rocha

Cacho de coco babau ainda na palmeira

53

No entanto, o babau ainda um oleaginoso brasileiro importante mesmo tendo como principal concorrente no mercado de leos comestveis o leo de soja, que menos saturado e pode ser oferecido a preos mais reduzidos; com isso, a produo do leo de babau comestvel est estimada apenas em cerca de 5,5 mil toneladas/ano e se destina, predominantemente, ao mercado nordestino. Diante desse quadro, restam as indstrias de higiene, limpeza e cosmticos como principal mercado brasileiro para o leo de babau; localizadas basicamente na regio sudeste do pas, absorvem elas em torno de 35 mil toneladas anuais de leo industrial de babau.

outros potenciais industriais do babauO babau detm um grande potencial inexplorado. Embora a sua utilizao econmica esteja associada extrao e industrializao do leo da amndoa, o fruto pode ser aproveitado como fonte energtica ou ainda como matria-prima para indstrias de alimento. Alm do grande volume de amndoas que deixam de ser exploradas para uma imensa diversidade de utilizaes industriais, estima-se uma disponibilidade de 1,07 milho de toneladas/ano de endocarpo, que representa um potencial termodinmico calculado em 20 milhes de gigajoules/ano, que, distribudos uniformemente ao longo do ano, significam um potencial de 615 MW, considerado somente o perodo da safra. A utilizao do endocarpo na indstria de ferro-gusa ainda pequena por questes de estrutura de fornecimento, principalmente. Do endocarpo, ainda, pode-se produzir o carvo ativado, utilizado em filtros e produtos de absoro de resduos tanto em sistemas e aparelhos domsticos quanto na indstria petrolfera e de bebidas, em laboratrios, no tratamento de efluentes e nas usinas de lcool (Revista Maranho Industrial n 7, 2005). No Maranho, a Empresa Industrial de Bacabal (EIB), localizada no municpio de Bacabal, produz 150 toneladas/ms desse tipo especial de carvo, alm de 300 toneladas/ms de coque metalrgico, similar ao utilizado em altos-fornos.

54

a pequena economia do babauAs alteraes ocorridas na economia do babau nas ltimas dcadas, assim como novas polticas fundirias adotadas pelos governos, provocaram mudanas do sistema de produo agropecuria do estado. Grandes empresas passaram a adquirir terras em larga escala e a utiliz-las em atividades intensivas, incompatveis com a explorao babaueira tradicional. Assim, enquanto as empresas produtoras de leo definhavam, a pecuria ganhava espao, transformando babauais em pastagens, com implicaes drsticas na vida dos pequenos trabalhadores rurais agroextrativistas; se o babaual permitia coexistncia com as roas, os pastos exigiam exclusividade no terreno, no permitindo o desenvolvimento de nenhuma outra cultura. Muitos posseiros e ocupantes da terra sujeitaram-se alternativa migratria, deslocando-se em grande nmero para as cidades, onde no existe ocupao para todos. Por essa razo, a atividade extrativista se mantm, praticamente em todo o estado, mas realizada por populaes residentes tanto na zona rural como em reas urbanas, com destaque para as microrregies da Baixada Maranhense, de Imperatriz, do Mdio Mearim e de Chapadinha. Trata-se de uma pequena produo mercantil realizada por famlias de posseiros, arrendatrios agrcolas, pequenos proprietrios e parceiros de grandes proprietrios de terra ou por pessoas sem posse ou propriedade, mas com o direito de coleta. Dessa fora de trabalho vale destacar o papel fundamental desempenhado pelas mulheres, responsveis pela etapa de quebra e separao da amndoa, com aproveitamento endgeno da casca e do endocarpo como carburante em fornos a lenha, e do mesocarpo na alimentao. Responsveis por essa explorao so as quebradeiras de coco cerca de 300 mil, em estimativa pessimista, que constituem a pea mais importante da produo e que, organizadas em movimentos sociais como o MIQCB (Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babau)2, intensificam2

Desde a dcada de 80 esses movimentos agrupam quebradeiras de coco babau com o objetivo de garantir o direito de acesso e o uso comum das reas de babau ocupadas por fazendeiros e pecuaristas, de modo a continuarem a explorar babau, inclusive a agregar-lhe valor visando competio no mercado. Em 1995 constituram o MIQCB, reunindo quebradeiras de coco de quatro estados Maranho, Tocantins, Piau e Par para discutir propostas de melhoria no trabalho e alternativas de desenvolvimento para as regies de babauais.

55

suas relaes com a rea urbana e buscam melhorias em suas condies de trabalho. A atividade das quebradeiras de coco organizadas, alm de reviver e fortificar uma verdadeira cultura fundada no trabalho extrativo do babau e modelada em tradies, prticas, hbitos, costumes, danas, cantigas e culinria, aplica-se no artesanato e na pequena produo industrial com base no babau e nos seus subprodutos. A comunidade Lago do Junco, no interior maranhense, em trabalho desenvolvido pela Cooperativa de Quebradeiras de Coco, produz sabonetes e leos para a indstria cosmtica, chegando a exportar para Europa e para os Estados Unidos; uma produo de pequena escala, mas muito indicativa das potencialidades econmicas do produto.

BiodieselUma planta-piloto para extrao do leo destinado a produzir biodiesel foi instalada na Universidade Federal do Maranho (UFMA), em So Lus, com financiamento da Finep. O trabalho, realizado em conjunto com a Universidade Estadual, aborda a viabilidade tcnica, econmica, social e ambiental do agronegcio do babau destinado produo do biodiesel. No momento so avaliadas as caractersticas do combustvel, cuja qualidade at agora se confirma como excelente, e sua viabilidade. Essa alternativa de utilizao sem dvida interessante por ser o babau explorado por pequenas comunidades de extrativistas e tambm por fomentar o sistema de produo, porque poder gerar milhares de empregos diretos e indiretos, especialmente para famlias de baixa renda. O programa Biodiesel do Maranho prev tambm a utilizao da mamona, considerando vantagens ecolgicas, econmicas e sociais, por envolver pequenos produtores dispersos por todo o estado. Os custos so mais reduzidos, e da matria-prima, renovvel, tambm se extrai um leo que pode ser usado como aditivo.

56

outras oportunidadesDo babau, tudo se aproveita. Se o coco utilizado na fabricao de leos, carvo, leite, rao para gado e em trabalhos artesanais, as folhas da palmeira as palhas servem para cobrir casas e so transformadas tambm em cestos e esteiras e fornecem celulose para a fabricao de papel. A partir do babau tambm so extradas substncias para a fabricao de detergentes, sabo, margarina, cosmticos, asfalto e outros produtos. No Maranho, muitas empresas de mdio e pequeno porte atuam no setor; so fbricas de sabes e de outros produtos de limpeza que produzem leo de babau para o prprio consumo. No entanto, ainda so grandes as oportunidades de investimento, como bem demonstra o levantamento sobre as importaes maranhenses de outros estados do pas, realizado pela FIEMA, onde se identifica um mercado muito amplo, ainda no atendido pela indstria local. A industrializao do babau, desde a amndoa e todos os seus subprodutos, ainda tem perspectivas extraordinrias de incremento, considerando-se o grande potencial sustentado pelos babauais do estado.Edgar Rocha

Vista da palmeira do babau

57

Edgar Rocha

Os leos vegetais so apenas uma das mltiplas utilizaes do babau

a indstria moderna: setores dinmicos

a minerometalurgiaO Projeto Grande Carajs foi criado com o objetivo de promover a explorao econmica da provncia mineral de Carajs. Tocado pela Vale, antiga Companhia Vale do Rio Doce, , sem dvida, um dos principais fatores do redirecionamento da atividade industrial maranhense, que passa a ter a metalurgia bsica como ramo dos mais competitivos. De fato, na esteira de Carajs nasceu o plo guseiro, e grandes perspectivas se abriram para a instalao de um plo siderrgico para produtos semi-acabados e acabados, fato que tem sido objeto de negociaes. A construo e instalao de uma planta de grandes propores para a produo de placas de ao continua entre os objetivos da empresa e do governo do estado. Por outro lado, o Consrcio Alumar, instalado no estado desde a dcada de 80, vem produzindo alumnio e alumina quase exclusivamente para fora do estado, para o mercado nacional e para o exterior.

59

So esses os dois maiores projetos do Maranho que, de fato, ainda no esto repercutindo como poderiam na economia estadual, nem sob a forma de tributos, por fora da legislao de estmulo exportao, nem na forma de expanso, beneficiamento e industrializao dos seus produtos, que so bsicos. Esse efeito at agora no materializado , no entanto, o esperado pelo Plano Estratgico de Desenvolvimento Industrial do Estado do Maranho, quando detalha o vetor da minerometalurgia, enfatizando a implantao e irradiao da siderurgia, ao lado do beneficiamento e industrializao do alumnio e de minrios brancos calcrio, gesso e caulim. A multiplicao de unidades industriais ser, sem dvida, fator expressivo de desenvolvimento do estado. So oportunidades de investimento em aberto.

alumnioFormado pelas empresas ALCOA, ALCAN, BHPBILLITON e ABALCO, o Consrcio de Alumnio do Maranho (ALUMAR) um dos maiores complexos de produo de alumnio e alumina do mundo. Implantado desde julho de 1980, investimento da ordem de US$ 1,7 bilho, desempenha papel importante na transformao do perfil industrial do Maranho, produzindo milhares toneladas de alumnio e alumina. O complexo foi instalado na Ilha de So Lus, precedido por um detalhado levantamento da regio, entrando em operao em maio de 1984. Hoje, com 92% dos empregados recrutados no Maranho, movimenta anualmente US$ 430 milhes, dos quais uma fatia considervel fica no estado, na forma de impostos, salrios, compras e servios, gerando negcios em cadeia, movendo a economia.

refinaria/reduoNa refinaria, a bauxita transformada em alumina. O minrio refinado pelo processo Bayer; modo e misturado em soluo de soda custica; depois, segue para a digesto, onde ocorre a dissoluo da alumina, que, separada das impurezas por sedimentao e filtrao, precipitada na

60

forma de hidrato e enviada a um forno de calcinao, onde se transforma em alumina calcinada. Pronta, a alumina tem dois destinos: a maior parte segue para a reduo, onde alimentar as cubas para fabricao do alumnio; o excedente vai para os silos de estocagem na rea do porto para ser exportado de acordo com os interesses de cada uma das empresas consorciadas. A Alcoa entrega sua cota para ser comercializada e exportada pela Abalco; a Billiton destina parte de sua alumina para a Valesul, no Rio de Janeiro, onde tambm produz alumnio em sociedade com a Companhia Vale do Rio Doce o resto exportado. J a Alcan destina parte da alumina que lhe pertence para sua fbrica de alumnio primrio em Aratu, na Bahia, enquanto a outra parte exportada para o Canad.Edgar Rocha

61

Edgar Rocha

Pelo porto prprio, a Alumar recebe a bauxita que vem do Par e exporta alumnio

Edgar Rocha

Edgar Rocha

62

Edgar Rocha

Porto da Alumar no Rio dos Cachorros, Ilha de So Lus

63

Edgar Rocha

Embarque de alumnio no Porto do Itaqui

64

Na reduo, a alumina que chega em estado lquido dissolvida num banho eletroltico fundido a 950 C dentro das cubas eletrolticas, onde reduzida para alumnio, que, retirado das cubas, transportado para ser resfriado em moldes, no lingotamento. A estrutura bsica da reduo se compe, assim, das reas de lingotamento, tecnologia e qualidade, eletrodos e MSVIP sala de cubas e Depar, tamento de Servios. A quase totalidade do alumnio produzido pelas empresas consorciadas deixa o Maranho atravs do Porto do Itaqui. Apenas uma pequena parte menos de 10% transportada por via rodoviria para o sudeste do pas. No momento, o Consrcio ALUMAR est expandindo sua refinaria, obra que tem participao muito significativa de empresas locais e cuja concluso est prevista para 2008. Trata-se de um investimento de R$ 4,1 bilhes, com 6 mil empregos na fase de implantao e 8 mil no pico da obra. Com essa ampliao, a produo de alumina passar de 1,5 milho, para 3,5 milhes de toneladas, e o nmero de empregos permanentes na refinaria passar dos atuais 600 para 1.200.

minrio de ferroEm 1967 foi descoberta no estado do Par a jazida hoje denominada de Provncia Mineral de Carajs, com reservas de minrio de ferro de alto teor calculadas em aproximadamente 2,1 bilhes de toneladas. Diante desse fato, a ento Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e a United States Steel solicitaram ao governo brasileiro concesso para explorao da mina e para a construo de uma ferrovia interligando-a a Ponta da Madeira, na Ilha de So Lus, estado do Maranho, onde seria construdo um terminal martimo. A concesso foi outorgada e, mais tarde, com a sada da United States Steel, foi ratificada somente para a Vale. Realizadas essas obras, a Vale, privatizada, opera o Sistema Norte, integrado pelo Complexo Minerador da Serra dos Carajs, no Par, que lavra, beneficia e estoca o minrio; pela Estrada de Ferro Carajs (EFC), que o transporta; e pelo Terminal Martimo de Ponta da Madeira (TMPM), no Maranho, que o embarca.

65

Edgar Rocha

Fbrica de pelotizao, da Vale, em So LusEdgar Rocha Edgar Rocha

Todas as operaes so monitoradas em salas de controle localizadas em Carajs e So Lus, dotadas de equipamentos de alta tecnologia, que garantem maior produtividade e segurana. Uma usina de beneficiamento moderna assegura o produto em trs granulometrias distintas o pellet feed, o sinter feed e o granulado. O sistema tem capacidade para produzir 85 milhes de toneladas/ano.

66

Edgar Rocha

Minrio de ferro estocado espera do embarque

67

cronologia1966: incio da prospeco empresarial de minrios na regio de Carajs; 1970: fundao da Amaznia Minerao S. A. (AMZA) pela Vale e U. S. Steel, em abril; 1974: concluso dos estudos de viabilidade do Projeto Ferro Carajs; 1976: emisso pelo governo federal da concesso para construo e operao da ferrovia entre a Serra de Carajs e Ponta da Madeira, no litoral do Maranho; 1977: aquisio pela Vale das aes da AMZA pertencentes U. S. Steel; 1981: incorporao pela Vale da razo social da AMZA; 1982: incio do lanamento dos trilhos da EFC nos primeiros 15km, em agosto; 1984: chegada da ponta dos trilhos divisa entre Maranho e Par, em setembro; inaugurao da ponte sobre o rio Tocantins em Marab, em outubro; 1985: chegada da ponta dos trilhos a Carajs no dia 15 de fevereiro; inaugurao oficial da EFC no dia 28 de fevereiro; 1986: inaugurao do transporte comercial de passageiros, em maro; 1987: incio do transporte de soja, em abril; incio do transporte de produtos derivados de petrleo, em outubro; 1989: inaugurao do trecho inicial da Ferrovia Norte-Sul, em abril, passando a ser operada com apoio da EFC e permitindo a exportao dos gros produzidos no norte do estado de Tocantins pelo porto de Ponta da Madeira.

usina de pelotizao de so LusDurante a lavra, beneficiamento e manuseio do minrio de ferro so gerados ultrafinos, inadequados utilizao direta nos reatores de reduo para a produo de ferro primrio. A pelotizao o processo de aglomerao desses finos, gerando um produto de qualidade superior para as usinas siderrgicas. No final da dcada de 60 a Vale instalou um complexo de usinas de pelotizao em Vitria, no Esprito Santo, atualmente com capacidade de produo de 25 milhes de toneladas de pelotas/ano. Usina semelhante foi construda em So Lus, no Terminal Martimo de Ponta da Madeira, com operao iniciada em 2002 e capacidade para produzir 7 milhes de toneladas de pelotas/ano. Todo minrio que usa oriundo de Cara-

68

js, e a primeira usina no mundo a utilizar somente prensa de rolos na moagem do minrio.

plo guseiroO complexo de ferro-gusa do Maranho resulta de entendimentos do governo do estado com a iniciativa privada, numa combinao de condies favorveis de atrao de investimentos e fatores de localizao geogrfica, transporte e logstica. Investimentos da ordem de US$ 1 bilho e produo de aproximadamente 1,8 milho de toneladas inteiramente voltada para a exportao geram receitas anuais em torno de US$ 600 milhes e asseguram 3 mil empregos diretos e 21,5 mil indiretos, salrio mdio de R$ 1.100,00, com 92% dos empregados oriundos da prpria regio. EmpresasCia. Siderrgica do Maranho COSIMA Cia. Siderrgica Vale do Pindar Ferro Gusa do Maranho Ltda FERGUMAR Fusa Nordeste S/A Maranho Gusa S/A MARGUSA Siderrgica do Maranho S/A VIENA Siderrgica do Maranho S/A Total Produo mdia

Fornos N2 2 2 2 2 2 4 16

Capacidade (mil t/ms) p/ forno11.000 11.000 9.000 9.000 8.000 8.000 9.000 9.250

p/ empresa22.000 22.000 18.000 18.000 16.000 16.000 36.000 148.000 21.143

%17 17 14 14 7 7 28 100

Desde 1984, quando foi produzida a primeira tonelada de ferro-gusa em Aailndia, distante 445km de So Lus, que essa indstria se consolida no estado do Maranho, que hoje ocupa lugar entre os quatro maiores produtores de ferro-

69

gusa do Brasil. Responsvel por 15% da produo nacional, conta com um parque industrial de sete siderrgicas. Em Aailndia esto a Viena, instalada em 1984, pertencente ao Grupo Andrade Valadares; a Gusa Nordeste, 1989, do Grupo Ferroeste; a Simasa, em 1993, e a Pindar, 1997 ambas do Grupo Queiroz Galvo; e a Fergumar, em 1995, do , Grupo Aterpa. Nos municpios de Pindar-Mirim e Bacabeira, respectivamente, esto a Cosima, tambm do Grupo Queiroz Galvo, e a Margusa, do Grupo Gerdau, em operao desde 1997 . Juntas essas empresas produziram, em 2006, 1.677 .091t de ferro-gusa; no acumulado do ano, o setor teve uma mdia de produo de quase 140 mil toneladas/ms. J no primeiro semestre de 2007 a produo alcanou um total de , 869.479t. A exportao no mesmo perodo alcanou 758.646 toneladas de ferrogusa e se destinou principalmente a pases como Estados Unidos, Esp