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1 A independência de colônias americanas e africanas no livro didático de história do Brasil e de São Tomé e Príncipe SOUSA, João da Silva Pinto de 1 SANTOS Reinaldo dos 2 Resumo Este paper resulta de pesquisa desenvolvida no curso de Mestrado do Programa de Pós- Graduação em Educação da Universidade Federal da Grande Dourados e reflete sobre a perspectiva, em livros didáticos de história do ensino médio utilizados no Brasil, Portugal e São Tomé e Príncipe, dos processos de independência de ex-colônias portuguesas nos continentes americano e africano. Problematiza a forma como é construído o discurso narrativo sobre os processos de independência nos livros didáticos de história adotados em escolas públicas dos três países e a sua influência na formação do educando. Sendo assim, este trabalho tem por objetivo específico caracterizar os conteúdos de dois livros didáticos de história: um adotado em São Tomé e Príncipe e outro adotado no Brasil. Trata-se de uma pesquisa fundamentada na história cultural e em procedimento metodológicos de pesquisa bibliográfico-documental, analisando os textos que possibilitam a elaboração de uma prática reflexiva sobre o tema investigado. Os resultados alcançados até então revelam que o livro didático do terceiro ciclo utilizado em São Tomé é um recorte/adaptação de uma edição portuguesa e nem menciona a independência das colônias portuguesas, referindo-se apenas as colônias britânicas da América do Norte. E, o livro didático brasileiro, refere-se ao processo de independência na África, de forma genérica e homogeneizante, sem tratar de especificidades e com uma versão de consequência da segunda guerra mundial. Ambas, ainda são marcadas por uma visão eurocêntrica e de distanciamento de América e África. Palavras-chave: história; livro-didático; Brasil; África. 1 Mestrando em História de Educação Memória e Sociedade, da UFGD, bolsista Capes; 2 Doutor em Sociologia e Pós-Doutor em Educação, pesquisador de História da Educação na UFGD

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A independência de colônias americanas e africanas no livro didático de história do Brasil e de São Tomé e Príncipe

SOUSA, João da Silva Pinto de1

SANTOS Reinaldo dos2

Resumo

Este paper resulta de pesquisa desenvolvida no curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Grande Dourados e reflete sobre a perspectiva, em livros didáticos de história do ensino médio utilizados no Brasil, Portugal e São Tomé e Príncipe, dos processos de independência de ex-colônias portuguesas nos continentes americano e africano. Problematiza a forma como é construído o discurso narrativo sobre os processos de independência nos livros didáticos de história adotados em escolas públicas dos três países e a sua influência na formação do educando. Sendo assim, este trabalho tem por objetivo específico caracterizar os conteúdos de dois livros didáticos de história: um adotado em São Tomé e Príncipe e outro adotado no Brasil. Trata-se de uma pesquisa fundamentada na história cultural e em procedimento metodológicos de pesquisa bibliográfico-documental, analisando os textos que possibilitam a elaboração de uma prática reflexiva sobre o tema investigado. Os resultados alcançados até então revelam que o livro didático do terceiro ciclo utilizado em São Tomé é um recorte/adaptação de uma edição portuguesa e nem menciona a independência das colônias portuguesas, referindo-se apenas as colônias britânicas da América do Norte. E, o livro didático brasileiro, refere-se ao processo de independência na África, de forma genérica e homogeneizante, sem tratar de especificidades e com uma versão de consequência da segunda guerra mundial. Ambas, ainda são marcadas por uma visão eurocêntrica e de distanciamento de América e África.

Palavras-chave: história; livro-didático; Brasil; África.

1 Mestrando em História de Educação Memória e Sociedade, da UFGD, bolsista Capes; 2 Doutor em Sociologia e Pós-Doutor em Educação, pesquisador de História da Educação na UFGD

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INTRODUÇÃO

Este trabalho analisa processos de independência nos livros didáticos de história do

ensino médio utilizados no Brasil, São Tomé e Príncipe, em escolas públicas, editados nos

anos de 2005 e 2013, a partir de diferentes percepções construídas nos conteúdos e nas

ilustrações inseridas nos livros didáticos de história, uma ideologia que de certa forma atribui

uma interpretação eurocêntrica da História.

Este trabalho problematiza a forma como é construído o discurso narrativo sobre os

processos de independência nos livros didáticos de história adotados em escolas públicas dos

dois países e a sua influência na formação do educando, estariam criando ou recriando uma

imagem já consagrada e como isso reflete na aprendizagem do aluno enquanto sujeito?

O critério para a seleção foi feito a partir da circulação, ou seja os livros didáticos mais

utilizados nas escolas públicas no período de 2003 à 2013. Brasil tornou-se independente em

1822, em pleno século XXI, é possível afirmar que o livro didático faz parte da cultura

material da maioria das escolas públicas brasileiras através do Programa Nacional do Livro

Didático (PNLD), há um numero grande de obras disponíveis para a escolha dos professores

editados no Brasil, enquanto que em São Tomé e Príncipe tornou-se independente

recentemente em 1975, e não têm muitas obras disponíveis, elas são editadas em Portugal, e o

sistema educacional está passando por um processo de reforma, sendo assim, a partir de 2003

com a publicação da Lei nº2/2003, o sistema procurou expandir a escolaridade obrigatória

para todos.

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Optamos pela fase escolar do Ensino Médio, porque historicamente desde quando

constituía uma etapa da Educação Secundária, foi reservada a uma pequena parcela da

sociedade. Seu objetivo básico era servir de etapa preparatória para os estudos superiores,

razão pela qual os estudos sobre esse nível escolar sempre ressaltam a falta de uma identidade

própria dentro do sistema educacional, e que nos leva a problematizar em que sentido esses

conteúdos construídos sobre os processos de independência tenham eficiências para plasmar a

consciência do educando a partir das “verdades” que se encontram nos livros didáticos de

história? Que consciência apresenta esses conteúdos nas posturas que os alunos desenvolverão

frente ao tema enquanto o sujeito social?

Pautamos nossas análises no referencial teórico da História Cultural, em

procedimentos metodológicos de pesquisa bibliográfico-documental, analisando os conteúdos

que possibilitam a elaboração de uma prática reflexiva sobre o tema investigado. A História

Cultural deve ser entendida como o estudo dos processos com os quais se constrói um sentido,

uma vez que as representações podem ser pensadas como “[...] esquemas intelectuais, que

criam as figuras graças às quais o presente pode adquirir sentido, o outro tornar-se inteligível

e o espaço ser decifrado” (CHARTIER, 1990, p.17).

O presente trabalho está organizado em três momentos: Em primeiro momento breve

características do livro didático; no segundo momentos, caracterização dos livros didáticos

analisados; no terceiro momentos, os processos de independência nos livros didáticos

analisados.

1. Breve características do livro didático

Ao analisar o livro didático como objeto de pesquisa, o livro didático assume

“múltiplas funções”, sendo elas: a função referencial (torna-se uma referência para elaboração

de currículos ou programas); a função instrumental (propõe métodos de aprendizagem,

exercícios e atividades); a função ideológica e cultural (é transmissor de valores e, em certos

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casos, de doutrinação das jovens gerações); e a função documental (é documento e, também,

objeto de pesquisa), (CHOPPIN, apud BITTENCOURT 2004, p.4).

O livro didático por vários países faz dele algo reconhecível, tanto por seu caráter

material quanto por seu conteúdo. conforme Chopin (2004), por trás desta aparente

banalidade, dada à sua possível onipresença, há um objeto de grande complexidade situado

“no cruzamento da cultura, da pedagogia, da produção editorial e da sociedade” (CHOPPIN,

2004, p. 558).

Questionado muitas vezes, considerado os culpados pelas deficiências de conteúdo,

suas lacunas e erros conceituais ou informativos, os livros didáticos são, invariavelmente, um

tema polêmico, pois tem se revelado como um instrumento a serviço da ideologia e da

perpetuação de ensino tradicional.

O professor Nilson José Machado: “O livro didático é um tema candente, envolvendo

questões complexas, para as quais, muitas vezes, têm sido propostas respostas excessivamente

simplificadas (MACHADO, 1996. p. 37).

O livro didático tem sido objeto de debate e reflexão, havendo posições a respeito de

seu uso. Há grupo que questiona que o livro didático deveria ser tirado das salas de aula e

escolas e que deveria criar suas próprias apostilas, ou que permitem que os professores criem

seu próprio material.

Mas observa-se por outro ângulo o apego excessivo ao LD. De maneira que ele passa a

ser o programa da disciplina ensinada, impondo o que deve e não deve ser ensinado e

funciona como meio entre teorias da aquisição e o professor. Uma prova de como essa ideia

de que o livro didático possui supremacia absoluta no ensino está de tal forma fundamentada

na sala de aula é quando, por exemplo, um professor decide não utilizar determinada atividade

e “pular” para a seguinte e o aluno pergunta: “E a atividade X, professor”?

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Portanto o problema de tais análises está na concepção de um ideal de livro didático,

uma obra capaz de solucionar todos os problemas do ensino e capaz de substituir o professor.

Torna-se necessário entendê-lo em todas as suas dimensões e não existe livro didático ideal,

ele constitui apenas uma ferramenta na educação, o papel do professor é importante para levar

os alunos a pensar de modo critico e a apropriarem-se dos gêneros discursivos (proposto ou

não) pelo LD adotado pela instituição de ensino. Não usar o livro didático, ou usá-lo como

instrumento soberano, torna-se indispensável, bem como a abertura para intervenção critica

dos profissionais que trabalham com esses materiais, que nos ajuda a analisar suas

características.

2. Caracterização dos livros didáticos analisados

O livro didático é um produto complexo, porque entrecruza diferentes perspectivas

teóricas, editoriais, pedagógicas, mercadológicas, políticas e ideológicas (TIMBÓ, 2009. p.

14), e por isso, principalmente, na transição dos séculos XX e XXI, tem despertado tantas

críticas favoráveis ou não. A cada dia, ele ocupa espaço na cultura escolar3 de inúmeras salas

de aulas espalhadas pelo Brasil, São Tomé e Príncipe, quanto nas pesquisas acadêmicas.

A análise de conteúdo constitui uma metodologia de pesquisa usada para descrever e

interpretar o conteúdo de toda classe de documentos e textos. Essa análise, conduzindo a

descrições sistemáticas, qualitativas ou quantitativas, ajuda a reinterpretar as mensagens e a

atingir uma compreensão de seus significados num nível que vai além de uma leitura comum.

Quais são os livros analisados?

3 A cultura escolar compreende “um conjunto de normas que definem saberes a ensinar e condutas a inculcar e

um conjunto de práticas que permitem a transmissão desses saberes e a incorporação desses comportamentos, normas e práticas ordenadas de acordo com finalidades que podem variar segundo as épocas”. (JULIA , 2001, p. 54).

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Imagem 01- Livro didático de história do ensino médio brasileiro

Fonte: pr.quebarato.com.br

O primeiro livro é a “História: uma abordagem integrada”, trata-se de volume único

que foi aprovado pela PNLEM (Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio)

nos anos de 2007. Seus autores são Nicolina Luiza de Petta é brasileira graduada em História

pela USP, professora do ensino médio, participou da banca de elaboração de vestibulares da

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Unicamp (1992-1995). Participou da banca de correção de vestibulares da Unicamp (1987-

19996), e Eduardo Aparicio Baez Ojeda é brasileiro graduado em Ciências Politicas pela

Unicamp, professor do ensino Médio e de cursos pré-vestibulares.

Esta obra é dirigida aos estudantes do Ensino médio e como aqueles que se preparam

para as provas do ENEM. Fornece subsídios para o estudo de disciplina de História

O livro é da Editora Moderna sendo este exemplar de 2007. Volume único (352

páginas). Seu conteúdo trata de três unidades: Da Pré-História à colonização da América; Da

consolidação do capitalismo à formação do proletariado; Do imperialismo aos nossos dias.

Conteúdo programático adequadamente dosado de acordo com orientação do

MEC/INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais). Além do rigor

conceitual, esta obra contempla a contextualização e a interdisciplinaridade. Caracteriza-se,

também, pela ênfase à aplicabilidade ao investigativo, e pela menor preocupação com a

memorização. Além dos exercícios de verificação da aprendizagem, inclui questões extraídas

dos ENEM's, de programas de avaliação seriada e dos vestibulares de acesso às principais

instituições de ensino superior. Inclui: Bibliografia Citada.

A organização dos conteúdos na obra obedece à sequência cronológica, sem separação

entre História Geral, do Brasil e da América. Destaca-se a abordagem de eventos bastante

recentes. Além da ilustração diversificada e integrada aos conteúdos, há mapas e boxes que

apresentam textos complementares e documentos históricos relacionados aos temas

transversais Pluralidade cultural, Ética e cidadania, Trabalho e consumo e Ciência e

tecnologia. O texto didático e as atividades estimulam múltiplas habilidades cognitivas. O

Manual do Professor contém filmografia e extensa bibliografia, além de orientações para o

trabalho com os textos complementares e as imagens.

Portanto abordagem da História não significa que temos a capacidade de recuperar a

verdade do passado. O conhecimento histórico é uma reconstrução dos fatos passados a partir

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de fontes históricas, ou seja, é o nosso pensamento de hoje tentando alcançar o modo de

pensar e de viver de outros povos.

Imagem 2: Texto de apoio para alunos de 9ª classe São Tomé e Príncipe

Fonte: MEC

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Pela impossibilidade financeira, o Ministério da Educação de São Tomé e Príncipe

substitui elaboração de manuais pedagógicos pela elaboração de textos de apoio através do

convenio com projeto ESCOLA + Educação para todos, e Instituto Marques de Vale Flor

(IMVF). Não há unanimidade de opiniões sobre a necessidade de manuais específicos de São

Tomé e Príncipe em todas as disciplinas do ensino secundário. Os agentes da cooperação

portuguesa têm assumido esta vertente do projeto: os textos são elaborados pelos docentes das

disciplinas e são disponibilizados no formato de sebentas (apostila) aos alunos a preços

simbólicos. Os atuais textos de apoio, testados, podem constituir uma base para a produção de

manuais, se tal for o entendimento do MEC.

O texto de apoio é composto por 5 unidades, a primeira a Europa e o mundo no limiar

do século XX; a segunda unidade Da grande depressão a 2ª guerra mundial; terceira unidade

As relações internacionais após a 2º guerra mundial; quarta unidade Os movimentos de

emancipação e a independência de África e a quinta unidade São Tomé e Príncipe do século

XIX até aos nossos dias.

A listagem a seguir apresenta os livros didáticos de história do Brasil e São Tomé e

Príncipe, que foram selecionados, oferecem conjunto de elementos que integram o universo

de analise proposto em relação aos processos de independência.

Quadro 01- Títulos e subtítulos das unidades e capítulos referentes ao tema analisado.

MINISTÉRIO DA

EDUCAÇÃO, CULTURA E

Organização em Unidades e subtítulos Unidade 15: Os movimentos de emancipação e a independência de África. Subtítulos:

� Combate ao colonialismo: A recusa da dominação europeia- os primeiros movimentos de independência.

� O terceiro mundo: da independência política á dependência econômica.

� A independência política e a independência econômica.

� As novas relações internacionais: o dialogo Norte-Sul.

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FORMAÇÃO. Textos de apoio

para os alunos 9ª classe – 1º

ciclo

Unidades 16: São Tomé e Príncipe do século XIX até aos nossos dias. Subtítulos:

� São Tomé e Príncipe no século XIX. � Os movimentos de independência e a guerra

colonial. � O movimento anticolonial � O massacre de 1953 em São Tomé e Príncipe.

São Tomé e Príncipe: Estado Independente. � 1ª Republica (1975-1990). � 2 Republica (1990 á atualidade)

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PETTA; OJEDA. História:

uma abordagem integrada.

Organização em Unidades e Capítulos Unidade II: Da expansão europeia do século XV á independência dos Estados Unidos. Capítulo: Conflitos na América colonial e a independência dos Estados Unidos. Unidade III: Da revolução francesa aos nossos dias. Capítulos 21: A Independência do Brasil Capítulo 22: O primeiro Reinado e o período Regencial. Capítulo 24: O segundo Reinado no Brasil Capítulo 28: O Brasil na Republica Velha (1889-1930). Capítulo 30: O Brasil durante o governo Vargas. Capítulo 33: O período democrático no Brasil (1946-1964). Capítulo 35: O governo Militar no Brasil. Capítulo 36: Brasil: da redemocratização até a atualidade.

3. Os processos de independência nos livros didáticos.

. E o nosso objetivo é analisar os conteúdos e como é construído nos livros didáticos

de história os processos de independência, no Brasil, São Tomé e Príncipe, tendo como

pressuposto as distintas perspectivas e versões de cada um deste país sobre este processo.

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Observa-se que os processos de independência estão carregados de influências, sejam sociais,

políticas, econômicas ou culturais, por fim, com o termo “apropriações”, se refere aos modos

como um “texto, um pensamento, ou uma imagem se transforma e é dada a ler em outros

momentos ou outras realidades distintas das que foram produzidas” (CHARTIER, 1990, p.

16).

No primeiro momento analisamos a relação entre colônias e a metrópole, os livros

didáticos do Brasil e São Tomé e Príncipe apontam que era processo de exploração de

opressão da metrópole para com a colônia, pois a Coroa Portuguesa, percebendo o potencial

de lucro dos recursos naturais e a mão-de-obra indígena, aplicou o seguinte sistema de

colonização: ocupou o país com representantes do interesse da metrópole, assim, criou leis,

obrigações, impostos e instituições que somente atendiam os interesses da metrópole. Sendo

assim, os colonizados não tinham a ínfima autonomia para exigir seus direitos ou impor suas

vontades contra a Coroa.

A segunda momento analisamos “independência propriamente dita”. Como que os

livros didáticos abordam esta questão, os sujeitos deste processo, os principais fatos, os

conflitos. Tanto no Brasil como em São Tomé e Príncipe a Independência é um dos fatos

históricos mais importantes do país, pois marca o fim do domínio português e a conquista da

autonomia política. Muitas tentativas anteriores ocorreram e muitas pessoas morreram na luta

por este ideal.

No livro didático brasileiro com as revoltas durante o século XVIII já anunciavam que

o Pacto Colonial não resistiria por muitos tempo no Brasil. Em 1808, fugindo das tropas de

Napoleão, a família real portuguesa veio para a colônia e, o acontecimento, conhecido como

abertura dos portos ás nações amigas foi, de fato, a ruptura do exclusivo comercial português.

Uma vez que a estrutura da colonização se assentava sobre o direito exclusivo que a

metrópole tinha sobre as trocas com a colônia, a abertura dos portos pode ser entendida como

fim de sistema colonial ( PETTA & OJEDA, 1999. p. 145).

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O texto de apoio de história de São Tomé e Príncipe, aponta o massacre de 1953, é um

acontecimento histórico de grande relevo, pois é a partir dele que muitos são-tomenses

começaram a pôr em causa o colonialismo português em S.TP.. o que viria a contribuir

decisivamente pra o surgimento do movimento anticolonial nas Ilhas. (H.9 TEXTO DE

APOIO, p.68).

Devido ao agravamento das contradições com colonizadores e a necessidade de uma

organização eficaz, um grupo de nacionalistas funda em S.T.P, em Setembro de 1960 o

CLSTP, com o objetivo de lutar pela independência nacional e libertar os são-tomenses do

jugo colonial. Fizeram parte do grupo: operários, artífices, funcionários públicos e

intelectuais, entre os quais alguns estudantes universitários que na altura se encontravam na

ilha (H.9 TEXTO DE APOIO, p.69).

No terceiro momento analisamos os processos pós independência, como estes livros

apresentam a situação econômica e política a partir da independência.

No livro didático brasileiro identificamos este processo a partir do período imperial,

Republica velha, durante governo Vargas, o período democrático e período da

redemocratização. O Brasil, assim como os demais países latino-americanos, tiveram sua pós-

independência marcada por uma certa dependência econômica em relação às potências da

época. O Brasil viveu o período de 1822 a 1889, com o regime monárquico. Dois anos depois

da Proclamação da República, em 1891, promulgou-se uma nova Carta Magna: a Constituição

Brasileira de 1891, tendo como principal autor Ruy Barbosa. O período que compreende de

1889 até 1930 é chamado de República Velha. No novo regime, não havia um governo

consolidado, apenas provisório, chefiado pelo Marechal Deodoro da Fonseca (( PETTA &

OJEDA, 1999. p. 205).

A Ditadura Militar Começou em 31 de março de 1964, e depôs o presidente João

Goulart. O governo militar adotou um regime opressor. O primeiro a assumir o posto de

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liderança do país, nesse regime, foi o Marechal Humberto Castello Branco. E, em seu

governo, proibiu qualquer tipo de manifestação popular: seja sindical, seja estudantil.

Democracia no Brasil, o princípio de redemocratização do país aconteceu no governo

do General Ernesto Geisel. Em 1974, quando assumiu a cadeira presidencial, Geisel decidiu

implantar um projeto para redemocratizar o Brasil, que passava pelo regime militar: fazia

opressão contra a oposição. Ele acabou com o Ato Institucional nº 5, que acabava com a

democracia.

No texto de apoio de história o processo pós independência foi caracterizado por dois

períodos: Republica de 1975-1990 monopartidarismo e Republica de 1990 á atualidade

multipartidarismo.

Na primeira Republica de 1975 – 1990, conquistada a independência em 12 de Julho

de 1975 tornava-se necessário proceder-se a organização do novo Estado. Uma vez que o

Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe-MLSTP se revelou como único partido

politico, coube-lhe proceder ao inicio da construção do novo país. A estrutura econômica e

social de São Tomé e Príncipe no limiar da independência era um exemplo típico de economia

extrovertida na exploração colonial. Poucos investimentos internos nos transportes entre as

ilhas param no transporte de produtos, bem como para aquisição de maquinarias agrícolas,

dependência econômica aguda em relação a Portugal, o que revelava que a atividade

produtiva era limitada á simples colheitas dos produtos agrícolas ricos. Deficiente

organização financeira com fraco incentivo á formação de poupanças e investimentos.

Na segunda Republica 1990 á atualidade face ao novo contexto internacional, criar

novas dinâmicas internas como medidas de inserção geoestratégicas. foi assim que o país se

tornou, entre os países africanos que a partir dos anos 90 entraram na senda da

democratização, o primeiro a convocar e realizar um conferencia nacional como fórum

consultivo aberto a todas as sensibilidades politicas, fato que constitui um marco importante

no processo de abertura politica e democratização do regime.

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CONSIDERAÇOES FINAIS

Os resultados alcançados até então revelam que o livro didático do terceiro ciclo

utilizado em São Tomé é um recorte/adaptação de uma edição portuguesa e nem menciona a

independência das colônias portuguesas, referindo-se apenas as colônias britânicas da

América do Norte. E, o livro didático brasileiro, refere-se ao processo de independência na

África, de forma genérica e homogeneizante, sem tratar de especificidades e com uma versão

de consequência da segunda guerra mundial. Ambas, ainda são marcadas por uma visão

eurocêntrica e de distanciamento de América e África.

Portanto a Independência faz parte de um conjunto de explicações que remetem à

formação do Estado Nacional, aos sentimentos de identidade e pertencimento a uma nação. O

tema da independência tem sido objeto de múltiplas interpretações. O consenso só existe na

visão da independência como momento da quebra da dominação política exercida pela

metrópole e do nascimento dos Estados Nacionais. De resto, o tema é atravessado por paixões

político- ideológicas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Em foco: história, produção e memória do livro didático (Apresentação). São Paulo: Educação e Pesquisa (USP), 2004, p. 471-473.

CHARTIER, Roger. A História Cultural. Entre práticas e representações. Rio de Janeiro:

Bertrand Brasil / Lisboa: Difel, 1990.

CHOPPIN, Alain. História dos livros e das edições didáticas: sobre o estado da arte. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 30, n. 3, p. 549-566, set./dez. 2004.

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JULIA, Dominique. A cultura escolar como objeto histórico. In: Revista Brasileira de

História da Educação. Campinas: Autores Associados, nº.1, p. 9 – 43, Jan./Jun. 2001

MACHADO, Nilson José. Sobre livros didáticos- quatro pontos. Em Aberto, Brasília, ano 16, n.69, jan./mar. 1996

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, CULTURA E FORMAÇÃO. História 9º. Textos de apoio para os alunos 9ª classe – 1º ciclo.

PETTA, Nicolina Luiza de. OJEDA, Eduardo AparicioBaez. História: uma abordagem integrada: volume único. 1,ed. São Paulo: Moderna, 1999.

TIMBÓ, Isaíde Bandeira. O livro didático de história: um caleidoscópio de escolhas e usos no cotidiano escolar (Ceará, 2007-2009). Tese de Doutorado. Natal, Dezembro de 2009.