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Page 1: A Independência Brasil - conteudoseducar.com.br · Independência do Brasil A Quando somos adolescentes, em alguns momentos, podemos sentir vontade de sermos independentes, fazer

Independência do

Brasil A

Quando somos adolescentes, em alguns momentos, podemos sentir vontade de sermos independentes, fazer o que quisermos e decidirmos os rumos de nossas vidas. Às vezes, alguns adolescentes, e até adultos, gritam e esperneiam, exigindo mais autonomia e mais liberdade. No entanto, pela lei, as pessoas precisam ser tuteladas pelos responsáveis até a maioridade, que no Brasil ocorre aos 18 anos. Há outras formas de nos tornarmos indepen-dentes, responsáveis por nós mesmos, antes de ter completado a maioridade. Para isto, existem regras na lei que precisam ser atendidas. Assim, pode-se dizer que é impossível conquistar a independência no grito. E com o Brasil? Sempre ouvimos dizer que a Indepen-dência do país foi conquistada com um belo grito de “Independência ou Morte” às beiras de um tal rio Ipiranga. Será que um grito foi capaz de tornar esse país de tão grande extensão territorial e riqueza, independente de seu país “tutor” que era Portugal?

PARA PENSAR... Conquistar independência no grito?!

Vamos relembrar brevemente o contexto no qual a Independência ocorre:

Quando falamos sobre a Independência, compartilhamos algumas informações mais comuns, não é mesmo? Por exemplo, sabe-mos que, ainda no século 18, ocorreram movimentos que pretendiam de alguma for-ma estabelecer alguma separação entre a colônia e sua metrópole, Portugal. No con-texto externo, o mundo enfrentou uma série de mudanças. O chamado Antigo Regime dá sinais de esgotamento. No cenário das ideias, o Liberalismo - político e econômico - ganha força na Europa e repercute forte-mente em Portugal, dando vida à Revolu-ção Liberal do Porto. No plano econômico,

a Inglaterra mergulha na Revolução In-dustrial o que seria um fator de grande relevância para o desenrolar dos fatos que culminaram na Independência. Por que? Vamos pensar que a industrializa-ção aumentou muito a produção em ter-mos quantitativos, ou seja, passou-se a produzir muito mais. Mas, produzindo mais, é preciso ampliar o mercado que receberá as mercadorias para comerciali-zá-las - o chamado mercado consumidor. A América Latina como um todo era já vista como um ótimo centro de consumo para os produtos industrializados ingle-ses, que não estavam nem um pouco in-teressados em terem qualquer Metrópole mediando suas relações comerciais.

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tuições. Cabia a ele, dentre de suas pos-sibilidades, promover a perpetuação da memória de sua família no país, ressal-tando o bem que fizeram para a nação. Não é inocente a intencionalidade do au-tor ao representar Pedro I, futuro Dom Pe-dro I, como quem de fato esteve disposto a dar a vida em troca da Independência e lutou para dá-la aos antigos colonos.

Em algum momento, é provável que você te-nha se deparado ou irá se deparar com esta pintura. Conhecida como “O grito do Ipiran-ga”, foi encomendada pelo Imperador Dom Pedro II e pelo Governo de São Paulo, no ano de 1888. O pintor, Pedro Américo, ficara en-carregado de retratar o evento, ocorrido em 1822. Não é difícil perceber a fragilidade de tomar tal obra de arte como referencial para se pensar sobre a Independência. Há uma diferença temporal entre o fato e a pintura da obra e a dificuldade de recolher relatos sobre aquele fato. Ou seja, Pedro Américo ideali-zou, imaginou e pintou. A cena representada pelo artista acabou por tornar-se o referencial ao se falar sobre a Independência. No entan-to, precisamos relativizar esse ponto de vista. Em 1888, Dom Pedro II via seu Império esca-par por entre os dedos. A força do movimento republicano já se represava e, como homem ilustrado que era, sabia que não seria possí-vel sustentar uma monarquia naquelas consti-

Não há uma representação fiel do momento em que a Independência foi declarada. Não há, nem mesmo, como determinar se o famoso “Grito do Ipiranga”, de fato foi real. No entanto, muitos artis-tas se dedicaram a retratar aquele momento.

Pedro Américo: o pintor do Grito do Ipiranga

As representações da Independência

INDEPENDÊNCIA DO BRASIL Página 2

Imagem 1: Independência ou morte. Pintado por Pedro

Américo, em1888.

Abaixo, leremos um trecho da ilustração da Independência proferida pelo autor José Francisco da Rocha Pombo (1857-1933) em seus livros didáticos do início do século 20:

Seriam umas quatro e meia da tarde (de um belíssimo dia de sábado) quando, a cêrca de meia légua do Ipiranga, se encontraram Bregaro e Cordeiro [os mensageiros] com o Príncipe, e lhe entregaram a correspondência (...) Em seguida num largo movimento de alma, diz alto: - ‘É preciso acabar com isto!’. Esporeia o cavalo, e a grande galope, a-vança para o lugar onde o séqüito se achava. (...) D. Pedro exclama: - Camaradas! as Côrtes de Lisboa querem mesmo escravizar o Brasil; cumpre, portanto, declarar já a sua Independência. Estamos definitivamente separados de Portugal!’ E levantando a espa-da, num repto de entusiasmo gritou com tôda a fôrça dos seus robustos pulmões: ‘Independência ou Morte!’ Este grito é por todos muitas vêzes repetido, como em aces-so de delírio, e reboa – dir-se-ia – pelo país inteiro. (POMBO, 1963, p. 354)

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GUIA DO ESTUDANTE. História. Ed. 7. Editora Abril, 2014.

FERTING, André Átila; THESING, Neandro. O processo de independência brasileiro em livros didáticos tradicionais: instrumento à nação. Revista Lati-no-Americana de História. Vol. 2, nº. 6 – Agosto de 2013 – Edição Especial.

Imagem 1: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/ce/Independ%C3%AAncia_ou_Morte.jpg

Imagem 2: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/fd/1_conto_de_R%C3%A9is_Dom_Pedro_I.jpg

As outras vozes da Independência.

Referências

Não se parecia com o pai em nenhuma das suas qualidades. D. Pedro saíra á mãe, nas paixões, na ambição e na intemperança; porém lembrava os reis cavalheirescos da sua Casa na coragem pessoal, nos jogos atléticos, no espírito militar e no amor da aventura, sentimentos e instintos que lhe deram um lugar entre os heróis do século. Um romântico, um cavaleiro e um estróina. D. Pedro, mancebo de 23 anos, mal educado e pouco instruído (...)

(CALMON, 1940, p. 207).

Página 3

O famoso episódio do Grito do Ipiranga foi, à época, algo sem muita importância. As pesquisas históricas constataram que apenas um jornal da época noticiou o fato. O jor-nal O Espelho divulgou notícia no dia 20 de setembro de 1822, a notícia com o seguin-te título:

“Independência ou morte! Eis o grito acorde de todos os Brasileiros.”

Outras fontes contemporâneas ao evento - como os panfletos - demonstram que a se-paração entre antiga metrópole e colônia era defendida por uns e abominada por ou-tros. Ao contrário do que somos levados a pensar, pessoas de classes sociais diversas e mais baixas, defendiam a Independência. Isso nos faz pensar que Dom Pedro I não fez nada extraordinariamente inovador. Era de conhecimento geral que a separação ocorreria. Não à toa, Dom João VI, pai de Dom Pedro I, ao retornar à Portugal por exi-gência das Cortes de Lisboa, deixa aqui seu filho, afinal, se tivesse que perder o territó-rio, que fosse para um membro de sua dinastia.

Não foi em vão que o status de país independente só vem após lutas de resistência por parte de várias províncias, que se recusavam a desvencilhar-se de Portugal. Além des-se reconhecimento interno, Dom Pedro I e seus assessores - o principal deles José Bo-nifácio de Andrade, posteriormente intitulado “O patriarca da Independência” - tiveram que negociar com Portugal e com as outras nações o reconhecimento de sua situação autônoma. O fato é que, o Grito do Ipiranga não foi responsável pela Independên-cia do Brasil. Essa separação fora obtida com jogadas políticas, pagamentos de inde-nizações e colaboração popular.

Um tal Pedro...

Imagem 2: Nota de um conto de réis, de 1923, Homena-

gem a Dom Pedro I.