a inclusão que ensina

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A inclusão que ensina Matheus Santana da Silva, 14 anos, autista, estuda numa turma regular de escola pública em São Paulo desde a 1ª série. A história dele é a prova de que, apesar das dificuldades, incluir crianças com necessidades especiais beneficia a todos Daniela Talamoni Verotti e Jeanne Callegari ([email protected]) Página 1 2 3 Mais sobre inclusão REPORTAGENS Matheus aprende as emoções Como Matheus controulou o tamanho da letra Os fundamentos das deficiências e síndromes Saberes e atitudes de alunos com deficiência Inclusão pede flexibilização Uma escola sem barreiras Com ou sem inclusão, cada um no seu ritmo O uso de materiais flexibilizados em sala de aula Tema igual, aula diferente, com flexibilização de conteúdo Entrevista com Maria Teresa Égler Mantoan Legislação sobre diversidade ARTIGO Família, criança e escola: um trio afinado VÍDEO A experiência de Matheus, um aluno autista, na escola PLANOS DE AULA Planos de aula com flexibilização "Matheus chegou para mim na 1ª série. Eu tinha 42 alunos, e ele já estava com 7 anos completos e

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A inclusão que ensina

Matheus Santana da Silva, 14 anos, autista, estuda numa

turma regular de escola pública em São Paulo desde a 1ª série. A história dele é a prova de que, apesar dasdificuldades, incluir crianças com necessidades especiaisbeneficia a todos

Daniela Talamoni Verotti e Jeanne Callegari ([email protected])

Página 1 2 3 

Mais sobre inclusão

REPORTAGENS

• Matheus aprende as emoções• Como Matheus controulou o tamanho da letra• Os fundamentos das deficiências e síndromes• Saberes e atitudes de alunos com deficiência• Inclusão pede flexibilização• Uma escola sem barreiras• Com ou sem inclusão, cada um no seu ritmo• O uso de materiais flexibilizados em sala de aula• Tema igual, aula diferente, com flexibilização de conteúdo• Entrevista com Maria Teresa Égler Mantoan• Legislação sobre diversidade

ARTIGO

• Família, criança e escola: um trio afinado

VÍDEO

• A experiência de Matheus, um aluno autista, na escola

PLANOS DE AULA

• Planos de aula com flexibilização

"Matheus chegou para mim na 1ª série. Eu tinha 42 alunos, e ele já estava com 7 anos completos e

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só falava o próprio nome. Era agressivo, agitado e não queria ficar na sala. Eu não fazia ideia doque era autismo. Então, no primeiro dia de aula, foi uma surpresa."

O relato é da professora Hellen Beatriz Figueiredo, da rede pública municipal de São Paulo, mas poderia ser de um educador de qualquer sala de aula do Brasil. Desde 2008, a Política Nacional deEducação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva determina que todos os alunos com

necessidades educacionais especiais sejam matriculados em turmas regulares. A Educação Especial passou a ser oferecida apenas como um complemento no contraturno. Na prática, isso significou amatrícula só no ano passado de 375.775 alunos com deficiência em salas regulares, regidas por educadores que, muitas vezes, não se sentem preparados para lidar com a situação. Exatamentecomo aconteceu com Hellen em 2003, quando acolheu Matheus Santana da Silva.

 Naquele tempo, apesar de a lei determinar a inclusão, imperava uma visão integracionista. Umacriança com deficiência só permanecia numa sala regular se acompanhasse o ritmo da turma. Hellen

 poderia ter alegado que Matheus não aprendia como os demais. Seria mais fácil desistir do alunoautista que fugia da sala a toda hora, mas ela escolheu o caminho mais difícil, o de incluí-lo. Ambossaíram ganhando.

Hoje, aos 14 anos, Matheus cursa a 7ª série na EMEF Coronel Hélio Franco Chaves, na capital paulista. Adora ler, resolve expressões matemáticas com letras e números e navega na internet. Temmuitos amigos e aprendeu o significado de emoções como orgulho e felicidade – uma vitória paraum autista. Hellen, por seu lado, fez vários cursos sobre autismo, escreveu sua monografia dagraduação em Pedagogia sobre inclusão e hoje integra a Diretoria de Educação de um dos Centrosde Formação e Acompanhamento à Inclusão (Cefai) da Secretaria Municipal de Educação de SãoPaulo. A história dos dois simboliza a mudança de mentalidade já em curso em muitas escolas

 públicas e particulares espalhadas pelo país.

Romper com as velhas ideias

SETE ANOS DE AVANÇOS No início, Matheus só sabia dizer o próprio nome e hoje participa dediversas atividades da 7ª série. Foto Marcelo Min

Durante séculos, o mundo tratou as crianças com deficiência como doentes que precisavam deatendimento médico, não de Educação. Essa perspectiva começou a mudar na década de 1950 (veja

a linha do tempo nas próximas páginas). Mas foi só nos anos 1990 que as velhas ideiasassistenciais foram suplantadas pela tese da inclusão. Procurava-se garantir o acesso de todos àEducação. Documentos como a Declaração Mundial de Educação para Todos, de 1990, e aDeclaração de Salamanca, de 1994, são marcos desse movimento.

O rompimento com práticas e conceitos antigos marcou também o início do trabalho de Hellen. Elasabia que precisaria inovar se quisesse que Matheus aprendesse. E o primeiro desafio era mantê-loem sala. "Passei a iniciar as aulas do lado de fora. Todos os dias eu cantava, lia histórias ou sugeriaalguma atividade que estimulasse a alfabetização ou outro aprendizado", lembra. "Era uma forma

de ensinar o conteúdo, promover a integração entre as crianças e atrair o Matheus para a classe."Para lidar com as fugas repentinas para o bebedouro - onde Matheus se acalmava mexendo na água

 –, a professora ensinou-o a pedir para sair. Mostrava, a cada fuga, que ele podia bater com a caneca

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na carteira quando quisesse beber água. "Um dia, ele bateu a caneca e permaneceu sentado,esperando a minha reação," conta a professora Hellen. “Percebi que ele tinha aprendido." Para a

 psicopedagoga Daniela Alonso, consultora na área de inclusão e selecionadora do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10, Hellen acertou em cheio: "Pensar nas diferenças implica oferecer variadas intervenções. Os caminhos da inclusão para atender à diversidade costumam sempre

 beneficiar todos e melhorar a qualidade do ensino."

Antes de entrar na escola em que está até hoje, Matheus rodou por três outras sem se encontrar. Na primeira, particular, a direção não soube lidar com ele. A mãe, Lindinalva Santana, tentou umaescola especial, mas em pouco tempo concluiu que o filho não estava aprendendo. Partiu para amatrícula numa EMEI indicada pela fonoaudióloga que atende Matheus desde pequeno. Diante dohistórico apresentado quando Matheus chegou à escola de Ensino Fundamental, Hellen imaginouque ele poderia ter aprendido alguma coisa. "Eu o observava durante as aulas de leitura e o jeitocomo ele manuseava o livro, mexia a boca e colocava os dedos sobre as palavras e frases me fez

 perceber que ele sabia ler."

Como o garoto não falava, Hellen encontrou um meio de testá-lo. "Escrevi com letra bastão em tiras

de papel o nome de dez objetos. Misturei todas e pedi que ele pegasse só a que correspondia aoobjeto que eu citava." Na primeira tentativa, Matheus não prestou atenção e pegou qualquer palavra.Hellen insistiu e ele acertou. “Achei que pudesse ser coincidência e continuei, inclusive com frasesinteiras, e ele acertou tudo. Depois disso, não dei mais sossego para o Matheus”, lembra a

 professora. Daniela Alonso diz que descobrir as competências dos estudantes é o caminho. "Antes,focávamos as dificuldades. O professor queria checar o que eles não sabiam, valorizando asdiferenças pelas 'falhas'. Hoje, devemos sondar o que cada um conhece para determinar como podecontribuir com o coletivo", explica.

Matheus deixou para trás a trajetória errante na Educação Especial, seguindo o mesmo caminho das políticas públicas brasileiras. O país apostou, em 2001, na inclusão. Nesse ano, começou a ser divulgada a lei aprovada em 1989 e regulamentada em 1999 que obrigava as escolas a aceitar asmatrículas de crianças com necessidades especiais e transformava em crime a recusa a esse direito.Desde então, começou a aumentar o número de estudantes com deficiência nas salas regulares. De81.344 naquele ano, ele saltou para 110.704 em 2002 e nunca mais parou de crescer. O Brasil,

 porém, estava ainda longe de assumir a inclusão como um fato consumado. As salas especiais erammuito mais numerosas, com 323.399 matrículas em 2001 e 337.897 em 2002.

O novo papel da Educação Especial

A nova política nacional para a Educação Especial é taxativa: todas as crianças e jovens comnecessidades especiais devem estudar na escola regular. Desaparecem, portanto, as escolas e classessegregadas. O atendimento especializado continua existindo apenas no turno oposto. É o que defineo Decreto 6.571, de setembro de 2008. O prazo para que todos os municípios se ajustem às novasregras vai até o fim de 2010.

O texto não acaba com as instituições especializadas no ensino dos que têm deficiência. Em lugar de substituir, elas passam a auxiliar a escola regular, firmando parcerias para oferecer atendimentoespecializado no contraturno.

 Na prática, muda radicalmente a função do docente dessa área. Antes especialista em umadeficiência, ele agora precisa ter uma formação mais ampla. “Ele deve elaborar um planoeducacional especializado para cada estudante, com o objetivo de diminuir as barreiras específicasde todos eles”, diz Maria Teresa Eglér Mantoan, professora da Faculdade de Educação da

Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e uma das pioneiras nos estudos sobre inclusão noBrasil.

Ensinar os conteúdos das disciplinas passa a ser tarefa do ensino regular, e o profissional daEducação Especial fica na sala de recursos para dar apoio com estratégias e recursos que facilitem aaprendizagem. É ele quem se certifica, ainda, de que os recursos que preparou estão sendo usadoscorretamente. “Ele informa a escola sobre os materiais a serem adquiridos e busca parceriasexternas para concretizar seu trabalho”, afirma Maria Teresa.

A princípio, esse educador não precisa saber tudo sobre todas as deficiências. Vai se atualizar eaprender conforme o caso. Ele pode atuar na sala comum de longe, observando se o material estásendo corretamente usado, ou estender os recursos para toda a turma, ensinando a língua brasileirade sinais (Libras), por exemplo. Quem souber se adaptar não correrá o risco de perder espaço. "O

 profissional maleável é bem-vindo", garante Maria Teresa.

O momento atual é de construção. De fato, a inclusão na sala de aula está sendo aprendida no dia adia, com a experiência de cada professor. “Mas não existe formação dissociada da prática. Estamosaprendendo ao fazer”, avalia Cláudia Pereira Dutra, secretária de Educação Especial do Ministérioda Educação (MEC).

Meios de levar o aluno a aprender 

 VELHOS AMIGOS Permanecer na mesma turma desde a 3ª série foi fundamental para garantir a

evolução de Matheus. Foto Marcelo MinAs salas especiais se mantiveram porque os professores não se achavam preparados, as escolas nãotinham a estrutura necessária e os grupos de defesa dos direitos das pessoas com deficiência

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duvidavam da inclusão. Até que, em 2008, após anos de debates, a Política Nacional de EducaçãoEspecial na Perspectiva da Educação Inclusiva acabou com a escolha entre ensino regular e especial(leia o quadro acima).

A nova política começou a mudar os padrões ao definir com clareza como deve ser oferecida aEducação para todos os que têm deficiência. Não por acaso, nesse mesmo ano, pela primeira vez, o

número de alunos com necessidades especiais no ensino regular superou o de matriculados em salasespeciais (veja o gráfico).

 

 Na sala da professora Hellen, o desafio no primeiro ano de Matheus era outro: mudar o padrão decomportamento do aluno autista que insistia em não se comunicar com ninguém. Ele sabia ler e

 precisava falar, se expressar. Assim como fazia com toda a turma, Hellen o incentivava a ler ashistórias e conversar sobre elas. No início, o garoto apenas repetia respostas e isso já era umavitória. Mas ela queria que Matheus se comunicasse espontaneamente. Durante a chamada, a

 professora Hellen sempre fazia uma pausa após o nome dele, na esperança de ouvir a resposta. Nadaacontecia. Até que um dia, para a surpresa de todos, ele disse “presente”. “A turma inteira bateu

 palmas. A partir desse momento, ele começou a se comunicar, a dizer o que queria.”

Graças à conquista da comunicação, Hellen passou a contar cada vez mais com a participação de

Matheus. Assim, descobriu outras possibilidades, estudou, trocou experiências com colegas,observou e avaliou a interação do menino com as propostas que fazia e, assim, organizou diferentesatividades para que ele pudesse aprender ainda mais. No fim da 1ª série, Matheus já escrevia, aindaque tivesse dificuldade para controlar o tamanho da letra.

 No ano seguinte, porém, vários colegas com quem Matheus estudava saíram da sala. A nova professora também não se sentia segura para incluir o aluno. Matheus se sentiu perdido e regrediu.Parou de ler e de escrever, voltou a ser agressivo e a abandonar a sala de aula. Em lugar de ir para o

 bebedouro, porém, ele se refugiava na turma de Hellen. Aquela professora da 2ª série sofria com asmesmas dúvidas que até hoje desanimam muitos colegas (conheça, no quadro abaixo, programas deformação na área).

Por que incluir? Será que as crianças com deficiência não aprendem mais em classes separadas,com professores especializados e dedicados apenas às necessidades delas? Quem responde é Maria

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Teresa Eglér Mantoan, docente da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas(Unicamp) e uma das pioneiras no estudo da inclusão no Brasil: “A escola regular é maisdesafiadora e um ambiente desafiador é mais propício ao aprendizado”.

 Não apenas as crianças com deficiência são mais desafiadas. Os outros alunos também ganhammuito com a inclusão. A flexibilização de recursos pode ajudar todos a aprender mais. Se o

educador utiliza um modelo em 3D para ensinar o Sistema Solar, por exemplo, não só os que têmdeficiência auditiva avançam mais mas também toda a classe tem acesso a um recurso que facilita acompreensão do conteúdo. “O professor que está preparado para a inclusão está preparado paraatender todas as crianças”, diz Cláudia Pereira Dutra, secretária de Educação Especial do Ministérioda Educação (MEC). “A inclusão obriga o sistema educacional a se repensar, a descobrir novasformas de ensinar”, completa Maria Teresa. “Muda o entendimento do que é aprendizagem.”

Para aprender a incluir 

Programa Educação Inclusiva: Direito à DiversidadeO que é Formação de professores para disseminar a Educação Inclusiva. Profissionais doschamados municípios-polo são treinados e atuam como multiplicadores em sua cidade.

O que já fez Cursos em 162 municípios-polo, com a formação, em 2008, de 12.708 professores.

Programa de Formação Continuada de Professores na Educação EspecialO que é Especialização, extensão ou aperfeiçoamento para educadores da rede pública.O que já fez Cursos para 8,5 mil professores, em 2008, ministrados em 18 instituições públicas deensino superior.

Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais O que é Distribuição de materiais pedagógicos e equipamentos para atendimento especializado.O que já fez Criou, entre 2005 e 2008, 5.551 salas de recursos.

Programa Escola AcessívelO que é Distribuição de recursos para a adequação de escolas.O que já fez Investiu 30,8 milhões de reais em 2007 e 2008 para a adaptação de edifícios.

 Novas posturas, novas aprendizagens

 DUPLA AFINADA Matheus com Hellen (à esq.) e Márcia, as professoras que mais contribuíram

 para a inclusão dele na escola. Foto Marcelo Min

O histórico da inclusão de Matheus obrigou a EMEF Coronel Hélio Franco Chaves a se repensar.Depois dos avanços na 1ª série e dos retrocessos na 2ª, a direção da escola tomou uma decisão: a

 partir daquele ano, a turma de Matheus o acompanharia até o fim do Ensino Fundamental. A então

 professora da 3ª série, Márcia Maria Batista Martinelli, por sua vez, assumiu a responsabilidade por recuperar os avanços que Matheus já havia conquistado.

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Ela e Hellen conversavam diariamente sobre possíveis flexibilizações. Como Hellen ocupava amesma sala em período diferente, Márcia às vezes deixava recados no quadro para a colega. Certodia, ela flagrou Matheus lendo um desses bilhetes e descobriu como incentivá-lo a escrever novamente: mandar cartas para a antiga professora. Na primeira, Matheus escreveu: “Oi, estou na 3ªsérie com a professora Márcia”. No dia seguinte, ele encontrou a resposta de Hellen, queestrategicamente questionava o que ele estava aprendendo. A troca de mensagens se intensificou e

Matheus nunca mais deixou de escrever.

Márcia também aproveitou a grande capacidade de memorização – ele sabe as letras e os númerosda placa do carro de todos os professores – para ensinar operações matemáticas. Na aula deGeografia, certa vez, usou uma viagem que o garoto faria com os pais para Pernambuco paraensiná-lo a utilizar o mapa. Assim, aproveitando o potencial dele a cada descoberta, Márcia foi asegunda professora a fazer diferença na vida do jovem. Hoje na 7ª série, o menino autista não seincomoda com o vaivém de professores.

Dentro de suas capacidades, participa de tudo, mesmo que o conteúdo nem sempre seja o mesmoabordado com o restante da turma. “Para o aluno com necessidades educacionais especiais, não há

necessariamente aprendizagem em série. Ele pode estar integrado com o grupo em alguns aspectosdo desenvolvimento e necessitar de outras estratégias”, explica Daniela Alonso.

A mãe de Matheus, que todos os professores não se cansam de elogiar pela sólida aliança com aescola, sempre soube que o filho se sairia bem. Uma das maiores emoções da vida dela foi sentidadurante uma festa de Dia das Mães, quando ele recitou uma poesia na frente de todos os convidadosna escola. “Por causa das dificuldades que tem na fala, eu não consegui entender muita coisa, masver meu filho ali, lendo aquele texto em voz alta ao microfone, foi meu melhor presente”, afirmaLindinalva.

A história da Educação Especial no Brasil

1854Problema médicoDom Pedro II funda o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, no Rio de Janeiro. Não há

 preocupação com a aprendizagem.

1948Escola para todosÉ assinada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que garante o direito de todas as pessoasà Educação.

1954Ensino especialÉ fundada a primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae). Surge o ensinoespecial como opção à escola regular.

1961LDB inovaPromulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que garante o direito dacriança com deficiência à Educação, de preferência na escola regular.

1971

Retrocesso jurídicoA Lei nº 5.692 determina “tratamento especial” para crianças com deficiência, reforçando as escolasespeciais.

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1973SegregaçãoÉ criado o Centro Nacional de Educação Especial (Cenesp). A perspectiva é integrar os queacompanham o ritmo. Os demais vão para a Educação Especial.

1988Avanço na nova cartaA Constituição estabelece a igualdade no acesso à escola. O Estado deve dar atendimentoespecializado, de preferência na rede regular.

1989Agora é crimeAprovada a Lei nº 7.853, que criminaliza o preconceito (ela só seria regulamentada dez anos depois,em 1999.

1990

O dever da família O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) dá a pais ou responsáveis a obrigação de matricular os filhos na rede regular.

Direito universalA Declaração Mundial de Educação para Todos reforça a Declaração Mundial dos DireitosHumanos e estabelece que todos devem ter acesso à Educação.

1994Influência externaA Declaração de Salamanca define políticas, princípios e práticas da Educação Especial e influi nas

 políticas públicas da Educação.

Mesmo ritmoA Política Nacional de Educação Especial condiciona o acesso ao ensino regular àqueles que

 possuem condições de acompanhar “os alunos ditos normais”.

1996LDB muda só na teoria

 Nova lei atribui às redes o dever de assegurar currículo, métodos, recursos e organização paraatender às necessidades dos alunos.

1999Decreto 3.298 É criada a Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência e define aEducação Especial como ensino complementar.

2001As redes se abremResolução CNE/CEB 2 divulga a criminalização da recusa em matricular crianças com deficiência.Cresce o número delas no ensino regular.

DireitosO Brasil promulga a Convenção da Guatemala, que define como discriminação, com base nadeficiência, o que impede o exercício dos direitos humanos.

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2002Formação docenteResolução CNE/CP 1 define que a universidade deve formar professores para atender alunos comnecessidades especiais.

Libras reconhecidaLei nº 10.436/02 reconhece a língua brasileira de sinais como meio legal de comunicação eexpressão.

Braile em classePortaria 2.678 aprova normas para o uso, o ensino, a produção e a difusão do braile em todas asmodalidades de Educação.

2003Inclusão se difundeO MEC cria o Programa Educação Inclusiva: Direito à Diversidade, que forma professores para

atuar na disseminação da Educação Inclusiva.2004Diretrizes geraisO Ministério Público Federal reafirma o direito à escolarização de alunos com e sem deficiência noensino regular.

2006Direitos iguaisConvenção aprovada pela Organização das Nações Unidas (ONU) estabelece que as pessoas comdeficiência tenham acesso ao ensino inclusivo.

2008Fim da segregaçãoA Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva define: todosdevem estudar na escola comum.

Curva inversaPela primeira vez, o número de crianças com deficiência matriculadas na escola regular ultrapassa odas que estão na escola especial.

ConfirmaçãoBrasil ratifica Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiências, da ONU, fazendo da norma

 parte da legislação nacional.Quer saber mais?

CONTATOSCefai Jaçanã/Tremembé, Av. Tucuruvi, 808, 02304-002, São Paulo, SP, tel. (11) 2982-6857Cláudia Pereira Dutra, [email protected] EMEF Coronel Hélio Franco Chaves, R. Kotinda, 1343, 02365-010, São Paulo, SP, tel. (11)2998-25137