a imprensa da corte nos anos de 1860 e 1870. opinião...
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Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro de Ciências Sociais
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
VERA DE OLIVERA DIAS
A imprensa da Corte nos anos de 1860 e 1870. Um estudo comparativo dos jornais Opinião Liberal e A Reforma.
Rio de Janeiro 2008
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VERA DE OLIVEIRA DIAS
A imprensa da Corte nos anos de 1860 e 1870.
Um estudo comparativo dos jornais Opinião Liberal e A Reforma.
Dissertação ou Tese apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós-Graduação em História, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Área de concentração: História Política
Orientador(a):Prof. Dr. Marco Morel Co-orientadora: Prof. Drª Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz Ferreira
Rio de Janeiro 2008
CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/REDE SIRIUS/ CCS/A
Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação.
_____________________________________ ___________________________ Assinatura Data
D541 Dias, Vera de Oliveira. A imprensa da Corte nos anos de 1860 e 1870: um
estudo comparativo dos jornais Opinião Liberal e A Reforma / Vera de Oliveira Dias. - 2008. 142 f.
Orientador: Marco Morel. Co-orientadora: Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz Ferreira.
Dissertação (mestrado) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Bibliografia.
1. Imprensa - Brasil - 1860-1870 - Teses. 2. Jornais brasileiros - 1860-1870 -
Teses. Morel, Marco. II. Ferreira, Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz. III. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. IV. Título.
CDU 070(81)”1860/1870”
VERA DE OLIVEIRA DIAS
A imprensa da Corte nos anos de 1860 e 1870. Um estudo comparativo dos jornais Opinião Liberal e A Reforma.
Dissertação ou Tese apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre ao Programa de Pós-Graduação em História, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Área de concentração: História Politica
Aprovado em: Dezoito de dezembro de dois mil e oito. Banca Examinadora:
__________________________________________ Profº. Dr. Marco Morel (Orientador) Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UERJ __________________________________________ Profª Drª Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz Ferreira(Co-orientadora) Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UERJ __________________________________________ Profª Drª Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UERJ __________________________________________ Humberto Fernandes Machado Univer Federal Fluminense
Rio de Janeiro 2008
DEDICATÓRIA
Aos meus familiares, aos Dias e aos Figueiredo, por acreditarem no meu sonho. Especialmente, a minha irmã Rita Luziet e sua família por me acolherem em seu coração. Ao meu pai Vicente por sempre ser fortaleza em minha existência. À Lara e Adilson, por serem a minha Vida. Á minha mãe, Zenidéa de Oliveira, pelo seu amor incondicional.
AGRADECIMENTOS Aos meus orientadores, Profº Marco Morel e Profª Tânia Bessone, dos quais pude
contar com a acolhida, incentivo e dedicação durante a execução desta tarefa, aos quais isento
de falhas possíveis neste trabalho.
Aos professores do PPGH, pelas sugestões e incentivo, especialmente Lúcia
Guimarães e Maria Letícia, pela dedicação ao magistério, sempre atentas, meticulosas nas
valiosas incursões pela Teoria e Historiografia.
À Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, pela concessão da Licença
para Estudos, durante 3 meses na fase de defesa do projeto.
Àqueles não menos importantes, cujos nomes ficaram ao longo da caminhada, sempre
presente em nossas necessidades - funcionários dos arquivos, bibliotecas e do PPGH – e
por onde mais passei, sem os quais jamais chegaria ao meu objetivo.
Aos amigos da turma de 2006, em especial: Myriam, Françoise, Ana Carolina e
Pâmella, por todas os momentos de amizade durante a permanência na Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, entre greves e greves...
Aos meus amigos – professores da Rede Pública – verdadeiros guerreiros da
educação, por terem me incentivado a jamais abandonar a Pós-graduação, a que todos
temos direito, porém nem sempre temos acesso, por uma melhor qualificação profissional,
À amiga Márcia Stutz, que sempre me apoiou, ouvindo, lendo e discutindo o
projeto inicial, e que com sua força e fé, me ajudou a me manter firme para que eu
perseverasse.
Ao meu “irmão mais velho”, meu cunhado Eduardo, a quem muito agradeço por ser
sempre presente em meu auxílio em todas as horas.
À amiga de sempre, Elza, escutando pacientemente minhas complicações e dúvidas,
me liberando dos compromissos “inadiáveis” da família Dias Figueiredo.
Às amigas das “santas últimas horas” Marta Freire, Eliana Prado, Vera Barone e
Rutinéa por terem me auxiliado, cada uma como pôde, amenizando meu desespero com os
prazos muitas vezes prorrogado.
Aos amigos que fiz em Campinas: a Meyre, pelo carinho em ter me acolhido nas
visitas que precisei fazer ao Arquivo Edgar Leuenrolth, a Lerice Garzoni e Ema Franzoni,
do AEL, na desesperada compilação dos periódicos.
Ao Ensino Público, que vem sobrevivendo, apesar dos percalços, em todos os níveis,
e que até aqui me conduziu.
RESUMO DIAS, Vera de Oliveira. A imprensa da Corte nos anos de 1860. Um estudo comparativo dos jornais Opinião Liberal e A Reforma Título, 2008. 142 f. Dissertação (Mestrado em História) - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008. Esta dissertação objetiva analisar, de maneira comparativa, a interferência dos periódicos Opinião Liberal 1866 e 1870 e A Reforma nos anos de 1869 a 1870, na formação de uma esfera pública no Rio de Janeiro – Capital Imperial. Contexto de profunda instabilidade política por que passava o Império do Brasil, considerado pela historiografia como de crise política, que desaguaria em curto prazo no movimento republicano. Nesta fase, a imprensa apresentava um importante papel na constituição do debate público,
apesar da escassa, porém atuante “opinião pública”, além da importância da imprensa como meio de esclarecimento e formação do público leitor. Os temas preferenciais em voga na imprensa política faziam referência aos limites do Liberalismo no Império, a natureza do poder Moderador, a Guerra do Paraguai, a saída do Gabinete Zacarias de Góis e Vasconcelos e subida dos Conservadores. Palavras-chave: Periódicos políticos. Imprensa. A Reforma. Opinião Liberal. “Opinião
pública”
ABSTRACT
The present dissertation seeks to analyze, in a comparative form, the interference of the periodicals Opinião Liberal -1866 to 1870, and A Reforma - 1869 to 1870, in the forming of a public sphere in Rio de Janeiro - Imperial Capital. Context of the profound political instability through which it was passing the Brazilian Empire, considered by the historiography as political crisis, which would flow in a short period into the republican movement. In this phase, we detach the press as an important vehicle in the constitution of the public discussion, in spite the scarce, however active public opinion was also mean of enlightenment and formation of the public reader. The main subjects in rowing in the political press used to make reference to the limits of the Liberalism at the Empire, the nature of the Moderating Power, the War of Paraguay, the leave of the Zacarias de Góes e Vasconcelos Cabinet, and the rise of the Conservatives.
Key-Words: Political Periodicals. Press. A Reforma. Opinião Liberal. Public Opinion
SUMÁRIO INTRODUÇÃO.................................................................................................... 10
1 O OPINIÃO LIBERAL E A POLÍTICA NA CORTE NOS ANOS DE 1860
..
21
1.1 Liberais Históricos e o resgate de uma memória recente.................................
23
1.2 Civilidade do povo: um ideário em ascensão.....................................................
38
2 A IMPRENSA POLÍTICA SOB A LENTE DO CENTRO LIBERAL........... 49
2.1 A Reforma e o país será salvo: prognósticos políticos no encaminhamento do Estado ..............................................................................................................
52
2.2 A Reforma e o país será salvo: a apresentação dos males e do remédio liberal ....................................................................................................................
59
2.3 Os “reformistas”: Francisco Otaviano e José Thomaz Nabuco de Araújo....................................................................................................................
71
3 NUANCES DE UMA IMPRENSA LIBERAL: OPINIÃO LIBERAL E A
REFORMA NA CONSTITUIÇÃO DE UMA ESFERA PÚBLICA ...............
78
3.1 A esfera pública no Rio de Janeiro: uma discussão conceitual ......................
81
3.2 Matizes liberais de um jornalismo político: duas temáticas levantadas pelos jornais Opinião Liberal e A Reforma ................................................................
90
CONSIDERAÇÔES FINAIS............................................................................. 104 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................
107
APÊNDICE........................................................................................................... 119
10
Introdução
“Os historiadores tratam em geral a palavra impressa como um registro do que aconteceu e não como um ingrediente do acontecimento, mas a prensa tipográfica ajudou a dar forma aos eventos que registram(...)”1
Este trabalho é a culminância de um recomeço. Um recomeço pleno de ansiedades e
dificuldades próprias dos inícios, mas também de muita vontade de acertar o passo e retomar
um antigo projeto: voltar à Universidade e fazer um curso de Mestrado. Quando, em
novembro do ano de 2005, propus-me a disputar uma vaga para o curso de Mestrado no
Programa de Pós Graduação ao qual estou vinculada (PPGH - UERJ), trazia meus anseios de
professora da rede pública, tinha em mente uma qualificação profissional, e assim,
vislumbrava aprofundar questões que me chamavam a atenção.
Naquela época, após ter participado (em 1994) do projeto do Prof. Afonso Carlos
Marques dos Santos, tive meu primeiro contato com a imprensa enquanto fonte de pesquisa.
A partir daí, bem como da leitura e da coleta de dados da Revista Guanabara, surgiram
minhas indagações a respeito do papel exercido pela imprensa na Corte Imperial e do seu
funcionamento enquanto espaço de poder - temas estes que norteiam as minhas pesquisas em
torno dos anos finais de 1860.
O meu encontro com a década de 1860 ocorreu no curso de Pós-Graduação Lato Sensu
da Universidade Federal Fluminense, em 2004, quando tomei conhecimento de pesquisas
mais recentes na área de História do Brasil. No trabalho de término de curso, sob orientação
1 Robert Darton & Daniel Roche (orgs.) Revolução Impressa: a imprensa na França 1755-1800. São Paulo: EDUSP, p. 15.
11
do professor Ricardo Salles, quando me enveredei pelo estudo do Segundo Reinado. Em
primeiro lugar, inquietavam-me questões relativas à formação do Estado Imperial, sobretudo
à crise do escravismo. Naquela oportunidade, apresentei uma discussão bibliográfica sobre a
conjuntura da lei que libertava o ventre escravo, conhecida como Lei do Ventre livre.
O tema levou-me a questionar se havia um debate político mais amplo em torno da
libertação dos escravos naquela conjuntura. Se houvesse a querer perceber como tal processo
político era apresentado na imprensa. Constatei que não havia uma divulgação, nem interesse
das elites políticas, formada por proprietários de terras e escravos, em convulsionar a
sociedade a respeito da libertação dos cativos. Diante disso e em face da amplitude desta
empreitada, e da quantidade de periódicos em circulação na Corte Imperial, o foco da
pesquisa foi modificado. Houve a necessidade de elencar dois periódicos da Corte: A Reforma
e Opinião Liberal.2 Em tais veículos, identifiquei exemplos dos limites da libertação dos
escravos a partir dos programas políticos veiculados em suas páginas.
A década de 1860 foi muito explorada pela historiografia, principalmente em função
da Guerra do Paraguai (1864-70), mas não só por isso. O período final, especialmente a partir
de 1868, foi destacado por Oliveira Vianna como Ocaso do Império. A partir de uma série de
acontecimentos de suma importância, o autor constatou que nenhuma das grandes causas do
final do Império estavam limitadas a uma curta duração, mas partiam, pelo menos de 1870, ou
antes, entre o pequeno período que corresponde à Queda do Gabinete Zacarias ao Manifesto
Republicano de 1870. O autor destacou como um período de início da marcha evolutiva de
“forças” políticas que culminaria no 15 de novembro, com a Proclamação da República.
2 O jornal. Opinião Liberal foi criado na Corte em 1866, circulou até 1870 quando, os redatores, vinculados aos Partido Republicano, migraram para o ideário do republicanismo. O jornal A Reforma foi criado em 1869 pelo grupo de liberais, em oposição, servindo de veículo de divulgação e propaganda política das reformas liberais, circulou na Corte e nas províncias até 1878.
12
Assim, os dados levantados nesta pesquisa corroboram com esta hipótese levantada por
Oliveira Vianna3.
As leituras seguintes passaram a objetivar três vertentes historiográficas. A
bibliografia a que vou chamar de “básica”, a relativa à história da imprensa no Brasil e às
obras de cunho teórico metodológico.
No intuito de situar o panorama político da época, sobretudo a conjuntura política
sobre a qual me debruço, encontrei apoio nos trabalhos de Sérgio Buarque de Holanda e de
Francisco Iglésias, na coletânea História Geral da Civilização Brasileira e em obras mais
gerais, por via de outros temas pontuais daquela conjuntura, como a Guerra do Paraguai4.
A bibliografia “básica” compõe-se das obras de José Murilo de Carvalho, A
Construção da Ordem/Teatro de Sombras, que trata da formação do Estado a partir da origem
e formação das elites políticas. Outras obras do autor foram consultadas em torno da questão
da cidadania: Formação das Almas, Cidadania no Brasil – um longo caminho, a compilação
de texto do Jornal do Timon: Partidos e eleições no Maranhão. Mais recentemente sob sua
organização, o livro coletivo Nação e cidadania no oitocentos e o artigo de caráter
metodológico História Intelectual: a retórica como chave de leitura, além do trabalho sobre
Radicalismo e Republicanismo no século XIX.5
3Oliveira Vianna. O Ocaso do Império. Brasília: Senado Federal, 2004, pp. 17-19. 4 Obras sobre a Guerra do Paraguai abrem um leque fundamental para a conjuntura de finais da década de 1860, posto que era o tema principal com amplo destaque na imprensa diária, ilustrada, de crônica política ou opinativa. Francisco Fernando Monteoliva Doratiotto. A Maldita Guerra: nova história da Guerra do Paraguai. São Paulo: Companhia das Letras. 2002; Ricardo Salles. Nostalgia Imperial: formação da identidade Nacional durante o Segundo Reinado. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996. _______. A Guerra do Paraguai: escravidão e cidadania na formação do exército. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. Obras de caráter mais geral são os volumes de Sérgio Buarque de Holanda [e alii] “Crise do regime”, in: O Brasil Monárquico. Do Império à República, Tomo II, 5º vol 7ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. pp. 7-56 e de Francisco Iglesias [e alii]. “Vida Política”, in: Reações e transações – O Brasil Monárquico. Tomo II, Vol.3, 7 ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. 5 Cf. José Murilo de Carvalho. A Construção da Ordem: a elite política imperial /Teatro de Sombras: a política imperial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. ______. Formação das Almas: o imaginário da República no Brasil. São Paulo: Cia das Letras, 1990. ______. (org.) João Francisco Lisboa. Jornal do Timon. São Paulo: Cia das Letras, 1995. ______. Cidadania no Brasil – o longo caminho. 10ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. ______. (org.) Nação e Cidadania no Império: novos horizontes. Rio de Janeiro: Civilização
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Outra vertente de obras “básicas” estudadas foram as biografias e as memórias. A
biografia de D. PedroII, também de José Murilo de Carvalho, baseada, sobretudo, no Diário
do Imperador. Outra obra de grande quilate que se tornou de suma importância para estudo do
panorama político do Segundo Reinado foi a biografia de Nabuco de Araújo, Um estadista do
Império, escrita por seu filho Joaquim Nabuco, publicada em 1898. Nesta obra, o filho
descreve a vida política de seu pai, reconstruindo não só a atuação pública de Nabuco de
Araújo como todo um panorama do Segundo Reinado. Dentre as “memórias” estão as obras
de Joaquim Manuel de Macedo, As Memórias da Rua do Ouvidor; de Machado de Assis, O
Velho Senado e de Joaquim Manuel Pereira da Silva, a crônica política: Memórias do Meu
tempo6.
Após a leitura destas obras clássicas, o passo seguinte foi situar os jornais políticos
nas abordagens que privilegiam a imprensa como objeto e fonte de pesquisas, como uma
esfera pública informal de poder na construção e de transformação dos espaços públicos.
Neste sentido, as obras de Marco Morel e Mariana Monteiro de Barros: Palavra, imagem e
poder e a tese do mesmo autor As transformações dos espaços públicos na Corte Imperial
foram fundamentais, bem como os trabalhos coletivos apresentados no Seminário História e
Imprensa: representações culturais e práticas de poder, realizado em 2003 e o Anais do
Colóquio História e Imprensa – Homenagem à Barbosa Lima Sobrinho, de 1998, ambos
organizados pelos professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.7
Brasileira, 2007.José Murilo de Carvalho. História Intelectual no Brasil: a retórica como chave de leitura. Rio de janeiro: Revista Topoi, nº1 (1998), pp. 123-152. 6 ______. D. Pedro II. Ser ou não ser. (Perfis Brasileiros). São Paulo: Cia das Letras, 2007. Joaquim Nabuco. Um Estadista do Império. (2vol.), 5ª ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 1997. Joaquim Manuel de Macedo. As Memórias da Rua do Ouvidor de Machado de Assis. O Velho Senado. Brasília: Edições do Senado. (vol. 37), 2004. Joaquim Manuel Pereira da Silva. Memórias do Meu tempo. Brasília: Edições do Senado Federal. (vol.3), 2003. 7Marco Morel. As transformações dos espaços públicos: imprensa, atores políticos e sociabilidades na CorteImperial, 1820-1840. São Paulo: Hucitec, 2005. Marco Morel e Mariana Monteiro de Barros. Palavra, imagem e poder: o surgimento da imprensa no Brasil do século XIX. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. Marco Morel, Tânia M. T. Bessone da C. Ferreira e Lúcia M. B. P. das Neves (orgs.). História e Imprensa: representações culturais e práticas de poder. Rio de Janeiro: DP&A, 2006 e Lúcia M. Bastos P. das Neves e Marco Morel (org.). História e Imprensa. Homenagem à Barbosa Lima Sobrinho – 100 anos. Rio de Janeiro: UERJ/IFCH, 1998.
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Em Palavra, Imagem e Poder Marco Morel e Mariana Barros destacaram o
surgimento da imprensa no Império do Brasil, como vinculada a transformações dos espaços
públicos, à modernização política e cultural e à construção do Estado Nacional, além de
apresentarem o termo “opinião pública” como fruto das modernidades políticas, quando as
opiniões particulares eram publicizadas. A imprensa se constitui como “instrumento de
combate”, surgida como gênese das novas formas políticas de crítica, no âmbito de uma
esfera pública que se ampliava. A obra apresenta um panorama da imprensa brasileira sob a
perspectiva das relações de poder, tanto por via institucionalizada, como por meio de
instituições formais como internamente nas relações de poder que perpassam a produção dos
periódicos. A historiografia tradicional entendia a imprensa como narrativa de fatos e
verdades incontestáveis, portanto infalíveis.
Em outra linha de análise, dentro de uma perspectiva da historiografia dos Annales,
com Braudel, a Imprensa e a História lidam com temporalidades diversas.8 A última, diz
respeito ao tempo longo, a profundidade dos fatos e eventos que analisa; enquanto a imprensa
lida com o tempo curto, o tempo do acontecimento. Esta concepção de descaso em relação à
imprensa aliou-se ao viés marxista que a concebia enquanto meros reflexos de superestruturas
sócio-econômicas. As novas abordagens que tratam da temática entre História e Imprensa
configuram a importância desta como objeto de estudos. Ou seja, diante das novas abordagens
historiográficas, políticas e culturais foi redimensionada como agente histórico que interage
nos eventos a que narra, tendo parte ativa nos acontecimentos, como atores no desenrolar dos
eventos, não somente como narração dos mesmos. Assim, tal perspectiva é subsidiária
também da história cultural e da história política renovada, das interfaces História Cultural e
História Política.
8 Cf. Lúcia Maria Paschoal Guimarães. Prefácio. In: História e Imprensa. Representações culturais e práticas de poder. Lúcia Bastos P. das Neves, Marco Morel e Tânia Maria Tavares Bessone da C. Ferreira (org.). Rio de Janeiro: DP&A: FAPERJ, 2006.
15
Do ponto de vista da História Cultural, a exemplo do que nos conduz Jeremy Popkin,
nas páginas de: Jornais: a nova face das noticias. O autor destacou que os jornais permitiam a
condução do debate público numa escala nacional, tornando possível a transmissão contínua
das opiniões do público para seus representantes eleitos, assim possibilitando o
esclarecimento dos eleitores por parte dos líderes intelectuais: pode-se ensinar a mesma
verdade no mesmo momento para milhões de pessoas; através da imprensa, elas a discutirão
sem tumulto, decidirão com calma e darão opinião9. Assim, tendo como base a releitura das
experiências dos revolucionários franceses, o autor tomou a imprensa política e seus prelos
como objeto de estudo, defendendo que a palavra impressa produzia identidades culturais
próprias, bem como foi fundamental para uma nova cultura política francesa.
Partindo destes indicativos teóricos, a etapa seguinte foi a leitura das obras em torno
da História da Imprensa no Brasil, portanto, fundamentais para este trabalho.10 A este
respeito, destaco a obra de Nelson Werneck Sodré, História da Imprensa no Brasil, clássico
para o estudo da imprensa no país, escrito na década de 1960, trouxe-nos informações básicas
ainda que fruto de um contexto específico de escrita da História, que se pretendia global. A
obra, seguindo a linha marxista, nos indicou a necessidade de aprofundamento dos estudos de
um assunto vasto como é a imprensa no Brasil.
O estudo dos jornais políticos, em fins da década de 1860, mediante dois jornais
produzidos na Corte, leva em consideração a veiculação dos debates políticos e a propaganda
no espaço público. A partir daí, voltei-me para o entendimento de quem produzia os jornais,
9 Jeremy Popkin. “Jornais: a nova face da notícia”. In: R. Darnton & D. Roche (orgs). Revolução Impressa. A imprensa na França - 1775-1800. São Paulo/ EDUSP, 1996, pp. 195-223. 10 As obras “panorâmicas” e descritivas não são muitas. É possível elencá-las: Nelson Werneck Sodré. História da Imprensa no Brasil, Rio de Janeiro: Mauad, 1999. [1ª ed. 1966, Civilização Brasileira]. Hélio Vianna. Contribuição à história da imprensa brasileira ( 1812-1869). Rio de Janeiro: Imprensa Nacional/ Ministério da Educação e Saúde/ INL, 1945; Gondim da Fonseca. Biografia do jornalismo carioca ( 1808- 1908). Rio de Janeiro: Quaresma, 1941; as obras de Cybelle e Marcelo de Ipanema. Imprensa Fluminense. Ensaios e trajetos. Rio de Janeiro: Instituto de Comunicação Ipanema, 1984. __________. História da Comunicação. Brasília / UNB, 1967 e Marcelo de Ipanema. A imprensa no Segundo Reinado, in: RIHGB, vol. 314 (jan. – março) 1975; Moreira de Azevedo. Origem e Desenvolvimento da imprensa no Rio de janeiro. ( 4º trimestre de 1865). Revista Trimensal do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico do Brasil. Tomo 28, parte II. Rio de Janeiro: B.L. Garnier – Livreiro. Editor, 1865. pp. 169-224.
16
que grupos representava, como eram produzidos, quem os lia.11 Afinal, havia um círculo
letrado público que atuava coletivamente, e faziam um uso público da razão através de uma
pedagogia na imprensa. Assim, utilizei o sentido de esfera pública e de “opinião pública”
forjado por Habermas12, ou seja, como uma esfera de pessoas privadas reunidas em um
público, espaços institucionalizados ou não. A opinião que emergia naquele contexto,
portanto, provinha de um público letrado e, ainda que restrito, formado na Corte criticando e
interagindo com os acontecimentos políticos.
Feitas as opções, passei para a pesquisa de fontes. Escolhi iniciar pela leitura dos
jornais Opinião Liberal e A Reforma, dois jornais típicos das mudanças ocorridas na imprensa
no Brasil, no século XIX. O Opinião Liberal, como exemplar de um tipo de pequena
imprensa opinativa, doutrinária, demonstrava bem os embates políticos daquela conjuntura,
repleta de antagonismos políticos fundamentais para os rumos do Império do Brasil. O
segundo jornal, também opinativo, menos doutrinário, mais informativo, diário, tomava ares
de um tipo de imprensa industrial, com anúncios e assuntos mais variados, mais informativo
do que o primeiro, porém ainda exemplar desta fase de transição da imprensa artesanal para
industrial.
A próxima etapa foi tentar entender quem eram os leitores envolvidos em tais debates,
quem os produzia e por que produziam. Afinal, eu me perguntava quem seriam os grupos
liberais envolvidos na produção das ‘folhas’ políticas ora em estudo. A imprensa se
constituía então em um canal de discussões e debate político bem como se constatava o
surgimento de um grande número de periódicos. Devido às lacunas provenientes da ausência
partidária, e de partidos como conhecemos atualmente, cabia à imprensa cumprir o papel de
11 Cf: Marcello O. N. C. Basile. O Império em construção: Projetos de Brasil e ação política na Corte Regencial. [Tese de Doutorado]. 2004; p. 18. Rio de Janeiro. Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Esta tese tornou-se uma referência para o estudo da Imprensa política no período regencial. Aqui nos cabe o tratamento rigoroso dado ao resgate de fontes para História e Imprensa, bem como para a discussão teórica em que se fundamenta. 12 Cf. Jügen Habermas. “Estruturas sociais da esfera pública”, in: Mudança estrutural da esfera pública. Rio de Janeiro: Edições Tempo Brasileiro. 1984. pp. 42-74.
17
defender as correntes de pensamento, assim como os programas de cada grupo político,
funcionando como veículos de divulgação doutrinária, dos clubes liberais como se fossem
partidos. Aos grupos políticos liberais cabia forjar uma “opinião pública”, se não a real, ao
menos a desejada, naquele contexto de escravismo e de liberalismo, onde o número de
analfabetos beirava 85% da população.
O Rio de Janeiro, espaço por onde circulavam as folhas políticas, constituía-se em
uma Corte imperial, repleta de contrastes. Principalmente entre a densidade de escravos e as
pretensões civilizadoras das elites políticas e culturais. Os espaços públicos ‘civilizados’ se
ampliavam, como cafés, salões, clubes e os círculos letrados, onde se discutiam assuntos
variados veiculados na imprensa como debates parlamentares, literatura, política e
expressavam críticas diretas ao governo. Os assuntos discutidos por esse público leitor
ganhavam publicidade através da imprensa, na corte e nas províncias, e por isso adquiria
forma de uma “opinião pública”. Assim, a esfera pública na Corte imperial era formada pelo
público que lia , comentava e julgava, tendo a si mesmo como tema.
Os dois periódicos - Opinião Liberal e A Reforma - embora liberais, pertenciam a
grupos diferentes e por isso eram representativos dos diferentes matizes políticos, em que se
descortinavam os debates durante os anos finais da década de 1860. Em vista do exposto, as
reformas não caminhavam rumo a um propósito, além do que os programas eram de difícil
consenso. Como nos ensina a professora Lúcia Guimarães, o discurso do liberalismo europeu
como uma ideologia essencialmente burguesa, cujas origens articulam-se ao desenvolvimento
do capitalismo e à crise da sociedade senhorial. “Teve seus postulados básicos firmados na
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, uma espécie de cartilha do
liberalismo político, pregando o governo representativo, a primazia das leis e soberania da
nação”. A este respeito reforçou que o ideário liberal não esclarecia quem era a nação ou
quem eram os cidadãos. Segundo a autora, o “(...) discurso liberal no Brasil nasceu da
18
especificidade do rompimento da situação colonial (...) e o discurso liberal foi ao mesmo
tempo ‘revolucionário’, em relação à emancipação política e ‘conservador’ em relação à
manutenção da ordem vigente.”13
A época ficou patente na historiografia como crise política, com intenso programa
partidário liberal, principalmente a partir de 1868 com queda do Gabinete Progressista de
Zacarias de Góes e Vasconcelos, descrito nos programas dos grupos políticos do Segundo
Reinado, por Américo Brasiliense em Os Programas dos Partidos Políticos e o Segundo
Império e na obra O Centro Liberal, por Nabuco de Araújo.14
A etapa seguinte foi verificar a periodicidade dos jornais que circulavam na capital do
Império, por ser espaço central na divulgação de um modelo de cultura civilizada e letrada no
Império, forjado pelas elites políticas, também culturais. O exemplo era a pequena imprensa
opinativa, formada em uma época em que era comum o anonimato na publicação de artigos.
Este tipo de imprensa, destacada nesta dissertação, foi alvo de pesquisas recentes que
envolvem a interlocução História e Imprensa15, que por sua atuação e divulgação nos debates
políticos daquela conjuntura merecem análise ainda mais apurada. Por outro lado, a grande
imprensa diária da década de 1880 foi considerada pela historiografia recente, pois os jornais
tornavam-se empresas, como destacou Marialva Barbosa em Os Donos do Rio, e mais tarde
em História Cultural da Imprensa, porém pequena imprensa periódica e de partidos foi
13 Cf. Lúcia Maria Paschoal Guimarães. “Liberalismo moderado: postulados ideológicos e práticas políticas no período regencial (1831-1837)”. In: ______ & Maria Emilia Prado (orgs.). O liberalismo no Brasil. Origens, conceitos e prática. Rio de Janeiro: Ed. Revan /UERJ, 2001. pp. 103-126. 14 Cf. Américo Brasiliense de Almeida e Melo. Os programas dos partidos políticos e o segundo império.( Int. de Vamireh Chacon). Brasília: Senado Federal / Ed. Brasiliense, 1979 e José Thomaz Nabuco de Araújo. O Centro Liberal. Brasília: Senado Federal, 1979. 15 Cf. José Murilo de Carvalho. As conferências radicais do Rio de Janeiro: novo espaço de debate. In: José Murilo de Carvalho( org.) Nação e cidadania no Império: novos horizontes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.pp..17-41. Silvana Mota Barbosa. “Panfletos vendidos como canela”: anotações em torno do debate político dos anos de 1860. In: José Murilo de Carvalho( org.) Nação e cidadania no Império: novos horizontes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.pp.153-183.
19
englobada pelas grandes empresas jornalísticas a partir da década de 1870, poucas se
mantiveram sólidas, a exemplo do Jornal do Comercio e do Diário do Rio de Janeiro.16
Elegi como fonte primária os jornais Opinião Liberal e A Reforma, pois ambos
circularam por um período dilatado de tempo, mas ainda não haviam sido contemplados por
uma pesquisa que resgatasse seu lugar político, em uma fase em que havia uma proliferação
de uma imprensa perene. Outrossim, me inquietava a relação entre a presença da imprensa
forjando e refletindo os acontecimentos, a imprensa exercia a função atuante nos eventos que
noticiava.
Foram selecionados dois conjuntos textuais: fontes periódicas: 1) os dois jornais
partidários – Opinião Liberal e A Reforma. Sua leitura permitiu contato direto com os debates
que alcançavam um público mais amplo na Corte e nas províncias. Seus artigos foram a base
de análise dos posicionamentos políticos dos grupos em questão, bem como da propaganda
partidária e crítica ao governo; 2) Almanack Laemmert - para resgate de dados quantitativos
acerca da imprensa na corte Imperial, bem como da tipologia do periodismo em circulação
nos anos finais de 1860.
O segundo conjunto de fontes foram os arquivos pessoais dos senadores José Tomás
Nabuco de Araújo e de Francisco Otaviano de Almeida Rosa, disponíveis, o primeiro no
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), enquanto que o segundo, no arquivo da
Academia Brasileira de Letras (ABL). No trabalho, procurei estabelecer uma leitura das
fontes pesquisadas, anotações e cartas, e a bibliografia apresentada. Na etapa subseqüente,
deparei-me com um universo de possibilidades as quais me levaram a selecionar alguns
recortes necessários aos limites desta tarefa. Hoje me é patente a importância dos periódicos
Opinião Liberal e A Reforma no questionamento e na moldagem dos fatos por meio,
especialmente, dos grupos políticos os quais cimentou.
16 Cf. Marialva Barbosa. Os donos do Rio – Imprensa, poder e público (1880-1920). Rio de janeiro: Vício de Leitura, 2000.__________. História Cultural da Imprensa: Brasil - 1900-2000. Riode Janeiro: Mauad X, 2007.
20
O objetivo deste trabalho fundamenta-se em mostrar que havia uma pequena imprensa
política atuante na formação de uma “opinião pública”, interferindo no encaminhamento dos
debates políticos apresentados nos periódicos Opinião Liberal, de 1866 a 1870 e A Reforma,
de 1869 a 1870, anos em que ambos circulavam na corte e, ao mesmo tempo, em oposição à
política ministerial, porém, cada um defendendo seu programa próprio de reformas. Se por
um lado, o Opinião Liberal apresentava um modelo de imprensa opinativa e partidária, no A
Reforma, ainda que mantivesse o modelo de jornal partidário, panfletário e opinativo,
iniciava-se um tipo de jornal diário, com anúncios dos mais variados temas. O motivo da
escolha do confronto entre estas duas folhas políticas foi demonstrar as transformações
ocorridas na imprensa, que na década seguinte se caracterizaria por uma imprensa industrial
mais próxima dos moldes que conhecemos atualmente. Através da pequena imprensa, os
grupos políticos procuravam expor suas idéias e manter vivo um debate político em torno do
programa de reformas liberais, mas no fundo destoavam quanto aos meios de efetuá-las.
Isto posto, esta dissertação se apresenta dividida em três capítulos. No primeiro,
analiso o Opinião Liberal e a política na Corte na década de 1860 sob a lente dos liberais
históricos e o resgate de uma memória política. Neste capítulo, resgato ainda o ideal de
civilidade presente no jornal. No segundo capítulo, trato da imprensa política sob a lente do
Centro Liberal, analiso o surgimento do jornal A Reforma e traço um perfil dos “reformistas”:
Francisco Otaviano de Almeida Rosa e José Tomás Nabuco de Araújo. No capítulo terceiro,
por fim, verso sobre a imprensa: Opinião Liberal e A Reforma na constituição de uma
“opinião pública”; os matizes liberais de um jornalismo político bem como as nuances de um
vocabulário político no respectivo contexto.
21
Capítulo 1.
O OPINIÃO LIBERAL E A POLÍTICA NA CORTE NOS ANOS DE 186017.
Presente em toda parte, [a imprensa] descentraliza o movimento político, discutindo nas localidades as questões que se agitam no centro e afetam o interesse geral da comunidade; restitui os partidos as suas condições normais: acostuma o povo a meditar sobre seus destinos, apreciar os seus direitos, zelar os seus deveres e cria estes núcleos de resistência aos desmandos da autoridade, esta consciência de si mesmo, que constitui a força das sociedades modernas, e se chama “opinião pública”. (Grifo nosso) Por mais ingrato, portanto que seja o sacrifício convém perseverar nesta santa propaganda [...] Coragem nobres lidadores da imprensa liberal!18
Entre o burburinho do ir e vir da movimentada Rua do Ouvidor, “rainha da moda, da
elegância e do luxo”19, alguns jovens senhores de chapéu e bengala, trajados à moda
parisiense, conversavam sobre o lançamento de uma nova “folha” política na Corte20. A
mencionada “folha” se chamava Opinião Liberal. Já em seu título, apresentava a sua filiação
política21. Coincidência ou não, o dia era 21 de abril de 1866, data que remontava aos tempos
coloniais da finalização do episódio posteriormente conhecido como Inconfidência Mineira22,
mas que ainda não tinha o destaque histórico que alcançaria a partir dos anos finais do
oitocentos23.
17 Optamos por atualizar a grafia dos termos de época almejando uma melhor compreensão do texto. 18Opinião Liberal , Ano I, nº 1, 28/11/1866. 19
Joaquim Manuel de Macedo. Memórias da Rua do Ouvidor. Rio de Janeiro: Cia das Letras, 1995. 20
Município Neutro, segundo a Constituição de 1824, sede política do regime imperial e residência oficial da família real, a cidade do Rio de Janeiro era reconhecida como Corte, apesar do termo corte referir-se a moradia e limites privados dos monarcas, príncipes e reis. Cf. Verbete. “Corte”. In: Ronaldo Vainfas (org.). Dicionário do Brasil Imperial. (1822-1889). Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2002, pp. 175-177. 21É importante destacar que na década de 1860 ser liberal abarcava várias conotações. Sendo assim, grande parte dos indivíduos ligados à política de Estado se autodenominavam enquanto liberais. No entanto, apresentavam diferenças podendo ser históricos, progressistas ou, a partir de 1868, radicais. Ou ainda, pertencer ao grupo dos chamados novos liberais (a partir de 1869). 22 Nelson Werneck Sodré considerou que a geração de Teófilo Otoni, de que faziam parte Saldanha Marinho, José Bonifácio, Martim Francisco, Otaviano e tantos outros tinham como ídolos os mártires da Inconfidência de Pernambuco de 1817, 1824 e 1842, os fundadores da República de Piratini e os vencidos em Santa Luzia. Cf. Nelson Werneck Sodré. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 1999. 23 Para José Murilo de Carvalho, a escolha do dia de fundação do periódico tinha relação com o republicanismo incutido nos ideais dos grupos ligados aos liberais. A respeito da figura de Tiradentes como símbolo da República, ver: José Murilo de Carvalho. Formação das Almas. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
22
No tempo de D. Pedro II, todas as atenções do Ocidente voltavam-se para os avanços
do liberalismo europeu, seja no viés de uma política econômica liberalizante, seja pelo
protesto aos “desmandos” pessoais do Imperador. Nesse ínterim, o novo veículo que circulava
na Corte apontava para muitos problemas internos do poder em uma estratégia peculiar.
Dentro dessa perspectiva, narrar os fatos passados e divulgá-los era meta no resgate de uma
memória desejada, bem como de reelaboração de uma honra anteriormente perdida. Como
parte suas estratégias de ação, falar em nome do povo e da nação e instruir a população
através de seu veículo constituía um caminho escolhido por seus redatores para impingir seu
programa de governo e a almejada civilidade. Esses e outros aspectos serão abordados neste
capítulo como mecanismos de grupos políticos liberais e suas alianças, ao longo dos anos de
1866 e 1870.
23
1.1. Os Liberais Históricos e o resgate de uma memória recente
pelas experiências do passado e conhecimento do presente, que as nações aprendem a viver no futuro. Em sua existência elas obedecem às leis gerais, que regem a ordem moral: os acontecimentos prendem-se por uma relação necessária e lógica (...)24
O fragmento acima descortina uma das primeiras preocupações da imprensa e da
literatura situadas na segunda metade do século XIX. A ligação entre passado e presente desse
modo tornou-se a mola-mestra para a construção de um futuro melhor, exigindo, por outro
lado, a seleção de fragmentos de memória. Vale observar que o ano de inauguração do novo
jornal da Corte (1866) vivia uma grande cisão entre os grupamentos políticos e suas formas
de pensar o Império. O grupo dos liberais históricos fazia uma grande oposição aos liberais
progressistas, políticos de situação, deixando que suas críticas caíssem muitas vezes no
terreno das questões pessoais. Segundo Américo Brasiliense, o periódico pronunciava-se
energicamente contra o poder pessoal do Imperador, identificado em especial na Carta
Constitucional e contra o Poder Moderador e o voto censitário25.
De acordo com o trecho destacado, os acontecimentos vinculavam-se por uma relação
“necessária e lógica”. Para os redatores do Opinião Liberal, tal lógica deveria ser cimentada
em pílulas cotidianas estampadas no espaço de suas poucas páginas. Segundo José Murilo de
Carvalho, o referido periódico foi fundado pelos jovens advogados , Francisco Rangel
Pestana26, Jose Leandro de Godoy Vasconcelos27, José Luiz Monteiro de Souza28, Padre
24Opinião Liberal, nº, 12/ 08/1866. 25Américo Brasiliense. Os programas dos partidos políticos e o segundo império. Brasília: Senado Federal / Ed. Brasiliense, 1979, pp. 31-32. 26 Cf. Sacramento Blacke, vol. III, pp. 99, 499. Filho de João Jacinto Pestana e de Izabel Souza Rangel Pestana, nasceu em Iguaçu, província e hoje Estado do Rio de Janeiro, a 26 de novembro de 1839. Formado em Direito pela Faculdade de São Paulo em 1863, aplicou-se com particularidade ao estudo do direito público, foi um dos fundadores da Sociedade Filomática do Rio de Janeiro, se dedicou ao jornalismo desde sua vida acadêmica. Sua saúde sempre fora débil, só podendo ele, por essa razão, iniciar o curso de Direito aos 20 anos de idade – com as lutas da política abalou-se por forma tal que foi obrigado a procurar o clima de São Paulo, onde exerceu a advocacia, fundou com outros a Escola do Povo, com o fim de instruir o povo e pugnar pela educação superior
24
Marcus Neville29 e Henrique Limpo de Abreu, este último deputado na Assembléia Geral pela
Província de Minas Gerais. Outros homens de destaque colaboravam com seus números,
como por exemplo o político mineiro Teófilo Otoni; Urbano Sabino P. de Mello e José Maria
do Amaral. Na Câmara Temporária, a partir de 1867, atuavam Leandro Godoy e Vasconcelos
e Joaquim Felício dos Santos, sustentando o pensamento político do jornal30.
No curso de desenvolvimento de suas críticas, o veículo apresentava algumas
estratégias que lhe eram recorrentes. Ao publicar decisões ministeriais, lançava luz sobre os
embates políticos da época, utilizando uma linguagem direta e irônica. Por essa e outras
maneiras, o periódico da Corte foi se formando como sinalizador daquilo que entendia como
da mulher em conferências públicas, lecionou Retórica e Língua Nacional no Colégio Americano Internacional, e depois fundou um colégio modelo, quanto ao professorado, à direção moral e intelectual e a outras condições essenciais ao ensino, o qual não pode sustentar-se. Foi deputado à assembléia da antiga província e senador ao Congresso Federal, onde fez parte da comissão que elaborou o projeto de constituição. Colaborou para o jornal A República de 1870-72 e redigiu: O Lyrio – São Paulo, O Tymbira com José Luís Monteiro de Souza, Henrique Limpo de Abreu e Cesário Alvim, O Futuro, A Época. São Paulo:1863,in fólio. Única de idéias liberais pelas eleição de 1863, Diário Oficial do Império – 1862-64 e o Correio Nacional: Sob a Direção de Francisco Rangel Pestana , Henrique Limpo de Abreu – 1864-70, in fólio. Este periódico foi redigido por diversos redatores até 1870. Citado por S. Blacke, segundo consta, Pestana o deixara para fundar o Opinião Liberal, este continuou a sair até 1870, sob a redação de José Leandro de Godoy Vasconcelos e do Padre Marcos Neville, tornando Pestana o precedente. Este periódico também foi órgão do Partido Republicano. A Província de São Paulo: propriedade de uma associação comanditária, sendo redatores Américo de Campos e Francisco Rangel Pestana, São Paulo, 1870, in fólio. Após ser proclamada a República, esta folha passou a se chamar Estado de São Paulo. Nela colaboraram Américo Brasiliense, Luiz Pereira Barreto, Julio Ribeiro, Martinho Prado e outros. Há em revistas trabalhos de Rangel Pestana, Blacke destacou: A Educação e a instrução do sexo feminino , As Letras, ciências e Artes – nos exercícios literário do culto às Ciências. São Paulo, 1861. 27Cf. Sacramento Blacke, vol. V, p. 1. Nascido a 27 de fevereiro de 1834 em Pernambuco e bacharel em Ciências Sociais e Jurídicas pela Faculdade de Recife, faleceu no Rio de Janeiro em 11 de novembro de 1888. Foi deputado por sua província na 12ª legislatura geral, presidiu a província do Maranhão, Rio de janeiro e Rio Grande do Sul e exerceu advocacia na Corte. Escreveu, além dos relatórios na vida administrativa: Conferências Radicais (1ª Sessão. Discurso proferido sobre Ensino Público Livre. Rio de Janeiro, Tipografia da Reforma. 1869. Publicou a folha política Opinião Liberal ( In-fólio) entre 1866 e 1870. 28 Nasceu em São Vicente de Paula, município de Araruama, província do Rio de Janeiro no ano de 1840 e faleceu em 5 de maio de 1868, bacharel em Ciências Sociais e Jurídicas pela Faculdade de São Paulo. Foi deputado provincial e hábil jornalista. Suas publicações foram: Uma fase da vida: Romance, publicado no Correio Paulistano, 1861.Discursos na Assembléia Provincial. Estreou no jornalismo publicando com outros companheiros estudantes: O Timbira depois Correio Nacional, mas deixou-o para publicar no Opinião Liberal onde se destacou com uma série de artigos denominados Jornal de Confúcio que começaram a sair a partir do 2º número. 29 Cf: Sacramento Blacke, vol. VI, p. 223. Francês por nascimento, mas cidadão brasileiro, faleceu em 5 de novembro de 1889. Presbítero secular, ordenado nesta diocese, e capelão de N. S. da Candelária, foi professor de inglês na Escola Naval desde 1º de julho de 1858; lecionou esta língua muitos anos na escola Normal e foi mestre de sua alteza a Princesa Imperial e sua Augusta irmã a Duquesa de Saxe. Escreveu: Livros de Prosa e Poesia. 1884. Fez Parte do Opinião Liberal com Leandro de Godoy Vasconcelos. 30 José Murilo de Carvalho. Liberalismo, radicalismo e republicanismo nos anos sessenta do século dezenove. Centre for Brazilian Studies: University of Oxford, CBS- 87-07, pp. 1-22.
25
sendo os problemas sócio-políticos de seu tempo. Apesar do grande avanço da imprensa de
cunho informativo no eixo Rio de Janeiro / São Paulo no período, alguns questionamentos
vieram à tona em jornais menores e este último representava estreita ligação com a defesa do
programa de um grupo de liberais. O contexto era de grande instabilidade política e formou-
se como conseqüência do fim da chamada política de conciliação, implementada desde 1853
pelo Marquês do Paraná. Nesta espécie de trégua entre liberais e conservadores, ambos os
grupos compunham o governo até o início da década de 1860, quando iniciou o movi mento
que deu origem a Liga ou Partido Progressista, momento em que os conservadores puros se
extremaram novamente, recomeçando o antagonismo entre os partidos31. Sobre este aspecto,
cabe ressaltar alguns pontos da conjuntura.
Desde 1848, os conservadores dominaram a política a partir da exclusão de outros
grupos do poder. Após a Praieira, sufocada como última revolta liberal, cuja repressão
significou o marco na consolidação do projeto político conservador e centralizador, se tornou
ponto fulcral dos debates políticos a direção saquarema e a ação ordenadora da Coroa32. A
morte do Marquês do Paraná, em 1856, subiu ao cargo de presidente do Conselho de
Ministros o Marquês de Olinda, abrindo espaço novamente para o avanço dos liberais no
poder. Um ano depois, nas eleições de 1857, vinte e três liberais cresceram na Câmara, entre
eles, Teófilo Otoni, Francisco Otaviano, Saldanha Marinho, José Bonifácio, Silveira da Mota,
Francisco José Furtado e Tavares Bastos33.
No período de surgimento do Opinião Liberal, já na década de 1860, crescia a
agitação na Câmara. O novo Partido Progressista estava dividido em dois grupos: 1) Os
liberais históricos, que começaram a disputar hegemonia; 2) Os Conservadores dissidentes,
numa clara divisão de propostas. Nesse bojo de embates, quatro Ministérios foram
31 Cf .Lucia M. P. Guimarães. Conciliação (verbete). In: Ronaldo Vainfas ( dir ). Dicionário do Brasil Imperial. Rio de Janeiro:Objetiva, 2002. 32 Cf. Magali Gouveia Engel.Praieira.( verbete). In: Ronaldo Vainfas ( dir ). Op cit. 33José Murilo de Carvalho. Liberalismo, radicalismo e republicanismo nos anos sessenta ... Op. cit.12
26
derrubados. Em 1866, o Marquês de Olinda pedia demissão, indicando Zacarias de Góes de
volta ao Ministério, no mesmo que o Ministério da Guerra foi dado a Caxias, o que
ocasionou algumas renúncias em outros cargos de poder por parte de seus adversários. Na
Câmara, Caxias enfrentava grande oposição dos liberais históricos, mas como se sabe, o
futuro Duque permanecia ao lado do imperador e comandando as estratégias no conflito com
o Paraguai.
Muitos foram os políticos analisados e criticados negativamente pelo novo periódico.
Na visão de seus redatores, a vigília e intervenção nos fatos era tarefa precípua da imprensa.
Nesse sentido, muitos de seus artigos - além da política - eram direcionados a esclarecer os
leitores sobre a missão dos escritores públicos, redatores de jornais. Como se pode ver abaixo,
opinião e política sã constituíam parte da mesma moeda.
Erga-se ao menos a imprensa um protesto enérgico contra esse desmoronamento da ordem moral, traduza o jornalismo uma aspiração generosa pela reforma moral, que deve ser a base da reforma política. Salve-se desse naufrágio das instituições, que juramos na solene consagração de nossa política, o princípio de uma nova situação, em que o país possa firmar as bases seguras do seu engrandecimento e de complemento dos seus altos destinos (...)34.
Embora sejam muitas as matérias dedicadas a explicitar a importância da imprensa
dentre os meios de ação do Opinião Liberal, pode-se dizer que o principal fundamentava-se
enquanto um órgão doutrinário atuante na construção de uma história presente assentada, por
sua vez, na valorização da narrativa passada e na exaltação dos feitos políticos e sociais do
grupo a que estava vinculado. Suas assertivas aparecem especialmente circunscritas no
entorno da seção intitulada de “Revoltas Mineiras”. Entre os muitos episódios descritos,
chama a atenção o fato da Revoltas Mineiras de 1842, e das justificativas das ações em defesa
dos grupos dos históricos conhecidos como luzias35. É necessário salientar que não apenas
34Opinião Liberal, nº , 28/07/1866. 35 Segundo Ilmar de Mattos, a denominação luzia pauta-se nos interesses dos liberais em conduzir a política de modo a assegurar o predomínio de cada grupo em seu âmbito provincial e que deveria expressar-se numa distribuição mais equilibrada do aparelho de Estado pelo território imperial. A este respeito,ver: Ilmar Rholoff de
27
este episódio, como também muitos deles apareciam nesta seção, como, por exemplo, a
Inconfidência Mineira. Por outro lado, os redatores e colaboradores construíam um espaço de
participação enquanto testemunhas e sujeitos de muitas das transformações tidas no interior
tanto da política de governo propriamente dita, quanto da sociedade de sua época. Na referida
seção, iniciada a partir de novembro de 1866, publicizavam que
por longas e dolorosas provações têm passado a província de Minas. O tumulto lhe há roubado alguns de seus melhores filhos a outros esmoreceu a idade, e os poucos, que ainda pelejam, parecem condenados a uma proscrição completa (...)36
Em outro número, completava:
(...) A província de Minas em todas as ocasiões difíceis tem sempre acudido com prontidão ao reclamo da pátria que na presente conjuntura mais que nunca tem necessidade de dedicação, denodo e patriotismo de seus filhos (...)37
Ao tratar das relações entre passado e presente, Jacques Le Goff ressaltou que a
memória é o lugar onde cresce a história, que por sua vez a alimenta38. Recorrendo à
mitologia, lembrou que na Grécia antiga, a memória era uma deusa - Mnemosine, que
lembrava aos homens as recordações dos seus grandes feitos passados. Numa estreita relação
com a poesia lírica, o poeta era homem de grande memória. As nove filhas de Mnemosine
eram: Clio (História); Euterpe (música); Polínia (poesia lírica); Talia (comédia); Erato
(elegia); Melpômene (tragédia); Urânia (astronomia); Terpsícore (dança); Calíope
(eloqüência)39. Nas páginas de Opinião Liberal, diferentes tempos interagiam. Após uma
leitura atenta do jornal, verifica-se que a história era considerada como uma mãe capaz de
ensinar com sua experiência através dos tempos. A este respeito, ressaltavam que ao registrar
os fatos
Mattos. O Tempo Saquarema. 5ª ed. São Paulo: HUCITEC, 2004, p. 99. Os liberais históricos relacionam-se aos liberais herdeiros dos exaltados de 1831 e remanescentes de 1842. 36Opinião Liberal, nº 30, 21/11/1866 37Opinião Liberal, nº 31, 24/11/1866. 38Jacques Le Goff. “Memória”. In: História e Memória. Campinas: Ed.UNICAMP, 1974, pp. 423 -483. 39 Idem. Ibidem.
28
(...) a História há de registrar uma cumplicidade, ou antes uma responsabilidade, que as mais sãs doutrinas, as mais triviais noções do sistema representativo repelem. Se na vida todos os povos a história registra essas degradantes aberrações, registra também uma grande variedade que brilha muitas vezes em suas páginas ensangüentadas. Será, porém, chegada a ocasião de dizer ao país, o que com a lâmpada do passado descortinamos através das trevas do futuro?40
Como se vê, a História passada representava o caminho escolhido pelos redatores e
colaboradores para atingir seu público de maneira veemente. O contexto era propício para tal
postura. Na década de 1860, a valorização de uma cultura própria estava em ascendência e a
idéia de um império original norteava os grupos letrados e políticos urbanos. Vale lembrar
que ganhava ânimo também a constituição de uma história “nacional” pela valorização das
instituições de História; de Geografia e do ensino (especialmente de História do Brasil).
Instituições como o Colégio Pedro II e o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB)
figuravam dentre os mais valorizados da época. Após as revoltas do período regencial e as
subseqüentes, era necessidade para os grupos dirigentes, a construção de um presente com
base no passado em que a mistura do indígena ao português era a ênfase necessária a tão
almejada unidade41. Unidade esta mais verdadeira na retórica dos círculos letrados e políticos
do que na realidade vivida, mas que era defendida como algo palpável e capaz de engrandecer
seus habitantes.
A publicação da obra Lições de História do Brasil para uso dos alunos do Imperial
Colégio de Pedro II, em 1861, de Joaquim Manuel de Macedo reforçava a idéia de construção
de uma “História pátria” pelo elogio às peculiaridades dos trópicos, frente ao conhecido e
almejado mundo europeu ocidental. Segundo Lúcia Maria Bastos P. das Neves e Humberto
Fernandes Machado, o êxito de Macedo deveu-se não só ao estilo claro, mas à seleção dos
40Opinião Liberal, Ano I, nº 30, 15 /11/ 1866. 41 Para Benedict Anderson a nação é uma construção, uma “comunidade imaginada” baseada numa noção fugidia do tempo, na dualidade dos movimentos de esquecer e de lembrar, criando uma identificação parcial do indivíduo. O autor analisa os processos que criaram essas comunidades no mundo. Cf. Benedict Anderson. Nação e consciência nacional. São Paulo: Ática, 1999.
29
acontecimentos da chegada dos portugueses até a independência, “para fazer da história do
período colonial uma narrativa do surgimento e da afirmação da nação42.
Na representação das belas letras destacava-se o Romantismo, aqui revestido pela
roupagem do indianismo de Gonçalves Dias e de José de Alencar. Na prosa romântica,
também se apresentavam os personagens transitando por um universo urbano, dos quais
ganhavam destaque para o gênero folhetim e o realismo descritivo, de influência francesa.
Eram através dos folhetins, publicados nos jornais diários de maior circulação, que se
encontravam os escritos, mais tarde editados em livros, de Joaquim Manuel de Macedo e por
onde desfilavam tipos urbanos e políticos. Através das lentes do “Dr. Macedinho”, como era
gentilmente chamado, vislumbramos ainda aspectos dos esquemas de compadrio político e
arranjos dos idos de 1860, quando o próprio escritor Macedo foi protagonista, elegendo-se
deputado pela Província do Rio de Janeiro. Em algumas obras, o autor rasga o véu dos
esquemas de corrupção política, de trocas de partidos e fragilidade eleitoral de sua época43,
levanta a polêmica do jornalismo político para alavancar a candidatura de seu narrador
protagonista, um suposto apadrinhado político dos medalhões da aristocracia provinciana44.
Tramas internas do poder também constantemente denunciadas a um público mais amplo
através do Opinião Liberal.
Como referido, outro autor que muito contribuiu na literatura através da exaltação dos
valores do Império do Brasil foi José de Alencar. Em 1865, lançava a famosa obra: Iracema.
Nela, a figura do indígena aparece atrelada ao colonizador português, como uma alegoria à
conciliação entre o invasor e o aborígene, em uma abordagem romântica da colonização.
42Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves e Humberto Fernandes Machado. O Império do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. 43 Cf. Joaquim Manuel de Macedo. A Carteira do meu tio. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2001 e Flora Sussekind (org.). Memórias do sobrinho do meu tio. São Paulo: Cia das Letras, 1995. Macedo foi deputado pela Província do Rio de Janeiro entre 1854 -58 e na Assembléia Geral em 1863, 1867 e 1878, quando da redação das obras citadas encontrava-se em pleno exercício do mandato parlamentar. 44
A obra de Macedo, publicada sob forma de folhetins, nos fornece um rico panorama de seu tempo e da sociedade do Rio de Janeiro - as movimentações da Rua do Ouvidor, as discussões políticas, os teatros... Pode-se considerar que os jovens leitores dos romances de Macedo eram os mesmos que freqüentavam os teatros e despontavam como leitor em potencial dos livros anunciados nos jornais.
30
Segundo Antônio Cândido, a índia Iracema que se entregou a Martin têm a função de
simbolizar a importância do elemento genuinamente nacional, da cor local, representando
uma espécie de mito fundador da pátria. Da mesma maneira, a publicação das Cartas de
Erasmo do mesmo autor (sob pseudônimo Erasmo) recebeu atenção dos redatores da folha
liberal. Publicadas em 1865 as Cartas, no ano seguinte, eram indicadas pelos redatores do
Opinião como sendo uma das maiores obras naquele momento político. Assim, pode-se
arriscar que não só os colaboradores da “folha”, mas também os assinantes do jornal eram
leitores em potencial de tais obras. Sobre esta questão, encontramos nas páginas referências a
livros e autores gregos e latinos, bem como a fatos da História do Brasil e Internacional. Da
mesma maneira, através da coluna Variedades, onde os leitores tinham acesso aos temas
políticos, tratavam da situação na Corte quanto nas províncias.
Embora o público-leitor já se encontrasse em alguma expansão, especialmente em
relação aos anos iniciais deste mesmo século, até 1868, o perfil jornalístico do Opinião pode
ser inserido na imprensa artesanal, fabricado em pequena tipografia45. Conforme mostrou
Artur José Renda Vitorino, os anos de 1850 viveram a expansão da produção da imprensa,
especialmente pela consolidação das folhas de informação46. Desses, dialogavam
constantemente com o referido periódico: A Semana Ilustrada, o Diário do Rio de Janeiro, o
Jornal do Comércio, os dois últimos acusados de serem folhas oficiais.
A variedade de assuntos pelos quais enfatizava suas críticas pode ser visualizada no
seguinte gráfico:
45A primeira edição saíra impressa na Tipografia de C. A. de Mello. Lá, poderia ser assinada por seis meses ou por um ano. Os interessados poderiam ter acesso a uma lista de subscrições que, por sua vez, ficava disposta na Livraria de Francisco Luis Pinto & Comp., situada na antiga Rua do Sabão. 46Artur José Renda Vitorino. Máquinas e operários: mudança técnica e sindicalismo gráfico (São Paulo e Rio de Janeiro / 1858-1912). São Paulo: Annablume / Fapesp, 2000, pp. 38-40.
31
Temática presente no periódico Opinião Liberal
1866-1868
20%
12%10%10%
7%
7%7% 7% 20%
Críticas às decisões
ministeriais
Críticas às decisoes do
imperador
Referências a periódicos
Guerra do Paraguai
Instrução Pública
Revoltas Mineiras
Estradas de ferro
Assuntos internacionais
Eleições
Fonte: Opinião Liberal, 1866-1868.
Como exposto no gráfico 1, boa parte do espaço dedicado às matérias era ocupado
pelas críticas às decisões do imperador (20%) e do Ministério (20%). Como visto, 12%
faziam referência aos assuntos ou às linhas políticas de outros periódicos. Quanto aos fatos
mais importantes do momento político, figuravam no topo da lista as campanhas e decisões
relativas à chamada “Guerra do Paraguai” (10%). Artur Vitorino chama a atenção para o fato
de que a guerra foi determinante para que a imprensa se aprimorasse no relato dos fatos e de
suas interpretações da guerra que, segundo o autor, passaram a exigir um refinamento das
artes gráficas47.
A mesma dedicação dos redatores recebiam os assuntos vinculados à questão da
instrução pública (10%). Em junho de 1866, a questão ganhou uma seção dedicada ao
assunto. Na visão do grupo envolvido com o periódico, o século XIX representava contexto
de grandes conquistas para a humanidade, tendo sido por isso, entendido como o século da
escola”48. Como afirmado anteriormente, de todos os fatos passados as revoltas mineiras de
1842 aparecem como temas eleitos na construção da defesa dos liberais frente aos
47Artur José Renda Vitorino. Máquinas e operários: mudança técnica e sindicalismo gráfico (São Paulo e Rio de Janeiro / 1858-1912). São Paulo: Annablume / Fapesp, 2000, pp. 38-40. 48Opinião Liberal, nº 16, 06 de agosto de 1866. A importância da instrução pública será abordada em seção mais adiante.
32
conservadores (7%). Elevar sua honra tornou-se crucial para ganhar adeptos e crescer
politicamente. Assuntos como as estradas de ferro (7%), fatos internacionais e eleições
ministeriais (7%) constituíam do mesmo modo preocupações constantes. Cabe lembrar que o
período foi de intensa disputa entre grupos políticos no revezamento da ocupação de cargos
no Ministério.
O progresso e a modernização do país, especialmente através do desenvolvimento dos
transportes, também ocuparam as páginas do veículo. Principalmente exaltando a figura do
mineiro Cristiano Benedito Ottoni. Lembramos que o político foi responsável pela ampliação
das vias férreas pelo eixo centro - sul do império, bem como pelos projetos por meio do
levantamento de fundos para construção da terceira sessão das estradas de ferro D. Pedro II.
Tavares Bastos da mesma maneira é lembrado pela importante atuação que teve na abertura
dos rios Amazonas, São Francisco e Tocantins - no interior do país. Segundo ressaltaram os
redatores do jornal, “aos dois acontecimentos se acham associados dois nomes altamente
simpáticos e credores da gratidão nacional”49. A província de Minas era, de um modo ou de
outro, virtuosamente lembrada.
Segundo Sérgio Buarque de Holanda a década de 1860 seria a década que ficaria como
símbolo do anseio renovador, sendo “o ponto de referência na história da construção de um
Brasil mais rico e afirmativo50. Reiterando a importância do jornalismo doutrinário, a folha
destacava sua inspiração nos princípios do velho “partido” liberal histórico, este que
consideravam ter:
(...) ainda razão de existir nas tendências dos país, nos reclamos de reformas de grande valia. Julgá-lo desnecessário é um erro, mais ainda é um absurdo. Pretender desprestigiá-lo é um mal. Negar-lhe o direito de viver e progredir seria um crime. (...) Não é preciso, portanto, rasgar ou velar os seus anais, que contém páginas brilhantes, comemoradoras de um longo e profícuo caminhar (...)51.
49
Opinião Liberal, nº32 , 18/12/1866. 50 Sérgio Buarque de Holanda. “O Brasil monárquico: Reações e Transações”. História Geral da Civilização Brasileira. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1967, p. 38. 51 Idem. Ibidem.
33
Nos primeiros dois anos, a folha apresentava uma coluna de sátira política,
denominada Jornal de Confúcio. Representando um viajante, o chinês Confúcio “estava de
olho nos políticos” e contava aos leitores suas mazelas, fazendo-lhes ironia. Confúcio - um
chinês falador como poucos – em tom crítico e anedótico ironizava os tipos e os casos dos
políticos na Câmara Temporária. Em julho de 1866, chamou atenção para as Cartas de
Erasmo, “que continuam cheias de tristes verdades, ditas com coragem e belas linguagens”52.
Confúcio intitulava-se enquanto um “taquígrafo do povo”, constatando com ares de pesar:
“estudai os fatos e vos entristeceis – Confúcio estuda os homens e ri-se. Os fatos são misérias
– os homens são ridículos”53. A personagem de Confúcio aparecia em consonância com a
idéia de público estampada pelos redatores. Para eles: “(...) o público de hoje não é o público
de 22, 31, 42 ou mesmo de 48. A experiência, o conhecimento de certos homens, tornou o
cidadão brasileiro um pouco mais avisado (...)”54.
Apesar de ser comum na época o uso do anonimato para seus autores, os artigos
deveriam chegar à redação assinados, uma vez publicados, guardava-se os reais nomes de
seus responsáveis. Segundo Cecília Salles Oliveira para os folhetos e periódicos da época da
independência, a imprensa de determinada época insere-se na dinâmica dos acontecimentos,
por isso se revela como uma forma de expressão de grupos sociais, atuando no sentido de
transformar os indivíduos em sujeitos, construindo a realidade e sendo construídos por elas55.
A prática do anonimato estudado por Cecília Salles Oliveira, nos ajuda a entender que na
conjuntura específica estudada pela autora, muitas vezes os autores omitiam seus nomes para
esconder possíveis vinculações políticas. No caso dos jornais políticos aqui analisados, os
usos de pseudônimos, por sua vez, permitiam uma participação política mais ampla sem, no
entanto, implicar em sanções pessoais, ou possíveis ligações com pessoas de prestígio, por
52Opinião Liberal , nº40, 11/07/1866. 53
Opinião Liberal, nº42, 21/09/1866. 54 Opinião Liberal ,nº 10, 23 /07/1866. 55 Cecília H. F. de Salles Oliveira. “Na querela dos folhetos: o anonimato dos autores e a supressão de questões sociais”. Revista de História, nº 116, 1984, pp. 55- 65.
34
ocuparem cargos ou funções administrativas ou que pudessem sofrer represálias por parte do
governo. Nesse caso, o redator ou o impressor responderiam pela impessoalidade dos artigos.
Segundo Marcello de Ipanema56, os projetos de Batista Pereira em 1867 e Dantas, em
1869, começavam a chamar a atenção dos poderes públicos para os perigos do anonimato que
vinha sendo mantido desde que foi instalada a imprensa no país. Conforme destaca o autor, os
artigos anônimos eram publicados na imprensa já próspera ou se utilizavam de um indivíduo
que apenas dava o nome para registro do jornal. Tais indivíduos eram também conhecidos
como os homens-de-palha ou testas-de-ferro que vicejavam como erva daninha, nas portas
dos jornais como recurso para a omissão dos verdadeiros autores dos artigos e como dos
responsáveis pelos jornais. Sendo assim, constituía-se prática o anonimato político, sendo
considerados os testas-de-ferro aqueles que assumiam por outros as responsabilidades de
abusos de liberdade de imprensa57.
No caso da pequena empresa jornalística, objeto deste trabalho de pesquisa, foi criada
e viabilizada financeiramente pelos grupos políticos e pelos adeptos de clubes ou
agremiações, lugar no qual reverberavam e se transformavam os temas debatidos na tribuna e
eram espaço da voz dos atores políticos em seus diferentes matizes políticos. A importância
do resgate do jornal Opinião Liberal como órgão político reside no fato de se tratar de um
jornal opinativo da Corte que manteve constância em sua publicação, em fase em que era
comum uma imprensa efêmera, existindo em alguns casos dois ou três exemplares de uma
mesma folha sem periodicidade.
Seguindo as estratégias expostas em seus números iniciais, os redatores do jornal
estavam atentos aos acontecimentos políticos e ao comportamento dos deputados na Câmara e
no Senado vitalício. Entretanto, eram os deputados conservadores e progressistas os
principais alvos de suas críticas pelas quais procuravam destacar a importância da divulgação
56 Marcello de Ipanema e Cybelle de Ipanema. História da Comunicação. Brasília: Universidade de Brasília, 1967, pp. 203-209. 57Manuel Viotti. Novo Dicionário da gíria brasileira. 3ª ed. São Paulo: Livraria Tupã Editora, 1945.
35
de idéias pela imprensa, para que o país alcançasse melhor impressão no concerto das “nações
civilizadas”. Nas páginas do Opinião Liberal, a imprensa deveria ser uma espécie de arena
política, onde os redatores deveriam denunciar os abusos promovidos pelos políticos da
situação. A argumentação fazia parte do jogo de retórica como era prática costumeira na
linguagem política presente nos artigos58. Visando a tornar sua tarefa um tanto mais intensa,
optaram desde o início por não anunciar produtos e assim marcar sua existência como um
órgão vigilante de uma espécie de moral social propugnada.
Após meados de 1868, momento em que as dificuldades financeiras haviam sido
superadas, o Opinião Liberal acabou tendo maior destaque. Com a aquisição da folha pelo
Clube Radical, passou a divulgar os programas e as conferências desses liberais extremados,
quando os temas defendidos eram apresentados em público em grandes espaços, no Rio de
Janeiro, na Fênix Dramática e nos clubes radicais de São Paulo e do Recife. 59
Interessante observar que ficavam bem próximos - o jornal e o local onde eram
proferidas as conferências. Uma estratégia utilizada pelos redatores para reforçar o caráter
doutrinário do jornal foi a publicação do programa dos radicais em seu frontispício, além da
defesa de forma mais contundente suas idéias políticas60. A respeito do contexto político de
divulgação do radicalismo, José Murilo de Carvalho registrou a inexistência na História do
país de maior liberdade de imprensa. De fato, havia dezenas de folhas em circulação na Corte,
tais folhas poderiam ser livres, vinculadas ao governo ou a grupos políticos, ou associações e
58A noção de retórica aqui utilizada baseia-se na “arte de persuadir” através da argumentação bem fundada na chamada “estrutura do real” com o intuito de, a partir daí, obter a adesão da platéia (no caso, do leitor). Cf. Chaim Perelman. Tratado da argumentação: a nova retórica. São Paulo: Martins Fontes, 1996. Sobre a relação entre o uso da retórica e a história intelectual no Brasil, ver também: José Murilo de Carvalho. “História intelectual no Brasil: a retórica como chave de leitura”. Topoi, nº 1, pp. 123-152. 59 Cf: Apêndice, Imagem nº 5, anúncio da conferencia Radical proferida por José Leandro de Godoy. 60
A região em que se localizava a primeira tipografia do Opinião Liberal ficava na Cidade Velha, Rua do Sabão, 130; na frente da Igreja da Candelária, esquina com as Ruas da Quitanda e Rua Direita. Cf Apêndice Imagens nº 6e7. Durante o Segundo Reinado, naquele local havia grandes e antigos casarões de dois pavimentos, onde funcionavam lojas comerciais no térreo e habitações no segundo andar. Outras três tipografias diferentes foram utilizadas pelos redatores até que - adquirida pelo Clube Radical - a folha teve tipografia própria entre 1869 e 1870: a Tipografia do Opinião Liberal, na Rua da Ajuda, 16, região próxima ao Teatro Fênix Dramática, onde entre 1869 e 1870 foram proferidas as Conferencias Radicais.
36
clubes de diferentes finalidades, fossem de caráter político ou cultural. Muitos dos redatores
do Opinião Liberal se destacaram nas Conferências Radicais, promovidas no ano de 1869. Na
Corte imperial, Godoy Vasconcellos pronunciou duas conferências, cujos temas versaram em
torno do Ensino Livre61 e da Liberdade de Ensino62. Em abril de 1869, Francisco Rangel
Pestana, articulista da folha, foi conferencista do tema das Eleições livres63 e sobre a
proibição aos representantes da nação de aceitarem nomeação de cargos públicos64. Em tais
reuniões, apresentavam de maneira mais geral a autoria dos temas levantados pelos radicais65.
Ao desvendar a política de seu tempo, cada redator trazia em si sua própria visão de
mundo e experiência sócio-cultural. A formação de Francisco Rangel Pestana e de José
Leandro Godoy Vasconcellos era no campo das Ciências Jurídicas, como grande maioria dos
bacharéis da época. Os estudos acadêmicos somados a sua experiência na política, davam
àqueles homens de letras a experiência na prática da escrita e da argumentação, exercendo o
jornalismo (desde 1860), distribuídos em alguns veículos, como por exemplo O Lyrio (São
Paulo, 1860); O Tymbira – jornal político e noticioso, publicado por acadêmicos (São Paulo,
1860 / 1861), este último publicado por José Luiz Monteiro de Souza, Henrique Limpo de
Abreu e Cesário Alvim e O Futuro (São Paulo, 1862), com Teófilo Ottoni e outros66.
Conforme se verifica, era comum na intrincada trama de relações políticas do império
brasileiro, a prática do bacharelismo. O predomínio do bacharel expressava os ideais
educativos da sociedade patriarcal. No culto da retórica, era o modelo de belas letras a que se
dedicavam os jovens oriundos das nobres famílias, indo estudar nas Faculdades de Direito, a
fim de obter o preparo para o ingresso na carreira política, primeiro como deputado, a partir
de um bom apadrinhamento político, depois consolidando carreira. Em muitos desses casos, 61Opinião Liberal, nº , 18 /05/1869. 62Ibidem, 25/05/1869. 63Ibidem, 18//04/1869. 64Ibidem, 18/06/1869. 65 José Murilo de Carvalho. “As conferências Radicais do Rio de Janeiro: novo espaço de debate”. In: ________ (org.). Nação e Cidadania no império: Novos horizontes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. 66 “Catálogo de jornais e revistas do Rio de Janeiro (1808–1889)”. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Edição Fac-similada, 1881.
37
desde as décadas iniciais do império do Brasil, esse bacharel é também um exímio redator de
jornais, agindo duplamente, por um lado, na política e, por outro, na formação da opinião
geral67.
Um outro estudo importante, complementar ao trabalho citado anteriormente sobre as
Conferências Radicais, José Murilo de Carvalho publicou o artigo em que analisou o processo
de radicalização dos debates político a partir do liberalismo moderado, ou progressista, ao
radicalismo e depois ao republicanismo. O estudo é importante para a pesquisa do jornal pois
aborda de forma conceitual o sentido de radicalismo como sendo um programa inovador para
a época. Com base nesta discussão iniciada por José Murilo de Carvalho, a folha Opinião
Liberal insere-se no momento (de 1866 a 1870) em que liberais históricos e progressistas
faziam da imprensa o espaço de debates e de formação dos seus leitores. A partir de 1868,
com o retorno dos conservadores e o conseqüente fechamento da Câmara Temporária, os
liberais formaram um novo arranjo de forças. O grupo que compôs em torno do veículo
Opinião Liberal não fazia parte do alto escalão do governo imperial, intitulando-se como
radicais por suas propostas conterem argumentos que visavam romper com as bases
institucionais da monarquia, com o poder moderador e o Senado vitalício. Como já foi dito,
em 1868, sob os auspícios da rearticulação política entre os liberais, promovida em grande
parte pela queda do gabinete de Zacarias de Góes e Vasconcelos, o grupo político liderado
pelo senador por Goiás, José Inácio Silveira da Mota, fundou no Rio de Janeiro o Clube
Radical68. Segundo Carvalho, o jornal antecipava muitos temas do radicalismo e passou a
fazer dela seu órgão de divulgação69.
67 Sérgio Adorno. Os aprendizes do poder. O bacharelismo liberal na política brasileira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. Ver, em especial, o capítulo 2, que trata da Academia de Direito de São Paulo e a formação da do Estado nacional. 68Segundo registrou Nelson Werneck Sodré, de 1870 a 1872, surgiram na Corte mais de 20 jornais republicanos Nelson Werneck Sodré. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro. Mauad, 1999, p. 201. 69Cf. José Murilo de Carvalho. Nação e Cidadania ... Op. cit., p. 26.
38
Naquele momento político, as dificuldades de se estabelecer tipografias no Rio de
Janeiro ainda eram grandes, principalmente de se conseguir bons profissionais, responsáveis
pela manutenção do jornal. Nessa perspectiva, a aquisição do jornal pelos radicais foi de suma
importância para seu avanço e garantia de sua publicação. Os temas abordados pelos radicais
ganhavam novos adeptos, os quais tomavam novos rumos, migrando, a partir de 1870, para o
recém-criado Clube Republicano70. Nesta segunda fase, compreendida pela sua aquisição pelo
Clube Radical da Corte, até a publicação do último número, em 1870, o jornal aumentou sua
atuação, com artigos mais longos e mais críticos em relação ao Ministério progressista, bem
como ampliando o número de anúncios pagos e de publicações na seção: A pedidos71.
1.2.Civilidade do povo: um ideário em ascensão.
Um dos ideários mais divulgados na imprensa oitocentista, sobretudo nos anos
situados a partir de 1850, foi a idéia de civilização. Nesse sentido, os costumes vistos como
primitivos de muitos dos habitantes da Corte eram quase sempre comparados ao modo de
viver do europeu, como um exímio parâmetro a ser alcançado. Apesar do referido esforço
literário de valorização do indígena como construtor de uma “História pátria” tropical, o
inglês e o francês permaneciam sendo a referência para o habitus daqueles indivíduos
nascidos no Império do Brasil72. Na área das questões administrativas e políticas, o modelo
propalado pelos “jornalistas” de oposição, como o era o Opinião Liberal, era o modelo
chamado de “democrático”, considerado mais avançado em termos de participação e justiça.
70
Em 1869, pelos mesmos redatores do Opinião Liberal, foi criado o veículo Correio Nacional, este também fez parte dos periódicos de vida efêmera, pois seu redatores migraram para o Clube Republicano. 71 O jornal, ao longo dos cinco anos de publicação, saia duas vezes por semana, preferencialmente aos sábados e quartas-feiras, mas o dia de saída da folha podia variar. A publicação se manteve até 1870, quando seus diretores fundaram o jornal A República. 72Segundo Pierre Bourdieu, o habitus constitui uma forma de disposição prática de um grupo ou classe, ou seja,a interiorização de estruturas objetivas de suas condições de grupos sociais que geram estratégias para a resolução de problemas na reprodução social. Cf. Pierre Bourdieu. La Noblesse d’État. Grandes écoles et esprit de corps. Paris: Les Éditions de minuit, 1989, pp. 386-387.
39
Para denunciar os abusos de um governo hostil frente aos desejos da maioria, os redatores
defendiam uma “missão civilizadora” da imprensa, que pode ser conferida nos fragmentos
abaixo.
A fé no futuro, a confiança em suas próprias forças é o principal elemento com que a imprensa cumpre sua missão civilizadora. Esta fé e esta confiança não nos faltarão... Julgamos que a imprensa livre deve ser incansável em promover a salvação do porvir deste império imenso, que os nossos avós nos legaram com tanta confiança, pressagiando para ele uma representação importante nas conquistas pacíficas da democracia e civilização no continente americano (...)73.
Nos fragmentos acima, constatamos o recurso às questões da imprensa como
salvadora e como promessa de trabalho na busca de um futuro melhor para sua sociedade. Por
oposição a idéia de melhoria era intrínseca à de civilização. Estar em consonância com os
novos rumos do mundo civilizado seria entrar no ramo dos avanços tecnológicos, da
transparência na política por meio da realização de eleições diretas e da expansão do ensino,
cuja defesa era feita quase semanalmente nas páginas de alguns jornais. Para o Opinião
Liberal, cabia aos homens de saber e de política promover o efetivo processo civilizador nos
trópicos, na busca de conquistar seu lugar no rol dos países sintonizados com o progresso. De
acordo com o que destacou o sociólogo Norbert Elias, o processo civilizador é uma obra
lenta, feita pelo homem sobre o homem como um processo organizado socialmente, ou seja,
caracterizado por um sentido socialmente determinado74. Civilização e progresso: duas
palavras que, a partir de meados do século XIX, passaram a caminhar juntas como sinônimo
de melhoria e de unidade territorial.
Vale observar que no plano internacional o progresso ligava-se ao aumento da
acumulação capitalista que, com a ajuda das estradas de ferro, gerou uma expansão da
economia européia para outras regiões. Na visão de Eric Hobsbawn, a era da estrada de ferro,
73Opinião Liberal, jun-ago 1866. 74 Segundo Renato Janine Ribeiro (apresentador da obra), Elias adota a idéia-chave de que a condição humana é uma lenta e prolongada construção do próprio homem”, rompendo com a idéia de “natureza já dada”. Norbert Elias. O processo civilizador: formador do Estado e Civilização, vol. 2. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1993.
40
do vapor e do telégrafo fizeram com que velhos medos de expansão se tornassem infundados,
permitindo que todo o mundo fosse campo de atuação de potências. Esse movimento era
particularmente crucial, segundo o autor, para o desenvolvimento econômico e forneceu a
base para a gigantesca expansão nas exportações – em mercadorias, homens e capitais, que
teve um papel importante na expansão inglesa75.
No plano interno do império de Pedro II, era tempo de expansão não só das
tecnologias, mas também das pessoas dos extratos mais pobres da população que cresciam
em número, pressionando o governo a buscar soluções, tornando-se um fator de preocupação
urgente das autoridades, a educação dos pobres. Como salientaram Humberto Machado e
Lúcia Maria Bastos, esse pensamento era tributário das luzes européias, o qual, mesmo
mitigado pela ótica lusa, ganhava corpo no Império desde o início do século: a intervenção
humana na realidade76. O objetivo era alcançar o tão prometido progresso. Tratando do
assunto no Rio de Janeiro, durante o governo Saquarema, Ilmar de Mattos mostrou que tal
preocupação era intrínseca às questões enfáticas à instrução exigindo a atenção de muitos
dirigentes:
A instrução cumpria – ou deveria cumprir – um papel fundamental, que permitia (ou deveria permitir) que o Império se colocasse ao lado das nações civilizadas. Instruir todas as classes era pois, o ato de difusão das Luzes que permitiam romper as trevas que caracterizavam o passado colonial (...)77
Em consonância com esse espírito dos novos tempos, ou seja, de moldagem das
mentalidades e comportamentos pela educação, um mecanismo amplamente pregado pelo
Opinião Liberal era a ampliação da instrução pública. Em junho de 1866, o tema recebeu um
amplo espaço entre suas observações. No mês seguinte (julho de 1866), enfatizava que era na
perspectiva de um futuro melhor, “que incute o terror no espírito mais intrépido, e perturba o
75Eric Hobsbawn. A Era do Capital (1848-1875). 4ªed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982, pp. 49-57. 76 Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves & Humberto Fernandes Machado. O Império do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. 77 Ilmar Rohloff de Mattos. O Tempo Saquarema.... Op. cit., p. 259.
41
ânimo mais indiferente pela ameaça de um abalo profundo até os alicerces do edifício moral”,
caberia ao “jornalismo” promover uma reforma moral, entendida como a base da reforma
política. Nesse sentido, defendia ainda a instrução popular como uma forma eficaz de
restaurar ainda:
os princípios morais e religiosos (...) que se obtém pela educação e pela instrução popular (...) é na verdade ilustrada da opinião no progresso do povo, que como disse Canning, se deve fundar toda a esperança de estabilidade e de ordem (...)78.
Conquistar a ordem, a moral religiosa, evitando os descaminhos pelas revoltas
violentas, era conquistar a tão apregoada estabilidade social também anunciado pelos jornais
liberais de oposição, integrando um ideal de sociedade.
(...) advogados da causa da instrução pública, como apóstolos de uma idéia, sobre cuja realidade se baseiam os governos livres; pugnamos por um melhoramento, de que não pode prescindir um povo verdadeiramente livre que tem consciência dos seus direitos e do seu papel na história da humanidade (...)79 .
De acordo com seus idealizadores, a imprensa deveria ser a divulgadora do progresso
e da regeneração do indivíduo e através dele elevar o nível da sociedade. É interessante
ressaltar que a formação educacional da sociedade letrada na década de 1860 deixava de ser
Coimbra, como o fora na primeira geração de formadores do Estado Nacional e passava, na
sua maioria, pelas Academias de Direito, de São Paulo e Recife, onde direcionavam para as
Letras e para política. Homens de letras, em sua maioria oriundos da geração de 1840,
pregadores de uma identidade, divulgadores de uma ordem e civilização que se pretendia
modernizadora, mas que procurava manter as estruturas da sociedade aristocrática,
escravocrata em que estavam inseridos.
78
Opinião Liberal, nº25 , 28 /07/1866. 79 Opinião Liberal, nº22 , 12/081866.
42
Não apenas o progresso humano, mas também o progresso financeiro era um dos
alvos dos redatores. Cabe lembrar que o Império passava por uma conjuntura inflacionária em
que a política de emissão de moeda recebia inúmeras críticas, não só pelo veículo, mas por
muitos outros. Embora seja órgão de um grupo restrito e interessado politicamente em
transformações sociais mais amplas, o exame atento dos fragmentos destacados acima denota
que as idéias defendidas eram propagadas em nome de um coletivo repetidamente
denominado de povo ou popular. Isto posto, era em nome desse povo que os redatores e
colaboradores do periódico procuravam fortalecer suas prerrogativas, além de atingir um
público mais amplo. Povo, popular, populaça, arraia-miúda. Muitas acepções recebeu o
coletivo social ao longo da história. Procurar entender seu simbolismo nas páginas da
imprensa ajuda-nos a visualizar melhor o que era esse ente pelo qual falavam tantos ilustres.
Em muitos casos, designavam-se como filhos do povo e falavam em nome da justiça:
“Filhos do povo! Corremos a colocarmo-nos ao seu lado para defender-lhe a inteligência [e] a linguagem desusada da verdade e da franqueza. Escrevemos por nossa conta, e sob nossa exclusiva responsabilidade. A consciência é a fonte única de nossa inspiração80.
Com base nessa retórica definiam seu programa de governo, apostando no sufrágio
direto e generalizado; no ensino livre, quer em relação à escola, quer em relação ao
professorado; na abolição da guarda nacional; em uma polícia eletiva; na provisoriedade do
Senado; nas franquezas provinciais sobre a base desenvolvida do princípio eletivo; e na
ordem econômica. Mais a fundo, pregavam ainda a “substituição lenta, gradual e prudente do
trabalho servil pelo trabalho livre; a emancipação da lavoura, por meio de instituições de
crédito acomodadas às condições especiais de sua existência”. Por essas prerrogativas o
veículo fincava sua importância inserindo-se como um dos maiores meios de resistência
80Opinião Liberal, 17/08/1867.
43
diante do programa da situação governista81. O vocábulo povo postulado pelo Opinião Liberal
era entendido de maneira ampla, enquanto a população de uma forma geral e não apenas os
cidadãos ativos votantes sobre os quais tanto se dedicou Ilmar de Mattos82. Vale observar, que
tais termos possuíam conotações variadas no período. Polissemias bastante ressaltadas por
Koselleck83e capazes de expressar, coetaneamente, “experiências passadas acumuladas e
expectativas de futuro”.
Na defesa de uma história dos conceitos, Koselleck, ressaltou a importância da
abordagem em fornecer instrumentos que ampliam a possibilidade do historiador de melhor
apreender a multiplicidade de sentidos existentes nos diferentes tempos históricos84.
Debruçados na questão de ensinar o povo, os escritores públicos do Opinião se preocupavam
em vários números consecutivos com a exaltação da necessidade de instruir o povo. Através
dos artigos: Colaboração apresentavam em 13 números a importância do esclarecimento
social através do ensino.
Nessa perspectiva, sustentavam que o ensino particular - primário e secundário -
deveria ficar a cargo dos cidadãos livres para fazerem suas escolhas. Pela coluna “instrução
pública” vislumbravam um público em potencial, formador de uma opinião esclarecida. Para
seus defensores, instruir o povo era o primeiro dever do governo, a primeira necessidade
social, a condição da “ordem” e da “liberdade”, a base de toda a organização política
solidificada. Dentro dessa perspectiva, afirmavam que era preciso que o homem, “pela
81Opinião Liberal, 17/081867. 82Ilmar Rholoff de Mattos. O Tempo Saquarema... Op. cit. Para Reinhart Koselleck, “o tiempo historico (...) está vinculado a unidades políticas y sociales de acción, a ombres concretos que actúan y sufren, a sus instituiciones y organizaciones. Todas tienen (...) um ritmo temporal propio”. Cf. Reinhart Koselleck. Futuro pasado. Para uma semântica de los tiempos históricos. Barcelona / Buenos Aires / México: ediciones Paidos, 1993, pp. 14 -15. 83O autor destaca a provisoriedade e a historicidade dos conceitos em seu diálogo com o contexto e com os agentes políticos. A este respeito, ver: Reinhart Koselleck. “Uma História dos Conceitos: problemas teóricos e práticos”. Revista Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 5, nº 10, 1992. Do mesmo autor, ver: Reinhart Koselleck. Futuro pasado. Para uma semântica de los tiempos históricos. Barcelona/ Buenos Aires / México: ediciones Paidos, 1993. 84Para Koselleck, “o tiempo historico (...) está vinculado a unidades políticas y sociales de acción, a ombres concretos que actúan y sufren, a sus instituiciones y organizaciones. Todas tienen (...) um ritmo temporal propio”. Op. cit., p. 14.
44
instrução e desenvolvimento de sua inteligência”, se elevasse à altura dos seus direitos e dos
seus deveres; só assim ele poderia ser “bom cidadão”. Um trecho mais extenso é bastante
revelador do pensamento de seus mentores:
Criar cadeiras de instrução primária é sempre uma necessidade, é sempre o cumprimento do dever, que tem os poderes sociais. O meio mais eficaz para sanar os defeitos da má distribuição é aumentar seu número, a levar a Instrução a todas as paragens do território. Convém que o produto do suor do povo, o imposto tenha melhor aplicação (...) Sobre um vasto sistema de instrução pública se devem firmar as condições do progresso e da prosperidade, que pelo qual o Brasil deve dirigir-se ao complemento dos seus altos destinos85.
Assim, tocava-se em questões fundamentais quanto ao contexto do momento vivido
por seus agentes. Questionava-se sobre os parâmetros que regiam o uso dos impostos, a
prática da cidadania, o acesso à educação. Questões, há que se dizer, tão antigas e tão
presentes. Como uma necessidade de estabelecer um diálogo mais de perto, no Opinião
Liberal de era notório o esforço em definir seus interlocutores:
(...) Falamos ao Partido Liberal, aos homens do povo, aos depositários fiéis das tradições honrosas da nação: cumprimos o nosso dever de jornalistas liberais. Apontamos a origem do mal. Onde está o remédio? No povo, na massa da nação. ( Origem do mal no presente - Opinião Liberal - 17/08/1867) ( Grifo nosso)
Pelo que pode ser apreendido, a noção de povo aparecia como parte integrante e
soberana de um ente maior, ou seja, como massa da nação. Para marcar seu antagonismo, o
império brasileiro representava seu ideal civilizador diante das imagens do Paraguai, contra a
barbárie do ditador Lopez, o Brasil queria ser identificado como modelo de progresso e
civilização na América. A Guerra, desde 1864, despertou de início o entusiasmo da população
brasileira, esperava-se que fosse rápida, como foram as intervenções brasileiras no Prata. A
frase do Barão de Cotegipe descreveu de forma contundente a situação: “a maldita guerra
85Opinião Liberal, nº17, 14 de agosto de 2008.
45
atrasa-nos meio século!”. Os problemas em relação à participação da Guarda Nacional
movimentaram a imprensa86.
Os artigos acompanhavam a imprensa diária fazendo a análise dos temas voltados para
a situação dos voluntários da Pátria no ano de 1866, bem como os recrutamentos eram
“bravos que defendiam a bandeira nacional”87. O povo era constantemente lembrado ao lado
das noções pátria, e de nação contra o absolutismo e o imperialismo, estes últimos
identificados enquanto o poder pessoal do Imperador88. Conforme lembraram Neves e
Machado, este termos ganharam a grande aceitação na época para caracterizar a concentração
de poderes nas mãos do imperador definindo a essência do parlamento brasileiro”89.
Em sua escrita no periódico, diziam mover-se “antes que a indignação popular se
manifeste pelos meios mais enérgicos e violentos” cumprindo assim “o nosso dever”,
soltando uma espécie de grito de alarme:
Enquanto lá em cima, laçada, reside a majestade, trabalha o sofisma e a corrupção, e lá embaixo, onde vive o povo, o caráter nacional consola-se nos sofrimentos, e aprende com a lição dos fatos90.
Em nome da nação e em busca da civilização baseava sua coluna de instrução
pública, mesclando os assuntos sobre educação e reflexões acerca do futuro. Segundo seus
redatores, o “Brasil deve ser o Teatro das futuras grandezas da civilização”. Nele, será
dominante O triunfo da inteligência sobre a força (...), sobre o privilégio, o fato característico
desta civilização moderna que se desenvolve rica de glórias e triunfos no vasto território
americano91.
86Apud Francisco Doratiotto. Maldita Guerra: Nova História da Guerra do Paraguai. São Paulo: Cia das Letras, 2002, p. 264. 87
Opinião Liberal, nº , 07/12 /1866. 88 A questão do mito fundador pode ser vista na pequena e interessante obra de Marilena Chauí. Mito fundador e sociedade autoritária. 5ªed. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2004. 89 Lúcia Maria Bastos Pereiras das Neves & Humberto Fernandes Machado. O Império do Brasil ... Op. cit., pp. 252-253. 90Opinião Liberal, nº , 12 /07/1867. 91Opinião Liberal, nº 16 , 06/08/1866.
46
Interessante destacar que ao mesmo tempo que contestava as resoluções do Governo
(ministérios e imperador), atuava de maneira a valorizar aspectos de composição dos
habitantes do Império, ressaltando valores como a união, o patriotismo, o caráter nacional,
para eles, comum aos indivíduos nascidos no império. Em contrapartida, um assunto poucas
vezes citado nos artigos do jornal, apesar de constar no programa dos Radicais era. a
libertação dos escravos. Tal omissão era sintoma da dificuldade com que os grupos dirigentes
lidavam com o fato de o Império ser o último reduto escravista na América. Afinal, era a mão-
de-obra escrava que movia a economia do Império, mesmo após o fim do tráfico
intercontinental de escravos, pouco se tratava de sua liberdade, a questão era vista como
problema social e não político, evitando os embates a respeito do tema.
De uma forma ou de outra e não somente no veículo aqui estudado, mas em muitos
outros, o constante apelo à participação política aparecia nos jornais. Conforme demonstrado
no gráfico 2, a política era temática que aparecia nos títulos de boa parte dos periódicos da
época:
0
2
4
6
8
10
12
14
24%
11%
22%
15%
28%
Jornais políticos
Corte - 1866/1870
11
5
10
7
13
1866 1867 1868 1869 1870
Qu
an
tid
ad
e d
e jo
rna
is
Fonte: Almanak Administrativo Mercantil e Industrial da Corte e Província do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, E.H. Laemmert ,1867 a 1871.
Para a confecção do gráfico 2, servimo-nos dos jornais que dispunham da política em
seu subtítulo. A partir das indicações dos subtítulos dos jornais publicados no ano anterior, ao
47
início de cada ano, encontramos pistas acerca das conotações políticas dos jornais e da
formação e designação de grupos políticos, bem como de seus respectivos clubes e/ou
associações92. Destes, 20 publicações apresentavam nos subtítulos menções a seu caráter
político-partidário. Como verificável, encontramos logo na primeira coluna o quantitativo de
24% para o ano de 1866. No ano seguinte, 1867, houve uma queda nos periódicos que se
utilizavam desse mecanismo enquanto convite ao leitor (11%). Já em 1868, cresciam os
veículos que faziam da política sua principal característica (22%). Em 1869, apresentou-se
uma nova queda, com 15%. No último ano abordado, 1870, 28% dos jornais já traziam em
seu nome a palavra político. De modo geral, os assuntos eram desenvolvidos em artigos
encontrados nos jornais diários, de maior circulação. Os jornais menores do período
dedicavam-se às ciências; às artes; à cultura geral, à publicação de anúncios. O ano de 1870,
foi de fato muito representativo por ter sido aquele em que promoveu o avanço das críticas ao
governo, assentadas na idéia de República, dando vez a novos parâmetros de organização de
vida e como conseqüência de um novo arranjo de forças entre grupos de poder. Conforme
registrou José Murilo de Carvalho, foi nesse momento que liberais históricos uniram-se aos
progressistas para formar o Partido Republicano. Destacando o caráter contraditório da
imprensa (reflexo, muitas vezes, dos arranjos políticos), Humberto Machado lembrou que a
imprensa, nascida nos impulsos do liberalismo do século XVIII, ao mesmo tempo em que
divulgava (e divulga) “opiniões contrárias ao soberano foi por estes utilizada para a
divulgação de suas obras”93.
Ressalte-se que tais folhas políticas ainda não mereceram um estudo mais sistemático
para o contexto a que este trabalho se dedica. A historiografia da imprensa, dentro de uma
92Durante o período de circulação do Opinião Liberal, entre 1866 e 1870, era vasta a atividade na imprensa, em um total de 142 periódicos. Cf. Almanak Administrativo Mercantil e Industrial da Corte e Província do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, E.H. Laemmert ,1867 a 1871. 93Humberto Fernandes Machado. “Imprensa abolicionista e censura no Império do Brasil”, in: Silvia Carla Pereira de Brito Fonseca & Mônica Leite Lessa (orgs.). Entre a Monarquia e a República: imprensa, pensamento político e historiografia (1822-1889).Rio de Janeiro: EdUERJ, 2008, p. 243.
48
perspectiva renovada, ou seja, norteada pelos parâmetros da nova história cultural, aparece
mais dedicada aos primeiros anos da imprensa no Brasil, especialmente ao período no entorno
da independência política94. Desse modo, receberam mais atenção recente as revistas
ilustradas ou grandes jornais como o Jornal do Comércio ou o Diário do Rio de Janeiro,
numa perspectiva mais de jornalismo empresarial. A diferença entre o jornal Opinião Liberal
e os outros jornais de pequena imprensa doutrinária, foi que se apresentou enquanto órgão de
divulgação do Clube Radical, teve importante atuação demonstrando como um pequeno jornal
conseguiu superar as dificuldades e avançar mantendo sua publicação durante cinco anos.
Seguindo esta diretriz, a folha conseguiu manter-se atuante e ainda progredir com seus artigos
críticos e doutrinários, chegando a se apresentar como empresa, seguindo o modelo dos
periódicos mais modernos no início de 187095.
Somente em 1870, ocorreu a primeira venda da folha avulsa, ao preço de 200 réis,
valor aproximado de um café ou chá com pão e manteiga, conforme anúncio de uma casa de
refeições96. Daí a importância da divulgação dos valores e locais das assinaturas mensais dos
referidos periódicos, pois estes indicam aos leitores o quanto deveriam dispor em valores para
se ter acesso ao veículo, em seus locais de assinaturas97.Eram tais redes de assinantes
94Um esforço em contrário é notado nos trabalhos de Tânia Bessone e Humberto Fernandes Machado, os quais desenvolvem estudos importantes acerca da imprensa na segunda metade do Império do Brasil. A imprensa abolicionista é tratada por Machado em: Humberto Fernandes Machado. “Imprensa abolicionista e censura no Império do Brasil”. In: Silvia Carla Pereira de Brito Fonseca & Mônica Leite Lesa (orgs.). Entre a Monarquia e a República: imprensa, pensamento político e historiografia (1822-1889). Rio de janeiro: EdUERJ, 2008, pp. 243 - 256. 95“As pessoas que não desejarem que seu nome apareça na lista dos subscritores firmarão a carta de seu pedido com um sinal, juntando a ela a importância do nº de exemplares, declarando se se deve fazer a inscrição pode ser feita por carta dirigida aqueles senhores, marcando o nº de exemplares que custam 320$000 a distribuição, ou se se deve conservá-los até que sejam procurados (...)”. Cf. Opinião Liberal, nº , 09 de novembro de 1866. 96Opinião Liberal, nº, 10 de abril de 1870. 97A respeito do periodismo na Corte, entre os anos de 1867 e 1871, o Almanack Laemmert, apresentou uma lista de jornais sob o título: Periódicos que se publicam na Corte composta pelos locais e referências aos diretores e tipógrafos de tais impressos, inclusive com os valores das assinaturas. As edições do Almanak Administrativo Mercantil e Industrial da Corte e Província do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, E. e H. Laemmert foram publicadas anualmente durante 45 anos, entre 1844 e 1889. A este respeito, Laurence Hallewel destacou que a edição anual do Almanaque superou todas as concorrentes, sobretudo por ser mais completo (...). Cf. Laurence Hallewel. O livro no Brasil - sua história. São Paulo: editora da Universidade de São Paulo, 1985, pág. 234 . A partir das listas de subscrição os redatores tinham garantias de manutenção da periodicidade do jornal. o Grande Dicionário Português apresenta como subscrição, a lista de nomes de pessoas que assinam promessa de dar dinheiro, ou contribuir para alguma obra, ou pessoas, dinheiro ou qualquer ajuda, e como subscritores aqueles
49
responsáveis pela periodicidade da “folha”, conforme reiteradas vezes foi constatado nas
fontes periódicas pesquisadas.
que entram com certa soma para pagar alguma compra, despesa, empresa, trato ou particularmente para edição de algum livro. Francisco Domingos Vieira. Grande Dicionário Português. 3º vol. Tipografia Antônio José da Silva Teixeira. Porto, 1873.
50
Capítulo 2
A IMPRENSA POLÍTICA SOB A LENTE DO CENTRO LIBERAL
Segundo registrou René Rémond, o movimento liberal europeu foi a primeira onda de
movimentos que se desencadeou sobre o Antigo Regime, caracterizando o que considerou
como sendo a “mola-mestra da arquitetura intelectual” de muitos movimentos posteriores.
Nessa perspectiva, o autor defende o liberalismo não apenas como um conjunto de fatos que
“explodiram” em determinada época e determinados diretamente por uma classe, mas, ao
contrário, como um fenômeno histórico de grande importância que deu ao século XIX “parte
de sua cor”, contribuindo para “sua grandeza”98. Na América, pode-se afirmar que tal ideário
foi introduzido pouco a pouco no curso de chegada da Corte Real, a partir de 1808, e ainda
sob a influência de referências intelectuais francesas e inglesas bem como pela força do
poderio inglês através da assinatura de inúmeros acordos e econômicos e jurídicos.
Mais tarde, com a independência política em 1822, “nosso” liberalismo foi se
mostrando peculiar atendendo aos anseios de um príncipe e depois de um imperador (Pedro I)
resistente em abandonar suas concepções autoritárias e conservadoras99. Após acomodados os
embates do Período Regencial, especialmente com o fim do conflito praieiro (1848), o
liberalismo que se consolidava no Império do Brasil mostrava-se cada vez mais de caráter
98 Para Rémond, o liberalismo consiste numa filosofia global, não estando restrita no aspecto econômico. “A Idade do Liberalismo”. In: ________ Introdução à história do nosso tempo. O Século XIX (1815-1914). São Paulo: Cultrix, 1976, pp. 25-48. 99 Um rico panorama do desenvolvimento da imprensa nas Províncias pode ser encontrado na edição especial: Alfredo de Carvalho. “Gêneses e Progressos da Imprensa Periódica no Brasil”. In: Centenário da imprensa. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Tomo Consagrado à Exposição Comemorativa do Primeiro Centenário da Imprensa periódica no Brasil, v.2. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1908.
51
múltiplo; híbrido e contraditório100. Na opinião de Magali Engel, mesmo na Europa, tal
movimento foi dotado de várias facetas, sendo ainda reinterpretadas quando em seu uso nos
trópicos. Segundo a autora, enquanto alguns intelectuais e políticos baseavam-se nas idéias de
liberdade moderna, assentadas em parte nos postulados trazidos à tona por Montesquieu;
outros, mais conservadores, defendiam a premissa da existência de desigualdades naturais
entre os seres humanos, por sua vez pautadas nas idéias desenvolvidas por Jeremy Benthan e
por Thomas Hobbes.
Tratando do Império do Brasil, Magali Engel destacou ainda a vitória do projeto desse
último grupo, conhecido na história como Saquaremas e por ter maior relação com o tipo de
ordem que queriam resguardar101. Em meio a muitos referenciais da teoria política, esses
homens do grupo Saquarema estiveram em pleno embate com liberais, em infindos rearranjos
de forças, os quais tanto marcaram a política no Segundo Reinado. No final da década de
1860, quando surge o periódico A Reforma, a defesa da liberdade de opinião e de mudanças
em variados âmbitos no Império mostrou a força de Francisco Otaviano e de Nabuco de
Araújo que com seu grupo oposicionista culminaram numa fusão de propostas entre liberais
(progressistas e históricos). Um pouco dessas propostas e da ação do Clube da Reforma,
recém formado no período, será visto neste capítulo como forma de entender a importância do
jornal A Reforma e a relação entre imprensa e política entre 1869 e 1871.
100 Magali Engel. “Liberalismo”. In: Ronaldo Vainfas(org.). Dicionário do Brasil imperial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, pp. 476-478. 101 Magali Engel. “Liberalismo”. In: Ronaldo Vainfas (org.). Dicionário do Brasil imperial...
52
2.1. A Reforma e o país será salvo: prognósticos políticos no encaminhamento do Estado.
Em meio aos inúmeros periódicos que existiram na Corte durante no Segundo
Reinado, e especialmente na década de sessenta, um deles, talvez o mais importante
politicamente diante da crise que se abatia após a demissão do Gabinete liberal, foi o
periódico A Reforma102. Provindo da necessidade do grupo liberal em se afirmar através da
exposição de suas idéias e após a dissolução da Câmara Temporária, Nabuco de Araújo como
chefe político e Francisco Otaviano de Almeida Rosa como articulador do jornal, sob a lente
do Centro Liberal, e a partir das reuniões do Clube da Reforma, um periódico impresso foi
organizado capaz de ir além da especulação da “opinião pública”, realizando uma espécie de
canal panfletário e pedagógico pela via da imprensa.
Vale observar que, embora não culpassem definitiva e unicamente o imperador, não
escondiam seus ressentimentos com a posição do Imperador na defesa de uma nova Câmara
bem como o retorno dos conservadores ao poder. A partir daí, ganhou força A Reforma, um
jornal francamente de oposição. De maneira geral, além de realizar intensas análises acerca da
questão política e de seus desdobramentos, o veículo esteve vinculado ao Clube da Reforma.
O momento era propício para associações do tipo político-doutrinário. A presença de homens
de política e homens cultos nos cafés, salões e sociedades intensificava-se e, nessa direção,
não somente assuntos frívolos, mas também a política ocupava boa parte de suas pautas.
Quanto à questão que envolvia a arte de governar, diante da crise política iniciada pela
queda do Gabinete, cujo chefe era Zacarias de Góes e Vasconcelos, e visando a obter a adesão
102 O jornal A Reforma circulou ininterruptamente entre 1869 e 1878. Nos limites desta pesquisa, abordaremos os anos iniciais, 1869 e 1870, a fim de que possamos apresentar seus principais fundamentos e meios de ação no diálogo com sua sociedade.
53
de boa parte dos cidadãos ativos (votantes), os liberais incitaram a abstenção dos seus pares
nas eleições seguidas à dissolução da Câmara dos Deputados103.
Segundo Valmireh Chacon, 1868 e 1869 foram decisivos para a afirmação do que
chamou de “liberalismo brasileiro104.” Desde a queda do Gabinete Zacarias de Góes e
Vasconcellos, em 1868, aguçavam-se as contradições do sistema político imperial e
ampliavam-se as dificuldades que destruiriam a monarquia. Devido ao prolongamento da
Guerra, as vitórias no Paraguai significavam apoio político ao conservador Caxias em
detrimento do liberal Progressista, Zacarias de Góes. A indicação de um senador conservador
Sales Torres Homem foi considerada o estopim para a demissão de Zacarias, sem que
indicasse um substituto liberal. Desde o início da década as distensões internas e entre os
grupos políticos tomaram conta da vida política Imperial, sobretudo com a criação da Liga
Progressista, formada pela junção de conservadores moderados e liberais históricos, de que
originou o Partido Progressista em 1864, restringindo seu programa à observância das normas
constitucionais, dissolveu-se em 1868, em meio à queda do gabinete Zacarias de Góes.105
Em tal conjuntura, no “olho do furacão”, os liberais foram preteridos pelo Imperador,
diante das premissas do Poder Moderador. A Coroa dissolveu o Ministério convocando um
conservador em seu lugar. Daí por diante, Zacarias de Góes e os progressistas passaram à
ferrenha oposição ao governo e os liberais amargaram 10 anos de ostracismo político, distante
da maioria na Câmara, ausentes da chefia de gabinete. Em vista disso, através da convocação
de um novo partido, os conservadores recuperavam o poder perdido, alcançando ainda o
apoio da opinião pública especialmente diante das vitórias alcançadas no Paraguai. Nos
artigos do Opinião Liberal, entre 1866 e 1867, os redatores cuidaram de esclarecer os leitores
103 Valmireh Chacon. “Introdução”. In: José Thomaz Nabuco de Araújo. O Centro Liberal. Brasília: Senado Federal, 1979. 104 Valmireh Chacon. “Introdução”. In: José Thomaz Nabuco de Araújo. O Centro Liberal. Op. cit. 105Sérgio Adorno. Patrimonialismo, liberalismo e democracia: ambivalências da sociedade e do estado no Brasil pós-colonial. In: Os aprendizes do Poder. O bacharelismo liberal na política brasileira. Paz e Terra: Rio de Janeiro, 1988, pp. 67-70. O autor analisa o processo de formação cultural e profissional dos bacharéis.
54
acerca da conjuntura política, defendendo que esta era função da imprensa livre dos leitores e
responsável por tornar o público mais versados em assuntos políticos. Os assuntos referentes à
Guerra ganharam destaque. Assim, não pouparam artigos referentes a este tema, pois
consideravam uma série de desgraças públicas por conta dos gastos de guerra. Desta forma
argumentavam os redatores
É mister pôr termo à guerra. Eis incontestavelmente o que a nação almeja, o que inevitavelmente há de acontecer, mas o país quer também ver desde já a justiça e os direitos presidindo seus destinos (...) Diante das dificuldades da guerra, uma série de dificuldades assolam o país.(...). 106
Nesse contexto de fins da Guerra do Paraguai, a atuação de Nabuco de Araújo foi
decisiva tanto para refletir sobre os fatos recém ocorridos quanto para provocar, em alguns
casos, críticas aos conflitos. Em Um estadista do Império, Joaquim Nabuco, ao elaborar a
biografia de seu pai, o senador Nabuco de Araújo, considerou-o como chefe do partido
Liberal no decênio de oposição iniciada em 1868. A este respeito descrevia o problema das
divergências políticas e rivalidades pessoais entre os liberais, assim argumentando que “era
preciso habilidade para reunir num só corpo inimigos que na véspera eram inconciliáveis”.
Considerava que a princípio eram grandes as dificuldades. Segundo registrou, o nome de
Zacarias, o ex-presidente do Conselho, ainda não era tolerado pelos que ele acabava de
combater107.
Em 25 de julho de 1868, realizara-se a primeira reunião fusionista em casa de Nabuco, e nessa reunião ficara bem patente a separação. Cristiano Ottoni propusera como bandeira do partido a extinção do Poder Moderador. Nomeara-se um diretório provisório, composto de Nabuco, Zacarias, Silveira Lobo, Teófilo Ottoni e Otaviano108.
Coetaneamente às reações e repercussões que o alijamento do poder provocou aos
núcleos liberais que tentavam, ao fim e ao cabo se conciliar, o ex-ministro da justiça e atual
106 Opinião Liberal, ano III, nº 47, 29/01/1868. 107 Joaquim Nabuco. Um Estadista do Império. 5ªed. vol 1. Rio de Janeiro: Topbooks, 1997, pp. 771-772. 108 Joaquim Nabuco. Um Estadista do Império... Op., cit..
55
senador, Nabuco de Araújo, lançou um discurso público em que contestava as decisões da
Coroa. Enquanto conselheiro, arriscava sua posição social e política em nome de sua visão de
estadista, em nome de um ideal. Segundo seu filho, Joaquim Nabuco, o discurso proferido
pelo seu pai “foi curto, mas foi talvez o fato de mais sérias conseqüências de sua carreira”109.
Desse modo, em sessão pública proferiu o famoso discurso de sorites, ao qual o historiador
José Murilo de Carvalho aponta como diapasão de uma grave crise política, marcada, como
visto, pela volta dos conservadores ao poder em substituição aos liberais. Em um de seus
trechos, ponderava sobre o sistema representativo e o papel da Coroa:
Isto, senhores, é sistema representativo? Não. Seguindo os preceitos mais comezinhos do regime constitucional, os ministérios sobem por uma maioria, como hão de descer por outra maioria; o Poder Moderador não tem o direito de despachar ministros como despacha empregados, delegados e subdelegados de polícia; há de cingir-se, para organizar ministérios, ao princípio dominante do sistema representativo, o que é o princípio das maiorias110.
O discurso, conhecido como sorites, ficou famoso por variados motivos,
principalmente pela forma que adquiriu - retirada dos tratados de lógica. O próprio Nabuco
salientava: “Vede este sorites fatal”, sem dúvida convencido do impacto que a forma poderia
ter entre seus ouvintes111. Na opinião de Machado de Assis, Nabuco de Araújo, era uma das
principais vozes do Senado. Quando na condição de orador, não possuía o “sarcasmos agudo
de Zacarias, nem o epigrama alegre de Cotegipe”. De centro dos conservadores moderados
fundou a Liga progressista e liberal, com Marquês de Olinda e Zacarias112.
No mesmo ano, 1868, em um espraiar dessa postura e como uma das conseqüências de
suas escolhas e posições políticas, Nabuco de Araújo participou da formação do partido do
Centro Liberal. Nas palavras do filho, estava tomado de entusiasmo pela união de liberais
109 Joaquim Nabuco. Um Estadista do Império. Op. cit., p. 762. 110 Ibidem. Op. cit., p. 166. 111 Apud. José Murilo de Carvalho. História Intelectual no Brasil: retórica como chave de leitura.. .op. cit., p. 128. 112 Machado de Assis. O Velho Nabuco. Brasília: Senado Federal, 2004, p. 38.
56
históricos e progressistas e assumiu a função de ser o “chefe espiritual do partido”. No ano
seguinte (1869), lançou seu programa através de uma espécie de Manifesto. A respeito da
preparação do documento, Nabuco de Araújo esclarecia suas dificuldades iniciais113:
É um empenho difícil que muito me tem custado, não só porque deve conter fatos mais graves ocorridos em setembro, como também as tensões, as idéias são objeto das escolas, as pretensões é que são objetos da política: aquelas são vagas e teóricas, estas são positivas e práticas, dependem de sua atualidade em relação ao nosso país114.
Conforme se vê, o empecilho mais difícil de ser conquistado logo de início foi a
própria união dos subgrupos no interior do grupo dos liberais. Em contrapartida, cabe notar a
importância do Manifesto e Programa do Centro Liberal enquanto documentos fundamentais
para o estudo da política proposta pelo grupo do Clube da Reforma e de seu jornal. Ao se
constituir como veículo do Clube da Reforma foi órgão de divulgação e convencimento do
grupo político liberal, no momento em que a Câmara dos Deputados estava formada por
políticos conservadores115. Para organizar e expor suas idéias, tais homens congregavam-se
em suas casas em intensa atividade. Na escrita, optaram por tornarem públicas suas idéias a
partir de um perfil direto, servindo-se de suas páginas como cartilhas de acesso rápido aos
seus interlocutores, leitores e/ou colaboradores.
A respeito do encontro para estruturação do Clube da Reforma e de seu periódico,
Tavares Bastos divulgaria em suas memórias publicadas no Jornal do Comércio por seu
sobrinho Cassiano Tavares Bastos, em dezembro de 1925.116
113 Cf: Nabuco de Araújo. O Centro Liberal. Brasília: Senado Federal, 1979, p. 778. Consta nesta obra os Artigos Orgânicos do Centro Liberal, as publicações do Diário da Bahia, a Emancipação, o Manifesto do Centro Liberal e a exposição de motivos da crise política deflagrada em 1868, impressos por ocasião do centenário de falecimento de Nabuco de Araújo. Alguns artigos como Emancipação – Carta do Senador Nabuco à Sociedade Democrática Constitucional Limeirense, foram publicados na íntegra por meio do veículo A Reforma. 114 Joaquim Nabuco. Um Estadista... Op. cit., p. 778. 115Cf: José Murilo de Carvalho. História Intelectual no Brasil: retórica como chave de leitura.... 116 Cf. Memórias Políticas de Tavares Bastos publicada no Jornal do Comércio de 4 de dezembro de 1925; Apud Carlos Pontes. Tavares Bastos. São Paulo: Cia Editora Nacional / INL / MEC, 1975, p. 170.
57
“Em minha casa no Largo do Rocio, nº 77, a convite de Otaviano, compareceram vários liberais históricos e progressistas, em número de 27, e assentou-se fundar o Clube da Reforma. Adiou-se por impugnação de Zacarias (progressista) a fundação, que pretendíamos de uma folha com o mesmo título. Ali mesmo se denunciou logo a profunda distância entre ambos os grupos (...)”.
Sobre a abertura do jornal, Otaviano escrevera a Martin Francisco destacando a
importância de se criarem um jornal de maior peso político.
Martin. Desde o começo deste mês eu, o Bastos e o Lafaiete deixamos o Diário do Povo e tratamos de fundar uma folha de maior vulto. Desde então, tem aparecido artigos contra as idéias que defendíamos, que se atribuem a outra parte do partido liberal e que se batizou de progressista. Até 15 de abril teremos o novo jornal fundado por ações e dirigido por um Clube do qual pode ser membro todo o liberal que quiser garantir 50 assinaturas do jornal. Havemos de mandar a você aí os estatutos do Clube, porque desejamos que à imitação do nosso se criem em São Paulo outros, com os quais nos correspondamos para que durante a “ausência legislativa” não se estremeçam os laços do partido117.
Como explícito acima, almejavam não só publicizar suas idéias e ações, como ainda
formar uma espécie de cadeia na busca de ampliarem o apoio buscado. A contundência de
suas idéias, no entanto, viria a partir da defesa da reforma política: temática na qual estavam
norteados e que deu origem ao título do próprio veículo. Na visão de Ângela Alonso, os novos
liberais representavam uma dissidência liberal que nos fins dos anos de 1860 não chegou a
romper propriamente com o regime. Desse modo, eram vinculados às famílias tradicionais do
Império, as quais no período estavam politicamente marginalizadas, dada à supremacia
conservadora, e que viviam a decadência econômica. Sendo assim, eram filhos ou afilhados
políticos de famílias importantes do Norte em que quase todos se diplomaram em Direito,
condição para a carreira política que pretendiam. Estes filhos ou afilhados de parlamentares
117 Silvio Romero e João Ribeiro. Suplemento Literário de ‘A Manhã’, Ano II, 22 de agosto de 1943, p. 103. grifo meu.
58
liberais ingressaram no Clube da Reforma em que Nabuco de Araújo era um dos
organizadores118.
Os títulos seguintes, publicados por todo o mês de maio do primeiro ano de circulação
do periódico, demonstram as principais prerrogativas do grupo - “Princípios fundamentais do
Partido Liberal”: 1)A responsabilidade dos Ministros pelos atos do poder moderador; 2) a
máxima – o rei reina e não governa; 3) organização do Conselho de Ministros; 4) A
descentralização (Self Governement), realizando-se o pensamento do Ato Adicional de 1834
(...) garantindo a iniciativa individual ,animando e fortalecendo o espírito de associação e
restringindo o mais possível a interferência da autoridade; 5) maior liberdade em matéria de
comércio e indústria (...); 6) garantias efetivas de liberdade de consciência; 7) redução das
forças militares em tempos de paz; 8) emancipação dos escravos (...)119. Além destas ,
algumas outras eram apresentadas na primeira página do periódico como premissa e
mecanismo de adesão. Pela leitura atenta de tais propostas, é possível notar a amplitude de
seu alcance. Seus protagonistas, enquanto homens do poder, possivelmente tinham em mente
a grande empreitada na qual entrariam a partir daí, montando uma base de reformas de ampla
abrangência social na qual estavam envolvidas muitas questões cruciais que perpassavam o
Império. Defender as inúmeras reformas transformou-se assim no ponto chave de atuação da
retórica liberal. Para tanto, foi preciso criar um inimigo histórico potente, para além dos
embates políticos, ou seja, era urgente trazer de volta o espectro da revolução.
118 A autora defende a ascensão dos novos liberais em fins de 1860, bem como o entrelaçamento entre vida
política e intelectual. Assim, a imprensa, os opúsculos, a oratória faziam parte do processo de socialização da elite política, Cf Ângela Alonso. Idéias em Movimento. A geração de 1870 na crise do Brasil-Império. Rio de Janeiro: Paz e Terra / ANPOCS, 2002, pp. 112-113.
119 Retirados de A Reforma, maio de 1869. Ressaltamos que as propostas não se encerram. Foram retiradas tendo em vistas as de maior recorrência ao longo do jornal.
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2.2. A Reforma e o país será salvo: a apresentação dos males e do remédio liberal.
(...) A reforma para conjurar a revolução; A revolução, como conseqüência necessária da natureza das coisas, da ausência do sistema representativo, do exclusivismo e oligarquia de um partido. Não que se hesitar na escolha: A REFORMA! E o país será salvo120.
A epígrafe acima foi proclamada em junho de 1869 e pertence aos fundamentos do
recém formado Clube Liberal. Como referido, diante da nova composição de forças
conservadoras na Câmara Temporária coube a muitos liberais uma espécie de reação frente ao
novo quadro que se instaurava. Diante do cenário político, dos rearranjos nos papéis dos
representantes da população, Tavares Bastos deixou registrado em suas memórias os
primeiros momentos de criação do grupo da Reforma. Este último, da mesma maneira,
originou o periódico de mesmo nome. A este respeito referia-se a respeito dos primeiros
tempos do A Reforma, como destacou Carlos Pontes na biografia do deputado alagoano:
Publica-se A Reforma: órgão democrático, jornal de certa distinção e originalidade. Declara-se que nele não se admitem testas-de-ferro. Os artigos editoriais são assinados. Funda-o o Otaviano, com uns seus amigos, quaes ego. Obrigamo-nos, cada um por 100 assinaturas, o que a mim me trouxe uma despesa efetiva de cerca de 1:000$000.121
Enquanto Tavares Bastos defendia na Câmara o projeto da emancipação dos escravos,
Nabuco de Araújo, no Manifesto do Centro, levantou a bandeira da solução da questão
escrava. O grupo organizado no Clube da Reforma, por sua vez, visava a uma recomposição
de forças políticas entre pessoas de procedências diversas. Diante da saída do governo de
muitos dos liberais; os históricos se uniram com os progressistas formando, assim, a nova
agremiação liberal. Segundo o deputado conservador Pereira da Silva em suas Memórias do
meu tempo, os conservadores tinham uniformidade de pensamentos e rigorosa disciplina e
número considerável de partidários, além da maioria no Senado e no Conselho de Estado,
120 Cf: José Thomas Nabuco de Araújo. O Centro Liberal. Brasília: Senado Federal, 1979. 121 Cf: Carlos Pontes. Em pleno ostracismo.In: Tavares Bastos. Col. Brasiliana. Vol. 136.São Paulo, Ed. Nacional, 1975, p.172.
60
além dos dois chefes de operações terrestres e marítimas na guerra no Paraguai, Caxias e
Osório. Pereira da Silva argumentou que foram as necessidades de guerra que prevaleceram
sobre os interesses dos partidos, motivo pelo qual acabou levando o imperador a conceder o
poder aos conservadores. A Câmara temporária foi dissolvida, após a queda do Ministério
liberal de Zacarias de Góes e Vasconcellos em 16 de julho de 1868. A partir daí, novas
eleições foram marcadas.
Joaquim Nabuco defendeu o surgimento do “novo Partido Liberal” como fruto da crise
política de 1868, promovendo uma aparente união entre as várias matizes dos liberais, mas
sobretudo contra o governo. As intensas diferenças internas entre estes últimos não passaram
ilesas aos seus olhos:
(...) eram de fato dois partidos que surgiam, o Progressista e o Histórico, partidos que se hão de mostrar ainda mais rancorosos um contra o outro do que contra o adversário comum. Para fundi-los em um Partido Liberal homogêneo sem tradições nem ódios de raça, será preciso nada menos do que um golpe de 16 de julho de 1868, isto é, serem violentamente precipitados do poder, que foi para eles apenas um campo estéril de recriminações”122.
Diante do exposto, vale notar que os liberais montaram uma verdadeira cruzada em
oposição ao governo e o Ministério conservador. Seu partido só retornaria ao governo em
1878, no Gabinete Sinimbu. Diante dos fatos, decidiram como estratégia política convocar os
eleitores liberais para que se abstivessem nas eleições do ano seguinte, marcadas para 3 de
maio. Pereira da Silva destacou que houve efetivamente uma regularização das eleições para a
nova Câmara. Sendo assim, afirmou que o “partido adverso” ao gabinete conservador
retirava-se de toda a interferência, depois publicando um manifesto com assinaturas de seus
chefes
no qual se censurava a Coroa por ter chamado conservadores ao governo, quando a quase unanimidade da Câmara pertencia aos liberais, eleitos a pouco mais de um ano. Exprimia-se também o manifesto que se realizara fusão das duas facções até então divergentes, para constituírem um único partido, mas que devia manter-se a abstenção no primeiro pleito. Recomendava por fim o respeito à lei, resignação para que as idéias políticas, que professavam, triunfassem de maneira calma e segura.
123
122 José Thomaz Nabuco de Araújo. O Centro Liberal. Brasília: Senado federal, 1979, p. 48. 123 Manuel Pereira da Silva. Memórias do meu tempo. Vol. 3. Brasília: Senado federal, 2003, p.386.
61
Conforme apresentado abaixo, um dos postulados mais divulgados no período e muito
presente no periódico era a máxima, “Ou a Reforma ou a Revolução”:
Reforma ou revolução? (Resposta do Senador Nabuco à discussão do Voto de Graças). (...) Chega-se por conseguinte a uma conclusão incontroversa: ou a reforma ou a revolução. Dizer, fundado na história e na natureza das coisas, que se não vier a reforma, virá a revolução, será um conceito, uma sentença mas nunca uma ameaça (...) Revolução não se manda fazer; pode-se fazer uma desordem, não uma revolução. Para a desordem é preciso agrupar gente, coligir e juntar armas, para a revolução, não. Esta rebenta com a opinião, nada lhes resiste: os soldados e as armas da revolução; são os soldados e as armas do governo124.
Em primeiro lugar, cabe observar que a escolha de uma ampla reforma em detrimento
da revolução está em consonância com o pensamento dos grupos dirigentes do Império do
Brasil. A questão não passava apenas pela política mais restrita, como também as instância
econômicas e sócias. Cabe lembrar que , como referido, ainda era ressente o fantasma da
Revolução Francesa e suas conseqüências tanto na Europa, quanto na América. No Império
do Brasil, especificamente, constava no imaginário social coletivo, a revolta dos negros
baianos, ocorrida em 1835 e que amedrontava ainda os grupos dirigentes. Deve-se ainda levar
em conta que desde as primeiras décadas do século, havia a resistência a mudanças profundas
e as opções em acordos e arranjos políticos, visando a evitar a participação das camadas mais
pobres da população no processo de construção do Estado nacional independente.
Pelo excerto apresentado, observa-se a negação da revolução enquanto uma ameaça,
mas sim como um movimento possível de se evitar pela “boa política”. Da mesma maneira,
revela-se a defesa pela reforma como a salvação dos problemas do Império. O sentido de
reforma defendido pelos liberais destacava-se pela ampliação da representatividade. Nesta
época, Nabuco de Araújo à frente do partido através do manifesto, fazia progredir a idéia da
124 Grifo meu.
62
abstenção. Em janeiro de 1869, acusava de fictícias o sistema de eleições no império125. Por
outro lado, a idéia ecoou nos meios políticos como alerta de combate, sendo recebido pelos
oposicionistas como sentido demagógico.
Em sua principal obra sobre o pai, Joaquim Nabuco esclarece que os dois pontos
principais do programa do Centro Liberal versavam em torno da emancipação dos escravos e
do sistema de eleições diretas. Nesse sentido, a consulta feita por Nabuco de Araújo ao
Conselheiro Saraiva sobre os temas mais urgentes a abordar trazia à tona a ótica liberal sobre
o sentido de reformar para conjurar a revolução. Os liberais demonstravam o perigo da
alternativa revolucionária, pregavam pelas reformas e apontavam publicamente aos partidos e
à Coroa a necessidade de congregar os compromissos presentes no manifesto e no programa
do partido126. Além da explanação da necessidade de reformas, verifica-se o seu uso como
remédio à revolução. Esta última aparece como um mal a ser combatido pela realização de
reformas.
O conceito de revolução, entretanto, tomou na história muitas acepções. Como
mostrou Hannah Arendt, no século XVII foi a primeira vez em que o termo ganhou seu uso
político, na Inglaterra, com a subida de Cromwel ao poder. Naquele contexto a idéia de
revolução incidia sobre o retorno a uma situação anterior, como um movimento completo dos
astros, trazida à tona no século XVI, por Nicolau Copérnico127.
No imaginário dos homens de poder na América, no entanto, o fantasma da revolução
se afirmou por ter origem na noção e nos impactos trazidos mais tarde pela Revolução
125 Joaquim Nabuco. Um Estadista do Império. Op. cit., p. 777. 126 Cf: Nabuco de Araújo. O Centro Liberal. Brasília: Senado Federal, 1979, p. 78. Consta nesta obra os Artigos Orgânicos do Centro Liberal, as publicações do Diário da Bahia, a Emancipação, o Manifesto do Centro Liberal e a exposição de motivos da crise política deflagrada em 1868, impressos por ocasião do centenário de falecimento de Nabuco de Araújo. Alguns artigos como Emancipação – Carta do Senador Nabuco à Sociedade Democrática Constitucional Limeirense, foram publicados na íntegra por meio do jornal A Reforma. 127 Hannah Arendt. “O significado da revolução”. In: ________ Da revolução. Brasília/ UnB: Ática, 1988, pp. 21-57.
63
Francesa e seus desdobramentos128. Os rumos tomados pelos acontecimentos de 1789 logo
passaram a assinalar a possibilidade de instauração do novo. Desse modo, os dirigentes do
império do Brasil tinham em mente o impacto das mudanças na condução das camadas sociais
a partir da participação popular. Com efeito, a Revolução Francesa representou evento único
na história. A partir daí, a idéia de revolução passou a tratar-se de um caminho que conduziria
ao desconhecido, a um futuro ignorado129, provocando um grande temor nos indivíduos em
relação às suas posses130.
No fragmento acima, as palavras do Senador Nabuco de Araújo denotam um pouco
desse pensamento. A incapacidade de resistência diante da revolução. A necessidade de
reformas urgentes para evitar transformações mais profundas. Mais detidamente, o Senador
remete as armas da revolução às armas do governo. Em outras palavras, afirma que a culpa de
uma revolução está na conduta dos governos, sendo este último o local de onde saem as
insatisfações, as armas e as mãos de quem as impunham. Como se vê, a época é propícia para
a divulgação do programa do Centro Liberal, pelo qual Nabuco de Araújo e seus pares,
divulgavam os cinco compromissos:
reforma eleitoral, para pôr termo ao absolutismo de fato, proveniente da falta de eleições reais, absolutismo que passa de mão em mão nas repúblicas, e é fixo e permanente nas monarquias; reforma judiciária, isto é, sistema de defesa da liberdade individual; abolição do recrutamento e da guarda nacional, os dois poderosos mecanismos de perseguição e domínio de que o governo está de posse; por último, emancipação dos escravos, de todas, para Nabuco, a medida inadiável, preliminar131.
128 Lembramos ainda da importância da Revolução Americana, em 1776, como um movimento também de ruptura, mas que não alcançou dimensões ocidentais como a francesa. 129 A revolução como ruptura de uma situação anterior é apresentada por Reinhart Koseleck. “Critérios históricos do conceito moderno de revolução”. In: _________ , p. 65. 130 Hannah Arendt enfatiza o conceito de revolução moderna enquanto um meio de ação política na busca do homem pela liberdade. Esta é um instrumento político que não é inerente á condição humana, mas fruto de suas relações.Ver: Mariângela M. Nascimento. “ Em busca do marco perdido: o entendimento arendtiano de revolução” . Revista ética e Filosofia Política, nº1, vol 1, junho de 2006. 131Apud Joaquim Nabuco. Um Estadista do Império. Vol. 1 5ª ed. RJ: Topbooks / Faculdade da Cidade, 1997; p. 784. (nota 17). O Manifesto do Centro Liberal foi publicado em avulso no Rio de Janeiro, Tip. Americana, 1869, e na Bahia, e reproduzido por toda a imprensa liberal. Forma um opúsculo de 67 páginas . O Manifesto foi publicado em março e o programa em maio de 1869. Ver: Américo Brasiliense. Os programas e os Partidos Políticos e o Segundo Império. Este, segundo Joaquim Nabuco, também esteve presente nas reuniões do Centro Liberal.
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Para Lúcia Neves e Humberto Fernandes Machado, a percepção de Nabuco de Araújo
sinalizava uma análise sombria do momento político. Na visão dos autores, o conselheiro
pressentia um clima revolucionário iminente em função das “idéias democráticas” espalhadas
pela imprensa, por obra de republicanos ou mesmo por desordeiros. Nesse sentido, seu
discurso de alerta dirigia-se à “boa sociedade”, em uma indicação de necessidade de alianças
entre diversos grupos (liberais e moderados), fundando um novo partido para, após isso,
aspirarem o governo132.
De acordo com o que nos lembrou Joaquim Manuel de Macedo133, os liberais, ao
saírem do governo em 1868, fundaram uma imprensa mais forte e mais influente do que
houvera na capital durante os cinco anos em que estiveram no poder. A querela partidária
entre liberais e conservadores ainda no decorrer da Guerra, fez com que Zacarias, exigindo
maior prestígio, não concordasse com a escolha, diante de uma lista tríplice para senador, do
nome do conservador Sales Torres Homem para preencher a vaga. Na opinião de Rodrigo de
Patto Sá, como de costume no período, os programas e projetos não resultavam de
congressos, encontros ou seminários, mas de formulações de seus líderes, muitas vezes
publicados sob forma de manifestos. Tais líderes eram seguidos de acordo com a capacidade e
pela admiração que despertavam, de acordo com a credibilidade que angariavam de seus
signatários.
As eleições por sua vez, sofriam grandes manipulações e fraudes. Se no Império
prevaleceu o voto censitário, o padrão de renda, por sua vez, não era alto, podendo dela
participar os eleitores que dispusessem de 100.000 réis de renda e fossem do sexo masculino.
132 Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves e Humberto Fernandes Machado. “Coronéis, clientes e bacharéis”. In: ________. O Império do Brasil ... Op., cit. p. 250. 133 J. M. de Macedo. Memórias da Rua do Ouvidor ..., p. 109. http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/JoaquimManueldeMacedo/memoriasdarua.htm
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As eleições eram compostas de duas etapas: os eleitores de primeiro grau, cuja renda mínima,
como já foi dito, elegiam os possíveis candidatos a deputados. Estes últimos, deveriam
apresentar renda girando em torno de 400 mil réis anuais; e de 800 mil réis para Senador.
Ainda é importante frisar que cabia ao Imperador, através da vigência do Poder Moderador, a
prerrogativa de indicar os seus Ministros, bem com escolher os senadores134. Todo o seu
programa foi estampado nas páginas do periódico do grupo. O veículo criado pelos liberais,
após a mencionada saída da Câmara, publicou o programa do grupo bem como as adesões de
seus signatários: José Tomás Nabuco de Araújo, Bernardo de Sousa Franco, Zacarias de Góes
e Vasconcelos, Antônio Pinto Chichorro da Gama, Francisco José Furtado, José Pedro Dias
de Carvalho, José Lustosa da Cunha Paranaguá, Antônio Marcelino Nunes Gonçalves, Teófilo
Benedito Ottoni e Francisco Otaviano de Almeida Rosa.
Ao apresentar um panorama da imprensa dos anos de 1860, Nelson Werneck Sodré
destacou o jornal A Reforma como o “mais prestigioso de sua época”, muito influindo nas
transformações da imprensa, “polemizando com ardor, originando-se do Clube da Reforma”.
O autor ressaltou, do mesmo modo, a colaboração de Afonso Celso de Assis Figueiredo,
Rodrigo Otávio de Oliveira Menezes, José Cesário Alvim, Joaquim Serra e outros”135. As
assinaturas contribuíam para sustentar as publicações, todavia muitos jornais, e era o caso d’A
Reforma, sobreviviam graças ao afluxo de recursos provenientes diretamente de seus
financiadores.
134 Cf. Rodrigo Patto Sá Motta. Introdução à História dos Partidos Políticos Brasileiros. Minas Gerais:
EdUFMG, 1999, p. 35. 135Cf. Nelson Werneck Sodré. Op.cit. A respeito dos anos seguintes do A Reforma, Sodré destaca: “A Reforma, em 1873, atravessa uma fase vibrante, sob a direção de Joaquim Serra que, com a sua prática do ofício e o sentimento libertário que sustentou até a morte, coloca o jornal entre os mais lidos da Corte. É ele quem acolhe na redação o conterrâneo Artur Azevedo. O teatrólogo maranhense guardou bem o episódio: ‘Atravessei a rua do Ouvidor muito disposto a conquistar o futuro naquele dia. Quando cheguei ao Largo de São Francisco, tinha efetivamente conquistado alguma coisa: o lugar de revisor dos folhetins da Reforma, que se imprimia no prédio que é hoje a Gazeta da Tarde’(...)”, p. 211.
66
Quanto à sua estruturação, o periódico era composto por quatro páginas, guardando-se
os domingos. O formato era de 1, 20cm, constando basicamente de crônicas políticas136.
Pode-se afirmar que tais crônicas constituíam seu carro chefe, publicando, entretanto,
assuntos de natureza variada, versando constantemente em torno da política ministerial;
parlamentar e economia: rendimentos da alfândega, entrada e saída de vapores e transportes,
câmbio, metais, cotações da libra, ações e exportações, preço do café; notícias do exterior,
horários e custeio das passagens dos trens, informes sobre a situação no Prata e das
empreitadas do Exército na Guerra do Paraguai; noticiário público – leilões; anúncios e
convites de reuniões de clubes e teatros da Corte... Enfim: versava sobre os mais variados
temas, chamando possivelmente a atenção de diversos tipos de leitores. No que tange aos
leilões, eram anunciados em sessão própria, aparecendo em seus diversos gêneros, como:
móveis, casas, objetos de uso doméstico, escravos, fazendas boticas, medicamentos,
escritórios de advocacia. Em outra seção, intitulada de “generalidades”, apresentava de temas
dedicados às Ciências, às datas históricas (“Efemérides”) e Correspondências das Províncias
etc.
Pelos anúncios, era cobrado o valor de $60, a linha. Encontramos algumas imagens na
última página, ilustrando os anúncios de cosméticos. Já as conferências radicais, por sua vez,
eram comunicadas na coluna “Noticiário Público” e tinham seus folhetos anunciados no valor
de $400. Supõe-se que o maior financiamento ficasse por conta do Clube da Reforma. A este
respeito artigo esclarecia:
A boa idéia dos clubes políticos já vai sendo compreendida. O Clube da Reforma tem estado estas noites muito freqüentado. A comissão diretora deve-se elogio pelo bem que está desempenhando sua tarefa, sobretudo o nosso constante e dedicado amigo o Sr. Mello Franco que pela simpatia geral que goza no partido foi investido de plenos poderes e os exerceu a aprazimento de seus consócios para organizar definitivamente o clube.
136Considerações sobre as crônicas políticas e folhetinescas, ver: Ariane P. Ewald, Áurea Domingues Guimarães, Camila Fernandes Bravo, Carolina Bragança Sobreira. “Crônicas folhetinescas: subjetividade, modernidade e circulação da notícia”. In: Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves; Marco Morel & Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz Ferreira (orgs.). História e imprensa. Representações culturais e práticas de poder. Rio de Janeiro: DP&A / FAPERJ, 2006, pp. 237-259.
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Os dignos senadores, membros do Centro Liberal e seus companheiros de trabalho no Senado estão dispostos a freqüentá-lo assiduamente pela necessidade que há de um lugar onde os políticos do mesmo partido se entendam entre si. (...) A redação política da Reforma também trabalhará no Clube de segunda-feira em diante137.
A partir do fragmento, verifica-se que a relação entre o Clube da Reforma, o Centro
Liberal e o jornal A Reforma formavam três esferas que interligadas tornavam-se responsáveis
pela ampliação da divulgação de seu grupo no momento em que, após a queda do Gabinete
Zacarias, amargariam o ostracismo, até 1878. Quanto ao padrão das publicações que expunha
o A Reforma, apresentava uma inovação, quando comparado aos pasquins e a alguns outros
jornais de mesmo porte. Alguns jornais contemporâneos, a fim de manterem o anonimato de
diretores e autores (questão tratada no capitulo 1), utilizavam o recurso do testa-de-ferro.
Seus colaboradores mostravam-se dispostos em negar essa prática. Tal prática era comum
quando os jornais eram adquiridos oficialmente por um indivíduo ou um grupo político, sendo
no entanto redigido e organizado por outros. Em alguns casos, jovens redatores com pouca ou
nenhuma experiência138. No caso do jornal A Reforma, tal premissa traduzia-se na chamada:
não se admitem testas-de-ferro. Sob esta perspectiva, pregavam a necessidade dos artigos
serem publicados com a indicação de sua a autoria.
Fato marcante do contexto, os homens públicos, até mesmo o próprio imperador,
apareciam nas páginas dos jornais (inclusive nas folhas ilustradas de todo gênero), como alvo
de críticas na imprensa em geral, e especificamente na pequena imprensa político-doutrinária.
Sobre a linguagem veemente, José Murilo de Carvalho lembrou que quase todos os jornais
prometiam em seu primeiro número adotar uma posição equilibrada, um elevado debate de
137 A Reforma, ano 1, 19 de junho de 1869. 138 Cf Joaquim Manuel de Macedo. Memórias do sobrinho do meu tio. O sobrinho, protagonista da ficção, para ingressar na vida política, trata de adquirir uma folha - A espada da Justiça, onde publicaria artigos encomendados de jovens redatores. “Hoje mesmo organizarei o meu gabinete de redação e alugarei meu testa- de- ferro(...) Rodeei-me de alguns moços de talento sem experiência no mundo, incensei-lhe a vaidade e contei com redação segura que facilmente fui pagando com modestos presentes e pomposos elogios(...)” p. 291. Cf: José Murilo de Carvalho. História intelectual no Brasil: a retórica como chave de leitura ... op. cit., pp. 123-132.
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idéias. Segundo o autor, muitos assumiam francamente papel de educadores da opinião, como
divulgadores das luzes européias139. Segundo respondia o diretor Francisco Otaviano de
Almeida Rosa tal prática visava “manter a linguagem moderada em relação às pessoas que
censuramos”140.
É importante destacar que, através dos jornais os políticos tinham direito de manifestar
o seu pensamento, ao mesmo tempo que circulavam na capital os pasquins, dotados de
expressões satíricas contra o governo ou contra particulares, afixados em lugares públicos ou
vendidos em espaços públicos, mas sem apresentarem referência a seus editores ou
colaboradores. Daí que, ao mencionar a importância das assinaturas em seus artigos, os
editores do A Reforma inauguravam uma nova forma de escrita que atuava na defesa da
responsabilidade da autoria. Deste grupo faziam parte tanto políticos que encontravam na
folha o espaço de seus arroubos doutrinários, como autênticos literatos que assimilavam
ambas as funções141.
Na redação, contariam logo com a colaboração de Afonso Celso de Assis Figueiredo,
Rodrigo Otávio de Oliveira Menezes, José Cesário Alvim, Joaquim Serra e outros”142. Em sua
epígrafe, a folha anunciava: a frase em latim atribuída à Tácito Resumendum Libertati
Tempus, em tradução livre significa: deve ser restrito o tempo dedicado à liberdade, como um
claro exemplo de utilização de retórica, através da citação de expressões latinas143.
139 José Murilo de Carvalho. Topoi, p. 39. 140 Francisco de Assis Barbosa. “Origens”. In: A vida de Lima Barreto. Rio de Janeiro: José Olímpio Editora, 1952, pp. 17-42. 141Tavares Bastos escreveu no A Reforma, com assiduidade apenas nos primeiros meses. E distingue-se daí a colaboração pelo caráter doutrinário que lhe imprimira. Entre outros artigos, pode-se citar: “ O ato adicional”, Governo interior dos Estados Unidos, Descentralização e Federação, nesses aperçus, era já A Província que se anunciava”. Cf: Carlos Pontes. “Em pleno ostracismo”. In: Tavares Bastos (Aureliano Candido, 1839-1875). São Paulo: Companhia Editora Nacional, INL / MEC, Brasiliana, vol 136, 1975, p. 172. 142 Cf. Nelson Werneck Sodré. Op., cit. A respeito dos anos seguintes do A Reforma, Sodré destaca: “A Reforma, em 1873, atravessa uma fase vibrante, sob a direção de Joaquim Serra que, com a sua prática do ofício e o sentimento libertário que sustentou até a morte, coloca o jornal entre os mais lidos da Corte. É ele quem acolhe na redação o conterrâneo Artur Azevedo. O teatrólogo maranhense guardou bem o episódio: ‘Atravessei a rua do Ouvidor muito disposto a conquistar o futuro naquele dia. Quando cheguei ao Largo de São Francisco, tinha efetivamente conquistado alguma coisa: o lugar de revisor dos folhetins da Reforma, que se imprimia no prédio que é hoje a Gazeta da Tarde’(...)”, p. 211. 143 Cf: José Murilo de Carvalho. História Intelectual no Brasil: retórica como chave de leitura....
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Era já o tempo de acordarmos. O Partido liberal hoje forte e (...) por aquele acontecimento que lhe veio revelar e ao país toda a profundeza da chaga que corrói o nosso corpo político, e a necessidade de remédio pronto e eficaz não quererá mas de certo subir ao poder senão levando em punho e erguendo bem alta a bandeira salvadora das reformas, dessas a que a nação aspira, que a opinião pública todos os dias proclama por seus inúmeros órgãos, de um extremo do império ao outro, e únicas capazes de o fazerem entrar nas vias de um governo realmente representativo, e livre em que as Câmaras não sejam meras chancelarias do poder, nem apelo ao nas dissoluções uma farsa vergonhosa e destinada a dar sempre razão ao absolutismo (...)”144.
Assim, a imprensa opinativa se constituía enquanto espaço de debates políticos, como
parte da ampliação da “opinião pública” que se constituía, em nome de reformas políticas e
dos sistema representativo. Na biografia do romancista Lima Barreto, ao citar os primeiros
anos de formação do pai do literato (liberal por formação e tipógrafo), Francisco de Assis
Barbosa145 destacou a participação de João Henriques de Lima Barreto na atividade de escrita
do veículo, A Reforma. Segundo Assis Barbosa, “por pura dedicação ao Partido Liberal”, a
“folha” apareceu logo após a publicação do Manifesto do Centro Liberal e sua direção foi
confiada a Francisco Otaviano. O redator reforçava a importância da indicação de autoria dos
artigos, sinalizando ainda a intenção dos redatores de expressarem uma opinião livre, porém
responsável. A resposta do diretor foi publicada no Jornal do Comercio, no dia seguinte e sua
explicação encerrava, nas linhas adiante transcritas, uma verdadeira declaração de princípios:
Esse sistema nos pareceu necessário como exemplo e como argumento para afastar de nossos editoriais a calúnia e o insulto. Se assinamos e tomamos a responsabilidade de nossas opiniões e censuras temos o direito de exigir que todos os artigos enviados à Reforma venham com a força moral da convicção de seus autores146.
Nos dois primeiros anos do A Reforma, encontramos a preocupação dos redatores em
tratá-lo como empresa, como um jornal moderno, ainda que em sua maioria os jornais fossem
144 A Reforma, ano I, 19 de junho de 1869. 145 Francisco de Assis Barbosa. Origens. A vida de Lima Barreto. Rio de Janeiro: José Olímpio Editora, 1952, pp. 17- 42. 146 Imprimiram-se os primeiros números na tipografia de Francisco Sabino de Freitas Reis. Comprou-a mais tarde o Centro Liberal e o jornal passou a ter por volta de 1870, a sua própria tipografia, não se sabe se antes ou depois já trabalhava ali, João Henriques de Lima Barreto (...) pediu as contas do Jornal do Commercio e foi oferecer-se na oficina da Reforma que defendia a regeneração dos costumes políticos e onde devia existir melhor compreensão da justiça humana. Raciocinava assim, com certeza, ao pensar nas palavras do Manifesto publicado diante no órgão do partido liberal, pugnado pela reforma eleitoral, pela reforma judiciária, pela abolição do recrutamento militar e da guarda nacional e por fim pela emancipação dos escravos.
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artesanais. Aos poucos, se percebe a transformação da imprensa artesanal, em práticas
empresariais, como escritório próprio e redes de assinantes e colaboradores, na capital e nas
províncias do Império. Nos escritórios, podiam ser feitas reclamações e pedidos de anúncios
particulares ou gerais147. Provisoriamente, o Clube foi instalado no Hotel Europa, até que
fossem concluídas as obras de sua sede, na Rua do Ourives, nº 61, para onde, dali há poucos
dias concorreram um grande número de liberais148. Os contribuintes do Clube nos primeiros
dias já se apresentavam em uma centena de subscritores. O redator anunciava que, tão logo
tivessem espaço definido, convocariam para sócios honorários alguns beneméritos de lutas
passadas. Cabe observar, sobre esse aspecto, que a publicação de jornais era um ato
fundamental para aquele momento político, uma vez que a Câmara Temporária funcionava
efetivamente apenas cinco meses por ano. Nos outros sete meses, permanecia em recesso.
Sendo assim, a imprensa apresentava-se ainda mais enquanto um espaço fundamental, lócus
de divulgação, debates e ações políticas.
Os jornais não se limitavam a apenas noticiar os eventos, possuíam o poder de ampliar
a sua dimensão, influenciando a opinião pública. Segundo o historiador Robert Darnton, ao
estudar a influência da imprensa na Revolução Francesa encontramos a ação dos periódicos
na moldagem dos fatos, quando o jornalismo surgiu pela primeira vez com força a influenciar
nos negócios do Estado. No caso do Império de Pedro II, como argumentou Humberto
Machado, os periódicos tiveram parcela de responsabilidade na construção de uma sociedade
147 A tipografia do A Reforma ficava na Rua do Ouvidor, nº138. Na obra Memórias da Rua do Ouvidor, Joaquim Manuel de Macedo relembra os primeiros tempos do jornal: “Em frente à Casa do Visconde de Cachoeira, ou do Hotel Ravot, vê-se uma outra de duas portas e de dois pavimentos, atualmente ocupada por loja francesa de toiletes. Foi neste modesto urbi que se fundou em maio de 1869, A Reforma, órgão do Partido Liberal em oposição. Como foi dito, Sabino Reis, finado este ano em Paris, foi gerente e dedicadíssimo administrador da Reforma que lhe deveu sacrifícios de tempo, de atividade e de dinheiro. Tenho boas lembranças daquele diário político liberal que iniciou na sua redação”. Cf. Joaquim Manuel de Macedo. Memórias da Rua do Ouvidor ...Op., cit. 148 A Reforma, Ano I, 22/04/ 1869.
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pautada em novos valores, inspirados nos ideais de progresso e de civilização149. Nas páginas
do A Reforma, o progresso aparecia de inúmeras formas: os anúncios já estampavam desde
cosméticos até poções de cura (remédios). No argumento dos textos políticos aparecem
constantemente referências à política dos Estados Unidos, vista como democrática; em grande
escala, já no programa do Partido aparece a preocupação mais detida com a questão servil150.
2.3. Os “reformistas”:
Francisco Otaviano de Almeida Rosa e José Thomaz Nabuco de Araújo.
Como mostrado anteriormente, foi de suma importância para a vida política,
não somente da Corte como também de todo o império, a existência e atuação do periódico A
Reforma. Desde as décadas iniciais do século XIX, a imprensa mostrava-se cada vez mais
enquanto instrumento dotado de intensa capacidade de criar e de influenciar no contato do
público com os eventos, moldando em grande medida sua recepção e, em conseqüência, os
julgamentos que se davam a partir daí. O diálogo estabelecido entre os homens e sua vida em
sociedade americana ganhava, desde as primeiras décadas dos oitocentos, uma nova forma de
interação. Na década de que tratamos neste trabalho de pesquisa, a ênfase recaía sobre a
defesa do progresso e sua relação com a necessidade de reformas. Este postulado acabou
sendo a linha mestra de direção do novo grupo que lutava para se afirmar como oposição.
Entre os muitos envolvidos e responsáveis por esta grande empreitada, destacam-se dois
nomes que embora muito citados até aqui serão abordados mais detidamente. Juntos, atuaram
enquanto mentores, redatores e diretores: Francisco Otaviano de Almeida Rosa e José
Thomaz Nabuco de Araújo.
149 Humberto Fernandes Machado. Intelectuais, Impressa e abolicionismo. XXIV Simpósio Nacional de História –, ANPUH,SãoLeopoldo,2007.p.4.http://snh2007.anpuh.org/resources/content/anais/Humberto%20F%20Machado.pdf. Acessado em 10/11/2008. 150 A Reforma, Ano I, 18/05/ 1869.
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Francisco Otaviano de Almeida Rosa era advogado, jornalista, político, diplomata e
poeta. Foi Senador de Pedro II entre os anos de 1867 e 1889 e redator de vários jornais.
Nascido na cidade do Rio de Janeiro, em 26 de junho de 1825, fez parte do grupo de
Bacharéis, cursando Direito na Faculdade de Direito de São Paulo, saindo formado no ano de
1845. Como afirmou Sacramento Blake, seus primeiros estudos foram realizados no colégio
do professor Manuel Maria Cabral, dedicando-se especialmente às línguas, à história, à
geografia. Filho do médico, Otaviano Maria da Rosa, e de Joana Maria Joana, cresceu em
uma família que lhe dera condições de estudo151.
Entre os anos de 1846 e 1855, retornou à Corte consolidando sua a vida profissional
nos jornais Sentinela da Monarquia; Gazeta Oficial do Império do Brasil, da qual se tornou
diretor; Jornal do Comércio e Correio Mercantil. Na década de cinqüenta do século XIX, foi
ainda eleito secretário Instituto da Ordem dos Advogados; deputado e , como referido,
senador do império. Ademais, foi secretario do Instituto dos Advogados do Brasil; eleito
deputado geral em 1853 e reeleito em sucessivos mandatos até o ano de 1866, quando foi
escolhido Senador em lista sêxtupla. Esteve em Missão diplomática no Rio da Prata, na
solução do Tratado da Tríplice Aliança em 1864, não se interessando, entretanto, em avançar
na diplomacia152. Enquanto jornalista sua presença foi marcante empenhando-se nas
campanhas do partido liberal e tomando parte na preponderante na elaboração da lei do ventre
Livre, em 1871. Nesse tempo, já participara da elaboração do Tratado da Tríplice Aliança
(1865), quando foi convidado pelo marquês de Olinda para ocupar a pasta ministerial dos
Negócios Estrangeiros, cujo cargo não aceitou, deixando para Saraiva Cotegipe153.
151 Augusto Vitorino do sacramento Blake. Dicionário Bibliográfico Brasileiro. vol III. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1899, pp. 62-64. 152 www.senado.gov.br / senadores/ senadores_biografia.asp. página acessada em julho de 2008. 153 No entanto, por ocasião da Guerra do Paraguai foi enviado ao Uruguai e à Argentina , substituindo o
Conselheiro Paranhos na Missão do Rio da Prata, assinando, em Buenos Aires, o famoso tratado de Aliança entre Brasil, Argentina e Uruguai, contra Solano Lopes (Paraguai). Sobre esta questão, foi atacado por Pimenta Bueno, publicando carta em autodefesa em seus textos políticos. Suas cartas podem ser encontradas no arquivo da Associação Brasileira de Letras (ABL). “Francisco Otaviano”. Documentos textuais. 2-27-43.
73
Embora com currículo louvável, foi como jornalista que Francisco Otaviano teve
atividade fecunda e brilhante, tanto em sua tribuna no Parlamento quanto na sua “tribuna” na
imprensa, estando sempre em contato com as idéias e com os movimentos que interessavam a
nacionalidade. Segundo Silvo Romero, o “poeta fluminense” não foi jornalista por vocação,
fazendo caminho pela imprensa por necessidade política154. Quando de seu crescimento como
escritor e político, já contava 44 anos de idade, podendo ser considerado enquanto um homem
de letras. Na visão do historiador e jornalista, Marco Morel, o homem de letras “em geral é
visto como portador de missão ao mesmo tempo política e pedagógica”, além de serem, em
sua maioria, servidores do governo155. Em sua prática de redator, Francisco Otaviano
destacou-se em reiterados artigos sobre a importância do jornalismo combativo, através das
idéias e da união entre liberais e progressistas para realização de reformas. Como referido, no
período, a queda dos liberais fortaleceu a imprensa oposicionista e Francisco Otaviano atuou
em colaboração quase diária no jornal A Reforma, entre 1869 e 1870.
Estudando um pouco mais a sua trajetória, em recente artigo, quatro pesquisadoras
chamaram a atenção para sua presença como um importante cronista da Corte. Além de outras
acepções, segundo as autoras, a crônica passou aos poucos a ser sinônimo de relatos semanais
e atuais sobre a cidade. Nesse sentido, Francisco Otaviano tornou-se conhecido na Corte por
seus textos jornalísticos bem como pelos poemas que produziu, os quais lhe renderam o
epíteto de “Pena de Ouro”156. Consolidando sua marcante trajetória, foi escolhido pelo
visconde de Taunay como patrono da cadeira 13 da Academia Brasileira de Letras (ABL). No
Jornal do Comércio, ocupou o cargo de folhetinista ao publicar suas crônicas na seção A
Semana.
154 Silvio Romero. Suplemento literário de A manhã. Ano III, p. 102. 155 Marco Morel. As transformações dos espaços públicos: imprensa, atores políticos e sociabilidades na cidade imperial (1280-1840). São Paulo: Hucitec, 2005, Cap 2. 156 Ver: Ariane P. Ewald, Áurea Domingues Guimarães, Camila Fernandes Bravo, Carolina Bragança Sobreira. “crônicas folhetinescas: subjetividade, modernidade e circulação da notícia”. In: Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves; Marco Morel & Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz Ferreira (orgs.). História e imprensa. Representações culturais e práticas de poder. Rio de Janeiro: DP&A / FAPERJ, 2006, p. 247.
74
No periódico A Reforma, marcou presença inequívoca nos editoriais em que tratava
das questões mais urgentes. Embora entendesse e acompanhasse todos os problemas da
cidade, seus escritos versavam quase sempre a respeito da política no seu sentido restrito157.
Algumas de suas colaborações podem ser vistas na obra de Israel de Souza Lima. Dentre as
muitas, destacam-se os títulos: “Senado Vitalício”158; “O que quer o Ministério?”159; “O
extermínio dos paraguaios”160; “Quando é crime violar a Constituição”161; “A emancipação e
o Ministério”162. Embora tenha participado ativamente de grande parte da publicação do
periódico, sua intensa atividade política acabou sendo a principal razão de sua saída do
periódico. Nessa ocasião, em junho de 1870, tornou pública carta a Francisco Sabino de
Freitas Reis, proprietário da Tipografia A Reforma. Nela, desculpava-se pela impossibilidade
de continuar colaborando na redação “porque outros deveres imperiosos me consomem todo o
tempo”163.
Apesar de não ter podido acompanhar todo o percurso de grande atuação do A
Reforma, a presença de Otaviano foi marcante especialmente ao lado de Nabuco de Araújo. A
respeito da importância política do Senador Nabuco de Araújo, Francisco Otaviano destacou
no A Reforma:
Sentimos que a imprensa ainda não tenha recursos para imediatamente transmitir povo os recursos de seus representantes. O sr. Nabuco é orador, cujos discursos não podem ser resumidos: cada frase daquele parlamentar é um pensamento completo. Sóbrio e preciso na linguagem, não se repete, não fatiga o ouvinte164.
157 A idéia de política como uma noção ampla que dialoga com as esferas social, econômica e cultural, ver: René Rémond (org). Por uma história política. 2ªed. Rio de Janeiro: FGV, 1999. 158 A Reforma, Ano I, 25/05/1869. 159 ibidem, nº 45, 6/09 /1869. 160 ibidem, nº 108, 19/09/1869. 161 ibidem, nº 5, 08/09/1870. 162 ibidem, nº 110, 18 de maio 1870. Ver também: Israel de Souza Lima. Francisco Otaviano de Almeida Rosa. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2004. 163 Israel de Souza Lima. Francisco Otaviano de Almeida Rosa..., p. 340. 164 A Reforma, 26/08/1869..
75
Foi na companhia deste outro político destacado que Otaviano esteve engajado em
suas críticas ao governo. Por seu lado, Nabuco de Araújo nasceu em 1813, na cidade de
Salvador, Bahia. Era o filho que possuía o nome do pai, conhecido como José Thomaz
Nabuco de Araújo segundo. Sua mãe era a senhora Maria Bárbara da Costa Ferreira Nabuco
de Araújo. Da mesma maneira que Otaviano Rosa, sua trajetória de vida acompanhou o curso
de consolidação do Império do Brasil. Quando dos conflitos das regências, possuía em torno
de 19 anos (1832). Na ação liberal do Golpe da Maioridade, possuía seus 27 anos. Como
Francisco Otaviano, formou-se em Direito, estudando, entretanto, na Academia de Direito do
Recife. Nesta mesma década (1843) já despontava na política como Deputado Geral do
Império. Na década de cinqüenta, consolidou-se ainda na condição de Presidente de
Província, Ministro da Justiça, Conselheiro de Estado, chegando ao cargo de Senador165.
De acordo com José Honório Rodrigues, Nabuco de Araújo destacou-se como um
“parlamentar notável, de raro poder verbal unido a uma extraordinária capacidade
argumentativa”166. Era - igualmente - um jurisconsulto de grande autoridade e de capacidade
governamental, sem dúvida, uma das maiores personagens políticas do período. Ao elaborar a
biografia de seu pai, Joaquim Nabuco o considerou como chefe do Partido Liberal no decênio
de oposição, iniciado em 1868. Ao tratar do assunto, descrevia o problema das divergências
políticas e rivalidades pessoais internas ao grupo, assim argumentando que:
(...) Era preciso habilidade para reunir num só corpo inimigos que na véspera eram inconciliáveis. A princípio, as dificuldades são grandes, o nome de Zacarias, o ex-presidente do Conselho, ainda não é tolerado pelos que ele acabava de combater a seu modo. Em 25 de julho de 1868, realizara-se a primeira reunião fusionista em casa de Nabuco e, nessa reunião, ficara bem patente a separação. Cristiano Ottoni propusera como bandeira do partido a extinção do Poder Moderador. Nomeara-se um diretório provisório, composto de Nabuco, Zacarias, Silveira Lobo, Teófilo Ottoni e Otaviano167.
165 www.senado.gov.br /senadores/senadores_biografia.asp. Página acessada em julho de 2008. 166 Cf. José Honório Rodrigues. “Centenário da Morte de José Tomás Nabuco de Araújo (1813- 1878). Rio de Janeiro: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, vol. 323, abr-jun 1979, pp. 142-159. 167 Joaquim Nabuco. Um Estadista do Império ...Op. cit., pp. 771-772.
76
Nessa perspectiva, há que se ressaltar dois aspectos: a astúcia política do pai e a
perspicácia analítica do filho, em expor de forma inigualável aspectos da cena política da
época, bem como em perceber finas nuances nas mudanças das posturas nas entranhas do
poder. Além dos problemas apresentados no fragmento, habilidades e conformações, na
década de 1860, vivia ainda os problemas da escravidão, ligados, por sua vez, a questões
remanescentes do problema do fim do tráfico em 1850. A utilização massiva de libertos como
voluntários na Guerra do Paraguai tornou a deslegitimação da escravidão uma questão central
a ser enfrentada pelo Estado168. Os partidos passaram a disputar a promoção da lei, aonde
ganhava expressão uma opinião receptiva à propaganda do abolicionismo europeu e
americano, cujas sugestões eram reiteradas no sentido da emancipação gradual169.
De acordo com o que apontou Milton Carlos Costa, de 1868 a 1872, Nabuco de
Araújo esteve dedicado amplamente à propaganda abolicionista. Pressionado pelo governo,
terminou seu projeto no ano de 1867170. Após ser rejeitado por Pimenta Bueno, futuro
Marquês de São Vicente, foi impelido a reformular algumas de suas propostas. Entre elas, a
mais importante dizia respeito à inclusão de indenização aos proprietários de cativos. Milton
Carlos completou que a adesão de Nabuco de Araújo ao Programa Liberal esteve
condicionada à aceitação da questão emancipadora como ponto fundamental a ser defendida e
o seu apoio - bem como de Francisco Otaviano -, foi crucial para que o Barão do Rio Branco
atingisse a finalização do projeto. Tanto na historiografia quanto na política, o projeto de
Araújo ganhou realce por negar a legitimidade da escravidão “ao estabelecer uma diferença
entre propriedade natural (o que a escravidão não era) e propriedade de fato (o que era no
168 Hebe Mattos. “Abolição da escravidão”. In: Ronaldo Vainfas (org.). Dicionário do Brasil Imperial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, pp. 16 -19. 169 Como visto no fragmento, o nome de Zacarias, ex-presidente do Conselho era mal tolerado pelos que combatera na véspera. A primeira reunião da fusão que prenunciava um novo partido liberal, ocorrera na casa da Nabuco, momento em que ficava esclarecida a dificuldade de unificação entre históricos e progressistas Cristiano Ottoni propusera a extinção do Poder Moderador. Nabuco de Araújo, por sua vez, não queria que os golpes de oposição ferissem o Imperador. Cf. Joaquim Nabuco. Um Estadista no Império... , p. 772. 170 Milton Carlos Costa. Joaquim Nabuco. Entre a política e a história. São Paulo: Annablume, 2003, p. 184.
77
Império do Brasil)”171. Muito embora o assunto seja objeto de grande discussão entre os
contemporâneos e entre os pesquisadores, a importância da personagem de Nabuco de Araújo
no encaminhamento dos resultados sociais e políticos da escravidão no império é inegável.
Suas ações, ao lado de alguns nomes de peso da época registram ainda a importância da
flexibilização nas alianças e a relevância da imprensa em ampliar o alcance dos assuntos a
serem discutidos e enraizados na sociedade. Apesar de ser porta-voz, em grande medida no
contexto do grupo liberal, sua postura fora criticada não somente no Parlamento, mas também
na imprensa, de compactuar com uma visão conservadora sobre a emancipação, a qual lhe
custou muitos discursos de defesa. Pelo jornal A Reforma, Nabuco de Araújo consolidou sua
figura como um homem de poder intensamente envolvido com as questões mais profundas de
seu tempo.
171 Idem. Ibidem.Op., cit.
78
Capítulo 3
NUANCES DE UMA IMPRENSA LIBERAL: OPINIÃO LIBERAL E A REFORMA NA CONSTITUIÇÃO DE UMA ESFERA PÚBLICA172
O presente capítulo possui como referenciais teóricos o sentido de esfera pública e de
“opinião pública” em construção no Rio de Janeiro em fins da década de 1860. Para tanto,
destaca o tema das reformas políticas, pontuais para a compreensão dos liberalismos políticos
no Brasil, descortinado através da pequena imprensa periódica opinativa e nos limites da
retórica liberal. Tais enfoques são aqui analisados a partir de fragmentos dos periódicos A
Reforma e Opinião Liberal, em uma conjuntura em que ambas as folhas estiveram em
circulação na Corte Imperial, no momento em que os jornais se cruzam, muitas vezes
dialogavam e faziam críticas às propostas de reformas pelos líderes do outro grupo liberal,
nos anos de 1869 e 1870.
Da leitura mais apurada das duas folhas políticas, revelaram-se termos do vocabulário
utilizado pelos liberais nas páginas destes jornais. Os termos preferenciais utilizados pelos
redatores eram absolutismo, imperialismo, cesarismo, poder pessoal e ditadura -
relacionados, como sinônimos, às críticas ao Poder Moderador e ao ministério no governo.
Em contraposição a estes, encontramos os termos democracia, nação e “opinião pública”-
relacionados a pressão política exercida pelos redatores liberais em seus artigos. Os termos do
vocabulário político eram considerados como elementos representativos dos embates
veiculados nos jornais, e por isso tais termos tornavam-se de fundamental importância para a
formação política do público leitor, trazidos à luz através das lentes dos redatores-políticos,
forjadores de uma “opinião pública” que se ampliava na Corte Imperial nos anos finais da
década de 1860.
172 Mais uma vez este trabalho é tributário do sentido dado por Marco Morel a polissemia da expressão espaço público ou “esfera pública”, pois a imprensa se constitui enquanto veículo de divulgação de uma esfera literária, cultural e também de natureza política que não é isolada do restante da sociedade, em uma época em que ocorria o livre debate de idéias.cf: Marco Morel. As transformações dos espaços públicos. Imprensa, atores políticos e sociabilidades, (1820-1840). São Paulo: Hucitec, 2005.
79
O uso dos vocábulos políticos de forma contundente era possível porque a imprensa
contava com a liberdade de expressão vigente durante todo o Segundo Reinado173. Assim,
temas apresentados na Câmara temporária e no Senado vitalício eram amplamente divulgados
tanto na pequena imprensa de opinião quanto nos jornais diários que circulavam na Corte, de
forma que os acontecimentos adquiriam uma dimensão pública, com força e voz capaz de
interferir nos eventos políticos. A este respeito, era prática costumeira entre os parlamentares
manterem uma rede de correligionários na imprensa, de modo que esta garantisse a
publicação de seus pronunciamentos174.
Por inúmeras vezes, o monarca apresentava a liberdade de imprensa, como um de
seus temas prediletos, mesmo sendo ele próprio alvo de constantes ataques. Nesta época, os
jornais pesquisados defendiam a formação política do povo via imprensa livre. Assim,
realçavam a imprensa política como responsável por dar aos acontecimentos uma dimensão
pública, criando uma arena própria de conflitos, valores, interesses e idéias, traduzindo a
diversificação e a complexidade de problemas por que passava a sociedade. 175
A este respeito, o Imperador em um de seus escritos, Nos Conselhos à Regente
destacou sua crença na importância da liberdade de imprensa. Assim, se expressava
Entendo que se deve permitir toda liberdade nestas manifestações [...] pois as doutrinas expedidas nessas manifestações pacíficas ou se combatem por seu excesso, ou por meios semelhantes , menos no excesso. Os ataques ao imperador[...] não devem ser considerados pessoais, mas apenas manejo ou desabafo partidário176
Como exposto, o próprio Imperador era, em certo sentido, ‘protetor’ da liberdade de
veiculação de todo tipo de opiniões via imprensa, inclusive quando esta agredia a própria
imagem pública do monarca. Não foram poucos os artistas, que na década de 1870-80, ainda
173 Cf: José Murilo de Carvalho ( org. ). “Introdução”. In: Jornal do Timon. São Paulo: Cia das Letras; pp. 2-20. 174 Lília Moritz Schwarcz. “Vida na Corte e boa sociedade”. In: As Barbas do Imperador. D. PedroII, um monarca nos trópicos. São Paulo: Cia das Letras, 1998, p. 123. 175 Cf: Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves. “Imprensa”. In: Ronaldo Vainfas ( org.) Dicionário do Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. 176 José Murilo de Carvalho. D. Pedro II (Perfis Brasileiros). São Paulo: Cia das Letras. 2007; pp. 88-89.
80
durante o Segundo Reinado, a exemplo de Ângelo Agostini e Rafael Bordalo, que se
destacaram na imprensa ilustrada quando apresentaram críticas diretas a um imperador
sonolento durante as reuniões públicas do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro ou
durante as preleções no Colégio Pedro II, era a imagem do Pedro-caju ou Pedro Banana
veiculada nos periódicos ilustrados, e como apresenta o fragmento, contavam com total
liberalidade do governante.
Outra face do periodismo do Segundo Reinado, como destacou José Murilo de
Carvalho, era que os redatores, também políticos, tiveram papel importante no que chamou de
uma “pedagogia das práticas democráticas do governo representativo”. Por isso, reitera o
autor, mais do que a tribuna, a imprensa era o espaço que se abria para a implantação do
gérmem de uma “opinião pública”, sobretudo nos centros urbanos mais desenvolvidos. Na
mesma esteira desta vertente historiográfica, é importante frizar que a maior parte da
população se encontrava distante dos círculos letrados, tendo acesso aos fatos e eventos
políticos muito mais via leituras indiretas em espaços públicos, do que propriamente o acesso
aos escritos, estando restrita a leitura a cerca de 15% da população. Assim, a maioria da
população era incapaz de ler sequer um jornal, neste grupo de não-leitores se incluíam os
grandes proprietários.177
177A este respeito José Murilo de Carvalho. “Primeiros Passos”. In: Cidadania no Brasil. O longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.2001; pp. 32.
81
3.1. A esfera pública no Rio de Janeiro: uma discussão conceitual
Em finais do século XIX, para a análise dos leitores franceses, Jean Hébrard indica
que houve um aumento considerável do acesso à leitura, sob as reformas dos liberais
franceses François Guizot e Jules Ferry178. O terreno da instrução pública foi bastante
modificado, após Revolução Francesa. Época em que os governos procuravam prevenir as
agitações populares pondo a instrução pública a serviço da civilização, dos costumes e dos
espíritos, e como reforça o autor, sempre dentro do partido da Ordem. Os liberais franceses
ressaltavam que era preciso responder com mais instrução, pois sustentavam que o povo
ignorante abria terreno para os regimes tirânicos e o sucesso das doutrinas subversivas, daí a
necessidade da leitura, a qual antecedia a produção escrita.179
A este respeito, Hélio de Seixas Guimarães fez uma breve balanço do público leitor do
século XIX, na França, Inglaterra e Estados Unidos e considerou a situação brasileira muito
diferente dos centros urbanos europeus. Na década de 1870, Inglaterra e França possuíam
70% e 77% de alfabetizados, enquanto nos Estados Unidos este dado chegava a 80% em
meados do século XIX, com 90% da população branca alfabetizada. No Brasil, ao longo do
século XIX os alfabetizados não passavam de 15% da população brasileira. Em 1872 apenas
15,7% da população total, incluindo os escravos sabiam ler e escrever.180
178Jules Hébrard atesta a influência do ministro da educação François Guizot , que sob do liberalismo doutrinário, juntamente com Victor Cousin, estruturou, a partir de 1832, o ensino público francês. O projeto de Guizot, segundo Rosanvallon, vinculava-se ao ideal de ‘finalizar a Revolução, era construir um governo representativo estável, estabelecer um regime, que fundado na razão, garantisse as liberdades’, como meio de prevenir a volta de ruptura mais profunda.Apud: FrançoisGuizot. Capturado em 29/10/2008 .http://www.institutodehumanidades.com.br/dicionario/g/guizot.php Jules Ferry foi um advogado, jornalista e político francês. Um republicano, maçom, positivista e anti-clerical, ele foi o ministro da educação (Ministre de l'Instruction Publique) que tornou a escola francesa laica (ou seja, religiosamente neutra) e (politicamente) republicana. Dissolveu os Jesuítas, criou os primeiros liceus e colégios para raparigas. Tornou o ensino primário gratuito em França (lei de 16 de Junho de 1881) e obrigatório (lei de 28 de Março de 1882). Ferry foi um adepto das ideias positivistas de Auguste Comte, que o inspirou nas suas reformas do sistema educativo francês. Acessado em 28/10/2008. 179Jean Hébrard. Três figuras de jovens leitores: alfabetização e escolarização do ponto de vista da História Cultural. In: Márcia Abreu (org.) Leitura, História e História da Leitura. Campinas: ALB/FAPESP/Mercado das Letras. 2000; pp. 49-58. 180Segundo Guimarães, os dados gerais do recenseamento estão nos “Quadros gerais - Recenseamento da população do Império do Brasil a que se procedeu no dia 1º de agosto de 1872”. Brazil, Diretoria Geral de Estatística, 1876. Apud: Hélio de Seixas Guimarães. “Um preto de balaio no braço a vender romances”. In: Os
82
A Corte Imperial no Rio de Janeiro, em finais do oitocentos, presenciava a ampliação
dos leitores, dado que pode ser constatado, sobretudo através da produção de livros. Como
Tânia Bessone Ferreira destacou, o aumento das prensas gráficas se deu a após 1890, em uma
fase em que se configurava um pequeno espaço público, novos eventos e acontecimentos
externos e internos podiam ser acompanhados via imprensa.181 Nesta fase, o acesso aos
escritos que pôde ser ampliado graças às facilidades disponíveis, tanto da técnica e materiais
disponíveis, quanto de pessoal especializado.182
A partir dos dados demonstrados no gráfico acima, referente aos anos finais de 1860,
encontramos também um período de estabilidade na presença de tipografias na cidade, senão
um aumento efetivo, ao menos detectamos uma estabilidade no quantitativo de empresas
leitores de Machado de Assis. O romance Machadiano e o público de Literatura no século XIX. EDUSP: São Paulo, pp. 59-82. 181Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz Ferreira. Rio de Janeiro fin-de-siècle. In: Palácios de destinos cruzados. Bibliotecas, homens e livros no Rio de Janeiro, 1870-1920. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1999; pp. 81-103. 182 Cf. Apêndice, imagem nº1. Anúncio de venda de materiais tipográficos na Corte, pois ilustra a formação de um jornal, os meios e apêndice nº2 recursos necessários à montagem de uma folha política. Arquivo senador Nabuco (anônimo).
Quantidade de casas tipográficas no período 1866-1870
27
28
29
30
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33
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1866 1867 1868 1869-1870
nº
de
tip
og
rafi
as
Fonte: Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial para os anos de 1867 a 1870
83
tipográficas, ocasião em que este número se manteve em 35 tipografias, nas quais se
produziam todos tipos de papéis impressos.183 Enquanto o comércio de livros de literatura
proporcionava baixos lucros, o mercado gráfico esteve atento à possibilidade de ampliação de
lucros a partir da venda de periódicos, tendo crescimento progressivo, a exemplo do Jornal do
Commercio. No bojo do aumento das livrarias e tipografias, ocorria também o aumento do
periodismo na cidade do Rio de Janeiro, dado que vem corroborar ao status proporcionado
pela posse do livro e do domínio da leitura no meio urbano da Corte do Rio de Janeiro.
Nos periódicos liberais destacados neste trabalho, os leitores podiam se informar a
respeito dos últimos assuntos políticos no Império do Brasil, bem como do exterior. Havia na
capital, nos anos finais de 1860, um intenso afluxo de papéis impressos, de diversos gêneros,
como livros, brochuras, almanaques, revistas ilustradas. Aspecto que pode ser reforçado, não
somente pelos periódicos em circulação, mas também a partir do aumento das empresas
relacionadas a artes gráficas entre os anos de 1866 e 1870. Os jornais eram também espaços
de divulgação de obras literárias184 - brasileiras e estrangeiras, promovendo também a
ampliação dos folhetins franceses, livros de culinária, almanaques e livros educativos.
Nos jornais políticos consultados eram apresentados anúncios de publicações de teor
político, como opúsculos, panfletos políticos, outros jornais publicados na Corte e nas
províncias, sobretudo quando estes guardavam semelhanças com as propostas dos grupos
políticos, que mantinham as folhas. Este caso foi constantemente verificado nas ‘folhas’
políticas Opinião Liberal e A Reforma. Como traço do jornalismo opinativo, exposto através
do diálogo de idéias, entre liberais da Corte e das Províncias através da coluna
Correspondência. 183 A respeito dos jornais e periódicos em circulação na Corte imperial entre os anos de 1866 e 1870, conferir tabela nº 4, por mim elaborada, a partir de dados fornecidos pelo Almanack Administrativo, Comercial e Industrial do Rio de Janeiro. Foram listados 142 impressos, entre jornais e periódicos. Na tabela constam dados referentes a títulos, subtítulos, valores de vendas avulsas e/ou assinaturas, nome e endereço da tipografia e dos diretores. 184Tânia Mª T. B. da C. Ferreira. Livros e sociedade: A formação de leitores no séc. XIX, p. 7. Cf: http://www.revistateias.proped.pro.br/index.php/revista/article/viewPDFInterstitial/15/1 Acessado em 22/10/2008
84
Diante do período político conturbado, os jornais procuravam destacar o que
chamavam de propaganda da imprensa, pois o periodismo estava presente em toda parte, e
tinha a capacidade de descentralizar o movimento político. A imprensa liberal a ser divulgada
nas regiões do Império tinha então a função de
Discutir nas localidades [províncias] as questões que se agitam no centro e afetam o interesse geral da comunidade: restitui os partidos a suas condições normais e acostumar o povo a meditar sobre seus destinos, apreciar os seus direitos, zelar os seus deveres e criar estes núcleos de resistência aos desmandos da autoridade, esta constitui a força das sociedades modernas e se chama “opinião pública”. Por mais ingrato que seja o sacrifício convém perseverar nesta santa propaganda. Coragem nobres lidadores da imprensa nacional. 185
Com efeito, os temas políticos eram abordados na folha, bem como discutidos nos
clubes, alcançavam outras províncias do Império. Assim, o leitor, inteirado em temas políticos
poderia opinar a respeito dos artigos, sobre a política ministerial, as reformas do sistema
representativo, a natureza e limites do Poder Moderador, mas também se informar sobre da
presença de artistas estrangeiros na Corte, tomar conhecimento de resumos de livros recém-
publicados, se informar a respeito da entrada e saída de transportes no porto e a respeito de
economia e exportações. O elemento fundamental de ambas as folhas era a formação do
público leitor a respeito da política, por isso a apresentação de artigos esclarecendo a bandeira
política do grupo que representava. Os leitores do manifesto e do programa do Centro Liberal
estavam também nas diferentes províncias do Império e participavam dos debates através das
folhas locais, estas dialogavam com o jornal da Corte através de seus correspondentes. Uma
destas folhas, digna de nota foi o Diário da Bahia, posto que em suas páginas se publicou na
íntegra o programa e manifesto dos liberais da Corte, logo após o lançamento do Manifesto.
Neste contexto, prosperou uma imprensa opinativa, nela constatamos o avanço de uma
esfera pública peculiar, a qual guardava semelhanças com o modelo europeu e nele busca
inspiração, tendo em vista a consolidação do ideal de civilização nos trópicos. Tal ideal se
constituiu a partir da ampliação de um círculo de leitores, mas que possuía peculiaridades.
185Opinião Liberal, Ano I, nº32, 28-11-1866.
85
Este modelo tomava forma nos espaços de sociabilidades e se consolidavam no Rio de
Janeiro, apesar dos limites impostos pelo alto índice de analfabetismo, pela escravidão, bem
como pela ausência de burguesia nos moldes europeus para o mesmo período. 186
Na Corte imperial havia um pequeno público letrado, porém ávido por debates dos
temas abordados pelos periódicos liberais em questão. Diante disto, Tânia Bessone destacou,
em relação à produção literária, que o círculo de leitores parecia minúsculo a primeira vista, e
se ampliava continuamente, sobretudo a partir de 1870. Constatamos que desde os anos finais
de 1860 houve uma elevação do acesso aos espaços de sociabilidades anunciados nos jornais -
saraus, cafés, teatros e congêneres, assim como ocorreu um aumento na publicação de
crônicas políticas, resenhas e informes de lançamentos de livros e periódicos, na Corte e nas
províncias formando redes de opiniões a partir dos espaços públicos em construção. 187
Este público constituía a “opinião pública”, a partir de uma esfera letrada, formada por
pessoas privadas que reunidas nos espaços públicos, emitiam opiniões, fazendo uso público
da razão e da crítica. A “opinião pública” era considerada pelos liberais históricos do Opinião
Liberal como
[...] soberana no regime parlamentar, dará os louros da vitória ao que for mais valoroso e souber tornar prático, sem sofismas o princípio liberal, conformando-se com ele em todas as conseqüências188.
Em números seguintes os redatores reforçavam o caráter pedagógico da folha, modelo
de imprensa doutrinária vinda a luz nas páginas de seu jornal e fundamentalmente tinham a
função de
186Marcelo Otávio Neri de Campos Basille. O Império em construção: Projetos de Brasil e ação Política na Corte Regencial. (Tese de Doutorado). UFRJ/IFCS, 2004. p. 17. O autor esclarece esfera pública como esfera das pessoas privadas reunidas em público, que se constitui como mediador entre a sociedade civil e o Estado, e no qual os indivíduos – a chamada “opinião pública”, fonte legítima do governo e das leis – interagem, expressam suas opiniões e manifestam seus interesses. 187 Cf: Tânia M. T. Bessone da C. Ferreira. Palácios de destinos cruzados: homens, bibliotecas e livros. 1870-1920. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1999; pp. 86. 188Opinião Liberal, Ano I, nº1, 22/04/1866.
86
(...) elevar o nível moral da sociedade como único meio de sustentar as instituições livres. Só a “opinião pública” esclarecida, pode servir ao governo das nações livres. 189
Se por um lado, encontra-se limites em pensar na consolidação de uma esfera pública
burguesa no Império do Brasil no período citado, por outro abria-se a possibilidade de
crescimento do público leitor. O significado dado por Jürgen Habermas190 ao termo esfera
pública burguesa apresenta certos limites, mas nos parece apropriado como o sentido de
pessoas privadas reunidas no espaço público, informando-se através leitura e do livre debate
de idéias, e assim discutiam, se instruíam, através dos livros e da imprensa periódica. 191
Mais recentemente, em obra sobre a evolução da mídia, Peter Burke e Asa Briggs192,
concordaram em certa medida com Habermas, mas destacam os limites do pensamento do
sociólogo alemão. Em sua obra clássica, não levou em consideração a idéia do surgimento
de esfera pública antes do século XVIII. Os autores defendem que em outros períodos
históricos os grupos envolvidos em conflitos também receberam influência dos impressos,
ajudando a elevar a consciência política (para não usar o termo “opinião pública”). 193 Os
autores de História Social da mídia criticaram uma visão “utópica” de Habermas a respeito
do século XIX, pois não levou em considerou a manipulação do público pela “mídia” e não
deu a devida atenção ao excluídos dos debates, além de ter tomado como modelo o exemplo
da Inglaterra no século XVIII, enquanto havia outros lugares e períodos onde ocorriam
exemplos de surgimento de esfera pública, nas quais a informação política sempre foi
devidamente discutida, sem necessariamente representarem formação típica burguesa.
189Opinião Liberal. Ano I nº 1, 06/08/1866. 190 Jürgen Habermas. Estruturas sociais da esfera pública. In: Mudança estrutural da esfera pública. Edições Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro, 1984. Cf: Hannah Arendt A esfera pública: o comum. In A condição humana, (10ª ed.) Forence Universitária: Rio de Janeiro, 2007. A autora define como público tudo o que vem a ser visto e ouvido por todos e tem a maior divulgação possível; p. 59. 191 Ibidem. p. 42. A esfera pública burguesa pode ser entendida como a esfera das pessoas privadas reunidas em um público, elas reivindicam esta esfera pública regulamentada pela autoridade, mas diretamente, contra a própria autoridade[...] São pessoas privadas que nela se relacionam entre si como público; pp. 42-43. 192Asa Briggs e Peter Burke. A Revolução da prensa gráfica em seu contexto. In: Uma história social da mídia: de Gutemberg à Internet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2004; pp. 80-81. 193Ibiden; pp. 109-110.
87
Outrossim, no campo da Ciência Política, segundo Hannah Arendt, encontramos o
termo público denotando “tudo que vem a público pode ser visto e ouvido por todos e tem a
maior divulgação possível”. O público é o reino das aparências e por isso constitui-se em
realidade, pois é o tangível, tornando-se o referencial para o que deve ser visto e ouvido, em
oposição ao privado, que se relaciona ao domínio do individuo e das ‘pequenas coisas’.
Outro autor que se debruçou sobre o sentido de público e privado foi Richard Sennett
em seu estudo sobre o declínio do homem público, quando chamou a atenção para as
dimensões sociais e políticas do sentido de “público” em contraposição ao domínio privado.
A partir da história destas palavras nos esclarece que os termos passaram por transformações
na cultura ocidental. Segundo seus argumentos, desde o século XVII os termos passaram a ter
a conotação que conhecemos atualmente, ou seja, como público compreende “tudo que é
aberto à observação de qualquer pessoa, enquanto por oposição o privado se refere “ a uma
região protegida da vida, definida pela família, pelos amigos” . Os termos se assemelham nas
língua inglesa e francesa, pois ambos dizem respeito ao bem comum e do corpo político.
Outro sentido de público foi apresentado no séc XVII europeu, como platéia dos teatros,
constituídas como pessoas da elite da Corte, eram assim um grupo bem reduzido, cujas
origens eram não-aristocráticas ou mercantis.
Ainda Sennett nos indica que o sentido da palavra público se ampliou no século
XVIII, tanto em Londres quanto em Paris, e este adquiria a conotação moderna diferente da
simples referência à separação da família e dos amigos. Como público, passava a se
compreender o contato relativamente grande de pessoas, cujo centro desta vida pública era a
capital, e nela desenvolviam redes de sociabilidades independentes do contato real direto.
Nesta época, ampliavam-se os locais onde ocorriam os encontros, nos cafés e mais tardes
88
bares, passaram a ocorrer também nos teatros e na ópera que se abriam a um grande
público194.
No campo da Política, de acordo com Noberto Bobbio, o termo “opinião pública”
muda conforme o contexto, tempo em que se insere, expressando, por isso, juízos de valor. O
autor reitera que convém falar em “opiniões” que se formam e se fortalecem no debate livre
de idéias, através de uma atitude racional, crítica e bem informada. Sendo um fenômeno típico
da época moderna, pressupõe a existência de uma sociedade civil distinta do Estado, livre e
articulada, em espaços coletivos, tais como associações, partidos, revistas, clubes, salões,
bolsa, mercados, ou seja, um público de indivíduos associados, e, portanto interessados em
rediscutir a política e o governo. Segundo o autor, citando Kant, esta opinião prescinde do uso
público da razão, da liberdade, é um tribunal da política e por isso deve exercer a função de
dar publicidade as discussões parlamentares, às decisões do governo, a partir da plena
liberdade de imprensa.195
No âmbito da História, Marco Morel estudou as transformações dos espaços públicos
no Rio de Janeiro, destacando a polissemia dos termos “opinião pública” e espaço público,
para a década de 1820-40. O termo deve ser compreendido a partir do contexto político em
que foi forjado, neste caso, como destacou o autor, a “opinião pública” era considerada
soberana no regime constitucional, ou seja, portadora da suprema qualidade de levantar as
nações, e neste caso sob a égide dos princípios liberais. Havia na Corte uma “opinião
pública” que chamou de gérmem do termo, definido historicamente com a modernidade
política, como um instrumento de debates, referência e fonte de legitimidade política,
distinguindo-se, pois, da soberania do monarca. Neste sentido, referiu-se a gênese dos espaços
públicos na Corte Imperial. Em seu estudo, constatou a formação de uma rede de opiniões
194 Cf. Richard Sennett. O domínio do público. In: O declínio do homem público. As tiranias da intimidade. São Paulo: Cia das Letras. 2002, pp. 15-44. 195 Norberto Bobbio e alii. Dicionário de Política. 5ª ed. 2 vol. São Paulo: Imprensa Oficial/UNB, 2004, pp. 842-844.
89
privadas que vinham a público, em um espaço marcado pelas formas de comunicação típicas
do Antigo Regime, como gazetas, pregões e bandos, leituras coletivas, ou em voz alta pelas
ruas praças e tabernas, como um momento de passagem para um espaço público onde se
consolidavam os debates por meio das diversas atividades na imprensa.
Naquele contexto, adquiriam importância as leituras individuais e privadas,
construindo-se uma opinião de caráter mais abstrato, com base em um julgamento crítico de
cada leitor, tomava corpo um debate crescente sobre interesses públicos. Assim, como destaca
o autor, o estudo da trajetória do termo remonta à gênese da política moderna, pós-absolutista,
cujos discursos invocando a legitimidade dessa opinião que vinha a público e continuava a ter
peso importante na atualidade, ou seja, era a “opinião pública” como recurso para legitimação
de práticas políticas.196 Como espaço público, Morel relacionou três vertentes utilizadas em
seu trabalho: 1) a esfera ou cena pública, onde interagem diferentes atores políticos; 2) a
esfera literária e cultural, não é isolada do restante da sociedade e resulta da expressão
letrada dos diferentes agentes históricos e 3) os espaços físicos, como os locais onde se
configuram estas cenas ou esferas.
O sentido dado ao termo “opinião pública”, foi destacado por Morel, como recurso a
legitimidade de práticas políticas, foi constatado no momento de ampliação dos debates
políticos na imprensa no Rio de Janeiro de fins de 1860 a 1870. Os espaços públicos se
ampliavam na corte, tanto através de espaços formais de sociabilidade como cafés, clubes,
associações, teatros, como a partir de espaços informais como livrarias, tipografias e
bibliotecas. Através dos avanços do periodismo político como força capaz de intervir na
formação política dos leitores na Corte Imperial, visto ser este o dever da imprensa. 197 O
avanço das leituras em espaços públicos e privados, como bibliotecas, tipografias e em salões
196Marco Morel. Em nome da “opinião pública”: a gênese de uma noção. In: As transformações dos espaços públicos. Hucitec: São Paulo, 2004. p. 200-218. 197 Conferir tabela 8, demonstrativa do quantitativo dos periódicos em circulação na Corte. A tabela demonstra a existência de jornais para todos os gostos e perfis de leitores, assim não demais supormos que tais leitores dialogassem a respeito dos mais variados assuntos, nos espaços públicos que se ampliavam.
90
e clubes denotam a ampliação das discussões políticas, que formavam a opinião pública na
Corte. Reiteradas vezes, principalmente durante o primeiro ano do Opinião Liberal, os
redatores reforçavam o mote do tipo de imprensa que pretendiam fazer uma aspiração
generosa pela reforma moral, que deve ser a base da reforma política[...]santos deveres198
Os redatores-políticos destacavam que a imprensa tinha um papel fundamental no
esclarecimento dos leitores. Por isso, cabia-lhe direcionar o movimento de regeneração das
aspirações nacionais, sob a égide das reformas liberais. Assim, definiam-se como uma
imprensa livre e conscienciosa, aquela que em meio às calamidades da época, cumpria o
dever de exercer a função de legitimas aspirações nacionais e que deveria se compor de um
programa político, a este exemplo advogavam em causa própria, posto que esta era a função
representada pelo veículo político dos grupos políticos liberais em fins da década de 1860.
3.2. Matizes liberais de um jornalismo político: temáticas levantadas pelos
jornais Opinião Liberal e A Reforma
Tendo em vista a análise dos jornais políticos se tornou fundamental a constatação da
base retórica presente nos artigos publicados na imprensa. A partir de uma tradição retórica,
segundo o sentido dado por José Murilo de Carvalho, constatamos que eram comum os
ataques pessoais, desqualificando os opositores e o argumento de autoridade, sentido que se
reforçava nos textos pela citação de autores estrangeiros, inclusive gregos e latinos, como
técnicas de convencimento presentes nos artigos.199
Nos anos de 1869 e 1870 os dois jornais se cruzavam na Corte e dialogavam a respeito
de diversos temas políticos, como as reformas que eram as mesmas teses do Partido Liberal,
desmembradas em três reformas básicas: policial-judiciária, eleitoral- parlamentar e abolição,
198Opinião Liberal, Ano I, nº1, 28/07/1866. 199 Cf. José Murilo de Carvalho. “História Intelectual no Brasil: a retórica como chave de leitura”.In: Topoi: revista de História, nº1. Rio de Janeiro: 7 Letras, setembro de 2000.
91
estas teses principais configuravam-se no centro do debate político que ocorria nas páginas
políticas dos jornais consultados. Em primeiro plano, tocavam na responsabilidade dos
ministros pelos atos do Poder Moderador, segundo o rei reina, mas não governa e terceiro a
organização do conselho de ministros era um meio prático das idéias anteriores. Mais uma
vez era a imprensa responsável por doutrinar o povo, bem entendido a elite política e cultural.
Assim reiteravam os redatores do A Reforma [...] Haja mais constância nos que de boa fé
promovem reformas pelo bem público. Doutrinemos o povo mais com esse exemplo do que com a
palavra.200
Doutrinar os leitores era a principal tarefa dos grupos políticos, não só através da
leitura dos jornais, mas também nas conferências públicas, cujo exemplo destacado em ambas
as folhas eram as Conferências Radicais, organizada pelo Clube do mesmo nome. Na Corte,
tais reuniões ocorreriam no Teatro Fênix Dramática, nas quais havia livre admissão a quem se
dispusesse em assisti-las. Os temas relativos referiam-se ao sistema representativo no país,
bem como a apreciação das reformas contidas no programa dos liberais radicais.201 As
Conferências eram novos espaços públicos que se ampliavam na Corte nos anos de 1860. Os
palestrantes eram políticos destacados pertencentes ao grupo dos liberais radicais, dentre os
quais se destacava o nome de Gaspar da Silveira Martins. As Conferências foram anunciadas
em ambas as folhas em questão, bem como foram as brochuras com os textos na íntegra,
publicadas pela Tipografia da Reforma.202
O grupo dos radicais reunia-se desde 1866, divulgando idéias mais avançadas através
do jornal ora em estudo. Em 1868, com críticas mais contundentes publicou um programa do
Partido Radical no jornal Opinião Liberal, instruíram no Clube Radical e, além da folha,
publicavam suas idéias a partir das Conferências públicas. O programa liberal defendido pelo 200A Reforma, Ano I, 12/05/1869. 201Foram oradores nas Conferências Públicas: 1ª Godoy e Vasconcelos, 2ª Liberato Barroso, 3º Silveira da Mota, 4ª Rangel Pestana, 5ª Gaspar da Silveira Martins, 6ª Henrique Limpo de Abreu e muitos outros ilustres cidadãos. Cf: Américo Brasiliense. Os programas dos Partidos e o Segundo Império. Brasília: Senado Federal/Fundação Casa Rui Barbosa/MEC, 1979. 25-39. 202A Reforma, Ano I, 17/05/1869.
92
grupo em 1868, porém, desde 1866 nas páginas do “Opinião Liberal”, propugnava pela
extinção do Poder Moderador, a favor do voto direto e generalizado, do ensino livre em
relação à escola e ao professorado, abolição da guarda Nacional, polícia eletiva, pela
temporalidade do senado, pelas franquezas provinciais sobre o princípio eletivo, substituição
lenta e gradual do trabalho servil pelo livre e emancipação da lavoura por meio de instituições
de crédito adaptadas às condições de sua existência. Quando em 1868 os redatores do Opinião
Liberal divulgaram o programa político, intitulavam-se pertencentes a escola liberal-radical.
Naquela ocasião levantavam a bandeira das reformas, sem recurso às armas, pois esta era
considerada revolução, por isso deveria ser evitada por meio de reformas políticas. O grupo
apoiava mudanças mais contundentes no sistema político, tratando da abolição do Poder
Moderador, da Guarda Nacional, do Conselho de Estado e do elemento servil, tais argumentos
ganhariam força e se converteriam no Republicanismo.
Disto exposto, é importante destacar que através da imprensa almejavam educar o
público leitor, reforçando o uso de certos termos do vocabulário político em voga na
imprensa. Certos termos adquiriam um novo sentido, com a situação de oposição política em
que se encontravam os liberais, utilizados muitas vezes, como meio de crítica direta ao
Gabinete Progressista, entre 1866 e 1868, marcos do início da publicação da ‘folha’ Opinião
Liberal e da queda de Zacarias de Góes e aos seus correligionários. Após esta data, dirigiam-
se ao governo imperial e aos conservadores acusados de imperialismo como sinônimo de
cesarismo e de absolutismo.
As críticas relacionavam-se à política ministerial, substituição de tropas na Guerra do
Paraguai, a utilização em larga medida do escravo para suprir o exército em combate e outros
temas recorrentes. Como anteriormente tratamos, aqui reiteramos, a importância política da
queda do gabinete em julho de 1868, foi um dos temas mais abordados pelo Opinião Liberal,
por se tratar de Gabinete Progressista, ao qual os liberais históricos faziam oposição. Ou a
93
respeito de sua saída, relatavam a crise ministerial e a substituição dos progressistas por
ministério conservador.203Ao longo deste ano, iniciaria a fase de fusão de antigos liberais
progressistas e conservadores moderados, o evento foi noticiado no jornal e criticado, por ser
considerado mais uma tentativa de fundir grupos liberais de natureza heterogênea.
A partir deste tema principal surgiram outros, sempre relacionados ao momento
político conturbado, que se criara na política nacional. A ênfase maior recaia, dentre outros
temas, sobre a Natureza e os limites do Poder Moderador e a responsabilidade dos ministros
sobre as decisões do governante. As discussões estiveram presentes nos programas políticos
dos liberais, marcando as distinções entre posições políticas e conservadoras, mas não
chegaram a um consenso a seu respeito até o fim da monarquia.204
O fenômeno característico e dominante do nosso tempo é a obliteração completa dos nossos princípios políticos. Não há como negá-lo. Desde que entre dois partidos únicos possíveis, naturais no país, surgiu como pólipo monstruoso a facção progressista com a estulfa pretensão de estabelecer-se como o justo meio entre os dois grupos radicais, os princípios baralharam-se e o país real conserva-se pasmo e suspenso[...]205
Diante das desavenças entre os grupos políticos liberais entre si, o tema do Poder
Moderador ganhou importância na imprensa produzida por tais grupos, considerado como
poder pessoal. A origem do poder exclusivo do monarca na política imperial se deu como
uma espécie de transição entre o absolutismo e a monarquia constitucional, como uma versão
tropical do poder neutro, remontando sua adesão ao Primeiro Imperador Pedro I e por isso
presente na Constituição do Império de 1824. Extinto durante o período regencial, retornou
em 1841, esporadicamente. A discussão sobre o Poder Moderador reapareceu mencionada na
imprensa, relacionada à questão de não haver o monarca incluído na lista tríplice um nome
que deveria ser indicado à vaga no Senado. Também incluía nestes resultados o fato de
203 Opinião Liberal, ano III, 18/07/1868. 204Cf: Cecília H. de S. Oliveira. “Introdução”. In: Zacarias de Góese Vasconcelos. (Col. Formadores do Brasil). Ed. 34: São Paulo, 2002. pp. 9-58. Outro autor destaca que o “pomo da discórdia eram: a vitaliciedade do Senado, seu papel (e mesmo a existência) e principalmente a natureza do Poder Moderador.” Cf: Eduardo Kugelmas (org. ). “Introdução”. In: Marquês de São Vicente. (Col. Formadores do Brasil). Ed. 34: São Paulo. 2002, pp. 19-51. 205 A Reforma, ano II, 22/06/1870.
94
Teófilo Ottoni ter sido mais uma vez preterido para escolha para vaga de Senador por
atribuição do imperador.206
Posto que fora Teófilo Benedito Ottoni um dos principais políticos liberais do
Império, liderou a revolta liberal na cidade de Santa Luzia, na qual, os liberais derrotados
amargaram o ostracismo político. A corrente política, em defesa do liberalismo político
clássico, defendia as liberdades civis e a participação política, tinha como expressão máxima
o liberal mineiro. Cada vez mais, crescia a necessidade de fortalecer o poder regional para
melhor proteção dos interesses dos novos segmentos sociais que emergiam. Estes novos
segmentos, em última conseqüência, passam a exigir o regime republicano.207
O episódio ocorrido com Teófilo Otoni deflagrou uma série de discussões acerca da
natureza do poder Moderador, pontuais na década de 1860. Escolhido em 1864, o senador
passou a participar ativamente nos debates nos últimos anos da década em questão, participou
do grupo de senadores que assinou o manifesto do Centro Liberal, tratado em sessão anterior.
Assim, a atribuição do poder Moderador foi acusada de poder pessoal, de cunho absolutista,
de que era titular o imperador208. A partir do vocabulário político, os liberais acusavam o
monarca, bem como adeptos dos princípios conservadores, vistos como do partido do rei, de
imperialismo. Os liberais do Opinião Liberal viam o imperialismo como fruto do
enfraquecimento dos partidos de opinião, alijados do poder após 1868.
Na mesma época, a partir de 1869, o Partido liberal passou por um rearranjo político,
motivado por um amplo programa de reformas propostas pelos liberais liderados por Nabuco
206Cf: Keila Grinberg. “Teófilo Ottoni”. In: Ronaldo Vainfas (org.) Dicionário do Brasil Imperial. Objetiva: Rio de Janeiro, 2002; cf: Valdei Lopes de Araújo. “Teófilo Benedito Ottoni: visibilidade e esfera pública no Brasil oitocentista”. In: Maria Emília Prado (org.) O estado como vocação. Idéias e práticas políticas no Brasil oitocentista. Rio de Janeiro: Access, 1999; pp. 165-189. 207 Cf: Françoise Jean de Oliveira Souza. Vozes Maçônicas na Província Mineira.(1869-1889). (Dissertação de Mestrado). UFMG/FAFICH, 2004. 208A este respeito: Braz Florentino Henriques de Souza. Do Poder Moderador; ensaio de direito constitucional. “Introdução”. Barbosa Lima Sobrinho. Brasília: Senado Federal, 1978; pp. 3-16. Cecília Helena de Salles Oliveira. (org.). “Introdução” Zacarias de Góese Vasconcelos. ( Col. Formadores do Brasil). Ed. 34: São Paulo, 2002. Cf. Lúcia Maria Paschoal Guimarães. “Poder Moderador”. In: Ronaldo Vainfas (org.) Dicionário do Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.
95
de Araújo, que representava um elemento aglutinador de forças políticas. Os senadores
assinaram o manifesto do Centro Liberal, deste grupo constitui-se o Clube da Reforma e um
jornal do mesmo nome. Os temas abordados pelo jornal A Reforma tocavam diretamente o
Partido Conservador, no Gabinete Itaboraí, amparado pela confiança da Monarquia, maioria
no Senado e unanimidade na Câmara temporária. 209
Nas páginas do A Reforma, reforçavam sua adesão ao tipo de imprensa livre e que a
esta cabia esclarecer os leitores, ampliando os leitores adeptos defensores das reformas
políticas. Assim argumentavam
por mais opressiva que seja a situação de um povo, nunca é desesperada, enquanto possuir e souber defender a liberdade de imprensa, que na bela frase de um escritor é o quinto poder do Estado, que em nossa humilde opinião é a única verdadeira soberana do mundo, e que finalmente, no pensar do mesmo Benjamin Constant, onde ela existe nunca perecerão todas as liberdades. A situação é, pois grave, mas não desesperada. 210
No fragmento exposto, reiteravam que a imprensa como veículo atuante e
esclarecedor dos leitores a respeito da situação política em que se encontrava o país. Assim, a
imprensa representava, para aqueles homens letrados do oitocentos, a verdadeira soberana do
mundo, responsável pela manutenção das liberdades políticas. Com base no ideário político
de Benjamin Constant foi considerada como o quinto poder, isto é, estava lado a lado ao
poderes constitucionais: Executivo, Legislativo, Judiciário e Moderador, e desta forma
possuía uma força política e influência nas decisões que jamais poderia ser negligenciada211.
209Programa dos Novos Liberais apresentavam reformas: eleitoral, policial e judiciária, abolição do recrutamento, da guarda nacional, emancipação dos escravos. Destacavam que este último quesito seria abordado oportunamente, era considerada uma grande questão da atualidade, como uma exigência imperiosa e urgente da civilização, reiteravam que o Brasil era o único país cristão que mantinha a escravidão. Assinaram o Manifesto: José Tomás Nabuco de Araújo, Bernardo de Souza Franco, Zacarias de Góes e Vasconcellos, Antônio Pinto Chichorro da Gama, Francisco José Furtado, José Pedro Dias de Carvalho, João Pedro Dias de Carvalho, João Lustosa da Cunha Paranaguá, Teófilo Benedito Otoni, Francisco Otaviano de Almeida Rosa. Cf: José Thomás Nabuco de Araújo. O Centro Liberal. Brasília: Senado Federal, 1979. 210
A Reforma, Ano I, nº1, 29/06/1869. 211Benjamin Constant de Rebeque e as origens do liberalismo doutrinário. Ricardo Vélez Rodrigues. UFJF. Centro de pesquisas “Paulino Soares de Sousa”.<http://www.ecsbdefesa.com.br/fts/BCROLD.pdf>
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O filósofo francês defendia a utilização da imprensa na defesa da liberdade e das luzes, de
todos os meios de que a civilização poderia fazer uso para multiplicar o alcance da sua voz.
No caso concreto dos intelectuais do século XIX, tratava-se de utilizar, sobretudo a imprensa,
como meio de divulgação do ideário liberal. Ainda segundo Constant, o doutrinário não
poderia ser jamais um homem de gabinete, um “filósofo” fechado na sua torre de marfim,
alheio ao mundo e a realidade, mas o intelectual que transformaria as instituições deveria se
inserir na corrente de poder para civilizá-la.
Neste sentido, o autor do artigo defendia uma imprensa subsidiária dos doutrinários
franceses que valorizavam a vida intelectual a serviço da administração pública e da educação
para a cidadania. A situação grave mencionada pelo redator no fragmento referia-se ao
momento de crise política e, conseqüente rearranjo de forças entre o poder Legislativo e o
Poder Moderador, pois a saída do gabinete liberal provocou um desequilíbrio na ordem
política no Império do Brasil.
Observa-se que neste caso o periodismo exercia a função primordial de esclarecer e
formar a opinião dos leitores acerca do quadro político, como vimos, bastante conturbado,
repleto de acusações entre liberais históricos e progressistas. Diante da falta de consenso
quanto a um programa político-administrativo, os progressistas constantemente eram
acusados nas páginas políticas do Opinião Liberal como de base frágil e por isso não seriam
liberais autênticos212.
Simultaneamente, aos embates políticos a partir de questões pontuais, os liberais
adeptos dos dois grupos políticos, tanto dos radicais quanto do Novo Partido Liberal , de
Acessado em 23/10/2008. pp. 3-4. O liberalismo doutrinário foi considerado como a versão francesa do liberalismo inglês , tem em Constant seu precursor, também a este grupo se integram Guizot. Na França entre 1830-48, Constant abriu caminho dos liberais franceses em oposição diante da ameaça da Restauração de forças conservadoras, era considerado homem de esquerda. Cf Ubiratan Borges de Macedo. “O liberalismo doutrinário”. In: Antônio Paim (org.). Evolução Histórica do Liberalismo. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia Ltda, 1987; pp. 33-44. 212Célio Ricardo Tasinafo. Complicando o que parece simples: a inversão partidária de 1868. In: Cecília Helena de Salles Oliveira e alii.(org.). A história na política, a política na história. Alameda: São Paulo, 2006; pp. 115-130.
97
posse de um debate livre de idéias, davam ênfase em seus artigos a um vocabulário próprio
em relação a conjuntura que vivenciavam. Constituíam-se nos artigos expressões mais
agressivas em críticas pessoais ao imperador, ao Poder Moderador, ao sistema político
partidário, ao sistema representativo e às eleições, acentuada pela conjuntura de Guerra e
troca de ministérios.213
Através das páginas impressas, os programas políticos eram divulgados e comentados
nos artigos dos redatores, assinados no A Reforma e sem indicação de autor no Opinião
Liberal, mas com referência ao grupo político a que faziam parte, guardavam semelhanças
com o jornalismo artesanal, acadêmico, doutrinário e que pretendia direcionar seus temas a
um público leitor. Neste sentido, formava-se uma “opinião pública”, oriunda de círculos
letrados, de indivíduos reunidos em público, e através de seus debates formavam opiniões a
respeito dos variados temas.
Assim, os artigos veiculados na imprensa exerciam a função esclarecedora dos
leitores a respeito dos problemas relacionados à política e aos políticos, procurando invocar a
legitimidade desta sua opinião como recurso de legitimação de práticas políticas. A discussão
política iniciada na imprensa era forjada por este público leitor que se ampliava, e passava a
entrar em choque com os poderes estabelecidos, propugnado por reformas. Através da
imprensa, procuravam construir um perfil de público, se não real, ao menos o desejado.
Seguindo este pensamento, a função da imprensa do Opinião Liberal era mais doutrinária, e
por isso nitidamente pedagógica nos dois primeiros anos, passa a apresentar em 1869 e 1870,
o teor mais contundente de críticas ao Imperador, ao chefe de Gabinete Conservador, Itaboraí,
inclusive pedindo por reformas mais agressivas em relação as bases da monarquia no Império
213Cf. Alfredo Bosi. “A escravidão entre dois liberalismos”. In: Dialética da Colonização. Cia das Letras: São Paulo, 1992, pp. 194-245. O ano de 1868 iniciou uma longa crise, sendo divisor de águas, foi capaz de reunir forças dispersas, pois marcou a reunião dos liberais, antes dispersos, sob o conjunto bastante híbrido que foi o partido liberal (...) Os textos que exprimem o inconformismo liberal de 1868-69 ainda não traziam a ênfase sobre o trabalho, mas sobre a reforma eleitoral, a fração urbana representada pelo novo liberalismo que queria voz e voto de seus virtuais eleitores; pp. 229
98
do Brasil. Por outro lado, o periodismo do A Reforma adquiria feições aos moldes de
imprensa diária, trazendo anúncios, movimentação das redes de transportes, prestações de
serviços, compra e venda de gêneros, até mesmo aluguel de escravos. Neste sentido tomava
ares de empresa jornalística que se iniciaria na década seguinte.
Formar o público leitor era tarefa assumida pelos redatores em reiterados artigos do
Opinião Liberal. O sentido de “opinião pública” fazia referencia à soberania no regime
parlamentar e, por isso, deveria ser formada a partir da educação moral do povo. A este
respeito o redator esclarecia:
Elevar o nível moral da sociedade é o único meio eficaz de sustentar as instituições livres. Só a “opinião pública” esclarecida pode servir ao governo das nações livres. O século XIX é o século das grandes conquistas da democracia: a instrução popular é a vida das instituições democráticas; e por isso o século XIX é o século da escola. A instrução popular é a divisa do século, é a palavra santa da democracia, que a nação gravou em santa pedra fundamental.214
De forma similar, a “opinião pública” esclarecida seria construída através da instrução
popular, por isso, para os redatores do Opinião Liberal, a instrução pública era o meio de
elevação do nível moral da sociedade, o que só se daria através da formação política, como
meio de exercício da soberania dos povos. A imprensa e o jornalismo deveriam cumprir sua
missão civilizadora, bem como resumir as decepções do passado, os protestos do presente e
todas as esperanças de futuro.215 Tarefa árdua, mas que se consolidaria mediante a educação
do povo, e que este, uma vez instruído politicamente, pudesse exercer livremente a “opinião
pública”, sob a bandeira de um grande partido – o liberal.
Além disto, era o mote desta imprensa doutrinária construir o perfil dos leitores, a que
Marco Morel considerou muito mais um jogo de espelho e miragem.216 Tal público leitor era
mais uma projeção dos redatores, membros dos círculos letrados, aqui sinônimos de elite
214Opinião Liberal, Ano I, 06/08/1866. 215 Opinião Liberal, Ano I, 18/08/1866. 216Iden, ibidem, p. 212. Para 1820-30, Morel utiliza a metáfora espelho/miragem. A relação entre redatores e leitores encontra-se invariavelmente marcada por um jogo de imagens: espelho e miragem. Espelho onde se constroem e se consolidam posições e identidades a partir das próprias referencias. Miragem, onde se busca às vezes em vão, um público e uma opinião que só existem nas aspirações de quem lê ou escreve.
99
política e intelectual, do que propriamente um dado real. Não é demais ressaltar o lugar
social217 de onde estavam escrevendo os jornais, de costas para o Brasil real, sinônimo de
barbárie por oposição a civilizar, com olhos na Europa, tal como o espelho que almejavam
refletir.
Nos periódicos políticos analisados, a imprensa era considerada como portadora de
uma missão. Os redatores do Opinião Liberal defendiam que a imprensa deveria, a partir de
um protesto enérgico contra o desmoronamento da ordem moral218, traduzir o jornalismo
[em] uma aspiração generosa pela reforma moral, como base da reforma política, exaltada
como santos deveres, além de esclarecedora da “opinião pública”, por isso consideravam que
deveria haver constância nos que de boa fé promoviam reformas pelo bem público, assim
cabia à imprensa doutrinar o povo, mais com exemplo do que com a palavra219.
Ao mesmo tempo em que o A Reforma destacava, através da ênfase aos temas
políticos, um diálogo com leitores inteirados nos debates do seu tempo, constituía-se em um
jornal opinativo, mas que apresentava aspecto das folhas diárias, como já foi mencionado,
mas encontravam-se muitos anúncios diversos, que denotam um leitor mais refinado, com
textos em francês, anúncios de teatros, venda de livros da área de Direito , bem como dos
folhetos das Conferências Radicais na Corte.
Nos artigos do A Reforma, os redatores, nos dois primeiros anos, procuravam destacar
a participação dos liberais no Senado, assim como produziam críticas à Câmara temporária
Conservadora, ao ministério Itaboraí. Neste aspecto, reforçavam a crítica através da coluna
denominada Crônica Política e Parlamentar, principal coluna do editorial da “folha”,
destacavam
Verdade seja dita; ainda não houve neste país ministério que ostentasse igual pujança do que o atual. Plena de confiança da Coroa: animada dos mais puros sentimentos de gratidão ao governo.
217Ver o sentido dado a lugar social por Michel de Certeau. L’écriture de l’Histoire. Paris: Gallimard, 1975. Sobretudo o capitulo L’Operation Historiografique. Um lieu sociale, pp. 65-68. 218Opinião Liberal, Ano I, nº 15, 28-07-1866 219Opinião Liberal, Ano IV, nº 12-05-1869
100
No Senado, maioria forte pela coesão e disciplina. Com mais alguma depuração e acréscimos ficará também forte pelo número. Conselho de Estado em quase sua totalidade igualmente dedicado como o Senado. De parte uma parte a outra rara exceção os mais altos importantes cargos públicos ocupados por conservadores extremados.220
Neste contexto político de intrigas e querelas entre os matizes liberais, as folhas
políticas destacadas aqui apresentavam o livre debate de idéias, não eram antagônicas, posto
que os jornais dialogavam, respondendo aos artigos, apresentando elogios aos grupos e
adeptos da outra denominação liberal.
O Opinião Liberal, em números seguidos, reforçava a idéia de que a imprensa era um
espaço de educação do povo, junto ao parlamento, apesar das divergências de opinião, não
excluía a estima recíproca entre os adversários, repetiam o argumento de que a imprensa, a
administração e o parlamento [eram] escolas onde o povo também se educa: e por isso
deveriam caminhar unidas. 221
A Reforma, por exemplo, divulgava as Conferências Radicais no Rio de Janeiro, bem
como anunciava a venda das brochuras, das conferências, impressas em sua tipografia própria.
Os assuntos a serem explanados nas Conferências Radicais eram defendidos pelos redatores
do jornal, como assuntos importantes, dos mais caros à democracia. O sentido de democracia
opunha-se ao que denominavam ditadura, ou seja, a mudança de ministério de 1868, acusada
de golpe de Estado, sob proteção do Poder Moderador.
O Rio de Janeiro, como sede da Corte, era o espaço urbano por onde circulavam o
maior contingente de leitores, e por isso tinha facilitado o acesso aos debates políticos e ao
programa exposto através da imprensa era facilitado. Possuía ainda o maior número de
livrarias e de bibliotecas particulares e públicas222, bem como circulavam jornais de diversos
gêneros e gostos, adaptados ao tom e a cor locais. Enquanto os jornais eram mais voltados ao
220A Reforma, Ano I, 23-05-1869. 221Opinião Liberal, Ano I, 07-12-1866. 222Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz Ferreira. O que liam os cariocas no século XIX? Acessado em 22/10/2008. http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2005/resumos/R2053-1.pdf.
101
debate político, nas revistas prevalecia o tom cultural223. A crônica política era também
veiculada nos jornais diários, estes alcançavam uma maior tiragem que a pequena imprensa
opinativa, e com esta fazia eco. Muitas vezes o Jornal do Comercio foi criticado por ser uma
imprensa conservadora, embora criticado, seus artigos e noticiários, por exemplo, para o ano
de 1867, trazia a partir de uma amostragem, o Jornal do Comercio como o mais citado pelos
artigos do Opinião Liberal. A ampliação das folhas correntes facilitava aos leitores se
inteirarem dos temas políticos, podendo comparar as versões dada por cada grupo político.
Os redatores do Opinião Liberal consideravam corrompidas as instituições do Império
do Brasil. Assim, acusavam a Câmara, o Senado, as Assembléias Provinciais, ocupadas da
corrupção eleitoral, e diante disto cabia à imprensa, no meio de toda essa imagem de
desorganização política, ao lado da tribuna corrompida e desprestigiada, acordar a
consciência do povo, como medida de construção da cidadania e, assim ensinar-lhe o novo, o
credo político da democracia.224 Procurava reforçar o caráter de imprensa livre e da
importância do diálogo crítico entre os periódicos, enquanto órgão legítimo das legítimas
aspirações nacionais era composta de leitores, os quais deviam ser preparados para guiar o
futuro da nação, assim argumentavam.
Para o historiador Marco Morel, como foi anteriormente exposto, o sentido do termo
“opinião pública” presente na tese do autor entre os anos de 1820 e 1840 - no momento de
passagem de um espaço público marcado pelas formas de comunicação típicas dos Antigos
Regimes na Corte imperial. Estes espaços eram as gazetas, pregões, bandos, exibições de
cartazes impressos ou manuscritos nas ruas, leituras privadas e individuais, estas que se
constituíam na formação de uma opinião de caráter mais abstrato, fundada sobre o
julgamento crítico de cada cidadão-leitor e representando uma espécie de somatório das
223Ana Luiza Martins. Imprensa em tempo de Império, in: Ana Luiza Martins e Tânia Regina de Luca ( org.) História da Imprensa no Brasil. São Paulo: Contexto, 2008, p. 52. 224Opinião Liberal, Ano I, nº25, 11/10/1866.
102
opiniões.225No período ora em estudo, as formas de comunicação passaram a ser divulgadas
nos salões, cafés, saraus, teatros, livrarias, tipografias, por onde circulavam o público leitor.
Os redatores do A Reforma, nos dois anos aqui estudados, apresentavam em seus
artigos, um modelo de nação e de público almejado, ainda que limitado, já versado em
questões políticas. O uso de um amplo vocabulário político, com a utilização de termos com o
cesarismo, imperialismo, poder pessoal, seguido de pseudônimos dados aos políticos, tanto
da Câmara, quanto no Senado e no Conselho de Estado, denotam o clima de liberdade política
e de expressão que vivenciavam o país em fins de 1860. A prática costumeira dos jornais
publicarem discursos e pronunciamentos dos parlamentares era o cerne dos debates dos
jornais estudados. Assim, os eleitores podiam ter acesso aos temas debatidos na tribuna, o
que era uma forma de complemento do sistema apenas nominalmente representativo e
fraudulento. Nos idos de 1860, a manutenção da liberdade de imprensa foi destacada como
sinal da liberalidade e de ilustração por parte do monarca. Através da imprensa, os leitores
podiam conhecer a crítica política, os gastos da Coroa, a chacota pública através das folhas
políticas e das caricaturas que proliferaram na imprensa ilustrada.226
Na imprensa como um todo, mas principalmente nos dois jornais liberais tratados,
repercutiam as transformações para consolidação e ampliação da esfera pública, esta atuava
como mobilizadora e esclarecedora de um círculo de leitores227 que se ampliava. O redator
argumentava da importância do jornalismo político na regeneração dos povos. Assim, a
imprensa opinativa considerava-se responsável pela divulgação das reformas das instituições
225
Marco Morel. Op cit, p. 205-6. 226 Cf: Caricatura dos Dez e seus dez mandamentos. Apêndice, imagem nº 8 227O termo círculo de leitores foi utilizado por Tânia Bessone em relação a formação de bibliotecas particulares, ao interesse pelo livro e aos espaço de encontros relativamente informal em livrarias, cafés e jornais, conversavam e trocavam correspondências sobre temas de sua preferência. Em uma perspectiva ampliada, o termo tem o sentido ampliado aos leitores dos jornais, a partir dos grupos políticos que representavam enquanto espaços de divulgação. Tânia Bessone Ferreira. Palácios de destinos cruzados – Bibliotecas, homens e livros no Rio de Janeiro, 1870-1920. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1999. p. 19.
103
imperiais e do sistema representativo, tendo como contraponto a democracia, considerada
como fruto de uma reforma moral dos povos. Assim, argumentava
Erga-se ao menos na Imprensa um protesto enérgico contra esse desmoronamento da ordem moral. Traduza o jornalismo uma aspiração generosa pela reforma moral, que deve ser a base da reforma política...santos deveres.”228
Como citado no fragmento, cabia à imprensa promover junto aos leitores a crença na
democracia, ter fé em um ideal mais perfeito para a humanidade229, mesmo que este senso de
democracia, aos olhos do leitor contemporâneo, se restringisse às reformas políticas, de forma
que não convulsionasse a sociedade, não tocando no direito de propriedade, mola mestra dos
direitos às garantias individuais.
A este respeito perguntava
Quem deve salvar a nação? A mesma nação. É necessário acordar a consciência do povo, que dorme, e ensinar-lhe de novo, se por ventura esqueceu o credo político da democracia. É necessário que o povo se levante a altura dos seus direitos, compenetre-se da importância dos seus destinos e da salvação dos seus deveres de nação livre e independente. É necessário que a delegação da soberania nacional seja uma verdade e que aspirações e os interesses da nação sejam fielmente representadas em suas assembléias.230
Por fim, tal concepção de democracia e direitos políticos não significativa ampliação
irrestrita dos direitos civis, era, no entanto a adesão ao equilíbrio de forças entre os grupos
políticos, garantindo a alternância no governo, não se estendiam à inserção do povo, no
sentido de plebe, muito pelo contrário cabia aos liberais resguardarem-se de excessos,
provenientes do descontrole político. Lembrava o redator que competia à nação, formada nos
preceitos liberais, tornar-se livre e independente e à imprensa cabia acordar o povo, que
dorme e ensinar-lhe o credo político da democracia.
228 Opinião Liberal, Ano I, 28/07/1866. 229Opinião Liberal, Ano I, 21/04/1866. 230 Opinião Liberal, Ano I, nº 25, 18/12/1866.
104
Considerações finais
Com esta dissertação procurei analisar parte da trajetória de dois jornais opinativos que
circularam na Corte do Rio de Janeiro. O tema do primeiro capítulo foi o jornal Opinião
Liberal que circulou entre os anos de 1866 e 1870. O segundo impresso - A Reforma - foi
publicado entre 1869 e 1878, deste foram recortei artigos referentes aos anos de 1869 e
1870. A pesquisa procurou enfocar o perfil de sua inserção na sociedade imperial e teve em
vista compreender alguns dos caminhos percorridos por estes órgãos na constituição de uma
esfera pública bem como dos limites e dos avanços do liberalismo político na versão tropical,
através dos debates dos grupos políticos em oposição e após a saída dos liberais dos estreitos
espaços de poder político, com a queda do Gabinete Zacarias de Góes. Dessa maneira,
procurei enfocar este tema porque foi o que apresentou maior repercussão e polêmica dentre a
imprensa da época.
A constituição específica dos jornais, bem como seus redatores e diretores, foi
considerada como importante para o conhecimento e divulgação de uma esfera pública de
formação dos leitores a respeito dos problemas que enfrentava o governo Imperial. Vale
lembrar que os debates ocorridos entre os diferentes matizes liberais denotam a falta de
unidade interna no grupo, o que caracteriza que suas bandeiras de reformas, expressas nos
programas políticos, constituíram o fio condutor das transformações ocorridas no Ocaso do
Império.
Por um lado, a imprensa construía-se como veículo de divulgação de um ideário
civilizado que ganhava força em diferentes âmbitos no Império consolidado. Através do mote
da defesa de amplitude da instrução pública, os veículos tornavam-se agentes na constituição
de uma opinião que vinha a público e que criticava o governo e as autoridades, exigindo
reformas políticas. Não apenas pela imprensa, mas também a partir de locais em que se
105
reuniam – clubes, cafés, livrarias e congêneres - construíam espaços públicos não
institucionalizados de discussão e de formação política, contribuindo para disseminar a
temática da política entre o restrito público leitor. A fase era de profissionalização da
imprensa enquanto empresa comercial e meio de obter informação tomava seus rumos e, por
sua vez, deixava de lado um modelo de escrita e edição mais artesanal na qual a produção era
feita, na maioria das vezes, a partir de uma rede de colaboradores ou financiamentos. No caso
do Opinião Liberal, seu meio de ação era insistir pela via de construção de uma memória
liberal, especialmente remontando aos eventos das revoltas de 1842 e 1848 para então
resgatá-las sob um novo prisma: a defesa das idéias do grupo e a necessidade de sua aplicação
na melhoria da política nacional.
Dentre as muitas das questões abordadas, constatei as dificuldades do estreito círculo
letrado em mencionar a temática da escravidão como uma questão social. Esta era veiculada
minimamente como problema de mão-de-obra, ou mesmo ignorada. A Guerra do Paraguai e a
Queda do Gabinete Zacarias foram de outro lado, o mote dos debates nos dois jornais, bem
como a sucessão dos cargos de senadores e dos deputados por uma política que alijou os
liberais e trouxe à cena os políticos conservadores, resultando para os primeiros o ostracismo
até o ano de 1878.
As imagens da Corte imperial surgiram como o espaço público por onde circularam os
atores políticos. As ruas e as tipografias também se fizeram presente, no resgate de uma
cidade distinta daquela que conhecemos hoje, a que pertenciam, e na qual circulavam muitas
faces e opiniões que ecoavam nas províncias do Império.
Assim, analisei cada jornal separadamente e procurei cruzar informações cotejando com
a bibliografia referente ao contexto. Os anos de 1869 e 1870 constituem o período em que se
aguçaram as questões relativas à liberdade dos escravos, ranço do último reduto escravista nas
Américas, nos limites do direito de propriedade. Do mesmo modo, delineavam-se as críticas
106
mais contundentes em relação ao poder Moderador e ao próprio monarca juntamente com o
surgimento do germe do Republicanismo na Corte imperial, que, a curto prazo, originou o
Partido Republicano.
A imprensa, por seu lado, atuava não somente como caixa de ressonância, era uma “sala
de mil espelhos” capazes de ampliar as dimensões das diferenças e dos embates políticos. Sua
presença em delinear a necessidade do debate de idéias no momento de ajuste da opinião
pública, acabara por mostrá-la como o lugar de moldagem de princípios e valores, sujeito
importante na construção da cidadania, esta que ainda aguardaria dezenas de décadas sem ser
notada.
107
Referências bibliográficas:
Periódicos
Arquivo Edgar Leuenroth (UNICAMP)
Opinião Liberal (1866-1870)
A Reforma (1869-1870)
Arquivo Digital:
Center for Research Libraries – University of Chicago
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Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Eduardo e Henrique Laemmert, 1867. http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/almanak/al1867/
Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Eduardo e Henrique Laemmert, 1868. http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/almanak/al1868/
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Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Eduardo e Henrique Laemmert, 1870. http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/almanak/al1870/
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Imagens da Rua do Sabão: http://www.hcgallery.com.br/cidade24.htm Acessado em 24/11/2008.
Instituto de Humanidades: FrançoisGuizot. Capturado em 29/10/2008
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Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
Coleção Senador Nabuco de Araújo.
Circular impressa da Comissão Executiva do Centro Liberal ao Conselheiro Nabuco
de Araújo, solicitando doação pecuniária ao jornal A Reforma, a fim de que não seja sustada
sua publicação. Assinada por Sinimbu, Francisco Otaviano, e Afonso Celso. Datada
01/06/1876. 1 doc. DL 385.39
O conselho dos dez e os seus dez mandamentos. Caricatura de Francisco José
Furtado, Bernardo de Sousa Franco, José Tomás Nabuco de Araújo, Zacarias de Góese
Vasconcelos, Francisco Otaviano de Almeida Rosa. Caricaturista desconhecido. 14,5x17,5
cm [Rio de janeiro] [s.d.] IL 58.56-
Plano ( Rascunho) para montagem de uma tipografia. Sem assinatura. s/1, s/d.
(Encontra-se uma anotação em letra miúda, à lápis, o nome de Justiniano José da Rocha.
DL 377.52
Academia Brasileira de Letras
Arquivo Pessoal de Francisco Otaviano de Almeida Rosa.
ABL 366.B.1- (Manuscrito Necrológico de Francisco Otaviano de Almeida Rosa)
Francisco Otaviano faleceu a 1 hora e 45 minutos(...)
Revista da Academia Brasileira de Letras. Agosto de 1929 – nº 92 ( ano XXX) Ed.
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119
Apêndice
Anexo Nº 1
A Reforma Ano I Nº 1 pág 1
12/05/1869.
A Emancipação e o governo imperial
Tavares Bastos
“É sempre um momento solene na vida dos povos, aquele em que o chefe do governo
fala aos representantes da nação, momento solene ainda quando o parlamento sé exprime a
violência da polícia, o abuso do poder; porquanto, todo o governo usurpador esforça-se então
por angariar, com uma linguagem nobre e patrióticos pensamentos, a popularidade n interior e
o respeito no exterior.
A fria ditadura dos conservadores, porém, despreza esse artifício e ostenta-se diante do
povo, que ela esmagara junto às urnas, como um governo francamente retrogrado.
Com efeito, se era antipático ao mundo o silencio que nos documentos públicos o
governo brasileiro de hoje depois das falas do trono de 1867 e 1868?
Em 1867 o governo imperial dirigia-se nos termos seguintes ao corpo legislativo:
“O elemento servil no império não pode deixar de merecer oportunamente a vossa
consideração, provendo-se de modo que, respeitada a propriedade atual e sem abalo profundo,
em nossa primeira indústria, a agricultura, sejam atendidos os altos interesses que se ligam à
emancipação.”
No ano seguinte, anunciava-se a resolução em que o governo estava de levar avante a
empresa encetada. A fala do trono de 1868 dizia:
“ O elemento servil tem sido objeto de assíduo estudo, e oportunamente submeterá o
governo à vossa sabedoria a conveniente proposta.
Hoje, em 1869, a fala do trono guarda absoluto silêncio. Nem uma palavra sequer!
Governam os conservadores, e ostentam no discurso proferido pelo imperador pelo
imperador a isenção com que não seguem senão idéias suas, isto é, os prejuízos do seu
120
partido, que nas sessões de 1867 e 1868, fora implacável contra a emancipação como a Guerra
do Paraguai, dois pensamentos atribuídos ao imperador, ao governo pessoal.
Que os ministros conservadores sejam coerentes, não o negamos.
Que sejam dignos da sua posição, é um fato que reconhecemos. Responsáveis, sabem
eles resistir a idéias que não professam. Membros do partido, cuja maioria protesta contra os
projetos abolicionistas, são fieis aos prejuízos dessa maioria; têm a coragem de resistir
aqueles dos [ seus próprios ] amigos que se converteram à [...} emancipadora no dia em que a
(...)
A sua obstinação em um grande erro é uma vergonha nacional.
O governo interrompeu o movimento das idéias no sentido abolicionista: o governo
imperial retrocede.
Retrocede diante da Europa, onde muitos homens eminentes, depois da
correspondência trocada entre o nosso ministro de estrangeiros e a sociedade abolicionista
francesa, aguardavam o desempenho de um nobre compromisso tomado diante do mundo.
Retrocede quando nos Estados Unidos fechou-se para sempre o funesto período da
história da opressão de uma raça pelo triunfo do princípio da igualdade das raças, da
fraternidade humana.
Retrocede quando a Hespanha, que parecia ficar isolada, acaba, libertando-se dos
Bourbons, comprometendo-se a abolir a escravidão em Cuba dentro de brevíssimo prazo.
Retrocede quando, ao revogar o bill Aberdeen, a Inglaterra ainda receia que a
existência da escravidão no Brasil possa de novo excitar o tráfico de negros.
Certo, nessa interrupção de idéias, ou antes nesse ativo repudio das doutrinas
humanitárias, não é o ministério que fica em pior situação.
Diante do mundo, expiou-se ontem a pena do desacerto cometido a 16 de julho,
quando, em nome da prerrogativa real, restaurou-se no poder a escola retrograda dos
conservadores.
As falas do trono de 1867 e 1868, a carta dirigida à sociedade abolicionista francesa,
os decretos que emanciparam escravos para servirem na guerra, os títulos e condecorações
distribuídas pela alforria de escravos com o mesmo destino, todo trabalho secreto do conselho
de estado coincidindo com esses atos públicos, acabam de ser virtualmente anulados ou
condenados pelo silencio da fala que o imperador leu ontem perante a assembléia geral.
Damos os parabéns aos retrógrados, que ainda muito esperam da civilização que nos
da Costa d’África.
121
Damos os parabéns aos ministros que lograram conferir honras de príncipe ao general
que deixara o exercício em abandono, e puderam apagar sobre a cabeça da raça escrava p sol
da liberdade, que lhes sorria.
Ao país, porem, damos pêsames cubra-se de luto, está perdida toda a esperança. Mas
acautele-se o povo: em 1850 os conservadores reprimiram o trafico quando os canhões
ingleses violavam o território e a soberania nacional; só então quebraram os conservadores os
laços que os prendiam aos chefes do contrabando.
Dessa vergonha tiremos lição: veja o povo que no mundo civilizado; é atual governo
do Brasil.”
Tavares Bastos
Anexo nº 2
Tirania Moderna (Sobre o poder moderador)
“Opinião Liberal”. Ano III. pág. 4 , nº 51
Não há lógica mais valente de que a dos fatos.
A imprensa já denunciou e demonstrou a absorção de todos os poderes pelo único, a
que de fato a sociedade entregou o domínio da força; esse poder, que impropriamente se
chamou moderador, encarregou-se de convencer a nação de que sua vontade substituiu a lei.
A isto denominaram os visionários escritores do direito - tirania.
Não declamamos.
O que é o poder judiciário depois da aposentação violenta dos membros da alta
magistratura, sem acusação legal e sem processo?...
Quem confia hoje na eficácia do seu direito nas mãos de um poder sem força, que nem
ao menos pode defender-se?...
O que pode fazer um poder judiciário, à mercê da vontade do que é imaginariamente
responsável – o poder executivo?...
O que é o poder legislativo sem liberdade do voto popular, constrangido pela polícia?
122
Uma cruel ficção, que tem custado vidas preciosas.
Que esperança pode ter a nação, de que não será espingardiada pelo exército a
capricho dos poderes moderador e executivo, depois da fatal lei de moção por merecimento,
que esmagou a independência e nobreza dos militares?...
O que é o poder executivo depois da consolidação do imperialismo? Desdenhados
responsáveis, onde não há responsabilidade para os que fingem governar.
O que nos restas hoje da grande obra dos patriarcas da nossa independência?
Leis escritas, substituídas pela vontade d chefe do imperialismo;
A absorção de todos os poderes por um só;
A corrupção em larga escala. Uma nação prestes a despedaçar-se nos abismos da
bancarrota.
O imperialismo, porém, inda não completou a nefanda obra da moderna tirania; ele
inda não confia bastante no exército, que tem suas raízes no povo que tiraniza; mais vinte e
cinco mil soldados estrangeiros com seus oficiais, a pretexto de acabar a guerra, serão
suficientes; esses sim, poderão arcabusar o povo se ousar defender as instituições, porque o
sangue que derramarem não lhes custará lágrimas e saudades.”
Anexo nº 3
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
Rio de janeiro.
DL 377.52
Arquivo Senador Nabuco
Plano ( Rascunho) para montagem de uma tipografia. Sem assinatura. s/1, s/d.
(Encontra-se uma anotação em letra miúda, à lápis, o nome de Justiniano José da Rocha)
Montar tipografia
Prelo Stanhope nº 1º 1:100 #
1.500 libras de tipos sortidos 1:500#
Caixas cavaletas galvanizadas 600#
3:200#
123
Esse material é suficiente para manter uma folha de discussão política os meses vindouros 3
vezes por semana.
Acho que assim devemos começar : se quisermos, depois, tem a folha diária, no mesmo
formato, e para a discussão política bastará o argumento de 600 linhas de tipo e mais um prelo
Stanhope = despesa – 1:700// 000.
Se quiserdes que a folha seja noticiosa, cumprirá ter um prelo mecânico comprado no Rio de
Janeiro, lá teremos prelos já servidos, e [...] custando cerca de 4:000//
[...] a crise da Europa, há recentemente descobertas em França prelos chamados
indispensáveis, de fácil e simples maquinismo, e cujo custo não chega a 2:000//.
Vindo dos antigos e aqui conhecidos, podemos calcular a despesa de 4 a 5 contos de réis: mas
não estarão aqui antes do fim de maio.
Serviço de publicação e administração:
Para folha de polêmica política a três vezes por semana ____________________ 1: 000#000.
Redação (basta um redator)
Para diária, sendo política,
Serviço __________________________________________________________1:6000#000.
Redação: são necessários dois redatores e um diretor.
Sendo noticiosa, a despesa cresce sensivelmente com gratificações a correspondentes e a
quem dá notícias da praça, da alfândega, etc.
Eu já fiz um esforço desses para montar folha diária: tive que subdividir os um conto de réis
mensal. A folha durou 2 meses e fiquei encalacrado em 12 contos de réis que tive que pagar
com línguas de palmo.
Tenho o exemplo do Correio da Tarde cuja despesa mensal é de mais de 4.000$. E cuja
receita não chega a 900$ em confissão de José Cristiano.
Tenho experiência do Diário que tem consumido centenas de contos de réis.
E (...)
Em minha opinião, o que basta ao governo é uma folha interessante pela sua hábil redação, o
que se dá sempre com política e administração e que a publique 3 vezes por semana.
De uma folha dessas, me encarrego eu com toda a confiança e prazer.
Nem são grandes os sacrifícios necessários: basta para estabelecê-la
124
Em minha opinião, o que basta ao governo é uma folha interessante pela sua hábil redação, o
que se dá sempre com política e administração e que a publique 3 vezes por semana.
De uma folha dessas me encarrego eu com toda a confiança e prazer.
Nem são grandes os sacrifícios necessários: basta para estabelecê-la uma despesa inferior a
4:000# e para mantê-la um auxílio de 1:200#
(...)
Com os Moderados de outro tempo o governo gastava ( a 2 números por ano)
Serviço de impressão _ 900#
Da Redação _ 900#
Agora tendo o trabalho e a despesa um terço [...] o sacrifício fará o mesmo.
Para a atividade política[tanto] aumentação que seja necessária dar-lhe mais alimento do que
três folhas por semana, então agaria um pouco mais, já para a folha diária, aumenta-se a
redação.
Mas isso só no caso das atividades política aparecer, nas proximações da eleição legislativa, o
que aliás não é presumível.
Para dar maior circulação à folha, assim não será necessária ver que os assinantes paguem,
mas sim que recebam e leiam. Nada mais fácil do que organizar listas de pessoas notáveis da
cidade e das províncias, imperativo em 1.200 nomes.
Se desses alguns pagarem, substituirá sua lista os nomes destes por outros, de modo que
sempre haja uma distribuição de 1.200 folhas gratuitas para corresponder a subscrição.
Agora o título da folha:
Acho que deve ser o “Três de maio”
Três razões por isso:
1º Aproveitaria a circulação já existente desta folha que distribuía 1.200 exemplares.
2º Facilitaria a administração, mantendo o meu crédito pessoal para com os assinantes a quem
em outubro e novembro [eu] fiz pagar o semestre dessa folha até 1 de abril, depois acabando
com ela em 24 de dezembro.
3º Exonerar-me de uma dívida de cerca de 1.200# que tenho de restituir aos assinantes desta
folha das assinaturas que eles pagaram adiantado.
Se quiser que seja Três de maio poderá continuar, já na Tipografia de Paula Brito, essa
quantia se montar até o fim do mês a tipografia da folha.
Se não quiser que seja Três de maio, então vejamos o título da nova folha; eu começarei logo
a redação, nesta administração não me poderei encarregar enquanto não me houver prestado
125
as contas justas com os assinantes, o que aliás, me é dificílimo ou por melhor dizer impossível
na atualidade. Pois se eu devo aos assinantes as folhas, os sustentadores dela que me devem
ainda está nas províncias.
Anexo nº 3
“Opinião Liberal” – ano II – 31 de outubro de 1867 – pág. 2
“Governo pessoal
No Diário Oficial de 25 do corrente vem publicado um artigo com o título – abolição
da escravidão no Brasil – o qual, declara o mesmo Diário Oficial, ter sido enviado desta
corte para o Jornal dos Economistas, que o deu a estampa em seu último número.
A importância que, desta arte, a folha do governo ligou ao artigo aludido,
transcrevendo-o em suas colunas, precedido de tão solene declaração, persuade-nos que ele
foi escrito debaixo das inspirações do ministério.
De outro modo não teriam sentido aquelas palavras, ou antes, deverão ser tomadas
como prova de rematada leviandade por parte do redator do órgão oficial.
Ora, esta ultima hipótese é manifestadamente inverossímil á vista do silêncio
aprobativo do governo, por quanto esta circunstância fez presumir que houve todo o critério
na publicação do artigo em questão, pela maneira e nos termos em que foi feita.
É por conseqüência fora de dúvida que as apreciações do Jornal dos Economistas
sobre o magno assunto da emancipação no Brasil, correm por conta e sob a responsabilidade
dos atuais senhores ministros.
Julgue-as agora o país, que nelas tem mais uma amostra do critério dos estadistas
que nos governam, e do modo como eles compreendem a dignidade dos seus cargos.
Basta reproduzir os seguintes trechos que só por si querem dizer muito:
“Não é nossa intenção antecipar os acontecimentos pelo que respeita a abolição da
escravidão no Brasil. A questão está na ordem do dia para o governo brasileiro: o imperador
126
trata dela, e o corpo legislativo, mais dia menos dia terá de apreciar e discutir as medidas em
globo e por menor...
Mas qualquer que seja a época em que haja de tratar o projeto, quaisquer que sejam
as combinações que adotar, há um fato certo, é que a solução não pode deixar de ser
próxima: estão contados os dias da escravidão, e o Brasil estará livre dela antes que se
levante o primeiro som do vigésimo século...
Só o que podemos dizer de antemão, a toda a gente conosco, é que o prazo será tão
curto quanto o permitir uma rigorosa justiça: a este respeito o desejo do soberano não é
duvidoso...
A resposta do imperador ao presidente da comissão francesa de emancipação,
resposta tão bela em sua simplicidade, parece autorizar e legitimar qualquer ação individual
ou coletiva, mas prudente, no sentido de ajudar desde já a ação oficial, mais ou menos tardia
por necessidade, em relação à emancipação”.
Eis ai perfeitamente apregoado o governo pessoal com aprovação dos grandes
estadistas da situação.
Se há lealdade neste procedimento dos homens da confiança ilimitada da coroa, é
força acreditar que o fato por nós condenado, vai-se desroupando das fachas da
dissimulação.
Assim é melhor.”
127
Imagem nº 1 Anúncio de fundição de tipos
Almanack Laemmert 1869 p. 25
128
Imagem nº 2 : Tipógrafo francês 1883.
Dictionaire de l'argot de typographiques suivi d'un choix de coquiles typographiques célèbres et curieuses
par Eugéne Boutmy corretcteur d'mprimerie, Flamario et Marpo, Paris, 1883.
http://fr.wikisource.org/wiki/Dictionnaire_de_l%27argot_des_typographes#I. Acessado em 09/11/ 2008.
129
Imagem nº 3
Opinião Liberal nº 2, Ano II, 12/06/1867 . p.4 Anúncio de assinaturas de 1867
Imagem nº4
“Opinião Liberal”. Ano IV. 1º de março de 1869. nº 17, p.4
130
Imagem nº 5
Opinião Liberal. 1869 Ano IV.Pág. 4
CHRONICA
Conferência radical – Realizou-se ontem, no lugar anunciado, a primeira Conferencia,
de que foi orador o dr. J.L. de Godoy Vasconcelos.
Assim, a idéia dessas reuniões, como o assunto da conferência foram aplaudidos pelo
numeroso e notável auditório ali reunido.
Gostaríamos que a constante prática dessas conferências produza grandes benefícios a
causa publica [...]
131
Imagens nº 6 e 7
Planta da região onde se localizava a Primeira Tipografia do Opinião Liberal
132
Imagem nº 8
Imagem aérea da região da Rua dos Sabão na cidade Velha
QUARTEIRÃO ENTRE AS RUAS GENERAL CÂMARA e SÃO PEDRO Este quarteirão fica exatamente na frente da Igreja da Candelária, escondendo-a por entre o casario. Somente com a derrubada das casas deste quarteirão, e com o fim das Ruas General Câmara( Rua do Sabão) e São Pedro, por volta de 1943, ficou possível se ver a Igreja da Candelária da forma que vemos hoje.
. Imagem do Quarteirão Do alto do Morro de São Bento, se vê o quarteirão formado pelo Trecho entre a Rua General Câmara ( Rua do Sabão) e a Rua de São Pedro, à frente da Igreja da Candelária. Imagem que data de 1830, pintada por Jean Baptiste Debret. http://www.hcgallery.com.br/cidade24.htm Acessado em 24/11/2008.
133
Imagem nº _9
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro Rio de janeiro. Arquivo Senador Nabuco IL 58. 56 O Conselho dos dez e seus dez mandamentos. Caricaturas de Francisco José Furtado, Bernardo de Sousa Franco, José Tomas Nabuco de Araújo, Zacarias de Góes e Vasconcelos, Francisco Otaviano de Almeida Rosa. Caricaturista desconhecido. 14, 5 x 17,5 cm [Rio de Janeiro] [s.d.]
134
Tabela Nº 1 Tipografias do “Opinião Liberal”
Ano Tipografia Vendas Preço
1866 C. A. de Mello
Livraria de Francisco Luis Pinto & Comp.
6$000rs na Corte e
8$000rs nas províncias
1867 C. A. de Mello
Livraria de Francisco Luis Pinto & Comp.
5$000 na Corte e 6$000 nas províncias por 6 meses
1868 C. A. de Mello até setembro de 1868, quando passa para a Tipografia Progresso
Mudança nos valores e periodicidade quando passou para a Tipografia Progresso:
Livraria de Francisco Luis Pinto & Comp. Até setembro quando não apresenta o local de vendas avulsas, as subscrições e reclamações no escritório de Rangel Pestana e na tipografia Progresso.
Para Corte: 3 meses:
3$000rsProvíncias:
6 meses:5$000rs
1 ano:10$000rs
Províncias:3meses:4$000
6 meses: 6$000
1 ano: 12$000rs
( três dias por semana)
1869
Tipografia do “Opinião Liberal”
Para Corte: 6 meses:5$000rs
1 ano:10$000rs
Províncias:3meses: 4$000
1 ano: 12$000rs
1870 Tipografia do “Opinião Liberal”
Corte: 1 ano: 8$000rs
Semestre5$000rs
Província :1 ano: 10$000rs e semestre: 6$000rs Avulso 200rs
135
Tabela nº2
Periódicos que circulavam na Corte no ano de 1866
Designação Nº de jornais
1866 1867 1868 1869 1870
Paquetes/ transportes
1 1 _ 1 _
Famílias 4 1 1 1 1 4
Medicina 2 _ 1 2 2 2
Política 6 6 2 2 5 2
Música/ Modinhas
6 4 2 6 6 (dança) 5
Religiosos 5 2 4 4 5 5
Caricaturas 3 3 _ _ _ _
Científico, literário, artístico
1 1 1 1 1 1
Político, Científico,
literário 2 1 _ 2 1 _
Literários 5 1 _ _ 5 2
Político- Literário
2 _ 1 2 _ _
Liberal 1 1 _ _ 1 1
Conservador 2 1 __ __ 2 _
Político, crítico e noticioso (
Pasquins) 11 2 2 4 1 11
Jurisprudência 2 1 3 1 1 2
Estrangeiro 3 4 4 3 4
Auxiliador da Indústria Nacional
1 1 1(anual) 1 1 1
Comércio 4 1 4 1 1 3
Variedades 6 5 6 8 6 6
Sociedade farmacêutica
1 _ 1 1 1 _
Tipografia 1 _ 1 _ _ _
Sociedade de Ensaios
Literários 1 _ 1 1 _ 1
Histórico 1 1 1 1 1 _
Oficial 1 1 1 1 1 1
Pedagogia 1 _ _ 1 _ _
Imigração 1 _ _ 1 _ 1
136
Artístico 2 _ _ 2 2 2
Arquivo Literário
Português 1 _ 1(mensal) 1 1 1
Caixeiral 1 _ _
_ 1 _
Revista Agrícola
1 _ _ _ 1 1
Politécnico _ _ _ 1 1
Das Tabernas 1 _ _ _ 1 _
Leitura para todos/
Biblioteca para todos
3 _ _ _ 1 3
Indústria e Artes
1 _ _
_ _ 1
Militar 1 _ _ _ 1 _
Dentária 1 _ _ _ 1 1
Agricultura 1 _ _ _ _ 1
Lavoura 1 _ _ _ _ 1
Maçonaria 1 _ _ _ 1
Partido Republicano
1 _ _ _ _ 1
Jockey Club 1 _ _ _ _ 1
Indústria Artes e economia
1 _ _ 1 _ 1
* Resultado de um levantamento por mim elaborado. Fonte: Suplemento do Almanack Laemmert
para os anos de 1867, 1868, 1869, 1870 e 1871 sobre o perfil das folhas em circulação a partir dos títulos.
137
Tabela nº 3 Periódicos publicados na Corte entre os anos de 1866 e 1870
Títulos Subtítulos Publicação entre 1866 e
1870
Valores Assinaturas/avulso
Assinatura/tipografia Diretor
Abelha Publicação mensal da
sociedade farmacêutica Brasileira
1867 a 1869 __________ __________ _______
O Acadêmico _______ 1869 _______ __________
__________
Álbum de Modinhas Brasileiras
_______ 1868 _______ R. da Ajuda, 113 __________
Novo álbum de modinhas brasileiras
Jornal Musical 1868 _______ Casa de Galpone
&Tornaghi R. do Ouvidor, 401
__________
A América Trata especialmente da
imigração, apontamentos sobre estatística
1868 _______ __________ __________
América do Sul
Periódico político, literário e noticioso-
Publica-se às quartas –feiras e domingos
1869 8$/ano
4$/semestre R. Nova do Ouvidor, 20
Carlos Bernardino de Moura
Annaes Brazilienses de Medicina
Jornal Mensal da Academia Imperial de
Medicina 1866 a 1870 6$/ano- não consta
R. da Alfândega, 106, sobrado
R. da Ajuda, 106 Dr. Gama Lobo
Apollo Jornal de Modinhas 1866 6$/ ano- não consta Trav. Do Ouvidor, 20- não
consta Não consta
O Apostolo Jornal religioso 1866 a 1870 Não consta Na sacristia da igreja de
São Pedro Não consta
Archivo do Retiro Literário Português
Mensal 1867 _______ __________
__________
Arte dentária Revista Mensal da
Cirurgia e da Prótese dentária
1869 10$/ano
12$/províncias R. do Ourives, 76
Dr. João Borges Diniz
Auxiliador da Indústria Nacional
______ 1866 a 1870 6$/ano Museu Nacional Não consta
Aurora Literária Publica-se semanalmente 1869 _______ RNova do Ouvidor, 20 __________
Ba-ta-clan _______ __________
__________
R. do Hospício, 133
R. da Ajuda, 18 ( 1869) __________
Bazar Volante Folha de caricaturas 1866
aos domingos 4$/trimestre R. Santo Antônio, 29 Não consta
Biblioteca para todos
Publicação Mensal 1870 _______ R sete de setembro, 46 A Félix Ferreira
O binóculo Dedicado aos teatros 1870
(terminou em janeiro)
_______ __________ __________
O Binóculo Satírico e ilustrado, mensal
1870 _______ R. sete de setembro, 146A __________
O Brasil Jornal scientífico, literário
e artístico 1866 8$/ ano
5$/semestre 3$/trimestre
R. do Carmo, 62, sobrado Duarte P. G. Pereira
e outros
Novo Brasil Jornal Político - Folha
política Liberal 1868 a 1870 _______ R Gonçalves Dias , 75 __________
Bons Exemplos Periódico das
Congregações de Filhas de Maria
1870 _______ R. Nova do Ouvidro, 18 __________
138
O Brasil constitucional* Partido Conservador
Jornal político, scientífico e literário
1866 _______ Trav do Ouvidor, 16 Um estadista
Brasil Histórico* Quatro nº com 32
páginas
Publicação Mensal ornada de gravuras
1866 a 1869
10$/ano
R. Gonçalves Dias, 75
Dr. Mello Morais
Brasil Musical
________ 1866 a 1870 8$/semestre R. do Ouvidor, 101 Não consta
Brazilian Immigrant and Agriculturist.
_______ 1867 10$/ano
5$/semestre 3$:trimestre
R dos Ourives, 56 W. C.
Emersom&C.B. Cencir
O Clamor da Agricultura ______
1870 (acabou em
julho) _______ __________ __________
Colibri Folha hebdomadária
destinada ao belo sexo 1870 _______ __________ __________
O Colombo _______
1868 _______ __________ __________
A Comédia Social Hebdomadário, popular e satírico, com caricaturas
1869 e 1870 8$/ano
4$500/semestre
R. do Rosário, 43/ Tipografia da R da Ajuda,
16 __________
Censor Político _______ 1866 _______ R. da Assembléia, 125/loja de livros do Largo do Paço
Não consta
Conselheiro das Damas
Jornal Musical 1868 _______ R da Assembléia, 125
Loja de musica de Januário da Silva Arvellos
Januário Arvellos
Correio da Lavoura
_______ 1870 _______ R. Nova do Ouvidor, 20 __________
Correio Mercantil _______ 1866 a 1867 Corte 24$/ano
Províncias 28$/ano R. da Quitanda, 55 J.A. Cardoso & cia
Correio Nacional Folha Política 1869 12$/ano
3$/trimestre
R. do Ouvidro, 87, 7 de setembro, 52 B e Nova do
ouvidor, 20
Henrique limpo de Abreu e Francisco
Rangel Pestana
Correio do Ultramar _______ 1866 a 1867 _______ R. do Rosário, 38 Dr. José Navarro
Villalba
Correspondência do Brasil
Jornal político e commercial, publicado nas línguas portuguesa, inglesa, italiana e alemã
1869 5$/trimestre R dos Ourives, 19
A Crença _______ 1867 _______ Tipografia R. do Sacramento, 10
__________
Crisálida Folha Scientífica e
literária cuja publicação foi interrompida em 1867
1869 _______ R. dos Ourives, 19
O Democrata Folha Política 1867 _______ __________
__________
Dezesseis de julho Folha Política,
sustentando os princípios conservadores
1869 _______ R Gonçalves Dias, 60 __________
Diário Commercial _______ 1867 4$/trimestre
13$/ano Trav. Do Ouvidor , 20
Alexandre José de Almeida
Diretório Commercial
Folha semanal 1870 2$/semestre R. Gonçalves Dias, 33 __________
Diário Oficial do Império
Publica-se todos os dias 1866 a 1870 3$/trimestre
R. da Guarda-velha, tesourarias da Fazenda/
Tipografia Nacional
Luiz Honório Vieira Souto
Diário do Povo _______ 1867 a 1868 20$/ano
10$/semestre 5$/trimestre
R. Gonçalves Dias, 60 Honório Francisco
Caldas
Diário do Rio de
Janeiro
_______ 1866 a 1870 20$/ano R. do Rosário, 84/tipografia
da empresa( Do Diário) Não consta
139
O Diabrete
Periódico humorístico dos “Mosqueteiros do Diabo”
1868 Avulso 40 réis R. Gonçalves Dias, 60 __________
Diário de Noticias 1870 1$/mês R Gonçalves Dias, 60
__________
Dom Pedro II
Revista comercial, scientífica, artística e literária - publicação
hebdomadária
1870 _______ R Gal. Câmara, 375 loja
( antiga r. do Sabão)
__________
Echo dos Romances Publica-se aos sábados 1867 2$/trimestre Tip. Thevenet&C.R da
Ajuda, 16 __________
Echo Juvenil Folha literária e
scientífica - bimensal 1870 _______ __________ __________
Echo de Roma Revista Mensal Religiosa,
Concílio Ecumênico do Vaticano
1869 6$ Corte
7$ Províncias R. da Quitanda, 30 __________
Echo Romântico Publicação semanal,
revista teatral 1869 400 réis por mês
R do Ouvidor, 27 B e 155 e Praça da Constituição, 64,
78, 85
José Antônio Ribeiro Junior
Echo Popular Folha Política e literária- Publica-se aos domingos
1866 7$/ano
2$500/trimestre R. da Assembléia, 73 Não consta
Economista do Brasil
Contendo artigos em português, inglês e francês
sobre civilização e economia
1869 _______ __________ Jorge Calliman
Estafeta Folha de anúncios de
comércio- Publica-se às quartas e sábados
1866 2$/trimestre R. da Ajuda, 16 Não consta
O Futuro Publica-se às quintas-
feiras 1869 3$/trimestre R. dos Ourives, 19 __________
Gazeta Acadêmica Redigida por estudantes
de Medicina 1870 _______ __________ __________
Gazeta dos Tribunais Publica-se em dias
indeterminados 1867 _______ __________ _________
O Guarda Nacional
Folha Hebdomadária ______ _______ __________ _________
O Guarany Folha ilustrada e artística 1870 _______
R. sete de setembro, 146A Cícero de Pontes
Heráclito Publica-se às quintas-
feiras 1867, 1868 _______ R. do Hospício, 91 _________
Idéia
Folha artística e literária 1869 _______ __________ __________
Illustração Anglo-americana
Impressa em Londres 1870 6$/trimestre
20$/ano R. do Hospício, 91 __________
L’Imparcial Jounal français, literaire, industriel et commercial,
annonces e avis 1866
10$/ano 4$/trimestre
R. Gonçalves Dias, 75 Victor Estibal
Imprensa Evangélica Jornal Religioso- Publica-
se aos sábados 1866 a 1870 1$500/trimestre R. do Hospício, 91 Não Consta
Jornal do Brasil Folha Política- Publica-se
às quartas e sábados 1866
3$/trimestre 6$/semestre
Trav. do Ouvidor, 20 Não consta
Jornal do Commercio Diário 1866 a 1870 24$/ano R. do Ouvidor, 65 Júlio Constantino Villeneuve
Jornal das Famílias ________ 1866 a 1870 10$/ano Corte
12$/ano Províncias R. do Ouvidor, 69 Não consta
Jornal das Galhofas
Papelucho, aristocrático 1870 _______ __________ “Dr. Mentira”
Jornal das Moças _______ 1870 4$/ano 1$/trimestre
R. Sete de Setembro, 18 e 22 A
__________
Jornal das Tabernas
Publica-se aos domingos 1869 _______ __________ __________
Jornal do Povo-Publica-se aos
domingos
________ 1866 7$/ano Ucharia do Paço, 33/R. do
Fogo, 83 Não consta
140
Kaleidoscópio Jornal Literário 1869 2$/trimestre R. do Ouvidor, 20 João Batista Dias da Silva
O Lobisomem Ilustração caricata 1870 3$/trimestre R. da Quitanda, 86 __________
La Gazete du Brésil
Journal Politique, commercial, agricole et litteraire- Publica-se 4
vezes por mês a chegada e saída dos paquetes
transatlânticos
1867 a 1868 16$/ano
9$/semestre 5$:trimester
Livraria de Fauchon & Dupont/R. São José, 33/
__________
A Luz
Folha literária e instrutiva Redigida pela associação de literatos e ornada de
vinhetas
1870
6$/ano
R. do Ouvidor, 155 _________
A Lealdade Folha Política- Publica-se
às terças-feiras 1867 3$/trimestre Tipografia R. do Rosário,
46
Thomé Madureira, Pessoa de Barros e
Carlos Lobo
Leitura para todos Publicação Mensal 1869 500 réis / mês __________ Joaquim G. Pires de
Almeida e Félix Ferreira
Lyra de Apolo Jornal de modinhaslendas recitativos –Publica-se aos
domingos 1869 500 réis /mês R. São Jose´, 73 _________
Minerva
Jornal Literário 1868 a 1870 _______ __________ _________
A Monarquia Jornal Político , literário e
noticioso 1870 _______ R Nova do Ouvidor, 18 _________
O Monitor Português
_______ 1866 _______ Trav. Do Ouvidor, 20 _________
O monitor do Povo
Folha Política 1866 _______ __________ _________
O Mosquito Jornal caricato e crítico – Publica-se aos domingos
1870 16$/ano 9$/semestre
R.Nova do Ouvidor, 18 _________
O Mundo da Lua
Folha Ilustrada e satírica 1870 4$/trimestre R dos Ourives, 76 _________
O Noticiador Curioso _______ 1867 5$ por 25 números R. da Quitanda, 27 J. A. Sepúlveda
Figueiredo
Novo álbum de modinhas Brasileiras
Jornal Musical 1870 _______ R do Ouvidor, 101 Felippone &
Tormaghi
Novo Mundo
Periódico Iluatrado 1870 10$/ano R da Saúde, 12 _________
Novo Ramalhete Periódico Literário, redigido por artistas
1868 8$/ano
3$/trimestre
R. do Sacramento, 40/Tipografia Viúva Paula
Brito _________
Nympha do Amazonas Periódico Musical, especialmente de
modinhas brasileiras 1866 _______ R. da Assembléia, 125, B
Januário da Silva Arvellos
O óculo de alcance
_______ 1870 _______ _________ _________
Opinião Liberal
Folha Política- Semanal 1866 a 1870 6$/ 9 meses Tip. da R. do Sabão, 130 Não consta
Órgão Caixeiral Publicação semanal que
tem por defender a briosa classe caixeiral
1869 _______ __________ _________
A Pacotilha Pitadas e carapuças, novidade e literatura
1866 3$500/trimestre Trav. Do Ouvidor, 20 Não consta
O Parlamentar
Órgão do Partido Liberal 1868 _______ __________ _________
Pedagogo Brasileiro Jornal de educação e instrução
1868 _______ _________ _________
Periódico dos Pobres Folha Hebdomadária 1870 _______ R. Sete de Setembro, 2 e
São José, 96 _________
A Pérola
Folha caricata 1870 _______ R. da Quitanda, 135 _________
141
Pharol da Verdade
Folha Política- Aparece duas vezes por semana
1866 _______ __________ _________
Pérolas e diamantes Coleção de Músicas para
piano 1868 __________ _________
O Progressista
Folha Política- Aparece indeterminadamente
1866 _______ R. São José, 14 _________
O Purgatório
Folha Política e literária 1866 _______ __________ _________
A Rabeca
Folha Caricata 1870 _______ R dos Ourives, 52 sobrado _________
O Radical Acadêmico Redigido por alunos da
escola de Medicina 1870 _______ __________ _________
A Reforma
Órgão democrárico 1869 a 1870 5$/trimestre R do Ovidor, 149 _________
A Regeneração Folha Política e literária 1867 a 1868 6$/ano R. do Ouvidor, 20 e do
Aterrado, 46 _________
Relógio Político
_______ 1868 _______ R. do Ourives, 137 _________
A República
_______ 1870 _______ R. 1º de março, 13 _________
Revista Agrícola
Do Imperial Instituto Fluminense de
Agricultura –Publica-se trimestralmente
1869 _______ R. do Lavradio, 148 Miguel Antônio da
Silva
Revista Fluminense Semanário noticioso, literário, Scientífico,
recreativo 1868, 1869
12$/ano 3$/semestre
R. da Quitanda, 27 Orsini Grinaldi Pereira do Lago
Revista do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro _______ 1866 4$/ano __________ _________
Revista do Jockey Club
_______ 1870 _______ __________ _________
Revista Jurídica ( in4º)
Jornal de Doutrina, legislação, jurisprudência e bibliografia- Publica-se
dois em dois meses
1867 a 1870 7$/seis meses
3$/avulso
Livraria Universal LaemmertR. do Ouvidor,
68
Dr. José da Silva Costa
Revista do Instituto Politécnico Brasileiro
_______ 1870 _______ __________ _________
Revista de Legislação e Jurisprudência
Jornal do Instituto da Ordem dos Advogados –
trimestral 1867 a 1870 4$/trimestre R. da Quitanda, 77 _________
Revista Médico Cirúrgica
Bi-mensal 1866 _______ __________ Dr. Autran Junior
Revista da Sociedade de Ensaios Literários
_______ 1867 a 1870 _______ __________ _________
Rio Commercial Journal
Publica-se na véspera da saída dos paquetes
transatlânticos 1867 a 1870 _______ R. do Hospício, 91 _________
O Salão
Álbum musical de dança 1869, 1870 _______ __________ _________
O Século Folha liberal e de utilidade geral
1869 4$/trimestre R. dos Ourives, 19 _________
Séc. XIX
Jornal Político, crítico e noticioso- Publica-se há três anos em tipografia
própria
1866 a 1869 _______ Tipografia própria “Propriedade do
primeiro voluntários da Pátria”
Semana Illustrada Jornal hebdomadário, ornado de caricaturas
1866 a 1870 5$/ trimestre/500rs
Largo de São Francisco, 16 _________
Sentinela da Liberdade
Folha política- Publica-se aos domingos
1869 5$/trimestre R. São José, 14 _________
O Sino de São Francisco de Paula
Publicação por cadernetas 1869 _______ R. dos Ourives, 19 _________
142
O Soldado e o marinheiro
Jornal militar 1869 1$500/trimestre Livraria de Nicolau Alves R. Gonçalves Dias, 54
_________
The Anglo- Brazilian Times
Political, litterary and commercial
1867 a 1870 11$/semestre 6$/trimestre
R. da Alfândega, 46 1867- R. do Sabão, 39
Willian Scully
The Brazilian Word
_______ 1869 _______ R. dos Ourives, 19 _________
O Trabalho Folha consagrada aos
interesses da indústria e das artes
1869 _______ __________ Reunião dos expositores
Tribuna Evangélica Publica-se aos primeiros e terceiros sábados de cada
mês 1866 a 1870 4$/ano
R. do Hospício, 91 e no Largo do Paço, C
__________
Trovador
Jornal de modinhas, recitativos, lundus, etc- Publica-se em folhetos
todos os meses
1866 a 1868 5$/ano 500 rs Tipografia da Ajuda, 106 __________
O Typographo
_______ 1867 _______ R. do Ouvidor, 20 _________
A Vida Fluminese Semmnário Illustrado
Joco-sério 1867 a 1870 5$/trimestre R. do Ouvidor, 59 _________
O Vigilante Publicação do Grande Oriente Brasileiro dos
Beneditinos 1870
10$/ano 6$/semestre
R. Gal Câmara, 170 __________
Voigt’s Shiping Intelligence
Publica-se às vésperas das saídas dos paquetes
1867 a 1870 _______ R. do Hospício, 91 __________
Voz do Cristão na Terra de Santa Cruz
Católico 1868 _______ R. Gonçalves Dias, 75 Dr. Mello Morais
William H. Weaver Agente de Jornais
nacionais e estrangeiros 1870 _______ R. 1º de março __________
X Publica-se nos dias 1 a 15
de cada mês 1867 a 1868 _______ R. do Hospício, 91 __________
Y
Publicação Semanária 1868 _______ __________ __________
Total: 142 periódicos
Fonte: Esta tabela é resultado de um levantamento feito por mim, utilizando as informações do Almanak Laemmert dos anos de 1867, 1868, 1869 1870 e 1871, cuja sessão tinha como título: Periódicos que se publicam na Corte Nota explicativa: Há lacunas nas informações prestadas, alguns periódicos não mais existiam quando foram mencionados no ano seguinte. Acessado em 15/08/2008.
http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/almanak/al1867 http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/almanak/al1868 http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/almanak/al1869 http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/almanak/al1870 http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/almanak/al1871
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