a importÂncia da gestÃo de resÍduos sÓlidos na construÇÃo … · 2.1 panorama dos resíduos...

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3 Talita Rodrigues Borba 1 José Eduardo Quaresma 2 RESUMO A maioria dos municípios ainda destina os resíduos de construção e demolição em lugares inadequados, como locais não licenciados, terrenos baldios e leitos de rios, sendo um grande agravante na gestão dos resíduos sólidos urbanos, haja visto que, os resíduos da construção civil são os resíduos que os municípios mais geram no decorrer dos anos. A partir das bases teóricas apresentadas, demonstrou-se a importância do gerenciamento dos resíduos de construção e demolição para a diminuição dos impactos ambientais urbanos ocasionados pelo setor da construção civil, ao mesmo tempo no qual, foi demonstrada a contextualização legal do gerenciamento dos resíduos da construção civil no passar dos anos. Analisou-se que o Brasil ainda tem muito que evoluir no que se refere à reciclagem de resíduos da construção e demolição, mas estudos de casos demonstram que o investimento na área é promissor e a tendência do mercado é aumentar a produção de produtos advindos da reciclagem, em especial no que se refere às políticas públicas de redução de custos. Através do procedimento metodológico de uma pesquisa bibliográfica, conclui-se neste trabalho de conclusão de curso que devemos priorizar a redução na geração dos resíduos, a reutilização dos mesmos, para então somente o resíduo ser encaminhado para as usinas de reciclagem, devendo os rejeitos deste processo serem destinados para aterros licenciados. Para um gerenciamento efetivo dos resíduos da construção civil, já na etapa do projeto da obra, deve-se estar atento a questões como a escolha dos processos de construção; a adoção de métodos de construções desmontáveis; o uso de pré-fabricados; a utilização de materiais recicláveis; a diminuição da utilização de pinos e adoção de encaixes; contratos que prevejam o recolhimento e redução de embalagens pelos fabricantes; e a capacitação dos funcionários. Palavras-Chave: Resíduos de Construção e Demolição. Gerenciamento de Resíduos. Usinas de Reciclagem. ABSTRACT Most properties still intended for construction and demolition in unsuitable places such as unlicensed sites, vacant lots and riverbeds, be a major aggravating factor in urban waste management, have seen construction waste are the ones that have more municipalities generate over the years. Based on the theoretical bases of enjoyment, an important management of the construction and demolition processes was 1 Graduanda em Engenharia Civil Universidade de Araraquara UNIARA. Departamento de Ciências da Administração e Tecnologia, Araraquara São Paulo, [email protected] 2 Docente e Orientador do Curso de Engenharia Civil UNIARA Engenheiro Civil e de Segurança do Trabalho pela Associação das Escolas de Engenharia Civil e de Agrimensura de Araraquara/ Mestre em Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da Universidade de São Paulo (USP) São Paulo, [email protected]. A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

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Page 1: A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NA CONSTRUÇÃO … · 2.1 Panorama dos Resíduos Sólidos da Construção Civil no Brasil A construção civil é uma grande geradora

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Talita Rodrigues Borba1

José Eduardo Quaresma2

RESUMO A maioria dos municípios ainda destina os resíduos de construção e demolição em lugares inadequados, como locais não licenciados, terrenos baldios e leitos de rios, sendo um grande agravante na gestão dos resíduos sólidos urbanos, haja visto que, os resíduos da construção civil são os resíduos que os municípios mais geram no decorrer dos anos. A partir das bases teóricas apresentadas, demonstrou-se a importância do gerenciamento dos resíduos de construção e demolição para a diminuição dos impactos ambientais urbanos ocasionados pelo setor da construção civil, ao mesmo tempo no qual, foi demonstrada a contextualização legal do gerenciamento dos resíduos da construção civil no passar dos anos. Analisou-se que o Brasil ainda tem muito que evoluir no que se refere à reciclagem de resíduos da construção e demolição, mas estudos de casos demonstram que o investimento na área é promissor e a tendência do mercado é aumentar a produção de produtos advindos da reciclagem, em especial no que se refere às políticas públicas de redução de custos. Através do procedimento metodológico de uma pesquisa bibliográfica, conclui-se neste trabalho de conclusão de curso que devemos priorizar a redução na geração dos resíduos, a reutilização dos mesmos, para então somente o resíduo ser encaminhado para as usinas de reciclagem, devendo os rejeitos deste processo serem destinados para aterros licenciados. Para um gerenciamento efetivo dos resíduos da construção civil, já na etapa do projeto da obra, deve-se estar atento a questões como a escolha dos processos de construção; a adoção de métodos de construções desmontáveis; o uso de pré-fabricados; a utilização de materiais recicláveis; a diminuição da utilização de pinos e adoção de encaixes; contratos que prevejam o recolhimento e redução de embalagens pelos fabricantes; e a capacitação dos funcionários. Palavras-Chave: Resíduos de Construção e Demolição. Gerenciamento de Resíduos. Usinas de Reciclagem.

ABSTRACT Most properties still intended for construction and demolition in unsuitable places such as unlicensed sites, vacant lots and riverbeds, be a major aggravating factor in urban waste management, have seen construction waste are the ones that have more municipalities generate over the years. Based on the theoretical bases of enjoyment, an important management of the construction and demolition processes was

1 Graduanda em Engenharia Civil – Universidade de Araraquara – UNIARA. Departamento de Ciências da

Administração e Tecnologia, Araraquara – São Paulo, [email protected] 2 Docente e Orientador do Curso de Engenharia Civil – UNIARA – Engenheiro Civil e de Segurança do Trabalho

pela Associação das Escolas de Engenharia Civil e de Agrimensura de Araraquara/ Mestre em Hidráulica e

Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da Universidade de São Paulo (USP) – São Paulo,

[email protected].

A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NA CONSTRUÇÃO

CIVIL

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demonstrated in order to reduce the urban environmental impacts caused by the construction sector. At the same time, a legal context of the waste management of the building over the years. It was analyzed that Brazil is still very evolutionist regarding the recycling of construction and demolition waste, but process studies show that the investment in the area is promising and the tendency of the market is to increase the production of products from recycling In particular, there is no need to reduce costs. Through the methodological procedure of a bibliographical research, it concludes in this work of conclusion of course that should prioritize the recycling of the residues, for their reuse, so that only the waste is sent to the recycling plants, and the tailings are being made for licensed landfills. For the dimension of the civil construction in the construction of a civil construction must be in the issue of processes of construction; the adoption of collapsible construction methods; the use of prefabricated; use of recyclable materials; Increase in the use of pins and inlet fittings; contracts for collection and reduction of packaging; and employee empowerment. Keywords: Construction and Demolition Waste. Waste management. Recycling

Plant.

INTRODUÇÃO

Os resíduos da construção civil são os resíduos mais gerados por um município

e devem ser tratados com seriedade, devido ao fato, de que a maioria das cidades

ainda destina os resíduos de construção e demolição em lugares inadequados. A

construção civil é de grande importância para o desenvolvimento econômico de

qualquer País, porém é responsável pela maior parte dos resíduos sólidos urbanos

gerados causando impactos ambientais na sociedade.

O acelerado processo de urbanização dos municípios e o crescimento

populacional têm influenciado no aumento significativo na geração dos Resíduos da

Construção Civil (RCC). Segundo a Associação Brasileira para Reciclagem de

Resíduos da Construção Civil e Demolição (ABRECON), cerca de 66% do volume dos

resíduos sólidos urbanos é proveniente dos resíduos da construção civil.

De acordo com o Art. 2º da Resolução Conama nº 307/2002 resíduos da

construção civil “são os provenientes de construções, reformas, reparos e demolições

de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e da escavação de

terrenos”. Esta mesma Resolução estabelece diretrizes sobre a reciclagem de

entulhos deste a etapa de acondicionamento dos resíduos até a disposição final

adequada, visando acabar com a destinação clandestina.

O resíduo de construção e demolição (RCD) é um dos grandes vilões do

ambiente urbano, sendo o entulho acumulado um vetor de doenças como dengue,

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febre amarela e proliferador de insetos e roedores. O descarte inadequado em rios,

córregos e lagos, elevam o seu leito, assoreando o mesmo, ocasionando enchentes

e riscos de desabamento de residências próximas ao local. A forma mais adequada

de destinação dos resíduos da construção civil é a reciclagem dos mesmos, haja visto

que, com a reciclagem os entulhos ocupam menos espaço nas áreas urbanas; é

utilizada menos água no processo; toneladas de recursos naturais deixam de ser

explorados; e a reciclagem trás renda e emprego para o município.

O agregado reciclado é comprovadamente mais barato que o agregado

convencional aumentando a produtividade da obra, além de ser mais sustentável por

deixar de retirar novos recursos naturais do meio ambiente. Os principais agregados

reciclados são: bica corrida; areia; pedrisco; brita I e brita II; e podem ser utilizados na

construção de calçadas, base asfáltica, concreto não estrutural, manilhas, tampa de

boca de lobo, blocos e bloquetes para piso, entre outros.

Observa-se que já existem casos de sucesso de Usinas de Reciclagem de

Resíduos da Construção e Demolição no Brasil. Como a Ureosasco em Osasco/SP,

que recicla 200 toneladas de resíduos por dia. Aproximadamente 1.300 caminhões de

entulho por ano destinam seus resíduos na usina. Outro caso de sucesso é a Usina

de Reciclagem de São José do Rio Preto/SP, em que, dentro da usina já existe uma

fábrica que produz 18 produtos diferentes que são utilizados na pavimentação da

cidade.

O investimento para iniciar a usina foi de um milhão de reais, sendo que a

prefeitura de São José do Rio Preto já recuperou o investimento inicial com a redução

dos custos na utilização dos agregados reciclados. Temos que destacar outro caso

de sucesso, o trabalho realizado pela RNV Resíduos, usina de reciclagem sediada em

Aparecida de Goiânia/GO, que recicla aproximadamente 3 mil m3/mês, quantidade

expressiva de resíduos que deixam de ser inapropriadamente destinados em aterros

sanitário, terrenos baldios, “bota fora”, para terem um destino nobre com a reciclagem.

Analise-se que o Brasil ainda tem muito que evoluir no que se refere à

reciclagem de resíduos da construção e demolição, mas estudos de casos

demonstram que o investimento na área é promissor e a tendência do mercado é

aumentar a produção de produtos advindos da reciclagem, principalmente no que se

refere às políticas públicas de redução de custos.

Este trabalho possui relevância para a sociedade por demonstrar a importância da

reciclagem dos resíduos de construção e demolição (RCD); e conscientiza a cerca

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dos impactos ambientais ocorridos pela má gestão dos recursos naturais, ressaltando

os métodos utilizados para o correto tratamento e destinação do RCD.

Este trabalho acadêmico visa apresentar de forma clara, alternativas

sustentáveis para a gestão dos resíduos de construção civil, objetivando a

conscientização dos leitores a cerca desta problemática urbana.

Este trabalho tem relevância legal por tratar-se de um requisito obrigatório para

a conclusão do Curso de Engenharia Civil da Universidade de Araraquara - UNIARA

para obtenção do grau de Bacharel em Engenharia Civil.

O tema deste trabalho acadêmico será referente a gestão dos resíduos da

construção civil. Dado o exposto e a preocupação acerca dos resíduos de construção

e demolição e o seu gerenciamento, temos as seguintes questões: Qual o panorama

que o país se encontra referente ao tratamento e a destinação final dos resíduos da

construção civil? Como funciona o processo de reciclagem de resíduos Classe A nas

usinas de reciclagem no Brasil? Quais as tecnologias utilizadas para o beneficiamento

destes resíduos da construção e demolição? Quais os principais produtos finais

advindos da reciclagem dos resíduos Classe A?

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Panorama dos Resíduos Sólidos da Construção Civil no Brasil

A construção civil é uma grande geradora de resíduos. Considerando a

preocupação ambiental que este setor da economia deve ter, o reaproveitamento dos

resíduos gerados deve estar no seu foco estratégico. Portanto, é preciso utilizar

estratégias de reutilização (reaplicação de um resíduo sem transformação),

reciclagem (processo de gerar novos materiais ao reaproveitar um resíduo),

beneficiamento (ato de submeter um resíduo a transformações para que possa ser

usado como matéria-prima em diversos setores ou produtos) ou, quando necessário,

definição de seu destino.

Desta forma, compreende-se por aterro de resíduos da construção civil a área

onde serão utilizadas técnicas de disposição no solo de resíduos da construção civil

Classe A (são aqueles reutilizáveis ou recicláveis como agregados), visando seu

reaproveitamento ou ainda futura utilização da área, valendo-se da tecnologia para

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confiná-los ao menor volume possível, sem causar danos ao meio ambiente ou à

saúde pública.

Figura 1 – Hierarquia do gerenciamento de resíduos

Fonte: NAGALLI (2014, p. 9)

A gestão dos resíduos da construção civil teve suas diretrizes, critérios e

procedimentos principais estabelecidos pela na Resolução CONAMA 307/2002 que

em seu Art. 2º, define os resíduos da construção civil como:

Os provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e da escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica etc., comumente chamados de entulhos de obras, caliça ou metralha (ART. 2º).

Estão também incluídos como resíduos da construção os resultantes da

escavação e da preparação de terreno, concretos em geral, solos, pavimento

asfálticos, rochas, tubulações e todos os entulhos de obra. O entulho, trata-se de

resíduos da construção civil, originados de demolições ou restos de obras que,

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normalmente, em função da ausência de cuidados com o gerenciamento dos

resíduos, costuma ser uma mistura heterogênea de materiais.

Os resíduos gerados na construção são os causadores por grande parte do

total de resíduos produzido nas cidades, a maior parte é disposto em bota-fora

clandestino, seja em terrenos baldios, córregos ou nas margens de rios, poluindo rios

e mananciais destinados ao abastecimento de água nas cidades, entupindo o sistema

de drenagem de água do município causando inundações, dentre outros. O descarte

irresponsável e ambientalmente incorreto de entulho ocasiona diversos problemas

para um município, entre eles, a proliferação de vetores causadores de doenças,

enchentes por causa do entupimento de galerias pluviais e poluição visual, entre

outros.

Para diminuir o efeito gerado pelos resíduos da construção civil, foram criadas

algumas regras que deverão ser seguidas nas diversas fases de execução da obra.

Para saber a melhor forma de tratamento e destino de cada tipo de resíduo a

Resolução CONAMA 307/2002 em seu Art. 3º classifica os resíduos da construção

civil em quatro classes:

Classe A – são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como: a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de infraestrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem; b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e concreto; c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto (blocos, tubos, meios-fios etc.) produzidas nos canteiros de obras; Classe B - são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como: plásticos, papel/papelão, metais, vidros, madeiras e outros; Classe C - são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem/recuperação, tais como os produtos oriundos do gesso; Classe D - são os resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como: tintas, solventes, óleos e outros, ou aqueles contaminados oriundos de demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros.

Faz-se necessário um tratamento especial para os resíduos de demolição já

que seus geradores usualmente não possuem qualquer influência sobre o processo

de segregação que acontece com os resíduos. Uma vez misturados, os resíduos de

demolição tornam-se de difícil separação. Outro agravante é que os materiais de

demolição são compostos por materiais obsoletos, em que, no seu processo produtivo

foram utilizados materiais e tecnologias que hoje não são mais utilizados, dificultando

muitas vezes o tratamento e a destinação destes resíduos. Assim, o gerenciamento

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destes resíduos ganha mais importância na medida em que os serviços de

desconstrução precisam utilizar ações de segregação de resíduos na fonte.

A clandestinidade acaba conseguindo seu espaço devido a falta e a

complexibilidade de fiscalização, as distâncias entre as áreas de recebimento e os

centros urbanos, a ausência de conscientização sobre os impactos originado no meio

ambiente e os gastos envolvidos no transporte. Observa-se que a prefeitura do

município acaba por arcar com o custo e a responsabilidade do descarte irresponsável

e ambientalmente incorreto de entulho dos geradores não identificados. Os geradores

dos resíduos deveriam internalizar os custos com o tratamento e destinação dos

resíduos da construção civil, ao invés do poder público arcar com estes custos

ambientais.

Devemos priorizar sempre a não produção de resíduos e em caráter secundário

enfatizar a redução, reciclagem, reutilização e a destinação final. A gestão dos

resíduos da construção civil está descrita no Art. 10 da Resolução CONAMA 307/2002

e deve ser conduzido de acordo com a classificação dos mesmos:

Classe A: deverão ser reutilizados ou reciclados na forma de agregados, ou encaminhados a áreas de aterro de resíduos da construção civil, sendo dispostos de modo a permitir a sua utilização ou reciclagem futura; Classe B: deverão ser reutilizados, reciclados ou encaminhados a áreas de armazenamento temporário, sendo dispostos de modo a permitir a sua utilização ou reciclagem futura; Classe C: deverão ser armazenados, transportados e destinados conformidade com as normas técnicas específicas; Classe D: deverão ser armazenados, transportados, reutilizados e destinados em conformidade com as normas técnicas específicas.

A reciclagem está diretamente ligada à redução do uso dos recursos naturais

(fontes de energia e matéria-prima), que já se encontram escassas, aos princípios de

sustentabilidade, não tendo a necessidade de que matérias primas sejam extraídas

desnecessariamente, porém a grande vantagem da reciclagem está na geração de

novos materiais que podem ser reutilizados na construção com as mesmas

características físicas da de origem, a tabela abaixo mostra o ciclo do processo de

reciclagem, e alguns dos materiais gerados após o processo.

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Figura 2 – Processo de reciclagem na construção civil.

Fonte: Adaptado de Hendriks (2000), Blumenschein R., 2004.

Observa-se que os insumos da construção civil são subdivididos em primário

ou secundário. Os insumos primários são os materiais “in natura” ou virgens, como a

areia ou a brita. Já os insumos secundários são aqueles que foram recuperados e

necessitam ser separados, e preparados antes de serem utilizados novamente, em

que, são comumente descritos como agregados reciclados. Vale a pena salientar que

o resíduo Classe A gerado em uma obra quase sempre poderá ser considerado como

matéria-prima secundária para ser reutilizada em outra obra ou na própria construção

civil em que foi gerado.

Para contextualizarmos os resíduos com a sua destinação, de acordo com

Nagalli (2014, p. 13), entende-se por aterro de resíduos da construção civil:

a área onde serão empregadas técnicas de disposição no solo de resíduos da construção civil Classe A, visando o seu reaproveitamento ou

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ainda futura utilização na área, valendo-se da tecnologia para confiná-los ao menor volume possível, sem causar danos à saúde pública ou ao meio ambiente.

O aumento desarcebado dos municípios tem gerado um grande problema para

a natureza, pois, toda obra independente da sua proporção gera entulhos da

construção civil, com o crescimento vem o aumento na demanda de matérias na

construção civil que sendo motivo de preocupação, segundo Rodriguez, Cohen, Ober,

& Archer (2014) dos resíduos gerados anualmente, 25 a 30% são representados pela

construção e demolição.

A geração de entulhos no ano de 2010 foi de 33 milhões de toneladas de

resíduos de construção e demolição segundo a Associação Brasileira de Empresas

de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE), porém de acordo com

associação este número e muito maior, pois a responsabilidade para com esse tipo

de resíduo é dos respectivos geradores e nem todos informam ás autoridades os

volumes gerados sob sua gestão.

Segundo a ABRELPE, no ano de 2014, mais de 41% dos Resíduos Sólidos

Urbanos (RSU), o equivalente a 29.659.170 toneladas foram depositadas

irregularmente em aterros controlados e lixões, oferecendo riscos ao meio ambiente

e a saúde. Entre 2010 e 2014, a produção de resíduos cresceu em 29%, cinco vezes

mais que a taxa de crescimento populacional no mesmo período (6%).

Cerca de 5.475 municípios brasileiros em um universo de 5.507 municípios

realizam o serviço de limpeza e/ou de coleta de resíduos sólidos urbanos, ou seja,

cerca de 99,41% dos municípios realizam a coleta, porém por outro caminho a

geração de RSU aumentou 1,7% gerando 79,9 milhões de toneladas, de 2014 a 2015.

Na última década (2005-2015) a geração de resíduos sólidos no Brasil cresceu mais

de 26%.

Observa-se que cerca de apenas 451 municípios possui um sistema de coleta

seletiva, nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste apenas 8,2% dos municípios

realizam a coleta seletiva. A geração de resíduos concentra nas regiões

metropolitanas, especialmente na região Sudoeste responsável por 77,32% dos

resíduos gerados, somente com os RCD e RSU com destinação errada geraram no

ano de 2015 125 milhões de toneladas de resíduos.

Com o aumento anualmente na quantidade de resíduos gerados, os municípios

são obrigados a investir mais para atender toda demanda, porém atender toda a

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demanda gera um custo muito alto, custo esse que vem seguindo sentido contrário ao

aumento na geração de resíduos, a ABRELPE destaca ainda que os municípios

destinem cerca de 5% com coleta de reciclagem, sofrendo reduções periódicas no

orçamento. Esse cenário mostra que, por exemplo, a limpeza urbana não pode mais

ficar englobada nos custos do município e, portanto, deve ser internalizada pelos

geradores, aplicando-se assim o princípio do poluidor-pagador, afirma o diretor-

presidente da ABRELPE Carlos Roberto Vieira da Silva Filho.

Em todas as fases de execução de uma obra ocorrem desperdícios de

materiais, gerando RCC de três formas diferentes. A primeira etapa de concepção é

normal ocorrer divergências entre o volume de material previsto e o volume de material

consumido na obra. A segunda etapa de execução gera-se entulhos através do

descarte fora da obra, e o desperdício usado na própria obra. As tabelas 2 e 3

apresentam as taxas de desperdícios de materiais e fonte geradora do RCC, onde fica

notória a diferença entre os valores mínimos e máximos, ocasionado pela falha de

projeto, execução, controle de qualidade das obras, dentre outros.

Tabela 1 - Taxas de desperdício de materiais

Materiais Taxa de Desperdício (%)

Média Mínimo Máximo

Concreto Usinado 9 2 23

Blocos e Tijolos 13 3 48

Placas cerâmicas 14 2 50

Revestimento têxtil 14 14 14

Eletrodutos 15 13 18

Tubos para

sistemas prediais 15 8 56

Tintas 17 8 24

Condutores 27 14 35

Gesso 30 14 120

Fonte: Lima et al. (2012)

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Tabela 2 – Fonte geradora e componentes do RCC em porcentual

Componentes Trabalhos

rodoviários

(%)

Escavações

(%)

Sobras de

demolições

(%)

Obras

diversas

(%)

Sobras de

limpeza (%)

Concreto 48 6,1 54,3 17,5 18,4

Tijolo - 0,3 6,3 12,0 5,0

Areia 4,6 9,6 1,4 3,3 1,7

Solo, Poeira,

Lama 16,8 48,9 11,9 16,1 30,5

Rocha 7,0 32,5 11,4 23,1 23,9

Asfalto 23,6 - 1,6 1 0,1

Metais - 0,5 3,4 6,1 4,4

Madeira 0,1 1,1 1,6 2,7 3,5

Fonte: Fernandez (2011) adaptada de Levy (1997).

A figura 3 exibe os valores porcentuais da origem do RCC, observa-se que os

valores referentes às reformas e maior que a metade dos RCC gerados, enquanto a

reforma engloba 59%, o porcentual de residências novas e prédios novos ficam com

41% desta fatia. (LIMA et al., 2012)

Figura 3 – Origem dos resíduos

Fonte: Lima et al (2012)

Com os dados da tabela 3 podemos observar que o fator argamassa

corresponde a quase 64% dos resíduos da construção, 30% dos materiais de vedação

(blocos, tijolos maciços, tijolo furado e telhas) e os outros 6% de (solo, pedra, concreto,

metálicos e plásticos).

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Tabela 3 – Composição média dos resíduos de construção

Elemento %

Argamassas 63,67

Tijolos maciços 17,98

Telhas, lajotas, entre outros 11,11

Concreto 4,23

Bloco de concreto 0,11

Ladrilhos de concreto 0,39

Cimento – amianto 0,38

Pedras 1,38

Solo 0,13

Madeira 0,11

Fonte: Neto (2005)

Os resíduos gerados na construção são responsáveis por grande parte do total

de resíduos produzido nas cidades, a maior parte é depositada em bota-fora

clandestino, nas margens de rios e córregos ou em terrenos baldios, poluindo rios e

mananciais destinados ao abastecimento de água nas cidades, entupindo o sistema

de drenagem de água do município causando inundações, dentre outros. O descarte

irresponsável e ambientalmente incorreto de entulho ocasiona diversos problemas

para um município, entre eles, a proliferação de vetores causadores de doenças,

enchentes por causa do entupimento de galerias pluviais e poluição visual, entre

outros.

2.2 Processo de Gerenciamento de RCC

Observa-se que fazem parte do processo de gerenciamento dos resíduos da

construção não só as construtoras, que promovem por meio de seus recursos

humanos, direta ou indiretamente, a geração e manipulação dos resíduos de uma

obra, como também diversos outros entes, igualmente responsáveis pela eficiência

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do processo, como os: geradores; transportadores; receptores; agentes licenciadores

e de fiscalização; fornecedores; entre outros.

Tendo-se em vista que a geração de resíduos de construção e demolição

(RCD) é inevitável e a política de “zero resíduos” é impossível de se alcançar, as ações

práticas são direcionadas para a sua minimização, sendo esta diretriz de redução da

quantidade de resíduos considerada a técnica mais eficiente. Além do próprio

benefício da redução dos resíduos, soma-se a essa diretriz a questão da redução dos

custos relativos a seu gerenciamento, transporte e destino final.

Uma das estratégias de gerenciamento é promover a prevenção qualitativa, ou

seja, escolher adequadamente materiais duráveis ou de fácil substituição que

possibilitem o seu reaproveitamento ou reciclagem, inclusive pelo usuário do

empreendimento, e que evitem a geração de passivos ambientais. Neste segmento

de mercado sempre surgem inúmeras opções de materiais alternativos, cada um

buscando determinada vantagem competitiva. Outra estratégia de gerenciamento é a

prevenção quantitativa, isto é, quando se adota processos na construção que são

mais “limpos”, mais industrializados ou pré-fabricados, que, aliados ao treinamento de

mão de obra, podem repercutir positivamente na redução das quantidades de

resíduos gerados, otimizando a produção.

Outra estratégia de gerenciamento é definir, incluindo a tendência tecnológica

e ambiental em longo prazo, quais os destinos mais nobres para os resíduos que

serão inevitavelmente gerados. Além disso, firmar parcerias no sentido de garantir que

tais destinos sejam economicamente viáveis. Os inadequados manejo e disposição

dos resíduos podem acarretar prejuízos ao meio ambiente e à saúde pública.

Gerenciar adequadamente os resíduos de processos construtivos poupa recursos

naturais e possibilita benefícios econômicos e sociais. Prática comum na área é

agrupar as práticas de gerenciamento em um Programa de Gerenciamento de

Resíduos Sólidos (PGRS), ou seja, um conjunto de estruturado de ações com o

objetivo de manejar adequadamente os resíduos de uma obra ou organização.

O Plano de Gerenciamento de Resíduos de Construção Civil - PGRCC precisa

ser realizado quando é dada entrada no licenciamento ambiental, mais

especificamente para obtenção da licença de instalação. De acordo com a Resolução

CONAMA nº 307/02 os geradores de resíduos da construção civil são responsáveis

pelos resíduos gerados e pelo seu correto gerenciamento.

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O PGRCC precisa ser realizado por profissional habilitado no CREA. Sob

responsabilidade do gerador dos resíduos o profissional habilitado deve emitir uma

ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) em que deve constar todo processo da

obra respeitando a hierarquia da gestão de resíduos, privilegiando a redução da

geração, a reutilização, a reciclagem, até o destino final adequado, seguindo todos os

requisitos de segurança do trabalho e saúde ocupacional.

O Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos - PGRS precisa ser realizado

seguindo as normas e leis vigentes, que fornece as ações básicas relativas ao manejo

adequado dos resíduos desde a geração dos mesmos até a destinação

ambientalmente correta. Faz-se necessário informar a geração diária de cada tipo de

resíduo solido na obra (kg/dia).

Outra ação extremamente importante é a prática da educação ambiental entre

seus operários e terceirizados. Este trabalho de conscientização pode ser realizado

por meio de palestras, campanhas e DDS (Discussão Diária de Segurança) visando o

entendimento de todos sobre o processo de coleta seletiva que deverá ser implantado

pelo PGRS. O responsável pela obra deve deixar organizado e a disposição dos

órgãos fiscalizadores todas as documentações pertinentes, incluindo a declaração de

contratação do sorviço de transporte e destinação final dos resíduos e suas

respectivas licenças ambientais.

Cabe ao PGRS tornar a gestão dos resíduos da construção civil eficiente, em

que, todas as etapas inerentes ao processo de construção de um empreendimento ou

organização deverão ser planejadas. No gerenciamento de resíduos da construção

civil todas as etapas deverão ser descritas como: quantidade e tipos de resíduos

gerados; tipos de acondicionamento e armazenamento temporário dos resíduos; tipo

de coleta interna; transporte externo licenciado; e destinação ambientalmente correto

ou a própria reutilização do resíduo dentro da obra. Portanto, quanto menor for a

geração de resíduos, mais fácil será gerenciá-los.

Todo PGRS deve seguir a hierarquia da gestão dos resíduos que

primeiramente objetiva a não geração dos resíduos e, posteriormente pela redução

de sua geração. A destinação é o último processo na hierarquia ods resíduos.

Segundo Nagalli (2014), na fase do projeto da obra, deve-se estar atento as seguintes

questões: escolha dos processos de construção; adoção de métodos de construções

desmontáveis; uso de pré-fabricados; utilização de materiais recicláveis; redução da

utilização de pinos e adoção de encaixes; contratos que prevejam o recolhimento e

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redução de embalagens pelos fabricantes; capacitação dos funcionários. Observa-se

que é obrigação do empreendimento fornecer capacitação aos funcionários sobre

questões como a segregação dos resíduos e a minimização na geração dos mesmos.

Observa-se que quase todo os resíduos contidos em uma caçamba de entulho

é totalmente reciclável e pode ser utilizado como matéria prima no próprio canteiro de

obra ou em outra obra. Portanto, faz-se necessário e é de extrema importância que

os geradores segreguem de forma correta os resíduos, com a devida qualidade

exigida conforme a classificação da Resolução CONAMA nº 307.

Figura 4 - Processo de reciclagem dos resíduos da construção civil

Fonte: Resíduos Sólidos (2017).

Após a separação do resíduo, os mesmos passam por um processo de

trituração, em que, possuem pouco valor econômico ainda. Porém, após o

peneiramento, ou seja, a separação por granulometria os resíduos separados

possuem um maior valor agregado. Os produtos finais advindos deste processo de

reciclagem são a areia com argila e areia de concreto; britas 0, 1 e 2; o rachão; e a

brita graduada simples (BGS) que é uma mistura de todos os produtos finais.

2.3 Usinas de Reciclagem

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Desde 1986 tem registros de usinas no Brasil, porém em 2002 com a

publicação da resolução do CONAMA o total de usinas instaladas aumentou muito

fazendo que a responsabilidade pelos resíduos gerados é dos geradores. Com esta

resolução, surgiu um novo cenário, onde começou a ser viável a criação de empresas

especializadas em RCD (resíduo de construção e demolição).

Na usina de reciclagem acontece a conversão do entulho em matéria-prima que

serão utilizadas na fabricação de novos produtos que poderão ser reutilizados ou

vendidos, fazendo deste processo um ciclo. Depois de recebido, os materiais vão para

o setor de triagem, onde serão separados de acordo com o resíduo que compõem o

entulho. Este processo é de suma importância, uma vez que muitos dos materiais

coletados e recebidos não são próprios para reciclagem, após a triagem, o material é

separado de acordo com o seu tamanho.

As usinas fixas predominam no Brasil, porém o uso das usinas móveis vem

crescendo muito. A construção de usinas de reciclagem representa um marco no

desenvolvimento sustentável e financeiro das regiões, podendo ser reciclado

materiais como: fragmentos de alvenaria de componentes cerâmicos, tijolos,

fragmentos de alvenaria de blocos de concreto, argamassas de cal, de cimento ou

mistas, de assentamento ou revestimento, fragmentos de pedra britada e de areia

naturais, etc.

A instalação de uma usina de reciclagem é um processo extenso e complexo,

pois depende da conscientização da população para seguir as normas estabelecidas

na separação do entulho reciclável ainda no canteiro de obra.

As usinas fixas de reciclagem de entulho são mais caras, pois há gastos com

pás carregadeiras para fazer o abastecimento, além de gastos como controle de

portaria e outras necessidades. Apesar das usinas fixas normalmente serem elétricas

e as móveis movidas a diesel, o custo operacional das usinas móveis sai mais

acessível, pois produzem, em média, de quatro a sete vezes mais, dependendo

menos de recursos humanos.

As usinas fixas são mais adequadas em cidades de médio e grande porte,

assim a usina pode receber grande quantidade de resíduos e vender o material

produzido. Esse material é reciclado produzindo agregados e são classificados em

diferentes granulometrias, normalmente areia, pedrisco, brita, bica corrida e rachão,

isso faz com que haja diversidade do público alvo, facilitando a venda dos agregados.

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Geralmente, essas usinas são construídas em grandes áreas, pois a área varia

em relação com a capacidade de processamento dos materiais, quanto maior a

capacidade, maior tem que ser a área para se construir.

Geralmente os equipamentos necessários para a fabricação dos produtos

reciclados são: uma britadeira de mandíbula; peneiras verticais; retroescavadeira; e

esteiras rotativas. Observa-se que habitualmente as usinas cobram um valor superior

quando as caçambas de resíduos chegam com uma mistura significativa no total do

volume da caçamba. Os motivos para este aumento no valor da destinação quando o

resíduo não é segregado são apontados a seguir:

Forma punitiva de educar o cliente;

A usina tem que utilizar equipamento próprio acarretando em custo;

A empresa é obrigada a utilizar mão de obra própria para separar o material;

Risco do equipamento quebrar britando material misturado;

O material não reciclável é destinado para aterro acarretando em custo para a

usina.

Habitualmente os caminhões chegam à usina e o resíduo contido na caçamba

é despejado no pátio, onde é feita uma avaliação qualitativa visual para identificação

de impurezas no material. Como supracitado a maioria das usinas tem uma tolerância

de material misturado ao resíduo Classe A, sendo que a maioria das empresas não

recebem resíduos perigosos Classe I; gesso; e solo vegetal.

Depois de realizada a avaliação, a pá carregadeira desfaz o monte de resíduos,

espalha no pátio e os ajudantes realizam a triagem manual do material, sendo que,

apenas o resíduo Classe A é direcionado para o britador; os resíduos Classe B, como

papelão, plástico, metal, vidro e madeira são separados e vendidos; os resíduos que

não são passíveis de reciclagem são destinados para o aterro sanitário mais próximo

para a disposição final destes rejeitos.

Os metais pertencentes aos resíduos de construção civil geralmente são

constituídos de cortes e sobras de barras e vergalhões de aço, parafusos, pregos,

latas, tiras metálicas de embalagens, concreto armado de demolição, etc. Em geral,

são tratados como sucatas, comercializados em ferros-velhos, derretidos e

transformados em novas peças. Em um primeiro momento o metal é separado

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manualmente, onde os ajudantes realizam a triagem manual do material. Em um

segundo momento o metal será segregado em uma esteira com imãs para segregar

os metais de menores proporções, para que este metal não danifique as britadeiras.

A reciclagem do metal da construção civil é importante para toda a reciclagem

dos resíduos de um município, haja vista que, os resíduos de construção e demolição

são os com maior volume em uma cidade. O correto é que fossem segregados na

fonte geradora, ou seja, nos canteiros de obra, porém, esta não é nossa realidade. Os

resíduos depositados nas caçambas geralmente são misturados entre outros grupos

além do Grupo A o que dificulta o trabalho das usinas de reciclagem.

Depois de realizada a triagem manual, o resíduo Classe A é transportado por

uma pá carregadeira até o alimentador, que consiste em uma calha vibratória que

separa as partículas finas dos materiais de maior granulometria. Por gravidade as

partículas finas são retiradas da calha e direcionadas para uma esteira até o local de

armazenamento deste material. Esta pilha de material já é um dos produtos finais e é

denominada areia com argila, ou areia vermelha.

Os resíduos maiores que passam pela calha vibratória são direcionados para o

britador de mandíbula que faz a trituração dos resíduos de granulometria maior sem

que se faça necessária a fragmentação secundária posterior. Depois do britador, os

resíduos fragmentados são transportados por uma esteira até as peneiras vibratórias.

No percurso da esteira estão distribuídos imãs, que realizam a separação de

pequenos pedaços de metais que passaram no processo de triagem manual. Estes

metais serão separados e armazenados junto com os metais separados manualmente

no começo do processo. Eles estarão aptos para serem destinados para reciclagem,

geralmente sendo vendidos para sucateiros.

O peneiramento dos materiais fragmentados é realizado por três peneiras

vibratórias que promovem a separação dos materiais em quatro granulometrias, que

são os produtos finais do processo de reciclagem.

Os produtos finais advindos do processo de reciclagem geralmente são: areia

com argila e areia de concreto; britas 0, 1 e 2; o rachão; e a brita graduada simples

(BGS) que é uma mistura de todos os produtos finais. De acordo com a maioria das

usinas de reciclagem de resíduos da construção civil são duas as principais

dificuldades enfrentadas para a operação das mesmas: as caçambas de resíduos

chegam muito misturadas na usina; as longas épocas de chuva inviabilizam a

operação da usina, ficando a mesma desativada nestes períodos.

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Já a usina móvel tem grandes vantagens em relação às usinas fixas, como: o

terreno que não será necessário para a implantação da usina móvel, a quantidade de

funcionários que na usina móvel normalmente pode ser operada com apenas um

funcionário, transformam os resíduos em produto final no próprio local onde gera o

entulho foi gerado, reduzindo gastos com transporte e destinação, além de

economizar na compra de agregados naturais.

Sendo composta por um maquinário móvel, capaz de atender as demandas do

canteiro de obra com agilidade, transformando em matéria prima com aplicação

imediata na construção. Devendo ser utilizadas em obras de médio e grande porte,

principalmente de infraestrutura e demolições.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das bases teóricas apresentadas, demonstrou-se a importância do

gerenciamento dos resíduos de construção e demolição para a diminuição dos

impactos ambientais urbanos ocasionados pelo setor da construção civil, ao mesmo

tempo em que, foi apresentada a contextualização legal do gerenciamento dos

resíduos da construção civil no decorrer dos anos. Analisou-se que o Brasil ainda tem

muito que evoluir no que se refere à reciclagem de resíduos da construção e

demolição, mas estudos de casos demonstram que o investimento na área é

promissor e a tendência do mercado é aumentar a produção de produtos advindos da

reciclagem, principalmente no que se refere às políticas públicas de redução de

custos.

Observou-se que a falta de segregação dos resíduos e o excesso de chuva são

as principais dificuldades enfrentadas pelas usinas de reciclagem para a operação das

mesmas, pois, os equipamentos de britagem podem quebrar; e faz-se necessário

despender tempo e mão de obra para separação dos resíduos. A solução mais viável

para a segregação na fonte geradora dos resíduos dos clientes das usinas é o trabalho

de educação e conscientização ambiental. Demonstrar para os geradores de resíduos

os benefícios ambientais e econômicos com a segregação logo após a geração dos

resíduos.

Este trabalho de conscientização pode ter efeitos positivos a curto prazo nas

grandes e médias construtoras clientes das usinas, porém, a maior dificuldade é com

os resíduos recebidos pelos pequenos geradores, haja visto que, as pessoas físicas

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e caçambas que ficam armazenadas na rua para acondicionar resíduos de pequenas

obras, não possuem nenhum gerenciamento ambiental e nem existe um

monitoramento sobre a segregação correta dos resíduos, ocasionando a mistura dos

mesmos.

Através do procedimento metodológico de uma pesquisa bibliográfica, conclui-

se neste trabalho de conclusão de curso que devemos priorizar a redução na geração

dos resíduos, a reutilização dos mesmos, para então somente o resíduo ser

encaminhado para as usinas de reciclagem, devendo os rejeitos deste processo

serem destinados para aterros licenciados. Para um gerenciamento eficaz dos

resíduos da construção civil, já na fase do projeto da obra, deve-se estar atento a

questões como a escolha dos processos de construção; a adoção de métodos de

construções desmontáveis; o uso de pré-fabricados; a utilização de materiais

recicláveis; a redução da utilização de pinos e adoção de encaixes; contratos que

prevejam o recolhimento e redução de embalagens pelos fabricantes; e a capacitação

dos funcionários.

REFERÊNCIAS

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INVESTIMENTOS E NOTÍCIAS. Brasileiros geram mais resíduos, apesar da crise. Disponível em:http://www.investimentosenoticias.com.br/reciclagem/brasileiros-geram-mais-residuos-apesar-da-crise. Acesso em: 19 de maio de 2019. FERNANDEZ, Jaqueline Aparecida Boria et al. Resíduos da construção civil. IPEA, 2011. Disponível em: http://www.cnrh.gov.br/projetos/pmrs/documentos/cadernos. Acesso em: 19 de maio de 2019. FINEP. Finep investe em projeto de gestão sustentável de resíduos sólidos urbanos. 2015. Disponível em:http://www.finep.gov.br/noticias/todas-noticias/4997-finep-investe-em-projeto-de-gestao-sustentavel-de-residuos-solidos-urbanos. Acesso em: 18 de maio de 2019. GIL, A. C. Como elaborar projetos de Pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002. LIMA, Rosimeire Suzuki et al. Guia para elaboração de Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil. Disponivel em: http://www.cuiaba.mt.gov.br/upload/arquivo/cartilhaResiduos_web2012.pdf. Acesso em: 20 de maio de 2019. MAGALHÃES, L. E. R.; ORQUIZA, L. M. Metodologia do Trabalho Científico: Elaboração de Trabalhos. Curitiba: FESP, 2002. MENDES, T. A., REZENDE, L. R., OLIVEIRA, J. C., GUIMARÃES, R. C., CAMAPUM DE CARVALHO, J., VEIGA, R. Parâmetros de uma Pista Experimental Executada com Entulho Reciclado. Anais da 35ª Reunião Anual de Pavimentação, 19 a 21 out. 2004, Rio de Janeiro – RJ, Brasil, 2004. 11 p. NAGALLI, A. Gerenciamento de resíduos sólidos na construção civil. São Paulo: Oficina de Textos, 2014. OLIVEIRA, J. C.; REZENDE, L. R.; GUIMARÃES, R. C.; CAMAPUM, J. C.; SILVA, A. L.A. Evaluation of a flexible pavement executed with recycled aggregates of constructionand demolition waste in the municipal district of Goiânia – Goiás. São Paulo, 2005. RESÍDUOS SÓLIDOS [2017]. Gerenciamento de Resíduos Sólidos [online].

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