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Universidade de Brasília-UnB Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da Informação e Documentação - FACE Programa de Pós-Graduação em Administração - PPGA ANA CAROLINA TORRES DE SOUSA A IMPORTÂNCIA DA DIVERSIDADE E OS DESAFIOS DA MULHER EXECUTIVA NUMA ORGANIZAÇÃO HOTELEIRA DO DISTRITO FEDERAL Brasília-DF 2008

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Universidade de Brasília-UnB

Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da Informação e Documentação - FACE

Programa de Pós-Graduação em Administração - PPGA

ANA CAROLINA TORRES DE SOUSA

A IMPORTÂNCIA DA DIVERSIDADE E OS DESAFIOS DA

MULHER EXECUTIVA NUMA ORGANIZAÇÃO

HOTELEIRA DO DISTRITO FEDERAL

Brasília-DF 2008

ANA CAROLINA TORRES DE SOUSA

A IMPORTÂNCIA DA DIVERSIDADE E OS DESAFIOS DA

MULHER EXECUTIVA NUMA ORGANIZAÇÃO

HOTELEIRA DO DISTRITO FEDERAL

Projeto de Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da Informação e Documentação (FACE), da Universidade de Brasília, como requisito parcial à obtenção do grau de Especialista em Administração.

Orientador: Prof. Dr. Marcus Vinícius Soares Siqueira

Este trabalho é dedicado aos meus pais José Herculano

e Elizabeth, à minha irmã Angélica, à minha Tia Rê, à

Tia Eliane e ao meu namorado Eduardo, que me

apoiaram desde o início na minha mudança para Brasília

e nessa luta de conciliar trabalho e especialização, me

prestando todo o apoio necessário para que eu

conseguisse realizar mais esse sonho.

AGRADECIMENTOS

Este trabalho não foi apenas para concluir a Especialização, mas marcou o início de

uma nova etapa em minha vida. Conciliar trabalho e estudos num ritmo tão intenso como

foram os anos de 2007 e metade de 2008, não foi uma tarefa fácil, pois tive que renunciar a

presença de muitas pessoas, entre outras coisas (como noites bem dormidas) e atividades que

muito aprecio. Mas isso que fez ser uma pessoa ainda mais dedicada, mais forte e capaz de

vencer os desafios, além de ter o prazer de adquirir conhecimentos essenciais para mim:

acadêmicos, profissionais e de experiência de vida. Agradeço a todos que estiveram por perto

(alguns mesmo estando longe) e que, de alguma forma, me apoiaram nessa trajetória. E

agradeço especialmente:

A Deus, pela força que me deu quando pensei que não conseguiria.

Aos meus pais que sempre desde a infância me apoiaram me ensinando a importância

do estudo e os sacrifícios que fizeram para que eu pudesse concluir a graduação e a pós-

graduação. E também a toda minha família que faz parte de tudo isso.

Ao meu namorado, que esteve sempre ao meu lado me ajudando em aspectos técnicos

e principalmente tendo amor, paciência, carinho, sempre me estimulando, etc.

Aos meus “amigos-irmãos” de infância, de faculdade e de vida!

A todos os professores da Pós, que me proporcionaram vários conhecimentos, em

especial ao meu Professor Orientador, Dr. Marcus Vinicius Soares Siqueira e ao Professor

Cláudio Torres, pelas aulas interessantes que nos proporcionaram e que foi base para o meu

interesse por este estudo. Marcus, OBRIGADO pelo apoio prestado durante a realização deste

estudo.

A todos os meus colegas que de alguma forma me ajudaram e me incentivaram nos

momentos de stress, e no apoio e comprometimento nos trabalhos, principalmente a Rita, a

Fátima, Bianca, Andréa, Larisse, Alan e Ariel.

A toda equipe da secretaria do Programa de Pós-Graduação em Administração da UnB

pelo apoio durante a realização do curso.

A empresa pesquisada que abriu suas portas para a realização deste estudo.

E, a todas as mulheres que participaram desta pesquisa, meu MUITO OBRIGADA

pelo tempo despendido, pela paciência e pelo apoio na conclusão deste trabalho.

RESUMO

Esta pesquisa teve por objetivo analisar a visão das mulheres sobre os desafios em ser mulher

executiva em uma organização hoteleira brasileira localizada no Distrito Federal e se insere na

área dos estudos organizacionais que trata das questões referentes às relações de gênero no

ambiente de trabalho de forma a compreender como as mulheres se percebem em uma

organização hoteleira e como lidam com os diversos desafios que lhe são apresentados. Foram

realizadas entrevistas com seis mulheres executivas, funcionárias de uma organização

hoteleira brasileira e foi possível verificar que para uma mulher executiva ter sucesso em uma

organização hoteleira ela precisa mostrar que é muito competente, da mesma forma que o

homem e que trabalhar em um hotel se torna um desafio a mais do que teriam em outro tipo

de organização, pois requer delas muita dedicação, em especial em relação à disponibilidade

de horário, apresentando dificuldades e desgastes em conciliar o papel profissional com os

demais: mãe, esposa, estudante, etc., de forma que um destes últimos não fica bem assistido.

Também foi identificada a necessidade da organização definir e praticar políticas mais claras

em relação à valorização da diversidade e, em especial, a valorização de pessoas portadoras

de deficiência.

Palavras-chaves: diversidade, organizações, preconceito, discriminação, mulher, mulher

executiva, relações de gênero, gestão de pessoas.

SUMÁRIO

1. Introdução........................................................................................................................ 6

2. Fundamentação teórica.................................................................................................. 9

2.1. Diversidade cultural nas organizações...................................................................... 9

2.1.1. Considerações iniciais quanto à diversidade nas organizações............................ 9

2.1.2. O papel da gestão da diversidade nas organizações............................................ 12

2.2. A questão de gênero e suas interfaces...................................................................... 18

2.3. Preconceito e discriminação nas organizações........................................................ 24

2.4. A mulher no mercado de trabalho........................................................................... 27

2.5. As gerentes nas organizações.................................................................................... 34

3. Metodologia................................................................................................................... 38

3.1 A organização estudada.............................................................................................. 38

3.2 Caracterização da pesquisa....................................................................................... 38

3.3 Delimitação do estudo................................................................................................. 39

3.4 População e amostra................................................................................................... 40

3.5 Instrumento de coleta de dados................................................................................. 40

3.6 Processo de coleta de dados....................................................................................... 41

3.7 Procedimento de análise de resultados..................................................................... 42

4. Apresentação e discussão dos resultados.................................................................... 43

4.1. A percepção sobre a valorização da diversidade e da mulher

executiva no ambiente de trabalho.................................................................................. 44

4.2. Os desafios em ser mulher executiva em uma organização hoteleira................... 48

4.3. O tratamento às mulheres na organização e experiências de

preconceito e discriminação............................................................................................ 52

4.4. Expectativas e sonhos profissionais.......................................................................... 57

5. Considerações finais...................................................................................................... 59

6. Referências..................................................................................................................... 64

APÊNDICE A ................................................................................................................... 73

6

1. INTRODUÇÃO

Com o advento (ou fenômeno) da Globalização e a percepção da diversidade como um

elemento capaz de gerar o maior potencial competitivo para as organizações, vários estudos

têm sido feitos sobre diversidade. Apesar disso, muitas organizações ainda não perceberam a

diversidade como algo positivo, deixando de usufruir as vantagens que essa pode oferecer.

Devido a esse fenômeno, não só as barreiras entre nações foram reduzidas, mas

aumentou também a movimentação entre países de trabalhadores de diversas origens

geográficas, o que causou inúmeras mudanças na força de trabalho mundial. Além disso, a

globalização econômica e de mercados aumentou as oportunidades de se trabalhar com

grupos mais heterogêneos em termos de raça, gênero, orientação sexual (HANASHIRO e

GODOY, 2004).

Com isso, a mulher vem definindo, ultimamente novo papel para si mesma na

sociedade e nas organizações. Elas têm lutado cada vez mais por seus direitos e têm

conseguido desempenhar funções de maior relevância nas empresas. Porém, muitas

organizações ainda não as valorizam da maneira como merecem e não lhes dão oportunidades

para mostrarem todo seu potencial.

Para se compreender como a mulher é tratada nas organizações faz-se necessário,

primeiramente, entender como as organizações lidam com a diversidade como um todo. Com

o mundo se tornando cada vez mais globalizado e as empresas possuindo empregados,

clientes e fornecedores de nacionalidades, raças e culturas diferentes, é importante que o

assunto diversidade faça parte do dia-a-dia das organizações, sendo cada vez mais requerido

na condução dos negócios. A crescente globalização e a tendência de diversificação da força

de trabalho colocam o gerenciamento da diversidade na agenda da maioria dos líderes

empresariais (COX, 1991).

No Brasil, segundo Fleury (2000), o assunto diversidade ainda é recente na agenda dos

executivos, apesar do contexto cultural diversificado em que atuam as empresas no país,

fazendo surgir aos poucos a preocupação com o tema. Segundo a autora, em um primeiro

momento, essa preocupação surge nas subsidiárias de empresas estrangeiras, por pressão da

matriz, e vem ligada à necessidade de gerar vantagens competitivas.

O processo de criação de diversidade nas empresas não se dá de forma harmônica e

nem de forma justa. Criar diversidade nas organizações, muitas das vezes, pressupõe ir contra

vários mecanismos de controle impostos pelas organizações por meio das relações de poder e

7

das desigualdades das relações de gênero, expressas principalmente através da discriminação,

divisão sexual do trabalho, diferenças salariais e de oportunidades, assédio moral e sexual,

etc.

Abordagens mais recentes expressam a necessidade de se levar em consideração o

aumento da diversidade étnica e de gênero dentro das organizações (WORREN et al, 1999). É

importante ressaltar que esse aumento não se dê apenas em termos de aumento de

representação das mulheres dentro das organizações, mas através da compreensão da

importância da diversidade nas organizações, em se ter processos de admissão, promoção,

exercício de funções e de remuneração mais justos, visando também o combate à

discriminação dentro das organizações.

Diante da crescente importância da valorização da mulher na sociedade e nas

organizações, além do correto gerenciamento da diversidade, este estudo pretende, sob a

percepção da mulher executiva, responder à seguinte pergunta de pesquisa: Quais são os

desafios em ser mulher executiva numa organização hoteleira do Distrito Federal?

Com este estudo pretende-se conhecer e relatar os desafios em ser uma mulher

executiva em uma organização hoteleira do Distrito Federal. Com o intuito de atender ao

objetivo geral, são apresentados os seguintes objetivos específicos verificar qual a visão das

mulheres em cargos de supervisão (responsáveis por área) quanto: ao gerenciamento da

diversidade na organização em que trabalham; sobre as dificuldades de acesso a cargos

gerenciais pelas mulheres; e demais dificuldades que as mulheres enfrentam ao trabalhar

nesse tipo de organização;

A escolha desse tema como objeto de estudo deve ao fato de que ao analisar o

comportamento da força de trabalho feminino no Brasil nos últimos anos, podemos verificar a

intensidade e a constância do seu crescimento. As mulheres têm desempenhado papel mais

relevante do que os homens no crescimento da população economicamente ativa, embora

ainda ocupando hierarquias inferiores às dos homens (BRUSCHINI, 2000). Para Fleury

(2000, p.25), o tema da diversidade cultural assume relevância no país, devido a refletir uma

sociedade com muitas desigualdades sociais, de forma a “avançar essas questões num país

que se quer democrático.”

Além disso, a escolha de uma organização hoteleira brasileira para servir de base para

este estudo deve-se ao fato de que existem poucos estudos em organizações hoteleiras e em

especial sobre a mulher executiva. Existem poucos estudos brasileiros no que diz respeito á

diversidade, sendo a literatura em sua maioria americana e em menor escala canadense

(HANASHIRO; CARVALHO, 2003).

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Assim, a escolha deste tema torna-se relevante à medida que contribui para o maior

entendimento sobre a inserção das mulheres no mercado de trabalho, a ascensão profissional

destas e em especial dos desafios da mulher executiva nos dias atuais.

9

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. Diversidade Cultural nas Organizações

2.1.1. Considerações Iniciais Quanto à Diversidade nas Organizações

Segundo Nkomo e Cox (1991, apud SILVA, 2006), a diversidade tem sido

particularmente importante para o entendimento das relações entre as equipes de trabalho,

referindo-se a todas as diferenças individuais entre as pessoas – isto é, todos são diferentes,

espelhando o individualismo que estrutura muitas idéias sobre as organizações.

Caldas e Wood Jr (1999) falam da diversidade como um tema complexo, ainda pouco

tratado nas literaturas brasileira e internacional. A própria textura sociocultural brasileira é

complexa e multifacetada, influenciando as organizações e a forma como são geridas.

Compreender e dar respostas à questão da diversidade cultural implica necessariamente

abordá-la de forma interdisciplinar e multidisciplinar, cujos conceitos centrais encontram-se

na psicologia, na sociologia e na antropologia. Hanashiro e Carvalho (2003, p.3) também

utilizam a expressão Diversidade Cultural: “estes estudos criaram uma base do que se

convencionou chamar na literatura e nas empresas de Diversidade Cultural e Gestão da

Diversidade Cultural.”

Fleury (2000) utiliza a expressão Diversidade Cultural e a define:

A diversidade é definida como um mix de pessoas com identidades diferentes

interagindo no mesmo sistema social. Nesses sistemas, coexistem grupos de maioria

e de minoria. Os grupos de maioria são os grupos cujos membros historicamente

obtiveram vantagens em termos de recursos econômicos e de poder em relação aos

outros. Verificamos, assim, que o tema diversidade cultural pode ser estudado sob

diferentes perspectivas: no nível da sociedade, no nível organizacional e no nível do

grupo ou indivíduo. Os padrões culturais, expressando valores e relações de poder,

precisam ser referenciados e analisados em todos os níveis. (FLEURY, 2000, p.20).

Segundo Fleury (2000), há muitos aspectos a serem considerados quando o assunto é

diversidade, como gênero, raça, origem, etnia, língua, religião, idade, experiência de vida,

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grau de instrução, estado civil, deficiência física, e muitos outros onde se destacam grupos

diferentes de pessoas e o assunto pode ser tratado de diferentes perspectivas. Para Fleury

(2000, p.20), a diversidade pode ser estudada “no nível da sociedade, no nível organizacional

e no nível do grupo ou indivíduo”. Para efeito deste estudo, será enfocada a diversidade de

gênero nas organizações.

A diversidade inclui todos, não é algo que seja definido por raça ou gênero. Estende-

se à idade, história pessoal e corporativa, formação educacional, função e

personalidade. Inclui estilo de vida, preferência sexual, origem geográfica, tempo de

serviço na organização,status de privilégio ou de não privilégio e administração ou

não administração (THOMAS apud NKOMO e COX JR., 1999, p. 334-335).

Alexim (1999) apresenta o conceito de diversidade sob duas óticas: a das empresas e a

da sociedade. No primeiro caso, a partir do interesse econômico, visa adequação a um

mercado mais exigente em termos de imagem e desempenho, com eficiência e compromisso

social; e no segundo caso, visa à superação das práticas discriminatórias e de exclusão.

A questão da diversidade vem ganhando ênfase e notoriedade nos estudos sobre

comportamento organizacional, com foco especial em como administrá-la. A diversidade

pode ser compreendida como uma variedade de pessoas com identidades diferentes se

relacionando no mesmo ambiente social. Ocorre que nos grupos, em geral, maiorias e

minorias coexistem, os primeiros historicamente buscando vantagens em termos de recursos

econômicos ou até mesmo sociais, pelo poder, em relação aos últimos. Em uma sociedade

como a brasileira onde existem inúmeros problemas de injustiça, argumenta-se que a gestão

da diversidade torna-se importante e altamente promissora, no sentido de representar

instrumento de inclusão social, constata Fleury (2000).O motivo que levou e têm levado as

empresas a adotarem o programa diversidade pode variar desde a responsabilidade social até a

tentativa de tornar o ambiente mais inovador, arraigado com perfis diferentes.

Segundo Bryan (1999, Apud SILVA 2006, p. 12), a diversidade requer, assim, um tipo

de cultura organizacional em que qualquer empregado possa apresentar aspirações de carreira

sem impedimentos por questões de gênero, raça, nacionalidade, religião, ou outros fatores não

relevantes para o seu desempenho profissional.

Assim, como dizem Torres e Pérez-Nebra (2004),

a diversidade cultural nas organizações significa a inclusão de pessoas de diferentes

culturas, raças, gênero, orientação sexual, classe social, nacionalidade, estilos e outros

11

atributos, como, por exemplo, pessoas com diferentes modos de produção ou níveis de

comprometimento. (TORRES; PÉREZ-NEBRA, 2004, p.460).

A Diversidade Cultural nas organizações significa a inclusão de pessoas com

diferentes culturas, nacionalidades e outros atributos. Ela reconhece, reforça e valoriza as

diferenças (TORRES, 1996). Essas diferenças são expressas por meio de: idade, etnia, gênero,

habilidade física, raça e orientação sexual (que podem ser entendidas como dimensões

primárias1), e também por meio de: educação, estado civil, religião, renda, localização

geográfica, filiação e experiência de trabalho (entendidas como dimensões secundárias1).

Segundo Torres (1996, p.5), “A diversidade cultural não emerge no sistema legal,

como as leis que versam sobre discriminação, por exemplo [...] Diversidade Cultural é

dirigida para criação, ao invés de ser uma reação a situações, como são as leis contra

discriminação [...] A diversidade cultural focaliza todas as pessoas na organização: homens,

mulheres, brancos, todas as raças e grupos étnicos, etc.”.

Segundo Cox (1994), diversidade cultural é uma representação de pessoas que, com

diferentes identidades grupais num sistema social, têm significações culturais distintas.

Afirmam Torres e Pérez-Nebra (2004, p.444) que os indivíduos se identificam e se

classificam em diversas categorias sociais, e, devido a vários fatores situacionais, algumas

categorias se sobressaem mais do que outras em alguns momentos. De acordo com os autores,

se as organizações permitem que Mulheres, Negros, Indígenas, Homossexuais e Deficientes

Físicos expressem as diferentes visões que têm sobre trabalho, formas de desenhar processos,

alcançar metas, estruturar tarefas, criar equipes de trabalho efetivas, comunicar idéias e

liderar, eles podem ajudar as organizações a crescer e a melhorar.

Jackson e Ruderman (1996 apud SILVA, 2006) enfatizam que a categoria de

diversidade é construída dentro de três domínios: o primeiro, baseado em gênero, etnia e

idade, denominaram de diversidade demográfica; o segundo, baseado em valores, crenças e

conhecimento classificaram como diversidade psicológica; e, por último, o baseado em tempo

de casa, ocupação, nível hierárquico, chamaram de diversidade organizacional.

Hanashiro e Carvalho (2003, p. 12) afirmam que: “É possível se observar que o

conceito de diversidade traz em seu cerne a valorização do “diverso” e as suas implicações

para o negócio. As empresas desenvolvem internamente suas próprias definições, políticas e

práticas de diversidade, adequando-as às suas respectivas condições e necessidades

1 Loden, Marilyn & Rosener, Judy B. (1991). Workforce América! Business One Irwin, p. 392-393.

12

corporativas”. A diversidade pode ser concebida como uma forma de se aumentar a

efetividade da organização e ao mesmo tempo criar novas relações e postos de trabalho dentro

da mesma. Assim, podendo melhorar o clima organizacional, levando a organização a ter

mais acessos a novos segmentos de mercado, aumentando a produtividade (THOMAS e ELY,

1996).

2.1.2 O papel da Gestão de Diversidade nas Organizações

A gestão da diversidade cultural nas organizações apresenta-se como possibilidade a

ser considerada, tendo em vista que ela visa tornar o ambiente organizacional mais

harmonioso e salutar. Essa filosofia de gestão surgiu nos EUA, quando as organizações

americanas perceberam que a diversificação crescente da força de trabalho e as necessidades

de competitividade exigiam uma maior atenção para o quadro que estava emergindo. Como

pontua Fleury (2000, p.20) a partir de um enfoque mais pragmático que “a gestão da

diversidade cultural foi uma resposta empresarial à diversificação crescente da força de

trabalho e às necessidades de competitividade”. Alves e Galeão-Silva (2004) acreditam e

expõem que a partir do momento em que a contratação de pessoas vindas de minorias tornou-

se inevitável, as empresas começam a incorporar a diversidade em suas práticas de gestão de

forma a se anteciparem aos conflitos.

Atualmente, é crescente o número de organizações que utilizam o recurso da

diversidade para alcançar seus objetivos e metas organizacionais, admitindo-se que o local de

trabalho e a diversidade possuem uma nova interpretação, não sendo mais aceitos atos

discriminatórios, conforme aponta Lockwood (2005, apud SILVA, 2006).

Segundo Cox (1994, p.11), a administração da diversidade cultural significa planejar e

executar sistemas e práticas organizacionais de gestão de pessoas de modo a maximizar as

vantagens potenciais da diversidade e minimizar as suas desvantagens. Cox (1994), também

demonstra a relevância da diversidade cultural para as organizações é a crescente ênfase nos

mercados globais e nos negócios multinacionais, e entender os efeitos da cultura no

comportamento humano é crucial para o sucesso nos negócios das companhias

multinacionais, o qual depende muito de mercados estrangeiros.

Na visão de Cox (2001) gerenciar a diversidade significa entender os seus efeitos e

implementar práticas e procedimentos de trabalho que respondam a tais resultados de maneira

13

positiva. Portanto, a diversidade cultural, antes considerada apenas uma questão a ser

enfrentada moral e legalmente, passou a representar uma vantagem para o aumento da

efetividade organizacional e da produtividade e para o enriquecimento da cultura

organizacional.

Em uma sociedade com graves problemas de justiça, como a brasileira, há quem

defenda que a valorização da gestão da diversidade teria um aspecto altamente positivo por

representar iniciativas promissoras de inclusão social (FLEURY, 2000). Ainda segundo esta

autora “o conceito de diversidade está relacionado ao respeito à individualidade dos

empregados e ao reconhecimento desta; gerenciar a diversidade implica o desenvolvimento

das competências necessárias ao crescimento e sucesso do negócio” (Op. Cit. P.23).

Segundo Silva (2006, p.15),

Da conformidade à inclusão, esse importante conceito está crescendo nos ambientes

de trabalho diversificados. De muitas maneiras essa evolução reflete a valorização

de um ambiente de trabalho onde todas as pessoas poderão ser tratadas com

dignidade e respeito. Os valores da igualdade, respeito e oportunidade para todos

representam o alicerce da diversidade no local de trabalho. A busca por essa cultura

inclusiva que possibilite aumentar ao máximo os benefícios de uma mão-de-obra

diversa em um mercado variável torna-se, portanto, imperiosa. (SILVA, 2006, p.15)

Conforme Hanashiro e Carvalho (2004) a literatura sobre diversidade é na maioria

americana, e em menor volume, canadense, em razão das fortes pressões dos grupos étnicos e

das minorias, inclusive nas organizações. Organizações que empregam a diversidade cultural

nos seus quadros de pessoal podem obter maior produtividade. Este aspecto é defendido pelos

estudos de Richard (2000 apud ROMERO; FINAMOR) e por Robbins (2004) traz a idéia

também de que um bom gerenciamento pode assegurar a permanência dos funcionários na

empresa.

Para Gotcher (1999 apud RESZECKI, 2001) as empresas estão se conscientizando

sobre os benefícios de se manter um quadro de se manter um quadro de administradores

qualificados e variados quanto ao gênero, raça, etc. Dentre estes benefícios pode-se destacar:

as diferenças de perspectivas, experiências, estilos de comunicação e também com a

representação da diversidade dentro de seu setor e entre os seus clientes. Aponta ainda o

gerenciamento da diversidade como um desafio à empresa “que se propuser a conhecer seus

funcionários e a utilizar a diversidade de seus grupos (gênero, raça, religião, preferência

sexual, habilidades, etc.) a seu favor, de forma que se torne mais competitiva.”, uma vez que

14

através do conhecimento dos grupos, o seu gerenciamento e conseqüente aproveitamento se

convertem em vantagem competitiva.

Segundo o Instituto Hudson (apud SILVA, 1998 apud RESZECKI, 2001, p.20), há

pelo menos duas tendências para o próximo milênio:

...as mulheres continuarão a aumentar sua representatividade no mercado de

trabalho, e a globalização tende a incrementar as relações de trabalho entre os países.

Essas duas tendências indicam que a administração da diversidade cultural deverá

fazer parte do planejamento das empresas, de forma que estas entendam a

diversidade presente em seu ambiente e utilizem da melhor maneira a capacidade de

cada um. (INSTITUTO HUDSON, apud SILVA, 1998, apud RESZECKI, 2001, p.

20)

Em relação às vantagens dessa tendência de aumento de representatividade das

mulheres no mercado de trabalho, pode-se dizer que o empoderamento das mulheres incide

positivamente na produtividade econômica, na promoção da saúde, na mudança da educação

das gerações futuras e na construção de uma cultura de paz2.

Segundo Cox e Blacke (1991), até então, a vantagem competitiva que a diversidade

poderia trazer estava associada somente às questões de responsabilidade social. Segundo esses

autores as organizações que fracassam em fazer mudanças necessárias para manterem

empregados de diferentes grupos e valores em seus quadros podem sofrer uma significativa

desvantagem competitiva quando comparadas àquelas que o fazem. Os seguintes pontos

estariam diretamente ligados às vantagens de se contratar mão-de-obra diversificada: custo,

contratação de recursos humanos, marketing, criatividade, resolução de problemas e

flexibilidade organizacional.

Segundo esses autores, a não adoção de práticas que contemplem a diversidade

acarreta maiores custos para as organizações, tendo em vista que o nível de satisfação no

trabalho é freqüentemente menor entre as minorias. Frustrações com a carreira e conflitos

culturais com os grupos dominantes provavelmente são os principais fatores associados aos

níveis de insatisfação. Além disso, o turnover e o absenteísmo são também mais freqüentes

entre mulheres e minorias raciais do que entre os homens brancos. Entre as mulheres, há uma

maior tendência a sair do emprego do que entre os homens. A primeira razão para pedirem

demissão, segundo pesquisas, é a falta de oportunidade de crescimento na carreira ou a

insatisfação com as taxas de progresso (COX; BLACKE, 1991). Em relação à vantagem de 2 State of Word Population 2005: The Promisse of Equality. New York: UNFPA, 2005.

15

competitividade nos custos, segundo Cox e Blake (1991), criando-se oportunidades iguais de

ascensão, implantando-se medidas como creche no local de trabalho, horários flexíveis, etc.,

poderia ocorrer diminuição no turnover e absenteísmo, reduzindo assim os custos. Em relação

a recursos humanos, enfatiza a atração e retenção de empregados de diferentes grupos

demográficos. O marketing emerge como o terceiro ponto relevante para a competitividade e

que seria potencializado por trabalhadores de culturas diversificadas em uma organização.

A criatividade constitui o quarto atributo da competitividade, diretamente ligado à

diversidade do ambiente de trabalho, favorecendo o desempenho de equipes. Nesse sentido,

times de trabalho heterogêneos estariam mais propensos à criatividade e inovação (COX;

BLACKE, 1991). Relata o fato de diversas companhias apostaram em times heterogêneos,

reconhecendo que uma multiplicidade de opiniões precisa ser trazida para alavancar a

resolução dos problemas. Afirmam que o sucesso das empresas depende do desenvolvimento

de uma “consciência das diferenças” nos grupos heterogêneos. Sendo assim, o treinamento

constitui um elemento fundamental para as mudanças organizacionais focadas no

gerenciamento da diversidade. É importante destacar que a similaridade entre os membros do

grupo também é desejada, de forma que os mesmos compartilhem alguns valores e normas

para que promovam ações coerentes com as metas organizacionais.

No gerenciamento da diversidade, a flexibilidade organizacional melhora

significativamente quando tratam das mulheres e das minorias raciais, havendo evidências de

que os mesmos tendem a ter especialmente uma estrutura cognitiva flexível. Além disso,

mulheres normalmente são mais tolerantes com a ambigüidade do que os homens (COX;

BLACKE, 1991). Deve-se levar em consideração que a tendência da diversidade não

administrada pode levar ao conflito intergrupal exaltado entre os membros de grupos

majoritários quanto minoritários e podem reduzir, potencialmente, os resultados afetivos do

trabalho para os membros de ambos os grupos (COX, 1993).

Hanashiro e Queiroz (2005) as pessoas hoje estão mais cônscias de suas diferenças e

desejam vê-las respeitadas e valorizadas. Ainda segundo as autoras, muitos administradores

incrivelmente têm patrocinado essas mudanças porque estão percebendo que os programas de

diversidade ajudam, assegurando a criatividade, gerenciamento, valorizando e influenciando a

força de trabalho que conduzirá à eficiência organizacional e sustentará a competitividade.

Segundo as autoras essas mudanças não se caracterizam como modismo, mas é uma

preocupação social, ética e moral, com reflexos dentro da organização.

Segundo Lockwood (2005, apud SILVA, 2006), grupos diversos possuem

necessidades, e eles querem suas necessidades encontradas e reconhecidas. Afirma que uma

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comunicação visível e com responsabilidade é a chave para alcançar uma mão-de-obra

diversa e competitiva e que a empresa se beneficia por uma menor rotatividade e maior

produtividade. Ressalta que a diversidade deve constar na agenda das reuniões executivas e

conferências da companhia e que as políticas de diversidade devem ser expressas através de

compromissos claros e diretos devendo ser divulgados por toda a organização.

Jackson e Joshi (2001, apud SILVA, 2006), apontam que as práticas de gerenciamento

da diversidade vêm objetivando primordialmente restringir, senão, eliminar os atos

discriminatórios. Direcionaram suas pesquisas para a diversidade doméstica e internacional.

Historicamente ambas as diversidades são independentes de cada uma, contudo nas

organizações os dois tipos de diversidade são incrivelmente importantes. Segundo constatou

esse autor, a primeira pesquisa durante esse período objetivou a ajudar esses empregadores a

desenvolverem políticas e práticas pessoais anti-discriminatórias, com o desenvolvimento de

práticas de abordagem legalmente defensivas para a tomada de decisões de pessoal. Assim,

passaram a considerar a diversidade além da ótica do custo legal e burocrático e fizeram

mudanças nos locais de trabalho de forma a promover um ambiente mais confortável para os

empregados e fazendo com que estes pudessem utilizar suas habilidades, contribuindo com

isso para a organização.

Vários outros autores também compreendem que uma diversidade bem administrada é

um excelente ativo para o desempenho organizacional como Dadfar e Gustavsson (1992),

Kundu (2003); Cox, Lobel e MacLeod (1991); Mendes (2004).

Segundo Thomas (1996, apud FLEURY, 2000, p.20):

a gestão da diversidade cultural implica adotar um enfoque holístico para criar um

ambiente organizacional que possibilite a todos o pleno desenvolvimento de seu

potencial na realização dos objetivos da empresa. Não é um pacote com soluções

prontas nem um programa para resolver a questão da discriminação e do

preconceito. (THOMAS, 1996, apud FLEURY, 2000, p.20)

Assim, vê-se como é necessária uma política de gestão da diversidade objetivando

principalmente administrar as relações de trabalho, as práticas de emprego e a composição

interna da formação de trabalho a fim de atrair e reter os melhores talentos,

independentemente de raça/cor da pele, credo, sexo, ou qualquer outra característica pessoal.

Podemos citar como referências das ações em prol da diversidade e em especial da

mulher no Brasil: a Convenção 111 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre a

discriminação nas relações de emprego, ratificada pelo governo local em 1965; Conferência

17

International Labour Organization (ILO), em 1995, que o governo solicitou a ajuda da ILO

para a formulação e implementação de políticas para promover a igualdade nas oportunidades

de emprego e tratamento (Ministério do Trabalho do Brasil, 1996; International Labour

Organization); o Programa Nacional de Direitos Humanos criado em 1996. Em 2003, foi

criada a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) com a missão de formular e

articular, no âmbito do Governo Federal, políticas que contribuíssem para construir no Brasil

uma sociedade em que a desigualdade de gênero e em Dezembro de 2004, através do

pronunciamento da ministra Nilcéa Freire, da SPM, em rede nacional de emissoras de rádio e

TV, o Governo Federal lançou o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM)3,

depois a SPM criou o programa Pró-Eqüidade de Gênero que tem a parceria do Fundo de

Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (UNIFEM) e da Organização

Internacional do Trabalho (OIT).

Até o momento essas práticas destinaram-se ao setor público, mas existem projetos

que se estendem ao setor privado. O Fundo das Nações Unidas para a educação, Ciência e

Cultura (UNESCO) em sua Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural afirma em seu

Artigo 11 (Identidade, Diversidade e Pluralismo) que é fundamental estabelecer parcerias

entre o setor público, o setor privado e a sociedade civil, tendo em vista que: “As forças do

mercado, por si sós, não podem garantir a preservação e promoção da diversidade cultural,

condição de um desenvolvimento humano sustentável. Desse ponto de vista, convém

fortalecer a função primordial das políticas públicas, em parceria com o setor privado e a

sociedade civil.”.

Segundo Fleury (2000, p.21), “o interesse das empresas brasileiras na gestão da

diversidade cultural é também recente, surgiu nos anos 90. É importante observar que,

movidas por questões de mercado, algumas empresas já estão implementando estas políticas

de forma voluntária no Brasil, antes mesmo de uma legislação específica que regulamente as

políticas de ação afirmativa no setor privado, procurando um diferencial competitivo frente às

demais, contribuindo para reduzir as diferenças existentes no mercado de trabalho. O

interessante é que as empresas brasileiras, sendo sua grande maioria subsidiária de empresas

americanas, é que colocariam em evidência a prática da ação afirmativa. Fleury (2000, p.18)

diz que é devido à “pressão da matriz, num primeiro momento e, em seguida, ligado à

necessidade de criar vantagens competitivas desenvolvendo competências diversas”. Podemos

3 Dados da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres

18

citar por exemplo a fábrica da Ford em Camaçari- BA (Heringer, 1999); Monsanto, IBM,

Gessy Lever e Lucent (REVISTA EXAME, set/2000). Segundo Instituto Ethos de

Responsabilidade Social -relatório Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores

Empresas do Brasil e Suas Ações Afirmativas (Pesquisa 2007) - registrou o aumento no grupo

de empresas que dizem desenvolver alguma ação afirmativa em prol da diversidade e da

eqüidade (de 52%, em 2005, para 79%, em 2007) e um salto nas indicações sobre o tipo de

ação adotada em cada empresa.

Para Fleury (2000), “o conceito da diversidade cultural adotado por essas companhias

é ainda bastante restrito, incorporando apenas o gênero e, timidamente, a raça.”. Torna-se

necessário ainda uma política de gerenciamento da diversidade mais abrangente.

2.2. A questão de Gênero e suas interfaces

Para Macêdo (2004) Gênero é uma categoria de análise ainda em construção e permite

uma abordagem das dimensões sócio-econômicas e das relações existentes entre os seres

humanos. Tem o propósito de desnaturalizar as categorias homem e mulher, no sentido de

indicar uma rejeição ao determinismo biológico. Segundo Grossi (2000 apud MACÊDO,

2004), o campo de estudos que hoje, no Brasil, denomina-se de gênero ou relações de gênero

surgiu nos anos 1970-1980, em torno da problemática da condição feminina. Através da

influência do movimento feminista, acreditava-se que os problemas enfrentados pelas

mulheres deveriam ser pensados e discutidos pelas mesmas sem a presença dos homens de

forma a assegurar o direito da palavra as mulheres.

É importante distinguir gênero de sexo, conforme Strey (1997, apud ROMERO;

FINAMOR, 2007), sexo é um sistema multivariado e seqüencial, incluindo o lado

cromossômico, hormonal, fetal, gonadal e morfológico, distinguindo fisiológica e

biologicamente a mulher do homem. Por outro lado, o conceito de gênero é considerado como

uma categoria de construção sócio-histórica, e emergiu nas últimas décadas do século XX,

inicialmente dentro dos movimentos feministas (PETERSEN, 1999, GUEDES, 1995, STREY

1997, LINS, 1997 e LOURO, 1997 apud ROMERO e FINAMOR, 2007).

Em meados dos anos 1980, a historiadora Scott definiu: “gênero é um elemento

constitutivo de relações sociais fundadas sobre diferenças percebidas entre os sexos, e o

primeiro modo de dar significado às relações de poder” (SCOTT, 1990, p.14).

19

Para Pinto (1992, p. 171 apud TEZZA, PERUSSELO e SOBOLL, 2007, p.7), é o sexo

que orienta a divisão de papéis no universo social:

“As mulheres são moldadas para reconhecer como naturalmente seu o espaço do

privado, de tal forma que suas escolhas profissionais e sua orientação fundamental

de vida giram num movimento de retorno ao centro doméstico, quaisquer que sejam

as atividades no lar ou fora dele a que se dediquem, bem como a classe social a que

pertençam”. (PINTO, 1992 apud TEZZA, PERUSSELO e SOBOLL, 2007, p.171).

Tezza, Perussello e Soboll (2007, p.7) falam que “isso explica, em parte, a dificuldade

de ascensão da mulher dentro das empresas, já que o exercício de cargos estratégicos exige

maior tempo e disposição”.

Na década de 1990, o uso dessa categoria era restrito ao mundo acadêmico e aos

grupos feministas e de mulheres. Hoje, encontra-se disseminado em vários contextos e

lugares.

Macêdo (2004, p.2) aponta que substituir os estudos de mulher pelos de gênero

significa, “valorizar a diferença, ressaltar a eqüidade e destacar as relações de poder, visto que

o exercício da autoridade masculina é tão universal que chega a ser aceito por muitas

mulheres e homens como natural”. Ressalta que embora freqüentemente reforçada pela força

física, a autoridade não é um atributo biológico, mas sim “um comportamento aprendido, um

privilégio, uma recompensa, uma conquista legítima ou arbitrária, dada ou tomada. Os

homens são socializados para exercer a autoridade, as mulheres são socializadas para se

submeter a ela.”.

Para Macêdo (2004, p.2),

gênero implica uma relação que, na maioria das vezes, o que é masculino é mais

valorizado, conseqüentemente, as relações de gênero produzem uma distribuição

desigual de poder, autoridade e prestígio entre as pessoas, de acordo com o seu sexo.

As relações de gênero são relações de poder que se constroem constantemente ao

longo da história e no dia- a- dia entre homens e mulheres, mulheres e mulheres,

homens e homens. (MACÊDO, 2004, p. 2)

Louro (1998, p.22) defende uma ênfase no aspecto social, destacando a importância da

construção social e histórica produzida sobre as características biológicas, sem negar a

biologia. Para ela, “as justificativas para as desigualdades precisariam ser buscadas não nas

20

diferenças biológicas, mas sim nos arranjos sociais, na história, nas condições de acesso aos

recursos da sociedade, nas formas de representação”.

Para Scott (1995, p.86), o conceito de gênero é composto por duas proposições.

Primeiramente, “o gênero é um elemento constitutivo das relações sociais baseadas nas

diferenças percebidas entre os sexos”, e segundo: “o gênero é uma forma primária de dar

significado às relações de poder”.

Este conceito é reforçado pelos estudos de Bourdieu (1999 apud ROMERO;

FINAMOR, 2007) sobre a dicotomia das oposições permanentes, opostos que se são

semelhantes nas diferenças para se sustentarem reciprocamente, transportando a divisão

sexual do trabalho para ao mundo social. Assim, o espaço público (trabalho) passa a ser de

domínio dos homens e o espaço privado (doméstico) das mulheres. Bourdieu inclui ainda a

biologização do social, que se reproduz nos corpos e nas mentes dos homens e mulheres,

explicando e naturalizando as diferenças e as desigualdades.

O conceito de masculinidade e de feminilidade é um constructo sob as raízes

patriarcais. A continuidade da socialização reforça a construção da feminilidade e da

masculinidade, seguida pela escolha do projeto profissional. Segundo Strey (1995 apud

ROMERO; FINAMOR, 2007) o processo de formação do projeto profissional inicia desde

cedo e passa por influências familiares, religiosas, políticas e econômicas, tomando mais

vigor na adolescência, e no início da vida adulta. Existem, mesmo nos dias de hoje, as

chamadas profissões “masculinas” e “femininas”, apresentadas nos estudos de Romero (2001

apud ROMERO; FINAMOR). Desta forma a escolha profissional é feita sob pressões que

consideram ou não “socialmente aceitáveis certas carreiras ou empregos”.

Assim, ainda existe uma diferença, tanto no significado, como no reconhecimento do

trabalho para homens e mulheres. Referindo-se ao trabalho das mulheres, Strey (1995, p. 98

apud ROMERO; FINAMOR, 2007) salienta: “o trabalho das mulheres muitas vezes é apenas

um apêndice do trabalho masculino”. Os homens são estimulados a buscar uma profissão, as

mulheres aceitam empregos, segundo Strey (1995 apud ROMERO; FINAMOR, 2007) como

outra forma necessária para contribuir nas despesas, não mais importante do que o trabalho

doméstico. Para as mulheres, construir uma carreira, sem desistir do papel de mãe é integrar

papéis potencialmente conflitivos.

Izquierdo (1994 apud CAPELLE et. al. p. 4)

justifica a ocorrência da diferenciação entre sexo e gênero como uma maneira de

distinguir as limitações e capacidades implicadas pelas características sexuais

21

biológicas particulares, dos padrões de identidade, modelos, posições e estereótipos

moldados pelas características sociais, psíquicas e históricas. Tais padrões e modelos

são construídos por uma dada sociedade em um determinado momento e ditam

como a pessoa deve ser e agir. (IZQUIERDO, 1994, apud CAPELLE et. al. , p.4)

Hirata (1999) também fala sobre a diferenciação técnica feita no trabalho e relata que

ela evidencia a divisão por sexos, sendo que alguns dos trabalhos centrais vinculados a cargos

de chefia são usualmente ocupados por homens e os periféricos, são legados as mulheres.

(HIRATA, 1999 apud CAPELLE et. al. p. 4-5).

Para Kergoat (1996 apud CAPELLE et. al., p.5), a divisão sexual do trabalho:

trata-se de um pretexto muitas vezes utilizado pela sociedade para hierarquizar as

atividades entre homens e mulheres. Dessa forma, o conceito de relações sociais de

gênero, deve ser pensado de forma particular, mas, ao mesmo tempo, de forma não-

fragmentada, pois tais relações existem em todos os lugares e em todos os níveis do

social. Ao se relacionar o conceito de relações de gênero à noção de prática social,

possibilita-se a periodização histórica dessas relações, a qual é capaz de evidenciar

as formas que a interação social entre homens e mulheres adquire ao longo do

tempo. (KERGOAT, 1996, apud CAPELLE et. al., p. 5)

Segundo Capelle et.al. (2004, p.5) pode-se inferir, contudo, que “apesar das

transformações nos papéis das mulheres e dos homens, tanto no meio familiar e privado, quanto

no meio de trabalho e público, ainda existem e podem ser notados desequilíbrios entre o

masculino e o feminino em vários aspectos.

Fonseca (2000 apud BOURDIEU, 1999 apud CAPELLE et. al., 2004, p.9) argumenta

que as mulheres “podem passar a agir de maneira a buscar possíveis benefícios advindos dos

jogos de poder, apesar de ainda estarem à margem desse espaço onde a masculinidade se

afirma e se realiza”.

Segundo Capelle et.al. (2004) “percebe-se, portanto, que a perpetuação da dominação

masculina assume conotações variadas, obtendo a cumplicidade das próprias mulheres em

determinadas situações.” Assim Kergoat (1996 apud CAPELLE et.al, 2004, p.9) defende a

necessidade de “se pensar o feminino e o masculino como construções sociais relacionais,

deslocando-se o foco de análise da “mulher dominada” para grupos e/ou sociedades

localizadas e datadas, com formas específicas e particulares de interação.”

Sendo assim, é importante que se reconstrua um novo referencial de gênero feminino,

o que pode ser feito desde a educação infantil. Para isso, faz-se necessário um posicionamento

22

diário da mulher contra a limitação do gênero feminino em função de características

biológicas ligadas ao sexo.

Segundo Alonso (2002, p.24-25),

O gênero é o conjunto de características e funções que uma cultura atribui aos

indivíduos em virtude do sexo ao qual pertencem. (..) Determina o que é ser mulher e

como sê-lo, estão instituído no imaginário social e implantado de fora, estando

construído, portanto, por enquanto, dentro das relações de dominação.(ALONSO,

2002, P.24-25).

No que se refere às relações de gênero, da forma como estão configuradas na nossa

sociedade, apesar dos avanços observados nas últimas décadas, a representação social

predominante, imagina a mulher numa situação de subordinação, porque as diferenças,

biológicas são transformadas em desigualdades. A construção social dos gêneros tem uma

base material que se expressa na divisão sexual do trabalho.

Essa desigualdade de gêneros vai sendo construída e normalizada desde a infância,

principalmente por meio da educação, desde a aprendizagem de que as responsabilidades

referentes cuidados com a casa e com a família são inerentes à condição feminina.

Enquanto isso cabe ao homem responsabilizar-se pelo sustento e mesmo quando a

mulher ultrapassa esses limites designados ao seu papel de gênero, a mulher continua

sobrecarregada, com um acúmulo de atividades, que a obriga a enfrentar, muitas vezes, dupla

ou até tripla jornada de trabalho, para cumprir os papéis de mãe, dona de casa, esposa e

profissional.

Coelho (2005) observa que o fenômeno da segmentação ocupacional é conhecido na

literatura internacional como glassceiling (teto de vidro), isto é, como barreiras não explícitas

que impedem o acesso das Mulheres aos altos escalões das organizações. O autor realizou

estudo com empregados das empresas com cadastro na Relação Anual de Informações Sociais

— RAIS de 1996, registro administrativo, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), de

informações socioeconômicas de todas as empresas do setor formal brasileiro e dos

respectivos empregados. Foi verificado que, quanto ao salário, os homens recebem em média

23,13 salários mínimos, e as Mulheres, 18,81. Coelho (2005) verificou a existência de

diferença por sexo quanto ao tempo de emprego e à promoção a postos de mando nas grandes

empresas de capital nacional da indústria de transformação.

De acordo com Morgan (1996), muitas organizações constroem sua cultura, estrutura,

normas, objetivos e procedimentos baseados em alguns valores, geralmente de seus

23

fundadores ou reproduzindo valores da sociedade na qual se insere. No que se refere às

relações de gênero, muitas vezes privilegiam um sexo em detrimento do outro, favorecendo a

manutenção da cultura patriarcal. A palavra gênero é resultado de uma construção social

histórica. As relações de gênero são relações de poder que se constroem constantemente ao

longo da história e no dia-a-dia entre homens e mulheres, mulheres e mulheres, homens e

homens.

Segundo Silva (1987),

...a cultura materializa a diferenciação sexual e oculta às próprias mulheres o caráter

político das relações entre os sexos, tornando-as cúmplices de sua desvalorização.

Muitas mulheres são as maiores aliadas e cúmplices da dependência que padecem,

uma vez que o processo de socialização, que leva a internalização dos espaços

circunscreve o masculino e o feminino e tem início na infância, são repassados

principalmente pelas mulheres, como mães e como educadoras (SILVA, 1987, p.

09).

Segundo Macêdo (2004, p.4)

...as questões de gênero somente poderão caminhar para uma relação simétrica, de

alteridade, se o entendimento entre o masculino e o feminino for resultado de uma

mudança conjunta, integrada e efetiva nas relações entre os sexos, na busca da

superação de relações tradicionais de subordinação e dependência que a cultura

organizacional, mediada pela ideologia, ao mesmo tempo em que tenta ocultar, se

torna responsável pela sua preservação.”(MACÊDO,2004, p.14)

Segundo Melo (1985, p. 162 apud DAVEL; MELO, 2005) as questões de gênero

devem ser abordadas como forma de expressão das relações de poder, visto que esta é uma

característica fundamental e inelutável de todas as relações sociais. Davel e Melo (2005, p.41)

fala que “ao considerarmos o poder uma categoria relacional, torna-se pertinente analisar as

condições de emergência de questões de gênero nos jogos de interesses envolvidos.” Bourdieu

(1996 apud MISOCZKY, 2001 apud DAVEL; MELO, 2005, p.41), por exemplo, “demonstra

que a dominação masculina está instituída nas coisas e na estrutura do pensamento, e

reconhece que esse fato é um tipo particular de violência simbólica”. Diante das contestações

feministas, Bourdieu (1999 apud MISOCZKY, 2001 apud DAVEL; MELO, 2005, p.41)

acredita que “a possibilidade de transformação está na subjetividade de cada um, na

24

capacidade de ação interativa de cada ator social, na sua participação ativa na construção

social da realidade, mesmo que relativamente limitada por fatores estruturais”.

2.3. Preconceito e Discriminação nas Organizações

O termo preconceito tem sido referido como a adoção de um posicionamento ou

atitude negativa direcionada a algumas pessoas pelo fato destas pertencerem ou

assemelharem-se a um grupo que esteja dotado de determinados aspectos específicos, que são

percebidos como negativos (VASCONCELOS et al., 2004, apud SILVA, 2006, p.37).

Já Allport (apud NUNAN, 2003, apud SILVA, 2006) sugere que o preconceito é

histórica e socialmente construído, podendo ser influenciado por traços de personalidade,

emoções e cognições no seu aparecimento.

O preconceito envolve sentimentos negativos em relação a um determinado grupo,

constituindo o componente afetivo da interação. Ações, como a discriminação, são o

componente comportamental (RODRIGUES et al., 1999, apud SILVA, 2006, p.38). Ainda

segundo o mesmo autor:

O preconceito seria uma atitude, sendo que, uma pessoa preconceituosa pode

desgostar de pessoas de certos grupos e comportar-se de maneira ofensivas para com

elas, baseadas em crenças segundo as quais tais pessoas possuiriam características

negativas. Contudo, quando nos referimos à esfera do comportamento, as expressões

verbais hostis, condutas agressivas, e etc., são denominadas discriminação.

(RODRIGUES et al., 1999, apud SILVA, 2006, p.38).

Segundo Lobos (2003) o preconceito ainda existe apesar de ter diminuído

consideravelmente nos últimos anos, sendo que ele deixou de ser explícito para se tornar mais

elegante, se tornando um preconceito velado, escondido, fazendo com que ele seja mais difícil

de ser identificado.

A palavra discriminação, do ponto de vista jurídico, pode ter o significado de

diferenciar, discernir, distinguir, estabelecer diferença4. Pode ser ainda, o tratamento

4 MARTINS, S. P. Práticas discriminatórias contra a mulher e outros estudos. São Paulo: LTr, 1996, p.103.

25

preferencial a alguém, prejudicando outrem5. A discriminação é vista também como a conduta

pela qual se nega à pessoa tratamento compatível com o padrão jurídico assentado para a

situação concreta por ela vivenciada, cuja causa reside, em muitos casos no preconceito puro

e simples, ou seja, um juízo sedimentado desqualificador de uma pessoa em virtude de uma

sua característica, determinada externamente, e que pode ser o sinal de identificação que

marca determinado grupo ou segmento mais amplo de indivíduos (cor raça, nacionalidade,

riqueza, entre outros) 6.

Muitos indivíduos em nossa sociedade são estigmatizados e sofrem conseqüências

negativas por pertencerem a certos grupos. Essas conseqüências incluem a discriminação,

aumento do sofrimento, acesso limitado a oportunidades e algumas dificuldades no

relacionamento interpessoal (MASON, BUTTON e CLEMENTI, 2001, apud SILVA, 2006,

p.19).

“As explicações sobre as conseqüências negativas para as minorias raciais e

mulheres brancas nas organizações envolvem desde preconceito e discriminação

decorrente de estereótipos, a explanações estruturais mostrando sua representação

proporcional nas hierarquias organizacionais”(KANTER, apud NKOMO e

TAYLOR, 1999, p.344, apud SILVA, 2006, p.13).

Foram necessários alguns séculos para que “o direito da mulher a ser valorizada e

educada livre de padrões estereotipados de comportamento e costumes sociais e culturais

baseados em conceitos de inferioridade ou subordinação” 7 fosse proclamado e respeitado

pelo Estado e pela Sociedade.

Existe uma prática cruel de discriminação em relação ao papel profissional da mulher

na sociedade, marcando as opressões quotidianas que elas enfrentam. No Brasil, por exemplo,

a primeira lei acerca do trabalho da mulher foi de 17.05.1932, alcançando, em seguida,

dignidade constitucional. Mas isso não implicou necessariamente em sua inclusão no mercado

de trabalho de forma justa, com igualdade de oportunidades dentro das organizações.

No Brasil a questão da desigualdade racial e sexual tem sido objeto de intensa

discussão, no entanto Fleury (2000) constata que inexistem medidas concretas sendo tomadas

a respeito. Embora o Brasil tenha ratificado a Convenção n.111 da Organização Internacional

5 DINIZ, M.H. Dicionário jurídico. São Paulo: Saraiva, 1998, v. 2, p. 191. 6 DELGADO, M. G. Proteções contra discriminação na relação de emprego. In VIANA, M. T., RENAULT, L. O. L. et al. (coords.). Discriminação. 2000, p. 97-108 7 SÜSSEKIND, Arnaldo. Convenções da OIT. São Paulo: LTr, 1994, p. 532.

26

do Trabalho contra a discriminação no emprego e na profissão em 1965, muito pouco se

alcançou quanto a políticas de promoção da igualdade no mercado de trabalho para inclusão

das populações negras, por exemplo. A implantação inicial dessas ações só começa a se

delinear a partir de 1995, e em 1996 o Programa Nacional de Direitos Humanos consolida as

ações voltadas basicamente para essa população, com propostas de “ações afirmativas” e

“políticas compensatórias”, sem políticas permanentes de inclusão como afirma Silva et al.

(2001, apud SILVA, 2006, p.28). Segundo Silva (2006), a implementação efetiva de políticas

para combater a discriminação no emprego é recente e esbarram em uma barreira cultural

implícita: a não aceitação do preconceito e da discriminação.

Guacitúa-Marió, E., Woolcock, M. (2005), examina processos específicos de exclusão

social e as barreiras à mobilidade, mostrando que alguns grupos sociais específicos são mais

vulneráveis aos processos de exclusão social em função de raça, gênero e idade. Apresenta

propostas relacionadas com eqüidade no mercado de trabalho e no acesso a ativos,

aprimoramento da previdência social, formação de capital humano, através da redução das

discriminações como de raça e gênero e fortalecimento da participação e da cidadania. Isso

pode ser visivelmente observado nas organizações, em relação ao tratamento dado ao papel

profissional da mulher.

Abordagens mais recentes expressam a necessidade de se levar em consideração o

aumento da diversidade étnica e de gênero dentro das organizações (WORREN et al, 1999). É

importante ressaltar que esse aumento não se dê apenas em termos de aumento de

representação das mulheres dentro das organizações, mas através da compreensão da

importância da diversidade nas organizações, em se ter processos de admissão, promoção,

exercício de funções e de remuneração mais justos, visando também o combate à

discriminação dentro das organizações. É importante salientar que este combate deve iniciar-

se antes mesmo de os indivíduos ingressarem na organização.

Laís Abramo, Especialista Regional da OIT em Gênero e Trabalho, aprofunda a

discussão a respeito da importância de se trabalhar as políticas públicas, em particular aquelas

de enfrentamento à pobreza, com um recorte nítido de gênero e raça, sob pena de serem

geradas ações ineficazes e que tendem a reproduzir as desigualdades existentes entre mulheres

e homens e entre brancos e negros.

Segundo artigo publicado pelo Instituto de Pesquisa em Economia Avançada (IPEA),

Leporace, M. & Fontoura, N. (2004), do ponto de vista da igualdade de oportunidades para

mulheres e homens no mercado de trabalho, cabe ressaltar que as diretrizes relacionadas à

geração de renda, emprego e trabalho do Plano Nacional, em programas como o “Programa

27

de Igualdade de Gênero nas Relações de Trabalho”, que passou a ser chamado de “Incentivo a

Autonomia Econômica das Mulheres no Trabalho”, englobaram implementação de políticas

de combate à discriminação baseada em gênero, raça, geração e etnia, de forma a assegurar a

igualdade de acesso, além de outras políticas como de capacitação profissional, crédito,

equidade salarial e que estavam previstas para iniciar em 2005.

Embora existam políticas públicas e de iniciativa privada (em algumas empresas,

apenas) que estabelecem normas a serem cumpridas, incentivem ou mesmo inspirem as

organizações em relação a novas práticas em relação à mulher, isso não tornou visível uma

prática justa dentro de grande parte das organizações em relação a ela. As ações

discriminatórias exercidas dentro da empresa são comumente camufladas nas próprias

relações de poder da mesma.

Segundo Santos (2001) deve-se eliminar desigualdades historicamente acumuladas,

garantindo a igualdade de oportunidades e tratamento, bem como compensar perdas

provocadas pela discriminação e marginalização, decorrentes de motivos raciais, étnicos,

religiosos, de gênero e outros.

2.4. A Mulher no Mercado de Trabalho

O ingresso das mulheres na força de trabalho é uma realidade que vem se

manifestando nas últimas décadas, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo.

Segundo Nilcéa Freire, ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, a

presença de mulheres nos mais diferentes espaços na sociedade brasileira é, sem dúvida, uma

conquista recente. Foi apenas a partir da segunda metade do século XX que as portas do

mercado de trabalho e das universidades, de fato, se abriram para a população feminina. No

entanto, no que se referem à vida política, os avanços ainda são pouco significativos. 8

A conquista de garantias ao trabalho da mulher e a busca da equidade de gênero

passam, necessariamente, pela compreensão do panorama geral das negociações coletivas no

Brasil. Isto porque, a partir da retomada da ação sindical no final da década de 70, este espaço

adquiriu enorme importância para os trabalhadores brasileiros, e tornou-se um elemento

significativo na definição das regras e condicionantes das relações de trabalho. A década de

8 Dados da Secretaria Especial para Mulheres

28

80 foi um espaço de garantia de conquistas trabalhistas, a de 90 caracteriza-se pela resistência

do movimento sindical para manter direitos adquiridos. 9

Pode-se apontar como causas da inserção das mulheres no mercado de trabalho e desse

crescimento também: o desejo de realização profissional que leva muitas mulheres a se

prepararem cada vez melhor para disputar um posto de trabalho; ao movimento de

emancipação feminina e à busca de direitos iguais na sociedade e crescentes necessidades

familiares com conseqüente crescimento do número de famílias chefiadas por mulheres -

devido ao crescimento do desemprego, aumento do assalariamento sem carteira assinada e dos

trabalhadores autônomos, redução do trabalho com carteira assinada e de rendimentos, a

perda de renda do cônjuge, dissolução do casamento, não constituir família, etc.Esse ingresso

da mulher no mercado de trabalho não tem, porém, sido fácil, uma vez que a conjuntura

político-econômica dos últimos anos tem criado muitas barreiras para todas as pessoas que

procuram uma ocupação.10

Embora esse dados revelem o crescimento da força de trabalho feminina, sua trajetória

ainda é marcada pela desigualdade de oportunidades ocupacionais relativamente à enfrentada

pela população masculina. A garantia constitucional do direito à igualdade para todos não

impediu a desigualdade de acesso às oportunidades de participação efetiva no contexto da

cidadania plena para vasta parcela da população brasileira. (VALENTIM, 2005, p. 151 apud

COUTINHO, 2006).

Desde a década de 70 as mulheres vêm conquistando seu espaço no mercado de

trabalho brasileiro. Em 1976 o número de mulheres participantes da população

economicamente ativa (PEA) no Brasil era de 11,4 milhões. Em 1990 esse número foi de 22,9

milhões, para 31,3 milhões em 1998, representando um acréscimo de 174% nestes 14 anos.

Até o final dos anos 70, o perfil das mulheres trabalhadoras era: jovem, solteira e sem filhos.

A partir dos anos 80, esse perfil se modificou para mulheres mais velhas, casadas e com filhos

(BRUSCHINI; LOMBARDI, 2002 apud LINDO et al., 2007, p. 2-3).

O Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD) de 1998 mostrou que “o

Brasil ocupa a 66ª posição em índice de desenvolvimento relacionado ao gênero, índice este

que mensura o avanço feminino no espaço do mercado de trabalho”, mas ainda ocupa posição

inferior a os vizinhos latino-americanos e a alguns países islâmicos. Isto significa que

9 Pesquisa DIEESE nº 13- Eqüidade de gênero nas negociações coletivas: cláusulas relativas ao trabalho

da mulher no Brasil. Agosto de 2003 http://www.dieese.org.br/esp/pesquisa17mulheroit.pdf p.7

10 Op. Cit. 8

29

“embora as mulheres respondam por mais de 40% do mercado de trabalho no país, elas ainda

ocupam, em sua maioria, posições ligadas às tarefas mais tipicamente desempenhadas no

ambiente doméstico” (ARROIO & RÉGNIER, 2001 apud LINDO et al., 2007, p. 3).

Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos

(DIEESE), em pesquisas de 2001 a 2006 em seis regiões metropolitanas: Distrito Federal,

Salvador, São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre, registraram uma média de recuo

na participação masculina aliado ao crescimento absoluto da população feminina mais

significativo.

A pesquisa mostra que as mulheres estão mais sujeitas a ocupações com inserção

vulnerável, definidas como aquelas sem proteção e direitos trabalhistas (assalariados sem

carteira de trabalho assinada, empregados domésticos, autônomos que trabalham para o

público e trabalhadores familiares). Isso é justificado devido à entrada das mulheres ter se

dado em um ambiente de baixo crescimento econômico e de geração de postos de trabalho

insuficientes para absorver esse novo contingente de trabalhadoras. Ainda revela que a maior

parte das mulheres – da mesma forma que os homens – está empregada no setor de serviços.

As pesquisas também caracterizam o ingresso feminino no mercado de trabalho

brasileiro como um processo contínuo, diversificado e, em princípio, definitivo, alterando não

somente as características do mercado de trabalho, mas também a composição familiar e

domiciliar, ressaltando o crescente número de famílias chefiadas por mulheres.

Segundo Tezza, Perusselo e Soboll (2007) a discriminação da mulher no mercado de

trabalho é visível “quando observados os salários mais baixos, a ocupação de postos

precários, a discriminação na sua contratação e ascensão dentro das empresas, entre outros,

tanto no Brasil como no exterior”.

Segundo dados do Fórum Econômico Mundial de 2006, as mulheres brasileiras

recebem salário, em média, 49% inferior ao dos homens que ocupam função semelhante,

segundo dados do Fórum Econômico Mundial de 2006. Segundo relatório do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2005, as mulheres ganham menos que os

homens (30% a menos, mesmo estudando mais) em todos os estados brasileiros,

independentemente do grau de escolaridade. Podemos inferir que o nível de instrução da

mulher não parece ser um fator determinante na discriminação contra a ascensão profissional

e salarial.

Segundo relatório de maio de 2007 da Organização Internacional do Trabalho,

verifica-se que, na União Européia, os rendimentos femininos chega a ser 15% inferior ao dos

homens e elas detém apenas 28,3% de postos de trabalho de maior remuneração, como

30

legisladoras e gerentes. O relatório apresenta também que os homens distribuem-se em

ocupações mais diversas, enquanto mais de 70% das mulheres exercem atividades do setor de

serviços.

Segundo outra pesquisa realizada pelo DIEESE em março de 2007, sobre o ano de

2006, no Distrito Federal e nas cinco regiões metropolitanas onde a Pesquisa de emprego e

desemprego (PED) é realizada, a População Economicamente Ativa (PEA) feminina somava

8,87 milhões de pessoas, passando a corresponder a 46,7% da PEA metropolitana. Entre essas

trabalhadoras, a maior parcela compunha a força de trabalho ocupada, enquanto 19,8% delas

permaneciam em situação de desemprego (1,75 milhões de mulheres).

A proporção das mulheres na população economicamente ativa é semelhante nas seis

regiões pesquisadas. Varia de 49,1%, no Distrito Federal, a 45,2%, na Região Metropolitana

do Recife. Tais percentuais refletem o crescimento das taxas de participação femininas na

década de 90 e nos primeiros anos da atual. A pesquisa mostra também que a força de

trabalho das áreas metropolitanas continuou crescendo intensamente e em ritmo superior ao

observado para o contingente masculino. Distrito Federal e das Regiões Metropolitanas de

Belo Horizonte, São Paulo e Salvador, onde passaram de 55,2%, 48,1%, 53,1% e 52,0% de

suas respectivas populações femininas com idade igual ou superior a 10 anos, em 1999, para

representar em 2006: 59,4%, 53,3%, 54,3% e 55,4%, respectivamente.

O relatório Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e

Suas Ações Afirmativas – Pesquisa 2007 apresenta os resultados do estudo realizado pelo

Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social e pelo Ibope Inteligência, entre agosto

e novembro de 2007. O objetivo da pesquisa foi traçar o perfil das maiores companhias que

operam no país, verificando a composição por sexo, cor ou raça, faixa etária, tempo de

empresa e escolaridade de seus funcionários e dirigentes, além da presença de pessoas com

deficiência em todos os níveis hierárquicos. O trabalho levantou as políticas e ações

afirmativas em favor da diversidade e da eqüidade eventualmente adotadas pelas empresas e,

ainda, a percepção do principal executivo de cada organização acerca de questões como a

situação das mulheres, dos negros, das pessoas com mais de 45 anos e dos jovens aprendizes

que atuam em seus quadros.

O atual estudo apresenta dados referentes às 132 empresas que responderam ao

questionário da pesquisa. São 26,4% do universo das 500 maiores empresas do país, constata

uma situação de grande desigualdade, equivalente à de 2005, apesar de alguns avanços

significativos. Na composição por sexo, é maior hoje a presença das mulheres.

31

Comparando-se os estudos de 2005 e 2007, observa-se um aumento da presença

feminina nos dois primeiros níveis hierárquicos. É mais discreto no nível funcional, de 32,6%

para 35%, e bem acentuado no nível de supervisão, de 27% para 37%, refletindo a crescente

inclusão da mulher no quadro de funcionários das grandes empresas. A queda no nível da

gerência, de 31% para 24,6%, parece sinalizar, inversamente, um forte movimento de

exclusão. No quadro executivo confirma-se a tendência de crescimento da presença feminina:

de 6% em 2001 para 9% em 2003, 10,6% em 2005 e 11,5% em 2007.

Este estudo também faz referência à participação feminina na sociedade brasileira:

51,3% da população, 43,5% da população economicamente ativa e 42% da ocupada. Em

relação à escolaridade, as mulheres são maioria (55%) entre os brasileiros que conseguiram

atingir pelo menos 11 anos de estudo. Ficaram ainda, em 2004, com 56,4% das matrículas e

62,6% dos certificados de conclusão do ensino superior. A pesquisa constatou também uma

situação de afunilamento hierárquico. Ou seja: há menos mulheres nos níveis mais elevados.

A participação feminina cai na passagem da supervisão para a gerência, de 37% para 24,6%, e

da gerência para o quadro executivo, de 24,6% para 11,5%.

Tezza, Perusselo e Soboll (2007) apontam alguns fatores que contribuem para a

discriminação contra a ascensão profissional e salarial da mulher, como a segregação profissional

e a falta de uma organização coletiva mais centralizada que defenda os direitos da mulher no

âmbito do mercado de trabalho.

Tezza, Perusselo e Soboll (2007) fala sobre as medidas tomadas por alguns países

frente a dificuldade de ascensão da mulher aos altos cargos de chefia nas organizações.

Noruega e Suécia impuseram às empresas uma lei que as obriga a reservar uma cota de 40%

às mulheres nos conselhos fiscais.

Segundo a “Síntese de Indicadores Sociais” divulgada pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE), em 2006, houve um aumento de 1,4 ano, em média, na

escolaridade das mulheres urbanas de 1995 a 2005, enquanto no mesmo período a população

com 12 anos ou mais de estudo praticamente dobrou e a freqüência ao ensino superior quase

triplicou, com vantagem para a população feminina que atualmente é maioria nas

universidades.

Outro aspecto que chama atenção é o avanço nos níveis de ocupação feminina, muito

embora, estas continuem ocupando principalmente nichos que poderiam ser considerados

como extensão do trabalho doméstico. Depois de muitos anos, há uma pequena redução da

diferença de remuneração entre homens e mulheres e um discreto aumento, 0,4 ponto

percentual, na proporção de mulheres na categoria de dirigentes em geral. Mas, são ainda as

32

mulheres que majoritariamente, segundo a mesma Síntese, se encarregam dos afazeres

domésticos. Em média, as mulheres gastam 25,2 horas semanais com os afazeres domésticos,

enquanto os homens gastam apenas 9,8 horas11.

Pesquisas recentes registram o avanço crescente da mulher no mercado de trabalho12.

Em contrapartida, não deixa de ser verdade que inúmeras vezes o menor custo do trabalho

feminino exerce sua influência no progresso da ascensão da mulher. Dados do Departamento

Intersindical da Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) 13 revelam diferenças entre

os ganhos médios salariais de homens e mulheres. Dados do Centro Feminista de Estudos e

Assessoria (CFEMEA) 14, as diferenças são ainda maiores quando comparadas medias

salariais de homens brancos e mulheres negras. Existem diferenças inclusive entre as médias

salariais entre mulheres brancas e negras. Muitas mulheres são designadas a ocuparem cargos

condizentes aos estereótipos vinculados ao gênero. Existem ainda outros dados que revelam

essa diferença: no Brasil, as mulheres recebem, em média, apenas 30% do salário pago aos

homens e, no mundo, representam 70% dos pobres e 2/3 dos analfabetos.

Segundo Bruschini (1994, p. 75) “apesar da conquista de novos espaços, no entanto, as

mulheres ainda são discriminadas” Elas continuam encontrando maior dificuldade para

ocupar cargos de chefia e ganham menos do que seus colegas em quase todas as ocupações.

Bruschini relata alguns aspectos, como as responsabilidades pelas atividades domésticas e

filhos, que dificultam a dedicação das mulheres ao trabalho ou sempre as deixam em

desvantagem em relação ao homem, no mercado de trabalho. Em Bruschini (1996) isso é

reforçado quando ela relata que destina-se às mulheres, sobretudo as atividades reprodutivas e

os cuidados com a casa enquanto cabe ao homem o papel de provedor. Diferentemente da

inserção masculina, a entrada das mulheres no mercado de trabalho ocorreu, principalmente,

devido à guerra e a sua permanência no mesmo, devido à redução dos níveis de rendimento

familiar. Assim, predominam relações de gênero assimétricas e hierárquicas, que se

11 Dados da Secretaria Especial para Mulheres 12 LEONE, E. T. Renda familiar e trabalho da mulher na Região Metropolitana de São Paulo nos anos

80 e 90 Unicamp jul/1999.Disponível em: www.eco.unicamp.br/publicacoes/textos/download/texto81.pdf

Acessado em: 21/04/2007. SOARES, S. S. D.O Perfil da Discriminação no Mercado de Trabalho – Homens Negros, Mulheres Brancas e mulheres Negras. Brasília nov/2000. Disponível em www.aids.gov.br/final/dh/afroatitude/desigualdes_raciais/trabalho.pdf Acessado em : 21.abril.2007 13 Disponível em: http://www.dieese.org.br, acessado em 21/04/07. 14 Disponível em: http://www.cfemea.org.br, acessado em 21/04/07.

33

expressam em posições desiguais ocupadas pelos indivíduos de um e outro sexo tanto na

esfera da produção quanto no âmbito privado das relações familiares.

Fleury (2000, p.23) acredita que mesmo que existam claras evidências da ascensão

educacional da mulher, as barreiras culturais à incorporação das mulheres em organizações

brasileiras são menores que a de negros. “A avaliação de pessoas de origem asiática é

ambígua: elas são consideradas geralmente bem-educadas e, algumas vezes, são tratadas

como grupos de minoria.”.

A não adoção de práticas que contemplem a diversidade acarreta maiores custos para

as organizações, tendo em vista que o nível de satisfação no trabalho é freqüentemente menor

entre as minorias (COX; BLACKE, 1991). Frustrações com a carreira e conflitos culturais

com os grupos dominantes provavelmente são os principais fatores associados aos níveis de

insatisfação.

Além disso, o turnover e o absenteísmo são também mais freqüentes entre mulheres e

minorias raciais do que entre os homens brancos. Entre as mulheres, há uma maior tendência

a sair do emprego do que entre os homens. A primeira razão para pedirem demissão, segundo

pesquisas, é a falta de oportunidade de crescimento na carreira ou a insatisfação com as taxas

de progresso (COX; BLACKE, 1991).

Segundo o relatório do Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher

(UNIFEM), do ano de 2005, algumas das dimensões da desigualdade de gênero no trabalho

são:

1) A maioria das mulheres possui empregos precários e informais.

2) A diferença de remuneração entre homens e mulheres continua grande e perpassa por todas

as categorias de emprego.

3) As mulheres trabalham menos horas que os homens, em parte, devido a sua dupla jornada

de trabalho no lar.

4) Apesar de sua baixa remuneração e a precariedade de suas relações trabalhistas, a força de

trabalho feminino tem importante participação na renda familiar, ajudando efetivamente no

combate a pobreza.

Para Macêdo (2004, p.5) “embora as sociedades ocidentais estejam progressivamente

incrementando e operacionalizando o discurso igualitário entre homens e mulheres em áreas

como cultura, educação e legislação, mudanças reais são escassas quando se analisa a divisão

hierárquica do trabalho em relação ao gênero.”.

Para Macêdo (2004, p.5) “na história, pode-se observar nos mais diversos segmentos a

presença feminina. Porém, fica evidente a existência da divisão sexual do trabalho, ou seja,

34

tarefas consideradas masculinas ou femininas, que dividiram as ações de homens e mulheres

na sociedade.”De acordo com Lobo (1991, apud MACÊDO, p.5), “a inserção diferenciada de

homens e mulheres nas atividades produtivas, historicamente caracterizadas pela divisão

sexual do trabalho, teve origem no interior da família e do grupo doméstico”, sendo que esta

última foi desenvolvida por meio de fatores sociais e não de fatores naturais, no qual um

trabalho é definido como masculino ou feminino, por meio de representações e práticas

sociais construídas, moldadas por aspectos históricos, sociais, culturais e conjunturais.

2.5 As Gerentes nas Organizações

É importante ressaltar que os gerentes não desempenham um trabalho neutro em

termos de gênero. Como as sociedades capitalistas foram construídas com base em uma

divisão sexual do trabalho que tende a se reproduzir nas empresas, as possibilidades de ação

das mulheres gerentes acabam sendo influenciadas.

Como já foi citada anteriormente, a segregação de mulheres a determinados segmentos

acontece tanto no mercado de trabalho como no sistema educacional. Nem sempre as

mulheres ocupam cargos que oferecem as mesmas perspectivas de carreira ou os mesmos

níveis salariais que os homens e nem sempre são promovidas quando se encontram nas

mesmas condições que os homens. Geralmente o que é abordado na literatura sobre gênero é

direcionado para as práticas e culturas organizacionais masculinas. “Tal lógica se fundamenta

na marginalidade numérica das mulheres em altos postos administrativos em empresas tanto

privadas quanto públicas”. (WHITEHEAD; MOODLEY, 1999 e WIRTH, 2001 apud

DAVEL; MELO, 2005, p.39).

Segundo Billing e Alvesson (1993, apud DAVEL; MELO, 2005, p.40) “o trabalho

realizado pelas gerentes ser menos valorizado do que o realizado pelos homens, as mulheres

ainda progridem mais lentamente ou têm que apresentar melhor performance que os homens

para serem promovidas” e elas podem desenvolver modos de lidar com esta situação

desigual.Por exemplo, Sheppard (1989 apud DAVEL; MELO, 2005, p.40) realizou um estudo

com gerentes canadenses e verificou que “a identidade sexual foi sendo transformada, de

modo a facilitar a integração no mundo organizacional, permeado e organizado pela cultura

masculina de gestão”. Elas desenvolveram estratégias para se desprender das questões de

35

gênero, afirmando que se tratava, sobretudo, de questões pessoais e, não, de questões de

discriminação sistemática.

Lobos (2003) realizou uma pesquisa em 2002, com 550 mulheres executivas de

grandes empresas brasileiras, com o objetivo de retratar o perfil da mulher brasileira que

ocupa cargos de liderança nas organizações A obra mostra como as mulheres fazem para

conciliar profissão e família e como lida com o sucesso, o poder e a ética nos negócios A

pesquisa revelou que 66,2% das mulheres trabalham em empresas que estão entre as maiores

do seu ramo de negócios; a maioria delas - 49,6% - atua no setor de serviços e 51% são

oriundas da classe média, enquanto que 31% vêm da classe média alta, dado que mostra que

mesmo as mulheres mais ricas - que teoricamente não precisariam trabalhar - também buscam

ter uma carreira. A pesquisa apontou também que a média de idade entre as executivas

pesquisadas gira em torno dos 38 anos e todas têm título universitário - sendo que a grande

maioria optou pelas Ciências Humanas (Psicologia e Comunicação Social) ou Gestão de

Empresas (Administração e Marketing). O autor explica que explica que os salários ainda são

15 a 30% menores, a maior parte dos cargos é de staff - fora da linha de comando e os setores

econômicos que contratam mais mulheres são os não-produtivos, como o de serviços. Relata

ainda que dos 1.500 profissionais - homens e mulheres - que comandam as 500 maiores

empresas da Fortune, apenas 60 são mulheres.

Mariotti (1999 apud RESZECKI, 2001) relata que embora o número de mulheres em cargos

de média gerência tenha aumentado nas últimas décadas, elas têm ocupado somente cerca de

30% a 40% dos cargos de gerência e supervisão, e o número de mulheres ocupando altas

posições em grandes organizações ainda permanece extremamente baixo. Segundo Gotcher

(1999 apud RESZECKI, 2001, p. 19) “embora várias companhias estejam recrutando mais

ativamente mulheres para posições de diretoria, em 1998 somente 12% dos cargos desse

nível, em 500 empresas americanas, eram ocupados por mulheres, segundo dados da

publicação Standard & Poor´s”.

Segundo informações da Conferência de Mulheres Líderes da América, as mulheres

ocupam cerca de metade de todas as posições gerenciais, sendo que poucas chegam a postos

de presidência. Nas empresas da América Latina, as mulheres ocupam cerca de 30% dos

postos de gerência, sendo que somente 10% alcançam postos de presidente corporativo ou

vice- presidente, em sua maioria em empresas familiares. Os motivos de as mulheres não

estarem assumindo posições na alta administração não são totalmente claros, e podem variar

da falta de experiência, oportunidades de carreira inadequadas, estereótipos, à falta de

interesse das próprias mulheres, que preferem dedicar seu tempo a outras atividades. A

36

mulher que, nos últimos anos, deixou de ser a “dona de casa” para tornar-se profissional.

Durante os últimos 40 anos, o porcentual de mulheres que compõem a força de trabalho nos

Estados Unidos aumentou de 30% para 50% (MARIOTTI, 1999apud RESZECKI, 2001).

Outro estudo em 3 empresas francesas, sobre construção da identidade de mulheres

gerentes, Belle (1991 apud DAVEL; MELO, 2005, p.40) revela que “as gerentes construíam

sua identidade enquanto grupo profissional muito mais em função das expectativas projetadas

pelos outros do que de suas próprias aspirações.” Melo (2002, apud DAVEL;MELO, 2005),

em um estudo de gerentes mulheres, descobriu que no setor industrial é necessário que a

mulher supere um homem num gueto “masculino”. Já no setor bancário, não há vinculação

com o fato de ser mulher ou homem, mas com a competência e resultados obtidos.

Apesar dos avanços ocorridos nas últimas décadas em relação às mulheres que

ocupam cargos gerenciais nas empresas, o preconceito e a discriminação ainda são

poderosas barreiras à presença feminina nos negócios. A mulher, com maneira de

administrar que se confunde entre o estilo masculino e o feminino e apresentando

características próprias como humildade, maior estabilidade emocional,

objetividade, paciência, auto-renúncia, disposição para operar em ambientes de

contrariedade, negociar fazendo menos concessões, e inteligência enriquecida pela

intuição, está tornando-se indispensável no mundo empresarial contemporâneo

(LODEN apud GOMES, 1997; LODI, 1999 apud GRZYBOVSKI, BOSCARIN e

MIGOTT, 2002 P. 186-187)

A partir desse histórico da inserção da mulher no mercado de trabalho e sua ascensão

profissional nas organizações, Alvesson e Billing (1997 apud DAVEL; MELO, 2005, p. 40)

sugerem que as relações de gênero estão adotando outros contornos. Num estudo realizado

por Grant (2000, apud DAVEL; MELO, 2005, p. 40) com 92 gerentes australianas e observa

que:

a renegociação de papéis sexuais no âmbito da família e nas relações pessoais está

gradualmente se alterando. Mas mesmo que as gerentes pesquisadas indiquem uma

reconstrução de seus papeis sociais, ainda existe muita expectativa quanto ao que

deva ser uma esposa ou um parceiro. Tais expectativas influenciam a forma de

vivenciar as relações no dia-a-dia de trabalho. (GRANT, 2000, apud DAVEL;

MELO, 2005, p. 40)

37

Segundo Trembley (2005, p.100) mesmo que a inserção da mulher no mercado de

trabalho tenha aumentado, que homens venham assumindo responsabilidades familiares e

domésticas, ainda é enraizada que esta última é uma responsabilidade feminina, enquanto

cabe ao homem o sustento da casa.

Sobre o apoio familiar à mulher, Parasuramanet al. (1996 apud LINDO et.al., 2007,

p.5), destacam a existência de dois tipos de apoio por parte do cônjuge considerados

importantes no contexto do conflito entre trabalho e família: o apoio instrumental (cuidados

com a casa e filhos e o apoio emocional (apoio a prosperidade da parceira).

Para Trembley (2005, p.101) se o fato de ter um emprego dá às mulheres a

possibilidade de uma eventual igualdade em relação aos homens, na realidade elas ainda estão

longe disso, e pagam um preço bem mais alto por seu ingresso no mercado de trabalho.A

autora fala que trata-se da questão dos horários de trabalho flexíveis. Se essa medida não for

acompanhada de outras medidas complementares para conciliar trabalho e família, haverá

partilhas desiguais de responsabilidades e conseqüente reprodução de desigualdade

econômica e profissional das mulheres no mercado de trabalho. (TREMBLEY, 2005, p.102).

Pinto (1992 apud TEZZA, PERUSSELLO E SOBOLL, 2007 p. 6) alerta que “a simples

presença das mulheres no mercado de trabalho não soluciona o problema da discriminação

enquanto elas se mantiverem afastadas dos centros de decisão e marginalizadas do sistema de

poder.”.

38

3. METODOLOGIA

Neste capítulo foram descritos as técnicas e métodos adotados na pesquisa realizada,

bem como as características da população, os critérios para definição da amostra e o processo

de coleta e análise dos dados a serem utilizados.

3.1 A Organização Estudada

A organização estudada é uma organização do segmento hoteleiro, localizada no

Distrito Federal. A organização contava, em março de 2008, com 471 funcionários, sendo

319(67%) do sexo masculino e 152 (32,3 %) do sexo feminino. Quanto à ocupação de

cargos gerenciais, 50 % são ocupados por homens e 50 % por mulheres. O percentual de

mulheres em cargos gerenciais vem aumentando nessa organização, visto que as últimas

promoções foram conquistadas por mulheres que acabaram por ocuparem postos que eram

ocupados por homens.

3.2. Caracterização da Pesquisa

O objetivo geral desta pesquisa é verificar qual é a visão das mulheres que trabalham

em uma organização hoteleira brasileira sobre os desafios que encontram por ser mulher neste

tipo de organização. Para melhor atender a esse objetivo, optou-se por se fazer uma pesquisa

qualitativa que, segundo Richardson et. al (1999, p.90), “pode ser caracterizada como a

tentativa de compreensão detalhada dos significados e características situacionais

apresentadas pelos entrevistados, em lugar de medidas quantitativas de características ou

comportamentos”.

As informações desta pesquisa foram coletadas por meio de entrevistas abertas, semi-

estruturadas e individuais. A entrevista, segundo Richardson et al. (1999, p.207), “é uma

técnica importante, que permite o desenvolvimento de uma estreita relação entre as pessoas” e

39

“proporciona as melhores possibilidades de penetrar na mente, vida e definição dos

indivíduos”.

Este estudo caracteriza-se como descritivo, pois se deseja “descrever as características

de um fenômeno” (RICHARDSON et al., 1999, p.66). O fenômeno descrito serão os desafios

em ser mulher executiva em uma organização hoteleira, de forma a identificar quais as

dificuldades encontradas pela mulher executiva, no trabalho e na vida pessoal, quanto na

busca pelo crescimento e desenvolvimento da carreira, analisados segundo a percepção de

funcionárias de uma organização hoteleira.

Foram realizadas entrevistas individuais, as quais foram gravadas, transcritas e

analisadas. Para a análise das entrevistas será utilizado o método de análise de conteúdo que,

segundo Bardin (2004, p.127) “fornece informações suplementares ao leitor crítico de uma

mensagem”. Dentro da análise de conteúdo, será utilizado o princípio da categorização, que

“se baseia na decodificação de um texto em diversos elementos, os quais são classificados e

formam agrupamentos analógicos” (RICHARDSON et. al., 1999, p.243). As entrevistas

foram analisadas previamente antes de serem definidas as categorias de análise.

A pesquisa foi realizada com a utilização dos métodos de pesquisa bibliográfica,

através da revisão de literatura em livros periódicos, revistas eletrônicas e/ou impressas,

dissertações de mestrado, teses de doutorado, anais de congressos científicos e demais

publicações pertinentes que possam contribuir para a construção do referencial teórico e que

deram suporte a essa pesquisa, fundamentando todo o trabalho desenvolvido; e através de

pesquisa de campo, por meio de entrevista semi-estruturada junto às funcionárias gerentes

(responsáveis por área) de uma organização hoteleira brasileira do Distrito Federal, que atuam

em cargos gerenciais e com qualquer tempo de trabalho na empresa.

3.3. Delimitação do Estudo

A pesquisa para a realização deste trabalho está limitada a uma organização hoteleira

brasileira. As entrevistas foram feitas com 6 mulheres funcionárias dessa empresa, todas

ocupantes de cargos gerenciais de várias áreas do hotel.

As entrevistadas foram contatadas e convidadas pessoalmente, sendo explicado o tema

da pesquisa e convidando-as para uma entrevista.

40

O critério de seleção das funcionárias foi o de serem responsáveis por determinados

setores do hotel, respondendo como gerentes das mesmas, independente da nomenclatura do

cargo.

3.4 População e Amostra

A população objeto deste estudo compõe-se de funcionárias de uma organização

hoteleira, que trabalham como gerentes de área (responsáveis de área), independente da

nomenclatura dos cargos. Na população pesquisada foram entrevistadas 6mulheres gerentes

de área. Essa amostra é composta por funcionárias que ingressaram na organização por meio

de processo de Recrutamento e Seleção.

3.4.1 Perfil das Entrevistadas

Foram entrevistadas seis mulheres em cargos executivos, com idade entre 28 a 57 anos,

com tempo na empresa entre cinco meses e oito anos, com o tempo no cargo atual variando

entre três e quinze meses. Em relação ao estado civil, duas são casadas, duas são solteiras e

duas são separadas ou divorciadas. Três delas não têm filhos. Em relação à escolaridade, todas

possuem ensino superior, sendo que apenas uma delas está cursando pós-graduação. Com o

intuito de preservar a identidade delas, o perfil não foi apresentado separadamente, assim

como o nome e o local de trabalho não foram revelados.

3.5. Instrumento de Coleta de Dados

Foram realizadas entrevistas abertas, semi-estruturadas e individuais. A entrevista

semi-estruturada, que é caracterizada pela "...formulação da maioria das perguntas previstas

com antecedência e sua localização é provisoriamente determinada." (COLOGNESE E

MÉLO, 1998). Na entrevista semi-estruturada o entrevistador tem uma participação ativa,

41

apesar de observar um roteiro, ele pode fazer perguntas adicionais para esclarecer questões

para melhor compreender o contexto.

Foram utilizadas as técnicas de entrevista dirigida, visto que as perguntas foram pré-

formuladas, e entrevista guiada, já que poderão ser feitas perguntas novas durante o processo

de entrevista. As perguntas procuram obter a percepção das funcionárias sobre como a

diversidade é tratada na empresa, como a empresa trata a eqüidade de gênero e saber quais são

os desafios em ser mulher executiva em uma organização hoteleira. Para a realização das

entrevistas foi seguido o roteiro de entrevistas descrito no Apêndice A.

3.6. Processo de Coleta de Dados

O processo de coleta de dados, conforme a classificação de Richardson et al. (1999),

foi do tipo corte transversal, porque ocorrerá num ponto pré-determinado no tempo, para

colher informações sobre a percepção do grupo em tal momento, uma vez que pode haver

variação dos resultados em novos estudos, devido a novas situações que as pesquisadas

possam vir a passar.

A escolha das entrevistadas foi feita pelo cargo que ocupam e foi perguntado se

aceitavam participar dessa pesquisa, deixando-se claro que as mesmas não terão seus nomes e

locais de trabalho revelados. As entrevistas foram realizadas no próprio local de trabalho das

entrevistadas, em salas de reunião onde só estejam presentes a entrevistada e a entrevistadora

(autora deste estudo). Todas as entrevistas foram gravadas com o devido conhecimento e

autorização das entrevistadas e foram desgravadas pela autora deste estudo posteriormente.

Para a realização da coleta de dados foi utilizado roteiro de entrevista semi-

estruturado, com perguntas abertas, que permita aos entrevistados “respondê-las com seus

próprios termos” (PATTON, 1980, p.212). Assim, novas perguntas puderam ser inseridas se

necessário, mas o que se propõe é que o roteiro seja seguido.

42

3.7 Procedimento de Análise dos Resultados

Optou-se por utilizar o método qualitativo, com a técnica de Análise de Conteúdo,

tendo em vista que a “análise qualitativa tem como objetivo situações complexas ou

estritamente particulares” (RICHARDSON et al., 1999, p.80), como é o caso deste estudo.

Segundo os autores, o método qualitativo de análise difere do quantitativo à medida

que não emprega instrumental estatístico como base do processo de análise de um problema.

No método qualitativo não se pretende numerar ou medir unidades ou categorias homogêneas,

mas “traduzir o objeto em seu subjetivismo” (SEABRA, 2001, p.55), por isso mostra-se mais

consistente com a proposta de se analisar qual é a visão das funcionárias gerentes

(responsáveis por área) da organização hoteleira a respeito dos desafios sem ser mulher

executiva em uma organização hoteleira.

Segundo Richardson et al. (1999, p.80), “a abordagem qualitativa procura descrever a

complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender

e classificar processos dinâmicos vividos pela organização e entender particularidades do seu

comportamento”.

A partir de análise qualitativa das entrevistas, pretendeu-se verificar a visão das

funcionárias entrevistadas sobre a forma como o hotel trata as mulheres na organização e

quais são os desafios enfrentados por elas na mesma, em especial das mulheres gerentes

(responsáveis por área). Dessa forma o método utilizado foi a análise de conteúdo, a qual

permite “compreender melhor um discurso, de aprofundar suas características mais

importantes (...) e extrair os momentos mais importantes” (RICHARDSON et al.,1999,

p.224). Somente após o conteúdo das entrevistas ser analisado que será possível definir as

categorias de análise.

43

4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

O processo de realização das entrevistas foi um desafio muito grande, em primeiro

lugar pela dificuldade em realizar a entrevista devido à agenda das entrevistadas, também

conseguir colocar no papel o que foi descoberto sobre os desafios em ser mulher executiva em

uma organização hoteleira, relacionando com a teoria existente e sem ter influência das

próprias percepções que a pesquisadora tem sobre o assunto.

As entrevistas que serviram de instrumento para a realização deste trabalho foram

analisadas utilizando-se o método de análise de conteúdo que, segundo Bardin (2004, p.29) “é

uma técnica que consiste em apurar descrições de conteúdo muito aproximativas, subjetivas,

para por em evidência com objetividade a natureza e as forças relativas dos estímulos a que o

sujeito é submetido”.

Entre as diversas técnicas de análise de conteúdo, segundo Richardson (1999, p.243),

“a mais antiga e a mais utilizada é a análise por categoria”. A categorização é a operação de

classificação dos elementos seguindo determinados critérios, não é uma etapa obrigatória na

análise de conteúdo, mas é um procedimento que facilita a análise da informação.

(RICHARDSON, 1999).

Segundo Bardin (2004, p.111), “a categorização é uma operação de classificação de

elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação e, seguidamente, por

reagrupamento segundo o gênero (analogia), com os critérios previamente definidos”. Para

Bardin (2004, p.112), “a partir do momento em que a análise de conteúdo decide codificar o

seu material, deve produzir um sistema de categorias” e um dos primeiros objetivos da

categorização, segundo a autora, “é fornecer, por codificação, uma representação simplificada

dos dados brutos”. Bardin (2004) ainda comenta que o título de cada categoria só é definido

depois de feita a análise, ou seja, no final da operação.

Para uma boa análise de conteúdo, segundo Richardson (1999, p.223), as categorias

devem cumprir os seguintes requisitos: “homogeneidade: não misturar critérios de

classificação; exaustividade: classificar a totalidade do texto; exclusão: um mesmo elemento

do conteúdo não pode ser classificado em mais de uma categoria; objetividade: codificadores

diferentes devem chegar aos mesmos resultados”.

Foram definidas quatro categorias na análise do conteúdo das entrevistas. As

categorias definidas visam identificar a visão das entrevistadas sobre as condições da mulher

executiva especialmente na organização hoteleira em que trabalha.

44

4.1. A percepção sobre a valorização da diversidade e da mulher executiva no ambiente

de trabalho

Essa categoria visa identificar como a organização estudada lida com a valorização da

diversidade, em especial com a valorização da mulher, tratando de aspectos como a

valorização da diversidade, do ambiente de trabalho e das características femininas na gestão,

através da visão das mulheres executivas.

Segundo as gerentes entrevistadas, elas não conhecem nenhum projeto de valorização

da diversidade na empresa. Quando perguntado se consideram que a empresa valoriza a

diversidade existem opiniões diferentes, sendo que duas delas acreditam que a empresa

valoriza a diversidade (Gerente-1 e Gerente-3), três delas consideram que o que existe são

oportunidades iguais para todos e não uma questão de valorização, sendo mais uma questão

de desempenho e competência (G-2, G-5, G-6) e uma delas (G-4) considera que a empresa

não valoriza a diversidade, não em relação a mulher, negros, homossexuais, etc., mas em

relação a portadores de necessidades especiais.

Eu acredito que sim. Não por conhecer projetos desse tipo no hotel, mas pelo que eu vejo e pelo que eu acompanho, aqui no hotel. Até porque temos muitas mulheres trabalhando, talvez até mais do que homens... Bem, temos muitas mulheres, muitos homens e, aqui no hotel, recebemos gente de todo o mundo. Pessoas de culturas diferentes, de países diferentes, por isso eu acho que o hotel dá importância a isso sim. (G-1)

Eu vejo que aqui o ponto forte é a competência e a capacidade e não necessariamente que haja um programa de valorização. (G-2)

Acredito que valoriza sim a diversidade, porque não existe nenhuma discriminação contra raça ou cor. (G-3)

Não considero que a empresa valorize a diversidade, pois ainda existe muito preconceito das pessoas, principalmente com deficientes. Com negros e mulheres eu não vejo; mais é com deficientes. (G-4)

Não vejo somente como valorização da diversidade. Eu vejo que existem direitos, chances e oportunidades iguais para todos. Existem oportunidades, aquele que se destaca e que tem melhor desempenho, é valorizado. Então, eu não veria como uma valorização da diversidade, mas como uma oportunidade igual para todos. (G-5)

45

Acredito que, na verdade, não há uma valorização. Mas, ela não faz uma discriminação. Por esse motivo, acredito que tanto faz se é mulher, negro ou branco. A competência vem em primeiro lugar. (G-6)

Quando perguntado se o hotel é uma boa empresa para a mulher trabalhar, todas

concordam que sim. As entrevistadas afirmam que homens e mulheres têm as mesmas

oportunidades de ascenderem, e que as mulheres são reconhecidas, assim como os homens,

mediante bom desempenho. Algumas abordam outros pontos como benefícios e salário

oferecido e tratamento. É interessante observar como algumas delas reconhecem o avanço das

mulheres em cargos de gerência.

Eu acho que é uma boa empresa sim. Começamos falando sobre existir discriminação ou não... Hoje, tem mulher que trabalha igualmente na faxina, como tem o homem, tem a mulher na recepção, como tem o homem. Tem mulher no cargo de gerência assim com o homem. Então, eu acho que sim, porque temos os benefícios que todo mundo tem. Eu acho que é uma boa empresa. Ela trata todo mundo igual, não há nenhuma discriminação. (G-1)

Acredito que sim. Acredito que a existência de gestores mulheres também facilitou a entrada de mais mulheres na gerência. Eles avaliam a sua capacidade, o que você tem de conhecimento, e não por ser mulher ou homem. (G-2)

Com certeza é uma boa empresa para se trabalhar. Realmente, eu vejo uma valorização da mulher aqui. Não existe a preocupação de ser homem ou ser mulher. A competência vem em primeiro lugar. (G-5)

Acredito que é uma boa empresa pra mulher trabalhar sim. Hoje, se pararmos para observar a maioria dos cargos de supervisão estão sendo ocupados por mulheres. Reforço o que eu disse na primeira pergunta, não existe discriminação. Basta ver a competência. (G-6)

Quando perguntado se é mais difícil para a mulher trabalhar em organizações

hoteleiras do que em empresas de outros ramos, a maioria acredita que é mais fácil. Algumas

dela atribuem isso a características femininas que colaboram principalmente para sua inserção

no mercado de trabalho e na gestão e sua permanência, especialmente na prestação de

serviços. Segundo Davel e Melo (2005, p.41) “as mulheres parecem estar mais confiantes,

destacando e valorizando suas singularidades”. Na visão de Lodi (1999 apud GRZYBOVSKI;

BOSCARIN; MIGOTT, 2002, p.190-191) a gestão empresarial apresenta diferenças

significativas, quando aferida ao sexo e aos estilos de liderança. Segundo esta autora as

mulheres executivas apresentam características peculiares nas organizações de aprendizagem

46

como conduzir atividades empresariais e familiares ao mesmo tempo, são flexíveis para

adaptar seu comportamento a diferentes situações; são humildes para aceitar situações de

desmotivação por período prolongado; apresentam maior estabilidade emocional; são

objetivas e persistentes; demonstra paciência, disposição para começar de baixo, aprender

com a modéstia, suportar condições impróprias, bem como maturidade para tarefas de

housekeeping, ou seja, administrar serviços sob condições específicas de desempenho e em

ambientes estáveis; tendem a adotar um estilo de liderança mais democrático.

Eu acho que é mais fácil para a mulher trabalhar em hotelaria. Pode ser mais difícil em algumas empresas corporativas, por exemplo. Na hotelaria se exige muita atenção a detalhes e organização. Nós lidamos, em todos os departamentos, com um volume muito grande de papéis, de pessoas que recebemos o tempo todo. Então, eu acho que sempre tem que ter uma mulher ali. Até pelo jeito dela liderar. (G-1)

É uma área de serviço, de hospitalidade, e a mulher tem um dom: ela é mais carismática. Além disso, somos mais flexíveis e fazemos várias coisas ao mesmo tempo, mesmo com pressão. Então, no ramo hoteleiro, eu não acho difícil a entrada de mulheres, sua permanência e assumir postos de gerência. Não sei em outro ramo, como por exemplo, o farmacêutico, mas na hotelaria as mulheres se identificam muito. (G-2) A mulher é mais paciente, é mais generosa, ela é mais centrada, ela não é imediatista. Existem esses projetos a curto, a médio e a longo prazo, e o homem é muito imediatista. Às vezes, ele não tem aquela visão, aquele retoque, que é necessário na hotelaria. Com certeza, principalmente em hotelaria. A mulher, por natureza, é detalhista, é visionária, no atendimento e na prestação de serviços. (G-3)

Uma delas acredita que ser mais fácil ou difícil depende mais da área dentro da

própria hotelaria e de acordo com uma maior presença de homens ou mulheres na equipe.

Segundo ela, o sucesso do trabalho também depende da forma como a gestora se comporta

frente a essa equipe. Ela ressalta também a importância das características femininas como

facilitadoras na sua atuação no ramo hoteleiro, principalmente na gestão, sendo que este é um

ramo que trabalha muito com minúcias e detalhes na prestação de serviços. Mas a forma

como fala, dá a entender que há uma flutuação entre o estilo feminino e o masculino de

gestão.

Depende muito da área em que você trabalha dentro da hotelaria. Você pode trabalhar numa governança, em que 90% da sua equipe é feminina, e todos se entendem. Você pode trabalhar numa área de eventos, onde 90% da sua equipe é masculina... Então, depende muito da maneira como você se comporta.

47

Muitas vezes, é preciso ser dura, ser rígida, mas você não pode perder a docilidade, o carisma e a feminilidade. É o carinho com que você trata a equipe, é a maneira de conversar que se conduz 40, 50, 60 homens trabalhando em um único departamento, sem problemas.. A hotelaria trabalha muito com detalhes, observa detalhes, minúcias... Nisso a mulher tem privilégio, tem maior facilidade do que o homem, pelas características que a hotelaria exige e que as mulheres possuem. (G-5)

Para Robbins (2000, p.413)

“As mulheres encorajam a participação, a partilha do poder e da informação e

tentam aumentar a auto-estima dos seguidores. Preferem liderar pela inclusão e

recorrem a seu carisma, experiência, contatos e habilidades interpessoais para

influenciar os outros. A tendência das líderes do sexo feminino, de serem mais

democráticas que os do sexo masculino, diminui quando as mulheres ocupam cargos

de dominância masculina. Ao que parece, as normas grupais e os estereótipos

masculinos sobre os líderes anulam as preferências pessoais, de tal forma que as

mulheres abandonam seus estilos femininos nesses cargos e atuam de modo mais

autocrático” (Robbins, 2000, p. 413).

Segundo Freitas (2001, p.11), “os grupos tendem a nivelar os indivíduos e a não

suportar as diferenças (mulheres em grupo de homens, homens em grupo de mulheres,

homossexuais, diferenças raciais, etc.)”. A autora acredita que é difícil para uma mulher

chegar e se fazer respeitar em um grupo tradicionalmente reservado aos homens. Para a autora

(op. cit., p.11) “algumas organizações, empresas em particular, são incapazes de fazer

respeitar os direitos mínimos do indivíduo e permitem que se desenvolvam o racismo e o

sexismo em seu seio”. Esta última colocação não é o caso do hotel, mas mesmo com as

dificuldades, elas estão se sobressaindo e mostrando o valor que têm como profissionais e

líderes competentes.

A entrevistada G-6 acredita que depende da empresa e do ramo de atuação para

realizar uma comparação, ressaltando que a dificuldade em se trabalhar em hotelaria reside

em se ter flexibilidade de horário, pois a exigência nesse sentido é muito grande.

Depende de qual empresa, ou segmento que a gente vai comparar. Em Brasília, comparado a um órgão público, a hotelaria é muito mais difícil. Pensando nessa flexibilidade de horário que a hotelaria exige, você não pode ter nenhum outro compromisso que não seja com a empresa. É realmente muito complicado. Em uma organização pública, por exemplo, você tem horário de chegada e de saída. Você pode até mesmo investir em sua carreira por meio de concursos públicos, que também vão ter horários pré-determinados. Na hotelaria, isso não acontece. Eu, por exemplo, matriculei-me em um curso de

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idiomas, que é um idioma que eu adoro. O curso começou há vinte dias, e eu não tive condições de freqüentar nenhuma aula ainda. Exatamente nos dias da minha aula, eu não pude me ausentar do hotel. (G-6)

Uma delas relata que mesmo considerando o hotel uma boa empresa para se trabalhar,

ainda existe melhorias a serem feitas para todos, não só para as mulheres. Ela aponta uma

questão muito importante, a da conscientização.

Na verdade, as melhorias ainda devem ser feitas. Não acho que seja ainda uma empresa 100% para se trabalhar, mas essas melhorias independem de ser homem ou mulher, são para todos. Acredito que deva existir também algum projeto de conscientização. As pessoas, que estão à frente: os gestores e os líderes têm que ter consciência da capacidade das pessoas, independentemente de raça, credo ou religião, gênero, e principalmente com deficientes. (G-4)

4.2. Os desafios em ser mulher executiva em uma organização hoteleira

Esta categoria diz respeito à visão das entrevistadas sobre os desafios em ser mulher

em uma organização hoteleira, em especial sobre os desafios da mulher executiva.

A maioria das entrevistadas relata que os grandes desafios em ser mulher executiva

numa organização hoteleira se referem à disponibilidade para o trabalho que a hotelaria exige

e conseqüentemente conciliar o papel profissional com os seus demais papéis: o de mãe,

esposa, estudante. Elas enfatizam como é difícil conciliar esses papéis, devido a carga de

trabalho que tem fora do ambiente de trabalho, ou seja, são todas as suas outras

responsabilidades na vida, tendo que muitas das vezes se dedicar mais ao trabalho que à

família e renunciar a alguns projetos pessoais.Oliveira (1999) comenta que as mulheres

acabam sofrendo de estresse psicofísico, devido à sobrecarga de trabalho, pois precisam ficar

oito horas na empresa e ainda têm a outra jornada em casa, fazendo compras, cuidando dos

filhos e dos maridos.

O desafio é o de administrar o lado mulher, o lado mãe, o lado profissional. A mulher costuma colocar muito amor, muito sentimento no trabalho. Então, muitas vezes, ocorre um desequilíbrio. Você pode pesar mais na parte profissional, e deixar a desejar na parte familiar e pessoal. Principalmente nós mulheres, nos dedicamos muito ao lado profissional e deixamos a desejar no lado familiar e pessoal. (G-2)

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Os desafios são grandes. A hotelaria é muito prazerosa e dinâmica, mas ela também é muito escrava. Porque, quando deixamos o serviço (...), nós não temos horários fechados, nós estamos 24 horas à disposição do nosso cliente. Então não é fácil conciliar esposo, filhos e trabalho; e fazer tudo, ao mesmo tempo, perfeito. Existem muitas cobranças, existe ausência na educação dos filhos, e há a cobrança do marido. Às vezes fica alguma que não é bem assistida. (G-3) Isso é bastante desgastante. Não consigo nem parar para planejar um filho, porque penso que vou acabar tendo que optar, em um dado momento, pela minha família. Então, eu estou adiando esse projeto de ser mãe, por conta desse desafio em ser uma mulher executiva, não porque isso seja um problema para a organização, mas eu gostaria de ter mais tempo para me dedicar ao papel de mãe. (G-6)

Outras relatam como desafio a questão das responsabilidades de estar à frente de um

departamento. A forma como a mulher age e lidera uma equipe também é considerada como

um desafio na organização.

Para mim, tem sido um desafio mesmo, porque esse empreendimento é um mundo para você administrar. Há a responsabilidade que eu tenho no meu departamento, que é o de gerente, e quando você pensa que tem em mãos todo um controle. É um grande desafio mesmo, e eu quis abraçar essa causa. Mas é uma carga muito pesada de responsabilidade. Um outro desafio acredito, será conciliar uma pós-graduação. (G-1)

O meu desafio é também lidar diariamente na minha área, que é muito desgastante, mas eu gosto e me identifico com ela. Sempre busco novos conhecimentos. Isto é um desafio muito grande. (G-2)

Uma delas acredita que os desafios são os mesmos para homens e mulheres em termos profissionais. Outra gerente aponta como desafio mostrar para os clientes, especialmente homens, sua competência enquanto mulher executiva.

Para os gerentes, supervisores, ou de quem está à frente, os desafios são os mesmos, tanto dos homens quanto das mulheres, que é fazer a empresa crescer, trabalhar muito para que consigamos ter nosso lugar no mercado. (G-4)

O desafio em termos profissionais é você se mostrar para o cliente como uma pessoa responsável e capaz de fazer o que você está fazendo. E, muitas vezes, não se intimidar, porque os clientes que recebemos, muitas vezes, chegam com aquele terno e gravata se achando os donos do mundo. Você vê que eles tentam te intimidar por serem homens e por serem grandes executivos. Por isso você tem que se mostrar, bater o pé e dizer ‘esse espaço é nosso, nós estamos conquistando, para irmos trabalhando. (G-5)

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As entrevistadas acreditam que hoje as mulheres estão muito bem preparadas para o

mercado de trabalho, buscando seu lugar, competindo de igual para igual com os homens,

estando muitas das vezes mais preparadas que eles. Uma delas fala sobre a entrada de mais

mulheres em universidade buscando mais conhecimento.

Acho que as mulheres estão conquistando seu espaço. Hoje, você vê nas universidades muito mais mulheres, buscando ampliar seus conhecimentos e elas já entraram no mercado de trabalho e isso também contribui para que ela entre também. O grande desafio, que eu vejo hoje para as mulheres em geral, é o de conciliar família e trabalho, mas eu acho que quem quer, independentemente de ser homem ou mulher, consegue. (G-4) Hoje, o mercado é muito competitivo e, cada vez mais, nós mulheres estamos muito preparadas, e competindo de igual para igual com os homens. Muitas vezes, até muito mais preparadas do que eles. Fora do hotel também. Hoje, como você pode ver o crescimento no índice de mulheres executivas nas grandes organizações, no Brasil. Há 30 anos atrás, não era assim, mas hoje a mulher está buscando o lugar dela no mercado de trabalho. (G-3)

Em relação ao nível de comprometimento da mulher e do homem, de acordo com

Williams e Ferris (2000), outros fatores precisam ser considerados, como por exemplo,

oportunidades de carreira, compromissos externos e a família. Todas as entrevistadas

concordam que a mulher é muito comprometida com o trabalho, até porque consegue se

dividir mais e cumprir “suas obrigações” em seu dia-a-dia. Jandeska e Kraimer (2005) numa

pesquisa realizada sobre comprometimento organizacional, as autores concluíram que as

mulheres se acham muito comprometidas com a organização. As autoras dizem que as

mulheres apresentam alto nível de comprometimento organizacional, mesmo em culturas

altamente masculinizadas, embora expressem baixa satisfação com a carreira, não sendo este

o caso das mulheres no hotel. Das entrevistadas, quatro consideram que o comprometimento

com o trabalho independe de gênero e três consideram a mulher mais comprometida que o

homem. Estas argumentam que o comprometimento está mais ligado a capacidade de

dedicação a várias funções ao mesmo tempo, dentro e fora da empresa.

É muito difícil responder a isso. Porque eu já trabalhei com mulheres que não eram nenhum pouco comprometidas, e já trabalhei com outras que são extremamente comprometidas, e vice-versa: há homens muito profissionais também. Então, não é pelo gênero que vamos dizer o que é determinante. Acho que não há distinção. (G-1)

Sinceramente, sim. Acho que as mulheres são mais comprometidas, pois são mais dedicadas. Ela sabe se dividir. E, apesar de três ou quatro funções, em

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termos de preocupação, ela consegue se dedicar muito bem a cada uma delas. O pensamento dela consegue ser administrado mais facilmente. Uma mulher, hoje, não cuida apenas do seu serviço. Ela cuida da casa e da sua família. Ela consegue abranger uma organização própria, como se ela tivesse um complexo, uma empresa para cuidar o tempo todo, como se ela gerenciasse vários departamentos de várias empresas. Somos mais comprometidas e isso faz com que consigamos ter sucesso na profissão. (G-5)

As entrevistadas de um modo geral não acreditam que as mulheres precisam se

esforçar mais que os homens para conseguirem as mesmas coisas no hotel ou para provar que

são melhores, mas não descartam que essa exigência existe fora da empresa. Algumas relatam

que elas precisam se esforçar mais como um todo, pois a vida exige que muito delas e pede

que elas se esforcem, se dediquem e se comprometam mais do que os homens para dar conta

de todas as tarefas que têm no dia-a-dia também fora da empresa. Noor (2002, apud LINDO

et. al., 2007, p. 5) mostra que “as horas de trabalho da mulher crescem muito mais do que as

dos homens, considerando-se que horas de trabalho representam a soma das horas

despendidas no emprego formal e em casa.” Segundo o Conseil Consultatif Canadiensur La

Situation de La Femme (1994, p.19 apud TREMBLEY, p. 101), “as pesquisas confirmam que

as mulheres que tem um emprego assumem sempre a maior parte das responsabilidades pelas

tarefas do lar e do cuidado com os filhos.

Eu acho que a mulher precisa se esforçar mais como um todo. Naturalmente, a mulher consegue se dividir mais, e daí se esforça mais. Têm as tarefas de casa, os estudos, o trabalho, vários papéis que ela consegue administrar melhor que o homem. Mas não vejo que ela precise se esforçar mais aqui dentro para provar algo, é uma questão de ser competente. (G-4)

Dentro do hotel não. Na sociedade, sim. Até mesmo pelo histórico da sociedade, em termos patriarcais, de o homem estar à frente de tudo, lá fora ainda precisamos mostrar que somos capazes. Dentro do hotel, tanto o homem quanto a mulher devem mostrar que são capazes, em tudo o que fazem. (G-5)

Apenas uma delas aponta que devido à vaidade feminina as mulheres estão sempre

querendo mostrar que são capazes e até melhores que os homens, mas não atribui isso a uma

exigência do hotel, por serem mulheres. Segundo Aguiar (2007, p.85) “a dupla ou tripla

jornada enfrentada pela mulher moderna, acabam exigindo da mulher um esforço descomunal,

pois em todos os papéis que desempenha, ela precisa ser a melhor”. Uma destas considera que

a mulher está sempre competindo com o homem por uma questão de vaidade.

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Por causa da vaidade feminina, estamos sempre querendo mostrar do que somos capazes, competentes e até melhores. Precisamos fazer isso. Mas é complicado porque, às vezes, a mulher tem dupla jornada. Ela tem a jornada de trabalho no hotel e ainda, em casa, continua. É mais pelo sentimento de ter que fazer mais, e não por que o hotel exija mais por sermos mulheres. (G-3).

4.3. O tratamento às mulheres na organização e experiências de preconceito e

discriminação

Esta categoria mostra como as mulheres são tratadas na organização a partir da visão

das mulheres executivas e apresenta os casos de discriminação e preconceito em que as

entrevistadas presenciaram ou tiveram conhecimento, mesmo que não tenham sido

endereçadas a elas, além de momentos difíceis vivenciados por elas próprias na organização

na qual trabalham.

A maioria das entrevistadas nunca vivenciou ou presenciou uma situação de

preconceito ou discriminação. Uma das seis entrevistadas relatou ter presenciado uma

situação de discriminação e preconceito na organização, com uma portadora de necessidades

especiais, que no caso relatado, a vítima chegou a ser demitida. Todas elas concordam que

essas situações ocorrem em outras empresas e na sociedade como um todo. Apenas uma delas

já presenciou uma situação em outra organização com um professor que era homossexual.

Nunca aconteceu comigo, mas já presenciei uma situação com deficientes. Uma pessoa foi mandada embora por ser deficiente, e eu percebi que a deficiência era na supervisora em saber lidar com ela, e não na capacidade da pessoa para trabalhar. Em outras empresas nunca passei por uma situação dessas também. (G-4)

Ainda em relação a vivências de discriminação, uma delas relata que já vivenciou

situações de discriminação com clientes do empreendimento.

Já passei por uma situação constrangedora e de discriminação, mas foi com um hóspede, nunca com alguém que trabalhasse no hotel. (G-6)

Apenas uma das entrevistas relatou que vivenciou um caso com uma pessoa que

trabalhava na organização, não o considerando como uma discriminação da empresa, mas sim

como um caso isolado e pessoal.

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Aqui no hotel, não que eu tenha considerado isso como uma discriminação da empresa, foi um caso isolado em que eu tive problemas com superiores meus por conta de eu ser mulher e de ter filhos. Então, foi uma situação específica, com uma única pessoa, dentro de um setor de trabalho, por eu ser mulher e ter filhos. A gerência e o RH tomaram conhecimento e hoje essa pessoa nem trabalha mais aqui. (G-5)

A gravidez não foi um fator colocado pelas entrevistadas como motivo de

discriminação. A gestante conta com o apoio do hotel em todo o período de gestação. Uma

delas inclusive fala como o hotel trata a mulher gestante.

Temos pessoas que têm filhos, têm filhos menores, no meu departamento tem três colaboradoras afastadas por causa de gravidez. E, na gravidez, não só é o período da licença maternidade que a colaboradora se afasta. Enfim, tem o pré-natal, tem os dias que existe a indisposição e que ela também não comparece ao trabalho. Em contrapartida, na nossa unidade hoje, podemos contratar uma colaboradora temporária para suprir esse espaço, essa necessidade enquanto a outra colaboradora não pode assumir sua função. (...) Temos todo o apoio do hotel para contratar uma pessoa para fazer as tarefas dessa pessoa que está com indisposição, que está gestante. Hoje em dia, eu acho que é muito difícil, nas empresas, essa preocupação. (...) A gestante pode permanecer e sem se esforçar, fazemos um deslocamento de função, fazendo serviços de apoio, como na rouparia, por exemplo, pois nos temos que nos preocupar com o bem-estar das colaboradoras e o hotel arca com todo este custo. (...) Mesmo aqui sendo diferente de outras empresas, acredito que a mulher sente um certo medo de engravidar, por mais que queiram ser mãe, devido modo como a sociedade como um todo lida com isso.(G-3)

O fato de o hotel lidar de forma positiva com a gravidez, não quer dizer que as

mulheres não tenham receio em engravidar. Oliveira (1999, p.120) diz a “representação da

maternidade para as trabalhadoras é marcada pelo conflito entre o desejo de ser mãe e o

sentimento deque estão cometendo um crime, pelo qual são penalizadas; elas sabem que não

existe neutralidade na relação empresa e maternidade do ponto de vista de eficácia da

produção”.

Quanto às formas de tratamento relacionadas ao estado civil das mulheres, as gerentes

entrevistadas afirmam nunca terem passado por situação de discriminação em relação a serem

casadas ou solteiras, mas algumas delas admitem que isso possa ocorrer em outras

organizações. Uma delas acredita que até mesmo dentro do hotel isso possa acontecer em

departamentos mais operacionais, dando preferência a mulheres solteiras e sem filhos, mas

não em cargos executivos, até porque uma mulher solteira e sem filhos teria mais

disponibilidade para trabalhar além do horário de serviço estipulado, pois não teriam filhos

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pequenos em casa esperando-as. Mas sua visão é um pouco confusa, e parece estar mais

ligada ao cargo e não necessariamente ao departamento ou número de filhos.

Mas a visão da maioria das gerentes é de que não há diferenças de tratamento entre

homem e mulher, todos são tratados com respeito. Apontam também que o fato de ser casada

ou solteira, com ou sem filhos, não influencia no tratamento com as mesmas por esse fato e

nem em comparação aos homens. Segundo elas não há diferenças de tratamento que

impliquem em alguma forma de discriminação.

Não. Não há mesmo. Eu trabalho com mulheres casadas que não têm filhos, mas já trabalhei, no mesmo departamento, com mulheres casadas que têm filhos, e não acho que tem diferença nenhuma. (G-1) Nós somos muito bem tratadas, sem discriminação. Até porque nós temos aqui um universo cheio de mulheres em todos os cargos, independente de casadas, solteiras, com ou sem filhos. Quando precisamos de algum serviço braçal, ou de alguma outra coisa mais masculina, temos o apoio deles, e trabalhamos em conjunto, sem problemas. (G-3)

A entrevistada (G-5) relata que o hotel não trata diferentemente homens, mulheres,

negros ou homossexuais, mas relata que há uma preocupação com homens e mulheres que

tem filhos, de forma a adotarem um regime de horário flexível. Segundo Trembley (2005,

p.100) é importante se pensar em termos de um “programa trabalho-família” de forma a

assegurar que as mulheres participem de forma plena e efetiva no mercado de em condições

de igualdade com os homens. Esta autora defende que “quanto mais os regimes de horários

flexíveis estiverem acompanhados de um “programa trabalho-família” mais bem elaborado e

eficaz, mais contribuirão para favorecer a igualdade econômica das mulheres.”, não sendo um

recurso único e isolado, pois pode não produzir os resultados esperados do ponto de vista da

participação profissional das mulheres, pois “corre-se o risco de ampliar, até mesmo na esfera

doméstica a desigualdade da partilha das responsabilidades familiares entre homens e

mulheres e, em conseqüência, reproduzir a desigualdade econômica e profissional das

mulheres no mercado de trabalho”. (p. 102). Ela sugere que este recurso deve ser amparado, por

exemplo, por medidas como um sistema apropriado de guarda de crianças, ou que estimulem

os homens a assumir responsabilidades familiares.

Num sentido geral, o hotel não trata diferentemente homens, mulheres, negros ou homossexuais. Ele tem uma forma única de tratar os seus colaboradores. É tranqüilo, sem maiores diferenças. Não há diferença de tratamento. Mas, muitas vezes, de observação no que essa pessoa vai fazer. Se eu tenho um colaborador que é casado e tem filhos, e um colaborador que não tem, é lógico

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que vamos conversar com esta que tem filhos a questão de uma hora extra, de um banco de horas, de estenderem o horário... Você conversa com ela de uma maneira diferente, porque sabemos que existe algo que ela precisa fazer posteriormente. Não que a solteira não tenha, mas você tem que se preocupar com a família também. Você já passa muito tempo no hotel, e é preciso verificar como está a base dessa colaboradora lá fora, porque ninguém vai trabalhar bem aqui dentro se lá fora não estiver tranqüilo. Nós temos essa preocupação aqui, tanto com homens quanto mulheres.. Eu tenho uma colaboradora que é mãe solteira, e ela prefere entrar mais cedo, para que ela possa sair mais cedo e acompanhar a saída do filho na escola, às 7 horas da noite. Então, ela entra mais cedo para fazer isso. Foi um acordo ao qual chegamos, para que ela pudesse acompanhar o filho. Não por discriminação ou por diferença, mas foi um ajuste para que ela se sinta bem no local em que está trabalhando, também. Então, temos essa preocupação de trabalhar de acordo com a necessidade de cada colaborador. (G-5)

Todas as entrevistadas relatam que se sentem respeitadas na organização,

principalmente em relação às suas opiniões e decisões. Elas acreditam que isso se deve ao

respeito mútuo que existe na organização e da forma como se posicionam: com argumentos

coerentes e bem fundamentados.

Acho que sou respeitada devido a forma de se posicionar, saber os argumentos e saber a hora de falar. Aprendi a me posicionar melhor, ser mais firme, e por respeitar as pessoas, hoje eu não tenho problemas com isso. (G-4)

Meus colegas de trabalho e supervisores me respeitam, respeitam minhas opiniões e minhas decisões. Sem dúvida. Eu não atribuiria isso ao fato de ser mulher ou homem. Eu, de fato, passei por várias funções, e sempre me coloco de uma forma coesa e tranqüila. Então, acredito que eles aceitam minhas opiniões mais por causa disso, não tem relação com essa questão do gênero. (G-6)

Em relação a oportunidades de crescimento profissional as entrevistadas acreditam que

o hotel oferece oportunidades iguais de crescimento, e que nunca deixaram de entrar em uma

vaga por serem mulheres. Apenas uma delas relata que numa administração anterior sentia

que as oportunidades eram dadas mais aos homens. Algumas opiniões ficaram divididas e

confusas, pois relatam que em alguns cargos depende muito da natureza do cargo e do perfil e

ao mesmo tempo percebem e relatam a ascensão de várias mulheres a diversos cargos de

natureza diferentes, inclusive de chefia (que é o caso de muitas delas). Elas relatam que

alguns cargos dentro do hotel assumidos por homens impõem mais respeito para os clientes e

que alguns cargos são muito braçais e são inapropriados para mulheres. Apenas uma delas

relata que em alguns casos pode haver discriminação ou que determinada área prefere a

contratação de homem ou mulher, pois as decisões acabam sendo subjetivas. Mas são

56

decisões isoladas e não da empresa com um todo. As normas escritas da organização e a

política de recursos humanos têm importante papel na definição das oportunidades. São elas

que ditam as regras de uma promoção. O problema é que nem todas as regras são seguidas e

como já foi dito, algumas das decisões são subjetivas. Segundo Oliveira (1999, p.87),

“algumas profissões expressam uma escolha arbitrada por mecanismos ideológicos imersos na

cultura sexuada”, ou seja, algumas profissões assumem características femininas ou

masculinas.

Como eu havia falado, nesta última administração eu não sinto. Nunca senti. Mas, em uma antiga, sim. Por exemplo, na minha área, eu sentia que um antigo administrador dava mais oportunidades para os homens que para as mulheres. Hoje, eu não sinto isso. Acredito que há alguns anos atrás sim, hoje o gênero não é mais determinante. (G-2)

Eu nunca trabalhei em outra empresa, por isso eu não poderia falar com propriedade como seria. Mas, na hotelaria, posso dizer que não há discriminação. A oportunidade existe, tanto para homens quanto para mulheres. De fato, sou prova disso, porque tenho oito anos de empresa, e já devo ter passado por uns sete cargos. A competência vem em primeiro lugar. (G-6)

Eu não acho que por eu ser mulher deixei de entrar em uma vaga, ou que eu tenha perdido uma vaga. Já estou nesta empresa há quase 5 anos, e eu já vi mulheres assumindo cargos de chefia, sem restrição nenhuma. Mas, ao mesmo tempo, depende do tipo de função. Depende do que a pessoa vai fazer e do cargo que ela vai assumir aqui dentro. Aí, talvez isso seja determinante no gênero. Por exemplo, o supervisor noturno de uma recepção, o fator gênero já influi. Por ser à noite, um homem, queira ou não, impõe mais respeito aos clientes. Alguns cargos estão mais ligados a isso do que só a competência, não porque se acredita aqui que uma mulher não é capaz, é mais uma postura dos clientes. Vejo muitas mulheres aqui na empresa assumindo cargos de supervisão, gerência... (G-1)

Bem, em cargos de chefia, eu não vejo diferença, mas existem alguns departamentos que eu sinto certa discriminação. Isso é mais comum com o pessoal do nível operacional. Às vezes, é discriminação pura e simplesmente, às vezes, é pela natureza do trabalho, da função que tem mais esforço físico e mais desgaste, não sendo apropriado para a mulher. Daí, o homem, naturalmente, tem mais força física do que a mulher. Mas, o contrário também existe. Há supervisores que dizem ‘eu só quero se for mulher; não quero homem nesta função’.. Dependendo da função, sim, o gênero seria determinante. Mas nos cargos de chefia, não. Não vejo diferença nenhuma. Sabemos que mais de 60% do hotel é de homens, mas nos cargos de chefia, esse número é igual, essa porcentagem é igual, de homens e de mulheres. (G-4)

57

4.4. Expectativas e sonhos profissionais

Esta categoria trata dos sonhos e planos profissionais das mulheres funcionárias da

organização hoteleira pesquisada. Revela quais eram seus planos profissionais quando

entraram na empresa e quais são os planos profissionais atualmente, além das dificuldades por

quais passaram e ainda passam para realizarem os sonhos profissionais.

Algumas das entrevistadas admitem já terem entrado na empresa com a intenção de

virarem executivas, de terem um crescimento profissional bastante significativo. Algumas

ingressaram na empresa com o cargo de executivas. Uma delas relata que não tinha planos

profissionais quando entrou na hotelaria.

Pensei em crescer, mas o máximo que eu pensei chegar seria à liderança dessa única área, hoje lidero duas áreas. (G-6)

Sinceramente, eu não tinha um plano profissional. Eu queria entrar na hotelaria, mas eu não sabia em que área entraria, o que eu iria fazer e como fazer. Eu entrei ‘no escuro’, vamos dizer assim, e me apaixonei pela área em que estou hoje. As coisas foram acontecendo. (G-5)

Quando eu entrei aqui, tinha planos de crescer na minha área e me tornar uma gestora. (G-2)

Sobre seus planos profissionais hoje a maioria das gerentes relata terem conquistado a

posição que almejavam dentro do hotel e eles estão mais voltados ao próprio

desenvolvimento, ao desenvolvimento da área a qual pertencem e ao crescimento do hotel.

Bom, aqui nessa empresa, eu já conquistei o que eu queria. O próximo passo seria a gerência geral, que não me interessa Meus planos profissionais hoje se baseiam em me desenvolver mais ainda na minha área. (G-6) Hoje, os planos têm sido à curto prazo. As oportunidades vão aparecendo e eu vou abraçando cada uma. Meus planos hoje: Especializar-me mais na área, conhecer mais dela e crescer. Acho que a hotelaria é um grande desafio, por tudo que nós estamos vivendo no Brasil. É uma área extremamente promissora, por isso quero adquirir mais conhecimentos e buscar a eficiência e a excelência no meu trabalho, cada vez mais. (G-5) Então, esse ano, os objetivos são grandes. É conseguir estruturar bem a minha equipe, conseguir fazer um trabalho legal e, ao mesmo tempo, buscar uma melhoria para o meu crescimento profissional, para conseguir um desempenho melhor na empresa que estou hoje. (G-1)

58

Independente de quais sejam os planos profissionais das entrevistadas, elas foram

unânimes em afirmar que não acreditam que se fossem homens teriam realizado ou

realizariam seus planos mais facilmente. Uma delas afirma isso falando sobre diferenças

salariais entre homens e mulheres em cargos executivos.

. Não acredito que se fosse homem teria realizado meus sonhos mais rápido e acho que se fosse não conseguiria realizar o que quero no futuro. (G-1)

Não precisaria ser homem pra chegar até onde cheguei, nem ao menos chegaria mais facilmente. Há homens que estão no mesmo nível que eu, em outros setores, e que ganham menos do que eu. Na verdade, os maiores salários aqui do hotel são de mulheres. (G-4)

Os seus desafios para chegarem aonde chegaram também foram. Quatro delas

chegaram ao cargo através de ascensão profissional dentro do hotel. Duas delas ascenderam

fora do hotel. A maioria delas relata que as dificuldades foram mais em conciliar a vida

pessoal e a profissional. Uma delas relata que a dificuldade residiu no fato de ter mudado sua

área de atuação. Uma outra gerente relata que enfrentou barreiras referentes idade, falta de

formação em hotelaria e da concepção dos profissionais da hotelaria pela sociedade há 30

anos atrás.

Quando eu comecei minha profissão foi difícil, porque há 30 anos atrás, moça de família não trabalhava em hotelaria, nem pessoas bem nascidas. Existia muito essa discriminação, e acredito que, no Brasil inteiro, antigamente existia muito isso, principalmente contra os homossexuais. Primeiro, eu enfrentei a barreira, porque eu não tinha formação hoteleira e já fui assumindo um cargo de chefia. Então, houve essa resistência por parte das pessoas antigas que achavam que, eu estar no cargo, seria um erro. E, também, por ser jovem. Eu assumi muito jovem a área de governança, tinha 26 anos, e não era comum isso, aqui no Brasil, antigamente. (G-3)

Eu cheguei a esse cargo fora deste hotel. Na verdade, o obstáculo que eu tive foi mais em termos profissionais, de aprendizado, e de ir absorvendo as informações. Os desafios que eu enfrentei, no começo e no outro hotel, eram o de conciliar a vida pessoal e profissional. Então, no começo, para eu me adaptar foi muito desgastante. (G-4) Enfrentei primeiro, o obstáculo do conhecimento, por causa da mudança de área. Depois de 14 anos, com o nome consolidado no mercado como professora, lançar mão de tudo isso para começar uma profissão, conhecer tudo de novo, buscar esse conhecimento... Tive muita ajuda dos gerentes da época. (G-5)

59

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS É notória a expansão do número de mulheres no mercado de trabalho. A expansão da

escolaridade, à qual as brasileiras estão tendo cada vez mais acesso é um dos fatores que

favorecem o ingresso delas no mercado de trabalho. É somente um fator facilitador não

extinguindo os vários obstáculos que as mulheres precisam vencer para obterem sucesso

profissional, conquistando, por exemplo, cargos executivos.

As mulheres em sua maioria precisam demandar grande esforço e dedicação para

conciliarem o papel profissional com os demais papéis, pois mesmo com as mudanças

ocorridas na sociedade, nem sempre elas dispõem do apoio que precisam, seja da família, seja

da organização à qual pertencem.

As gerentes entrevistadas nesta pesquisa acreditam que a empresa em que trabalham

valoriza a diversidade, apontando principalmente o fato de que as mulheres ocupam 50% dos

cargos de gerência dentro da organização, sendo um número representativo dentro da mesma

e mediante as porcentagens encontradas em pesquisas na literatura, em diversos tipos de

organizações. Apenas uma discorda da opinião das demais, afirmando que das minorias

(mulheres, negros, homossexuais e portadores de deficiência) apenas os portadores de

deficiência ainda não têm seu valor reconhecido na organização. Todas foram unânimes em

relatar que não conhecem nenhum projeto sobre valorização da diversidade.

Houve diferenças de opiniões entre as gerentes quando o assunto era valorização da

mulher na organização. A maioria das gerentes concordou que a empresa agrega valor a um

profissional devido a sua competência e não por uma questão de gênero, que homens e

mulheres igualmente têm que mostrar que são capazes de assumir a posição que ocupam, mas

mesmo assim não deixam de se sentir valorizadas, pois é uma grande conquista chegar aonde

chegaram.

Quanto a ser uma boa empresa para a mulher trabalhar, todas concordam que sim.Elas

acreditam que é mais fácil para mulher trabalhar neste tipo de organização, principalmente

devido a características femininas que colaboram na sua inserção e permanência no mercado

de trabalho, em cargos de gestão, e especialmente na prestação de serviços. A maioria delas

(66,6%) conquistou o cargo de gerência dentro da empresa e elas acreditam que homens e

mulheres têm as mesmas chances de crescimento profissional dentro da mesma. Em alguns

momentos elas parecem se contradizer em relação a ocupação de homens e mulheres nos

mesmos cargos, relatando que dependendo da natureza do cargo, a preferência pode ser dada

a um homem ou a uma mulher, especialmente em cargos braçais. Uma questão bastante

60

interessante é levantada, que muitas das vezes o preconceito e discriminação é por parte dos

clientes em lidar principalmente com mulheres em cargos de supervisão. Uma das

entrevistadas aponta que muitas das vezes pode se tratar de discriminação, havendo

preferência nos setores por homens ou mulheres, independente do cargo. Reconhecem que há

questões que precisam ser melhoradas na empresa para todos, uma delas apontando em

especial sobre projetos de conscientização para lidar melhor com as pessoas portadoras de

deficiência.

Para as mulheres, trabalhar em um hotel se torna um desafio a mais do que teriam em

outro tipo de organização, pois requer delas muita dedicação, em especial em relação à

disponibilidade de horário, apresentando dificuldades e desgastes em conciliar o papel

profissional com os demais: mãe, esposa, estudante, etc., de forma que um destes últimos não

fica bem assistido. Consideram ser esse o maior desafio enfrentado pelas mulheres, em

especial as executivas e também as responsabilidades em se estar à frente de uma área. Isso

pode explicar o fato de que muitas delas percebam como maior o comprometimento delas

com a organização do que o dos homens. Elas não acreditam que precisam provar que são

melhores que seus colegas do sexo masculino para poderem alcançar as mesmas posições e o

mesmo respeito que eles alcançam. Também não acreditam que se fossem homens chegariam

mais rápido ao cargo que conquistaram, ressaltando inclusive que em sua maioria os salários

são maiores entre as executivas. Elas são muito competentes e ao mesmo tempo, não deixam

de lado as características femininas que as fazem únicas, como a delicadeza, atenção a

detalhes, organização, e a forma como lidam com as pessoas, etc. As entrevistadas

consideram que cada vez mais as mulheres estão preparadas para o mercado de trabalho,

buscando seu lugar, estando muitas das vezes mais preparadas que os homens.

Esta pesquisa mostrou visões diferentes entre as gerentes em relação às discriminações

ocorridas no local de trabalho. A maioria das gerentes nunca presenciou ou vivenciou algum

tipo de discriminação na organização. Uma delas presenciou um caso com uma pessoa

portadora de deficiência e outra relatou que vivenciou uma situação com um ex-chefe, mas

considerou o caso isolado devido às providencias tomadas em relação a ele pela empresa, não

admitindo o comportamento do mesmo para com ela. Não há relatos de percepção de

diferença no tratamento com mulheres, em relação ao estado civil ou número de filhos. Um

fato bastante interessante é o tratamento dado às mulheres grávidas, sendo dado o apoio

necessário pela empresa. Mas como foi apontado nos resultados, isso não significa que

algumas mulheres não tenham receio em engravidar, podendo esse fato ser justificado por

situações vivenciadas ou presenciadas fora da empresa, pela forma como a própria sociedade

61

vê a mulher grávida e/ou que tem filhos ou até mesmo de situações vivenciadas ou

presenciadas dentro da empresa, mas que não foram relatadas nesta presente pesquisa. Na

visão desta pesquisadora, elas se sentiram confortáveis em falar de preconceito e

discriminação dentro da empresa onde trabalham, não apresentando medo dos caminhos que

essa pesquisa tomaria.

Uma organização inclusiva e justa deve ter um sistema de aprendizagem contínua

sobre como usar todas as capacidades humanas para obtenção de um objetivo comum. Dessa

forma, deve-se desenhar políticas, estruturas e normas específicas que produzam respeito e a

inclusão de todos os membros organizacionais.

Conseqüentemente, através dessa compreensão, várias sementes serão plantadas para o

combate à discriminação, não só em relação às mulheres, mas às minorias15em geral. Foi

observado também que o “engajamento direto com as diferenças é a chave para criação de

uma cultura de inclusão nas organizações. A diversidade não se resume somente ao sistema de

quotas ou do conhecimento do numero de pessoas provenientes de um ou outro grupo de

identidade representado na organização”. (DAVIDSON E FERDMAN, 2002 apud TORRES;

PÉREZ-NEBRA, 2004, p. 454).

Para Fleury (2000, p.25) do ponto de vista das empresas, entretanto, o foco precisa ser

menos ideológico e mais estratégico, para que programas dessa natureza frutifiquem. Para a

autora não é interessante trabalhar com o sistema de cotas, como é feito em países da América

do Norte, para garantir o acesso das minorias aos empregos, mas sim ampliar o foco de

atuação, “incorporando ao programa, objetivos econômicos e sociais, mostrando, por

exemplo, como uma política de gestão da diversidade cultural pode atrair e desenvolver novas

competências, adicionando valor ao negócio.”

Criar somente diversidade não é suficiente. Diversidade não é um sinônimo para

pluralismo e para inclusão. “Para se ter sucesso no gerenciamento da diversidade as

organizações tem de repensar e redefinir seus mercados, produtos estratégias, missões,

praticas de negócios, e cultura organizacional” (BOYCE E WILLETS, 1994 apud TORRES;

PÉREZ-NEBRA, 2004, p.457).

Os resultados apresentados nesta pesquisa não são suficientes para esgotar o tema em

estudo, visto que somente foram entrevistadas somente as mulheres executivas de uma única

organização hoteleira. Esta pesquisa pode servir como um importante ponto de partida para a

15 Em relação às minorias compreenda-se: homossexuais, negros, judeus, etc.

62

discussão dos desafios que as mulheres executivas enfrentam ao trabalhar em empresas que

demandam tamanha dedicação, como é o caso da hotelaria.

Este estudo incentiva o desenvolvimento de ações preventivas relacionadas ao

combate à discriminação da mulher na organização pesquisada, em relação à ocupação de

alguns tipos de cargos, em outras que se identifiquem com o assunto apresentado, assim como

a continuação dos estudos sobre a situação da mulher executiva nas organizações hoteleiras

brasileiras. Este estudo também incentiva o desenvolvimento de ações preventivas no

combate à discriminação de outras minorias, em especial de pessoas portadoras de

deficiência.

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APÊNDICE A - ROTEIRO DE ENTREVISTA

1) Você considera o Hotel uma empresa que valoriza a diversidade? 2) Você conhece algum projeto ou política do Hotel sobre valorização da diversidade?

3) Você já presenciou situações de discriminação ou preconceito dentro do Hotel, contra negros, mulheres, homossexuais ou qualquer outro tipo de minoria? Se sim, como aconteceram?

4) Antes, ao longo de sua carreira, você se sentiu discriminada pelo fato de ser mulher? Se sim, como aconteceu e como você se sentiu?

5) Você acha que o Hotel é uma boa empresa para a mulher trabalhar? Por quê?

6) Quais são os desafios em ser mulher executiva em uma organização Hoteleira?

7) Você acha que para uma mulher, trabalhar em uma organização Hoteleira é mais fácil ou difícil do que em um outro tipo de empresa? Por quê?

8) Você acha que o Hotel oferece oportunidades iguais a homens e mulheres para que cresçam profissionalmente?

9) Se houver um homem e uma mulher igualmente qualificados concorrendo a um cargo, você acha que o fator gênero seria determinante para que o homem fosse o escolhido?

10) Há diferenças de tratamento entre mulheres casadas e com filhos e mulheres solteiras? Se sim, quais?

11) Você já passou por alguma situação desagradável ou constrangedora na empresa, por ser mulher?

12) Os seus superiores e os seus colegas de trabalho respeitam suas decisões e opiniões? Se não, você atribui isso ao fato de ser mulher?

13) Você acha que as mulheres são mais comprometidas com o trabalho do que os homens?

14) Você acha que as mulheres precisam se esforçar mais do que os homens para conseguirem as mesmas coisas?

15) Atualmente o cargo que você ocupa foi conquistado por meio de ascensão no hotel? Se sim, fale como se deu essa ascensão. Se não, conte como foi até o momento que você ingressou no mesmo.

16) Quais são seus planos profissionais? Você acha que se fosse homem conseguiria realizá-los mais facilmente?