a importância do projeto campanha de castração na formação do profissional médico veterinário

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  • 7/25/2019 A Importncia Do Projeto Campanha de Castrao Na Formao Do Profissional Mdico Veterinrio

    1/10Rev. Acad., Cinc. Agrr. Ambient., Curitiba, v. 8, n. 3, p. 361-370, jul./set. 2010

    ISSN 0103-989XLicenciado sob uma Licena Creative Commons

    [T]

    A importncia do projeto Campanha de Castrao naformao do profissional mdico veterinrio

    [I]

    The importance of the project Castration Campaign for the formation

    of the veterinarian professional

    [A]Carine Budziak[a], Cludia Turra Pimpo[b], Irmgard Krger Montoya[c],

    Jos Ademar Villanova Jnior[d], Pricila Flenik de Moraes[e]

    [a] Mdica veterinria, Mestre, Pontifcia Universidade Catlica do Paran (PUCPR), Curitiba, PR - Brasil, e-mail: [email protected][b] Mdica veterinria, professora Doutora de Farmacologia e Toxicologia Veterinria na Pontifcia Universidade Catlica do Paran

    (PUCPR), So Jos dos Pinhais, PR - Brasil, e-mail: [email protected][c] Pedagoga, professora Mestre do curso de Pedagogia na Pontifcia Universidade Catlica do Paran (PUCPR), Curitiba, PR - Brasil,

    e-mail: [email protected][d] Mestre professor da Pontifcia Universidade Catlica do Paran (PUCPR), Curitiba, PR - Brasil, e-mail: [email protected][e] Graduada de Medicina Veterinria da Pontifcia Universidade Catlica do Paran (PUCPR), Curitiba, PR - Brasil, e-mail:

    [email protected]

    [R]Resumo

    A extenso universitria proporciona ao aluno graduando a oportunidade de resoluo de problemas pormeio da interdisciplinaridade, alm de vivenciar a prtica profissional supervisionado por professorese amparado pela instituio acadmica, beneficiando a comunidade. O objetivo do trabalho conhecer

    as possveis contribuies do projeto Campanha de Castrao para a formao do profi

    ssional mdicoveterinrio. A pesquisa foi desenvolvida por meio da aplicao de questionrios aos acadmicos deMedicina Veterinria da PUCPR participantes desse projeto. O estudo demonstrou que, na perspectivado acadmico, a participao no projeto contribui para a formao profissional, pois h aplicao dosconceitos tericos na prtica e exerccio da interdisciplinaridade. A participao no projeto proporcionaao aluno oportunidade de experimentar e praticar, alm de aproxim-lo da realidade, o que contribuipara a formao de um profissional mais preparado tecnicamente e para o exerccio da cidadania plena.Conclui-se que o presente projeto est inserido em todas as prticas que sustentam a comunidade aca-dmica, o meio universitrio: ensino, pesquisa e extenso.[P]Palavras-chave: Extenso universitria. Formao acadmica. Medicina veterinria.

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    a extenso. Porm, a pesquisa, para ser realmente vlida, no deve ser meramente tcnica, e sim trazer aplica-bilidade e benefcios comunidade na qual est inserida. A caminhada do acadmico dentro da universidadedeve contemplar essas reas, pois para uma formao profissional mais completa o acadmico deve saberaplicar os conceitos tericos adquiridos na prtica profissional. Alm disso, sua atuao deve ser realizada deforma tica, promovendo benefcios para a comunidade.

    A Pontifcia Universidade Catlica do Paran, como universidade comunitria e confessional, procuraconformar os procedimentos institucionais com a moral crist e, neste contexto, desenvolve suas atividadesprocurando atender aos objetivos de interesse social em benefcio da comunidade. Cumpre, dessa forma, opapel de agente integrador do conhecimento tcnico-cientfico em prol do progresso e do desenvolvimentoda sociedade (MOREIRA, 2004). A Pr-Reitoria Comunitria e de Extenso da PUCPR tem a misso dearticular esses processos de parcerias entre a sociedade e universidade (MOREIRA, 2004). Juliatto (2003)justifica isso afirmando que a Universidade tem que estar perto do barulho da rua. Extenso universitriapara a PUCPR pode ser entendida, fundamentalmente, como uma atitude de abertura da instituio para acomunidade. Moreira (2004, p. 42) afirma que esta prtica pretende elevar o padro de vida social, cultural,intelectual e espiritual da populao, bem como propiciar aos estudantes aplicaes dos conhecimentos te-ricos adquiridos em realidades concretas.

    A possibilidade de implementao de atividades que se viabilizam pelo apoio institucional irrestrito fazcom que a extenso universitria tenha relevncia para a formao acadmica dos alunos do curso de MedicinaVeterinria da PUCPR. A participao das atividades de extenso promove a formao acadmica e humanados alunos e professores participantes das atividades e, alm disso, elevam o padro de vida da populaocarente, pois h a promoo da sade humana por meio da promoo da sade animal (MOREIRA, 2004).

    As contribuies de carter tcnico desenvolvidas por meio das atividades de extenso realizadasdurante o curso de graduao de Medicina Veterinria possibilitam ao aluno vivenciar e participar das condi-es reais da sua futura profisso e aplicar os conhecimentos que lhes so apresentados pela universidade nasatividades formais que compem o currculo do curso de graduao (MOREIRA, 2004).

    A extenso universitria capaz de proporcionar essa vivncia ao aluno por meio da interdisciplina-ridade para resoluo de problemas, bem como d oportunidade para o aluno vivenciar a prtica profissional,supervisionado por professores e amparado pela instituio acadmica.

    O projeto Campanha de Castrao oferece ao acadmico de Medicina Veterinria a oportunidadede aplicar na prtica os conhecimentos tericos adquiridos. Alm da participao dos alunos de graduao,este projeto permite a insero de alunos de ps-graduao (residncia mdica e mestrado). O nmero deces participantes e o volume de exames laboratoriais e clnicos que so realizados so uma fonte enormede dados gerados. Esses dados podem ser uma fonte de pesquisa tanto ao aluno graduando participante deiniciao cientfica, quanto ao aluno de ps-graduao.

    O aluno que participa de um projeto de extenso visualiza a importncia da atuao da universidadeem benefcio da comunidade. Esse tipo de atividade pode promover a formao de um profissional preparadotecnicamente, como tambm de um profissional cidado.

    O objetivo do presente trabalho conhecer as possveis contribuies do projeto Campanha deCastrao para a formao do profissional mdico veterinrio.

    Materiais e mtodos

    Caracterizao da pesquisa

    A investigao do problema de pesquisa ocorreu por meio do mtodo de estudo de caso. Um estudoclassificado como qualitativo, pois se desenvolve numa situao natural, rico em dados descritivos, tem umplano aberto e flexvel e focaliza a realidade de forma complexa e contextualizada (LDKE; ANDR; 1986).

    A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador comoseu principal instrumento. Os dados coletados so predominantemente descritivos e a anlise tende a seguir

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    um processo indutivo. Alm disso, o pesquisador se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes eenfatiza mais o processo que o produto (LDKE; ANDR, 1986).

    Os investigadores qualitativos estabelecem estratgias e procedimentos que lhes permitam tomarem considerao as experincias do ponto de vista do informador. O processo de conduo de investigaoqualitativa reflete uma espcie de dilogo entre os investigadores e os respectivos sujeitos, uma vez que estes

    no so abordados por aqueles de uma forma neutra (BOGDAN; BIKLEN, 1994).

    Instrumentos de pesquisa

    A pesquisa foi desenvolvida por meio da aplicao de questionrios aos alunos participantes doprojeto campanha de castrao.

    Segundo Marconi e Lakatos (2002), o questionrio um instrumento de coleta de dados que possui umasrie ordenada de perguntas. Estas perguntas devero ser respondidas por escrito e sem a presena do pesquisa-dor. Dentre as principais vantagens da aplicao do questionrio descritas por Marconi e Lakatos (2002) esto:

    economia de tempo, viagens e obteno de grande nmero de dados; atingir o maior nmero de pessoas simultaneamente; abranger rea geogrfica mais ampla; economia de pessoal; obter respostas mais rpidas e mais precisas; maior liberdade nas respostas, em razo do anonimato; mais segurana, pelo fato de as respostas no serem identificadas; menos riscos de distoro, pela no influncia do pesquisador; mais tempo para responder e em hora mais favorvel; mais uniformidade na avaliao, em virtude da natureza impessoal do instrumento; obter respostas que materialmente seriam inacessveis.

    E as desvantagens so (MARCONI; LAKATOS, 2002): percentagem pequena dos questionrios que voltam; grande nmero de perguntas sem respostas; impossibilidade de ajudar o informante em questes mal compreendidas; a dificuldade de compreenso, por parte dos informantes, leva a uma uniformidade aparente; na leitura de todas as perguntas, antes de respond-las, pode uma questo influenciar a outra; a devoluo tardia prejudica o calendrio ou sua utilizao; o desconhecimento das circunstncias em que foram preenchidos torna difcil o controle e a verificao; exigncia de um universo mais homogneo.

    A maioria das pessoas possui certa averso a papis (excesso de burocracia). Assim, o questionrio,

    pela forma como muitas vezes empregado, leva a esta conotao. Porm, quando bem elaborado, este ins-trumento desperta os respondentes de forma a motiv-los a participar da pesquisa e interessar-se pelos seusresultados (LABES, 1998).

    Universo da pesquisa

    A pesquisa foi realizada durante o perodo de atividades do projeto campanha de castrao. A popu-lao de estudo foram os acadmicos de Medicina Veterinria participantes do projeto. As Campanhas deCastrao fazem parte do Projeto Comunitrio, um programa institucional que est inserido dentro da matriz

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    curricular de todos os cursos da universidade. Foram realizadas 17 Campanhas de Castrao durante o perodocompreendido entre 17 de abril de 2008 e 18 de junho de 2009. Todos os procedimentos cirrgicos foramrealizados no Laboratrio de Tcnica Operatria do curso de Medicina Veterinria da PUCPR, cmpus SoJos dos Pinhais.

    Os organizadores do projeto possuem cadastro dos alunos participantes contendo informaes

    como nome, matrcula, telefone, e-mail, entre outras. A partir desse cadastro foi possvel o contato com apopulao de estudo. Os instrumentos de pesquisa foram enviados por e-mail. Os acadmicos tinham umprazo de 15 dias para devolver os questionrios respondidos. Este questionrio possua perguntas abertas,fechadas e de mltipla escolha, visando a detectar possveis contribuies do projeto Campanha de Castraopara a formao acadmica.

    Resultados

    A elaborao do questionrio foi realizada por meio eletrnico em um site (Google docs) que dispo-nibiliza gratuitamente ferramentas para elaborao de perguntas abertas, fechadas, de mltipla escolha, entreoutras. Alm disso, as respostas enviadas so automaticamente inseridas em um banco de dados, o qual podeser exportado, por exemplo, para o Excel. O contato com os alunos para entrega do questionrio foi realizadopelo envio de e-mail. Por meio deste, explicou-se a importncia da pesquisa e solicitou-se o preenchimento doquestionrio. Os alunos responderam ao questionrio acessando o linkfornecido no e-mail. Os questionriosforam enviados a 89 alunos participantes do projeto Campanha de Castrao. Dez e-mailsno chegaram aodestino, pois as caixas de mensagens estavam lotadas. Catorze questionrios foram respondidos, representando18% de devoluo. Segundo Marconi e Lakatos (2002), em mdia os questionrios expedidos pelo pesquisadoralcanam 25% de devoluo. Pode-se considerar que a mdia de devoluo alcanada (18%) est abaixo doesperado (25%), porm o perodo de envio dos questionrios coincidiu com a poca de realizao de provasfinais e trmino do semestre. Isto pode justificar a baixa devolutiva e sugere que os questionrios devem serenviados antes do referido perodo.

    Os alunos participantes do projeto Campanha de Castrao possuem idade entre 21 e 40 anos, com

    uma mdia de 24,57 anos e 5,47 de desvio padro. Considerando o sexo, 87,5% dos alunos so mulheres e12,5% so homens. A maioria dos alunos que responderam o questionrio estava cursando o oitavo per-odo (42,86%), mas tambm houve a participao de alunos de outros perodos: terceiro (21,43%), segundo(14,28%), primeiro, quinto e sexto (7,14%).

    Na anlise da questo sobre a importncia da participao na Campanha de Castrao, 100% dosalunos concordam que a sua participao pode contribuir para a sua formao como profissional mdicoveterinrio. E alguns alunos justificam: Pudemos colocar em prtica realmente o que vimos em sala de aula, o que,muitas vezes, no poderia ser realizado em estgios, pois, dependendo do local, ficvamos somente olhando/auxiliando e norealizando a cirurgia. E outro acrescenta: Oportunidade de servir, aprendizado prtico, aplicao de conhecimentostericos, a campanha tem um ritmo de trabalho bem intenso, favorecendo o aprendizado. Outro aluno comenta a impor-tncia da participao na campanha e relaciona a sua escolha profissional: participar da prtica cirrgica fazcom que se tenha ideia da realidade que ser enfrentada, da responsabilidade com o paciente e da conduta clnica; e fez com que

    eu tivesse certeza da profisso que escolhi. Alm disso, um aluno enfatiza a oportunidade de praticar e aprendercom animais vivos:

    [...] realizar cirurgia em animais vivos essencial para a formao de um mdico veterinrio, alm das prticascom anestesia e procedimentos simples como aplicao de medicamentos, exame clnico, fixao de cateter eoutros, que no possvel realizar em sala.

    Em relao s questes a respeito da aplicao dos contedos aprendidos em sala de aula e sobre ainterdisciplinaridade, 100% dos alunos responderam que no projeto Campanha de Castrao h aplicao dosconceitos tericos na prtica e h o exerccio da interdisciplinaridade. Um aluno exemplifica:

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    Pude praticar a tcnica de cirurgia, assim como desenvolver meus conhecimentos em clnica (ps-operatrio,importncia da castrao, doenas envolvidas) e ainda ter experincia com anestesiologia. Alm de tudo isso,o contato com os animais e a prtica de conteno, aplicao de medicamentos, entubar e canular veia, entreoutras atividades desenvolvidas na campanha.

    E outro acrescenta: avaliao de exames pr-operatrios, avaliao clnica do paciente; o prprio ato cirrgico eps-operatrio, todos interligados, caracterizando a interdisciplinariedade. Um aluno comenta seu ponto de vista sobrea interdisciplinaridade: podemos vivenciar situaes de emergncia, prticas de anestesia e clnica mdica. Notamos as limi-taes e como contorn-las.

    As disciplinas mais citadas como pr-requisito para participao da campanha de castrao foram:Anatomia, Tcnica Cirrgica, Anestesiologia, Farmacologia e Clnica de Pequenos Animais.

    Com relao aos motivos para a participao do projeto, 35% dos alunos entraram com o objetivode vivenciar a prtica do mdico veterinrio; 28% responderam cumprir o projeto comunitrio; outros 28%para aprender a tcnica cirrgica e anestsica, e 7% escolheram outro motivo e justificaram: [...] acrescentoainda a necessidade de medidas de controle populacional, em benefcio social aos proprietrios carentes, contribuindo assim contrao abandono de ces e gatos nas ruas. Cem por cento dos alunos recomendariam a um colega a participao noprojeto Campanha de Castrao. E h vrias justificativas:

    Importante etapa na formao de mdico veterinrio, pois proporciona vivncia da prtica cirrgica, cuidadosps-operatrios, avaliao pr-operatria, avaliao clnica do paciente, interao com outros colegas e possibi-lidade de compartilhar conhecimentos, alm da contribuio social que se realiza numa campanha como esta.

    Outros alunos acrescentam: Oportunidade nica de vivenciar intensamente a rotina cirrgica.; Por ser umaatividade completa, que atua em vrias reas da medicina de pequenos animais; A prtica necessria para fixar os conhe-cimentos e aprender a lidar com situaes que no estamos preparados.

    Os alunos percebem que o projeto traz benefcios comunidade e comentam: Ajuda a reduzir onmero de animais abandonados, proporciona aos proprietrios menos abastados a possibilidade da castrao com cuidados eresponsabilidade por parte dos acadmicos e professores; Colabora com os abrigos de proteo e proprietrios carentes, pois estes

    no dispem de recursos para esse tipo de procedimento, alm do fato de corrigir outras alteraes que se fazem presentes, desco-bertas durante a etapa pr-operatria. Nesse caso, o aluno comenta que, alm das cirurgias de castrao, quandoh presena de doena ou anormalidade concomitante, o animal encaminhado para tratamento, o qual realizado por profissionais da Unidade Hospitalar de Animais de Companhia PUCPR. Um aluno ainda sugereque as castraes, alm de serem realizadas em animais de proprietrios carentes, deveriam ser realizadas emces errantes: ... acho que deveramos fazer isso com os animais de rua tambm, pois com certeza a superpopulao de cese gatos errantes um problema de Sade Pblica.

    Quando perguntados se a disciplina de Sade Pblica est relacionada ao projeto Campanha deCastrao, 92,86% dos alunos responderam sim e um aluno comenta [...] mas no muito mencionadadepois que se comea a campanha, poderia melhorar. Apenas 7,14% dos alunos acreditam que a disciplinade Sade Pblica no est relacionada ao projeto campanha de castrao.

    Dentre as sugestes mais indicadas pelos alunos esto:

    maior cobrana pelo comprometimento dos alunos envolvidos; melhorar organizao das etapas da campanha de castrao (perodos pr, trans e ps-operatrios); aumentar o nmero de animais beneficiados; aumentar a frequncia da realizao das campanhas; realizar parcerias com os Centros de Controle de Zoonoses.

    Como as atividades do projeto de campanha de castrao esto no incio, obviamente h muitospontos a serem revistos e reestruturados. Todas as sugestes so extremamente pertinentes e levam reflexopara que as prximas campanhas ocorram cada vez melhor.

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    Discusso

    Segundo Lei das Diretrizes e Bases da Educao Nacional LDB, n. 9.394/96 (BRASIL, 1996), oensino superior tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exerccio dacidadania e sua qualificao para o trabalho, alm de estimular a criao cultural e o desenvolvimento do esprito

    cientfico e do pensamento reflexivo, e incentivar o trabalho de pesquisa e investigao cientfica, visando aodesenvolvimento da cincia e da tecnologia e da criao e difuso da cultura. Desse modo, busca-se desenvol-ver o entendimento do homem e do meio em que ele vive, alm de promover a divulgao de conhecimentosculturais, cientficos e tcnicos que constituem patrimnio da humanidade e comunicar o saber por meio doensino, de publicaes ou de outras formas de comunicao (CAMILO; RIBAS, 2007).

    O ensino superior responsvel pela formao do aluno em todas as reas do conhecimento, e durante os anos de graduao, nas aulas prticas e tericas, com participao em projetos de pesquisa, elabo-rao de trabalhos monogrficos, estudos individuais e em grupos, etc., que se constroem bons profissionais(CAMILO; RIBAS, 2007).

    A conquista da interdisciplinaridade entre ensino, pesquisa e extenso representa hoje um dos maioresdesafios das universidades brasileiras (SILVA; VASCONCELOS, 2006).

    A extenso, entendida como processo educativo, cultural e cientfico, articula-se com o ensino e apesquisa de forma indissocivel, ao mesmo tempo em que refora a realizao do papel social da universi-dade e contribui para a sua transformao, como tambm da sociedade. Da por que um importante objetivoda extenso deve ser a efetivao de uma prtica acadmica que vincule ensino e pesquisa s demandas dasociedade (ENCONTRO NACIONAL DE UNIVERSIDADES, 1999). Dessa forma, a extenso entendidacomo uma prtica social de construo de conhecimento e de desenvolvimento de aprendizagens significativas,sem o que se descaracteriza e se transforma em assistencialismo ou venda de servios (JULIATTO, 2005).

    A Extenso uma via de mo-dupla, com trnsito assegurado comunidade acadmica, que encon-trar, na sociedade, a oportunidade de elaborao da prxis de um conhecimento acadmico. No retorno universidade, docentes e discentes traro um aprendizado que, submetido reflexo terica, ser acrescidoquele conhecimento (FRUM DE PR-REITORES DE EXTENSO, 2000).

    A revalorizao da extenso no alheia s atualizaes na formao acadmica, pois, como defende

    Jezine (2004),a nova viso de extenso universitria passa a se constituir parte integrante da dinmicapedaggica curricular do processo de formao e produo do conhecimento, envolvendoprofessores e alunos de forma dialgica, promovendo a alterao da estrutura rgida doscursos para uma flexibilidade curricular que possibilite a formao crtica.

    Percebe-se, com isso, que a formao do aluno vai alm da aquisio de conhecimentos tcnico-cientficos, at porque esses se esvaziam quando no integrados realidade. Para uma abordagem inovadora,a aprendizagem deve ir alm da aplicao imediata, impulsionando o sujeito a criar e responder a desafios, a sercapaz de gerar tecnologias e de manter a habilidade de aprender e recriar permanentemente; ou seja, a gra-duao deve se transformar no lcus de construo/produo do conhecimento, em que o aluno atue como

    sujeito da aprendizagem (SILVA; VASCONCELOS, 2006).Segundo Morgado e Galzerano (2007), o professor da rea agrria, incluindo Medicina Veterinria,tem a possibilidade de realizar aulas prticas interagindo com animais, o que possibilita uma facilidade nacomunicao na prtica do aprender fazendo. Quando h essa possibilidade de aliar a teoria e a prtica, oaprendizado torna-se mais interessante. A campanha de castrao um exemplo, pois o aluno acompanha apreparao do paciente no pr-operatrio, como o exame clnico e a coleta de amostras para exames labora-toriais, realiza o procedimento cirrgico e libera seu paciente aps a recuperao anestsica.

    Matera (2008) comenta que durante as aulas tericas e prticas ensinado conhecimento, atitudese habilidades, porm no centro cirrgico que os alunos aprendem a unir tudo nas diferentes circuns-tncias, como ocorre na prtica. Esse modo de aprendizado um exemplo da aplicao do conceito de

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    interdisciplinaridade, pois o aluno deve dominar conceitos de diversas disciplinas para realizar a atividade e,como consequncia, construir seu conhecimento.

    Segundo Nogueira (1998, apud PINHEIRO, 2002, p. 44), interdisciplinaridade o trabalho de inte-grao das diferentes reas do conhecimento. Um real trabalho de cooperao e troca, aberto ao dilogo e aoplanejamento. Essa interdisciplinaridade, vista como uma questo de vida prtica, diria, no aborda uma

    disciplina tradicional. O aluno vivencia e compreende a realidade a que pertence. Alm disso, oferece umanova interao como forma de investigao sobre o que interessa ao prprio estudante (PINHEIRO, 2002).

    Pinheiro (2002) define: o aluno do ensino interdisciplinar tem capacidade para solucionar problemasque ultrapassem os limites de uma disciplina, sua viso do mundo globalizada e, em seu pensamento, asmatrias so interligadas.

    A proposta interdisciplinar indispensvel para se aplicar no processo de educao na sociedadeatual, pois dela pode-se desvelar ao homem a viso da totalidade, alm de desenvolver o esprito crtico ecriativo por meio das atividades cotidianas desenvolvidas numa escola, para nelas perceber a multiplicidadede relaes entre as disciplinas, pensamento, sentimento, valores e aprimor-los, a fim de superar e ultrapassarcontradies e diferenas (FANFARRO; ARAJO, 2004).

    O fluxo, que estabelece a troca de saberes sistematizados, acadmico e popular, tem como conse-quncias a produo do conhecimento resultante do confronto com a realidade brasileira e regional, a demo-cratizao do conhecimento acadmico e a participao efetiva da comunidade na atuao da universidade.Alm de instrumentalizadora deste processo dialtico de teoria/prtica, a extenso um trabalho interdis-ciplinar que favorece a viso integrada do social (FRUM DE PR-REITORES DE EXTENSO, 2000).

    O caminho interdisciplinar amplo no seu contexto e nos revela um quadro que precisa ser redefi-nido e ampliado. Tal constatao induz-nos a refletir sobre a necessidade de professores e alunos trabalharemunidos, se conhecerem e se entrosarem, para juntos vivenciarem uma ao educativa mais produtiva. O papeldo professor fundamental no avano construtivo do aluno. ele, o professor, quem pode captar as neces-sidades do aluno e o que a educao lhe proporcionar. A interdisciplinaridade do professor pode envolver emodificar o aluno quando ele assim o permitir (TAVARES, 1999).

    Moreira (2004) comenta que a participao em um programa de extenso universitria possibilitaao aluno vivenciar a interdisciplinaridade, aplicando os conceitos tericos adquiridos na prtica. A extenso

    universitria pode oferecer possibilidades para o professor exercer sua professoralidade e pessoalidade, comosugere Pereira (1996). Na professoralidade e na pessoalidade esto includas tambm as experincias pessoaise profissionais de cada um (EGGERT-STEINDEL, 2002).

    A sociedade atual exige que a universidade no somente capacite os acadmicos para futuras habili-taes nas especializaes tradicionais, mas principalmente que tenha em vista a formao deles, para desen-volver suas competncias e habilidades em funo de novos saberes que se produzem e que exigem um novotipo de profissional (FANFARRO; ARAJO, 2004).

    No ensino superior, a falta de contato do conhecimento com a realidade parece ser uma caracters-tica bastante acentuada. Os professores, no esforo de levar seus alunos a aprender, fazem-no de maneira adar importncia ao contedo em si, e no sua interligao com a situao da qual emerge, gerando, assim,a clssica dissociao entre teoria e prtica (FANFARRO; ARAJO, 2004). O Frum de Pr-Reitores dasUniversidades Pblicas Brasileiras defende que na formao do profissional imprescindvel sua interao

    com a sociedade para situ-lo historicamente, identific-lo culturalmente e referenciar a sua formao tcnica realidade (SILVA; VASCONCELOS, 2006).A educao deve ser entendida e trabalhada de forma interdisciplinar, na qual o aluno agente ativo,

    comprometido, responsvel, capaz de planejar suas aes, assumir responsabilidades, tomar atitudes diantedos fatos e interagir no meio em que vive, contribuindo, desta forma, para a melhoria do processo ensino-aprendizagem. Assim sendo, de responsabilidade dos professores fazer com que o aluno seja sujeito de suaaprendizagem, ciente do que ir realizar, como e para qu, ou seja, levar o aluno a aprender a planejar, a trabalharcom hipteses e a encontrar solues. Nessa perspectiva, para que ele adquira essas habilidades, faz-se necessriotrabalhar com prticas pedaggicas voltadas para sua formao, para o exerccio da cidadania plena, respeitandoa individualidade de cada um, utilizando-se de contedos interdisciplinares e contextualizados. Vale lembrar que

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    A importncia do projeto Campanha de Castrao na formao do profissional mdico veterinrio 369

    a questo interdisciplinar emerge como orientao da superao da dicotomia entre pedagogia e epistemologia,entre ensino e produo de conhecimentos cientficos, da porque a sua maior complexidade e necessidade desuperao da perspectiva departamental e setorizada do ensino (FANFARRO; ARAJO, 2004).

    Consideraes finais

    Com a presente pesquisa foi possvel observar a importncia da Campanha de Castrao na formaodo profissional mdico veterinrio, pois a participao nesse projeto traz a oportunidade ao aluno de praticar,experimentar e tambm de errar. Com isso, o acadmico torna-se mais seguro para tomadas de decises nasua prtica profissional.

    O projeto de extenso capaz de proporcionar ao aluno a viso da totalidade, aprender sobre osconceitos de interdisciplinaridade, e de conhecer de fato a realidade do profissional.

    Nesse sentido, a participao dos alunos no projeto complementa os contedos curriculares que sovistos em sala de aula e aproxima a teoria da prtica. O processo ensino-aprendizagem facilitado, o alunotorna-se sujeito de sua aprendizagem e desenvolve o seu esprito crtico e criativo.

    A aproximao da universidade e comunidade propicia ao aluno oportunidade do exerccio dacidadania plena. O profissional formado sob estes princpios torna-se completo, uma vez que est preparadotecnicamente e tambm como cidado.

    A campanha de castrao proporcionou ao acadmico de Medicina Veterinria aplicao prtica deseus conhecimentos, o exerccio da interdisciplinaridade e tambm demonstrou a importncia da atuao de umprojeto de pesquisa em benefcio da comunidade. A partir disso, entende-se que o presente trabalho est inseridoem todas as prticas que sustentam a comunidade acadmica e o meio universitrio: ensino, pesquisa e extenso.

    Referncias

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    Recebido: 23/06/2009Received: 06/23/2009

    Aprovado: 12/05/2010Approved: 05/12/2010