a importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE FERNANDÓPOLIS FACULDADES INTEGRADAS DE FERNANDÓPOLIS ALAIZE MAGNANI DIAS KELLY JULIANA OLÍVIO ARAUJO REGIANE MADRONA DE QUEIROZ THAIS THABATA LOUISE SOUTO A IMPORTÂNCIA DO CONTROLE DE QUALIDADE NAS CÁPSULAS MANIPULADAS EM FARMÁCIAS MAGISTRAIS: uma avaliação em estabelecimentos no município de Jales FERNANDÓPOLIS 2012

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Page 1: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE FERNANDÓPOLIS FACULDADES INTEGRADAS DE FERNANDÓPOLIS

ALAIZE MAGNANI DIAS

KELLY JULIANA OLÍVIO ARAUJO

REGIANE MADRONA DE QUEIROZ

THAIS THABATA LOUISE SOUTO

A IMPORTÂNCIA DO CONTROLE DE QUALIDADE NAS CÁPSULAS

MANIPULADAS EM FARMÁCIAS MAGISTRAIS: uma avaliação em

estabelecimentos no município de Jales

FERNANDÓPOLIS

2012

Page 2: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

ALAIZE MAGNANI DIAS

KELLY JULIANA OLÍVIO ARAUJO

REGIANE MADRONA DE QUEIROZ

THAIS THABATA LOUISE SOUTO

A IMPORTÂNCIA DO CONTROLE DE QUALIDADE NAS CÁPSULAS

MANIPULADAS EM FARMÁCIAS MAGISTRAIS: uma avaliação em

estabelecimentos no município de Jales

Trabalho de conclusão de curso apresentado à

Banca Examinadora do Curso de Graduação em

Farmácia da Fundação Educacional de

Fernandópolis como exigência parcial para obtenção

do título de bacharel em Farmácia.

Orientadora: Profª. Rosana Matsumi Kagesawa

Motta

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE FERNANDÓPOLIS

FERNANDÓPOLIS – SP

2012

Page 3: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

ALAIZE MAGNANI DIAS

KELLY JULIANA OLÍVIO ARAUJO

REGIANE MADRONA DE QUEIROZ

THAIS THABATA LOUISE SOUTO

A IMPORTÂNCIA DO CONTROLE DE QUALIDADE NAS CÁPSULAS

MANIPULADAS EM FARMÁCIAS MAGISTRAIS: uma avaliação em

estabelecimentos no município de Jales

Trabalho de conclusão de curso aprovado como

requisito parcial para obtenção do título de bacharel

em Farmácia.

Aprovado em: 05 de novembro de 2012.

Examinadores Assinatura Conceito

Profª. Rosana Matsumi Kagesawa Motta

Prof. MSc. Roney Eduardo Zaparolli

Prof. MSc. Giovanni Carlos de Oliveira

Profª. Rosana Matsumi Kagesawa Motta

Presidente da Banca Examinadora

Page 4: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

Dedicamos este trabalho primeiramente a Deus, pois sem ele nada seria possível e nossos sonhos não seriam concretizados. Aos nossos pais que sempre nos deram apoio e estiveram presentes, acreditando em nosso potencial, nos incentivando na busca de novas realizações e descobertas.

Page 5: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

AGRADECIMENTOS

Nosso agradecimento a Deus, criador de todas as coisas e grande maestro

do universo.

Agradecimentos especiais à nossa orientadora por compartilhar conosco

seus conhecimentos e suas experiências, mas principalmente por acompanhar este

processo de aprendizagem.

Nossos agradecimentos também aos professores do curso, companheiros

desta jornada do conhecimento e amigos presentes nesta conquista.

Aos nossos amigos, a família que nos foi permitida cultivar ao longo da vida,

cujos laços se fazem mais sólidos à medida que transcorremos seus caminhos.

Aos funcionários da faculdade, aos participantes diretos deste trabalho

acadêmico e a todos aqueles que, de alguma maneira, contribuíram para que

conseguíssemos realizar esta pesquisa.

Por fim, aos nossos familiares, àqueles que nunca serão agradecidos a

contento, pois são nossos pilares na vida, nosso apoio e nosso consolo, aqueles

com os quais sempre poderemos contar.

Page 6: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

"Se eu pudesse deixar algum presente a você, deixaria aceso o sentimento de amor à vida dos seres humanos. A consciência de aprender tudo o que nos foi ensinado pelo tempo afora. Lembraria os erros que foram cometidos, como sinais para que não mais se repetissem. Deixaria para você, se pudesse, o respeito àquilo que é indispensável: além do pão, o trabalho e a ação. E, quando tudo mais faltasse, para você eu deixaria, se pudesse, um segredo: o de buscar no interior de si mesmo a resposta para encontrar a saída."

Mahatma Ghandi

Page 7: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

RESUMO

O presente estudo monográfico tem como objetivo primordial a análise das cápsulas manipuladas em farmácia magistral no município de Jales. Este processo encontra-se inserido na temática do controle de qualidade e é de suma importância para a atuação das empresas farmacêuticas. O fenômeno da globalização catalisou a queda das barreiras e fronteiras mundiais, e atualmente os produtos e serviços de todo o mundo estão disponíveis a todos aqueles que disponham das ferramentas tecnológicas necessárias. De maneira que a competitividade cresceu e a necessidade de um aumento na qualidade e uma diminuição de preço se fez prementes para a fidelização dos consumidores. Com isso, as empresas farmacêuticas nacionais foram obrigadas pelo contexto mercadológico a acompanharem as transformações mundiais, bem como primar pela qualidade e redução dos preços. Com as farmácias de manipulação o fenômeno não diferiu. Agregado a este processo, fez-se necessário vencer o conceito de descrédito que o medicamento manipulado mantinha junto à população, de maneira que suas qualidades fossem ressaltadas em detrimento aos medicamentos industrializados. Este trabalho acadêmico primou justamente pela tratativa do controle de qualidade nas farmácias magistrais, abordando desde o contexto histórico, tratando dos aspectos principais do controle de qualidade, tais como a qualificação dos fornecedores, controle de qualidade da matéria-prima e suas condições no estabelecimento farmacêutico, aspectos visuais das cápsulas e suas variações, bem como a aceitação dos medicamentos manipulados pelos consumidores. De maneira que para a consecução deste estudo, foram analisadas obras bibliográficas que tratem da temática em questão, bem como material eletrônico, a título complementar, e ainda analisado in loco, material para constatação da qualidade de cápsulas de medicamento no município de Jales, podendo ser verificada as características das mesmas em conformidade com a metodologia científica. Em conformidade com a avaliação realizada, quanto à análise do peso médio, desvio padrão e coeficiente de variação, três das quatro farmácias analisadas foram reprovadas, o que demonstra que o controle de qualidade precisa sofrer ajustes e as fórmulas manipuladas deveriam ter sido refeitas ao invés de entregues ao consumidor. Quanto aos aspectos visuais verificados, apesar de demonstradas algumas falhas em quesitos analisados, de modo geral, as farmácias de manipulação examinadas obtiveram resultados melhores, sendo aprovadas na maioria dos quesitos examinados. É possível concluir através desta avaliação que o controle de qualidade é fundamental para a verificação dos produtos oferecidos aos consumidores e este deve seguir padrões rígidos que possibilitem a correção de falhas no processo produtivo. Faz-se necessário salientar que, apesar de aprovadas em diversos critérios analisados, as farmácias de manipulação do município de Jales ainda precisam aprimoram algumas fases de seu processo de produção, para que assim possam chegar a excelência nos produtos oferecidos à população.

Palavras-chave: Farmácia Magistral. Controle de Qualidade. Qualificação dos Fornecedores. Medicamentos Manipulados.

Page 8: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

ABSTRACT

This monographic study has as main objective the analysis of the capsules manipulated in teaching pharmacy in Jales . This process is inserted in the subject and the quality control is of paramount importance to the role of pharmaceutical companies. The phenomenon of globalization has catalyzed the fall of barriers and borders worldwide, and currently the products and services are available worldwide to all those who have the necessary technological tools. So the competition has grown and the need for an increase in quality and a decrease in the price became urgent for consumer loyalty. Thus, pharmaceutical companies were forced by national marketing context to monitor the global transformations, as well as strive for quality and lower prices. With compounding pharmacies phenomenon did not differ. Added to this process, it was necessary to overcome the distrust that the concept of compounded drugs kept with the population, so that their qualities were emphasized to the detriment of manufactured drugs. This scholarly work by just excelled dealings quality control in pharmacies, approaching from the historical context, addressing the main aspects of quality control, such as qualification of suppliers, quality control of raw materials and their conditions in the pharmaceutical establishment , visual aspects of capsules and variations thereof, as well as the uptake of drugs handled by consumers. So that to achieve this study, we analyzed bibliographic works that deal with the topic in question, as well as an electronic material, as a supplement to, and further analyzed in situ, finding quality material for capsules of medicine in the city of Jales, may be verified characteristics thereof in accordance with the scientific methodology. In accordance with the assessment made as to the analysis of average weight, standard deviation and coefficient of variation, three of the four pharmacies were analyzed disapproved, demonstrating that quality control needs to be adjusted and manipulated the formulas should have been redone instead delivered to the consumer. The aspects checked visually, although in some flaws demonstrated issues analyzed in general, the compounding pharmacies examined better results obtained, being adopted in most questions examined. You can complete this review by the quality control is essential for verification of products offered to consumers and it must follow strict standards that enable the correction of faults in the production process. It is necessary to emphasize that, although approved in several criteria examined, the pharmacies of the city of Jales still need to improve some stages of its production process, so they can achieve excellence in the products offered to the population. Keywords: Magistral Pharmacy. Quality Control. Qualification of Suppliers. Handled

medicines.

Page 9: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Volume das cápsulas duras 41

Tabela 2 - Procedimentos na manipulação de cápsulas gelatinosas duras 45

Tabela 3 - Critérios de avaliação com limites de variação aceitáveis parara

cápsulas duras 48

Tabela 4 - Classificação dos defeitos visuais das embalagens 51

Tabela 5 - Classificação dos defeitos dos rótulos 54

Tabela 6 - Amostragem das farmácias analisadas 59

Tabela 7 - Aspectos visuais analisados nos estabelecimentos magistrais

durante a pesquisa 62

Page 10: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Modelo de etiqueta de quarentena 31

Figura 2 - Modelo de etiqueta de aprovado 31

Figura 3 - Modelo de etiqueta de reprovado 32

Figura 4 - Cápsulas 36

Figura 5 - Cápsula dura 37

Figura 6 - Encapsuladora manual 38

Figura 7 - Enchimento de cápsulas com encapsuladora manual 39

Figura 8 - Fechamento das cápsulas 40

Figura 9 - Cápsula dura aberta, pré-fechada e fechada 46

Figura 10 - Recipiente utilizado pela Farmácia – A 63

Figura 11 - Cápsula obtida na Farmácia – A 64

Figura 12 - Recipiente utilizado pela Farmácia – B 64

Figura 13 - Cápsula obtida na Farmácia – B 65

Figura 14 - Cápsulas apresentando amassamento – Farmácia B 65

Figura 15 - Recipiente utilizado pela Farmácia – C 66

Figura 16 - Cápsula obtida na Farmácia - C 67

Figura 17 - Recipiente utilizado pela Farmácia - D 67

Figura 18 - Cápsula obtida pela Farmácia – D 68

Page 11: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANFARMAG – Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais.

ANVISA − Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

BPF – Boas Práticas de Fabricação

BPMF – Boas Práticas de Manipulação em Farmácias

CRF/SP – Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo.

EPC – Equipamento de Proteção Coletiva.

EPI – Equipamento de Proteção Individual.

POP – Procedimento Operacional Padrão.

Page 12: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 13

1. A FARMÁCIA MAGISTRAL BRASILEIRA ....................................................... 16

1.1 A FARMÁCIA MAGISTRAL E O CONTEXTO HISTÓRICO DA

GLOBALIZAÇÃO .................................................................................................. 19

1.2 O CONTROLE DE QUALIDADE NA FARMÁCIA MAGISTRAL ...................... 21

1.2.1 Aspectos principais do Controle de Qualidade nas formas

farmacêuticas sólidas.......................................................................................... 24

1.2.1.1 Qualificação dos fornecedores .................................................................. 25

1.2.1.2 Controle de Qualidade das matérias-primas ............................................. 26

1.2.1.3 Laboratório de Controle de Qualidade ...................................................... 27

1.2.1.4 Equipamentos ........................................................................................... 28

1.2.1.5 Recepção da matéria-prima ...................................................................... 29

1.2.1.6 Identificação da matéria-prima .................................................................. 30

1.2.1.7 Etiquetas ................................................................................................... 30

1.2.1.8 Amostragem da matéria-prima....... ........................................................... 32

1.2.1.9 Características (identificação) das matérias-primas ................................. 32

1.2.1.9.1 Caracterização organoléptica ................................................................ 33

1.2.1.9.2 Identificação físico-química .................................................................... 34

1.2.1.9.3 Densidade e determinação de densidade aparente para pós ............... 34

1.2.1.9.4 Determinação da umidade na matéria-prima ......................................... 35

1.2.1.10 Armazenamento da matéria-prima.......................................................... 35

1.3 CONCEITUAÇÃO DE CÁPSULA.................................................................... 36

1.3.1 Processo de manipulação da forma farmacêutica sólida cápsula........ 37

1.3.2 Excipientes para formas farmacêuticas sólidas ..................................... 41

1.4 PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRÃO (POP)..................................... 43

Page 13: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

1.5 BOAS PRÁTICAS DE MANIPULAÇÃO EM FARMÁCIAS (BPMF) ................ 44

1.6 OUTROS PROCESSOS DE CONTROLE DE QUALIDADE .......................... 46

1.7 ASPECTOS VISUAIS DAS CÁPSULAS ......................................................... 46

1.7.1 Limpeza das cápsulas................................................................................ 47

1.8 PESO MÉDIO, DESVIO PADRÃO E COEFICIENTE DE VARIAÇÃO ............ 47

1.9 EMBALAGENS................................................................................................ 49

1.10 RÓTULO........................................................................................................ 52

1.11 A ACEITAÇÃO DOS PACIENTES AO MEDICAMENTO MANIPULADO ...... 55

2. OBJETIVOS ...................................................................................................... 57

2.1 OBJETIVO GERAL ......................................................................................... 57

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................... 57

3. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................ 58

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ...................................................................... 59

4.1 RESULTADOS OBTIDOS COM A PESQUISA................................................ 60

4.1.1 Peso médio ................................................................................................. 60

4.1.2 Desvio padrão............................................................................................. 61

4.1.3 Coeficiente de variação ............................................................................ 61

4.1.4 Aspectos visuais analisados nas farmácias pesquisadas .................... 61

4.1.5 Farmácias analisadas .............................................................................. 63

4.1.5.1 Farmácias A.............................................................................................. 63

4.1.5.2 Farmácias B ............................................................................................ 64

4.1.5.3 Farmácias C .............................................................................................. 66

4.1.5.4 Farmácias D .............................................................................................. 67

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 69

6. CONCLUSÃO ................................................................................................... 71

REFERÊNCIAS .................................................................................................... 72

Page 14: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

13

INTRODUÇÃO

O processo de globalização é um fenômeno que atualmente é considerado

inquestionável e irreversível. É impossível vislumbrar o panorama econômico, social

e cultural do planeta sem tomá-lo por um cadinho em plena efervescência, onde

componentes de todas as partes do mundo se encontram, se fundem e se

transformam constantemente e em uma velocidade crescente.

Silva (2010) afirma que a chegada ao segundo milênio ocorreu sob o signo

de uma “nova ordem”, muito diferente das previsões que se faziam nas décadas

passadas. O mundo passou por diversas transformações de cunho científico, social,

econômico, bem como teve o eixo do centro de decisões transformado.

Com a abertura do mercado nacional, as empresas foram forçadas à

exposição à concorrência internacional, o que as obrigou à renovação constante em

busca do acompanhamento das transformações ocorridas, bem como as

superações exigidas pelo próprio mercado.

De maneira que as empresas nacionais, com a delineação deste novo

panorama, se obrigaram a acompanhar o mercado e a fidelizar o cliente com a

competitividade no preço e qualidade no produto, garantindo, desta forma, sua

participação no mercado.

Santin e Cavalcanti (2004) relatam que:

A qualificação dos fornecedores constitui uma importante ferramenta para a promoção da melhoria contínua entre a relação fornecedor/cliente. Num mercado cada vez mais exigente, onde a qualidade é um diferencial competitivo, isto se constitui numa real necessidade. Muito além de ser uma exigência das Boas Práticas de Fabricação para os produtores de medicamentos, é uma garantia de melhores aquisições, de um menor índice de não-conformidades associadas.

Assim, a melhoria contínua na qualidade das mercadorias produzidas tem

sido uma ferramenta imprescindível para as organizações, entretanto, aspectos que

influenciam diretamente esta característica têm sido pouco explorados pelas

empresas. A qualidade da matéria prima adquirida pelos fornecedores implica

diretamente na qualidade do produto final, logo, é fundamental que seja analisada

para a consecução de um produto de qualidade.

Para as empresas farmacêuticas é fundamental a qualificação e identificação

dos fornecedores, sendo que deste processo depende a sobrevivência destas

Page 15: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

14

empresas. A qualidade engendrada por este processo é essencial, particularmente

no processo da globalização, onde existe um aumento da competitividade e o

desempenho da produção deve ser maximizado.

Lucchesi (1995, p.43), a respeito do setor da empresa farmacêutica,

complementa que:

Todos estes movimentos da política e da economia refletem-se e têm desdobramentos, maiores ou menores, no setor da Saúde. Sabe-se que o aperfeiçoamento democrático, o fortalecimento da cidadania e a descentralização impulsionam a proposição de reformas nos sistemas de saúde no sentido da cobertura universal, da equidade e da integralidade da atenção em saúde.

Como já foi afiançado acima, no panorama mercadológico presente, a

qualidade e o controle de qualidade por consequência, são imprescindíveis, não

sendo permissíveis os níveis de defeitos aceitos anteriormente. De modo que, as

empresas farmacêuticas precisam conceber um processo de seleção e qualificação

que não permitam que falhas ocorram e que possam, por sua vez, prejudicar o

produto final destinado aos consumidores.

Santin e Cavalcanti (2004) quanto à qualificação dos fornecedores,

asseguram que a melhoria contínua da qualidade nos procedimentos referentes às

farmácias magistrais é fundamental na busca da satisfação dos consumidores.

Contudo, é pouco discutida a importância da qualidade dos fornecedores, apesar do

desempenho dos estabelecimentos deste setor ser profundamente afetado por este

aspecto do processo produtivo.

De maneira que para a obtenção de um resultado satisfatório no tocante aos

fornecedores, necessário se faz uma investigação em profundidade da competência

no aspecto produtivo, administrativo, financeiro e mercadológico. O responsável por

tais investigações, em tese, deve ser um profissional da área técnica que se utiliza

de instrumentos de pesquisa que permitam a comparação e avaliação dos serviços

prestados.

Assim, diante do exposto, a temática do controle de qualidade vem,

paulatinamente, angariando espaço e importância quando da tratativa na atuação

das empresas farmacêuticas. O controle de qualidade é fundamental porque é

questão vital para o paciente que faz uso da medicação, não podendo, pois, ser

relegado à temática de segundo plano, dada sua importância e o risco que a falta da

eficiência do controle gera ao consumidor.

Page 16: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

15

O controle de qualidade e a aferição dos métodos utilizados nas farmácias

magistrais são de fundamental importância para o paciente e a tratativa deste tema

será abordada com mais vagar e mais especificidade no transcurso desta pesquisa

monográfica.

O medicamento manipulado para não sofrer desvios ou falhas que possam

comprometer sua qualidade e mesmo seu crédito junto à população em geral, deve

seguir critérios rigorosos, critérios estes que serão abordados neste trabalho

monográfico.

É fundamental ressaltar que o medicamento magistral tem sua qualidade

definida pelo processo produtivo construído e não meramente pelo teste realizado

após a efetivação deste processo. De maneira que o controle de qualidade é

essencial a quaisquer tipos de medicamentos, sejam eles industrializados ou

manipulados, sendo ele atributo básico para ambos.

Conforme Ferreira, (2008), o controle de qualidade de formas farmacêuticas

manipuladas se constitui em instrumento essencial para certificar a eficácia e a

segurança dos medicamentos magistrais, garantindo, por conseguinte, os

consumidores.

Trata-se de uma questão de segurança intrínseca ao consumidor que não

pode ser dirimida sob nenhum pretexto e que deve atender rigidamente à finalidade

médica para o qual foi prescrito.

De tal maneira que necessário se faz ressaltar que manipular um

medicamento com qualidade não se restringe a prepará-lo com a dosagem correta,

com uniformidade e estabilidade, mas também de acordo com ensaios de controle

de qualidade que efetivamente comprovem que a eficácia a que o medicamento se

dispõe.

Assim sendo, o controle de qualidade do medicamento magistral será

tratado em seus diversos aspectos, ambientando o presente estudo no município de

Jales, que servirá de palco para a pesquisa científica que ora se apresenta e se

desenvolve.

Page 17: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

16

1. A FARMÁCIA MAGISTRAL BRASILEIRA

Thomaz (2001) faz um relato histórico da farmácia magistral no Brasil,

quando afirma que a manipulação no Brasil começou no período pré-colonial. A

própria constituição da flora brasileira e o conhecimento indígena na manipulação de

plantas nativas fomentaram este processo. As chamadas boticas são precursoras

das farmácias de manipulação, tendo o concurso dos jesuítas para a catalogação e

classificação das plantas em conjunto com a população local.

Segundo o mesmo autor, apenas no ano de 1832 surgiram as escolas de

farmácia no país, sendo que as boticas foram sendo substituídas gradualmente

pelas farmácias, onde a produção era praticamente toda artesanal. Com o número

crescente destes estabelecimentos e, por conseguinte, dos profissionais que

trabalhavam nestes locais, estes obtiveram grande valorização profissional.

Em conformidade com o que assegura Ribeiro (2003) quanto a seu histórico,

a farmácia magistral no Brasil, após o seu desvanecimento quase integral com o

advento da industrialização do país a partir da década de 50, teve um

restabelecimento em fins da década de 80. Já no final de década de 90, surgiu a

primeira regulamentação específica para o setor magistral, a RDC-33, que coincidiu

com um elevado aumento no número de farmácias magistrais em todo o país.

Szatkowski e Oliveira (2004), afirmam que o período de mudanças para o

ramo das farmácias magistrais ocorreu entre as décadas de 40 e 50 do século

passado, devido ao crescimento da indústria farmacêutica no mundo. Com o

aparecimento de grandes surtos epidêmicos, as farmácias de manipulação deixaram

de estar aptas a atender a demanda criada e com isso, foram fomentadas políticas

no sentido de promover tecnologias para a produção de medicamentos em grande

escala, em menor tempo e com maior durabilidade.

Segundo o que assegura Silva (2007), no início, a farmácia magistral era

voltada essencialmente para a dermatologia e para a homeopatia, tendo como

enfoque a prescrição individualizada. Em decorrência do ingresso dos

medicamentos genéricos no mercado, o setor magistral começou a manipular vários

tipos de medicamentos dos quais as apresentações são disponibilizadas pela

indústria farmacêutica.

Page 18: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

17

Segundo Rumel, Nishioka e Santos (2006): “Os medicamentos manipulados

têm sido usados frequentemente no Brasil por permitirem a personalização da

posologia e oferecerem menor custo, permutando com os produtos industrializados”.

Acompanhando a propagação científico-tecnológica que solicita padrões de

qualidade cada vez mais rigorosos, a RDC Nº 33, que dispõe sobre o Regulamento

Técnico sobre Boas Práticas de Manipulação de Medicamentos em farmácias e seus

anexos, passou por alterações, tendo como objetivo a difusão do conceito de

qualidade no setor magistral, meta que não foi conseguida de imediato. No ano de

2003, devido a algumas ocorrências de intoxicação de pacientes por medicamentos

de origem magistral, foi instaurada a RDC Nº 354, que determina critérios exclusivos

para a manipulação de substancias de baixo índice terapêutico na farmácia

magistral. (BRASIL, 2003).

No ano 2005, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) publicou

a consulta pública número três, onde os pontos falhos da RDC Nº 33 foram

contestados, tendo como finalidade a fixação de critérios mais rígidos para a

manipulação no Brasil. (BRASIL, 2005).

A RDC Nº 214, que dispõe sobre Boas Práticas de Manipulação de

Medicamentos para uso Humano em Farmácias, foi criada na data de 12 de

dezembro de 2006, com sua posterior revogação pela RDC Nº 67, esta datada de 08

de outubro de 2007, dispondo, por sua vez, sobre as Boas Práticas de Manipulação

de preparações magistrais e oficinais para uso humano em farmácias, encontrando-

se esta atualmente em vigência no país. (BRASIL, 2006).

Em consenso com o que explana Allen Jr. (2006), a farmácia magistral

exerce um papel essencial, pois consegue proporcionar ao paciente uma

individualização do tratamento, possibilitando ao médico a adaptação das dosagens

segundo as necessidades do paciente.

De acordo com o CRF/SP (2007), na farmácia magistral, os medicamentos

são preparados de maneira individualizada, pelo farmacêutico e por sua equipe,

conforme a solicitação de um usuário portador de receita médica, odontológica ou

mesmo receita veterinária, para a preparação de medicamentos individualizados ou

personalizados nas mais variadas formas: em pós, cápsulas, comprimidos, xaropes,

cremes, pomadas, géis, soluções para uso otológico, nasal, supositórios e

medicamentos estéreis para uso parenteral.

Page 19: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

18

Ferreira (2008) afirma que no mercado atual, o número de farmácias

magistrais tem crescido e proporcionado aos profissionais farmacêuticos grandes

oportunidades, tanto socioeconômicas quanto profissionais, promovendo sua

realização profissional. A razão para este crescimento deve-se ao fato do

medicamento magistral possibilitar ao consumidor flexibilidade na dosagem, escolha

da forma farmacêutica que lhe convém e a possibilidade de associação de fármacos.

Este mesmo autor ainda explica que através da manipulação, a preparação

de medicamentos ausentes no mercado devido a problemas econômicos da

indústria farmacêutica ou outros se torna viável (o que é sumamente vantajoso ao

consumidor), bem como possibilita a utilização sob outras formas de usos para

medicamentos tradicionais.

Szatkowski e Oliveira (2004), afirmam, quanto às características do ramo

das farmácias de manipulação:

Considerando todos os aspectos sociais e econômicos do ramo farmacêutico, verifica-se que o número de farmácias de manipulação sofreu um aumento significativo, nestes últimos anos, com conseqüente especialização dos profissionais da área. Foram implantadas novas tecnologias, surgiram distribuidoras que passaram a oferecer matérias-primas em quantidades acessíveis, proporcionando, assim, oportunidade aos profissionais médicos de fazerem a prescrição de medicamentos de forma personalizada; ao paciente, a oportunidade de comprar seus medicamentos a um custo inferior e também a oportunidade de manipular medicamentos não existentes no mercado.

Segundo a ANFARMAG (Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais),

o setor magistral, atualmente, emprega aproximadamente 14.500 (quatorze mil e

quinhentos) farmacêuticos (número quase três vezes superior ao do setor industrial)

em cerca de seis mil estabelecimentos produtores de medicamentos.

A despeito de requerer ampla documentação por parte dos

estabelecimentos, a legislação aborda o quesito qualidade de maneira superficial,

deixando importantes lacunas, tais como o estudo da estabilidade e capacidade dos

processos fora de enfoque, estes indispensáveis na promoção da melhoria contínua.

(SILVA, 2008).

Bonfilio et al. (2010), ressalta que o controle de qualidade na farmácia

magistral é imprescindível para a qualidade do medicamento por ela manipulado,

porém, este apresenta alto custo, requer área física adequada, obtenção de

equipamentos e de contínuo treinamento do quadro pessoal. Estas particularidades

do controle de qualidade dificultam o seu cumprimento por parte das farmácias de

Page 20: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

19

manipulação em virtude da falta de recursos suficientes para a realização dessas

práticas onerosas, sendo questionada a qualidade dos medicamentos manipulados.

1.1 A FARMÁCIA MAGISTRAL E O CONTEXTO HISTÓRICO DA GLOBALIZAÇÃO

A globalização fez com que o mundo, que antes era segmentado e separado

por fronteiras de difícil transposição em um mundo conectado, onde a informação é

distribuída em tempo real e uma empresa pode comprar e vender em praticamente

todo o mundo, desde que faça uso das ferramentas tecnológicas disponíveis.

Este fenômeno revolucionou os parâmetros mundiais da sociedade em

termos econômicos, sociais, culturais e políticos, promovendo a derrubada de

fronteiras e reduzindo drasticamente as distâncias virtuais entre os países,

continentes e os povos do mundo.

Chesnais (1996, p.23), conceituando o processo de globalização, afirma que:

O adjetivo “global” surgiu no começo dos anos 80, nas grandes escolas americanas de administração de empresas, as célebres “business management schools” de Harvard, Columbia, Stanford,etc. Foi popularizado nas obras e artigos dos mais hábeis consultores de estratégia e marketing, formados nessas escolas – o japonês K. Ohmae e M.E. Porter – ou em estreito contato com elas. Fez sua estréia em nível mundial pelo viés da imprensa econômica e financeira de língua inglesa, e em pouquíssimo tempo invadiu o discurso político neoliberal.

Sendo assim, é possível afirmar que a conceituação da terminologia

globalização, surgida nos anos 80, se fortaleceu e literalmente invadiu o cenário

mundial, tornando-se base no discurso político neoliberal, movimento crescente no

mundo. Este processo transcende um único setor, não se restringindo a apenas uma

área de atuação social. A globalização não ficou estanque apenas a economia, ou a

cultura, ou ainda a informação de maneira generalização.

Este fenômeno fez com que caíssem as barreiras que impediam a entrada

de artigos industrializados advindos de outros países, facilitando assim o acesso

destes produtos pela população de todas as partes do mundo, o que acabou por

acirrar assim a competitividade entre as empresas, ainda forçando o

estabelecimento de padrões de preços entre produtos nacionais e importados.

Page 21: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

20

Lucchesi (1995), afirma, explanando sobre os contrapontos do processo de

globalização, que este processo de mudanças econômicas ocorridas no mundo (e

chamadas genericamente de globalização), fomentou transformações internas nos

países, causando alguns efeitos negativos, como o aumento do desemprego e a

diminuição da soberania dos Estados, uma vez que ocorreu a diminuição destas

barreiras, inclusive políticas, bem como um processo de massificação cultural, que

acabou por comprimir as diversas vertentes culturais antes existentes.

A parte destes eventos negativos tal processo, apesar de acentuar a

competitividade entre as empresas e impelir a uma queda nos preços, aumentando,

deste modo, as chances do consumidor em adquirir um produto por menor valor,

também engendrou o risco do desenvolvimento de produtos com qualidade

duvidosa, devido ao afã das empresas em reduzir os custos sob quaisquer

perspectivas. Santin e Cavalcanti (2004, p. 45), quanto ao processo de globalização

frente ao setor farmacêutico, ressaltam que:

A abertura do mercado provocou uma maior exposição das empresas à concorrência internacional. Devido a esse fato, as empresas nacionais, cada vez mais, têm procurado obter a satisfação dos clientes, e concomitantemente garantir sua participação no mercado com produtos de qualidade.

De maneira que o processo da globalização originou e fomentou um

fenômeno com aspectos controversos, ou seja, por um lado, promoveu a

competitividade entre as empresas e a conseqüente queda dos preços e por outro a

possibilidade da perda de qualidade em nome do objetivo da redução de preços a

qualquer custo.

Sobre este fenômeno, Silva (2010, p. 125), particularizando o setor da

indústria farmacêutica, assegura que:

No caso particular da indústria farmacêutica, as relações estruturais geradas por sua influência, organização e poder econômico em nível mundial evidenciam um dos pressupostos básicos do capitalismo: a geração de lucro através do estímulo ao consumo com o fomento de produtos gerados pela indústria, no caso em particular, a da saúde.

De forma que a globalização atingiu igualmente o setor farmacêutico, não

ficando este a margem deste fenômeno. A indústria farmacêutica também passou

por adequações para o atendimento das novas necessidades demonstradas pelos

consumidores.

De acordo com Almeida (2009), a globalização promoveu a circulação

internacional de produtos e materiais, aumentando o risco de contaminação com

Page 22: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

21

produtos de origem duvidosa. Em contrapartida, promoveu um aprimoramento

técnico e científico de alguns setores, para sanar a problemática criada por este

fenômeno. Houve, então, a criação de diversas legislações concernentes ao setor da

saúde para regulamentação da área e possibilidade de maior fiscalização do setor.

1.2 O CONTROLE DE QUALIDADE NA FARMÁCIA MAGISTRAL

Em conformidade com Pozza, Khalil e Mainardes (2009), o controle de

qualidade é a metodologia empregada para a consecução de um produto com

aptidão farmacopeica, e que no processo da manipulação possa ter parâmetros de

qualidade, possibilitando, desta maneira, a garantia da segurança e eficácia ao

consumidor. O controle de qualidade deve compreender o processo produtivo em

todas as suas etapas, ou seja, desde o recebimento até entrega do produto

acabado.

Gil, et al. (2010), afirmam que o conceito de qualidade é bastante subjetivo,

mas pode ser conceituado de maneira bem simples como sendo um conjunto de

atributos que seja desejado para um determinado produto. Para que a qualidade do

produto seja satisfeita deve haver o atendimento das necessidades do cliente, bem

como o cumprimento dos aspectos técnicos legalmente exigidos para o produto

determinado.

A Farmacopeia Brasileira (2010) define o controle de qualidade como sendo

o conjunto de medidas destinadas a garantir, em qualquer momento, a produção de

lotes de medicamentos e demais produtos, que satisfaçam às normas de identidade,

atividade, teor, pureza, eficácia e inocuidade.

Almeida (2009) afirma que qualidade tem diversos significados, mas pode

ser definida como um conjunto de características de determinado produto que

satisfaça as necessidades dos clientes, levando à satisfação dos mesmos. Pode

ainda significar um processo onde não existam falhas no bem a ser consumido, ou

seja, com adequação ao uso.

O controle de qualidade pode ser determinado como sendo um conjunto de

operações (programação, coordenação e execução) que objetivam a verificação da

Page 23: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

22

conformidade das matérias-primas, materiais de embalagem e do produto acabado,

com as especificações estabelecidas na legislação vigente (BRASIL, 2007).

Gil et al. (2010) informam, quanto aos ensaios de qualidade, que estes

englobam ensaios físicos ou físico-químicos, que não são aplicados à análise de

identidade, pureza à potência.

Silva (2007) determina que o controle de qualidade na farmácia magistral

depende, essencialmente, da qualidade do processo de produção, uma vez que

existe uma limitação na possibilidade de inspeções do produto final, ou seja, do

produto acabado, do medicamento manipulado.

Pissato et al. (2006), explana que a preocupação com a excelência das

formulações magistrais tem estimulado o desenvolvimento de um controle de

qualidade mais eficaz dos medicamentos manipulados, visando proporcionar as

boas práticas de fabricação no procedimento, visto que na área de manipulação nem

todo método de produção segue um padrão.

Couto e Tavares (2010) asseguram que na última década, diversas normas e

regulamentos foram divulgados, tendo como objetivo principal a realização e o

desempenho das Boas Práticas de Manipulação, tendo como ponto inicial a RDC Nº

33 de 19 de abril de 2000, que por sua vez sofreu complementação e atualização

pela RDC Nº 214de 12 de dezembro de 2006 e RDC Nº 67 de 08 de outubro de

2007, que consiste a legislação em vigência no país.

A RDC Nº 67 estabelece condições mínimas para a manipulação de

medicamentos, abrangendo quesitos relacionados às instalações, equipamentos,

recursos humanos, aquisição e controle de qualidade da matéria-prima. Estabelece

ainda requisitos para armazenamento, avaliação farmacêutica da prescrição,

manipulação, fracionamento, conservação, transporte, dispensação das formulações

e atenção farmacêutica aos usuários. (BRASIL, 2007)

Através do controle de qualidade dos produtos manipulados a farmácia

cumpre um de seus deveres, que é submeter aos testes exigidos todas as matérias-

primas e os produtos acabados por amostragem. Inúmeras análises são exigidas

pela RDC Nº 67. As análises dependem do tipo de forma farmacêutica, e requerem

os diversos testes: caracteres organolépticos, solubilidade, pH, peso, volume, ponto

de fusão, densidade, avaliação do laudo de análise do fabricante/fornecedor, peso

médio, desintegração, grau ou teor alcoólico, volume, viscosidade, teor do princípio

ativo, dissolução e pureza microbiológica. (BRASIL, 2007)

Page 24: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

23

De acordo com a ANVISA, os Certificados de Análise das matérias-primas

devem ser fornecidos pelos fornecedores das matérias-primas. Também devem ser

realizados testes físico-químicos e microbiológicos para o acompanhamento da

qualidade da água de abastecimento, mantendo seus registros. (BRASIL, 2007).

Bonfilio et al. (2010), afirma que, em conformidade com tais considerações,

há que se salientar a existência do órgão competente e de legislações específicas

para que a qualidade dos produtos manipulados seja assegurada. Ademais, a

terceirização dos serviços de controle de qualidade nas farmácias magistrais é

permitida, uma vez que a escassez de recursos para o controle de qualidade é

evidenciada fazendo com que a legislação vigente seja flexível.

Segundo Ferreira (2002), a farmácia de manipulação tem por missão

essencial o atendimento das necessidades de seus clientes, oferecendo grande

variação de produtos. Embora haja certas vantagens do medicamento manipulado,

são várias as dificuldades que impedem o crescimento do setor, como a falta de

confiabilidade do produto pela carência de controle de qualidade rigoroso das

matérias primas e produtos terminados, escassez de controle do processo de

produção e sua reprodução fiel.

De acordo com Almeida (2009), o crescimento das farmácias magistrais traz

consigo um grande desafio decorrente do próprio aumento da demanda dos

medicamentos manipulados. O aumento do nível de exigência dos consumidores, o

crescimento da competitividade no setor e a necessidade de adequação à legislação

vigente que rege o setor. A autora ressalta que o principal obstáculo das farmácias

magistrais é a conquista da credibilidade junto aos consumidores, que somente será

possível em um processo de crescimento sustentável, com a adequada capacitação

técnica e a obtenção da excelência no produto.

Ferreira (2002) ainda quanto ao processo de crescimento das farmácias

magistrais assegura que: “O grande desafio das farmácias magistrais é a produção

de medicamentos e produtos de qualidade, com garantia de eficácia terapêutica e

segurança do paciente”.

De tal maneira que, para que os consumidores tenham confiança no

medicamento manipulado e, por conseguinte, na farmácia magistral, é necessário

um controle de qualidade austero, que garanta ao consumidor um produto de

qualidade e que siga, rigorosamente, critérios que componham para a consecução

Page 25: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

24

de um medicamento eficiente, de qualidade e com as vantagens inerentes ao

medicamento manipulado.

Cukier, Silva e Campos (2012), afirmam que, dado a estrutura legal que

regulamenta as farmácias magistrais no país, é fundamental esclarecer que estas

apresentam condições e procedimentos específicos, organizados e rígidos, mas que

ainda dispõem de pontos controversos.

Os mesmos autores ressaltam também que a sociedade brasileira passou,

nos últimos anos, por um processo de avanço social e econômico que forjou o

aumento da exigência do consumidor com relação à qualidade dos medicamentos

manipulados, bem como aumentou sua percepção com relação à qualidade dos

serviços prestados por estes estabelecimentos. Deste modo, além de qualidade no

produto oferecido, a farmácia magistral precisa oferecer um serviço de excelência,

para, de tal maneira, obter a satisfação de seus clientes.

1.2.1 Aspectos principais do Controle de Qualidade das formas farmacêuticas

sólidas

Markman, Koschtschak e Auricchio (2007) afirmam que os medicamentos

manipulados surgiram como opção de terapia personalizada ao paciente. Todavia,

este tipo de medicamento traz dificuldades do ponto de vista metodológico e

limitações técnicas para o controle do processo de manipulação e do controle físico-

químico do produto acabado.

Ferreira (2000), afirma que são inúmeras as vantagens do medicamento

manipulado em relação ao medicamento industrializado, que vão desde a facilidade

posológica até o preço, que é mais reduzido, mas ainda sofre com a falta de

credibilidade por parte da população, justamente por uma suposta ausência de um

controle de qualidade rígido das matérias-primas, produtos acabados, processo de

produção e reprodutibilidade.

Silva (2007), no tocante aos aspectos principais do controle de qualidade,

afirma que as farmácias de manipulação, em consequência das transformações de

mercado e da conjuntura mundial, sofreram diversas modificações conceituais,

tendo que se adequar às novas normas reguladoras estabelecidas, visando o

Page 26: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

25

preceito relacionado à qualidade do fármaco, à gestão do processo e de sistemas

implantados na empresa para garantia de qualidade.

O mesmo autor complementa afirmando que com este processo, as

farmácias de manipulação se capacitaram para a obtenção de um produto uniforme

e mais eficiente. Os fatores de erros são avaliados para que possam ser controlados

e minimizados, utilizando padronização dos mesmos, obtendo um produto seguro,

estando, pois, garantida a eficácia e qualidade dos mesmos.

1.2.1.1 Qualificação dos fornecedores

O Formulário Nacional de Farmacopeia Brasileira, sobre a qualificação dos

fornecedores (2011, p.30), afirma que:

Na aquisição de matérias-primas e outros insumos é desejável que os fornecedores sejam qualificados por meio dos critérios estabelecidos pela legislação vigente, que incluem: a comprovação da regularidade do distribuidor perante aos órgãos de vigilância sanitária, a realização de uma auditoria in loco para verificar o cumprimento das boas práticas de fabricação ou de fracionamento, a correspondência dos resultados analíticos obtidos na farmácia com aqueles fornecidos pelo distribuidor (ou fabricante) e o histórico de fornecimento de matérias-primas e outros insumos aprovados conforme as especificações. (grifo do autor)

Sucupira (2003) apud Santin e Cavalcanti (2004), assegura que é necessário

investigar com bastante profundidade a competência dos fornecedores, não

somente nos aspectos produtivos, mas também nos aspectos administrativos,

financeiros e mercadológicos. Estas investigações devem ser realizadas pelo

pessoal das áreas de técnicas e de compras, se utilizando, para tanto, de

ferramentas de pesquisas que permitam mensurar corretamente possíveis

comparações e escolher aquela mais adequada às necessidades.

De acordo com Ferreira (2002), quanto à qualificação dos fornecedores, este

assegura que:

Ao adquirirmos uma matéria-prima de um fornecedor e transformarmos a mesma em medicamento, assumiremos toda a responsabilidade da qualidade do produto perante o consumidor. Assim sendo, vindo a responder judicialmente caso o medicamento não cumpra as especificações contidas no rótulo. A escolha de um fornecedor idôneo, criterioso e competente trará tranquilidade e segurança na relação de negócios. É importante conhecer pessoalmente o fornecedor, suas instalações, em que condições são armazenadas as matérias-primas (tipo de embalagem, temperatura, luminosidade, umidade, identificação e ordenação), limpeza,

Page 27: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

26

como é feito o fracionamento (vestimenta e higiene dos funcionários, instrumentos de medida utilizados, embalagens utilizadas), rapidez e pontualidade na entrega, condições de pagamento e preços, etc.

A identificação, seleção e a qualificação dos fornecedores são, conforme

afirmam Santin e Cavalcanti (2004) fatores que se constituem em uma questão de

sobrevivência para as indústrias farmacêuticas, especialmente dado o panorama de

globalização vivenciado pelo mundo. De acordo com estes autores, a qualificação

dos fornecedores é um dos fatores, senão o mais importante deste processo, capaz

de promover melhorias no desempenho da produção.

Macedo (2002), afirma que é necessário ressaltar que a qualidade de um

produto começa no processo de aquisição dos insumos e materiais, respeitando-se

as especificações, quantidades e prazos de utilização. A aquisição realizada de

maneira correta é um pré-requisito para a consecução de um produto final de

qualidade. Sendo assim, se uma empresa deseja desenvolver, produzir e

comercializar medicamentos de qualidade é essencial uma parceria positiva com

seus fornecedores.

Por fim, o mesmo autor ressalta que a manutenção de um cadastro de

fornecedores qualificados é uma ferramenta importante e eficiente para o controle de

qualidade, trazendo consigo uma série de vantagens à empresa que a utiliza. Dentre

elas, evita devoluções que podem acarretar em atrasos nas entregas do produto

final, irregularidades na cadeia produtiva que podem afetar a imagem da empresa e

prejudicar seus consumidores. Além disso, é possível aperfeiçoar a rotina na

fabricação de seus produtos e reduzir a necessidade de inspeções nos processos de

recebimento e incorporação de matérias-primas no estoque.

1.2.1.2 Controle de Qualidade das matérias-primas

O controle de qualidade das matérias-primas utilizadas pela farmácia

magistral é de fundamental importância no processo produtivo do estabelecimento.

Os autores Pinto, Kaneko e Ohara (2000) asseveram que as especificações da

matéria-prima devem ser precisas, estando descritas em terminologia objetiva e

Page 28: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

27

completa, fornecendo detalhes específicos dos métodos de teste, tipos de

instrumentos utilizados, bem como a técnica de amostragem empregada.

Marcatto, et al. (2005) ressalta que a credibilidade dos produtos manipulados

tem sido posta em dúvida pela sociedade, em parte em decorrência da falta de

critérios rígidos de controle de qualidade das matérias-primas, do processo produtivo

e mesmo do produto acabado.

Tais autores asseguram ainda que quaisquer matérias-primas que não

atendam às especificações exigidas devem ser isoladas dos demais materiais e

devidamente identificadas como rejeitadas. Isso permite ao profissional a detecção

de contaminação no processo produtivo. (PINTO, KANEKO e OHARA, 2000).

1.2.1.3 Laboratório de Controle de Qualidade

De acordo com o que afirma Ferreira (2000), a área física ideal tem um

espaço mínimo de 15 m2, devendo, preferencialmente, estar próximo ao

almoxarifado e laboratórios de produção, ser uma área isolada e independente das

demais instalações.

O mesmo autor afirma que o laboratório deve ainda contar com piso que

facilite a limpeza, com paredes azulejadas ou com revestimento liso e pintura a óleo,

iluminação natural e artificial adequadas, com área escura para as leituras

cromatográficas. O laboratório também deve contar com ventilação adequada,

refrigeração que mantenha a temperatura ambiente em torno de 20° C, bancadas

em alvenaria ou madeira revestida, instalações elétricas e hidráulicas e demais

benfeitorias necessárias.

Gil et al. (2010) corrobora o que afirma Ferreira, pois afirmam que o

laboratório de controle de qualidade deve estar em ambiente separado das demais

áreas de produção. Informam que as áreas onde forem realizados os ensaios

microbiológicos, biológicos ou com radioisótopos devem ser independentes

especialmente no tocante ao sistema de ar.

Conforme asseguram os mesmos autores os laboratórios devem ser

projetados de modo a facilitar as operações a serem realizados nos mesmos.

Devem dispor de espaço suficiente para o perfeito desenvolvimento das atividades,

Page 29: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

28

de modo a evitar riscos, tais como a contaminação cruzada, mistura de

componentes, dentre outras. Inclusive, em alguns casos, pode se fazer necessário a

utilização de salas separadas para a proteção de determinados instrumentos,

evitando assim interferências de ordem elétrica, fatores externos, umidade, etc. A

biossegurança, os EPIs, os EPCs, as sinalizações de segurança também devem ser

levadas em conta.

Por fim, Gil et al. (2010) afirmam que no Brasil existem poucos laboratórios

que realizam serviços nesta área, excluindo-se nestas estatísticas aqueles das

próprias indústrias fabricantes. Segundo os autores ações governamentais no

sentimento de promover o desenvolvimento e ampliação são necessários, para que

assim se aumente o número de laboratórios credenciados para a realização desta

atividade e, por conseguinte, realizar um efetivo controle de qualidade na área de

medicamentos com eficiência.

1.2.1.4 Equipamentos

Ferreira (2000), quanto às instalações e aos equipamentos com recursos

básicos, necessários para a montagem de um laboratório de controle de qualidade,

afirma que estes podem ser adquiridos por um valor razoável. Entretanto, o retorno

obtido torna-o viável, pois a economia e eficiência no processo de produção tornam

o investimento compensatório. Diversos são os equipamentos necessários para a

montagem de um laboratório, dentre eles:

pHmetro;

aparelho para determinação de ponto de fusão;

viscosímetro;

espectrofotômetro;

estufa;

balança analítica de precisão;

mufla;

banho-maria;

centrífuga;

Page 30: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

29

microscópio;

refratômetro;

dessecador;

Bico de Bunsen;

Densímetros;

Vidrarias (provetas, buretas, condensadores, balões, erlenmeyers, cápsulas

de porcelana, tubos de ensaio, funis de separação, pipetas graduadas e

volumétricas, tubos de Nessier, balões volumétricos, termômetros, pesa filtro,

frasco para reagentes, etc;

Refrigerador;

Lâmpadas UV;

Cuba cromatográfica, dentre outros equipamentos.

De acordo com Gil et al. (2010), no tocante aos equipamentos, vidrarias,

reagentes e demais utensílios utilizados em um laboratório de controle de qualidade,

devem estar em conformidade com o tipo de procedimento a este realizado no

mesmo laboratório. Tais equipamentos devem ser projetados, construídos,

adaptados, mantidos e instalados de maneira a facilitar sua utilização pelo operador,

reduzindo os riscos e permitindo a manutenção e limpeza adequadas.

Os mesmos autores ainda ressaltam que os equipamentos devem sofrer

verificação periódica, conforme as prescrições e especificações determinadas, com

as devidas calibrações, para que assim os padrões de qualidade também sejam

mantidos.

1.2.1.5 Recepção da matéria-prima

Ferreira (2002) explana que a recepção da matéria-prima é a chegada desta

ao almoxarifado, sendo que sua chegada deve ser examinada visualmente, sendo

observada se a matéria-prima está íntegra e em conformidade com o declarado na

nota fiscal respectiva. Também deve haver uma confirmação do peso ou volume da

matéria-prima, bem como a necessidade de uma possível conservação especial, e

ainda a validade do produto.

Page 31: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

30

1.2.1.6 Identificação da matéria-prima

Sobre a identificação das matérias-primas e os procedimentos necessários

na avaliação das mesmas, o Formulário Nacional de Farmacopeia Brasileira (2011,

p.31), afirma que:

Enquanto as matérias-primas estiverem sob avaliação devem receber rótulos específicos, como por exemplo, “em quarentena” para indicar que elas não estão liberadas para o consumo, necessitando aguardar os resultados para tomada de decisão quanto à aprovação do material. É recomendável, portanto, que as matérias-primas em análise ou avaliação sejam armazenadas em local próprio e separadas daquelas em uso na farmácia, porém igualmente, sob condições controladas e adequadas.

A matéria-prima, imediatamente ao aportar ao estabelecimento magistral,

deve ser identificada convenientemente, bem como conservada em área isolada, de

“quarentena”, até que a aceitabilidade da matéria-prima seja constatada pelo

laboratório de controle de qualidade. Em aprovada ou rejeitada, a matéria-prima será

etiquetada como tal. (FERREIRA, 2002)

1.2.1.7 Etiquetas

Ferreira (2000), quanto às etiquetas das matérias-primas, afirma que é

necessário preencher a etiqueta de quarentena (de cor amarela) com os seguintes

dados:

Nome da matéria-prima;

Número do lote;

Data do recebimento;

Data da fabricação;

Data da validade;

Nome do fornecedor;

Quantidade;

Nome da transportadora;

“aguardando aprovação”.

Page 32: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

31

Figura 1 – Modelo de etiqueta de quarentena

Fonte: www.tipolac.com.br

Após a aprovação ou reprovação da matéria-prima, respectivamente a

etiqueta (de cor verde se aprovada e vermelha se reprovada), segundo Ferreira

(2000), deve conter:

Nome da matéria-prima;

Número do lote;

Data do recebimento;

Data da validade;

Nome do fornecedor;

Quantidade;

Analista;

“aprovado”.

Figura 2 – Modelo de etiqueta de aprovado Fonte: www.tipolac.com.br

Nome da matéria-prima;

Número do lote;

Data do recebimento;

Data da validade;

Nome do fornecedor;

Quantidade;

Analista;

“reprovado”.

Page 33: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

32

Figura 3 – Modelo de etiqueta de reprovado Fonte: www.tipolac.com.br

1.2.1.8 Amostragem da matéria-prima

Gil et al. (2010) conceitua amostragem como sendo a retirada de parte

representativa de determinado material para análise e controle do mesmo. Este

processo corresponde a uma primeira etapa do processo de controle de qualidade e

faz-se necessário atentar que com este processo todo um lote de material terá sua

qualidade verificada e atestada, demonstrando-se, pois, sua importância.

Ferreira (2002) determina que a amostragem da matéria-prima deverá ser

realizada por pessoal qualificado e sob supervisão do requisitos controle de

qualidade. Quando da chegada da matéria-prima a ser utilizada, amostras

consideráveis deverão ser recolhidas para análise, que representem cada lote a ser

analisado. O mesmo autor ainda assevera que a amostragem precisa ser realizada

em local apropriado e limpo, para que inexista a possibilidade de contaminação

cruzada do material analisado. Tal contaminação comprometeria a matéria-prima e,

por conseguinte, o produto final elaborado pela farmácia.

1.2.1.9 Características (identificação) das matérias-primas

De acordo com Ferreira (2000), a efetivação de testes qualitativos ou

quantitativos simples nas matérias-primas podem ser bastante úteis no processo de

detecção de alterações, erros ou adulterações por parte dos fornecedores das

matérias-primas, podendo estes testes ser realizados na própria farmácia.

Page 34: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

33

Segundo o mesmo autor devem ser levados em conta critérios analíticos

para a determinação da qualidade dos medicamentos, tais sejam as propriedades

organolépticas (aspectos gerais, cor odor, sabor); normas e ensaios de identidade

(solubilidade, ponto de fusão, espectrofotometria, ultravioleta e infravermelho, etc.),

normas e provas de pureza (métodos quantitativos como perda por dessecação,

grau de umidade, cromatografia líquida e gasosa, etc.) e normas e ensaios de

atividade (métodos quantitativos como a espectrofotometria, titulação, gravimetria e

os métodos baseados em reações elétricas, térmicas e biológicas).

1.2.1.9.1 Caracterização organoléptica

Ferreira (2000) ressalta que são consideradas características organolépticas

aquelas que se utilizam dos cinco sentidos como instrumento de avaliação,

importante na identificação inicial da matéria-prima que chega à farmácia. A

integridade e a qualidade da matéria-prima mantêm relação intrínseca com as

características organolépticas, mas estas não podem ser utilizadas com finalidades

analíticas, pois são consideradas subjetivas.

Ferreira (2008) desempenha de maneira bastante objetiva a descrição da

análise organoléptica das substâncias sólidas (pó), especificando a aparência, cor,

odor e sabor das mesmas:

Aparência: o teste consiste em pegar da amostra uma parte homogênea e

espalhar esta sobre um papel branco, realizando uma comparação visual e

táctil com um padrão estabelecido, confrontando a observação com as

especificações do fornecedor com aquelas estabelecidas pela bibliografia

analítica adotada;

Cor: observação da amostra que deve ser realizada em local bastante

iluminado (luz branca) contra um fundo branco, tendo como confronto padrão

da amostrateca e descrição da metodologia analítica adotada.

Odor: este fator deve ser observado em confronto com a amostrateca e

biografia utilizada. Deve-se tomar cuidado com as substâncias voláteis,

tóxicas ou irritantes. Não pode ser utilizado como padrão de pureza, exceto

Page 35: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

34

naqueles casos nos quais a alteração de odor é sinal característico de

alteração. Este aspecto deve ser considerado simplesmente como parâmetro

organoléptico. É geralmente classificado como inodoro ou como odor

característico.

Sabor: não é determinado para sólidos e existe risco e há mesmo

possibilidade de intoxicação para o analista caso testes sejam realizados

nestas condições.

1.2.1.9.2 Identificação físico-química

Ferreira (2008) afirma que o teste de identificação é uma forma de

determinação da identidade de uma substância, não fornecendo, necessariamente,

dados sobre sua pureza. Quando se dispõe os equipamentos necessários, a

identificação feita por espectroscopia no infravermelho pode ser uma metodologia de

escolha.

1.2.1.9.3 Densidade e determinação de densidade aparente para pós

Ferreira (2000) afirma que é uma propriedade física cujo valor é calculado

através do peso e do volume de dada substância pura. A densidade é válida para a

realização de avaliação da pureza de certas substâncias, tais como álcool, óleos

vegetais e minerais, dentre outros.

O mesmo autor assevera que para a determinação da densidade aparente

de pós se emprega a proveta. A densidade aparente é útil tanto na identificação da

amostra como na viabilização do método de enchimento volumétrico de cápsulas.

d(ap) = P/v

d(ap) = densidade aparente

P = peso em grama

V = volume em ml

Page 36: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

35

1.2.1.9.4 Determinação da umidade na matéria-prima

Ferreira (2002) informa quanto à porcentagem de umidade na matéria-prima

sólida, que quando esta não for especificada na monografia, é permitido um máximo

de % exceto para certos produtos químicos eflorescentes, sendo que nestes o limite

de tolerância é maior. Informa também que a determinação da umidade pode ser

realizada em balança com dessecador infravermelho e o teor de umidade acima do

especificado demonstra a deterioração ou má conservação das matérias-primas

analisadas.

1.2.1.10 Armazenamento da matéria-prima

O Formulário Nacional da Farmacopeia Nacional (2011) preconiza que a

qualidade dos produtos magistrais depende muito do conhecimento científico, da

capacitação e da competência técnico-profissional do farmacêutico que atue no

estabelecimento. Dentre os inúmeros fatores que influenciam no controle de

qualidade do produto final, as condições de armazenamento dos insumos e produtos

utilizados devem ser consideradas como aspectos fundamentais para a consecução

de produtos de qualidade pelo profissional.

A RDC nº 67/2007 estabelece que o armazenamento e manuseio das

matérias-primas exigem condições especiais de temperatura, devendo ainda existir

registros e outras formas de controle que comprovem o atendimento das

especificações definidas pela legislação. Ainda deve haver o controle do estoque

das matérias-primas, constando os registros de entrada e saída das mesmas no

estabelecimento magistral. (BRASIL, 2007)

A mesma normatização assevera quanto ao registro de entrada, que este

deve conter o nem da matéria-prima, o código interno, lote, número da nota fiscal e

nome do fabricante/fornecedor, enquanto no registro de saída deve haver a ordem

de manipulação do produto no qual a matéria prima será empregada. (BRASIL,

2007)

Page 37: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

36

1.3 CONCEITUAÇÃO DE CÁPSULA

A Farmacopeia Europeia (2012) apud Silva, Pimenta e Futuro (2008)

determina a conceituação de cápsulas como sendo formas farmacêuticas sólidas

com invólucro duro ou mole, de diversos formatos e tamanhos, normalmente

contendo uma dose unitária de fármaco. As cápsulas são utilizadas pelas farmácias

magistrais para preparar medicamentos sob a forma sólida. O processo de

preparação consiste em encapsular a mistura medicamentosa através do

enchimento dos invólucros gelatinosos por meio da utilização de equipamentos

específicos operados manualmente.

Petrovick (2009) apud Benetti (2010) afirma que os invólucros utilizados

podem ser de diversos materiais, entretanto, os mais comumente empregados são

os formados de gelatinas, amido, celulose e polissacarídeo, apesar de outros

materiais também serem empregados neste processo de produção.

De acordo com Pozza, Khalil e Mainardes (2009) as formas farmacêuticas

constituídas por cápsulas gelatinosas duras são uma das mais empregadas na

manipulação farmacêutica, pelo fato de poderem ser encapsulados uma grande

variabilidade de fármacos. Permitem ainda a dosagem do fármaco de modo

personalizado, bem como apresentam facilidade em sua produção, resultando, pois,

em um medicamento com custo mais baixo se comparado ao medicamento

industrializado.

Figura 4 – Cápsulas Fonte: Dutra (2012)

Page 38: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

37

Conforme a definição de Benetti (2010) sobre a formação das cápsulas

duras, este afirma:

As cápsulas duras são formadas por dois invólucros que são duas seções cilíndricas pré-fabricadas, sendo o corpo e tampa com as extremidades arredondadas, que se encaixam, geralmente de gelatina, mas podem ser de outros materiais.

De maneira que as cápsulas duras possuem dois invólucros que são

justamente o corpo e tampa, possuindo estes as extremidades arredondadas e que

se encaixam, sendo, normalmente, de gelatina, podendo ser, entretanto, de outro

material.

Figura 5 – Cápsula dura Fonte: Dutra (2012)

1.3.1 Processo de manipulação da forma farmacêutica sólida cápsula

Ferreira (2000) afirma que o processo de encapsulação é aquele onde as

matérias-primas são pesadas e homogeneizadas, sendo acondicionadas em

cápsulas adequadas. O material utilizado pode ser tanto placas encapsuladeiras

como uma máquina encapsuladeira com respectivos discos, bem como espátula

plástica, socadores e papel manteiga. O processo de pesagem elaborado pelo

manipulador, que tem por função selecionar e ordenar a pesagem dos componentes

das receitas a serem manipuladas, por ordem de prazo de entrega prometido ao

cliente. O manipulador deve conferir a ficha de produção, vendo se esta se encontra

em conformidade com a receita e o rótulo e separar os potes dos componentes a

Page 39: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

38

serem utilizados, sendo que as matérias-primas devem ser armazenadas em vidro

âmbar, estes etiquetados e com todas as especificações, conforme determinação

procedimental. Deve então proceder à pesagem individual de cada componente,

atentando para que os potes com as matérias-primas, após sua utilização,

permaneçam fechados, evitando assim alteração nos sai, devendo tais potes ser

recolocados em ordem nas prateleiras. Ainda elenca que são necessários ao

processo de pesagem os seguintes equipamentos: balança semianalítica, espátulas,

papel manteiga, saco plástico, calculadora e papel higiênico.

Em concordância com o que explica Jato (2001), normalmente, durante o

processo de preparação das cápsulas, para completar o volume das mesmas em

conformidade sua capacidade de enchimento, são empregados diluentes,

lubrificantes que têm como função impedir a aderência e facilitar/promover o fluxo do

pó na encapsuladora, sendo que os agentes molhantes têm por papel facilitar o

umedecimento da substância farmacêutica pelos líquidos gastrintestinais.

Petry (1998) apud Dutra (2012) informa que para o enchimento de poucas

unidades de cápsulas, o método utilizado é por nivelamento manual. Neste método,

são aplicados equipamentos simples, sem automação e cuja operação está

intrinsecamente relacionada e dependente do operador. Utilizam-se equipamentos

com maior grau de automação em produções de grandes quantidades, visto que,

independentemente do equipamento utilizado, a validação do processo de produção

é a única maneira de garantir a qualidade do medicamento.

Figura 6 – Encapsuladora manual Fonte: Dutra (2012)

Page 40: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

39

Silva, Pimenta e Futuro (2008) ressaltam que o processo de nivelamento

manual é uma operação de enchimento de cápsulas realizada em um equipamento

constituído de duas placas de material acrílico ou PVC. Uma das placas é perfurada

contendo um número de orifícios equivalente à capacidade do equipamento,

diversificando seu número de 60 a 600 perfurações.

De acordo com os mesmos autores, o diâmetro de cada orifício é igual ao da

especificação do tamanho da cápsula determinada para o enchimento. A outra placa

tem função auxiliar, servindo de suporte para as cápsulas vazias que são inseridas

nos orifícios. O enchimento das cápsulas é procedido depositando-se o pó sobre a

placa e com uma espátula o pó é espalhado de maneira uniforme, de maneira que,

por força da gravidade, ele caia no interior das cápsulas. A execução de um

movimento vibratório no equipamento ou ainda o emprego de uma vareta de

material inerte para realizar o movimento de pressionar o pó contra as cápsulas

podem se fazer necessários para que todas as cápsulas sejam completamente

preenchidas no processo.

Figura 7 – Enchimento de cápsulas com encapsuladora manual

Fonte: Dutra (2012).

Também em conformidade com o que explicam Silva, Pimenta e Futuro

(2008), durante o processo de preparação de medicamentos em cápsulas, ocorre a

perda de pó durante as operações de moagem, mistura e enchimento

(encapsulamento), sendo esta a principal causa comum de desvio da qualidade

ligada ao processo.

Page 41: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

40

Os mesmos autores afirmam que é função do farmacêutico adequar a

formulação de modo que a perda do pó se mantenha dentro de limites pré-

estabelecidos. Causas especiais que também podem comprometer o processo estão

relacionados a erros de cálculo e de pesagem dos elementos da formulação, falhas

ligadas a ação do operador e a utilização de equipamentos danificados.

Na etapa de delineamento da formulação, é feita a escolha do tamanho

adequado da cápsula gelatinosa utilizando os parâmetros de densidade dos pós que

irão ser encapsulados e o volume das prováveis cápsulas a serem utilizadas para a

produção do medicamento. Na maioria dos casos a quantidade de fármaco é

insuficiente para preencher o volume da cápsula escolhida, tornando-se a escolha

de um diluente para completá-la. As características físico-químicas dos

componentes da formulação devem ser levadas em conta nesta escolha, como

densidade, granulometria, ângulo de repouso e compatibilidade com o(s) ativo(s).

(AULTON, 2005).

Figura 8 – Fechamento das cápsulas Fonte: Dutra (2012).

Thompson (2006) apud Benetti (2010) quanto a este procedimento, explica

que: “Durante a manipulação, o corpo e a tampa são separados, o “corpo é

preenchido com o pó e, então, a tampa é recolocada”.

Conforme Allen Jr.; Popovich e Ansel (2007), apud Pinheiro (2008), os

invólucros podem ter tamanhos variados, conforme demonstra a tabela abaixo. Os

volumes variam conforme o fabricante.

Page 42: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

41

Tabela 1 – Volume das cápsulas duras.

Nº da

Cápsula

000 00 0 1 2 3 4 5

Volume

(ml)

1,40 0,95 0,68 0,50 0,37 0,30 0,21 0,13

Fonte: Pinheiro (2008).

De acordo com Silva, Pimenta e Futuro (2008) nesta etapa é realizada uma

previsão das possíveis perdas que ocorreriam durante o processo, apoiando-se em

observações de produções anteriores ou de medicamentos semelhantes. A

compensação é feita mediante o acondicionamento de uma quantidade de mistura

equivalente àquela que se pressupõe perder com posterior avaliação do resultado

na etapa seguinte.

1.3.2 Excipientes para formas farmacêuticas sólidas

Aulton (2005) ressalta que raramente os medicamentos são compostos

exclusivamente de substâncias farmacologicamente ativas (fármacos). O mesmo

autor relata que frequentemente as formulações preparadas contêm, além do

fármaco, excipientes ou adjuvantes de formulação.

Conforme este autor assevera, diversas são as funções destes excipientes,

podendo os mesmos solubilizar, suspender, espessar, emulsionar e lubrificar, entre

outras, proporcionando, deste modo, a obtenção de diversas preparações ou formas

farmacêuticas.

Ferreira (2008) assegura que a escolha correta do excipiente para

determinada fórmula deve ser baseada nas características contidas na fórmula, bem

como na possibilidade de interação destas substâncias com o excipiente. O

farmacêutico deve escolher o excipiente que não sofra interação com o fármaco

utilizado.

O mesmo autor ressaltou que, devido à existência de inúmeros excipientes,

constatou-se que princípios ativos idênticos, quando manipulados com excipientes

diferentes acabam por sofrer velocidade de dissolução variável.

Page 43: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

42

Ainda este autor elencou vários excipientes utilizados, dentre eles alguns,

tais sejam:

Lactose;

Talco;

Amido;

Manitol;

Celulose microcristalina;

Caulim;

Aerosil;

Estearato de magnésio;

Carboximetilcelulose sódica;

Carbonato de cálcio;

Lauril sulfato de sódio;

Docusato sódico;

Polisorbatos 20, 60, 80;

Óleo vegetal hidrogenado;

Bicarbonato de sódio;

Acetoftalato de celulose;

Glicolato sódico de amido;

Fosfato de cálcio dibásico;

Óxido de magnésio, dentre outros.

Ferreira (2002) como sugestão de excipiente padrão para cápsulas, expõe,

ressaltando que existem exceções que devem ser atentadas pelo farmacêutico no

momento da manipulação do medicamento, sob risco de interação entre o fármaco e

o excipiente:

Estearato de magnésio – 0,5%

Aerosil – 1,0%

Lauril Sulfato de Sódio – 1,0%

Talco Farmacêutico – 30,0%

Amido de Milho (AMISOL) QSP – 100%

Page 44: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

43

1.4 PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRÃO (POP)

De acordo com Pinheiro (2007), entende-se procedimento operacional

padrão, comumente chamado de POP, como a descrição minuciosa das técnicas e

realizações empregadas nas farmácias visando à proteção, a garantia da qualidade

do produto, bem como a proteção dos manipuladores.

Gil et al. (2010), afirmam que os procedimentos operacionais padrão são

documentos de emprego interno, que são utilizados para a validação de todos os

processos necessários ao cumprimento das BPF (Boas Práticas de Fabricação),

sendo que cada documento descreve com detalhes o modo de execução correta de

um processo específico, de modo que este possa ser repetido com segurança e

qualidade.

Larosa (2010) explica que o POP tem por objetivo a padronização de tarefas

e a minimização de erros em sua execução, independentemente do manipulador da

operação. Este procedimento garante a qualidade dos preparos, mesmo havendo

necessidade de troca de manipulador, pois existe, através do POP, uma

padronização tal que permite que a tarefa seja realizada sempre dentro dos

parâmetros necessários ao controle de qualidade.

Em conformidade com o que assegura Brandão (2010), os POPs, ou

procedimentos operacionais padrão, têm em sua especificação minuciosa as

técnicas a serem empregadas nos estabelecimentos farmacêuticos, visando, de tal

maneira, garantir a preservação da qualidade das preparações manipuladas e a

segurança do manipulador.

O mesmo autor afirma que estes procedimentos devem ser realizados de

maneira simples e objetiva, englobando os seres afetados e seus aspectos.

Inclusive, este autor ressalta a importância do exame médico admissional, bem

como o recebimento de treinamento adequado para a utilização dos equipamentos

de proteção individual (EPIs). Os EPIs são fornecidos pela empresa e sua entrega

registrada devidamente em livro próprio.

Todo o processo produtivo caracteriza-se pela obediência ao procedimento

operacional padrão. Pegoraro (2010), quanto a este procedimento, assegura que a

escolha do fornecedor também é compreendida pelo POP, do mesmo modo como

as condições das matérias-primas adquiridas, a estocagem e o acesso de pessoas

Page 45: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

44

estranhas à área de manipulação. Todas estas características devem ser

respeitadas para que o estabelecimento farmacêutico esteja em conformidade com o

que o procedimento preconiza e estabelece.

Gil et al. (2010) informam que, a título de exemplificação, é possível citar

alguns POPs comuns ao controle de qualidade, dentre eles:

POP para paramentação, entrada e saída do laboratório;

POP para coleta de amostras;

POP para validação de métodos;

POP para calibração de equipamentos.

1.5 BOAS PRÁTICAS DE MANIPULAÇÃO EM FARMÁCIAS (BPMF)

As boas práticas de manipulação em farmácias são fundamentais para o

atendimento das necessidades e exigências dos consumidores atuais. De acordo

com Marcatto, et al. (2005), atualmente, no Brasil, existe grande discussão no

tocante à atuação das farmácias de manipulação, bem como a crescente

regulamentação do setor, através do Regulamento Técnico sobre Boas Práticas de

Medicamentos em Farmácias.

Em BRASIL (1999) a ANVISA, em regulamentação própria, ressalta que,

quanto à dispensação de produtos de interesse à saúde em farmácias e drogarias

objetiva: “estabelecer os requisitos gerais de Boas Práticas a serem observadas na

assistência farmacêutica aplicadas a aquisição, armazenamento, conservação e

dispensação de produtos industrializados em farmácias e drogarias”.

Já no tocante às boas práticas de manipulação de medicamento para uso

humano, a ANVISA (2006), em resolução, objetivou:

Fixar os requisitos mínimos exigidos para o exercício das atividades de manipulação de preparações magistrais e oficinais das farmácias, desde suas instalações, equipamentos e recursos humanos, aquisição e controle da qualidade da matéria-prima, armazenamento, avaliação farmacêutica da prescrição, manipulação, fracionamento, conservação, transporte, dispensação de preparações e de outros produtos de interesse da saúde, além da atenção farmacêutica aos usuários ou seus responsáveis, visando à garantia de sua qualidade, segurança, efetividade e promoção do seu uso seguro e racional.

Page 46: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

45

O CRF/SP (2007) explica que todos os procedimentos previstos na

legislação nacional devem ser publicados sob a forma de um Manual de Boas

Práticas. Este documento é obrigatório e precisa ser disponibilizado quando que

deve ser disponibilizado quando instado pelos órgãos sanitários.

Da mesma maneira, o CRF/SP (2007) assegura que o manual em questão

está diretamente vinculado à segurança de todo o processo produtivo, pois é

possível, através do mesmo, a identificação de falhas e a implantação de medidas

corretivas que sanem tais problemas, evitando, de tal modo, danos ao consumidor e

sanções legais aos estabelecimentos que o infringe, para o qual também existe

previsão. O processo de manipulação de cápsulas duras em farmácias de

manipulação envolve os seguintes procedimentos:

Tabela 2 – Procedimentos na manipulação de cápsulas gelatinosas duras

Procedimentos envolvidos na manipulação de cápsulas gelatinosas duras

Pesagem;

Moagem ou tamisação dos pós;

Mistura;

Enchimento das cápsulas;

Limpeza externa;

Acondicionamento;

Rotulagem.

Fonte: Ferreira (2002) apud Benetti (2010).

Marcatto, et al. (2005) ressaltam que o setor das farmácias magistrais vem

sendo alvo de diferentes políticas públicas visando sua regulamentação,

considerando-se os potenciais riscos que o descumprimento das Boas Práticas de

Fabricação podem causar aos consumidores de seus produtos.

Asseguram os mesmos autores que a responsabilidade pela qualidade dos

produtos é do fabricante, que tem por dever a garantia e a validação da

confiabilidade dos mesmos para a finalidade aos quais estes se propõem, não

colocando em risco os consumidores, bem como atingindo a eficácia desejada,

respeitando-se, para tanto, as normas de segurança que regem o setor

farmacêutico.

Page 47: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

46

1.6 OUTROS PROCESSOS DE CONTROLE DE QUALIDADE

São inúmeros os processos de controle de qualidade que envolve as etapas

produtivas dos medicamentos manipulados. Ferreira (2000) descreve diversos deles,

sendo que no presente trabalho, alguns dos mesmos, por não estarem diretamente

relacionados à pesquisa em questão, serão apenas citados. Dentre eles, estão a

granulometria, a determinação de resíduos pela incineração, a microscopia, a

volumetria ou análise titrimétrica, a volumetria de neutralização, a volumetria de

oxirredução, a titulação potenciométrica, o doseamento em meio não aquoso, a

anidrovolumetria e o ponto de fusão.

1.7 ASPECTOS VISUAIS DAS CÁPSULAS

De acordo com Gil et al. (2010), quanto aos aspectos visuais das cápsulas,

na verificação visual das mesmas, são avaliados fatores, tais como limpeza,

deformações das cápsulas, enchimento e se a trava da cápsula está de acordo.

Figura 9 – cápsula dura aberta, pré-fechada e fechada Fonte: Dutra (2012).

Page 48: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

47

No tocante às alterações visuais sofridas pelas cápsulas, Allen Jr. (2007)

afirma que atingem a aparência física e consistência, incluindo o endurecimento ou o

amolecimento do invólucro. Também devem ser consideradas alterações de cor e

deformações no invólucro, sendo estes também sinais de instabilidade da

formulação.

Ferreira (2008) afirma que, quanto às características organolépticas das

cápsulas, caso algumas destas apresentem deformação, precisam ser devolvidas

pelo conferente ao encapsulador. Este, por sua vez, deverá abri-las e passar seu

conteúdo para outra cápsula e, em seguida, tampá-las e travá-las manualmente. Se

a quantidade de cápsulas amassadas for muito expressiva toda a fórmula deve ser

encapsulada novamente.

1.7.1 Limpeza das cápsulas

Allen, Ansen e Popovich (2007) apud Benetti (2010) afirmam que

pequenas quantidades de pós podem aderir à parede externa da cápsula após o

processo de enchimento. Isso pode causar uma sensação desagradável ao paladar

do consumidor, bem como produzir uma sensação estética inaceitável. Este resíduo

deve ser removido antes do acondicionamento ou dispensação. As cápsulas podem

ser limpas individualmente ou em um pequeno número, seja com um pano ou com

uma gaze limpa.

1.8 PESO MÉDIO, DESVIO PADRÃO E COEFICIENTE DE VARIAÇÃO

Zarbielli, Macedo e Mendez (2007), ressaltam que o peso médio das

cápsulas é efetuado em conformidade com o que preconiza a Farmacopeia

Brasileira, através da pesagem individual de 20 cápsulas, possibilitando a

determinação da variação percentual do conteúdo destas cápsulas em relação á

média.

Page 49: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

48

A metodologia descrita pela Farmacopeia Brasileira (2010) deve-se pesar,

individualmente, 20 (vinte) cápsulas cheias, e depois destas esvaziadas, pesados os

seus conteúdos individualmente. A partir dos dados encontrados é possível calcular

peso médio, desvio padrão e o coeficiente de variação (%). Nesta metodologia se

utiliza a faixa de tolerância de ±10% de acordo com as especificações da

farmacopeia.

Ainda descrevem sobre a temática em questão Zarbielli, Macedo e Mendez

(2007) quando asseguram que a Farmacopeia Brasileira determina que a variação

de peso aceitável para as cápsulas contendo dosagens inferiores a 300 mg é de

±10%.

O formulário nacional da farmacopeia brasileira (2011) modificou a

metodologia no processo de pesagem, indicando que se deve pesar,

individualmente, 10 (dez) cápsulas cheias, e depois de esvaziadas, sendo seus

conteúdos pesados individualmente.

De acordo com Ferreira (2008), entende-se por peso médio de determinada

forma farmacêutica a média aritmética dos pesos individuais das várias unidades de

doses que compõem uma forma farmacêutica dispensada em doses unitárias.

Entretanto, o peso médio por si não é, exclusivamente, um dado confiável a título

informativo. É necessário também medir a variação e a extensão dos desvios em

relação à média.

No peso médio é possível a tolerância de 02 (duas) cápsulas fora dos limites

especificados, entretanto, nenhuma das cápsulas pode estar acima ou abaixo do

dobro das porcentagens indicadas. (FARMACOPEIA, 2010)

Tabela 3 – Critérios de avaliação com limites de variação aceitáveis para cápsulas

duras.

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO PARA CÁPSULAS DURAS

Peso Médio Limites de Variação

menos que 300 mg ± 10,0%

300 mg ou mais ± 7,5%

Fonte: BRASIL (2011).

Page 50: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

49

Ferreira (2008) afirma que é recomendável o uso de indicadores estatísticos

Desvio Padrão (DP) e do Coeficiente de Variação (CV), uma vez que estes podem

ser empregados como indicadores de precisão nos processos produtivos. Também é

necessário observar que o cálculo do peso médio acrescido do coeficiente de

variação pode aumentar a segurança dos processos elaborados pelo

estabelecimento magistral.

Segundo a Farmacopeia Brasileira (2010) desvio padrão é relativo e dado

em porcentagem, não podendo ultrapassar 6%, sendo calculado conforme a

equação que se segue:

O Desvio Padrão Relativo (DPR) ou coeficiente de variação (CV) também

deve ser calculado. Em conformidade com o que explana o Formulário Nacional da

Farmacopeia Brasileira (2011), este não deve ser superior a 6%, conforme equação

que segue:

1.9 EMBALAGENS

Em conformidade com o que especifica BRASIL (2006), é possível

conceituar recipiente como sendo uma embalagem primária destinada ao

acondicionamento em geral, podendo ser o material de sua constituição vidro ou

plástico, desde que estes atendam aos requisitos estabelecidos pela legislação

sanitária atualmente em vigor no Brasil.

A RDC nº 67/2007 estabelece que o material da embalagem é constituído

por recipientes, rótulos e caixas para acondicionamento das preparações

manipuladas. Os recipientes utilizados no envase dos produtos manipulados devem

Page 51: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

50

garantir a estabilidade físico-química e microbiológica da preparação. (BRASIL,

2007)

Gil, et al (2010), asseguram, quanto às características intrínsecas da

embalagem, que são avaliados diversos atributos tais como dimensões, formatos,

cor, flexibilidade, riscos, aspectos gráficos e de diagramação, dentre outros

aspectos.

De acordo com a RDC nº 67/2007, as embalagens podem ser classificadas

em (BRASIL, 2007):

Embalagem primária: o acondicionamento está em contato direto com o

produto e pode se constituir em recipiente, envoltório ou em qualquer outra

forma de proteção, removível ou não, destinado a envasar ou manter, cobrir

ou empacotar matérias primas, produtos semi-elaborados ou produtos

acabados.

Embalagem secundária: é o acondicionamento que protege a embalagem

primária para que esta não se deteriore com o transporte, armazenamento,

distribuição e dispensação.

Ferreira (2008) ressalta que as funções da embalagem e do material de

acondicionamento são assegurar a conservação do produto durante o transporte e o

período de validade do mesmo, bem como atuar como fator de motivação ao

consumidor.

Além disso, segundo o autor acima citado, é interessante e desejável que as

embalagens possuam determinadas características, dentre elas as que abaixo

seguem:

Não reagir à formulação;

Não ceder constituintes;

Apresentar peso e volume mínimo proporcional ao produto acondicionado na

mesma;

Estética apresentável;

Inocuidade;

Baixo custo.

Page 52: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

51

Conforme afiança Allen Jr. (2007), as embalagens ideais para acondicionar

medicamentos em forma de cápsulas, devem ser frascos pequenos, de boca larga,

constituídos de material de vidro ou plástico, com tampas feitas em forma rosca ou

ainda de pressão.

Os defeitos visuais das embalagens podem ser classificados em

conformidade com a tabela abaixo:

Tabela 4 – Classificação dos defeitos visuais das embalagens

CLASSIFICAÇÃO DOS

DEFEITOS VISUAIS DAS

EMBALAGENS

DEFINIÇÃO

Defeitos Críticos Impedem a utilização da embalagem ou

prejudicam sua função essencial.

Podem dar origem a uma condição perigosa ou

falta de segurança ao consumidor final.

Reduzem consideravelmente a eficiência do

processo.

Exemplos: rebarbas cortantes, partículas de

vidro, presença de partículas estranhas, furos

grandes, bolha aberta, deformações no corpo,

mistura ou troca de rótulos, impressão trocada

ou falta de impressão, lacre quebrado,

fechamento deficiente.

Defeitos Maiores Defeitos que embora não impeçam a utilização

da peça, prejudicam sensivelmente a

apresentação e o trabalho de

acondicionamento.

Podem provocar a degradação do produto,

interrupção no processo produtivo ou aspecto

ruim na apresentação do produto.

Exemplos: parede fina, pequenos furos, pontos

fracos, trincado, fundo lascado, grandes

variações de cor e dimensão, várias

Page 53: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

52

tonalidades de cor, manchas acentuadas,

sujidades, falta de enquadramento na

impressão rótulos com colagem deficiente,

impressão borrada, etc.

Defeitos Menores São pequenas imperfeições de acabamento

que podem ser toleradas.

Atingem a estética da embalagem

Exemplo: pequenas deformações, pequenas

bolhas e inclusões, rebarbas externas,

manchas, dobras, rugas, leves falhas de

impressão, riscos, etc.

Fonte: Allen, Jr., 2007.

Necessário se faz salientar a importância da colocação de um sache com

dessecante (sache de sílica). Este deve ser fixado preferencialmente na tampa do

pote, evitando que, eventualmente, o paciente ingira o material acidentalmente. O

preenchimento do espaço vazio deve ser feito com um chumaço de algodão, tendo

como função minimizar o efeito de vibração ou choques. (FERREIRA, 2008).

O mesmo autor (2008) informa que a umidade relativa alta aumenta o

potencial para a hidrólise de fármacos susceptíveis e frequentemente causa

alterações de ordem física em matérias-primas e formas farmacêuticas sólidas. De

maneira que estes efeitos indesejáveis podem ser reduzidos com o emprego de um

dessecante, tendo como exemplo a sílica e/ou um desumidificador. Por fim, o

farmacêutico deve lacrar a embalagem para que não existam quaisquer

possibilidades de contaminação no produto acabado.

1.10 RÓTULO

A RDC nº 67/2007 estabelece como sendo um conceito de rótulo:

“Identificação impressa ou litografada, bem como os dizeres pintados ou gravados a

fogo, pressão ou decalco, aplicado diretamente sobre a embalagem primária e

secundária do produto”. (BRASIL, 2007)

Page 54: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

53

De acordo com Brandão (2001), na embalagem, necessariamente, deve

constar: nome do produto; número do lote, forma farmacêutica, concentração e

dosagem.

Amaral e Vilela (2003) ressaltam que no rótulo deve conter diversas

informações, dentre elas:

O cabeçalho, com razão social do estabelecimento, endereço completo, CGC,

telefone, nome, CRF do responsável técnico;

Campo do rótulo, contendo nome do paciente, número do registro, se o uso é

interno ou externo, descrição qualitativa ou quantitativa dos componentes da

receita, posologia, data de manipulação e validade do medicamento,

quantidade embalada e nome do médico.

A RDC Nº 67 (2007) estabelece diversos procedimentos operacionais para

rotulagem e embalagem de produtos manipulados, ressaltando que os rótulos

devem ser armazenados de maneira segura e seu acesso deve ser restrito. Toda

preparação deve conter:

Nome do prescritor;

Nome do paciente;

Número de registro da formulação no Livro de Receituário;

Data da manipulação;

Prazo de validade;

Componentes da formulação com respectivas quantidades;

Denominação farmacopeica do produto;

Número de unidades;

Peso ou volume contido;

Posologia;

Identificação da farmácia;

C.N.P.J;

Endereço completo;

Nome do farmacêutico responsável técnico com o respectivo número no

Conselho Regional de Farmácia.

Ainda de acordo com a RDC Nº 67, toda preparação deve conter as

advertências complementares nos rótulos julgadas necessárias, tais como: "Agite

Page 55: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

54

antes de usar", "Conservar em geladeira", "Uso interno", "Uso Externo", "Não deixe

ao alcance de crianças", "Veneno"; Diluir antes de usar; bem como outras julgadas

necessárias ou previstas em legislação específica, evitando assim riscos ao

consumidor. (BRASIL, 2007).

Yano, et al. (2011), explanam que a ANVISA completa que a rotulagem de

medicamentos é imprescindível para a identificação apropriada de medicamentos,

tanto em sua dispensação e posologia como em seu armazenamento, sendo

necessária para o rastreamento do medicamento desde sua fabricação até seu

consumo. Além disso, o rótulo é essencial para a orientação do consumidor quando

à utilização segura do medicamento, com as devidas informações e advertências

que se façam necessárias para alertar grupos de risco e evitar possíveis

intoxicações.

Segundo Ferreira (2008), os defeitos dos rótulos podem ser classificados de

acordo com a tabela abaixo:

Tabela 5 – Classificação dos defeitos dos rótulos

CLASSIFICAÇÃO DOS

DEFEITOS DOS RÓTULOS

DESCRIÇÃO

Defeitos Críticos Falta de impressão;

Impressão borrada ilegível;

Erros de impressão;

Falhas ou falta de letras na dosagem;

Mistura de rótulo.

Defeitos Maiores Falhas ou falta de letras diferentes da dosagem;

Falta de enquadramento;

Grande variação de cor;

Impressão borrada;

Falta de traços de referência.

Defeitos Menores Pequena falha de enquadramento;

Impressão pouco borrada;

Pequenas variações de cor;

Pequenos desvios de tamanho;

Tinta ainda úmida (borra de atrito).

Fonte: Ferreira, 2008.

Page 56: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

55

1.11 A ACEITAÇÃO DOS PACIENTES AO MEDICAMENTO MANIPULADO

As farmácias e drogarias são responsáveis pela ligação entre medicamentos

e pacientes, sejam estes medicamentos industrializados ou manipulados. Em

conformidade com Zarbielli, Macedo e Mendez (2007), afirmam que a possibilidade

de aquisição de medicamentos a um custo menor, tem estimulado os consumidores

a procurarem as farmácias de manipulação, que se tornaram uma alternativa

importante aos consumidores no momento da aquisição de medicamentos.

Entretanto, é necessário ressaltar que apesar das vantagens que o medicamento

manipulado apresenta em detrimento ao industrializado, é necessário ressaltar os

obstáculos que os primeiros apresentam. O maior deles é a falta de credibilidade

sofrida pelo setor, dada, justamente, à suposta ausência de um rígido controle de

qualidade.

Almeida (2009) corrobora a posição explana pelos autores acima quando

assegura que o maior empecilho das farmácias magistrais, atualmente, é a falta de

credibilidade junto ao consumidor, tanto pela falta de um rígido controle das

matérias-primas adquirida, quanto pelo produto quando este se encontra acabado

em seu processo produtivo.

O mesmo autor afirma que para a obtenção do controle preciso das práticas

produtivas no interior dos laboratórios de manipulação faz-se necessária a

uniformização dos processos realizados, a fim de que, com este procedimento, seja

possível o alcance de produtos de melhor qualidade ou com propriedades

semelhantes com os demais produtos encetados.

Complementam Zarbielli, Macedo e Mendez (2007) que o baixo custo fez

com que os consumidores passassem a comprar medicamentos manipulados,

aumentando as vendas deste setor, que atualmente é responsável por um

crescimento das farmácias magistrais no país. Entretanto, este crescimento, como já

afirmado, ainda enfrenta obstáculos, tais como a pouca credibilidade desses

medicamentos e a falta de comprovação do controle de qualidade utilizado nos

mesmos.

Neste sentido, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) trabalha

com o intuito de padronizar essa metodologia, deixando o produto final mais

uniforme e, em consequência, com características semelhantes aos demais

Page 57: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

56

produzidos, o que facilitaria a aceitação pelos consumidores e daria credibilidade ao

produto em questão.

De acordo com Marcatto, et al. (2005), um dos motivos que leva a população

brasileira ao consumo generalizado de medicamentos manipulados é a deficiência

governamental em fornecer gratuitamente os medicamentos constantes da Relação

Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME), bem como o custo reduzido em

relação aos praticados pela indústria farmacêutica.

Apesar das vantagens apresentadas pela farmácia de manipulação em

detrimento à indústria, elencando-se como exemplos o custo reduzido e a dose

específica para cada paciente, a farmácia magistral apresenta um problema quanto

ao custo-efetividade, uma vez que, dada a falta de uniformidade, o consumidor tanto

pode adquirir um produto de boa qualidade como um medicamento de qualidade

duvidosa.

De maneira que estas farmácias apresentam um preço competitivo em

relação às empresas farmacêuticas, mas ainda não possuem a uniformização das

práticas de produção que garantam o controle de qualidade de seus métodos e

matérias primas para a obtenção de um produto efetivamente de qualidade.

Page 58: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

57

2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Constatar o controle de qualidade e uniformidade das cápsulas manipuladas

nas farmácias magistrais existentes no município de Jales, bem como a análise dos

processos de produção existentes nas mesmas.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Conceituar controle de qualidade e sua importância no processo produtivo das

farmácias magistrais;

Verificar a importância da uniformização dos procedimentos de produção para

a obtenção da qualidade nos medicamentos manipulados;

Considerar quanto aos pontos positivos das farmácias de manipulação em

detrimentos das indústrias farmacêuticas e os avanços ainda necessários

para a obtenção da excelência no setor;

Verificar se os medicamentos manipulados analisados estão em conformidades

com as normas requeridas pela RDC nº 67/2007.

Page 59: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

58

3. MATERIAIS E MÉTODOS

Para a elaboração do presente estudo monográfico foi realizado um

levantamento bibliográfico sobre a temática do controle de qualidade das formas

farmacêuticas sólidas nas farmácias magistrais, baseada na RDC nº 67/2007, bem

como os aspectos principais deste tema.

Complementarmente, foram analisadas 20 cápsulas de Ranitidina 150mg

em cada uma das 04 farmácias magistrais analisadas no município de Jales, sendo

que através desta amostragem foram aferidos os padrões de qualidade de cada

estabelecimento pesquisado.

Foi utilizado para a realização da pesquisa de pesagem o laboratório

multidisciplinar da Fundação Educacional de Fernandópolis, sendo que através do

resultado desta pesquisa foi elaborada uma tabela onde restaram aferido os padrões

de qualidade dos estabelecimentos pesquisados.

Sendo assim, além do embasamento teórico, necessário em um estudo

acadêmico como o presente, este trabalho monográfico elaborará uma análise em

particular deste produto, comprovando assim o nível do controle de qualidade

disponibilizado aos consumidores locais.

De maneira que o presente estudo unirá o embasamento teórico da temática

do controle de qualidade com a análise, in loco, de um medicamento para a

comprovação deste controle de qualidade.

Page 60: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

59

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste tópico da pesquisa acadêmica ora realizada, foram avaliados os

resultados da pesquisa em si, bem como os apontamentos encontrados mediante o

exame destes resultados. Tem função essencial, pois é justamente neste processo

que o pesquisador consegue as respostas levantadas em todo o processo de

consecução da pesquisa. O Controle de Qualidade tem função essencial em uma

farmácia de magistral, representando, não somente a materialização da

responsabilidade do profissional que atua no estabelecimento e o cumprimento de

toda a legislação que se aplica ao setor, mas, principalmente, a validação da

qualidade de produtos necessários e, de cuja eficiência depende muitos paciente.

Nesta pesquisa foram analisados quatro estabelecimentos magistrais na

cidade de Jales, mediante o exame de cápsulas adquiridas igualmente em todos os

estabelecimentos. Os resultados da análise das formas farmacêuticas encontram-se

descritas na tabela abaixo, conforme segue:

Tabela 6 – Tabela de amostragem das farmácias analisadas

Amostras Farmácia A Farmácia B Farmácia C Farmácia D

Forma

Farmacêutica

Cápsula dura

n º 2

Cápsula dura

n º 2

Cápsula dura

n º 2

Cápsula dura

n º 2

Massa (g) Massa (g) Massa (g) Massa (g)

1 0,238 0,213 0,314 0,272

2 0,247 0,215 0,267 0,281

3 0,227 0,221 0,283 0,285

4 0,252 0,220 0,266 0,287

5 0,242 0,220 0,262 0,281

6 0,239 0,219 0,259 0,291

7 0,233 0,219 0,275 0,285

8 0,242 0,215 0,268 0,300

9 0,233 0,224 0,259 0,290

10 0,244 0,220 0,278 0,266

11 0,249 0,223 0,250 0,288

Page 61: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

60

12 0,246 0,218 0,260 0,270

13 0,232 0,224 0,263 0,303

14 0,230 0,221 0,253 0,293

15 0,233 0,221 0,261 0,292

16 0,236 0,222 0,277 0,283

17 0,243 0,221 0,280 0,279

18 0,232 0,219 0,253 0,281

19 0,244 0,222 0,266 0,276

20 0,244 0,215 0,279 0,287

Peso Médio 0,239 0,219 0,268 0,284

Variação

±10,0%

+10%= 0,262

-10%= 0,215

+10%= 0,240

-10%= 0,197

+10%= 0,294

-10%= 0,241

+10%= 0,312

-10%= 0,255

CV 2,92 1,40 5,37 3,29

DP 6,99 3,08 14,41 9,34

Resultado Reprovado Aprovado Reprovado Reprovado

Fonte: Pesquisa de Campo, 2012.

Legenda:

CV= Coeficiente de variação

DP= Desvio Padrão

4.1 RESULTADOS OBTIDOS COM A PESQUISA

4.1.1 Peso médio

Em relação ao exposto na farmacopéia brasileira (2010), cápsulas duras

com peso inferior a 300 mg, é permitido uma variação individual dessas cápsulas em

relação ao peso médio de ±10%. Os resultados relativos à determinação do peso

médio são apresentados na tabela 6. Verificou-se que as farmácias A, B, C e D

cumpriram as especificações farmacopeicas em relação a este teste. A farmácia C

apresentou uma cápsula acima dos limites de peso médio especificados, porém,

Page 62: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

61

tendo em vista que são tolerados 02 (duas) cápsulas fora dos limites especificados,

cumpriu as determinações. Necessário se faz salientar que a não conformidade

deste parâmetro repercute na reprovação da fórmula manipulada.

4.1.2 Desvio padrão

O desvio padrão é essencial, pois ele avalia a uniformidade entre as

unidades testadas. Mediante o citado na farmacopeia brasileira (2010), o desvio

padrão (DP) é relativo e expresso em porcentagem, não devendo exceder a 6 %. De

acordo com esse dado, comprovou-se que as farmácias A, C e D foram reprovadas

nesse quesito. A farmácia B foi a única a atender este critério, indicando certa

precisão no processo produtivo. A reprovação do desvio padrão indica que a

formulação deve ser refeita para então poder ser dispensada para o paciente.

4.1.3 Coeficiente de variação

Ainda avaliando os parâmetros mencionados na farmacopéia brasileira

(2010), o coeficiente de variação (CV) ou desvio padrão relativo (DPR) não deve

ultrapassar o percentual de 6%. Em relação a isso, os resultados obtidos das

farmácias A, B, C e D analisadas foram todos satisfatórios. Ferreira (2008) aborda

que o coeficiente de variação é de suma importância, pois pode ser aplicado como

critério de definição da variabilidade do processo produtivo.

4.1.4 Aspectos visuais analisados nas farmácias magistrais pesquisadas

Diversos são os aspectos analisados durante o exame das formas

farmacêuticas analisadas nos estabelecimentos magistrais no município de Jales.

Foram examinados aspectos externos do controle de qualidade, dentre eles o

Page 63: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

62

recipiente em que a fórmula estava acondicionada, o rótulo, a sílica contida para

evitar a umidade do produto acabado, o algodão, e ainda, tamanho da cápsula, o

número de cápsulas sem travar, que sofreram amassamento, deformação e por fim,

a limpeza da cápsula. Assim, mediante a análise dos aspectos externos das

cápsulas, faz-se possível examinar o padrão de qualidade estabelecido pelas

farmácias analisadas, discorrendo sobre o Controle de Qualidade exercido sobre as

mesmas. Isso será realizado nesta pesquisa de maneira pormenorizada, e de modo

seqüencial, conforme se verá a seguir.

Tabela 7 - Aspectos visuais analisados nos estabelecimentos magistrais durante a

pesquisa

FARMÁCIA

A

FARMÁCIA

B

FARMÁCIA

C

FARMÁCIA

D

RECIPIENTE Aprovado Aprovado Aprovado Aprovado

RÓTULO Aprovado Presença de

Bolhas

Aprovado Presença de

Bolhas

SÍLICA Aprovado Aprovado Aprovado Aprovado

ALGODÃO Aprovado Aprovado Aprovado Aprovado

LACRE Aprovado Aprovado Aprovado Aprovado

QUANTIDADE

DE CÁPSULAS

30 30 30 30

Nº DA

CÁPSULA

2 2 2 2

CÁPSULA SEM

TRAVAR

4 cápsulas Nenhuma 1 cápsula 2 cápsulas

CÁPSULAS

AMASSADAS

Nenhuma 4 cápsulas Nenhuma Nenhuma

DEFORMAÇÃO

DAS

CÁPSULAS

1 cápsula Nenhuma Nenhuma Nenhuma

LIMPEZA DAS

CÁPSULAS

Aprovado Aprovado Aprovado Aprovado

Fonte: pesquisa de campo, 2012

Page 64: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

63

4.1.5 Farmácias analisadas

4.1.5.1 Farmácia A

A embalagem do produto era constituída de material de plástico e estava

lacrada corretamente. O rótulo estava de acordo com os padrões especificados, não

possuindo defeitos aparentes.

Figura 10 – Recipiente utilizado pela Farmácia - A Fonte: pesquisa de campo

Dentro do recipiente foram encontrados sílica e algodão como se pede os

padrões de qualidade, além das cápsulas manipuladas. Encontrou-se dentro da

embalagem a quantidade de 30 cápsulas, exatamente como especificado em seu

rótulo. As cápsulas vieram na coloração incolor e no tamanho de nº 02.

Analisando-se isoladamente cada cápsula, foram encontradas 04 cápsulas

sem travar, ou seja, travadas inadequadamente. A limpeza dessas cápsulas foi feita

corretamente permitindo com isso que o paciente pudesse administrar o

medicamento sem perceber o seu possível gosto ou odor desagradável. Visualmente

não foram encontradas cápsulas amassadas, porém, 01 cápsula se encontrava com

a tampa deformada.

Page 65: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

64

Figura 11 - Cápsula obtida na Farmácia – A Fonte: Pesquisa de campo, 2012

4.1.5.2 Farmácia B

A embalagem do produto era constituída de material de plástico e estava

lacrada corretamente. O rótulo não estava de acordo com os padrões especificados,

apresentando bolhas.

Figura 12 – Recipiente utilizado pela Farmácia - B Fonte: pesquisa de campo

Dentro do recipiente foram encontrados sílica e algodão como se pede os

padrões de qualidade, além das cápsulas manipuladas. Encontrou-se dentro da

Page 66: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

65

embalagem a quantidade de 30 cápsulas, exatamente como especificado em seu

rótulo. As cápsulas vieram na coloração incolor e no tamanho de nº 02.

Analisando-se isoladamente cada cápsula, não foram encontradas cápsulas

sem travar, ou seja, travadas inadequadamente. A limpeza dessas cápsulas foi feita

corretamente, o que permitiu com isso que o paciente pudesse administrar o

medicamento sem perceber o seu possível gosto ou odor desagradável.

Figura 13 - Cápsula obtida na Farmácia – B Fonte: Pesquisa de campo, 2012

Visualmente, neste estabelecimento magistral, daquelas que foram

analisadas, foram encontradas 04 cápsulas amassadas, porém, nenhuma cápsula

se encontrava com a tampa deformada.

Figura 14 – Cápsulas apresentando amassamento – Farmácia B Fonte: pesquisa de campo, 2012

Page 67: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

66

4.1.5.3 Farmácia C

A embalagem do produto era constituída de material de plástico e estava

lacrada corretamente. O rótulo estava de acordo com os padrões especificados, não

possuindo defeitos aparentes.

Figura 15 – Recipiente utilizado pela Farmácia - C Fonte: pesquisa de campo

Dentro do recipiente foram encontrados sílica e algodão conforme é pedido

pelos padrões de qualidade, além das cápsulas manipuladas. Encontrou-se dentro

da embalagem a quantidade de 30 (trinta) cápsulas, exatamente como o

especificado em seu rótulo. As cápsulas vieram na coloração incolor e no tamanho

de nº 02.

Analisando-se isoladamente cada cápsula, foi encontrada 01 cápsula sem

travar, ou seja, travada inadequadamente. A limpeza dessas cápsulas foi feita

corretamente permitindo com isso que o paciente pudesse administrar o

medicamento sem perceber o seu possível gosto ou odor desagradável. Visualmente

não foram encontradas cápsulas amassadas, bem como nenhuma cápsula se

encontrava com a tampa deformada.

Page 68: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

67

Figura 16 - Cápsula obtida na Farmácia – C Fonte: Pesquisa de campo, 2012

4.1.5.4 Farmácia D

A embalagem do produto era constituída de material de plástico e estava

lacrada corretamente. O rótulo não estava de acordo com os padrões especificados,

apresentando bolhas.

Figura 17 – Recipiente utilizado pela Farmácia - D Fonte: pesquisa de campo

Dentro do recipiente foram encontrados sílica e algodão como se pede os

padrões de qualidade, além das cápsulas manipuladas. Encontrou-se dentro da

embalagem a quantidade de 30 cápsulas, exatamente como especificado em seu

rótulo. As cápsulas vieram na coloração incolor e no tamanho de nº 02.

Page 69: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

68

Analisando-se isoladamente cada cápsula, foram encontradas 02 cápsulas

sem travar, ou seja, travadas inadequadamente. A limpeza dessas cápsulas foi feita

corretamente permitindo com isso que o paciente pudesse administrar o

medicamento sem perceber o seu possível gosto ou odor desagradável. Visualmente

não foram encontradas cápsulas amassadas, bem como nenhuma cápsula se

encontrava com a tampa deformada.

Figura 18 - Cápsula obtida na Farmácia – D Fonte: Pesquisa de campo, 2012

Page 70: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

69

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O controle de qualidade é ferramenta essencial em qualquer atividade

econômica e com o fenômeno da globalização, passou a ser ainda mais utilizado,

pois os consumidores passaram por um processo de crescente cobrança por

eficiência e qualidade nos produtos e serviços adquiridos.

É certo que a globalização catalisou este fenômeno, forçando as empresas

nacionais, principalmente com a queda das barreiras comerciais, a estabelecer

parâmetros de qualidade que gerassem competitividade, tanto em termos de preço

como em eficiência.

Com o setor farmacêutico não foi diferente. Os estabelecimentos

farmacêuticos, expostos à concorrência internacional, passaram a buscar o

acompanhamento das transformações sofridas, superando as exigências do

mercado, procurando, deste modo, fidelizar o cliente e garantir sua participação no

mesmo. De maneira que a constante melhoria no processo produtivo é fundamental

para as organizações e o controle de qualidade fundamental para garantir esta

melhoria na cadeia produtiva.

O controle de qualidade deve estar presente desde a qualificação dos

fornecedores, à recepção da matéria-prima, seu armazenamento, manipulação e

transformação, bem como o ambiente em que esta sofrerá tais processos, sendo

que a atuação em todo este processo é essencial para a eficiência no produto

acabado.

É necessário salientar que o controle de qualidade depende de diversos

fatores que, em concomitância, contribuem para a obtenção de um produto acabado

que prime pela eficiência, bem como pela credibilidade junto aos consumidores. De

maneira que é fundamental para o fortalecimento de uma organização junto ao

mercado consumidor, uma vez que imprescindível para o processo de fidelização da

clientela, particularmente em um ramo em que a confiança é essencial como o é no

caso do setor farmacêutico.

As farmácias magistrais precisam atentar ainda com mais propriedade para

o controle de qualidade, pois seus produtos sofrer certa rejeição por parte dos

consumidores, que ainda os tratam com descrédito, ainda por julgar que não existe

rigidez no processo de controle dos mesmos. Em razão deste fato, o controle de

Page 71: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

70

qualidade é imprescindível para garantir a aceitabilidade por parte dos clientes, bem

como avalizar as propriedades do produto, não permitindo nenhum prejuízo àqueles

que os utilizam.

Estes estabelecimentos representam ainda uma possibilidade de

acessibilidade dos consumidores a medicamentos a um preço mais barato, podendo

ainda possibilitar ao consumidor uma maior flexibilidade na dosagem e escolha da

forma farmacêutica.

Desta maneira, é fundamental que as farmácias magistrais primem pelo

controle de qualidade para que assim ganhem credibilidade junto aos consumidores

e continuem o processo de crescimento que vem sofrendo nos últimos anos.

De acordo com a pesquisa elaborada no município de Jales, foi possível

aferir que, apesar de não haver grandes irregularidades nas fórmulas apresentadas,

estas apresentaram defeitos que levariam á devolução da mesma, o que demonstra

que o controle de qualidade deve ser mais criterioso para que, desta maneira, a

credibilidade junto aos consumidores não seja afetada, nem a qualidade dos

produtos acabados oferecidos por estes estabelecimentos.

Sendo assim, faz-se necessária a continua averiguação constante do

controle de qualidade das farmácias magistrais, para que, deste modo, os

consumidores tenham segurança no momento de aquisição do medicamento

manipulado. Por conseguinte, não pode haver negligência neste processo, sob pena

de colocar em risco a segurança dos consumidores destes produtos.

É fundamental a consecução permanente de novos critérios de verificação

do controle de qualidade, para que este não se perpetue simplesmente no tempo, e

sim se modifique no transcurso deste, em conformidade com as tecnologias surgidas

e, logo, em consonância com as exigências do mercado consumidor.

Pesquisas neste sentido devem ser realizadas paulatinamente para que,

desta forma, a credibilidade dos medicamentos manipulados seja reforçada,

possibilitando aos consumidores segurança na aquisição dos medicamentos

manipulados.

Page 72: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

71

6. CONCLUSÃO

As farmácias analisadas demonstraram que ainda apresentam problemas

com o controle de qualidade. No tocante a forma farmacêutica quanto ao peso

médio, desvio padrão e coeficiente de variação, três das quatro farmácias

analisadas sofreram reprovação.

Já quando da análise dos aspectos visuais das formas farmacêuticas

examinadas, os resultados foram mais positivos, uma vez que os estabelecimentos

apresentaram alguns problemas, mas de maneira geral foram aprovados. Dois dos

estabelecimentos apresentaram problemas nos rótulos das embalagens, enquanto

um apresentou amassamento de cápsulas, um apresentou deformação de cápsula e

três apresentaram cápsulas sem travamento. Estas falhas deveriam ter sido

detectadas e devolvidas dentro do próprio estabelecimento antes da chegada ao

cliente, o que demonstra uma falha no processo do controle de qualidade e

principalmente da assistência farmacêutica.

Page 73: A importância do controle de qualidade nas cápsulas manipuladas

72

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