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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÂO “LATO SENSU” EM EDUCAÇÂO INFANTIL PROJETO VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL por Sandra Maria Marinho Rio de Janeiro 2004

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÂO “LATO SENSU” EM EDUCAÇÂO INFANTIL

PROJETO VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

por

Sandra Maria Marinho

Rio de Janeiro

2004

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SANDRA MARIA MARINHO

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Trabalho apresentado como requisito parcial para a

obtenção do grau em especialista em Educação

infantil, ao Projeto AVM da UCAM, tendo como

orientadora a professora Mary Suee Pereira.

Objetivo: Este trabalho apresentou como objetivo a

reflexão e discussão do papel do brincar na Educação

Infantil nos dias atuais.

Rio de Janeiro

2004

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha família, amigos e

professores que de alguma forma

contribuirão para essa nova etapa em minha

via pessoal e profissional.

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DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a meu marido e aos

meus filhos pelo apoio, sem os quais não

seria possível a realização do mesmo.

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RESUMO

Este trabalho monográfico trata como tema principal o papel do brincar na

Educação Infantil, uma vez que a infância, suas peculiaridades e importância vieram

durante a história conquistando espaço na sociedade e no campo do conhecimento. Hoje,

devido ás mudanças e as necessidades das sociedades atuais, a infância vem merecendo

destaque, e com ela surgiram instituições educacionais respectivas. A Educação Infantil é

recente,no que diz respeito ao seu reconhecimento legal e social e somente a partir da Nova

lei de diretrizes e Bases Nacionais foi reconhecida, apesar de ainda não ser suficiente,

enquanto relevante à educação básica na sociedade brasileira. Com a educação infantil

fazendo parte realmente do contexto social e da prática educativa que contribui para a

formação de cidadãos, as respectivas instituições merecem destaque. Como se vive na era

do capital e num mundo onde a infância tem merecido valor e as demandas contemporâneas

exigem a educação infantil por inúmeros fatores, à educação infantil nesse estudo é

refletida, analisada e discutida a partir do brincar enquanto instrumento inato das crianças

para a aprendizagem da cultura na qual fazem parte. Assim, o brincar possui funções

importantíssimas na Educação infantil; servindo como estímulos ao crescimento, levando a

uma sagacidade em direção ao desenvolvimento cognitivo e aos desafios proporcionados

pela cultura local. De modo geral, a brincadeira se apresenta na intenção de socializar e

inserir a criança no meio social em que faz parte dentro da Educação Infantil e nós

educadores devemos estar ciente disso e refletir continuamente sobre o assunto.

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METODOLOGIA

Toda pesquisa pressupõe uma metodologia que, por conseguinte, norteia o

trabalho a ser desenvolvido de forma mais completa e assim eficaz, cumprindo os objetivos

a serem atingidos, resolvendo o problema proposto e por fim respondendo de forma direta o

objetivo delineado.

Assim, a metodologia desse estudo monográfico propôs a pesquisa

bibliográfica que buscou referencial teórico para a discussão aprofundada do tema em

questão. Foram realizados respectivamente os seguintes passos:

- Levantamento bibliográfico;

- Seleção do levantamento bibliográfico;

- Fichamento, análise e crítica da seleção do levantamento bibliográfico;

- Divisão em títulos que se transformarão em capítulos dos assuntos

abordados dentro do tema proposto, permeado pelo referencial teórico

adotado.

- Redação final.

Por fim, foi realizado a conclusão e a entrega do trabalho ao professor

responsável.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...............................................................................................................08

1. O CONCEITO DE INFÂNCIA...................................................................................12

2. A IMPORTANCIA DO BRINCAR............................................................................25

3. A IMPORTANCIA DO ATO DE BRINCAR NA EDUCAÇÂO INFANTIL...........33

4. CONCLUSÃO.............................................................................................................40

5. BIBLIOGRAFIA.........................................................................................................42

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INTRODUÇÂO

O processo de desenvolvimento de uma criança é um longo caminho que vai

da dependência mais absoluta à vivência independente e autônoma da própria identidade

individual e social. Ela caminha da indiferença e confusão entre outros, para a consciência

de sua existência singular como um indivíduo entre outros indivíduos cujos pontos de vista

é necessário considerar.

Os aspectos sociais, biológicos, cognitivos e afetivos que fazem parte do

desenvolvimento global do ser humano, no caso a criança, não podem ser abordados

separadamente, uma vez que o indivíduo se constitui um todo e assim deve ser considerado.

Em minha experiência como educadora na educação infantil, percebo que a

criança brinca desde que começa a interagir com o mundo. A brincadeira faz parte da sua

vida e é uma necessidade para o seu bem-estar físico-mental-social. Assim sendo,

brincadeiras e jogos fazem parte do dia-a-dia auxiliando de forma significativa em seu

desenvolvimento e facilitando a ação educativa, pelo menos a minha.. Por estes motivos a

família, os educadores e os especialistas em educação devem estar cientes dessa realidade e

transpô-la ao seu contexto.

Minhas observações me permitem compreender que as brincadeiras como

atividades lúdicas pertencentes a criação humana encontram seu lugar e sua importância

dentro de todo e qualquer contexto social, especialmente na educação infantil, onde oferece

a criança inúmeras possibilidades e aprendizagens, mas para os professores que lidam com

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elas, entendo que possibilitam a ação educativa eficaz, pois ao observa-las brincando

entendemos como pensam, agem e no que se interessam

Entendo através da minha experiência profissional que as brincadeiras são

objetos socioculturais do desenvolvimento humano, participantes, portanto, dos processos

psicológicos básicos, que supõem uma atividade sem “obrigações e imposições”, embora

demande exigências, normas e controle.

Nas brincadeiras, mediante a articulação cultural entre o conhecido e o

imaginado, desenvolve-se o autoconhecimento, até onde se pode chegar, e o conhecimento

dos outros, o que se pode esperar e em que circunstâncias.

Através de uma brincadeira de criança, podemos compreender como ela vê e constrói o mundo – o que ela gostaria que ele fosse, quais as suas preocupações e que problemas a estão assediando. Pela brincadeira, ela expressa o que teria dificuldade de colocar em palavras. Nenhuma criança brinca espontaneamente só para passar o tempo, (...) sua escolha é motivada por processos íntimos, desejos, problemas, ansiedades. O que está acontecendo com a mente da criança determina suas atividades lúdicas; brincar é sua linguagem secreta, que devemos respeitar mesmo se não a entendemos.

( BENJAMIM, 1974, p.32)

O desenvolvimento infantil inicia-se no momento da fecundação e prossegue

até aproximadamente doze anos, onde começa a adolescência, porém este período quanto

ao término é flexível, pois pode variar de indivíduo para indivíduo, partindo-se do

pressuposto que as características dos seres humanos são peculiares em quanto espécie e

dentro da própria espécie.

Caso nós educadores sejamos capazes de compreender que desde o

nascimento a criança esta está exposta a cultura na qual ela faz parte, entenderemos a

importância do ato de brincar para elas e o investigaremos, a fim de subsidiar cada vez

melhor nossa ação educativa.

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Sua curiosidade a levará a questionar o tempo todo como: “O que é isto?”

“Para que serve ?” “Por quê?”. A forma que tem para indagar é apenas uma das muitas

maneiras que tem de absorver a cultura e conseqüentemente, o que se passa ao seu redor. A

criança é naturalmente questionadora e crítica, enquanto educadores devemos aproveitar

tais características e aliá-las ao ato de brincar no contexto da Educação Infantil.

Sabendo que um dos meios principais que uma sociedade propõe para

desenvolvimento das peculiaridades de uma criança é o brincar, percebemos que seu

cotidiano na Educação Infantil torna-se enriquecedor a partir do momento em que o

educador é capaz de compreender seu aspecto cultural. Enquanto professora afirmo isso

sem medo de ser contestada, pois acredito que é o brincar que permite a organização e a

elaboração do conhecimento adquirido em uma dada sociedade.

No dia-a-dia da Educação Infantil observo que o brincar apresentado pelas

crianças sem a intervenção do professor demonstra uma aprendizagem anterior das

crianças, fato que afirma sua natureza cultural.

A brincadeira é antes de tudo, uma confrontação com a cultura. Na brincadeira a criança se relaciona com conteúdos culturais que ela reproduz e transforma dos quais ela se apropria e lhes dá uma significação. A brincadeira é a entrada na cultura, numa cultura particular, tal como ela existe num dado momento, mas com todo seu peso histórico.

(BROUGÉRE, 1995, p.74).

Enquanto educadores progressistas, compromissados com as novas

demandas de mundo, que incentivam a criatividade, capacidade de compreensão e de

inovação, não devemos ignorar e nem impedir o ato de brincar, muito pelo contrário,

precisamos compreende-lo profundamente, refletir sobre suas características e

possibilidades específicas no contexto educacional e assim dar maior qualidade ao ato de

brincar na Educação Infantil.

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Este presente estudo vem por meio da pesquisa teórico-bibliográfica abordar

a importância das brincadeiras na Educação Infantil no mundo nesses últimos tempos.

Para iniciar a discussão do tema proposto o conceito de infância é

introduzido, permeado pela sua respectiva história até chegar aos dias atuais.

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1. O CONCEITO DE INFÂNCIA

Com efeito, algumas plantinhas assemelham-se estranhamente à salsa e a cebolinhas mais que a flores. Todos os dias me vem a tentação de podá-las um pouco para ajudar a crescer, mas permaneço na dúvida entre as duas concepções de mundo e da educação: se deixar agir de acordo com Rousseau e deixar obrar a natureza que nunca se equivoca e é fundamentalmente boa ou ser voluntarista e forçar a natureza introduzindo na evolução a mão esperta do homem e o princípio da autoridade.

(GRAMSCI, 1978, p.128)

Esta epígrafe expressa aquele que tem sido o dilema fundamental da pedagogia,

associado, em essência, ao fato de ter a infância como objeto e a sociedade como meta. A

intervenção pedagógica tem oscilado permanentemente entre o “desabrochar” de uma

formação humana conduzida pela natureza, e a disciplinação e a conformação a regras e

modos sociais dominantes, das quais resultam diferentes formas de transgressão. No âmago

deste antagonismo, consolidam-se, na pedagogia, alternativas fundamentadas em projetos

sociais utópicos que propõem relações educativas onde autonomia e coletividade ganham

novas dimensões.

Compreendo através da história humana que a idéia de infância não é a mesma

no seu transcurso.

Transcorrendo a história, iniciando na sociedade feudal, contato que a criança

exercia um papel produtivo direto e na sociedade burguesa, a criança era alguém que

precisa ser cuidada, escolarizada, e preparada para uma atuação futura.

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Sendo assim, o conceito de infância é determinado historicamente pela

modificação das formas de organização da sociedade. Portanto, o homem vem

determinando ao longo de sua história que a importância da infância deve ter na sociedade.

A idéia de uma infância universal, foi divulgada e com ele um modelo

padrão de criança se estabeleceu. Porém a realidade não comporta esta transposição de

modelo, levando-se em conta a heterogeneidade das sociedades presentes no mundo, onde

existe uma diversidade de aspectos sociais, culturais e políticos, que interferem na

formação do homem.

Assim, torna-se ingênuo e simplista falar de uma natureza infantil universal,

pois é um conceito abstrato que não considera os diversos segmentos sociais, cada um com

sua realidade.

... A concepção homogênea de infância é abstrata, está se analisando a criança como natureza infantil, distanciando-a de suas condições objetivas de vida e como estas fossem desvinculadas das relações de produção existente na realidade.

(KRAMER, p.16, 1996).

Um trabalho consciente com crianças não pode prescindir o conceito de uma

definição que era, e que ainda se encontra, o conceito de infância no interior das diferentes

e complexas sociedades existentes.

Atualmente, a criança vem tendo seu ingresso na escola cada vez mais cedo,

devido a inúmeros fatores que vem transformando a sociedade contemporânea. Percebemos

que a Educação Infantil vem crescendo substancialmente em quantidade e qualidade, para

atender as crianças desde a mais tenra infância.

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Sendo assim, a Educação Infantil vem recebendo cada vez mais atenção por

parte das autoridades competentes, educadores, etc., enfim, de vários atores sociais do

mundo contemporâneo.

Dentro do contexto educacional infantil institucionalizado, a criança se

enriquece, se complexifica, enquanto ser em desenvolvimento, devendo merecer o respeito

necessário. Durante este período, é notável o progresso da criança quanto às habilidades

motoras, linguagem, funcionamento cognitivo, afetividade e interações sociais

culturalmente expressos na sociedade que pertence.

A partir desse quadro traçado, compreendo que a Educação Infantil deve ser

um espaço capaz de propiciar de maneira qualitativa e satisfatória, o desenvolvimento

integral de sua clientela.

Enfim, ao valorizar a Educação Infantil e procurar desenvolvê-la cada vez

mais com qualidade, podemos dar subsídios para um melhor desempenho da criança

durante toda a sua escolaridade.

ARROYO (1994), em um trabalho apresentado no Seminário Nacional de

Educação Infantil (realizado pelo MEC/BR, em agosto de 1994), ao discutir o significado

da infância, toma dois eixos para o desenvolvimento do tema : a concepção de infância e a

concepção de educação ao definir um projeto educativo.

Existem dois eixos fundamentais, uma vez que, sendo conceitos dinâmicos e

em permanente construção, apresentarão conseqüências igualmente dinâmicas no âmbito da

pedagogia.

A Pedagogia diferente de outros campos teóricos, tais como a Medicina ou a

Psicologia (onde a infância é vista em suas dimensões gerais como um momento particular

do ciclo vital ), vai elaborar uma análise particular da infância em situação escolar, e

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estabelece um recorte específico, a partir do qual busca identificar padrões de normalidade

quanto ao desempenho das crianças e estabelecer regularidades para a orientação da prática

dos educadores. Ao considerar-se a criança como um ser biológico que percorre etapas

etariamente definidas, encobre-se sua vinculação social e histórica e toma-se o que é

particular pelo universal. Retoma-se ao padrão de infância universal.

A delimitação da infância, que, como vem sendo dito, tem se dado

predominantemente por um recorte etário definido por oposição ao adulto, pela falta de

idade, pela imaturidade ou pela inadequada integração social, será contestada,

principalmente no final do século passado, pela negação ao estabelecimento de padrões de

homogeneidade indicados pelos campos da sociologia e da antropologia, articulados com

algumas abordagens da psicologia, que apontam, como necessidade, a adequação de

projetos educativos a demandas diferenciadas.Uma vez que o ser humano diferencia-se

quanto ao seu desenvolvimento, a infância que é o início deste desenvolvimento também

diferencia-se, seja pela via da contextualização, da heterogeneidade e da consideração das

diferentes formas de inserção da criança na realidade, no mundo adulto, nas atividades

cotidianas, nas brincadeiras e tarefas, delineia-se um conceito de infância, arrendatário de

um novo tempo.

1.1 - O “nascimento” da infância

Hoje amplamente difundida, a obra de ARIES (1981) foi pioneira ao afirmar

certas características históricas da infância, situando-a como produto da história moderna.

Para ele, a “aparição da infância” se dá a partir Mercantilismo, quando altera-se o

sentimento e as relações frente à infância, modificado conforme a própria estrutura social.

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Na Idade Média, no início dos tempos modernos e por muito tempo, ainda, nas classes populares, as crianças misturavam-se com os adultos, assim que eram capazes de dispensar a ajuda das mães e das amas, pouco depois de um desmame tardio, ou seja, aproximadamente aos sete anos de idade. A partir desse momento, ingressavam imediatamente na grande comunidade dos homens, participando com seus amigos jovens de todos os dias. O movimento da vida coletiva arrastava, numa mesma torrente, as idades e as condições sociais, sem deixar a ninguém o tempo da solidão e da intimidade.

(ARIÉS, 1981, p.275)

Antes vista com indiferença, a criança não era percebida com necessidades

diferentes das do adulto. O estudo que o autor apresenta e que analisa das imagens de

infância burguesa mostra como se dão as transformações do sentimento moderno de

infância e de família. Nascido no contexto burguês, este sentimento sustenta-se na

mudança de inserção da criança na sociedade, que deixa de assumir um papel produtivo

direto, ou seja, de mini-adulto ( que trabalha e produz) passando a ser merecedora de

cuidados e de educação desde o momento em que consegue sobreviver. Mudam

significativamente as relações no meio social. Nasce aí um sentimento contraditório, que

atribui à criança a ingenuidade e a inocência e, ao mesmo tempo, a imperfeição e a

incompletude, transformando as atitudes sociais em “paparicação, ou em “moralização”,

que acabam por se refletirem como oposições fundamentais na orientação dos modos

clássicos de inserção dos novos sujeitos na sociedade.

Na pedagogia

contemporânea, esta noção de

“natureza infantil”,

amplamente discutida a partir

da obra de Bernard

CHARLOT (1979), tem

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assumido estas mesmas

dimensões contraditórias. Por

um lado, sendo a criança

naturalmente um ser

complexo (fraco, inacabado,

imperfeito, e desprovido de

tudo), caberia à educação

combater tal natureza,

recusando os “interesses

naturais’. A tarefa pedagógica

consiste, neste caso, na

inculcação de regras, na

disciplina e na transmissão de

modelos. Noutro pólo, a idéia

da preservação preocupa-se

em não destruir a “inocência

original”, protegendo sua

natureza. Aqui a ação do

educador deveria guiar-se

pelos interesses e necessidades

infantis. Por esta perspectiva,

a pedagogia apenas traduz

conceitos vindos da filosofia e

elabora representações da

infância com uma natureza

contraditória: ao mesmo

tempo inocente e má,

imperfeita e perfeita,

dependente e independente,

herdeira e inovadora. Nos dois

sentidos, ao ser identificada

pelos critérios da insuficiência

da razão e da experiência, e

não pela afirmação de suas

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especificidades, a criança é

vista como aquela que deve

apenas ser guiada pelo adulto.

Nos dois

extremos, perde-se a dimensão

das múltiplas possibilidades

da criança, que tem formas

próprias de expressão,

socialização, interpretação,

etc. Vistas em sua

positividade, estas mesmas

competências serão

orientadoras de uma ação do

intencional do adulto que

rompa com os extremos de

uma orientação espontaneísta

ou coercitiva.

A pedagogia

acaba por elaborar

significações da infância que

tomam o conceito de natureza

humana e associam-no a uma

gênese original (natureza

infantil), e a um processo

“natural” de desenvolvimento,

que seria impulso da própria

natureza. Estabelece-se no

ideário pedagógico um jogo de

significações, inclusive no

nível etimológico, que

consolida uma concepção em

torno da idéia de evolução

natural.

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Para

CHARLOT (1979, p.130), a

pedagogia (tradicional e nova)

dissimula a “significação

social da infância por trás da

idéia de natureza humana e de

luta contra a corrupção”. A

criança não é vista como um

ser social em desenvolvimento,

nem pensada em termos das

relações sociais que estabelece.

Desconsiderando-se as

desigualdades sociais, tem-se

como conseqüência sua

própria ratificação.

Neste embate,

contextos extremamente

desiguais passam a suscitar,

no interior desta mesma

pedagogia, soluções

condizentes com os princípios

humanitários em

fortalecimento na virada do

século de respeito à

individualidade, resultam

numa fértil diversificação de

projetos educativos.

1.2 – A Infância e os novos

tempos

A trajetória discutida até aqui mostra como a infância tem permanecido como

“a mais duradoura das utopias concebidas pela modernidade”, só sendo repensada mais

contemporaneamente, como afirma CALLIGARIS (1994, p. 6) :

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Como tantos outros ideais imaginados nos últimos 200 anos, o do mundo maravilhoso das crianças também entra em crise na era pós-industrial e pós-moderna.(...) Este tempo de separação da vida adulta, protegido pelo amor parental, miticamente feliz, surgiu em nossa cultura há apenas dois séculos, quando o individualismo triunfou no ocidente.

De lá para cá a situação social da infância ganha contornos extremos. O mito da

infância feliz esbarra cotidianamente na violência, no abandono, no consumo infantil, no

abuso sexual, etc., que desvelam um outro lado do mundo infantil dos sonhos da

humanidade, transformando-o “numa caricatura perversa do próprio mundo adulto”.

(CALLIGARIS, 1994, p. 6)

As marcas dos contextos sociais, sempre presentes, mas mascaradas pelas

abordagens centradas no indivíduo, gritam suas diferenças e imprimem novos contornos às

“infâncias” da sociedade atual. A infância “burguesa” dos novos tempos, infância esta

reinante nos estratos sociais médios, aquela mesma à qual se permitiu estender os anos de

vida como criança num mundo protegido das preocupações, tem também, hoje, sua

extensão cada vez mais encurtada. Com uma vida organizada basicamente em função das

expectativas e pretensões dos adultos, a criança volta novamente a ser vista como “adulto

em miniatura”.

Mesmo tendo “conquistado” um espaço particular no mundo social, a criança,

mais do que participar dele, torna-se depositária de projeções; onde, então, preservar-se na

liberdade e na independência em suas realizações. Projetando na infância seus anseios, a

sociedade acaba por manter-se ambivalente em seus projetos educativos calcados, em

alguns momentos, na preservação de uma infância idealizada, em outros, no enquadramento

em um mundo adulto.

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Na sociedade centrada no adulto, a criança é promessa e potencialidade, uma

condição a ser ultrapassada, e o adulto (educador) se relaciona, portanto, com um futuro

adulto e não com uma criança concreta. A infância idealizada pelo adulto chega a

corresponder a uma mitificação, como bem aponta CHOMBART DE LAUWE (1971) :

(...) Através da mitificação existe uma reivindicação fundamental para si, uma forma de escapar ao tempo e a opressão dos papéis impostos pela sociedade, como também uma recusa do mundo tal como é vivido pelo adulto , em função de estruturas sociais, de instituições, de normas, sem nenhuma ponte em comum com mundo desejado e projetado na infância.

( op.cit. apud ROSEMBERG, 1976, p. 1467)

No mundo moderno, a inocência infantil (vista como um momento de

preservação) e a violência contra a criança (como reflexo de uma extrema imposição),

convivem no mesmo espaço. O “direito” de compartilhar do mundo adulto representa de

fato a própria ausência de direitos da criança, sobretudo da criança pobre. Com as crianças

que têm sua infância furtada por condições de existência adversas ao mundo infantil do

exercício do sonho e da liberdade, a sociedade compartilha as mazelas do capitalismo voraz

: a miséria, a criminalidade e, na “melhor das hipóteses”, a conformadora inserção no

mundo do trabalho. Conforme ocorre no Brasil, a inserção precoce da criança no trabalho

não é novidade. Mesmo fora dos espaços marginais, no Brasil não são poucos os programas

de governo que se proclamam educativos, tais como o “Bom Menino” ou o velho

conhecido, “Pequeno Jornaleiro” que estabelecem oficialmente uma inserção “ preventiva”

da criança no trabalho, instaurando “dois pesos e duas medidas” para a educação da

infância na sociedade atual.

Conforme DAUSTER (1992, p.36), o trabalho precoce produz uma passagem

forçada à vida adulta que lembra o conceito de “infância curta” de ARIÉS, onde a criança

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passa sem transição para o mundo do trabalho e dos adultos. Para a autora, o êxito e o

sucesso proclamados pela escola vem a ser associados a uma infância de “longa duração’ e

ao sentido da particularidade infantil e “a criança que estuda reedita a imagem da infância

do Antigo Regime, mergulhada em uma sociabilidade densa(...)”.

Também MONGIN (1994, p. 7), em seu interessante artigo, lembra que

Tocqueville já havia antecipado “implicitamente o desaparecimento da distinção

hierárquica entre adulto e criança”, chamando a atenção para um outro aspecto desta

dimensão antropológica:

É aquele que corresponde ao tempo da infância, a este ritmo particular que se distingue daquele do mundo adulto no sentido em que traduz um certo estado de vulnerabilidade.(...) aquilo que tanto faz falta às sociedades contemporâneas: um tempo que respeita o sonho, a indecisão o arbítrio próprio da ficção.

Para ele, a sociedade que idealiza a criança como forma de ressuscitar seus

sonhos e revelar suas fragilidades ocultadas acompanha o desaparecimento do tempo da

infância. Um tempo que acaba sendo sufocado por uma sociedade que recusa a incerteza e

os “horrores sociais do nosso tempo”.

Estaria a superação do dilema fundamental da pedagogia dependente de uma

solução ficcional, tal como nesta irônica proposição?

(...) não tem problema: logo a engenharia genética resolverá de vez os embaraços de nossa pedagogia, e nos oferecerá, como crianças clones felizes, construídos à imagem e a semelhança de nossas sonhos.

(CALLIGARIS,1994, p.6)

Poderá a

pedagogia incorporar em suas

representações as

contraposições a idéias

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elaboradas no interior das

ciências humanas modernas,

que também têm a infância

como objeto de suas

preocupações, definindo-a a

partir perspectivas históricas e

contextuais?

Retomando a

preocupação inicial deste

trabalho será possível pensar

alternativas para a educação

da criança de 0 a 6 anos,

resultantes das novas formas

de inserção social da família,

em novas instituições

educativas ( tais como escolas

de Educação Infantil e outras

modalidades), rompendo com

os parâmetros pedagógicos

estabelecidos a partir de

“infância em situação escolar”

delimitada pela pedagogia?

Mantém-se

neste caso, a passagem da

infância de um âmbito

familiar para um institucional

(creche) que, na medida em

que se co-responsabiliza pela

criança, passa também a

constituir um discurso próprio

acerca das condições de

permanência das crianças em

seu interior, assim como da

configuração dos profissionais

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que nela passam a atuar. A

educação da criança em

instituições educativas passa a

sofrer diferenciações quanto à

definição de suas funções

quando o sujeito passa a ser a

criança, e não o sujeito

escolar (o aluno). De uma

constituição histórica marcada

por uma pedagogia escolar, as

instituições educativas

ganham novos contornos que

encontram-se em pleno

processo de definição. Uma

“Pedagogia da Infância”

necessita considerar outros

níveis de abordagem de seu

objeto : a criança, em seu

próprio tempo, uma vez que se

ocupa fundamentalmente de

projetar a educação destes

“novos” sujeitos sociais, e que

são, como diz o suposto

universal para a produção

pedagógica.

Em termos de

projetos educativos estas

definições deverão levar em

conta não só as especificidades

da origem de cada instituição,

mas sobretudo as referências

discursivas que apresentam a

infância sobre ângulos antes

desprezados tanto na

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pedagogia como na psicologia,

que neste século se estabeleceu

como uma área de

conhecimento privilegiada

pelo campo educativo.

Apesar de a

Psicologia ter-se estabelecido,

no século passado, como uma

área de conhecimento

privilegiada pelo campo

educativo, ela não tem

incluído uma reflexão

sociológica que permita lidar

com variáveis sociais. Só mais

recentemente é que um

conjunto de teorias,

denominadas interacionistas,

passam a ser divulgadas e

permitem uma abordagem

dos processos de

desenvolvimento humano a

partir de relações socio-

culturais.

Para

ROSEMBERG (1976), a

solução deste paradoxo, pelo

menos ao nível do

conhecimento, só pode surgir

de uma contribuição

interdisciplinar, “pois

enquanto a psicologia não fizer

apelo à antropologia,

continuaremos apenas a

ensinar crianças”:

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Se não posso imaginar o indivíduo se desenvolvendo em um vazio sociocultural, posso ajudá-lo pelas Ciências Sociais (sobretudo Sociologia, História e Antropologia), a apreender as semelhanças e diferenças do conceito de criança e das necessidades sociais a que ele responde.( p. 147)

A

universalidade da infância,

enraizada na pedagogia, vai

ser mais recentemente

apontada e citada por aqueles

que enfatizaram e

reconheceram a sua

heterogeneidade, decorrendo

em escolas pedagógicas que

proclamam o respeito às

características propriamente

infantis e às diferenças

presentes nas diferentes idades

ou etapas da mesma infância

como parte dessas

características.

Este mesmo

conceito de “infância

heterogênea”, indicado a

partir da sociologia e da

antropologia, passa a integrar

mais recentemente, no Brasil,

as diferentes áreas de

conhecimento que se referem à

infância, cada qual em seu

âmbito, incluindo elementos

relativos à diferença e à

influência de contextos

específicos na construção da

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diversidade, como afirmação

positiva e contrária ao

estabelecimento de padrões de

normalidade.

O horizonte da heterogeneidade de constituição dos sujeitos humanos

começa a permear todo o discurso referente à infância presente nos diferentes níveis de

análise deste objeto e passa a sustentar a definição de uma “Pedagogia da Infância”, ao

mesmo tempo em que afirma a insuficiência e o limite das orientações pautadas na

padronização.

Pensar, analisar e perspectivar a educação de crianças pequenas em

contextos institucionais específicos exige que se retome os diferentes níveis de análise

sobre a criança, percebendo-se as diferentes dimensões de sua constituição.

A complexidade deste problema para a pedagogia está em que a percepção do

sujeito/criança - objeto de sua ação - é multifacetada e não admite a transposição da visão

de um destes recortes de forma exclusiva e parcial. Trata-se de orientar a ação pedagógica

por olhares que contemplem sujeitos múltiplos e diversos, reconhecendo sobretudo a

infância como “tempo de direitos”.

Um novo momento, está se esboçando e exige dos educadores consciência

sobre a necessidade de um espaço que contemple todas as dimensões do humano, sem

esquecer que toda intervenção educativa (inevitável enquanto processo de constituição de

novos sujeitos na cultura) mantém em si um movimento contraditório e dinâmico entre

indivíduo e cultura, movimento este que precisa ser mantido sobre estreita vigilância por

aqueles que se pretendem educadores, para evitar que se exacerbe o poder controlador das

características hegemônicas da cultura em detrimento do exercício pleno das capacidades

humanas , sobretudo, a criação.

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Enfim a Educação infantil é de extrema relevância nos dias atuais, pois afinal

de contas, o mundo vem se transformando e o ser humano criando novos paradigmas. Hoje,

a mulher se integra cada vez mais ao mercado de trabalho e precisa dar conta de seus filhos,

exigindo creches e escolas, além de buscar mais e mais qualidades destas instituições,

fazendo surgir teorias e práticas que acompanhem tais demandas e permitam para o seio da

educação infantil maior qualidade na ação educativa ali ministrada.

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2. A IMPORTANCIA DO BRINCAR

Brincar é uma realidade cotidiana na vida das crianças visto a cultura

na qual está inserida, e para que elas brinquem é suficiente que não sejam impedidas de

exercitar sua imaginação. A imaginação é um instrumento que permite às crianças

relacionar seus interesses e suas necessidades com a realidade de um mundo que pouco

conhecem, mas que precisam conhecer. É um meio que possuem para interagir com o

universo dos adultos, universo que já existia quando elas nasceram e que aos poucos elas

poderão compreender, sendo o brincar um excelente instrumento para essa apropriação,

pois permite um primeiro contato cultural e social. A brincadeira expressa a forma como

uma criança reflete, organiza, desorganiza, destrói e reconstrói o mundo a sua maneira. É

também um espaço onde a criança pode expressar, de modo simbólico, suas fantasias, seus

desejos, medos, sentimentos agressivos, questionamentos e os conhecimentos que vai

construindo a partir das experiências que vive.

As crianças sempre brincaram, desde as épocas mais antigas,

procuram decifrar o mundo através de adivinhações, “faz-de-conta”, jogos com aros, bolas,

arcos, cordas e bonecos. Brincar parece ter sido sempre, de fato, a atividade principal da

infância culturalmente estabelecida por um mundo adulto que procura de certa forma inseri-

la ao meio.

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Nos murais, desenhos, esculturas e pinturas onde as diferentes

gerações deixaram registrados aspectos variados da vida cotidiana, pode-se observar a

presença dos jogos, das brincadeiras e dos brinquedos como elementos que caracterizam os

indivíduos representados, demonstrando sua condição de criança e a cultura que pertencem.

Nesses registros, pode-se constatar que já na Antigüidade, existiam

jogos de construir e demolir, comuns em algumas regiões e bem diferenciados em outras,

assim como a utilização de bonecos, de rolar aros, pular obstáculos e cordas, aqueles que

reproduzem situações de trabalho realizado por adultos, as crianças, os jogos de esconder,

etc.

2.1 – A importância das brincadeiras para desenvolvimento infantil

Através de uma brincadeira de criança, podemos compreender como ela vê e constrói o mundo – o que ela gostaria que ele fosse, quais as suas preocupações e que problemas a estão assediando. Pela brincadeira, ela expressa o que teria dificuldade de colocar em palavras. Nenhuma criança brinca espontaneamente só para passar o tempo, (...) sua escolha é motivada por processos íntimos, desejos, problemas, ansiedades. O que está acontecendo com a mente da criança determina suas atividades lúdicas; brincar é sua linguagem secreta, que devemos respeitar mesmo se não a entendemos.”

( BETTELHEIM,1974, p.32)

Em cada momento do processo de conhecimento e apropriação cultural,

as crianças se utilizam de instrumentos diferentes e sempre adequados a suas condições de

pensamento.

Por volta dos 2 anos, com o desenvolvimento da capacidade simbólica do

pensamento, o jogo simbólico, atividade conhecida comumente como jogo de “faz-de-

conta” ou simplesmente brincadeira, passa a ser a atividade principal da criança (o jogo

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simbólico, ao lado do desenho, da imitação, da imagem mental e da aquisição sistemática

da linguagem formam o conjunto de atividades que caracterizam o período de

desenvolvimento que Piaget chamou de pré-operatório ou simbólico).. Embora nesse

período a criança dedique apenas algumas horas de seu dia aos jogos de “faz-de-conta”,

essa atividade tem um papel importante nos avanços que ocorrem em suas condições de

pensamento e de apropriação cultural, permitindo-lhe maior e melhor inserção social.

Quando está brincando, a criança cria situações imaginárias em que se

comporta como se estivesse agindo no mundo dos adultos. Enquanto brinca, seu

conhecimento desse mundo se amplia, porque, nesta atividade, ela pode fazer de conta que

age como os adultos agem, imaginando realizar coisas que são necessárias para operar com

objetos com os quais os adultos operam, e ela ainda não. Se é permitido à criança, por

exemplo, brincar em um automóvel, uma charrete ou outro meio de transporte qualquer, sua

ação tenderá a reproduzir as ações que observa nos adultos que conduzem esses meios de

transporte; ela se preocupará, inclusive, em reproduzir o barulho do motor ou o trote do

cavalo.

O que motiva a brincadeira não é o resultado das ações, isto é,

transportar-se para um outro lugar, mas sim o próprio processo da atividade. O alvo das

brincadeiras das crianças pequenas é a ação e não seus resultados. As necessidades que

satisfazem são de conhecimento do mundo em que os homens agem e no qual ela precisa

aprender a viver. A criança busca aprender, agindo “como se”.

- “Eu era o cachorrinho filho.”

- “Eu é que dirigia o trem.”

- “Então eu era a mãe.”

- “Agora eu era o motorista.”

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- “Eu era o dono da loja e você vinha comprar a comida, tá bom ?”

Em minha experiência, compreendo que quando criança deseja montar

um cavalo, mas não sabe como fazê-lo e ainda não poderia de fato aprender, porque montar

a cavalo é algo que está além de sua capacidade. Então ela toma uma vassoura – um objeto

do mundo ao qual tem acesso – e a coloca no lugar do cavalo. A criança sabe que a

vassoura continua sendo uma vassoura, enquanto brinca de “montar a cavalo”, mas no jogo,

embora conserve seu significado, a vassoura adquire um sentido diverso, um sentido lúdico,

o sentido de um cavalo. Esse momento infantil torna-se mágico e inexplicável, porém com

adolescência e a vida adulto perde-se quase que completamente.

Entendo que quando uma criança brinca de médico, geralmente reproduz

formas de agir de médicos que já a atenderam ou que atenderam pessoas com as quais

convive. Quando ela representa um médico, sua ação reproduz não um médico particular

mas um médico “em geral”, que realiza ações que ela pode observar em suas diferentes

experiências com médicos. A criança reproduz o que é típico, geralmente o que pode ser

generalizado em uma situação, no caso de nosso exemplo, o que a criança sabe, o que ela já

conhece sobre “ser médico”. Assim, simplificar a capacidade da criança é desprezar

também a capacidade crescente que o ser humano possui quanto a aprendizagem e

aquisição de conhecimento.

Quando é a mãe num jogo de casinha, a criança, além de construir o

espaço para a brincadeira e decidir qual será o enredo da atividade (mãe que vai preparar a

comida, ou que vai passear com filho, ou que vai levá-lo ao médico, ou que arruma a casa),

age como as mães agem em geral nessas situações.

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Assim, no jogo de “faz-de-conta”, a criança experimenta diferentes papéis

sociais, funções sociais generalizadas a partir da observação do mundo dos adultos.

A brincadeira é, desta forma, um espaço de aprendizagem onde a criança

age além do seu comportamento cotidiano e do das crianças de sua idade. Na brincadeira,

ela age como se fosse maior do que é na realidade, realizando simbolicamente o que mais

tarde realizará na vida real. Embora aparente fazer apenas o que mais gosta, a criança

quando brinca aprende a se subordinar às regras das situações que reconstrói. Essa

capacidade de sujeição às regras, imposta pela situação imaginada, é uma das fontes de

prazer no brinquedo.

Além de ser um espaço de conhecimento sobre o mundo externo (a

realidade física e social), é na atividade lúdica que a criança também pode conviver com os

diferentes sentimentos que fazem parte da sua realidade interior.

O brincar permite à criança realizar ações concretas, reais, relacionadas

com sentimentos que, de outro modo, ficariam guardados. Enquanto brinca, a criança lida

com a sua sexualidade e com os impulsos agressivos que estão presentes em seu mundo

interno. Por isso, a presença da agressividade na brincadeira não deve ser censurada; pelo

contrário, é importante que seja preservado esse espaço para que a criança possa exprimir

seus sentimentos em momentos em que não está realmente zangada, num meio conhecido,

que não irá reagir com violência contra ela – o espaço da brincadeira. Pois embora possa

envolver tanto sentimentos de amor quanto de ódio, a criança sabe, tem a segurança de que

num dado momento ela vai terminar e que geralmente há um adulto por perto para controlar

a situação.

Assim, existe importância no ato de brincar,pois a criança vai, pouco a

pouco, organizando suas relações emocionais; isso vai dando a ela condições para

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desenvolver relações sociais, aprendendo a se conhecer melhor e a conhecer e aceitar a

existência dos outros.

Embora nem todas as necessidades e desejos da criança dêem origem à

brincadeira, e embora a criança não entenda as motivações que estão por trás de seus gestos

e suas ações, o brinquedo é a atividade principal da criança na infância.

2.2 – A importância do brincar na aprendizagem

Constata-se que a maneira de brincar das crianças evolui à medida que

elas crescem. Isso fica evidente quando observamos crianças de idades diferentes brincando

juntas. Em cada estágio de desenvolvimento do pensamento, o brincar têm características

específicas, conforme venho constatando em minha experiência com crianças na Educação

infantil. A atividade lúdica de uma criança entre 3 e 6 anos é diferente daquela de uma

criança entre 7 e 10 ou da de um adulto. As brincadeiras variam de acordo com a etapa do

desenvolvimento humano, tornando-se cada vez mais complexas.

À medida que as crianças crescem, suas condições de pensamento se

desenvolvem, e intensifica-se também seu processo de socialização, de aprendizagem e

podemos verificar tais diferenças no cotidiano da Educação infantil. O brincar como o “faz-

de-conta” abre espaço, progressivamente, para o brincar com regras e jogos com regras

previamente estabelecidas. Este brincar organizado pressupõe relações sociais ou

interindividuais com a cooperação entre os que brincam – a regra é uma regularidade

imposta pelo grupo ou mesmo um adulto, tendo caráter especialmente cultural, pois a

sociedade desde muito cedo deixa claro o que espera que as crianças aprendam. O brincar

de forma organizada, ou seja, com regras específicas e pré-estabelecidas, como os que se

encontram na Educação infantil é considerado a atividade lúdica do ser sociabilizado, sendo

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muito difícil para uma criança de 1 ou 2 anos compreender e participar de um deles de

forma satisfatória ao adulto, porém é desde a mais tenra idade que a cultura começa a se

impor e inserir nesta crianças princípios e valores locais.

Assim sendo, a criança na medida em que vai crescendo e

compreendendo os limites dados pelos adultos que com ela interagem, vai pouco a pouco

percebendo que existem regras a serem respeitadas, uma cultura a ser incorporada, para o

brincar e conseqüentemente, para quanto para sua vida como um todo. Nesse ínterim,

amplia-se o convívio social infantil, ou seja, aos poucos a criança vai ampliando seus

grupos de convivência, além da família, vem a escola, grupos religiosos e outros, passando

a entender que para viver em grupos existem regras de comportamento que advém de uma

cultura que facilitarão as relações sociais com os outros, tornando as mesmas sadias e

agradáveis aos olhos da sociedade na qual pertencem.

Nós educadores infantis participamos desta inserção da criança na cultura

formalmente organizada e fazemos a nossa parte a apresentar e impor limites referentes ao

que se espera culturalmente desta criança inserida nas escolas de Educação Infantil. No

entanto, devemos estar atentos para não permitir a manutenção de um status quo que

conserva as diferenças de classes e nem tão pouco não permite a participação, exercício da

cidadania e transformação.

O brincar, como os jogos de esconder, cabra-cega, lenço-atrás, queimada,

por exemplo, se desenvolvem a partir das brincadeiras simbólicas que introduzem regras.

As brincadeiras que antecedem o interesse das crianças pelos jogos com regras explícitas

são aquelas de situação imaginária em que várias crianças estão evolvidas e em que cada

criança tem um papel que se integra com outros; para que a ação se desenvolva, as crianças

devem se subordinar a regras que regem as funções de cada participante.

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Educadores infantis ao longo de suas ações educativas fazem da atividade

lúdica infantil a inclusão de brincadeiras que “não supõem qualquer técnica particular”, são

simples exercícios onde não intervêm símbolos ou regras, passando pouco a pouco para

estas, perpassando por uma ação pedagógica de organização e de ajustamento cultural. A

partir daí o limite dado pelo adulto é fundamental, pois conflitos poderão surgir antes que

se estabeleça a real compreensão das regras, sejam elas as mais simples.

Esse tipo de brincadeira, chamada por Piaget jogo de exercício, tanto

pode ocorrer envolvendo apenas a repetição de ações físicas – como, por exemplo, pular

corda, rolar aro ou pneu, pular riacho, rodar bambolê – como envolvendo ações mentais,

isto é, o pensamento, como acontece nos jogos de combinações de palavras ou quando a

criança se diverte em fazer perguntas ou em inventar uma história só pelo prazer de

perguntar ou contar. Estas brincadeiras são essenciais a saúde mental da criança e envolvem

a criatividade e a imaginação, não podendo serem tolidas para que no futuro não se tenha

adultos tolidos em suas capacidades de criar e imaginar.

Pode-se observar que, desde quando são muito pequenas, ainda bebês de

berço, as crianças se dedicam ao brincar de repetir ações, sacudir um chocalho, balançar

objetos pendentes sobre o berço. Por isso pode-se dizer que os jogos de exercício são a

primeira forma de brincadeira da criança.

À medida que crescem, o desenvolvimento físico, intelectual e social

habilita-as progressivamente a formas de brincadeiras mais complexas, envolvendo

símbolos e regras, sem no entanto eliminar ou mesmo diminuir a ocorrência dos jogos de

exercício. Até pelo contrário, basta observar as brincadeira infantis para verificar que essa

forma de brincadeira se desenvolve e ganha em diversidade à medida que as crianças

crescem.

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3. A IMPORTANCIA DO ATO DE BRINCAR NA EDUCAÇÂO INFANTIL

A brincadeira é antes de tudo, uma confrontação com a cultura. Na brincadeira a criança se relaciona com conteúdos culturais que ela reproduz e transforma dos quais ela se apropria e lhes dá uma significação. A brincadeira é a entrada na cultura, numa cultura particular, tal como ela existe num dado momento, mas com todo seu peso histórico.

(BROUGÉRE, 1978, p.74)

O brincar possui funções importantíssimas na Educação infantil; servindo

como estímulos ao crescimento, levando a uma sagacidade em direção ao desenvolvimento

cognitivo e aos desafios proporcionados pela cultura local. De modo geral, apresentam-se

na intenção de socializar e inserir a criança no meio social em que faz parte.

Assim sendo, a cultura se faz presente a todo instante, seja nas

representações simbólicas, nas imitações dos jogos de faz-de-conta e até mesmo nos

próprios brinquedos industrializados ou nos fabricados pelas crianças.

Em alguns jogos e brincadeiras é possível conseguir proporcionar o

desenvolvimento do raciocínio lingüístico, lógico matemático, espacial, musical,

cinestésico-corporal, naturalista, interpessoal e intrapessoal.

Entretanto, os materiais utilizados para a fabricação ou elaboração dos

mesmos devem condizer com as idades das crianças para que possam verdadeiramente

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desempenhar de forma eficaz os papéis cabíveis a sua utilização sem contudo oferecer

perigo para os usuários.

Ao proporcionar o desenvolvimento lingüístico, os educadores infantis,

percebo isso através de minha vivência enquanto educadora infantil, o brincar colabora para

que imagens sejam construídas e, ao mesmo tempo, façam uma associação delas com as

palavras de modo a possibilitar a expressão da linguagem tão necessária para a

comunicação oral e escrita em nossa sociedade.

Os raciocínios dedutivos, a facilidade de construir noções numéricas e de

trabalhar com símbolos matemáticos ocorre quando há atividades que oportunizem o

desenvolvimento lógico-matemático. Os jogos e brincadeiras na Educação infantil merecem

destaque nesta situação, principalmente, porque muitas são as dificuldades encontradas hoje

que poderiam ter sido amenizadas se existisse a preocupação de desenvolver aspectos

afetivos, sociais, individuais, culturais e cognitivos.

Quantas são as pessoas que não conseguem situar-se no espaço ou até

mesmo representá-lo em forma de planta ou através de pontos de referência? A construção

destas noções se dá a partir da cristalização da dimensão espacial e existem inúmeras

atividades recreativas que podem colaborar para a formação destas inteligências.

Antunes apresenta uma nova concepção, a teoria das Inteligências

Múltiplas, de Gardner, colocando essa idéia como capaz de justificar as diferentes

habilidades e capacidades que conseguimos observar nos educandos desde a Educação

infantil. Antunes coloca que Gardner aponta como principal objetivo comprovar que o ser

humano possui diferentes inteligências, e que segundo este mesmo autor, podem-se dividir

em sete (cinestésica, intrapessoal, interpessoal, lógico-matemática, espacial, lingüística e

artística), podendo o indivíduo desenvolver mais de uma.

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Perceber a existência e a essência do mundo através do som que nos

rodeia é de fundamental importância. Bem diz a sábia frase popular: “Saber ouvir é melhor

que saber falar”. Neste sentido, o brincar na Educação Infantil torna-se importante, pois

muito colaboram para a formação de um sentimento puro de humanidade no intuito de

compreender o mundo através da inteligência musical.

O corpo expressa nossos sentimentos, nossas ações e reações. As brincar

nesse sentido na Educação infantil permite demonstrar as expressões através da linguagem

gestual e mímica colaboram para que a inteligência cinestésica-corporal se manifeste.

A admiração, respeito e afinidade pelos seres humanos e entre os diversos

tipos de espécies de forma a compreender a paisagem natural e o ambiente é facilitada

quando a inteligência natural ou biológica é incentivada; principalmente nas atividades

lúdicas que fazem relação com o ambiente.

A empatia percebida em algumas pessoas, a sensibilidade para identificar

suas intenções, motivações e auto-estima é revelada através da inteligência interpessoal.

Quando as pessoas estão bem consigo, conseguindo controlar de forma positiva seus

sentimentos sem contudo sentir-se culpados ou inferiorizados é sinal de que a inteligência

intrapessoal foi bem desenvolvida.

Para ambos os sentidos (interpessoal e intrapessoal) existem atividades

com jogos e brincadeiras que permitem o desenvolvimento das mesmas.

Os jogos são brincadeiras organizadas por regras, onde os indivíduos

aprendem a respeitá-las para prosseguirem e chegar ao final. Segundo Antunes: (...) todo

jogo pode ser usado por muitas crianças, mas seu efeito sobre a inteligência será sempre

pessoal e impossível de ser generalizado”. (p. 28).

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E diz mais: “O jogo, em seu sentido integral, é o mais eficiente meio

estimulador das inteligências”. (p.29)

É possível perceber a importância e a influência das funções do brincar

na Educação infantil na vida de cada indivíduo de nossa sociedade contemporânea. Sendo

assim é viável concordar com Brougère quando diz:

A brincadeira aparece como fator de assimilação de elementos culturais, cuja heterogeneidade desaparece em, proveito de uma homogeneidade construída pela criança no ato lúdico”.

( 1978, p. 76)

Muitos

educadores infantis utilizam-

se do brincar para educar.

Quem é que nesta vida, pode

dizer que nunca brincou e com

a brincadeira não aprendeu

algo? O próprio ato de viver é

um eterno brincar, que

engloba a sobrevivência,

felicidade, conquistas, perdas,

sucesso culturalmente

estabelecidos. Desafiados pelas

próximas brincadeiras, à

vontade de querer vencer e

descobrir novos caminhos

para se chegar prazer que o

ato de brincar traz consigo são

fatos que motivam as crianças

e as possibilitam a insistirem

em aprender A reação dos

participantes e a dos

observantes do brincar

cotidiano na Educação infantil

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me fez perceber que são

momentos repletos de

aprendizagem em diferentes

aspectos inerentes a natureza

humana.

3.1 Diversas

formas de brincar na Educação

infantil

Existem diversas formas de brincar na Educação infantil: jogos

tradicionais infantis, jogos cantados, educativos, virtuais, “faz-de-contas”, etc., mas em

cada um deles é possível compreender a imagem da criança, do cotidiano infantil presente

em uma determinada época; possibilitando perceber ainda que valores existem e quais são

as prioridades que se mantém em nossa sociedade.

Segundo KISHIMOTO,

Os jogos tradicionais infantis são transmitidos de geração em geração através de conhecimentos empíricos e permanecem na memória infantil”. (37-38)

Em nosso país é difícil descobrir a origem desses jogos, pois sofreram

influência das três raças: indígena, negra e branca; além da mistura delas e do

desenvolvimento dos períodos: colonial, imperial e republicano.

Os jogos tradicionais infantis possibilitam mudanças propiciadas pela

forma de expressão oral, porém sua função é de imortalizar a cultura infantil e de

desenvolver a cada dia formas de convivência social.

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A criatividade não se esgota quando esta é estimulada, permitida e

realmente liberada; por isso são crescentes os jogos cantados que a meninada vem

produzindo nos dias de hoje.

Os jogos educativos no Brasil foram influenciados pelos ideais de

Froebel, Decroly, Montessori e outros. Em alguns momentos priorizava-se a ação livre da

criança, em outras as atividades orientadas pelo professor na busca de conteúdos escolares.

É neste sentido que deter-se-á este trabalho.

Com a chegada da mídia, do computador e dos jogos virtuais em nossa

sociedade, adquirimos experiências que conseqüentemente, invadem nossa casa, escola e

vida. Será que os educadores infantis de hoje estão preparados para enfrentar e lidar com as

situações provenientes desta sociedade em constantes transformações?

3.2 O brinquedo na Educação infantil

As brincadeiras fazem a alegria de milhões de pessoas. O ato de brincar

além de descontrair a criança é uma das atividades de fundamental importância para o

desenvolvimento do indivíduo.

Logo que nasce, o bebê entra em contato com um mundo onde as pessoas

lhe fazem gracejos. Estas brincadeiras são primordiais para a formação de um ser completo

e ativo. Com o passar do tempo as crianças recebem de seus pais, parentes e amigos

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diversos brinquedos que passam a fazer parte das brincadeiras do seu universo, que se bem

vividos e respeitados perduram no tempo tornando um adulto feliz.

Para complementar e dar significado à brincadeira, existem os

brinquedos. O brinquedo é um objeto que se destina ao entretenimento infantil,

industrializado ou não, e vem sofrendo modificações desde a antigüidade.

Hoje em todo o mundo existe uma indústria de brinquedos. Nela

encontramos uma grande quantidade de sugestões de brinquedos destinados a incentivar a

imaginação infantil. Baseando-se na tecnologia eletrônica, a indústria fabrica brinquedos

cada vez mais sofisticados. A partir da década de oitenta o computador ganha popularidade

através dos videojogos.

A produção de brinquedos com fins pedagógicos conquistou cada vez

mais espaço e em alguns países a fabricação é bem controlada, impedindo que sejam

confeccionados e distribuídos entre os menores, objetos que possibilitem estimular idéias

prejudiciais.

Alguns brinquedos tradicionais como: a bola, pipa, pião e peteca

continuam despertando interesse nas crianças. Em contato com estes ou com outros

brinquedos a criança mergulha em seu mundo, nas suas brincadeiras, que embora muitos

não acreditem, se bem orientadas podem desenvolvê-la plenamente, possibilitando uma

aprendizagem mais significativa.

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4. CONCLUSÃO

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O processo de socialização da criança, isto é, a progressiva capacidade de

conhecer e conviver com o espaço social que a cerca, suas regras e padrões de

comportamento, inicia-se no momento em que a criança nasce, uma vez que esta

relacionado culturalmente com a sociedade na qual está inserida.

Ao longo do crescimento, o desenvolvimento da capacidade simbólica do

pensamento fornece à criança, condições para o progresso rápido desse processo: o

desenvolvimento da linguagem, a capacidade de brincar e de interagir com outras crianças e

a possibilidade de conviver com outros grupos, além do familiar, dando a ela novos

instrumentos para lidar com o mundo.

A criança é o principal agente construtor de seu conhecimento do mundo

e de sua própria identidade em que a importância do brincar na Educação Infantil pode

facilitar, possibilitar e ampliar tais apropriações. As circunstâncias do meio em que vive,

somadas às condições de seu pensamento em cada uma das etapas pelas quais vai passando,

fazem de cada criança um ser inteiramente cultural e especialmente capaz de inserir-se

socialmente.

Os educadores infantis em sua prática, digo por mim, em geral, percebem

que o brincar permite a apropriação cultural e conseqüentemente a aprendizagem social que

lhes será cobrada.

Enquanto educadora infantil concluo que a criança encontra um espaço

fértil para lidar nas instituições de Educação infantil, onde o brincar é ressaltado,

incentivado e o caminho que permite as relações inter-pessoais e a capacidade de

entendimento da sociedade em que fazem parte, através da representação dramática, não

apenas com a realidade social, mas também, e principalmente, com a sua individualidade

física, intelectual e emocional em desenvolvimento.

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Diante da tecnologia avançada que o mundo vem apresentando

nessas últimas décadas, o brincar continua a preservar seu espaço junto ao Universo Infantil

e assim devem ser respeitados e relevados pelos educadores.

Enfim, pais, educadores e especialistas em educação infantil defrontam-se

com o brincar e suas possibilidades com relação as crianças, ou seja, inserir e organizar o

ato de brincar na Educação infantil de forma que este permita a criança se desenvolver

plenamente e acompanhar as muitas transformações que o mundo vem atravessando é

fundamental.

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5. BIBLIOGRAFIA

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO...............................................................................................................08

1. O CONCEITO DE INFÂNCIA...................................................................................12

1.1 - O “nascimento” da infância .................................................................................15

1.2 – A Infância e os novos tempos..............................................................................18

2. A IMPORTANCIA DO BRINCAR............................................................................25

2.1 – A importância das brincadeiras para desenvolvimento infantil..........................26

2.2 – A importância do brincar na aprendizagem.........................................................30

3. A IMPORTANCIA DO ATO DE BRINCAR NA EDUCAÇÂO INFANTIL...........33

3.1 Diversas formas de brincar na Educação infantil..................................................36

3.2 O brinquedo na Educação infantil.........................................................................38

4. CONCLUSÃO.............................................................................................................40

5. BIBLIOGRAFIA.........................................................................................................42

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