a importância do ato de ler

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Paulo Freire A IMPORTÂNCIA DO ATO DE LER INTRODUÇÃO O livro “A Importância do Ato de Ler” de Paulo Freire, relata os aspectos da biblioteca popular e a relação com a alfabetização de adultos desenvolvida na República Democrática de São Tomé e Príncipe. Ao mesmo tempo, nos esclarece que a leitura da palavra é precedida da leitura do mundo e também enfatiza a importância crítica da leitura na alfabetização, colocando o papel do educador dentro de uma educação, onde o seu fazer deve ser vivenciado, dentro de uma prática concreta de libertação e construção da história, inserindo o alfabetizando num processo criador, de que ele é também um sujeito. A IMPORTÂNCIA DO ATO DE LER Paulo Freire nos lembra que “A leitura do mundo precede a leitura da palavra”, isso nos mostra através de suas experiências de quando nos primeiros anos aprendeu a ler em sua própria casa, no Recife, rodeado de árvores, algumas delas eram vistas como se fossem gente. “Sua velha casa, seus quartos, seu corredor, seu sótão, seu terraço – o sítio das avencas de sua mãe”, na verdade, aquele mundo descrito por ele, era o mundo de suas primeiras leituras, como acontece na vida de todos nós. Cita o seu modo particular que foi alfabetizado sobre o chão onde foi seu quadro- negro; e os gravetos, o seu giz. A sua proposta no ensino com seus 20 anos de idade foi o de transformar a regência verba, a sintaxe de concordância, crase,

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E uma síntese do livro a Importância do ato de ler ,de Paulo Freire.

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Page 1: A Importância Do ATO de LER

Paulo Freire

A IMPORTÂNCIA DO ATO DE LER

INTRODUÇÃO

O livro “A Importância do Ato de Ler” de Paulo Freire, relata os aspectos da biblioteca popular e a relação com a alfabetização de adultos desenvolvida na República Democrática de São Tomé e Príncipe.

Ao mesmo tempo, nos esclarece que a leitura da palavra é precedida da leitura do mundo e também enfatiza a importância crítica da leitura na alfabetização, colocando o papel do educador dentro de uma educação, onde o seu fazer deve ser vivenciado, dentro de uma prática concreta de libertação e construção da história, inserindo o alfabetizando num processo criador, de que ele é também um sujeito.

A IMPORTÂNCIA DO ATO DE LER

Paulo Freire nos lembra que “A leitura do mundo precede a leitura da palavra”, isso nos mostra através de suas experiências de quando nos primeiros anos aprendeu a ler em sua própria casa, no Recife, rodeado de árvores, algumas delas eram vistas como se fossem gente. “Sua velha casa, seus quartos, seu corredor, seu sótão, seu terraço – o sítio das avencas de sua mãe”, na verdade, aquele mundo descrito por ele, era o mundo de suas primeiras leituras, como acontece na vida de todos nós. Cita o seu modo particular que foi alfabetizado sobre o chão onde foi seu quadro-negro; e os gravetos, o seu giz.

A sua proposta no ensino com seus 20 anos de idade foi o de transformar a regência verba, a sintaxe de concordância, crase, sinclitismo pronomial em assuntos que despertassem a curiosidade dos alunos, através da aprendizagem do significado profundo das coisas. Para Freire a alfabetização de adultos era como um ato político e de conhecimento, assim criado. Para ele seria impossível engajar-se na memorização mecânica da alfabetização silábica, e da redução do ensino da puro da palavra, silaba ou letras.Por ser um ato criador, o processo de alfabetização tem no alfabetizando o seu sujeito, que com a ajuda pedagógica, não se deve anular sua criatividade e sua responsabilidade de construção da escrita e na leitura. Ressalta que a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra, quer dizer, conhecendo o objeto, sentido – e expressando seu nome verbalmente depois de ter o conhecimento da escrita e da leitura.

Alfabetização de Adultos e Biblioteca Populares: Uma introdução

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Para Paulo Freire “Falar de alfabetização de adultos e de bibliotecas populares é falar, entre muitos outros, do problema da leitura e da escrita”. “Não da leitura de palavras e de sua escrita em si próprias, como se lê-las e escrevê-las, não implicasse uma outra leitura, prévia e concomitante áquela, a leitura da realidade mesma.”

“Do ponto de vista crítico é tão impossível negar a natureza política do processo educativo quanto negar o caráter educativo do ato político.” Quanto mais ganhamos esta clareza através da prática, mais percebemos a impossibilidade de separar a educação da política e do poder.

A relação entre a educação enquanto subsistema e o sistema maior são relações dinâmicas contraditórias. “As contradições que caracterizam a sociedade como está sendo, penetram a intimidade das instituições pedagógica em que a educação sistemática se está dando e alterando o seu papel ou o seu esforço reprodutor da ideologia dominante.” “O que temos de fazer então, enquanto educadoras ou educadores, é aclarar assumindo a nossa opção que é política, e ser coerentes com ela na prática.”

“É que sabem muito bem que não é o discurso o que ajuíza a prática, mas a prática que ajuíza o discurso.” ”Quem apenas fala e jamais ouve; quem “imobiliza” o conhecimento e o transfere a estudantes, quem ouve o eco, apenas de suas próprias palavras, quem considera petulância a classe trabalhadora reivindicar seus direitos, não tem realmente nada que ver com a libertação nem democracia.”  “Pelo contrário, quem assim atua e assim pensa, consciente ou inconsciente, ajuda a preservação das estruturas autoritárias.” “Só educadoras e educadores autoritários negam a solidariedade entre o ato de educar e o ato de ser educado pelos educandos.”  “Uma visão da educação é na intimidade das consciências, movida pela bondade dos corações, que o mundo se refaz. É, já que a educação modela as almas e recria corações ela é a alavanca das mudanças sociais.”

Se antes a transformação social era entendida de forma simplista, fazendo-se com a mudança, primeiro das consciências, como se fosse a consciência de fato, a transformadora do real, agora a transformação social é percebida como um processo histórico.

Se antes a alfabetização de adultos era tratada e realizada de forma autoritária, centrada na compreensão mágica da palavra doada pelo educador aos analfabetos; se antes os textos geralmente oferecidos como leitura aos alunos escondiam a realidade, agora pelo contrário, alfabetização como ato de conhecimento, como um ato criador e como ato político é um esforço de leitura do mundo e da palavra. Agora já não é possível textos sem contexto.

“A alfabetização de adultos e pós-alfabetização implicam esforços no sentido de uma correta compreensão do que é a palavra escrita, a linguagem, as relações com o contexto de quem fala, de quem lê e escreve, compressão, portanto da relação entre “leitura” do mundo e leitura da palavra. Daí a necessidade que tem uma de biblioteca popular, buscando o adentramento crítico no texto, procurando aprender a sua significação mais profunda, propondo aos leitores uma experiência estética, de que a linguagem popular é inteiramente rica.”

“A forma com que atua uma biblioteca popular, a constituição do seu acervo, as atividades que podem ser desenvolvidas no seu interior, tudo isso tem que ser como uma certa política cultural.”

“Se antes raramente os grupos populares eram estimulados a escrever seus textos, agora é fundamental fazê-lo, desde o começo da alfabetização para que, na pós-alfabetização, se vá tentando a formação do que poderá vir a ser uma pequena biblioteca popular com a inclusão de páginas escritas pelos próprios educandos.” 

O Povo diz a sua Palavra ou a Alfabetização em São Tomé e Príncipe

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Segundo Freire com a alfabetização de adultos no contexto da República Democrática de São Tomé e Príncipe, a cujo governo vem dando juntamente com Elza Freire, uma contribuição no campo da educação de adultos como assessor, se torna indispensável uma concordância em torno de aspectos fundamentais entre o assessor e o governo assessorado. Seria impossível, por exemplo, dar uma colaboração, por mínima que fosse a uma campanha de alfabetização de adultos promovido por um governo antipopular. Não poderia assessorar um governo que em nome da primazia da “aquisição” de técnicas de ler e escrever palavras por parte dos alfabetizando, exigi-se, ou simplesmente sugerisse que fizesse a dicotomia entre a leitura do texto e a leitura do contexto. Um governo para quem a leitura do concreto, o desenvolvimento do mundo não são um direito do povo, que, por isso mesmo, deve ficar reduzido à leitura mecânica da palavra.  É exatamente este aspecto importante — o da relação dinâmica entre a leitura da palavra e a leitura da realidade em que nós encontramos coincidentes os governos de São Tomé e Príncipes e nós.Todo esforço que vem sendo feito em São Tomé e Príncipe na prática da alfabetização de adultos como na da pós-alfabetização se orienta neste sentido.

“Os Cadernos de Cultura Popular vem sendo usados pelos educandos como livros básicos, que na alfabetização ou na pós-alfabetização, não são cartilhas em seu sentido lato, nem manuais no seu sentido amplo, com exercícios ou discursos manipuladores.”

Estes cadernos é um nome genérico que vem sendo dado a esta série de livros de que o primeiro é o da alfabetização. Este primeiro caderno é composto de duas partes, sendo a segunda, uma introdução à pós-alfabetização. Como reforço a este primeiro caderno, há outro caderno de exercícios, chamado “Praticar para Aprender”. O segundo caderno com a qual se inicia ou se pretende iniciar a pós-alfabetização é um livro de textos escritos em linguagem simples, jamais simplistas, que trata de uma temática ampla e variada, ligada toda ela, ao momento atual do país. O que pretende com estes textos é que agucem a curiosidade critica dos educandos e não sejam lidos mecanicamente. Os cadernos não são livros neutros, nem manipuladores, eles estimulam o educando a participação crítica e democrática no ato de conhecimento de que são também sujeito.

No fundo o ato de estudar, enquanto ato curioso do sujeito diante do mundo é expressão da forma de estar sendo dos seres humanos, como seres sociais, históricos, seres fazedores, transformadores, que não apenas sabem, mas sabem que sabem.O povo tem de conhecer melhor, o que já conhece em razão da sua prática e de conhecer o que ainda não conhece.

Nesse processo, não se trata propriamente de entregar ou de transferir às massas populares a explicação mais rigorosa dos fatos como algo acabado, paralisado, pronto, mas contar, estimulando e desafiando, com a capacidade de fazer, de pensar, de saber e de criar das massas populares.  Na alfabetização pós-alfabetização não nos interessa transferir ao Povo frases e textos para ele ir lendo sem entender. A reconstrução nacional, exigem de todos nós uma participação consciente em qualquer nível, exige ação e pensamento, exige prática e teoria, procurar descobrir de entender o que se acha mais escondido nas coisas e aos fatos que nós observamos e analisando.A reconstrução nacional precisa de que o nosso Povo conheça mais e melhor a nossa realidade.

Segunda Parte

Retrata a “praticar para aprender” composta de duas codificações (duas fotografias) – primeira de uma das lindas enseadas de São Tomé, como um grupo de

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jovens nadando, escrito ao lado “é nadando que aprende a nadar”; a outra figura, numa área rural, com um grupo de jovens trabalhando, escrito ao lado “é trabalhando que se aprende a trabalhar” e no fim da página está escrito “praticando aprendemos a praticar melhor”. Existem espaços em branco como um convite aos alfabetizando para que se arrisquem a escrever. Enquanto o primeiro tinha sido concebido como um auxiliar do alfabetizando, reforçando o primeiro caderno na fase de alfabetização, e o segundo caderno fora pensado como um livro básico da primeira etapa da pós-alfabetização. Com o tempo se percebeu que este último papel caberia ao caderno de exercícios, enquanto que o segundo caderno passaria a ser usado num nível mais adiantado da pós-alfabetização ao lado de outros cadernos.

Na introdução dos cadernos “cultura popular” e no “caderno de exercícios” aprende a ler na prática da leitura, a escrever na pratica da escrita. Além de aprender a ler e escrever não é decorar “bocados” de palavras para depois repeti-los O ato de estudar mostra que diante das circunstâncias diárias devemos procurar compreender o problema que tem que resolver, para em seguida, encontrar uma resposta precisa. Não se estuda somente na escola. Podemos estudar enquanto trabalhamos por exemplo. Estudar é assumir uma atitude séria e curiosa diante de um problema em seu primeiro ato.

No segundo ato mostra que não importa que o estudo seja feito no momento e no lugar do nosso trabalho ou em outro local. Em qualquer caso, o estudo exige sempre essa atitude séria e curiosa na procura de compreender as coisas e os fatos que observamos. Estudar exige disciplina é criar e recriar é não repetir o que os outros dizem. O ato de estudar, de caráter social e não apenas individual se dá aí também, independentemente de estarem seus sujeitos conscientes disto ou não. Em reconstrução nacional o autor mostra que qualquer reconstrução nacional é um esforço no qual o nosso povo está empenhado para criar uma sociedade nova. Uma sociedade de trabalhadores. Numa reconstrução nacional exige de nós – unidade, disciplina, trabalho e vigilância. No texto sobre o trabalho e a transformação do mundo mostra que é trabalhando que os homens e as mulheres transformam o mundo e transformando o mundo se transformam também.

O trabalho criador dos seres humanos é cultura. O trabalho que transforma nem sempre dignifica os homens e mulheres. Só o trabalho com o qual estamos contribuindo para a criação de uma sociedade justa, sem exploradores nem explorados e que nos dignifica. A luta pela libertação é uma luta pela liberdade na educação. A independência resultou da luta dura e difícil da quais todos participaram como povos oprimidos buscando a libertação. Cada um desses povos travou uma luta que pode lutar e que a soma das lutas derrotou os colonialistas. Estas lutas contra o sistema de exploração colonialista, contra o imperialismo, contra todas as formas de exploração. A reconstrução nacional é a continuação desta luta para a criação de uma sociedade mais justa. A reconstrução nacional significa a criação de uma sociedade nova, uma sociedade de trabalhadores e trabalhadoras, sem explorados nem exploradores.

O surgimento da sociedade 6 nova não resulta num ato mecânico, não aparece por decreto ou automaticamente, e o parto que é um processo é sempre mais difícil e complexo do que simples e fácil. Esta luta pela libertação tende fazer uma nova perspectiva de uma sociedade nova. Mas é necessário também trabalhar, transformar a sociedade velha que ainda tem. E ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Estudar para servir o povo não é só um direito, mas também um dever revolucionário. Há uma diferença entre trabalho manual e trabalho intelectual. Trabalham porque faz muito mais do que cavalos

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que puxam o arado a serviço do homem. Trabalham porque se tornam capazes de prever, de programar, de dar finalidades ao próprio trabalho. No trabalho o ser humano usa o corpo inteiro. Usa as suas mãos e a sua capacidade de pensar. O corpo humano é um corpo consciente.

Por isso, está errado separa o que se chama trabalho manual do que se chama trabalho intelectual. Existe uma prática que nos ensina. Não podemos duvidar de que a nossa prática nos ensina. E que conhecemos muitas coisas por causa de nossa prática. Desde muito pequenos aprendemos a entender o mundo que nos rodeia. Mesmo antes de aprender a ler e escrever palavras e frases, estamos “lendo”, bom o mal, o mundo que nos cerca. Mas este conhecimento que ganhamos de nossa prática não basta. E é preciso ir além dele, conhecer melhor as coisas que já conhecemos e conhecer outras que ainda não conhecemos. Existe ainda um processo produtivo onde os seres humanos, com seu trabalho, transformam as matérias brutas, fazendo com elas matérias primas.

Ambas as matérias se chamam objetos de trabalho. Para transformar a matéria bruta em matéria prima e para produzir algo com a matéria prima, precisamos de instrumentos. De maquinas, de ferramentas e de transporte. São chamados de meios de trabalho. O conjunto de matérias e os meios se chamam de produção. Os meios de produção e os trabalhadores constituem o que se chama forças produtivas de uma sociedade. A produção resulta da combinação entre os meios de produção e a força de trabalho. A reconstrução nacional se dá em uma sociedade em que as relações sociais de produção já não são de exploração, mais de igualdade e colaboração entre todos. Encontramos ainda uma analise da ação de transformar. Reorganizar a sociedade velha para transformá-la para criar a nova sociedade não é fácil. A nova sociedade vai surgindo com as transformações profundas que a velha sociedade vai sofrendo. Todos os povos têm culturas, tradições e costumes que transformam o mundo e ao transformá-lo também se transformam.

Cultura são os instrumentos que o povo usa para produzir e é a forma como o povo entende e expressa o seu mundo e como o povo se compreende nas suas relações com o seu mundo. Há uma defesa desta cultura. A nova cultura que será criada aproveitará os aspectos positivos das tradições, banindo todos os aspectos negativos da mesma. Estará aberta à cultura de todos os outros povos, mas preservando sempre o seu cunho nacional. A reconstrução nacional exige uma participação consciente e isso, em qualquer nível da reconstrução nacional, exige ação e pensamento. Exige na prática e teoria sempre em unidade. Pensar certo é descobrir a razão de ser dos fatos e aprofundar os conhecimentos que a prática nos dá não é privilégio de alguns mais um direito que o povo tem, numa sociedade revolucionária. A avaliação do ensino, leitura, escrita não será possível sem a análise de avaliação da prática. Avaliar a prática é analisar o que se faz, comparando os resultados obtidos com as finalidades que se procura ao querer alcançar com a prática.

Conclusão

Concluímos com a leitura desse livro, nós acadêmicos de Pedagogia que para melhorarmos nossa prática devemos começar a avaliar que, a importância do ato de ler, não está na compreensão de que ler é devorar de bibliografias, sem realmente serem lidas ou estudadas. Devemos ler sempre e seriamente livros que nos interessem, que

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favoreçam a mudança da nossa prática, procurando nos adentrarmos nos textos, criando aos poucos uma disciplina intelectual que nos levará enquanto professores e estudantes não somente fazermos uma leitura do mundo, mas escrevê-lo o reescrevê-lo, ou seja, transformá-lo através de nossa prática consciente.

Sabemos que, se mudarmos nossa disciplina sobre o ato de ler, teremos condições de formar as nossas bibliotecas populares, nos previlegiando de um rico vocabulário e incentivando os grupos populares a escrever seus textos desde o início da alfabetização.Universidade Estadual De Goiás – Câmpus Inhumas