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POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO CENTRO DE APERFEIÇOAMENTO E ESTUDOS SUPERIORES CURSO DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS – I/02 A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE NA IMPLEMENTAÇÃO DO POLICIAMENTO COMUNITÁRIO: PROPOSTA DE MOBILIZAÇÃO E VOLUNTARIADO NO ÂMBITO DA CIA OPERACIONAL AUTOR:

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POLCIA MILITAR DO ESTADO DE SO PAULO

POLCIA MILITAR DO ESTADO DE SO PAULO

CENTRO DE APERFEIOAMENTO E ESTUDOS SUPERIORES

CURSO DE APERFEIOAMENTO DE OFICIAIS I/02

A IMPORTNCIA DA PARTICIPAO DA COMUNIDADE NA IMPLEMENTAO DO POLICIAMENTO COMUNITRIO: PROPOSTA DE MOBILIZAO E VOLUNTARIADO NO MBITO DA CIA OPERACIONAL

AUTOR:CAP PM ALEXANDRE MARCONDES TERRA

SO PAULO1

2002POLCIA MILITAR DO ESTADO DE SO PAULO

CENTRO DE APERFEIOAMENTO E ESTUDOS SUPERIORES

CURSO DE APERFEIOAMENTO DE OFICIAIS I/02

A IMPORTNCIA DA PARTICIPAO DA COMUNIDADE NA IMPLEMENTAO DO POLICIAMENTO COMUNITRIO: PROPOSTA DE MOBILIZAO E VOLUNTARIADO NO MBITO DA CIA OPERACIONAL

Monografia apresentada ao Centro de Aperfeioamento e Estudos Superiores como exigncia curricular para concluso do Curso de Aperfeioamento de Oficiais I/2002, sob orientao do Major PM VANDERLEI FRANCISCO ROHRER.

SO PAULO74

2002

Dedicatria

A Deus meu Senhor e Salvador, Jesus Cristo, e minha querida esposa, Ilka Terra, pelo excepcional apoio e dedicao, proporcionando-me fora para lutar at o fim.Aos meus filhos Filipe, William e Ana pelo apoio e compreenso demonstrada em razo de meu afastamento do convvio familiar.

Agradecimentos

A Jesus, Senhor e Salvador da minha vida, pela vida eterna, esperana bendita do cristo.

Ao Cap PM Wellington, meu amigo e companheiro de Turma, pelo material de pesquisa, incentivo e idias interessantes.

Ao meu amigo e orientador, Maj PM Vanderlei Francisco Roher, pelo incentivo execuo deste trabalho.

A casal Cap PM Enas e Helena, meus irmos em Cristo, pela valiosa contribuio na formatao deste trabalho monogrfico.

Ao Cap PM Jefferson pelo maravilhoso apoio, idias e sugestes inseridas nesta monografia.

A Cap Fem PM Adriana, minha amiga, pelo apoio e material fornecido do DPCDH.

Aos Diretores da APMESP pelo apoio, orao e cooperao no desenvolvimento de minha monografia.

Aos amigos da 5 EM/PM, Oficiais e Praas, pelo apoio e materiais fornecidos.

Ao Cel Res PM Camargo pelo apoio na pesquisa de minha monografia.

Ao Major PM Mrcio Matheus, pela amizade e apoio nas pesquisas bibliogrficas.

Quem participa da vida de uma comunidade, de uma cidade, estado ou pas, torna-se sujeito de suas aes, sendo capaz de fazer crticas, de escolher, de defender seus direitos e de cumprir melhor os seus deveres.

Centro de Integrao de Cidadania.

LISTA DE GRFICOS

Figura 1 Obstculos para a comunidade participar Cmt Cia37Figura 2 Obstculos para a comunidade participar CONSEG39Figura 3 Metas de Trabalho Impostas66Figura 4 Metas Prprias de Trabalho66Figura 5 Projetos de mobilizao68Figura 6 Meios de comunicao69Figura 6 Conhecimento sobre Mobilizao70Figura 7 Segmentos estratgicos Cmt Cia71Figura 8 Segmentos estratgicos Pres. CONSEG72Figura 9 Atividades de Voluntariado94Figura 10 Trabalho Voluntrio nas Cias95Figura 11 - Coordenador de Voluntrios - Descritivo de Funo99Figura 12 - ATENDENTE - Exemplo de Descritivo de Funo100 Figura 13 e 14 - Clubinho de Frias de Cubato .................................................125

SUMRIORESUMO8INTRODUO101 PARTICIPAO DA COMUNIDADE151.1 COMPREENSO DE COMUNIDADE151.2 DEFINIO DE PARTICIPAO171.3 A IMPORTNCIA DA PARTICIPAO COMO EXERCCIO DA CIDADANIA191.4 NVEIS DE PARTICIPAO201.5 TIPOS DE PARTICIPAO211.5.1 Participao Standart211.5.2 Participao Independente221.5.3 Participao Vinculada221.6 BENEFCIOS DA PARTICIPAO231.8 PRINCPIOS PARA UMA PRTICA DEMOCRTICA DE PARTICIPAO COMUNITRIA252 POLICIAMENTO COMUNITRIO272.1 CONCEITO E PRINCPIOS272.2 HISTRICO E EVOLUO292.3 CONSELHO COMUNITRIO DE SEGURANA (CONSEG)332.4 PLANO PLURIANUAL (2000-2003)342.5 PRINCIPAIS DESAFIOS362.5.1 Junto aos Cmt de Cia372.5.2 Pesquisa junto aos Presidentes de Conseg393 MOBILIZAO COMUNITRIA413.1 DEFINIO413.2 QUATRO DIMENSES BSICAS DO PROCESSO DE MOBILIZAO433.2.1 O imaginrio433.2.2 O campo de atuao443.2.3 Coletivizao463.2.4 Acompanhamento de resultados473.2.5 Atores do processo: produtor, reeditor e editor483.3 A COMUNICAO NO PROCESSO DE MOBILIZAO513.3.1 Pblicos estratgicos523.3.2 Segmentao533.3.3 Importnica e benefcios da coletivizao543.3.4 Modelos de comunicao563.3.5 A comunicao entre os atores do processo de mobilizao583.3.6 Como se desenvolve um processo de mobilizao603.3.7 Como dar incio ao processo de mobilizao comunitria623.3.8 Pesquisa sobre mobilizao com Comandantes de Cia653.3.9 Pesquisa com Presidentes de CONSEG724 O TERCEIRO SETOR734.1 DEFINIO DE TERCEIRO SETOR734.2 AS ENTIDADES RELIGIOSAS754.3 O TERCEIRO SETOR NO BRASIL774.4 A NOVA LEI DO TERCEIRO SETOR E PARCERIAS785 O VOLUNTARIADO815.2 DEFINIES DE TRABALHO VOLUNTRIO825.3 SERVIO VOLUNTRIO NA POLCIA MILITAR835.4 BENEFICIOS DO TRABALHO VOLUNTRIO845.4 MOTIVAES DO VOLUNTRIO865.6 PR- REQUISITOS PARA IMPLEMENTAO DO VOLUNTARIADO NA CIA PM.885.6.1 Adequao ao embasamento legal895.6.2 Sensibilizar e envolver a liderana da cia pm915.7 IDENTIFICANDO AS POSSIBILIDADES DE TRABALHO VOLUNTRIO NA CIA PM925.8 ESTUDOS DE CASO 1 E 2 1016 AS PROPOSTAS107CONCLUSO111BIBLIOGRAFIA115APNDICES121APNDICE 1 ESTUDOS DE CASO 1 E 2 - COMPLEMENTO122APNDICE 2 ENTREVISTA VOLUNTRIO130APNDICE 3 QUESTIONRIO CMT CIA132APNDICE 4 QUESTIONRIO PRES CONSEG..............................................136 APNDICE 5 - COMISSO ESTADUAL DE POLCIA COMUNITRIA138APNDICE 6 MODELO DE TERMO DE ADESO139 APNDICE 7- MODELO DE COMUNICAO POR J. C. CARAMILO ........... ..141APNDICE 8- MODELO DE COMUNICAO -MACRO............................. ........143APNDICE 9 - MODELO DE COMUNICAO- MBITO DE CIA.............. .......145APNDICE 11 - MODELO DE COMUNICAO - BASE COMUNITRIA...........147APNDICE 12 - EXEMPLO DE FOLDER - COMUNIDADE EVANGLICA....... .149APNDICE 13 -EXEMPLO DE FOLDER - COMUNIDADE DA LAPA ................151APNDICE 14- BOLETINS INFORMATIVOS POLCOMUNITRIO.................... 153

ANEXOS158ANEXO 1 LEI DO SERVIO VOLUNTRIO159ANEXO 2 LEI ESTADUAL DO SERVIO VOLUNTRIO161ANEXO 3 LEI DAS ORGANIZAES DA SOCIEDADE CIVIL DE INTERESSE PBLICO163GLOSSRIO171

RESUMOEste trabalho aponta a importncia da participao da comunidade na implementao do policiamento comunitrio com foco na companhia operacional de policiamento ostensivo. Serve como apoio ao comandante de companhia, para que ele possa estimular, estrategicamente, a participao voluntria da sua comunidade, atravs de metodologia de mobilizao social, abrindo caminho para o voluntariado de civis em apoio administrao da Cia e ao policiamento comunitrio em sua rea de atribuio, despertando nas pessoas a importncia do exerccio da cidadania e da solidariedade.O trabalho discorre sobre a importncia do desenvolvimento da mobilizao comunitria de incentivo participao do cidado nas questes de segurana pblica, apresentando proposta de metodologia de desenvolvimento e algumas possibilidades de voluntariado na companhia operacional, tanto no apoio administrativo, como na atividade operacional e tambm junto aos programas sociais. O estudo deixa claro que a sustentabilidade (continuidade, qualidade e auto-suficincia) do policiamento comunitrio est diretamente vinculada ao nvel e qualidade de participao da comunidade local.As pesquisas que subsidiaram este trabalho foram realizadas em Comandantes de Companhia, presidentes de Conselho Comunitrio de Segurana (CONSEG), policiais militares do policiamento ostensivo e em civis voluntrios, as quais terminaram indicando a necessidade de tratar o desenvolvimento do policiamento comunitrio com metodologia de mobilizao comunitria, ressaltando a importncia da comunicao e possibilidades do voluntariado na Cia Operacional, indicando reas e atividades. Ao final, apresenta propostas que se destinam a otimizar a participao do cidado voluntrio.

INTRODUONa atual conjuntura poltica e scio-econmica do Brasil TORO[footnoteRef:2] declara que h trs grandes desafios a serem enfrentados: [2: TORO, Jos Bernardo; WERNECK, Nisia Maria Duarte. Mobilizao Social: Um Modo de Construir a Democracia e a Participao. Braslia: Ministrio da Justia, 1997, p. 9.]

1)Insero competitiva do Brasil em uma economia globalizada.2) Erradicao das desigualdades sociais intolerveis.3) Criao e desenvolvimento de uma ordem de convivncia democrtica, que aumente os nveis de participao da populao.[gn]A participao cidad muitas vezes tem se limitado responsabilidade de ser informado sobre as questes pblicas, ao voto nos representantes para cargos eletivos e ao cumprimento das normais legais.A Constituio Federal de 1988 e as leis complementares garantem a todos os cidados a possibilidade de participarem diretamente das decises importantes de sua comunidade, cidade, estado e do pas.No campo da segurana pblica, a prpria Constituio Federal estabelece em seu art 144 que este tema dever do Estado, mas tambm responsabilidade de cada cidado.A participao efetiva das pessoas nos processos de deciso e controle das polticas pblicas fundamental na construo da democracia. Faz-se necessrio, cada vez mais, a criao de mecanismos de envolvimento do cidado e dos setores organizados da sociedade civil, rompendo de vez com a cultura do centralismo, da indiferena das pessoas e subalternidade das classes empobrecidas.O ano de 2001 foi considerado o Ano Internacional do Voluntariado. Cerca de 123 pases do mundo engajaram-se nessa campanha instituda pela ONU, cujo objetivo foi o de difundir e incentivar o voluntariado.As pesquisas comprovaram, como nunca antes, que h um enorme potencial de voluntrios no Brasil que gostariam de participar, mas ainda no sabem como. Fica evidente o afloramento do sentimento de solidariedade e de cidadania no povo brasileiro. O momento oportuno para a Polcia Militar sair na vanguarda, instituindo um programa de voluntariado, em especial para atuar junto s companhias operacionais.O estudo desta monografia repousa em identificar o grau de importncia da participao da comunidade para o sucesso do policiamento comunitrio, apresentar metodologia e estratgias de mobilizao social voltada para a participao cidad nas questes de segurana pblica, ressaltando a importncia da comunicao social, bem como as possibilidades de voluntariado no mbito de uma companhia operacional de policiamento ostensivo.Ainda no h uma cultura participativa nas questes de segurana pblica. necessrio focar todo o trabalho da Polcia para este alvo. Hoje quando um cidado comum ou lder comunitrio se apresenta Polcia e diz: - Eu sou voluntrio e gostaria de saber o que posso fazer para ajudar a Polcia e a minha comunidade na preveno da criminalidade? Quando muito, esse cidado recebe dicas de segurana para a preveno individual e da famlia e orientao para comparecer em reunio do Conselho Comunitrio de Segurana do seu bairro, e nada mais.Numa poca de tanta escassez de recursos de todas as ordens, em especial de efetivo policial, a Polcia no pode fechar os olhos para este enorme potencial desperdiado de voluntrios que poderiam estar ampliando e melhorando a qualidade dos servios prestados pela Corporao, em especial, das atividades desenvolvidas pela Cia Operacional de policiamento ostensivo, onde efetivamente se vive a hora da verdade.O trabalho tem sua delimitao no sentimento de solidariedade existente em cada cidado, na necessidade de participao da comunidade nos problemas afetos a Segurana Pblica, como imperativo da democracia moderna em gerar a co-responsabilidade e na necessidade do comandante de Cia de conhecer estratgias e tcnicas para desenvolver a mobilizao social para esse imaginrio comum e identificar possibilidades de voluntariado.A hiptese estudada busca desenvolver uma forma de aproveitamento do potencial voluntrio da comunidade pelo Comandante de uma Companhia (Cia PM), munindo-o com estratgias e tcnicas de processo de mobilizao comunitria para esse fim. Outra questo que deve ser colocada que no h metas de trabalho institucionalizadas para todas as Cias operacionais relacionadas ao tema participao voluntria e mobilizao comunitria. H apenas as metas da Coordenadoria de Anlise e Planejamento da Secretaria de Segurana Pblica relativas incidncia criminal de alguns delitos considerados prioritrios. necessrio que o Comandante de Companhia tenha metas de sustentabilidade para o policiamento comunitrio, metas para conquistar e envolver novas pessoas e voluntrios para a preveno criminal, divulgar resultados e a implementao do policiamento comunitrio em sua rea de atribuio.Outra pergunta a ser feita como o Comandante de Cia pode desenvolver um processo de mobilizao comunitria sustentvel, ou seja, que tenha suporte de segmentos estratgicos multiplicando os valores e prticas do policiamento comunitrio a outros cidados? Dentro dessa sistemtica que este trabalho ser desenvolvido.O trabalho encontra justificativa na prpria doutrina de Policiamento Comunitrio[footnoteRef:3], assim definida: [3: TROJANOWICZ, Robert; BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitrio: como comear. So Paulo: Parma, 1999, p. 4 e 5. ]

Policiamento Comunitrio uma filosofia e uma estratgia organizacional que proporciona uma nova parceria entre a populao e a polcia. Baseia-se na premissa de que tanto a polcia quanto a comunidade devam trabalhar juntas para identificar, priorizar e resolver problemas contemporneos tais como crime, drogas, medo do crime, desordens fsicas e morais e em geral a decadncia do bairro, com o objetivo de melhorar a qualidade geral da vida na rea.Com certeza o trabalho voluntrio melhora a qualidade de vida da comunidade.Metodologicamente o trabalho foi desenvolvido atravs de pesquisas bibliogrficas, aplicao de questionrios nos comandantes de Cia, presidentes de CONSEG e voluntrios. Os captulos que compem a estrutura deste trabalho foram divididos em cinco partes. A primeira busca comentar os aspectos e nveis de participao da comunidade. A Segunda, a evoluo do policiamento comunitrio com foco na participao da comunidade. A terceira mostra a metodologia e as estratgias para o desenvolvimento de processo de mobilizao comunitria voltada para a segurana pblica. A quarta mostra um panorama do terceiro setor e a derradeira apresenta algumas possibilidades de voluntariado na Cia Operacional.

1 PARTICIPAO DA COMUNIDADEParticipar exige co-responsabilidade, cooperao e ao conjunta e criativa entre o Estado e a sociedade civil. Centro de Integrao da Cidadania1.1 COMPREENSO DE COMUNIDADEComunidade pode ter significado distinto para as pessoas. Quando se fala em participao da comunidade importante delimitar a compreenso do termo.Trojanowicz e Bucqueroux[footnoteRef:4] declaram a importncia do entendimento do termo comunidade: [4: Op. cit. p. 45.]

A compreenso da dinmica que ocorre na comunidade essencial para a preveno e o controle do crime e da desordem, assim com o medo do crime.Existe agora uma diferena bastante acentuada entre a comunidade geogrfica e a comunidade de interesse conceitos que facilmente se confundiam no passado, quando ambas as comunidades se misturavam para abranger a mesma populao. Este fato extremamente relevante para o uso de comunidade no policiamento comunitrio porque o crime, a desordem, e o medo do crime podem criar uma comunidade de interesse dentro de uma comunidade geogrfica. Incentivar e enfatizar esta comunidade de interesse dentro de uma rea geogrfica pode contribuir para que os residentes trabalhem juntamente com o policial comunitrio para criar um sentimento positivo de comunidade. Assim, o uso da palavra comunidade em policiamento comunitrio pode referir-se muitas vezes a entidades superpostas. a comunidade de interesse gerada pelo crime, a desordem e o medo do crime, que permite aos policiais comunitrios uma entrada na comunidade geogrfica.As revolues tecnolgicas do sculo vinte, em especial a do transporte de massa, comunicaes e informtica e as mudanas polticas e econmicas trouxeram uma exploso nos ndices criminais e contriburam muito para o distanciamento das pessoas e a perda da identidade territorial.Isso tudo essencial para entender que a filosofia do policiamento comunitrio, no seu propsito maior, inclui a idia de que esta nova parceria entre a polcia e a comunidade pode ser o catalisador no ressurgimento do sentimento tradicional de comunidade que no passado provou ser to efetivo, obtendo resultados positivos na preveno da criminalidade.Trojanowicz e Bucqueroux[footnoteRef:5] faz um alerta para a importncia do resgate do sentimento de comunidade como objetivo prioritrio e a arma mais importante no combate a criminalidade. [5: Idem, p. 89.]

Talvez por termos falhado em estudar e entender quais foram as maneiras pelas quais as comunidades mudaram, essa idia de tanta importncia como o sentimento de comunidade ( que bem poderia ser a arma mais importante no combate ao crime) tem-se perdido freqentemente,...Indo de volta s origens e estimulando a comunicao entre a polcia e as comunidades nos processos que permitem aos moradores reconstruir o sentimento tradicional de orgulho da vida comunitria, o movimento do policiamento comunitrio trar consigo a melhoria da qualidade de vida nas nossas cidades.1.2 DEFINIO DE PARTICIPAODefinido o sujeito da ao a comunidade essencial a definio da abrangncia da ao de participar.Aguiar[footnoteRef:6] traz os seguintes esclarecimentos: [6: AGUIAR,Domingos Fernandes de.Imagem da Polcia Militar: propostas de melhoria. SP: PMESP, CAES, monografia, 2001, p. 87.]

Como conceito terico, abrange todas as formas de substituio do centralismo ou concentrao de poderes de uma sociedade pela cooperao maior, ou melhor, dos setores interessados.Como prtica social, se manifesta nas diferentes modalidades de interveno da populao e de seus mltiplos setores na direo da vida social.Representa um processo de interveno de setores interessados da populao, que passam da posio de expectadores passivos de participantes ativos do respectivo processo social.Em sentido amplo, a expresso participao social, abrange a atuao organizada e responsvel dos mltiplos setores da sociedade na soluo de problemas coletivos e na promoo do bem comum. Aguiar[footnoteRef:7] tambm acrescenta: [7: Idem, p. 89.]

O conceito de participao liga-se prpria essncia da relao social do indivduo e Estado ou, mais amplamente, entre pessoa e sociedade, mais acentuada pelas exigncias da modernidade, quais sejam:Exigncia de ordem sociolgica e histrica - O homem contemporneo comea a tomar conscincia de que no apenas expectador passivo da histria, mas seu agente. o que se denomina de conscincia da histria.Exigncia da prpria natureza da pessoa humana Que o homem encontra a possibilidade de atuar com responsabilidade social e aperfeioar o prprio ser. Ser feliz no apenas viver confortavelmente mas, sobretudo, dar um sentido e valor quilo que fazemos.Exigncia Constitucional O dever de participar decorre do prprio conceito de cidadania, um dos fundamentos da Repblica Federativa do Brasil (art 1 CF/88), ou seja: Direito aos direitos, decorrentes das responsabilidades dos deveres.Outras formas de participao constam da CF/88 que consagra o princpio de que o regime poltico brasileiro no apenas representativo (representantes eleitos), mas tambm participativo (diretamente).A participao uma necessidade cultural, porm fruto da maturidade de cada pessoa. O compromisso precisa ser assumido conscientemente, com plena compreenso das responsabilidades por parte do cidado voluntrio e dos princpios ticos. A sim haver, de fato, participao efetiva, e no meras declaraes de participao comunitria, bastante comum hoje em dia, mas infelizmente, em geral, irreais.O manual de gerenciamento de Voluntrios do Centro de Voluntariado de So Paulo[footnoteRef:8] acrescenta os seguintes comentrios: [8: PLANEJAMENTO E GERENCIAMENTO DE PROGRAMAS DE VOLUNTRIOS.Programa Voluntrios. Comunidade Solidria. Governo Federal, 1999]

PARTICIPAO, portanto, pode significar:a)fazer parte, no sentido de pertencer, ser integrante;b)ter parte, isto , desempenhar ou responder por uma parcela das aes;c)tomar parte, entendido como exercer influncia, Ter voto, decidir;Esses estgios tem relao com o grau de envolvimento dos participantes numa ao voluntria .Alm disso, ao falar de participao preciso diferenciar entre ao individual e ao coletiva. Nesta ltima, a ao simultnea de vrias pessoas implica em influncia mtua. Por isso, para haver participao necessita-se de organizao e orientao a partir de decises coletivas.1.3 A IMPORTNCIA DA PARTICIPAO COMO EXERCCIO DA CIDADANIAA importncia da participao da comunidade no policiamento comunitrio, quando analisada luz do voluntariado moderno, revela-se com atributos extremamente relevantes, uma vez que a fora motivadora da participao encontra fundamento no esprito de solidariedade e no exerccio da cidadania.O Guia da Cidadania e Comunidade[footnoteRef:9] traz as seguintes consideraes: [9: Secretaria da Justia do Estado de So Paulo. Guia Cidadania e Comunidade. SP: CIC, 1998, p.74.]

A participao das pessoas ao mesmo tempo mtodo e produto da educao para a cidadania.Como mtodo, a participao supe o resgate de experincias j vividas e a criao de novas formas de atuao social, partindo sempre do pressuposto de que todos os indivduos, do analfabeto ao ps-graduado, do trabalhador ao empresrio, podem e devem falar de si prprios, de sua histria, do seu presente e de suas lutas, manifestando expectativas pessoais e coletivas.Como produto, significa que a participao em si mesma educativa, pois estimula as pessoas a criarem, no espao coletivo, uma cultura de cidadania.Quem participa da vida de uma comunidade, de uma cidade, estado ou pas, torna-se sujeito de suas aes, sendo capaz de fazer crticas, de escolher, de defender seus direitos e de cumprir melhor os seus deveres.[gn]O exerccio da participao um dos principais instrumentos na formao de uma atitude democrtica. Quanto mais consciente de sua condio de cidado participativo, mais o indivduo se torna apto a encontrar solues para os seus problemas e os de sua comunidade. Apenas um indivduo participativo, no pleno exerccio de sua cidadania, consegue compreender o que se passa a sua volta, exigindo a efetiva concretizao de todos os seus direitos previstos em lei.A participao , nesse sentido, um caminho de respeito dignidade. Mas ela nunca deve ocorrer em uma relao unidirecional. A participao requer um comportamento de valorizao do dilogo; exige presena fsica, respeito s idias alheias, espao para descentralizao das decises, oportunidade de acesso s informaes e, acima de tudo, capacidade de julgamento da realidade. Tudo isso leva o indivduo obrigatoriamente co-responsabilidade. 1.4 NVEIS DE PARTICIPAOTratado o tema da importncia da participao necessrio falar dos vrios nveis em que ela ocorre, at para que se possa avaliar a situao atual e vislumbrar as possibilidades e incentivos necessrios para sua ampliao na rea do policiamento comunitrio.Genericamente, Aguiar[footnoteRef:10] identifica diversos nveis em que se d a participao: [10: Idem, p. 88.]

a. participao na informao o direito que tem a sociedade de ser informada e, conseqentemente, a obrigao que tem o Governo de informar; o dever da transparncia nas atividades da administrao e na aplicao de recursos pblicos;b. participao na fiscalizao ou controle da gesto em organismos governamentais ou no governamentais;c. participao no levantamento de problemas e solues na indicao das prioridades oramentrias e reivindicaes perante os rgos competentes;d. participao nas decises atravs de conselhos de administrao, referendo popular, plebiscito e outros.e. participao na execuo de servios.Nas atividades de policiamento comunitrio, tambm possvel alcanar todos estes nveis de participao da comunidade, desde que o governo e a Polcia tenham interesse e haja organizao comunitria, treinamento e difuso das possibilidades ao cidado comum. No recomendvel limitar a participao das pessoas apenas como freqentadoras de reunies de Conselho Comunitrio de Segurana (CONSEG) ou numa posio subjugada por falta de informao, pois o que se pretende despertar uma participao eficaz e co-responsvel na produo da segurana pblica.1.5 TIPOS DE PARTICIPAOAo falar da participao da comunidade no policiamento comunitrio necessrio ter uma viso clara dos tipos em que ela pode ocorrer.Apresenta-se abaixo um modelo de classificao de tipos de participao comunitria.1.5.1 Participao Standart a participao bsica do cidado comum, quando ele segue regras de segurana pessoal ou de mbito familiar. Esse tipo de participao individual e precisa ser estimulada pela Polcia, constantemente, de forma massiva e tambm segmentada, em grupos de maior risco.1.5.2 Participao Independente a participao de iniciativa individual ou do grupo de afinidade do cidado sem nenhuma vinculao direta com a Polcia. Movidas pelo sentimento de comunidade e cidadania as pessoas buscam aes de preveno primria da criminalidade e segurana da vizinhana, visando melhoria da qualidade de vida da rea. Cabe ressaltar que normalmente a participao do cidado incentivada e realizada por meio de organizaes ou grupos nos quais tenham vnculos de solidariedade ou representatividade. Nesse tipo de participao a Polcia deve funcionar como orientadora e incentivadora de aes organizadas, no interferindo nas decises do grupo.1.5.3 Participao Vinculada a participao de iniciativa individual ou do grupo de afinidade do cidado com vinculao direta a Polcia, ou seja, sob sua orientao ou coordenao. uma participao mais prxima da Polcia em que o voluntrio presta apoio direto s atividades desenvolvidas pela Polcia na rea administrativa, rea operacional ou junto aos programas sociais. Esta participao pauta-se pela filosofia de polcia comunitria de uma nova parceria entre a polcia e a comunidade. Exemplos: Blitz Solidria, Parcerias de apoio ao Programa Educacional de Resistncia as Drogas etc.Em cada tipo de participao existem vrias formas de envolvimento das pessoas.Trojanowicz e Bucqueroux[footnoteRef:11] ressaltam o seguinte: [11: Op. cit. p. 67.]

Existem muitos tipos diferentes de contribuies que as pessoas podem dar, desde ser um lder que organize associaes de bairro, at ficar em casa colocando endereos nos envelopes para uma correspondncia da comunidade, ou oferecer ajuda direta a projetos.1.6 BENEFCIOS DA PARTICIPAOOs benefcios alcanados pela participao do cidado, de uma forma geral, atingem o campo individual como o coletivo, em especial quando a rea de atuao o policiamento comunitrio.Aguiar[footnoteRef:12] apresenta os seguintes pontos: [12: Op. cit. p. 90.]

a. As decises e os programas so enriquecidos pelo conhecimento e a experincia de muitas pessoas.b. Tm, por isso, maior probabilidade de corresponder s necessidades reais e serem eficientes.c. As pessoas que cooperam na elaborao ou nas decises tornam-se mais interessadas e envolvidas na sua execuo, no precisam ser convencidas;d.Quando se substitui a passividade ou indiferena pela participao, d-se aos interessados a oportunidade de aplicar seus conhecimentos e aperfeioar sua competncia;e. Em suma, a participao serve melhor ao bem comum e assegura a promoo humana.Portanto, quando realizada sob o fundamento do amor ao prximo e da conscincia cidad, a participao um timo remdio ao conformismo, indiferena, ao esprito de dependncia e massificao.

1.7 LIMITES DA PARTICIPAO

Convm ter muito claro que a almejada participao comunitria, para sua plena e eficiente concretizao, pressupe a considerao de alguns limites.Aguiar[footnoteRef:13] apresenta os seguintes aspectos gerais: [13: Idem, p. 103.]

Natureza das questes abrangidas No caso especfico do nosso mister, bem-estar social = bem comum, relacionado com segurana e a ameaa ou violncia, por si j traz intrnseco alto grau de relevncia e interesse a todos quanto vivam nos centros urbanos.Custo da Participao Lembrada a mxima da Solidariedade; ningum to pobre que no possa dar ou rico que no precise receber; qualquer custo perfeitamente suportvel, na medida das possibilidades de cada um.A carga, o peso, o nus deve ser compatibilizado aos recursos (conhecimentos, habilidades, bens) de cada parceiro.Representatividade das Lideranas da ComunidadeO efeito multiplicador do processo de participao est diretamente vinculado respeitabilidade dos participantes ao pleitear, sugerir, propor, comprometer-se, assumir e envolver-se.A relevncia dos assuntos tratados e amplitude das solues encontradas tero significado na medida que possam difundir os benefcios pelo maior universo possvel.Estabilidade de CondutaDesde a articulao, observamos como objetivo estabelecer relaes estveis e seguras.A busca do bem comum, como corolrio mximo da participao, j traz o significado de equilbrio, harmonia, satisfao plena.As atitudes, postura e procedimentos dos participantes devem pautar-se por uma conduta estvel que concorram para alcanar tais propostas.

Credibilidade condio indispensvel para que haja convergncia e unio de esforos.A solidariedade pressupe reciprocidade, j obtida num ambiente de absoluta confiana, reflexo direto da total credibilidade das partes envolvidas.Esses limites so bastante enfticos e precisam ser considerados no mbito interno da Cia e no relacionamento com a comunidade. Analisando-os luz do policiamento comunitrio, verifica-se que h tambm outro limitador muito expressivo que a falta de cultura participativa do povo brasileiro nas questes pblicas, como ficou evidenciado na pesquisa que ser objeto de comentrio posteriormente. 1.8 PRINCPIOS PARA UMA PRTICA DEMOCRTICA DE PARTICIPAO COMUNITRIAO exerccio da participao comunitria deve estar pautado por princpios ticos e de convivncia democrtica.A Secretaria da Justia[footnoteRef:14] apresenta os seguintes princpios da participao no j citado Guia de Cidadania: [14: Op. cit. p. 37.]

- De que o pluralismo, a cooperao, a solidariedade, a justia social e a motivao so as chaves para quem quer iniciar e continuar um trabalho com xito.- De que os problemas que identificamos no so s nossos (localizados), pontuais ou individuais, mas que so resultantes de processos histricos, sociais, culturais, econmicos e polticos.- De que a Democracia Econmica, Cultural e Poltica _ o mtodo e o contedo na relao entre as pessoas, e destas com a sociedade.- De que se deve sempre trabalhar a partir de fatos concretos, buscando resultados a curto, mdio e longo prazos, superando as posturas unicamente reivindicatrias.- De que a sociedade deve ser re-significada, resgatando valores morais e ticos nas relaes sociais.- De que a identidade cultural de cada pessoa deve ser preservada atravs do processo de resgate da histria de vida de cada cidado.- De que o significado da violncia, da misria, do abandono, da excluso dever ser substitudo pela esperana, pela crena no futuro e na organizao, na busca de solues conjuntas e cooperativas.Toro[footnoteRef:15] tambm aponta os seguintes princpios: [15: Op. cit. p. 89.]

- Aprender a no agredir ao outro:Entre os mamferos superiores, o Homem uma das poucas espcies que ataca e destri seus congneres: conhece a tortura e capaz de matar outros de sua prpria espcie. Isto o diferencia da maioria dos animais que esto geneticamente inibidos para matar outro animal de sua prpria espcie. Por isso o ser humano deve ser ensinado a no agredir, nem fsica, nem psicologicamente, a outro ser humano.- Aprender a valorizar a vida do outro como minha prpria vida.- Aprender a valorizar a diferena como uma vantagem que me permite ver e compartilhar outros modos de pensar, sentir e atuar.- Aprender a conhecer a defender e a cuidar do espao pblico das cidades e do campo como os lugares onde ns homens nos encontramos e nos expressamos como seres no mundo.Esses princpios precisam ser ensinados e reforados constantemente no programa de treinamento dos policiais e da comunidade para que haja uma convivncia harmnica nos relacionamentos, gerando sustentao para continuidade e maior abrangncia do policiamento comunitrio.

2 POLICIAMENTO COMUNITRIOUma sociedade somente ser de fato cidad se seus participantes forem atuantes na rea social.Stephen Kanitz2.1 CONCEITO E PRINCPIOSTrojanowicz destaca o conceito de policiamento comunitrio como sendo o primeiro grande desafio para sua implementao, visto que o sucesso ou o fracasso definitivo do policiamento comunitrio repousa em um consenso a ser alcanado a respeito do que significa o conceito de policiamento comunitrio.[footnoteRef:16] [16: Op. cit. p. 02.]

Apesar de todo esforo do Comando da Polcia Militar em difundir a filosofia do policiamento comunitrio desde 1997, sabe-se que ainda no existe um consenso entre os policiais militares a respeito do conceito de policiamento comunitrio, levando muitos a pensar que no existe a necessidade de qualquer mudana substancial, pois a Polcia comunitria por excelncia, uma vez que sua misso servir a comunidade.Muitos policiais ainda afirmam que policiamento comunitrio modalidade de policiamento, a exemplo do policiamento motorizado, empregando-se tal denominao como sinnimo de policiamento a p. Trojanowicz[footnoteRef:17] apresenta a definio de policiamento comunitrio, entre outras, da seguinte: [17: Idem, p. 06.]

Policiamento comunitrio uma filosofia de policiamento personalizado de servio completo, onde o mesmo policial patrulha e trabalha na mesma rea numa base permanente de um local descentralizado, trabalhando numa parceria preventiva com os cidados para identificar e resolver os problemas.Essa nova parceria entre a polcia e a comunidade deve ser ensinada em sesses de treinamento policial e em reunies comunitrias com o objetivo de educar e inspirar.Osborn[footnoteRef:18] tambm ressalta o seguinte: [18: Op. cit. p. 52.]

A idia fundamental tornar a segurana pblica uma responsabilidade da comunidade e no dos profissionais do combate ao crime a polcia. O agente policial transformado de investigador e aplicador da lei em catalisador de um processo comunitrio de auto-ajuda. Para os policiais, isto significa, s vezes, ajudar os membros da comunidade a retirar o entulho de terreno baldio e dar fim a carcaas enferrujadas de automveis....Inspirado nessa filosofia, o policial militar se depara com uma srie de obstculos que dificultam a prpria assimilao do conceito por ignorar que o processo requer uma mudana cultural lenta e progressiva.Se o sucesso ou fracasso do policiamento comunitrio depende do consenso quanto ao conceito, seu xito depende do comprometimento de toda instituio e da participao efetiva da comunidade que TROJANOWICS[footnoteRef:19] dividiu em seis grandes grupos: [19: Op. cit. p. 03.]

1. O Departamento de Polcia2. A Comunidade;3. As autoridades pblicas4. A Comunidade de Negcios;5. Outras Organizaes Comunitrias6. MdiaO presente estudo visa tambm priorizar e segmentar, ainda mais, esses grupos em pblicos estratgicos, mostrando a importncia da mobilizao social de incentivo participao do cidado nas questes de segurana. 2.2 HISTRICO E EVOLUO

Atualmente, a Polcia Comunitria considerada uma tendncia mundial, reconhecida por estudiosos de diversas reas, como a soluo para as questes de segurana que afligem a sociedade, diante do panorama mundial de violncia e criminalidade.Aqui em So Paulo, no final da dcada de 80 e incio dos anos 90, observou-se em alguns municpios uma tentativa de se criar modelos de Polcia Comunitria. Essas iniciativas isoladas eram indicativas da necessidade de mudanas, apresentando desde ento bons resultados[footnoteRef:20]. [20: CAVALCANTE NETO, M.L. Op. cit. p. 9.]

Apesar dessas iniciativas em vrios municpios do interior do Estado, em especial em Ribeiro Preto, o policiamento comunitrio teve o seu marco histrico na Polcia Militar do Estado de So Paulo em 1997, quando o Cel PM Carlos Alberto de Camargo assumiu o Comando Geral da Instituio, criando a Comisso de Assessoramento para Implantao do Policiamento Comunitrio e selecionando o primeiro grupo de 40 companhias piloto para darem incio a um processo de implantao de forma sistemtica.Librio em sua monografia inseriu afirmaes do Cel PM Valdir SUZANO[footnoteRef:21], poca presidente da Comisso de Assessoramento para a Implantao da Polcia Comunitria: [21: SUZANO, Valdir. In. CAVALCANTE NETO, M.L. Op.Cit. p.8.]

Estamos criando razes verdadeiras, e veneno nenhum ir contamin-las, mesmo porque a continuidade deste trabalho no depende apenas de Governantes ou da Polcia, mas da prpria sociedade. impossvel retornar ao passado. [...] a Polcia Comunitria um fato.A grande estratgia de implantao foi criao dessa comisso que posteriormente passou a denominar-se Comisso Estadual de Polcia Comunitria, com o objetivo de ampliar a participao dos vrios segmentos representativos da sociedade na formulao, no planejamento e no acompanhamento do desenvolvimento do Programa de Policiamento Comunitrio no Estado de So Paulo, que recentemente passou a ser Programa de Governo, gerando assim a to necessria co-responsabilidade com os resultados. Outro destaque da Comisso se deve participao indita dos civis, representantes das mais diversas entidades e associaes, que passaram a participar efetivamente do processo de gesto, fato que no havia ocorrido at ento de modo to intenso e com tanta abertura e transparncia por parte da Instituio.A Comisso, nesse perodo de cinco anos, alcanou bons resultados, entre tantos os seguintes: o estabelecimento do perfil do policial comunitrio, das normas de funcionamento das Bases Comunitrias de Segurana, o treinamento de policiais em todos os nveis hierrquicos, a promoo de cursos, seminrios e congressos, a publicao do livro Policiamento Comunitrio, como comear de Robert Trojanowicz e Bonnie Bucqueroux e a criao do Departamento de Polcia Comunitria e Direitos Humanos.Outro marco histrico da Polcia Comunitria na esfera federal foi o Programa Nacional de Direitos Humanos, onde consta entre as Propostas de Aes Governamentais para Proteo do direito Vida e Segurana das Pessoas, em mdio prazo, apoiar as experincias de polcia comunitria ou interativa entrosadas com conselhos comunitrios, que encarem o policial como agente de proteo dos direitos humanos [footnoteRef:22]... [22: Repblica Federativa do Brasil. Programa Nacional de Direitos Humanos. Br: Ministrio da Justia, 1996, p. 21.]

Um pouco mais recentemente, o Plano Nacional de Segurana Pblica[footnoteRef:23] estabeleceu uma srie de medidas que contemplam a filosofia de Polcia Comunitria. O Captulo II do Plano apresenta os seguintes compromissos: [23: Repblica Federativa do Brasil. Plano Nacional de Segurana Pblica. Br: Ministrio da Justia, 1996.]

59. Estratgias ComunitriasEstimular as polcias estaduais para que promovam debates e abram canais permanentes de dilogo com as lideranas e os movimentos comunitrios legtimos, especialmente aqueles organizados em periferias e favelas de grandes centros urbanos, com o propsito de construir alianas capazes de ao mesmo tempo mudar o comportamento da Polcia em relao a essas populaes e combater o crime, livrando essas comunidades do poder dos marginais e dos falsos benefcios dos bandidos, bem como investir em organizao e gesto comunitrias e na aliana entre os movimentos sociais e a escola.Um pouco mais adiante o Plano[footnoteRef:24] aborda novamente o tema: [24: Idem.]

92. Programas Comunitrios de Combate CriminalidadeIncentivar aes de articulao e cooperao entre a comunidade e autoridades pblicas com vistas ao surgimento de grupos de autoproteo comunitria que possam desenvolver estratgias de ajuda mtua e de requisio de servios policiais, com o objetivo de proteo da integridade fsica das pessoas e dos bens da comunidade, fornecendo pistas e testemunhos que ajudem o trabalho de investigao e da Justia.[...]94. Apoio Capacitao das Polcias Estaduais e Incentivo s Polcias ComunitriasApoiar e padronizar a capacitao das polcias estaduais, particularmente na gesto de segurana pblica, mediao de conflitos, operaes que envolvam o policiamento de manifestaes de massa e investigao policial e, especialmente, na implantao de polcias comunitrias, alm de promover a integrao entre as academias de polcia civil e militar.Outra medida importante foi criao do Fundo Nacional de Segurana Pblica:93. Criao do Fundo Nacional de Segurana Pblica (FNSP)Criar, no mbito do Governo Federal, um Fundo Nacional de Segurana Pblica destinado a apoiar financeiramente o reaparelhamento, reestruturao e qualificao das polcias estaduais e as aes previstas neste Plano, especialmente aquelas voltadas para a implantao de polcias comunitrias, seu intercmbio nacional e internacional com polcias e lderes comunitrios, delegacias especializadas, sistemas de produo e coleta de dados, ncleos de combate impunidade, investigaes de homicdios, chacinas, misses especiais de patrulhamento integrado e estratgias comunitrias.O FNSP foi institudo pela MP N 2.029/00[footnoteRef:25] onde consta que: [25: Repblica Federativa do Brasil. MP n 2029/00 Institui o fundo Nacional de Segurana Pblica. BR: Min. Da Justia, 2000.]

Art. 4 O FNSP apoiar projetos na prea de segurana pblica, destinados, dentre outros, a: [...]IV programas de Polcia Comunitria;...A MP N 2.029/00, entre outras providncias, prev o apoio federal aos Estados que estejam compromissados com o programa de Polcia Comunitria, que o caso do Estado de So Paulo e da PMESP.2.3 CONSELHO COMUNITRIO DE SEGURANA (CONSEG)A idia de participao da comunidade no policiamento comunitrio no surgiu somente aps a Constituio de 1988, antes disso, mais precisamente em 1985, o Governador do Estado, Franco Montoro, publicou um decreto criando o Conselho Comunitrio de Segurana (CONSEG), considerando que a participao da populao, em cooperao com a polcia, poderia contribuir positivamente para a consecuo do objetivo de manter a ordem e a segurana pblica. Esse Decreto tinha por finalidade atender a necessidade de se institurem instrumentos adequados participao da coletividade[footnoteRef:26]. No ano seguinte, em 11 de junho de 1986, o mesmo Governador Franco Montoro criou a Coordenadoria Estadual dos CONSEG por meio do Decreto n 25.366/86. [26: Governo do Estado de So Paulo. Decreto n. 23455/85. Dispe sobre Criao de Conselhos Comunitrios de Segurana e d outras Providncias. SP: 1985.]

Apesar da criao e do efetivo funcionamento, a regulamentao dos CONSEG s foi estabelecida em junho de 1998, em solenidade presidida pelo Governador Mrio Covas e com a presena ilustre do Ex-governador Franco Montoro.Os Conselhos Comunitrios de Segurana representam um marco histrico e um grande frum de participao direta do cidado nas questes de segurana pblica, servindo de referncia para outras reas de governo.Cabe ressaltar que nesses ltimos oito anos, sob a gesto do Maj PM Arruda, alm do rduo trabalho de regulamentao dos Conselhos Comunitrios de Segurana, um amplo trabalho de treinamento de liderana comunitria foi realizado e de valorizao dos melhores projetos comunitrios, o que s tem contribudo para melhoria da qualidade e ampliao da participao cidad.Quanto ao tema participao da comunidade e policiamento comunitrio, nesse perodo, a Polcia Militar tambm estabeleceu uma srie de diretrizes no seu Plano Diretor de (1.996/1.999) que demonstrou o comprometimento da Instituio com a questo e que se repetiu no Plano Plurianual do Quadrinio seguinte (2.000/2.003) de forma ainda mais sistematizada.2.4 PLANO PLURIANUAL (2000-2003)O estudo do tema participao da comunidade no policiamento comunitrio deve ser tambm analisado luz do atual Plano Plurianual da Polcia Militar (2000-2003) para que se tenha uma viso clara de foco e importncia do assunto, especialmente para avaliao e correo de rumo para o prximo quadrinio.O atual plano estabelece nas polticas de gesto de emprego operacional, entre outros, os seguintes pontos: a) o planejamento das aes de polcia ostensiva deve privilegiar a preveno;b) o policial militar deve ser entendido como um solucionador de problemas de segurana pblica e para tal deve ter autoridade delegada para tomar iniciativas pessoais em prol da melhoria dos resultados de seu trabalho...c) os Conselhos Comunitrios de Segurana e congneres so indispensveis para permitir a participao da comunidade no processo de planejamento e diagnstico da segurana pblica, devendo ser fortalecido por todos os comandos.d) a Polcia Comunitria um objetivo a ser consolidado no mais curto espao de tempo possvel, por todos os segmentos da instituio.e) a atuao do policiamento comunitrio deve ser permanente, de modo a no sofrer soluo de continuidade na interao entre a polcia e a comunidade. A ao deve ser permeada pela influncia da comunidade, que precisa ser instada a indicar suas necessidades e prioridades de segurana.f) fator de relevncia a fixao do policial no local de trabalho, por facilitar e viabilizar a aproximao com os cidados, criando vnculos, laos de respeito e mtua solidariedade, inibindo comportamentos desviados, estimulando a troca de informaes e a colaborao.Ainda na declarao dos objetivos organizacionais encontramos as seguintes disposies:a) Ampliar a interao da Instituio com os vrios segmentos de representao comunitria atuantes na populao.b) Expandir a filosofia e os princpios de polcia comunitria para todos os segmentos e atividades da Instituio, estimulando a participao da comunidade.Inmeras metas de trabalho relacionadas participao da comunidade no policiamento comunitrio tambm so encontradas nos planos de metas do Comando de Policiamento da Capital, do Comando de Policiamento Metropolitano e dos Comandos do Interior do Estado, entretanto, essas metas parecem que ainda no encontraram eco na Cia operacional, conforme ficou demonstrado na pesquisa junto aos Comandantes de Cia, a qual ser comentada no captulo V deste trabalho.2.5 PRINCIPAIS DESAFIOSLibrio, na sntese da sua monografia, destaca que o sucesso do policiamento no est restrito ao sucesso de sua implantao, fato j constatado, mas o ponto principal reside na continuidade do processo, na sua adaptao aos diversos contextos sociais e no controle da violncia e da criminalidade em nosso Estado, dentro de uma viso mais ampla de perspectiva social. Se essas expectativas no forem atendidas, seria melhor nem ter iniciado, pois o caminho sem volta[footnoteRef:27]. [27: Op.cit. p. 57.]

A Comisso Estadual de Polcia Comunitria passa atualmente por momento de reestruturao, onde de fato busca-se avaliar os resultados e efetuar as correes de rumo.Um ponto importante que deve ser considerado como poltica de governo o que declara Osborn e Kabler[footnoteRef:28] sobre o policiamento comunitrio: [28: OSBORN, Davi e KLABER,Ted. Reinventando o Governo. SP: Editora MH, 1994, p. 55.]

O policiamento comunitrio no um fenmeno isolado. Os mesmos temas da participao comunitria e da transferncia do poder para a comunidade aparecem em virtualmente todos os setores da vida pblica norte-americana. Nossos governos comeam a retirar das mos dos burocratas a propriedade e o controle dos servios pblicos, transferindo-os para as comunidades.Um questionrio de avaliao do Programa de Polcia Comunitria foi aplicado recentemente a todos os policiais militares das Cias operacionais e est em fase de tabulao, sendo que este trabalho ir revelar a atual realidade do policiamento comunitrio em So Paulo.Outro ponto importante redefinir a metodologia de desenvolvimento do policiamento comunitrio, utilizando novas tcnicas e estratgias de mobilizao comunitria e visando abrir ao mximo as possibilidades de participao do cidado.2.6.1 Junto aos Cmt de Cia Foi realizada pesquisa entre os comandantes de companhia (Cia PM) sendo enviado questionrio, via correio da PM, para 165 Cias, havendo retorno de 66 comandantes.A pesquisa revela que a maioria dos Comandantes de Cia, (82%) dos entrevistados, entende que a participao da comunidade na implementao do policiamento tem um grau de importncia muito elevado. Quanto ao nvel atual de participao da comunidade na rea de sua Cia PM, metade dos Comandantes de Cia responderam que consideram regular.Foram apontados tambm os maiores obstculos que dificultam a participao da comunidade no policiamento comunitrio. Segue os resultados:

Figura 1 Obstculos para a comunidade participar Cmt Cia

Quanto aos maiores obstculos que dificultam a participao da comunidade no policiamento comunitrio, apesar da pergunta solicitar somente as duas maiores dificuldades, a maioria dos entrevistados assinalou mais de duas alternativas, entendendo a pergunta como os maiores obstculos. O resultado foi o seguinte: 26% indicaram a falta de cultura participativa da comunidade como um dos maiores obstculos participao; depois 23% indicaram a falta de efetivo policial mnimo e 14% indicaram a falta de organizao comunitria tambm como um dos maiores obstculos. A pesquisa mostra que na viso dos Cmt de Cia, o maior obstculo a falta de cultura de participao da comunidade. Essa cultura passiva fruto da histria brasileira, na qual o governo ao longo de muitos anos restringiu direitos e oportunidades de participao do cidado e assumiu de forma unilateral e repressiva a responsabilidade pela Segurana Pblica, no educando o cidado para assumir as suas responsabilidades individuais e tambm coletivas.Compreender esse cenrio fundamental para a Polcia Militar preparar-se para romper com esta tradio passiva, em especial da camada social excluda que por no ter acesso informao no participa.2.6.3 Pesquisa junto aos Presidentes de ConsegA maioria dos entrevistados considera muito importante a participao da comunidade no policiamento comunitrio.Foram enviados 300 questionrios aos presidentes de Conselho Comunitrio de Segurana ( CONSEG) da capital e interior, havendo um retorno de 47 respostas apresentadas no grfico a seguir.Figura 2 Obstculos para a comunidade participar CONSEG

A maioria entendeu que os maiores obstculos para a participao da comunidade no policiamento comunitrio so os seguintes: movimentao constante dos policiais, falta de cultura participativa e de efetivo policial, sendo que essas duas ltimas tambm coincidiram com as respostas dos comandantes de Cia PM.

3 MOBILIZAO COMUNITRIANo se faz mobilizao social com herosmo. As mudanas so construdas no cotidiano por pessoas comuns, que se dispem a atuar coletivamente, visando alcanar propsitos compartilhados.Jos Bernardo Toro 3.1 DEFINIOMobilizar convocar vontades para atuar em busca de um propsito comum, sob uma interpretao e um sentido tambm compartilhados[footnoteRef:29]. [29: TORO, Jos Bernardo; WERNECK, Nisia Maria Duarte. Mobilizao Social: Um Modo de Construir a Democracia e a Participao. Braslia: Ministrio da Justia, 1997, p. 11.]

Um projeto de Mobilizao Comunitria na rea de segurana pblica deve buscar a participao do cidado, tanto no sentido individual como no coletivo, deve buscar tambm aes em parceria e a manuteno da chama da co-responsabilidade e do bem comum acesa.A compreenso correta do conceito de mobilizao social fundamental para o desenvolvimento eficaz de um processo voltado para segurana pblica, como a do policiamento comunitrio. Convocar a comunidade para participar desse processo significa convocar discursos, decises e aes no sentido de um objetivo comum que a segurana e a melhoria da qualidade de vida.Viabilizar essa participao um dos objetivos deste trabalho, criando espaos para que se possa exercer efetivamente a cidadania de forma organizada.Alexis TOCQUEVILLE atribuiu o desenvolvimento dos EUA capacidade que tem a sociedade norte-americana de se associar, de se organizar. Segundo ele, esta a mestra de todos os saberes sociais.[footnoteRef:30]. [30: TOCQUEVILLE, Alexis de. APUD. TORO A. , J.B. e ERNECK, N.M.D. Op. cit. p. 31.]

Cabe Polcia Militar dar incio ao processo de mobilizao social na rea de Segurana Pblica, agindo como produtor social.A prpria definio policiamento comunitrio, j comentada anteriormente, traz em si a idia de mobilizar pessoas, tanto o pblico interno da polcia quanto a comunidade, para um imaginrio comum de parceria, objetivando a preveno de delitos e resoluo de problemas, tendo um carter permanente e de continuidade.A mobilizao pode ser entendida como uma etapa da participao. Consiste tambm em movimentar, colocar a servio de, tomar a iniciativa e agir em parceria visando um objetivo comum.3.2 QUATRO DIMENSES BSICAS DO PROCESSO DE MOBILIZAOA metodologia de mobilizao proposta por Toro e Wernec[footnoteRef:31] apresenta quatro dimenses: [31: Op. cit.]

3.2.1 O imaginrioUm processo de mobilizao social tem incio quando uma pessoa, um grupo ou uma instituio decide iniciar um movimento no sentido de compartilhar um imaginrio e o esforo para alcan-lo.[footnoteRef:32] Foi o que a Polcia Militar fez de forma sistematizada a partir de 1997, institucionalizando o programa de polcia comunitria no Estado de So Paulo. [32: Idem.p.38.]

Foi idealizada uma viso de futuro, uma nova parceria entre a polcia e a comunidade com o objetivo de reduzir a criminalidade, o medo do crime e melhorar a qualidade de vida das pessoas. TORA A. e WERNECK[footnoteRef:33] esclarecem que esse propsito dever estar expresso sob a forma de um horizonte atrativo, um imaginrio convocante que sintetize de uma forma atraente e vlida os grandes objetivos que se busca alcanar. Ele deve expressar o sentido e a finalidade da mobilizao. [33: Op.cit. p. 35.]

Os autores citam como exemplo o imaginrio proposto por Moiss e descrito por Isaas: Vamos para uma terra onde jorram leite e mel. Outro exemplo o imaginrio que mobilizou o povo japons depois da II Guerra Mundial: Vamos conquistar pelo mercado quem nos derrotou pelas armas.O exemplo mais prximo do contexto abordado neste trabalho o imaginrio proposto por Betinho na Ao da Cidadania Contra a Fome, a Misria e pela Vida: Uma sociedade que pela solidariedade, vence a fome e a misria. Marca o fim de uma sociedade indiferente[gn].Para atuar nesse processo importante ter a conscincia de que a mobilizao social no uma oportunidade de conseguir pessoas para ajudar a viabilizar nossos sonhos, mas de congregar pessoas que se dispem a contribuir para construirmos juntos um sonho, que passa a ser de todos[footnoteRef:34]. [34: Idem. p. 37.]

3.2.2 O campo de atuaoCampo de atuao o conjunto das possibilidades de atuao, ou seja, de participao efetiva do cidado no seu meio ambiente de convivncia social (trabalho, famlia, escola etc.), motivado pelo imaginrio proposto no projeto de mobilizao comunitria. Essa participao passa tanto pela tica individual como tambm a coletiva. Segundo TORO A. e WERNECK[footnoteRef:35], um projeto de mobilizao social deve fornecer: [35: Op. cit. p. 45.]

a. Compreenses adequadas ao campo de atuao de cada participante: explicaes slidas sobre os problemas a resolver, situaes a criar ou modificar, sentido e finalidade das decises a tomar e das aes a seguir em seu campo dirio de trabalho; eb. Indicaes das decises e aes que esto ao alcance das pessoas dentro de seu campo de atuao e trabalho e a explicao de como e porque contribuem ao propsito buscado.A idia de como cada pessoa pode participar no cotidiano o ponto central do processo. Muitas pessoas esto dispostas a participar se lhes respondemos a seguinte pergunta: Como eu posso participar, aqui em meu campo de trabalho, no que fao todos os dias?Para responder essa pergunta Toro[footnoteRef:36] lembra que os dirigentes de um processo de mobilizao devem ter a conscincia que as mudanas so construdas no cotidiano por pessoas comuns, que se dispe a atuar coletivamente visando alcanar propsitos compartilhados. Sendo assim, preciso que as pessoas: [36: Idem.]

Tenham informaes claras sobre os objetivos, as metas, a situao atual e as prioridades [...]; Sintam-se seguras quanto ao reconhecimento, valorizao e respeito sua forma de pensar [...]; Sintam a confiana dos outros participantes quanto sua capacidade e possibilidade de contribuir para o alcance dos objetivos [...].Resumindo, preciso que as propostas de atuao: Sejam claras e realistas; Respeitem os limites da atuao de cada um, mas no sejam conservadoras, que contribuam para abrir caminhos para novas vises; No sejam explicitadas ou percebidas como cobrana, como responsabilizao; e Sejam estimulantes.No caso do policiamento comunitrio necessrio definir o mximo de possibilidades de participao para que as pessoas enxerguem o seu campo de atuao e ento decidam participar com conscincia.3.2.3 ColetivizaoQuanto coletivizao o sentimento e a certeza de que aquilo que eu fao, no meu campo de atuao est sendo feito por outros.[footnoteRef:37] Esse sentimento indispensvel para a estabilidade e continuidade do processo de mobilizao, sendo que a comunicao um instrumento fundamental. [37: Idem. p. 52.]

O sentimento de coletivizao tambm d as pessoas o sentido de estar ligada, conectada a um grupo maior, a um projeto global que transcende a comunidade local, garantindo a ela legitimidade e reconhecimento social. Por isso, o sentimento de coletivizao no alcanado com simples divulgao, que normalmente tem um objetivo promocional ou meramente informativo, onde o resultado esperado que as pessoas saibam, tenham conhecimento da informao. No caso da mobilizao, o foco no compartilhamento da informao (no simplesmente na sua circulao) e o resultado desejado que as pessoas formem opinies prprias, disponham-se a agir e ajam. E mais, que se sintam donas dessa informao, repassem-na, utilizem-na e se tornem elas prprias fontes de novas informaes. Para o sucesso de uma mobilizao preciso que todos que dela participam tenham um comportamento comunicativo e que tenham interesse e disposio para consumir e fornecer informaes.Nesse aspecto houve um enorme prejuzo para as Cias que estavam no projeto piloto do policiamento comunitrio, quando houve interrupo por quase dois anos do nico boletim informativo produzido pela Comisso Estadual de Polcia Comunitria. Esse episdio gerou insegurana nos comandantes de Cia e esfriou o andamento da implantao.3.2.4 Acompanhamento de resultadosOs critrios de avaliao dos resultados e os indicadores que permitem medir o sucesso do policiamento comunitrio so fundamentais. Cabe destacar que atualmente o programa est em fase de avaliao, atravs de pesquisa que foi aplicada aos policiais das Cias operacionais de todo o Estado.Essa etapa faz parte de qualquer processo que exija a continuidade e evoluo de qualidade.Assim, o processo de mobilizao deve, portanto, atuar simultaneamente nas quatro dimenses bsicas (o imaginrio, o campo de atuao, a coletivizao e o acompanhamento de resultados). A ausncia de qualquer um delas tem conseqncias diferentes:[footnoteRef:38] [38: idem p. 54.]

Oferecer s imaginrio demaggico ou gera apenas expectativas; s as atuaes e decises, sem o imaginrio, conduzem a ativismos passageiros ou movimentos sem rumo, se no h coletivizao ou acompanhamento por indicadores se produz o desinteresse.Diante dessa reflexo, fica evidente a necessidade que os dirigentes do processo tenham em mente a responsabilidade nas quatro dimenses do processo de mobilizao.3.2.5 Atores do processo: produtor, reeditor e editorA metodologia de mobilizao social proposta por Bernardo Toro e Nsia Werneck identifica trs tipos de atores sociais no processo de mobilizao comunitria: o produtor social, o reeditor e o editor.Meneghetti[footnoteRef:39] tambm acrescenta: [39: MENEGHETTI, Silvia Bojunga . Comunicao e Marketing: Fazendo a diferena no di-a-dia de organizaes da Sociedade Civil. SP: Instituto Fonte, 2001, p. 49.]

O Produtor Social a instituio, pessoa ou grupo de pessoas que inicia o processo de mobilizao a partir de um imaginrio convocante. Ele deve ter a capacidade de criar as condies econmicas, institucionais, tcnicas e profissionais para obter xito em seus propsitos. O produtor social pode ser tanto uma pessoa, como uma instituio pblica ou Secretaria de Estado. O importante que tenha legitimidade poltica e social, alm de credibilidade, claro. Um alerta importante: o produtor social deve ser visto no como dono, mas como precursor de um movimento que reflita o desejo de mudana de toda uma coletividade. Por isso ele deve saber respeitar a capacidade de as pessoas decidirem por si mesmas. Dessa forma, a Polcia Militar vem atuando como Produtor Social, ou seja, a instituio que tem a capacidade de criar condies para que o processo de mobilizao ocorra, com o objetivo de transformar a realidade atual. A filosofia de Polcia Comunitria estabelece na prtica uma mudana de postura, pois o policial militar deixa de ser um mero atendente que serve a comunidade e busca a satisfao do cliente, para ser um Produtor Social na sua esfera de atuao, contribuindo para que sejam criadas as condies para uma posio pr-ativa, trabalhando na preveno e resoluo conjunta de problemas e no desafio estimulante de melhorar a qualidade de vida.Meneghetti[footnoteRef:40] tambm aborda o papel do reeditor da seguinte forma: [40: Idem, p. 49.]

O reeditor aquele que atua no cotidiano. Por sua ocupao ou papel social tem a capacidade de readequar mensagens. O reeditor cr no convencimento de cada indivduo para reforar o conceito de democracia e de cidadania, no contexto de uma sociedade que deseja construir sua prpria ordem social. importante lembrar que o reeditor no um simples multiplicador de mensagens e experincias. Ele quem se utiliza de cdigos e valores prprios, que so comuns ao grupo ao qual pertence, e que, por isso, tem a capacidade de enriquecer a mensagem para seu correto entendimento e aceitao. O reeditor tem seu pblico e seu campo de atuao prprio. Por exemplo: um proco e sua igreja. um professor e sua sala de aula, um lder comunitrio e seu bairro.Portanto, todo policial militar um reeditor social das mensagens que norteiam os atos da instituio. No caso do policiamento comunitrio, o policial militar deve identificar na sua rea as pessoas que podem atuar como reeditores da mensagem, lembrando que os educadores, lderes religiosos e lderes comunitrios so reeditores ativos, razo pela qual no se admite iniciar uma mobilizao comunitria de incentivo participao na preveno criminal, sem um levantamento prvio das escolas, igrejas e associaes comunitrias de uma regio.Neste aspecto a prpria pesquisa realizada junto aos comandantes de Cia apontou esses segmentos como pblicos estratgicos para a implementao do policiamento comunitrio.O outro ator a ser citado no processo o Editor: pessoa ou instituio que edita as mensagens do produtor, convertendo-as em formas, objetos e signos adequados ao campo de atuao de cada reeditor, para que ele possa us-los, decodific-los, recodific-los segundo sua prpria percepo.Meneghetti[footnoteRef:41] tambm aborda essa figura da seguinte forma: [41: Idem.]

O editor a pessoa ou instituio responsvel pela elaborao das mensagens. O sucesso da participao dos pblicos estratgicos depender da forma como ele preparar a mensagem e a fizer chegar ao campo de atuao do(s) reeditor(es). Quanto mais o editor tiver informaes sobre o campo de atuao de seus reeditores, maiores as possibilidades de xito de sua comunicao. Toro[footnoteRef:42] tambm acrescenta que as funes de produtor social, reeditor e editor no so necessariamente desempenhadas por uma pessoa. Esses papis podem se misturar quando pessoas ou instituies atuarem juntas, ou quando uma mesma pessoa ou instituio desempenhar mais de um papel. O que importa que algum desempenhe essas funes em algum momento do processo. [42: Op. cit. p. 54.]

3.3 A COMUNICAO NO PROCESSO DE MOBILIZAOToda mobilizao social requer um projeto de comunicao em sua estruturao e infelizmente isso no ocorreu na implementao do policiamento comunitrio.Desde o marco inicial em outubro de 1997, at agora, o nico boletim informativo mensal produzido pela Comisso Estadual de Polcia Comunitria ficou inativo por um perodo de dois anos ( de jul1999 a jul2001), deixando os reeditores ( Cmt de Btl e Cia) descobertos e desmotivados, prejudicando o processo de coletivizao.Toro[footnoteRef:43] tambm enfatiza a importncia da comunicao: [43: Op. cit. p. 67.]

Em termos de comunicao, fundamental que o produtor social oriente um editor no processo de produo de materiais e na escolha dos meios mais adequados de difuso das informaes.O projeto de comunicao de um processo de mobilizao tem como meta o compartilhamento, o mais abrangente possvel, de todas as informaes relacionadas com o movimento, o que inclui desde os objetivos, as informaes que justificam sua proposio, at as aes que esto sendo desenvolvidas em outros lugares, por outras pessoas, o que pensam os diversos segmentos da sociedade a respeito das idias propostas, etc.A pesquisa realizada revelou que 85% dos comandantes de Cia e 65% dos presidentes de CONSEG no possuem meio ou espao de comunicao com a comunidade, o que sem dvida mostra o quanto o Programa de Polcia Comunitria est prejudicado, pois sem comunicao adequada no possvel realizar ou manter um processo de mobilizao comunitria. A pesquisa ser comentada mais frente.3.3.1 Pblicos estratgicosPblico o segmento especfico da comunidade com o qual se deseja estabelecer a comunicao, um recorte da sociedade.[footnoteRef:44] [44: Idem, p. 43.]

Pblico Estratgico aquele a quem a comunicao dirigida com prioridade para tornar-se um referencial no processo de implementao do policiamento comunitrio. O pblico estratgico porque h conotao de atividade por parte do receptor, e no uma relao de passividade, de clientelismo. o pblico que vai assumir a co-responsabilidade pelo produto segurana pblica e vai agir no seu campo de atuao para a sua melhoria de qualidade.Qualquer companhia operacional relaciona-se com uma grande diversidade de pblicos, mas quando o assunto implementao do policiamento comunitrio, os seis grandes segmentos estabelecidos na doutrina de Trojanowicz[footnoteRef:45] precisam ser segmentados em nveis mais especficos, para que se descubra os reeditores estratgicos, aqueles que repassaro a mensagem ao seu pblico prprio, principalmente, os mais influentes e ativos como os educadores, lderes comunitrios e lderes religiosos. [45: Op. cit.]

Portanto, o campo da segurana pblica, dirige-se a sujeitos ativos, indivduos ou grupos com os quais haja interao e estabelecimento de relaes de troca, numa via de mo dupla, que agrega o fator transformao ao processo, no cabendo a idia de cliente passivo, apenas receptor do servio.3.3.2 SegmentaoA implementao do policiamento comunitrio necessita distinguir os pblicos mais estratgicos que se tornaro re-editores para os demais da comunidade, como referenciais para multiplicao das aes e do esprito de cooperao e respeito mtuo entre a Polcia e a comunidade.Para isso fundamental o estudo da segmentao.MENEGHETTI[footnoteRef:46] apresenta o seguinte conceito: [46: Op. cit. p. 45.]

Trata-se de um conceito bsico em marketing e comunicao. Significa dividir o pblico da organizao em subgrupos constitudos por pessoas que guardam, entre si, interesses e caractersticas comuns. Os critrios para segmentao dos pblicos geralmente seguem caractersticas geogrficas ou demogrficas: gnero, idade, nvel de educao formal, renda.No caso da Cia Operacional, a segmentao pode ainda ser feita de acordo com a participao do pblico em cada programa ou projeto especfico, mas sempre buscando o resgate do sentimento de comunidade e a sua identidade geogrfica.Muitas vezes quando se pensa no policiamento comunitrio costuma-se fazer uma afirmao geral de que dirigido a toda a comunidade. Pois, isso no o bastante. necessrio chegar ao detalhe, segmentar essa comunidade ao mximo possvel, pensando no universo mais restrito sobre o qual o trabalho possa ter algum impacto e maior eficcia. Em seguida, importante dar uma ordem de prioridade e de urgncia nessas relaes. A forma mais eficiente e eficaz de comunicao continua sendo o contato pessoal, mas a complexidade da vida social obriga os dirigentes do processo de mobilizao a estabelecerem mltiplos canais de comunicao com os pblicos estratgicos.MENEGHETTI[footnoteRef:47] comenta ainda que : [47: Op. cit. p. 48.]

uma boa idia focar o planejamento de atividades de marketing e comunicao apenas nos segmentos prioritrios. Analisar a necessidade de uma comunicao efetiva do ponto de vista do cumprimento da misso institucional e ser seletivo.[gn]Lembrar que pblicos diferentes tm interesses especficos. Procurar conhecer bem a populao que se quer atingir rural, urbana, classe A,B,C nvel de escolaridade, histria de vida etc.O conhecimento sobre as peculiaridades e expectativas de cada segmento de pblico importante no momento de elaborar mensagens e estabelecer processos de comunicao.No se pode esquecer de incluir os formadores de opinio neste grupo estratgico, os quais so os profissionais que exercem atividades em veculos de comunicao, a classe poltica, os militantes e as lideranas sociais locais, bem como as pessoas que participam ativamente da vida comunitria, conforme j indicava Trojanowicz ao apresentar o grupo dos seis grandes segmentos comunitrios.3.3.3 Importncia e benefcios da coletivizaoA coletivizao um ponto fundamental no processo de mobilizao, e s alcanada por meio da comunicao.A importncia e os benefcios que produz so assinalados por Toro e Werneck[footnoteRef:48] : [48: Op. cit. p. 88-90.]

Primeiro, por uma questo de coerncia. Se as pessoas tm que ter autonomia, iniciativa e responsabilidade compartilhada, elas precisam e tm direito a ter acesso a toda a informao. um direito e uma exigncia para uma participao livre e consciente.Atravs da divulgao dos propsitos da mobilizao e das informaes e dados que justificam seus objetivos, a comunicao social contribui para ampliar as bases do movimento dando-lhe abrangncia e pluralidade. Essa uma das condies de sucesso de uma mobilizao e a diversidade s alcanada onde h uma eficaz divulgao dos propsitos do movimento e de como dele participar.[gn]Os reeditores, pessoas que tem pblico prprio, ganham segurana quando tm acesso a essas informaes. uma oportunidade para que faam uma verificao de pertinncia do que esto falando ou fazendo.[gn]Essa divulgao contribui ainda para reforar e legitimar o discurso dos reeditores. Quem o ouvir falando vai saber que ele no tirou aquilo do nada, que mais gente tambm est falando sobre isso. Este um ponto importantssimo. Um reeditor que esteja participando de uma mobilizao no pode se sentir sozinho, nem ser visto como uma voz isolada. Quando as pessoas vem que aquelas idias esto sendo compartilhadas por outros, elas se dispem a ouvir melhor, no as rotulam com o isso coisa de fulano... e passam a respeitar mais, so menos agressivas e resistentes. O reeditor, por sua vez, sente-se mais seguro, evita com mais facilidade os conflitos, porque no precisa ser to enftico e contundente para chamar a ateno das pessoas, enfim, exerce a sua liderana com mais tranqilidade.[gn]A divulgao de aes e decises dos diversos grupos. Isso vai ajudar a pessoas e grupos a identificarem alternativas para suas prprias aes, formando um Banco de Idias, que podero ser copiadas e apropriadas por um maior nmero de pessoas. A experincia daqueles que esto mais adiantados no processo de transformao um dos maiores incentivos e um fator facilitador da adeso de novos participantes. Primeiro, porque eles vem que possvel agir e conseguir resultados. Depois, porque, quando ainda no esto muito seguros sobre o que fazer, podem aproveitar as experincias de sucesso de outras pessoas ou grupos e assim pegar impulso para empreenderem sua prpria caminhada.[gn]Saber que outras pessoas esto tambm atuando, em outros lugares e setores, mas com o mesmo objetivo e sentido, contribui para desenvolver o sentimento de poder e autonomia das pessoas que esto participando da mobilizao. esse sentimento, que chamamos de coletivizao, que vai dar segurana de que ser possvel alcanar o objetivo proposto. Cada um saber que o que pode fazer sozinho pouco e, provavelmente, insuficiente para mudar a realidade, mas acredita na fora da ao de todos, um referencial coletivo. Por isso tem que estar seguro das razes de sua ao e de que os outros vo agir com o mesmo propsito.Trazendo esses itens de importncia para a realidade do policiamento comunitrio no mbito da Cia Operacional fica difcil falar em processo de mobilizao comunitria, se a grande maioria das Cias no possui meio ou espao prprio de comunicao com a comunidade, conforme apontou a pesquisa realizada neste trabalho.3.3.4 Modelos de comunicaoSe no momento da identificao dos pblicos estratgicos para definir objetivos de comunicao da Cia operacional for possvel perceber quem so e onde esto os reeditores da filosofia do policiamento comunitrio, estar sendo assegurada a efetividade do processo relativo participao e mobilizao comunitria, o que nem sempre assegura resultados quantitativos em curto prazo. O caminho da comunicao via reeditores pode ser mais demorado e desafiador, mas , certamente, mais legtimo e duradouro. preciso conhecer as caractersticas dos diversos pblicos-estratgicos da Cia e adequar as mensagens linguagem prpria de cada segmento, tendo clareza a respeito da imagem que se quer projetar e do impacto que se pretende alcanar sobre eles.Essa comunicao, em um processo de mobilizao comunitria, pode ser concebida e estruturada de diferentes formas, visando atender a comunicao entre os atores (produtor social, reeditor e editor) e em especial do reeditor e o seu pblico prprio. Portanto, necessria a definio de projeto especfico de comunicao e da escolha dos veculos e canais que sero utilizados com eficcia em cada situao.A classificao de modelos de comunicao pode ser compreendido em dois grandes grupos: A Comunicao de Massa: dirigida s pessoas como indivduos annimos. A Comunicao Segmentada: dirigida a pessoas ou grupos por sua especificidade ou diferena. Os diferentes meios (rdio, TV, impressos, vdeo, etc) podem ser usados em qualquer dos grupos anteriores, mas cada um deles tem possibilidades distintas com relao cobertura e efetividade.Toro declara que essas variveis esto inversamente relacionadas: quanto maior a cobertura (comunicao massiva), menor a possibilidade de criar modificaes estveis (efetividade).[footnoteRef:49] [49: Op. cit. p. 88.]

Em um projeto de comunicao comunitria, geralmente, os dois tipos so necessrios, ainda que a comunicao segmentada seja a mais relevante. 3.3.5 A comunicao entre os atores do processo de mobilizao necessrio identificar os atores do processo de mobilizao no campo do policiamento comunitrio para que sejam estabelecidas as relaes e responsabilidades na comunicao de cada um e como os papis podem sofrer variaes, conforme o nvel do problema a ser resolvido.Em linhas gerais pode-se dizer que a Comisso Estadual de Polcia Comunitria e as Comisses Regionais so os produtores sociais e os Comandantes de Batalho e Cia os reeditores do processo junto aos seus comandados e comunidade. Mas tambm, sob outra tica, um Comandante de Base Comunitria de Segurana e seus policiais so ao mesmo tempo produtores sociais para a comunidade e tambm reeditores da filosofia aos seus respectivos pblicos, considerando o Comandante de Cia o produtor social.As funes se alternam nos nveis menores, mas a maior responsabilidade de puxar o processo do Produto Social, no caso a Comisso Estadual de Polcia Comunitria.Independente das mudanas de papis Toro[footnoteRef:50] declara que comunicao no processo de mobilizao de natureza convocatria, feita inicialmente por um produtor social, dirigida a reeditores determinados, atravs de redes de comunicao direta, apoiada pelos meios de comunicao de massa e orientada para gerar modificaes nos campos de atuao dos reeditores, em funo de um propsito coletivo. [50: Idem. p. 59.]

O modelo apresentado por Juan Jos Jaramillo[footnoteRef:51].no esttico. Um ator social pode estar, em um determinado momento, sendo pblico de um re-editor e, em outro momento, sendo ele prprio um re-editor, podendo ser ajustado para as condies locais de cada processo. [51: Op. cit. p. 60.]

Portanto, uma mesma pessoa ou instituio pode estar desempenhando, ao mesmo tempo, mais de um papel, e um mesmo papel pode estar sendo desempenhado por mais de uma pessoa ou instituio.A comunicao entre os atores de um processo de mobilizao social requer que o Produtor Social possa se comunicar diretamente com o reeditor e este com o produtor, atravs de rede direta.Toro[footnoteRef:52] tambm acrescenta que: [52: Idem, p. 63.]

Na comunicao entre os atores do processo de mobilizao necessrio posicionar o imaginrio e coletivizar a atuao dos reeditores. A fora de convocao do imaginrio depende de sua natureza e da difuso e ampla legitimidade que alcance, tanto para o reeditor como para a opinio pblica. O reeditor necessita saber que os outros sabem que ele est fazendo modificaes em seu campo de atuao em favor daquele imaginrio e de determinados objetivos. Alm disso, requer algum grau de certeza de que outros reeditores de sua mesma categoria esto modificando seu campo de atuao no sentido do imaginrio e dos objetivos propostos ( sentido de coletivizao).[gn]O apoio dos meios de comunicao de massa fundamental para tornar possveis esses aspectos.A linha da comunicao em um processo de mobilizao deve ser de natureza convocatria, de abertura e valorizao da participao de todos [gn].Assim, uma das principais funes dos lderes de um processo de mobilizao comunitria a de ser facilitador na intercomunicao e no ser comandantes ou coordenadores da rede.3.3.6 Como se desenvolve um processo de mobilizaoTer a noo exata de como se desenvolve um processo de mobilizao fundamental para um comandante de Cia. ele efetivamente que vai gerenciar o processo na ponta da linha e efetivamente fazer acontecer. H ainda muita confuso e despreparo por parte dos Comandantes de Cia, conforme ficou evidenciado na pesquisa que ser objeto de comentrio posterior. Toro[footnoteRef:53] prope que um processo de mobilizao passe por dois momentos. [53: Idem, p. 68.]

O primeiro do despertar do desejo e da conscincia da necessidade de uma atitude de mudana. O segundo o da transformao desse desejo e dessa conscincia em disposio para a ao e na prpria ao.Esses dois momentos podem estar acontecendo simultaneamente entre pblicos diferentes. Enquanto um est despertando, o outro j est agindo e serve de referncia e estmulo para quem est comeando. Os argumentos que sero usados nessa primeira fase mudam ao longo do processo, todo vivo e dinmico.Na primeira etapa do DESPERTAR preciso:Dar informaes para as pessoas para que elas tomem conhecimento da situao que precisa ser trabalhada. Devemos transformar dados, experincias, estatsticas em informao pblica, isto , vincul-los aos problemas que estamos trabalhando, fazendo um diagnstico pr-ativo, que aponte as dificuldades, mas sinalize com esperana e alternativas.Essas esperanas e alternativas devem se expressar na criao de um imaginrio que exprima o horizonte a ser alcanado, que torne visvel a nova realidade decorrente do alcance dos propsitos da mobilizao.Acreditar que toda pessoa est sempre disposta a participar de um processo de mudana, se v no seu objetivo um benefcio, uma perspectiva de um mundo melhor para ela e para aqueles a quem se sente ligada.Passar do desejo e da conscincia de necessidade de uma mudana para a disposio para a ao significa passar de uma perspectiva individual para uma perspectiva coletiva. O despertar individual, uma experincia nica de cada indivduo. A ao coletiva, segundo a escolha comum de todos esses indivduos que se dispem a atuar. Isso importante, principalmente, porque, juntas, as pessoas se sentem poderosas o suficiente para alcanarem o imaginrio proposto. Esse sentimento existe quando:[gn]Elas esto seguras de uma autonomia para agir.Elas sabem que outras pessoas esto, ao mesmo tempo, em outros lugares, de formas diferentes, desenvolvendo aes com o mesmo objetivo e sentido.Elas enxergam o que podem fazer para contribuir no seu cotidiano, no seu ambiente de vida, com as pessoas que conhece e se identifica. preciso que elas se vejam, que consigam explicitar e projetar aes e resultados com os quais elas possam se comprometer. Este um ponto crtico do processo. muito comum que as pessoas entendam as informaes e se sintam dispostas a agir, mas tm dificuldade para identificar alternativas de ao. Se isto acontece, as informaes podem simplesmente aumentar a sua angstia e at mesmo os seus conflitos com quem ela v como responsvel por agir, e no gerar mobilizao, participao e soluo. Por isso, um dos papis de quem est articulando e promovendo uma mobilizao prover quem est entrando no processo de um repertrio de possveis aes e decises, que transformem o incmodo que as informaes despertaram nelas em contribuio efetiva para os objetivos propostos.Uma soluo interessante propor uma ao coletiva, uma campanha com finalidade especfica, onde fique bem clara a ao a ser desenvolvida e a expectativa de cada um em relao aos outros. Esta atividade contribuir para explicitar os objetivos, dar visibilidade aos primeiros resultados, posicionando a mobilizao como um movimento de ao e no exclusivamente de reivindicao ou denncia. Assim fica evidente que para a implementao do policiamento comunitrio h necessidade de planejar as atividades a serem executadas nos dois momentos do processo e nos vrios nveis dos atores sociais, lembrando sempre que a credibilidade fator essencial para o sucesso e ampliao das aes.3.3.7 Como dar incio ao processo de mobilizao comunitriaSegundo a metodologia de Toro[footnoteRef:54] o planejamento e preparao de um processo de mobilizao social comeam com trs atividades: [54: Idem, p. 71.]

Estruturao das redes de reeditores; Converter o imaginrio em materiais e mensagens que possam ser usados no campo de atuao do reeditor; Estruturar os sistemas de coletivizao.Como j foi dito anteriormente o primeiro passo no planejamento da mobilizao a identificao dos setores que precisam ser mobilizados e os reeditores que se relacionam com eles, ou seja, necessrio fazer a segmentao dos pblicos estratgicos. Esta etapa um dos pontos mais importantes para o sucesso da mobilizao. necessrio ser preciso e considerar os pontos levantados sobre o campo de atuao de cada pblico.A segunda atividade a preparao dos materiais que sero usados para coletivizao por quem est tomando a iniciativa da mobilizao. Toro[footnoteRef:55] acrescenta que esses materiais no tm uma finalidade promocional, mas informativa e convocatria. Sua funo facilitar e dar sustentao s aes de divulgao dos propsitos, das alternativas de ao e dos resultados alcanados, estimulando o aumento da participao. [55: Idem. p. 72.]

Por isso eles devem ter algumas caractersticas: Ser claro e objetivo no contedo e atraente na forma. Ser assinado pelo movimento ou por vrios de seus participantes ( o que de todos ou de muitos no de ningum em particular); Ter baixo custo de produo e ser facilmente reprodutvel prestar ateno no tamanho mais econmico, na facilidade para xerocar, etc. Trazer explicitada a autorizao para ser reproduzido. Isto funciona como estmulo para as pessoas darem divulgao ao texto, reproduzindo-o totalmente ou em parte, reinterpretando-o. Estimular para que, na medida do possvel, sejam pensados e produzidos materiais dirigidos a cada um dos pblicos, de uma categoria ou de uma regio, com mensagens adequadas a seus valores, smbolos, experincias, enfim, seu jeito de se comunicar. No caso de jornais e boletins, preocupar-se em facilitar o acesso nos dois sentidos, seja como leitor ou como fonte de novas informaes. Os cartazes e faixas so peas muito boas para esquentamento, tanto para decorar espaos que vo sediar reunies, quanto para a divulgao de idias.Uma vez identificados os reeditores que precisam ser mobilizados, preparados os materiais bsicos e o projeto de comunicao hora de dar incio ao movimento.

Toro[footnoteRef:56] prope as seguintes aes para os reeditores: [56: Idem.]

Primeiro eles devem ser procurados, informados sobre os propsitos e as expectativas e receber o material bsico que estiver sido preparado.O ideal uma conversa individual, pelo menos com aqueles que forem mais significativos e cuja adeso for essencial para o sucesso do movimento. Se a opo for a realizao de uma reunio, o primeiro passo listar os convidados. A lista ser diferente em funo dos propsitos e da abrangncia pretendida, mas, mantidos os limites do bom senso, melhor pecar pelo excesso. Tente identificar o maior nmero possvel de reeditores. comum que algum que no foi chamado na primeira hora se sinta excludo e depois fique meio relutante em participar. Isso quando ele no criar explicaes para o fato, contribuindo para criar uma imagem de que um movimento de algum, que restringe e escolhe quem pode ou no participar. O melhor no correr este risco.Toro[footnoteRef:57] ainda acrescenta um comentrio importante sobre evento e campanha no processo de mobilizao: [57: Idem, p. 75.]

A mobilizao no se confunde com eventos ou campanhas, embora possa usar destas estratgias no seu processo.O evento por si s no assegura mudanas, porque ele no tem correspondncia no cotidiano. Aconteceu e acabou. Pode deixar um resduo de sensibilidade para um problema, mas este se perde na retomada do dia a dia.Mesmo um conjunto de eventos, seminrios, oficinas, gincanas, passeatas, no equivale a um processo de mobilizao. Pode estar acontecendo tudo isso e no estar ocorrendo um processo efetivo de mobilizao.A mobilizao no se confunde com manifestao, no exige que as pessoas estejam fisicamente juntas, mas unidas por propsitos e sentidos comuns, orientados para uma ao.O evento tem dois sentidos no processo de mobilizao: Enquanto momento de troca e difuso de informaes. Enquanto liturgia, isto , uma verificao pblica, atravs de smbolos, onde manifestamos nossas crenas. Este um papel muito relevante, especialmente no incio do processo e em certos momentos de seu desenrolar e que preciso renovar a nossa f, revitalizar nossos sentimentos e disposies.A mobilizao se concretiza quando os gestos, as crenas e as informaes se consolidam, se propagam, se multiplicam e geram aes que concorram diretamente para os objetivos, em funo dos quais est sendo proposta a mobilizao.As campanhas podem, e s vezes at devem, ser utilizadas como parte de um processo de mobilizao. Elas so importantes nos primeiros momentos, porque contribuem para dar visibilidade imediata sobre objetivos e alternativas de ao. Voltam a ter seu lugar durante o processo, tambm como estratgia de esquentamento. Para que cumpra este papel, seu objetivo deve estar sempre relacionado com o imaginrio proposto, a participao deve ser muito facilitada e seus resultados devem ser sempre amplamente divulgados.Considerando que somente a participao efetiva da comunidade trar a sustentabilidade, ou seja, a continuidade e a permanncia do policiamento comunitrio, fica evidente que necessrio transformar esse objetivo em metas permanentes de trabalho para as Cias, como so as metas da Coordenadoria de Anlise e Planejamento da Secretaria de Segurana Pblica, quanto aos principais delitos. A pesquisa mostrou que necessrio ter um nmero mnimo de PMs comunitrios para fazer o corpo-a-corpo, pois ainda o melhor meio de comunicao.3.3.8 Pesquisa sobre mobilizao com Comandantes de CiaFoi enviado questionrio-pesquisa 165 comandantes de companhia, incluindo capital, grande So Paulo e interior , havendo um retorno de respostas de 66 oficiais.Buscou-se avaliar a existncia de metas de trabalho de mobilizao, projetos em desenvolvimento, meios de comunicao, capacitao tcnica do Oficial comandante de Cia e segmentos comunitrios estratgicos para incio de processo de mobilizao.Figura 3 Metas de Trabalho Impostas

Figura 4 Metas Prprias de Trabalho

Quanto existncia de metas de trabalho impostas pelo escalo superior para a mobilizao de segmentos comunitrios especficos visando preveno criminal, tais como condomnios, associaes, igrejas, escolas etc, 55% dos entrevistados afirmaram que no existe imposio superior para este trabalho e perguntado se estabelecem metas prprias para esses segmentos, 11% dos entrevistados disseram no estabelecer metas e 42% disseram que esporadicamente estabelecem metas prprias para mobilizar esses segmentos.Apesar do Plano Plurianual da Corporao estabelecer objetivos para estimular a participao do cidado, conforme foi apresentado anteriormente, fica a impresso de que o plano no est sendo cumprido pela maioria das Cias.Apesar disso, no mbito de Cia so impostos objetivos operacionais de reduo da criminalidade vindos da Secretaria de Segurana Pblica (SSP), quanto a alguns delitos de interesse, porm quanto ao nvel de participao da comunidade uma grande parcela sequer faz algum trabalho de mobilizao visando preveno criminal. Esse cenrio revela a importncia de serem estabelecidas metas pelo comando superior para assuntos no mbito de Cia PM. Um comandante de Cia pode at conseguir durante alguns meses, por conta de reforo policial e esforo redobrado de sua tropa ganhar a guerra contra a criminalidade, reduzindo os crimes da rea, mas se no investir na participao comunitria, despertando o cidado para a responsabilidade individual e a coletiva na preveno criminal, no ter um cenrio balanceado sustentvel, e em curto prazo os problemas reaparecero.Da mesma forma que a SSP impe metas operacionais para reduo de delitos deveria haver metas para melhorar a participao comunitria. Para isso seria necessrio buscar indicadores que possam servir de parmetro para medir o nvel de participao da comunidade, como por exemplo, o nmero de voluntrios em atividade na Cia, assunto que dever ser objeto de estudo especfico.Foi perguntado tambm se a Cia desenvolve algum projeto de mobilizao comunitria de incentivo ao voluntariado visando pblico especfico, como idosos, crianas etc. Segue o resultado:Figura 5 Projetos de mobi