a ilha da madeira e seus vinhos

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Os vinhos da Ilha da Madeira Humberto Lisboa Leite 28 de Junho de 2012 Apoiadores: IVBAM Instituto do Vinho, do Bordado e do Artesanato da Madeira, IP (IVBAM)

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A Ilha da Madeira, localizada ao sudoeste de Portugal, é uma região conhecida mundialmente por seus vinhos, que apresentam características diferenciadas, por conta das condições climáticas e do solo. Com o objetivo de mostrar essa história, o Senac Penha realizou, em 28 de junho, a palestra Ilha da Madeira e seus Vinhos. O docente Humberto Leite foi o convidado para discorrer sobre o assunto e apresentar aos participantes esses vinhos. Além disso, ele falou sobre os processos de produção, cultura, valores e a importância dos vinhos para Portugal. Para mais informações, acesse http://bit.ly/MOrtO3

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Os vinhos da Ilha da Madeira

Humberto Lisboa Leite 28 de Junho de 2012

Apoiadores:IVBAM Instituto do Vinho, do Bordado e do Artesanato da Madeira, IP (IVBAM)

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DESCOBRIMENTO OU REDESCOBERTA?

A referência ao Arquipélago da Madeira num manuscrito (Libro del conoscimiento de todos los Reynos) e a sua representação em mapas italianos e catalães de meados do século XIV, tornam falsa a tese do descobrimento no início do século XV, por João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira.

Apesar da existência documental torna-se difícil apurar a data do achamento e a origem do descobridor. A sua indicação geográfica já aparece em 1399 na Carta de Dulcert, em 1351 no Atlas Mediceo e noutros documentos náuticos dos séculos XIV e XV.

Nos documentos do século XIV as ilhas do Arquipélago da Madeira têm nos mapas italianos os nomes atuais: Legname, Santo Christi e Deserte e nos mapas espanhóis Leiname, Puerto Santo e Disierta. É possível que já tivessem sido visitadas no reinado de D. Afonso IV por uma das expedições lusogenovesas que se dirigiam às Canárias.

A versão mais corrente dos fatos que originaram a redescoberta ou descoberta oficial do Arquipélago da Madeira refere que João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira, instruídos pelo Infante D. Henrique para explorar a costa oeste africana, desembarcaram em 1419, após terem sido desviados da sua rota inicial, primeiro na ilha do Porto Santo e posteriormente até à outra ilha, que, envolta em denso nevoeiro, do Porto Santo se avistava – a Madeira.

Tendo reconhecido a importância da ilha, sobretudo no apoio à navegação naquela zona, regressaram a Portugal e propuseram ao Infante o seu reconhecimento e povoamento no ano seguinte.

A inclusão do Arquipélago da Madeira em manuscritos e sua inclusão em cartas e portulanos do século XIV não nos permite acreditar que o seu achamento fosse obra do acaso. No entanto, e apesar do mistério que sempre o envolverá, é inegável a importância deste feito na história dos Descobrimentos Portugueses.

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ILHA DA MADEIRA – “ILHA DO VINHO”

Com o processo de ocupação e aproveitamento da ilha, é dada como certa a Introdução de cepas vindas do reino e mais tarde do Mediterrâneo.

João Gonçalves Zarco, Tristão Vaz Teixeira e Bartolomeu Perestrelo, que receberam o domínio das capitanias do Arquipélago da Madeira, sob a direção do monarca e do Infante D. Henrique, procederam ao desbravamento e ocupação do solo com diversas culturas trazidas do reino, com a plantação de cana-de-açúcar oriunda da Sicília e com a plantação de vinha oriunda da Cândia na Grécia, nomeadamente cepas de Malvasia.

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VEGETAÇÃOO povoamento do território, muitas vezes intenso e desordenado, fez com que a vegetação natural da Ilha da Madeira fosse profundamente marcada pela ação humana.

O recurso à prática corrente do fogo (queimadas), a pastorícia e o corte de árvores e arbustos, foram os fatores essências que fizeram condicionar a natureza, ao quotidiano do homem.

De fato, muitas áreas florestais foram derrubadas com o objetivo de obter lenha para os engenhos de açúcar ou para extração de madeiras de boa qualidade. Na vegetação atual da ilha, destacam-se predominantemente culturas agrícolas, espécies florestais, mato de espécies autóctones e prados naturais.

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AGRICULTURA

A área agrícola desenvolve-se sobretudo abaixo dos 600 metros, em explorações de pequena dimensão, em terrenos de declive variável, geralmente armados em socalcos artificias, denominados por poios.

A agricultura baseia-se fundamentalmente na cultura da banana, cana-de-açúcar, vinha, árvores de frutos tropicais (abacateiro, anoneira, mangueira, maracujeiros, papaieira, etc.), árvores de fruto de regiões temperadas (castanheiro, figueira, nespereira, nogueira, cerejeira, macieira, pereira, laranjeira, limoeiro, etc.), cereais (milho e trigo) e hortícolas diversas (batata, batata-doce, fava, couves, feijão, inhame, tremoço e outras culturas de subsistência).

Com exceção da bananeira e cana-de-açúcar que são monoculturas, as demais, incluindo-se a própria vinha, cultivam-se em geralmente associadas a outras cultura num sistema típico de policultura intensiva.

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CLIMAA Ilha da Madeira está sujeita aos ventos alísios – ventos tropicais provenientes da cintura subtropical de altas pressões que sopram com desvio para O desde NE – que atingem o território durante a maior parte do ano. Esta influência, a sua situação geográfica e as particularidades morfológicas próprias da ilha, fazem com que as condições climatéricas da vertente norte e sul difiram bastante entre si.

A influência da orografia determina a existência de microclimas. A existência de uma cordilheira central de elevada altitude determina uma vertente sul soalheira e protegida da acção dos ventos predominantemente húmidos e uma vertente norte menos exposta aos raios solares.

O clima é temperado com características oceânicas, verificando-se uma variação de temperatura, humidade e pluviosidade, consoante a altitude. À mesma altitude mas a norte, o clima é sempre mais chuvoso e caracteriza-se por temperaturas mais baixas.

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Seixal

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CLIMAO clima é portanto mesotérmico com chuvas e sem quedas regulares de neve. Na maior parte da ilha o verão é pouco quente mas longo e numa estreita faixa da costa sul é quente e longo.

A temperatura média anual aumenta nas regiões planálticas e nos picos do centro interior da ilha, de valores próximo dos 9ºC, até valores acima dos 17,5ºC no litoral. A temperatura média do mês mais quente (Agosto) é de cerca de 22ºC, enquanto a do mês mais frio (Fevereiro) é da ordem dos 15ºC.

A amplitude térmica anual é relativamente baixa nas localidades do litoral. A temperatura média do mês mais quente é apenas cerca de 6ºC mais elevada que a do mês mais frio. Nas áreas montanhosas esta diferença é mais acentuada, oscilando entre os 9 e os 10ºC.

A umidade relativa anual varia de, cerca de 55% na costa, até aproximadamente 90% na zona dos nevoeiros; a partir daqui, para as altitudes elevadas, a humidade volta a ser menor, chegando a valores próximo dos 75%. O Funchal, capital da ilha, regista valores médios de 70%. No que respeita à precipitação anual, verifica-se que aumenta com a altitude, desde cerca de 500mm na costa sul, ou 1.000 mm na costa norte, até um pouco acima dos 3.200mm nas zonas mais altas do interior.

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Funchal

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SOLOSSob o ponto de vista geológico a ilha é predominantemente constituída por rochas eruptivas (rochas basálticas, gabros, rochas ácidas do tipo traquítico, xitos e rochas afins), materiais piroclásticos (finos como tufos e cineritos, aparelhos vulcânicos, cones de escórias e grosseiros como blocos, bombas, brechas e aglomerados) e em extensões relativamente pequenas, por rochas sedimentares que ocorrem sobretudo ao longo da costa e nos vales.

Quanto à composição, o material originário dos solos predominantes na ilha, caracteriza-se por ser de natureza basáltica, variando com a altitude. Nas regiões de menor altitude predominam os terrenos derivados do basalto, compactos, de cor escura que indiciam a presença de quantidades consideráveis de ferro; nos pontos mais altos, derivam com freqüência das traquites.

O processo erosivo, por acção direta ou indireta do homem, faz-se sentir desde a sua chegada a ilha. A erosão é um grave problema a que estão sujeitos os solos da Ilha da Madeira. Este fenomeno observa-se sobretudo nas zonas dos prados naturais, anteriormente muito submetidos a uma forte pressão de pastoreio e à prática corrente de queimadas. Estas ações associadas a elevada precipitação e ventos que se fazem sentir nas zonas mais altas, provocaram a redução rápida do coberto vegetal e conseqüente erosão dos solos.

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SOLOO homem tem sido um protagonista ativo na formação e evolução dos solos através da sua intervenção no próprio perfil pedológico, verificada sobretudo nos solos ocupados pelas diversas culturas agrícolas. De fato, para tornar os solos agricultáveis o homem viu-se obrigado a reduzir ou mesmo anular alguns dos grandes declives, nas áreas de encosta, através da construção dos terraços ou poios.

A movimentação de terras resultante da construção destes terraços, implicou a decapitação e soterramento de muitos pédones, bem como a mistura e uniformização de horizontes genéticos até certa profundidade. Além destes pédones parcialmente modificados, outros terão sofrido modificação em toda a sua espessura. Nalgumas situações, ter-se-á verificado a constituição de pédones totalmente artificiais, devido a deslocação de terras, de áreas vizinhas, para locais onde as formações rochosas afloravam ou se encontravam muito próximo da superfície.

A modificação morfológica dos solos fica ainda a dever-se a diversas técnicas de natureza cultural – aplicadas ao longo dos anos, nestas pequenas parcelas agrícolas – nomeadamente mobilizações, adubações, regas e outras práticas correntes.Todo este conjunto de ações pode ter alterado profundamente o perfil do solo natural, afetando a sucessão dos horizontes originais, estrutura e algumas outras características secundárias.

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Porto Santo

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Porto Santo

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RELEVO E HIDROGRAFIAA ilha da Madeira é de origem vulcânica, datando do período Miocénico da Era Cenozóica ou Terciária, há 65 MILHÕES e 500 MIL ANOS ATRÁS...

Do ponto de vista morfológico, pode considerar-se a existência de uma alta região central, fortemente marcada pela erosão onde podem ser distinguidos imponentes maciços montanhosos, cortados por vales profundos e desníveis de parede quase verticais.

Nas zonas altas são por vezes encontradas áreas planas, como é o caso do Paúl da Serra, Poiso e Santo da Serra.

Poderão distinguir-se superfícies subestruturais constituindo perfeitos planaltos denominados de “achadas”.

A estrutura montanhosa que forma a espinha dorsal da ilha da Madeira constitui uma barreira natural que a divide em duas metades, distando 8Km da costa norte e 14Km da costa sul.

Cerca de metade da área total da ilha situa-se acima dos 700 metros.

Aproximadamente 65% da superfície da ilha tem declives superiores a 25% e apenas 12% com declives inferiores a 16%.

Os pontos mais altos são o Pico do Arieiro e Pico Ruivo com 1.818 e 1.862 metros respectivamente.

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RELEVO E HIDROGRAFIAAlguns dos maciços montanhosos estendem-se até o mar. Porém poderemos passar de uma região central mais elevada, para o litoral, através de vertentes mais ou menos íngremes, que podem ser denominadas por “lombos”, “lombinhos” e “lombadas”.

As vertentes são profundamente entalhadas por vales com perfil torrencial, por onde correm os cursos de água que formam a rede de drenagem da ilha.

A costa da Ilha da Madeira é, tal como o resto da ilha, predominantemente alta e escarpada. O litoral norte desenvolve-se, quase sem exceção, em escarpas de grande imponência, chegando por vezes a atingir desníveis na ordem dos 500 / 600 metros.Podem ainda ser encontrados pequenas planícies, resultantes da erosão por desmoronamento e que são designadas por “Fajãs”.

Nas zonas com declives compreendidos entre 16% e 25 %, que ocupam a maior parte da superfície arável da ilha, a agricultura só é possível devido a socalcos, artesanalmente construídos pelos habitantes da ilha, vulgarmente denominados por poios.

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Cabo Girão

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RELEVO E HIDROGRAFIAos numerosos cursos de água apresentam declives acentuados, caracterizando-seem geral por um regime não permanente.

No Inverno, como resultado de chuvas intensas, poderão apresentar caudais abundantes. No Verão, os cursos de água da vertente norte apresentam caudais baixos enquanto que, os que correm para sul se encontram praticamente secos.

As nascentes, alimentadas pelas águas de infiltração localizam-se em maior número e com caudal mais regular, na parte norte da ilha.

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CASTAS RECOMENDADAS E CASTAS AUTORIZADAS

CASTAS RECOMENDADAS:Brancas: Sercial ou Cerceal (Esgana Cão), Boal ou Bual, Malvasia Cândida, Folgasão(Terrantez*) e Verdelho Branco.

Tintas: Bastardo, Tinta da Madeira, Malvasia Roxa, Verdelho Tinto e Tinta Negra.

CASTAS AUTORIZADAS:Brancas: Carão de Moça, Moscatel de Málaga, Malvasia Babosa, Malvasia Fina(Boal*), Rio Grande, Valveirinha, Listrão e Caracol.

Tintas: Tinto Negro, Complexa, Deliciosa e Triunfo.

* Boal e Terrantez são os únicos sinónimos autorizados na rotulagem do VLQPRDMadeira para as castas Malvasia Fina e Folgasão respectivamente.

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MALVASIAApesar do Sercial, Verdelho, Boal, Bastardo, Terrantez e Tinta da Madeira teremcontribuído para a fama do Vinho da Madeira foi sem dúvida a Malvasia nas suasvariantes Cândida, Roxa, Babosa e a Malvasia propriamente dita que espalhou onome do vinho da Madeira desde o início da ocupação da ilha.

A tradição indica que foi a primeira casta a ser introduzida na Ilha da Madeira sobordem do Infante D. Henrique que em 1445 mandou vir os primeiros bacelos doMediterrâneo.

Aqui desenvolveu-se em áreas especificas do litoral na vertente meridional da ilha,estendendo-se pela Fajã dos Padres (Campanário), Paúl do Mar, Jardim do Mar, Arcoda Calheta, Madalena do Mar, Sítio do Lugar (Ribeira Brava) e Anjos (Canhas).

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VINHOS MALVASIA

A Malvasia produz os vinhos da Madeira mais escuros, ricos, cheios de caráter,encorpados e frutados. De textura macia e distinto corpo nos grandes vinhosapresenta-se untuoso e com sabor a sultanas, retendo ainda um travo característicode acidez que o impede de se tornar enjoativo.

Os vinhos elaborados a partir desta casta são muitas vezes indicados pela palavraMalmsey proveniente do anglicizado termo Malvasia.

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BOALCasta muito cultivada em Portugal mas que ganhou maior notabilidade na Ilha daMadeira, onde o seu nome foi anglicizado para Bual.

É juntamente com a Malvasia a casta branca mais difundida representando cerca de5% da produção total de uvas.

Espalhou-se principalmente por Campanário, Câmara de lobos, Santo António,Estreito de Câmara de Lobos, Paúl do Mar e Fajã (Ponta do Pargo).

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VINHOS BOAL

Produz vinhos ricos, meio-doces, escuros, medianamente encorpados e frutados, comexcelente potencial para envelhecer, podendo ser bebido mais jovem do que o Verdelho e, em particular, do que o Sercial.

Tornam-se arredondados e atrativos retendo acidez durante o seu longoenvelhecimento em cascos.

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VERDELHO

Casta branca mais vulgarmente cultivada na Ilha da Madeira antes do aparecimentoda filoxera, estimando-se que teria cerca de 2/3 do total das videiras existentes. Nopassado poderia ser encontrada ainda uma variedade tinta denominada por VerdelhoTinto.

A Verdelho cresce também nos Açores e no norte de Portugal, na região do Douro, sendo conhecida como Verdelho Branco ou Gouveio (muito semelhante a Godello ou Verdelho da Galicia).

Aparentemente é provável que a Verdelho da Madeira pertença a mesma variedade encontrada no Douro, Açores e provavelmente a mesma que a Verdello de Itália.

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VINHOS VERDELHO

Produz vinhos ligeiramente mais encorpados e menos ácidos que os provenientes dacasta Sercial.

No lado do meio-seco, apresentam no aroma deliciosas e penetrantes nuances a frutas secas.

Desenvolvem com a idade uma extraordinária complexidade defumada enquanto retêm a sua penetrante característica.

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SERCIAL

Juntamente com o Verdelho encontra-se entre as castas tradicionais com menorprodução representando atualmente cerca de 2% da produção total de uvas.

A reconversão já iniciada nos vinhedos da ilha irá certamente contribuir para umaumento da sua produção.

Diferentes variedades de Sercial crescem também em muitas regiões vinícolas doContinente português, mais freqüentemente conhecida por Esgana Cão, devido a suanotável adstringência e elevada acidez.

O termo Sercial resulta de um anglicismo da casta branca portuguesa Cercealanteriormente muito cultivada na Madeira na era pré-filoxera.

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VINHOS SERCIAL

Produz vinhos ligeiramente encorpados, secos e com elevada acidez.

Quando novos apresentam-se ásperos e desagradáveis, mas quando convenientemente e longamente envelhecidos transformam-se num dos vinhos da Madeira mais finos edelicados.

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TINTA NEGRA

A Tinta Negra, variedade mais plantada na Ilha da Madeira, cresce principalmente noEstreito de Câmara de Lobos e Câmara de Lobos, na zona sul da ilha, e no norteprincipalmente em São Vicente.

Atualmente representa cerca de 85% da produção total de uvas na ilha. Embora os seus antecedentes sejam desconhecidos, é por alguns reivindicado como sendo originalmente resultante de cruzamentos entre a Pinot Noir, a grande casta tintaborgonhesa, com a Grenache.

Esta casta foi durante vários anos injustamente denegrida em detrimento das outrascastas que deram fama ao vinho da Madeira. Para além da boa produtividade e resistência as doenças, tem uma elevada versatilidade. Seguindo o método tradicional do Madeira, os vinhos provenientes desta casta, têm a habilidade única de adquirir as características das diferentes castas de acordo com a altitude onde crescem.

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TINTA NEGRA

Esta constatação permitiu que durante algum tempo, após o aparecimento do oídio eda filoxera, doenças que dissiparam a maior parte dos vinhedos plantados na ilha,certos vinhos fossem rotulados com a designação das castas mais importantes.

De fato após a filoxera ter devastado as vinhas existentes na ilha, principalmente oSercial, Verdelho, Boal e Malvasia, foi subseqüentemente mais utilizado para definirum estilo de Madeira do que a variedade de que provinham.

Atualmente assiste-se a uma mudança de opinião acerca das potencialidades daTinta Negra. O acompanhamento da maturação das uvas aliada a uma vinificaçãocuidada e ao trabalho do enólogo poderão produzir vinhos interessantes e de elevadaqualidade feitos com base nesta casta.

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VITICULTURA

Tendo em conta as características orográficas da Ilha da Madeira, é notória a dificuldade com que os agricultores se deparam para proceder ao cultivo das terras, mormente à cultura da vinha.

Quase todos os vinhedos da ilha são plantados em minúsculos terraços denominados poios, escorados pelo vermelho ou cinzento basalto das paredes que os suportam.

As latadas madeirenses são uma obra-prima da viticultura madeirense que resultam num magnífico e inigualável espetáculo paisagístico.

É principalmente nos socalcos das encostas soalheiras da vertente sul da ilha, mais concretamente nos terrenos situados entre os 350 e 750 metros de altitude, que a vinha tem as melhores condições para se desenvolver.

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TIPOS DE CONDUÇÃO

Noutros tempos, no norte da ilha, as vinhas dispunham-se em balseiras, método que consistia em sustentar a vinha sobre árvores dispostas para esse fim, crescendo em altura ou à vontade por cima de rochas ou pelo chão.

Neste tipo de condução, apesar da produção ser abundante, as uvas raramente atingiam a completa maturação devido a, normalmente, não se efetuar a poda nas árvores tutoras – principalmente castanheiro, carvalho, faia e loureiro –, o que originava deficiente exposição solar.

Devido ás difíceis condições de acesso à vinha (por se encontrar muito alta), o agricultor deparava-se com várias dificuldades: Proceder à poda; tratamento contra o oídio; e colheita das uvas.

Pelas dificuldades atrás enumeradas e a destruição das árvores tutoras, pelo oídio, ficou facilitada a tendência para a mudança de condução. As vinhas plantadas de novo seguiram o modelo de latada, praticado no lado sul da ilha.

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Latadas

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TIPOS DE CONDUÇÃO

No Norte da ilha, uma das características das latadas é a necessidade de construir sebes ou bardos para proteger as vinhas do vento e da ressalga.

Para este fim utiliza-se a urze, tal como se pode verificar no litoral norte, particularmente entre o Seixal e a Ribeira da Janela.

No sul as latadas e os corredores predominam, ainda que com a desvantagem de não existir espaço – entre o solo e a vinha – para o trabalho da monda, poda, aramação da vinha, desparra ou mesmo para a vindima.

Na Ilha da Madeira, maior parte das vinhas são plantadas em baixas latadas semelhantes a região dos vinhos verdes no continente português, onde é elevado por estacas e aramadas acima do solo.

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Colheita Manual em Latada

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Colheita Manual em Latada

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Colheita Manual em Latada

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TIPOS DE CONDUÇÃO

No Porto Santo, devido ás condições geológicas e climáticas, o terreno agrícola vitícola resume-se a zonas do litoral, dominando a vinha em pé.

Atualmente verifica-se uma mudança na paisagem vitivinícola da ilha, isto porque começam a aparecer novas parcelas de vinhas, conduzidas no sistema deespaldeira.

Esforços estão a ser feitos para a reconversão das vinhas na Madeira, no sentido de reconstituir o panorama vitícola anterior ao oídio e à filoxera.

A reestruturação da vinha na região é uma realidade atual mas o seu êxito dependerá também, da política adotada pelo setor de produção e da exportação de vinho.

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Espaldeira

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Colheita Manual em Espaldeira

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VINIFICAÇÃO RECEPÇÃO E SELEÇÃO DE UVAS

A produção do Vinho da Madeira começa com a seleção das uvas durante a vindima. É aqui que a qualidade é primeiramente determinada. A todo custo tentamos minimizar o tempo entre a apanha e a prensagem das uvas, tendo em conta o seu importante papel na manutenção da qualidade.

O transporte rápido, em caixas de pequena capacidade (30/50 Kg), evitará o esmagamento das uvas pelo seu próprio peso, inícios de fermentação, oxidações e perca da frescura dos seus sabores.

Após chegada das uvas a adega é feita a triagem. Esta consiste em avaliar primeiramente o estado sanitário das uvas. Posteriormente procede-se a pesagem, verificação do grau alcoólico provável por refratometria, seleção e vinificação de acordo com os diferentes tipos de vinhos a obter.

O incentivo à perfeita maturação das uvas é dado através do pagamento do quilograma de acordo com a graduação alcoólica.

As castas brancas de Sercial, Verdelho, Boal e Malvasia são totalmente vinificadas emseparado enquanto que as diversas castas tintas, principalmente a Tinta Negra e a Complexa são vinificadas em conjunto.

As características dos mostos das diferentes castas estão em estreita dependência da natureza do solo e da variação dos fatores climaticos da região onde estão cultivadas.

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Refratômetro

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DESENGAÇE, ESMAGAMENTO, ESGOTAMENTO, PRENSAGEM E FERMENTAÇÃO

Antes do esmagamento, esgotamento, prensagem e fermentação todas as uvas são totalmente desengaçadas de modo a evitar que os sabores ásperos e adstringentes dos engaços sejam transmitidos aos vinhos.

Após desengaçe as uvas poderão seguir dois tipos distintos de vinificação:Esmagamento, esgotamento, prensagem e fermentaçãoEsmagamento, fermentação, esgotamento e prensagem

Em qualquer dos casos a fermentação com ou sem maceração pelicular é controlada em cubas de inox dotadas de cintas de arrefecimento.

No caso de fermentação com curtimenta as remontagens são controladas automaticamente.

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Cubas de fermentação “ao tempo”

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FORTIFICAÇÃO

Para se obterem vinhos com diferentes graus de doçura procede-se à paragem dafermentação, com a adição de álcool vínico.

No momento preciso e considerando os tipos de vinho a obter os vinhos em fermentação são fortificados com álcool vínico. Esta adição de álcool vínico a 96% provoca a paragem quase instantânea da fermentação.

O Malvasia, Boal e outros vinhos da Madeira do tipo doce e meio-doce são fortificados mais cedo, garantindo assim uma maior quantidade de açúcar residual.

Por outro lado o Sercial, Verdelho e outros vinhos da Madeira do tipo seco e meio-secofermentam quase até ao total conversão do açúcar natural das uvas em álcool.

Após fortificação os vinhos ficam com aproximadamente entre os 17% e 18% de álcool por volume.

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ESTUFAGEM

Após a fortificação, clarificação e constituição de lotes e antes do envelhecimento em cascos de carvalho a maioria dos vinhos são submetidos ao processo tradicional de estufagem, processo típico e único, que consiste na colocação do vinho em estufas - cubas de aço inox aquecidas por um sistema de serpentinas ou camisas onde circula água quente - durante um período de 3 meses e a uma temperatura variando entre os45ºC e os 50ºC.

Nesta operação, controlada pelo Instituto do Vinho, Bordado e Artesanato da Madeira (IVBAM), as estufas mantêm-se seladas durante todo o período. O controlo implica à colheita de amostras para análise quer seja antes ou após a estufagem.

Os vinhos da Madeira não submetidos à operação de estufagem, designados de canteiro, vinho-canteiro ou vinho de canteiro, são após clarificação, correcção e constituição de lotes envelhecidos em cascos de carvalho.

Este sistema é aplicado em todos os vinhos provenientes de castas brancas, nomeadamente a Malvasia, Boal, Verdelho, Sercial e em alguns provenientes da casta Tinta Negra.

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Estufagem

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ENVELHECIMENTO

Quer sejam estufados ou não os melhores vinhos são selecionado para iniciar o seuenvelhecimento em cascos ou cubas de carvalho de diferentes tamanhos.

No envelhecimento são utilizados cascos e tonéis de carvalho francês, americano ou português de 300, 350, 650, 1.800, 2.000, 2.300, 2.500 e 2.800 litros de capacidade. Nas cubas de madeira, também em carvalho, são utilizados diferentes tamanhos variando de 7.000 a 40.000 litros.

A seleção dos vinhos para envelhecimento depende sobretudo da sua qualidade, caráter e do seu potencial de envelhecimento.

O envelhecimento oxidativo em casco, neste clima subtropical, desenvolve no vinho uma complexidade e intensidade de paladar únicas.

O tempo de envelhecimento é uma decisão técnica que depende muito do tipo de vinho pretendido e das solicitações do mercado.

As provas correntes para verificar a evolução e qualidade, as trasfegas, atestos e correções necessárias, são algumas das operações que o enólogo e os técnicos têm que desempenhar para que o vinho se mantenha equilibrado e harmonioso durante todo o processo de envelhecimento.

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Canteiros

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DESIGNAÇÕES TRADICIONAIS

Segundo a qualidade, idade e certas características poderemos encontrar as seguintesdesignações:

Frasqueiras ou Garrafeiras – Vinho com indicação do ano de colheita, obtido a partir davinificação de castas nobres tradicionais, com envelhecimento mínimo de 20 anos eapresentando qualidade destacada. Deverá constar de conta-corrente especifica, antes edepois do seu engarrafamento.

Superior – Vinho de qualidade destacada obtido a partir das castas nobres tradicionais,devendo constar de conta-corrente especifica.

Reserva Velha, Muito Velho (Old Reserve, Very Old) – Vinho em conformidade com opadrão de 10 anos.

Reserva, Velho (Old, Vieux) – Vinho em conformidade com o padrão de 5 anos.Reserva Especial – Vinho em conformidade com o padrão de 10 anos com qualidadedestacada.

Seleccionado (Selected, Choice, Finest) – Vinho com envelhecimento mínimo de 3 anos eapresentando boa qualidade, com aprovação prévia da respectiva amostra padrão.

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DESIGNAÇÕES TRADICIONAIS

Solera – Vinho associado a uma data de vindima que constitui a base do lote, retirando-seanualmente uma quantidade que não excede os 10% do lote existente, quantidade que ésubstituída por outro vinho de qualidade. O máximo de adições permitidas é de 10, após oque poderá ser engarrafado de uma só vez todo o vinho existente.

Canteiro (Vinho-canteiro, Vinho de Canteiro) – Vinho alcoolizado logo após a fermentação,sendo a seguir armazenado em cascos onde envelhece durante um período mínimo de 2anos. Deve constar de conta-corrente específica e não pode ser engarrafado com menos de3 anos.

Rainwater – Vinho apresentando cor entre o dourado e o meio dourado com grau Baumécompreendido entre 1.0 Bé e 2.5 Bé e apresente boa qualidade, com aprovação prévia darespectiva amostra-padrão.

Colheita (com data) - A indicação do ano de colheita poderá ser utilizada quer para osvinhos provenientes das denominadas castas nobres tradicionais quer para os vinhoselaborados a partir de outras castas consideradas boas tal como a Negra Mole.

No caso do Sercial esta indicação só poderá ser feita quando o vinho tiver um mínimo de 7anos. No caso das restantes castas o vinho deverá ter um mínimo de 5 anos.

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DESIGNAÇÕES TRADICIONAIS

Madeiras com indicação de idade – Vinho com direito ao uso da designação de idade,quando tenha qualidade em conformidade com os respectivos padrões, sendo as indicaçõesde idade permitidas as seguintes:

- 5 anos de idade;- 10 anos de idade;- 15 anos de idade;- 20 anos de idade;- 30 anos de idade;- mais de 40 anos de idade;

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GRAU DE DOÇURA

Quanto ao grau de doçura os diferentes tipos de Vinho da Madeira poderão serclassificados:

- Seco (Dry, Sec), com o grau Baumé inferior a 1,5º.Poderão ser utilizadas as expressões Extra-Seco (Very Dry, Extra Dry, Extra Sec) quando ograu Baumé não ultrapassar 0,5º.

- Meio Seco (Medium Dry, Mi-Sec), com o grau Baumé compreendido entre 1º - 2,5º.

- Meio Doce (Medium Sweet, Medium Rich, Mix-Doux, Mi-Riche), com grau Baumécompreendido entre 2.5º - 3.5 Bé.

- Doce (Sweet, Rich Cream, Doux, Riche) com o grau Baumé superior a 3.5º.

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COR

- Muito pálido (Extra palê, Light palê) – Vinho muito aberto na cor levemente citrino, quase transparente, muito característico nos vinhos jovens.

- Pálido (Palê) – Vinho aberto na cor com tom palha muito característico do Madeira seco e meio seco, conseqüência da ausência ou maceração pouco pronunciada durante a fermentação e oxidação ligeira da matéria corante, comum em vinhos envelhecimento em casco.

- Dourado (Golden) – Vinho com densidade cromática mais carregada que o pálido, com reflexos dourados e brilhantes.

- Meio Escuro (Medium-Dark) – Vinho com boa riqueza cromática, sendo no entanto maisleve nos tons acastanhados.

- Escuro (Dark) – Vinho de profunda intensidade cromática resultante do equilíbrio de cores alaranjadas e acastanhadas, sendo esta ultimas predominantes, devido à oxidação da matéria corante no vinho e migração das matérias extrativas do casco.

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FINALMENTE, quanto ao corpo e ao sabor nas designações tradicionais surgem:

- Leve (Light Bodied) – Vinho pouco encorpado mas de consistência equilibrada.

- Encorpado (Full ou Full Bodied) – Vinho rico em substâncias extrativas, bem equilibrado e cheio ao paladar.

- Fine (Fine) – Vinho de qualidade e elegante com perfeito equilíbrio na frescura dos ácidos, maturidade do corpo e conjunto dos aromas evoluídos com envelhecimento em casco.

- Macio (Soft) – Vinho fino com bouquet evoluído.

- Aveludado (Luscious) – Vinho macio e glicerinado, por vezes levemente untuoso,resultante do processo de envelhecimento em cascos.

- Amadurecido (Mellow) – Vinho macio com características de idade, donde resulta um perfeito equilíbrio nas características organolépticas sensoriais.

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