a ideia de Áreas naturais

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Espaço & Geografia, Vol.17, N o 2 (2014), 377:422 ISSN: 1516-9375 DA DESCRIÇÃO DE ÁREAS ÀS SÍNTESES NATURALISTAS: UMA ABORDAGEM HISTORIOGRÁFICA SOBRE A IDEIA DE ‘ÁREAS NATURAIS’ FROM DESCRIPTION OF AREAS TO NATURALIST SYNTHE- SIS: AN HISTORIOGRAPHICAL APPROACH ABOUT THE IDEA OF ‘NATURAL AREAS’ Lucas Costa de Souza Cavalcanti¹ & Antonio Carlos de Barros Corrêa² 1 Colegiado de Geografia, Universidade de Pernambuco III Petrolina, Pernambuco, Brasil. [email protected] 2 Departamento de Ciências Geográficas, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Pernambuco, Brasil. [email protected] Recebido 12 de Dezembro de 2013, aceito 19 de Dezembro de 2014 Resumo: O presente trabalho possui como objetivo realizar uma revisão sobre a construção conceitual e as variações terminológicas da ideia de áreas naturais, valendo-se de uma abordagem historiográfica mais contextualista que propositiva. Resgatando elementos presentes na literatura especializada e aliando informações de ordem conjuntural, o estudo faz passeio pela história do pensamento geográfico no intuito de explicar de onde vem a noção de área natural e como se deu sua diversificação terminológica, resultando em termos tão variados (land systems, ecorregiões, geossistemas, unidades de paisagem, etc.). O trabalho permitiu esclarece que, suprindo-se de noções como a descrição de áreas e a ideia de zonalidade, que remontam à antiguidade, as sínteses naturalistas passaram a vogar efetivamente a partir do iluminismo. Estas que surgiram associadas, sobretudo, ao desenvolvimento da cartografia temática. Palavras-Chave: historiografia da geografia, geografia física, áreas naturais.

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O presente trabalho possui como objetivo realizar umarevisão sobre a construçãoconceitual e as variações terminológicas da ideia de áreas naturais, valendo-se de umaabordagem historiográfi ca mais contextualista que propositiva. Resgatando elementospresentes na literatura especializada e aliando informações de ordem conjuntural, oestudo faz passeio pela história do pensamento geográfi co no intuito de explicar deonde vem a noção de área natural e como se deu sua diversifi cação terminológica,resultando em termos tão variados (land systems, ecorregiões, geossistemas, unidadesde paisagem, etc.). O trabalho permitiu esclarece que, suprindo-se de noções como adescrição de áreas e a ideia de zonalidade, que remontam à antiguidade, as síntesesnaturalistas passaram a vogar efetivamente a partir do iluminismo. Estas que surgiramassociadas, sobretudo, ao desenvolvimento da cartografi a temática.

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  • Espao & Geografi a, Vol.17, No 2 (2014), 377:422ISSN: 1516-9375

    DA DESCRIO DE REAS S SNTESES NATURALISTAS: UMA ABORDAGEM HISTORIOGRFICA SOBRE A IDEIA DE

    REAS NATURAIS

    FROM DESCRIPTION OF AREAS TO NATURALIST SYNTHE-SIS: AN HISTORIOGRAPHICAL APPROACH ABOUT THE

    IDEA OF NATURAL AREAS

    Lucas Costa de Souza Cavalcanti & Antonio Carlos de Barros Corra1 Colegiado de Geografi a, Universidade de Pernambuco III

    Petrolina, Pernambuco, [email protected]

    2 Departamento de Cincias Geogrfi cas, Centro de Filosofi a e Cincias Humanas,Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Pernambuco, Brasil.

    [email protected]

    Recebido 12 de Dezembro de 2013, aceito 19 de Dezembro de 2014

    Resumo: O presente trabalho possui como objetivo realizar uma reviso sobre a construo

    conceitual e as variaes terminolgicas da ideia de reas naturais, valendo-se de uma

    abordagem historiogrfi ca mais contextualista que propositiva. Resgatando elementos

    presentes na literatura especializada e aliando informaes de ordem conjuntural, o

    estudo faz passeio pela histria do pensamento geogrfi co no intuito de explicar de

    onde vem a noo de rea natural e como se deu sua diversifi cao terminolgica,

    resultando em termos to variados (land systems, ecorregies, geossistemas, unidades

    de paisagem, etc.). O trabalho permitiu esclarece que, suprindo-se de noes como a

    descrio de reas e a ideia de zonalidade, que remontam antiguidade, as snteses

    naturalistas passaram a vogar efetivamente a partir do iluminismo. Estas que surgiram

    associadas, sobretudo, ao desenvolvimento da cartografi a temtica.

    Palavras-Chave: historiografi a da geografi a, geografi a fsica, reas naturais.

  • 378 Cavalcanti S. C. S. & Corra A. C. B.

    Abstract: This work aims to perform a review on the conceptual construction and

    terminology variations of the idea of natural areas, taking advantage of a more

    contextualist historiography that purposeful approach one. Rescuing elements present

    in the literature and combining cultural information, the study does walk through the

    history of geographical thought in order to explain the origins of natural area concept and

    how was its terminology diversifi cation, resulting in such varied terms (land systems,

    ecoregions, geosystems, landscape units, etc.). The work was made clear that supplying

    up notions like descriptions of areas and the idea of zonality, which date back to antiquity,

    the naturalist syntheses began to roam effectively from the Enlightenment. Those that

    emerged related mainly to the development of thematic cartography.

    Key words: historiography of geography, physical geography, natural areas.

    GEOSSISTEMAS, PAISAGENS, REGIES NATURAIS... O QUE ELES TM EM COMUM?

    Diferentes termos (tais como: ecossistemas, geossistemas, regies naturais, ecorregies, paisagens , biomas, complexos biogeocenticos, complexos territoriais naturais, etc.) tentam representar a ideia de que existe uma ordem natural promovendo a organizao da superfcie terrestre a partir das relaes entre seus elementos internos (rochas, solos, seres vivos, gua, etc.) e externos (sol, movimentos orbitais, atividade interna do planeta). Estas relaes produziriam um mosaico de padres espaciais observveis que seriam autnomos, mas no independentes, apresentando uma organizao hierrquica natural.

    Apesar de tantas variaes terminolgicas entre diferentes propostas de sntese naturalista, duas ideias esto claramente subjacentes maioria delas (ou todas): (a) noo de reas naturais homogneas, elemento sem a qual a prpria sntese no existiria e; (b) a organizao hierrquica destas reas.

    Um olhar mais atento sobre a essncia da ideia de rea natural, em distintas

  • 379Da Descrio de reas s Snteses Naturalistas

    propostas, nos indica pelo menos trs concepes distintas quanto s snteses naturalistas. Uma delas essencialmente biocntrica, no sentido de que tem seu foco na busca da representao de reas homogneas do ponto de vista das biocenoses, mas cujo fundamento explicativo seria as relaes ecolgicas entre os seres vivos e destes com o seu ambiente. Nestes termos, teramos a geografi a ecolgica proposta por Vasconcelos Sobrinho (1941; 1949; 1970) e sua concepo de regies naturais. Outros exemplos seriam a biogeografi a ecolgica como trabalhada por Lima (2012), o modelo ecorregional desenvolvido por Bailey (2009), as concepes de biomas, biogeocenoses e complexos biogeocenticos apresentadas por Walter (1986) e mesmo a noo de nveis de organizao em ecologia, apresentada por Odum e Barrett (2008).

    Numa concepo mais pragmtica e voltada para o planejamento de uso da terra, teramos a proposta de land systems de Christian e Stewart (1953). Este tipo de proposta d aos solos e relao solo-paisagem o aspecto essencial da sntese naturalista, assumindo as necessidades prementes da Sociedade no tocante resoluo de problemas agropecurios, industriais e at da engenharia civil (Cf. ZUQUETE; GANDOLFI, 2004). Um exemplo a proposta de unidades de paisagem e geoambientais da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (EMBRAPA) (SILVA et al., 2001).

    Uma terceira concepo, talvez intermediria entre as propostas biocntricas e aquelas mais pragmticas, busca as relaes entre os componentes da natureza, sem privilegiar qualquer de seus atributos, sendo policntrica. Esta perspectiva associada s prticas que se desenvolveram na geografi a fsica da Rssia e pases centro-europeus, como a Alemanha, recebendo denominaes como cincia da paisagem (BERG, 2006), ecologia de paisagens (TROLL, 2006), estudo de geossistemas (SOCHAVA, 1978) entre outras.

    Nos trs casos, podemos ver uma clara associao das perspectivas

  • 380 Cavalcanti S. C. S. & Corra A. C. B.

    biocntricas, pragmticas e policntricas a determinados campos do saber como ecologia-biologia, agronomia-engenharia e geografi a, respectivamente. Com base nisso, o objetivo deste trabalho foi investigar as razes do conceito de rea natural, sua diversifi cao terminolgica e tambm o desenvolvimento dos processos metodolgicos associados ao seu estudo.

    Para tanto, recorreu-se a ferramentas historiogrficas como forma de subsidiar uma representao acerca do conceito em questo, de suas origens e seu desenvolvimento. Na Geografi a, o uso das referidas ferramentas tem sido realizado com o propsito de, entre outras coisas, construir uma narrativa da histria desta disciplina e dos fatos ligados a ela (Historiografi a da Geografi a).

    COMO SABER QUEM INVENTOU A IDEIA DE REAS NATU-RAIS?

    O ramo historiogrfi co da cincia geogrfi ca tem passado, nas ltimas dcadas, por discusses de cunho teleolgico, sumarizadas por Barros (2007) em duas perspectivas gerais, uma de cunho contextual, que tem como uma de suas preocupaes centrais o estudo do poder dentro da confi gurao disciplinar. E outra perspectiva, de cunho propositivo, que busca dar historiografi a da disciplina uma fi nalidade prtica, no sentido de ser aplicada no auxlio mudana nos rumos da cincia em questo.

    Independentemente de perspectivas, certo que a historiografi a recente da disciplina tem, em muito auxiliado na compreenso de como se tem pensado e praticado a geografi a (BARROS, 2012). Neste sentido, Reis Jnior (2008) destaca quatro linhas temticas gerais de desenvolvimento do componente historiogrfi co, a saber:

    Releitura de obras clssicas com o objetivo de obter revelaes sobre contedos que apresentam o conhecimento geogrfi co;

  • 381Da Descrio de reas s Snteses Naturalistas

    Anlise de textos de um gegrafo especfi co (Cf. KASAI, 1975; REIS JNIOR, 2007; BARROS, 2008; VITTE; SILVEIRA, 2009);

    Preparao de documentos tratando da difuso de determinados princpios geogrfi cos e/ou crescimento de escolas geogrfi cas, no sentido da partilha de princpios tericos e metodolgicos similares e;

    Estudo detalhado de fontes documentais que evidenciem o modo como as instituies tm promovido a recepo, adaptao de comunicao do conhecimento geogrfi co. Neste sentido, estas instituies agiriam em consrcio com o ambiente poltico, econmico e cultural de um local, funcionando como stios culturais (BARROS, 2006).

    No necessariamente essas temticas seriam levadas a cabo isoladamente umas das outras, podendo ser combinadas na obteno de resultados mais signifi cativos. Sendo assim, o tratamento dos objetos analticos, componentes das supracitadas classes temticas, que revelaro os contornos assumidos pela narrativa ento construda.

    Alm dos stios culturais, destacam-se outros objetos analticos, tais como a anlise de papis-chave na difuso ou restrio do conhecimento, seja por instituies ou pessoas em particular; afi nidades, confl uncias e divergncias terico-conceituais e metodolgicas, entre outras (REIS JNIOR, 2008).

    Neste trabalho (e tendo conscincia de que as snteses naturalistas podem ser tratadas como sistemas de gesto da informao sobre reas naturais) temos como principal objeto de anlise o conceito de rea natural entendido como produto das relaes entre os componentes da natureza de modo a formar um todo autnomo do ponto de vista funcional. Este conceito recebe nomenclaturas diversas ao longo da histria, revelando nuances em termos de orientao

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    etodolgica (paisagem1, ecossistema2, geossistema3, regio natural e similares).

    Para destrinchar e discutir o conceito de reas naturais foi montada uma estratgia de investigao a partir de fontes e anlise do contexto das fontes. Para tanto, partimos de uma leitura inicial de trabalhos de cunho mais propositivo sobre os termos e tcnicas associadas ao estudo de reas naturais e sua histria.

    Para cada proposta analisada, sua compreenso foi ampliada a partir do estudo do contexto (stios culturais) do(s) autor(es), atravs de busca em documentos histricos de universidades e instituies de pesquisa, bem como de outras fontes que se fi zeram relevantes. Esta ampliao do contexto foi complementada pela seleo das fontes mais fundamentais apontadas, pelo autor analisado, para compreenso do conceito de reas naturais. De forma sucessiva, tentou-se rastrear as origens do conceito, suas nuances, seus desdobramentos e fi liaes.

    Muitas vezes recorreu-se leitura de documentos histricos e anlise de textos especfi cos sobre a vida de alguns autores-chave. Deste modo, a busca sucessiva pelas fontes aliada anlise dos contextos viabilizou a compreenso que tentamos organizar e apresentar a seguir.

    1 O termo paisagem no sentido de rea natural utilizado largamente nas geografi as alem e russo-sovitica (Cf. DYAKONOV et al., 2007; CAVALCANTI, 2011). No Brasil, o termo mais comumente utilizado em trabalhos de geografi a fsica, geralmente ocorrendo como unidades de paisagem.2 Allen e Hoekstra (1992) nos lembram que a ecologia possui muitas diferentes conceituaes para o termo ecossistema. No sentido de reas naturais, o termo usado por muitos autores como exemplo: AbSaber (2003, p.139) que o defi ne como termo voltado para o estudo do sistema ecolgico integrado de um lugar, e John W. Marr (1961, p.6) que defi ne como a geographical area that is relatively homogeneous and reasonably distinct from adjacent areas.3 Geossistemas so considerados sistemas abertos, dinmicos e hierarquicamente organizados (SOCHAVA, 1977), apresentando uma condio espacial passvel de mapeamento, sendo uma poro do espao terrestre resultante das interaes entre os componentes da natureza (SOCHAVA, 1978; SEMENOV; PURDIK, 1986; RODRIGUES; SILVA; CAVALCANTI, 2004; CAVALCANTI, 2010; CAVALCANTI; CORRA; ARAJO FILHO, 2010).

  • 383Da Descrio de reas s Snteses Naturalistas

    Em suma, foi realizada uma retrospectiva, investigando as origens das diferenas terminolgicas (ex.: ecorregio, paisagem, geossistema, etc.) associadas ideia de reas naturais homogneas. Alm disso, considerou-se aspectos do contexto poltico, social, econmico e da formao acadmica dos autores proponentes, tentando rastrear a trajetria de surgimento de tais diferenas.

    MOISS, SUN TZU E PTOLOMEU: ESPIONAGEM, GUERRA E GEOGRAFIA

    Decerto que o reconhecimento de aspectos da natureza e de reas naturais intuitivo, no sentido de que se relaciona ao prprio processo de adaptao do homem ao seu meio. A busca por abrigo e fontes de abastecimento, melhores locais para habitao e at o conhecimento do terreno para manobras de combate, esto entre aspectos primais que fundamentam uma concepo etnogeogrfi ca das reas naturais.

    Na Bblia, por exemplo, se encontra uma passagem em que Moiss (que viveu h cerca de 3500 anos) enviava homens para avaliar o terreno que mais tarde seria ocupado pelos israelitas4 (BBLIA, 2010). Outra obra antiga que faz referncia ao conhecimento do terreno a Arte da Guerra, de Sun Tzu, escrita por volta de 2500 anos atrs (SAWYER, 2007).

    Decerto que o reconhecimento de reas naturais est em parte associado a uma diferenciao de reas gerais, envolvendo no s aspectos naturais, mas tambm culturais. Neste sentido e, indo alm do ponto de vista etnogeogrfi co,

    4 Enviou-os, pois, Moiss a espiar a terra de Cana; e disse-lhes: Subi ao Neguebe e penetrai nas montanhas. Vede a terra, que tal , e o povo que nela habita, se forte ou fraco, se poucos ou muitos. E qual a terra em que habita, se boa ou m; e que tais so as cidades em que habita, se em arraiais, se em fortalezas. Tambm qual a terra, se frtil ou estril, se nela h matas ou no. Tende nimo e trazei do fruto da terra. Eram aqueles dias os dias das primcias das uvas. (Bblia, Nmeros 13:17-20.)

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    no pensamento greco-latino que se encontram os registros mais antigos de um tratamento sistemtico (cientfi co) do conceito de diferenciao de reas.

    Sobre isso, Besse (2006) lembra-nos que a ideia de diferenciar reas, por comparao dos aspectos dominantes paisagsticos (vegetao, relevo, guas, cidades, etc.) em locais distintos, foi apontada como objeto da Geografi a j em Ptolomeu (90-168 d.C.). O gegrafo de Alexandria materializou duas caractersticas intrnsecas aos lugares, nos conceitos de natura (caractersticas particulares de uma dada rea) e positio (relao de vizinhana, ou seja, diferena entre reas). Assim, duas reas poderiam ser diferenciadas uma da outra se forem comparados (positio) os conjuntos de suas caractersticas particulares (natura).

    A Geografi a de Ptolomeu traz referncias no somente ideia de diferenciao de reas e suas componentes (positio e natura), mas tambm ao conceito de escala no sentido da representao cartogrfi ca. Para este gegrafo egpcio, existiam trs perspectivas para diferenciao de reas, que estavam diretamente relacionadas com a escala de observao fosse ela global (geografi a), regional (corografi a) ou local (topografi a).

    Esta concepo sobre os termos geografi a, corografi a e topografi a ainda estavam em voga no auge das discusses regionalistas no incio do sculo 20, como pode ser notado em Preston E. James (1929). Contudo, alm da discusso sobre escala de representao, temos uma nuance mais naturalista do conceito de diferenciao de reas e que mais se aproxima da ideia de reas naturais, que a ideia de zonas naturais.

    Retomando o pensamento de Estrabo (64/63 a.C. 24 d.C.), em sua Geografi a, o mesmo considera Homero (sculo 8 a.C.) como fundador da cincia geogrfi ca, sobretudo pelas descries das regies de terra e mar presentes na Ilada (HAMILTON; FALCONER, 1854), e vai alm de Homero, conferindo

  • 385Da Descrio de reas s Snteses Naturalistas

    geografi a um status elevado, quando afi rma que:

    Alm de sua grande importncia para a vida social e a arte de

    governar, a geografi a nos revela os fenmenos celestes e nos fa-

    miliariza com os ocupantes da terra e do oceano, e a vegetao,

    frutos e peculiaridades dos vrios quadrantes da Terra, um

    conhecimento que marca aquele que o cultiva como um homem

    diligente no grande problema da vida e da felicidade (Estrabo

    1.1.1, HAMILTON; FALCONER, 1854, p.1-2. traduo nossa).

    Ainda no contexto da cultura homrica, na Escola Eleata, Pr-Socrtica, representada por Parmnides de Eleia5 (530-460 a.C.), que a diferenciao de reas naturais possui seu registro material mais antigo, este registro guarda uma contribuio baseada na concepo de zonas naturais6.5 A Escola Eleata desenvolveu-se na cidade de Elea (atual Itlia), fundada por gregos jnios refugiados de sua cidade natal, Phocaea (atual Turquia), que havia sido sitiada pelo exrcito persa de Ciro, o grande, num dos confl itos iniciais das Guerras Greco-Prsicas. De acordo com Herdoto, os jnios de Phocaea foram os primeiros gregos a realizarem grandes viagens pelos mares Adritico, Tirreno, Mediterrneo e Negro, alcanando o Egito, a Frana, a costa atlntica da atual Espanha e o Norte da Turquia, chegando a desenvolver colnias em alguns desses lugares (GODLEY, 1920).Neste contexto de uma organizao social que mantinha contato com povos diversos, e de localidades distantes, os jnios de Phocaea construram a cidade de Elea, em que Parmnides, ao que se sabe, cumpria a funo de legislador e provavelmente mdico, sendo considerado por Aristteles um physiki, isto , quele que se dedica observao da natureza (SANTORO, 2011).6 O que resta do pensamento de Parmnides so fragmentos de seu poema pico Sobre a Natureza que, estruturado de forma a provavelmente guardar um potencial de transmisso oral, moda do que era feito poca, apresentado duas partes, a saber: A via da verdade e A via das opinies dos mortais, a primeira tratando daquilo que (do ser), enquanto o segundo lida com questes cosmolgicas (SANTORO, 2011).Na interpretao da cosmologia parmenidiana de Coxon (2009), a esfera terrestre estaria dividida em anis centrais de fogo, anis de noite nas calotas da esfera e intermediando estes, anis mistos. Esta proposta entra em acordo com o testemunho de Posidnio, citado em Estrabo, que afi rma ter sido Parmnides o primeiro a dividir a Terra em cinco zonas (uma trrida, duas temperadas e duas frgidas), em referncia s

  • 386 Cavalcanti S. C. S. & Corra A. C. B.

    Cerca de 600 anos depois de Parmnides, sua formulao terica sobre as zonas da Terra aparecem na Geografi a de Ptolomeu, que utiliza o conceito zonal para deduzir que localidades que, por partilhar o mesmo clima deveriam estar a uma distncia similar em relao ao equador (BERGGREN; JONES, 2001). Esta deduo se baseia no conceito de que reas com latitudes similares possuiriam uma mesma inclinao do eixo da esfera celeste em relao ao plano do horizonte, resultando num mesmo comprimento mximo do dia. Estas faixas com mesma inclinao eram chamadas de Klimata (ou Klima, no singular) (BERGGREN; JONES, 2001; CLAVAL, 2010).

    Como se pode perceber, o conceito de reas naturais guarda elementos tanto da diferenciao de reas quanto das zonas naturais. Entretanto, muito ainda havia de acontecer antes que o conceito de reas naturais, como o defi nimos, fosse formulado e adaptado s necessidades da academia e da sociedade.

    O manto de incertezas que caiu sobre a Europa com a diviso e queda do Imprio Romano, com o perodo das migraes e o incio da alta idade mdia provocaram uma retrao da divulgao do conhecimento geogrfi co, que ganhou vazo apenas no mundo islmico medieval. Contudo, o fi m da idade mdia trouxe uma retomada europeia da geografi a ptolomaica, que ganhou vulto na obra de Bernard Varen (ou Bernardus Varenius, como fi cou conhecido) (BAUAB, 2011; 2012).variaes da natureza do equador aos polos (HAMILTON; FALCONER, 1854, p.143).Estrabo cita Posidnio que faz referncia a Parmnides como o primeiro a propor uma teoria das zonas geogrfi cas. Contudo, Hamilton & Falconer (1854) afi rmam que, de acordo com Plutarco, uma diviso da Terra em cinco zonas j havia sido realizada tanto por Thales (624 - 556 a.C.) quanto por Pitgoras (580 - 490 a.C.) antes mesmo de Parmnides.

  • 387Da Descrio de reas s Snteses Naturalistas

    BERNARD VAREN E AS CATEGORIAS DA GEOGRAFIA NA RENA-SCENA EUROPEIA

    Para o fi lsofo Jean-Marc Besse (2006), as ideias de positio e natura, so redescobertas no sculo 16 tanto pelos corgrafos quanto pelos pintores do renascimento europeu. Para ambos, a representao do mundo era obtida pela contemplao da paisagem e seus detalhes, sendo representada numa carta ou num quadro. O mesmo autor chega a afi rmar que a noo de paisagem utilizada pelos pintores era a mesma que balizava o empirismo dos gegrafos e corgrafos daquela poca.

    Assim, a compreenso dos diferentes lugares era atingida pela observao pormenorizada dos aspectos visveis do mundo (natura) e sua comparao com a variao destes aspectos em outros lugares (positio) forneceria uma ideia da geografi a/corografi a.

    esta concepo que parece ter norteado o trabalho de Bernard Varen7

    7 Bernard Varen (1622-1650) nasceu na regio de confl uncia entre os Rios Elba e Jeetzel poca em que a cidade de Hitzacker, passava por um contexto de caa s bruxas e promoo do conhecimento formal, baseado no latim. Anos antes do nascimento de Varen, a cidade de Hitzacker tornou-se residncia (desde 1604) de Augusto, o jovem (duque dos Guelfos ligados ao Papa), tendo este duque condenado morte (em 1610) 70 mulheres da regio, acusadas de bruxaria. Anos mais tarde, o mesmo duque construiu um castelo (1614), uma escola de latim (1617) e uma biblioteca (transferida para Wolfenbttel em 1636), criando um ambiente de estudo que pode ter sido utilizado por Varen (SCHUCHARD, 2007).Filho do pregador da corte e irmo de um telogo luterano e reitor da Universidade de Rostock (180 km ao norte de Hitzakcer), Bernard estudou medicina em Hamburgo (a 100 km de Hitzacker) entre 1640 e 1642, e em Knigsberg (hoje Kaliningrado, a 834 km de Hitzacker) em 1645. Em funo dos confl itos entre protestantes na regio do Sacro Imprio Romano-

  • 388 Cavalcanti S. C. S. & Corra A. C. B.

    (Bernardus Varenius, no Latim) em sua obra Geografi a Geral (1650). Nesta obra, o autor discute as bases da Geografi a, seu objeto, objetivos e mtodos, assimilando, ainda que de forma implcita as noes de positio e natura.

    Para Varen, o objeto da Geografi a seria a Terra e principalmente suas partes externas, no devendo resumir-se a uma simples enumerao e descrio das regies, devendo ser estudada a partir de duas perspectivas: uma Universal e outra Particular.

    A Geografi a Universal de Varen era voltada para caracterizao topogrfi ca e geodsica e de tipos ambientais, como tipos de rios, de lagos, de desertos, zonas e climas, alm de explicaes sobre o funcionamento dos sistemas ambientais, como a variao da salinidade dos corpos hdricos em terras tropicais, que diminua em perodos chuvosos e se acentuava em perodos de estiagem (VARENIUS, 1712; 1734).

    J a Geografi a Particular, deveria se focar no uso das leis e tipologias para diferenciao e descrio das regies do Planeta (regionum Telluris8, no original em latim), possuindo duas subdivises: a Corografi a9 voltada para a descrio de regies com uma extenso razovel e a Topografi a10, que busca dar uma viso de algum lugar ou pequeno trato da Terra (VARENIUS, 1712; 1734).

    evidente que a diferena entre corografi a e topografi a reside principalmente na abrangncia da regio estudada, sendo aquela da topografi a a descrio de Germnico (Guerra dos Trinta Anos 1618 a 1648), Varen muda-se para Amsterdam, que na poca apresentava ampla divulgao de conhecimentos e prticas de cartografi a, sobretudo quelas conduzidas pelos estudiosos da Universidade de Leiden (cidade em que viria a falecer em 1650). Em 1649, defende sua tese em Medicina e tambm publica a descrio do reino do Japo (Descriptio Regni Japoniae Cum quibusdam affi nis materiae) (SCHUCHARD, 2007).8 Regionum na edio em latim de 1712 e Country na traduo inglesa de 1734.9 Corographia regionis alicujus, magnitudem saltem mediocrem habentis, descriptionem proponit. (VAREN, 1712, p.2).10 Topographia parvum aliquem telluris tractum seu locum describit (Ibid., p.2).

  • 389Da Descrio de reas s Snteses Naturalistas

    um lugar em que se permitisse ter uma viso de algum trato de terra, a primeira carecendo de observaes em pontos distintos de uma mesma regio.

    Para constituir as observaes da Geografi a Particular de cada regio, Varen

    Quadro 1: Propriedades da Geografi a Particular de uma regio.Celes ais Terrestres Humanas

    Distncia de um lugar at o Equador

    Limites e fronteiras de cada regio

    Estatura dos habitantes, vida,

    alimento e bebida, origem, etc.

    Obliquidade do movimento diurno das estrelas sobre o

    horizonte de um lugar

    Figura (relacionada forma geodsica)

    Trabalhos e tcnicas, mercadorias e preos

    Durao do dia mais longo e mais curto

    Magnitude (ex: rea ocupada por um pas)

    Virtudes e vcios, inteligncia,

    conhecimentos

    O clima e a zona Montanhas Costumes infan s, o matrimnio, a morteTemperatura e

    estaes do ano (chuva, neve, vento e

    outros meteoros)

    guas (nascentes, rios e baas)

    Forma de expresso e lngua

    Surgimento, aparncia e con nuidade das

    estrelas no horizonteBosques e desertos Regime Pol co

    Estrelas que passam atravs do Znite de

    um lugar

    Fer lidade e esterilidade e os pos

    de frutos

    Religio e situao da Igreja

    Acelerao com que cada lugar revolve Minerais e fsseis Cidades

    - Criaturas viventes Feitos famosos

    - LongitudeHomens ou mulheres

    ilustres, ar stas, inventos

  • 390 Cavalcanti S. C. S. & Corra A. C. B.

    considerava importante reconhecer um determinado conjunto de caractersticas. Neste sentido, sumarizamos no Quadro 1 aquilo que o autor chama de propriedades de uma regio, uma proposta de caracterizao baseada na descrio de tpicos relacionados a trs grupos de informao distintos, a saber: celestiais, terrestres e humanos.

    A ideia de Geografi a em Varen bem ampla, abrangendo a elaborao de teorias que tinham por objetivo determinar no apenas o posicionamento e a forma de cada lugar, mas tambm o funcionamento de suas caractersticas abiticas (clima, rios, lagos, etc.), biticas (fertilidade, frutos, fl orestas) e a composio tnica e cultural.

    Bauab (2011) afi rma que o trabalho de Varen assimila e explicita os valores da modernidade como no havia sido feito at ento em trabalhos de Geografi a, destacando o carter complementar da busca por leis gerais como condio apriorstica para o desenvolvimento de estudos regionais. neste sentido que o trabalho de Varen constitui forte infl uncia sobre o pensamento das snteses naturalistas (SNs), uma vez que inaugura e sintetiza a necessidade pelo estabelecimento de tipologias como basilares para a observao, descrio e compreenso de reas.

    A diferenciao entre universal e particular na obra de Varen uma tentativa de promover uma geografi a abrangendo dois estilos de cincia (DYSON, 1988). Para este, a cincia apresentaria dois estilos ou tradies principais: uma unifi cadora e outra diversifi cadora, que parecem bem marcadas na proposta de geografi a particular e universal de Varen, respectivamente.

    A importncia atribuda, na poca, obra de Varen pode ser atestada pelas oito edies em latim, sete em ingls, uma em holands, em francs e em russo, tendo sido editadas de 1650 a 1765, com algumas verses recebendo comentrios

  • 391Da Descrio de reas s Snteses Naturalistas

    e ilustraes de vrios outros autores, dentre os quais Isaac Newton.

    Traduzida para o russo (em 1719), a obra teve grande infl uncia sobre o desenvolvimento da Geografi a dos pases com acesso a este idioma, que passaram a adotar uma perspectiva de cincia da terra e de sua superfcie, valorizando a descrio com base em tipologias (MAZURKIEVICZ, 1992), infl uncia que ainda ecoa na prpria estrutura contempornea das faculdades de Geografi a da Rssia (ver CAVALCANTI, 2010).

    A preocupao de Varen com as origens dos diferentes atributos da superfcie terrestre ajudou a dar vazo a uma perspectiva na busca pelo conhecimento do planeta, que viria a se desenvolver com maior nfase nos sculos seguintes. A partir do sculo 18, as perspectivas inauguradas pelo trabalho de Varen passam a ser reproduzidas e ganham nfase, sobretudo no ambiente acadmico infl uenciado pelo Iluminismo Francs, conjugando um desdobramento seminal para o surgimento do conceito de reas naturais e das Snteses Naturalistas.

    ILUMINISMO, ENCICLOPEDISMO E HISTRIA NATURAL

    No sculo 18, no mbito dos processos naturais, a Pequena Idade do Gelo11 contribua para a queda na produtividade agrcola na Frana (como em outros pases da Europa). A isso se conjugam o crescimento populacional que superava a oferta de alimentos, alm de diversos outros problemas como a crise fi scal, tributao excessiva e participao em guerras tanto na Europa quanto na Amrica e na sia. Neste contexto de frio, fome e disputas polticas, despontaram na Frana as ideias iluministas de Voltaire, Diderot, Montesquieu e outros contemporneos como Locke e Kant, onde a sobrevalorizao da razo passa a dinamizar a busca pelo conhecimento humano de uma forma especializada

    11 Consiste num perodo glacial que causou uma diminuio da temperatura, particularmente documentada na Europa, entre os sculos XIII e XIX, com mnimos de temperatura em 1650, 1770 e 1850 (LADURIE, 1971).

  • 392 Cavalcanti S. C. S. & Corra A. C. B.

    e especializante.

    Um dos principais produtos intelectuais deste tempo foi a Encyclopdie ou Dicionrio Racional das Cincias, das Artes e das Profi sses, uma enciclopdia organizada pelos iluministas Denis Diderot e Jean dAlembert entre 1757 e 1772, com 33 volumes, tendo contribuies de Voltaire, Rousseau e Montesquieu, dentre outros. To famosa quanto a Histria Natural de Buffon, esta obra trazia no frontispcio uma ilustrao simbolizando a verdade como uma mulher cercada de luz, e cuja natureza era revelada pela razo e a fi losofi a, que retiravam seu manto. Marcando um perodo de desenvolvimento vertical das cincias, esta famosa enciclopdia traz uma classifi cao do conhecimento que colocava a Geografi a na seguinte posio hierrquica: Entendimento> Razo> Filosofi a> Cincias da Natureza> Matemtica> Matemtica Mista> Astronomia> Cosmografi a> Geografi a.

    nesta Frana, onde a necessidade de caracterizao dos recursos se fazia premente, que publicada a carta mineralgica (1746) concebida por Jean-Etienne Guettard12 e confeccionada por Philippe Buache13. Esta carta 12 Jean-Etienne Guettard (1715-1786) era neto de um boticrio e passou a observar as relaes entre as plantas e o substrato sobre a qual estas se desenvolviam, o que despertou seu interesse sobre os minerais e as rochas. Formado em Medicina em Paris e tornou-se curador das colees de histria natural do duque de Orleans, tendo registrado as relaes entre as plantas e os solos em seus trabalhos (GINESTE, 2003).13 Philippe Buache de la Neuville (1700-1773), cartgrafo do rei da Frana, props o conceito de bacias de drenagem em seu Essai de gographie physique (sendo talvez essa, a primeira utilizao do termo geografi a fsica), como forma de diferenciao de regies, proposta que exerceu grande infl uncia entre gegrafos franceses e alemes at meados do sculo seguinte (GUIMARES, 1963; LAGARDE, 1987). Buache ainda publicou mapas de vrios continentes representados pela diviso de bacias hidrogrfi cas. Por basear-se em inferncia e dar pouca importncia aos estudos empricos para validao dos dados, o modelo classifi catrio de Buache, baseado nas bacias hidrogrfi cas, ps em voga o que Debarbieux (2009, p. 91) chamou de o triunfo da ordem cartogrfi ca e o desdm da experincia, rendendo crticas que atravessaram sculos, sobretudo porque os mapas elaborados pela teoria de Buache muitas vezes colocavam montanhas em lugares que elas sequer existiam (GUIMARES, 1963).

  • 393Da Descrio de reas s Snteses Naturalistas

    inaugura, com a representao de temas especfi cos, uma nova perspectiva para a cartografi a e as cincias naturais, ampliando verticalmente a perspectiva sobre a observao e representao das regies ao retratar a continuidade na distribuio dos minerais entre a Frana e a Inglaterra.

    A partir do trabalho de Guettard e Buache, os estudos da natureza ganham uma nova concepo, referente possibilidade de caracterizao temtica e no mais enciclopdica como na proposta de Varen. o momento em que passa a se fi rmar uma diviso do territrio no apenas em limites poltico-administrativos, mas associada a temas diversos. Ao prprio Buache atribuda a criao do conceito de bacias de drenagem, que o levou a mapear o mundo conhecido (inclusive o Brasil), com base nos divisores de guas das principais bacias hidrogrfi cas.

    Apesar de ser uma importante manifestao da cartografi a temtica, a proposta de uma Carta do Solo14 ou Mineralgica j havia sido pensada pelo ingls Martin Lister, no fi nal do sculo anterior (mais precisamente em 1683), demonstrando que era uma questo de tempo o despontar de uma nova perspectiva cartogrfi ca.

    Acentuando essa perspectiva temtica e de especialidades promovidas pelo pensamento racional, destaca-se a publicao da LHistoire Naturelle, gnrale et particulire, avec la description du Cabinet du Roi, uma enciclopdia de histria natural organizada por Georges-Louis Leclerc (1707-1788)15, que receberia o ttulo de Conde de Buffon. Nenhuma outra obra teria tanta infl uncia sobre as

    14 poca de Lister, o conceito de solo associava-se ideia de relevo, no sentido de uma unidade entre o substrato (rocha) e sua forma na superfcie. Esta acepo ainda pode ser encontrada em Vasconcelos Sobrinho (1941), quando afi rma que as elevaes do solo, acima dos 600m de altitude, diferenciam entre caatinga hiperxerfi la e hipoxerfi la.15 O Conde de Buffon nasceu em Montbard no centro norte francs e acumulou grande fortuna e prestgio ao longo da vida. Administrando o Jardim Botnico do Rei, transforma-o num centro de pesquisa e museu, cercando-se de naturalistas de todo tipo que o ajudariam a escrever sua Histoire Naturelle (ROGER, 1989; JOSEPH, 2011).

  • 394 Cavalcanti S. C. S. & Corra A. C. B.

    cincias naturais no sculo 18 como esta. Trata-se de uma coleo enciclopdica de livros abrangendo 36 volumes publicados entre 1749 e 1789 e que teve como objetivo o estudo da histria natural, incluindo teorias voltadas para a explicao da formao de tudo o que existe no universo: planetas, insetos, plantas, animais, minerais (LECLERC, 1749).

    As ideias e iniciativas do Conde de Buffon fortaleceram e impulsionaram estudos naturalistas de todo tipo. Um exemplo advm do trabalho de Nicolas Desmarest16, que infl uenciado pelas ideias evolutivas de Buffon, tornou-se reconhecido por ser o primeiro a desenvolver um estudo aprofundado em vulcanologia, descobrindo a gnese dos basaltos na Europa e sua associao aos vulces, tambm sendo responsvel por apresentar uma defi nio e mtodo para a geografi a fsica, como consta na Encyclopdie, no ano de 1757, que o mesmo apresenta como uma:

    Descrio racional dos grandes fenmenos da terra e a consid-

    erao dos resultados gerais deduzidos das observaes locais e

    particulares, combinadas e reunidas metodicamente em diferentes

    classes e em um plano capaz de fazer ver a economia natural do

    globo, considerada como uma massa que no nem habitada nem

    fecunda.17 16 Nicolas Desmarest (1725-1815) era fi lho de um professor da pequena Soulaines-Dhuys, no Centro-Norte francs, aps a morte de seu pai, foi enviado por seu tutor para estudar no Colgio de Troyes em 1741 (58 km a Leste de Soulaines-Dhuys) e depois foi estudar em Paris entre 1746 e 1747. Apesar de trabalhar como inspetor geral de manufaturas durante toda a vida, Desmarest torna-se membro da Academia de Cincias em 1771 defendendo um trabalho sobre a origem dos basaltos (LABOULAIS-LESAGE, 2002).17 description raisonne des grands phnomnes de la terre, & la considration des rsultats gnraux dduits des observations locales et particulires, combines et runies mthodiquement sous diffrentes classes & dans un plan capable de faire voir lconomie naturelle du globe, en tant quon lenvisage seulement comme une masse qui nest ni habite, ni fconde. (DESMAREST, 1757, p.613).

  • 395Da Descrio de reas s Snteses Naturalistas

    Nesta definio, a Geografia Fsica que Desmarest propunha estava preocupada com a economia da natureza, como defendida por Buffon e consoante com o contexto da Frana poca. Alm disso, baseava-se eminentemente num processo classifi catrio decorrente da observao18. Esta necessidade de basear as explicaes sobre os lugares na interpretao daquilo que observado justifi ca-se na valorizao da esttica paisagstica que ganhava espao, sobretudo a partir das contribuies dos pintores renascentistas e sua estreita relao com a ideia de Geografi a Particular, como descrita por Bernard Varen.

    Baseado em suas observaes na regio do Vivarais no sul da Frana, o abade francs Jean Louis Soulavie19 prope a noo de regio natural, ao estudar o controle da altitude sobre as variaes do clima e da vegetao nos Alpes franceses, tema que seria explorado por Humboldt para as Amricas (GODLEWSKA, 1999).

    Em sua Geographie de la Nature e na sua Histoire naturelle de la France mridionale, o abade Soulavie compreende e prope sua geografi a da natureza como distribuio dos elementos minerais, animais e vegetais, tratando-os no

    18 Esta preocupao de conduzir uma Geografi a Fsica baseada na observao fomentou uma troca de farpas acadmicas entre gegrafos dos sculos 18 e 19, entre aqueles que defendiam esta postura e aqueles que faziam uma geografi a de gabinete (gographie de cabinet) ao estilo de Buache, dentre os quais Desmarest e Humboldt foram crticos (DEBARBIEUX, 2009).19 Jean Louis Soulavie (1752-1813) era membro de uma famlia rural burguesa da regio de Antraigues (nos Alpes franceses), tendo estudado no Colgio Saint-Nicolas em Avignon (a 133 km de Antraigues) e posteriormente em no Seminrio do Esprito Santo. Formado engenheiro gegrafo, foi chefe do depsito das cartas do ministrio da guerra. Publica a Gographie de la nature em 1780 como um preldio para sua lHistoirie naturelle de la France mridionalle, composta por 8 volumes escritos entre 1780 e 1784 e que lhe rende o convite para tornar-se membro correspondente da Academia Real da Frana e da Academia de Cincias de So Petersburgo (MAZON, 2002). Aqui possvel aventar a hiptese de que Soulavie tenha mantido contato com seu contemporneo Ivan Lephekin (1740-1802), que realizou pesquisas similares na mesma poca.

  • 396 Cavalcanti S. C. S. & Corra A. C. B.

    apenas do ponto de vista descritivo e cartogrfi co, no obstante sumarizando o tipo de mtodo que Humboldt viria a denominar empirismo racional, legando um princpio explicativo para distribuio de regies naturais, quando estabelece um paralelo entre a distribuio latitudinal e altitudinal do calor e sua relao com o clima e a vegetao20:

    3. A distribuio do calor atmosfrico, do mais ao menos, da

    base das montanhas ao seu topo e da zona trrida para os polos

    tal que, da Frana meridional, o gelo situado nas montanhas

    acima dos mil e quinhentos metros sobre o nvel do Mediterrneo

    para os polos, h muitas centenas de quilmetros ao ponto onde

    o gelo eterno, como nos planaltos superiores das montanhas da

    Frana meridional acima dos mil e quinhentos metros, onde o

    gelo nunca derrete.

    4. A comparao de plantas que observei, a partir da base da

    montanha at o cume, me convenceu que no h nenhuma planta

    que no tenha seu clima; Ela habita exclusivamente porque nesse

    clima existe o calor necessrio para fl orao e maturao de seus

    frutos, alm da histria fi siolgica das plantas que eu acredito com

    base nesses fatos (SOULAVIE, 1780, p.11-12).21 20 Em 1495, o cardeal italiano Pietro Bembo foi provavelmente o primeiro a descrever as relaes de variao da vegetao com a altitude em seu De tna, promovendo a estratifi cao zonal do Monte Etna, na Itlia (ISACHENKO, 1973).21 3. La distribuition de la chaleur atmosphrique, du plus au moins, de la base ds montagnes vers leur sommet & de la zone Torride vers les ples, est telle, que dans la France mridionale, les glaces situes sur les montagnes eleves de quinze cens toises sur Le niveau de la mediterrane vers les ples, on compte plusieurs centaines de lieues de distance pour arriver na point ou la glace est ternelle, comme sur le plateaux suprieurs des montagnes de la France mridionalle leves de quinze cens toises o la glace ne fond jamais.

  • 397Da Descrio de reas s Snteses Naturalistas

    a partir dos trabalhos do abade francs (e de seu contemporneo russo, Cf. nota sobre Ivan Lepekhin22), que a cincia passa a diferenciar o terreno com base em sua unidade natural. Entretanto, preciso atentar que este tipo de proposio no ocorreu de forma isolada, dando-se num contexto de profundas mudanas no pensamento ocidental, decorrentes da promoo do movimento iluminista, o que causava grandes problemas com a Igreja. O prprio Soulavie sofreu com isso, quando o abade Barruel, seu contemporneo, afi rmava que seu trabalho era contrrio aos textos da Bblia. Contudo, aps a revoluo de 1789, Soulavie abandona a vida religiosa, chegando a contrair matrimnio em 1792 (MAZON, 2002).

    poca de Soulavie e Lepekhin, a Rssia mantinha boas relaes com a Frana. Era a poca da czarina Catarina II, a grande, que fi cou conhecida como mecenas das artes, literatura e educao. Quando soube que o governo francs planejava interromper a publicao da Encyclopdie, em 1762, chegou a propor a Diderot que completasse o trabalho na Rssia.

    4. Or, la comparaison des plantes que jai observes depuis la base de nos montagnes jusque vers leur sommet, ma convaincu quil nest aucune plante qui nait son climat; elle lhabite exclusivement parce que dans ce climat se trouve le degr de chaleur ncessaire la fl oraison & la maturit de les fruits; del, lhistoire physiologique des plantes que je crois fonde sur ces faits. (SOULAVIE, 1780 (11-12)).22 Ivan Ivanovich Lepekhin (1740-1802) foi um naturalista e botnico russo que fez o doutorado em medicina em Estrasburgo (Frana), tendo se formado em 1767. Realizou uma comparao entre a distribuio das plantas de acordo com diferentes climas nos Urais, mesma poca que Soulavie, lanando as bases para a ideia de regies naturais, reforada posteriormente por Humboldt e Dokuchaev. Lephekin era membro da Academia de Cincias de So Petersburgo. Este fato, somado proximidade temtica de seu trabalho com o de Jean Louis Soulavie e a poca de publicao de seus trabalhos (entre 1770 e 1784) nos permite aventar a hiptese de que os dois possam ter mantido contato. O abade Soulavie submeteu um trabalho para um concurso para classifi cao de massas rochosas Academia de Cincias de So Petersburgo, fi cando em terceiro lugar (TEPLYAKOV et al, 1998, MAZON, 2002; LIVRARIA PRESIDENCIAL, sem data).

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    HUMBOLDT, DOKUCHAEV E AS ZONAS NATURAIS

    Compartilhando da ideia de cincia pela observao, tanto quanto das crticas de Desmarest geografi a de gabinete, Alexander Von Humboldt23 fundamenta sua descrio fsica do mundo (Geografi a Fsica) no que ele chama de empirismo racional, que corresponde aos fatos registrados pela cincia e testados pelas operaes do intelecto (HUMBOLDT, 1858, p.49, traduo nossa). De acordo com Pedras (2000), esta unio entre descrio e especulao constitui a essncia do mtodo de Humboldt.

    A estreita relao entre o mtodo humboldtiano e aquele proposto por Desmarest no se deve ao acaso, uma vez que no primeiro trabalho cientfi co de Humboldt, intitulado Observaes Mineralgicas em Vrios Basaltos no Rio Rhine (de 1789), existem duas referncias a seu contemporneo francs24.

    Contudo, apesar de conhecer e citar o trabalho sobre os basaltos, escrito por Desmarest, Humboldt parecia no ter conscincia ou no partilhar das ideias expostas no artigo sobre Geografi a Fsica da Encyclopdie, pois no seu Cosmos prope o seguinte:

    A at ento indefi nida ideia de geografi a fsica tem, deste modo,

    por uma extenso e talvez tambm um plano ousadamente imag-

    inado, sido compreendida sob a ideia de uma descrio fsica 23 Friedrich Wilhelm Heinrich Alexander von Humboldt (1769-1859), nasceu em Berlim e apesar de ter estudado fi nanas em Frankfurt, manifestava interesse por plantas e animais, que j lhe atraam desde a infncia. Suas viagens pela Amrica do Sul lhe renderam fama, sobretudo por ter escalado o vulco Chimborazo, considerado a mais alta montanha do mundo na poca e pela coleta de 6300 espcies de plantas at ento desconhecidas. Suas teorias infl uenciaram a biologia, a ecologia, a geografi a, a geologia e diversas outras cincias. De infl uncia marcadamente romntica, tpica do seu tempo, mantinha contato com lderes deste movimento na Alemanha como Goethe e Schiller (RUPKE, 2008).24 Ver Mineralogische Beobachtungen ber einige Basalte am Rhein de Humboldt (1790, p. 125 e 126.).

  • 399Da Descrio de reas s Snteses Naturalistas

    do universo, abrangendo todas as coisas criadas nas regies do

    espao e na terra.25

    Humboldt possua uma proposta abrangente para aquilo que ele denominava como descrio fsica do universo, afi rmando que a: Geografi a fsica no limitada a elementar vida inorgnica elementar terrestre, mas, elevada ao ponto de vista mais alto, ela abrange a esfera da vida orgnica e as numerosas gradaes de seu tpico desenvolvimento. 26

    No contexto daquilo que estamos chamando aqui de Snteses Naturalistas, o empirismo racionalista da Geografi a Fsica de Desmarest e Humboldt passa a sustentar e desenvolver a ideia de unidade natural das reas. Mas desta vez, no aquela unidade vislumbrada na descrio dos stios pelos gregos e romanos, nem as regies da topografi a e corografi a de Varen. Alimentada pela razo Iluminista, sobretudo em conformidade com as diferenciaes temticas, a Geografi a Fsica de Humboldt no simplesmente o estudo da natureza das diferentes regies, mas o discernimento de sua constncia, isto de seus tipos, afi rmando que:

    O objetivo fi nal da Geografi a Fsica , contudo, como ns j temos

    dito, reconhecer unidade na vasta diversidade de fenmenos, e pelo

    exerccio do pensamento e a combinao de observaes, discernir

    a constncia dos fenmenos no meio das mudanas aparentes. 27

    25 The hitherto undefi ned idea of a physical geography has thus, by an extended and perhaps too boldly imagined a plan, been comprehended under the idea of a physical description of the universe, embracing all created things in the regions of space and in the earth. (HUMBOLDT, 1858, p.8)26 Physical geography is not limited to elementary inorganic terrestrial life, but, elevated to a higher point of view, it embraces the sphere of organic life, and the numerous gradations of its typical development. (HUMBOLDT, 1858, p.22).27 The ultimate aim of Physical Geography is, however, as we have already said, to recognize unity in the vast diversity of phenomena, and by the exercise of thought and the combination of observations, to discern the constancy of phenomena in the midst of apparent changes (HUMBOLDT, 1858, p.43).

  • 400 Cavalcanti S. C. S. & Corra A. C. B.

    Esta ideia de unidade fundamenta a proposta que Humboldt desenvolve em seguida, tratando da distribuio de plantas e animais em sua relao com o clima, com vistas ao estabelecimento de leis para a variao deste conjunto em funo de dois elementos gerais controladores: a latitude e da altitude. O naturalista alemo populariza as ideias sobre o que viria a se denominar de tipos zonais e azonais de paisagens, a partir da comparao entre a similaridade da distribuio de elementos naturais (sobretudo o clima, a vegetao e a fauna) ao longo das latitudes e das altitudes.

    No obstante a noo de zonalidade que j estava presente no trabalho dos gregos, como Eudoxo de Cnido e Aristteles (MILKOV, 1990), a partir dos esforos de naturalistas com viso integrada do mundo, como Humboldt, que as variaes da latitude e da altitude, passam a ser tratadas como determinantes gerais de padres regionais e globais de ambientes naturais. Com isto, passa a ser possvel falar de uma teoria das zonas naturais, que viria a sustentar propostas posteriores como a ideia de biomas de Karl H. Walter e a noo de geossistemas de Viktor B. Sochava.

    Na continuidade das perspectivas sobre a representao de regies naturais, o naturalista russo Vasiliy Vasilievich Dokuchaev28 publica sua teoria das zonas naturais, que j havia sido imaginada por Lepekhin e Soulavie no fi nal do sculo anterior (TEPLYAKOV et al. 1998). Neste trabalho, Dokuchaev prope zonas 28 Vasiliy V. Dokuchaev (1846-1903) nasceu na pequena vila de Milyukova (230 km a oeste de Moscou e 630 km ao sul de So Petersburgo), estudou histria natural na faculdade de fsica e matemtica da Universidade de So Petersburgo. Defendeu sua tese em geomorfologia intitulada A origem dos vales dos rios da Rssia europeia, mas foram seus trabalhos sobre solos que o fi zeram famoso em todo o mundo. Dokuchaev estabeleceu um modelo explicativo para a formao e classifi cao dos solos e determinou a relao dos solos com a biota, o material parental e o clima atravs do tempo, nos moldes das ideias de zonalidade por altitude e latitude de Soulavie, Lepekhin e Humboldt. s a partir de Dokuchaev que o termo solo passa a ser utilizado, com maior nfase, no sentido pedolgico e edfi co moderno (TEPLYAKOV et al, 1998; ESAKOV, 2008).

  • 401Da Descrio de reas s Snteses Naturalistas

    naturais para o hemisfrio norte, diferenciadas entre si conforme o clima, o relevo, os solos, a fauna e a vegetao, inaugurando formalmente a teoria que sustenta a ideia de unidade natural do terreno.

    Alm disso, o naturalista russo formula o conceito de zonas naturais, como rea de interao homognea entre os componentes da natureza, objeto de estudo do que viria a ser chamado posteriormente de cincia da paisagem, biogeocenologia, estudo de geossistemas, ecologia de paisagens, geografi a de ecossistemas e tantos outros termos.

    poca de Dokuchaev, a Rssia vivia um perodo conturbado, marcado pela insatisfao popular com o Imprio. O czar Alexandre II, mesmo tendo abolido a servido, foi assassinado, em 1881, num atentado a bomba por membro da organizao revolucionria (Vontade do Povo). Seu fi lho e sucessor, Alexandre III, que implantou uma srie de polticas anti-semitas, chegou a sofrer vrios atentados, morrendo, porm de causas naturais (em 1894), deixando o Imprio para seu fi lho, o ltimo czar Romanov: Nicolau II.

    No mbito natural, parte da Rssia foi afetada por uma srie de secas, registradas em 1868 e 1875 e uma bastante severa em 1891-1892, esta ltima que chega a registrar meio milho de mortos (ROBBINS, 1975). o momento em que os movimentos populares, inspirados pelo marxismo comeam a ganhar fora. Neste cenrio de mudanas polticas e graves problemas agrcolas Dokuchaev liderou expedies cientfi cas que resultaram numa srie de publicaes, desde 1877, envolvendo o estudo dos solos da Rssia, principalmente as terras negras ( ou chernozens), alm de procedimentos para o mapeamento de solos e avaliao agrcola das terras, que foram divulgadas rapidamente pelo mundo, visto que j em 1894 era criado o United States Bureau of Soils, como uma entidade separada do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos,

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    chefi ada por Milton Withney29.

    Para Dokuchaev, o solo seria o resultado da interao entre o clima, a topografi a, o material parental (rochas ou sedimentos) e os seres vivos ao longo do tempo. Para Saushkin (1948) a compreenso destas relaes a principal contribuio de Dokuchaev para a Geografi a. A prpria concepo edfi ca e pedolgica do conceito de solo, amplamente desenvolvida pelo sbio de Milyukova aprofunda a apreenso sobre a ideia de zonas naturais, que o mesmo distingue em dois tipos, as zonas horizontais (de latitude) e as verticais (de altitude).

    No entendimento do naturalista em questo, pesquisas como as de Lavoisier, Darwin, Helmholtz e outros, apresentavam falhas no sentido em que:

    Objetos separados tm sido primariamente estudados minerais,

    rochas, plantas e animais bem como fenmenos, elementos sep-

    arados fogo (vulcanismo), gua, terra, ar, em que mais uma vez

    a cincia obteve resultados notveis, mas no suas correlaes,

    nem a gentica, eterna e sempre regular conexo que existe entre

    foras, objetos e fenmenos, entre a natureza morta e viva... de

    um lado e o homem, seu mundo material e espiritual, do outro.30

    29 Outro nome que merece destaque na Pedologia dos Estados Unidos da Amrica (EUA) o do qumico agrcola alemo Eugene Woldemar Hilgard (1833-1916), que estudou em Heidelberg, mas trabalhou nos EUA como gelogo assistente e depois como professor em Berkeley. Ele conduziu inventrios de solos (considerando caractersticas fsicas e qumicas) no lado do Pacfi co norte-americano mesma poca que Dokuchaev. Contudo, Hilgard divergia da posio ofi cial de US Bureau of Soils, que baseava sua classifi cao de solos predominantemente nas diferenas texturais. Este fato atrasou a incorporao das ideias de Hilgard pelo US Bureau of Soils (SMITH, 1998).30 , , , , , , (), , , , , , , , , ,

  • 403Da Descrio de reas s Snteses Naturalistas

    Este pensamento era similar ao de Humboldt, que afirmara em seu Cosmos que, to importante quanto os estudos especializados era a busca pela compreenso das relaes entre os fenmenos terrestres e siderais do cosmos, fato que era encorajado por suas viagens.

    Isto demonstra que o sculo 18 foi marcado por uma sensao de fragmentao e especializao do conhecimento, como atestado pela elaborao da Encyclopdie e da Histoire Naturelle.

    Tanto a proposta de Humboldt quanto a de Dokuchaev apelam para a necessidade de um retorno a uma viso inteira do mundo, compreensiva das relaes entre os elementos que a compem. Corroborando com esta ideia encontra-se o On the scope and methods of Geography de Halford John Mackinder, publicado em 1877, onde o autor discorre sobre a necessidade de uma abordagem integrada na geografi a, unindo seus aspectos fsicos e polticos sob a gide do conceito de regio, voltando perspectiva de Bernard Varen.

    Assim, se o sculo 18 marcou uma especializao das cincias, e a consequente fragmentao da Geografi a, o sculo 19 evidenciou o aparecimento de discusses teleolgicas sobre o conhecimento geogrfico, seja pela reformulao da disciplina (Mackinder) ou na busca de uma nova disciplina (Dokuchaev).

    Diferentemente da geografi a de Mackinder, da geografi a da natureza de Soulavie ou da geografi a fsica de Humboldt, Dokuchaev pensava que a

    , , , , , , , , . , , . , , , ... (DOKUCHAEV, 1898)

  • 404 Cavalcanti S. C. S. & Corra A. C. B.

    cincia que deveria estudar as relaes entre os componentes da natureza no era a geografi a, que estava se desenvolvendo em todas as direes de uma vez. Caminhando no sentido de uma defi nio sobre isso, o cientista russo publica uma srie de artigos entre 1898 e 1900 abordando a questo das zonas naturais e tratando a ideia de zonalidade como uma lei cientfi ca, legando ainda uma perspectiva em mapeamento dos recursos e avaliao de terras para fi ns de aproveitamento econmico e planejamento (ISACHENKO, 1973).

    Estas ideias deram vazo ao surgimento de muitas novas reas de estudo, como a Geoqumica da Paisagem de Boris B. Polinov, a Biogeoqumica e a Teoria da Biosfera de Vladimir I. Vernadsky, a Bigeocenologia de Vladimir N. Sukachev e a Cincia da Paisagem de Lev S. Berg, todos estes ex-alunos de Dokuchaev.

    REAS NATURAIS: DIVERSIFICAO TERMINOLGICA

    Decerto que a compreenso da unidade natural do terreno j havia se fi rmado aps os trabalhos de Soulavie, Lepekhin, Humboldt e Dokuchaev. Todavia, o detalhamento das teorias explicativas sobre o conceito em questo cresceria juntamente com as necessidades de planejamento agropecurio, de manejo fl orestal, da conservao dos recursos naturais e preservao da natureza, fato que aproximou ainda mais a teoria de zonas naturais da Ecologia e das Cincias Agrrias.

    Do fi nal do sculo 18 at as primeiras dcadas do sculo 20, o rpido desenvolvimento industrial e o aparecimento de diversas invenes como o telefone, o fongrafo, a iluminao eltrica e o cinema, fi rmaram a cincia e a racionalidade como pilares da ideologia do progresso. Nas cidades os trabalhadores, submetidos a jornadas de trabalho extensas, se organizavam em sindicatos fundamentados em diversas teorias polticas, como o marxismo.

  • 405Da Descrio de reas s Snteses Naturalistas

    No meio artstico, o movimento romntico (que muito infl uenciou Humboldt) contrapunha a ideia de industrializao e a vida urbana insalubre ideia de uma natureza buclica e virgem, exemplo perfeito da Criao.

    Concomitantemente, o avano no processo de degradao da natureza, e as ideias que vinham surgindo sobre a posio do homem entre os seres vivos e mesmo da Ecologia, deram subsdios ao crescimento de pensamentos preservacionistas e conservacionistas31. Dentre estas ideias, a teoria da evoluo de Darwin-Wallace deu flego especial aos estudos sobre as relaes entre as espcies e infl uncia do meio sobre as comunidades.

    neste contexto que o termo bitopo elaborado pelo biogegrafo e aracnologista Karl F. T. Dahl em 1908, surgindo como um complemento noo de biocenose, desenvolvida por seu professor Karl A. Mbius, em 1877. A denominao de biocenose veio a partir do estudo de Mbius sobre mexilhes e seu cultivo. Dahl foi curador da seo de aracnologia no Museu de Histria de Berlim, cuja coleo de zoologia era dirigida por Mbius.

    Neste momento, podemos perceber uma mudana na concepo de trs reinos (mineral, animal e vegetal) desenvolvida na LHistoire Naturelle do Conde de Buffon (sculo 18), e utilizada por Soulavie, que passa a ser substituda pela noo de relao entre os seres vivos e no vivos de Humboldt e Dokuchaev, sendo cristalizada nos conceitos de biocenose e bitopo de Mbius-Dahl.

    Alm disso, os termos signifi cando um conceito unifi cador das relaes

    31 Discutindo o surgimento deste tipo de pensamento, Diegues (2001) evidencia o modo como ele esteve associado ideologia do progresso e a preocupao com o manejo dos recursos fl orestais de um lado, e busca pela manuteno de ilhas de natureza intocada, que deveriam ser mantidas protegidas do desenvolvimento industrial, baseadas numa ideia romntica de natureza selvagem. O mesmo autor ainda demonstra como a criao de parques e reservas baseada numa ideia prstina tem sido nociva s comunidades tradicionais que viviam antigamente em locais considerados virgens pelos citadinos, que depois se torna prejudicial prpria gesto das unidades de conservao.

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    entre seres vivos e no vivos passam a despontar no meio acadmico, como as zonas naturais de Dokuchaev (1898), as regies naturais de Herbertson (1905), a paisagem de Berg em 1913 (BERG, 2006) e Passarge (1913) ecossistema, por Arthur G. Tansley (1935); ectopo, proposto por Thorvald J. Srensen (1936) e desenvolvido posteriormente por Tansley (1939) e Carl T. Troll em 1939 (TROLL, 2006); bioma por Clements e Shelford (1939), geossistema (SOCHAVA, 1978), entre outros.

    Estes termos fundamentaram o desenvolvimento de servios de estudo e/ou avaliao do terreno, seja com fi nalidades ecolgicas ou agropecurias. Sendo ainda possvel traar uma linha de similaridade entre as diversas propostas que vieram a se estabelecer no sculo 20, com base na proximidade do idioma falado e das relaes polticas entre as diversas regies do globo.

    Nos pases anglfonos, por exemplo, j em 1905, A. J. Herbertson se questionava sobre quais critrios deveriam ser utilizados para subdiviso das terras, utilizando o termo regies naturais. Alguns anos mais tarde, comeam a surgir, nos Estados Unidos da Amrica (EUA), uma srie de trabalhos, utilizando tcnicas diversas desde a descrio de campo (JAMES, 1929), com destaque para o Michigan Land Economic Survey MLES (de 1922), dentre os quais faziam parte os gegrafos Wade de Vries e Jethro Otto Veatch e o fl orestal P.S. Lovejoy.

    Em sua diviso geogrfi ca natural das terras J. O. Veatch (1930) apresenta um mapa do Estado de Michigan, contendo land divisions formadas por um mesmo tipo de solo, topografi a e vegetao.

    O uso de fotografi as areas da proposta de Ray Bourne (1931), bem como o trabalho do MLES infl uenciaram as pesquisas sobre a unidade do terreno na Nova Zelndia (CUMBERLAND, 1944) e Austrlia, como o relatrio de servio na regio entre Katherine e Darwin, no norte Australiano, realizado na dcada

  • 407Da Descrio de reas s Snteses Naturalistas

    de 1940, mas publicado apenas no incio da dcada seguinte (CHRISTIAN; STEWART, 1953).

    Neste trabalho foi formulado o conceito de Sistemas de Terras (Land Systems) que se tornou basilar para a proposta ulterior de avaliao de terras (Land Evaluation) adotada pela Organizao das Naes Unidas para Agricultura e Alimentao (FAO, 1976), e para o desenvolvimento de aproximaes classificatrias de origens chinesa (LONG, 1986, 1994), neerlandesa (ZONNEVELD, 1989; 1995), italiana (HOWARD; MITCHELL, 1980), nigeriana (AMEYAN, 1986), iraniana (MAKDHOUM, 2008), entre outras, sendo utilizada tambm, como base para avaliaes geotcnicas e para obras de engenharia (ZUQUETTE; GANDOLFI, 2004).

    No Canad, os sistemas de classifi cao de terras apareceram na dcada de 1960, a partir do Canadian Land Inventory (CLI), que promoveu uma avaliao das terras, principalmente da parte sul do pas, inserindo os Sistemas de Informao Geogrfi ca no processo de compilao dos mapas. A partir dos resultados do CLI, criou-se na dcada seguinte um comit para classifi cao ecolgica das terras (Canada Committee on Ecological Land Classifi cation CCELC), contribuindo para o desenvolvimento da perspectiva de mapeamento de unidades naturais do terreno, utilizando o conceito de Ecorregies, que mais tarde seria adotado por organizaes no governamentais para conservao da natureza como a World Wildlife Fund (WWF) e a The Nature Conservancy (TNC).

    Na Frana, destacam-se os trabalhos de Jean Tricart e Georges Bertrand, considerados principais expoentes da renovao da geografi a fsica francesa na segunda metade do sculo 20 (VEYRET; VIGNEAU, 2002). O trabalho desses autores incorporou a teoria dos sistemas, buscando a compreenso do ambiente enquanto entidade dinmica e hierarquicamente organizada (BERTRAND, 1968;

  • 408 Cavalcanti S. C. S. & Corra A. C. B.

    TRICART, 1977), tendo infl uenciado diretamente a geografi a fsica brasileira e indiretamente os zoneamentos agroecolgicos no Nordeste do Brasil, atravs do trabalho de Rich e Tonneau (1989).

    No contexto da lngua alem, as principais ideias para a diferenciao de regies naturais j estavam presentes nos trabalhos dos gegrafos Friedrich Von Richtoffen e Siegfried Passarge, culminando com os trabalhos de Carl Troll (que cunhou o termo Ecologia de Paisagens), Gerhard F. Josef Schmithsen e principalmente, Ernst Neef, que legou uma escola alem em Ecologia de Paisagens, cujos moldes conceituais em muito se assemelham queles da Geografi a dos pases de lnguas eslavas (KLINK, 2002). Outro nome de destaque Hartmut Leser, que escreveu o primeiro livro-texto de Ecologia de Paisagens em alemo. Todavia, a produo alem parece ter tido pouca infl uncia alm dos limites de seu territrio, sendo citados em trabalhos de gegrafos russos, principalmente. No Brasil, Helmut Troppmair (1984) divulgou inicialmente a perspectiva da classifi cao de bitopos, mais tarde retomada por Bed et al. (1997). Outra contribuio importante da geografi a alem ao estudo das reas naturais a introduo do conceito de regies morfogenticas por Julius Bdel (PELTIER, 1950), que incorpora a noo de zonas naturais atuao do processo de formao de mantos de intemperismo e formas de relevo.

    O canal de comunicao em lnguas eslavas, sob a gide geopoltica da Unio Sovitica, divulgou, principalmente, os trabalhos dos gegrafos de seus pases formadores (Rssia, Gergia, Letnia, etc.) destacando quatro principais centros produtores de conhecimento: Moscou, So Petersburgo, Irkustsk e Tblisi. Todavia, os trabalhos de gegrafos da Polnia, da ento Tchecoeslovquia, Letnia, Estnia, Hungria, Bulgria, Romnia, Monglia, Ucrnia e outros pases da Europa Central e do Leste tambm legaram o desenvolvimento de perspectivas regionais bastante particulares, ainda que mais semelhantes

  • 409Da Descrio de reas s Snteses Naturalistas

    ao trabalho dos gegrafos soviticos do que aqueles de pases anglfonos (ROUGERIE; BEROUTCHACHVILI, 1991).

    A partir de 1966, com a publicao do livro Princpios de Cincia da Paisagem e Regionalizao Fsico-Geogrfi ca32 de Anatolyi G. Isachenko, a modalidade eslava da regionalizao em bases naturais passa a contar com uma viso terica mais abrangente do que a simples identifi cao de unidades de terras para o planejamento, que s encontraria verso similar em lngua alem 10 anos depois (LESER, 1976), 30 anos depois em lngua inglesa33 (BAILEY, 1976) e apenas 38 anos depois em lngua portuguesa (RODRIGUEZ; SILVA; CAVALCANTI, 2004).

    No mesmo trabalho, Isachenko (1973) afi rma que a perspectiva sovitica fundamentou-se num tratamento das zonas naturais enquanto entidades reais (materiais), pautada na lgica do materialismo histrico, que se tornava necessria como legitimadora das posturas acadmicas na ento URSS. Esta postura viabilizou a promoo de refl exes acadmicas no sentido de formular princpios gerais, leis e axiomas para classifi car e explicar as reas naturais.

    Em contraponto, na geografi a dos pases capitalistas, houve a predominncia um tratamento mais fl exvel do conceito de regio, defi nida por propsitos mais prticos (Cf. Hartshorne, 1939), sendo tarefa da geografi a a busca por leis gerais para a regionalizao de qualquer tema especfi co ou problema (ex. regies industriais). Decorreu disto que, o desenvolvimento de abordagens sobre reas naturais ocorreu principalmente em institutos de pesquisa e com propsitos mais prticos do que tericos (manejo fl orestal, aproveitamento agrcola, etc.)

    32 O livro de Isachenko possui uma traduo para o ingls de 1973: Principles of Landscape Science and Physical-Geographic Regionalization. Traz uma extensa reviso dos trabalhos anteriores, tanto em lngua Russa quanto de pases estrangeiros.33 Aqui desconsideramos o fato do livro de Isachenko ter sido traduzido para o ingls em 1973.

  • 410 Cavalcanti S. C. S. & Corra A. C. B.

    (ISACHENKO, 1973).

    Esta dualidade na viso sobre o uso do conceito de reas naturais, parece mesmo ter sido o grande motor de diferenciao entre as perspectivas soviticas e dos pases capitalistas. Todavia, o desenvolvimento da ideia de reas naturais dotada de uma carga terica mais densa, a partir da biologia e da ecologia, foram posteriormente absorvidas pelos gegrafos no soviticos, a exemplo do desenvolvimento da ideia de ecorregio e a geografi a de ecossistemas de Bailey (2009). Assim, se a ideia de unidades naturais no foi desenvolvida a fundo pela geografi a dos pases capitalistas do incio do sculo, isto ocorreu por meio da biologia e da ecologia, sobretudo na interface com as ferramentas de sensoriamento remoto e geoprocessamento.

    O canal de comunicao eslavo ainda infl uenciou os gegrafos chineses, sobretudo aps a implantao do regime maosta, conforme nos indicam Fu et al. (2006). Contudo, mais recentemente, o material de origem anglofnica tem tido maior difuso no meio acadmico chins, sobretudo a partir das contribuies de Cai Yun Long (1986, 1994) que agrega o conceito de Land Systems de Christian e Stewart (1953) com a ideia russo-sovitica de regionalizao fsico-geogrfi ca. Outros autores tm seguido a perspectiva de Long (HUA; QUIAO; GUANG, 1992; FEN; HAN; ZHU, 2005).

    Ainda no tocante aos pases formadores da antiga Unio Sovitica, cabe salientar que a infl uncia de Dokuchaev foi fundamental no sentido de se pensar uma teoria para a diferenciao de reas, visto que, seguindo seu exemplo, seus alunos buscaram elaborar princpios gerais para explicao das zonas naturais e seus subtipos, dando origem Cincia da Paisagem (ISACHENKO, 1973; SHAW; OLDFIELD, 2007).

    Por fi m cabe destacar o papel da teoria dos geossistemas, formulada por

  • 411Da Descrio de reas s Snteses Naturalistas

    Victor B. Sochava34, reunida em seu ltimo e principal livro Introduo Teoria dos Geossistemas. O destaque desta teoria se deu pelo fato de aplicar a linguagem sistmica Cincia da Paisagem russo-sovitica, expandindo a concepo da teoria das zonas naturais de Dokuchaev e Berg para alm da preocupao com o padro espacial e a origem das paisagens. A proposta de Sochava (1978) passa a incluir largamente o monitoramento dos geossistemas, atravs da observao contnua em estaes de campo.

    Contudo, cabe salientar que, no tocante aos padres espaciais dos geossistemas, Sochava adapta o modelo hierrquico de reas naturais comum geografi a sovitica35, apenas substituindo termos como subtratos, tratos, localidades, rayon e distrito por gecoro elementar, microgecoro, topogecoro, mesogecoro e macrogecoro, respectivamente (Cf. SOCHAVA, 1978, p.92).

    CONSIDERAES FINAIS

    Este artigo apresentou elementos para o entendimento das snteses naturalistas a partir do conceito de rea natural. Sob um ponto de vista historiogrfi co, percebemos que o referido conceito foi construdo historicamente a partir de ideias relacionadas descrio de reas, a exemplo das noes greco-latinas de positio e natura. Mas tambm partilhando de uma compreenso do vnculo funcional dos lugares a partir do conceito de zonalidade.

    Foi a partir da necessidade de classifi cao das informaes provenientes das navegaes, principalmente atravs do pensamento de iluministas, como 34 Viktor Borisovich Sochava (1905-1978) nasceu em So Petersburgo (Rssia) e foi diretor do Instituto de Geografi a da Sibria e do Extremo Oriente (hoje Instituto Viktor Sochava de Geografi a). Formado em cincias agrrias, foi um dos maiores contribuintes da histria da geografi a russo-sovitica. Props a teoria dos geossistemas, integrando e ampliando o espectro epistemolgico e metodolgico da geografi a fsica (ACADEMIA RUSSA DE CINCIAS, 2005). 35 Este modelo foi apresentando em Cavalcanti, Corra e Arajo Filho (2010) e em Cavalcanti (2010).

  • 412 Cavalcanti S. C. S. & Corra A. C. B.

    Soulavie, que o conceito em questo se estrutura sob uma noo especializada. A partir de ento, diverge da viso regional abrangente das descries de reas, que se enriqueceu at a poca de Varen, que as colocou sob a diligncia de um quadro terico-explicativo, organizando a Geografi a como universal e particular.

    a partir do iluminismo que ganha flego a compreenso das relaes entre o clima, a altitude e a biota (e posteriormente os mantos de intemperismo, solo e as formas de relevo) como produtos da infl uncia de fatores geogrfi cos como a latitude e a altitude. Retrabalhada por dois pensadores de renome (Humboldt e Dokuchaev), o estudo das reas naturais, pautado na observao, assume seu carter de cincia de sntese, como conhecemos hoje.

    Contudo, as diferenas no modo de encarar as reas naturais, como entidades reais ou no, bem como a diversidade de contextos institucionais e polticos, contriburam para que a sntese naturalista caminhasse por vieses distintos para o tratamento da questo integrativa. Neste cenrio de meio termo entre a geografi a, a agronomia e a ecologia que crescem a cincia da paisagem russa, a ecologia da paisagem dos gegrafos alemes, as propostas de classifi cao de terras (em termos ecolgicos ou no) e tantas outras.

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