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Ivan Saidenberg

A História dos Quadrinhos no Brasil

Resgate das colunas publicadas entre 17 de agosto e 26 de outubro de 1980

no Jornal de Hoje de Campinas

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Sumário

Introdução

Parte I – 17/8/1980Palavra e Traço Através dos TemposA palavra e Traço no BrasilHistória em QuadrinhosA Primeira História em Quadrinhos

Parte II – 24/8/1980Palavra e Traço no Século das LuzesA Sátira Política sob a Forma de ChargeO Humor no Final do Século XIX

Parte III – 31/8/1980O Século das Luzes… E das TrevasEvolução na História em QuadrinhosA “Época de Ouro” dos Quadrinhos no Brasil

Parte IV – 7/9/1980Os Novos “Vehicullos” de ComunicaçãoA Caricatura PolíticaOs Quadrinhos BrilhavamOs Quadrinhos e a 2ª Guerra Mundial

Parte V – 14/9/1980O Estado NovoJayme Cortez e os Quadrinhos NacionaisA Renovação das Histórias em Quadrinhos

Parte VI – 21/9/1980Bota o Retrato do Velhinho no Mesmo LugarEntre Golpes e Contragolpes, Surgem “JK”… e “JQ”

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A Segunda “Época de Ouro” dos QuadrinhosOs Grandes Desenhistas Começam a Brilhar

Parte VII – 28/9/1980O Período de Goulart e o Brasil AgitadoO Golpe Militar de 1964O Fim da Segunda “Época de Ouro” dos QuadrinhosOs Artistas de um Período ConturbadoO Regime Militar e os CartunistasMas, Aconteceu o Pior…

Parte VIII – 05/10/1980E SURGE “O PASQUIM”E o “Pasca” Deita e RolaOs Quadrinhos sob o AI-5

Parte IX – 12/10/1980A Renovação do HumorO Salão Internacional de HumorCRÁS! – A Explosão dos QuadrinhosOs pulos do “Pererê”As palhaçadas de “Sacarrolha”

Parte X – 19/10/1980Figueiredo e a “abertura”Os Quadrinhos Atingem a MaturidadeQuadrinhos Experimentais e de Vanguarda

Parte final – 26/10/1980Caminhos do HumorO Humor Brasileiro Vai Bem, ObrigadoE os Quadrinhos?Só Mesmo Sendo “Pancada”…Os Novos HeróisOs Quadrinhos EróticosO Futuro dos Quadrinhos Brasileiros

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Introdução(Lucila Simões Saidenberg)

Esta série de colunas foi originalmente publicada no extinto Jornal deHoje, de Campinas, de 17 de agosto a 26 de outubro de 1980. Nelas, meupai descreve de modo bastante conciso a história do humor político e decostumes feita de tinta e papel, e das histórias em quadrinhos, desde seusprimórdios no final do século XIX até os anos 1980 do século XX.

Reproduzo-as aqui do modo mais fielmente possível, e espero que otexto a seguir seja do interesse dos leitores destas linhas.

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Parte I – 17/8/1980

Palavra e Traço Através dos TemposA imagem foi a primeira forma de comunicação a ser utilizada pelo ser

humano, desde tempos imemoriáveis. Antigas pinturas nas cavernas pré-históricas já retratavam cenas de caçadas, homens e animais em luta, àsvezes em sequência, narrando uma história. A imagem deu origem à escrita,pois as primeiras formas de escrita humana (na China e no Egito) eramesquematizações de figuras humanas, animais, casas, etc. Assim surgiramos hieróglifos egípcios, que Champolion decifrou, revelando toda a históriade um povo.

O primeiro desenho de humor que se conhece é egípcio e está no Museude Turim, e representa animais assumindo papéis humanos e se

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comportando como se fossem gente. Existe até um burro tocando harpa!Todavia, só na Europa medieval é que a arte da ilustração iria renascer coma xilogravura e a pintura religiosa. É conhecidíssima a sequência da Paixãode Cristo, onde Jesus é mostrado desde sua prisão até sua ressurreição,passando pela crucificação, tudo isso numa sequência de quadros queencontramos até hoje, na maioria das igrejas católicas. No século XVIIIsurgem as técnicas do pontilhado e da aquatinta, bem como a litografia,possibilitando o aparecimento dos primeiros jornais ilustrados. O talho docee a água forte precedem um novo processo de xilogravura que veio permitira junção da imagem com o texto, no ano de 1817, na Inglaterra. Pela vezprimeira, a palavra e o traço se uniam.

A palavra e Traço no Brasil“A Campainha e o Cujo” foi o título da primeira caricatura brasileira

que unia a palavra ao traço. O texto é atribuído a Manuel de Araújo PortoAlegre e a estampa da litografia é de Victor Larée. Foi executada a14/12/1837 e publicada no Jornal do Commércio, do Rio de Janeiro.

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Essa primeira “charge” pertence hoje à Biblioteca Nacional e mostra umfidalgo com uma campainha nas mãos, entregando um saco de dinheiro auma personagem vestida como um arauto de rua, que se ajoelha parareceber a dádiva do primeiro. Essa segunda figura, o “Cujo” da sátira, temas características do jornalista Justiniano José da Rocha. Ao fundo, numaparede, há uma inscrição: “Com honra e probidade – 3:600$000 – Viva asinecura!!!” –; a seguir, uma palavra da gíria, “gimbo”, que significadinheiro, e ainda: “Viva a Pátria” e “Chronica das Parvoíces”. Mais aofundo, um grupo foge na direção de uma parede onde se lê: “Campainhavenha a nós” e, numa placa, “Cemitério dos Desmazelos”. Como se nãobastasse, há versos ao pé da ilustração:

“A Campainha – Quem quer; quem quer redigir/ O Correio Oficial!/Paga-se bem. Todos fogem?/ Nunca se viu coisa igual.

“O Cujo – com três contos e seiscentos,/ Eu aqui’stou, meu Senhor;/Honra tenho e probidade/ Que mais quer d’um redator?”

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Assim surgia a charge (do francês: ataque) em nosso país.

História em Quadrinhos

Paralelamente à arte da charge ou cartum (do inglês, cartoon: desenho,caricatura) surgia também no século XIX a História em Quadrinhos. A 25de fevereiro de 1894, o jornal NY World publicou uma “história emimagens” que mostrava um bêbado usando uma máscara de teatro chinêspara assustar a todos, num bar, e assim poder esvaziar a prateleira.

Todavia, a primeira história em quadrinhos oficialmente reconhecidacomo tal é de autoria de Richard Felton Outcault, com seu “The YellowKid” (O Menino Amarelo), também publicada no NY World, a 16 defevereiro de 1896.

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“The Yellow Kid” ainda não é uma obra dentro dos padrões atuais, masé uma predecessora imediata do gênero. Foi somente em 12 de dezembro de1897 que o New York Journal apresentou uma série de desenhos emquadrinhos, feita por um principiante, Rudolph Dirks: “Os Sobrinhos doCapitão”, mostrando as traquinagens de dois garotos terríveis, Hans e Fritz,que são publicadas até hoje!

A Primeira História em QuadrinhosNo mesmo ano de 1897, a revista O Malho publicava “As Aventuras de

Zé Caipora”, de Ângelo Agostini, a primeira obra em quadrinhos no Brasil.A personagem principal, inspirada em lendas indígenas, vivia aventuras

nos sertões do nosso país. Mas foi só no século XX que surgiu a primeirarevista especializada no gênero, O Tico-Tico.

O Tico-Tico seria um marco histórico. Seu primeiro número foi lançadoa 11 de outubro de 1905 e seus primeiros colaboradores foram: Vasco Lima(Histórias Avulsas), Cícero Valadares (Histórias Avulsas) e Alfredo Storni(Histórias Avulsas). Logo em 1906 surgia J. Carlos, com a personagem“Trapisongas”, também publicada em O Malho.

J. Carlos seria considerado o maior desenhista de quadrinhos ecartunista de sua geração.

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Mas foi O Tico-Tico que continuou a divulgar novos autores: MasYantok (Kaximboun, 1908) Alfredo Storni (Zé Macaco, Faustina eBaratinha, 1910), e Luis Loureiro (Chiquinho, 1914). Foi esse personagem,Chiquinho, que mais se destacou na época. Era inspirado em “BusterBrown”, de Richard Oucault, o mesmo que criou o “Yellow Kid”. Todavia,tinha como companheiro o negrinho Benjamim, introduzido pelo LuisLoureiro.

Outros artistas nacionais criariam e desenhariam o garoto Chiquinho:Rocha, Alfredo Storni, Paulo Affonso, Osvaldo Storni, Miguel Hochman,etc.

Ainda nessa primeira fase do quadrinho brasileiro, destacaram-se:Benedito Bastos Barreto (Belmonte), criador de Juca Pato, publicado naFolha da Manhã, em 1928, e ainda J. Carlos, novamente, com apersonagem Lamparina, criada em 1930 e publicada também em O Tico-Tico.

Foi uma fase ingênua, onde todas as histórias eram cômicas e destinadasexclusivamente ao público infantil. Somente no período de 1934 a 1940 éque surgiu a chamada “Época de Ouro”.

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Parte II – 24/8/1980

Palavra e Traço no Século das LuzesA charge ou cartum surgiu no Brasil em 1837, mas a história em

quadrinhos levou 60 anos para aparecer na nossa imprensa. Todavia, essasduas artes gráficas, que unem a palavra ao traço, passaram a coexistir nonosso século, de vez que muitos cartunistas foram argumentistas oudesenhistas de quadrinhos e vice-versa. Como a charge é mais antiga, osprimeiros autores brasileiros eram somente cartunistas e, no período de1837 a 1897, destacamos alguns dos mais importantes chargistas nacionais,a saber:

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Depois dos pioneiros Manuel Araújo Porto Alegre e Victor Larée,surgiram ilustradores que, na maioria das vezes, não assinavam seustrabalhos, ficando anônimos, ou só assinavam um sobrenome oupseudônimo. No catálogo da exposição de 1881, promovida peloComendador José Tomas de Oliveira Barbosa, no Rio de Janeiro, há umasérie de 13 estampas litografadas por Lopes e de autor anônimo (talvez opróprio Lopes).

Mas o grande litógrafo da época foi Frederico Guilherme Briggs, que seinstalou no Rio de janeiro em 1837. Suas obras são anônimas, de um modogeral, mas há uma, de 1840, que é atribuída a Rafael Mendes de Carvalho,denominada “O Sapateiro Eleitor”. Briggs não era autor das charges quelitografava, já que era uma prática comum o trabalho em dupla: um redatorou jornalista criava a charge e um litógrafo apenas a executavagraficamente.

A Sátira Política sob a Forma de ChargeA charge (ou cartum) já nasceu voltada para a política, como seu

próprio nome indica (carga ou ataque, em francês). Em 1844, surgiria a“Lanterna Mágica”, espécie de pioneira da imprensa alternativa, sob adireção de Manuel Araújo Porto Alegre. Essa publicação exibia sempreilustrações humorísticas e satíricas, com desenhos de Rafael Mendes deCarvalho. A seguir, surgiria a “Marmota Fluminense”, cujo primeironúmero saiu a 7 de setembro de 1849, sob o título de “Marmota da Corte” esob a direção de Próspero Ribeiro Dinis e Francisco de Paula Brito. A 2 dejulho de 1857, iria denominar-se apenas “Marmota”.

Outras publicações se seguiram trazendo charges: “Brasil Ilustrado”(1855/56), a “Semana Ilustrada” (1860/76) e a “Revista Ilustrada” deÂngelo Agostini, o mesmo que iria criar a primeira personagem dequadrinhos do Brasil, o “Zé Caipora”. Essa revista começou a circular em1876. Em 1859, surgiria o “Charivari”, logo substituído pelo “CharivariNacional”, surgido em 1862. Já era um tipo de jornal alternativo, queironizava os desmandos do Imperador D. Pedro II, como se vê na charge de4 de maio de 1862, de autor anônimo, one uma estátua do Imperadorsegurando um exemplar da “Confederação dos Tamoios” numa das mãos eum cacho de bananas na outra, equilibrada sobre um jumento e uma

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pirâmide de tijolos colocada sobre o “Pão de Açúcar”, é contemplada pelopróprio Imperador e seus ministros, com a seguinte legenda: “D. Pedro II –Safa!… Ao menos não se dirá que nunca escrevi para a imprensa; sousábio, e sou também jornalista! É minha opinião geral que minha análise à‘Confederação dos Tamoios’ foi um verdadeiro chef d’oeuvre… até me saíbem no grego… decididamente, vou chegar ao Capitólio…”

O Humor no Final do Século XIX

Em fins do século XIX, surge a publicação: “Bazar Volante” (1863/67),com a colaboração de Henrique Aranha, A. Seelinger, Flúmen Junius ePinheiro Guimarães. A 28 de abril de 1867, passou a se chamar “OArlequim”, com charges de Flúmen Junius, J. Mill, V. Mola e outros.

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Em1868, no dia 7 de janeiro, surgia “Vida Fluminense”, em substituição ao“Arlequim”, onde colaboram Ângelo Agostini, Candido Aragonês de Faria,Pinheiro Guimarães, e o italiano Luigi Borgomainerio, autor da famosacharge “Empréstimo Inglês – A Transfusão de Sangue” (20/2/1875).

Em 19 de setembro de 1869, iria aparecer “O Mosquito – JornalCaricato e Crítico”. Esse antecessor de “O Pasquim” estendeu-se até 1877 eteve como colaboradores Cândido Faria, Flúmen Junius, PinheiroGuimarães e Antônio Augusto do Vale, cujo periódico “O Lobisomem” sefundiu com “O Mosquito” em 14 de abril de 1871. Ângelo Agostini eRafael Bordalo Pinheiro passam a integrar o corpo de colaboradores e “OMosquito” engloba outras publicações, tais como: “A Comédia Social”(1870/71) e “O Mefistófeles” (1874/75). O primeiro era desenhado porPedro Américo, Aurélio de Figueiredo e Décio Vilares. Foi o fabulosoPedro Américo o autor de uma charge famosa: “O Que Deveria Fazer aHumanidade” (“A Comédia Social” – 29/9/1870) – caricatura profética,pois mostra, enforcados, o Imperador da Alemanha, Bismark, e NapoleãoIII, responsáveis pela Guerra Franco-Prussiana de 1870. Antecipa, assim, oJulgamento de Nuremberg, de quase um século depois.

Ainda no Rio, surgiu o famoso “Ba-ta-clan” (1867/71), curiosíssimoperiódico redigido em Francês! Seu diretor era Charles Berry e traziacharges de cartunistas franceses importados pelo periódico e aquiresidentes. Alf. Michon foi o grande cartunista dessa revista curiosa.

Em 1875, surgiu “O Mequetrefe”, que duraria até 1893, com trabalhosde Cândido Faria, Antônio Alves do Vale, Pereira Neto, Joseph Mill eAluízio Azevedo, nele estreando Bambino (Artur Lucas) em 1891. Nesseperíodo ainda tivemos as revistas “Psitt” (1877), “O Besouro” (1873), “OGanganelli (1876) e a “Zigue-Zague” (1878). Depois vieram “O Binóculo”(1881) e “Rataplan” (1886).

Ao apagar das luzes do século, surgiria “Dom Quixote” (1895) e aindase destacariam os artistas Julião machado, Hilarião Teixeira, Bento Barbosae Antonio do Vale, encerrando um ciclo da antiga caricatura brasileira einiciando um novo, após a proclamação da República.

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Parte III – 31/8/1980

Em fins do século XIX já era grande o número de publicações quetraziam charges e textos de humor, em sua maioria do tipo que hoje seriachamado de jornais alternativos. Talvez os mais expressivos fossem “OMosquito”, “O Mequetrefe”, a “Revista da Semana” e o “Dom Quixote”.Vigorava, principalmente, a caricatura política e social, tal como nostempos atuais.

Durante o período da Regência, desde 1823 até a maioridade de D.Pedro II, a imprensa se viu sujeita a intensa censura, o que iria determinaruma ampla reação em fins do século XIX, quando os artistas e jornalistasacabaram por conseguir ampla liberdade de imprensa. Com a proclamaçãoda República, essa liberdade chegou a ser quase completa, dando

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surgimento a novos artistas de valor inquestionável. Mudava o século emudavam as mentalidades retrógradas, a imprensa se aperfeiçoava erenovam-se as esperanças.

O Século das Luzes… E das TrevasSe o século passado foi considerado como sendo o SÉCULO DAS

LUZES, o nosso pode ser chamado de O SÉCULO DAS LUZES… E DASTREVAS. Depois de um glorioso início, onde a Liberdade parecia imperar,vieram períodos sucessivos de violenta censura e nova liberalização. Ogrande marco do início do século XX foi O Malho, lançado independenteda “Revista Ilustrada”, a 20 de setembro de 1902, com o subtítulo de“Semanário Humorístico, Artístico e Litterário”.

Os métodos fotoquímicos surgem e assoberbam as artes gráficas. Já em1900, uma nova “Revista da Semana” fundada por Álvaro de Teffé, usariaesse novo e revolucionário método de imprensa.

Já se destacam os cartunistas Julião Machado, Raul Pederneiras, CalixtoCordeiro (K. Lixto) e J. Carlos. As charges explodem em O Malho, OJornal do Brasil, O País, o Correio da Manhã, e a Gazeta de Notícias,alguns já diários. Surgem ainda “O Kosmos” (1904), o “Fon-Fon” (1907), a“Careta” (1908), o “Degas” (1908), “O Avança” (1908), “O Albor” (1911),“O Gato” (1911), “Caricatura” (1913), etc.

O clichê a cores iria surgir em 7 de julho de 1907, na Gazeta deNotícias, em papel acetinado, em máquinas rotativas, constituindo-se numatotal inovação em matéria de imprensa diária sul-americana. Todavia, ainspiração dos cartunistas era francesa, de modo geral, já que a França sedestacava como líder no gênero, impondo até mesmo o nome de charge(carga, ataque), ao cartum da época.

Mas foi o semanário O Malho que lançou os maiores nomes do início denosso século, até a década de 30; três gerações de artistas do lápis neletrabalharam: além de K. Lixto, Raul e J. Carlos, tivemos J. Ramos Lobão,Crispim do Amaral, Leônidas Freire, Gil (Carlos Lenoir), Alfredo Storni,Alfredo Cândido, Vasco Lima, Seth, Augusto Rocha, Yantok, Loureiro,Luís Peixoto, Nássara, Theo, Enrique Figueroa, Del Pino, Di Cavalcanti eAndrés Guevara.

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Evolução na História em QuadrinhosCom O Malho surgiria também a primeira história em quadrinhos

brasileira, como já vimos: “As Aventuras de Zé Caipora”, de ÂngeloAgostini, criada em 1897 e republicada em 1902. Outros artistas dessesemanário e da revista O Tico-Tico dariam prosseguimento ao trabalhopioneiro de Ângelo Agostini (italiano, aqui radicado), com históriascômicas e, até certo ponto, um tanto ingênuas, num período que seestenderia até 1934.

A “Época de Ouro” dos Quadrinhos no Brasil

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É em 1934 que se ergue o “Suplemento Juvenil” dirigido por AdolfoAizen que, após retornar dos USA, começou a editar um suplemento para ojornal A Nação, do Rio, cujo primeiro nome foi “Suplemento Infantil”. Osucesso foi tão grande que, um mês após o lançamento, tornou-se maispopular que o próprio jornal.

Após seu 14º número separou-se de A Nação e, como “SuplementoJuvenil” daria início à “Época de Ouro” dos quadrinhos nacionais.

Nesse suplemento trabalharam muitos artistas de renome: Alpho e Berto(“Sherlock”, 1934 – Mirim), Augusto Barreiros (“O Castigo a Cavalo”,1936), Berto (agora só com “Bituca”, 1935, e “Biboca”, 1936), Carlos A.Thiré (A. Ericson, por pseudônimo, com “O Galvão Riff”, 1936, “Raffles”,1936, e “Ricardo Relâmpago”, 1940), Fernando Dias da Silva (“O Enigmadas Pedras Vermelhas”, 1938), José Constâncio Filho (“Uma ViagemEncrencada”, 1934), Monteiro Filho (“Roberto Sorocaba”, 1934), Queiroz(“Macarrão e Talharim”, 1934), Renato Silva (“Nick Carter VersusFantasma”, 1937), Rodolpho Ische (“Aventuras de Jack e Ralph”, 1937,“No País das Amazonas”, 1939, e “Os Conquistadores do Novo Mundo”,1940), Sólon Botelho (“Mil Milhas por Hora”, 1937) e muitos outros.

Em outras publicações do gênero, tivemos: Abílio Correa (“Asaventuras de Guy”, 1935 – Suplemento Infantil do Diário da Noite), AyresBorges (“A Vingança dos Micos”, 1935 – Correio Universal), Carlos A.Thiré (o mesmo A. Ericson), com “Bob Lloyd, Repórter”, 1937 – Mirim, e“Legionários da Sorte”, 1941 – O Tico-Tico), Décio Delphino (“Bibinha,Manecão e Zé Bolacha”, 1938 – O Diário de Belo Horizonte, e “AInvenção do Capitão Luren”, 1940 – Era Uma Vez), Elísio Martins (“O Ásda Legião”, 1939 – Mirim), Francisco Acquarone (“História de Aladim”,1936, “João Tymbira”, 1937, e “O Guarany” – Correio Universal), HélioQueiroz (“Aventuras de Roberto Galvão”, 1937, Mirim), Hélio Soveral (“OMistério da Casa de Campo”, 1935 – Correio Universal), Hugo Winkelma(“Buri”, 1939 – Mirim), José Geraldo (“Fred Williens”, 1935 – O Tico-Tico,e “Zanzio”, 1939 – Diários Associados), Luis Sá (“Reco-Reco”, “Bolão eAzeitona”, 1931 – O Tico-Tico) e Renato Silva (“Garra Cinzenta”, 1937 – AGazetinha).

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Parte IV – 7/9/1980

Depois que O Malho – Semanário Humorístico, Artístico e Litterário foilançado no Rio, em 1902, uma nova geração de cartunistas se formou. Osvalores iam surgindo quase que espontaneamente, pois jovens idealistascomeçavam a desenhar seus cartuns e logo eram publicados pelas váriasrevistas e pelos jornais que passaram a se utilizar da charge com frequênciapara a crítica política e de costumes.

Os Novos “Vehicullos” de Comunicação

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A Careta, fundada a 6 de junho de 1908, iria dar novo impulso aohumor brasileiro. J. Carlos fez a capa do número I, caricaturando AfonsoPenna. Logo, grandes nomes da literatura, como Olavo Bilac, se uniam agrandes nomes da ilustração e cartum. Em a Careta trabalharam: MartinsFontes, Olegário Mariano, Aníbal Teófilo, Alberto de Oliveira, J. M.Goulart de Andrade, Emílio Meneses, Bastos Tigre, Luis Edmundo emuitos poetas parnasianos. J. Carlos foi o grande ilustrador dos trabalhosdesses imortais da literatura.

Em 1907 já surge a revista FON-FON!, logo seguida pelas revistasIllustração Brasileira e Para Todos Nessas publicações trabalharam: K.Lixto, Raul e J. Carlos, além de Nair de Teffé, a primeira cartunista mulherdo Brasil e talvez do mundo, mais conhecida pelo pseudônimo Rian, a“portrait-chargista”. Já era o feminismo em marcha, no início do séculoXX.

A Caricatura PolíticaNo período de 1910 a 1930, a charge brasileira passa a ser mais de

crítica política do que de costumes. Surge Nássara, um capítulo à parte nahistória do nosso humor, pois, além de cartunista, era compositor emarchinhas de carnaval de grande sucesso, como Alá-lá-ô. Nássara,testemunha ocular da história, ainda está vivo, no momento em queredigimos estas mal traçadas linhas. Nássara ainda ilustrava suascomposições, sendo que a última delas, de grande sucesso, foi “Mulher SóDepois dos 30”.

K. Lixto nos brindou, já em 1909, com uma grande charge política,criticando as eleições da época, na revista FON-FON!. Numa charge quecontinua muito atual, ele mostrava o povo e uma caveira lado a lado com oseguinte subtítulo: “ELEICÕES – Os dois mais legítimos representantes damoderna Soberania Nacional, os únicos, talvez, a quem será permitido hojeo exercício do sagrado Direito de Voto”.

Em 1912, o cartunista Seth apresentava outra charge política de grandeforça, na revista O Garoto, mostrando um túmulo com a seguinte inscrição:“Aqui jaz a Verdade Eleitoral – assassinada a golpes de Penna Mallat. Oraepor Ella”. Ao lado do túmulo, um carneiro representando “o povosoberano” (5) p. 189.

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Eram já os sintomas da insatisfação contra o sistema eleitoral sem ovoto secreto, que resultaria na Revolução de 1930.

Os Quadrinhos BrilhavamE foi de 1930 a 1940 que os quadrinhos brasileiros atingiram sua

primeira “Época de Ouro”. Novos nomes surgiram, tais como Luis Teixeirada Silva (“Gregório vai à lua”, 1939 – Mirim), Luna e Martins (“OsCiclones de Inferno”, 1938 – Mirim, “O Volante Milionário”, 1939 – Mirim,e “Rodolfo Matias em Indianápolis”, 1940 – Suplemento Juvenil), MarioPacheco (“Grandes Figuras do Brasil”, 1937 – Suplemento Juvenil, e“Descobrimento do Brasil”, 1937 – Suplemento Juvenil), Mario Jaci (“OTesouro de Ricardo”, 1938 – O Tico-Tico), Max Yantok (“Barão deRapapé”, 1935 – O Tico-Tico, “Pandareco, Parachoque e Viralata”, 1939 –O Tico-Tico), Messias de Mello (“Pão-Duro”, 1935 – Gazetinha, “SherlockHolmes”, 1936 – Gazetinha, “Audaz, o Demolidor”, 1938 – A Gazetinha, eOs Três Mosqueteiros, 1938 – Gazetinha), Nino Borges (“Jonjoca eRabicó”, 1934 – O Tico-Tico, e “Bolinha e Bolonha”, 1939 – O Tico-Tico),Olavo Pereira (“Edy, o Repórter”, 1938 – A Gazetinha) Oscar Brener (“OTesouro Perdido”, 1939 – Mirim), Paulo Affonso (“Azarias”, 1940 – OTico-Tico, e “Chiquinho”, 1940 – O Tico-Tico), Renato Silva (“O GarraCinzenta”, 1937 – A Gazetinha, e “Nick Carter X Fantasma”, 1937 –Suplemento Juvenil), Sigismundo Walpeteris (“Tom Corrigan”, 1939 – AGazetinha, “O Cado Mamming”, 1939 – A Gazetinha, e “Dick Peter”, 1940– Álbum Café Jardim), Theo (“Chico Farofa”, 1934 – O Tico-Tico, e“Tinoco, Caçador de Feras”, 1938 – O Tico-Tico). Destaca-se ainda, nesseperíodo, a forte influência dos quadrinhos norte-americanos que, além de játomarem parte do mercado de trabalho de nossos artistas, levavam-nos aimitá-los, consciente ou inconscientemente.

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Os Quadrinhos e a 2ª Guerra MundialFoi durante o segundo grande conflito mundial que os artistas

brasileiros puderam dar expressão a toda sua criatividade: ocupados com aguerra, os norte-americanos produziram menos e deram mais espaços paraos desenhistas e argumentistas “tupiniquins”. No período de 1940 a 1950surgem: Alceu Penna (“O Mágico de Oz”, 1941 – O Globo Juvenil),Antonio Rocha (“Almirante”, 1943 – Diário de Belo Horizonte, e “SapoSapeca”, 1947 – Era Uma Vez), A. Latini Filho (“Caramuru”, 1941 –Mirim), André Le Blanc (“Morena Flor”, 1949 – Apla, “O Guarani”, 1950 –Edição Maravilhosa, e “Capitão Atlas”, 1951), Arcindo Madeira (“OsLusíadas”, 1942 – “Guri e História da Independência”, 1941 – SuplementoJuvenil), Archibaldo Ribeiro (“Os 3 Fujões”, 1942, e “Zé Cuíca”, 1942 –

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Mirim), Belfort (“No Reino do Silêncio”, 1940, e “A Serra do Roncador”,1943 – Suplemento Juvenil), Celso Barroso (“Episódios da História doBrasil”, 1941 – Mirim), Fernando Dias da Silva (“O Vingador”, 1943 –Palmolive, “Capitão Atlas e as Minas de Salomão”, 1951 – DiárioIlustrado), Fabio Horta (“José Vitaminas”, 1940 – Era Uma Vez, “ODiamante Azul”, 1948 – Era Uma Vez), Guilherme Walpetris (“TotóDetetive”, 1940, e “O Tesouro Enfeitiçado”, 1943 – Suplemento Juvenil),Heitor Cardoso (“Zabelinha”, 1940, e “Caxumba”, 1941 – O Tico-Tico),Humberto Barreiros (“O Tesouro da Ilha dos Cocos”, 1947 – Sesinho), IvanWasht Rodrigues (“Aventuras de Tacomi”, 1948, e “As Ideias de Nadinho”,1948 – Sesinho), J. Nelson (“Compadre Coelho”, 1945 – Era Uma Vez) eJaime Cortez, capítulo à parte nas HQ brasileiras.

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Parte V – 14/9/1980

Na década de 1920, o humor brasileiro tornava-se cada vez maispolítico. Novos cartunistas surgiram, sempre ironizando os sucessivosgovernos da Primeira República. Vasco Lima e Guevara eram dois deles,sendo que este último já denunciava a velhice precoce da república, numacharge publicada no jornal Manhã (1927), na qual a velha república dizia:“Meu Pai!” – e o velho Deodoro respondia: “Você? Minha Filha? Com 38anos e neste estado?…”. Já o excessivo autoritarismo de Washington Luis,o último presidente da Primeira República, era mostrado por J. Carlos, emO Malho (1926), numa charge intitulada “Os Pensadores” (A propósito doministério de W. Luis): W. Luis: “O que é que vocês estão fazendo?” – Osministros: “Nós estamos pensando.” – W. Luis: “Não é preciso. Deixemisso comigo. Eu penso”.

Os acontecimentos que precederam a Revolução de 1930 foram muitobem retratados por J. Carlos, Luis, Guevara, Figueroa, Storni e Theo. Mas avelha república estava caindo de podre e, a 3 de outubro de 1930, GetúlioVargas, ex-ministro de Washington Luis, sentiu-se prejudicado na eleiçãodaquele ano para a Presidência da República, onde a fraude eleitoralapontou Júlio Prestes como vencedor, comanda a Aliança Liberal e toma opoder. Enquanto W. Luis deixa o Brasil, rumo ao exílio, inicia-se uma novaera.

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Também o cartum passa por uma renovação, pois agora a moda erasatirizar Vargas. Foi Gip (Luis) quem retratou melhor o homem que iriagovernar o País por 15 anos, sendo considerado herói, tirano, líder popular,salafrário, inimigo dos paulistas, fascista, etc. Numa grande charge,publicada no Suplemento de Bom Humor (1934), Gip mostra Vargas sobreum elefante, com um cartaz nas mãos onde se lê: “Brevemente, programanovo!” – e, sob o desenho, em versos, o seguinte texto: “A GRANDEESTREIA – Vinde ver que eu, sem barulho,/ Consegui com os meusengodos/ Amansar tigres, panteras,/ Que eu sou de circo e me orgulho/ Deser o maior de todos/ Os domadores de feras./ Em mim ninguém dá rasteira/Nem há quem me engane/ Quem é bom já nasce feito…/ Comigo não tembandeira./ Junto de mim, Sarrasani,/ Tu és criança de peito…” (Obs:Sarrasani era o dono do maior circo da época – I.S.).

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O Estado NovoNa Europa, Hitler e Mussolini pregam e executam abertamente o

nazifascismo. Vargas, a princípio titubeante, marca eleições, mas preparaum golpe de Estado. Dias antes do golpe, J. Carlos em a Careta (1937), nosmostra, como numa bola de cristal, quem será o futuro presidente. A chargese intitula “NO MEIO, A VIRTUDE”. Os nomes dos candidatos formam,num acróstico, ao centro, o nome de Getúlio, que diz: “Sim, haverá‘sucessão’, isto é, sucesso grande! O vencedor está entre esses nomes!” –Não deu outra…

Jayme Cortez e os Quadrinhos NacionaisE foi durante a ditadura de Getúlio que eclodiu o segundo conflito

mundial (1939-1945). Ocupados com a guerra, os estrangeiros cediamespaço aos desenhistas de quadrinhos nacionais. Mas foi um português denascimento, aqui radicado, o maior nome desse período conturbado que seestendeu até 1950: Jayme Cortez Martins. Ele começou desenhando para oDiário da Noite (“O Guarani”, 1947) e para A Gazetinha (“O Rajá dePenjab”, 1949).

A guerra já terminara, mas os brasileiros tinham logrado seu lugar aosol. Em 1950, Jayme Cortez, Álvaro Moya, José Lanzellotti, Nico Rosso,Reinaldo de Oliveira e outros fazem a primeira exposição de histórias emquadrinhos do mundo, realizada em São Paulo.

Outros desenhistas e argumentistas trabalharam muito nesse período,tais como Mário e Renato Lima (“A Serra da Prata”, 1940 – SuplementoJuvenil), Messias de Mello (“Dick Peter”, 1947, e “Perdidos no Igapó”,1948 – A Gazetinha), Nico Rosso (“Submarino Fantasma”, 1948 –Jornalzinho), Osvaldo Storni (“Aventuras de um Jovem Brasileiro”, 1941 –O Tico-Tico), Péricles (“Oliveira, o Trapalhão”, 1942 – O Cruzeiro),Rubens Fradik (“Super Gato”, 1946 – Era Uma Vez), Sálvio Corrêa Lima(“A Retirada da Laguna”, 1941 – Suplemento Juvenil), e Walmir Ramos(“Páginas Históricas”, 1942 – Suplemento Juvenil).

Mas Jayme Cortez, inegavelmente, teria um papel maior, pois suainfluência e seu traço iriam formar toda uma nova plêiade de desenhistas eargumentistas de histórias em quadrinhos nos 33 anos seguintes do início de

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sua carreira no Brasil. Cortez trabalha em quadrinhos até hoje, como diretorde arte da equipe de Mauricio de Souza, Criador de “Mônica” e“Cebolinha”. A obra máxima desse artista, com certeza, foi “O Retrato doMal”, que iria influenciar a onda de Histórias de Terror que tomaria contado Brasil de 1950 a 1970, um período de renovação e de várias tendências,onde surgiriam os maiores desenhistas e argumentistas da atualidade.

A Renovação das Histórias em Quadrinhos

“O Retrato do Mal” foi publicado pela primeira vez em 1960, pelaEditora Outubro, pequena firma que, juntamente com a Editora Continentale a Editora La Selva, publicaria histórias em quadrinhos desde o gêneroinfantil até o juvenil e adulto, principalmente as Histórias de Terror. Por

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volta de 1950, esse gênero foi proibido nos USA, por ser considerado“nocivo” à formação da juventude. As revistas como Terror Negro, Contosde Terror e outras, que publicavam material importado, foram forçadas acontratar artistas nacionais para dar continuidade às suas publicações.Dentre esses muitos, o autor destas linhas foi um deles, trabalhando na partede argumentos, ao lado de Luis Saidenberg (meu irmão), Júlio Shimamoto,Getúlio Delphim, Mauricio de Souza, Edmundo Rodrigues, Flávio Colin,João Batista Queiroz e outros, que renovaram os quadrinhos brasileiros.

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Parte VI – 21/9/1980

Com o final da Segunda Grande Guerra, terminou também a ditadura deGetúlio Vargas, assumindo o poder o general Eurico Gaspar Dutra,governante canhestro que causou deflação e desemprego no Brasil.Praticamente ignorado pelos chargistas, de Dutra podemos destacar apenasuma charge, denominada “Enfim, Pai!”, publicada no Diário da Noite, em1950. A charge critica o tardio lançamento da candidatura de CristianoMachado, pelo PSD, tendo Dutra como “pai da criança”. Esse cartum é deautoria de Augusto Rodrigues.

Bota o Retrato do Velhinho no Mesmo LugarNão podia dar outra: Getúlio voltou ao poder, nos braços do povo, pelo

voto livre e direto. Esperança dos trabalhadores e das camadas maissofridas da população, ele voltou ao Palácio do Catete, num governonacionalista e tumultuado que terminaria tragicamente em 1954. Quemmelhor retratou o novo governo de Vargas foi o famoso J. Carlos, em aCareta (1950), numa charge intitulada “Quando as CircunstânciasPermitem”. Getúlio é o condutor do bonde do Catete e uma velha pergunta:“Moço, este bonde passa na Rua da Constituição?” – Ao que Getúlioresponde: “Às vezes!”.

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Getúlio criou a Petrobras, tornando-se amado pelos estudantes,intelectuais e todas as camadas da população, praticamente. Todavia, umtiro misterioso, disparado na madrugada de 24 de agosto de 1954, poria fimà sua vida.

Entre Golpes e Contragolpes, Surgem “JK”… e“JQ”

Após o suposto suicídio de Vargas, o País entrou numa crise terrível,com os militares direitistas tentando derrubar do poder o vice-presidenteJoão Café Filho que assumira o posto no lugar de Getúlio. Depois de umconfuso golpe, em novembro de 1955, o marechal Teixeira Lott garante aseleições de 1956, quando é vencedor o dr. Juscelino Kubistchek de Oliveira,

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mais conhecido como “JK”. É uma nova era, com a construção de Brasília,com um programa de “50 anos de progresso em 5”, com as multinacionaisentrando firmes no Brasil através da indústria automobilística. O tempoparece passar muito depressa, a inflação começa a estourar e o povo,descontente, vota em massa numa nova figura controvertida e carismática,em 1960: Jânio da Silva Quadros, o “JQ”. A carreira eleitoral de Jânio é umsucesso absoluto, como se pode notar através de uma caricatura de Theo,em a Careta (1955), onde se vê o general Juarez Távora transformado emaprendiz de feiticeiro e sr. Jânio em vassoura (símbolo de sua campanha).Juarez, atônito, pensa: “E agora, como vou parar esta vassoura?!…” – E nãoconseguiu parar mesmo. Com mais de seis milhões de votos, Jânio é eleitopresidente da república, sendo uma nova esperança para o povo brasileiro.O povo julga ter encontrado um novo líder, o nacionalismo campeia, fala-senum Brasil novo, onde os corruptos e os venais serão para sempre varridosdo cenário político nacional.

A Segunda “Época de Ouro” dos QuadrinhosA euforia toma conta dos desenhistas de histórias em quadrinhos, pois

acredita-se que, afinal, haverá uma nacionalização dessa arte. Um grupo éformado para ir a Brasília e conseguir de Jânio Quadros uma lei que ampareas HQs brasileiras, composto por Maurício de Souza, Ely Barbosa, JúlioShimamoto, Luiz Saidenberg, Ivan Saidenberg (o autor destas linhas),Waldir Igayara, Izomar Guilherme, Lyrio Aragão, Almir Bertolassi, AyltonThomaz, Gedeone Malagola, João Batista Queiroz, Nico Rosso, Otoni GaliRosa, Zezzo, Dag Lemos e outros. Jânio Quadros parece apoiar totalmenteos desenhistas.

Os Grandes Desenhistas Começam a Brilhar

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Ziraldo Alves Pinto desponta, no Rio de Janeiro, como o grandedesenhista de humor da época. Seu personagem, o “Pererê”, com temasaltamente nacionais, é um sucesso absoluto. É a “Primavera do Brasil”. EmSão Paulo, é Mauricio de Souza quem desponta, com “Bidu e Franjinha” e,logo depois, “Mônica e Cebolinha”. No gênero adulto, proliferam ashistórias de terror e mistério, quando Luiz Saidenberg nos brinda com umaobra prima, “O Gato Preto”, adaptação de conto de Edgar Allan Poe. Nesseperíodo, que seria brutalmente truncado pelo golpe de 1º de abril de 1964,brilham ainda inúmeros valores, como Acácio Alves Pinto (“Eugênio, oGênio”, 1959 – Capitão Z), Antonio Vaz (“Mirinho”, 1964 – Anjinho)Álvaro Moya (“Zumbi”, 1955 – Ed. Maravilhosa, e “MacBeth”, 1959 – Ed.Outubro), Ari Moreira (“O Soldado Tambor”, 1963 – Anjinho), CarlosEstevão (“Dr. Macarra”, 1962 – O Cruzeiro), Diamantino Silva (“SimãoBrasil”, 1952 – Última Hora, e “Flávio, o Corsário”, 1953 – Ed. Júpiter),

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Edmundo Rodrigues (“Jerônimo”, 1959 – Rio Gráfica), Flávio Colin (“OAnjo”, 1961 – Rio Gráfica, “Sepé Tiaraiu”, 1963 – Coop. Porto Alegre, “OVigilante Rodoviário”, 1963 – Ed. Outubro), Getúlio Delphin (“Capitão 7”,1959 – Ed. Outubro, “Jet Jackson”, 1960 – Ed. Outubro, e “Aba Larga”,1963 – Coop. Porto Alegre), Gil Brandão (“Raça e Coragem”, 1960 –Sesinho), Gil Coimbra, (“O Tigre da Abolição”, 1957 – Ed. Maravilhosa),Gutemberg Monteiro (“O Sonho das Esmeraldas”, 1955 – Ed. Maravilhosa,e a Retirada da Laguna, 1956 – Ed. Maravilhosa), Henrique SouzaFilho/Henfil (“Os 2 Fradinhos”, 1964 – Alterosa), Ivan Wasth Rodrigues(“Histórias do Brasil”, 1962 – Ebal, Ivan Saidenberg (“Histórias Macabras”,1960/64 – Ed. Outubro e La Selva), Jarbas (“Cão e Gato”, 1958 – Sesinho),Jayme Fonseca (“Espadinha”, 1963 – Anjinho, “Pingo, o Repórter”, 1963 –Anjinho, e “Lamparina” – Anjinho), Jayme Cortez (“Dick Peter”, 1952 –Bentivegna, “Sérgio Amazonas”, 1953 – Idem, e “Contos de Terror”, 1960– Ed. Outubro), José Del Bó (“Gatinha Paulista”, 1963 – Última Hora, e“Colorado”, 1963 – Ed. Outubro), José Geraldo (“Charlie Chan”, 1952 – OCruzeiro, e “Os Meus Balões”, 1955 – Ed. Maravilhosa), José Lanzellotti(“Raimundo, o Cangaceiro” – 1953 – Bentivegna). Joselito (“MartimPescador”, 1958 – Sesinho), Juarez Odilon (“Cavaleiro Negro”, 1963 – RioGráfica), Luiz Saidenberg (“O Bandeirante”, 1963 – B. Lessa Produções, e“Histórias de Terror”, 1960/63 – Ed. Outubro), Manoel Victor Filho(“Capitão Tarumã”, 1963 – B. Lessa Produções) e outros.

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Parte VII – 28/9/1980

Num clima de euforia, os artistas brasileiros criaram histórias nacionaiscom muito humor no período em que Jânio Quadros governou. Para oscartunistas, o “homem da vassoura” era um prato cheio e sua figura exóticaprestava-se a todo tipo de charges. Súbito, sem explicações Jânio renunciouà Presidência da República, a 25 de agosto de 1961, deixando o Brasilinteiro perplexo. Militares direitistas, uma vez mais, tentam tomar o poder eimpedir a posse de João Goulart, vice-presidente de Jânio, que estava emvisita à China. Surge a “Campanha da Legalidade”, no Rio Grande do Sul,liderada por Leonel Brizola, cunhado de Goulart, e o vice toma posse sob oregime do parlamentarismo.

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O Período de Goulart e o Brasil AgitadoQuem melhor retratou o período do parlamentarismo, no qual o

presidente governava mas não mandava, foi Augusto Bandeira, numacharge publicada no Correio da Manhã (10/7/1962) prevendo o fim desseregime. João Belchior Marques Goulart (Jango) aparece vestido à gaúcha efazendo um churrasco com o parlamentarismo. Um plebiscito pôs fim aesse regime, seis meses depois. Assumindo plenos poderes presidenciais,Jango levou a Nação a um de seus períodos mais agitados: falava-se nanacionalização de empresas estrangeiras, surge uma lei contra a remessa delucros para o exterior e um movimento pela legalização do PCB (PartidoComunista Brasileiro).

O Golpe Militar de 1964

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O marechal Castelo Branco assume o poder e há uma reação temerosana imprensa brasileira. O Ato Institucional nº 1 é decretado e o País fica emsuspense, vendo seus líderes civis sendo todos cassados. Os cartunistas,nesse período, preferem retratar figuras como Carlos Lacerda, governadordo então estado da Guanabara, Aliomar Baleeiro, Ademar de Barros,governador de São Paulo, etc., como é o caso Appe (O Cruzeiro – 1964).

A situação se agrava em 1968, quando há uma grande reação civil aogolpe já durante o governo do marechal Arthur da Costa e Silva. Os atosinstitucionais se sucedem, culminando com o Ato Institucional nº 5, ofamigerado “AI-5” que lançaria o Brasil numa noite de dez anos.

O Fim da Segunda “Época de Ouro” dosQuadrinhos

Jamais os desenhistas e argumentistas de quadrinhos brasileirospoderiam sonhar com a renúncia de Jânio Quadros, que lhes dava todo oapoio: foi um rude golpe, mas os artistas continuaram lutando bravamenteaté a queda de Jango, em 1964. O golpe militar desse ano decretou,também, o fim da segunda “Época de Ouro” dos quadrinhos brasileiros.

Mas não nos podemos esquecer dos artistas que lutaram pelanacionalização e que a conseguiram, em 1963, através de um decreto-lei deJoão Goulart, que pretendia um mínimo de 20% de HQs nacionais emrevistas e jornais, numa escala percentual crescente que atingiria os 100%em 1970.

Os Artistas de um Período ConturbadoTentando fazer renascer o trabalhismo e o populismo dos tempos de

Getúlio, Jango põe tudo a perder: após decretar uma lei contra a remessa delucros das empresas multinacionais ao exterior, é derrubado do poder,subitamente, na fria madrugada de 1º de abril de 1964.

Tropas de Minas Gerais avançam sobre o Rio de Janeiro, onde opresidente se encontrava. Jango tenta ir para Brasília, depois para o Rio

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Grande do Sul e, por fim, deixa o País, indo se exilar no Uruguai. A Nação,entre surpresa e temerosa, vê surgir um novo regime.

O Regime Militar e os Cartunistas

Muitos foram os artistas que continuaram na luta: Aylton Thomaz(“Oscarito e Grande Otelo” e “Histórias de Terror”, 1960/64 – Ed. LaSelva), Edmundo Rodrigues, Flávio Collin, Ivan Saidenberg, IzomarGuilherme (“Joãozinho Nada-Teme”, 1960/64 – Ed. La Selva), JaymeCortez, José Geraldo (fundador da CETPA – Coop. Editora de Trabalho dePorto Alegre), Luiz Saidenberg, Mauricio de Souza (“Mônica”, 1964 –M.S. Produções), Lyrio Aragão, Nico Rosso (“Histórias de Terror”, 1960/64– Ed. Outubro), Orlando Pizzi (“Duduca e Jambolão”, 1960 – Ed. La

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Selva), Otoni Gali Rosa (“Contos de Terror”, 1960/64 – Ed. Outubro),Paulo Hamasaki (“Último Assalto”, 1960, e “Polícia Fantasma”, 1964 –G.E.P.) Pedro Segui (“Tim, o Camundongo”, 1960, e “Pelé e Pelado”, 1961– Ed. La Selva), Renato Canini (“Zé Candango”, 1961 – CETPA), RodolfoZalla (“Jacaré Mendonça”, 1963 – B. Lessa Produções), Rubens Cordeiro(“2ª Guerra Mundial”, 1964 – Diário da Noite), Rujos (José Horta) - (“OUniverso”, 1962 – Jornais de BH, e “João Bruzundunga” – Idem), SérgioLima (“Histórias de Terror”, 1960 – Ed. Outubro), Sérgio Militelli(“Tupinho”, 1964 – Ed. La Selva), Shimamoto (“Fidêncio, o Gaúcho”, 1963– B. Lessa Prod.), Waldir Igayara (“Peninha, o índio”, 1960 – Zás-Trás, e“Zeca e Peteca” – Idem), Zezzo (“O Tubarão Voador”, 1962 – JornalJuvenil) e Ziraldo (“Pererê”, 1960/64 – O Cruzeiro).

Mas, Aconteceu o Pior…Depois do Golpe Militar de 1964, veio o de 1968, com o AI-5, e tudo

pareceu desabar sobre a cabeça dos desenhistas nacionais. Muitas editoraspequenas fecharam, muitos artistas foram despedidos sob a acusação deserem “comunistas”, por desejarem nacionalizar os quadrinhos; Shimamotofoi preso e torturado, entre outros, sem ao menos saber por quê.

Os jornais e revistas brasileiros passaram a publicar quase somentematerial importado dos EUA, pouco restando àqueles que desejavamcontinuar na luta, apesar de todos os pesares. Mas, em 1969, quando tudoparecia perdido, surge um jornal nanico que iria, em plena época derepressão e ditadura, mostrar a sua força: O Pasquim, capítulo à parte noHumor

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Parte VIII – 05/10/1980

Desde os tempos da ditadura de Getúlio Vargas (1930/45), o humorbrasileiro tornou-se muito político. Todavia, havia alguns humoristas,apolíticos ou voltados para outras formas de humor, que criticavam mais oscostumes e a sociedade do que os governantes, propriamente ditos. O maisimportante desses elementos, surgido profissionalmente na década de 1940,foi, sem dúvida, Millôr Fernandes, que escrevia em O Cruzeiro e tambémdesenhava, usando o pseudônimo de Emmanuel Vão Gogo. Millôr foi (eainda é) o grande mestre que iria influenciar todas as gerações dehumoristas e cartunistas vindas depois dele. Sua obra era tão importanteque, ao ser despedido de O Cruzeiro somente porque criticara a criação do

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mundo segundo a Bíblia em suas páginas humorísticas, criou uma lacunatão grande que a revista, iniciada no começo do século, fechou logo depois.

Outro que se lançou através de O Cruzeiro foi Carlos Estevão, criadorde tipos os mais variados que criticavam as nossas falhas sociais e morais.Também através dessa revista apareceu Péricles Maranhão, criador dofamoso “Amigo da Onça”, personagem que se divertia em prejudicar osoutros e que, todavia, era muito simpático. Depois, na década de 1951 a1960, surgiria outro cartunista, este na revista Manchete: Borjalo (MauroBorges Lopes), que também teria grande influência sobre as novasgerações.

Outro grande precursor do humor atual foi Sérgio Porto, mais conhecidopelo pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, que escrevia textos de humormas não desenhava. Criador de personagens famosas, como “Tia Zulmira”,“Primo Altamirando”, Stanislaw fez escola, dando ensejo ao nascimento deoutro cartunista que se tornaria famoso: Sérgio Jaguaribe, o Jaguar.Jaguaribe iria ilustrar as obras de Ponte Preta e, posteriormente, criar o ratomais famoso do Brasil: “Sigmund”, mais conhecido pelo diminutivo de“Sig, o rato que ruge”. Sérgio Porto faleceu em 1964, após criar o “Febeapá– Festival de Besteiras que Assola o País”. Jaguar, anos mais tarde, falandosobre ele, diria: “O criador do ‘Febeapá’, ao morrer, não poderia imaginar oquanto foi profético. Como sempre acontece, a realidade, ao copiar acaricatura, consegue no máximo chegar ao grotesco”.

E SURGE “O PASQUIM”No Rio de Janeiro, Jaguar, Millôr, Ziraldo e outros cartunistas e

humoristas, sentindo o mercado de trabalho trancado pelo Golpe Militar de1964 (e depois pelo AI-5, em 1968), tentaram lançar revistas próprias,como o Urubu, Pif-Paf e outras, que não conseguiram manter-se por longoperíodo. Mas, em 1969, uniram-se a Sérgio Cabral, Henfil (Henrique deSouza Filho), Paulo Francis, Tarso de Castro, Ivan Lessa e outros grandesnomes do humor. A 26 de junho daquele ano, surgia o semanário OPasquim.

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Esse jornal iria renovar o conceito de humor em nosso país, atingindo aincrível tiragem de 200 mil exemplares por semana, em 1970! Sendo umsemanário humorístico de fundo político, não poderia deixar de criarproblemas com a censura então existente, logo de início. Poucos mesesdepois de lançado o número 1, dez dos 12 elementos que faziam O Pasquim(Só escaparam Millôr e Henfil, por não serem localizados) foram presosarbitrariamente, ficando retidos num quartel durante meses, até que foramimpronunciados por um promotor público, que leu toda a coleção do jornale declarou nada ter encontrado de atentatório à moral e aos bons costumes,à Segurança Nacional, etc., mas sim ter quase morrido de tanto rir…

E o “Pasca” Deita e Rola

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O Pasquim virou “Pasca” na gíria popular. A turma que o fazia virou“patota” e logo surgiram as musas que inspiravam os cartunistas: primeiroOdette Lara, depois a inesquecível Leila Diniz (tragicamente falecida numdesastre aéreo, em 1972). Embora sofrendo limitações da censura, OPasquim conseguiu reunir em suas páginas a nata do humor e dosquadrinhos nacionais. Entre outros, trabalharam nesse semanário: LuísCarlos Maciel, Martha Alencar, Claudius, Fortuna, Haroldo Zager, NelmaQuadros, Edélsio Tavares (pseudônimo de Ivan Lessa), Lúcio Rangel, HélioFernandes, Nássara, Tristão de Athayde, Dodóis (pseudônimo do autor IvanSaidenberg), Armindo Blanco, Carlos Drummond de Andrade, FerdyCarneiro, Fausto Wolff, Carlos Lyra, etc.

Os Quadrinhos sob o AI-5No campo dos quadrinhos, também O Pasquim foi o responsável pela

continuidade do trabalho de inúmeros artistas, entre eles Henfil, criador do“Fradim”, “Zeferino”, “Orelhão”, “Graúna”, “Bode Orellana”, “Urubu”,“Ubaldo, o Paranoico”, “Xabu, o Provocador”, etc. Henfil (Henrique deSouza Filho) é hoje um dos mais completos artistas brasileiros, sendo tantohumorista quanto quadrinista, fazendo o argumento, o desenho e a arte final(inclusive letras) de suas historietas, tudo ao mesmo tempo.

Também Ziraldo (Ziraldo Alves Pinto) publicou quadrinhos em OPasquim, ainda que esporadicamente, assim como Dodois (com argumentode Ivan Saidenberg e desenhos de Luiz Saidenberg), Nani, Luscar,Claudius, Paulo Caruso, Reinaldo, Nilson, Guidacci, Agner, Cláudio Paiva,Duayer, Coentro, Ivan Lessa (argumentos), Redi, Jaguar (Sérgio Jaguaribe)e muitos outros.

Mauricio de Souza, em São Paulo, criou uma produtora e distribuidorade quadrinhos, dando continuidade a “Bidu e Franjinha”, “Mônica eCebolinha”, além de criar novas personagens, como “Pelezinho”, “Rolo” eoutros. Também Ely Barbosa conseguiria se impor com “Cacá e suaTurma”. Na Editora Abril, um grupo se formava, criando no Brasil osargumentos dos estúdios de Walt Disney, tentando também criar históriasnacionais, lançando a revista Crás! e movimentando os quadrinhosbrasileiros. A luta continuava, com AI-5 e tudo.

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Parte IX – 12/10/1980

Os anos 1970 foram pródigos em Humor && Quadrinhos, apesar dacensura, apesar dos duros governos militares, apesar do AI-5. Os artistasnacionais jamais entregaram os pontos, satirizando direta ou indiretamenteos governos militares e os políticos. Todavia, o general Médici conseguiuser o único dirigente brasileiro a nunca ser caricaturado, o que não deixa deser um recorde significativo…

A Renovação do Humor

Com o surgimento de O Pasquim e outros jornais chamados de“alternativos”, representantes da imprensa independente, o humor serenovou. Contribuíram para isso, principalmente, os jornais Movimento,Opinião, O Repórter, Hora do Povo, Em Tempo, Tribuna da Luta Operáriae muitos outros. Também alguns jornais diários, representantes da grandeimprensa, deram ênfase aos cartuns e tiradas humorísticas, além de publicarquadrinhos nacionais. Destacou-se a Folha de S.Paulo, além de ÚltimaHora, Jornal da Tarde, etc., em São Paulo, e O Dia, Tribuna de Imprensa eJornal do Brasil, no Rio de Janeiro.

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Os humoristas mais marcantes da época continuaram sendo Ziraldo,Jaguar, Henfil, Fortuna, Zélio, Claudius, Millôr e outros, mas muitosartistas novos surgiram. Em 1974, surgia o Salão de Humor, em Piracicaba(SP).

O Salão Internacional de HumorDentre as várias mostras de Humor && Cartuns, foi o salão de

Piracicaba que mais se destacou, tornando-se internacional em 1976. Acada ano, mais e mais humoristas surgiam, em sua maioria jovens, atravésdessa mostra. Os premiados foram se sucedendo e, entre eles, destacamos:Laerte Coutinho, Marcos Benjamin, Chico Caruso, Lailson Cavalcanti, LuizSolda, Glauco Villas Boas, César Villas Boas, Hermínio Castelo Branco,Ivan Saidenberg (o autor). Fausto Longo, Jorge Nagao, Carlos Hering,Yosimaro Sakita, Estevão Niemeyer, Francisco Juska Filho, Ivan Fernandes,Massao Hotoschi, Oscar Grillo, Neltrair Abreu (Santiago), JosanildoLacerda, Fernando Rivaben, Abelardo Libório, etc.

CRÁS! – A Explosão dos QuadrinhosCrás! foi o nome escolhido para uma das mais importantes publicações

nacionais de histórias em quadrinhos. Essa revista foi lançada pela EditoraAbril, a 6 de fevereiro de 1974, não chegando a completar 1 ano deexistência, mas revelando novos autores brasileiros e novas personagens,além de republicar obras de notável valor artístico de autoria de JaymeCortez.

Fizeram a revista, entre outros, os seguintes artistas: Renato Canini(Kactus Kid), José Lanzellotti (Lendas Brasileiras), Carlos Alberto deOliveira, o “Xalberto” (Olimpo), César Sandoval e Odair Bernabé(Aragão), Ivan Saidenberg e Carlos Herrero (Vavavum), Waldir Ygayara(Nina), Michele Iacoca, Ruy Perotti (Satanésio), Jayme Cortez (Zodíaco),Júlio de Andrade Filho e Izomar Guilherme (Zing, Zong, Crunch), EduardoOctaviano

Walmir Amaral (Alex e Cris), Primaggio Mantovi (Cafuné && Acácio),Ivan Saidenberg e Ivan Washt Rodrigues (A Guerra Que Não Houve –

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Episódio baseado na História do Brasil), etc.

Os pulos do “Pererê”Também através da Abril, seria relançado o excelente personagem

“Pererê”, de Ziraldo, com histórias criadas em equipe, sob orientação doautor, que revisava cada história pessoalmente. De julho de 1975 a abril de1976, a revista foi publicada, também não atingindo um ano de vida.Todavia, foi mais um passo importante no lançamento de novos valores,que trabalharam junto com Ziraldo. Destacamos os seguintes: Brasílio M.da Luz, Paulo José da Silva, Thereza Saidenberg, Ivan Saidenberg (o autor),Júlio Andrade Filho, Ruy Perotti, criando argumentos, além de NapoleãoFigueiredo, Primaggio Mantovi, Roberto Fukue, Eli Leon, RenatoCampello, nos desenhos, e Euclides de Andrade, Sideral M. Luz, MicchioYamashita, Ricardo Correa da Silva, Selma Bertolino, Luiz Podavin eoutros, na arte final.

As palhaçadas de “Sacarrolha”

Primaggio Mantovi, jovem italiano radicado no Brasil, lançou o palhaço“Sacarrolha”, em 1973, através da Rio Gráfica e Editora. Essa excelente

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personagem seria publicada pela Abril, em 1975, com a mesma equipe de“Pererê”. Também essa revista não teve grande duração, mas, entre os pulosdo “Pererê” e as brincadeiras de “Sacarrolha”, surgiram ainda “Satanésio”,de Ruy Perotti, em revista própria, além de “Cacá e sua Turma”, de ElyBarbosa. Além disso, a partir de 1970, a Abril passou a publicar “Mônica”,depois “Cebolinha” e finalmente “Pelezinho”, de Mauricio de Souza.Apesar de tudo, ninguém segurava os quadrinhos brasileiros.

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Parte X – 19/10/1980

Depois do período mais obscurantista do nosso Humor & Quadrinhos,sob o governo Médici, no qual apenas O Pasquim conseguiu sobreviver,iniciou-se uma época mais aberta (1974/79), sob o governo Geisel. Noentanto, continuava a existir uma censura férrea, tanto prévia comoposterior (apreensão de revistas e jornais nas bancas). Sem entregar ospontos, os cartunistas ousaram retratar o general-presidente em váriasoportunidades. Jaguar, diretor e editor de O Pasquim, conseguiu serenquadrado na Lei de Segurança Nacional, ao retratar Simonsen, Golbery,Ueki, Delfim e Maluf num “mar de lama”.

Figueiredo e a “abertura”A partir de 1979, com a posse do general Figueiredo na presidência e

com a chamada “abertura”, o humor tornou-se mais livre e, naturalmente, opróprio presidente militar se tornaria o alvo mais visado pelos cartunistas.No Salão Internacional do Humor, de Piracicaba, naquele ano, o prêmio“Júri Popular” seria ganho pelo autor destas linhas, juntamente com ocartunista Pierre Trabbold, aqui do Jornal de Hoje, através de uma chargeonde Figueiredo aparecia em seu retrato oficial, todo sorridente, enquantoum menino pobre, magrinho e roto perguntava à sua genitora, esta cheia defilhos e nas mesmas condições do garoto: “Manhê, di que qui o homi tárindo?”

Os Quadrinhos Atingem a MaturidadeNo fim dos anos 1970, os quadrinhos evoluíram a ponto de atingir a sua

plena maturidade em nosso país. Surgiram os quadrinhos destinados aosadolescentes e adultos, em maior número, com temas ousados e realistas. Achamada “abertura” propiciou maior liberdade de se tratar de temasenvolvendo sexo e violência.

Alguns pioneiros do gênero “adulto” foram: Cláudio Seto, Edgar Souza,Eduardo Barão, Eugênio Colonesse, Fernando Ikoma, Floriano de Almeida,

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Fernando Lisboa, Lucilio Zawadzki, Luscar, Luís Saidenberg, Luis Sátiro,Lisenfeld, Moacir Rodrigues, Nico Rosso, Paulo Fukue, Pedro MauroMoreno, Sérgio Militello, Shimamoto e outros.

Quadrinhos Experimentais e de Vanguarda

Alunos da Faculdade de Comunicações da USP (Cadeira de História emQuadrinhos do Curso de Editoração) publicaram uma revista experimental,a Quadreca, com quadrinhos, charges e fotonovelas. Em Porto Alegre (RS),Oscar Kern, depois de escrever argumentos para a Editora Abril, tornou-seeditor numa nova firma destinada a criar quadrinhos de vanguarda.

Assim surgiu a Geo-Gráfica e Editora Oliveira, apresentando trabalhosmuito bons de artistas nacionais, entre eles o próprio Kern, A. Elias, RenatoCanini, A. Cocolete, Hartur e toda uma nova safra de quadrinistas.

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Parte final – 26/10/1980

No início dos anos 1980, o humor tornou-se mais livre, emconsequência do fim da censura prévia, o que não impediu que algunsjornais alternativos fossem apreendidos em banca, a posteriori, semmaiores explicações ou quaisquer indenizações. O governo Figueiredo foiintensamente caricaturado e chargeado por inúmeros humoristas. Noentanto, é provável que a figura mais atingida pelas charges e cartuns tenhasido a do governador de São Paulo na época, o sr. Paulo Maluf. Na coluna“Palavra e Traço”, aqui do JH, temos mostrado esse político de váriasmaneiras diferentes, além de ministros e do próprio presidente, o generalFigueiredo.

Caminhos do HumorAo lado do humor político, a “abertura” tem proporcionado maior

liberdade para o humor erótico, dando oportunidade ao surgimento denovos cartunistas que têm publicado seus trabalhos nas revistasespecializadas no ramo, como Playboy, Status, Ele Ela, Homem, Exclusivee outras. Alguns dos nomes dessa nova safra de humoristas são: R.Cardozo, Fausto, Geandré, J. Caesar, Érico Santos, Arnaldo, ao lado deZiraldo e outros nomes consagrados.

O Humor Brasileiro Vai Bem, ObrigadoO povo brasileiro é, certamente, o mais irreverente do mundo. O humor

brasileiro caminha, a passos largos, para um grande futuro, que somenteserá truncado no caso de um novo “fechamento” político, no qual nãoacreditamos por confiar no espírito liberal e democrático da nossa gente. Onível do humor nacional não fica nada a dever ao melhor humorestrangeiro, posto que não conhecemos nenhum país do mundo que contecom elementos do nível de Ziraldo, Millôr, Henfil, Jaguar, Chico Caruso,Zélio, Aldir Blanc, Ivan Lessa e outros, todos ao mesmo tempo. Apesar dejá se notar certo recrudescimento da censura, com juízes de menores

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apreendendo revistas e/ou exigindo que elas sejam vendidas em sacosplásticos opacos, cremos que os nossos artistas, unidos e conscientes,conseguirão impor o seu trabalho, em virtude de seu alto padrão dequalidade. Nota 10 para o humor brasileiro.

E os Quadrinhos?Embora sempre sofrendo a concorrência desleal dos quadrinhos

estrangeiros, os brasileiros muito têm lutado, conseguindo proezas incríveis.O Projeto Tiras, da Editora Abril, é um exemplo desse trabalho, pois deuoportunidade para muitos artistas brasileiros se expressarem e publicaremsuas obras em jornais de todo o País. Entre outros, trabalharam nesseprojeto os seguintes artistas: Primaggio Mantovi, Waldir Igayara, JorgeKato, Paulo Paiva, Paulo José, Carlos Avalone, Napoleão Figueiredo,Henrique Farias, José Claudino Gomes e outros. O mesmo grupo foi oresponsável pela excelente revista Pancada, que, durante quase três anos,divulgou nossos quadrinhos.

Só Mesmo Sendo “Pancada”…

Essa revista deu uma amostra do que pode o humor brasileiro, comexcelentes paródias de filmes e novelas, criadas por Cláudio Marra, Cláudio

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Cunha, Geandré, Ivan Saidenberg, Renato Canini, Rivaldo, Rogério deAlmeida e outros, e desenhadas por Carlos Chagas, Edson Cabral, Geandré,Henrique Farias, Renato Canini, Rivaldo, etc.

Os Novos HeróisDiversas tentativas têm sido feitas para o lançamento de novos heróis de

histórias em quadrinhos. Entre eles, “Falcon”, escrito por TherezaSaidenberg e Antonino Homobono, e desenhado posteriormente por MichioYamashita. Outro é o “Capitão Valente”, criação do autor destas linhas, comdesenhos de Claudson Ribeiro e José Claudino Gomes. Um grupo de SãoPaulo, chefiado por Paulo Paiva, tem também criado heróis para tiras dejornais, entre eles o cangaceiro “Carcará”. Fausto e Laerte criam quadrinhossindicais, expondo reivindicações dos trabalhadores brasileiros.

Os Quadrinhos EróticosComo não poderia deixar de ser, também os quadrinhos entraram na

onda do erotismo, especialmente os criados no Paraná, pelo grupo daGrafipar – Gráfica Editora Ltda., composto por Eros, Maichrowiz, MozartCouto, Rodval Matias, Watson Portela, Itamar Gonçalves, GustavoMachado, Fernando Bonini, Roberto Kussumoto, Fernando Ikoma, NelsonPadrella, Jorge Fischer, Ataíde Braz, etc., ao lado de artistas consagradoscomo Shimamoto, Flávio Colin, Sakita, Luiz Saidenberg, Wilde, Vilachá,Watson Portela, Itamar Gonçalves, Noriyuki, Seabra, Zenival, JanBoguslawski e outros.

O Futuro dos Quadrinhos BrasileirosEnfrentando dificuldades maiores do que os humoristas, os quadrinistas

nacionais têm enfrentado o massacre das multinacionais das historietas, mastêm conseguido vencer. Desde 1950, quando da primeira exposiçãobrasileira (e mundial) de quadrinhos, a luta prossegue. O Brasil precisa deuma lei de proteção para os quadrinhos ou de taxação do material

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importado como sendo “supérfluo”. Como sabemos, essa lei já foi criadaem 1963, pelo ex-presidente João Goulart, mas nunca foi regulamentada.

Urge reunir as forças mais vivas da Nação para defender essa expressãomaravilhosa que são os nossos quadrinhos. Políticos combativos têm secolocado ao lado dos artistas, lutando por uma lei de proteção. Entre eles, odeputado federal João Paulo e o senador Orestes Quércia. Acreditamos que,unidos, humoristas e quadrinistas vencerão mais essa batalha, levando bemalto o humor e os quadrinhos brasileiros.

FIM

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Título da Obra A HISTÓRIA DOS QUADRINHOS NO BRASIL

Autor IVAN SAIDENBERG

© 1980 Ivan Saidenberg © 2013 Marsupial Editora Ltda.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida porqualquer meio (escrito ou eletrônico) sem a prévia autorização por escrito da editora.

Design de Capa Design Company ([email protected])

Revisão Leandra Trindade

Produção do arquivo ePub Rejane Megale

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) ___________________________________________________________

Saidenberg, Ivan

A história dos quadrinhos no Brasil / Ivan Saidenberg. – Nova Iguaçu, RJ: Marsupial Editora,2013.

ISBN 978-85-66293-04-3

1. Histórias em quadrinhos - Brasil - História. 2. Histórias em quadrinhos – História e crítica. I.Título.

13-11826 CDD-741.50981

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