a herdeira (livro 04) - a seleção kiera cass

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  • Para Jim e Jennie Cass.Por muitos motivos, mas

    principalmente por fazeremCallaway.

  • 1NUNCA CONSEGUI PRENDER ARESPIRAO por sete minutos. Nemsequer por um. Uma vez tentei correrum quilmetro e meio em seteminutos depois de descobrir quealguns atletas faziam isso em quatro,mas fracassei espetacularmentequando pontadas na lateral doabdome me deixaram exausta nomeio do percurso.

    Contudo, h uma coisa queconsegui fazer em sete minutos que amaioria das pessoas considerariabem impressionante: me tornar

  • rainha.Por nfimos sete minutos cheguei

    ao mundo antes do meu irmo,Ahren, e o trono que deveria serdele passou a ser meu. Se eu tivessenascido uma gerao antes, essedetalhe no teria feito diferena.Ahren era homem; Ahren seria oherdeiro.

    Ora, minha me e meu pai nosuportariam ver sua primognitaperder o ttulo por causa de uminoportuno, ainda que agradvel, parde peitos. Ento eles mudaram a lei,e o povo se alegrou, e fui preparadadia aps dia para me tornar aprxima governante de Illa.

  • O que eles no entendiam era queaquelas tentativas de tornar minhavida justa pareciam bem injustaspara mim.

    Eu tentava no reclamar. Afinal,tinha conscincia de que era muitosortuda. Mas havia dias, s vezesmeses, em que eu sentia um enormepeso nas costas. Peso demais paraqualquer pessoa suportar sozinha, naverdade.

    Folheei o jornal e vi que outrarebelio havia ocorrido, dessa vezem Zuni. Vinte anos atrs, oprimeiro ato de meu pai como rei foidissolver as castas, e o velhosistema se desfez aos poucos, ao

  • longo da minha vida. Eu aindaachava totalmente bizarro que nopassado as pessoas vivessemmarcadas por esses rtulosrestritivos e arbitrrios. Minha meera Cinco, meu pai, Um. No faziasentido, at porque no havianenhum sinal externo dessasdivises. Como eu ia saber se estavaao lado de um Seis ou de um Trs?Alis, por que isso importava?

    Logo que o fim das castas foidecretado, houve comemoraes portodo o pas. Meu pai esperava queas mudanas j estivessem bemconsolidadas depois de umagerao. Ou seja: a essa altura, as

  • coisas deveriam se acertar de vez.No era o que estava

    acontecendo, e essa nova rebelioera a mais recente de uma srie derevoltas.

    Caf, Alteza? perguntouNeena ao deixar a bebida sobre aminha mesa.

    Obrigada. Pode levar ospratos.

    Corri os olhos pelo artigo. Dessavez, incendiaram um restauranteporque o proprietrio no queriapromover um garom a chef decozinha. O garom alegava que apromoo havia sido prometida masnunca efetivada, e tinha certeza de

  • que era por causa do passado de suafamlia.

    Vendo os restos carbonizados doprdio, eu sinceramente no sabia deque lado ficar. O proprietrio tinhao direito de promover ou demitirquem quisesse, e o garom tinha odireito de no ser marcado com umrtulo que, teoricamente, j noexistia.

    Deixei o jornal de lado e pegueiminha bebida. Meu pai ia ficarirritado. Eu tinha certeza de que elej devia ter pensado e repensado milestratgias para tentar amenizar asituao. Mas, mesmo queconsegussemos resolver alguns

  • problemas, ramos incapazes deevitar cada um dos casos dediscriminao ps-castas. Eramnumerosos, muito frequentes edifceis de monitorar.

    Pus o caf na mesa e fui emdireo ao closet. J estava na horade comear o dia.

    Neena? chamei. Vocsabe onde est o vestido cor deameixa? Aquele com a faixa?

    Ela apertou os olhos, concentrada,e veio ajudar.

    Neena era relativamente nova nopalcio. Comeara a trabalharcomigo seis meses antes, quando acriada anterior ficou duas semanas

  • de cama. Neena era to atenta sminhas necessidades e to boacompanhia que a mantive. Tambmgostava muito de seu olho paramoda.

    Neena arregalou os olhos diantedaquele espao imenso.

    Talvez devssemosreorganizar isso aqui.

    Pode reorganizar, se tivertempo. Mas no um projeto que meinteressa.

    No quando posso procurar asroupas para a senhorita, no ? ela provocou.

    Exatamente!Ela levou na brincadeira e, rindo,

  • comeou a vasculhar entre vestidose calas.

    Gostei do seu cabelo hoje comentei.

    Obrigada.Todas as criadas usavam touca,

    mas mesmo assim Neena era muitocriativa com seus penteados. De vezem quando, cachos grossos eescuros emolduravam seu rosto;outras vezes, enrolava as mechasnum coque. Naquele dia, tranaslargas rodeavam sua cabeaenquanto o resto do cabelo estavacoberto. Eu gostava muito de vercomo ela inventava maneirasdiferentes de usar o uniforme,

  • personalizando-o todos os dias. Ah! Est aqui atrs!

    exclamou Neena, puxando o vestidolonguete e estirando-o sobre a peleescura de seu brao.

    Perfeito! E voc sabe ondeest meu blazer cinza? Aquele demangas trs quartos?

    Ela me olhou impassvel. Com certeza vou reorganizar

    isso aqui. Voc procura, eu me visto

    falei, rindo.Pus a roupa e penteei o cabelo,

    me preparando para mais um diacomo o futuro rosto da monarquia. Acombinao era feminina o bastante

  • para conferir um ar de suavidade,mas tambm forte o bastante paraque eu fosse levada a srio. Era umbom estilo a seguir, e eu o seguiadiariamente.

    Olhei para o espelho e disse parameu reflexo:

    Voc Eadlyn Schreave. Sera prxima pessoa a governar estepas e a primeira garota a fazer issosozinha. Nenhuma pessoa prossegui to poderosa quantovoc.

    Meu pai j estava no escritriocom a testa franzida enquanto lia asnotcias. Exceto pelos olhos, eu no

  • era muito parecida com ele. Alis,nem com a minha me.

    Com o cabelo escuro, o rosto ovale a pele com um leve bronzeado quedurava o ano todo, eu parecia maiscom a minha av do que comqualquer outra pessoa. No corredordo quarto andar havia uma pinturadela no dia de sua coroao. Eucostumava analis-la quando eramais nova para tentar adivinharcomo seria quando crescesse. Aidade dela no retrato era prxima daminha agora e, embora no fssemosidnticas, s vezes eu tinha asensao de ser seu reflexo.

    Cruzei a sala e beijei meu pai na

  • bochecha. Bom dia. Bom dia. Voc viu os jornais?

    ele perguntou. Sim. Pelo menos ningum

    morreu desta vez. Graas aos cus.As piores revoltas eram as que

    resultavam em mortes oudesaparecimentos. Era terrveldescobrir que rapazes foramespancados s porque se mudaramcom a famlia para um bairromelhor, ou que mulheres foramatacadas por tentar conseguir umemprego que, no passado, eraproibido para elas.

  • s vezes, o motivo e as pessoaspor trs desses crimes eramdescobertos rapidamente, mas quasesempre havia muitas trocas deacusao e nenhuma resoluodefinitiva. Eu ficava exausta s deouvir e sabia que era ainda pior parameu pai.

    No entendo ele disse aotirar os culos de leitura e esfregaros olhos. Eles no queriam maisas castas. Ns fomos com calma,eliminamos as divises devagarpara todos conseguirem se adaptar.E agora eles queimam prdios.

    H algum jeito de regulamentarisso? Podemos criar uma comisso

  • para supervisionar as reclamaes.Voltei a observar a foto no jornal.

    No canto da imagem, o jovem filhodo dono do restaurante chorava aperda de tudo. Sinceramente, eusabia que as reclamaes chegariamto rpido que ningum seria capazde atend-las, mas tambm sabia quemeu pai no suportaria ficar debraos cruzados.

    isso que voc faria? eleperguntou, olhando para mim.

    No respondi com umsorriso. Eu perguntaria ao meupai o que ele faria.

    Ele suspirou. Nem sempre voc ter essa

  • opo, Eadlyn. Voc precisa serforte, decidida. Como vocresolveria este incidente emparticular?

    Pensei um pouco antes deresponder.

    No acho que seja possvelresolver essa situao. No h meiode provar que foram as velhas castasque impediram a promoo dogarom. A nica coisa que podemosfazer abrir uma investigao paradescobrir quem iniciou o incndio.Uma famlia perdeu seu sustentohoje, e algum deve serresponsabilizado. No comincndios que se faz justia.

  • Ele balanou a cabea e pousouos olhos no jornal novamente.

    Acho que voc est certa.Gostaria de poder ajud-los. Mas,acima de tudo, precisamos pensarem como evitar que aconteanovamente. A situao j saiu docontrole, Eadlyn, e isso assustador.

    Meu pai atirou o jornal no lixo elevantou, caminhando at a janela.Por sua postura, dava para perceberque estava tenso. s vezes, suafuno lhe trazia muita alegria, comoquando visitava escolas cujascondies trabalhara sem descansopara melhorar ou quando via o

  • florescimento de comunidadesnaquele tempo livre de guerras quehavia inaugurado. Mas essasocasies se tornavam cada vez maisraras e escassas. Ele passava amaioria dos dias angustiado com asituao do pas, fingindo sorrisospara os jornalistas, na esperana deque sua postura calma contagiasse atodos. Minha me o ajudava acarregar o fardo, mas no fim dascontas o destino do pas recaa nicae exclusivamente nas suas costas.Um dia, estaria nas minhas.

    Consciente de que se tratava deuma questo totalmente ftil, eu mepreocupava com a possibilidade de

  • ficar grisalha antes da hora. Faa uma anotao para mim,

    Eadlyn. Lembre-me de escrever aogovernador de Zuni, Harpen. Ah, eescreva que a carta para JoshuaHarpen, no para o pai dele. Sempreesqueo que foi ele quem concorreunas ltimas eleies.

    Anotei as instrues com minhaelegante letra cursiva, pensando emcomo meu pai ficaria satisfeito aov-la mais tarde. Ele costumavapegar muito no meu p por causa daminha caligrafia.

    Sorrindo comigo mesma, mevoltei para meu pai, mas logodesanimei ao v-lo coar a cabea,

  • tentando desesperadamenteencontrar uma soluo para aquelesproblemas.

    Pai?Ele se virou para mim e, por

    instinto, endireitou os ombros, comose precisasse assumir uma posturaforte mesmo diante de mim.

    Por que voc acha que issoest acontecendo? No foi sempreassim.

    Ele arqueou as sobrancelhas ecomeou a responder:

    Com certeza no disse,quase para si mesmo. Nocomeo, todos pareciam contentes.Cada vez que removamos uma

  • casta, as pessoas festejavam.Apenas nos ltimos anos, depois quetodos os rtulos foram oficialmenteapagados, as coisas saram docontrole.

    Ele voltou a olhar pela janelaantes de prosseguir:

    S consigo pensar em umacoisa: quem cresceu com as castastem conscincia de que o que temosagora melhor. Em comparao, mais fcil casar ou trabalhar. Arenda de uma famlia no provm deapenas uma profisso. H maisopes quando se trata de educao.Mas aqueles que esto crescendosem as castas e ainda enfrentam

  • obstculos Acho que no sabem oque mais podem fazer.

    Meu pai ento olhou para mim edeu de ombros.

    Preciso de um tempo murmurou. Preciso dar um jeitode pausar os acontecimentos,resolver essa situao e ento darsequncia ao governo.

    Notei um sulco profundo em suatesta.

    Pai, no acho que isso sejapossvel.

    Ele achou graa. J fizemos isso antes. Eu

    lembroO foco de seu olhar mudou. Ele

  • me observou por um momento.Parecia me fazer uma pergunta sempalavras.

    Pai? Sim? Voc est bem?Ele piscou algumas vezes antes de

    falar: Sim, querida, muito bem. Por

    que voc no vai trabalhar naquelescortes oramentrios? Podemosrepassar suas ideias hoje tarde.Preciso conversar com sua me.

    Claro.Talento para matemtica no era

    algo natural para mim. Por isso, eulevava o dobro do tempo para fazer

  • cortes no oramento e planejamentosfinanceiros. Mas tambm recusavaveementemente que um dosconselheiros de meu pai ficasseatrs de mim com uma calculadora,tentando consertar minha baguna.Ainda que precisasse passar a noiteem claro, sempre garantia que meutrabalho estivesse correto.

    Claro, Ahren era naturalmentebom em matemtica, mas ningumnunca o obrigava a aturar reuniesde oramento, rezoneamento ouservios de sade. Ele sempreescapava ileso por causa daquelesmalditos sete minutos.

    Meu pai me deu um tapinha no

  • ombro antes de sair do escritrio spressas. Levei mais tempo que onormal para me concentrar nosnmeros. No conseguia parar depensar em sua expresso e estavacerta de que tinha alguma coisa a vercomigo.

  • 2DEPOIS DE TRABALHAR POR ALGUMASHORAS no relatrio oramentrio,decidi fazer uma pausa, ir para omeu quarto e pedir uma massagemnas mos para Neena. Eu amavaesses pequenos luxos do meu dia.Vestidos feitos sob medida,sobremesas exticas preparadas sporque era quinta-feira, umsuprimento interminvel de coisasbonitas: eu tinha privilgios, e elescom certeza eram a minha partefavorita do cargo.

    Meu quarto tinha vista para os

  • jardins. Conforme o sol mudava deposio, a luz ganhava um tomalaranjado acolhedor e iluminava asaltas muralhas. Me concentrei nocalor e nos dedos precisos deNeena.

    Enfim, ele fez uma caraesquisita. Era como se tivesse sadofora do ar por um minuto.

    Eu estava tentando explicar aatitude inesperada de meu pai pelamanh, mas era difcil descrever. Eunem sabia se ele tinha encontradominha me ou no, pois no voltoumais para o escritrio.

    Acha que ele est doente? Eleparece bem cansado esses dias

  • Neena falou, enquanto suas mosfaziam mgica com as minhas.

    Parece? perguntei. Achavaque no era bem cansao o que eletinha. Provavelmente deve estarmuito estressado. E como noestaria, com tantas decises paratomar?

    E um dia voc estar nessaposio ela comentou. Seu tomde voz evidenciava uma autnticapreocupao misturada com umaprovocao brincalhona.

    O que significa que voc terde me fazer o dobro de massagens.

    No sei ela disse. Talvez tente algo novo daqui a

  • alguns anos.Fechei a cara. O que mais voc faria? No h

    opes muito melhores que umtrabalho no palcio.

    Algum bateu porta, e Neenano teve chance de responder pergunta.

    Levantei, vesti o blazernovamente para ficar maisapresentvel e fiz um sinal com acabea para que Neena deixasse avisita entrar.

    Sorridente, minha me apareceu porta. Meu pai vinha logo atrs,satisfeito. Era sempre assim: emeventos de Estado ou jantares

  • importantes, minha me ficava aolado ou logo atrs de meu pai;porm, quando eram apenas maridoe mulher e no rei e rainha ,ele a seguia por toda parte.

    Oi, me cumprimentei, meaproximando para abra-la.

    Minha me colocou uma mecha domeu cabelo atrs da orelha e sorriu.

    Gostei do visual.Dei um passo para trs,

    orgulhosa, e corri as mos pelovestido.

    As pulseiras do um bomdestaque, no ?

    Ela riu. Excelente ateno aos

  • detalhes.De vez em quando, minha me me

    deixava escolher suas joias esapatos, mas era raro. Ela noachava isso to divertido quanto eu,e tambm no usava muitosacessrios para melhorar aaparncia. Na verdade, noprecisava mesmo. Eu gostava de seuestilo clssico.

    Mame se voltou para Neena etocou-a no ombro.

    Voc pode sair disse emvoz baixa.

    Neena fez uma reverncia no ato enos deixou a ss.

    Algo errado? perguntei.

  • No, meu amor. S queremosconversar em particular respondeu meu pai, gesticulandopara que nos sentssemos mesa. H uma oportunidade quegostaramos de discutir com voc.

    Oportunidade? Vamos viajar? Eu adorava viajar. Por favor,digam que finalmente vamos para apraia. Ser que podemos ir s nsseis?

    No exatamente. Nopoderamos ir a lugar nenhum comhspedes em casa minha meexplicou.

    Ah! Companhia! Quem vem?Os dois trocaram olhares antes de

  • minha me continuar: Voc sabe que a atual situao

    preocupante. O povo est agitado einfeliz, e no fazemos ideia de comoaliviar a tenso.

    Eu sei suspirei. Estamos em busca de um jeito

    de levantar o moral das pessoas meu pai acrescentou.

    Fiquei animada. Levantar o moralcostumava envolver celebraes, eeu nunca dispensava uma festa.

    O que vocs tm em mente? quis saber, j imaginando umvestido novo. Mas logo afastei aideia; no era nisso que eu devia meconcentrar naquele momento.

  • Bem meu pai comeou ,o pblico reage melhor a notciaspositivas relacionadas nossafamlia. Quando sua me e eu noscasamos, o pas passou por uma desuas melhores fases. E voc lembracomo as pessoas festejaram nas ruasquando souberam que Osten iachegar?

    Abri um sorriso. Eu tinha oitoanos quando Osten nasceu, e nuncaesqueci o entusiasmo de todos com oanncio. Do meu quarto, dava paraouvir a msica nas ruas praticamenteat o amanhecer.

    Foi maravilhoso. Foi mesmo. E agora as pessoas

  • olham para voc. No vai demorarpara se tornar a rainha.

    Meu pai fez uma pausa. Pensamos continuou que

    talvez voc aceitasse fazer algumacoisa pblica, alguma coisaempolgante para o povo e, talvez,muito benfica para voc tambm.

    Apertei os olhos, concentrada,sem entender direito aonde aquelaconversa ia chegar.

    Estou ouvindo.Minha me limpou a garganta. Voc sabe que, no passado,

    princesas se casavam com prncipesde outros pases para fortalecerrelaes internacionais.

  • Voc usou o verbo no passado,n?

    Ela riu, mas no achei graa. Sim. Que bom eu disse.

    Porque o prncipe Nathaniel pareceum zumbi, o prncipe Hector danacomo um zumbi e, se o prncipe daFederao Germnica no aprendero que higiene pessoal at a festa deNatal, nem deveramos convid-lo.

    Minha me esfregou a cabea,frustrada.

    Eadlyn, voc sempre toexigente.

    Meu pai deu de ombros. Talvez isso no seja ruim

  • comentou, para ganhar um daquelesolhares de mame.

    Fechei a cara. Mas do que diabos vocs esto

    falando? Voc sabe como sua me e eu

    nos conhecemos continuou meupai.

    Todo mundo sabe. Vocs doisviveram praticamente um conto defadas repliquei com cara detdio.

    Ao ouvir isso, os dois suavizarama expresso e abriram um sorriso.Eles pareciam se inclinar levementeum para o outro, e meu pai mordeuos lbios ao olhar para minha me.

  • Com licena. A primognitaest no quarto tambm. Vocs seimportam?

    Minha me corou, e meu pailimpou a garganta antes decontinuar:

    A Seleo foi um sucesso parans. E, embora meus pais tivessemseus problemas, o processofuncionou para eles tambm.Ento estvamos pensando

    Ele hesitou e nossos olhares secruzaram.

    Demorou para cair a ficha. Eusabia o que era a Seleo, mas essaopo jamais havia sido propostapara qualquer um de ns, muito

  • menos para mim. No.Minha me ergueu as mos e

    disse: Apenas escute Uma Seleo? explodi.

    Isso loucura! Eadlyn, voc est sendo

    irracional argumentou ela.Dirigi um olhar fulminante a ela. Voc prometeu. Prometeu que

    jamais me obrigaria a casar comalgum em troca de alianaspolticas. Como uma Seleo podeser melhor que isso?

    Oua o que temos a dizer ela insistiu.

  • No! berrei. No vouaceitar.

    Calma, baixinha. No fale comigo assim. Eu no

    sou criana!Minha me suspirou. Mas age como se fosse. Vocs esto arruinando minha

    vida!Corri os dedos pelo cabelo e

    respirei fundo vrias vezes, naesperana de que isso me ajudasse apensar. Aquilo no podia acontecer.No comigo.

    uma grande oportunidade meu pai insistiu.

    Voc est tentando me

  • acorrentar a um estranho! Eu disse que ela seria teimosa

    minha me cochichou para meupai.

    Me pergunto a quem ela puxou ele disparou com um sorriso.

    No falem de mim como se euno estivesse no quarto!

    Desculpe meu pai disse. S queremos que voc pense arespeito.

    E Ahren? No pode ser ele? Ahren no o futuro rei. Alm

    disso, ele j tem Camille.A princesa Camille era a herdeira

    do trono francs. Alguns anos antes,tinha conseguido, por fora das

  • piscadelas de seus belos clios,conquistar o corao de meu irmo.

    Ento casem os dois! supliquei.

    Camille ser rainha quandochegar a hora e, como voc, ter depedir seu companheiro emcasamento. Se a escolha fosse deAhren, poderamos pensar no caso,mas no .

    E Kaden? Vocs no podemfazer a Seleo com ele?

    Minha me deu uma risadairnica.

    Ele tem catorze anos! Notemos todo esse tempo. O povoprecisa de alguma coisa que os

  • empolgue agora disse, e olhoubem nos meus olhos antes deprosseguir. Alm disso, para sersincera, j no est na hora de vocprocurar algum para governar aoseu lado?

    Meu pai concordou. verdade. No uma funo

    para suportar sozinha. Mas eu no quero casar

    supliquei. Por favor, no meobriguem a isso. Tenho s dezoitoanos.

    A mesma idade que eu tinhaquando casei com seu pai minhame afirmou.

    No estou preparada insisti.

  • No quero marido. No faamisso comigo, por favor.

    Minha me estendeu o braosobre a mesa e segurou a minha.

    Ningum vai fazer nada comvoc. Voc que far algo pelo seupovo. Voc dar um presente spessoas daqui.

    Quer dizer, fingir um sorrisoquando tiver vontade de chorar?

    Isso sempre foi parte do nossotrabalho ela respondeu depois defranzir levemente a testa.

    Apenas a encarei, espera deuma resposta melhor.

    Eadlyn, por que voc no tiraum tempo para pensar melhor?

  • meu pai props calmamente. Seique estamos lhe pedindo muito.

    Isso quer dizer que tenhoopo?

    Papai respirou fundo, pensativo,antes de falar:

    Bem, meu amor, na verdadevoc ter trinta e cinco opes.

    Levantei da cadeira com um saltoe apontei para a porta.

    Saiam daqui! exigi. SAIAM DAQUI!

    Sem mais uma palavra, os doisdeixaram o quarto.

    Por acaso no sabiam quem eu erae para que haviam me treinado? Euera Eadlyn Schreave. Nenhuma

  • pessoa era to poderosa quanto eu.Se eles achavam que eu ia me

    render sem lutar, estavamtristemente enganados.

  • 3DECIDI JANTAR NO QUARTO . Noestava a fim de ver minha famlia nomomento. Estava furiosa com todoseles. Com meus pais, por seremfelizes; com Ahren, por no ter sidorpido o bastante dezoito anos atrs;com Kaden e Osten, por serem tojovens.

    Neena deu a volta na mesa parame servir.

    A senhorita acha que vai terque aceitar? perguntou ela aoencher minha taa.

    Ainda estou pensando em um

  • jeito de escapar. E se a senhorita dissesse que

    j est apaixonada por algum?Neguei com a cabea enquanto

    brincava com a comida. Insultei os trs candidatos mais

    provveis bem na frente deles.Neena ento ps um pratinho com

    chocolates no meio da mesa,supondo corretamente que euestaria mais interessada neles doque no salmo com caviar.

    Talvez um guarda, ento?Acontece bastante com as criadas ela sugeriu, rindo.

    Tudo bem para elas, mas noestou to desesperada assim

  • desdenhei.A risada de Neena cessou.Percebi imediatamente que

    minhas palavras a haviam ofendido.Mas era verdade: eu no podia ficarcom qualquer um, muito menos umguarda. Pensar naquelapossibilidade j era perda de tempo.Eu precisava de uma sada paraaquela situao.

    No disse por mal, Neena.Acontece que as pessoas esperamcertas coisas de mim.

    Claro. J terminei. Voc est

    dispensada pelo resto da noite.Deixarei o carrinho com os pratos

  • no corredor.Ela fez que sim com a cabea e

    saiu sem dizer mais uma palavra.Belisquei os chocolates, mas logo

    desisti de comer qualquer coisa evesti a camisola. No podiaargumentar com meus pais naquelemomento, e Neena no me entendia.Precisava falar com a nica pessoacapaz de entender o meu lado, apessoa que s vezes parecia minhaoutra metade. Eu precisava falarcom Ahren.

    Est ocupado? perguntei,entreabrindo sua porta.

    Ahren estava sentado

  • escrivaninha fazendo anotaes.Seus cabelos loiros estavam aquelabaguna tpica do fim do dia, masseus olhos no tinham qualquervestgio de cansao. Parecia-se tantocom nosso pai quando jovem quechegava a ser assustador. Ele aindaestava com a roupa do jantar, mas jhavia tirado o palet e a gravata,preparando-se para dormir.

    Faa o favor de bater antes deentrar.

    Eu sei, eu sei, mas umaemergncia.

    Ento arrume um guarda eleretrucou e voltou papelada.

    J sugeriram isso disse

  • para mim mesma. srio, Ahren.Preciso da sua ajuda.

    Meu irmo me olhou por cima doombro, e pude notar que estavaprestes a ceder. Com ardespreocupado, empurrou a cadeiraao seu lado com o p e disse,irnico:

    Venha at meu escritrio.Ao sentar, perguntei: O que voc est escrevendo?Ele tratou de cobrir a folha

    rapidamente com outros papis. Uma carta para Camille. Voc sabe que pode

    simplesmente ligar pra ela.Ele deu um sorrisinho e

  • comentou: Mas eu vou ligar. E tambm

    vou mandar isto. No faz sentido. O que tanto

    voc tem para dizer que precisa deuma ligao e uma carta?

    Ele balanou a cabea. Para a sua informao, os dois

    tm propsitos diferentes. Asligaes so para as notcias e parasaber como foi o dia dela. As cartasso para coisas que nem sempreposso dizer em voz alta.

    Srio? perguntei, j meinclinando para pegar o papel.

    Antes que pudesse chegar perto, amo dele grudou no meu punho.

  • Eu mato voc ele garantiu. timo disparei. A voc

    vira o herdeiro, passa pela Seleoe d um beijo de despedida na suapreciosa Camille.

    Sua testa se encheu de rugas. O qu?Soltei o corpo de novo na

    cadeira. A mame e o papai querem

    levantar o moral do povo.Decidiram isso pelo bem de Illa eu disse com um patriotismosarcstico. Preciso passar pelaSeleo.

    Eu esperava uma demonstrao dehorror abjeto. Talvez uma mo

  • simptica sobre meu ombro. MasAhren jogou a cabea para trs ecaiu na gargalhada.

    Ahren!Ele continuava urrando,

    dobrando-se para a frente e dandotapas no joelho.

    Voc vai amassar a roupa avisei, o que s aumentou as risadas. srio, pelo amor de Deus! Oque eu devo fazer?

    Como se eu soubesse! Noacredito que eles realmente achamque isso vai funcionar eleacrescentou sem parar de rir.

    O que isso quer dizer?Ele deu de ombros.

  • No sei. Acho que semprepensei que, se algum dia voc secasasse, seria em um futuro bemdistante. Acho que todo mundo tinhacerteza disso.

    E o que isso quer dizer?O toque de carinho que eu

    esperava finalmente veio quando elepegou minha mo.

    Ah, Eady. Voc sempre foiindependente. a rainha em voc.Gosta de estar no comando, de fazeras coisas por conta prpria. Euimaginava que s iria se unir aalgum depois de reinar por umtempo.

    Para comeo de conversa, no

  • tive muita escolha resmunguei,abaixando a cabea mas com osolhos ainda em meu irmo.

    Ele fez uma careta e emendou: Pobre princesinha. Ento voc

    no quer governar o mundo?Afastei a mo dele com um tapa. Sete minutos. Devia ter sido

    voc. Eu preferia mil vezes ficarsentada sozinha escrevendobobagens em vez de lidar com toda aburocracia. E essa histria ridculade Seleo no faz o menor sentido!Voc no v como lamentvel?

    Alis, como enfiaram vocnisso? Pensei que tinham abolido aSeleo.

  • No tem nada a ver comigo respondi com cara de tdio. Essa a pior parte. O papai temenfrentado muita oposio, por issovai tentar distrair as pessoas.

    Antes de continuar, balancei acabea.

    A situao est ficando feia,Ahren. Esto destruindo casas elojas. J houve algumas mortes. Opapai no sabe ao certo de onde vmos ataques, mas acha que as pessoasda nossa idade, da gerao quecresceu sem as castas, tmprovocado a maior parte deles.

    Uma expresso de dvidaapareceu no rosto dele.

  • No faz sentido. Por quecrescer sem aquelas restriesdeixaria algum com raiva?

    Fiz uma pausa para pensar. Comoexplicar algo que no passava deuma hiptese para mim?

    Bom, fui criada com todos medizendo que eu seria a rainha umdia. Era isso. Nada de escolhas.Voc cresceu sabendo que tinhaopes. Podia entrar para o exrcito,virar embaixador, podia fazer ummonte de coisas. Mas e se isso noacontecesse na prtica? E se vocno tivesse todas as oportunidadesque imaginava antes?

    Hum ele disse,

  • mostrando que seguia o raciocnio. Ento eles no tm acesso aempregos?

    Empregos, educao, dinheiro.Ouvi falar de gente que probe ocasamento dos filhos por conta dasvelhas castas. Nada estacontecendo do jeito que o papaiplanejou, e quase impossvelcontrolar esses movimentos. Serque d para forar as pessoas aserem justas?

    isso que o papai esttentando resolver agora? Ahrenperguntou, ctico.

    Sim. E eu sou o show deilusionismo que vai distrair as

  • pessoas enquanto ele elabora umplano.

    Ahren achou graa. Essa explicao faz bem mais

    sentido do que voc ter viradoromntica de repente.

    Ergui a cabea. J deu, Ahren. Eu no estou

    interessada em casar. Por que issoimporta? Outras mulheres podemficar solteiras.

    Mas ningum espera que outrasmulheres produzam um herdeiro.

    Dei outro tapa nele. Me ajude! O que eu fao?Seus olhos procuraram os meus.

    Percebi, com a facilidade que tinha

  • para saber o que ele sentia, quefinalmente entendeu que eu estavaaterrorizada. No irritada ouzangada. No ultrajada ou enojada.

    Eu estava com medo.Uma coisa era a expectativa de

    que eu comandasse o pas, de quecarregasse o peso de governarmilhes de pessoas sozinha.Tratava-se de um emprego, umatarefa. Eu podia riscar itens de umalista, delegar. Mas casamento eramuito mais pessoal, outro pedao daminha vida que deveria ser meu, masaparentemente no era.

    O sorriso brincalho de meuirmo desapareceu e ele arrastou a

  • cadeira para perto da minha. Se a ideia distrair as

    pessoas, talvez voc pudesse sugeriroutras oportunidades. Umpossvel casamento talvez no seja anica alternativa. Por outro lado, senossos pais chegaram a essaconcluso, devem ter esgotado todasas outras opes.

    Enterrei a cabea nas mos. Noqueria contar a Ahren que sugeri queele se casasse, nem que considereiat Kaden vivel. Tinha a sensaode que meu irmo estava certo; aSeleo era a ltima esperana dosmeus pais.

    Eis o ponto, Eady. Voc ser a

  • primeira garota a assumir o tronopor direito. E as pessoas esperammuito de voc.

    Como se eu j no soubesse. Mas ele prosseguiu , isso

    lhe d bastante poder de barganha.Levantei um pouco a cabea. Como assim? J que voc precisa mesmo

    fazer isso, tente negociar.Me endireitei na cadeira. Pensei e

    repensei, tentando imaginar o quepoderia pedir. Talvez houvesse umjeito de passar logo por aquilo, semter que acabar com um pedido decasamento.

    Sem pedido de casamento!

  • Se eu falasse rpido o bastante,provavelmente conseguiria que meupai concordasse com praticamentequalquer coisa, desde que eletivesse sua Seleo.

    Negociar! balbuciei. Exatamente.Levantei, agarrei Ahren pelas

    orelhas e estalei um beijo em suatesta.

    Voc meu heri absoluto!Ele sorriu. Qualquer coisa por voc,

    minha rainha.Ri e o empurrei. Obrigada, Ahren. Mos obra ele falou,

  • apontando para a porta. Suspeiteique estava mais ansioso para voltar carta do que para acompanhar meuplano.

    Sa correndo do quarto dele emdireo ao meu para pegar papel.Precisava pensar.

    Quando virei a esquina docorredor, trombei com algum e casentada no carpete.

    Ai! reclamei. Ao erguer osolhos, dei com Kile Woodwork,filho da madame Marlee.

    Kile e o resto da famliaWoodwork possuam aposentos nomesmo andar que a nossa, uma honramuito especial. Ou irritante.

  • Dependia da opinio que se tinhasobre os Woodwork.

    Com licena eu disse,rspida.

    No era eu que estavacorrendo ele replicou,recolhendo os livros que tinhaderrubado. Precisa olhar poronde anda.

    Um cavalheiro estenderia amo imediatamente disse a ele.

    O cabelo de Kile cobriu seusolhos quando se voltou para mim.Ele precisava desesperadamentecortar o cabelo e fazer a barba.Alm disso, sua camisa estavagrande demais. No sei de quem eu

  • sentia mais vergonha: dele, pelaaparncia to desleixada, ou daminha famlia, que tinha de ser vistacom aquele desastre.

    O mais irritante era que ele nemsempre tinha sido to esculachado,nem precisava ser. Qual adificuldade de passar uma escova nocabelo?

    Eadlyn, voc nunca meconsiderou um cavalheiro.

    Verdade concordei,enquanto me levantava sozinha ebatia o p do roupo.

    Eu havia sido poupada dacompanhia pouco empolgante deKile nos ltimos seis meses. Ele

  • fora a Fennley se matricular emalgum curso intensivo, e sua melamentara sua ausncia desde o diade sua partida. Eu no sabia o queele estudava nem fazia questo dedescobrir. Mas ele estava de volta, esua presena era mais um fator deestresse numa lista que no paravade crescer.

    E o que faria uma dama comovoc correr desse jeito, afinal?

    Assuntos que voc toscodemais para compreender.

    Ele riu. Certo, porque sou to

    simplrio. um milagre conseguirtomar banho sozinho.

  • Eu estava prestes a perguntar seele realmente chegava a tomarbanho, porque a impresso era deque ele fugia de qualquer coisasemelhante a um sabonete.

    Espero que um desses livrosseja um manual bsico de etiqueta.Voc precisa se atualizarurgentemente.

    Voc ainda no rainha,Eadlyn. Baixe um pouco a bola.

    Ele se afastou, e fiquei furiosa porno ter dado a palavra final.

    Segui adiante. Minha vida agoratinha problemas maiores que as boasmaneiras de Kile. No podiadesperdiar meu tempo discutindo

  • com as pessoas ou me distraindocom qualquer coisa que no dessefim Seleo.

  • 4 QUERO SER CLARA eu disse aosentar diante da mesa do meu pai. No tenho inteno de me casar.

    Ele fez que sim com a cabea ecomeou a falar:

    Entendo que voc no queiraisso hoje, mas um dia vai precisar secasar, Eadlyn. Voc tem a obrigaode dar continuidade linhagem real.

    Eu odiava quando ele falavaassim do meu futuro. Como se sexo,amor e bebs no fossem coisasboas, mas deveres a ser cumpridospara manter o pas nos eixos. Isso

  • apagava qualquer trao de alegriadas minhas perspectivas.

    De todas as coisas da vida, essasno deveriam ser as melhorespartes, os prazeres maisverdadeiros?

    Afastei essa preocupao e meconcentrei no objetivo que tinhanaquele momento.

    Entendo. Concordo que importante repliqueidiplomaticamente. Mas durante asua Seleo voc nunca sepreocupou com a possibilidade deque ningum do grupo fosse a garotacerta? Ou de que talvez muitasestivessem l pelos motivos

  • errados?Seus lbios esboaram um

    sorriso. Eu me preocupava com isso

    todos os dias e boa parte das noites.Ento ele me contou vrias

    histrias vagas sobre uma garota todcil que ele mal podia suport-la etambm sobre outra que tentaramanipular cada etapa do processo.Eu no conhecia muitos nomes oudetalhes, e nem fazia questo. Nuncagostei de imaginar que meu paipoderia ter se apaixonado por outragarota que no a minha me.

    E voc no concorda que,como serei a primeira mulher a

  • assumir o controle total da coroa, necessrio estabelecer algunspadres a respeito de quem podegovernar ao meu lado?

    Continue disse ele,inclinando a cabea.

    Imagino que com certeza deveexistir algum sistema de cortespronto para evitar que um psicopataconsiga entrar no palcio, certo?

    Claro ele confirmou comum sorriso, como se a minhapreocupao no fosse vlida.

    Acontece, porm, que noconfio em ningum para assumir ocargo comigo. Portanto suspireifundo antes de continuar ,

  • concordo em passar por esseespetculo ridculo se voc meprometer algumas coisinhas.

    No um espetculo. Tem umhistrico excelente. Mas por favor,minha querida, diga-me o que quer.

    Primeiro, quero que osconcorrentes tenham liberdade parapartir por vontade prpria. Noquero que ningum fique aquiobrigado se no gostar de mim ou davida que levar no palcio.

    Concordo plenamente com isso meu pai disse, decidido.Aparentemente pus o dedo emalguma ferida.

    Excelente. E sei que voc

  • talvez se oponha ideia, mas se nofim eu no encontrar ningumadequado, cancelamos tudo. Nadade prncipe, nada de casamento.

    Ah! ele disse, se inclinandopara a frente na cadeira e apontandoum dedo precavido para mim. Seeu permitir isso, voc vai rejeitartodos no primeiro dia. No vai nemtentar!

    Fiz uma pausa para pensar. E se eu lhe garantisse um

    prazo? Eu deixaria a Seleo correrpor, digamos, trs meses, econsideraria as opes pelo menospor esse perodo. Depois disso, seno tiver encontrado uma pessoa

  • adequada, dispenso todos osconcorrentes.

    Meu pai passou a mo no rosto ese revirou um pouco na cadeiraantes de cravar os olhos nos meus.

    Eadlyn, voc sabe o quantoisso importante, no sabe?

    Claro respondi no ato, complena conscincia da seriedade doassunto. Tinha a sensao de que umpasso errado colocaria minha vidaem uma rota que eu jamais poderiacorrigir.

    Voc precisa fazer isso eprecisa fazer bem. Em nome detodos. Nossas vidas, todas elas,esto a servio de nosso povo.

  • Desviei o olhar. Para ser sincera,minha sensao era de que minhame, meu pai e eu formvamos o trioa ser sacrificado, enquanto os outrosfaziam o que bem entendiam.

    No vou desapont-lo prometi. Faa o que precisafazer. Elabore seus planos, encontreuma maneira de aplacar nosso povoe eu lhe darei tempo suficiente paraorganizar tudo.

    Meu pai olhou para o teto,pensativo, antes de responder.

    Trs meses? E voc prometeque vai tentar?

    Levantei o brao em juramento. Dou minha palavra. At assino

  • um documento se voc quiser, masno posso prometer que vou meapaixonar.

    Eu no teria tanta certeza sefosse voc ele disse como quemsabe das coisas.

    S que eu no era meu pai nemminha me. No importava o quantoa situao parecesse romntica paraele, eu s conseguia pensar nostrinta e cinco garotos barulhentos,intragveis, fedidos que estavamprestes a invadir minha casa. Nadadisso soava mgico.

    Temos um acordo ele dissefinalmente.

    Levantei praticamente pronta para

  • sair danando. Mesmo? Mesmo.Estendi o brao e selei meu futuro

    com um nico aperto de mo. Obrigada, pai.Deixei a sala antes que ele

    pudesse ver o tamanho do meusorriso. Eu j vinha planejandocomo fazer a maioria dos garotossair por livre e espontnea vontade.Eu podia intimid-los quandonecessrio ou pensar em maneirasde tornar o ambiente do palcionada acolhedor. Tambm contavacom uma arma secreta: Osten. Dosmeus irmos, ele era o que mais

  • aprontava, ento no seria difcilconvenc-lo a me ajudar.

    Me parecia admirvel que umgaroto comum se sentisse preparadoo bastante para enfrentar o desafiode se tornar prncipe. Mas ningumme amarraria antes do tempo, e eu iagarantir que esses pobres coitadossoubessem bem onde tinham semetido.

    A temperatura estava baixa noestdio, mas assim que as luzes seacenderam parecamos estar em umforno, tamanha a diferena que ailuminao fazia. Eu j tinhaaprendido havia alguns anos a

  • escolher roupas frescas para oJornal Oficial, de modo que meuvestido para aquela noite deixavameus ombros mostra. Meu visualera elegante, como sempre, masnada que me fizesse desmaiar decalor.

    Esse vestido perfeito minha me comentou enquantoendireitava os babados das mangas. Voc est linda.

    Obrigada. Voc tambm.Ela sorriu e continuou ajeitando

    minha roupa. Obrigada, linda. Sei que est

    um pouco apreensiva, mas acho queuma Seleo far bem a todos. Voc

  • passa muito tempo sozinha, eteramos que pensar nisso cedo outarde, e

    As pessoas ficaro contentes.Eu sei.

    Tentei disfarar o sofrimento naminha voz. Tecnicamente, as filhasda realeza j no eram maisoferecidas em troca de alianaspolticas mas a sensao no eramuito diferente. Ser que ela nopercebia isso?

    Seus olhos passaram do meuvestido para meu rosto. Algonaquele olhar me dizia que ela sentiapena.

    Sei que isso parece um

  • sacrifcio. E verdade que, quandolevamos uma vida pblica, h muitascoisas que fazemos no porquequeremos, mas porque devemos.

    Ela engoliu em seco antes decontinuar:

    Mas foi assim que encontreiseu pai, fiz minhas amigas maisntimas e aprendi que era mais fortedo que imaginava. Sei do seu acordocom seu pai. Se tudo isso acabarsem que voc encontre a pessoacerta, que assim seja. Mas, porfavor, permita-se viver aexperincia. Melhore, aprenda. Etente no nos odiar por pedirmosisso de voc.

  • Eu no odeio vocs. Mas considerou essa

    possibilidade quando fizemos aproposta ela disse com umsorrisinho. No mesmo?

    Tenho dezoito anos. Meusgenes esto programados para brigarcom meus pais.

    No ligo para uma boa brigadesde que no final voc ainda tenhaconscincia do quanto eu amo voc.

    Dei um passo adiante paraabra-la.

    E eu amo voc. Juro.Ficamos abraadas por um tempo.

    Ento ela me soltou e foi procurarmeu pai, no sem antes alisar de

  • novo meu vestido, garantindo queminha aparncia continuasseimpecvel. Em seguida, fui tomarmeu lugar ao lado de Ahren, queacenou com as sobrancelhas para meprovocar.

    Est linda, irmzinha.Praticamente uma noiva.

    Segurei a saia e senteigraciosamente.

    Mais um comentrio e raspo asua cabea enquanto voc estiverdormindo.

    Eu tambm amo voc.Tentei no sorrir, mas fracassei.

    Ele sempre sabia o que dizer.O lugar estava cheio de residentes

  • do palcio. Madame Lucy estavasozinha, pois o general Leger estavaem servio, e o sr. e a sra.Woodwork sentaram atrs dascmeras com Kile e Josie. Eram osnicos filhos do casal, e eu sabiaque a madame Marlee significava omundo para minha me, entoguardava para mim mesma a opiniode que os filhos dela eramabsolutamente terrveis. Kile no erato intragvel quanto Josie, mas,mesmo depois de todos esses anosde convivncia, jamais chegamosperto de ter uma conversainteressante. Esperava que nuncaacontecesse, mas se algum dia eu

  • tivesse um problema grave deinsnia, poderia contrat-lo paraficar falando ao lado da minha cama.Resolveria o problema. E JosieEu no tinha palavras paradescrever como aquela menina eradeplorvel.

    Os conselheiros do meu paicomearam a aparecer, saudando-nos com uma reverncia antes desentar. Havia apenas uma mulher noministrio de meu pai, a srta. BriceMannor. Ela era linda e delicada, enunca entendi direito como umapessoa to discreta conseguia semanter firme na arena poltica.Jamais a ouvi elevar a voz ou ficar

  • nervosa, mas as pessoas aescutavam. Os homens no meescutavam a no ser que eu fossergida.

    Contudo, sua presena me deixoucuriosa. O que aconteceria se eu,quando rainha, escolhesse apenasmulheres para formar meuministrio?

    Seria uma experinciainteressante.

    Os ministros e conselheirosfizeram seus pronunciamentos erelatrios. Ento, finalmente, Gavrilvoltou-se para mim.

    Gavril Fadaye tinha cabelosgrisalhos penteados para trs e um

  • rosto muito bonito. Ultimamentevinha falando sobre aposentadoria,mas depois de um anncio daquelamagnitude, precisaria aguentar maisum pouco.

    Esta noite, Illa, para encerrarnosso programa, temos uma notciaempolgante. E no h ningummelhor para comunic-la do quenossa futura rainha, a bela EadlynSchreave.

    Com um gesto grandiloquente, eleestendeu a mo na minha direo, eeu abri um largo sorriso enquantocruzava o palco acarpetado, emmeio ao aplauso comedido.

    Gavril me deu um breve abrao e

  • um beijo em cada bochecha. Bem-vinda, princesa Eadlyn. Obrigada, Gavril. Agora preciso ser honesto.

    Parece que foi ontem que anuncieiseu nascimento e de seu irmo,Ahren. No acredito que faz mais dedezoito anos!

    verdade. J somos grandes disse, virando-me para minhafamlia e trocando alguns olharescalorosos.

    A senhorita est a ponto defazer histria. Penso que Illa inteiraest ansiosa para ver o que fardaqui a alguns anos, quando setornar rainha.

  • Com certeza ser um perodoempolgante, mas no sei ao certo sequero esperar tanto para fazerhistria. Dei-lhe uma cotoveladabrincalhona e ele fingiu surpresa.

    Bom, ento por que no nosconta o que tem em mente, Alteza?

    Endireitei os ombros diante dacmera C e sorri antes de comear.

    Nosso grande pas passou pormuitas mudanas ao longo dos anos.Apenas durante o reinado de meuspais, assistimos s foras rebeldesno interior do pas praticamente seextinguirem e, embora aindaenfrentemos desafios, as linhasimaginrias do sistema de castas no

  • dividem mais nosso povo. Vivemosuma era de liberdade extraordinria,e esperamos vidos que nossa naoalcance todo o seu potencial.

    Me lembrei de sorrir e falararticuladamente. Os anos de aulassobre como falar e me dirigir aopblico incutiram em mim a tcnicaadequada, e eu sabia que meudiscurso tocava cada um dos pontosnecessrios.

    E isso timo mas aindasou uma garota de dezoito anos.

    A pequena plateia riu. Continuei: Acaba sendo meio chato

    passar a maior parte do dia dentrodo escritrio com meu pai. Sem

  • ofensas, Majestade acrescentei,voltada para ele.

    Tudo bem ele respondeu. Assim, decidi que hora de

    mudar o ritmo. hora de buscar nos um colaborador que trabalhecomigo nesta exigente tarefa, mas umparceiro que caminhe ao meu ladoao longo da vida. Para tanto, esperoque Illa me conceda meu desejomais profundo: uma Seleo.

    Os conselheiros soltaramexclamaes de surpresa ecomearam a cochichar. Eraperceptvel o choque na expressodos funcionrios. Ficou evidente queGavril era o nico que sabia de tudo

  • de antemo, coisa que eu noesperava.

    Amanh, cartas sero enviadasa todos os rapazes elegveis de Illa.Eles tero duas semanas paradecidir se gostariam de competirpela minha mo. Tenho conscincia,naturalmente, de que trilharemos umcaminho desconhecido. Jamaistivemos uma Seleo comandadapor uma mulher. E ainda que tenhatrs irmos, estou ansiosa paraencontrar mais um prncipe paraIlla. Espero que todo o pas celebrecomigo quando isso acontecer.

    Acenei levemente com a cabea evoltei ao meu lugar. Minha me e

  • meu pai irradiavam orgulho. Tenteime convencer de que essa reaobastava, embora continuasseapreensiva. No conseguia parar depensar que faltava alguma coisa, quehavia um buraco na rede sobre aqual eu planejava cair.

    Mas no havia o que fazer. Tinhaacabado de saltar pela janela.

  • 5EU SABIA QUE HAVIA UM ARSENAL DEEMPREGADOS trabalhando no palcio,mas estava convicta de que amaioria permanecera escondida ataquele dia. Assim que o anncio daSeleo inesperada se espalhou, nos as criadas e os mordomoscorriam de um lado para outro comos preparativos, mas tambm muitagente que eu nunca tinha visto.

    Meu trabalho dirio, que envolvialer relatrios e participar dereunies, mudou assim que me torneio foco dos preparativos.

  • Este um pouco mais barato,Alteza, mas ainda assimincrivelmente confortvel efuncionaria bem com a decoraoatual dizia um homem segurandoum retalho enorme de tecido, que emseguida juntou a outras duas opes.

    Toquei-o, encantada com a texturado pano como sempre ficava,embora aquele claramente no fossepara fazer roupas.

    No sei se entendo muito bemo motivo de estarmos fazendo isso confessei.

    O homem, um dos decoradores dopalcio, apertou os lbios.

    Houve quem dissesse que

  • alguns quartos de hspedes so umtanto femininos, e que seuspretendentes talvez ficariam maisconfortveis com algo assim eledisse, apresentando mais uma opo. Podemos transformar um quartocompletamente com um simples jogode cama.

    timo eu disse, achando umpouco desnecessrio todo aqueleesforo por causa de uns lenis. Mas sou eu quem precisa decidirisso?

    Ele abriu um sorriso bondoso. Esta Seleo ter a sua marca,

    Alteza. Mesmo que no tenhaescolhido tudo, as pessoas pensaro

  • que escolheu. Ento melhor jtermos sua aprovao para tudo.

    Contemplei o tecido, um poucoexausta de imaginar que todosaqueles detalhes tolos poderiamacabar se voltando contra mim.

    Este aqui.Escolhi a opo mais barata. Era

    um verde escuro perfeitamenteaceitvel para uma estadia de trsmeses.

    Escolha muito sbia, Alteza o decorador elogiou. Podemospensar em acrescentar novos objetosde arte tambm?

    Ele bateu palmas e uma torrentede criadas surgiu com pinturas nas

  • mos. Dei um suspiro. Sabia que jtinha perdido a tarde.

    Na manh seguinte, fui convocadapara a sala de jantar. Minha me meacompanhou, mas meu pai no podiase afastar do trabalho.

    Um homem que eu supunha sernosso chef de cozinha curvou-separa ns, mas no muito, devido asua ampla barriga. Seu rosto eramais prximo do vermelho que dobranco, mas ele no suava, o que mefez pensar que todos os anos emmeio ao vapor da cozinha deixaramsua pele mais corada.

    Majestade, Alteza, obrigadopor se juntarem a ns. O pessoal da

  • cozinha tem trabalhado dia e noitepara encontrar opes adequadaspara o primeiro jantar aps achegada dos pretendentes. Queremosservir sete pratos, obviamente.

    Claro! respondeu minhame.

    O chef sorriu para ela. Naturalmente, gostaramos de

    sua aprovao para o cardpio final.Tremi por dentro. Uma autntica

    refeio de sete pratos podia levarseis horas do primeiro gole dodrinque at o ltimo pedao dasobremesa. Quanto tempo levariapara provar as diferentes opespara cada prato?

  • Oito horas, descobri mais tarde.Passei o resto do dia com uma dorde estmago terrvel, o que no medeixou muito entusiasmada quandoalgum veio perguntar sobre aseleo de msicas para a noite doprimeiro jantar.

    Os corredores pareciam ruaslotadas, e cada canto do palciorufava com os preparativosapressados. Aguentei o melhor quepude at um dia encontrar meu paide passagem.

    Pensamos em criar um saloespecial para os Selecionados. Oque voc acha de

    Basta! bufei exasperada.

  • No quero saber. No fao ideia doque um garoto gostaria de encontrarem um espao de recreao. Sugiroque voc v perguntar a algum comtestosterona. Quanto a mim, estareino jardim.

    Meu pai percebeu que eu estava aponto de explodir, ento me deixoupassar sem discutir. Fiquei gratapelo breve descanso.

    De biquni, deitei de bruos sobreuma esteira no gramado perto dafloresta. Desejei, como tantas vezesantes, que tivssemos uma piscina.Eu era boa em conseguir o quequeria, mas meu pai nunca cederanessa questo. Quando o palcio

  • fosse meu, essa seria minha primeiradeciso.

    Esbocei vestidos em meu cadernona tentativa de relaxar. medidaque o sol me aquecia, o som dostraos rpidos do meu lpis semisturava ao agitar das folhas,compondo um som tranquilo eagradvel. Lamentei a perda de pazna minha vida. Trs meses, entoavapara mim mesma. Trs meses e tudovolta ao normal.

    Uma risada aguda poluiu aquietude do meu jardim. Josie,murmurei. Protegendo os olhos coma mo, virei para o lado e a vicaminhando em minha direo. Ela

  • estava com uma de suas amigas, umagarota de classe alta com quemescolhera se relacionarprecisamente porque a companhia nopalcio no era suficiente para ela.

    Fechei o caderno para escondermeus desenhos e deitei de costaspara s sentir a luz do sol.

    Ser uma boa experincia paratodos ouvi Josie comentar com aamiga. No tenho muitasoportunidades de interagir comrapazes, ento vai ser legal poderfalar com alguns. Um dia, quandoarranjarem meu casamento, queroser capaz de manter uma conversa.

    Fiz uma cara de tdio. Se eu

  • acreditasse que poderia me apegarminimamente aos rapazes, teriaficado incomodada com o fato deJosie achar que eles estariam ali porcausa dela. Mas, pensando bem, elaachava que tudo era por causa dela.E a ideia de que se considerava toimportante para ter um casamentoarranjado era cmica. Ela podiacasar com o primeiro cara comquem topasse na rua e ningumprestaria a menor ateno.

    Tomara que eu possa vir fazeruma visita durante a Seleo comentou a amiga. Vai ser todivertido.

    Claro, Shannon! Vou garantir

  • que todas minhas amigas possam vircom frequncia. Vai ser umaexperincia valiosa para vocstambm.

    Que gentileza oferecer a minhacasa e meus eventos comooportunidades de aprendizado paraas coleguinhas. Respirei fundo.Precisava me concentrar em relaxar.

    Eadlyn! Josie gritou ao mever.

    Resmunguei antes de erguer a mopara cumpriment-la, na esperanade que o silncio transmitisse meudesejo de privacidade.

    Muito empolgada com aSeleo? ela berrou enquanto se

  • aproximava.Eu no pretendia berrar de volta,

    ento fiquei calada. Logo Josie e aamiga estavam paradas bem naminha frente, encobrindo o sol.

    Voc no escutou, Eadlyn?Est empolgada para a Seleo?

    Josie nunca se dirigia a mim dojeito certo.

    Claro. Eu tambm! Acho que vai ser

    demais ter tanta companhia. Voc no vai ter companhia

    nenhuma lembrei a ela. Essesrapazes so meus convidados.

    Ela olhou para o lado como se eutivesse dito o bvio.

  • Eu sei! Mas ainda assim vaiser legal ter mais gente por perto.

    Josie, quantos anos voc tem? Quinze ela respondeu

    orgulhosa. Imaginei. Se realmente

    quisesse, tenho certeza de quepoderia sair e conhecer gente porconta prpria. Voc com certeza jtem idade para isso.

    Ela abriu um sorriso. Acho que no. No muito

    apropriado.No quis entrar de novo nessa

    discusso. Era eu quem no podiaresolver sair do palcio sem avisar.Inspees de segurana, anncios

  • cabveis e revises do protocolo:tudo isso era necessrio antesmesmo de eu cogitar a hiptese.

    Alm disso, precisava me mantersempre atenta s minhascompanhias. No podia ser vistacom qualquer um. Uma foto infelizno era apenas um registro: era umdocumento, um arquivo que podiaser ressuscitado sempre que osjornais precisassem me criticar. Eutinha que ser sempre extremamentecautelosa para evitar qualquersituao que pudesse manchar aminha imagem, a da minha famlia ea do pas inteiro.

    Josie era uma plebeia. No tinha

  • nenhuma dessas restries.No que isso a impedisse de agir

    como se tivesse. Bom, pelo menos voc tem

    companhia para o dia de hoje, ento.Se vocs duas no se importam,estou tentando descansar.

    Certamente, Alteza assentiua amiga, curvando a cabea. Tudobem, ela no era to ruim.

    Vejo voc no jantar! o tomde Josie revelava um entusiasmoexcessivo para isso.

    Tentei me acalmar e voltar arelaxar, mas a voz aguda de Josiecontinuava a me perseguir. No final,peguei a esteira e os desenhos e

  • voltei para dentro. Se no conseguiame distrair ali, talvez pudessepensar em outra coisa para fazer.

    Depois de tanta exposio ao solbrilhante de Angeles, parecia que jera noite dentro do palcio, e meusolhos levaram um tempo para seadaptar. Pisquei bastante na tentativade distinguir a pessoa que vinha emminha direo. Era Osten,caminhando apressado pelocorredor com dois livros nas mos.

    Ele enfiou os livros nos meusbraos e disse:

    Esconda no seu quarto, o.k.?Se algum perguntar, voc no meviu.

  • E sumiu to rpido quanto tinhaaparecido. Suspirei. Sabia que noadiantava nem tentar entender. svezes eu no suportava a presso deser a primognita, mas ainda bemque esse cargo era meu e no deOsten. Sempre que tentava imagin-lo no comando, ficava com dor decabea.

    Dei uma folheada nos cadernos,curiosa para saber o que eletramava. Descobri que nenhum dosdois era dele. Eram de Josie.Reconheci sua letra infantiloide e,como se isso j no fosse suficiente,os desenhos de coraes com osnomes dela e de Ahren dentro

  • deixavam tudo bem claro. Mas onome de meu irmo no era o nico.Poucas pginas depois ela estavaapaixonada por todos os quatromembros do Choosing Yesterday,uma banda popular, e logo emseguida por um ator. Qualquerfamoso interessante servia,aparentemente.

    Decidi deixar os cadernos nocho perto das portas do jardim.No importava o que Osten tivesseplanejado, nada seria pior que aprpria Josie tropear nos diriosquando entrasse, sem imaginar comotinham parado l ou quem os terialido.

  • Algum que se orgulhava tanto desua proximidade com a famlia realj deveria ter aprendido uma ouduas lies a respeito de discrio.

    Quando cheguei ao quarto, Neenaestava a postos e pegou minhaesteira para limpar. Joguei umaroupa qualquer por cima do corpo no estava muito no clima depensar no traje para o dia. Estavaprestes a dar um jeito no cabeloquando reparei em algumas pastassobre a mesa.

    A conselheira Brice deixouaqui para a senhorita Neenadisse.

    Olhei para as pastas. Embora

  • fosse meu primeiro trabalho deverdade em uma semana, no queriaser incomodada.

    Cuido delas mais tarde prometi, imaginando queprovavelmente no cuidaria. Talvezno dia seguinte. Aquele dia era meu.

    Prendi o cabelo, conferi amaquiagem e fui procurar minhame. A companhia me faria bem, etinha quase certeza de que ela nome pediria para escolher moblia oucomida.

    Encontrei-a no Salo dasMulheres, sozinha. Uma placa aolado da porta declarava que ocmodo na verdade se chamava

  • Biblioteca Newsome, mas jamaistinha ouvido algum se referir a elepor esse nome, com exceo daminha me de vez em quando. Era oespao onde as mulheres se reuniam,ento o ttulo original me pareciamais prtico.

    Antes mesmo de abrir a porta, jsabia que encontraria minha me ldentro porque podia ouvi-la tocarpiano, e sua msica erainconfundvel. Ela adorava mecontar a histria de como meu pai afez escolher quatro pianos novos cada um com caractersticasprprias depois que se casaram.Os pianos foram distribudos pelo

  • palcio. Um ficava na sute dela;outro, na de meu pai; o terceiro, noSalo das Mulheres; e o ltimo, emuma sala de estar raramente usadano quarto andar.

    Eu tinha inveja de como ela faziaaquilo parecer fcil. Me lembrei dequando ela me disse que um dia otempo levaria a destreza de suasmos embora, e ela s seria capazde pressionar uma ou duas teclas porvez. Por enquanto, o tempo tinhafracassado.

    Tentei fazer silncio, mas ela meouviu mesmo assim.

    Oi, querida cumprimentou,afastando os dedos das teclas.

  • Venha sentar comigo. No era minha inteno

    interromper disse, enquantocruzava o salo para sentar ao seulado na banqueta.

    Voc no interrompeu. Estavaespairecendo e j me sinto bemmelhor.

    Alguma coisa errada?Ela sorriu, relaxada, e acariciou

    minhas costas com a mo. No. S a correria do dia a dia

    respondeu. Entendo o que voc quer dizer

    disse, passando os dedos pelasteclas sem produzir som.

    Fico pensando que cheguei a

  • um ponto em que j vi de tudo,aprendi tudo sobre ser rainha. Malconcluo o pensamento e tudo muda.Existem Bom, voc j tembastante com o que se preocupar.No vamos nos incomodar com isso.

    Com algum esforo, um sorrisoreapareceu em seu rosto e, emboraeu quisesse saber o que apreocupava porque no fim dascontas os problemas dela tambmrecaam sobre mim , ela tinharazo. Eu no conseguiria lidar commais nada naquele dia.

    Aparentemente, ela tambm no. Voc se arrepende s vezes?

    perguntei ao ver a tristeza em seu

  • olhar, apesar do esforo paraescond-la. Se arrepende de terentrado na Seleo e se tornadorainha?

    Fiquei grata por ela noresponder sim ou no de imediato,mas refletir de fato sobre a questo.

    No me arrependo de tercasado com seu pai. s vezes mepergunto que tipo de vida eu teriasem a Seleo ou se no tivesse sidoescolhida. Acho que teria sido boa.Eu no seria exatamente infeliz, masno saberia o que estava perdendo.Mas o caminho at seu pai foidifcil, principalmente porque euno queria percorr-lo.

  • No mesmo? No foi ideia minha participar

    da Seleo ela respondeu,fazendo que no com a cabea.

    Meu queixo caiu. Ela nunca tinhame contado aquilo.

    De quem foi? No importa ela respondeu

    rpido. Mas posso dizer queentendo suas reservas. Acho que oprocesso vai lhe ensinar muito sobresi mesma. Espero que confie emmim quanto a isso.

    Seria bem mais fcil confiar seeu soubesse que vocs esto fazendoisso por mim e no em troca de umpouco de paz. Essas palavras

  • soaram um pouco mais speras doque era minha inteno.

    Minha me respirou fundo. Sei que acha que egosmo,

    mas voc vai ver. Um dia o bem-estar do pas vai recair sobre seusombros, e voc vai se surpreendercom o que ser capaz de tentar paraevitar que ele desmorone. Nuncaimaginei que teramos outra Seleo,mas os planos mudam quando ascircunstncias exigem isso de voc.

    As circunstncias tm exigidomuito de mim ultimamente rebati.

    Primeiro, maneire o tom devoz ela avisou. Segundo, vocs v uma frao do trabalho. No

  • faz ideia de quanta presso seu paitem que aguentar.

    Permaneci imvel, calada. Queriasair. Se ela no gostou do meu tomde voz, por que provocou?

    Eadlyn ela retomoucalmamente. Isso aconteceuquando tinha que acontecer. Mas, deverdade, cedo ou tarde eu fariaalguma coisa.

    Como assim? Voc parece fechada em certo

    sentido, desconectada do nossopovo. Sei que passa o tempo todopreocupada com as exigncias queter como rainha, mas j hora deconhecer a necessidade das outras

  • pessoas. E voc acha que no fao isso

    agora?Ser que ela no enxergava o que

    eu fazia o dia inteiro?Ela apertou os lbios. No, querida. No se seu

    conforto vem antes disso.Quis gritar com ela, com meu pai.

    Sim, eu me refugiava em longosbanhos de banheira ou com umabebida durante o jantar. No erapedir muito diante de tudo o quesacrifiquei.

    No sabia que voc meconsiderava to incapaz. Levantei e lhe dei as costas.

  • Eadlyn, no isso que estoudizendo.

    sim. Tudo bem.Caminhei at a porta. A acusao

    me deixava com tanta raiva que eumal conseguia suportar.

    Eadlyn, querida, queremos quevoc seja a melhor rainha que puder,s isso ela suplicou.

    Eu serei respondi, com ump no corredor. E com certezano preciso de um garoto para memostrar como.

    Tentei me acalmar antes de sair.A sensao era de que o universotramava contra mim, revezandogolpes para me derrubar. Repetia

  • para mim mesma que seriam apenastrs meses, apenas trs meses atque ouvi algum chorar.

    Tem certeza? parecia a vozdo general Leger.

    Falei com ela de manh. Eladecidiu ficar com ele respondeumadame Lucy, soluando.

    Voc disse que podamos darde tudo para o beb? Que temosmais dinheiro do que jamaispoderemos gastar? Que ns oamaramos sem nos importar com osproblemas? General Legerdespejava apressadamente aspalavras.

    Tudo isso e muito mais

  • insistiu madame Lucy. Eu sabiaque havia grandes chances de o bebnascer com alguma deficincia.Disse a ela que teramos condiesde atender a qualquer necessidadedele, que a prpria rainha cuidariadisso. Mas ela disse que conversoucom a famlia dela e que elesdecidiram ajudar. E que desde ocomeo ela nunca quis se desfazerdo beb; s considerou a adooporque acreditava que teria de tomarconta de tudo sozinha. E sedesculpou, como se isso melhorasseas coisas.

    Madame Lucy respirava fundo,como se tentasse silenciar os

  • soluos. Me aproximei da esquinado corredor para ouvir.

    Sinto muito, Lucy, de verdade. No h por que sentir. No

    culpa sua ela pronunciou essaspalavras com carinho e coragem. Acho que temos de aceitar queacabou. Anos de tratamento, tantasgestaes que no vingaram, trsadoes fracassadas Precisamosdesistir.

    Fez-se um grande silncio, at ogeneral Leger responder:

    Se voc acha que melhor. Acho ela disse. Sua voz

    soou firme, e ela se desfez emlgrimas novamente. Ainda no

  • consigo acreditar que jamais sereime.

    Depois de um segundo, seu chorocomeou a sair abafado, e entendique o marido a puxara contra o peitona tentativa de confort-la da melhormaneira possvel.

    Durante todos esses anos eusempre tinha pensado que os Legerhaviam escolhido no ter filhos. Aluta de madame Lucy jamais surgiranas conversas que presenciei. Elaparecia se contentar em brincarconosco quando ramos crianas. Eununca imaginara que esses momentosrepresentavam um golpe dolorosoconsiderando a situao que viviam.

  • Ser que minha me tinha razo?Ser que eu no era to observadorae cuidadosa quanto pensava?Madame Lucy era uma das minhaspessoas favoritas no mundo. Serque eu no deveria ter sido capaz deenxergar como estava triste?

  • 6TRINTA E CINCO CESTOS MEAGUARDAVAM l no escritrio,repletos do que deveriam serdezenas de milhares de inscries,todas deixadas em envelopes paragarantir o anonimato doscavalheiros. Tentei demonstraransiedade por causa da cmera, masna verdade estava a ponto devomitar em um daqueles cestos aqualquer momento.

    Seria um jeito de afunilar asopes.

    Meu pai ps a mo nas minhas

  • costas e disse: Muito bem, Eady. Voc s

    precisa caminhar at cada um doscestos e retirar um envelope. Vousegurar os envelopes sorteados paraque no fique com as mosocupadas. Depois, ns os abriremosao vivo no Jornal Oficial destanoite. simples assim.

    Para algo to simples, pareciaincrivelmente aterrador. Mas,pensando bem, eu vinha me sentindosobrecarregada desde o anncio daSeleo, ento essa apreenso j noera novidade.

    Ajustei minha tiara favorita eajeitei meu vestido cinza brilhante.

  • Queria garantir uma aparnciaradiante. Quando conferi meureflexo antes de ir para o andar debaixo, at fiquei um poucointimidada pela imagem no espelho.

    Ento eu literalmenteseleciono cada um deles? sussurrei na esperana de que ascmeras no estivessem pertodemais.

    Ele abriu um leve sorriso e faloubaixinho:

    um privilgio que eu nuncative. V em frente, meu amor.

    O que voc quer dizer? Mais tarde. Agora v ele

    insistiu, apontando para as pilhas e

  • mais pilhas de inscries.Respirei fundo. Eu ia conseguir.

    No importava o que as pessoasesperavam, eu tinha um plano. E erainfalvel. Sairia disso ilesa. Apenasalguns meses da minha vida nadase comparados ao todo e entovoltaria ao trabalho e me tornariarainha. Sozinha.

    Ento por que toda essahesitao?

    Cale a boca.Caminhei at o primeiro cesto.

    Um rtulo indicava que todos osconcorrentes ali eram de Clermont.Puxei um envelope da lateral dapilha. Os flashes das cmeras

  • piscaram e um punhado de gente atchegou a aplaudir. Minha me, todaemocionada, jogou os braos emvolta de Ahren, que por sua vez mefez uma careta sem ningumperceber. Madame Marlee suspiroude alegria, mas madame Lucy estavaausente. Osten tambm faltara, o queno era surpresa, mas Kaden estaval, observando tudo com interesse.

    Usei tcnicas diferentes para cadapilha. Em uma, peguei o envelope dotopo. No seguinte, enterrei o braoat o fundo para pescar minha carta.Aparentemente, deixei osespectadores vidrados quandocheguei a Carolina, a provncia natal

  • de minha me: peguei doisenvelopes, pesei-os por algunssegundos e em seguida devolvi umdeles ao cesto.

    Coloquei a ltima inscrio nasmos de meu pai. As palmas e osflashes das cmeras pararam. Abrium sorriso que imaginava serentusiasmante antes de os jornalistasdeixarem o recinto para apresentarsuas histrias exclusivas. Ahren eKaden se retiraram, fazendo piadaspelo caminho, e minha me me deuum beijo rpido na cabea antes deir atrs deles. J tnhamos voltado anos falar, mas no havia muito quedizer.

  • Voc foi maravilhosa meupai disse assim que ficamos a ss, ehavia um tom genuno de admiraoem sua voz. De verdade, seicomo pode ser assustador, mas vocfoi tima.

    Como voc sabe? pergunteienquanto colocava as mos nacintura. No foi voc que fez osorteio, foi?

    Ele engoliu em seco antes deresponder:

    Voc j ouviu por alto ahistria de como sua me e eu nosconhecemos. Mas existem pequenosdetalhes que melhor manterguardados. S vou lhe contar porque

  • acredito que isso vai ajud-la a vercomo tem sorte.

    Fiz que sim com a cabea, semsaber onde aquilo ia parar.

    Ele respirou fundo e comeou: Minha Seleo no foi uma

    farsa, mas passou bem perto disso.Meu pai escolheu todas asconcorrentes a dedo. Selecionoumoas com conexes polticas,famlias influentes ou charmesuficiente para fazer o pas inteirolamber o cho em que pisavam. Elesabia que era necessrio um poucode variedade para dar um ar delegitimidade coisa, ento trsCinco foram acrescentadas

  • mistura, mas nada abaixo disso. Elasserviriam para ser descartadas eevitar suspeitas.

    Notei meu queixo cado e fechei aboca no ato.

    Inclusive a mame? Ela deveria ter ido embora

    imediatamente. Verdade seja dita:ela mal sobreviveu s tentativas demeu pai de mudar minha opinio ouexpuls-la ele mesmo. E olhe paraela agora.

    O rosto de meu pai mudoucompletamente.

    Embora para mim tenha sidodifcil imaginar ele prosseguiu, ela ainda mais amada que

  • minha me. Gerou quatro filhoslindos, inteligentes e fortes. E temsido toda a felicidade da minhavida.

    Antes de concluir, meu pairepassou os envelopes em suasmos, olhando para o nada.

    No sei ao certo se acreditoem destino. Mas posso dizer que svezes aquilo que voc mais desejavai cruzar sua porta determinado a teevitar a qualquer custo. E, aindaassim, de algum jeito, voc descobreque suficiente para faz-lo ficar.

    At ento, eu jamais tiveramotivos para acreditar que noconhecia a histria de amor dos

  • meus pais do comeo ao fim. Mas,entre a confisso dele de que minhame sequer poderia ser consideradauma opo e a revelao dela de quenem queria participar do concursono incio, passei a me perguntarcomo eles conseguiram encontrar umao outro afinal.

    A expresso de meu pai deixavaclaro que nem ele era capaz deacreditar.

    Voc vai se sair muito bem,sabia? ele comentou, radiante deorgulho.

    Por que voc acha isso? Voc como a sua me e a

    minha. determinada. E talvez o

  • mais importante: no gosta defracassar. Sei que tudo isso vaifuncionar. No mnimo, porque vocvai se recusar a deixar o contrrioacontecer.

    Quase lhe contei, quase confesseique tinha lotado pginas e pginascom ideias para afugentar osgarotos. Ele tinha razo: eu noqueria fracassar. Mas, para mim,fracasso seria ter uma vidaconduzida por outra pessoa.

    Tenho certeza de que tudoacontecer como deve afirmei,com uma ponta de arrependimentona voz.

    Ele levou a mo at minha

  • bochecha e disse: Geralmente acontece.

  • 7O SET DO ESTDIO HAVIA SIDOLEVEMENTE REORGANIZADO.Geralmente, apenas Ahren e eu nossentvamos diante da cmera commeus pais, mas, naquela noite,Kaden e Osten tambm receberamlugares no palco.

    Os conselheiros do meu paificaram em cadeiras do lado opostos nossas, e no meio havia um potecom todos os envelopes que euhavia sorteado antes. Ao lado deleestava um pote vazio onde eu oscolocaria depois de abertos. Eu

  • tinha certas restries ideia de queeu mesma leria os nomes, mas issoao menos dava uma sensao decontrole. E eu gostava disso.

    Atrs das cmeras, os assentosestavam tomados por pessoasprximas famlia. O general Legerestava l, beijando madame Lucy natesta e sussurrando-lhe algo. Haviamse passado alguns dias desde que euouvira a conversa dos dois, masainda me sentia pssima por ela. Sehavia um casal no mundo quedeveria ter filhos, era o casal Leger.E se havia uma famlia no mundoque deveria ter o poder de resolveras coisas, era a famlia Schreave.

  • Contudo, eu ainda no fazia ideiade como ajudar.

    Madame Marlee estava mandandoJosie ficar quieta, provavelmenteporque a garota ria de uma piadaprpria que carecia de qualquernvel de graa. Jamais entendi comouma pessoa maravilhosa como elapde ter filhos to pssimos. Aminha tiara favorita? A que euestava usando? S era minhafavorita porque Josie entortara aminha primeira favorita e perderaduas pedrinhas da segunda. Ela notinha nem o direito de tocar nelas.Nunca.

    Ao lado de Josie, Kile lia um

  • livro. Porque, claro, tudo o queacontecia em nosso pas e em nossacasa era chato demais para ele.Ingrato.

    Ele deu uma espiada por cima dolivro, viu que eu o observava, fezuma careta e voltou a ler. Por queestava l?

    Como se sente?Minha me apareceu ao meu lado

    de repente e passou o brao pelomeu ombro.

    Bem.Ela sorriu. No tem como voc estar bem.

    Isso tudo aterrorizante. Ah, mesmo. Quanta gentileza

  • da sua parte me submeter a algoassim.

    Ela ensaiou uma risada, tentandodescobrir se j estava tudo bementre a gente.

    No acho que voc sejaincapaz ela disse em voz baixa. Penso mil coisas maravilhosassobre voc. Um dia saber o que se preocupar com os filhos. E eu mepreocupo com voc mais do quecom os outros. Voc no apenasuma garota, Eadlyn. Voc a garota.E eu quero tudo para voc.

    Fiquei sem saber ao certo o quedizer. No queria que brigssemosnaquela hora, no com algo to

  • grande prestes a acontecer. Como obrao dela ainda estava no meuombro, passei o meu pelas costasdela. Ela beijou o meu cabelo, bemabaixo da tiara.

    Me sinto bem desconfortvel confessei.

    Apenas lembre o que osgarotos esto sentindo. Isso muitoimportante para eles tambm. E opas ficar to alegre.

    Me concentrei na minharespirao. Trs meses. Liberdade.Moleza.

    Estou orgulhosa de voc eladisse, abraando-me uma ltima vez. Boa sorte.

  • Minha me saiu paracumprimentar meu pai. Ento foi avez de Ahren se aproximar,ajeitando o terno enquantocaminhava.

    No acredito que isso estacontecendo de verdade ele dissecom autntico entusiasmo na voz. Quero muito ter companhia.

    Por qu? Kile no basta paravoc? disse, cravando novamenteo olhar no garoto, que continuavacom o nariz enterrado no livro.

    No sei o que voc tem contraKile. Ele muito inteligente.

    Isso um cdigo para chato? No! Mas estou ansioso para

  • conhecer gente nova. Eu no disparei, cruzando

    os braos tanto para demonstrarminha frustrao como para meproteger.

    Ahhh, vamos l, irmzinha. Vaiser divertido.

    Ele olhou para os lados esussurrou:

    Posso at imaginar o que vocpreparou para os coitados.

    Tentei conter o sorriso, mas malpodia esperar para ver oscandidatos passarem vergonha.

    Ahren pegou um dos envelopes eo bateu de leve no meu nariz.

    Esteja pronta. Se voc j foi

  • alfabetizada, vai conseguir se virarbem nesta parte.

    Como voc irritante faleie lhe dei um soco no brao. Amovoc.

    Sei que ama. No se preocupe.Vai ser fcil.

    Fomos orientados a nos sentar.Ahren largou o envelope e me deu amo para me conduzir at meu lugar.As cmeras comearam a rodar, emeu pai iniciou o Jornal com umanotcia sobre um acordo comercialque estvamos prximos de assinarcom a Nova sia. Trabalhvamostanto em parceria com eles que eraat difcil imaginar que um dia

  • estivemos em guerra. Em seguida,meu pai tratou das leis de imigrao,e todos os conselheiros falaram, ata ministra Brice. Tudo aquilopareceu se arrastar por horas e, aomesmo tempo, acabou em uminstante.

    Quando Gavril anunciou meunome, precisei de um segundo paralembrar exatamente o que deveriafazer. Mas levantei, atravessei opalco e assumi meu posto diante domicrofone.

    Abri um sorriso e olhei diretopara a cmera, ciente de que todosos televisores de Illa estavamligados naquela noite.

  • Tenho certeza de que todosvocs esto to ansiosos quanto eu,por isso vamos pular a cerimnia eir direto ao assunto que todosquerem saber. Senhoras e senhores,saberemos agora quem so os trintae cinco rapazes convidados aparticipar desta revolucionriaSeleo.

    Levei a mo ao pote e tirei oprimeiro envelope.

    De Likely li, fazendo umapausa para abrir a carta , sr.MacKendrick Shepard.

    Exibi a fotografia do garoto.Enquanto o pblico aplaudia,guardei o envelope no outro pote e

  • me preparei para anunciar o segundosorteado:

    De Zuni sr. Winslow Fields.Uma breve salva de palmas vinha

    depois de cada nome.Holden Messenger. Kesley

    Timber. Hale Garner. EdwinBishop.

    Estava com a sensao de teraberto pelo menos cem envelopesquando finalmente peguei o ltimodeles. Minhas bochechas doam, eesperava que minha me no achasseruim se eu pulasse o jantar ecomesse sozinha no quarto. Achavaque merecia isso de verdade.

    Ah! De Angeles rasguei

  • o papel e puxei a ltima ficha. Sabiaque meu sorriso provavelmente tinhavacilado, mas no pude evitar. Sr. Kile Woodwork.

    Ouvi as reaes dentro doestdio. Vrios suspiros admirados,um punhado de gargalhadas, mas oque ouvi mais claramente, bvio, foia reao do prprio Kile. Ele deixouo livro cair.

    Respirei fundo e finalizei: Aqui esto. Amanh

    enviaremos representantes paracomear a preparar esses trinta ecinco candidatos para essa grandeaventura. E, dentro de uma brevesemana, eles chegaro ao palcio.

  • At l, juntem-se a mim paraparabeniz-los.

    Puxei as palmas, que o pblicologo seguiu, e fui para o meu lugartentando no parecer to enjoadaquanto estava.

    Eu no deveria ter me abaladotanto por encontrar o nome de Kileali. No fim das contas, nenhumdaqueles garotos tinha chance. Maseu sentia que alguma coisa estavamuito errada.

    Assim que Gavril concluiu oprograma, todos saltaram de seuslugares. Minha me e meu pai foramat os Woodwork. Fiz o mesmo,guiada pelas gargalhadas de Josie.

  • Eu no fiz isso! insistiuKile.

    Nossos olhos se encontraramquando me aproximei. Dava paraver que ele estava to irritadoquanto eu.

    E isso importa? perguntouminha me. Qualquer pessoamaior de idade tem permisso deinscrev-lo.

    Meu pai confirmou: verdade. A situao um

    pouco estranha, mas no tem nada deilegal.

    Mas eu no quero participardisso Kile implorou ao meu pai.

    Quem colocou seu nome?

  • perguntei. No sei ele respondeu,

    balanando a cabea. Comcerteza houve um engano. Por que euentraria se no quero competir?

    Minha me olhava para o generalLeger e os dois pareciam quasesorrir. Mas no havia nada deengraado nisso.

    Com licena! protestei. Isso inaceitvel. Algum vai fazeralgo em relao a isso?

    Sorteie outra pessoa Kileprops.

    O general Leger fez que no coma cabea.

    Eadlyn anunciou seu nome

  • para o pas inteiro. Voc ocandidato de Angeles.

    isso mesmo meu paiconcordou. A leitura dos nomesem pblico oficializa o candidato.No podemos substituir voc.

    Kile revirou os olhos. Ele semprerevirava os olhos.

    Ento Eadlyn pode meeliminar no primeiro dia.

    E mandar voc para onde? perguntei. Voc j est em casa.

    Ahren achou graa. Me desculpem comentou ao

    notar nossos olhares furiosos ,mas os outros no vo aceitar bemessa situao.

  • Podem me mandar embora decasa Kile sugeriu, animado.

    Pela centsima vez, Kile, vocno vai embora de casa! madameMarlee disse, com uma firmeza quenunca tinha visto. Ela ps a mo nastmporas e o sr. Carter a envolveuem seu brao e lhe falou ao ouvido.

    Voc quer ir para outro lugar? perguntei, incrdula. Umpalcio no bom o bastante paravoc?

    No a minha casa eledisse, levantando a voz. E, paraser bem honesto, estou cansadodaqui. Estou de saco cheio dasnormas, de ser sempre um hspede,

  • e principalmente da sua atitudemimada.

    A resposta me deixouboquiaberta.

    Pea desculpas! madameMarlee exigiu depois de dar um tapana cabea do filho.

    Kile cerrou os lbios e olhou parao cho. Cruzei os braos. Ele nosairia dali at me pedir desculpas. Eeu arrancaria essas desculpas dequalquer jeito.

    Finalmente, depois de chacoalhara cabea, Kile balbuciou um pedidode desculpas quase inaudvel.

    Desviei o olhar, nem um poucoimpressionada com o esforo dele.

  • Vamos em frente conforme oplanejado meu pai disse. Trata-se de uma Seleo como todasas outras. uma questo deescolhas. Por ora, Kile uma entremuitas opes, e com certeza podiaser pior.

    Valeu, pai. Conferi rapidamente aexpresso no rosto de Kile. Eleolhava para o cho e pareciaenvergonhado e bravo.

    Agora, acho que todos nsdeveramos comer alguma coisa ecomemorar. Foi um dia muitoemocionante.

    Verdade concordou ogeneral Leger. Vamos comer.

  • Estou cansada disse, dandoas costas. Estarei em meu quarto.

    No esperei autorizao. Nodevia nada para ningum naquelanoite. Estava dando a eles tudo oque queriam.

  • 8EVITEI TODO MUNDO DURANTE OFINAL DE SEMANA, e ningum pareceuincomodado por isso, nem mesmominha me. Com a divulgao dosnomes, a Seleo parecia muito maisreal, e fiquei triste pelos meusderradeiros dias de solido.

    Na segunda-feira anterior chegada dos candidatos, finalmentevoltei a dar o ar da graa e fui aoSalo das Mulheres. Madame Lucyestava l, aparentemente alegrecomo costumava ser. Eu continuavatentando pensar em um jeito de

  • ajud-la. Sabia que um cachorrinhono era o mesmo que um beb, masat o momento minha nica ideia eradar um filhote de presente a ela.

    Minha me conversava commadame Marlee, e as duas acenarampara mim no instante em que cruzei aporta.

    Quando sentei, madame Marleeps a mo sobre a minha.

    Gostaria de explicar o queKile disse. Ele no quer sair por suacausa. Faz tempo que fala sobre irembora daqui, e pensei que umsemestre fora encerraria o assunto.Eu no suportaria que ele partisse.

    Cedo ou tarde voc ter que

  • deixar o garoto escolher minhame encorajou. Engraado, justo elaque estava tentando casar a filhacom um estranho.

    No entendo isso. Josie nuncafala sobre ir embora.

    Revirei os olhos. Claro que nofalava.

    Mas o que voc pode fazer?No pode obrig-lo a ficar questionou minha me enquanto meservia uma xcara de ch.

    Vou contratar mais um tutor.Este tem experincia prtica e maisa oferecer a Kile do que livros.Acho que ganhei algum tempo. Ficona esperana de

  • Tia May irrompeu pela portacomo se tivesse sado de uma capade revista. Corri at ela e lhe dei umabrao de quebrar as costelas.

    Alteza ela cumprimentou. Cala a boca.Rindo, ela me segurou pelos

    ombros, me empurrou para trs eolhou nos meus olhos.

    Quero saber tudo sobre aSeleo. Como voc se sente?Alguns garotos daquelas fotos eramlindos. J est apaixonada?

    Nem perto disso respondientre risos.

    Bom, d alguns dias aosrapazes.

  • Era assim que as coisasfuncionavam com a tia May. Umnovo amor a cada seis meses, maisou menos. Ela tratava ns quatro e nossos primos, Astra e Leo como se fssemos seus filhos, j quenunca tinha sossegado. Euparticularmente gostava de suacompanhia, e o palcio sempreparecia mais animado quando elavinha.

    Por quanto tempo vai ficar? minha me perguntou.

    May se aproximou pararesponder, de mos dadas comigo.

    Vou embora de novo na quinta.Suspirei, decepcionada.

  • Eu sei. Vou perder toda aagitao! disse ela, fazendocareta para mim. Mas Leo temjogo na sexta tarde, a apresentaode dana de Astra no sbado, e euprometi que iria. Ela tem se sadomuito bem Tia May continuou,voltando-se para minha me. Dpara ver que a me era artista.

    As duas sorriram. Gostaria de poder ir minha

    me lamentou. Por que no vamos? sugeri,

    enquanto pegava uns biscoitos paraacompanhar o ch.

    Tia May virou para mim com carade dvida.

  • Voc tem conscincia de quej possui planos para este final desemana, certo? Grandes planos?Planos que vo mudar sua vida?

    Dei de ombros. No ligo muito se eu faltar. Eadlyn minha me

    censurou. Desculpe! Mas tudo to

    avassalador. Gosto das coisas dojeito que esto agora.

    Onde esto as fotos? Mayperguntou.

    No meu quarto, em cima daescrivaninha. Estou tentando decoraros nomes, mas no ainda noavancei muito.

  • Minha tia gesticulou para uma dascriadas.

    Querida, voc poderia ir aoquarto da princesa e pegar a pilha deformulrios dos candidatos daSeleo em cima da mesa?

    A criada ficou radiante e fez umareverncia, o que me levou asuspeitar que ela passaria os olhospelas fichas durante a volta.

    S queria lembrar disseminha me, voltando-se para a irm que, primeiro, esses garotosesto fora do seu alcance e, segundo,mesmo que no estivessem, voctem o dobro da idade deles.

    Madame Marlee e eu rimos,

  • enquanto madame Lucy apenassorriu. Ela pegava bem mais levecom a tia May do que ns.

    No provoquem madameLucy protestou. Tenho certeza deque May tem a melhor das intenes.

    Obrigada, Lucy. Nada disso para mim. para Eadlyn! minhatia jurou. Vamos ajud-la a jsair na frente.

    No bem assim que funciona disse minha me, reclinando-sena cadeira e tomando o ch com arde superioridade.

    Madame Marlee soltou umagargalhada.

    Voc dizendo isso! Ser que

  • esqueceu como voc saiu na frente? O qu? perguntei, chocada.

    Quantos detalhes daquela histriameus pais tinham omitido? O queela quer dizer?

    Minha me ps a xcara na mesa eergueu a mo para se defender.

    Eu cruzei com seu pai semquerer na noite anterior ao incio daSeleo ela disse, mais paramadame Marlee que para mim. Edigo a vocs que poderia ter sidoenxotada facilmente por causa disso.No causei a primeira impressoque as pessoas costumam esperar.

    Permaneci imvel, de queixocado.

  • Me, quantas regras vocquebrou exatamente?

    Seus olhos cravaram-se no tetocomo se ela estivesse fazendo ascontas.

    Certo Querem saber? Vejamas fotos quantas vezes quiserem.Vocs venceram.

    Tia May riu com prazer, e tenteimemorizar o jeito como sua cabeainclinava-se graciosamente para olado e seus olhos brilhavam. Tudonela tinha um glamour toespontneo, e eu a amava quasetanto quanto amava minha me.Embora me sentisse um poucoindignada por Josie ter sido minha

  • colega mais prxima parabrincadeiras durante a infncia, ocrculo de amigas da minha mecompensava. A vivacidade da tiaMay, a bondade de madame Lucy, aleveza de madame Marlee e a forada minha me no tinham preo;ensinavam mais que qualquer aulaque tive na vida.

    A criada voltou e ps a pilha deformulrios e fotos diante de mim.Para minha surpresa, madameMarlee foi a primeira a pegar umpunhado de fichas para folhear. TiaMay fez o mesmo em seguida, eminha me, embora no tivessepegado nenhum, esticou o pescoo

  • por trs do ombro da amiga paraespiar. Madame Lucy dava aimpresso de no querer ser curiosa,mas, no final, tambm acabou comuma pilha no colo.

    Ah, este aqui parece promissor minha tia comentou e enfiou afoto do rapaz na minha cara.

    minha frente havia um par deolhos escuros incrustados em umrosto cor de bano. O cabelo deleestava bem curto, e seu sorriso eraradiante.

    Baden Trains, dezenove anos,de Sumner.

    bonito minha me deixouescapar.

  • Sim, bvio May concordou. E, com esse sobrenome,provavelmente vem de uma famliade Sete. Diz aqui que est noprimeiro ano da faculdade depublicidade. Isso quer dizer que eleou algum da famlia tem muitadeterminao.

    Verdade madame Marleeconcordou. No pouca coisa.

    Separei mais um punhado defichas e passei a folhe-lasdistraidamente.

    E ento? Como se sente? minha tia perguntou. Tudo prontopara comear?

    Acho que sim.

  • Corri os olhos por um dosformulrios, procura de algo queparecesse remotamente interessante.Eu simplesmente no ligava paraaquilo.

    No comeo todo mundo ficouto tenso que pensei que no fosseacabar nunca acrescentei. Agora parece que todos os quartosesto prontos e a quantidade decomida j foi calculada. Com a listaoficial, os preparativos para traz-los para c devem comear amanh.

    Voc est parecendoanimadssima mesmo provocoutia May, me cutucando.

    Soltei um suspiro e cravei os

  • olhos na minha me. Mas vocs sabem que tudo

    isso no s por minha causa O que voc quer dizer,

    querida? madame Lucyperguntou, apoiando os papis nocolo e alternando o olhar entre mime a minha me, preocupada.

    Claro, esperamos que Eadlynencontre algum com quem valha apena se unir minha me comeou,esperta. Mas, por acaso, aSeleo vai acontecer num momentoem que precisamos de um plano paraacalmar os distrbios por conta dascastas.

    Ames! exclamou May.

  • Sua filha uma distrao? No! Sim resmunguei, enquanto

    tia May acariciava minhas costas.Era to bom t-la por perto.

    Cedo ou tarde, teramos queprocurar pretendentes. E a Seleono precisa terminar emcompromisso. Eadlyn e Maxonfizeram um acordo: se ela no seapaixonar, tudo ser cancelado. Poroutro lado, sim, Eadlyn estcumprindo seu papel de integranteda famlia real ao criar umadistraozinha enquanto a populaose tranquiliza e ns pensamos no quemais pode ser feito. E, devo

  • acrescentar, est funcionando. Est? perguntei. Voc no tem visto a

    imprensa? Voc o centro de tudoagora. Os jornais regionais estoentrevistando os candidatos, ealgumas provncias organizam festasna esperana de que o pretendentelocal seja o vencedor. As revistas japontam os principais concorrentes,e ontem vi uma reportagem sobre umgrupo de garotas que estavaorganizando um f-clube e usandocamisetas com o nome de seusfavoritos. A Seleo deixou o pasinteiro eletrizado.

    verdade confirmou

  • madame Marlee. E j no maissegredo que Kile mora no palcio.

    Tambm j descobriram queele no tem interesse em participar? perguntei, com mais irritao navoz do que pretendia. MadameMarlee no tinha culpa de todoaquele fiasco.

    No ela respondeu comuma risada. Mas, de novo: note