a guerra as drogas e a falência do paradigma proibicionista

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES INSTITUTO DE PSICOLOGIA Guerra às drogas: Da pesquisa a uma perspectiva anti-proibicionista através da análise histórica. Por YURI SILVEIRA DEVULSKY Monografia apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, como pré- requisito para obtenção do grau de Psicólogo.

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Monografia parcial apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIROCENTRO DE EDUCAO E HUMANIDADESINSTITUTO DE PSICOLOGIAGuerra s drogas: Da pesquisa a uma perspectiva anti-proibicionista atravs da anlise histrica.PorYuri Silveira DevulskyMonografia apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, como pr-requisito para obteno do grau de Psiclogo.

Orientadora: Heliana de Barros CondeRio de Janeiro RJDezembro/2013

Guerra s drogas: Da pesquisa a uma perspectiva anti-proibicionista atravs da anlise histrica. Yuri Silveira DevulskyMonografia submetida ao corpo docente do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, como parte dos requisitos necessrios obteno do grau de Psiclogo.Banca Examinadora:Profa: ____________________________________Heliana de Barros Conde - OrientadoraProfessor(a) IP/UERJProfa: ______________________________________Professor(a) IP/UERJProfa: ______________________________________Resumo:

A proibio das drogas ilcitas tem mais a ver com interesses morais, polticos e econmicos do que com argumentos cientficos ou relacionados sade pblica. Utilizando de uma anlise histrica pretendo corroborar a afirmao acima. Partindo de uma perspectiva social e econmica a monografia aponta em cada um de seus captulos as foras responsveis pela construo do modelo proibicionista que temos hoje. Os captulos finais so dedicados a apresentar uma pesquisa epidemiolgica realizada no CAPSad Man Garrincha, trabalho que produzido em conjunto com outros dois acadmicos bolsistas a fim de montar um perfil dos usurios da unidade.SumrioI- Introduo -------------------------------------------------------------------------------------1II-Breve histrico da relao dos homens com as drogas-----------------------3III-A proibio atravs dos tempos-------------------------------------------------------8IV-O atual cenrio-----------------------------------------------------------------------------16V-Custos Sociais e Econmicos --------------------------------------------------------21VI-O perfil epidemiolgico-----------------------------------------------------------------23

I- Introduo:

Ao longo do sculo, a complexidade presente nos problemas da drogadio aponta para um ensinamento de grande importncia: nenhuma abordagem totalitria capaz de resolv-la ou responder s suas complexas demandas. Por no tratar de uma receita mgica que uma vez pronunciada viria a eliminar as dificuldades em lidar com o tema, optei por tratar do tema abordando algumas perspectivas. Desse modo a questo das drogas ser abordada atravs dos seus sintomas sociais e econmicos sobre a nossa sociedade. Entendo que o tema exige antes de tudo uma reflexo que relacione, por exemplo, com os sistemas de valores culturais, com a excluso social, com sua construo e repercusso nas classes sociais, com a escalada desenvolvida junto represso e o posicionamento dos setores da sociedade e do Estado. Comumente as ticas utilizadas para entender tal problemtica reduzem-se a uma perspectiva puramente moral e deve ser antes uma questo de polcia ou seja caso de segurana pblica.

Um homem, em cada cinco, procura na droga algo diferente daquilo a que est acostumado a ver e pensar. Ludwig Lewin (1979) j se escrevia: exceo dos alimentos, no existem sobre a terra substncias que tenham estado to intimamente ligadas vida dos povos, em todos os pases e em todos os tempos, como as substncias que modificam a percepo humana. As possibilidades atuais so imensas, passamos desde as substncias naturais disponveis pela natureza ao homem at as artificiais produzidas em laboratrios sejam esse oficiais ou no.

Nosso breve passado proibicionista teve como nfase, tanto a nvel internacional como a nvel local, na questo de como as sociedades devem reagir ao uso e abuso das drogas. E ao que tudo indica a estratgia adotada atualmente no tem sido muito eficaz. Por esse motivo o conhecimento efetivo das razes que esto na base do uso e abuso dessas drogas fundamental, no s para a compreenso da origem dos problemas como para a identificao das estratgias mais adequadas para enfrentar essa questo.

Comeamos nossa odisseia pelo mundo das drogas com um pequeno alerta. Em nossa sociedade existe, infelizmente, muitas ideias pr-concebidas sobre o tema que so falsas e resultam tambm de uma reao primria e no informada. Alguns mitos alardeados pelo senso comum como, por exemplo, as generalidades dos jovens abusam de drogas; muitas dessas drogas matam; todos os que usam e abusam de drogas cometem crimes e que os utilizadores pertencem a grupos sociais e tnicos bem definidos refletem essa falta de informao.

Alguns desafios que enfrentamos so claros: os mais vulnerveis, que tipo de alternativas oferecer aos marginalizados? A resposta a esse desafio durante todo o sculo XX sintetiza-se como a "guerra da droga". Esse o paradigma daqueles combates cujos atores, dominados pelas emoes, creem poder vencer sem pensar. Daqueles que muitas vezes j enxerga o usurio de drogas como inimigo. Somos testemunhas do resultado dessa equao: nem o fenmeno das drogas foi vencido nem dele dispomos de conhecimento to solidamente fundado como desejaramos. Toda e qualquer estratgia para lidar com o tema est claramente limitada pela ideologia exposta acima, necessitando por isso de reviso e atualizao permanentes para que em futuro prximo possamos lidar com esse fenmeno de modo mais racional e menos moral. O uso de substncias entorpecentes pelo homem quase to antigo quanto sua prpria existncia. Foi utilizada por milhares de anos com finalidades religiosas, culturais, curativas, relaxantes ou simplesmente para a obteno do prprio prazer.II- Breve histrico da relao dos homens com as drogas:

Estudos arqueolgicos apontam o lcool como a primeira droga conhecida pelo homem, sendo o pio considerado a primeira dentre as que hoje temos como ilcitas. Discute-se at hoje qual teria sido descoberto primeiro, o lcool ou o pio, sendo que os defensores do pio argumentam que, diferentemente do lcool que necessita passar por um processo de destilao, o pio cru s necessita plantio e preparao da papoula, sendo, portanto, devido a tecnologia presente a poca, mais fcil a sua utilizao.

Logo em seguida nossos ancestrais experimentaram a maconha (estimada entre os sc. VIII ou VI a.c.). Que apesar de, nos dias atuais, estar difundida em todos os cantos do planeta, teve sua origem na sia Central. Foi no Sudeste Asitico que a Cannabis sativa passou a ser consumida da maneira atual, enrolada em papel e fumada, como cigarro, anteriormente se mastigava e comia ou ento se consumia atravs de infuses em forma de ch. A migrao da planta da sia Central para Europa foi rpida. Evidncias arqueolgicas apontam para a chegada da maconha no 3 milnio A.C ao continente europeu.

Os gregos, j no sculo 5a.c, conheciam os poderes da erva. Herdoto relatou o uso da maconha pelos povos da regio do mar Negro, que rapidamente se espalhou no bero da civilizao ocidental. No Egito Antigo, estava presente tanto como fibra quanto para fins recreativos e medicinais. Os sufistas, membros de uma tradio mstica do Islamismo, acreditavam que a maconha tinha poderes curativos.

Durante o Imprio Romano, a maconha foi conhecida pelo contato entre os mesmos e os indianos, e servia como fonte de fibras e para fins medicinais. No ano 100 d.c, o cirurgio romano Dioscorides, que cuidava de Nero, batizou a planta com o nome pelo qual conhecida nos dias atuais: cannabis sativa.

A maconha atravessou o Oceano Atlntico e chegou a Amrica do Norte possivelmente com os primeiros colonizadores, que utilizavam muito suas fibras, tendo seu primeiro cultivo em Nova Scotia, no Canad, em 1606. Em seguida espalhou-se para os Estados Unidos da Amrica. Na Amrica Central, a maconha tornou-se popular no Mxico no sculo 19, e tornou-se um estilo de vida na Jamaica. Trazida pelos indianos e pelos ingleses no final do sculo 19, a maconha encontrou o lugar ideal para crescer, tanto por conta do clima como por parte da populao, composta por muitos rastafris, religio que cultua o seu uso como a planta sagrada. Na Amrica do Sul, a droga chegou em 1554 com os colonizadores espanhis plantando inicialmente na Argentina e no Peru.

Trazida por escravos africanos a maconha chega ao Brasil e origina-se deste perodo o nome mais popular atribudo cannabis, que popularmente conhecida como maconha, que vem do idioma quimbundo, de Angola. Sendo que at o sculo XIX, era mais usual chamar a erva de fumo-de-angola ou de diamba, nome muito utilizado no Maranho e adjacncias nos dias atuais.

A papoula por sua vez remonta um histria de aproximadamente quatro mil anos acompanhando nossos ancestrais. Os sumrios, povo do sul da Mesopotmia, vizinho da Sria, descobriram que o sumo da Papoula (Papaver somniferum) uma bela flor encontrada no Oriente Mdio, continha propriedade calmante, sonfera e anestsica. Descobria-se ento o pio, derivado da papoula, utilizado como matria-prima para remdios.

Nas cavernas desses ancestrais foram encontradas cpsulas de Papaver somniferum, de onde se extrai o pio. Escritos mesopotmicos datados de 3100 A.C j se referiam papoula do pio como a planta da alegria. Egpcios, rabes, romanos e gregos faziam uso medicinal da planta para tratar elefantase, epilepsia e picadas de escorpio. O imperador Nero usou as propriedades venenosas do pio para destronar Britannicus. No sculo VII, turcos e rabes descobriram que cheirando a fumaa do suco de papoula solidificada, obtinha-se efeitos mais poderosos. Passaram ento a vender droga, sobretudo na ndia e na China. Com a expanso das rotas comerciais, no sculo XVIII, o pio tomou conta da Europa.

No sculo 19 ocorreram s primeiras guerras da era moderna envolvendo a questo das drogas, e por mais incrvel que parea foram guerras em prol do livre comrcio desta substncia. A guerra foi encabeada pela Inglaterra que mantinha um lucrativo comrcio do pio com as ndias Orientais.

As chamadas guerras do pio ocorreram em 1839 e 1856, motivada por interesses opostos a atual lgica proibicionista. Os ingleses realizavam grandes lucros com o fomento da produo de pio na costa oriental da ndia e, especialmente, com a exportao do produto para a China, que continha uma populao de cerca de 2 milhes de pessoas onde o consumo de pio era feito regularmente pelos mesmos. As vendas do pio, promovidas pela East ndia Company, chegou a representar a sexta parte do total da renda obtida pela ndia Britnica e dessa forma era um claro sustentculo do poder do colonizador. O pio tambm era consumido na Europa, nos opiarios, que existiam nas principais cidades europeias, onde o pio era livremente consumido pelas pessoas.

Foi a que o ento imperador chins Lin Tso-Siu decidiu, apreender e destruir, alegando estar agindo em prol da sade pblica, um carregamento de 1360 toneladas de pio, fato que culminou na primeira declarao de guerra da Inglaterra China, guerra essa que objetivou a manuteno do livre comrcio de pio pela Inglaterra. Considerando a atitude do Imperador Chins uma injustia contra os seus sditos, a Rainha forou o Parlamento Ingls a autorizar o envio de tropas para obter reparaes, culminando com a guerra vencida pela Inglaterra. Com a derrota, a China foi obrigada a pagar indenizao a Inglaterra, alm de ceder Hong Kong para instalao de uma base naval inglesa e entrepostos comerciais coroa Inglesa. Em 1856, a Inglaterra contou com o apoio da Frana para a sua segunda guerra do pio, at a primeira metade do sculo XX a Frana tambm havia realizado seus lucros com a importao, produo e venda de pio da Indochina, onde tinha, desde 1889, o monoplio estatal daquelas atividades.

No comeo do sculo XIX surgem dois novos produtos derivados da papoula: morfina e herona. O alemo Frederick Seturner, no ano de 1805, a partir do pio bruto, conseguiu isolar a morfina. Essa por sua vez associada a inveno da seringa, em meados do sculo XIX, iniciou o uso injetvel da morfina, tornando-se um poderoso anestsico quando do uso intramuscular. Durante a guerra entre Frana e Alemanha, nos anos de 1870-1871 foi extremamente popularizada e a partir da comeava o uso abusivo dessa droga. Devido ao fcil acesso, a morfina tornou-se uma grande criadora de dependncia na classe mdica.

A partir da morfina, o alemo Alfred Dresser, isolou o diacetil da morfina denominando-a heroisch (Herona) que no idioma alemo significa forte, potente. A substncia passou a ser produzida em escala comercial, por Adolf Von Bayer, tendo no ano de 1924 sido considerada ilegal, aps provado que provocava dependncia fsica e psicolgica.

No fim do sculo XIX outro derivado do mundo vegetal chega aos sales Europeus: a cocana. Um derivado qumico da coca, folha comum encontrada na regio Andina (Bolvia, Colmbia e no Peru), utilizada desde tempos ancestrais pela populao indgena e campesina na forma mascada, chegando aos EUA, atravs do Laboratrio Parke Davis.

O pio foi inserido nos Estados Unidos pelos mesmos operrios chineses da guerra do pio enquanto trabalhavam como mo-de-obra barata na rodovia transcontinental estadunidense. Enquanto no Mxico a civilizao Asteca mascava o cactus peyote (poderoso alucingeno) e nos Andes os Incas mascavam as folhas de coca (estimulante). Fica claro o intenso uso de substncias psicoativas durante toda a histria da humanidade. Juntamente com a hipocrisia e ambivalncia a seu respeito, na medida em que at mesmo a Igreja Catlica, atravs dos jesutas, defendeu o livre comrcio sobre a coca. A Igreja chegou a cobrar impostos, sendo a produo desta planta estimulada pelos espanhis no perodo colonialista.

Os espanhis estimularam intensamente o consumo de coca.

Era um esplndido. No sculo XVI, gastava-se tanto em

Potos, em roupa europeia para os opressores como em coca para os

ndios oprimidos. Quatrocentos mercadores espanhis viviam em

Cuzco, do trfico de coca, nas minas de Potos, entravam anualmente

cem mil cestos, com um milho de quilos de folhas de coca. A Igreja

cobrava impostos sobre a droga. O inca Garcilaso nos diz, em seus

comentrios reais, que a maior parte da renda do bispo, dos cnegos

e demais ministros da igreja de Cuzco provinha dos dzimos sobre a

coca, e que o transporte e a venda deste produto enriqueciam a muitos

espanhis.

(KARAM apud ZACCONI, 2007, p.77).III- A proibio atravs dos tempos:

No incio do sculo XX, aps ser muito utilizada no passado, as drogas comeam a ser proibidas. Em 1909 a Liga das Naes, um embrio do que hoje seria a Organizao das Naes Unidas, convocou uma reunio para a formao da Comisso de Xangai. Tal comisso tinha como objetivo tratar da questo do pio. Os Estados Unidos, interessados em diminuir a sua concorrncia com a Inglaterra na sia via com bons olhos a proibio do pio. Estava claro que nesse momento o primeiro interesse proibitivo era de cunho econmico.

A princpio no era inteno dos Estados Unidos ir alm do pio em sua incurso aos mercados chineses, porm a Inglaterra principal prejudicada com a conveno de Haia condicionou sua participao no acordo internacional mediante a proibio de outras substncias como derivados do pio, herona e cocana. Tais substncias eram produzidas pelas suas principais concorrentes no cenrio econmico internacional e a Inglaterra no iria arcar com todo o prejuzo sozinha.

A partir desse momento cada pas passou a cumprir o acordo internacional de acordo com a convenincia econmica e poltica. Nesse momento nos de primordial importncia focar no modo estadunidense de enfrentamento, a poltica criada para o enfrentamento da questo das drogas utilizada internacionalmente possui no solo americano a sua manjedoura.

Aps a conveno de Haia nenhum outro pas investiu tanta energia em uma poltica proibicionista como os Estados Unidos e a partir de l que algumas de suas principais caractersticas como o carter moralista e conservador tomam forma. Em 1914 o congresso pressionado a criar o Harrison Act.

Harrison Narcotic Act, lei mais complexa e severa que os

acordos internacionais j assinados e que investia na

proibio explcita de qualquer uso de psicoativos

considerados sem finalidades mdicas. Da Lei Harrison deve

se mencionar uma importante novidade: o texto criava as

figuras do traficante e do viciado, respectivamente aquele que

produz e comercializa drogas psicoativas irregularmente e

aquele que consome sem permisso mdica. O traficante

deveria ser preso e encarcerado; o usurio, considerado

doente, deveria ser tratado, mesmo que compulsoriamente.

(RODRIGUES apud ZACCONI, 2007, p. 82).

A partir dessa lei cria-se pela primeira vez a figura do traficante e do usurio e ento, em quase todas as sociedades, as polticas sociais e de sade para a questo das drogas foram pensadas a partir de um imediato preconceito, estando totalmente descaracterizada de uma anlise mais profunda do fenmeno.

Olmo (1990) observa que sempre foram difundidos discursos alarmistas e conformistas que ajudaram a ocultar as dimenses psicolgicas, sociais e econmicas das drogas. A autora indica que a partir desse perodo foram criadas ideologias pelo governo estadunidense, algumas referendadas por organismos internacionais como a ONU, que contriburam para a veiculao da atual poltica anti-drogas e orientava a realizao de interveno em diversos pases.

A origem dessa concepo moralista e proibicionista acontecem junto da constituio do problema social das drogas. Alguns determinantes de carter religioso, moral e poltico so claramente percebidos. De acordo com Fiore (2004) entre as causas desse pioneirismo estadunidense destaca-se a antipatia da sociedade americana pelas substncias psicoativas e os estados alterados de conscincia por elas provocados assim como a preocupao das elites polticas e econmicas com os excessos das classes ou raas vistas como perigosas. A fim de conter esses excessos, vistos como uma ameaa ao projeto de nao estadunidense foram estabelecidas formas de fiscalizao e proibio das drogas baseados no desenvolvimento de um modelo coercitivo que ainda hoje se faz presente.

Ainda que baseados em meias verdades os empresrios morais, apresentavam-se como a salvao da civilizao no tocante as drogas. Desse modo vendeu-se a ideia de que o horror as drogas protege melhor a coletividade, sendo, portanto, conveniente sade pblica. Foram criadas nessa poca uma grande gama de campanhas que estigmatizavam, desvalorizavam e associavam certos comportamentos ao uso de determinadas substncias ilcitas. Essa cruzada realizada em prol dos bons costumes dificultou a discusso dos verdadeiros propsitos proibicionistas, fato que contribuiu para o etiquetamento de certas classes e movimentos sociais internos dos Estados Unidos que eram contra a hegemonia da elite branca e protestante.

No Brasil percebemos um estigma semelhante a respeito da comunidade afrodescendente, mais especificamente em relao a Cannabis Sativa, justamente por compor um forte componente de resistncia cultural e tradicionalmente utilizada em seus terreiros de candombl. Fazer uso da erva aqui era tido como coisa de negro e estava sempre associada as classes mais pobres e humildes do pas.

Aps essa primeira investida moral sobre as drogas a medicina convocada a prestar seu parecer a respeito da questo. A concepo moral somou-se ao discurso mdico que por ser supostamente neutro e cientfico contribuiu ainda mais para tornar menos evidente os aspectos econmicos, religiosos e tnicos da questo.

Presentes desde o incio das polticas de proibio nos Estados Unidos, os esteretipos morais e mdicos apresentavam um alvo muito bem escolhido, que ao associar o uso de substncias ilcitas aos imigrantes chineses, mexicanos e negros legitimou e garantiu que toda essa populao estivesse sob a constante vigilncia e controle do aparato repressivo do estado.

O objetivo implcito nesse tipo de manobra revela-se sob a seguinte anlise. No se pode proibir algum de ser negro ou pobre, mas pode-se criminalizar algo associado aos seus costumes ou cotidiano de modo que por simplificao e similaridade todo um grupo seja enquadrado em uma categoria de risco. Assim mantem-se o controle sobre tais grupos ameaando a sua liberdade.

No final do sculo XIX um movimento muito influente em vrios pases, inclusive no Brasil, chamado Liga da Temperana conquista um grande objetivo e conseguem a proibio do lcool nos Estados Unidos. A liga da temperana era formada tipicamente por senhoras da sociedade e sacerdotes, possua como valor pilar a temperana. Temperana uma virtude profundamente enraizada na moral crist, ela que modera a atrao dos prazeres, assegura o domnio da vontade sobre os instintos e proporciona equilbrio nos bens usados.

Assim que a lei de proibio ao lcool foi aprovada um conhecido evangelista da poca declarou: O Reino das Lgrimas est terminado. Os cortios em breve sero apenas uma memria. Transformaremos nossas prises em fbricas e nossas cadeias em armazns e celeiros. Os homens andaro eretos, as mulheres sorriro e as crianas riro. E o inferno ser posto para alugar .

Apesar da possvel bem intencionada declarao do evangelista estadunidense, o que se produziu a partir da no poderia ser mais diferente. Logo que a proibio foi promulgada uma grande quantidade de bares clandestinos surgiram pelas cidades dos Estados Unidos. Chamados speakeasies (algo como fale baixo) esses bares vendiam principalmente destilados com alto teor de lcool, j que a cerveja ocupa muito espao e difcil de esconder. H registros de que o nmero de bitos por intoxicao alcolica foi s alturas. Por mais contraditrio que parea, tais bares clandestinos eram frequentados por todo tipo de gente incluindo policiais, juzes e polticos distintos. Com a proibio os preos das bebidas subiram enormemente e o negcio passou a movimentar muito dinheiro.

A polcia at conseguia fechar alguns bares clandestinos, afinal todo mundo sabia onde eles estavam. O problema maior era interromper o fluxo de bebidas, pois enquanto o dono do bar tinha endereo fixo o verdadeiro operador da logstica por trs do trfico de bebidas podia estar em qualquer lugar. Os lucros do comrcio ilegal so to altos que os ajustes logsticos mais dispendiosos valem a pena.

O sentimento de impunidade tomou conta da sociedade que observava os traficantes andando livremente pela cidade e com o bolso cheio de dinheiro. A resposta dos governantes foi clara, aumentar a represso. Sendo mais difcil traficar as bebidas alcolicas os preos tambm aumentaram, o negcio passou a ser mais lucrativo visto que o mercado remunera o risco. Os amadores e aventureiros se retiravam do negcio na medida em que esse passou a exigir um profissionalismo diminuindo desse modo a concorrncia. O dinheiro flua de tal modo por esse mercado que sobrava o suficiente para pagar propinas para o chefe de polcia local, os juzes e polticos da regio. Assim o comrcio ilegal tambm contribua para a corrupo local.

A maior represso no estava fazendo efeito e as pessoas continuavam a consumir bebidas alcolicas, a medida tomada para tentar conter a impunidade foi endurecer as penas. Em 1929 as penas eram 10 vezes mais rigorosas que em 1920. Aqueles que se aventuravam vendendo apenas um drinque poderiam ser condenados a cinco anos de cadeira e pagar uma multa de 10 mil dlares. Os custos para manter essa proibio subiram de 2,2 milhes de dlares em 1920 para 12 milhes em 1929. A populao carcerria estadunidense pulou de 3 mil para 12 mil entre 1920 e 1932. Todas essas medidas continuavam sem surtir efeito, prender os donos de bares clandestinos era como enxugar gelo. Para cada sujeito preso, um novo era recrutado. Pouco a pouco os policiais endurecidos por anos de trabalho infrutfero e frustraes comearam a ficar mais violentos e os ndices de homicdios dispararam. O dia a dia do comrcio ilegal de bebidas estava cada vez mais sanguinrio.

Essa proibio absurda, geradora de tantos custos sociais e econmicos caiu somente aps a crise de 1929 que varreu a economia estadunidense. A essa altura a sociedade no poderia dar-se ao luxo de gastos astronmicos com uma proibio ineficaz. Aps 1933, ano de abolio da proibio, os ndices de homicdios caram por onze anos consecutivos.

Poderamos pensar que aps essa experincia marcadamente negativa com a proibio do lcool, os polticos estadunidenses fariam uma reavaliao global das polticas de proibio repensando modelos alternativos de enfrentamento da questo. Afinal o modelo que preconizava uma guerra ao lcool mostrou-se totalmente falho. Acontece que na dcada de 30 a lista de substncias proibidas foi ampliada chegando a vez de a maconha ser proibida.

Durante a dcada de 30 surge um novo captulo na histria da proibio que ir influenciar o modo como eram pensadas as polticas pblicas para as drogas internacionalmente. Nesse momento surge uma figura chamada Harry Anslinger, um administrador de empresas que trabalhava em Washington nos anos 20. Era o encarregado pelo escritrio que aplicava a proibio ao lcool e com o fim da ilegalidade do lcool teve seu emprego ameaado. Foi ento que pediu transferncia para outra agncia governamental, o escritrio federal de narcticos. Seu trabalho no era grandioso como na poca da Lei Seca, visto que os maiores problemas com usurios de narcticos eram donas de casa dependentes de remdios baseados em opiceos e veteranos de guerra viciados em morfina. Um problema realmente srio, porm pequeno visto que os usurios dessas drogas tinham um nmero bem reduzido.

At meados da dcada de 30 a maconha no era considerada droga. Era utilizada para fins medicinais e popularmente usada com fins recreativos por imigrantes mexicanos. Anslinger precisava de um novo inimigo, um inimigo que o ajuda-se a recuperar e justificar um oramento para seu escritrio como nos tempos da Lei Seca. Desse modo Anslinger elegeu a maconha como a mais nova ameaa aos estadunidenses, comeou a construir o monstro atravs da mdia conseguindo reportagens que apontavam a maconha como uma droga mortal, bem pior que a herona, responsvel por transformar homens em monstros, fazia meninas se matarem logo aps a primeira tragada.

Reportagens sensacionalistas como essas era o entendimento a respeito de preveno na poca. Pensava-se que ao amedrontar a populao essa por sua vez no chegaria nem perto do monstro. Os jornais tambm perceberam que esse era um timo modo de vender notcias. Como j vimos anteriormente, faz parte da natureza humana usar substncias que afetam a mente, assim como ter tabus relacionados a ela.

Foi com essas reportagens que Anslinger convenceu os distintos polticos de Washington de que a maconha era uma sria ameaa aos Estados Unidos da Amrica. Apenas um mdico foi chamado a participar das audincias sobre o tema, William Woodward, o ento presidente da Associao Nacional de Medicina, que por sua vez se ops veementemente a proibio acusando a proposta de ser uma farsa, baseada em boatos sem comprovao.

A proibio parece ter pegado carona em outra problemtica muito cara aos estadunidenses, com a queda da Bolsa de Valores ocorrida em 1929 a economia ainda estava recuperando seu vigor na dcada de 30. A grande depresso econmica na qual os Estados Unidos foram lanados parece ter sido o impulso econmico que faltava para garantir a proibio da maconha. Essa substncia possui-a o uso muito restrito entre a populao estadunidense, porm era de grande uso e aceitao entre os mexicanos que vinham do sul. Com a grande recesso esses mesmo mexicanos passaram a ser vistos com maus olhos visto que agora se tornavam mo-de-obra competitiva. Ainda nos anos de 1910 os estados da fronteira j comearam a proibir a maconha. Com base em boatos que acusavam a maconha de tornar seus usurios promscuos, induzia-os a comportamentos criminosos ou ento lhes dava fora sobre-humana e que desse modo criava vantagens injustas no mercado de trabalho. A Califrnia foi a primeira, em 1913. Em seguida o Mississipi, onde foi vastamente associada com os filhos e netos de escravos.

Foi assim que Anslinger, utilizando-se dos mitos e sua enorme influncia junto ao Congresso dos Estados Unidos, conseguiu que em 1937, exatos quatro anos aps o fim da proibio ao lcool, a promulgao da Marijuana tax Act (Lei Tributria sobre a Maconha.) que proibia o cultivo e a comercializao da Cannabis Sativa em solo estadunidense.

Anslinger iria eternizar-se no comando do FBN por mais 32 anos, tempo suficiente para moldar no s a poltica de drogas estadunidense como a poltica de drogas internacional. Por dcadas defendeu a proibio global rgida e violenta, conseguindo que em 1961 a Conveno nica sobre Drogas Narcticas fosse assinada fazendo com que o mundo inteiro comprometem-se com o combate as drogas, nos termos de Anslinger.IV- O Atual Cenrio:

A partir da dcada de 60 uma srie de transformaes polticas e sociais desembocou em grandes mudanas na poltica internacional de combate ao trfico de drogas. Nesse momento da histria estabelecido o modelo mdico-jurdico em contraposio o modelo moral. Agora o uso usurio de drogas era conhecido como dependente qumico, um doente que precisa de tratamento. Tal mudana foi enormemente impulsionada pela mudana de perfil dos usurios, se antes eram os indesejveis imigrantes mexicanos que consumiam drogas agora eram os prprios jovens da classe mdia branca que passaram a fazer uso das mesmas.

Era o incio da dcada da rebeldia juvenil, da chamada

`contracultura, das buscas msticas, dos movimentos de

protesto poltico, das rebelies dos negros, dos pacifistas, da

Revoluo Cubana e dos movimentos guerrilheiros na

Amrica Latina, da Aliana para o Progresso e da Guerra do

Vietn. Estava-se transformando o `American Way of Life`

dos anos anteriores; mas sobretudo era o momento do estouro

da droga e tambm da indstria farmacutica nos pases

desenvolvidos, especialmente nos Estados Unidos. Surgiam

as drogas psicodlicas como o LSD com todas as suas

implicaes, e em meados da dcada aumenta violentamente

o consumo de maconha, j no s entre os trabalhadores

mexicanos, mas tambm entre os jovens de classe mdia e

alta.

(DEL OLMO apud ZACCONI, 2007, p.86).

Um novo protocolo na dcada de 70 assinada pela Conveno nica sobre Estupefacientes rediscutiu a poltica internacional de drogas a partir dessas novas transformaes sociais e culturais. Novos atores foram apresentados, pois o consumo de drogas j no era mais exclusividade dos guetos. Esse novo protocolo construdo a partir do modelo mdico-jurdico tem como principal caracterstica distinguir o vendedor, definido como traficante, do consumidor, definido como doente.

Na realidade, tais medidas apenas serviram pra confirmar uma ideologia da diferenciao que propem ao consumidor um mdico, um psiclogo e um assistente social. Principalmente se este consumidor for branco e da classe mdia. Para o traficante, que geralmente pertence as classes menos favorecidas oferecido, se ele tiver sorte, um carcereiro.

Cria-se um novo captulo na histria da proibio das drogas, o consumo de substncias proibidas passa a ser uma questo de segurana nacional culminando na declarao de guerra as drogas. O uso de drogas associada a contracultura tornou-se a arma por excelncia de resistncia a ordem vigente pelo jovens estadunidenses e assim essa mistura passa a ser vista como o mais novo inimigo interno.

No Brasil, apesar de ter uma realidade econmica e social muito distinta das encontradas nos Estados Unidos, adotam o modelo mdico-jurdico estadunidense em 10 de fevereiro de 1967 atravs do decreto-lei nmero 159. Mas foi somente com a lei 5.726/71 que o Brasil entrou definitivamente no jogo repressivo, de acordo com a poltica internacional no que diz respeito a legislao antidrogas at ento vigente a poca. Com relao ao discurso mdico-jurdico, a nova legislao deixou de considerar o dependente como criminoso, mas no diferenciou o usurio eventual do traficante, sendo considerada apenas uma passagem entre o modelo repressivo anterior e a nova legislao.

A atual poltica de drogas brasileira adotada no ano de 2006 refora o discurso mdico-jurdico para diferenciar o usurio do traficante. Tal diferenciao fica bem clara no artigo 4 a observncia do equilbrio entre as atividades de preveno do uso indevido, ateno e reinsero social de usurios e dependentes de drogas e represso sua produo no autorizada e a seu trfico ilcito, visando a garantir a estabilidade e o bem-estar social (art. 4, IX).

Resumindo, fortalece-se um modelo de preveno para os usurios criando-se um processo de descriminalizao dos mesmos enquanto continua-se com o programa punitivo para aqueles que estejam associados de alguma forma ao trfico de drogas.

Os nmeros relacionados aos efeitos colaterais dessa guerra as drogas no Brasil impressionam. Os dados dos custos sociais e econmicos nunca foram avaliados com clareza, mas com base nas fontes do Escritrio das Naes Unidas para Crimes e Drogas (UNODOC) estima-se que 10% do Produto Interno Bruto nacional sejam gastos com Segurana e Sade Pblica.

Entre 1980 e 2000 morreram 2.07 milhes de brasileiros morreram de causas no naturais, entre essas causa os homicdios lideram as estatsticas. O grupo mais afetado so os jovens do sexo masculino com faixa etria entre 15 e 29 anos. Dos homicdios registrados eles respondem por 16.000 mortes sendo 75% vtimas de armas de fogo. Dos quase 50.000 homicdios registrados a cada ano, uma grande proporo est relacionado ao trfico de drogas.

Estima-se que 200 mil pessoas estejam envolvidas diretamente com o trfico de drogas no Brasil, sendo que aproximadamente 10% da fora de trabalho do narcotrfico seja composto por crianas e adolescentes. Esses jovens entram para o trfico como aviezinhos que so os responsveis pela entrega das drogas. Como esses menores geralmente vm de famlias pobres passam a constituir importante fonte de renda para as mesmas alm de ganhar respeito na comunidade.

Por serem protegidos por lei e a pequena possibilidade de serem presos esses jovens so assediados pelo trfico. Como as opes em termos de renda e participao na sociedade so extremamente reduzidas alternativa que resta a associao ao trfico.

Esse atual quadro produz a informao bastante difundida de que hoje est em curso, nas metrpoles brasileiras, uma guerra civil. Tal imagem construda diariamente pelas notcias sangrentas das mdias hegemnicas parece justificar e legitimar as perseguies e violaes de certos grupos sobre outros. As classes dominantes utilizam dessa propaganda para produzir as medidas de exceo''. A guerra civil cria um inimigo interno e ao inimigo interno no resta outro destino ao de ser combatido e eliminado. Durante o perodo da ditadura militar Erasmos Dias, ento secretrio de segurana pblica de So Paulo faz a seguinte declarao ao falar da morte de Carlos Marighella:

O inimigo voc destri, rapaz! Estando numa guerra, no

prende inimigo, no, que conversa essa? Durante certo

tempo, a gente tinha at uma filosofia diferente, mas, quando

ns sentimos que estvamos em uma guerra, ele nos

destruindo partimos para destruir, vai fazer o que?

Ao final dos anos 80 com o fim dos governos militares a imprensa passou dar especial destaque questo da violncia nos grandes centros urbanos. A crena nesse estado de guerra apodera-se principalmente das classes mdias e altas, que aterrorizadas com a possvel violncia encastelam-se em seus condomnios fechados protegidos por guardas armados. A principal consequncia desse esquema o fortalecimento de uma concepo de segurana pblica militarizada. Pela lgica o militar o inimigo deve ser morto, eliminado. Produz-se a crena de que bandido no gente e esse marginal que de modo geral negro ou mulato, pobre e pouco escolarizado contribuiu para a construo de um crena geral na qual dependendo da sua raa, cor ou condio financeira, o sujeito estar predisposto a realizar atos que agridem no s a moral e os bons costumes, mas que ferem a lei.

A crena na inferioridade do pobre e na sua periculosidade justifica a violncia com que os mantenedores da ordem agem contra os segmentos mais pauperizados da populao. O argumento de que vivemos em uma guerra civil serve para justificar o extermnios daqueles que poderiam ser perigosos para o sistema dominante. Considerados uma ameaa em uma sociedade amedrontada a poltica para assegurar a segurana a Lei de Talio e a produo desse terror naturaliza a violncia a qual estamos expostos.

No que diz respeito ao poder exercido pelos rgos do sistema penal no controle de substncias ilcitas, a funo repressiva apenas uma das facetas do exerccio desse poder. Juristas argentinos indicam que o sistema penal exerce um controle disciplinar vertical, militarizado e disciplinar. Desse modo este poder exerce controle sobre uma infinidade de comportamentos agindo de forma substancialmente configuradora da vida em sociedade e distinta da funo meramente repressiva. Prender, processar e julgar indivduos que cometem os delitos descritos como trfico de drogas to somente uma parcela do controle social na questo envolvendo substncias ilcitas.

O exemplo mais gritante desse controle social exercido pelo sistema penal encontra-se, no Rio de Janeiro, nos territrios conhecidos como favela local de moradia da populao mais pobre da cidade. Nesses locais fica claro que o sistema penal para alm de somente reprimir, exercita um poder de vigilncia disciplinar, de uso cotidiano, seja restringindo a liberdade de ir e vir, atravs de prises para averiguao, ou restringindo a reunio e lazer das pessoas, como na proibio dos Bailes Funks sob o pretexto de reprimir a apologia ao trfico. O indivduo passa ento a ser percebido pela sociedade no nvel de suas virtualidade e no dos seus atos. Como bem indica Michel Foucault: Toda a penalidade do sculo XIX passa a ser um controle, no tanto sobre se o que fizeram os indivduos est em conformidade ou no com a lei, mas ao nvel do que podem fazer, do que podem fazer, do que so capazes de fazer, do que esto sujeitos a fazer, do que esto na iminncia de fazer. . Tal dinmica do poder penal nos ajuda a entender como a criminalizao das drogas, ao invs de proteger a sade pblica, acaba por criar uma rotina punitiva de cartas marcadas, que se inicia no projeto legislativo de aumento de penas e restries liberdades individuais daqueles que so literalmente escolhidos para responder pela conduta definida como trfico de drogas, bem como na criao de carreiras criminais nas penitencirias para estes selecionados.A falcia no discurso jurdico penal a respeito da guerra contra as drogas fica clara quando observamos o principal objetivo ao formularem-se as leis contra o narcotrfico. Todas essas condutas punidas pela lei tm por escopo a proteo de um bem chamado sade pblica. Um conceito de sade pblica encontrado no dicionrio de direito penal do ministro do STJ Vicente Cernicchiaro: Interesse do Estado de preservao e normal funcionamento do organismo dos membros da sociedade.Oras, imaginemos se um dia um pesquisador resolve-se estudar e comparar as pessoas mortas pelas drogas, por overdose, debilitao progressiva ou qualquer outro motivo, com o nmero de pessoas mortas pela guerra contra as drogas.

Fica claro que a atual poltica criminal repressiva em relao as drogas evidentemente ofende mais a sade pblica que prpria circulao dessas substncias. Se o direito busca proteger a sade pblica, como entender que a violncia criada pelo conflito contra o trfico no Rio de Janeiro tenha atingido nveis superiores aos da guerra de Bush no Iraque?

Outro indicador da falta de congruncia do sistema penal deve-se ao fato das drogas lcitas causarem resultados lesivos em nmeros reconhecidamente maiores do que as drogas ilcitas. O lcool e o fumo, que so drogas lcitas, causam mais danos sade pblica do que as ilcitas como a cocana e maconha. Alerta a OMS em relatrio lanado em Braslia.IV-Custos Sociais e Econmicos:

A dependncia de drogas um problema que acarreta grandes custos a sade pblica. De acordo com o Ministrio da Sade estima-se uma perda de 7,9% do PIB com perda de produtividade e bitos prematuros. Atravs do DATASUS encontramos as cifras gastas em termos de tratamento para os usurios: US$ 35 milhes por ano. Essa estimativa baseada nas despesas diretas e indiretas ocorridas em 2003 com despesas mdicas e internao.

A tabela abaixo indica como o lcool lidera o nmero de internaes:Tabela 1: Causas da internao

Causas da internaoCausas %

lcool

84,5

Outras substncias psicotrpicas8,3

Cocana

4,6

Maconha1,3

Inalantes0,2

Outras1,1

Fonte: UNODC, 2008

Um aspecto envolvendo a questo das drogas a torna um problema srio a ser pensado, a interface entre drogas e violncia. O ciclo do trfico e a falta de alternativas a renda ilcita gera so fatores geradores dessa violncia. Estudos demonstram que a violncia relacionada a armas de fogo se tornou uma realidade cotidiana na sociedade brasileira, afetando principalmente jovens em reas urbanas do Brasil. O trfico de drogas ilcitas, associado falta de oportunidades e as grandes disparidades socioeconmicas, contribuem enormemente para os nveis extremamente altos de violncia.

Nenhum fator nico consegue produzir um entendimento pleno no tocante a violncia. Porm podemos indicar que essa resulta de interaes dinmicas envolvendo mltiplos determinantes que incluem fatores individuais e sociais.

A mortalidade por armas de fogo no Brasil ultrapassam a de pases reconhecidamente em estado de guerra civil. Como indica a seguinte tabela:Tabela 14: Mortalidade anual causada por armas de fogoPasMomento e natureza do conflitobitos bitos/Ano

BrasilArmas de Fogo 1993 - 2003325.55132.555

ChechniaMovimento de libertao 199450.00025.000

EtipiaDisputas territoriais 1998 - 200050.00025.000

GuatemalaGuerra Civil 1970 - 1994400.00016.667

AlgriaGuerra Civil 1992 - 199970.00010.000

Guerra do GolfoDisputas territoriais 1990 - 199110.00010.000

El SalvadorGuerra Civil 1980 - 199280.0006.667

Armnia/Azerbaijo Disputas territoriais 1988 - 199430.0005.000

NicarguaGuerra Civil 1972 - 197930.0005.000

Timor LesteIndependncia 1974 -2000100.0003.846

Fonte: Mortes por Armas de Fogo no Brasil entre 1979 e 2003. Braslia: UNESCO, 2005V-O Perfil Epidemiolgico:

No presente captulo apresento uma pesquisa realizada no CAPSad Man Garrincha como requisito para a concluso do estgio acadmico bolsista promovido pela prefeitura da cidade do Rio de Janeiro. Escolher trabalhar traando um perfil epidemiolgico surgiu da percepo de que estava tornando-se necessrio organizarmos e termos uma ideia mais clara de quem eram os usurios da unidade da sade.

O trabalho foi idealizado e construdo por trs acadmicos bolsistas que estavam alocados na unidade, sendo um estudante de medicina, uma de farmcia e um de psicologia. Refletiu o meu primeiro contato com a questo das drogas e foi o ponta p inicial para me aprofundar, desconstruir e reconstruir meu posicionamento a respeito dessa questo. Por esse motivo entendi que a pesquisa, por mostrar um posicionamento inicial em minha formao, merecia estar representada nessa monografia.

O consumo de substncias psicoativas uma caracterstica comum a populaes da maioria dos pases, inclusive a do Brasil, sendo o tabaco e o lcool as mais utilizadas. Muitas variveis (ambientais, biolgicas, psicolgicas e sociais) atuam simultaneamente para influenciar a tendncia de qualquer pessoa vir a usar drogas.

Pergunta-se: qual o campo em que se situam as drogas? A resposta muito variada e heterognea, tanto pelas disciplinas e cincias que se ocupam da rea das substncias psicoativas, como pelos diferentes lugares que a droga ocupa na vida fsica, psquica, legal e social do usurio e da comunidade. O uso de drogas situa-se em uma encruzilhada temtica. O fenmeno diz respeito ao campo sociolgico, mdico, psicolgico, jurdico, etimolgico, psicanaltico, educacional, familiar e o religioso. Na pluralidade das interfaces desses campos que o fenmeno da droga se situa.No Brasil, a Portaria n 224, de 29 de janeiro de 1992, do Ministrio da Sade (Lei Federal 10.216, assinada no dia 6 de abril de 2001), conhecida como Lei da Reforma Psiquitrica Brasileira, regula as internaes psiquitricas e promove mudanas no modelo assistencial aos portadores de sofrimento mental, destacando-se o processo de desinstitucionalizao que visa superar o mero processo de desospitalizao, a ser implementado atravs de diretrizes para o atendimento nos servios de sade mental, normatizando vrios servios substitutivos como: atendimento ambulatorial com servios de sade mental (unidade bsica, centro de sade e ambulatrio), Centros e Ncleos de ateno psicossocial (CAPS/NAPS), Hospital-Dia (HD), Servio de urgncia psiquitrica em hospital geral, leito psiquitrico em hospital-geral, alm de definir padres mnimos para o atendimento nos hospitais psiquitricos, at que sejam totalmente superados, criando tambm os Servios Residenciais Teraputicos em sade mental, para pacientes de longa permanncia em hospitais psiquitricos.Com a funo de enfatizar o tratamento a usurios de lcool e outras drogas na reabilitao e reinsero social, o Ministrio da Sade instituiu, por meio da Portaria GM/816 de 30 de abril de 2002, a criao de uma rede de assistncia em servios de sade e sociais interligadas ao meio cultural e com base nos princpios da Reforma Psiquitrica4.A Portaria n. 2197 do Ministrio da Sade de 14 de outubro de 2004, com a funo de redefinir e ampliar a ateno integral para usurios de lcool e outras drogas, institui a Poltica de Ateno Integral a Usurios de lcool e Outras Drogas, definindo diretrizes de interao entre a ateno bsica, servios de CAPS AD, unidades hospitalares especializadas e rede de suporte social complementar rede de servios disponveis no SUS11. Noes do territrio e funo do CAPSad O CAPS AD integra a rede de servios em Sade Mental, composta por Centros de Ateno Psicossocial I, II e III (CAPS I, II e III) e Centro de Ateno Psicossocial Infantil (CAPSi). Atualmente, a rede de Sade Mental carioca conta com 22 CAPS, alm de outros 5 os quais esto sendo implantados no ano de 2012. Dentre estes, temos 5 CAPS AD sendo 2 implantados em 2012. O CAPS AD um dispositivo articulado com a rede integral de Sade Mental da cidade destinado ao tratamento de usurios de lcool e outras drogas no seu territrio. O municpio do Rio de Janeiro, particularmente, dividido, no mbito territorial, em reas programticas (APs). No caso deste estudo, o CAPS AD Man Garrincha abrange a rea programtica 2.2(AP 2.2), cobrindo, principalmente, a regio da Tijuca e Maracan. O CAPS AD aberto populao, e funciona como um dispositivo substitutivo internao. De acordo com a Poltica do Ministrio da Sade para a Ateno Integral a usurios de lcool e outras Drogas, um CAPSad tem como objetivo oferecer atendimento populao, respeitando uma rea de abrangncia definida, oferecendo atividades teraputicas e preventivas comunidade, buscando:1. Prestar atendimento dirio aos usurios dos servios, dentro da lgica de reduo de danos;2. Gerenciar os casos, oferecendo cuidados personalizados;3. Oferecer atendimento nas modalidades intensiva, semi-intensiva e no-intensiva, garantindo que os usurios de lcool e outras drogas recebam ateno e acolhimento;4. Oferecer condies para o repouso e desintoxicao ambulatorial de usurios que necessitem de tais cuidados;5. Oferecer cuidados aos familiares dos usurios dos servios;6. Promover, mediante diversas aes (que envolvam trabalho, cultura, lazer, esclarecimento e educao da populao), a reinsero social dos usurios, utilizando para tanto recursos intersetoriais, ou seja, de setores como educao, esporte, cultura e lazer, montando estratgias conjuntas para o enfrentamento dos problemas;7. Trabalhar, junto a usurios e familiares, os fatores de proteo para o uso e dependncia de substncias psicoativas, buscando ao mesmo tempo minimizar a influncia dos fatores de risco para tal consumo;8. Trabalhar a diminuio do estigma e preconceito relativos ao uso de substncias psicoativas, mediante atividades de cunho preventivo / educativo. 14Anlise de Dados e DiscussoSexo

necessrio, no mnimo, refletir acerca da diferena numrica relacionada varivel sexo. A partir disso fizemos algumas consideraes a respeito das peculiaridades existentes entre mulheres, homens e o uso de drogas.Estudos comparativos de gnero descrevem comportamentos diferenciados para homens e mulheres usurios de lcool e outras drogas, sendo as expresses desses comportamentos originadas na formao, na educao de meninos e meninas, quando a identidade de gnero vai se constituindo.Um aspecto a ser considerado a preservao da auto-imagem, relacionada ao preconceito diante das mulheres que consomem drogas. A representao de que o consumo de drogas um comportamento desviante e de que a mulher que adota tal conduta est contrariando as normas sociais, diante da possibilidade de no cumprir os papis sociais e culturais a elas destinados, quais sejam: me, esposa e cuidadora da famlia e do lar, contribuem para a possibilidade de que as mulheres faam um consumo s escondidas, dificultando sua entrada no servio.As diferenas fisiolgicas entre homens e mulheres determinam distintos agravos de sade para ambos. Para as mulheres, os problemas de sade decorrentes do consumo de drogas alm de incidirem diretamente em seus corpos, podero afetar tambm o feto, quando estas engravidam. Alteraes no ciclo menstrual, na fertilidade, na gestao, no parto, no risco de contrair e de desenvolver doenas sexualmente transmissveis so frequentemente registradas entre mulheres usurias.Outro fator a ser pontuado relacionado prostituio, que surge como forma de garantir o acesso droga ampliando, assim, tambm os riscos de infeco por HIV e demais doenas sexualmente transmitidas.Faixa Etria:

No grfico da faixa etria percebemos a maior incidncia de usurios acima dos 34 anos, estando a busca por tratamento associada aos danos causados pelo abuso de substncias psicoativas. Os principais danos so problemas sociais, doenas ou acidentes e esto relacionados com o padro de uso (quantidade e frequncia) e substncia utilizada.A possibilidade da ocorrncia de maior proporo entre usurios de lcool com mais idade deve-se ao surgimento dos danos associados ao longo perodo de uso e da falta de percepo quanto gravidade de sua condio clnica e psicossocial, o que dificulta a construo de uma demanda espontnea para tratamento. Um fato que refora tal aspecto no presente estudo a proporo de usurios de lcool que buscaram tratamento no CAPSad aps serem encaminhados por outros servios.Foi possvel percebermos essa dinmica a partir do grupo de recepo, onde muitos usurios chegavam aps problemas familiares, acidentes e perda do emprego, sendo assim encaminhados para o servio. Procedncia:

No que se refere a procedncia, 16% advm de Demanda Espontnea. Percebe-se, assim, uma maior insero do CAPSad no contexto territorial, demonstrando maior conhecimento do servio como estratgia de interveno acessvel e direta.5Uma considervel parcela de 16% representam os Dados no constatados, ressaltando uma questo importante sobre o correto preenchimento dos pronturios, alertando aos profissionais a atual desorganizao nesse quesito. observado que a maioria dos encaminhamentos advm de Servio da rede de sade. Esses dados demonstram uma articulao importante do servio com as redes de ateno e com o territrio.O raciocnio o mesmo para as demais secretarias e rgos pblicos, pois muitos usurios possuem complicaes sociais e profissionais severas, que necessitam de orientaes, inclusive judiciais em alguns casos. Mas a principal necessidade desta interlocuo entre os setores est na acessibilidade do usurio na rede de cuidados preventivos e de promoo sade e no atendimento humanizado. 1 CID10: No que diz respeito aos atendimentos hospitalares, provocados pelo abuso de substncias psicoativas, levantamentos realizados apontam o lcool como maior responsvel por internaes causadas por dependncia de substncias psicoativas.6 Semelhana tambm encontrada em nossa pesquisa, que mostra o lcool como sendo a substncia psicoativa mais utilizada entre os pacientes (correspondendo a 43%).Esse dado relevante em relao ao lcool pode estar associado com o fato de que o mesmo uma das poucas drogas psicotrpicas que tem seu consumo admitido e incentivado pela sociedade. De acordo com a Organizao Mundial da Sade (OMS), a mortalidade e limitao da condio funcional associada ao consumo de bebidas alcolicas superam aquelas associadas ao tabagismo.9

No presente estudo a cocana/crack ocupa o segundo lugar das substncias mais utilizadas entre os usurios. A Cocana a segunda droga ilegal mais consumida no mundo, atrs somente da maconha. Na transio para os anos 80, porm, a substncia voltou a ganhar destaque entre as sociedades ocidentais, como uma droga glamorizada, sintonizada ao ambiente workaholic dos grandes centros urbanos. Este contexto, no qual a cocana se tornara a principal atrao, foi contrastado menos de dez anos depois, pelo surgimento do crack. Essa apresentao, ao contrrio da anterior, disseminou-se especialmente em locais socialmente excludos, tendo os jovens em situao de rua e os usurios de drogas injetveis (UDIs) seus principais adeptos. Tal mudana foi rapidamente detectada pelos servios de atendimento bem como pela mdia. Em meados dos anos 90, os usurios de cocana e crack passaram a ser o grupo de usurios de drogas ilcitas que mais procuravam tratamento nos ambulatrios e servios de internao para dependncia de substncias psicoativas12.As semelhanas entre os dados encontrados nas internaes hospitalares e nos dados de nossa pesquisa indicam que o CAPSad acompanha a demanda de tratamento, revelando-se um bom dispositivo substitutivo das internaes. Tipo de Tratamento:

Em relao ao tipo de tratamento, ao que consta no grfico, a maior parte dos usurios encontra-se em tratamento no intensivo. Poucos foram os casos constatados na modalidade de tratamento intensivo e com isso, infere-se que no so muitos os usurios com alto grau de comprometimento com o uso de drogas. Esta, porm, no foi a realidade observada por ns acadmicos. Observamos que havia muitos casos intensivos e semi-intensivo, mas poucos no intensivos. Essa disparidade est relacionada, com o fato de, muitas vezes, alguns profissionais no atualizarem os dados no pronturio, foram justamente esses dados que serviram como referncia para a nossa pesquisa. Medicao Contnua:

Quanto a varivel medicao contnua, notrio que grande parte dos usurios faz uso de medicao psiquitrica contnua. Esses resultados so bastante similares aos encontrados em outros dois estudos, realizados em Fortaleza (91% dos pacientes faziam uso de terapia medicamentosa rotineiramente) e Iguatu-CE(89%). Assim, pode-se chegar concluso que a medicalizao ainda est altamente presente na rotina do CAPS, ou seja, a utilizao de psicofrmacos continua sendo um importante recurso na estratgia de tratamento destes pacientes. Junto medicalizao, h outras opes teraputicas de suma importncia: grupos, oficinas teraputicas, culturais e de gerao de renda, como grupos teraputicos com usurios e com familiares, roda de samba, oficina de percusso, oficina de Carnaval, de bijuterias, pipas, cermica, artesanato, rdio, entre outros. Observamos que os casos acompanhados no CAPS so de grande complexidade, pois so, em sua maioria, casos graves, onde muitas vezes o paciente est em alto risco e vulnerabilidade social, fazendo-se assim necessria a conduta medicamentosa. Ano de Entrada:

Levando em conta o ano de entrada no servio, observamos que a maior parte dos usurios foi acolhida no ano de 2008/2009. Isso decorre do fato, provavelmente, do CAPS AD Man Garrincha, ter iniciado suas atividades no perodo de maio de 2008. Os pacientes que adentraram antes da data mencionada acima so oriundos do NAAD (Ncleo de Ateno de lcool e Drogas), um servio ambulatorial extinto o qual teve parte de sua clientela encaminhada ao CAPS AD Man Garrincha. Resultados:

A amostra estudada indica predominncia de dependentes do sexo masculino, dos usurios, (80,43%) eram do sexo masculino e (19,57%) do sexo feminino. interessante notar que esses dados do CAPSad so diferentes dos CAPS I, II e III, especializados em egressos de hospitais psiquitricos e portadores de transtornos mentais graves, onde o predomnio de mulheres, girando na faixa dos 60%, sendo os homens presentes em 40%. No que diz respeito a varivel Procedncia, 54% correspondem a encaminhamentos originados dos Servios da rede de sade, seguido por demanda espontnea (16%) e pelos dados no constatados (16%). Em relao ao tipo de tratamento, do total de 138 pronturios levantados, 15 % estavam em regime de tratamento intensivo, 40% semi-intensivo e 45 % no-intensivo. Considerando o uso de medicao contnua, 6 %(n=8) no usavam e 94 %(n=131) usavam medicao contnua. Observando a varivel Faixa Etria foi possvel constatar que, tanto nos gneros masculino e feminino, a maior parte dos usurios encontra-se na faixa acima dos 34 anos (61% no sexo feminino e 82% no sexo masculino). Analisando os usurios de acordo com a Escolaridade a maioria (26%) no sabe ler/escrever, seguido de 20% de usurios que possuem o Ensino Fundamental Completo. Investigando o indicativo Ano de Entrada viu-se que 2009 foi, at agora, o ano com maior admisso de pacientes no servio (30%), seguido do ano de 2011 com 25%. No que se refere a varivel CID 10 notamos que 43% dos pacientes fazem uso de lcool, correspondendo a maioria analisada. 36% e 11% fazem uso de Cocana/Crack e Canabinides, respectivamente.IV-Referncias Bibliogrficas:1-(Andreoli, 2004; 329 Psicologia & Sociedade; 21 (3): 324-333, 2009 Pelisoli & Moreira, 2005; tomasi et al., 2008) [acesso 20 novembro 2012]. Disponvel em: (http://www.scielo.br/pdf/psoc/v21n3/a05v21n3.pdf)2- Polit DF, Hungler BP. Fundamentos da pesquisa em enfermagem. Porto Alegre(RS): Artes Mdicas; 1995. [acesso 20 novembro 2012]. Disponvel em: (http://www.scielo.br/pdf/ean/v11n4/v11n4a22.pdf)3- Cesar B.A.L Alcoolismo feminino: Um estudo de suas peculiaridades Resultados preliminares [acesso 20 novembro 2012]. Disponvel em: (http://www.scielo.br/pdf/jbpsiq/v55n3/v55n3a06.pdf)4-Rocha Velho, Srgio Ricardo Belon da. Perfil Epidemiolgico dos Usurios deSubstncias Psicoativas Atendidos no CAPS AD, Londrina PR. [acesso 20 novembro 2012]. Disponvel em: (http://www.uel.br/pos/saudecoletiva/Mestrado/diss/112.pdf)5-Gomes de Faria, Jeovane e Ribeiro Schneider, Daniela. O Perfil dos Usurios do CAPSad Blumenau e as Polticas Pblicas em Sade Mental. [Acesso 20 novembro 2012]. Disponvel em: (http://www.scielo.br/pdf/psoc/v21n3/a05v21n3.pdf)6- Noto AR, Galduroz JCF. O uso de drogas psicotrpicas e a preveno no Brasil. Cinc Sade Colet. 1999; 4(1). [Acesso 20 novembro 2012]. Disponvel em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81231999000100012&lng=pt&nrm=isso.7-- BRASIL. Ministrio da Sade. Lei n 10.216, de 06 de abril de 2001. Dispe sobre a proteo e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em sade mental. Braslia. Disponvel em: . Acesso em: 20 de novembro de 2012.8- - BRASIL. Ministrio da Sade. Secretaria de Ateno Sade. DAPE. Coordenao Geral de Sade Mental. Reforma psiquitrica e poltica de sade mental no Brasil. Documento apresentado Conferncia Regional de Reforma dos Servios de Sade Mental: 15 anos depois de Caracas. OPAS. Braslia, novembro de 2005.9- Inqurito Domiciliar sobre Comportamentos de Risco e Morbidade Referida de Doenas e Agravos no Transmissveis. Brasil, 15 capitais e Distrito Federal 20022003. Acesso em: 20 de novembro de 2012 s 13h.10-PORTARIA SAS/MS n 224, de 29 de janeiro de 1992. Acesso em: 20 de novembro de 2012 s 13h.11-PORTARIA N 2.197/GM Em 14 de outubro de 2004. Acesso em: 20 de novembro de 2012 s 13h.12- Lgia Bonacim Duailibi, Marcelo Ribeiro, Ronaldo Laranjeira. Perfil dos usurios de cocana e crack no Brasil Acesso em 20 de novembro de 2012 s 13h.13- AMARANTE, P. A (clnica) e a Reforma Psiquitrica. In: Amarante, P. Arquivos de Sade Mental e Ateno Psicossocial. Rio de Janeiro: NAU Editora, 2003.14- A POLTICA DO MINISTRIO DA SADE PARA A ATENO INTEGRAL A USURIOS DE LCOOL E OUTRAS DROGAS15- Regimento Interno do CAPS ad Man Garrincha.16-MINAYO, M C S. O desafio do conhecimento pesquisa qualitativa em sade. 5. ed. So Paulo-Rio de Janeiro: HUCITEC-ABRASCO,1998.17-ZACCONI, Orlando. Acionistas do nada: quem so os traficantes de drogas. Rio deJaneiro: Revan, 2007.18-ONU - Organizao das Naes Unidas. Apresenta documentos sobre a poltica de combate as drogas ilcitas. Disponvel em: .19-Foucault, Michel. A verdade e as formas jurdicas. Rio de Janeiro: PUC-RJ e Nau Editora, 2001.

20-CERNICCHIARO, Luiz Vicente. Dicionrio de direito penal. Braslia: Universidade de Braslia, 1974.

Esse trecho faz parte de um sermo do evangelista cristo americano Billy Sunday (1862-1935), um jogador de baseball aposentado que se converteu e foi muito influente na campanha pela Proibio.

Militante Poltico, dirigente da ALN (Ao Libertadora Nacional), morto em uma emboscada em So Paulo.

Entrevista dada ao reprter Joo de Barros e citada em JOS?. Carlos Marighella: O Inimigo nmero um da ditadura militar. So Paulo: Casa Amarela, 1997, p.32

Foucault, Michel. A verdade e as formas jurdicas. Rio de Janeiro: PUC-RJ e Nau Editora, 2001.

CERNICCHIARO, Luiz Vicente. Dicionrio de direito penal. Braslia: Universidade de Braslia, 1974.

Termo utilizado por Franco Rotelli para caracterizar, no uma mera desospitalizao como vinha sendo feito por outros autores, mas as mltiplas forma de cuidar da pessoa em sua existncia e em relao com as condies concretas de sua vida. (Amarante, 2003)

Medidas de cunho preventivo-comunitrio, com a implantao de servios e recursos extra-hospitalares sem o enfrentamento preciso da questo manicomial, sem superao do modelo mdico-psiquitrico tradicional. (Amarante e Rotelli, 2003)