a grande aventura masculina

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 Tradução de

Emirson Justino

Rio de Janeiro2007

 John Eldredge 

Como encontrar seu coraçãoselvagem e descobrir uma

vida de desafios e emoções

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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

 E39e0 Eldredge, John  A grande aventura masculina: como encontrar seu coração selvagem edescobrir uma vida de desafios e emoções/John Eldredge; [tradução Emirson Justino]. - Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2007. Tradução de: The way of the wild heart

  ISBN 978-85-6030-339-7 

1. Homens. 2. Masculinidade. I. Título. 

07-2056. CDD: 248.842  CDU: 248.151

Todos os direitos reservados à Thomas Nelson BrasilRua Nova Jerusalém, 345 – BonsucessoRio de Janeiro – RJ – CEP 21402-325

Tel.: (21) 3882-8200 – Fax: (21) 3882-8212 / 3882-8313www.thomasnelson.com.br

Título originalThe way of the wild heart – a map for the masculine journey

Copyright © 2006 by John Eldredge

Edição original por Thomas Nelson, Inc. Todos os direitos reservados.Copyright da tradução © Thomas Nelson Brasil, 2007.

SUPERVISÃO EDITORIAL Nataniel dos Santos GomesASSISTENTE EDITORIAL Clarisse de Athayde Costa Cintra

TRADUÇÃO Emirson JustinoCAPA Valter Botosso Jr.COPIDESQUE Joel Macedo

REVISÃO MARGARIDA SELTMANN / Magda de Oliveira Carlos CascardoPROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Julio Fado

Todas as citações foram tiradas da NVI — Nova Versão Internacionalda Sociedade Bíblica Internacional, salvo indicação em contrário.

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Para Pop

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Sumário

Introdução

CAPÍTULO 1 A jornada masculina

CAPÍTULO 2 Filho verdadeiro de um pai verdadeiro

CAPÍTULO 3 Infância

CAPÍTULO 4 Criando o Filho Amado

CAPÍTULO 5 CaubóiCAPÍTULO 6 Criando o Caubói

CAPÍTULO 7 O ano de Sam

CAPÍTULO 8 Guerreiro

CAPÍTULO 9 Criando o Guerreiro

CAPÍTULO 10 Amante

CAPÍTULO 11 Cultivando o AmanteCAPÍTULO 12 Rei

CAPÍTULO 13 Criando o Rei

CAPÍTULO 14 Sábio

CAPÍTULO 15 Sejamos intencionais

Epílogo

Agradecimentos

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Com que alegria eu a trataria como se tratam filhos... JEREMIAS 3:19

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Introdução 

Uma das experiências mais impressionantes que já vivi como ho-mem aconteceu no início de um dia de verão no Alasca. Minha fa-mília e eu estávamos andando de caiaque junto às baleias corcundasno Icy Strait e resolvemos parar para o almoço numa praia da ilhaChichagof. Nosso guia perguntou se gostaríamos de fazer uma ex-

cursão pelo interior da ilha, até uma clareira onde os ursos pardosvinham se alimentar. Ficamos muito animados com o convite. De-pois de uma caminhada de vinte minutos por entre uma floresta deabetos, chegamos a uma campina aberta com cerca de quatrocentosmetros de comprimento. Por ser meio-dia e estar quente, não ha-via nenhum urso para ser visto. “Estão dormindo agora, até o finalda tarde. Eles voltarão somente à noite”, disse ele. “Vem cá, quero

mostrar uma coisa.”A campina era, na verdade, quase como um pântano, com

uma vegetação rasteira e dura com cerca de cinqüenta centímetrosde altura, apoiada por baixo por uma camada de uns vinte centíme-tros de musgo e turfa. Era bastante difícil caminhar por ali. Nossoguia nos levou a uma trilha onde se via algo semelhante a enormespegadas, separadas por meio metro entre elas, pressionadas sobre o

musgo e, assim, criando um caminho. “É uma trilha demarcada”,disse ele. Era uma trilha criada pelas pegadas dos ursos. “É muito

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provável que ela exista há séculos. Os ursos usam este caminho des-de que chegaram à ilha. Os filhotes seguem os mais velhos, colo-cando os pés exatamente onde os ursos adultos caminham. É assimque eles aprendem a cruzar este lugar.”

Comecei a caminhar por aquela trilha demarcada, pisandoos lugares firmes e já castigados por onde os ursos têm caminhadohá séculos. Não sei direito como descrever a experiência, mas, poralguma razão, a palavra sagrado me vem à mente. Uma trilha antigae assustadora no meio de um lugar selvagem e bravio. Eu estava se-guindo um caminho já confirmado, criado por aqueles mais fortese mais preparados do que eu para estar naquele lugar. Embora eusoubesse que não pertencia àquele lugar, estava maravilhado diantedele; poderia seguir o caminho por muito, muito tempo. Isso des-pertou em mim um anseio profundo e ancestral.

Este é um livro que mostra como alguém se torna homem e,ainda mais importante para nossa necessidade, como se tornar umhomem. Não existe incumbência mais perigosa do que essa coisade “tornar-se homem”, algo cheio de perigos, falsificações e desas-tres. É a Grande Prova da vida de qualquer homem, realizada com opassar do tempo, diante da qual todo macho jovem ou adulto se vê.Contudo, existem alguns que encontram seu caminho. Nossa peri-gosa jornada tornou-se ainda mais difícil porque vivemos em umtempo em que há muito pouca orientação. Um tempo com muitopoucos pais para nos mostrar o caminho.

Como homens, precisamos desesperadamente de alguma coi-sa semelhante àquela trilha demarcada na ilha Chichagof. Não setrata de mais regras, de uma outra lista de princípios ou fórmulasnovas. Trata-se de um caminho seguro, marcado por homens du-rante séculos antes de nós. Creio que podemos encontrá-lo.

O que você tem em mãos, neste livro, é um mapa. Ele faz umaanálise dos estágios da jornada masculina, cobrindo desde a infân-

cia até a velhice. Não é um livro de psicologia clínica, nem um ma-nual de educação infantil. Não estou qualificado para escrever esse

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tipo de livro. Além do mais, acho que eles são muito difíceis de ler.São pesados e enfadonhos. O que você lembra dos seus estudos depsicologia no Ensino Médio ou na faculdade? Mas eu amo mapas.Assim como a maioria dos homens. Mapas são divertidos porqueapresentam a planta de uma região, mas ainda lhe obrigam a tomardecisões sobre a caminhada no terreno. O mapa é um guia, não umafórmula. Ele oferece liberdade.

Ele não lhe diz a velocidade em que você está caminhando,muito embora você saiba que, quando as curvas de nível ficam cadavez mais próximas, você está se aproximando de um precipício e vaiprecisar corrigir sua rota. Ele não diz por que as montanhas estãoali nem a idade da floresta. O mapa diz apenas como chegar aon-de você pretende ir. Estou plenamente consciente das deficiênciasde um livro. Certamente haverá aqueles que dirão: “Mas ele nãoabordou aquele assunto.” Você escolhe seu tema preferido: desen-volvimento moral, disciplina ou qualquer outro. O mapa não poderesponder a todas as perguntas que uma pessoa pode ter. E somenteo viajante, aquele que quer conhecer o caminho, tem o privilégiode recebê-lo. Aqueles que vão fazer a jornada masculina ganharãomuito ao seguir o mapa. Aqueles que querem criticá-lo encontrarãorazões para isso, e permanecerão em casa.

Ele também é um relatório de campo. É um relato sobre ajornada masculina, extraído principalmente de dentro, feito por umhomem que busca cura, restauração e maturidade, por um pai queestá fazendo o melhor para oferecer a seus filhos. Assim, este livrosegue em duas linhas paralelas: ele fala primeiramente aos homense sobre sua jornada, mas também fala àqueles que estão educandomeninos e aos que estão trabalhando com homens.

Uma palavra às mães: este livro será de grande ajuda para vo-cês que criam meninos e para vocês que estão aprendendo a amarfilhos adultos (e o pai deles). Depois que escrevi este livro, a revistaNewsweek fez uma reportagem de capa sobre “a crise dos meninos”,referindo-se especificamente ao fato de que os meninos estão fican-

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do atrás das meninas na escola, além de terem muitas dificuldades.O autor diz: “Um menino sem uma figura paterna é como um ex-plorador sem um mapa.” É realmente um alívio perceber que você,mãe, não pode ser tudo para seu filho, nem mesmo aquilo de queele mais necessita. Ele precisa de uma figura paterna. Você já sabedisso e a esperança oferecida aqui é que essas coisas podem ser en-contradas. Quanto a você, calhou de você ser uma mulher e a mãede seu menino. Você pode buscar para seus filhos as experiênciasque descrevo aqui na companhia de homens, quer seja um grupode jovens ou grupo de escoteiros, ou mesmo um homem que possachegar e suprir aquilo que é necessário.

É comum eu ficar pensando naquelas longas passagens en-contradas na Bíblia onde vemos uma enorme lista de homens como“filho de fulano, que era filho de sicrano”. Você encontrará muitasdessas listas nas Escrituras e em várias outras obras da literatura an-tiga. Talvez esses relatos revelem alguma coisa que ainda não perce-bemos — uma visão paterna do mundo sustentada por aqueles queas escreveram e compartilhada por aqueles que viriam a ler essas lis-tas. Talvez eles tenham visto no legado pai-filho o mais importantedos legados, o de que conhecer o pai de um homem era, em grandeparte, conhecer o próprio homem. Então, se você voltar um poucopara dar uma olhada, verá que o Deus da Bíblia é retratado comoo grande Pai — não basicamente como mãe, nem simplesmentecomo Criador — mas como Pai.

Isso nos abre um novo horizonte.Como você vê, o mundo no qual vivemos perdeu alguma

coisa vital, alguma coisa fundamental para entender a vida e o lu-gar de um homem nela. O tempo em que vivemos, como disse oprofeta social Alexander Mitcherlie, é um tempo sem pai. Entendoisso de duas maneiras. Primeiramente, a maioria dos homens e dosmeninos não tem um pai real disponível para guiá-los por entre as

florestas da jornada masculina e eles, como a maioria de nós, sãohomens inacabados e sem pai. Ou meninos. Ou meninos em corpo

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de homem. Mas há um significado mais profundo para a frase “umtempo sem pai”. Nossa maneira de olhar para o mundo mudou.Tanto como sociedade quanto até mesmo como Igreja, não vivemosmais com uma visão paterna do mundo, uma visão centralizada napresença de um pai amoroso e forte profundamente engajado emnossa vida, a quem podemos nos voltar a qualquer momento embusca de orientação, conforto e da provisão de que necessitamos.

Esta é realmente uma ocasião para esperança, porque a vidaque você conheceu como homem não deve ser assim. Existe um outrocaminho. Um caminho traçado por séculos por homens que vieramantes de nós. Uma trilha demarcada. Existe um Pai pronto para nosmostrar esse caminho e nos ajudar a segui-lo.

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C A P Í T U L O 1

A jornada masculina

Ponham-se nas encruzilhadas e olhem; perguntem pelos caminhos antigos,

 perguntem pelo bom caminho. Sigam-no e acharão descanso.

 JEREMIAS 6:16

 

Eu só estava tentando consertar o sistema de irrigação.Um serviço de encanador bastante simples. O rapaz que veio

drenar o sistema e pressurizá-lo para o inverno me disse, ainda nooutono, que havia uma rachadura na “válvula principal” e que seria

melhor substituir aquele negócio antes que colocasse água de vol-ta no sistema para o próximo verão. Os últimos dias tinham sidobastante quentes — quase 35 graus, o que é uma temperatura nadacomum para o Colorado no mês de maio — e eu sabia que seriamelhor fazer a água fluir logo pelo meu jardim, caso contrário elese tornaria o caminho para o deserto de Gobi. Eu estava ansiosopara dar início ao projeto. Na verdade, gosto de realizar tarefas ao

ar livre na maior parte do tempo, desfrutar do sentimento de tertriunfado sobre alguma pequena adversidade, restaurar o bem-estar

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ao meu domínio. Traços de Adão, eu suponho — coisas como cui-dar, cultivar, submeter, tudo isso.

Desconectei a grande válvula de bronze do sistema na parteque se ligava à casa e fui à loja de material hidráulico para compraruma nova.

— Preciso de uma igual a esta — disse eu ao rapaz atrás dobalcão.

 — Ela se chama válvula de redução — respondeu ele, comum toque de superioridade.

Bem, eu não sabia disso. Sou amador. Todavia, estou prontopara começar. Válvula na mão, eu voltei para casa para iniciar o pro-jeto. Um novo desafio estava diante de mim: soldar um pedaço decano de cobre em uma conexão que levava água da casa para o irri-gador, com a pressão reduzida pela válvula que eu tinha nas mãos.Parecia simples. Eu até mesmo segui as instruções que vieram como maçarico que comprara. (De modo geral, seguir instruções é algoque faço apenas quando a dificuldade assumiu a proporção de umacidente numa pista de corrida, mas aquilo era um terreno novopara mim, a válvula custou caro e eu não estava disposto a estragartudo). Para ser franco, não consegui fazer aquilo, não consegui fazera solda na junta de modo a evitar vazamentos.

Então, de repente, eu estava bravo.Tenho de confessar que eu costumava ficar bravo com qual-

quer coisa e, na adolescência, ficava tão irado que fazia buracosnas paredes de gesso do meu quarto, além de chutar e quebrarportas finas. Mas o tempo tem o seu efeito de amadurecimento e,pela graça de Deus, também existe a influência santificadora doEspírito, e minha ira diante daquele problema me surpreendeu. Eume senti... desproporcional diante da questão que tinha em mãos.Não consigo soldar um cano. “E daí? Nunca fiz isso antes. Dá umtempo.” Mas, exatamente naquele momento, eu não estava sendo

controlado pela razão e, muito bravo, corri para dentro de casa embusca de alguma ajuda.

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Tal como muitos homens em nossa cultura — homens so-litários que não têm um pai por perto a quem perguntar comofazer isso ou aquilo, nem sequer outros homens, além de ser muitoorgulhoso para perguntar aos homens da redondeza — fui para ainternet, encontrei alguns daqueles sites que explicam como venceros problemas do encanamento doméstico e assisti a um pequenovídeo sobre como soldar canos de cobre. Eu me senti... esquisito.Estava tentando bancar o encanador e consertar meu próprio irriga-dor, mas não conseguia; não havia nenhum homem por perto parame mostrar como fazê-lo; assim, estou assistindo a um pequenovídeo engraçadinho sobre um problema mecânico e me sentindocomo se tivesse dez anos de idade. Um desenho animado para umhomem que, na verdade, é um menino. Armado da informação e denão muita confiança, voltei e tentei de novo. Outro fracasso.

No final do primeiro assalto da luta, simplesmente me sen-tia um idiota. Agora, me sentia um idiota destinado ao fracasso.Estava fervendo. Conselheiro e escritor por profissão e intuição,quase sempre vejo minha vida interior como uma parte separadade mim. Caramba, diz essa parte separada de mim. Dê uma olhada nisso.

Por que você está tão chateado?

Vou contar-lhe por que estou chateado. Há duas razões paraisso. Primeiramente, estou chateado porque não há ninguém aquipara me mostrar como fazer isso. Por que é que eu sempre tenho deimaginar esse negócio sozinho? Tenho certeza de que, se algum caraque soubesse o que faz estivesse aqui, ele teria dado uma olhada noprojeto e me diria de pronto o que eu estava fazendo errado e, maisimportante, como fazer certo. Juntos, daríamos conta do problemabem rápido; meu jardim seria salvo e uma parte qualquer da minhaalma se sentiria melhor.

Também estou chateado porque não posso fazer isso sozinho;estou furioso porque preciso de ajuda. Há muito tempo resolvi viver

sem precisar de ajuda, decidido a descobrir as coisas sozinho. É umadeclaração terrível e muito comum, feita por homens órfãos que

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se vêem como meninos sozinhos na vida e decidem que realmen-te não existe ninguém para ajudar, que os homens não são nadaconfiáveis, de modo que você deve se virar sozinho. Também estouchateado com Deus; por que as coisas têm de ser tão difíceis? Eu sei— isso tudo é muito por causa de uma simples tentativa fracassadade consertar meu irrigador, mas poderia estar relacionado a umadúzia de outras situações. Pagar as contas. Conversar com meu filhode 16 anos sobre namoro. Comprar um carro. Comprar uma casa.Mudar de carreira. Qualquer situação na qual sou chamado a agircomo homem e que, quando estou diante dela, tenho imediata-mente aquela sensação de não sei como isso vai acabar. Estou sozinho. Eu é que

tenho que encontrar a saída.

De uma coisa, porém, eu tenho certeza: sei que não estousozinho nesse sentimento de solidão. A maioria dos caras que jáencontrei se sente assim em algum momento.

Minha história não termina ali. Precisava abandonar aqueleprojeto e voltar a trabalhar, deixando maçarico, cano e ferramentasna varanda, todos protegidos de uma chuva misericordiosa — mi-sericordiosa porque poderia ter-se passado muito tempo até queeu descobrisse como tudo aquilo funcionava, o que significaria amorte do meu jardim. Eu precisava dar um telefonema importanteàs 4 da tarde e, assim, programei o despertador para não perder ahora. Fiz a chamada, mas não percebi que o despertador não haviatocado. Isso aconteceu às 4 horas da manhã do dia seguinte. (Nãoprestei atenção naquele pequeno “a.m.” aceso perto dos dígitosquando programei aquela coisa.) Fui para a cama sem uma soluçãoda minha cabeça ou de qualquer outro lugar e, então, pimba! Fuisacudido de um sono profundo às 4 horas da manhã para encarar oproblema e todas as minhas incertezas. Tóim! De repente, fui atingidopor este pensamento: faça direito.

Esta talvez seja a declaração de princípios ou a força que im-

pele a minha vida adulta: você está sozinho neste mundo e é melhorficar esperto porque não há espaço para erro; portanto, Faça Direito!

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O observador distante dentro de mim diz:  puxa, isso é impressionante.

Você descobriu a pólvora. Quer dizer, caramba — essa é a declaração da sua vida e

você nunca colocou isso em palavras. E agora, aqui está; você sabe a que isso tudo está

ligado, não sabe? Deitado ali no escuro do meu quarto, com Stasi, mi-nha esposa, dormindo profundamente ao meu lado, o sistema deirrigação quebrado do outro lado da janela sobre minha cabeça, eusei a que isso se refere.

Refere-se à falta de um pai.

HO M E N S

 I N A C A B A D O S

 Um menino tem muito o que aprender em sua jornada para setornar um homem e ele se torna um homem somente por meio daintervenção ativa de seu pai e da companhia de outros homens. Issonão pode acontecer de outra maneira. Para se tornar um homem —e para saber que precisa se tornar um homem — o menino precisa terum guia, um pai que mostrará como consertar uma bicicleta, como

lançar a vara de pescar, como chamar uma menina, como conseguiremprego e todas as muitas coisas que um menino enfrentará em suajornada para se tornar um homem. É preciso entender uma coisa: amasculinidade é concedida. Um menino aprende quem ele é e do queele é feito a partir de um homem (ou da companhia de homens).Isso não pode ser aprendido em nenhum outro lugar. Não pode seraprendido com outros meninos, e não pode ser aprendido a partir

do mundo das mulheres. “A maneira tradicional de criar filhos”,nota Robert Bly, “que perdurou por milhares e milhares de anos,é de pais e filhos vivendo próximos — perigosamente próximos— enquanto o pai ensina ao filho um negócio: talvez agricultura,carpintaria, fundição ou alfaiataria”.

Quando eu era jovem, meu pai me levava para pescar bemcedo nas manhãs de sábado. Passávamos horas juntos lá fora, numlago ou num rio, tentando fisgar os peixes. Mas o peixe nunca foirealmente o importante. O que eu mais gostava era sua presença,sua atenção e seu prazer em mim. Eu gostava de vê-lo me ensinando

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como fazer, mostrando o caminho. É desse jeito que você coloca alinha. É assim que você prende o anzol. Se você vir um grupo dehomens falando sobre seus pais, ouvirá este desejo fundamental docoração de um homem. “Meu pai costumava me levar com ele parao campo.” “Meu pai me ensinou como jogar bola na rua.” “Aprendia construir casas com meu pai.” Quaisquer que sejam os detalhes,quando um homem fala do maior dom que seu pai lhe deu — seé que seu pai lhe deu alguma coisa que seja digna de lembrança— sempre foi a demonstração da masculinidade.

Isso é essencial, pois a vida vai testar vocês, meus irmãos. Talqual um navio no mar, vocês serão testados, e as tempestades reve-larão os pontos fracos que, como homens, vocês têm. Ela já estáfazendo isso. De que outra maneira você explicaria a raiva que sen-te, o medo, a vulnerabilidade a certas tentações? Por que você nãopode se casar com aquela garota? Mas, uma vez casado, por que nãoconsegue lidar com as emoções dela? Por que você não descobriuqual é o sentido da sua vida? Por que as crises financeiras fazemcom que você fique desesperado ou deprimido? Você sabe do queestou falando. Assim, nossa abordagem básica da vida se resume aisto: permanecemos naquilo com o que conseguimos lidar e nosdesviamos de todas as outras coisas. Nós nos envolvemos naquiloque sentimos que podemos ou que devemos — como no trabalho— e nos afastamos daquilo que temos certeza de que não daremosconta, como as águas profundas do relacionamento com nossa es-posa ou nossos filhos, além de nossa espiritualidade.

Veja, o que temos hoje é um mundo de homens não iniciados.Homens parciais. Meninos, em sua maior parte, caminhando por aíem corpo de homem, com trabalho de homem e famílias, finançase responsabilidades. A concessão da masculinidade nunca foi com-pletada, se é que ela até mesmo começou. O menino nunca passoupelo processo de iniciação masculina. É por isso que muitos de nós

são Homens Inacabados e, portanto, incapazes de verdadeiramente vivercomo homens em qualquer situação que a vida nos jogue. Incapazes

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de passar aos nossos filhos e filhas aquilo que precisam para se tor-narem, eles próprios, homens e mulheres plenos e santos.

Ao mesmo tempo, há aqueles meninos, jovens e homens danossa idade, ao nosso redor, que têm profundas necessidades: estãodesesperados por alguém que lhes mostre o caminho. O que signi-fica ser homem? Será que eu sou homem? O que eu deveria fazer nes-sa ou naquela situação? Esses meninos estão se transformando emhomens sem firmeza porque as questões fundamentais de sua almanão foram respondidas, ou a resposta foi ruim. Eles se transformamem homens que agem, mas suas ações não estão fundamentadas em

força, sabedoria e bondade genuínas. Não existe ninguém para lhesmostrar o caminho.

A iniciação masculina é uma jornada, um processo, uma verda-deira busca, uma história que se desenrola com o passar do tempo.Pode ser um acontecimento lindo e poderoso experimentar umabênção ou um ritual, ouvir palavras ministradas a nós em cerimôniade algum tipo. Aqueles momentos podem ser pontos decisivos em

nossa vida. Mas são apenas momentos, e momentos, como vocêbem sabe, passam rapidamente e são engolidos no rio do tempo.Precisamos mais do que um momento, um evento. Precisamos deum processo, uma jornada, uma história épica de muitas experiên-cias entrelaçadas, construídas umas sobre as outras numa progres-são. Precisamos de iniciação. Precisamos de um Guia.

A D O T A D O   C O M O   F I L H O   N A   B E I R A   D O   R I O 

Mudei-me para o Colorado em agosto de 1991. Houve muitas ra-zões envolvidas nessa saída de Los Angeles: um emprego, um tiro-teio numa escola, uma fuga da aparentemente infindável sufocaçãode asfalto e fumaça, os enormes shopping centers de Los Angeles.Por trás disso tudo, porém, estava um desejo mais forte de ir para asmontanhas e para locais mais abertos, estar ao alcance da natureza.Eu não conseguia articular isso naquela época, mas minha alma

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estava clamando por retomar a jornada masculina que senti serabortada no início da adolescência. Juntamente com tudo isso, que-ria aprender a pescar com vara.

Quando era jovem, meu pai eu e pescávamos juntos e esta éa lembrança mais querida que tenho dele. Primeiramente, ele meensinou a pescar com minhoca presa num flutuador para só depoisme ensinar a usar a vara com molinete. Meu pai não gostava muitode pescar com carretilha, mas eu queria pescar assim. Quando tinhamais ou menos 25 anos, comprei uma vara com molinete e come-cei a tentar aprender sozinho — um padrão pelo qual, infelizmen-

te, tenho aprendido a maioria das coisas na minha vida. É comumfalarmos de um homem que é bem-sucedido nessas coisas como oself made man. Esse termo normalmente é usado com admiração, maso fato é que deveríamos dizer isso com o mesmo tom que usamospara os entes queridos que já se foram, ou ao se referir a um ho-mem que perdeu um braço —, ou seja, com tristeza e arrependi-mento. O que o termo realmente significa é “um homem órfão que

tenta conduzir sozinho uma parte de sua vida”.Vamos voltar à pescaria. Quando chegamos ao Colorado, fi-

quei sabendo de um local do rio South Platte que tinha a fama deser o sonho de qualquer pescador de vara. A “Milha Milagrosa” jánão tinha o apelo de outras épocas, mas ainda era um lugar paraonde iam os melhores pescadores e, assim, também fui para lá. Éuma grande área do rio que flui numa planície entre dois reserva-

tórios. As margens são baixas e amplas, com apenas um pouco devegetação aqui e ali — um bom lugar para um novato aprender ajogar a isca. Fiquei uma boa parte da manhã no rio, vendo umaenorme quantidade de trutas ao meu redor, mas sem conseguir pe-gar uma sequer. Toda vez que olhava para cima do rio, lá estavaaquele cara, com a vara totalmente curvada, rindo e gritando dealegria por pegar outro peixe enorme e colocá-lo em sua rede. Emum primeiro momento, eu o invejei. Depois, comecei a odiá-lo. Fi-nalmente, optei pela humildade e quis observá-lo por um instante,tentando aprender como ele estava fazendo.

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Fiquei a uma distância razoável na margem do rio, para nãodar a impressão de que queria usurpar seu lugar preferido, e sentei-me para observar. Ele sabia que eu estava ali e, depois de jogar a varaduas ou três vezes e pegar outro peixe, virou-se para mim e disse:

— Chegue mais.Esqueci seu nome, mas ele me disse que era instrutor pro-

fissional de pesca e que, nos dias de folga, aquele era o lugar ondemais gostava de pescar. Perguntou-me como eu estava me saindo eeu respondi:

— Nada bem.

— Deixe-me ver seu equipamento — disse ele. Passei a ele aminha vara.

—Ahn... bem, antes de mais nada, sua linha é muito curta.Antes que eu pudesse me desculpar por ser um completo es-

túpido em termos de pescaria, ele sacou uma tesoura e destruiucompletamente minha linha. Colocou então uma outra linha comtal velocidade e habilidade que eu fiquei sem fala.

— Que iscas você está usando? — perguntou ele.— Estas — disse eu, envergonhado, já sabendo que elas eram

as iscas erradas, porque chegara à conclusão de que estava fazendotudo errado.

Educadamente, ele não fez nenhum comentário sobre minhasiscas e apenas disse:

— Aqui, nesta época do ano, você precisa usar estas aqui — e

tirou de seu colete umas moscas pequenas e as deu para mim. Co-locou uma na minha vara e começou a me mostrar como pescarnaquele lugar.

— Vem comigo, bem atrás de mim.Se o pescador é destro, o instrutor normalmente se coloca do

seu lado esquerdo para não levar um golpe no ouvido ou na cabeça.— Olha, a maioria das pessoas usa um golpe certeiro para

lançar a isca para baixo da superfície — fiquei alegre porque sabiapelo menos isso; já tinha lido em um livro. — Mas isso não vai aju-dar muito. Você vai descobrir que está só perdendo tempo.

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O sucesso da pesca com vara reside em muitas sutilezas, e aprincipal delas é sua habilidade em apresentar a isca de maneira na-tural ao peixe, o que significa que ela corre correnteza abaixo iguala comida real que os peixes vêem todo dia — sem um puxão oumovimento contrário à velocidade e à direção da corrente.

— O segredo é usar duas, até três iscas. Desse jeito — disse ele.Depois de cerca de dez minutos de instrução, ele saiu da água

para me ver, do mesmo modo como um pai que ensina seu filho apegar uma bola dá alguns passos para trás para ver como o garotoestá se movimentando. Fisguei uma truta e fiquei com ela nas mãos.Ele então voltou para a água para me mostrar como soltá-la.

— Normalmente eu beijo as minhas no focinho. Superstição.Ele beijou aquela grande truta perto dos olhos e a soltou na

água fria.— Divirta-se — disse ele, e, sem olhar para trás, desceu o

rio até o local onde eu estava pescando anteriormente e começou

a pegar peixes ali, um atrás do outro. Eu também fisguei. Emboraaquilo tenha me deixado feliz, havia uma satisfação mais profundaem minha alma enquanto eu estava no rio, pescando bem. Algu-ma necessidade primitiva fora tocada, e bem tocada. Quando estavavoltando para casa, sabia que aquele presente viera de Deus, que elehavia cuidado de mim como filho por meio daquele homem.

 

I N I C I A Ç Ã O

 Não fomos criados para descobrir sozinhos como é a vida. Deusdeseja ser nosso pai. A verdade é que ele já tem sido nosso pai há bas-tante tempo — nós simplesmente não conseguimos enxergar isso.Ele deseja ser nosso pai muito mais intimamente, mas precisamosestar numa postura de recebê-lo. O que está em questão é uma nova

maneira de enxergar, uma reorientação fundamental na maneirade olharmos a vida e no modo como vemos nossa situação nela.

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Primeiramente, admitimos que somos homens inacabados, par-ciais, que somos meninos por dentro e precisamos de uma iniciação.Em muitos e muitos aspectos. Segundo, deixamos de lado nossaindependência, a maneira como enfrentamos a vida ou como nosafastamos dela; esse pode ser um dos caminhos mais básicos e tal-vez mais críticos dos quais um homem se arrepende. Eu digo “ar-repende” porque nossa abordagem em relação à vida está baseadana convicção de que Deus, na maior parte do tempo, não aparecemuito. Entendo de onde veio a convicção, luto contra ela constan-temente, mas fico parado — isso é falta de fé, não é? Devemos estardispostos a assumir o enorme risco de abrir nosso coração para apossibilidade de que Deus esteja nos iniciando como homens, talveznas próprias coisas em que achávamos que ele tinha nos abandona-do. Nós nos abrimos para receber o cuidado de pai.

Tenho de admitir que isso não vem facilmente. Esse tipo dedesconfiança fundamental é alguma coisa que aprendemos no cursode nossos dias, baseados naquela desconfiança fundamental em Deus

que herdamos de Adão. Fazer a mudança parece embaraçoso. Comodiz Gerald May, quanto mais nos acostumamos a buscar vida longede Deus, mais “anormal e estressante” parece “buscar a Deus dire-tamente”. Especialmente como Pai, como alguém que nos trata como afilhos. Mas vale a pena fazer isso. Vale a pena. Vale a pena permitir quesejamos tratados como filhos, aceitar que essa nova maneira de vivervai exigir a criação de um certo hábito e firmarmos a posição de que

faremos o que for necessário para nos acostumar a ela.O que estou sugerindo aqui é a reavaliação da maneira pela

qual olhamos para nossa vida como homens, bem como da maneiracomo enxergamos nosso relacionamento com Deus. Também queroajudar você a reavaliar a maneira como você se relaciona com outroshomens, e, especialmente vocês, pais, que estão pensando em comoeducar meninos. A reavaliação começa quando vemos que a vida de

um homem é um processo de iniciação rumo à verdadeira masculi-nidade. É uma série de estágios nos quais penetramos e pelos quais

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progredimos. Em relação a Deus, creio que aquilo que ele está maisfundamentalmente interessado em fazer em qualquer ponto da vida deum menino ou de um homem é iniciá-lo. Desse modo, muito doque interpretamos erroneamente como sendo confusão, provaçãoou atrapalhação de nossa parte é, de fato, a ação de pai executadapor Deus sobre nós, fazendo-nos passar por alguma coisa com oobjetivo de nos fortalecer, de nos curar ou de destruir alguma coisanão santa que esteja em nós. Em outras palavras, uma iniciação, umaaventura tipicamente masculina.

O S   E S T Á G I O S

 Se eu fosse rascunhar para você a jornada masculina em traços bas-tante amplos, creio que é assim que se revelaria, ou melhor, comoela deveria se revelar: Infância, Caubói, Guerreiro, Amante, Rei e Sá-bio. Tudo isso acontecendo em cerca de 80 anos, com uma década

a mais ou a menos.Agora deixe-me ser rápido e acrescentar que ninguém podeestabelecer uma idade exata para cada estágio. Eles se sobrepõem, ehá aspectos de cada estágio em outros. Observe um menino duranteuma tarde (uma ótima idéia, principalmente se já faz algum tempoque você deixou de ser garoto) e você verá o Guerreiro, o Caubói eo Rei. Mas ele é um menino, e é como menino que deve viver aqueles

anos. Um grande dano será causado se pedirmos ao garoto que setorne Rei muito cedo, como é o caso quando um pai abandona suafamília, saindo pela porta com as palavras de despedida “você agoraé o homem da casa”. Uma coisa cruel a fazer, e uma ainda maiscruel a dizer, pois o menino ainda não se tornou homem e nemmesmo aprendeu as lições da infância e da vida de homem. Eleainda não foi Guerreiro nem Amante, e de modo algum está prontopara se tornar Rei.

Quando pedimos tal atitude dele, isso se torna uma feridasemelhante a uma maldição, pois ele é instantaneamente privado

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de sua infância e lhe é solicitado que pule estágios da maturidademasculina que nenhum homem pode desprezar. Existe um cami-nho que deve ser seguido. Existe um Caminho, não uma fórmula.Um Caminho. Cada estágio tem suas lições a serem aprendidas, eem cada estágio pode se ser ferido, abreviado, deixando o homemem crescimento com uma alma não desenvolvida. Depois ficamosperguntando por que ele se dobra repentinamente quando tem 45anos, tal qual uma árvore tombada no jardim depois de uma noitede vento forte. Analisando com mais detalhe, descobrimos que suasraízes não estavam fincadas numa profundidade suficientementegrande na terra, ou que talvez estivessem podres por dentro, en-fraquecidas por uma doença ou pela seca. É isso o que vemos pordentro dos homens inacabados.

Para começar, temos a Infância, uma época de deslumbra-mento e exploração. É a época do Forte Apache e das histórias emquadrinhos, de girinos e pirulitos. Do “Era uma vez um gato maltês.Tocava piano, falava francês”, como dizia a velha rima. Acima detudo isso, é o tempo de ser o Filho Amado, a menina dos olhos deseu pai. Um tempo de afirmação. Embora eu mantenha minha pre-missa lançada em Coração Selvagem —  a de que todo homem compar-tilha da mesma pergunta fundamental, e que essa pergunta é maisou menos assim: “Tenho aquilo de que preciso?” — creio que essapergunta é muito mais urgente para o estágio do Caubói e os pos-teriores. Antes e abaixo dessa pergunta e da busca de um homempor validação reside uma necessidade mais profunda: saber que eleé valorizado, que se tem prazer nele, que ele é o Filho Amado. É anossa necessidade do amor de pai.

O estágio do Caubói vem a seguir, mais ou menos na ado-lescência (a idade de 13 anos parece ser o momento da transição),prosseguindo até os 19 ou 20 e poucos anos. É a época de aprenderas lições do campo, um tempo de grandes aventuras e provas, e

também um tempo de trabalho duro. O jovem homem aprende acaçar, a jogar uma bola com efeito ou domar um cavalo. É nessa fase

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que ele consegue seu primeiro carro e, com ele, um horizonte aber-to. Ele vai para a floresta sozinho ou com alguns poucos amigos,viaja para a Europa, vira guarda ou bombeiro florestal. Um tempode ousadia e perigo, tempo de aprender que ele, de fato, tem aquilode que precisa.

Em algum momento no final da adolescência surge o jovemGuerreiro, e essa fase dura até os 30 anos. Mais uma vez, os estágiosse sobrepõem e existe algum aspecto de cada um deles em cada faseda vida de um homem. Tenha seis ou sessenta anos, um homemsempre será um Guerreiro, pois ele é a imagem de um Deus guer-reiro (veja Êxodo 15:3). Mas também há um momento na vida deum homem quando um desses estágios é proeminente. O Guerreiroencontra uma causa e, espera-se, um rei. Ele vai para a escola de di-reito ou para o campo missionário. Ele se depara face a face com omal e aprende a derrotá-lo. O jovem guerreiro aprende os rigores dadisciplina, especialmente aquela disciplina interior e a resolução deespírito que você vê em Jesus, que se opõe “firme como uma durarocha” (Isaías 50:7) e que não pode ser dissuadido de sua missão.Ele pode entrar para a Marinha ou tornar-se professor de matemá-tica numa escola de periferia, lutando pelos corações dos jovens. Ofato de ele descobrir uma missão é crucial e é ainda mais impor-tante que ele aprenda a lutar contra o reino das trevas. A passividadee a masculinidade são mutuamente exclusivas, fundamentalmentediferentes uma da outra. Para ser homem, ele deve aprender a vivercom coragem, a agir, e a lutar.

Tipicamente esse é o momento em que ele também se tornaAmante, embora seria melhor para ele e para ela se, antes disso, elevivesse um tempo como Guerreiro. Como descrevi em Coração Selva-

gem, muitos homens jovens não encontram a resposta à sua perguntaquando são jovens Caubóis e, tal qual um guerreiro inseguro, elesnão têm uma missão para a vida deles. Eles terminam deixando tudo

para a mulher, esperando encontrar nela a validação e a razão paraviver (uma busca profundamente infrutífera, como muitos homens

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entendem hoje). Um Amante vem para oferecer sua força a uma mulher,não para obtê-la dela. Mas a época do Amante não está basicamenterelacionada com uma mulher. É a época quando um homem jovemdescobre o Caminho do Coração — momento em que ele entendeque a poesia e a paixão estão muito mais perto da verdade do que amera razão e proposição. Ele desperta para a beleza, para a vida. Eledescobre a música e a literatura; tal qual o jovem Davi, ele se tornaromântico e isso leva sua vida espiritual a um nível completamentenovo. O serviço para Deus só é suplantado pela intimidade com Deus.

Depois — e somente depois — ele está pronto para tornar-seRei, pronto para governar um reino. A crise de liderança em nossasigrejas, nos negócios e no governo deve-se em grande parte a estedilema: os homens receberam poder, mas estão despreparados paralidar com ele. O tempo de governar é um enorme teste de caráter,pois o rei será duramente provado ao usar sua influência com hu-mildade, para benefício de outros. Aquilo que chamamos de criseda meia-idade normalmente é caracterizado por um homem quepossui uma certa quantidade de dinheiro e influência e usa issopara voltar e recuperar aquilo que perdeu como Filho Amado (elecompra brinquedos para si) ou como caubói (ele sai em aventuras).Ele é um homem não desenvolvido, não iniciado.

O verdadeiro Rei adquire autoridade e sabe que o privilégio não é para conseguir coisas para o seu conforto. Ele pode ser escolhi-do para ser presidente de uma empresa ou comandante de uma di-visão; ele pode tornar-se o pastor titular de uma igreja ou o técnicode futebol de um time. Este é o tempo de governar sobre um reino.Espera-se que ele reúna em torno de si uma companhia de jovensguerreiros, pois ele é agora um pai para os homens mais jovens.

Finalmente, temos o Sábio, o pai de cabelos grisalhos, comriqueza de conhecimento e experiência, cuja missão agora é acon-selhar os outros. Seu reino pode encolher — os filhos saíram de

casa, o que permite que se mude para uma casa menor. Ele sai deseu posto de presidente, o seu sustento passa a vir de uma poupança

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e de investimentos feitos durante o período em que era Rei. Massua influência precisa crescer. Esta não é a hora de arrumar as malas emudar-se para uma casa de campo no interior: o reino precisa deleagora como o ancião junto aos portais. Ele pode de fato ser um pres-bítero (ancião) em sua igreja ou pode trabalhar na diretoria da áreade educação. Seu tempo é gasto mentoreando homens mais jovens,especialmente Reis, como Merlim mentoreou Arthur, como Paulomentoreou Timóteo. Em um tempo da vida quando a maioria doshomens sente que seu tempo já passou, este pode ser o período desua maior contribuição.

Deixe-me dizer outra vez que esses estágios estão todos pre-sentes, em algum grau, em qualquer período da vida de um homeme todos eles se juntam para compor um homem completo e santo. Omenino é praticamente um rei de um pequeno reino — seu quarto,a casa na árvore, a cabana que ele construiu secretamente no porãoou na floresta. O homem, embora seja agora um rei em um sentidomuito mais sério, nunca deve perder a maravilha do menino, aquela

condição de ser “jovem de coração”. Maturidade não é sinônimode rigidez, de calcificação do coração. Como disse George MacDo-nald, “o menino deveria encerrar e manter, como sua própria vida,a criança que está em seu coração e nunca deixar que ela se vá... acriança não deve morrer, mas renascer para sempre”. Jesus falouisso quando disse que deveríamos ser como crianças se quiséssemosviver em seu reino (Mateus 18:3).

Tendo dito isso, parece-me que cada um dos estágios — quepodem ser chamados de arquétipos — domina em uma época, e issopor uma boa razão. Assim, falarei dos estágios em ambos os aspectos.

R E P R E S E N T A Ç Ã O   D O S   E S T Á G I O S

 Davi poderia ser a expressão bíblica definitiva da jornada masculi-na. Sua vida como homem é aparentemente digna de receber umaatenção especial, uma vez que Deus dedica mais de sessenta capítu-

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los de seu livro à vida de Davi, enquanto que a maioria dos outroshomens tem sorte de receber um parágrafo ou dois. Quando nosencontramos com Davi, ele está no estágio do Caubói, um adoles-cente vivendo nos campos, cuidando dos rebanhos de sua família.Pensei em chamar esse estágio de estágio do Pastor, mas a palavratem sido tão deturpada pelas imagens religiosas que ela passou ater um sentido oposto ao da vida que realmente tinha. A imagemque temos de pastores está contaminada por figuras do natal, porpequenos bonecos encontrados em presépios ou, um pouco maisperto da minha idéia, por crianças da vizinhança se apresentando

em peças na escola. Todas essas imagens são muito bonitas, mas ospastores de verdade são rudes.

Pouco antes de sua passagem de Caubói para Guerreiro, Davicoloca-se no campo do exército de Israel, diante de seu rei, quetenta dissuadir o adolescente de um combate solitário contra ummercenário famoso (Golias). Davi diz: “Teu servo toma conta dasovelhas de seu pai. Quando aparece um leão ou um urso e leva

uma ovelha do rebanho, eu vou atrás dele, dou-lhe golpes e livroa ovelha de sua boca. Quando se vira contra mim, eu o pego pelajuba e lhe dou golpes até matá-lo” (1 Samuel 17:34,35). Aquelasexperiências aconteceram durante o estágio do Caubói e nós vemosaqui como esse estágio pode ser rude e perigoso. Vemos tambémque ele aprendeu suas lições muito bem. Será que Davi chegou a sero Filho Amado? É difícil dizer. Não temos nenhum registro de sua

infância em si, embora de fato tenhamos duas outras informaçõesque podem dizer alguma coisa. Ele era o mais jovem de oito me-ninos, o que pode ser bom ou ruim. De modo geral, o mais novoé a menina dos olhos do pai — como foram José e Benjamim. Masquando você lê o livro de Salmos, não há dúvida de que Davi sabiaque ele era o Filho Amado de Deus: seus poemas transbordam dotipo de confiança profunda no amor e no favor de Deus que apenaso Filho Amado pode expressar.

Quanto ao Guerreiro, por acaso existe alguma dúvida de queDavi é quem estabelece o padrão desse estágio? “Saul matou milha-

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res, e Davi, dezenas de milhares”, cantavam as mulheres de Israel(1 Samuel 18:7). Ele certamente foi um amante — embora nossospensamentos provavelmente voem direto para seu caso com Bate-Seba. Mas é de Davi que aprendemos que o estágio do Amante não é

de modo algum algo ligado às mulheres: é sobre a vida do coração,a vida da beleza e da paixão e sobre um profundo romance comDeus, coisas que podem ser vistas em sua poesia. E, é claro, Davi foiliteralmente um Rei.

Você vê os estágios também na vida de Jesus. Certamenteele é o Filho Amado, tanto de seus pais quanto de Deus. O breverelato que temos sobre sua infância é sobre o momento em que

 Jesus desapareceu da caravana com a qual sua família estava viajandodepois de saírem da festa da Páscoa em Jerusalém. É impressionanteperceber que se passaram dois dias até que Maria e José percebes-sem que o menino não estava com eles — o que demonstra tantouma enorme negligência dos pais (uma teoria que não é apoiadapelos outros fatos que conhecemos sobre a família) ou uma notávelsegurança e confiança no menino. Algo que está muito mais relacio-nado à nossa jornada neste livro é o pronunciamento de Deus Paiem relação a Jesus quando ele se levanta nas águas do Jordão: “Esteé o meu Filho amado” (Mateus 3:17). A confiança que Jesus tem noamor de seu Pai, sua ousada e inquestionável intimidade, é a marcade sua vida, a explicação de tudo o mais. Esse homem sabe que seuPai o ama demais.

Eu colocaria os anos do Caubói da vida de Jesus na carpinta-ria, horas a fio ao lado de José, aprendendo com seu pai a lidar commadeira e todas as lições que tábuas e ferramentas manuais têm aensinar a um jovem, um jeito maravilhoso de um adolescente passaraqueles anos. Aparentemente, ele também se sente bem no deserto,pois vai àquele lugar durante os anos do seu ministério para serrestaurado, para estar com um Deus, seu Pai.

Ele entra na fase do Guerreiro quando dá início ao seu mi-nistério, um período de três anos marcado por intensa batalha, que

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alcança o seu clímax quando ele derrota o maligno, garante nossoresgate da prisão das trevas e combate seu inimigo pela posse daschaves da morte e do inferno. No decorrer daqueles anos, tambémvemos um Amante apaixonado cortejando e conquistando o cora-ção de sua Noiva. (É bom lembrar que o livro de Cântico dos Cân-ticos é de autoria do Espírito de Deus que, sem dúvida, é o maiorAmante de todos os tempos.) Naturalmente, ele é Rei, Senhor agorados céus e da terra, e um Rei Guerreiro que retornará trazendo avitória final a seu povo e levando-o à era de ouro de seu reino. Suavida terrena foi abreviada, mas mesmo assim vemos o Sábio na pro-fundidade e no insight de seu ensinamento magistral. Naturalmen-te, ele é o nosso maravilhoso conselheiro mesmo agora.

V O C Ê   E N C O N T R A R Á   O S E S T Á G I O S   E M   T O D O   L U G A R

 

Agora que você tem um esboço dos Estágios da jornada masculina,você os verá em todas as grandes histórias.

O Príncipe do Egito, baseado na vida de Moisés, é nosso primeiroexemplo. Quando a história se inicia, ele é o Filho Amado — mi-mado, sem dúvida, precisando passar para o estágio do Caubói —,mas sem dúvida um Filho Amado. Seus pais viram alguma coisaespecial no bebê, e arriscaram sua vida para salvá-lo. Moisés é ado-

tado na casa do faraó e é criado ali numa vida de privilégios. Eleentra na fase do Caubói no deserto, como pastor (que, como eudisse, era uma vida rude e exigente, cheia de perigos e aventuras).Então, a partir do chamado de Deus para libertar seu povo, ele setorna Guerreiro e, depois, Rei e Sábio dos israelitas enquanto elesempreendem sua jornada rumo à terra prometida.

Considere também a trilogia de J. R. R. Tolkien, O Senhor dos

 Anéis. Cada um dos personagens principais é uma imagem de umou vários estágios. Os hobbits — especialmente Frodo — são um

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retrato do Filho Amado. Passolargo é o supremo Caubói (um “Pa-trulheiro”, como é chamado, um título que você pode facilmentesubstituir por “Caubói” todas as vezes que falar sobre esse estágio).Depois, ele se torna o grande Guerreiro Aragorn, que se torna Rei.Gandalf é o Sábio. Olhando mais de perto, você também pode vera jornada de um menino rumo à vida adulta de homem através davida dos hobbits, cuja jornada-história assim o é. Quando encon-tramos os hobbits, eles estão vivendo o estágio do Filho Amado— cabelo encaracolado, bom coração, brincalhões —, sendo que omundo de seu condado é um lugar seguro que eles estão livres paraexplorar. Quando pegam a estrada, entram no estágio do Caubói.Sim, eles têm uma missão, mas não avaliam plenamente sua gra-vidade. Num primeiro momento, é uma alegria estar na estrada,dormindo fora, vendo novos lugares, experimentando a vida alémde um travesseiro de penas. Aragorn leva-os “ao ermo”, onde elescomeçam a ser fortalecidos, dormindo no chão, suportando umtempo difícil, perigos e longas caminhadas. Eles prosseguem, vindoa se tornar Guerreiros, aprendem a batalhar, sair à guerra.

Os estágios também formam o roteiro do filme O Rei Leão.A cena de abertura anuncia a chegada de Simba, o filhote de leão.Ele é o Filho Amado do rei leão Mufasa e é claramente a meninade seus olhos. Mas sua juventude é antecipada pela repentina per-da da inocência — como acontece com muitos meninos — e eleé introduzido no estágio do Caubói, pegando a estrada. Contudo,ele não possui nenhum Aragorn para guiá-lo, e seu tempo nesseestágio é corrompido por permanecer nele por muito tempo e porviver apenas para o hoje. Isso acontece a muitos jovens sem pai,que vivem numa aventura simplesmente pela aventura, andando deskate, surfando, recusando-se a crescer. Simba entra no estágio doAmante quando Nala o encontra na floresta e eles desfrutam de umidílio semelhante ao do Éden. Mas ele é um amante sem objetivo,

como muitos jovens rapazes que não passaram primeiramente peloestágio do Guerreiro, e Nala fica impaciente com ele, como muitas

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jovens ficam impacientes com os rapazes a quem amam, mas quenão mostram sinais de se darem bem com sua vida.

Felizmente para Simba e para o reino, é exatamente nessa si-tuação que ele encontra um sábio — Rafiki, o velho babuíno — queo leva de volta ao pai, retorno esse que lhe confere sua verdadeiraidentidade e chamado. Ele é levado de volta a um mundo centradono pai — a exata restauração de que precisamos. Para Simba, é tem-po de completar sua jornada em direção à vida adulta, como Guer-reiro e Rei. Ele volta para enfrentar seu inimigo, triunfa sobre o mal,assume o trono e dá início a uma nova era de ouro para o reino.

I N I C I A N D O   A   E X P E D I Ç Ã O Essa é a nossa jornada da iniciação masculina. Mas não estamosacostumados a estágios de desenvolvimento em nossa cultura atual.Quem faz nosso café é outra pessoa. Não precisamos mais esperar

que nossas fotos sejam reveladas — nem mesmo 1 hora —, poisagora temos câmeras digitais que nos mostram a imagem imedia-tamente. Não precisamos esperar para entrar em contato com al-guém: podemos enviar um e-mail, um  pager , chamá-la pelo celularou enviar um torpedo. Não precisamos esperar anos até que nossajaqueta de couro, nossa calça jeans ou nosso boné tenham a aparên-cia de usados — eles já são comprados desse jeito agora, desbota-

dos, lavados, rasgados. Características que podem ser compradas eusadas imediatamente.Mas Deus é um Deus de  processo. Se você quer um carvalho,

precisa começar com a semente. Se você quer uma Bíblia, bem, elefez isso num período de mais de mil anos. Se você quer um homem,então deve começar com um menino. Deus ordenou os estágios dodesenvolvimento masculino. Eles estão entremeados no tecido denosso ser, assim como as leis da natureza estão mescladas no tecidoda terra. De fato, aqueles que viveram mais perto da terra respeitarame abraçaram os estágios século após século. Precisamos pensar neles

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como caminhos antigos. Nós perdemos contato com eles apenas re-centemente — em troca de uma xícara de café light descafeinado, semgordura trans. O resultado de termos abandonado a iniciação masculi-na é um mundo de homens inacabados e não iniciados.

Mas não precisa ser assim. Não precisamos vagar no meio deum nevoeiro. Não precisamos viver sozinhos, lutando, amuados,inseguros, irados. Não precisamos descobrir a vida por nós mes-mos. Existe um outro caminho. Independentemente de onde este-jamos nessa jornada, nossa iniciação pode começar de fato. É muitomelhor para nós — e para aqueles que têm que viver conosco,que olham para nós — descobrir os estágios e cumpri-los, viver deacordo com eles, criar nossos filhos de acordo com eles. O que nosleva de volta a nossa dificuldade: quem vai fazer isso por nós?

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