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Tópicos Destacados na Gestão do Judiciário Catarinense – Volume 1 5 A gestão do Judiciário na perspectiva dos seus servidores Alessandra de Linhares Jacobsen Luis Carlos Cancellier de Olivo As organizações do mundo contemporâneo estão inseridas em um contexto repleto de adversidades e em constante mudança, exi- gindo atitudes que lhes garantam a sua sobrevivência e o seu cres- cimento, voltadas, sobretudo, ao desenvolvimento de uma força de trabalho realmente habilidosa para atuar no mercado. Quanto ao as- sunto, Peter Drucker (1999), um dos grandes nomes da Administra- ção, comentou, certa vez, que, na era do conhecimento, “a pessoa instruída é o emblema, o símbolo, o porta-bandeira da sociedade”. No âmbito público, o cenário não se mostra diferente, onde a permanente qualificação dos agentes públicos revela-se um impe- rativo para que este tipo de organização permaneça na busca e no alcance da sua nobre missão: velar pelo bem público e atender às demandas do cidadão com qualidade. Ademais, a crença é de que o domínio de ferramentas e métodos administrativos configura-se como o caminho mais seguro para a integração das instituições públicas a este contexto de forte e rápida mutação. O impacto disso reflete-se diretamente na área de recursos hu- manos, ao descrever um novo perfil para os administradores. Desse modo, seja qual for o nível de tomada de decisão em que atuam, passa-se a exigir de tais profissionais, diferentemente de momentos passados, não somente um conhecimento específico, mas, sobretudo, a capacidade de entender e de analisar o ambiente em que atuam a

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Tópicos Destacados na Gestão do Judiciário Catarinense – Volume 1 5

A gestão do Judiciário na perspectiva dos seus servidores

Alessandra de Linhares Jacobsen Luis Carlos Cancellier de Olivo

As organizações do mundo contemporâneo estão inseridas em um contexto repleto de adversidades e em constante mudança, exi-gindo atitudes que lhes garantam a sua sobrevivência e o seu cres-cimento, voltadas, sobretudo, ao desenvolvimento de uma força de trabalho realmente habilidosa para atuar no mercado. Quanto ao as-sunto, Peter Drucker (1999), um dos grandes nomes da Administra-ção, comentou, certa vez, que, na era do conhecimento, “a pessoa instruída é o emblema, o símbolo, o porta-bandeira da sociedade”.

No âmbito público, o cenário não se mostra diferente, onde a permanente qualificação dos agentes públicos revela-se um impe-rativo para que este tipo de organização permaneça na busca e no alcance da sua nobre missão: velar pelo bem público e atender às demandas do cidadão com qualidade. Ademais, a crença é de que o domínio de ferramentas e métodos administrativos configura-se como o caminho mais seguro para a integração das instituições públicas a este contexto de forte e rápida mutação.

O impacto disso reflete-se diretamente na área de recursos hu-manos, ao descrever um novo perfil para os administradores. Desse modo, seja qual for o nível de tomada de decisão em que atuam, passa-se a exigir de tais profissionais, diferentemente de momentos passados, não somente um conhecimento específico, mas, sobretudo, a capacidade de entender e de analisar o ambiente em que atuam a

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A gestão do Judiciário na perspectiva dos seus servidores

partir de uma visão holística e sistêmica, em que o todo é definitiva-mente maior do que a soma das suas partes.

Dentro desta realidade, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJ-SC) disponibilizou aos seus servidores, a partir de junho de 2010, o curso de pós-graduação lato-sensu em Gestão Organizacional e Tecno-logia em Recursos Humanos, oferecido pelo Departamento de Ciências da Administração da Universidade Federal de Santa Catarina.

O referido Curso, com carga horária de 450 horas e finalizado em dezembro de 2011, teve como público-alvo os gestores, magistra-dos, assessores e técnicos administrativos integrantes do quadro de servidores do TJ-SC. Como objetivo, buscou “proporcionar debates de conceitos de vanguarda na administração de gestão pública, bem como incentivar a troca de experiências e desenvolvimento de meca-nismos inovadores, no sentido de estimular novas competências de gestão e empreendedorismo”, garantindo aos seus alunos: a) assimi-lar os principais pressupostos teóricos que fundamentam a definição de políticas e práticas de Administração de Recursos Humanos na instituição; b) conhecer as principais atividades e procedimentos dos vários subsistemas da Administração RH e os impactos de sua opera-cionalização em diferentes instâncias organizacionais; c) conhecer e aplicar técnicas gerenciais modernas, capazes de alavancar o desen-volvimento dos recursos humanos da organização; e d) cultivar valo-res organizacionais preservando a ética.

O sucesso do empreendimento foi indiscutível, com a aprova-ção de 100% do seu corpo discente. Além disso, como produto da sua aprendizagem, cada aluno apresentou, ao final, um trabalho de conclusão de curso no qual pôde demonstrar as habilidades e os co-nhecimentos adquiridos para a análise e a solução de problemas do cotidiano da sua organização. A divulgação dos trabalhos científicos produzidos pelos servidores do TJ-SC por ocasião da conclusão do curso de pós-graduação em Gestão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos, é parte do processo de aprimoramento da gestão do judiciário, na medida em que traz ao público a visão dos próprios servidores sobre determinados tópicos.

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Alessandra de Linhares Jacobsen e Luis Carlos Cancellier de Olivo

Compreendemos, assim, a responsabilidade do nosso sistema educacional e, em especial, do ensino superior em administração, no que se refere a preparar profissionais para atuarem no mundo moder-no. Este é o nosso comprometimento.

Dentre os tópicos que merecem ser destacados, quando se trata da gestão do Judiciário catarinense, podemos citar: plano de desen-volvimento institucional, a automação na organização do trabalho, os sistemas de apoio à decisão, o controle interno e o Fundo de Reapa-relhamento da Justiça, a qualidade de vida no trabalho, os sistemas de informações e gestão por processos, a gestão por competências, o planejamento estratégico, o atendimento ao público externo e a ex-ternalização do conhecimento.

O planejamento estratégico é uma ferramenta de gestão que está sendo inserida no contexto da administração pública, alterando os modelos organizacionais. Todavia para algumas unidades admi-nistrativas, como as Escolas de Governo, há necessidade de utiliza-ção de mecanismos complementares para que sua atuação possa ser plena e alcançar o resultado esperado. É o que faz, por exemplo, a Academia Judicial catarinense quando utiliza um Plano de Desenvol-vimento Institucional – PDI como instrumento de eliminação ou re-dução do isomorfismo institucional, tendo em vista normas editadas pelo Conselho Nacional de Justiça – CNJ.

Como demonstrado no estudo de Adalto Barros dos Santos e Luís Moretto Neto, percebe-se que o PDI possibilita reduzir a ocorrên-cia do fenômeno do isomorfismo institucional, oportuniza a criação de uma identidade pela escola de acordo com sua inserção regional, e ainda, proporciona os seus planejamentos administrativo, técnico--administrativo e didático-pedagógico alinhados com o planejamento estratégico da organização.

Outro tópico a ser destacado é o reflexo que a virtualização do processo judicial produz na organização do trabalho, em especial quanto à possibilidade de tornar a Justiça mais célere e transparente, de um lado, e de outro, reconhecendo novas competências aos servi-dores do Judiciário.

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A gestão do Judiciário na perspectiva dos seus servidores

Utilizando a técnica de estudo de caso, o trabalho de Adria-na Kátia Ternes Moresco e Ari Dorvalino Schurhaus indica como a aplicação do workflow nos cartórios judiciais pode ser muito amplia-da, com a criação de varas especializadas, que permitam uma mais eficiente padronização dos fluxos de trabalho. Concluem os autores que, sendo observadas as normas legais, sistemas e servidores do Ju-diciário poderão trabalhar complementarmente e não de maneira in-terdependente, trazendo com isso melhores resultados nos trabalhos executados.

Por outro lado, Alberto João da Cunha Júnior e Mauricio Fer-nandes Pereira, a partir dos conceitos de tomada de decisão, de siste-mas de informação e de tecnologia da informação, propõem o desen-volvimento de um sistema de informações (SAD-Sistema de Apoio à Decisão) relacionado com os cartórios extrajudiciais vagos do Estado de Santa Catarina (aqueles ainda não providos por titular concursa-do), podendo ser estendido aos cartórios que se pretende criar, que dê apoio à tomada de decisão relacionada a eles. O objetivo a ser alcançado, em um primeiro momento, é identificar, de acordo com a teoria do processo decisório, o tipo de decisão mais comum toma-do nesta área. Num segundo momento, são relacionados os tipos de Sistemas de Apoio à Decisão e em seguida se propõe o sistema mais adequado relacionado com as serventias extrajudiciais vagas para o Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina.

Aspecto importante também da gestão do Judiciário na pers-pectiva dos seus servidores é a pesquisa desenvolvida por Blévio Nu-nes e Wanderley Horn Hulse sobre a atividade desempenhada pelo Controle Interno do TJSC, através da Auditoria Interna, na orienta-ção e fiscalização dos recolhimentos de valores devidos ao Fundo de Reaparelhamento da Justiça – FRJ.

Voltado para o estudo da qualidade de vida no trabalho, Caroli-na Ranzolin Nerbass Fretta e Marcos Baptista Lopez Dalmau avaliam a atuação da Diretoria de Recursos Humanos do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, junto aos servidores de comarcas do interior do Estado. A pesquisa teve como objetivo identificar o grau de satisfação

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e, por conseguinte, de comprometimento com a Missão da instituição (Poder Judiciário) bem como em concretizar a sua Visão. Para tanto foi aplicado questionário encaminhado a 22 (vinte e dois) servido-res de três comarcas, escolhidas pelo critério de acessibilidade, cuja resposta foi voluntária. A partir daí, concluiu-se pela necessidade de aprimoramento dos mecanismos de divulgação e promoção da QVT e, principalmente, de aproximação do setor de Recursos Humanos do Tribunal de Justiça dos servidores das comarcas do interior para o pleno entendimento da realidade em que atuam.

Djalma João da Silva e Gilberto de Oliveira Moritz, por seu tur-no, salientam que desde a década de 1980 as organizações vêm pas-sando por importantes transformações em suas estruturas, decorren-te do modo de gerenciamento baseado na aplicação de rotinas de trabalho integradas, visando os processos que compõe o negócio da instituição.

De acordo com esse novo paradigma, quanto mais racionais, lógicas e inter-relacionadas são as atividades operacionalizadas, mais qualidade é agregada ao resultado; além do que, passa-se a desen-volver uma cultura voltada à formação do conhecimento na organi-zação. Todavia, para a sua implementação é necessário que sejam adotados instrumentos técnicos adequados de planejamento e de acompanhamento, que podem ser representados pelas atividades de mapeamento de processos e pela elaboração de manuais, guias e orientações.

A experiência do dia a dia das diretorias administrativas do Tri-bunal de Justiça de Santa Catarina – TJSC tem demonstrado que, assim como acontece de modo geral no setor público, o modelo tradi-cional, ou funcional de administração é o que ainda predomina. Em função dessa situação, o fluxo da informação tende a ser truncado; cada servidor, chefe ou diretor, na maioria dos casos, só conhece e é responsável por sua própria atividade; as melhorias do processo são raras e demoradas.

Diante de tal constatação, os autores apresentam considerações e conceitos relacionados à gestão por processos e ao gerenciamento

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A gestão do Judiciário na perspectiva dos seus servidores

de projetos de sistemas de informação, visando estabelecer as bases para a proposta de implementação do sistema de informação de pro-cedimentos administrativos - SIPACI-TJSC, com o objetivo de esta-belecer um canal de comunicação direta entre as diretorias, para a divulgação de suas atividades.

O objetivo final, ressaltam, é obter um modelo de gerenciamen-to eficaz e que, inclusive, proporcione melhor controle sobre os pro-cessos que envolvem as unidades administrativas.

Ao tratar da gestão por competência, Edenir Murilo da Costa e Alexandre Marino Costa, realizam uma abordagem prática no âmbi-to da Diretoria de Recursos Humanos do Tribunal de Justiça catari-nense, para verificar se esta Unidade administrativa tem aproveitado as competências técnicas e comportamentais de seus colaboradores, direcionando-as a seus objetivos estratégicos.

Para atingir o objetivo buscou-se conhecer o modelo atual utili-zado pela organização, delimitado no âmbito da Diretoria de Recur-sos Humanos, com o objetivo de proposta de mudança no modelo de gestão. O estudo utilizou-se de coleta de dados em contato direto com o fenômeno observado e o registro sistemático do fluxo de tra-balho, somado às entrevistas informais. A conclusão a que chegam os autores é que, tendo em vista a necessidade da melhoria da estrutura e do aproveitamento das competências técnicas e comportamentais atuais, a adoção de um modelo de gestão estratégica de pessoas por competências seria o caminho indicado.

Também analisando o planejamento estratégico do Poder Judi-ciário de Santa Catarina, Humberto Carrard Rodrigues e Wanderley Horn Hulse destacam que o planejamento estratégico do Poder Ju-diciário de Santa Catarina, desenvolvido desde o ano de 2000, foi reavaliado em 2009 diante do alinhamento definido pelo Conselho Nacional de Justiça. Foram revistos a missão, visão e valores, bem como efetuado o alinhamento dos indicadores com os definidos em nível nacional. Para os autores, mesmo assim, percebe-se na imple-mentação do planejamento do Poder Judiciário de Santa Catarina a necessidade de maior controle e comunicação de sua estratégia.

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Tópicos Destacados na Gestão do Judiciário Catarinense – Volume 1 11

Alessandra de Linhares Jacobsen e Luis Carlos Cancellier de Olivo

Ao defender que o atendimento ao público externo é um ob-jetivo estratégico do Judiciário, Joerli Adriana da Silva Junkes e Ari Dorvalino Schurhaus destacam que a qualidade no atendimento ao cidadão, usuário do serviço público, é apontada em pesquisas como insatisfatória. Diante de tal constatação, apontam formas de melhorar este atendimento, em especial levando em conta o teor da Emenda Constitucional n. 45, no que se refere à regulamentação dos progra-mas de qualidade de atendimento a fim de oferecer melhores serviços à sociedade.

Quando se pensa em serviço público, lembram os autores, o que vem à mente são serviços lentos, malfeitos, mau atendimento, descaso e muitos outros atributos negativos. Entretanto, a modifi-cação dessa visão é um desafio que se impõe, oferecendo serviços céleres e com qualidade. Nesse sentido, o atendimento ao público externo, com qualidade, deve ser um objetivo estratégico do Poder Judiciário.

No estudo sobre Externalização do conhecimento na Correge-doria-Geral da Justiça do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, Perla Maria Fusinatto Schappo e Dante Marciano Girardi analisam algumas práticas de gestão do conhecimento que possibilitem a sua externali-zação na CGJ de Santa Catarina. Os resultados da pesquisa mostra-ram a importância da adoção de práticas que visem à externalização do conhecimento, não apenas na CGJ, mas também em diversos se-tores do Tribunal de Justiça. O estudo conclui sugerindo a adoção de práticas como a criação de fóruns presenciais ou virtuais, a utilização de ferramentas como portais, intranets e internets, a criação de um banco de competências organizacionais, a adoção de sistemas de in-teligência organizacional, e, como prática mais importante, aponta a criação da memória organizacional da CGJ.

É possível afirmar, enfim, que há um esforço permanente, por parte dos servidores do Judiciário catarinense, seja por meio de sua prática administrativa ou pelo estudo de questões que demandam re-flexões mais especializadas, em contribuir com a melhoria da gestão do Judiciário.

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A gestão do Judiciário na perspectiva dos seus servidores

Os estudos apresentados no primeiro volume da Coleção “Ges-tão Organizacional e Tecnologia em Recursos Humanos”, que aborda os “Tópicos destacados na gestão do Judiciário catarinense” são uma comprovação dessa constatação.