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A GESTÃO DO CONHECIMENTO EM BIBLIOTECAS
UNIVERSITÁRIAS: UM ENFOQUE NO SENSEMAKING
ORGANIZACIONAL
Luciana Carvalho de Oliveira
(LATEC/UFF)
Emmanuel Paiva de Andrade (LATEC/UFF)
Resumo: As bibliotecas universitárias desempenham importantes papéis no processo educacional
e por isso, a excelência administrativa destas é considerada um pressuposto para atender
satisfatoriamente às demandas de seus usuários. Deste modo, a gestão do conhecimento
representa a visão de um novo caminho para que essas bibliotecas possam atingir seus objetivos
e fornecer vantagem competitiva às instituições em que estão inseridas. O objetivo deste estudo é
analisar e discutir a temática da gestão do conhecimento em bibliotecas universitárias. Assim, o
quadro teórico foi baseado em conceitos relacionados à gestão do conhecimento em bibliotecas
universitárias, sensemaking organizacional e comunidades de prática por tratar-se de assuntos
pertinentes para a explanação, discussão e análise dos elementos que constituem o problema de
pesquisa. Em relação à metodologia foi escolhido o método de estudo de caso, utilizando a
abordagem de métodos mistos sequenciais, cuja unidade de análise foi um sistema de bibliotecas
de uma Instituição de Ensino Superior (IES). O resultado da pesquisa permite perceber que
quatro, dentre as sete características do processo de sensemaking organizacional, foram
identificadas nos processos do sistema de bibliotecas. Conclui-se que são necessárias melhorias
nos processos de modo que o sensemaking ocorra na organização. Deste modo sugere-se as
comunidades de prática como ferramentas capazes de promover o sensemaking organizacional
que o sistema de bibliotecas necessita para gerir conhecimento de forma efetiva.
Palavras-chaves: Bibliotecas universitárias. Gestão do conhecimento. Sensemaking
organizacional.
ISSN 1984-9354
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1. Introdução
Um dos maiores desafios das organizações contemporâneas tem sido manter a vantagem
competitiva de seus negócios de maneira sustentável diante de um ambiente marcado por rápidas e
constantes mudanças.
Diante disso, a gestão do conhecimento tem representado uma nova visão de gestão para as
organizações, tanto públicas, como privadas, uma vez que a informação e o conhecimento
tornaram-se os principais fatores de competitividade entre indivíduos, organizações e nações.
As bibliotecas universitárias são organizações sem fins lucrativos, na maioria das vezes,
mas que possuem um grande potencial para fornecer vantagem competitiva às universidades em
que estão inseridas, uma vez que são, por natureza, locais de disseminação da informação e
produção de conhecimento, o que demanda uma administração eficaz.
Sendo assim, a gestão do conhecimento pode auxiliar essas bibliotecas na identificação,
aquisição, desenvolvimento, compartilhamento e uso do conhecimento e da expertise dos seus
profissionais e do conhecimento gerado nas bibliotecas, contribuindo para torná-las mais
produtivas, operacionais, orientadas aos usuários e facilitando o desenvolvimento dessas para o
desempenho de suas funções.
Desde modo, o processo de sensemaking organizacional ou construção de sentido, emerge
como um processo essencial para que a gestão do conhecimento ocorra, pois é por meio deste
processo que as pessoas interagem e criam sentidos comuns para que ajam de forma coletiva,
favorecendo a aprendizagem e a tomada de decisão.
Nesse cenário, as comunidades de prática revelam-se como dispositivos eficazes para a
construção do sensemaking organizacional, uma vez que a interação que essas comunidades
proporcionam podem contemplar todas as propriedades que este processo exige.
1.1 FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA
As bibliotecas universitárias caracterizam-se como um dos principais pilares do processo
de ensino-aprendizagem em uma universidade, por isso devem estar a serviço da comunidade
acadêmica e devem desenvolver e disponibilizar ações e serviços que fortaleçam o ensino, a
pesquisa e a extensão.
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Entretanto, para que cumpra sua função com excelência, a biblioteca universitária necessita
de uma administração eficaz. Sendo assim, a gestão do conhecimento representa um meio de
potencializar o aprendizado dessas bibliotecas, ampliando o desenvolvimento e a competitividade
das mesmas e introduzindo a melhoria em seus processos, produtos e tomada de decisão.
Mas para isso, as bibliotecas universitárias precisam estar preparadas para utilizar a
informação e o conhecimento de sua equipe de colaboradores, que são os detentores de
conhecimento organizacional, para melhorar os serviços oferecidos à comunidade acadêmica e
para oferecer vantagem competitiva à universidade na qual está inserida.
1.2 OBJETIVO DA PESQUISA
O objetivo principal da pesquisa é mostrar o papel e a relevância que um sistema de
bibliotecas pode desempenhar em uma instituição desde que esteja pautado por uma gestão
moderna, informada e sustentada pelas abordagens da gestão do conhecimento, como um agente
fundamental do processo de aquisição, tratamento, produção e difusão do conhecimento,
constituindo-se como um locus privilegiado da dinâmica institucional.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
As bibliotecas universitárias estão inseridas nas universidades, que são importantes
organizações sociais, responsáveis por gerar e difundir uma série saberes que contribuem para o
desenvolvimento sustentável da sociedade.
O conceito de educação da atualidade vai além de transmitir conhecimentos, devendo
também fornecer subsídios para que os indivíduos construam suas ideias e desenvolvam suas
capacidades. Deste modo, as bibliotecas universitárias devem desempenhar um papel ativo no
processo educacional, mas para isso necessitam de uma administração adequada (DZIEKANIAK,
2009).
As bibliotecas universitárias devem ser pensadas como organizações com resultados
programados e avaliados constantemente. Essa estratégia pode ser crucial para que estas
bibliotecas consigam competir com maior acerto em um ambiente de inovações e incertezas que se
vive atualmente (MACIEL; MENDONÇA, 2006).
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Desta forma, como as demais organizações do conhecimento, as bibliotecas universitárias
devem estar preparadas para captar, armazenar e disponibilizar o conhecimento, principalmente
nesse momento, em que seu conceito vem sendo ampliado, configurando-se em espaços sem
parede, como as bibliotecas virtuais, eletrônicas e digitais (DE BEM; AMBONI, 2013; FU, 2010;
VIANA; MESQUITA; MOURA, 2011).
Contudo, para que obtenha sucesso e cumpra sua função com excelência, a biblioteca
universitária necessita estar preparada para utilizar a informação e o conhecimento de sua equipe
de colaboradores, que são os detentores de conhecimento organizacional, para melhorar os
serviços oferecidos à comunidade acadêmica, o que demanda uma administração eficaz
(DZIEKANIAK, 2009; VIANA; MESQUITA; MOURA, 2011).
Sendo assim, a administração de bibliotecas universitárias tornou-se um dos pontos chave
para a qualidade da educação e obtenção de um bom desempenho, tanto da biblioteca, quanto da
instituição na qual está inserida (DZIEKANIAK, 2009; TASMIN et al., 2012). Sendo assim, a
gestão do conhecimento pode contribuir para potencializar o aprendizado das bibliotecas
universitárias, ampliando o desenvolvimento e a competitividade das mesmas, introduzindo a
melhoria em seus processos, produtos e tomada de decisão (QU, 2011).
Uma organização orientada para a gestão do conhecimento é aquela que possui a
habilidade de aprender a aprender, envolvendo todos os membros nesse processo (BRITO;
CASTRO; SILVA, 2012; ROSSETI, 2008). De acordo com Maravalhas (2010) a aprendizagem só
ocorre quando um novo sentido é formado pelos indivíduos, por meio de reflexão e
compartilhamento de experiências durante as práticas de trabalho. Esse sentido é obtido por meio
do processo de sensemaking organizacional, considerado por Choo (2011) um dos pilares da
gestão do conhecimento nas organizações.
2.1 SENSEMAKING ORGANIZACIONAL
O responsável pelo conceito de sensemaking organizacional é Karl E. Weick, professor de
comportamento organizacional e psicologia da Universidade de Michigan. Ao analisar uma série
de discussões sobre sensemaking na literatura, Weick (1995) passou a estudá-lo sob a ótica do
ambiente organizacional, dando origem ao conceito de sensemaking organizacional, processo em
que a formação de sentido é construída de forma coletiva pelos membros da organização,
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considerando suas crenças e experiências passadas (LEITÃO; NASIFF, 2012; MELO;
PEDROZO, 2012).
O processo de sensemaking organizacional tem inicio quando alguma mudança ocorre na
prática de trabalho, demandando uma nova aprendizagem por parte dos indivíduos em um ciclo
contínuo (MARAVALHAS, 2010). Em seguida esses indivíduos buscam entender e determinar o
significado dessas mudanças, tentando tornar as experiências passadas significativas e chegarem a
um consenso (RUSSO; SBRAGIA, 2010). Para Choo (2011) é a partir desse consenso que a
organização passa a construir conhecimento.
O processo de sensemaking organizacional possui sete propriedades (CHOO, 2011;
LEITÃO; NASSIF, 2012; MONTENEGRO, 2011; RUSSO; SBRAGIA, 2010; WEICK, 1995;
WEICK, 2005):
1) Baseado na construção de identidade: o processo de sensemaking tem inicio com o nível
individual (sensemaker), um produtor de sentido que estabelece uma identidade pessoal. O
ambiente é uma espécie de espelho, no qual os indivíduos se projetam e observam as
consequências para aprender sobre sua identidade. Nessa interação com o ambiente, o
entendimento é afetado por várias necessidades dos indivíduos nas organizações, como
pertencer, evoluir, ser eficaz, se destacar, se confirmar, se integrar, representar a
instituição, etc.;
2) Retrospectivo: o sensemaking organizacional trabalha fatos que já ocorreram, sendo a
característica mais marcante deste processo, segundo Weick (1995). Os indivíduos partem
de um momento específico no tempo, de forma que o que está ocorrendo no momento irá
refletir no sentido que será dado a essas memórias. Desta forma, os indivíduos precisam de
valores e prioridades, a fim de esclarecerem o que é de fato importante e significativo nas
experiências vividas;
3) Interpretativo de ambientes perceptíveis: o sensemaking organizacional é um processo
interpretativo, no qual os indivíduos de uma organização criam parte do ambiente que os
cerca. Para Weick (1995), não existe um ambiente monolítico e fixo, independente das
pessoas. Os indivíduos fazem parte de seus próprios ambientes criados;
4) Social: todo sensemaking é feito em grupos. Mesmo no nível individual, há uma interação
entre o que o indivíduo imagina e a reação dos outros, que não estão presentes fisicamente,
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mas irão ser afetados ou cujas reações terão importância. Isto é, mesmo que não haja
comunicação, os indivíduos influenciam uns aos outros. É muito comum que o
sensemaking ocorra em grupos de indivíduos envolvidos em conversas, que se tornam o
meio da construção social;
5) Contínuo: o sensemaking não possui um início ou fim, pois é um fluxo contínuo de
atividades e projetos, que constituem a vida da organização. Isso ocorre porque os
indivíduos estão sempre inseridos em projetos nas organizações, o que torna a visão dos
mesmos dirigida para as situações, informações, emoções e interrupções que neles
ocorrem;
6) Focado em (e por) dicas extraídas: dicas extraídas são estruturas familiares e simples,
consideradas como as “sementes” a partir das quais os indivíduos desenvolvem um
sentido mais amplo do que pode estar ocorrendo;
7) Guiado mais pela plausibilidade do que pela precisão: o que se espera é um resultado
plausível (aceitável) e não uma verdade absoluta (acurácia). Assim, ocorre a reformulação
contínua de um novo evento, para que ele se torne mais compreensível.
Diante essas características, percebe-se que o contexto social é crucial para o sensemaking
organizacional, pois ele é a ponte entre os indivíduos e as ações que precisam se justificar
(MARAVALHAS, 2010). Nonaka e Toyama (2003) afirmam que a criação do conhecimento é
intimamente relacionada com a prática. Por isso, os autores propõem a criação de contextos
organizacionais que estimulem a interação social, permitindo que os indivíduos construam
identidades compartilhadas e sugerem as comunidades de prática para isso.
2.2 COMUNIDADES DE PRÁTICA E SENSEMAKING
ORGANIZACIONAL
De acordo com a literatura, as comunidades de prática podem ser definidas como um grupo de
indivíduos que se reúnem em locais físicos ou não para discutirem interesses em comum,
compartilhando práticas e experiências. Convém ressaltar que essas comunidades ocorrem de
maneira informal e espontânea, por isso precisam de incentivo, mediação, estrutura, humanização
e gestão. Pois quanto mais oportunidades tiverem e quanto mais ferramentas e meios forem
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utilizados, maior será a quantidade de conhecimento transferido (SCHRÖEDER, 2006; ARAÚJO;
ALVARENGA NETO, 2009).
Para Gonzalez, Martins e Toledo (2009), o conceito de comunidade de prática está
intimamente relacionado com aprendizagem, desenvolvimento de conhecimento e com a formação
de identidade nos grupos. Nestes grupos, os indivíduos desenvolvem uma identidade comum e um
contexto social propício ao compartilhamento de conhecimento. Este contexto social desenvolve
nos indivíduos uma visão do trabalho e do mundo, que deve refletir a organização.
Segundo Tamaél (2008), as comunidades de prática existem, virtualmente, em todas as
organizações, porém muitas não reconhecem sua presença. O fortalecimento dessas comunidades
depende de um líder capaz de apoiar a criação da comunidade, que participe ativamente e encoraje
outras pessoas a compartilhar.
Os benefícios percebidos nas organizações que mantêm ou incentivam as comunidades de
prática são apresentados a seguir (BASSANI; SÁ; SANTOS, 2009; TOMAÉL, 2008; WENGER,
1998):
Tornam-se pontos de referência para troca e interpretação de informações;
Proporcionam respostas mais rápidas aos clientes;
Ajudam a reduzir custos;
Auxiliam na melhoria da qualidade do trabalho e na otimização do tempo;
Oferecem maior facilidade e rapidez na implementação de projetos;
Permitem a retenção do conhecimento de maneira “viva”, pois é renovável.
Preserva o aspecto tácito do conhecimento que muitas vezes não é capturado nos sistemas
formais existentes na organização;
Fornecem espaço para estabelecer identidade coletiva
As comunidades de prática são essenciais em ambientes cuja melhoria deve ser constante, pois
desenvolvem indivíduos especialistas, que compartilham uma linguagem comum acerca dos
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processos e problemas organizacionais. Como nem todo conhecimento é facilmente explicitado, o
desenvolvimento de ambientes que estimulem a interação torna-se essencial para o processo de
socialização do conhecimento (GONZALEZ; MARTINS; TOLEDO, 2009).
Portanto, a criação de contextos organizacionais que estimulem a interação social, como a que
ocorre nas comunidades de prática, constitui um fator importante para a sustentação da
aprendizagem. Ressalta-se também que o sensemaking advindo dessas comunidades de prática
pode ser valioso tanto para os indivíduos, quanto para as organizações construírem conhecimento.
3 METODOLOGIA
Segundo Silva e Vergara (2003), uma das limitações encontradas nos modelos tradicionais
de gestão de mudanças, que assumem a perspectiva de um problema a ser solucionado, é que eles
enfatizam excessivamente a racionalidade, deixando de levar em consideração a complexidade, a
ambiguidade e os paradoxos que fazem parte de uma organização. Diante disso, a tendência atual
é o fortalecimento da perspectiva social da aprendizagem e da evolução de metodologias
qualitativas que possibilitem a investigação empírica que se alinhe com a lógica de construção de
significados por meio do diálogo (FINGER; BRAND, 2001; MARAVALHAS, 2010).
Perante esse posicionamento e com base na classificação de Creswell (2007), quanto às
três questões centrais para um projeto de pesquisa, a pesquisa foi estruturada da seguinte forma:
1) Alegações de conhecimento - a pesquisa de ampara nas alegações de conhecimento
socialmente construídas, já que seu objetivo é basear-se o máximo possível nas visões dos
participantes a respeito da situação estudada e por considerar o processo de interação entre
as pessoas;
2) Estratégias de investigação - Estudo de caso, utilizando a abordagem de métodos mistos
sequenciais;
3) Métodos de coleta e análise de dados - Pesquisa bibliográfica, pesquisa documental,
aplicação de questionário, entrevista semiestruturadas.
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3.1 CARACTERÍSTICAS DA POPULAÇÃO E CRITÉRIOS DE SELEÇÃO
Para Vergara (2011), a população deve ser entendida como um conjunto de elementos que
possuem características que serão objeto de estudo. Sendo assim, na fase quantitativa do presente
estudo, a escolha dos participantes da pesquisa se deu por meio de um processo censitário, cujo
critério para seleção dos participantes foi estabelecido pelo fato destes estarem atuando no Sistema
de Bibliotecas pesquisado, totalizando vinte e três participantes, entre Bibliotecários e auxiliares.
Na fase qualitativa foram selecionados quatro Bibliotecários para responderem à entrevista
semiestruturada, o que possibilitou um maior aprofundamento dos resultados da fase quantitativa,
nas questões onde não foi possível encontrar um posicionamento claro, havendo uma dispersão
elevada entre a opinião dos participantes.
Através da triangulação das fontes de dados, buscou-se compreender as experiências
vividas e identificar as limitações que mais afetam a atuação dos profissionais para, então, propor
ações objetivas na tentativa de favorecer a implantação das práticas de gestão do conhecimento, de
modo a auxiliar a melhoria das práticas profissionais.
3.2 ANÁLISE DOS DADOS
Na fase quantitativa os dados foram analisados utilizando os conceitos de estatística
descritiva. A partir dos resultados da análise quantitativa, surgiram questões que serviram de base
para a elaboração da entrevista semiestruturada referente à fase qualitativa.
Diante dos resultados obtidos em ambas as fases, buscou-se a convergência dos mesmos,
por meio do processo de triangulação de dados, o que permitiu maior aprofundamento das
questões (CRESWELL, 2007; YIN, 2010).
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4 RESULTADOS
Por se tratar de um estudo descritivo pretende-se apresentar e compreender o quadro
encontrado. É importante salientar que os resultados apresentados são restritos a amostra
pesquisada, pois trata-se de um estudo de caso, o que pode refletir uma realidade dos fatos,
diferente de outros sistemas de bibliotecas que apresentam características aparentemente
semelhantes às do sistema de bibliotecas pesquisado.
Os instrumentos de coleta de dados buscaram identificar as propriedades do processo de
sensemaking organizacional nas rotinas de trabalho do sistema de bibliotecas pesquisado. Desta
forma contatou-se:
Baseado na construção de identidade – o sistema de bibliotecas pesquisado carece de uma
“identidade organizacional”, uma vez que a missão, a visão e os valores organizacionais não são
claros para todos os membros. Como o ambiente é uma espécie de espelho, no qual os indivíduos
se projetam e observam as consequências para aprender sobre sua identidade e essa identidade
organizacional não é clara para os membros, não haverá um senso de destino comum entre eles, ou
seja, uma visão do trabalho e do mundo, que reflita a organização, impedindo a fluidez do
processo de sensemaking organizacional (CHOO, 2011; NONAKA; TOYAMA, 2005).
Retrospectivo – pode-se observar que o registro do conhecimento organizacional sobre os
processos, produtos, serviços e relacionamento com os usuários do sistema pesquisado não vêm
sendo realizados efetivamente, o que dificulta a aprendizagem dos membros, principalmente dos
novos membros. A retrospecção é uma das principais características do processo de sensemaking
organizacional, por isso as organizações precisam de uma estrutura adequada à formação de
memória organizacional, que é essencial para uma retrospecção mais efetiva (RUSSO; SBRAGIA,
2010; SCHRÖEDER, 2006; WEICK, 1995).
Interpretativo de ambientes perceptíveis – foi constatado que os membros buscam levar em
consideração as sugestões e críticas recebidas pelos usuários para a construção de um ambiente
adequado às demandas. Sendo assim, essa característica do processo sensemaking organizacional
foi considerada presente nos processos do sistema de bibliotecas pesquisado (SCHRÖEDER;
2006; WEICK, 1995).
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Social – foi observado que os membros buscam chegar a um senso comum quando estão prestes a
tomar decisões. Isso demonstra que os membros do sistema são proativos em buscar adaptação às
demandas conforme vão surgindo, através da troca de experiências. Portanto, a socialização que é
uma característica de sensemaking organizacional pode ser considerada presente nos processos do
sistema de bibliotecas (RUSSO; SBRAGIA, 2010; SCHRÖEDER, 2006).
Contínuo – constatou-se que os trabalhos realizados em conjunto geralmente não têm
continuidade, o que prejudica o processo de construção de sentido ou sensemaking organizacional,
pois a socialização deve ser contínua para que as ambiguidades sejam reduzidas diante dos
problemas que vão surgindo, facilitando o processo decisório (CHOO, 2011; WEICK, 1995).
Focado em (e por) dicas extraídas – verificou-se que os membros do sistema estão atentos às
mudanças que ocorrem no ambiente externo à organização, buscando adaptá-la às novas
demandas, o que cria a oportunidade para que o sensemaking organizacional ocorra e, a partir daí,
desenvolvam novas soluções, insights e ideias (SCHRÖEDER, 2006; WEICK, 1995).
Guiado mais pela plausibilidade do que pela precisão – na percepção dos membros
entrevistados as experiências compartilhadas ajudam a solucionar problemas ou adaptar as
demandas de forma mais ágil para que alcancem resultados aceitáveis, sinalizando a presença
dessa característica de sensemaking organizacional nos processos do sistema pesquisado (RUSSO;
SBRAGIA, 2010).
5 CONCLUSÕES
Por meio desse estudo foi possível confirmar que o processo de sensemaking
organizacional é essencial para uma bem sucedida gestão do conhecimento, pois é um processo
ligado às pessoas, que são peças fundamentais neste tipo de gestão.
No ambiente organizacional, apesar da construção do conhecimento ocorrer na mente
humana, esta é influenciada por diversos fatores culturais que guiam e formam os valores,
comportamentos e atitudes dos colaboradores. Sendo assim, as organizações precisam enfrentar o
desafio de construir um ambiente onde indivíduos consigam promover o sensemaking
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organizacional para que ajam de forma coletiva, viabilizando a construção de conhecimentos
pertinentes e a tomada de decisões mais acertadas.
De uma maneira geral, foi constatado que quatro, dentre as sete características do processo
de sensemaking, estão presentes nas rotinas de trabalho do sistema de bibliotecas pesquisado.
Deste modo, é preciso introduzir melhorias nos processos, de modo a contemplar as três
características ausentes, pois somente assim haverá a criação de significado, necessária ao
processo de gestão do conhecimento organizacional.
Neste sentido, as comunidades de prática podem ser ferramentas eficazes para que o
sistema pesquisado consiga atingir seus objetivos, pois são lugares importantes para
aprendizagem, significado e identidade, isto é, elementos necessários para que a organização
consiga gerir conhecimento de forma efetiva.
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