a gestão da zona costeira portuguesa

13
www.aprh.pt/rgci www.gci.inf.br A Gestão da Zona Costeira Portuguesa Fernando Veloso Gomes Faculdade Engenharia da Universidade do Porto RESUMO O artigo inclui as propostas que constam do Relatório “Bases para a Estratégia da Gestão Integrada das Zonas Costeiras”, elaborado para o Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional. Este Relatório, apresentado em versão final em Junho de 2006, tem como autores Fernando Veloso Gomes (coordenador), Ana Barroco, Ana Ramos Pereira, Carlos Sousa Reis, Helena Calado, João Gomes Ferreira, Maria da Conceição Freitas, Manuel Biscoito. Apresenta-se um enquadramento do tema e uma discussão de conceitos. Destacam-se alguns problemas chave relacionados com a dinâmica fisiográfica e erosões, vulnerabilidades e riscos, mitigação de acções antrópicas e de riscos, destacando-se a necessidade de uma nova geração de Planos de Ordenamento e do reforço da investigação e monitorização. De uma forma sumária referem-se algumas iniciativas nacionais e internacionais sobre a Zona Costeira. Apresentam-se propostas de oito Princípios, nove Objectivos Fundamentais e trinta e sete Opções Estratégicas para a Gestão Integrada da Zona Costeira nacional. As Opções Estratégicas formuladas foram hierarquizadas de acordo com uma prioridade temporal, identificando a tipologia dominante das Medidas Associadas. Da análise das propostas detalhadas que foram formuladas surge um conjunto de medidas estruturantes, que se interligam e agregam diversas acções que reflectem o novo modelo de gestão integrada proposto para a Zona Costeira e que incluem a “Lei de Bases da Zona Costeira”, o “Sistema Organizativo”, o “Programa de Acção” e a “Monitorização”. ABSTRACT The article includes the proposals that integrate the Report “Basis for a National Strategy for Coastal Zone Management”, prepared for the Ministry of Environment, Territorial Planning and Regional Development. The Report, presented at its final version in June 2006, has as authors Fernando Veloso Gomes (coordinator), Ana Barroco, Ana Ramos Pereira, Carlos Sousa Reis, Helena Calado, João Gomes Ferreira, Maria da Conceição Freitas, Manuel Biscoito. One presents the subject scope and a discussion of some concepts. Some key problems concerning coastal dynamic and erosion, vulnerabilities and risks, human action and risk mitigation are distinguished. The need for a new generation of Territorial Plans and the reinforcement of research and monitoring is distinguished as well. The National and International Initiatives on Coastal Zones are described in brief. A set of eight Principles, nine Primary Objectives and thirty seven Strategic Options for the Integrated Management of the national Coastal Zone are formulated. The Strategic Options were set hierarchically according to their temporal priority, identifying the dominant type of the Associated Measures. From the analysis of this previous comes a set of Structural Measures, which intertwined and aggregate several actions, and reflect the new integrated model for Coastal Zone management which include the “Coastal Zone Law”, the “Institutional System”, the “Action Program” and the “Monitoring Program”. Revista da Gestão Costeira Integrada 7(2):83-95 (2007) Artigo sem revisão editorial

Upload: capi88

Post on 15-Nov-2015

216 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

Artigo sobre a gestão integrada da zona costeira

TRANSCRIPT

  • www.aprh.pt/rgciwww.gci.inf.br

    A Gesto da Zona Costeira Portuguesa

    Fernando Veloso GomesFaculdade Engenharia da Universidade do Porto

    RESUMO

    O artigo inclui as propostas que constam do Relatrio Bases para a Estratgia da Gesto Integrada das ZonasCosteiras, elaborado para o Ministrio do Ambiente, Ordenamento do Territrio e do Desenvolvimento Regional. EsteRelatrio, apresentado em verso final em Junho de 2006, tem como autores Fernando Veloso Gomes (coordenador),Ana Barroco, Ana Ramos Pereira, Carlos Sousa Reis, Helena Calado, Joo Gomes Ferreira, Maria da Conceio Freitas,Manuel Biscoito. Apresenta-se um enquadramento do tema e uma discusso de conceitos. Destacam-se alguns problemaschave relacionados com a dinmica fisiogrfica e eroses, vulnerabilidades e riscos, mitigao de aces antrpicas e deriscos, destacando-se a necessidade de uma nova gerao de Planos de Ordenamento e do reforo da investigao emonitorizao. De uma forma sumria referem-se algumas iniciativas nacionais e internacionais sobre a Zona Costeira.Apresentam-se propostas de oito Princpios, nove Objectivos Fundamentais e trinta e sete Opes Estratgicas para aGesto Integrada da Zona Costeira nacional. As Opes Estratgicas formuladas foram hierarquizadas de acordo comuma prioridade temporal, identificando a tipologia dominante das Medidas Associadas. Da anlise das propostas detalhadasque foram formuladas surge um conjunto de medidas estruturantes, que se interligam e agregam diversas aces quereflectem o novo modelo de gesto integrada proposto para a Zona Costeira e que incluem a Lei de Bases da ZonaCosteira, o Sistema Organizativo, o Programa de Aco e a Monitorizao.

    ABSTRACT

    The article includes the proposals that integrate the Report Basis for a National Strategy for Coastal Zone Management, prepared forthe Ministry of Environment, Territorial Planning and Regional Development. The Report, presented at its final version in June 2006, hasas authors Fernando Veloso Gomes (coordinator), Ana Barroco, Ana Ramos Pereira, Carlos Sousa Reis, Helena Calado, Joo GomesFerreira, Maria da Conceio Freitas, Manuel Biscoito. One presents the subject scope and a discussion of some concepts. Some key problemsconcerning coastal dynamic and erosion, vulnerabilities and risks, human action and risk mitigation are distinguished. The need for a newgeneration of Territorial Plans and the reinforcement of research and monitoring is distinguished as well. The National and InternationalInitiatives on Coastal Zones are described in brief. A set of eight Principles, nine Primary Objectives and thirty seven Strategic Options forthe Integrated Management of the national Coastal Zone are formulated. The Strategic Options were set hierarchically according to theirtemporal priority, identifying the dominant type of the Associated Measures. From the analysis of this previous comes a set of StructuralMeasures, which intertwined and aggregate several actions, and reflect the new integrated model for Coastal Zone management which includethe Coastal Zone Law, the Institutional System, the Action Program and the Monitoring Program.

    Revista da Gesto Costeira Integrada 7(2):83-95 (2007)

    Artigo sem reviso editorial

  • 84

    1. Enquadramento

    O suporte biofsico da Zona Costeira portuguesatem especificidades prprias de que so exemplos osesturios, os sistemas lagunares, as dunas, as arribas,as praias, o meio hdrico marinho e os sistemasinsulares. Noutros pases, os mangais, os recifes, ascalotes de gelo constituem outros suportes biofsicosde importncia considervel.

    Existem ocupaes, usos e actividades econmicasmuito importantes escala nacional e local que sedesenvolvem na Zona Costeira e que beneficiamdessas especificidades biofsicas. Destacam-se asinfra-estruturas porturias e os transportes martimos,o turismo e as actividades balneares e de lazer, anutica de recreio, as pescas, a apanha, a aquaculturae a salicultura, bem como a utilizao de recursosminerais e energticos.

    A Zona Costeira tem uma importncia estratgicaem termos ambientais, econmicos e sociais. Aresoluo e mitigao dos seus problemas assumeessa mesma importncia estratgica no mbito de umapoltica de desenvolvimento sustentvel, necessitandode ser enquadrada numa gesto integrada ecoordenada destas reas, atravs do reconhecimento:

    Da existncia de diversos conflitos deinteresses na zona costeira, com sistemasabertos, muito dinmicos, complexos,heterogneos, de interface, frgeis, comelevadas oportunidades sociais e econmicase, por conseguinte, fortemente polarizadoresde actividades;

    Da necessidade de identificar plataformas deconsenso;

    Da dificuldade em fazer previses dasevolues a mdio e longo prazo dos sistemasfsicos, sociais e econmicos, justificando apreparao de cenrios e a combinao decenrios;

    Da necessidade e da dificuldade em considerar,com um nvel geogrfico muito alargado, asinteraces terra mar, a nvel das BaciasHidrogrficas e do Oceano Atlntico;

    De um passado recente de instabilidadegovernamental, nomeadamente a nvel da tutelado ambiente e do territrio, bem como dainstabilidade das polticas e programaslanados e das dificuldades da suaconcretizao;

    Das acentuadas restries socio-econmicasque estaro presentes, pelo menos nosprximos anos, as quais podero exigirpropostas muito pragmticas para concretizarobjectivos que se desejam muito ambiciosos ede mdio e longo termo;

    Da necessidade de uma intensa mobilizao,participao e responsabilizao da sociedadecivil, no limitada a grupos de presso com

    interesses muito sectoriais, a atitudespessimistas e a lgicas corporativas;

    2. Conceito de Zona CosteiraTendo em considerao a utilizao, de modo

    indiferenciado, das designaes de litoral, costa, faixacosteira, faixa litoral, orla costeira, zona costeira, zonalitoral, rea/regio costeira, sem existncia de umconsenso quanto aos limites fsicos dos seus sistemasnaturais, dos sistemas socio-econmicos e do sistemalegal, o Grupo de Trabalho que elaborou as Basespara a Estratgia da Gesto Integrada das ZonasCosteiras adoptou os seguintes conceitos:

    Litoral termo geral que descreve pores do territrioque so influenciadas directa e indirectamente pelaproximidade do mar;

    Zona costeira poro de territrio influenciada directae indirectamente em termos biofsicos pelo mar (ondas,

    Figura 1: As infra-estruturas porturias so vitais para aeconomia do Pas. necessrio mitigar os impactesassociados s dragagens e existncia de quebramares ecanais.

    Fernando Veloso Gomes / Revista de Gesto Costeira Integrada 7(2):83-95 (2007)

  • 85

    mars, ventos, biota ou salinidade) e que pode ter parao lado de terra largura tipicamente de ordemquilomtrica e se estende, do lado do mar, at ao limiteda plataforma continental;

    Orla costeira poro do territrio onde o mar exercedirectamente a sua aco, coadjuvado pela aco elica,e que tipicamente se estende para o lado de terra porcentenas de metros e se estende, do lado do mar, at batimtrica dos 30 m (englobando a profundidade defecho);

    Linha de costa fronteira entre a terra e o mar;materializada pela intercepo do nvel mdio do marcom a zona terrestre.

    3. Alguns Problemas Chave

    3.1. Dinmica Fisiogrfica e Eroses

    Nas faixas de baixa altitude e sem protecesnaturais rochosas da Zona Costeira continental doterritrio portugus existe uma situao generalizadade regresso ou recuo da linha de costa, verificando-se o agravamento dos fenmenos de eroso e a suaexpanso para troos outrora no afectados (migraode praias para o interior, enfraquecimentos dosvolumes acumulados nas praias e dunas).

    As plancies costeiras baixas e arenosas comedificaes so particularmente susceptveis aostemporais (ocorrncia simultnea de agitao martimaelevada, mars vivas e sobre elevao do nvel domar de origem meteorolgica) e o saldo sedimentarinter anual , na generalidade dos casos, negativo.

    A previso de recuos em anos horizonte deprojecto, ter de ser encarada com muitos cuidadosface complexidade dos fenmenos fsicosenvolvidos, capacidade de interveno humanaacelerando ou travando evolues, ou possibilidade

    de se atingirem limiares no controlveis ou noprevisveis face ao actual estado de conhecimentos.

    A uma escala geolgica, as possveis causas daregresso generalizada associam-se subidageneralizada do nvel mdio das guas do mar, amovimentos de neo-tectnica e a possveis alteraesmeteorolgicas. A variabilidade meteorolgica estsempre presente e dever ser considerada a escalasde tempo muito diversificadas.

    As causas mais recentes so associveis aoenfraquecimento das fontes aluvionares (alteraes anvel das bacias hidrogrficas, albufeiras e barragens,extraces de areias nos rios e esturios, e dragagensnos canais de navegao), ocupao humana (sobredunas, praias e arribas), construo de quebramaresporturios (Viana do Castelo, Aveiro, Figueira da Foze Vila Moura), implantao de espores e de obrasaderentes (com impactes de antecipao defenmenos a sotamar) e fragilizao de dunas(terraplanagens, pisoteio, acessos s praias, parquesde estacionamento, veculos motorizados e cortesde acesso para a arte xvega).

    3.2. Vulnerabilidades e Riscos

    vital o reconhecimento de que situaes naturaisaltamente dinmicas em zonas vulnerveis s acesdo mar que no passado no suscitavam qualquerinterveno (nem existiam meios tcnicos para ofazer) so actualmente contrariadas pelo tipo deocupao do solo (construes em restingas, dunas,

    Figura 2: Eroses, galgamentos das dunas e risco de rupturada restinga na Costa Nova - Vagueira

    Figura 3. Evoluo e desaparecimento da restinga na Costada Caparica / Cova do Vapor. Presso urbana relativamenterecente.

    Fernando Veloso Gomes / Revista de Gesto Costeira Integrada 7(2):83-95 (2007)

  • 86

    praias) e pelos usos (explorao porturia) queactualmente se verificam nessas zonas.

    Os riscos para as populaes e actividadeshumanas na Zona Costeira portuguesa esto tambmassociados a desabamentos e deslizamentos de terranas arribas. Estes fenmenos so particularmentecrticos em grandes extenses das costas insularesportuguesas.

    Existe a possibilidade de ocorrncia de maremotoscom efeitos potencialmente devastadoresparticularmente nas zonas de baixa altitude. Sofenmenos raros e actualmente no previsveis. A suaeventual ocorrncia durante o dia e na poca balnearteria as consequncias mais graves a nvel de perdade vidas.

    As alteraes climticas a uma escala globalprevisivelmente conduziro a um agravamento daocorrncia de fenmenos extremos e dos fenmenosde recuo da linha de costa em curso, comconsequncias ao nvel do ordenamento, dasintervenes de defesa (quando se justifique) e dacontingncia.

    Destacam-se situaes muito crticas, em termosde segurana, de diversas frentes edificadas em zonasvulnerveis, em risco de exposio s aces directase indirectas do mar ou dependentes de estruturas dedefesa costeira, nomeadamente: Moldo do Minho,Amorosa a Castelo de Neiva, S. Bartolomeu do Mar/ Ofir / Aplia / Aguadoura, rvore a Mindelo,Granja / Espinho / Paramos, Praia de Esmoriz, Praia

    financeiras, constituem intruses paisagsticas epodem transmitir uma falsa sensao de estabilidadea longo prazo que encoraja a ocupao em zonas derisco.

    Continua a existir uma polmica quanto responsabilidade dos espores e obras aderentes noagravamento das eroses na Orla Costeira, a Sul dasua implantao, bem como artificializao queintroduzem na paisagem. A necessidade de defesados ncleos urbanos mais expostos e a estabilizaoda linha de costa tm sido os principais argumentosa favor dessas obras.

    Difcil ser prever com fiabilidade qual seria asituao actual desses ncleos populacionais e quaisas evolues dinmicas em toda a faixa costeira seno tivessem sido executadas essas estruturas dedefesa. Esto em curso diversos fenmenoshidromorfolgicos, com diversas intensidades,frequncias e escalas temporais, e uma ocupaohumana de zonas muito dinmicas. A atribuio degrandes responsabilidades s estruturas de defesacosteira pelo que sucede actualmente em termos deeroso ignora essa realidade complexa e no tem sidoacompanhada pela previso, cientif icamentesustentada, de qual seria a evoluo morfodinmicada costa na ausncia dessas estruturas.

    Em diversas situaes o recuo da linha de costaverifica-se a barlamar e a sotamar das intervenesde defesa nas zonas urbanas, significando que ofenmeno tem uma amplitude preocupante e de difcilcontrolo. S melhorando as capacidades de simulao

    Figura 4: Dique arenoso artificial colocado em situao deemergncia face rotura eminente do cordo dunar a sulda Vagueira.

    de Cortegaa, Furadouro, Costa Nova e Vagueira,Cova do Vapor, Costa da Caparica e Ria Formosa.

    As estruturas de defesa costeira transferem ouantecipam os problemas para sotamar, exigemmanuteno peridica que no efectuada por razes

    Figura 5: Artificializao e situaes de risco nosaglomerados urbanos de Esmoriz e Cortegaa. Recuo dalinha de costa a barlamar e a sotamar da frente edificada.

    para diversos cenrios ser possvel isolar osimpactes negativos associadas s estruturas de defesa.

    Diversas frentes urbanas edificadas no existiriamactualmente se essas obras no tivessem sido

    Fernando Veloso Gomes / Revista de Gesto Costeira Integrada 7(2):83-95 (2007)

  • 87

    construdas ou se tivessem sido removidas. A suaeventual remoo ou destruio pelo mar teriaintensos reflexos sociais e polticos. As estruturas dedefesa costeira (espores e obras de defesa aderente)necessitam de manutenes peridicas, a levar a cabopreventivamente e por grupos de obras, face dificuldade em estimar, obra a obra, os montantesdas intervenes. A no realizao de operaes demanuteno, a enquadrar num regime jurdico realistapara esta situao, implica o agravamento progressivo

    3.3. Mitigao de Aces Antrpicas e deRiscos

    No admissvel que se continue a proceder extraco de areias para a construo civil,nomeadamente nos rios e esturios, sem ter emconsiderao os impactos sobre a Zona Costeira. Asdragagens de areias nos portos e nos canais denavegao por razes de segurana e operacionalidadetero de proceder reposio total ou parcial dossedimentos no sistema dinmico a sotamar.

    Por razes ambientais e defesa costeira, aconservao, reconstruo e estabilizao das dunas,a sua proteco em relao s construes e aopisoteio, bem como o seu repovoamento vegetal, soaces que podem e devem ser incentivadas econcretizadas pela administrao regional, pelasautarquias e por grupos ambientais.

    Foram efectuadas e so actualmente visveisnumerosas intervenes, atravs do fecho de acessossobre as dunas, passadios elevados ou pousados,ripados, povoamento e proteco da vegetao. AsComisses de Coordenao e DesenvolvimentoRegional, em colaborao com as autarquias,efectuaram trabalhos de mrito, os quais devemprosseguir em todos os sistemas dunares portugueses.

    Existem dificuldades em reunir condies socio-econmicas para proceder s intervenes e sretiradas planeadas de populaes em risco, previstasnos Planos de Ordenamento da Orla Costeira,nomeadamente nos aglomerados de S. Bartolomeudo Mar, Pedrinhas, Cedovm, Paramos, Esmoriz,Cortegaa, Cova do Vapor e Ilha de Faro.

    Foram elaboradas, para a Zona Costeira nacional,cartas preliminares de vulnerabilidade s acesdirectas e indirectas do mar sobre a Zona Costeira(incorrectamente denominadas cartas de risco doINAG).

    Diversas metodologias e modelos esto a serdesenvolvidos, relacionados com vulnerabilidades eriscos. importante melhorar os fundamentoscientficos dessas metodologias e modelos, adquirire integrar mais dados de campo e considerar diversoscenrios climticos, meteorolgicos e de intervenesantropognicas, de forma a elaborar previses a mdioe longo prazo essenciais para o ordenamento.

    A elaborao de uma nova gerao de cartas devulnerabilidade e risco, de delimitao de zonasvulnerveis a acontecimentos extremos e de evoluoda dinmica costeira, exige um grande esforo econsenso da comunidade cientfica. Constitui umdesafio a mdio prazo.

    Figura 6: Furadouro. Que modelo de expanso urbana?Retirada planeada?

    da sua situao estrutural que pode levar suadestruio ou ao seu no funcionamento.

    Em ambientes martimos muito energticos, como o caso da costa oeste portuguesa, as operaes dealimentao artificial de praias podem sercompletamente ineficazes se no forem realizadas emsituaes de conteno natural ou artificial da derivada zona costeira, exigem recargas peridicas e tmimpactes negativos locais a nvel de turvao e balnear.

    Fernando Veloso Gomes / Revista de Gesto Costeira Integrada 7(2):83-95 (2007)

  • 88

    3.4.Uma Nova Gerao de Planos deOrdenamento

    No so de aceitar solues de expanso edensificao dos ncleos urbanos que ignorem arealidade de vulnerabilidade das zonas de implantaoao admitirem que a Administrao Centralproporcionar, sob o ponto de vista tcnico efinanceiro, obras de defesa do aglomerado em relaos investidas do mar. Os Planos DirectoresMunicipais e os Planos de Pormenor tero deconsiderar a especificidade das situaes luz daproblemtica global do Litoral.

    Com uma maior conscencializao dosresponsveis autrquicos e com o agravamento dassituaes de exposio das frentes urbanas existentess aces do mar, foi possvel adoptar modelos deno expanso das frentes edificadas ao longo da costa.Os Planos de Ordenamento da Orla Costeira(POOCs) consagraram estes modelos de noexpanso. Mas continua a assistir-se a umadensificao do edificado nos aglomerados urbanosjunto da costa, mesmo em situaes de grandevulnerabilidade e risco s aces do mar e uma pressopara a construo de novos empreendimentos muitasvezes com a invocao de direitos e expectativasadquiridos nomeadamente a nvel de PlanosMunicipais.

    Figura 7: Estruturas de defesa costeira em Espinho.

    Os Planos de Ordenamento da Orla Costeira paraos diversos troos do territrio continental portugusforam aprovados atravs dos seguintes diplomas:Cidadela S. Julio da Barra (RCM n 123/1998 de19 de Outubro, Declarao de Rectificao 22-H/98, de 30 de Novembro, vigncia at 2008), Sines Burgau (RCM n 152/1998 de 30 de Dezembro,vigncia at 2008), Caminha Espinho (RCM n 25/

    (Continuao Figura 7)

    Fernando Veloso Gomes / Revista de Gesto Costeira Integrada 7(2):83-95 (2007)

  • 89

    1999 de 7 de Abril, vigncia at 2009), Burgau Vilamoura (RCM n 33/1999 de 27 de Abril, vignciaat 2009), Sado Sines (RCM n 136/1999 de 29 deOutubro, vigncia at 2009), Ovar Marinha Grande(RCM n 142/2000 de 20 de Outubro, vigncia at2010), Alcobaa Mafra (RCM n 11/2002 de 17 deJaneiro, vigncia at 2012), Sintra- Sado (RCM n 86/2003 de 25 de Junho, vigncia at 2013), Vilamoura Vila Real de Sto. Antnio (RCM n 103/2005 de27 de Junho, vigncia at 2015).

    Os POOCs Sintra Sado, Sines Burgau eVilamoura Vila Real de Sto. Antnio, so daresponsabilidade do ICN. Os restantes so daresponsabilidade do INAG.

    Na Regio Autnoma dos Aores foramaprovados trs Planos de Ordenamento da OrlaCosteira: Ilha Terceira (DRR 1/2005/A de 15 deFevereiro), Ilha S. Miguel troo Feteiras Fenais daLuz - Lomba de S. Pedro (DRR 6/2005/A de 17 deFevereiro), Ilha de S. Jorge (DRR 24/2005/A de 26de Outubro). O POOC de S. Miguel Sul estconcludo e os POOCs das ilhas de Santa Maria,Graciosa, Flores e Corvo esto numa fase avanadade elaborao.

    As Comisses de Coordenao eDesenvolvimento Regional (CCDRs) elaboraram, emNovembro de 2005, documentos relativos aosprincipais problemas e constrangimentos detectadosna aplicao dos Planos de Ordenamento da OrlaCosteira, bem como dados estatsticos relativos suaexecuo.

    necessrio preparar Planos de Ordenamento daOrla Costeira de segunda gerao, incorporando osesturios e as zonas sob jurisdio das AdministraesPorturias.

    tambm necessrio preparar Planos deOrdenamento mais adaptativos que num horizontetemporal mais alargado contemplem o previsvelagravamento da ocorrncia e intensidade dascatstrofes (delimitao de zonas adjacentes, zonascom restries edificabilidade, zonas naturaistampo, localizao recuada de infra-estruturasvitais, rede eficaz de pr - alertas, planos de evacuaoe de contingncia, responsabilizao dos projectistas,promotores e autoridades licenciadoras pela seguranade novas edificaes e empreendimentos, ...).

    A Lei da gua (Lei 58/2005 de 29 de Dez.),transpe para a ordem jurdica nacional a Directivan 2000/60/CE (Directiva Quadro gua), doParlamento Europeu e do Conselho, estabelecendo

    as bases e o quadro institucional para a gestosustentvel das guas. Este regime vem estabeleceras novas bases para a gesto sustentvel das guassuperficiais interiores, subterrneas, de transio ecosteiras. A Lei confere ao Instituto da gua (INAG)a condio de Autoridade Nacional da gua, comogarante da poltica nacional da gua, cometendo-lhefunes de planeamento nacional, coordenao eregulao. Consagra o princpio da gesto por BaciasHidrogrficas, prev a criao de cincoAdministraes de Regio Hidrogrfica (ARH), cujassedes coincidem com as CCDRs e outras duas nasRegies Autnomas, com funes de planeamento,licenciamento e de fiscalizao. A sistematizao eunificao de normas dispersas no ordenamentojurdico relativo Titularidade dos Recursos Hdricosfoi consagrada em diploma prprio (Lei 54/2005 de15 Novembro).

    3.5.Investigao e Monitorizao

    necessrio continuar a investigar muitos aspectosde dinmica costeira e a investir na monitorizao dassituaes para que se aprofundem os conhecimentosnecessrios compreenso dos fenmenos, previsodas evolues e sustentao das intervenes a nvelde ordenamento e de defesa costeira.

    A comunidade cientfica e tcnica continua ainvestigar muitos aspectos relacionados com adinmica costeira e a divulgar resultados em encontrosnacionais e internacionais.

    Foi lanado pelo Ministrio com a tutela doAmbiente o estudo de um Programa de Monitorizaoda Zona Costeira. A generalidade da comunidadecientfica desconhece quais as propostas nele contidas.Possivelmente as capacidades institucionais efinanceiras esto a atrasar o lanamento de talPrograma. Tem-se verificado a recolha de fotografiasareas, levantamentos topogrficos de algumas praiase outros importantes levantamentos de campo,executados por diversas entidades.

    A nvel de Monitorizao, para alm de iniciativasinstitucionais consolidadas sobre a qualidade dasguas balneares, obteno de fotografias ortogonais/ fotogrametria da zona terrestre e de levantamentoshidrogrficos nas zonas de interesse porturio, opanorama preocupante. Nomeadamente existemcarncias muito graves e irreversveis a nvel delevantamentos topo-hidrogrficos em zonas com umaelevada dinmica sedimentar.

    Fernando Veloso Gomes / Revista de Gesto Costeira Integrada 7(2):83-95 (2007)

  • 90

    4. Iniciativas Nacionais sobre Zonas Costeiras

    So muitas as iniciativas legislativas Nacionaissobre a Zona Costeira.

    Cabe aqui uma referncia sumria ao RegimeJurdico do Domnio Pblico Hdrico que remonta a1864 e que na actualidade est alicerado na Lei daTitularidade dos Recursos Hdricos (Lei 54/2005 de15 Novembro), ao Decreto-Lei N 302/90, de 26 deSetembro que estabelece princpios a que deviaobedecer a ocupao, uso e transformao da faixacosteira (ento considerada como uma faixa com 2kmde largura), ao Decreto-Lei N 451/91, de 4 deDezembro (Lei Orgnica) que transfere a jurisdiodo Domnio Pblico Martimo sem interesseporturio (at ento sob a alada da Direco Geralde Portos, para o ento recm - criado Ministrio doAmbiente e Recursos Naturais).

    Os Decretos-Lei N 309/93, de 2 de Setembro e218/94, de 20 de Agosto e a Portaria N 767/96, de30 de Dezembro, referem-se aos Planos deOrdenamento da Orla Costeira, POOCs. A incidnciaterritorial das aces de planeamento foi consideradanuma faixa terrestre de proteco de 500 m paraalm da linha que delimita a margem e a uma faixamartima de proteco at batimtrica dos 30 metros.O Decreto-Lei N 151/95, de 24 de Junho, regula aelaborao dos Planos Especiais de Ordenamento doTerritrio. O Livro Branco da Poltica Martimo Porturia Rumo ao Sculo XXI (editado em 1997)pelo Ministrio do Equipamento, do Planeamento eda Administrao do Territrio, a Resoluo doConselho de Ministros N 86/98, de 10 de Julho(Programa Litoral - 1998) constituem outrasiniciativas de relevo.

    A Lei de Bases da Poltica de Ordenamento doTerritrio e de Urbanismo (Lei n 48/98, de 11 deAgosto, Decreto-Lei n 380/99, de 22 de Setembro),o Plano Nacional de Poltica do Territrio (PNPOT),o Programa FINISTERRA (criado atravs daResoluo do Conselho de Ministros N. 22/2003de 18-02-2003, que estabelecia um Programa deInterveno na Orla Costeira Continental que visavaa requalificao e reordenamento do litoral portugus,atravs da adopo de um conjunto integrado demedidas e intervenes estruturantes), a EstratgiaNacional de Desenvolvimento Sustentvel (ENDS),o Projecto Climate Change in Portugal (SIAM eSIAM II), os Planos de Bacia Hidrogrfica (Decreto-Lei n 45/94, de 22 de Fevereiro, concludos e

    aprovados para todo o territrio do continenteportugus), o Plano Nacional da gua (PNA, aprovadopelo Decreto-Lei n 112/2002, de 17 de Abril), oMemorando da Associao Nacional de MunicpiosPortugueses (2004 contempla propostas nas seguintestemticas: Ambiente e Ordenamento do Territrio,reas Costeiras e reas Porturias), o relatrio OOceano. Um Desgnio Nacional Para O Sculo XXI(Maro de 2004) e os projectos TICOR e MONAEso outras iniciativas importantssimas para aproblemtica da Zona Costeira.

    A Lei da gua (Lei 58/2005, de 29 de Dezembro)e a Lei da Titularidade dos Recursos Hdricos (Lei54/2005, de 15 Novembro) transpem para a ordemjurdica nacional a Directiva n 2000/60/CE(Directiva Quadro gua), do Parlamento Europeu edo Conselho. O Plano Estratgico de Abastecimentode gua e de Saneamento de guas Residuais(PEAASAR II), o Plano Sectorial da Rede Natura2000 e a Estratgia Nacional de Conservao daNatureza e da Biodiversidade (ENCNB 2005 2007)constituem outros marcos relevantes.

    5. Iniciativas Internacionais sobre ZonasCosteiras

    A nvel internacional e, em particular a nveleuropeu, destacam-se algumas das Convenes,Programas, Directivas e Recomendaes,nomeadamente:

    A Carta Europeia do Litoral (dcada de 80), aAgenda 21 (1992), a Conveno MARPOL (73/78),a Conveno OSPAR, o Acordo de Lisboa (1990), aConveno sobre Biodiversidade, a Conveno deBerna sobre a Conservao da Vida Selvagem eHabitats Naturais na Europa, a Conveno para aPreveno da Poluio Marinha pela Deposio deResduos, a Conveno das Naes Unidas sobre aLei do Mar (UNCLOS), o Protocolo de Kyoto, aDirectiva Aves (1979/409/EEC), a Directiva sobreguas Residuais Urbanas (91/271/EEC), a DirectivaHabitat sobre a Conservao dos Habitats Naturaise da Fauna e Flora Selvagens (1992/43/EEC), aPoltica Comum da UE para as Pescas (CR 2371/2002/EC), as Directivas para os Portos (1995/21/EC e 2000/59/EC) e o Programa de Demonstraoda Comisso Europeia sobre Gesto Integrada dasZonas Costeiras (1996-1999).

    De salientar ainda o Relatrio de Avaliao de1999, da Agncia Europeia do Ambiente, a

    Fernando Veloso Gomes / Revista de Gesto Costeira Integrada 7(2):83-95 (2007)

  • 91

    Comunicao da Comisso ao Conselho e aoParlamento Europeu relativamente GestoIntegrada da Zona Costeira: Uma Estratgia para aEuropa (COM/2000/547, adoptada em Setembrode 2000), a Directiva Quadro da gua (2000/61/ECA), a recomendao 2002/539/CE do ParlamentoEuropeu e do Conselho, relativa Estratgia para aProteco e Conservao do Ambiente Marinho, aRecomendao 2002/413/CE do ParlamentoEuropeu e do Conselho, de 30 de Maio de 2002,relativa Execuo da Gesto Integrada da ZonaCosteira na Europa, a Recomendao 160/2005 doConselho da Europa, que consubstancia a anterior, eo Projecto EUROSION da Comisso Europeia(2004).

    Em Outubro de 2005 foi elaborada pela Comissodas Comunidades Europeias uma propostaEstablishing a Framework for Community Actionin the Field of Marine Environmental Policy (MarineStrategic Directive). Foi tambm apresentada em2005 uma Comunicao da Comisso ao Conselho eao Parlamento Europeu intitulada Thematic Strategyon the Protection and Conservation of the MarineEnvironment (SEC1290).

    A Recomendao 2002/413/CE do ParlamentoEuropeu e do Conselho, de 30 de Maio de 2002, indicaos seguintes princpios gerais da Gesto Integradada Zona Costeira:

    Uma perspectiva geral ampla (temtica egeogrfica) que tenha em conta a interdependncia ea disparidade dos sistemas naturais e das actividadeshumanas com impacto sobre as zonas costeiras;

    Uma perspectiva a longo prazo que tenha emconta o princpio da precauo e as necessidades dasgeraes actuais e futuras;

    Uma gesto adaptativa durante um processogradual que facilite os ajustamentos em funo daevoluo dos problemas e dos conhecimentos. Talimplica a necessidade de uma base cientfica slidano que se refere evoluo da zona costeira;

    A especificidade local e a grande diversidade daszonas costeiras europeias, que permita dar respostas suas necessidades concretas com soluesespecificas e medidas flexveis;

    Trabalho com processos naturais e respeitando acapacidade dos ecossistemas, o que tornar asactividades humanas mais compatveis com oambiente, socialmente responsveis eeconomicamente slidas a longo prazo;

    Envolvimento de todas as partes interessadas

    [parceiros econmicos e sociais, organizaes querepresentam os residentes de zonas costeiras,organizaes no governamentais (ONG) e sectorempresarial] no processo de gesto, por exemploatravs de acordos e com base em responsabilidadespartilhadas;

    Apoio e envolvimento de todas as entidadesadministrativas competentes a nvel nacional, regionalou local, entre as quais se devero estabelecer oumanter ligaes adequadas de forma a melhorar acoordenao das vrias polticas existentes. A parceriacom e entre as autoridades regionais e locais deverser aplicada sempre que oportuno;

    Utilizao de uma combinao de instrumentosconcebidos para facilitar a coerncia entre osobjectivos polticos sectoriais e a coerncia entre oplaneamento e a gesto.

    6. Princpios, Objectivos Fundamentais eOpes Estratgicas Propostos

    O Grupo de Trabalho que elaborou as Bases paraa Estratgia da Gesto Integrada das Zonas Costeirasprops que essa Estratgia observe nove PrincpiosFundamentais: sustentabilidade e solidariedadeintergeracional, coeso e equidade social, prevenoe precauo, abordagem sistmica, suporte cientficoe tcnico, subsidiariedade, participao, co-responsabilizao e operacionalidade.

    Tendo presentes estes Princpios foram entopropostos os seguinte oito Objectivos Fundamentaisque integram um conjunto de trinta e sete OpesEstratgicas:

    6.1 . A Cooperao Internacional e IntegraoComunitria

    - Incentivar a cooperao entre estados;- Reforar os mecanismos de resoluo de

    questes transfronteirias;- Assegurar a Gesto Integrada da Zona Costeira

    (GIZC);- Conceber mecanismos de avaliao e de

    reajustamentos das polticas comunitrias;- Reforar os mecanismos de integrao e de

    articulao das polticas comunitrias escalanacional;

    - Afirmar a posio geo estratgica nacional.

    Fernando Veloso Gomes / Revista de Gesto Costeira Integrada 7(2):83-95 (2007)

  • 92

    6.2. O Reforo e a Promoo da ArticulaoInstitucional

    - Reformular o quadro jurdico integrando-onuma Lei de Bases da Zona Costeira;

    - Consolidar numa entidade gestora nacional acoordenao e responsabilizao da GIZC;

    - Reorganizar o modelo de competncias;- Incrementar os mecanismos de cooperao

    institucional nacional;- Constituir uma plataforma de dilogo e de

    integrao de estratgias sectoriais nacionais.

    6.3. A Conservao de Recursos e do PatrimnioNatural e Paisagstico

    - Integrar e valorizar o patrimnio natural epaisagstico;

    - Garantir a integrao dos valores patrimoniaisna Rede Nacional de Conservao da Natureza;

    - Compatibilizar a utilizao da zona costeiracom a conservao da natureza e os valoresda paisagem.

    6.4. A Qualificao da Zona Costeira e oDesenvolvimento Sustentvel de Actividades eUsos Especficos

    - Qualificar as paisagens humanizadas, urbanase rurais;

    - Compatibilizar os usos e as actividades defruio;

    - Promover a integrao na GIZC das zonas sobadministrao porturia, militar e dos sistemaslagunares e estuarinos;

    - Desenvolver o transporte martimo;- Promover a sustentabilidade da pesca e das

    actividades conexas;- Promover a gesto integrada dos recursos

    minerais;- Intervir em reas de qualificao prioritria;- Incentivar a inovao no uso, na tecnologia de

    processos de interveno e de explorao dosrecursos.

    6.5. A Minimizao de Situaes de Risco e deImpactos Ambientais, Sociais e Econmicos

    - Intervir em reas de risco associadas afenmenos de origem natural e/ou humana;

    - Salvaguardar as reas vulnerveis e de risco;- Promover a anlise de custo benefcio;

    - Articular de forma unificada os corposespecializados de interveno em situaes deemergncia.

    6.6. A Concepo de Polticas OperacionaisIntegradas

    - Incluir uma viso prospectiva na poltica deocupao e gesto;

    - Garantir que as polticas operacionais incluama articulao espacial;

    - Rever e adaptar os instrumentos de gestoterritorial e ambiental;

    - Afectar fundos estruturais especficos e criarsistemas de incentivos.

    6.7. A Promoo do Conhecimento e daParticipao Pblica

    - Fomentar o empenho e a responsabilizaopartilhada do cidado;

    - Incentivar a participao pblica;- Promover a investigao cientfica;- Reformular e ampliar a aprendizagem nos

    diversos nveis de ensino.

    6.8. A Avaliao Integrada de Polticas e deInstrumentos de Gesto

    - Assegurar a avaliao e a monitorizaocontnua;

    - Controlar e monitorizar a aplicao daspolticas integradas;

    - Reforar as aces de fiscalizao.

    7. A Estratgia a Curto e a Mdio / LongoPrazo e o Contedo Programtico

    Os Princpios e Objectivos Fundamentais quedevem ser observados na Estratgia de GestoIntegrada da Zona Costeira nacional, bem como asOpes Estratgicas fundamentais identificadas paraum adequado ordenamento, planeamento e gestonuma viso a vinte anos, implicam a concretizaode um conjunto de Medidas a curto prazo emDomnios Prioritrios, nos termos das opesestratgicas formuladas.

    As Opes Estratgicas formuladas foramhierarquizadas de acordo com uma prioridadetemporal, apresentadas sob a forma de uma tabela,identificando a tipologia dominante das MedidasAssociadas, agregadas em:

    Fernando Veloso Gomes / Revista de Gesto Costeira Integrada 7(2):83-95 (2007)

  • 93

    A Medidas jurdicas, institucionais eadministrativas;

    B Medidas operativas e financeiras;C Medidas de reorientao dos recursos

    humanos.

    dos instrumentos actuais, sua articulao e integrao,permita um novo regime de coordenao e sistemade planeamento.

    Assim, a Lei de Bases da Zona Costeira deverconfirmar os princpios de gesto, estabelecerclaramente os seus objectivos e explicitar os nveis embitos territoriais de interveno. Dever aindaapresentar a redefinio de competncias com aconsolidao da entidade gestora nacional e a redede relaes institucionais consequente, incluindo aRNOC e o Observatrio da Zona Costeira. A estedocumento dever tambm ser atribudo o papel deuniformizao dos critrios nacionais de intervenona Zona Costeira garantindo os objectivos desustentabilidade. Em particular, dever resultar umaleitura clara da nova forma de operacionalizao doDomnio Pblico.

    Com o objectivo de harmonizar os interesses eestabelecer um sistema eficaz de gesto, a Lei deBases da Zona Costeira dever ainda incluir osprincpios, objectivos, contedo material e documentalde um Instrumento de Gesto Territorial (IGT) decarcter sectorial, que explicitar cenrios e opesrelativas evoluo da linha de costa, s grandesopes da Estratgia Integrada das Zonas Costeiras,bem como as diversas exigncias complementares aonvel do planeamento.

    De entre estas, importa destacar a metodologiade reviso dos Planos de Ordenamento da OrlaCosteira (POOC), planos para reas sob jurisdiomilitar, porturia, sistemas lagunares e estuarinos,gesto de dragados, relao com os restantes IGT,sistemas de compensao, participao emonitorizao.

    8.2. O Sistema Organizativo

    A nova forma de organizao institucional deverestar intrinsecamente ligada ao novo quadrolegislativo, em simultneo com a criao de redes efruns, fomentando formas mais abrangentes eexpeditas de comunicao

    A nova organizao dever funcionar comoelemento integrador das diversas polticascomunitrias e aos diversos nveis territoriaisnacionais. A circulao de informao de formatransversal em todas as actuaes da administrao,bem como a sua efectiva integrao nas aces degesto, dever ser prosseguida atravs de mecanismosde participao a coordenar por uma entidade gestoranacional.

    Figura 8: Presso urbana e operao de alimentaoartificial de areias em Portimo.

    Esta hierarquia visa a operacionalidade das BasesEstratgicas definidas, bem como as medidas e acesprioritrias necessrias sua concretizao, a qualresultou de uma anlise matricial.

    Tendo como objectivo explicitar as acessubjacentes s opes estratgicas prioritriasdefinidas, apresentou-se o seu ContedoProgramtico fundamental, o qual no apresentadona presente comunicao.

    8. Medidas Estruturantes

    Da anlise das propostas detalhadas que foramformuladas de Domnios e Aces Programticasassociadas s Opes Estratgicas, surge um conjuntode medidas estruturantes, que se interligam e agregamdiversas aces, e que reflectem o novo modelo degesto integrada proposto para a Zona Costeira.

    Pela importncia que assumem para aconcretizao das bases estratgicas importa destacar,designadamente: a Lei de Bases da Zona Costeira,o Sistema Organizativo, o Programa de Aco ea Monitorizao.

    8.1. A Lei de Bases da Zona Costeira

    O desenvolvimento da Estratgia de GestoIntegrada da Zona Costeira (GIZC) dever seralicerado num novo quadro legislativo que, partindo

    Fernando Veloso Gomes / Revista de Gesto Costeira Integrada 7(2):83-95 (2007)

  • 94

    Esta entidade, a definir na Lei de Bases da ZonaCosteira, dever tambm clarificar as aces demonitorizao, acesso informao, fiscalizao emecanismos de retroaco.

    8.3. O Programa de Aco

    Considera-se que a definio de intervenes dequalificao do territrio que resultem dosInstrumentos de Gesto Territorial em vigor, emespecial as que envolvem situaes de risco parapessoas e bens, bem como as que exijam umaarticulao institucional complexa ou, ainda, as quepossam ter um carcter demonstrativo de qualificaodas zonas costeiras devem ser eleitas comointervenes prioritrias.

    Estas situaes devero ser ponderadas, atravsde mecanismos de anlise multifactorial. De igualforma devero ser equacionadas as especificidadesda zona costeira das Regies Continental e Insular,nas suas vertentes de variabilidade biofsica, situaesde maior gravidade de recuo da linha de costa, ndicesde ocupao e actividades socio-econmicas.

    A necessidade de conceber a curto prazo umPrograma de Aco que fomente a criao dosmecanismos necessrios concretizao deintervenes que promovam a qualificao da zonacosteira, de forma exemplar e diversificada,respondendo a situaes prementes, bem comocontribuindo para um novo impulso demonstrativode uma nova viso sobre as zonas costeiras, emergecomo um desgnio das bases estratgicas da GestoIntegrada da Zona Costeira Nacional.

    Neste contexto, considera-se que a prossecuodeste objectivo pode passar pela compatibilizao dagesto atribuda s entidades que tenham a seu cargoa administrao local da zona costeira respectiva. Emconsequncia, as Regies Autnomas deveriam, faceao seu Estatuto Poltico Administrativo, envidaresforos no sentido de se conseguir uma abordagemcoerente escala nacional.

    Neste processo dever ser contemplado o reforodo conhecimento tcnico-cientfico, o incremento daparticipao pblica, e da reviso e adequao doquadro legal, incluindo a problemtica das reas dejurisdio Porturia e do Domnio Pblico Martimo.

    8.4. A Monitorizao

    As aces de monitorizao devero assumir umpapel relevante no sentido de assegurar que as

    polticas de gesto sejam as mais apropriadas e que asintervenes tenham os efeitos previstos / esperados.A monitorizao dever permitir detectar comeficincia o sucesso ou insucesso das aces deplaneamento, medir as alteraes dos sistemas emquesto e permitir responder em tempo til a situaesimprevistas.

    Embora a monitorizao de parmetros biofsicosseja fundamental, h que considerar a monitorizaonuma perspectiva global de gesto, nos seus elementosfundamentais e tambm dos programas / projectos eaces desencadeados. A monitorizao da Estratgiade GIZC a estabelecer dever versar aspectosdiferentes mas complementares:

    Monitorizao de parmetros ambientais prendem-se com as caractersticas intrnsecasbiolgicas, fsico-qumicas e microbiolgicasdos ecossistemas presentes;

    Monitorizao dos Instrumentos de GestoTerritorial na observao da aderncia daspropostas ao sistema real;

    Monitorizao de polticas, programas/projectos e aces no estabelecimento dendices de avaliao do modelo sustentvel ede desenvolvimento pretendido.

    Em relao monitorizao de parmetrosambientais, salienta-se a existncia de propostascontidas nos Planos de Ordenamento da Orla Costeirae nos Planos de Bacia Hidrogrfica, a monitorizaodas Zonas Balneares, o Plano Nacional deMonitorizao da Zona Costeira (com umacomponente de fisiografia e morfologia que necessrio divulgar e avaliar), e as recentes propostasdo projecto MONAE com as linhas de orientao damonitorizao de qualidade da gua e ecologia dazona costeira.

    Atravs da monitorizao de um conjunto deparmetros (sistema de indicadores), possveladquirir informao para adequar as respectivasaces no mbito do processo de planeamento,permitindo uma interveno atempada, de acordocom a sua necessidade de alterao, correco, revisoou mesmo suspenso, numa perspectiva dedesenvolvimento sustentvel. Desta forma, serpossvel determinar o nvel de adequao das polticas mutabilidade dos sistemas.

    Fernando Veloso Gomes / Revista de Gesto Costeira Integrada 7(2):83-95 (2007)

  • 95

    9. Consideraes finais

    A discusso e as propostas que se apresentamresultam de um intenso trabalho e reflexes de umaequipa multidisciplinar que muito beneficiou de umalonga experincia acumulada e da leitura atenta demuitos trabalhos publicados pela comunidade tcnicae cientfica.

    A capacidade de implementao e concretizaode Programas e Polticas institucionais sobre a ZonaCosteira em Portugal tem sido manifestamenteinsuficiente face aos enormes desafios com que asociedade e as comunidades locais so confrontadas.

    Se no for aproveitada a presente oportunidadepara o poder poltico aprovar e lanar uma Estratgiapara a Gesto Integrada da Zona Costeira portuguesa,a qual manifestamente ultrapassa o mbito de umministrio, poder ser demasiado tarde para auspiciaruma sustentabilidade.

    Bibliografia

    Fernando Veloso Gomes, Ana Barroco, AnaRamos Pereira, Carlos Sousa Reis, Helena Calado,Joo Gomes Ferreira, Maria da Conceio Freitas,Manuel Biscoito (2006). Bases para a Estratgia daGesto Integrada das Zonas Costeiras. Ministrio doAmbiente, Ordenamento do Territrio e doDesenvolvimento Regional.

    Figura 9: Empreendimento turstico em Vale do Lobo.

    Fernando Veloso Gomes / Revista de Gesto Costeira Integrada 7(2):83-95 (2007)