a genese de um romance

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matraga, rio de janeiro, v.20, n.32, jan./jun. 2013 173 A GÉNESE DE UM ROMANCE QUEIROSIANO: UM AUTÓGRAFO INÉDITO D’ A ILUSTRE CASA DE RAMIRES Maria Isabel Rocheta (Universidade de Lisboa) RESUMO O presente artigo discorre sobre a pesquisa coordenada pela autora no CLEPUL, Centro de Investigação da Universidade de Lisboa, em torno de um manuscrito autógrafo de A Ilus- tre Casa de Ramires, de Eça de Queirós, reencontrado no século XXI. Os estudos em curso permitem observar a génese da obra e sua evolução, assim como o intrincado processo criativo do autor. PALAVRAS-CHAVE: autógrafo; romance; edição genética; Eça de Queirós. Ernesto Guerra da Cal, insigne estudioso queirosiano, revelou, em 1975, a existência de um autógrafo contendo uma redacção de A Ilustre Casa de Ramires, de cujo primeiro fólio lhe fora por então mostrada fotocópia (GUERRA DA CAL, 1975, p. 118). No entanto, após o falecimento da proprietária do original de Eça de Queirós, o respec- tivo paradeiro tornou-se desconhecido e, assim, em 1999, a edição crítica do romance, da responsabilidade de Elena Losada Soler, não pôde ter em conta os referidos manuscritos (QUEIRÓS, 1999, p. 27-28). Em inícios de 2007, porém, veio a público que havia sido reen- contrado o original de Eça com uma primitiva versão de A Ilustre Casa de Ramires. Com efeito, Manuel M. C. Vieira da Cruz localizara os fólios, casualmente, no Outono de 2006, nos cofres do Banco Co- mercial Português (Millenium bcp), e, por doação do Banco, foram eles depositados na Biblioteca Nacional de Portugal, em Março de 2007 (CRUZ, 2007, p. 101-112).

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Texto sobre processo de criação

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  • matraga, rio de janeiro, v.20, n.32, jan./jun. 2013 173

    A GNESE DE UM ROMANCE QUEIROSIANO:UM AUTGRAFO INDITO D A ILUSTRE CASADE RAMIRES

    Maria Isabel Rocheta (Universidade de Lisboa)

    RESUMOO presente artigo discorre sobre a pesquisa coordenada pelaautora no CLEPUL, Centro de Investigao da Universidadede Lisboa, em torno de um manuscrito autgrafo de A Ilus-tre Casa de Ramires, de Ea de Queirs, reencontrado nosculo XXI. Os estudos em curso permitem observar a gneseda obra e sua evoluo, assim como o intrincado processocriativo do autor.PALAVRAS-CHAVE: autgrafo; romance; edio gentica;Ea de Queirs.

    Ernesto Guerra da Cal, insigne estudioso queirosiano, revelou,em 1975, a existncia de um autgrafo contendo uma redaco de AIlustre Casa de Ramires, de cujo primeiro flio lhe fora por entomostrada fotocpia (GUERRA DA CAL, 1975, p. 118). No entanto, apso falecimento da proprietria do original de Ea de Queirs, o respec-tivo paradeiro tornou-se desconhecido e, assim, em 1999, a ediocrtica do romance, da responsabilidade de Elena Losada Soler, nopde ter em conta os referidos manuscritos (QUEIRS, 1999, p. 27-28).

    Em incios de 2007, porm, veio a pblico que havia sido reen-contrado o original de Ea com uma primitiva verso de A IlustreCasa de Ramires. Com efeito, Manuel M. C. Vieira da Cruz localizaraos flios, casualmente, no Outono de 2006, nos cofres do Banco Co-mercial Portugus (Millenium bcp), e, por doao do Banco, forameles depositados na Biblioteca Nacional de Portugal, em Maro de2007 (CRUZ, 2007, p. 101-112).

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    A GNESE DE UM ROMANCE QUEIROSIANO. UM AUTGRAFO INDITO D A ILUSTRE CASA DE RAMIRES.

    Com vista publicao da edio gentica do autgrafoqueirosiano, est actualmente em curso um Projecto no CLEPUL, Cen-tro de Investigao da Universidade de Lisboa convindo emboraassinalar que, realizada j a transcrio, est ainda em fase liminar oestudo do original. Fazem parte do ncleo da equipa Cristina Sobral,professora da FLUL e membro da Equipa Camilo, dirigida por Ivo Cas-tro, e a investigadora Irene Fialho, cujas publicaes no mbito da edi-o crtica da obra de Ea, dirigida por Carlos Reis, so conhecidas1.

    Embora o autgrafo no contenha o texto correspondente aosCaptulos finais (VII a XII) da verso definitiva, constitui um docu-mento fundamental para o entendimento do processo de composiode Ea de Queirs, dando a conhecer redaces primitivas da obra,que podemos cotejar com as verses impressas; e sendo muito nume-rosas as emendas acrescentos, supresses, substituies, reordenao surpreendemos nele a dinmica da escrita queirosiana. Note-se queeste original foi j objecto de uma primeira descrio, mostrando queos 184 flios esto agrupados em trs blocos, A, B (B1, B2, B3) e C,correspondentes a captulos ou partes de numerao autnoma2.

    sabido que a composio de A Ilustre Casa de Ramires (ICR)se prolongou por um perodo de, pelo menos, dez anos3. Tivemos jocasio de apresentar o que se pode inferir da correspondncia deEa e de outros testemunhos quanto gnese e evoluo do romance,bem como uma sucinta descrio do autgrafo e, assim, alinham-seaqui apenas os marcos relevantes de um trajecto atribulado (SOBRALe ROCHETA, 2011, p. 181-197). Em Novembro de 1890, saiu um ann-cio na Revista de Portugal: brevemente um conto de Ea de Queiroz,A Ilustre Casa de Ramires; no entanto, o texto no chega a ser publi-cado na Revista de Portugal, embora a correspondncia do escritorateste a ateno que dedicou narrativa que de conto passou anovelazinha ao longo da primeira metade da dcada4. S em 1895surge a primeira publicao de um passo da obra, no nmero inaugu-ral da revista A Arte: A Ilustre Casa de Ramires (excerto de um livroindito)5. A verso do romance publicada em vinte folhetins na Re-vista Moderna, entre Novembro de 1897 (n. 10) e Maro de 1899 (n.29), fica ainda incompleta6. Nela consta o trecho publicado em AArte, com assinalveis variantes, como acontecer na verso definiti-va, em livro editado no Porto em 1900 edio semi-pstuma, poisEa no pde j rever as provas das ltimas pginas.

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    Deste modo, entre 1890 e 1900 o conto anunciado sofreu su-cessivas metamorfoses, transformando-se finalmente num grande ro-mance. So muitos, todavia, os elos ainda perdidos nesta densa cor-rente de escrita: pelo menos o manuscrito contendo os ltimos cap-tulos; as provas da Revista de Portugal; as provas da novelazinha,que poderia ter dado um petit livre; ainda as provas da Revista Mo-derna e as da edio em livro de 1900.

    O excerto de um livro indito publicado em A Arte, quecorresponde a pgina e meia nessa revista e ao incio do captulo VIna primeira edio em livro, constitui transcrio de uma passagemdo autgrafo (bloco C, flios 36-40). Tanto na Revista Moderna quantona edio em livro, como sabemos, este trecho aparece consideravel-mente amplificado. Para o restante texto, porm, as verses anterio-res a 1895 no tm outro testemunho que no o original reencontra-do e da a relevncia da sua edio e do estudo dos 184 flios queo constituem.

    Entretanto, em dois breves estudos foi feita a apresentao dasfases que podemos discernir na feitura do romance, a partir dos testemu-nhos disponveis e, particularmente, da natureza do autgrafo agora dis-ponvel (SOBRAL e ROCHETA, 2011, p. 181-197; ROCHETA, no prelo).

    A leitura da primeira redaco (verso lacunar, pois em cam-panha de reviso o escritor tapou alguns passos por colagem e des-cartou algumas folhas, que substituiu) mostra-nos aquilo que desde oincio foi o ncleo do projecto do escritor, conforme se depreende decarta a Lus de Magalhes, de 21 de Outubro de 1891: um simpleslance, todo de ironia, revelando um carcter (QUEIRS, 1983, p. 190).

    A decifrao de uma segunda redaco (sobreposta primeiranos blocos A e B, por entrelinhamento e na margem esquerda daspginas, e em folhas que foram acrescentadas) permite conhecer umaetapa transitria na evoluo da narrativa. Porventura os flios dobloco C testemunham uma fase seguinte, numa verso, passada a lim-po, da continuao da aco. O texto da Revista Moderna constituimais um passo no percurso de dez anos que nos leva verso defini-tiva, o livro ao qual o escritor se dedicava ainda ao tempo da suamorte (Agosto de 1900).

    Diversos estdios de composio recomendam a maior prudn-cia na datao das campanhas de escrita e reviso que no autgrafoencontramos; podemos, ainda assim, conjecturar pelo menos trs fa-ses de redaco atestadas no original em estudo, pois, como acima se

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    regista, se nos blocos A e B encontramos duas verses sobrepostas,no bloco C encontramos uma verso em cpia menos emendada ecom foliao discrepante. O que, sim, podemos afirmar que o aut-grafo se situa entre 1890 e 1895.

    Convm destacar que no encontramos nas redaces de A IlustreCasa de Ramires inscritas nos 184 flios uma verso completa de umconto, ou de uma novela, nem mesmo dos primeiros captulos doromance, de que pudssemos dar uma edio crtica. Com excepodo breve trecho publicado nA Arte em 1895, nenhum excerto pode-mos encarar como texto definitivo que o escritor tivesse querido pu-blicar, como tal, em algum momento do percurso da narrativa. Depa-ramos, sim, com a escrita queirosiana in fieri, surpreendendo o escri-tor-arteso banca de trabalho, na demanda do que neste originalsurge ainda como um romance virtual.

    A observao do autgrafo revela campanhas de abundantecorreco, documentando a riqueza do processo gentico de A Ilus-tre Casa de Ramires. As modificaes introduzidas por Ea de Queirsrespeitam aco, composio e estilo do texto. O facto de a ordemde integrao de alguns episdios na obra ter sido alterada na pri-meira edio em livro mostra a relativa autonomia de algumas gran-des sequncias narrativas, mas revela tambm como a estruturao danarrativa influi na significao do romance: uma vez que a focalizaoadoptada neutral, quanto qualidade da informao diegtica vei-culada, a sequncia dos episdios, muitas vezes contrastantes, consis-te num elemento determinante na construo dos sentidos e da ironiada narrativa.

    Lembremos que o protagonista de A Ilustre Casa de Ramires, oFidalgo da Torre, se dedica, nos meses de Vero em que a aco sedesenrola, composio de uma novela histrica, A Torre de D.Ramires; a tematizao da escrita constitui justamente um traomarcante da modernidade do romance. A observao do autgrafomostra que a arte da escrita queirosiana se desdobra, em movimentoespecular, na apresentao do difcil e laborioso processo de produ-o da novela por Gonalo Mendes Ramires: na insero dos trechosda novela na narrativa principal, o escritor atribui personagemintervenes na reviso do seu texto novelstico, enquanto as emen-das documentadas no manuscrito mostram que ele prprio opera al-teraes semelhantes. Na mise en abme assim construda, a redaco

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    da novela histrica pelo jovem Gonalo espelha o culto da perfeiodo seu criador.

    Raros so os passos do texto, no original em apreo, que nosofrem modificao, num incessante movimento pendular entre ex-panso e depurao. O tempo, o espao, as personagens, a descrio,os dilogos so objecto de atenta reviso, na pesquisa de coeso in-terna e fora expressiva. Importa desde j salientar que, embora par-tindo o escritor de um conto breve para chegar a um romance, asubtraco (quase) to significativa quanto a adio. Independente-mente de juzos de valor assentes no nosso prprio gosto (e podera-mos lamentar que determinadas palavras ou expresses tenham sidorejeitadas), interessa, sim, apreender qual o sentido, quais os efei-tos, das alteraes introduzidas. E, isto, porque o esforo constantede Ea de Queirs se centra na busca da coerncia quanto a persona-gens e suas motivaes, e quanto a espaos e atmosferas. Encontrar lemot juste: esse o labor tenaz que o autgrafo documenta, a par daconquista do estilo prprio.

    Os fac-smiles que acompanham este ensaio ilustram, por si ss,a persistncia, a argcia, o apuro queirosianos: so autnticospalimpsestos muitos dos flios agora acessveis leitura (v. Anexo).Vou proceder, pois, colao de quatro testemunhos de alguns tre-chos (escrita na mancha da pgina, cancelada pelo autor Aut. 1;variantes entrelinhadas e inscritas na margem esquerda dos flios Aut. 2; folhetins da Revista Moderna RM, 1897-1899; verso defi-nitiva 1. ed., 1900)7. No espao restrito deste artigo, mostrareiapenas a busca da subtileza no processo gentico do romance, sem-pre aliada demanda de leveza e exactido.

    O real e a fico

    Assume grande importncia, no universo diegtico de A Ilus-tre Casa de Ramires, a cidade de Oliveira. No existindo cidade comeste nome em Portugal (embora ele ocorra em frequentes topnimos,como Oliveira do Douro, de Frades, do Hospital), um cuidado estudode Edme da Fonseca indica Lamego como a cidade modelo da fico(FONSECA, 1993, p. 514). Note-se que se relata no primeiro Captulodo romance, tal como no autgrafo (Aut. 2, bloco A, fl. 17), queGonalo se desloca a Lisboa por causa da hipoteca da sua quinta dePraga, junto a Lamego. Nos manuscritos, porm, a cidade explici-

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    A GNESE DE UM ROMANCE QUEIROSIANO. UM AUTGRAFO INDITO D A ILUSTRE CASA DE RAMIRES.

    tamente designada como Bragana (Aut. 1 e 2, bloco A, fl. 12). Estetopnimo todavia abandonado no seguimento das duas versesautgrafas, optando-se por escrever a cidade, sem qualquerespecificao. Quer nos folhetins da Revista Moderna quer na ediodefinitiva encontramos, como sabido, Oliveira, conseguindo pois oescritor um maior distanciamento entre realidade e fico.

    Atestando, de diferente modo, a distncia que Ea gradualmen-te coloca entre a caricatura na fico e o seu modelo real, a colaodo autgrafo com a verso da Revista Moderna e a lio definitivarevela duas mudanas no nome do mentor do trabalho de escrita deGonalo Mendes Ramires.

    Desde as sete horas daquella manh dAgosto enevoada, ofidalgo da Torre em chinellos, comuma quinzena de linho por cima da camisa de dormir, traba-lhava; - trabalhava, na sua Novella Histrica, a Torre de DomRamires, que devia apparecer em Outubro na Revista deLitteratura e Historia. (Aut. 1, bloco A, fl. 1)

    Fora justamente, nesse anno que elle se estreara nas Lettras. Umseu companheiro de Casa, Nogueira Lima, fundara um semanario, (Aut. 1, bloco A, fl. 12)

    Na primeira redaco, Ea atribui ao inspirador e instigador daescrita de Gonalo o nome Nogueira Lima, que os leitores coevosprovavelmente relacionariam com J. M. Nogueira Lima, redactor deA Grinalda, Jornal potico (1855-1870), tanto mais quanto essapublicao peridica referida na mesma verso da narrativa (Aut. 1,bloco A, fl. 25).

    Na reviso dos dois passos citados, em segunda redaco, oescritor opta por diferente nome, elegendo assim outro alvo para asua ironia:

    Desde as sete horas no quente silencio do Domingo dAgosto ofidalgo da Torre em chinellos, com uma quinzena de linho envergada pressa por sobre a camisa de dormir, trabalhava; trabalhavacom a penna, na sua Novella Historica a Torre de Dom Ramires,que devia apparecer por comeos dOutubro no nmero 1 dos Annaes de Litteratura e Historia. (Aut. 2, bloco A, fl. 1)

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    Fora justamente, nesse anno que elle se estreara nas Lettras. Umseu companheiro de Casa, Jos Pinheiro, um algarvio nervoso e macilento, de grandes lunetas azues, aquem o Simo Craveiro chamava o PinheiroPatriotinheiro fundara nesse outonno, um semanrio a Ptria.(Aut. 2, bloco A, fl. 12-13)

    A charge a Pinheiro Chagas, indirectamente apodado pelo au-tor, em texto de 1880, de patriotaa, patriotinheiro, patriotador, oupatriotarreca perfila-se assim nesta segunda redaco no autgrafode A Ilustre Casa de Ramires (QUEIRS, 2000, p. 52). Nas pginas daRevista Moderna, a personagem ainda designada como T. Pinheiro,Pinheiro Patriotinheiro, mas na verso definitiva (1900), surgir onome de Castanheiro, esbatendo a ligao imediata ao visado atitu-de defluente, talvez, da morte em 1895 de Pinheiro Chagas8.

    Por outro lado, a eliminao do advrbio cruelmente (Aut. 2,bloco A, fl. 12-13) evidencia a opo pela focalizao neutral quepredomina no romance, em detrimento da exposio do ponto devista do narrador, no que teria correspondido a um tipo de focalizaointerventiva (REIS e LOPES, 1987, p. 158-161).

    Uma outra modificao comprova a tendncia para a matizaode vnculos explcitos entre realidade e fico: o Ministro do Reino nomeado, no autgrafo, como Joo Vasco (bloco B3, fls. 30, 32-33 ebloco C, fl. 37). A semelhana flagrante deste nome com o de JooFranco, poltico destacado e influente na poca, d at azo a um lapso(o qual na transcrio da revista A Arte no , alis, corrigido):

    O Joo Vasco desde que o crculo vagara, pensara logo em metterpor l o Bento Homem, redactor do Paiz. De sorte que foranecessario que ele se encrespasse com o Joo Franco, lhedeclarasse muito seccamente: - Ou trago o Gonalo por VillaClara, ou me demitto. Em todo o caso era necessario conservaros olhos bem abertos, e bem espertos. (Aut., bloco C, fl. 37)

    Na verso da Revista Moderna, como na edio definitiva, JosErnesto o nome escolhido para o ministro, manifestando-se orienta-o idntica na emenda: delir a relao directa entre verdico e fic-o, sem que a charge social e poltica se perca antes ganhe maioramplitude, desligando-se de referentes datados. Avulta, assim, a crti-ca do tipo social e do sistema poltico, atenuando-se o ataque adhominem. Os leitores contemporneos, como os vindouros, so con-

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    vidados indagao interpretativa (pois se evita o bvio), diluindo-se o efeito de directa ligao ao tempo do escritor.

    A diegese

    O cotejo dos passos referentes caracterizao de Pinheiro/Castanheiro nos quatro testemunhos disponveis tambm reveladordo pendor para a leveza, agora no mbito da construo da diegese.

    Devorado por esta idea, a sua idea, sentindo nella uma carreira,quasi uma misso, o Z Pinheiro, tantas vezes com um ardorteimoso dApstolo, clamara pelos Cafs pelos Claustros daUniversidade, e pelos quartos amigos enfumarados de cigarro, a necessidade, caramba, reatar a tradico e desatulhar Por-tugal do alluvio do estrangeirismo () (Aut. 2, bloco A, fl. 13)

    Mais defecado, mais macilento, com umas lunetas mais negras, o Z Pinheiro, ardia todo, como em Coimbra, nachamma da sua idea a ressurreio do sentimento nacional. Epara isso alargando, a propores condignas da Capital, oplano da Ptria trabalhava, ,devoradoramente (a ponto de deitar sangue pela bca) na creaoduma Revista, uma Revista quinzenal, de trinta pginas, ().(Aut. 2, bloco A, fl. 17)

    Um acesso de tosse funda e rouca, sacudiu bruscamente o patrio-ta: e como se erguera uma aragem, sussurrando nas folhasralas, cruzou mais o paletot, abalou, a continuar, no seu quarto andar da rua de S. Jos, encolhido no catre, como peito coberto demplastros, sob os cobertores e o gabo, o seu sonho de uma Ptria forte, feita de Varesfortes, que elle creava lanando os Annaes, reatando a tradico,e ficando immortal. (Aut. 2, bloco A, fl. 21)

    Verificamos que nos folhetins da Revista Moderna e mais aindana verso de 1900 os contornos da personagem, sobretudo quandoatinentes ao seu estado de sade, so suavizados, resultando atenua-do o duro e irnico contraste entre a fraqueza extrema do tuberculosoque tosse, utiliza emplastros e cospe sangue, e o vigor do seu sonhode fora e ressurgimento para Portugal e os portugueses e de imor-talidade para si prprio , pois as manifestaes mrbidas e chocan-tes da doena so elididas.

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    Mais defecado, mais macilento, com uns culos mais largos emais tenebrosos, o Pinheiro ardia todo, como em Coimbra, nachama da sua ideia a ressurreio do sentimento portugus! Eagora, alargando a propores condignas da Capital, o plano daPtria, trabalhava devoradoramente na criao duma Revista quin-zenal, de setenta pginas (). (RM, 1897, p. 329)

    Mais defecado, mais macilento, com uns culos mais largos emais tenebrosos, o Castanheiro ardia todo, como em Coimbra, nachama da sua ideia a ressurreio do sentimento portugus! Eagora, alargando a propores condignas da capital o plano daPtria, labutava devotadamente na criao duma revista quinze-nal, de setenta pginas (). (1. ed., 1900, Cap. I)

    Encontramos nas duas verses impressas uma caricaturaestilizada, na qual a hiprbole liga ainda o idealismo exorbitante dapersonagem sua magreza excessiva, mas so rasurados os aspectosrepulsivos, verificando-se como Ea, na demorada reescrita do ro-mance, valoriza a discrio e a sugesto, em detrimento da explicitao.Note-se que na Revista Moderna surge ainda o advrbiodevoradoramente, eco da crueza da redaco anterior, substitudopelo termo devotadamente na verso definitiva. Na lio de 1900,sero sobretudo a incoerncia e a nfase do discurso de Castanheiro,atravs do discurso directo e indirecto livre, a revelar ironicamenteos pontos fracos da sua Ideia: o nacionalismo tradicionalista.

    De passagem, atente-se em que a atitude de Pinheiro/Castanheiro, engrandecendo as figuras da Histria de Portugal,projectando-se nelas e compensando assim a sua debilidade fsica,encontra paralelo na prtica de Gonalo Ramires como novelista,pois este sublima a sua prpria fraqueza de carcter hiperbolizando arobustez e a coragem de seus antepassados medievais, na tecedura danovela A Torre de D. Ramires. S concluda a escrita da novela, oprotagonista parece compreender a superioridade moral do seu tem-po, bem menos cruel e violento do que a Meia Idade que evocara.

    O afastamento da doutrina da escola naturalista fica patente,tambm, na colao dos passos relativos a Gracinha Ramires no aut-grafo e nas sequentes verses impressas:

    () este bello Luiz Cavalleiro cortejara a Gracinha Ramires, entome nina e ma, a flor da Torre, e com tanta persistenciae tanta seriedade, que em toda a Villa, na Cidade, se dava como

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    A GNESE DE UM ROMANCE QUEIROSIANO. UM AUTGRAFO INDITO D A ILUSTRE CASA DE RAMIRES.

    feito o Casamento, e mesmo encommendado o enxoval. (Aut. 1,B1, fl. 11)

    Todos os domingos Luiz Cavalleiro jantava na Torre e em Ramilde,na Villa e na cidade, j se contava, ao ch, nas boas famlias, queo enxoval de Gracinha fora encomendado em Lisboa, e custavaoitocentos mil reis. (Aut. 2, B1, fl. 12)

    O namoro, quase noivado, de Gracinha e Cavaleiro apresenta-do no autgrafo, em primeira e segunda redaces, como sendo p-blico e notrio. Neste contexto, o abandono da noiva por Cavaleirotoma foros de gravssima ofensa e deixa Graa Ramires mal colocadaperante a opinio pblica. Nas verses impressas, pelo contrrio, Eade Queirs relata:

    O romance triste da Flor da Torre nunca se espalhara para almdos arvoredos de Sta. Ireneia. (RM, 1897, p. 358).O bom Barrolo residira sempre em Amarante com a me, noconhecia o trado romance da Flor da Torre que nunca seespalhara para alm dos cerrados arvoredos da quinta. (1. ed.,1900, Cap. II)

    Em sequncia coerente, o escritor regista adiante, no autgra-fo, que na cidade corre j que Cavaleiro recomeara a cortejarGracinha, cujo bom-nome est em risco, o que justificadamente in-tensifica a clera do Fidalgo da Torre:

    () a sua clera foi immensa fundamente sentida quando, percebeu, e soube por um seu companheiro de Coimbra,advogado na cidade, que o homem da bella bigodeira negra, o LuizCavalleiro recomeara com tranquilla impudncia a cortejarGracinha. (Aut., bloco B1, fl. 24)

    As verses impressas, tanto na seriao da Revista Modernaquanto na primeira edio, registam que, assim como nada constoudo namoro, nada consta em Vila Clara e Oliveira do assdio de AndrCavaleiro a Graa Ramires. Vemos, pois, Ea de Queirs tecendo umaaura em torno da imagem de Gracinha, protegendo-a da mesquinheze mesmo malevolncia provincianas.

    E nessa Primavera, em Oliveira, onde ele ficara com a irm umassemanas depois da festa de anos do Barrolo, eis que Gonalosuspeita, fareja, descobre uma incomparvel infmia! O homemodioso da bigodeira negra, o Sr. Andr Cavaleiro, recomeara, comsoberba impudncia, a cortejar Gracinha Ramires, de longe,mudamente, em olhadelas fundas, pesadas de fluido, preparado a

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    Maria Isabel Rocheta

    apanhar como amante aquela grande fidalga, aquela Ramires, queno quisera como esposa! (RM, 1897, p. 359)

    E nessa Primavera, em Oliveira, onde se demorara para a festa deanos do Barrolo, eis que Gonalo suspeita, fareja, descobre umaincomparvel infmia! O empertigado homem da bigodeira negra,o Sr. Andr Cavaleiro, recomeara com soberba impudncia a cor-tejar Gracinha Ramires, de longe, mudamente, em olhadelas fun-das, carregadas de saudade e langor, procurando agora apanharcomo amante aquela grande fidalga, aquela Ramires, que desde-nhara como esposa! (1. ed., 1900, Cap. II)

    A amplificao patente no cotejo da redaco manuscrita comas verses impressas merece certamente comentrio, em especial noque respeita ao uso das formas verbais, dos adjectivos e advrbios.A conseguida gradao: suspeita, fareja, descobre, avivada pelouso metafrico do verbo farejar, revela a intensidade do sentir doprotagonista; no certamente menos significativa, contudo, a su-presso do verbo saber, que no manuscrito surgia: Gonalo perce-beu, e soube

    A evoluo no tratamento da personagem de Gracinha fica ain-da patente na colao dos passos que referem o seu colar de brilhan-tes. Gonalo, recebido o telegrama delicioso que Cavaleiro lhe en-via de Lisboa, garantindo a candidatura a deputado, planeia um jan-tar oferecido no palacete dos Barrolo:

    E havia de recomendar a Gracinha, que nessa noite, pusesse to-das as suas jias, o seu famoso collar de quatro contos, que forao presente de noivado do Bacoco! (Aut. 1, B3, fl. 36)

    E havia de recomendar a Gracinha, que se decotasse, e pusesse oseu collar de brilhantes... (Aut. 2, B3, fl. 36)

    Na primeira redaco manuscrita, se os exaltados planos deGonalo deixam transparecer gratido imensa por Cavaleiro, desven-dam tambm o seu despudor: esquecendo o agravo passado e, sobre-tudo, o iminente perigo, recomendaria irm, alvo da cobia dohomem da bella bigodeira negra, que usasse o presente de noivadodo marido o qual, a reforar a ironia da situao, nomeado comoBacoco. Na reviso do passo, so omitidos quer o preo do colar,

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    A GNESE DE UM ROMANCE QUEIROSIANO. UM AUTGRAFO INDITO D A ILUSTRE CASA DE RAMIRES.

    quer o facto de ter sido presente de noivado de Barrolo, elises queafinam o trao grosso da ironia; no seria verosmil, alis, no contextodo universo romanesco, que um aristocrata tradicionalista como o Fi-dalgo da Torre fosse de tal modo permevel ao valor material de umajia. Porm, mais significativa ainda a rasura do adjectivo famoso:o escritor resguarda Gracinha, ainda esta vez, da voz pblica.

    Nas verses impressas, a ideao do momento da reconcilia-o, isto , da ocasio em que Andr Cavaleiro vai obter a recom-pensa o acesso a casa de Graa , surge nos termos seguintes:

    E recomendaria a Gracinha que, para mais honrar a doce festa,se decotasse, pusesse o seu grande colar de brilhantes... (RM,1898, p. 658)

    E recomendaria a Gracinha que, para mais honrar a doce festa, sedecotasse,pusesse o seu colar magnfico de brilhantes, a derradeirajia histrica dos Ramires. (1. ed., 1900, Cap. V)

    Certeiramente irnico o uso do verbo honrar, quando afinal dedesonra se trata A aluso ao decote de Gracinha e ao colar reforaainda a ironia dramtica. Na verso final, porm, a crtica fraqueza decarcter de Gonalo abrange mais do que o potencial adultrio dairm; o deslustre do nome da famlia que fica em evidncia, quandoEa nos mostra Gonalo planeando valer-se do prestgio histrico dosRamires, simbolizado no colar, no momento da cedncia de Gracinhaa Andr Cavaleiro, o representante da nova classe dominante.

    Referncias culturais

    A extrema sensibilidade de Ea de Queirs mudana nos do-mnios da arte e da cultura, mudana que, afinal, cada gerao trazconsigo, revela-se no original na forma como so suprimidas deter-minadas citaes, nomeadamente em lngua francesa.

    Refiro um caso flagrante. Lendo o autgrafo, deparamos comGonalo Ramires ponderando a escrita da novela histrica, cuja tra-ma se encontrava j tecida no poema do tio Duarte, e o prestgio queela lhe viria trazer:

    E no silencio da noite, onde cantava o repuxo, e subia o aromados feijoaes, elle repetia a si mesmo, os dous versos de Vigny queo Andr de Salzeda, o poeta, costumava com o seu grande gesto,

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    Maria Isabel Rocheta

    bradar, em Coimbra, na tasca do Roxo: Jai mis sur le cimier dor du

    Gentilhomme Une plume de fer qui nest pas

    sans beaut (Aut. 1, bloco A, fl. 24)

    Na verso definitiva, a evocao dos versos de Vigny surgebem mais adiante na estrutura da obra:

    No, que diabo! No lhe convinha perder a apario da Novela emto proveitoso momento, nas vsperas da sua chegada a Lisboa,quando para a influncia poltica e para o prestgio social neces-sitava desse brilho que, segundo o velho Vigny, uma pena de aoacrescenta a um elmo dourado de fidalgo. (1. ed., 1900, Cap.VIII)

    Certamente se integra na obra, e com ambivalente coerncia, aevocao por Gonalo Ramires de Lesprit pur (1863), de Vigny:por um lado, neste texto o poeta faz precisamente o elogio da litera-tura de feio histrica de Oitocentos, que marcaria a superioridadedesse sculo sobre os picos tempos passados; por outro, e em clavede ironia, o esprito celebrado por Vigny surge aqui ao servio dosinteresses materiais de Gonalo, bem longe da pureza evocada. Con-tudo, Ea de Queirs, na lio de 1900, suprime a transcrio dosversos na lngua original, e opta por uma breve parfrase, na presci-ncia de que a citao viria a pesar no texto do romance, afastandofuturos leitores, cujas vozes de eleio seriam provavelmente outras.

    O cotejo das verses manuscritas e impressas de alguns poucospassos do romance A Ilustre Casa de Ramires mostra como a narrati-va se afasta, ao longo de anos de gestao, dos cnones da doutrinanaturalista, ganhando a obra em subtileza e poder sugestivo. O estu-do integral do autgrafo revelar certamente outras tendncias. Des-de j, porm, vale a pena assinalar que a energia criadora de Ea deQueirs na ltima dcada da sua vida, de que mais uma evidncia ooriginal em boa hora reencontrado por Manuel Vieira da Cruz, apon-ta aos vindouros metas a atingir pela literatura nos sculos a vir:subtileza, leveza, exactido9.

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    A GNESE DE UM ROMANCE QUEIROSIANO. UM AUTGRAFO INDITO D A ILUSTRE CASA DE RAMIRES.

    ABSTRACTThis article discusses the research undertaken in the Centrode Investigao da Universidade de Lisboa (CLEPUL), by theauthor and the team she leads, around an autograph of AIlustre Casa de Ramires, by Ea de Queirs, rediscovered inthe XXI century. Ongoing investigations allow us to obser-ve the genesis of the work, as well as the intricate authorscreative process.KEYWORDS: autograph, novel, genetic editing, Ea deQueirs

    REFERNCIAS

    CALVINO, Italo. Seis propostas para o prximo milnio. Trad. de Jos ColaoBarreiros. 3. ed., Lisboa: Teorema, 1998.CASTELO BRANCO, Camilo. Amor de Perdio. Memrias duma Famlia.Edio gentica e crtica de Ivo Castro. Lisboa: Imprensa Nacional Casa daMoeda, 2007.CRUZ, Manuel M. C. Vieira da. Notas sobre alguns manuscritos de Ea deQueirs. A doao Millennium bcp. Antnio Braz de Oliveira e Irene Fialho(coord.). Aquisies Queirosianas. Lisboa: Biblioteca Nacional de Portugal,2007, p. 101-112.FONSECA, Edme da. A Ilustre Casa de Ramires e o seu cenrio. A. CamposMatos (coord.). Dicionrio de Ea de Queirs. 2. ed., Lisboa: Caminho, 1993,p. 510-515.GUERRA DA CAL, Ernesto. Lengua y Estilo de Ea de Queiroz. Apndice.Bibliografia Queirosiana Sistemtica y Anotada e Iconografia Artstica delHombre y la Obra. Tomo 1.. Coimbra: Por Ordem da Universidade, 1975.OLIVEIRA, Antnio Braz de, e FIALHO, Irene. A Ilustre Casa de Ramires. Aqui-sies Queirosianas. Lisboa: Biblioteca Nacional de Portugal, 2007, p. 75-79.QUEIRS, Ea de. A Ilustre Casa de Ramires. Edio de Elena Losada Soler.Edio crtica das obras de Ea de Queirs, coord. Carlos Reis. Lisboa: Im-prensa Nacional Casa da Moeda, 1999.QUEIRS, Ea de. Correspondncia. Leitura, coordenao prefcio e notas deGuilherme Castilho. 2. Vol., Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda,

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    Maria Isabel Rocheta

    1983, p. 181-190.QUEIRS, Ea de. Brasil e Portugal. Notas Contemporneas. Lisboa: Livrosdo Brasil, 2000, p. 52.QUEIROZ, Ea de. A Ilustre Casa de Ramires. Revista Moderna. MagazineQuinzenal Ilustrado. Paris, 1897 (n. 10, p. 324-331; n. 11, p. 350-359);1898 (n. 12, p. 396-401; n. 13, p. 428-431; n. 14, p. 460-466 ; n. 15, p.490-494 ; n. 16, p. 518-524 ; n. 17, p. 558-561; n. 18, p. 589-592; n. 19,p. 622-626; n. 20, p. 655-658; n. 21, p. 679-682; n. 22, p. 718-723; n. 23,p. 749-754; n. 24, p. 738-788; n. 25, p. 45-48; n. 26, p. 91 95); 1899 (n.27, p. 133-137; n. 28, p. 186-188; n. 29, p. 221-225).QUEIROZ, Ea de. A Ilustre Casa de Ramires. Porto: Livraria Chardron deLello & Irmo, 1900.REIS, Carlos e LOPES, Ana Cristina. Focalizao. Dicionrio de Narratologia.Coimbra: Almedina, 1987, p. 158-161.ROCHETA, Maria Isabel. O Segredo d A Ilustre Casa de Ramires. Variantese variaes num autgrafo indito de Ea de Queirs. Actas do ColquioInternacional Naturalismo Olhares Cruzados, FLUL, 9 a 11 de Dezembro de2010 (no prelo).SOBRAL, Cristina e ROCHETA, Maria Isabel. A machina creadora de Ea deQueirs. Um autgrafo de A Ilustre Casa de Ramires. Letras com vida. Lite-ratura, cultura e arte. Lisboa, N. 3, 1. semestre de 2011, p. 181-197.STERN, Irwin. Ea de Queirs versus Pinheiro Chagas. Colquio/Letras, n.55, Maio de 1980, p. 72-75.

    NOTAS

    1 CLEPUL Centro de Literaturas e Culturas Lusfonas e Europeias da Uni-versidade de Lisboa, unidade de investigao da Faculdade de Letras. Cola-boraram criteriosamente na transcrio do autgrafo a Doutora Ana PaulaFernandes e os estudantes da FLUL Antnio Seabra e Jorge Filipe da Ressur-reio. So consultores cientficos do Projecto os Professores Carlos Reis eJoo Dionsio.2 A foliao autgrafa recomea em cada um dos blocos, excepto na passa-gem do B3 para o bloco C, e existem ttulos (A Ilustre Casa de Ramires, Casade Ramires) no incio dos blocos A, B1, B3 e C. Note-se, todavia, que hsequncia no teor dos manuscritos na passagem de B3 para C, como severifica na transio entre os outros blocos; a discrepncia na foliao indi-ca, no entanto, que o texto do bloco C vem na sequncia de uma cpia, queno conhecemos, da redaco contida nos flios anteriores. Ver Oliveira e

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    A GNESE DE UM ROMANCE QUEIROSIANO. UM AUTGRAFO INDITO D A ILUSTRE CASA DE RAMIRES.

    Fialho, 2007, p. 75-79.3 Sobre a gnese de A Ilustre Casa de Ramires e os testemunhos que adocumentam, v. Guerra da Cal, 1975, p. 113-118; Nuzzi, 1979, p. 32-37;Queirs, 1999, p. 15-18.4 Ea escreve a Lus Magalhes, ento secretrio da RP, em carta de 18 deSetembro de 1891: O meu conto est pronto, necessita s uma revisogeral: diga portanto quando o precisa, data certa. E informa, em carta de 21de Outubro desse ano: tenho andado a rever o conto operao que sempre para mim longa e laboriosa. quase uma recomposio; na mesmacarta, adianta: avento a ideia de publicar este primeiro nmero [do novoregime] sem o meu conto. evidente que dada a matria cujo sumrio Vocme mandou no possvel dispor de trinta a trinta e cinco pginas para aminha novelazinha. Mas eu agora reconheo que ela perderia totalmente oseu efeito se tivesse de ser cortada. No tem enredo. um simples lance,todo de ironia, revelando um carcter. Isto no se pode partir em dois(Queirs, 1983, p. 181-190).5 Este fragmento encontra-se transcrito como Apndice na edio de ElenaLosada Soler (Queirs, 1999, p. 457-459).6 A publicao do romance na Revista Moderna (aqui indicada como RM)estende-se at ao captulo X da verso definitiva, que fica incompleto (Queirs,1999, p. 25-26).7 A simbologia adoptada na transcrio do autgrafo a usada por IvoCastro na edio gentica e crtica de Amor de Perdio (Castelo Branco,2007): segmento riscado pelo autor.8 Sobre Ea de Queirs e Pinheiro Chagas, v. Stern, 1980, p. 72-75.9 Ver, a propsito, Calvino, 1998.

    Recebido em 30 de maio.

    Aprovado em 20 de junho.