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10 CIDADES A GAZETA DOMINGO, 6 DE OUTUBRO DE 2013 VIDA ESPIRITUAL Pesquisa revela que mais de 60% dos fiéis já não ocupam cargos em suas denominações; participação nas atividades é de média para baixa EVANGÉLICOS ELES PARTICIPAM MENOS DA IGREJA VILMARA FERNANDES [email protected] A participação dos evan- gélicos em suas igrejas caiu. Mais de 60% dos fiéis já não ocupam cargos em suas denominações – nem mesmo os mais simples –, e sua participação nas ati- vidades é de média para baixa. A mudança no com- portamento foi constata- da em pesquisa realizada pela Revista Comunhão. Os números apontam ainda que menos da metade dos evangélicos participa dos projetos sociais ou mis- sionários de suas congrega- ções. “Uma situação que ocorre em todas as denomi- nações”, observa Mário Fer- nando Souza, diretor-exe- cutivodaNextEditorial,em- presa que publica a revista. NOVIDADE Foi a primeira vez que esse tipo de comporta- mento, que já vem sendo percebido pelas lideran- ças religiosas no dia a dia, foi confirmado na pesqui- sa, realizada anualmente pela revista há 13 anos. E essa forma de vivenciar a fé, distante de seu exercí- cio prático, deve crescer nos próximo anos, avalia Mário Fernando. Já há pesquisas realizadas por outras em- presas,dizele,queapontam que a participação dos evangélicos em suas igrejas não ultrapassa os 7%. Nos próximos meses a Next vai cruzar as informa- ções da pesquisa com as do último levantamento divul- gado pelo IBGE. A intenção é identificar mais detalhes dessas mudanças e como elas estão repercutindo nas igrejas. Mas Mário Fernan- do já adianta que o impacto é grande, e não só do ponto de vista administrativo. “Mesmo que a denomina- ção possua uma estrutura profissional, não pode abrir mão do trabalho voluntário de cada fiel”, diz. Há 20 anos, acrescenta, as pessoas eram mais envolvidas com os serviços, e os laços entre os fiéis eram mais fortes. MODERNIDADE Por trás deste novo com- portamento, destaca o cien- tista social e pastor da Igreja Batista Filadélfia, Elmir Dell’Antonio, está um novo modelo social: uma vida maisatribulada,commuitas demandas econômicas, so- ciais e até individuais. São fiéis que trabalham em horários diversificados, pais fora de casa, pessoas que estudam, filhos com suas demandas. Uma roda viva onde sobra pouco tem- po para as atividades espiri- tuais, diz Dell’Antonio. “É preciso compreender a lin- guagem deste novo mundo para saber como se comuni- car com os fiéis”. Um estilo de vida acom- panhado de problemas mais sérios, que também desem- bocam nas igrejas: famílias desestruturadas, dificulda- des econômicos, doenças emocionais. “Antes os pro- blemas eram suaves, hoje graves”,relataLuisFrancisco VITOR JUBINI “Hoje temos mais consumidores. As pessoas vão ao culto e só voltam no domingo seguinte. Por conta desse perfil, as igrejas estão mudando, mas não abrimos mão do mais importante: os preceitos bíblicos” JOÃO OLIVEIRO CAMARGO, PASTOR DA IGREJA BATISTA DE COLINA DE LARANJEIRAS, SERRA GABRIEL LORDÊLLO “É preciso entender as dificuldades do milênio e se adaptar a essa nova linguagem. Essa compreensão é fundamental aos sacerdotes” ELMIR DELL’ANTONIO CIENTISTA SOCIAL E PASTOR DA IGREJA BATISTA FILADÉLFIA, EM VITÓRIA

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Page 1: A GAZETA DOMINGO, 6 DE OUTUBRO DE 2013 · esse tipo de comporta-mento, ... culto e só voltam no domingo seguinte. Por conta desse perfil, as igrejas estão mudando, mas não abrimos

10 CIDADESA GAZETA DOMINGO, 6 DE OUTUBRO DE 2013

VIDA ESPIRITUAL

Pesquisa revela que mais de 60% dos fiéis já não ocupam cargos emsuas denominações; participação nas atividades é de média para baixa

EVANGÉLICOSELES PARTICIPAMMENOS DA IGREJA

VILMARA [email protected]

A participação dos evan-gélicos em suas igrejascaiu.Maisde60%dosfiéisjá não ocupam cargos emsuas denominações – nemmesmo os mais simples –,e sua participação nas ati-vidades é de média parabaixa.Amudançanocom-portamento foi constata-da em pesquisa realizadapela Revista Comunhão.

Os números apontamaindaquemenosdametadedos evangélicos participados projetos sociais ou mis-sionários de suas congrega-ções. “Uma situação queocorre em todas as denomi-nações”, observa Mário Fer-nando Souza, diretor-exe-cutivodaNextEditorial,em-presa que publica a revista.

NOVIDADEFoi a primeira vez que

esse tipo de comporta-mento, que já vem sendopercebido pelas lideran-ças religiosas no dia a dia,foi confirmado na pesqui-sa, realizada anualmentepela revista há 13 anos.

Eessaformadevivenciara fé, distante de seu exercí-cioprático,devecrescernospróximo anos, avalia MárioFernando. Já há pesquisasrealizadas por outras em-presas,dizele,queapontamque a participação dosevangélicos em suas igrejasnão ultrapassa os 7%.

Nos próximos meses aNext vai cruzar as informa-ções da pesquisa com as doúltimo levantamento divul-

gado pelo IBGE. A intençãoé identificar mais detalhesdessas mudanças e comoelas estão repercutindo nasigrejas. Mas Mário Fernan-do já adianta que o impactoé grande, e não só do pontode vista administrativo.“Mesmo que a denomina-ção possua uma estruturaprofissional, não pode abrirmão do trabalho voluntáriode cada fiel”, diz. Há 20anos,acrescenta,aspessoaseram mais envolvidas comos serviços, e os laços entreos fiéis eram mais fortes.

MODERNIDADEPor trás deste novo com-

portamento, destaca o cien-tista social epastorda IgrejaBatista Filadélfia, ElmirDell’Antonio, está um novomodelo social: uma vidamaisatribulada,commuitasdemandas econômicas, so-ciais e até individuais.

São fiéis que trabalhamem horários diversificados,pais fora de casa, pessoasque estudam, filhos comsuas demandas. Uma rodaviva onde sobra pouco tem-po para as atividades espiri-tuais, diz Dell’Antonio. “Épreciso compreender a lin-guagem deste novo mundopara saber comosecomuni-car com os fiéis”.

Um estilo de vida acom-panhadodeproblemasmaissérios, que também desem-bocam nas igrejas: famíliasdesestruturadas, dificulda-des econômicos, doençasemocionais. “Antes os pro-blemas eram suaves, hojegraves”,relataLuisFrancisco

VITOR JUBINI

“Hoje temos maisconsumidores. Aspessoas vão aoculto e só voltamno domingoseguinte. Porconta desse perfil,as igrejas estãomudando, masnão abrimos mãodo maisimportante: ospreceitosbíblicos”—JOÃO OLIVEIROCAMARGO, PASTOR DAIGREJA BATISTA DE COLINADE LARANJEIRAS, SERRA

GABRIEL LORDÊLLO

“É precisoentender asdificuldades domilênio e seadaptar aessa novalinguagem. Essacompreensão éfundamental aossacerdotes”—ELMIR DELL’ANTONIOCIENTISTA SOCIAL EPASTOR DA IGREJABATISTA FILADÉLFIA, EMVITÓRIA

Documento:AG06CACI010;Página:1;Formato:(274.11 x 382.06 mm);Chapa:Composto;Data:05 de Oct de 2013 12:24:06

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CIDADES11DOMINGO, 6 DE OUTUBRO DE 2013 A GAZETA

VITOR JUBINI

Na última quarta-feira, um animado grupo participava do culto na IBR, em Jardim da Penha, comandado pelo pastor Luís Henrique

Oliveira, da Igreja Evangéli-ca Vida, pastor há 20 anos.

NOVAS ABORDAGENSSituaçõesquetêmlevado

asigrejas,pontuaDell’Anto-nio,aumprocessodeadap-tação, com a adoção de no-vas abordagens para absor-verestefiel.Presençanasre-des sociais, flexibilizaçãodos horários de culto, comtransmissão e participaçãopela internet são algumasdas alternativas adotadas.

Mas o processo maisbem-sucedidoatéomomen-to foi a criação de pequenosgrupos – que alguns cha-mamdecélulas–,comaten-dimentos temáticos. “É umadinâmica que flexibiliza aparticipação e permite umainteração maior”, dizDell’Antonio.

COMPREENSÃOAjustes que demandam

compreensão do contextocomunitário, como diz opastor Aldo Munoz, hoje naIgreja Batista de Santos Du-mont, Vitória. Quandoatuou em uma missão emTerra Vermelha, Vila Velha,eliminou os cultos matinaisdo domingo. “Era o únicodia em que os fiéis faziamsuas compras”.

Em um único ponto, po-rém, os pastores são unâni-mes em defender que nãopodehavertransformações:os princípios bíblicos. “Se-guimos o que é mais impor-tante: a palavra”, pontua opastorJoãoOliveiroCamar-go, da Batista de Colina deLaranjeiras, na Serra.

Grupos pequenos estimulam mais integraçãoNa Igreja Batista da Res-

tauração (IBR), em Jar-dimdaPenha,Vitória,nãohá o tradicional culto nasmanhãsdedomingo.Nemmesmo escola bíblica. Oobjetivo foi criar espaçopara as famílias, comodestaca seu pastor, LuísHenrique Silva. “Foi umaalternativa para as famí-lias, hoje tão sem tempo,passarem alguns momen-tos a mais juntas”.

Outramedidafoianteci-

par o horário do culto no-turno. Isso possibilitou aosfiéis outras oportunidadesde confraternização, longedo templo, como visita aamigos, reuniões em res-taurantes para jantar oulanche.“Masquetambéméuma forma de congregar,deestarpresentenavidadooutro”, observa o pastor.

Porlátambémsãoofere-cidos cultos semanais e foiintensificado o trabalhodos pequenos grupos, que

lá eles chamam de Gruposde Comunhão, os GCs.Uma dinâmica que tem si-dobem-sucedidaemváriasdenominações.Poraconte-ceremdiasehoráriosvaria-dos, eles permitem umaparticipam maior nas ativi-dades da igreja. “Ajudam adriblarafaltadetemplo,dehorários e evitam o afasta-mento”, observa NyxonDutra, membro da IBR.

Ele e a esposa partici-pamdealgunsgruposere-

latam que alguns encon-tros são realizados em for-ma de passeios. Em outrassituações,utilizamoespa-ço para discutir temasatuais, tendo sempre co-mo referência a Bíblia.“Usamos os games, porexemplo, para abordar al-guns temas com os jo-vens”, conta Dutra.

Quemjáteveseutempotomado pelas demandasdo dia a dia sabe o quantoessas alternativas podem

facilitar a vida de um fiel.Maiara Soares, nascidaem um lar evangélico,sempre participou de vá-rias atividades da igreja.

Tudo mudou quandoela quando fazia faculda-de e estágio. “Mal tinhatempo para acompanharum culto”, lembra a jo-vem, hoje enfermeira for-mada. Hoje, como mem-bro da IBR, participa atédos cultos das quartas-fei-ras, realizado às 19h30.

Documento:AG06CACI011;Página:1;Formato:(274.11 x 382.06 mm);Chapa:Composto;Data:05 de Oct de 2013 12:24:27