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ELAINE CRISTINA LINHARES DINIZ A GASTRONOMIA COMO PATRIMÔNIO IMATERIAL E RECURSO TURÍSTICO - O CASO DO PASTEL DE ANGU EM ITABIRITO/MINAS GERAIS - Belo Horizonte – MG Centro Universitário UNA Junho/2009

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ELAINE CRISTINA LINHARES DINIZ

A GASTRONOMIA COMO PATRIMÔNIO IMATERIAL E RECURSO TURÍSTICO

- O CASO DO PASTEL DE ANGU EM ITABIRITO/MINAS GERAIS -

Belo Horizonte – MG Centro Universitário UNA

Junho/2009

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ELAINE CRISTINA LINHARES DINIZ

A GASTRONOMIA COMO PATRIMÔNIO IMATERIAL

E RECURSO TURÍSTICO - O CASO DO PASTEL DE ANGU EM ITABIRITO/MINAS GERAIS -

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Turismo e Meio Ambiente do Centro Universitário UNA, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Turismo e Meio Ambiente. Área de Concentração: Turismo e Patrimônio Cultural. Orientador: Prof. Dr. Reinaldo Dias

Belo Horizonte – MG Centro Universitário UNA

Junho/2009

DEDICATÓRIA

Aos queridos, amados e eternos em minha memória, Vovôs Itagiba Diniz e Elson Linhares, Vovós Filomena Jardim (Loló) e Marieta Sampaio, as bases da minha base, o meu “patrimônio cultural imaterial”.

AGRADECIMENTOS

Em muitas de nossas caminhadas, aparentemente, estamos sozinhos, porém,

apesar das aparências, não estamos no mundo por termos surgido como um passe de

mágica e nem alcançamos os nossos objetivos através, exclusivamente, de nossos esforços

particulares. Há muito e muitos que contribuem na caminhada de qualquer ser humano.

O amor, o carinho, a dedicação, a paciência, os “puxões de orelha” e o eterno e

total incentivo aos estudos formam a base familiar que fez de mim uma pessoa digna,

honesta, descente, batalhadora e capaz. Obrigada pai e mãe, pelo exemplo que são, pela

presença constante e pelos pilares bem estruturados que me ofereceram. Cada uma de

minhas vitórias é e será sempre dedicada a vocês. Obrigada Yeyé e Kiko pelas aventuras,

pelo companheirismo e pela história de vida que traçamos juntos, na infância, na

adolescência e que continuamos traçando. Obrigada Ana Clara e Luiz Gustavo, sobrinhos

amados que reavivaram em nossa família os prazeres da infância. Neném, você me torna

melhor a cada dia. Vocês todos são pessoas sagradas em minha vida.

Tios, tias, primos e primas, que, em determinados momentos eram exemplo, em

outros eram companheiros e, em todos os momentos eram, são e, sei muito bem que,

sempre serão incentivadores.

Denise, obrigada por dar conta da minha baderna generalizada com os papéis e

livros durante o período de “gestação” deste filho.

Os momentos de fuga, abstinência de raciocínio científico, relaxamento mental e

busca de fôlego novo para continuar minha caminhada também foram proporcionados e

acompanhados por pessoas tão nobres quanto a família: os amigos verdadeiros. Estes

formam a minha segunda família: Maria do Socorro (mãezinha), Waldênia, Wanêssa e

Pedro, Walena, Keyle, Laura, Jajá, Érmiton e Martinha, Léa e Humberto, Milene e Tia

Bem. Sou grata por vocês sempre fazerem parte da minha caminhada.

À turma do mestrado, um agradecimento generalizado, pelas discordâncias que

levaram a reflexões mais elaboradas sobre determinados assuntos e ampliaram as linhas de

raciocínio, pelas concordâncias que fortaleceram o sentimento de capacidade, pelo

companheirismo e união em momentos extremamente tensos e pelo suporte dado em

períodos delicados de minha vida.

Dea, Tom, Rachel, Dani, Bruna, Gilmara, Danilo e Cássio, muito mais que

colegas, vocês se tornaram amigos e espero, de verdade, que a vida jamais nos distancie.

Aos mestres e doutores da grade curricular, a gratidão pela disposição em repassar

seus conhecimentos propiciando um aprendizado científico enriquecedor.

À Isabel, MESTRE (com letras maiúsculas) em todos os sentidos e que me deu o

primeiro “norte” para esta pesquisa. Um exemplo de ser humano que, do alto de sua

sabedoria, bondade e doçura se apresenta como uma menina em constante aprendizado.

Ao Professor Reinaldo, a gratidão fica estampada na folha de rosto deste trabalho.

Mestre que acompanhou e se dedicou a esta pesquisa, de maneira criteriosa e

esclarecedora, sem que, em momento algum, eu me sentisse “desorientada” e, por isso,

verdadeiramente merecedor do título de orientador.

Um agradecimento especial ao Ubiraney, amigo desde os primeiros movimentos

em prol da estruturação da Estrada Real e do Circuito do Ouro, pessoa que “abriu as portas

de Itabirito” para que eu pudesse desenvolver este trabalho de pesquisa, facilitando

contatos, fornecendo todas as informações às quais tinha acesso e minimizando as

dificuldades quando essas surgiam.

Ao MESTRE do universo, obrigada por tudo e por todos.

“... E as coisas lindas muito mais que findas

essas ficarão.”

(Carlos Drummond de Andrade)

LISTA DE APÊNDICES

APÊNDICE 01 – Foto do XI Festival de Gastronomia de Tiradentes / 2008

APÊNDICE 02 – Umbigo de Bananeira e Pastel de Angu

APÊNDICE 03 – Umbigo de Bananeira

APÊNDICE 04 – Entrevista com o Secretário Ubiraney e a Chefe de Divisão Gilmara

APÊNDICE 05 – Entrevista com Dona Inês de Souza Lima

APÊNDICE 06 – Boneco alusivo à escrava Philó

APÊNDICE 07 – Boneco alusivo à escrava Maria Conga

APÊNDICE 08 – Bonequinhas PHILÓ e MARIA CONGA, em cerâmica

APÊNDICE 09 – Detalhe das bonequinhas de cerâmica

APÊNDICE 10 – Pesquisa de Demanda – Participantes do Festival do Pastel de Angu 2008

APÊNDICE 11 – Público do Festival do Pastel de Angu – 2008

LISTA DE ANEXOS

ANEXO 01 – Folder da Oktoberfest de Blumenau

ANEXO 02 – Localização de Itabirito na Estrada Real

RESUMO

O presente trabalho de pesquisa se desenvolveu de uma forma explicativa, analítica e exemplificativa, objetivando realçar a gastronomia como uma vertente do patrimônio cultural imaterial voltado para a atividade turística. Visando descrever o que se considera patrimônio cultural e o caminho percorrido até a definição de suas interfaces material e imaterial foi apresentada uma análise geral do tema no contexto mundial e brasileiro, bem como a importância e a interdependência da educação patrimonial em relação ao reconhecimento identitário e à inclusão social ligados à gastronomia. O estudo, de natureza descritiva e exploratória, teve como base o município de Itabirito, Minas Gerais, devido à importância do Pastel de Angu para a cidade e a busca do seu registro como patrimônio imaterial. A unidade empírica analisada foi o pastel de angu como patrimônio imaterial, tendo os métodos e técnicas analíticas utilizados, centrados na pesquisa bibliográfica e documental, complementada com estudo de caso sobre o Festival do Pastel de Angu de Itabirito e entrevistas com atores envolvidos no citado evento.

Palavras-chave: Patrimônio Imaterial; Turismo Gastronômico; Turismo de Eventos;

Gastronomia e Cultura; Educação Patrimonial.

ABSTRACT

This present research paper was developed in an explanatory, analytical and illustrative way with the purpose to highlight the cuisine as a part of the intangible cultural heritage focused on tourism. Seeking to describe what is considered cultural heritage and the path to the definition of its tangible and intangible interfaces, a general analysis of the topic, considering the context of the world and Brazil, was presented, as well as the importance and interdependence of heritage education on identity recognition and social inclusion related to gastronomy. The study was descriptive and exploratory in nature, its focus was the municipality of Itabirito, Minas Gerais, due to the importance of Pastel de angu for the city and the search for its record as intangible heritage. The empirical unit of analysis was the pastel de angu as an intangible heritage, and the methods and analytical techniques used were focused on bibliographical and documentation research, supplemented by a case study on the Pastel de Angu Festival of Itabirito and interviews with actors involved in that event.

Keywords: Intangible Heritage, Gastronomic tourism, Tourism Events, Gastronomy and Culture, Heritage Education.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................12

1. PATRIMÔNIO ........................................................................................................... 14

1.1. Patrimônio Cultural: a evolução do tema ................................................................. 14

1.1.1. Aprimoramento da Visão Cultural .................................................................20 1.1.2. Concepções de Cultura ..............................................................................25

1.2. Patrimônio Cultural Imaterial ............................................................................... 27 1.3. O Patrimônio no Brasil: do material ao imaterial ................................................... 32

1.4. A Gastronomia ....................................................................................................... 41 2. TURISMO, PATRIMÔNIO CULTURAL E EDUCAÇÃO ............................................. 49

2.1. O Turismo e a Diversidade Gastronômica ............................................................ 49

2.2. Patrimônio Cultural, Identidade e Inclusão Social ................................................... 54 2.3. Processo de Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, Educação,

cultura e turismo ....................................................................................................... 58

2.4. Educação Patrimonial e Algumas Práticas Bem Sucedidas ................................ 64

3. EDUCAÇÃO PATRIMONIAL EM ITABIRITO E O PASTEL DE ANGU .................. 69

3.1. O Município de Itabirito ........................................................................................ 69

3.2. O Pastel de Angu, o Projeto Pastel de Angu e seus Desdobramentos ...................... 70

3.3. A Festa Anual do Projeto Pastel de Angu ................................................................. 74

3.4. A Pesquisa ............................................................................................................75

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS .........................................................................................87

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...............................................................................89

6. APÊNDICES .................................................................................................................94

7. ANEXOS ...................................................................................................................112

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CNCR – Centro Nacional de Referência Cultural

DPHAN – Diretoria de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

DPI – Departamento de Patrimônio Imaterial

GTPI – Grupo de Trabalho do Patrimônio Imaterial

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICCROM – International Organization for Conservation of Cultural Heritage (Centro

Internacional de Estudos para a Conservação e Restauração de Bens Culturais)

ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

ICOMOS – International Council on Monuments and Sites (Conselho Internacional de

Monumentos e Sítios)

IEPHA – Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico

INRC – Inventário Nacional de Referências Culturais

IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

LDBEN – Leis de Diretrizes e Base da Educação Nacional

MERCOSUL – Mercado Comum do Sul

OEA – Organização dos Estados Americanos

OMT – Organização Mundial do Turismo

ONG – Organização Não Governamental

ONU – Organização das Nações Unidas

PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais

PNPI – Programa Nacional de Patrimônio Imaterial

SEBRAE – Serviço de Apoio a Micro e Pequenas Empresas

SHU – Sítio Histórico Urbano

SPHAN – Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

UNEP – Organização das Nações para o Meio Ambiente

UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.

LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 – Origem-Local de residência.........................................................................77

GRÁFICO 2 – Principal motivo para estar no evento..........................................................77

GRÁFICO 3 – Companhia para o evento.............................................................................78

GRÁFICO 4 – Participação no evento.................................................................................78

GRÁFICO 5 – O que mais agradou no evento.....................................................................79

GRÁFICO 6 – O que mais desagradou no evento...............................................................79

GRÁFICO 7 – Participaram da festa em 2007.....................................................................80

GRÁFICO 8 – Avaliação geral do evento............................................................................80

GRÁFICO 9 – Pretensão de gastos no período....................................................................81

GRÁFICO 10 – Meio de transporte.....................................................................................82

GRÁFICO 11 – Tipo de hospedagem..................................................................................82

GRÁFICO 12 – Utilização de bares e restaurantes locais....................................................83

GRÁFICO 13 – Tempo de permanência em Itabirito..........................................................83

GRÁFICO 14 – Como ficou sabendo do Festival................................................................84

GRÁFICO 15 – Quantas vezes já esteve em Itabirito..........................................................84

GRÁFICO 16 – Visitou algum atrativo em Itabirito............................................................84

GRÁFICO 17 – Pretende retornar a Itabirito.......................................................................85

GRÁFICO 18 – Avaliação geral do município....................................................................85

GRÁFICO 19 – Sexo............................................................................................................86

GRÁFICO 20 – Faixa etária.................................................................................................86

GRÁFICO 21 – Escolaridade...............................................................................................87

GRÁFICO 22 – Renda mensal.............................................................................................87

12

INTRODUÇÃO

São legítimas a importância e a necessidade de se promover a proteção da

memória e das manifestações culturais existentes em todo o mundo, como, por exemplo, os

sítios históricos, os monumentos e as paisagens. Desta forma, questões como patrimônio

cultural da humanidade, ou patrimônio histórico–cultural nacional, estadual e municipal há

muito vêm sendo pesquisadas, difundidas e trabalhadas visando à preservação de todo um

patrimônio cultural que represente, entre variadas formas, a importância histórica, cultural,

identitária e social de determinadas localidades, em todos os níveis e esferas possíveis.

Após anos de debates e desenvolvimento do pensamento preservacionista

contemporâneo baseado na historicidade dos atos e produtos da humanidade de uma

maneira geral, percebe-se que há muito mais contido nas tradições, no folclore, nos

saberes, nas línguas, nas festas e em outros aspectos e manifestações, transmitidos oral ou

gestualmente, recriados coletivamente e modificados ao longo do tempo do que se

identificava há alguns anos.

Devido a toda esta gama de representações da vida humana, iniciou-se uma linha

de pensamento voltada para a importância histórica do patrimônio imaterial em busca de

formas para sua definição e preservação.

Mesmo sendo recente a discussão sobre Patrimônio Imaterial em âmbito mundial

e, também, nacional, vários são os motivos para o Brasil, seus Estados e Municípios se

dedicarem à catalogação, aos trabalhos para estruturar o inventário e, principalmente, à

realização do registro e da salvaguarda de muitas de suas manifestações culturais, pois,

estas expressam uma enorme variedade quanto às formas e significados, além de

representarem parte de uma história que pode ser contada de maneira singular.

Durante o congresso da UNESCO realizado em Havana (Cuba), em novembro de

1996, tendo como tema o Turismo Cultural na América Latina e no Caribe, aprovou-se

uma carta-documento que “reconhece as receitas culinárias como um bem cultural tão

relevante e valioso quanto à arquitetura, os casarões e casarios, as igrejas, os monumentos

etc.”. No documento destaca-se “que toda política cultural, se bem fundamentada, deve

consagrar o gesto de comer não somente como uma tradição, mas, também, como uma

ação de criatividade, não se constituindo simplesmente, num ritual biológico de apenas

alimentação” (TRIGUEIRO E LEAL, 2006: 12).

13

Corroborando com esses pensamentos, o presente trabalho de pesquisa se

desenvolve de uma forma explicativa, analítica e exemplificativa, objetivando realçar a

gastronomia como uma vertente do patrimônio cultural imaterial voltado para a atividade

turística e impulsionadora da economia local.

Visando descrever o que se considera patrimônio cultural e o caminho percorrido

até a definição de suas interfaces material e imaterial apresentar-se-á uma análise geral do

tema no contexto mundial e brasileiro, a importância e a interdependência da educação

patrimonial face ao reconhecimento identitário e à inclusão social ligados à gastronomia.

Como base da descrição sobre patrimônio lançou-se mão às cartas patrimoniais e

declarações oficiais, diante das quais, identificou-se uma grande quantidade de documentos

relativos ao patrimônio cultural material em relação ao patrimônio cultural imaterial.

Sendo os assuntos “patrimônio imaterial” e “gastronomia enquanto atrativo

turístico” algo relativamente recente no mundo acadêmico, deparou-se com a dificuldade

de referenciais inéditos sobre os mesmos, sendo que, a maioria das referências estudadas

citam-se umas às outras, quer sejam referências nacionais ou internacionais.

Como complemento para elucidação da problemática, permeou-se por caminhos

que permitissem avaliar, ainda, o potencial da atratividade turística de um evento baseado

na gastronomia, sua interferência na economia local, a principal atratividade do evento, as

características dos freqüentadores do evento, os recursos de infra-estruturas básicas e

turísticas mais utilizados pelos freqüentadores do evento.

O estudo, de natureza descritiva e exploratória, teve como base o município de

Itabirito localizado na Rodovia dos Inconfidentes – BR040/BR356, a 55 km da capital de

Minas Gerais, Belo Horizonte.

A escolha de Itabirito para desenvolvimento deste projeto vai de encontro à

importância do Pastel de Angu e a busca do seu registro como patrimônio imaterial no

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN.

A unidade empírica de análise é o pastel de angu como patrimônio imaterial,

tendo os métodos e técnicas analíticas utilizados, centrados na pesquisa bibliográfica e

documental, complementada com estudo de caso sobre o Festival do Pastel de Angu de

Itabirito e entrevistas com atores envolvidos no citado evento.

14

1. PATRIMÔNIO

1.1. Patrimônio Cultural: a evolução do tema

Por vários séculos, muito se perdeu das representações materiais referenciais da

vida humana de diferentes grupos sociais, ou seja, patrimônio cultural material, devido às

formas de desenvolvimento das sociedades e devido a pouca valorização de tais objetos ou

construções como representações da história de um povo.

Essa perda se dá, não por falta de estudos sobre o patrimônio e de estabelecimento

de normas para sua preservação, mas, muitas vezes, por falta de adequação dos mesmos ao

avanço do tempo, por falta de divulgação destes estudos e normas e falta de

reconhecimento de sua importância por parte da população.

Por meio de um esquema cronológico baseado em documentos de organismos que

trabalham as questões patrimoniais, apresentar-se-á as principais ações relacionadas ao

patrimônio cultural ocorridas internacionalmente, visando facilitar a compreensão sobre a

trajetória e a evolução do tema através dos tempos.

Como um dos primeiros passos oficiais relativos às questões patrimoniais e

tomado aqui como ponto inicial da cronologia em nível mundial tem-se a Carta de Atenas

– aprovada pela conferência do Escritório Internacional dos Museus da Sociedade das

Nações em outubro de 1931. Este documento versa sobre a reconstituição, a manutenção, a

conservação e a restauração de edifícios e monumentos de caráter histórico ou artístico do

passado, sem prejuízos ao estilo de nenhuma época. Além disso, quando trata sobre a

valorização do monumento, recomenda “a supressão de toda publicidade, de toda presença

abusiva de postes ou fios telegráficos, de toda indústria ruidosa, mesmo de altas chaminés,

na vizinhança ou na proximidade dos monumentos, de arte ou de história”1

1 Carta de Atenas, 1931. Disponível em <http://www.iphan.gov.br>.

.

Nesse mesmo documento, já se autorizava a utilização de materiais modernos para

os restauros, inclusive o cimento armado, substituindo os materiais originais das

construções, desde que não alterem os aspectos e o caráter do edifício.

Na Carta de Atenas (Op. cit.) cabe atenção especial ao capítulo VII, alínea b – O

papel da educação e o respeito aos monumentos, que trata do seguinte:

15

A conferência, profundamente convencida de que a melhor garantia de conservação de monumentos e obras de arte vem do respeito e do interesse dos próprios povos, considerando que esses sentimentos podem ser grandemente favorecidos por uma ação apropriada dos poderes públicos, emite o voto de que os educadores habituem a infância e a juventude a se absterem de danificar os monumentos, quaisquer que eles sejam, e lhe façam aumentar o interesse, de uma maneira geral, pela proteção dos testemunhos de toda a civilização.

Conforme pode-se perceber, já no início do século passado – XX – enxergava-se a

necessidade de intervenções de novos materiais e da ação conjunta de esforços educativos

para que se possa manter erguidos e íntegros os monumentos representativos da história e

da arte de todo o mundo, porém, a palavra patrimônio é expressa uma única vez e sem

maior amplitude em seu significado, pois se delimitava como artístico e arqueológico,

direcionado apenas às construções/edifícios e aos grandes monumentos.

Novo movimento de alcance mundial concedendo maior abrangência às questões

patrimoniais ocorreu em meados do século XX com a criação da UNESCO (Organizações

das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Em 16 de novembro de 1945

foi assinada a Constituição da UNESCO, entrando em vigor em novembro de 1946, com o

objetivo de “criar condições para um genuíno diálogo fundamentado no respeito pelos

valores compartilhados entre as civilizações, culturas e pessoas” (UNESCO, 2007).

Começavam então, mesmo que em passos relativamente lentos, os trabalhos e as

ações vislumbrando melhorias nas condições da educação e a preocupação e ocupação com

as questões relativas à preservação do patrimônio cultural mundial.

Nesta época, se trabalhava com a arqueologia enquanto principal representação

patrimonial conforme pode se confirmar através da Recomendação de Nova Delli,

aprovada pela UNESCO em dezembro de 19562

A Recomendação de Paris de 1962 tinha como definição o seguinte texto:

, que, apesar de mencionar “conservação

de monumentos e obras do passado”, trata, no decorrer de todo o texto, sobre vestígios

arqueológicos, pesquisas arqueológicas e obrigações dos escavadores e descobridores de

peças e objetos arqueológicos.

No início da década de 60 – dezembro de 1962 – a UNESCO aprovou a

Recomendação de Paris sobre as Paisagens e Sítios, inserindo-os como fatores de

extrema relevância para a preservação, somando-os aos monumentos e obras até então

recebedores preferenciais de atenção preservacionista.

2 Recomendação de Nova Delli, 1956. Disponível em <http:// portal.unesco.org>.

16

Para os efeitos da presente recomendação, entende-se por salvaguarda da beleza e do caráter das paisagens e sítios a preservação e, quando possível, a restituição dos aspectos das paisagens e sítios, naturais, rurais ou urbanos, devidos à natureza ou obra do homem, que apresentam um interesse cultural ou estético, ou que constituem meios naturais característicos. As disposições da presente recomendação visam também a complementar as medidas de salvaguarda da natureza3

a) Controle geral por parte das autoridades competentes.

.

No que se refere aos métodos para assegurar a salvaguarda, a recomendação

indica:

b) Inserção de restrições nos planos de urbanização e no planejamento em todos os níveis: regionais, rurais ou urbanos.

c) Proteção legal por zonas, das paisagens externas. d) Proteção legal dos sítios isolados. e) Criação a manutenção de reservas naturais e parques nacionais. f) Aquisição de sítios pelas coletividades públicas.4

Ou seja, há aproximadamente 50 anos já havia preocupação, de abrangência

mundial, com questões relativas à conservação da natureza e estratégias de divisão e

formas de utilização do espaço, ao que hoje denominamos Lei de Uso e Ocupação do Solo.

Desta forma, visava-se garantir a diversidade natural e cultural consideradas

representativas de uma maneira geral, mas, ainda, sem dimensionar o que viria a se chamar

patrimônio cultural.

Essa definição foi dada inicialmente em 1964, pela nova Recomendação de

Paris, que tratava das “medidas destinadas a proibir e impedir a exportação, a importação e

a transferência de propriedade ilícitas de bens culturais”5

[...] são considerados bens culturais os bens móveis e imóveis de grande importância para o patrimônio cultural de cada país, tais como as obras de arte e de arquitetura, os manuscritos, os livros e outros bens de interesse artístico, histórico ou arqueológico, os documentos etnológicos, os espécimes-tipo da flora e da fauna, as coleções científicas e as coleções importantes de livros e arquivos, incluindo os arquivos musicais.

.

O tópico destinado à definição da Recomendação de Paris de 1964 expõe que:

6

3 Recomendação de Paris sobre Paisagens e Sítios, 1962. Disponível em <http://portal.unesco.org> 4 Ibden 3. 5 Recomendação de Paris, 1964. Disponível em <http://portal.unesco.org> 6 Ibden 5.

A Recomendação de Paris, dentre as cartas e recomendações até agora

examinadas, foi a primeira a identificar e detalhar a noção de bem e patrimônio cultural,

difundindo-a entre os países-membro da UNESCO e criando uma uniformidade na

definição dos termos citados.

17

Além das definições citadas, a publicidade de grande alcance, atualmente

realizada pelos meios de comunicação do Brasil, para identificação, reconhecimento,

localização e re-apropriação de um bem cultural desaparecido, também já se fazia sugerida

na Recomendação de 1964, bem como permaneceu o tópico específico recomendando e

alertando sobre a importância da ação educativa já existente na Carta de Atenas.

No mesmo ano aconteceu, em Veneza, Itália, o II Congresso Internacional de

Arquitetos e Técnicos dos Monumentos Históricos do Conselho Internacional de

Monumentos e Sítios – ICOMOS – do qual resultou a Carta de Veneza, que surge como

um complemento à Carta de Atenas, visto que também versa sobre a conservação e

restauração de monumentos e sítios, porém, dando maiores detalhes sobre as formas de

conservação, os tipos de materiais permitidos para restauração e, apresentando, em seu

artigo 1°, uma definição mais detalhada do que vem a ser monumento:

A noção de monumento histórico compreende a criação arquitetônica isolada, bem como o sítio urbano ou rural que dá testemunho de uma civilização particular, de uma evolução significativa ou de um acontecimento histórico. Estende-se não só às grandes criações, mas também às obras modestas, que tenham adquirido, com o tempo, uma significação cultural7

Segundo Rodrigues (2001:18), em 1967, três anos após a Carta de Veneza e a

Recomendação de Paris, “o Departamento de Assuntos Culturais da Organização dos

Estados Americanos (OEA) promoveu um encontro no Equador que teve como resultado a

Carta de Quito”, oficialmente denominada Normas de Quito

.

8

Diante de tantas Cartas e Recomendações com definições não muito concretas,

surge, em 1968, a Recomendação de Paris sobre Obras Públicas ou Privadas, que em

seu capítulo I – Definições, elucida que a expressão bens culturais se aplicará á:

, onde o termo patrimônio

cultural apareceu, pela primeira vez de maneira mais explícita, englobando bens culturais e

assumindo a posição de algo ao qual se agrega valor”.

Dois capítulos da Carta de Quito merecem atenção especial – VI- A Valorização

do Patrimônio Cultural e VII- Os Monumentos em Função do Turismo – e são

apresentados de forma sucinta por Rodrigues (2001:18) explicando que “se recomendava

que os projetos de valorização do patrimônio fizessem parte dos planos de

desenvolvimento nacional e fossem realizados simultaneamente com o equipamento

turístico das regiões envolvidas” e reforça a importância do envolvimento com a educação.

7 Carta de Veneza, 1964. Disponível em <http://icomos.fa.utl.pt> 8 Normas de Quito, 1967. Disponível em <http://portal.iphan.gov.br>

18

a) Bens imóveis como os sítios arqueológicos, históricos ou científicos, edificações ou outros elementos de valor histórico, científico, artístico ou arquitetônico, religiosos ou seculares, incluídos os conjuntos tradicionais, os bairros históricos das zonas urbanas e rurais e os vestígios de civilizações anteriores que possuam valor etnológico. Aplicar-se-á tanto aos imóveis do mesmo caráter que constituam ruínas ao nível do solo como aos vestígios arqueológicos ou históricos descobertos sob a superfície da terra. A expressão bens culturais se estende também ao entorno desses bens.

b) Bens móveis de importância cultural, incluídos os que existem ou tenham sido encontrados dentro dos bens imóveis e os que estão enterrados e possam vir a ser descobertos em sítios arqueológicos ou históricos ou em quaisquer outros lugares.9

Quatro anos depois, o Governo da Itália, através da Circular n° 117 do Ministério

de Instrução Pública, de 6 de abril de 1972, demonstrando estar um pouco à frente em

relação às questões patrimoniais, divulgou a Carta do Restauro, que, em seu artigo 1°

ordenava:

Todas as obras de arte de qualquer época, na acepção mais ampla, que compreende desde os monumentos arquitetônicos até as de pintura e escultura, inclusive fragmentados, e desde o período paleolítico até as expressões figurativas das culturas populares e da arte contemporânea, pertencentes a qualquer pessoa ou instituição, para efeito de sua salvaguarda e restauração, são objeto das presentes instruções, que adotam o nome de Carta do Restauro 197210

Além das obras mencionadas no artigo precedente, ficam assimiladas a essas, para assegurar sua salvaguarda e restauração, os conjuntos de edifícios de interesse monumental, histórico ou ambiental, particularmente os centros históricos; as coleções artísticas e as decorações conservadas em sua disposição tradicional; os jardins e parques considerados de especial importância

.

Além de tratar das questões patrimoniais até então apresentadas por documentos

de alcance mundial, também incluía, no artigo 2°, preservação de cunho ambiental:

11

Em novembro 1972, em Estocolmo, a UNESCO, em sua décima sétima

Conferência Geral, movida pela preocupação com as transformações ocorridas ao longo do

tempo, estabeleceu a Convenção para Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e

Natural com o intuito de preservar monumentos, conjuntos arquitetônicos e sítios

.

Somente no final deste mesmo ano foram apresentadas definições mais

abrangentes dos termos anteriormente utilizados nas diversas cartas e recomendações e

incluída a questão ambiental como algo que requeresse atenção mundial.

9 Recomendação de Paris sobre Obras Públicas ou Privadas, 1968. Disponível em <http://portal.iphan.gov.br> 10 Carta do Restauro, 1972. Disponível em <http://portal.iphan.gov.br> 11 Op. Cit.

19

históricos que representassem um “valor universal excepcional do ponto de vista da

história [...]”12

- os sítios: obras do homem ou obras conjugadas do homem e da natureza, bem como áreas, que incluem os sítios arqueológicos, de valor universal excepcional do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou antropológico

.

Nesta Convenção integrou-se, oficialmente, a questão ambiental como objeto de

interesse de preservação em conjunto com o que era denominado patrimônio cultural.

Os quesitos a serem preservados que simbolizavam os bens materiais

representativos do patrimônio cultural foram caracterizados da seguinte forma:

- os monumentos: obras arquitetônicas, esculturas ou pinturas monumentais, objetos ou estruturas arqueológicas, inscrições, grutas e conjuntos de valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência, - os conjuntos: grupos de construções isoladas ou reunidas, que, por sua arquitetura, unidade ou integração à paisagem, têm valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência,

13

No plano social, a Resolução de São Domingos

.

O tema em questão tornou-se importante objeto de estudos, debates e discussões

atingindo uma proporção cada vez maior e acarretando o aumento do número de países que

se engajavam na preservação patrimonial tanto através da referida convenção quanto

através da criação de legislação nacional devido à necessidade e desejo de resguardarem

suas próprias histórias e referências culturais.

Já no final de 1974 a O.E.A. e o Governo Dominicano realizaram, em Santo

Domingos, o I Seminário Interamericano sobre Experiências na Conservação e

Restauração do Patrimônio Monumental dos Períodos Colonial e Republicano e, com base

na Carta de Veneza e Normas de Quito, geraram a Resolução de São Domingos propondo

diversas ações em relação aos países do Continente Americano, integrantes da O.E.A.

14

12 Convenção para Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, 1972. Disponível em <http://portal.unesco.org> 13 Op. Cit. 14 Resolução de São Domingos, 1974. Disponível em <http://www.portal.iphan.gov.br>

avaliava que “a salvação dos

centros históricos é um compromisso social além de cultural e deve fazer parte da política

de habitação, para que nela se levem em conta os recursos potenciais que tais centros

possam oferecer”, o que implica em adequar os usos às condições reais existentes sem que

haja descaracterização da área; no plano econômico considera que “a iniciativa privada e o

seu apoio financeiro constituem uma contribuição fundamental para a conservação e

20

valorização dos centros históricos” e que os governos devem “estimular essa contribuição

mediante disposições legais, incentivos e facilidades de caráter econômico”.

Outro ponto relevante do citado documento identifica o turismo como um meio de

preservação e define que “os planos de desenvolvimento turístico devem constituir uma via

mediante a qual, com a utilização de alto nível técnico, se logrem objetivos importantes na

proteção e preservação do patrimônio cultural americano”15

Não obstante, sob uma ótica mais complexa, o Manifesto de Amsterdã interpreta o

patrimônio cultural como “capital espiritual, cultural, econômico e social cujos valores são

insubstituíveis”

, a exemplo da Carta de Quito

que também vislumbra a idéia da atividade turística como aliada nos trabalhos que visem à

preservação e conservação de monumentos históricos.

Em Amsterdã, no ano seguinte – 1975, no Congresso do Patrimônio Arquitetônico

Europeu promovido pelo Conselho da Europa, foi feita a promulgação da Carta Européia

do Patrimônio Arquitetônico, também denominada Manifesto de Amsterdã, no qual

considerou-se patrimônio arquitetônico, não apenas os monumentos importantes, mas,

também, os conjuntos que formam as antigas cidades e povoações tradicionais em seu

ambiente natural. Tal consideração representa a concordância com o que fôra determinado

pela Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural – UNESCO –

em 1972.

16

Contemplado com a perspectiva dos próximos vinte e cinco anos, dentro do contexto dos fenômenos expansivos que afronta o gênero humano e que podem produzir graves conseqüências, o turismo aparece como um dos fenômenos

, o que demonstra concordância, com a Resolução de São Domingos.

1.1.1. Aprimoramento da Visão Cultural

Com uma visão próxima à da O.E.A. – 1974, atento ao desenvolvimento da

atividade turística no mundo, o ICOMOS realizou, no final de 1976, o Seminário

Internacional de Turismo Contemporâneo e Humanismo, alavancado pelos efeitos

positivos e negativos que esta atividade causa sobre o patrimônio em geral.

Como produto deste Seminário tem-se a Carta do Turismo Cultural que

apresenta, em um dos seus tópicos, a seguinte visão projetada para o futuro daquele tempo:

15 Resolução de São Domingos, 1974. Disponível em <http://www.portal.iphan.gov.br> 16 Manifesto de Amsterdã, 1975. Disponível em <http://www.portal.iphan.gov.br>

21

propícios para exercer uma influência altamente significativa no entorno do homem em geral e dos monumentos e sítios em particular17

- Salvaguarda: a identificação, a proteção, a conservação, a restauração, a reabilitação, a manutenção e a revitalização dos conjuntos históricos ou tradicionais e de seu entorno.

.

Além desta, faz outras considerações sobre a importância da atividade turística e

sua relação com as questões patrimoniais, assunto este, que será aprofundado mais adiante,

em capítulo específico.

Voltando para o foco direcionado, exclusivamente, ao patrimônio histórico e sua

salvaguarda, ainda em 1976, reunida em Nairobi para sua 19ª Sessão, a UNESCO aprovou

uma recomendação relativa à salvaguarda de conjuntos históricos e sua função na vida

contemporânea, que recebeu a denominação de Recomendação de Nairobi e que

reestruturava algumas das definições até então tomadas como oficiais, conforme se segue:

- Conjunto histórico ou tradicional: todo agrupamento de construções e de espaços, inclusive os sítios arqueológicos e paleontológicos, que constituam um assentamento humano, tanto no meio urbano quanto rural e cuja coesão e valor são reconhecidos do ponto de vista arqueológico, arquitetônico, pré-histórico, histórico, estético ou sócio-cultural.

18

A Carta de Machu Picchu se apresenta como uma revisão e complementação da

Carta de Atenas, devido aos fenômenos novos que emergiram durante os quase 45 anos

que se passaram e a necessidade de uma análise interdisciplinar dessas mudanças,

Estas definições acrescem e ampliam definições adotadas por documentos

anteriores, como a Carta de Veneza – 1964, a Recomendação de Paris – 1968 e a

Recomendação para a Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural – 1972.

A Recomendação de Nairobi também sugere, medidas jurídicas, medidas técnicas,

econômicas e sociais que ajudem a garantir a salvaguarda do patrimônio histórico,

envolvendo a formulação de decretos, normas, atuação de profissionais com formações

adequadas, participação comunitária, apresentando, ainda, um tópico específico sobre

pesquisa, ensino e informação, como na maioria das Cartas vistas até agora, que dispensam

atenção à educação em todos os níveis.

Continuando, e ampliando, esforços e olhares sobre a educação e o planejamento,

em dezembro de 1977 foi realizado, em Machu Picchu, um novo Encontro Internacional de

Arquitetos, no qual foi elaborada a Carta de Machu Picchu.

17 Carta do Turismo Cultural, 1976. Disponível em <http://www.portal.iphan.gov.br> 18 Recomendação de Nairobi, 1976. Disponível em <http://www.portal.iphan.gov.br>

22

reconhece que houve esforços, ao longo dos tempos, para atualizá-la e que a mesma ainda

é considerada um documento fundamental.19

O primeiro tópico da Carta de Machu Picchu

20

No tópico sobre crescimento urbano há uma consideração extremamente relevante

na afirmação de que “desde a Carta de Atenas até nossos dias a população do mundo

duplicou, dando lugar à chamada crise tripla: ecológica, energética e alimentícia”

analisa questões relativas às

cidades e sua regiões e, destacando a essência deste tópico, obtém-se que “a desarticulação

entre o planejamento econômico em nível nacional e regional e o planejamento para o

desenvolvimento urbano onerou e reduziu a eficiência de ambos”, além disso, explicita que

o planejamento econômico, o projeto, o planejamento urbano e a arquitetura estão

incluídos no planejamento geral, e que este, tem como objetivo “a interpretação das

necessidades humanas e a realização em um contexto de oportunidades de formas e de

serviços urbanos apropriados para a população”.

21

Outros tópicos se referem a tudo aquilo que integra a infra-estrutura básica das

cidades (saneamento, transporte, moradia etc) e dois tópicos mais específicos se destinam à

preservação do patrimônio e à tecnologia. O primeiro reforça a idéia de que “a identidade e

o caráter de uma cidade são dados [...] também, por suas características sociológicas”

e

identifica o surgimento de duas categorias de países, os industrializados e os em

desenvolvimento, categorias essas que persistem até o atual início do século XXI.

22

Já no segundo tópico citado, o da Tecnologia, chama-se a atenção para algo

mencionado pela primeira vez em um documento deste porte, que é o uso da reciclagem de

materiais nas restaurações ou reformas: “A tecnologia construtiva deve considerar a

possibilidade de reciclar os materiais fim de conseguir transformar os elementos

construtivos em recursos renováveis”

e

apresenta, em concordância com a Recomendação para a Salvaguarda do Patrimônio

Mundial Cultural e Natural, a importância de se preservar, além do patrimônio histórico

monumental, o patrimônio cultural.

23

19 Carta de Machu Picchu, 1977. Disponível em <http://www.portal.iphan.gov.br> 20 Carta de Machu Picchu, 1977. Disponível em <http://www.portal.iphan.gov.br> 21 Op. Cit. 22 Ibden 20. 23 Ibden 20.

.

23

O ICOMOS, instituição com o foco voltado para monumentos e sítios apresentou

em 1980, um documento – Carta de Burra – com especificações bem detalhadas sobre

termos normalmente utilizados quando se trata de patrimônio histórico.

Em suma, a Carta de Burra24

Tem-se que, em 1981, o mesmo ICOMOS elabora a Carta de Florença, voltando

suas atenções para a questão ambiental, considerando os jardins históricos passíveis de

salvaguarda nos mesmos moldes que um monumento, conforme recomendado pela Carta

de Veneza, pois, “é uma composição arquitetônica e vegetal que, do ponto de vista da

história ou da arte, apresenta um interesse público. Como tal é considerado monumento”

oficializa o significado dos seguintes termos: bem,

significação cultural, substância, conservação, manutenção, preservação, restauração,

reconstrução, adaptação e uso compatível.

Considerando-a como uma padronização no entendimento dos termos

apresentados, a Carta de Burra evita visões distorcidas ou equivocadas e corrobora para

que, em todo o mundo, as interpretações referentes a estes termos obtenham o mesmo

sentido, e aí está sua importância.

25

Dessa forma, reforça a mescla do patrimônio cultural com o natural, abordada em

1972 pela Recomendação sobre a Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural

ampliando a ótica da preservação patrimonial e é seguida por uma nova Declaração de

Nairóbi - 1982, proclamada pela Organização das Nações para o Meio Ambiente – UNEP,

que considera a Convenção de 1972 uma “força poderosa que incrementou a consciência e

a compreensão públicas quanto à fragilidade do meio ambiente”

.

26

Considerada, também, como um complemento da Carta de Veneza – 1964 e da

Recomendação de Nairóbi – 1976, a Carta de Washington reconhece que as cidades

.

Neste início da década de 80, o reforço aos temas que envolvem as questões

ambientais veio acompanhado pelo surgimento de uma nova visão, voltada para as

tradições e costumes de sobrevivência das comunidades.

Através da Carta Internacional para a Salvaguarda das Cidades Históricas -

1987, conhecida como Carta de Washington, pode-se observar esta ampliação do que se

considerava, até então, patrimônio histórico.

24 Carta de Burra, 1980. Disponível em <http://www.portal.iphan.gov.br> 25 Carta de Florença, 1981. Disponível em <http://www.icomos.fa.utl.pt> 26 Declaração de Nairóbi, 1982. Disponível em <http://www.portal.iphan.gov.br>

24

históricas, os centros históricos e os bairros históricos, bem como seu entorno “exprimem

valores próprios das civilizações urbanas tradicionais” e define meios para “salvaguardar a

qualidade das cidades históricas, a favorecer a harmonia da vida individual e social e a

perpetuar o conjunto de bens que, mesmo modestos, constituem a memória da

humanidade”27

A importância das aglomerações também é expressa pela Declaração de

Tlaxcala

.

Além disso, o significado anteriormente dado à expressão salvaguarda do

patrimônio histórico – que neste caso representam diversos tipos de aglomerações humanas

– é ampliado para medidas necessárias à proteção, conservação e restauração, “bem como

seu desenvolvimento coerente e a sua adaptação harmoniosa à vida contemporânea” e

estabelece como valores a se preservar “o caráter histórico da cidade e o conjunto de

elementos materiais e espirituais que expressam sua imagem” (Ibden).

28

Esse documento reconhece, dentre outros tópicos, que “as ações que tendem à

obtenção do bem estar das comunidades dos pequenos lugares de habitat devem

fundamentar-se em um respeito restrito às tradições e ao modo de vida locais”

– 1982 – elaborada durante o Colóquio Interamericano sobre a Conservação do

Patrimônio Monumental “Revitalização das Pequenas Aglomerações”, sob a coordenação

do ICOMOS.

29

...a utilização de materiais regionais e a conservação de técnicas de construção tradicionais de cada região sejam indispensáveis para a conservação adequada das pequenas aglomerações e não estejam em contradição com a teoria geral que estabelece que se deixe em evidência nas intervenções a marca de nosso tempo.

e

recomenda que:

30

Em 1990, mais um aprimoramento da Carta de Veneza foi elaborado pelo

ICOMOS, a Carta de Lausanne. Esta evidenciava que as definições de técnicas para a

preservação do patrimônio arqueológico se tornam mais eficazes quando acompanhadas

por uma equipe multidisciplinar de profissionais e especialistas de áreas correlatas ao

objeto de preservação, bem como órgãos públicos e comunidade

31

Vale ressaltar que a Carta de Veneza, desde sua adoção, vem servindo como base

para outros diversos documentos, sempre com o intuito de melhorar ou adequar suas

.

27 Carta de Washington, 1987. Disponível em <http://icomos.fa.utl.pt> 28 Declaração de Tlaxcala, 1982. Disponível em <http://www.portal.iphan.gov.br> 29 Op. cit. 30 Ibden 28. 31 Carta de Lausane, 1990. Disponível em <http://www.portal.iphan.gov.br>

25

recomendações conforme as mudanças ocorridas ao longo dos tempos, mas sendo mantida

como uma das principais referências à normatização relativa ao patrimônio histórico

cultural em todo o mundo.

Como reconhecimento e reforço à nova perspectiva abordada pela Convenção de

1972, pela Carta de Florença – 1981 e pela Declaração de Nairóbi – 1982, o Conselho da

Europa, através de seu Comitê de Ministros, adota, em setembro de 1995, a

Recomendação Europa, destinada aos países deste continente.

A citada Recomendação apresenta o ambiente natural e a paisagem cultural como

fatores diretamente ligados ao patrimônio histórico cultural como um todo e que a

aplicação de medidas para conservar e acompanhar a evolução da paisagem cultural

“deveria ser planejada em conexão com políticas mais abrangentes [...] contemplando

todos os interesses do respectivo território: culturais, históricos, arqueológicos,

etnológicos, estéticos, econômicos e sociais”32

O termo cultura, como substantivo, significa “lavoura; conjunto das ações

necessárias para que a terra produza; vegetal cultivado” (GARCIA, 1978:718) e, quando

apresentado no sentido figurado, o mesmo autor a transcreve como “estado do que tem

desenvolvimento intelectual; o nível de uma coletividade; instrução; saber”.

.

Já em 1999, a exemplo do Conselho Europeu, a Comunidade Andina, através da

decisão 460 de 25 de maio de 1999 elabora o documento denominado Cartagenas de

Índias – Colômbia sobre proteção e recuperação de bens culturais do patrimônio

arqueológico, histórico, etnológico, paleontológico e artístico.

Com esta última citação se encerra a seleção feita entre outros vários documentos

no intuito de apresentar uma noção geral do tratamento dado às questões patrimoniais

desde o início do século XX e permitir uma maior inteiração sobre o que veio a se chamar,

nos dias atuais, patrimônio cultural, bem como a importância de salvaguardá-lo.

Visto que a salvaguarda de uma cultura visa buscar formas de mantê-la viva e dar

continuidade à sua existência, há que se fazer, ainda, uma análise complementar sobre o

que vem a ser cultura, de uma maneira geral e no âmbito patrimonial.

1.1.2. Concepções de Cultura

32 Recomendação Europa, 1995. Disponível em <http://www.portal.iphan.gov.br>

26

Tendo como suporte teórico esta segunda definição é que se traçam as bases

conceituais para o patrimônio cultural, sendo que a tradicionalidade é que ampliará e

completará o sentido de cultura para além do conhecer e ter instrução, especificando a

transferências das informações entre as gerações, através de ensinamentos popularmente

chamados de pai para filho.

Garcia (1978: 2620) apresenta a seguinte definição de tradição: “Ação de entregar

ou transmitir; transmissão oral de fatos históricos, lenda, valores espirituais etc., de geração

em geração; usos ou hábitos inveterados transmitidos de geração em geração; símbolo;

memória; recordação”.

Para definir melhor o termo cultura neste contexto de patrimônio, conservação e

preservação, Meneses (2004:43) buscou a origem, as bases do significado e assim o

esclarece: O conceito de cultura [...] ampliou a idéia de civilization e de civilisation de ingleses e franceses, incorporando a idéia alemã de kultur. Para ingleses e franceses, civilização era a palavra que traduzia aquela construção de tudo o que a Europa ensinou ao mundo ocidental no processo de colonização [...] Kultur, por sua vez, incorpora para os alemães toda a construção coletiva e diversa que cada povo edifica na sua vivência particular.

Portanto, diante destas definições e analisando o tratamento atualmente dado ao

termo, cultura pode representar a junção dos dois entendimentos, significando “para nós,

tudo o que se constrói na vivência coletiva, fruto de difusões de culturas distintas e de

criações e saídas novas para problemas cotidianos” (MENESES, 2004:43).

Visto que analisar e conceituar definitivamente o termo cultura é um tanto

complexo, Laraia (2006:63) argumenta que essa discussão não está terminada, pois, para

ele, “uma compreensão exata do conceito de cultura significa a compreensão da própria

natureza humana”.

Já, no entendimento de Neves (2003:49 e 50) tem-se interpretações distintas e

complementares, visto que:

O senso comum identifica cultura como o domínio de certos conhecimentos e habilidades que permitem a algumas pessoas compreender e usufruir de bens ditos superiores, como obras de arte, literatura erudita, espetáculos teatrais etc. Para muitos, culto é aquele que tem informações e conhecimentos formais. O conceito antropológico de cultura, entretanto, estende essa noção a todos os seres humanos, postulando que todos os homens são portadores de capacidades, sendo, portanto, capazes de desenvolver atividades complexas, como é o caso da linguagem.

27

Devido à continuidade e ao aprofundamento de estudos sobre questões culturais,

juntamente com as possibilidades e formas de sua preservação, emerge o debate sobre a

cultura imaterial que também carrega um significado histórico representativo e importante

no que diz respeito aos costumes do povo de determinada época e localidade e que, muitas

vezes se reflete nas gerações atuais.

Refletindo a dinâmica temporal, na opinião de Azevedo (2002) cultura e

patrimônio compõem, ambos, acervo acumulado, cumulativo de vivências locais das várias

gerações.

Desta forma, o patrimônio cultural deixa de ser uma representação exclusiva dos

grandes feitos e personagens históricos, associados às classes dominantes, pertencentes à

sociedade política ou civil que tinham como referência o paradigma etnocêntrico da cultura

européia (BARRETO, 2000; MENESES, 2004).

No momento em que o patrimônio cultural abre-se para novas possibilidades de

interpretação e abarca novas considerações, passa a valorizar os conhecimentos, as

atitudes, as vivências de povos e comunidades, características intangíveis que dão início à

história de um patrimônio denominado imaterial.

1.2. Patrimônio Cultural Imaterial

O patrimônio imaterial representa um novo olhar sobre o patrimônio cultural e,

assim como o patrimônio material, vem sofrendo perdas ao longo do tempo, porém, de

uma forma mais acelerada devido ao interesse tardio sobre o tema e, devido também, às

suas bases estarem, na maioria das vezes, estruturadas na oralidade, havendo, portanto,

poucos ou nenhum registro das mesmas.

Após décadas de estudos, normatizações e medidas para a salvaguarda do

patrimônio cultural material, surgem, na década de 80, as primeiras menções oficiais e de

maneira mais específica relacionada ao patrimônio cultural imaterial.

Em 1985, o ICOMOS realizou a Conferência Mundial sobre as Políticas Culturais,

que resultou na Declaração do México. Tal Declaração pode ser considerada como um

marco oficial dos trabalhos em busca da valorização e preservação de um patrimônio não

tangível – patrimônio imaterial –, visto que foi o primeiro documento internacional a

28

definir aspectos que vão além das construções e dos ambientes onde vivem os seres

humanos, ressaltando, então, seus modos de vida e suas relações sociais.

Considerando a cultura como “o conjunto dos traços distintivos espirituais,

materiais, intelectuais e afetivos que caracterizam uma sociedade e um grupo social”

afirma que a mesma “engloba, além das artes e das letras, os modos de vida, os direitos

fundamentais do ser humano, o sistema de valores, as tradições e as crenças”33

Já em 1989, em Paris, a UNESCO elabora a Recomendação de Paris sobre a

salvaguarda da cultura tradicional e popular, considerando que tais culturas formam “parte

do patrimônio universal da humanidade e que é um poderoso meio de aproximação entre

os povos e grupos sociais existentes e de afirmação de sua identidade cultural” e ainda

reconhece a “fragilidade de certas formas de cultura tradicional e popular e (...) de seus

aspectos correspondentes à tradição oral”

,

apresentando, oficialmente o termo identidade cultural.

Com este documento, o ICOMOS solicita à UNESCO que ponderasse e re-

avaliasse o tratamento a ser dado às questões culturais imateriais visando normas e atitudes

preservacionistas a exemplo do que ocorre com o patrimônio material.

34

A cultura tradicional e popular é o conjunto de criações que emanam de uma comunidade cultural fundadas na tradição, expressas por um grupo ou por indivíduos e que reconhecidamente respondem às expectativas da comunidade enquanto expressão de sua identidade cultural e social; as normas e os valores se transmitem oralmente, por imitação ou de outras maneiras. Suas formas compreendem, entre outras, a língua, a literatura, a música, a dança, os jogos, a mitologia, os rituais, os costumes, o artesanato, a arquitetura e outras artes.

que pode, com o passar do tempo, facilmente

se perder.

Nesta Recomendação, há um longo parágrafo destinado a definir, conforme

entendimento da UNESCO, o que vem a ser cultura tradicional e popular, que,

posteriormente, será identificada como patrimônio imaterial:

35

Um novo e importante passo na história do Patrimônio Cultural Imaterial foi dado

em 1994, quando a UNESCO, o ICCROM e o ICOMOS se juntaram em Nara – Japão – e

Nesta definição, percebe-se a ausência de citação da culinária e gastronomia,

podendo ser, portanto, incluídas no que se denominou – outras artes, visto que suas

características correspondem às especificadas pela definição apresentada.

33 Declaração do México, 1985. Disponível em <http://www.www.portal.iphan.gov.br> 34 Recomendação de Paris, 1989. Disponível em <http://portal.unesco.org> 35 Op. cit.

29

realizaram a Conferência sobre a autenticidade em relação a convenção do Patrimônio

Mundial.

Como resultado desta Conferência tem-se o Documento de Nara sobre

Autenticidade, onde se explicita, mais uma vez, a importância da Carta de Veneza e a

necessidade de complementá-la ao longo dos tempos.

Através desta visão renovadora, entre outros tópicos abordados definiu-se:

A diversidade das tradições culturais é uma realidade no tempo e no espaço, e exige o respeito, por parte de outras culturas e de todos os aspectos inerentes a seus sistemas de pensamento. (...) Todas as culturas e sociedades estão arraigadas em formas e significados particulares de expressões tangíveis e intangíveis, as quais constituem seu patrimônio e que devem ser respeitadas36.

Com a inserção do termo expressões intangíveis inserem-se no contexto do

Patrimônio Cultural as crenças, os costumes, hábitos, tradições, modos de fazer e de viver

dos diversos povos distribuídos pelo mundo, visto que intangível

Dois anos mais tarde, 1996, a Declaração de Sofia

, segundo GARCIA

(1978: 1453) significa “que não se pode tocar; que escapa ao sentido do tato; impalpável”.

37

Considerando o turismo como uma importante atividade econômica que interfere

diretamente no espaço e na sociedade, o ICOMOS considera que “antes de as atividades

turísticas serem supervalorizadas, arriscando-se a transformá-las em ameaça à integridade

da substância do patrimônio cultural, levar-se-á em conta, e cada vez mais, a relação entre

o patrimônio e a comunidade que o herdou”

reforça o Documento de

Nara, explicitando que “o conceito de patrimônio cultural se encontra em constante

processo de evolução” e indicando “sua inserção nas diversas áreas do contexto histórico

contemporâneo, nas diferentes atividades quotidianas, considerados sempre o

conhecimento empírico e as habilidades da população”.

Nesta mesma Declaração, surge, de forma enfática, a preocupação com a atividade

turística em relação às questões culturais.

38

Visando assegurar uma forma adequada de utilização do patrimônio cultural pelo

turismo, é sugerido que se façam “estudos analíticos e inventários completos, com o

objetivo de explicitar os diversos significados do patrimônio no mundo contemporâneo e

.

36 Conferência de Nara, 1994. Disponível em <http://www.portal.iphan.gov.br> 37 Declaração de Sofia, 1996. Disponível em <http://www.portal.iphan.gov.br> 38 Op. Cit.

30

justificar as novas modalidades de uso a que se propõem”39

Seguindo, ainda, a filosofia disseminada pela UNESCO e pelo ICOMOS, a cúpula

do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL

, bem como a ação conjunta das

diversas esferas da sociedade – poder público, iniciativa privada, ONGs, a comunidade e

suas representações legais (associações, sindicatos etc.).

Aparece, então, de forma clara, a responsabilidade conjunta sobre todo e qualquer

patrimônio cultural, evidenciando a necessidade de que esforços isolados que por ventura

ocorram, sejam encampados por todos em prol de um único objetivo: a preservação do

patrimônio.

Essa é a noção de que se estabeleçam ações que unam as forças disponíveis e

necessárias ao desenvolvimento, sem que haja uma perda significativa das representações

legítimas da população.

40

Com uma abrangência menor que diversos outros documentos apresentados, mas,

nem por isso menos importante, a Carta de Mar Del Plata

), em 1997, elaborou a Carta de Mar Del

Plata sobre Patrimônio Intangível, destinada a seus países-membro.

41

O conceito de integração supõe o intercâmbio e a complementaridade de partes distintas entre si, e que, portanto excluem toda a tentação de uniformizar nossos povos em um modelo cultural único, expresso em uma deformação ideológica que em alguns casos recebe o nome de globalização

, à luz da Recomendação para a

Salvaguarda da Cultura Tradicional e Popular – UNESCO define como princípios, que a

integração cultural deve ser prioridade e a pluralidade cultural deve ser vista como um fato

positivo e enriquecedor.

Desta forma, o MERCOSUL evidencia para seus Estados-membro, a importância

de cada manifestação cultural existente, reforçando e apoiando outras Cartas, Declarações

e Recomendações internacionais tanto de alcance mundial quanto regional, além de

valorizar e aceitar como legítimo o intercâmbio entre culturas, afastando a possibilidade de

se aceitar uma homogeneização cultural.

42

Sabe-se que a cultura é algo dinâmico, que se modifica através do tempo e,

algumas vezes, exerce influência sobre outra cultura e vice-versa. Tais influências, para

.

39 Ibden 37. 40 Bloco regional que representa a integração dos mercados dos países do Cone Sul: Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. (SIMONSEN, 1992) 41 Carta de Mar Del Plata sobre Patrimônio Intangível, 1997. Disponível em <http://www.portal.iphan.gov.br> 42 Op. Cit.

31

que sejam entendidas como aprimoramento, renovação ou integração, não podem

representar um total domínio de uma cultura sobre outra ou padronização das mesmas.

Com base nessas argumentações e definições, a Carta de Mar Del Plata43

43 Ibden 41.

recomenda aos Estados Parte do MERCOSUL promover registro documental e catalogação

do patrimônio intangível, criar banco de dados com informações sobre as manifestações

culturais dos países envolvidos bem como publicação de tais informações, incrementar e

apoiar pesquisas sobre o patrimônio intangível – especialmente as que se encontram

ameaçadas de extinção.

Além da criação de todo o aparato citados, recomenda-se, ainda, elaboração de

cartilhas que possam ser empregadas em todo o sistema de educação desses países com o

apoio dos respectivos governos, possibilitar intercâmbio de conhecimento através de uma

rede de informações entre tais países e difundir as expressões culturais através dos meios

de comunicação de massa, formar gestores culturais e, ainda, atentar para a elaboração de

projetos culturais baseados no critério da qualidade e difundir modelos de financiamentos

voltados para o patrimônio cultural intangível.

Já com esse novo olhar, uma nova interpretação sobre a cultura e o patrimônio,

firmou-se, em 17 de outubro de 2003, através da Convenção para Salvaguarda do

Patrimônio Cultural Imaterial que conceitua patrimônio imaterial como sendo “as práticas,

representações, expressões, conhecimentos e técnicas [...], instrumentos, objetos, artefatos

e lugares que lhes são associados e as comunidades, os grupos e, [...], os indivíduos que se

reconhecem como parte integrante desse patrimônio” (UNESCO, 2003).

Sendo a distinção entre patrimônio material e patrimônio imaterial algo

relativamente recente, findam-se, até o presente momento, os documentos oficiais de

abrangência internacional sobre Patrimônio Cultural Imaterial.

Na visão de Cecília Londres, o termo Patrimônio Imaterial estaria melhor

composto se denominado Patrimônio Intangível por representar algo ao qual não se

aplicam valores mensuráveis, mas sim, algo transitório, que relaciona o presente e o

passado através de representatividade dos valores culturais e simbólicos característicos dos

diversos povos.

32

Desta forma, apresenta-se que o patrimônio não é constituído restritamente por

“edificações e peças depositadas em museus, documentos escritos e audiovisuais,

guardados em bibliotecas e arquivos. (...) lendas, mitos, ritos, saberes e técnicas, podem ser

considerados exemplos de um patrimônio dito “imaterial” (LONDRES, 2001:194).

Há quem não concorde com a distinção entre patrimônio material e imaterial,

como é o caso de Meneses (2004:24) que interpreta tal dicotomia como falsa,

...posto que a inteligibilidade de uma manifestação cultural só tem sentido se percebida em conjunto. O universo material media sentidos, valores, significados. Separá-los em sua compreensão, buscando uma compartimentação irreal da vida, seria destruir a possibilidade de apreensão da construção de uma cultura.

No que diz respeito à possibilidade de entendimento integral de uma manifestação

cultural, realmente há que se analisar um conjunto de fatos e realizações físicas advindos

dos pensamentos e do que são os significados e os valores de determinada cultura,

conjuntamente. Mas, seguindo uma linha já definida por outros trabalhos, por leis, decretos

e convenções, este estudo se baseia na distinção entre os dois tipos de patrimônio, visto que

se analisa um conjunto de fatores para buscar entendimento de um ponto específico e é

nesse conjunto de fatores que se dá tal diferenciação entre patrimônio cultural material e

imaterial.

Desta forma, busca-se estudar e entender as partes que, conseqüentemente,

formarão o todo.

1.3. O Patrimônio no Brasil: do material ao imaterial

Com as questões patrimoniais (limitadas a monumentos e obras de arte) sendo

discutidas mundialmente desde o início do século XVIII, no Brasil esse debate se deu mais

tarde.

Em São Paulo, em 1922 aconteceu a Semana da Arte Moderna, que, segundo

Ministério das Relações Exteriores (1976:11), foi vista como uma revolução cultural

representando, portanto, um marco da cultura brasileira, com a denominação de

Movimento Modernista. A Semana da Arte Moderna reuniu uma interpretação renovada e,

por vezes, chocante, de diversos setores artísticos como a música, pinturas, desenhos,

esculturas e literatura, sendo que, até então, alguns desses setores artísticos não figuravam

oficialmente entre o que se considerava patrimônio, no âmbito mundial.

33

Mais de uma década depois, 1936, em pleno governo ditatorial do Presidente

Getúlio Vargas, Mário de Andrade – escritor, musicólogo e polemista – “em proposta

entregue ao então ministro da Educação Gustavo Capanema, afirmava peremptoriamente: o

patrimônio cultural da nação compreendia muitos outros bens além de monumentos e obras

de artes” (IPHAN, 2006:9).

Desta forma, o Brasil, já na década de 1930 ampliava seus horizontes

interpretativos sobre o que realmente significaria o termo patrimônio cultural e sua

importância no contexto histórico do país.

Diante às ocorrências citadas e novo olhar sobre o patrimônio, em janeiro de 1937

criou-se o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), “primeira

instituição do governo brasileiro, voltada para a proteção do patrimônio cultural do país”

(IPHAN, 2006:6).

Passados dez anos, em 1947, é criada a Comissão Nacional do Folclore, que,

ainda segundo o IPHAN (2006), se mobilizou para a instalação da Campanha de Defesa do

Folclore Brasileiro ocorrida em 1958, então transformada em Instituto Nacional do

Folclore, em 1976.

A década de 1970 foi um período de várias ações relacionadas ao patrimônio

cultural e ambiental brasileiro. Logo no início, em abril de 1970, realizou-se o 1° Encontro

de Governadores de Estado, Secretários Estaduais da Área Cultural, Prefeitos de

Municípios Interessados, Presidentes e Representantes de Instituições Culturais,

promovido pelo Ministério da Educação e Cultura.

O citado encontro visava o “estudo da complementação das medidas necessárias à

defesa do patrimônio histórico e artístico nacional”44

44 Compromisso de Brasília, 1970. Disponível em <http://www.portal.iphan.gov.br>

, que resultou em um documento

denominado Compromisso de Brasília.

O Compromisso de Brasília versa sobre proteção aos monumentos, à cultura

tradicional e à natureza, recomendando-se a criação de órgãos estaduais e municipais

específicos, onde ainda não os houver, que atuem em conjunto com os órgãos federais.

Além disso, outras recomendações de total relevância se referem à interligação da questão

patrimonial com a educacional, conforme se segue:

34

Para remediar a carência de mão-de-obra especializada, nos níveis superiores, médio e artesanal, é indispensável criar cursos visando à formação de arquitetos restauradores, conservadores de pintura, escultura e documentos, arquivologistas e museólogos de diferentes especialidades, [...].

Deverão ser incluídas nos currículos escolares, de nível primário, médio e superior, matérias que versem o conhecimento e a preservação do acervo histórico e artístico, das jazidas arqueológicas e pré-históricas, das riquezas naturais, e da cultura popular [...].45

No ano seguinte – 1971, como fruto do 2° Encontro de Governadores para

Preservação do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Natural do Brasil,

elaborou-se um documento que recebeu o nome da cidade onde se realizou o encontro –

Compromisso de Salvador, através do qual recomendava-se a “criação do Ministério da

Cultura, e de Secretarias ou Fundações de Cultura no âmbito estadual”

Cabe, aqui, a ressalva de que esta abordagem já havia sido feita em alcance

mundial trinta e quatro anos antes, na Carta de Atenas, porém, sem maiores especificações

e variedade dos assuntos a serem trabalhados pelas escolas e, atualmente – 2009 – já há um

envolvimento multiprofissional nas questões de preservação patrimonial.

46

Foi sugerido, também, que seja dispensada maior atenção aos problemas,

utilização e divulgação dos bens naturais de valor cultural por parte dos órgãos

responsáveis pelo turismo e que os mesmos busquem formas de facilitar a implantação de

pousadas em imóveis tombados

, bem como

legislação complementar que amplie os conceitos relacionados a um bem tombado,

normalize formas de proteção mais eficientes, criação de fundos para atendimento a essa

proteção.

47

45 Op. Cit. 46 Compromisso de Salvador, 1971. Disponível em <http://www.portal.iphan.gov.br> 47 Op. Cit.

.

Dando continuidade ao trabalho em prol do patrimônio cultural brasileiro, em

1975 foi criado o Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC) e em 1979 cria-se a

Fundação Nacional Pró-Memória que incorporou o CNRC e tinha como incumbência a

implementação da política de preservação do patrimônio brasileiro (IPHAN, 2006).

Porém, somente em 1987 surge um novo documento referente à preservação,

resultado do 1º. Seminário Brasileiro para Preservação e Revitalização de Centros

Históricos, denominado Carta de Petrópolis.

35

Nesta Carta, define-se sítio histórico urbano (SHU) como “o espaço que concentra

testemunhos do fazer cultural da cidade em suas diversas manifestações” considerando-se

que o mesmo “é parte integrante de um contexto amplo que comporta as paisagens natural

e construída, assim como a vivência de seus habitantes num espaço de valores produzidos

no passado e no presente, em processo dinâmico de transformação”48

48 Carta de Petrópolis, 1987. Disponível em: <http://www.portal.iphan.gov.br>

.

Nenhum documento analisado, entre os nacionais e os internacionais, anteriores à

década de 1980, considerara, tão explicitamente, a vivência e a dinâmica natural de

transformação das sociedades como parte integrante do patrimônio histórico. Na

Declaração de Nairobi – 1976 – menciona-se que o conjunto histórico possui, entre outros

valores, o sócio-cultural, já a Carta de Machu Picchu – 1977 – afirma que as características

sociológicas dão identidade e caráter a uma cidade, mas, em nenhum dos casos há um

detalhamento do que se considera sócio-cultural e característica sociológica.

Somente na Declaração de Tlaxcala – 1982 – é que surge uma idéia mais clara de

que a conservação do patrimônio monumental deve estar fundamentada no respeito às

tradições e ao modo de vida das populações, consideração esta, ampliada em 1985, pela

Declaração do México sobre patrimônio não tangível.

Outro ponto de extrema relevância na evolução da consciência em relação ao

Patrimônio Cultural Brasileiro refere-se à Constituição Federal de 1988 que passou a

definir Patrimônio Cultural de uma forma mais ampla e reconhecer e dar mais importância

à cultura popular, através dos artigos 215 e 216:

Art. 215 – O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais. § 1° O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e as das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional. § 2° A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais. Art. 216 – Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I – as formas de expressão; II – os modos de criar, fazer e viver; III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. (BRASIL, 1998:111).

36

Levando em consideração as últimas citações percebe-se que a evolução do

pensamento patrimonial brasileiro começava a caminhar lado a lado com o pensamento

mundial, e, até mesmo, a apresentar uma ótica de maior abrangência em suas abordagens.

A Constituição, neste caso, pode ser considerada um passo à frente em relação aos

documentos internacionais analisados, pois, somente em 1989, um ano após a promulgação

da Constituição Federal Brasileira, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu a

Recomendação sobre a Salvaguarda da Cultura Tradicional e Popular oficializando-a como

uma das formas de patrimônio a serem preservadas.

No mesmo ano em que foi promulgada a Constituição, o ICOMOS elaborou a

Carta de Cabo Frio demonstrando preocupação com a identidade cultural dos povos da

América Latina.

Do conteúdo da Carta de Cabo Frio ressalta-se a necessidade de se resgatar formas

harmônicas de conviver com o ambiente e o uso de ações interdisciplinares e

interinstitucionais no processo de preservação, considerando que:

“O êxito de uma política preservacionista tem como fator fundamental o engajamento da comunidade, que deve ter por origem um processo educativo em todos os níveis, com a utilização dos meios de comunicação. O respeito aos valores naturais, étnicos e culturais, enfatizados através da educação pública, contribuirá para a valorização das identidades culturais”49

O conteúdo da Declaração de São Paulo

.

Ainda em 1989, o ICOMOS, como fruto da reunião do Comitê Brasileiro em São

Paulo, elaborou a Declaração de São Paulo.

Este documento se apresentou como uma análise da evolução das bases

normativas do patrimônio desde a publicação da Carta de Veneza que completava, então,

25 anos.

50

Engajando-se na ampliação de conceitos e de visão patrimonial acontecida em

nível mundial nas décadas de 70 e 80 e, ainda em evidência, em 1992, a Carta do Rio

elucida que a Carta de Veneza, mesmo

tendo sido elaborada há muito tempo, ainda deve ser levada em consideração como uma

importante base de informações, tais como as formas de conservação e materiais de

restauração. Ao mesmo tempo, ressalta a necessidade de uma complementação e revisão de

conceitos.

49 Carta de Cabo Frio, 1989. Disponível em: <http://www.portal.iphan.gov.br> 50 Declaração de São Paulo, 1989. Disponível em: <http://www.portal.iphan.gov.br>

37

surge como resultado de amplos debates e discussões abarcando a questão ambiental como

alvo de preservação e de enfoque patrimonial durante a Conferência Geral das Nações

Unidas Sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento.

Tal abordagem teve início com a Declaração de Estocolmo, em 1972, e apresenta

como primeiro princípio, que “os seres humanos constituem o centro das preocupações

relacionadas com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e

produtiva em harmonia com a natureza”51

Evidenciando a peculiaridade regional da América Latina em relação aos

continentes Europeu e Asiático, a Carta de Brasília ressalta a necessidade de um olhar

diferenciado sobre o que vem a ser autenticidade, posto que, nos países latino-americanos a

“identidade foi submetida a mudanças, imposições, transformações que geram dois

processos complementares: a configuração de uma cultura sincretista e a de uma cultura de

resistência”

.

Uma nova preocupação foi externada três anos mais tarde pelos países do Cone

Sul: a questão da autenticidade.

52

De um modo bem positivo, afirma: “As diferentes vertentes que integram uma

sociedade apresentam leituras de tempo e espaço diferentes, mas igualmente válidas, que

devem ser levadas em conta no momento em que se fizer a avaliação da autenticidade”

.

Considerando que a autenticidade está diretamente ligada à identidade e que a

identidade latino-americana teve suas bases alicerçadas em uma fusão de culturas diversas

(pré-colombiana, indígena, européia e africana), a Carta de Brasília sugere que, não há uma

verdade única, ou seja, a autenticidade cultural não pode ser avaliada de forma rígida.

53

Esse seminário discutiu o conflito entre as mudanças sociais e a preservação

patrimonial e, dentre os fatores explicitados na Declaração, destacam-se os tópicos 5 e 6,

que discorrem, respectivamente, sobre a inserção do tema Patrimônio Cultural em todos os

.

Com uma abordagem sintetizada, porém, com abrangência ampliada sobre as

questões patrimoniais, quer sejam materiais ou imateriais, em 1996, o ICOMOS elabora a

segunda Declaração de São Paulo, após a realização do seminário Caminhos da

Preservação.

51 Carta do Rio, 1992. Disponível em: <http://www.portal.iphan.gov.br> 52 Carta de Brasília, 1995. Disponível em: <http://www.portal.iphan.gov.br> 53 Op. Cit.

38

níveis escolares e sobre a organização de ações em defesa dos bens naturais e das

paisagens de maior relevância.

Essas duas abordagens se deram através das seguintes recomendações:

5) A incorporação nos currículos de todos os níveis de ensino, de cursos de identificação e de reconhecimento e registro do Patrimônio Cultural, fundamento da preservação da identidade nacional, seja pela História escrita do país, seja pela memória das populações de diversas origens, sobretudo, as mais carentes; 6) A organização das mais diversas ações culturais pela defesa dos bens naturais e paisagens notáveis, exigindo a institucionalização de reservas da biodiversidade e da biosfera, de cuja salvaguarda depende a garantia de sobrevivência das gerações vindouras.54

Este seminário teve como objetivo “recolher subsídios que permitissem a

elaboração de diretrizes e a criação de instrumentos legais e administrativos visando a

identificar, proteger, promover e fomentar os processos e bens”

Desta forma, o contexto da Declaração de São Paulo II reúne, em um só

documento, abordagens relativas às questões ambientais constantes na Carta do Rio – 1992

e às questões identitárias constantes na Carta de Brasília – 1995, como se fosse uma

complementação de ambas, e que, infelizmente não se mostra em perfeita execução até os

dias atuais – 2009.

Além disso, retoma uma importante questão também abordada anteriormente em

um documento nacional – Compromisso de Brasília, 1970 – referente à educação

patrimonial como forma de auxílio à preservação, conservação e salvaguarda dos bens

culturais Brasileiros.

Dando maior ênfase ao patrimônio imaterial, em 1997, a Carta de Fortaleza vem

como arremate das discussões do Seminário Patrimônio Imaterial: Estratégias e Formas de

Proteção e marca, também, os 60 anos do IPHAN.

55

Com base nesse objetivo, a Carta de Fortaleza

referentes ao patrimônio

imaterial brasileiro, reforçando o que determina o Artigo 216 da Constituição Federal

Brasileira.

56

54 Declaração de São Paulo II, 1996. Disponível em: <http://www.portal.iphan.gov.br> 55 Carta de Fortaleza, 1997. Disponível em: <http://www.portal.iphan.gov.br> 56 Op. Cit.

recomenda, entre várias ações,

melhor reflexão sobre o que vem a ser bem cultural imaterial, parceria com instituições

públicas e privadas para inventariar os bens culturais e disponibilizar tais inventários no

Sistema Nacional de Informações Culturais e em um banco de dados de fácil

39

acessibilidade, bem como a elaboração de um Programa Nacional de Educação

Patrimonial.

Os dados deste documento seguem o curso internacional sobre ações voltadas para

o patrimônio cultural imaterial, que teve como ponta-pé inicial a Declaração do México –

1985 e que culminou com a Convenção para Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial,

em 2003.

Conforme o IPHAN (2006), o seminário sobre Patrimônio Imaterial ocorrido em

Fortaleza impulsionou o surgimento, em 1998, da Comissão Institucional e do Grupo de

Trabalho do Patrimônio Imaterial (GTPI) e em 2000, desenvolveu-se o Inventário Nacional

de Referências Culturais (INRC), instituiu-se o Registro de Bens Culturais de Natureza

Imaterial e o Programa Nacional de Patrimônio Imaterial (PNPI).

Em 2002, ocorre o primeiro registro de um bem imaterial no Brasil: o Ofício das

Paneleiras de Goiabeiras – Vitória/Espírito Santo.

Ainda em 2003, acontece em Goiânia (Estado de Goiás) o 1º Encontro Nacional

do Ministério Público na Defesa do Patrimônio Cultural que resulta na Carta de Goiânia57

57 Carta de Goiânia, 2003. Disponível em: <www.mp.mg.gov.br>

.

Tal documento merece destaque dos terceiro e quarto tópicos por tratarem, de maneira bem

explícita, a questão da identidade, memória e educação, como se segue:

3- A preservação da memória e da identidade não pode e não deve ser encarada e entendida como um elemento de impedimento ao progresso e ao desenvolvimento do país. Ao contrário, deve ser considerada como uma variável privilegiada de valor econômico agregado na promoção desse desenvolvimento; 4- Só por meio da educação é possível mudar os valores e incluir a preservação do Patrimônio Cultural na rotina de vida dos cidadãos. É preciso que as instituições de cultura, educação e a sociedade em geral incluam a educação sobre o patrimônio em seus projetos.

A partir de então, ano após ano, apresentavam-se novidades em relação ao tema,

no Brasil e no mundo:

2003 – Aprovação da Convenção para Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, pela Conferência Geral das Nações Unidas, em Paris, e a proclamação, pela UNESCO, da arte gráfica do índios brasileiros Wajãpi como Obra Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade; 2004 – Criação do Departamento do Patrimônio Imaterial do IPHAN (DPI); 2005 – Samba de Roda do Recôncavo Baiano é proclamado Obra Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade, pela UNESCO; 2006 – Brasil ratifica a Convenção para Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial. (IPHAN, 2006: 6 e 7); 2007 – Matrizes do samba do Rio de Janeiro (samba de terreiro, partido-alto e samba-enredo) ganha registro no Livro das Formas de Expressão;

40

2008 – Queijo Artesanal de Minas (em maio), Roda de Capoeira (em julho), Grupos de Jongo do Espírito Santo (em dezembro) são considerados Patrimônio Cultural Imaterial. (Formatação dada pela autora)

Diante dos fatos expostos, observa-se que a partir de 1997 a discussão em torno

do patrimônio tomou novas dimensões no Brasil, acarretando em uma nova visão sobre o

patrimônio cultural como um todo e um melhor dimensionamento em relação à

importância do patrimônio denominado imaterial, culminando na preocupação com sua

salvaguarda. Porém, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN:

2006) considera a Semana da Arte Moderna, em 1922, como o primeiro contato com o

tema Patrimônio Cultural Imaterial, por já mencionar questões voltadas aos referenciais

implícitos da cultura de um povo.

No Brasil, reforçando o conceito utilizado pela UNESCO, o patrimônio cultural

imaterial é entendido como sendo “manifestações peculiares de regiões, localidades ou

pequenas comunidades, transmitidas de geração em geração, constantemente recriado em

função do ambiente, da interação com a natureza e da história”.

Tal conceito demonstra o caráter dinâmico da cultura e do patrimônio imaterial,

que se adequam, se adaptam às situações e à realidade de cada momento com o passar do

tempo. Como explicita Pellegrini (1993:94), antes mesmo de se diferenciar patrimônio

material do patrimônio imaterial, “modernamente se compreende por patrimônio cultural

todo e qualquer artefato humano que, tendo um forte componente simbólico, seja de algum

modo representativo da coletividade, da região, da época específica, permitindo melhor

compreender-se o processo histórico”.

Algumas manifestações culturais imateriais de diversas regiões brasileiras já

passaram pelo processo completo de reconhecimento enquanto patrimônio cultural

imaterial que envolve a pesquisa inicial, inventário e registro, como é o caso do “Jongo/RJ

e SP, Ofício das Baianas do Acarajé/BA, Ofício das Paneleiras de Goiabeiras/ES, Samba

de Roda do Recôncavo Baiano/BA, Ciro Nossa Senhora de Nazaré/PA, Arte Kusiva dos

Índios Wajãpi/AP, modo de fazer a Viola de Cocho/MS e MT” (IPHAN), sendo que

algumas dessas manifestações já estão com seus Planos de Salvaguarda estruturados, o que

significa investimento financeiro, desenvolvimento educacional ou outras formas de apoio

e incentivo à continuidade das mesmas.

41

Além destas, há outras manifestações que se encontram na fase intermediária do

processo, já tendo sido realizada uma pesquisa criteriosa, elaborado o inventário e estão no

aguardo de um parecer do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)

para que seja efetivado o registro do bem enquanto patrimônio cultural imaterial e

elaborado o Plano de Salvaguarda.

Alguns desses pedidos de registro de Patrimônio Histórico Cultural Imaterial estão

diretamente ligados à gastronomia, como é o caso do Pastel de Angu da cidade de Itabirito,

em Minas Gerais, a ser apresentado mais adiante.

1.4. A Gastronomia

A culinária, dentro do que hoje se denominada gastronomia, é um tema há algum

tempo exposto por todos os meios de comunicação, quer seja em um programa de

televisão, quer em livros específicos ou até mesmo nas revistas e jornais em seções a ele

dedicadas, porém só recentemente começou a ser estudada e debatida como importante

componente da representação cultural.

Nos seres vivos, há uma necessidade natural de se alimentar, mas, as necessidades

humanas vão além disto, pois, a exemplo do que discorre Laraia (2006:37) para que o

homem se mantenha vivo, é preciso “satisfazer um número determinado de funções vitais,

como a alimentação, o sono, a respiração, a atividade sexual etc. Mas, embora estas

funções sejam comuns a toda a humanidade, a maneira de satisfazê-las varia de uma

cultura para outra”.

Apresentando a gastronomia de uma maneira mais generalista, Savarin (2001:57)

afirma que ela “é o conhecimento fundamentado de tudo o que se refere ao homem, na

medida em que ele se alimenta” e completa dizendo que “seu objetivo é zelar pela

conservação dos homens, por meio da melhor alimentação possível”.

Reforçando a abordagem de Laraia sobre funções vitais, Savarin (Op. cit.:41)

ainda argumenta que “o gosto, que tem por excitadores o apetite, a fome e a sede, é a base

de várias operações que resultam no crescimento, desenvolvimento e conservação do

indivíduo, e na reparação de suas perdas causadas pelas evaporações vitais”.

Como verbete de dicionário, culinária significa “arte de cozinhar” e gastronomia

se traduz em “arte de cozinhar de maneira que se proporcione maior prazer aos que

42

comem” (GARCIA, 1978: 717 e 1254), dessa forma, o prazer de comer é o que diferencia

culinária de gastronomia, sendo o significado de ambas baseado na arte de cozinhar, e,

talvez por isso, nem sempre apresentados com distinção entre os termos.

Reafirmando tal conceito, tem-se, conforme SENAC (1998), que “embora a

palavra gastronomia signifique estudo das leis do estômago, ela tem hoje um sentido bem

mais amplo. Refere-se à arte de preparar as iguarias, tornando-as mais digestivas, de modo

a obter o maior prazer possível”.

Savarin (2001:137) alerta sobre a possível confusão entre gula, que está

relacionada à voracidade, e gourmandisse, então traduzida para gastronomia, explicando

que esta “é uma preferência apaixonada, racional e habitual pelos objetos que agradam o

paladar”. Mas, enquanto tema de estudo, a gastronomia ainda vai além dessas definições,

ela se apresenta como um importante aspecto representativo da cultura de um povo e do

que a terra oferece no espaço onde se vive.

Além de o alimento ser uma das formas de suprir necessidades biológicas, a

gastronomia também é considerada, há muito, fonte de desenvolvimento, geração de renda

e identificador de condição social, visto que há em todo o mundo produtores rurais,

atacadistas de alimentos, restaurantes, doceiras, salgadeiras etc., que sobrevivem graças ao

fomento financeiro gerado pela culinária e suas diversas interfaces.

Para Savarin (2001:139) “a gourmandisse oferece grandes recursos ao fisco:

alimenta os impostos municipais, as alfândegas, os tributos indiretos”.

Remontando a tempos longínquos, os dados históricos fornecem informações de

iguarias – como o sal, por exemplo – que eram utilizadas como moeda em um período em

que o escambo era a forma comercial predominante.

Independente das formas de comercialização de alimentos, para que haja o que

comer, é preciso que haja quem produza e forneça o alimento, e é esse produzir que

representa muito das diferenças de uma região para outra, bem como as formas de preparar

e combinar as variedades alimentícias existentes em cada lugar.

Tais diferenças é que dão o caráter cultural ao alimento, à culinária e à

gastronomia como um conjunto de símbolos, representações e peculiaridades apresentadas

e modificadas ao longo dos anos.

43

Em gastronomia, tanto quem cozinha quanto quem come deve saber combinar

tradição com criação. A tradição está no saber do povo, é ligada à terra e à exploração dos

produtos da região e das estações. Já a criação está relacionada à invenção, à renovação e

às experimentações (SENAC, 1998).

Valer-se-á da história, novamente, para que se esclareça o momento presente da

gastronomia, pois, conforme Flandrini e Montanari (1998:16) “os gestos do dia-a-dia

transformam-se, junto a tudo aquilo a que estão relacionados: as estruturas do cotidiano

deixam-se surpreender pela história” e complementa afirmando não ser “por mera fantasia

que a maneira de preparar os alimentos difere de um povo para o outro, mas, em função de

diferenças tecnológicas, econômicas e sociais entre esses mesmos povos”.

Nos tempos remotos, a alimentação apresentava características atreladas ao tipo

de produtos que a terra oferecia de prontidão, sem a necessidade de que os homens

promovessem grandes interferências, sendo que, essas interferências foram surgindo, aos

poucos, hora por causa de uma escassez de produtos, hora por excedente de produção.

Caracterizando a gastronomia como representação dos costumes de um povo no

decorrer do tempo, “não apenas os homens deparam com alimentos diferentes, de acordo

com as regiões, mas parecem ter procedido, em cada região, a uma seleção e escolha dos

alimentos que a natureza lhes oferecia; escolhas que decorriam, aliás, da diversidade de sua

cultura” (FLANDRINI E MONTANARI, 1998:29).

As características climáticas e geográficas diferenciadas favoreciam a

diversificação de plantio em cada região do planeta, por isso, além dos traços culturais, é

possível identificar, ou, no mínimo, deduzir características físico-geográficas da região

onde se desenvolve determinado prato típico, devido aos ingredientes utilizados como

base.

Corroborando com este raciocínio, Schluter (2006: 28) cita um estudioso espanhol

denominado Pla que considera a cozinha de um país como “uma paisagem posta na

caçarola”58

Assim como as paisagens, as formas de preparo também se transformaram ao

longo da história. O homem partiu de uma alimentação quase crua, para as técnicas de

cozimento criadas a partir do surgimento do fogo e de sua utilização no universo

.

58 Caçarola: Recipiente de metal, com cabo e tampa, onde se cozem alimentos.

44

doméstico, o que “modificou profundamente a alimentação, assim como os

comportamentos sociais a ela relacionados” (FLANDRINI E MONTANARI, 1998:44).

Tais modificações proporcionadas pelo fogo ainda influenciaram a divisão do

trabalho e dos direitos e obrigações dos membros da família, ao passo que, entre os homens

primitivos, “o preparo e a distribuição de carnes fizeram a família se reunir, os pais

distribuindo aos filhos o produto de sua caça, e os filhos adultos prestando a seguir o

mesmo serviço a seus pais envelhecidos” (SAVARIN, 2001:168), cabendo às mães o

cuidado com a casa, a coordenação das atividades culinárias e a divisão da comida durante

as refeições.

Durante a Idade Média, num período em que se aprimorava o nível de organização

das sociedades e aumentava distinção entre as classes sociais, surgiu a divisão das

refeições, podendo ser exemplificada pelos egípcios que, segundo Flandrini e Montanari

(1998:176), ainda comendo com os dedos, já faziam três refeições distintas e até hoje

costumeiras em todo o mundo: desjejum (hoje denominado café da manhã em alguns

países), almoço e jantar.

Posteriormente, evoluiu-se para a cultura de sentar-se à mesa, ser servido por

escravos ou criados e utilizar talheres para levar o alimento à boca.

As refeições que anteriormente aconteciam em família passaram a ter a

participação de amigos mais próximos e, por exemplo, “entre os gregos da Antiguidade, o

aumento da classe aristocrática, mais rica, levou a arte de comer a se associar à arte de

receber, acarretando um refinamento da cozinha” (SENAC, 1998:22).

No caso dos Romanos, os acontecimentos importantes como casamento,

aniversário, nascimento, batizado e morte são considerados “momentos de grandes

mudanças na vida do homem, comemorados em cerimônias nas quais o alimento está

sempre presente” (Op. Cit.:26).

Essa mudança de hábitos, no que concerne ao Brasil em um período em que o

fogo já não era novidade, é atribuída por Frieiro (1996:179) à vida na fazenda, que era “por

excelência, o núcleo formador de todo um sistema de atitudes e modos de proceder, de

costumes e juízos de valor, do que constitui, em fim, a cultura patriarcal” existente em uma

época na qual os grandes latifundiários dominavam tudo a seu redor e ditavam todas as

normas, inclusive as de convivência.

45

As citações anteriores representam, apenas, alguns exemplos de como as refeições

passaram a ter uma função social caracterizada pela preocupação em receber bem os

convidados e pela forma adequada de os convidados se comportarem diante das diversas

situações possíveis durante uma refeição.

A gastronomia é um dos principais vínculos da sociedade; é ela que amplia gradualmente aquele espírito de convivência que reúne a cada dia as diversas condições, funde-as num único todo, anima a conversação e suaviza os ângulos da desigualdade convencional. Também é ela que motiva os esforços que todo anfitrião deve fazer para acolher bem seus convidados, assim como o reconhecimento destes, quando percebem que são bem tratados (SAVARIN, 2001:143).

Com o aumento da quantidade de viajantes na Europa, proporcionado pela

abertura de estradas e por um relativo desenvolvimento dos meios de transporte, surge,

também, a necessidade da existência de locais onde esses viajantes pudessem pousar

(dormir) e se alimentar, criando, então, uma relação direta entre estranhos que

compartilhavam o mesmo espaço durante as refeições.

O viajante fatigado veio participar dessas refeições primitivas, e contou o que se passava nos lugares distantes. Assim os mais ferozes tinham como dever respeitar a vida daquele a quem fora consentido partilhar o pão e o sal. Foi durante as refeições que devem ter nascido ou se aperfeiçoado nossas línguas, seja porque era uma ocasião de reunião que se repetia, seja porque o lazer que acompanha e segue a refeição dispõe naturalmente à confiança e à loquacidade (Op. cit.:168).

Depois dos pousos e tabernas que reuniam os serviços de alimentação e descanso,

ao final do século XIX surge uma segunda etapa nessa evolução da gastronomia e da

hospedagem atreladas a um maior desenvolvimento dos transportes rápidos e do turismo de

luxo e que, segundo Flandrini e Montanari (1998:759) “um dos pais dessa nova fórmula

hoteleira que se espalhou na década de 1880 é o suíço César Ritz; este associou-se a um

dos melhores cozinheiros do momento, ou seja, o francês Auguste Escoffier”.

Com o sucesso desta nova forma de hospedagem, surgem em diversos países da

Europa, novos hotéis engrandecidos por restaurantes de chefes ou cozinheiros de renome,

como se segue:

Grandes chefs franceses também viajaram por todo o mundo, ministrando cursos, formando seguidores e abrindo filiais de seus restaurantes em hotéis famosos. Esses restaurantes, em geral, ofereciam alguns pratos regionais, próprios do país onde estavam instalados; uns poucos pratos de massa à moda italiana, como macarrão ou ravióli; algumas carnes à inglesa, como o roast-beef; um ou outro prato americano, como a lagosta ao vinho. De resto, ofereciam uma enorme variedade de pratos tipicamente franceses, com ingredientes e técnicas de preparo à moda francesa (SENAC, 1998:54).

46

Nesta mesma época inaugurou-se a Le Cordon Bleu, sendo esta, a “primeira

escola destinada ao ensino da cozinha francesa para as filhas das famílias ricas. Conta,

atualmente, com filiais em várias cidades, sendo reconhecida em todo o mundo, procurada

por amadores e profissionais de cozinha” (Op. Cit.:53).

Pode se dizer que a Le Cordon Bleu foi a primeira difusora oficial da cozinha

francesa, mas, a difusão gastronômica, de maneira geral, vem de muito antes. Desde o

surgimento do fogo, técnicas de cozimento são constantemente criadas, adaptadas e

recriadas, conforme condições e conhecimentos dos cozinheiros, independente de quem

sejam eles.

Voltando ao Período Medieval, por exemplo, a Igreja – com toda sua riqueza,

poder e influência – já era um importante ator na difusão de costumes culinários. “Os

monges herdaram os conhecimentos da cozinha romana e transmitiram toda a tradição

culinária para outros povos do ocidente” (SENAC, 1998:29).

Percorrendo a história percebe-se o grande número de trocas de conhecimentos

culinários e os traços da influência de uma determinada cultura sobre outra, durante

séculos.

Da mesma forma que hoje se depara com uma infinidade de alimentos e diversas

maneiras de prepará-los, nos tempos passados a diversidade também estava presente e

influenciou, de uma forma ou de outra, muito do que se conhece na culinária e na

gastronomia atualmente.

A colonização do Brasil é mais um exemplo de disseminação gastronômica

anterior à inauguração da Le Cordon Bleu, visto que o país recebeu influências,

principalmente, de Portugal, Espanha e países africanos, mesclando, modificando ou

assimilando a culinária indígena até então existente.

A grande expansão marítima do início da Idade Moderna provocou um enorme intercâmbio cultural entre os europeus e aqueles com os quais mantiveram contato na Ásia, no Brasil, na América, na África. Os navegadores levavam sementes, raízes e cereais para as terras distantes e, de volta, traziam as novidades lá experimentadas. (...) Do Brasil os portugueses levaram vários produtos para a Ásia: milho, agrião, mandioca, batata-doce, repolho, pimentão, abacaxi, goiaba, caju, maracujá, mamão e tabaco. Os cajus se adaptaram muito bem na Índia e proliferaram, dando vinho, passa, doce e castanha (Op. Cit.:37).

47

Desde os tempos mais antigos até o surgimento dos grandes restaurantes e das

escolas de culinária no final do século XIX, os costumes se difundiam, mas sem sofrerem

grandes modificações, porém, no início do século XX, iniciou-se o que hoje denomina-se

cozinha internacional, que mescla técnicas, costumes e ingredientes de diversos países em

um mesmo prato, alavancando, também, algum tipo de preocupação com as características

gastronômicas originais de cada região.

Enquanto a cozinha internacional ia se firmando, “inúmeros restaurantes e livros

de receitas, especializados em cozinha francesa, italiana, chinesa, japonesa, alemã,

portuguesa se espalhavam pelo mundo” (SENAC, 1998:55).

Assim, a gastronomia regionalizada vai atingindo novas dimensões e adquirindo,

vagarosamente, mais espaço e mais adeptos à sua degustação e, junto a ela, difundiram-se

os modos e costumes conforme a nacionalidade ou regionalidade de cada iguaria.

Posterior à cozinha internacional e à Primeira Guerra Mundial, período em que a

Europa perde espaço para os Estados Unidos (Op. Cit.:56), neste, surge o movimento do

Fast-Food impulsionado pela necessidade de uma alimentação mais rápida que

acompanhasse o novo ritmo de vida gerado pelo fervoroso desenvolvimento industrial. Um

excelente exemplo é a Rede Mc’Donald que possui fama mundial.

Mas, já nos anos 20, com “a chegada do turismo automotivo – que, através da

descoberta das estradas, favorece a exploração do espaço local” as cozinhas regionais

encontraram sentido “no que se tornou uma “economia turística” com perspectivas de um

belo futuro” (FLANDRINI E MONTANARI, 1998:818).

Não demorou muito e, nos anos 30, deu-se início à divulgação de especialidades

culinárias regionais através de publicações extensas, com páginas completas.

Se a referência às especialidades culinárias é colocada no mesmo plano dos acontecimentos gloriosos do local, do monumento histórico ou da paisagem natural propostos ao turista como merecedores de uma visita, é porque o discurso sobre as cozinhas regionais adquire nessa data uma amplitude considerável (Op. Cit.:819).

Surge, então, na segunda metade do século XX, a nouvelle cuisine – cozinha nova,

“quando muitos cozinheiros, chefs e gastrônomos passaram a defender uma culinária que

realçasse mais o sabor natural dos alimentos. O importante [...] era dar tratamento

inteligente aos alimentos, sem destruir o trabalho feito pela natureza” (SENAC, 1998:57).

48

Com a retomada do natural, voltam os valores do regional e as cozinha locais e

regionais retomam sua importância de uma maneira mais consistente, valorizando ainda

mais os costumes, as misturas e os manuseios originais da sua elaboração, adaptados à

realidade atual na qual o mundo se encontra.

No início do século XX, havia associações regionalistas que, segundo Flandrini e

Montanari (1998:820), multiplicavam “as festas em que as especialidades culinárias

pontuam os rituais desfiles de trajes, leituras em dialeto, cânticos e danças tradicionais”,

porém, ainda os mesmos autores, “só tardiamente é que investem no turismo que,

supostamente, irá implicar a adulteração das manifestações culturais locais; no entanto,

através da atividade turística, acabam por ver um meio de reapropriação das tradições”.

Ao mesmo tempo em que o turismo se apresenta como uma ameaça aos costumes

locais em determinados momentos, quando promovido com responsabilidade e

envolvimento comunitário torna-se uma atividade educativa que resgata, eleva e preserva

valores especiais e peculiares da população.

Neste contexto, a gastronomia, enquanto propagação de tradições e como parte

integrante da cultura de um povo, é algo dinâmico, ao passo que “cada cultura é o fruto de

contaminações, cada “tradição” é filha da história – e a história nunca é imóvel”

(FLANDRINI e MONTANARI, 1998:868).

Ainda exaltando a importância da culinária, tem-se a afirmação feita por Córner

(2006) de que “a cozinha é um símbolo cultural, é memória, e principalmente patrimônio

cultural de qualquer grupo social”, considerando que “a simbologia dos alimentos exerce

uma influência ao homem, podendo constituir-se em importante elemento que revela

identidades”.

Portanto, gastronomia, alimentação e culinária se fundem quando apresentadas

como marca de um povo, revelando suas características e suas histórias. É como uma

reunião de significados e representações dos modos de vida de cada povo e que, na maioria

das vezes, desperta interesses diversos em outros povos.

Sob esta ótica, a gastronomia é capaz de alimentar não só a estrutura orgânica das

pessoas, mas, também, seus interesses culturais, históricos, antropológicos, turísticos e

muito mais.

49

TURISMO, PATRIMÔNIO E EDUCAÇÃO

2.1. O Turismo e a Diversidade Gastronômica

Em 1976, através de um documento intitulado Carta de Turismo Cultural59

Uma complexa origem histórica – Revolução Industrial, Revolução Francesa, Romantismo – enquadra o turismo moderno em um contexto que o faz nascer, essencialmente, como um turismo cultural. A atividade assim permanece por muito tempo, e hoje, a despeito de uma setorização maior e mais ampliada, o atrativo artístico-histórico-cultural é, ainda, substrato essencial do setor turístico (MENESES, 2004:39).

(já

citado no capítulo 2 deste trabalho, o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios –

ICOMOS expõe que “turismo é um feito social, humano, econômico e cultural

irreversível”.

De fato, o turismo envolve todos esses aspectos de uma maneira muito minuciosa,

detalhista e abrangente.

Mas a discussão sobre o que vem a ser turismo é ainda mais antiga, pois a Liga

das Nações, criada em 1919 após o fim da Primeira Guerra Mundial, “fundamentada na

necessidade de buscar a paz e reconstruir o mundo” (LIMA, 2004), já propunha, em 1937,

a promoção e o estudo do turismo, definindo-o como “a viagem de toda pessoa durante 24

horas ou mais por qualquer país que não aquele de sua residência habitual” (DIAS, 2005).

A EMBRATUR, através do Guia para Oficinas de Treinamento do Programa

Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT), elaborado com base em documentos

oficiais da Organização Mundial de Turismo – OMT apresenta o seguinte conceito sobre

turismo:

Atividade econômica representada pelo conjunto de transações – compra e venda de serviços turísticos – efetuadas entre os agentes econômicos do turismo. É gerado pelo deslocamento voluntário e temporário de pessoas para fora dos limites da área ou região em que têm residência fixa, por qualquer motivo, excetuando-se o de exercer alguma atividade remunerada no local que visita (EMBRATUR, 1994: glossário).

Concomitante ao desenvolvimento do pensamento e da prática protecionista em

relação às questões patrimoniais culturais e naturais, a atividade turística também veio,

com o tempo, atingindo novas proporções, ampliando suas áreas de atuação e se

entrelaçando a uma diversidade de proposições e temas, ganhando, assim, uma grande

variedade de classificações.

59 Carta do Turismo Cultural, 1976. Disponível em <http://www.portal.iphan.gov.br>

50

Seis formas básicas de turismo são relacionadas por Andrade (1995): turismo de

férias, cultural, de negócios, desportivo, de saúde, e religioso. Já Oliveira (2001) amplia tal

classificação para 21 modalidades: aventura; águas termais; étnico e nostálgico; cultural;

compras; eventos; cruzeiros marítimos; desportivo; ecológico; gastronômico; religioso;

juventude; social; terceira idade; intercâmbio; lazer; negócios; técnico; gay (GLS); saúde e

rural.

Essas variantes apresentadas, bem como outras que existam ou possam vir a

existir, representam os segmentos aos quais o turismo atende, visto que tal segmentação se

baseia nas características (perfil) tanto do turista quanto do local por ele escolhido para

visitar.

Cada tipo de turismo não se apresenta como exclusivo quando da viagem do

turista, visto que, por exemplo, dentro da tipologia de turismo desportivo podem se

entrelaçar outros subtipos como o ecológico, gastronômico, de eventos, de aventuras, da

juventude etc.

Em alguns casos percebe-se a existência de uma concordância em relação à

conjunção de tipicidades e segmentos turísticos como SEBRAE (2000) e Dias (2005), que

apresentam o turismo cultural diretamente vinculado aos turismos rural, ecológico, de

eventos, histórico e gastronômico.

A motivação original do turista não significa que outras formas de turismo serão

efetivamente desprezadas, sabendo-se que, a partir do momento que o turista sai da sua

própria casa em busca de outro destino, ele já começa a conviver com as diferenças que

surgem ao longo da viagem até que retorne, independente de qual seja o real motivo do seu

deslocamento.

As diferenças apresentadas durante uma viagem nada mais são que representações

dinâmicas dos costumes, do patrimônio cultural dos lugares por onde se passa.

Em meio a todos os tipos de turismo e sem desmerecer a importância e a

contribuição dos mesmos em relação às questões culturais de uma maneira geral, o turismo

cultural merece destaque por assumir características diretamente ligadas ao patrimônio

cultural como um todo.

51

No documento do ICOMOS - 197660

Para exemplificar a interdependência do turismo enquanto atividade econômica

em relação às manifestações culturais, quer sejam representadas pelo patrimônio material

ou imaterial, pode-se referenciar Rodrigues (2001:22) quando expõe que “o crescimento da

importância dada pelo poder público ao patrimônio fundamentava-se no reconhecimento de

, o turismo cultural recebe a definição de ser

“aquela forma de turismo que tem por objetivo, entre outros fins, o conhecimento de

monumentos e sítios histórico-artísticos. Exerce um efeito realmente positivo sobre estes

tanto quanto contribui - para satisfazer seus próprios fins - a sua manutenção e proteção”.

Barreto (2000:19-20) conceitua turismo cultural como sendo “todo turismo em

que o principal atrativo não seja a natureza, mas algum aspecto da cultura humana. Esse

aspecto pode ser a história, o cotidiano, o artesanato ou qualquer outro dos inúmeros

aspectos que o conceito de cultura abrange”, além disso, pode-se incluir a gastronomia

como uma das vertentes marcantes de uma cultura, quer seja baseada na história, no

cotidiano ou no artesanato.

Buscando uma sintetização do conceito de turismo cultural, Dias (2006:40) afirma

que o mesmo é representado por “toda prática turística que envolva a apreciação ou a

vivência de qualquer tipo de manifestação cultural, seja tangível ou intangível, mesmo que

esta não seja a atividade principal praticada pelo visitante no destino”. Tal conceituação,

assim como a de Barreto, deixa implícita a gastronomia como atrativo turístico ao passo

que esta insere-se no conceito de patrimônio cultural intangível.

O turismo gastronômico está diretamente ligado às comidas e bebidas que, por sua

vez, demonstram diversas tradições e costumes integrantes das inúmeras manifestações

culturais existentes pelo mundo e, como afirma Dias (2005:71), “a experimentação de

iguarias regionais é parte integrante da experiência do turista”.

Meneses (2004:24-25) aprofunda a análise em relação ao turismo cultural

afirmando que:

...as construções culturais são parte de um uníssono de experiências históricas, vivificadas de forma integrada, portanto, dinâmicas no tempo. Esse dinamismo é, ao mesmo tempo, diacrônico e sincrônico, e, assim, a construção de um modelo de interpretação do passado e a transformação desse modelo em atrativo turístico deve considerar e dignificar a vivência presente como parte de um todo cultural.

60 Carta do Turismo Cultural, 1976. Disponível em <http://www.portal.iphan.gov.br>

52

seu valor cultural, mas, além disso, de sua potencialidade como mercadoria de consumo

cultural”.

Tal afirmação pode ser reforçada e ter seus horizontes ampliados pelas palavras de

Pellegrini (1993:109) quando diz que “o bem patrimonial deve ser encarado como algo

integrado ao quadro econômico-financeiro local, regional e talvez nacional, com uso

efetivo. Aqui entra o interesse turístico, direta e indiretamente”.

O que se percebe é que, em todos os autores citados para conceituar turismo

cultural e, até mesmo no documento do ICOMOS, não se encontra nenhuma menção

explícita

O desenvolvimento da atividade turística com participação efetiva da comunidade

local pode possibilitar melhor distribuição de renda e qualidade de vida se planejado

relativa à questão da gastronomia como parte integrante do contexto cultural do

ser humano.

Vale ressaltar que, a maioria das manifestações culturais citadas ao longo do texto

são importantes atrações turísticas em seus locais originais, podendo-se confirmar tal fato

através dos pacotes turísticos de qualquer agência de viagem. Há excursões organizadas

exclusivamente para prestigiar a Vesperata de Diamantina/Minas Gerais, o Festival

Gastronômico de Tiradentes/Minas Gerais (Apêndice 01), a Octoberfest de

Blumenau/Santa Catariana (Anexo 01).

“O turismo, por se tratar de uma atividade econômica com caráter social e cultural bastante acentuado, contribui para diminuir as distâncias entre as várias partes do planeta, buscando valorizar e preservar as diferenças culturais. A cultura é um importante atrativo de um destino turístico. Muitos turistas estão em busca da diversidade e diferenças culturais que sobrevivem em um mundo marcado pela homogeneização cultural” (DIAS, 2003).

Com base no patrimônio cultural é possível identificar atrativos potenciais e

transformá-los em produto turístico através de um trabalho de organização e estruturação

de serviços receptivos que utilizem recursos materiais e humanos da localidade.

Há possibilidade de inserção de recursos locais na atividade turística porque, além

da heterogeneidade dos conceitos inerentes ao turismo, os mesmos são, em sua maioria,

passíveis de aplicação no cotidiano das pessoas por estarem diretamente relacionados a

questões de bem estar do ser humano através de reflexões, principalmente, sobre o meio

ambiente, cultura, relações sociais, economia, história, política e direitos humanos.

53

adequadamente, visto que a população é conhecedora das manifestações culturais, de suas

características e de seus significados.

Tomemos com exemplo a França e a Itália.

Na França, algumas cidades da região da Borgonha vivem, quase que

exclusivamente, do turismo gastronômico ancoradas na produção de vinhos, licores e

mostarda, os quais atraem apreciadores de todo o mundo.

Em Sabores de França e Itália – Planet Food, documentário da revista Viagem &

Turismo (2005) é apresentada a história da cidade de Dijon e sua mostarda que começou a

ser produzida no século 18 e, com o tempo e a fama que adquiriu, tornou-se atrativo

turístico e transformou a cidade na maior produtora de mostarda da França. Juntando-se à

importância da Mostarda Dijonense, ainda há o Kir, conhecido e apreciado em diversas

partes do mundo e que nada mais é do que uma mistura de vinho branco com licor de

cassis que, no início do século 19, era oferecida pelo prefeito local a todos que o visitavam.

O prefeito era o Sr. Kir, daí o nome da bebida.

Em algumas regiões da Itália acontece a mesma atratividade gastronômica,

também motivada pelo vinho local e por suas massas. Na região de Montalcino, por

exemplo, é produzido um dos vinhos mais conhecidos e procurados no mundo, o Brunello.

Este vinho começou a ser produzido em 1880, por Ferruccio Biondi Santi que buscava a

inovação – um vinho para ser envelhecido – posto que os vinhos da época deveriam ser

bebidos ainda novos. Além de ser o “berço” do Brunello, a cidade conta com mais de 200

propriedades produtoras de diversos outros vinhos.

Na Emília Romana, tem-se a Bolonha, conhecida, na Itália, como a capital da

gastronomia, onde foram criadas as massas mais famosas do mundo – tagliatelle, lasagna e

tortellini. O tagliatelle é tão importante e tradicional que há um medidor padrão chamado

tagliatelle de ouro, com 8mm de largura. Se o tagliatelle produzido tiver maior ou menor

largura que a do tagliatelle de ouro, é devolvido, poderá ser reconhecido como qualquer

outra coisa, menos como tagliatelle61

A valorização das iguarias locais ou regionais se apresenta como um incentivo à

sua produção e, consequentemente, gera um aumento no interesse dos produtores em não

. Isso ainda é acrescido da pizza, principal alimento

de exportação da cultura Italiana.

61 DVD Sabores de França e Itália – Planet Food. Viagem e Turismo: 2005.

54

só manter a produção, mas transformar em atrativo, também, o modo de fazer, o modo de

produzir.

Em algumas casas ou restaurantes tipicamente campesinos, tanto na França quanto

na Itália, pode se acompanhar todo o processo produtivo das principais iguarias, pois tal

interesse enche de orgulho os nativos.

Para Schluter (2003:70), a gastronomia faz parte da nova demanda por parte dos

turistas de elementos culturais.

O interesse pelo turismo gastronômico envolve conhecimento e prazer, tanto para

os visitantes quanto para os visitados, além de proporcionar o contato com a história e sua

evolução.

2.2. Patrimônio Cultural, Identidade e Inclusão Social

Ao mesmo tempo em que patrimônio cultural remete à história, aos costumes e ao

conhecimento herdado de antepassados, remete, também às questões identitárias, já que

estas, sem as questões histórico-culturais se perdem, se dissolvem.

Para Barreto (2000:43) “a continuidade e a contigüidade com o passado dão

certezas, permitem traçar uma linha na qual nosso presente se encaixe, permitem que

saibamos mais ou menos quem somos e de onde viemos, ou seja, que tenhamos uma

identidade”.

Com uma visão um pouco mais detalhada e ampliada, Barreto (Op. Cit.:46) ainda

afirma que:

...manter algum tipo de identidade – étnica, local ou regional – parece ser essencial para que as pessoas se sintam seguras, unidas por laços extemporâneos a seus antepassados, a um local, a uma terra, a costumes e hábitos que lhes dão segurança, que lhes informam quem são e de onde vêm, enfim, para que não se percam no turbilhão de informações, mudanças repentinas e quantidade de estímulos que o mundo atual oferece.

A cultura, com todas as suas interfaces é a essência da identidade de um povo,

pois, conforme abordagem de Machado (2002:41) “a identidade é um sistema de

significados fundados na memória (de indivíduos e sociedades), os quais buscam dar

sentido às experiências compartilhadas” e o autor ainda interliga identidade ao patrimônio

55

cultural conceituando-o como aquele que “pode ser compreendido como o conjunto de

bens, materiais e imateriais, que fazem referência às identidades”.

Segundo Ferreira (2004), além de possibilitar enriquecimento e desenvolvimento

de comunidades e da sua cultura, a preservação patrimonial também é importante porque

os “bens culturais guardam informações, significados, mensagens, registros da história

humana – refletem idéias, crenças, costumes, gosto estético, conhecimento tecnológico,

condições sociais, econômicas e políticas de um grupo em determinada época.”

Referenciando diferentes formas de identidade Barreto (2000:45) percorre

períodos da história para caracterizá-las:

Em épocas pretéritas, [...] as pessoas pertencem a um clã, a uma tribo, à classe dos servos ou a uma casta. [...] Corresponde a essa situação a visão da identidade como algo essencial e fixo. [...] Na modernidade, [...] a identidade manifesta-se na pertença a determinados grupos (religiosos, políticos) ou a papéis (ser mãe, ser professor). [...] A identidade é uma construção social e que pode ser mudada. [...] O sujeito pós-moderno possui múltiplas identidades, que coexistem e se manifestam em razão de fatores diversos, externos ou internos a ela. [...] A matriz contemporânea é a de um sujeito que reage e se comporta de formas diferentes em circunstâncias e grupos diferentes.

Há, atualmente, uma busca pelas raízes, pela memória, também interpretada como

busca pela identidade, e nesse contexto, a memória social, conforme Rodrigues (2001:18),

“será tão mais significativa quanto mais representar o que foi vivido pelos seus diversos

segmentos sociais”, visto que as memórias particular e coletiva se entrecruzam por

diversos caminhos, e, “de sua confluência nasce a possibilidade de identidade individual e

coletiva”, sendo uma forma de os indivíduos e as sociedades recomporem a relação entre o

presente e o passado.

Em uma visão do macro para o micro tem-se que “memória coletiva [...] é o

invólucro das memórias individuais e conserva, de maneira própria, os fatos acontecidos na

sociedade à qual o indivíduo pertence” (BARRETO, 2000:45). Sob essa ótica, as memórias

individuais compõem, conjuntamente, a memória coletiva.

A memória é construída no decorrer do tempo, bem como o bem cultural e seu

significado no tempo presente, e, para isso, de acordo com Meneses (2004:59), “o processo

de identificação, apreensão, interpretação e informação sobre o patrimônio cultural deve

ser adequado à realidade social, útil à sociedade, a serviço da qualidade de vida da

população e, portanto, harmônico com ela”.

56

A participação da comunidade no conhecimento e reconhecimento acerca da

valorização da sua própria cultura é o que proporciona a construção da memória e,

conseqüentemente, a construção de uma identidade.

A preservação do patrimônio cultural tem importância fundamental para o desenvolvimento e enriquecimento de um povo e de sua cultura. Os bens culturais guardam informações, significados, mensagens, registros da história humana - refletem idéias, crenças, costumes, gosto estético, conhecimento tecnológico, condições sociais, econômicas e políticas de um grupo em determinada época (FERREIRA, 2004).

Além disso, a cultura é um importante mecanismo de geração de renda a partir do

momento que a comunidade se interessa por seus significados e pela produção e

reprodução de seus aspectos através de produtos para comercialização, visto que “a cultura

requer circulação, produção e assimilação. E isso só é possível mediante estímulo à

produção de bens culturais e à promoção de eventos” (MELO NETO, 2001:59).

O turismo cultural, bem como outras modalidades de turismo, ativa esse processo

produtivo desde que seu planejamento seja feito visando melhor compreensão sobre a

cultura de determinada localidade e a valorização da mesma enquanto identidade e

alternativas de trabalho para a comunidade.

É válido ressaltar, citando Barreto (2000:36), que não deve utilizar “o discurso dos

que acreditam num efeito multiplicador mágico capaz de colocar todas as pessoas no

mercado de trabalho e com um nível salarial capaz de provocar uma grande mobilidade

social”, mas sim, que a atividade turística é capaz de alocar pessoas com diversos níveis de

qualificação, entre elas, pessoas com habilidades peculiares que apresentam e representam

o patrimônio cultural de sua comunidade, bem como culinária típica, danças, confecção de

personagens e símbolos representativos da história local, por exemplo.

Conforme afirma Melo Neto (2001:57) “à mercantilização da cultura deve

prevalecer a sua preservação e multiplicação, sem, no entanto, desprezar-se a força da

economia da cultura, com seus múltiplos segmentos de venda de produtos e serviços e

relações comerciais e de negócios”.

Inúmeros municípios no Brasil têm incentivado a recuperação e valorização da

produção de alimentos típicos. Os casos de maior destaque se encontram no Paraná (PR),

em Santa Catarina (SC) e no Rio Grande do Sul (RS).

57

A Feira Nacional do Marreco – FENARRECO, que acontece em Brusque/SC,

surgiu em 1986 como um festival gastronômico. Hoje agrega o chopp e as bandas

musicais.

No sítio eletrônico de Brusque62

Em Campo Mourão/PR, a Festa Nacional do Carneiro no Buraco, conforme sítio

eletrônico oficial do município

pode se obter várias informações sobre a festa,

entre elas, o motivo do nome: “A Festa recebeu este nome em homenagem ao principal

prato típico da região muito procurado pelos turistas que visitam Brusque, o “entemit

rotkohl”, ou simplesmente, marreco com repolho roxo”. O mesmo sítio ainda informa,

dentre outros números, que foram consumidos 2.838 pratos de marreco com repolho roxo

na edição de 2008.

63

Iniciada em 1931, com o intuito de comemorar a vindima (colheita) daquele ano,

foi realizada apenas com uma exposição de uvas, sem maiores pompas. No ano posterior já

contava com um corso (carros alegóricos) puxado por bois e cavalos, “representando a

produção de algumas colônias da região”

gira em torno do carneiro assado em um buraco com

brasa. A idéia desta forma de assar o carneiro surgiu de três amigos vendo um filme em

que vaqueiros assavam diversos alimentos da mesma forma.

Ainda segundo o sítio eletrônico, “no início o prato era servido esporadicamente

apenas em festas de amigos, na década de 80 passou a ser servido também quando

autoridades visitavam a cidade”. Um movimento da comunidade resultou na oficialização

do carneiro no buraco como prato típico local em 1990 e a realização da primeira festa em

1991. A partir de então, a cada ano a festa ganhava mais adeptos e era cada vez mais

incrementada com novas performances de cunho cultural como O Guardião do Fogo e O

Ritual do Fogo.

A Festa da Uva, em Caxias do Sul/RS, é mais um exemplo de evento

gastronômico que impulsiona a economia, retoma e preserva raízes culturais.

64

Ao longo do tempo sofreu duas interrupções: em 1935 e 1936, problemas

econômicos; de 1938 a 1949, por causa da segunda guerra mundial. Após este período

.

62 Disponível em: <http://www.pmbrusque.com.br> 63 Disponível em: <http://campomourao.pr.gov.br> 64 Disponível em: <http://www.festanacionaldauva.com.br>

58

manteve-se sua realização sem definição exata de periodicidade até que, em 1969, passou a

ser trienal e em 1994, bienal.

Nos três casos há uma participação intensa da comunidade que se reconhece como

parte integrante de todo um conjunto cultural apresentado durante os eventos.

Como forma de suporte e incentivo à criação e identificação de alternativas de

engajamento, contextualização e inclusão da comunidade em seu próprio referencial

cultural e no desenvolvimento da atividade turística, é interessante que haja um trabalho de

educação patrimonial voltado para as diversas esferas sociais.

“É possível e estimulante pensar em um planejamento diferente, em uma percepção mais acurada, onde o bem histórico cultural possa ter tratamento de construção histórica dinâmica e em andamento e possa propiciar inclusão identitária e social de quem participa ativamente dessa dinâmica. A experiência turística tem demonstrado que a participação comunitária sustenta não apenas o atrativo, mas também a própria estrutura receptiva do turista” (MENESES, 2004: 13).

Com base nesse tipo de raciocínio é que se deve trabalhar para disponibilizar e

propiciar acesso da comunidade às informações referentes ao seu patrimônio cultural e às

alternativas de desenvolvimento que o mesmo pode proporcionar.

Segundo Barreto (2000:75) “para os núcleos receptores, trabalhar a tradição como

atrativo ajuda a recuperar a memória e a identidade locais, o que, na atualidade, constitui

um imperativo para manter um equilíbrio saudável entre a manutenção da cultura local e a

incorporação dos avanços positivos da cultura global”.

Porém, o estímulo, a revitalização e a valorização de traços culturais não são

plenamente alcançáveis apenas com a retomada dos costumes em si, mas dependem,

também, de um investimento, tanto financeiro quanto educacional, conjuntamente, para dar

melhores condições às comunidades para que possam dar continuidade e valorizar algo

que, para ela pode parecer comum, mas, aos olhos externos, apresenta-se como diferente,

interessante, curioso, esplendoroso e digno de preservação.

2.3. O processo de Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial e a política

pública municipal intersetorial – educação, cultura e turismo

O processo de salvaguarda do bem considerado patrimônio imaterial,

fundamentado nas ações de valorização, preservação e continuidade do legado cultural,

59

envolve etapas específicas e, às vezes, de desenvolvimento prolongado devido à sua

natureza, pois, a maioria dos bens patrimoniais imateriais não possui muitas referências

palpáveis.

A primeira etapa consiste na identificação do patrimônio cultural que “constitui

trabalho de pesquisa e cadastro de bens de interesse de preservação” (RANGEL, 2002:26)

através do qual é apresentado o requerimento de registro juntamente com a identificação do

proponente, denominação e descrição do bem proposto, documentação iconográfica e

declaração formal do representante da comunidade produtora do bem (BRASIL, 2000).

Já a segunda etapa – o inventário – tem como base as pesquisas realizadas para

identificar o bem e caracterizar o modo como era originalmente produzido, como surgiu e

o significado deste para a população onde se originou. Conforme consta no Programa

Nacional de Patrimônio Imaterial – PNPI (BRASIL, 2000) a estruturação de um relatório

ou dossiê que apresente o registro de todas as referências geradas sobre o bem cultural

resultará no inventário do bem em questão, por meio da aplicação da metodologia do

Inventário Nacional de Referências Culturais – INRC e supervisionado pelo IPHAN.

Como conceituado anteriormente, o patrimônio cultural imaterial é aquele que

passa de uma geração para a outra e, muitas vezes, a oralidade permanece como a principal

forma de transmissão do saber, do estilo de vida e da história e por isso, nem sempre há

algum tipo de documento referente a um bem que se pretende registrar como patrimônio

imaterial. Tal fato faz com que seja necessário, em determinados casos, utilizar a História

Oral para a obtenção dos dados correspondentes ao objeto da pesquisa.

Azevedo (2002) elucida: “A história oral transforma-se em mecanismo capaz de

captar aspectos nem sempre conseguidos via outras fontes de relato”.

No caso do patrimônio imaterial, a História Oral trabalhará a coleta e o confronto

de depoimentos orais de pessoas que ainda cultivem os saberes referentes a um

determinado bem cultural, contribuindo, assim, para o resgate da história do mesmo e

possibilitando uma averiguação de seu percurso histórico, de seu pertencimento a uma

determinada região, localidade ou comunidade e sua importância na vida das pessoas.

Em relação à gastronomia, apenas a existência de um prato muito comum em

determinada localidade – culinária típica – não o caracteriza como patrimônio cultural, pois

é preciso que haja fidelidade quanto ao modo de se preparar, ao aspecto e ao sabor do

60

prato. Esse conjunto somente será alcançado através dos saberes transmitidos ao longo dos

tempos.

Após todos os passos citados e tendo o histórico referencial do bem cultural

devidamente pesquisado, comprovado e documentado, identifica-se em qual dos livros ele

será registrado, sendo esta, uma terceira etapa do processo – o registro propriamente dito.

Os livros de registro, conforme Decreto Federal n° 3.551, de 4 de agosto de 2000,

que institui o PNPI, são subdivididos em quatro categorias a saber:

Livro dos Saberes: para registrar conhecimentos e modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades; Livro de Celebrações: para os rituais e festas que marcam vivência coletiva, religiosidade, entretenimento e outras práticas da vida social; Livro das Formas de Expressão: para registro das manifestações artísticas em geral; Livro dos Lugares:

Neste contexto, as políticas públicas é que dão suporte à salvaguarda. Leis de

incentivo à cultura e parcerias com instituições financeiras para liberação de linhas de

crédito e de financiamento destinados ao investimento em atividades e manifestações

culturais imateriais ainda existentes na comunidade são exemplos de política voltada para a

ação de salvaguarda de um bem ou manifestação cultural imaterial.

para os mercados, as feiras, os santuários, praças onde se concentram ou se reproduzem práticas culturais coletivas (BRASIL, 2000) (Grifo dado pela autora).

E é no Livro dos Saberes que se registra o patrimônio gastronômico como

patrimônio cultural imaterial.

Efetivando-se o registro do bem cultural, este se torna passível de salvaguarda.

Conforme consta no PNPI “salvaguardar um bem cultural de natureza imaterial é apoiar

sua continuidade de modo sustentável. É atuar no sentido da melhoria das condições

sociais e materiais de transmissão e reprodução que possibilitam sua existência” (BRASIL,

2000).

O engajamento da comunidade nas diversas etapas do processo de registro das

manifestações culturais, além de ser uma exigência de IPHAN, conforme consta na página

eletrônica da instituição (www.portal.iphan.gov.br) e no PNPI, pode ser visto como uma

das formas de conhecimento, reconhecimento e valorização da história dessa comunidade,

conseqüentemente, de sua cultura, posto que a proteção, de acordo com Rangel (2002)

também é de responsabilidade da comunidade que tem o papel de salvaguardar,

concorrentemente com os órgãos oficiais, testemunhos de sua trajetória.

61

A criação de políticas sensíveis a questões referentes ao patrimônio cultural como

um todo e à comunidade a qual pertence, é um dos mecanismos que possibilitam a

preservação e conservação do patrimônio material e a salvaguarda do patrimônio imaterial,

pois, conforme abordagem de Rangel (2002:24) “a atuação do poder público deve ser

exercida em caráter normativo, e a preservação deve ser partilhada com organizações

coletivas capazes de uma ação efetiva”.

A política de reconhecimento, valorização e preservação elaborada de forma

participativa pode propiciar o alcance de maior percentual dos benefícios gerados pelo

turismo, mas, não havendo uma integração, uma parceria entre as esferas da sociedade, os

efeitos negativos podem vir a predominar, podendo se destacar, do ponto de vista social, a

exclusão da comunidade local, como exemplifica Meneses (2004:28):

Tiradentes, em Minas Gerais, e Ávila, na Espanha, são dois exemplos casuais [...] que demonstram políticas preservacionistas dotadas de recursos e opções distintos. A primeira evidencia uma política de turismo que exclui a população local do processo de participação na economia do desenvolvimento turístico, limitando os habitantes em sua periferia como hóspedes eventuais da própria casa. [...] A segunda faz o inverso: planeja a atividade de um turismo prolongado e valorativo da herança histórica, com aderência à realidade econômica de sua população, mantendo os moradores participantes da economia advinda da atividade turística.

A atividade turística sem planejamento ou mal planejada, que causa a chamada

apropriação turística do espaço caracterizada pela exclusão, pode gerar, até mesmo, certo

receio quanto à continuidade do uso deste espaço por parte dos próprios residentes.

Além disso, um planejamento, caso seja elaborado com foco apenas na

estruturação local para os serviços turísticos básicos (hospedagem, alimentação e

transporte) contradiz qualquer idéia de preservação e continuidade cultural.

“A falta de planos diretores de ocupação urbana, de obras infra-estruturais que possibilitem a preservação dos conjuntos arquitetônicos, de formas de prevenção de acidentes (como os incêndios, por exemplo) e de planejamento de eventos culturais pode ser fator de exclusão de vidas e de possibilidades econômicas para a própria sobrevivência da aglomeração enquanto bem patrimonial, identidade, herança e tradição” (Op. Cit.: 27 e 28).

Alguns problemas comuns que ocorrerem no campo social são citados por Dias

(2003): ressentimento local resultante do choque de culturas; transformação da estrutura

social de trabalho; saturação da infra-estrutura; transformação dos valores e condutas

morais.

62

Por isso, é importante que o planejamento envolva, entre outros tópicos, um

trabalho de formação, elucidação e acréscimo de conhecimento para a população com base

na retomada de valores sócio-culturais locais, no esclarecimento sobre os efeitos do

desenvolvimento turístico e no reconhecimento do espaço público como área de pacífica

convivência entre visitantes, turistas e residentes. Para que isso ocorra, é preciso o

envolvimento de organismos públicos, terceiro setor e comunidade local.

Barreto (2000) ainda especifica que

a intervenção dos planejadores de turismo pode ser decisiva para que o turismo cultural possa ser um produto realmente autêntico e trazer benefícios não somente econômicos como também socioculturais aos protagonistas. [...] Basta pensar que o produto está dirigido não apenas a uma platéia de curiosos forasteiros, mas também aos próprios cidadãos locais, que seu objetivo é mostrar às gerações jovens qual foi o processo pelo qual sua sociedade passou para chegar ao ponto em que se encontra.

As Secretarias (Divisões, departamentos etc.) de Educação dos municípios têm

participação imprescindível no desenvolvimento e implantação de uma consciência

patrimonial, cultural e turística entre a população em geral e, sobretudo, os jovens

estudantes, como parte do planejamento municipal de forma integrada.

Cabe a este setor da administração pública municipal atuar em conjunto com as

diretorias e o corpo docente das escolas, na elaboração de planos e programas de ensino

que atendam às necessidades e características locais e valorizem o processo histórico da

comunidade.

A própria LDBEN possibilita e incentiva tal abertura escolar em relação a temas

alternativos e de significado peculiar para determinadas comunidades, como consta no

Capítulo II, Seção I, art. 26:

Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da client ela

Visto que tais características regionais e locais não são importantes apenas para

estudantes e turistas, mas, para sociedade como um todo, as Secretarias (Departamentos,

divisões, seções etc.) de Cultura dos municípios também se integram ao planejamento

assumindo seu papel de difusão da consciência patrimonial cultural entre a comunidade,

pois esta é parte integrante dos aspectos sociais que sustentam a existência de um bem

enquanto patrimônio cultural.

(Grifo dado pela autora).

63

A junção de esforços para elaborar o planejamento turístico é justificada pela

“necessidade de se criar uma cultura turística na comunidade local, ou seja, provocar o

envolvimento das pessoas com o turismo como fonte de oportunidades para o município”

(DIAS, 2003:149).

Pensar o turismo de forma integrada é considerar o máximo de variáveis

envolvidas no processo. Assim, “o lucro tão perseguido pelo setor é reformulado, e

consideram-se também como ganhos a conservação ambiental e a manutenção dos

costumes locais, bem como o respeito à rotina dos espaços receptores” (PORTUGUEZ,

2001:122).

A articulação entre os setores de cultura, educação e turismo pode transformar o

patrimônio imaterial em oportunidade de desenvolvimento, mas é necessário levar em

conta que os locais turísticos “necessitam, antes de tudo, estar fortalecidos cultural,

ambiental e economicamente, para que o contato com os outros povos não consiga fazer

desaparecerem costumes e culturas muitas vezes seculares” (ROMERO, 2003:63).

O processo de Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial pode alavancar essa

proposta de fortalecimento local, a exemplo do que demonstra Machado (2002:17):

Ações de inventário ou de tombamento de bens culturais ou de comunicação sobre as intervenções para a conservação desses bens, dentre outros, podem ser usadas para a educação patrimonial, uma vez que levam à comunidade a oportunidade de entender, valorizar e proteger seu patrimônio cultural.

Todo trabalho que promova uma mudança de atitude da sociedade colocando os

cidadãos como atores do processo, soma-se ao planejamento turístico e à preservação

cultural. Dias (2003) sugere a incorporação de organizações não governamentais, escolas e

instituições de ensino superior na discussão sobre o desenvolvimento turístico, bem como

realização de atividades culturais, shows, exposições, teatros, que também proporcionam

lazer e conhecimento aos residentes.

Ainda como alternativa de preservação, Melo Neto (2001) apresenta os eventos

como sendo capazes de desempenhar papéis diversos no contexto do desenvolvimento e

preservação do patrimônio cultural quando estruturados com base no desenvolvimento de

focos de irradiação da cultura, objetivando aumentar a circulação de produtos culturais e

ampliar o mercado desses produtos.

Complementando tais sugestões, pode-se acrescentar, conforme elencado pelo

Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA/MG)

64

pesquisas escolares, feiras culturais que abordem o tema, palestras informativas para a

comunidade em geral e outras formas que sejam aplicáveis à realidade do local e da cultura

a ser valorizada e fortalecida65

2.4. Educação Patrimonial e Algumas Práticas Bem Sucedidas

.

No processo de globalização, onde, de certa forma, tudo se interliga, o turismo ou

a atividade turística se apresenta como um dos propulsores, dado sua característica de troca

e envolvimento de conhecimento, cultura, experiências comerciais, prestação de serviços,

questões ambientais, ou seja, pela proximidade entre povos que a atividade propicia e, por

isso mesmo, é preciso atentar-se para a difusão e preservação dos valores culturais

peculiares de cada localidade.

A educação patrimonial é um tema relativamente recente, mas que já oferece

algumas conceituações concretas. De uma maneira geral visa à preservação, conservação e

difusão do patrimônio cultural como um todo e sua importância para as comunidades às

quais pertencem.

Horta (2001:03) aborda a questão referente à educação patrimonial direcionada ao

ensino, argumentando que esta “consiste em provocar situações de aprendizado sobre o

processo cultural e, a partir de suas manifestações, despertar no aluno o interesse em

resolver questões significativas para sua própria vida pessoal e coletiva”.

É importante que haja uma conexão entre a construção de um bem cultural e seu

significado no tempo presente.

Com uma abordagem muito próxima, Figueiredo (2002:57) diz que “a idéia básica

da educação patrimonial é, em primeiro lugar, [...] despertar a sensibilidade da comunidade

escolar sobre a importância de valorizar e entender os sinais e registros do passado”.

Para uma camada específica da sociedade, em épocas passadas, desde o século

XVII, a educação já caminhava lado a lado com as viagens e o conhecimento de culturas, a

exemplo do que apresenta Rodrigues (2001:15): “as boas famílias mandavam seus filhos

completarem a educação com viagens nas quais aprendiam línguas e costumes de outros

65 Disponível em <http://www.iepha.mg.gov.br>.

65

povos, compravam obras de arte e visitavam os monumentos de antiguidades, como o

Fórum, em Roma”.

Com o tempo, esse acréscimo de conhecimento deixa de ser privilégio de poucos e

passa a integrar os currículos escolares, e, atualmente, baseado nos Parâmetros Curriculares

Nacionais (PCNs), a Pluralidade Cultural assume lugar de destaque no ensino:

Esse tema propõe uma concepção que busca explicitar a diversidade étnica e cultural que compõe a sociedade brasileira, compreender suas relações, marcadas por desigualdades socioeconômicas e apontar transformações necessárias, oferecendo elementos para a compreensão de que valorizar as diferenças étnicas e culturais não significa aderir aos valores do outro, mas respeitá-los como expressão da diversidade, respeito que é, em si, devido a todo ser humano, por sua dignidade intrínseca, sem qualquer discriminação66

66 Disponível em <http://www.mec.gov.br/pnde/pcn>.

.

O ensino fundamental pode contribuir com o turismo por meio da educação

patrimonial como forma de promover uma base de conhecimento cultural e humanístico

para os estudantes, desenvolvendo, assim, um olhar crítico/analítico voltado para questões

de convivência, direitos e deveres do ser humano em geral e do cidadão em relação ao seu

espaço.

Os PCNs propõem um enfoque diferenciado, onde o conteúdo deixa de ser um fim

em si mesmo e passa a ser visto como meio para que os alunos desenvolvam as

capacidades que lhes permitam produzir e usufruir os bens culturais, sociais e econômicos.

Para expressar os propósitos da educação, Carsalade (2002:66-67) estabelece

alguns focos de análise:

Ensino não é repasse de informações, mas criação de patrimônio pessoal; não é adestramento, mas incentivo à autonomia pessoal; não é informar, mas formar; não é reprodução da realidade, mas ferramenta para sua transformação sustentável; aprender envolve memória pessoal e coletiva.

Reforçando tal argumentação, Meneses (2004:56) expõe: “Necessário e

fundamental é que as ações de apreensão e interpretação do patrimônio cultural sejam

motivadas e movidas por atitudes amplas e interdisciplinares que possibilitem a informação

correta e rica de interpretações problematizadoras”.

Conteúdos curriculares envolvendo o legado cultural de determinada sociedade

possibilitam ao educando melhor estruturação em sua formação enquanto cidadão, a

exemplo do que aborda Rangel (2002:16):

66

A educação patrimonial tem a função de: promover, a partir do meio, sobre o meio e para o meio, a percepção da importância de preservar nosso patrimônio cultural, buscando a apropriação dos bens culturais por parte da sociedade brasileira, co-gestora, fruidora e principal destinatária desses bens, e a sua participação direta e efetiva nas ações de proteção de nossos bens culturais.

A educação patrimonial baseada no “meio” do qual fala Rangel, está ligada não

apenas aos educandos, mas apresenta conexões entre a escola e a comunidade, visto que

esta faz parte do “meio” em que está inserida a escola.

Na descrição dos conteúdos obrigatórios para o primeiro ciclo do ensino fundamental, por exemplo, o eixo temático é a história local e do cotidiano. O professor é orientado a enfocar preferencialmente diferentes histórias do local em que o aluno vive. Segundo o texto do documento, o objetivo é que os estudos da história local ampliem a capacidade do aluno de observar o seu entorno para a compreensão de relações sociais existentes no seu próprio tempo.67

67 Disponível em: <http://www.revista.iphan.gov.br>

Trabalhar a educação patrimonial nas escolas é atuar, também, em prol da

inclusão e da identidade, ao passo que os atores existentes na escola mantêm relação direta

com outros cidadãos e esta relação pode causar um efeito cascata benéfico para o

reconhecimento e valorização cultural por parte da comunidade como um todo e suporte

para o desenvolvimento local em geral e turístico.

Na literatura, até o presente momento (Jan. 2009), pouco se encontra sobre

gastronomia vista como parte integrante do patrimônio cultural e sobre ações de educação

patrimonial que envolvam, diretamente, a gastronomia. Mas, desde a ratificação do Brasil

sobre a Convenção para Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, alguns projetos,

parceiras e ações vêm surgindo.

Educação Patrimonial, durante muito tempo, privilegiou o Patrimônio Material.

Atualmente, com a nova ótica dos PCIs sobre o tema, a tendência é ampliar a abordagem

incluindo os eventos e os costumes das comunidades, mas a gastronomia, por estar

incorporada ao cotidiano, tende a ser relegada num plano bem menor como patrimônio

cultural.

Experiências Brasileiras em Educação Patrimonial

Um trabalho considerado projeto piloto em educação patrimonial, através do qual

buscam-se bases e referências para desenvolvimento de novos projetos com os mesmos

objetivos foi o Projeto Sustentar.

67

Tal projeto, lançado em São Luis – Maranhão, em 2006, tem como objetivo dar

maior visibilidade ao Bairro Desterro, “por meio da valorização do seu patrimônio

histórico e da promoção das riquezas culturais genuínas da tradição ludovicense, como o

tambor de crioula, a gastronomia típica maranhense e o artesanato de pintura em

azulejo”68

Por intermédio da Cooperativa de Gastronomia Típica do Desterro, hoje os visitantes já podem experimentar a culinária local, degustando os pratos típicos oferecidos por moradores, e conhecer melhor a história da capital maranhense, assistindo ao espetáculo teatral "De volta ao passado".

.

Esta iniciativa deu-se através da parceria entre o Movimento Brasil de Turismo e

Cultura, o SEBRAE e o Instituto de Hospitalidade, mas, atualmente já conta com o apoio

de outras entidades, entre elas, Cooperativa de Gastronomia do Desterro, IPHAN-MA e

Núcleo Gestor do Centro Histórico de São Luis.

69

Em entrevista para a Revista do Patrimônio Histórico

Desta forma, a população de São Luis já vivencia os bons resultados gerados pelo

Projeto Sustentar. Pela preocupação com um bairro, toda a cidade foi beneficiada.

Outro bom exemplo pode ser visto em Santa Catarina, na cidade de Laguna, onde

as escolas públicas já trabalham com a educação patrimonial local.

70

O projeto Tesouros do Brasil, de alcance nacional, foi “idealizado para promover

a identificação de novos bens culturais e a revitalização do patrimônio por jovens do

ensino fundamental e médio [...] é patrocinado pelas empresas Fiat, Usiminas e Magnetti

Marelli”

, do IPHAN, professor

Laércio Vitorino de Jesus Oliveira da Silva dá o seu depoimento: “Agora estou trabalhando

com uma história que é a história dos meus alunos.[...] O resultado comum dos projetos é

um aluno mais interessado e motivado. A longo prazo, vem a mudança da mentalidade e a

formação de um cidadão sensibilizado para com suas raízes e identidades culturais”.

O projeto no distrito de Ribeirão Pequeno, em Laguna, coordenado pelo professor

Laércio foi selecionado para o livro Tesouros do Brasil, em 2007.

71

68 Disponível em: <www.movimentobrasil.org.br> 69 Disponível em: <www.movimentobrasil.org.br>. 70 Disponível em: <http://www.revista.iphan.gov.br> 71 Op. Cit.

.

68

A parceria com a iniciativa privada é de extrema importância no desenvolvimento

de projetos desse porte, pois o custo dos projetos geralmente não é pequeno, mas os

resultados positivos obtidos são sempre maiores que seus custos e também geram

reconhecimento e valorização para as empresas parceiras.

A participação dos alunos no projeto Tesouros do Brasil, sempre coordenados por

um professor, se dá através da identificação de um bem cultural da cidade, quer seja

material ou imaterial. Para o engajamento das propostas é preciso “elaborar um relatório

que justifique a relevância de incorporar esse bem ao patrimônio cultural e que fale de sua

importância para a identidade da comunidade [...] e preparar uma proposta de ação de

sensibilização para a valorização e preservação desse bem cultural”72

72 Disponível em: <http://www.revista.iphan.gov.br>.

.

Outras possibilidades de fazer parte deste projeto são através de produções

artísticas, fotografia, pintura, literatura e música.

Tanto no âmbito municipal quanto estadual, as ações existentes pelo Brasil têm

sido desenvolvidas com o mesmo intuito do projeto Tesouros do Brasil. O trabalho com as

escolas tem sido a base do desenvolvimento da educação patrimonial, através do qual é

possível englobar não só os alunos, mas também, seus familiares e demais membros da

comunidade, ampliando, dessa forma, o alcance e os resultados dessas iniciativas, como

será relatado sobre o município de Itabirito, em Minas Gerais.

69

3. EDUCAÇÃO PATRIMONIAL EM ITABIRITO E O PROJETO PASTEL DE

ANGU

3.1. O Município de Itabirito

O município de Itabirito em Minas Gerais está integrado ao Circuito Turístico do

Ouro e ao Destino Turístico Estrada Real (Anexo 02), localiza-se na Rodovia dos

Inconfidentes – BR040/BR356, a 55 Km de Belo Horizonte – capital mineira.

Sua participação no Circuito do Ouro deve-se à base de sua história, diretamente

ligada à mineração, como os demais municípios integrantes desse circuito. Quanto à

Estrada Real, assim como a maioria das localidades mineradoras, Itabirito também era rota

de tropas tanto de venda de animais como as que recolhiam e transportavam os minerais e

as riquezas até os portos para serem enviadas a Portugal, na época do Brasil Colônia.

O surgimento dos primeiros povoados dentre os quais Itabirito originou-se,

ocorreu no final do século XVII devido às primeiras explorações auríferas em Minas

Gerais, sendo que a atividade de mineração do ouro influenciou a economia local até

meados do século XIX quando, na região, começou a apresentar um significativo

desaquecimento (www.itabirito.mg.gov.br).

A partir da década de 1880,

... as instalações dos trilhos da Estrada de Ferro Dom Pedro II, a abertura de empresas nos ramos da siderurgia, tecidos e couro e o crescimento da população passaram a modificar a feição da Sede de Itabirito (antiga freguesia de Itabira do Campo) [...] Esse desenvolvimento tornou-se a base de sustentação para os desejos de emancipação municipal, realizada em 7 de setembro de 1923.73

Das 18 escolas municipais existentes em 2007, 7 estão localizadas na área urbana

e 11 na área rural, porém, três destas últimas tiveram as atividades paralisadas em 2006. A

Durante os mais de 80 anos de sua emancipação, Itabirito veio se desenvolvendo e

recebendo imigrantes, o que fez com que atingisse, conforme a contagem populacional de

2007, 41.523 habitantes (IBGE, 2007) distribuídos nos três distritos (Acuruí, São Gonçalo

do Bação e São Gonçalo do Monte) e na sede do município.

73 Disponível em: <www.itabirito.mg.gov.br>

70

maioria das escolas municipais está direcionada ao ensino fundamental desde a fase inicial

até a 4ª série e, apenas três, no total, atendem a estudantes de 5ª a 8ª séries74

3.2. O Pastel de Angu, o Projeto Pastel de Angu e seus Desdobramentos

.

A estrutura econômica da cidade está ancorada, principalmente, na mineração,

siderurgia e comércio, mas, recentemente, a realização de eventos culturais e o turismo

(alavancado pelos eventos) têm proporcionado uma movimentação econômica diferenciada

tendo, entre os eventos locais, a JULIFEST e a Festa do Pastel de Angu como os de maior

repercussão para a cidade.

No atual contexto de valorização do patrimônio cultural e da memória do

município de Itabirito encontra-se o Pastel de Angu (Apêndice 02), iguaria gastronômica

local, surgida no Século XIX, na época em que a cidade se chamava Itabira do Campo e

era Distrito de Ouro Preto.

O processo de valorização e resgate da memória local através do Pastel de Angu

se fez baseado na articulação entre os setores de turismo, cultura e educação da

administração pública, revelando-se como uma experiência proveitosa (Palavras do

Secretário Municipal de Patrimônio Cultural e Turismo de Itabirito – Apêndice 04), visto

que a iguaria parece ter se incorporado à cultura e identidade local tornando-se, inclusive

uma nova alternativa de geração de renda.

Considerado, pelos Itabiritenses, patrimônio cultural imaterial, o Pastel de Angu

teve sua criação na Fazenda dos Portões, que em 1796 pertencia ao Sr. José Ferreira de

Aguiar e que, com o seu falecimento, em 1846, foi passada a seus filhos e estes, em 1850, a

venderam ao Sr. David Pereira Lima, porteira fechada, com escravos, benfeitorias e todos

os animais75

Conforme consta do documento elaborado para solicitar o registro do Pastel de

Angu como Patrimônio Imaterial – Dossiê de Registro do Pastel de Angu (Prefeitura

Municipal de Itabirito, 2005), os escravos aproveitavam a sobra do angu, recheavam com

umbigo de banana

.

76

74 Op. Cit. 75 Disponível em: <www.itabirito.mg.gov.br>. 76 Umbigo de Banana ou de bananeira: Espécie de uma flor roxa localizada na ponta do cacho de bananas.

(Apêndice 03) e depois fritavam aquele bolinho – o pastel. A

matriarca da fazenda de David Pereira Lima, dona Ana Joaquina de Lima, tinha bom

relacionamento com as escravas e levou duas delas para dentro de casa.

71

No histórico do Dossiê constam os nomes de dois personagens importantes: Philó

e Maria Conga, que teriam sido as primeiras escravas a fazer o pastel (Apêndices 06 e 07).

Na falta de uma complementação de carne, a necessidade e a criatividade das

negras as fizeram usar um guisado feito com umbigo de banana, porém em algumas

raríssimas ocasiões as escravas, em sua lida na cozinha, escamoteavam pedaços de carne

escondendo-os nos roletes de angu e assando-os em rústicos fornos feitos com cupinzeiros.

A forma original do Pastel de Angu era arredondada, o recheio colocado sobre a

massa era enrolado e depois achatado para ser assado, e recebiam o nome de “Boroa”.

A forma atual ocorreu no Século XIX, por volta de 1885, pelas mãos de Dona Ana

da Prata Baêta, conhecida por “Dona Saninha da Prata" que, em 1915 passou a receita para

sua nora Dona Emilia Martins Baêta, apelidada de “Dona Milota”, falecida em 1972. Dona

Milota fazia os Pastéis de Angu e os vendia para auxiliar nas despesas domésticas77

Muito difundido em Itabirito, sua fama e receita romperam as fronteiras do

município, sendo levadas para Belo Horizonte, Itabira, Conceição do Mato Dentro, General

Carneiro, Sabará e dezenas de outras cidades, inclusive no Estado de São Paulo

.

78

Até hoje a receita é passada de mãe para filha, conservando fielmente o modo de

preparo e cocção correta. Os ingredientes utilizados devem ser de primeira qualidade (fubá

de milho moído em moinho movido à água, polvilho especial, etc.) Já o recheio, além do

umbigo de banana, ainda é oferecido com bacalhau, carne de boi moída, carne de frango e

também de queijo

.

Falam os mais antigos, que a família Gonçalves teve um papel importante na

divulgação desta iguaria fora de ltabirito, pois o próprio Dr. Guilherme Gonçalves, em suas

visitas médicas longe de ltabira do Campo, às vezes comentava sobre o delicioso “Pastel de

Angu”, despertando em todos a curiosidade de obter a receita.

79

77 Disponível em: <www.itabirito.mg.gov.br> 78 Disponível em: <www.portalitabirito.com.br> 79 Disponível em <http://www.itabirito.mg.gov.br>.

.

Conforme informações obtidas através de entrevista ao Secretário Municipal de

Patrimônio Cultural e Turismo – gestão 2005/2008, a Secretaria de Educação da

administração 2001/2004 tinha como secretário um historiador que criou um movimento

para fortalecer a identidade do Pastel de Angu nas escolas, daí se criou uma festa escolar

baseada no Pastel de Angu.

72

A atual gestão – 2005/2008 – analisando a festa optou pela sua continuidade. A

partir de então, a Festa do Pastel de Angu, um evento que surgiu de um movimento escolar,

começou a ter um trato mais turístico. A Festa, que antes era realizada apenas pela

Secretaria de Educação, hoje conta com a parceria da Secretaria de Patrimônio Cultural e

Turismo. Conforme palavras do Secretário de Patrimônio Cultural e Turismo, “a tendência

é a festa aumentar ainda mais, devido à troca de experiência com organizadores do Festival

de Gastronomia de Tiradentes, porém, sem deixar perder a essência de festa escolar, mas

dando a ela uma conotação mais voltada para o Pastel como um ícone de gastronomia”.

Em 2005, em um esforço conjunto das duas Secretarias promotoras (a de

Educação e a de Patrimônio Cultural e Turismo), foi efetuada uma sensibilização para

envolver ainda mais as escolas. De acordo com as declarações obtidas, atualmente a Festa

paralisa as escolas. Na semana do evento elas ficam por conta do Pastel de Angu. As

crianças comem o Pastel de Angu na escola, aprendem a fazer o Pastel, fazem trabalhos a

respeito disso, fazem os convites da Festa dentre outras atividades com o Pastel de Angu

como destaque.

Na opinião da quitandeira – Dona Inês, “o pastel é o ouro de Itabirito, pela cor,

porque dá renda pra todo mundo” (Apêndice 05) e ela ainda complementa dizendo que

“todo mundo que quer ganhar um dinheiro, este pastel de angu é o ouro de Itabirito e eu

falo isso porque eu ganho com ele. Meu trabalho é o pastel de angu.”

Segundo o Secretário Municipal de Patrimônio Cultural e Turismo, há alguns anos

o SEBRAE deu um treinamento para os artesãos que elegeram dois temas como foco dos

trabalhos – as Flores de Maio e o Pastel de Angu (tradições de Itabirito), através dos quais

foram criados vários produtos. Diante disso, uma artesã chamada Geralda desenvolveu

uma linha artesanal baseada na história do Pastel de Angu, com a Maria Conga e a Philó,

escravas que criaram tal pastel. Estas escravas se tornaram, através das mãos da artesã,

bonecas pretas que vêm sempre com um cesto contendo o pastel de angu ou o fubá

(Apêndices 08 e 09). Em seu depoimento, o Secretário de Turismo ressalta que “a Geralda

já participou do programa de televisão Terra de Minas, foi página do jornal Estado de

Minas, já fez todas essas redes de TV locais e já foi também para o Mais Você, programa

da Ana Maria Braga, na Rede Globo, com repercussão internacional, através da história das

bonecas dela e, agora, ela está preparando uma exposição”.

73

Com base no treinamento ministrado por profissionais do SEBRAE, uma série de

outras coisas foi desenvolvida em torno do Pastel de Angu e este desdobramento é muito

importante para a cultura, o desenvolvimento da economia e da atividade turística local.

No concurso para o projeto Tesouros do Brasil, no ano de 2005, alguns trabalhos

de Itabirito foram selecionados e uma escola “defendeu” o Pastel de Angu. Na última

versão a FIAT, uma das promotoras do projeto, solicitou para que toda a divulgação fosse

feita relacionada ao Pastel de Angu, devido à caracterização feita na defesa da escola.

“Além do conteúdo histórico, é mais uma relação de identidade da comunidade com o

produto”, comenta o Secretário.

Assim como a artesã Geralda e o trabalho escolar realizado em Itabirito, a

quitandeira Dona Inês conta que também ganhou espaço fora de Itabirito: “Eu já cheguei

até no Japão. Já fiz uma filmagem da receita do pastel de angu para passar nos vôos da

GOL, já fui fazer filmagem com a GLOBO, 3 vezes já fui pra GLOBO, tem filmagem

minha na BAND, tem filmagem minha na REDE MINAS que passa receitas no sábado.”

Diante de todos estes acontecimentos, conforme explica a Chefe de Divisão de

Memória e Patrimônio, “a Memória e Patrimônio começou a perceber que o Pastel de

Angu poderia ser um bem imaterial que pode e deve ser protegido.” Conforme ela explica,

“existe uma competição entre algumas cidades que querem que o Pastel de Angu seja de lá.

Mas Itabirito largou na frente, deu um trato diferente à iguaria, pesquisou e procurou

registrar como Patrimônio Imaterial”.

A partir da pesquisa das origens do Pastel de Angu foi preparado um Dossiê para

o IPHAN com todo o respaldo que fez vislumbrar a possibilidade do registro como

patrimônio imaterial e, até, buscar um registro por uma série de fatores, incluindo o próprio

benefício do ICMS cultural, porém, a Chefe de Divisão conta que “o IPHAN alegou que,

devido ao grande número de pedidos de produtos gastronômicos para registro, precisa

estudar melhor o caso, mas, de qualquer forma, o mais importante já aconteceu: o próprio

município se apropriou da questão do pastel de angu, e era exatamente isto o mais

esperado. O IPHAN não está priorizando prato típico de nenhuma localidade ele está mais

ligado ao registro dos derivados, da matéria prima utilizada”.

O registro no IPHAN foi solicitado pela Divisão de Memória e Patrimônio devido

à própria importância que o Pastel de Angu criou e, segundo o Secretário, a inclusão dos

alunos pode ser explorada de várias formas, porque a divisão de patrimônio trabalha em

74

várias vertentes dentro das escolas, com educação patrimonial, preparando os professores

através de oficinas de memória viva, tendo o Pastel de Angu como objeto destas oficinas.

Além de tudo isso vários documentos de outras cidades que já têm legislação

sobre patrimônio imaterial foram estudados para que se possa estruturar uma legislação

própria.

Hoje Itabirito atrai turistas exclusivamente devido ao Pastel de Angu, não apenas

na Festa do Pastel de Angu, mas também em outras ocasiões. O consumo do pastel de angu

aumentou dentro e fora da cidade. Além da produção caseira, já existem fábricas, o produto

passou de artesanal para industrializado, mas, apenas os artesanais se enquadram como

patrimônio cultural. Não existia esta procura pelo Pastel de Angu, até aproximadamente

uns 15 anos atrás somente algumas famílias detinham as receitas. Hoje, o negócio do Pastel

de angu se firmou na esfera municipal, sua receita se popularizou e já atingiu escala

regional e até estadual.

3.3. A Festa Anual do Pastel de Angu

Atualmente, o município de Itabirito já é conhecido como a cidade do Pastel de

Angu.

Outras cidades também exploram o mesmo segmento, mas sem o mesmo êxito,

pois na realidade, Itabirito é a mais beneficiada pelo Pastel de Angu devido ao trabalho e

ao pioneirismo local, “porque foi tudo muito bem trabalhado e estruturado em cima da

idéia”, completa a Chefe de Divisão.

Devido à proximidade da Festa do Pastel de Angu com a Julifest (outro evento

importante da cidade), com características tão diferentes, onde a Julifest aparecia bem

maior e mais rica que um evento escolar, ficou resolvido que era necessário dar identidades

distintas a ambas. O Secretário explica que “a Festa do Pastel de Angu, uma festa

tipicamente escolar, não exigia grandes artistas, não exigia grandes estruturas, mas

atualmente está exigindo, ou seja, no Julifest se gasta em torno de R$ 500 mil e numa Festa

do Pastel de Angu o gasto é de aproximadamente R$ 40 mil e tem uma mídia espontânea

muito maior que a própria Julifest. Isto, porque é o Pastel de Angu, porque é educação

patrimonial, porque está se trabalhando a questão da aproximação de uma comida com o

turismo e as escolas”. Ainda expõe que, “em dois dias, vendem-se 50 mil Pastéis de Angu,

75

logo, começou a tomar proporções muito grandes, observando-se um fenômeno

interessante, porque, enquanto na Julifest temos que ficar atrás de datas de cantores para

ver quem pode comparecer ou não, porque ela depende de um grande nome para se

efetivar, na Festa do Pastel de Angu, as pessoas ficam atrás da Secretaria de Patrimônio,

Cultural e Turismo para vir se apresentarem”.

Com exemplo foi citado o Minas ao Luar que procura se apresentar próximo à

Festa do Pastel de Angu. A festa ganhou status, e as diretoras das escolas já começam a ter

um trato especial se dedicando mais. Criou-se uma identidade forte.

O Pastel de Angu virou uma estratégia mercadológica. Comercialmente hoje

existem duas fábricas do Pastel na cidade, o produto tornou-se exigência do público nos

supermercados, bares e restaurantes. Se for observado o fluxo da festa do Pastel de Angu,

em um final de semana, se movimenta, no mínimo, R$ 1,5 milhão na cadeia produtiva,

considerando taxa de ocupação máxima nos hotéis, abastecimento de combustíveis,

provocou-se uma mecanização. “Além de vários artesãos trabalhando o tema (bordados,

bicos de crochê, bonecas e outros), hoje, qualquer escola em Itabirito tem uma pesquisa ou

trabalhinho sobre o Pastel de Angu”, segundo o Secretário.

Os entrevistados ainda expõem que “existem pessoas que dizem que o Pastel de

Angu não é coisa antiga, e sim atual. Mas dizem isso porque simplesmente não o

conheciam, o Pastel de Angu era um produto de família tradicional, que foi passando de

mãe para filha e não havia se disseminado entre a população em geral”.

O Pastel de Angu significa hoje a principal fonte de renda para uma camada da

população itabiritense, não só o produto em si, mas outros que se desdobraram a partir

dele. No caso do artesanato com o pastel de angu, tem famílias inteiras trabalhando e

vivendo da produção de peças.

3.4. A Pesquisa

Durante o Festival do Pastel de Angu, dias 07 a 08 de junho 2008, foi realizada

uma pesquisa para identificação de diversas informações que norteassem as ações da

Prefeitura Municipal de Itabirito para o desenvolvimento do turismo e do trabalho de

educação patrimonial.

76

O procedimento metodológico foi a pesquisa exploratória, que, segundo Denker

(2003) procura aprimorar idéias ou descobrir intuições, com uma abordagem qualitativa

que, ao entender de Martins (2006) visa a descrição, compreensão e interpretação de fatos e

fenômenos, utilizando-se, para tanto, a entrevista semi-estruturada aplicada aos

frequentadores do evento. Durante os dois dias do evento quatro entrevistadores atuaram

correntemente aplicando as entrevistas, tendo conseguido, ao final do evento, um total de

180 entrevistados.

Os resultados obtidos após tabulação dessa pesquisa (Modelo da pesquisa:

Apêndice 10) ofereceram os dados apresentados a seguir:

83,33 %

15 %1,67 %

Itabirito

Minas Gerais

Outros Estados

GRÁFICO 1 – Local de Residência

40,56 %

23,89 %

30 %

3,33 %Pastel de angu (iguaria, cultura e tradição)

A festa (como um todo)

Outros (amigos, familiares, shows, falta de opção etc)Não responderam

GRÁFICO 2 – Principal motivo para estar no evento

• Dos 180 entrevistados, 150 são do próprio município, conforme GRÁFICO 1, o que

demonstra a necessidade de um trabalho de divulgação mais abrangente fora do

município e, a maioria – 73 pessoas – citou o pastel de angu enquanto iguaria, cultura e

tradição, como principal motivo de participação no evento, conforme GRÁFICO 2,

afirmando a atratividade turística de uma iguaria.

77

42,78%

38,33%

18,89%Familiares

Em grupo / amigos

Sozinho / casal

GRÁFICO 3 – Companhia para o evento

60

90

21

6 3

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

1 dia / 45% 2 dias / 55%

Núm

ero

de r

espo

stas

Percentual de participação

Itabirito

Minas Gerais

Outros Estados

GRÁFICO 4 – Participação no evento

• Como companhia para o evento, 71 entrevistados de Itabirito e 6 de Minas Gerais

correspondem aos 42,78%, 53 de Itabirito, 14 de Minas Gerais e 2 de Outros Estados

correspondem aos 38,33% e, 26 de Itabirito, 7 de Minas Gerais e 1 de Outro Estado são

referentes aos 18,89% restantes representados no GRÁFICO 3 e houve maior percentual

de freqüentadores dos dois dias de evento (GRÁFICO 4)

78

54

36

1712

27

106

2 3 21 1 10

10

20

30

40

50

60N

úmer

o de

ent

revi

stad

os

Itabirito

Minas Gerais

Outros Estados

GRÁFICO 5 – O que mais agradou no evento • Os itens considerados de maior agrado foram, primeiramente, o pastel de angu/a

comida, seguido pelas apresentações culturais – danças, representações teatrais e shows.

Uma parcela se dividiu entre movimento e diversão e a festa como um todo, mas, alguns

ainda se prenderam a outros detalhes como decoração, segurança e organização,

movimento, animação do pessoal. Desta forma, percebe-se o conjunto de valores

agregados ao pastel que devem ser cuidadosamente analisados e planejados antes da

realização da Festa.

48

22

50

30

85 7 7

1 1 10

10

20

30

40

50

60

Nada desagradou - 31,67%

Falta de asfalto/poeira -

15%

Poucas mesas, filas e bandas -

32,22%

Não responderam - 21,11%

Núm

ero

de e

ntre

vist

ados

Itabirito

Minas Gerais

Outros Estados

GRÁFICO 6 – O que mais desagradou no evento

79

• O principal desagrado foi a poeira que o local gera por não ser asfaltado, mas para tal

decisão, o correto seria fazer uma avaliação para identificar os impactos ambientais em

relação à execução da Festa no local e em relação ao asfaltamento. Quanto aos outros

motivos, foram muito variados, além dos citados no gráfico, apareceram outros como

“faltou mulher”. Considerações irrelevantes e que não dependem dos organizadores.

GRÁFICO 7 – Participaram da festa em 2007

• Não havendo pesquisas sobre as edições anteriores da Festa do Pastel de Angu, exaure-

se a possibilidade de comparação entre os números de participantes freqüentes e o

aumento ou diminuição do público.

0,55% 0,55% 1,67%

5,56%

7,22%

13,89%

29,44%

17,78%

19,44%

3,90% Nota 2

Nota 3

Nota 4

Nota 5

Nota 6

Nota 7

Nota 8

Nota 9

Nota 10

Não responderam

GRÁFICO 8 – Avaliação geral do evento

• Para avaliar o evento utilizou-se notas de 0 a 10, estando representadas no GRÁFICO 8

apenas aquelas que receberam alguma marcação. E conforme análise das notas, o

80

Festival do Pastel de Angu é um evento de qualidade, mas que ainda pode ser

melhorado em alguns aspectos.

85

36

12 11

2 1 311 9

2 2 31 1 10

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Itabirito

Minas Gerais

Outros Estados

GRÁFICO 9 – Pretensão de gastos no período

• Utilizando os dois maiores percentuais de pretensão de gastos dos turistas (Minas Gerais

e Outros Estados) e calculando a média simples entre eles, se obtém o valor de R$45,00

(quarenta e cinco reais) gastos por pessoa. Correspondendo aos entrevistados, 21

pessoas deixam no município, aproximadamente R$945,00 (Novecentos e quarenta e

cinco reais) e, se for acrescentado o turista que gastará entre R$211,00 e R$240,00, com

uma média de R$225,50 (Duzentos e vinte e cinco reais e cinqüenta centavos) passa-se

a uma geração de R$1.170,50 (Um mil, cento e setenta reais e cinqüenta centavos) em

divisas para o município. Tais valores não são expressivos tratando-se apenas de 30

turistas, mas servem de parâmetro para a importância da divulgação e da captação de

turistas para a festa. Havendo um número maior de turistas, aproximadamente 1000,

com as mesmas pretensões de gastos durante o período do evento, em um final de

semana seriam deixados na cidade o montante equivalente a R$1.170.050,00 (Um

milhão, cento e setenta mil e cinqüenta reais). Além disso, a circulação de divisas

também é aumentada através dos gastos dos próprios itabiritenses.

81

As próximas abordagens apresentadas foram feitas apenas aos turistas por se

tratarem de informações com direcionamento de interesse específico.

22

2 3

1

2

0

5

10

15

20

25

Carro particular -76,67%

Ônibus de linha -13,33%

Outros - 10%

Outros Estados

Minas Gerais

GRÁFICO 10 – Meios de transporte

• Tendo o carro particular como principal meio de transporte utilizado pelos turistas,

deve-se dedicar atenção à questão do estacionamento do evento para que este comporte

o maior número de veículos à medida que a Festa do Pastel de Angu for crescendo e

adquirindo mais adeptos. Os outros transportes citados foram Van e moto, que também

utilizam o estacionamento local.

2 17

15

2

3

02468

10121416

Hotéis Urbanos 6,67%

Pensão -3,33%

Casa de parentes e

amigos -33,33%

Não se hospedam na cidade - 50%

Outros (sem especificação)

6,67%

Outros Estados

Minas Gerais

GRÁFICO 11 – Tipos de hospedagem

82

• Mesmo sendo uma festa que movimenta um grande número de pessoas, o Festival do

Pastel de Angu ainda não gera um número significativo de hospedagens para o

município de Itabirito, conforme mostra o GRÁFICO 11.

9

18

3

0

5

10

15

20

25

Sim - 30% Não - 70%

Outros Estados

Minas Gerais

GRÁFICO 12 – Utilização de bares e restaurantes locais

• De todos os visitantes e turistas entrevistados, apenas 9 (de Minas Gerais) freqüentaram

algum bar ou restaurante, o que corresponde a 30% dos mesmos e não representam um

montante significativo.

15

9

1 22 1

02468

10121416

Menos de 1 dia Entre 1 e 2 dias De 2 a 3 dias Mais de 4 dias

Outros Estados

Minas Gerais

GRÁFICO 13 – Tempo de permanência em Itabirito

• Quanto ao número de dias que os turistas pretendiam ficar em Itabirito, o percentual

ficou equilibrado, sendo que 50% não ficariam na cidade e os outros 50% pernoitariam,

no mínimo um dia em Itabirito, mas este percentual não corresponde, obrigatoriamente,

a hospedagens em meios de hospedagem oficial como hotéis e pensões.

83

86,67%

13,33%Indicação de outras pessoas

Outras fontes (jornais, revistas, internet, rádio)

GRÁFICO 14 – Como ficou sabendo do Festival

• A indicação de outras pessoas foi a principal forma de informação citada por 23 turistas

de Minas Gerais e 3 de Outros Estados, sendo que apenas 4 pessoas se informaram

através de jornais, revistas, internet, rádio. Fato comprovante de que a influência direta

de amigos, parentes e comentários de alguém que já conhece o evento é uma excelente e

eficaz forma de divulgação, mas não se pode abandonar a divulgação profissional.

26,67%

73,33%

Primeira vez

2 vezes ou mais

GRÁFICO 15 – Quantas vezes já esteve em Itabirito

• A maioria dos Mineiros freqüentadores do Festival do Pastel de Angu de 2008 já esteve

em Itabirito mais de uma vez, sendo que apenas 5 deles e os 3 turistas vindos de outros

estados estavam pela primeira vez na cidade.

53,33%

46,67% SIM

NÃO

GRÁFICO 16 – Visitou algum atrativo de Itabirito

• 16 visitantes/turistas (Minas:15 e Outros Estados:1) visitaram atrativos locais, sendo o

Cristo, o atrativo mais citado. 12 não visitaram atrativos e 2 não responderam à questão.

84

93,34%

3,33% 3,33%

Sim

Talvez

Não

GRÁFICO 17 – Pretende retornar a Itabirito

• Dos 30 turistas/visitantes entrevistados, 28 pretendem voltar a Itabirito, principalmente

durante a JULIFEST que é outro evento de grande porte e atrai pessoas de diversos

lugares, o que demonstra a atratividade dos eventos de Itabirito.

14

68

53

1

1

1

0

2

4

6

8

10

Nota 5 3,34%

Nota 7 13,33%

Nota 8 20%

Nota 9 30%

Nota 10 20%

Não responderam

13,33%

Outros Estados

Minas Gerais

GRÁFICO 18 – Avaliação geral do município

• Como forma de avaliação geral do município foram oferecidas opções de 0 a 10, das

quais serão expostas apenas as que receberam marcações. A maioria dos entrevistados

demonstrou ter gostado muito da cidade, baseando suas notas de 8 a 10, mas o pequeno

percentual que deu nota 5 e 7 deve ser levado em consideração para avaliar possíveis

melhorias para o município.

As últimas abordagens voltam a incluir os residentes em Itabirito por

vislumbrarem informações de interesse geral.

85

80 70

1116

12

0

20

40

60

80

100

Feminino 51,11%

Masculino 48,89%

Qua

ntid

ade

de P

esso

as

Outros Estados

Minas Gerais

Itabirito

GRÁFICO 19 - Sexo

• Dos 180 entrevistados, 92 eram mulheres (Minas: 11; Outros Estados: 1; Itabirito: 80),

representando 51,11% e 88 eram do sexo masculino (Minas: 16; Outros Estados: 2;

Itabirito: 70) representando os outros 48,89%.

22

5442

24 5 2 1

3

16

4

4

1

1

1

01020304050607080

Menor que 21 anos

De 21 a 30 anos

De 31 a 40 anos

De 41 a 50 anos

De 51 a 60 anos

Mais de 60 anos

Não respondeu

Qua

ntid

ade

de P

esso

as

Outros EstadosMinas GeraisItabirito

GRÁFICO 20 – Faixa etária

• A faixa etária ficou representada conforme demonstra o GRÁFICO 20, tendo como

maioria predominante, pessoas entre 21 e 30 anos de idade, equivalendo a 39,44% dos

entrevistados, seguido por pessoas entre 31 e 40 anos de idade, correspondendo a

26,11% dos mesmos entrevistados.

86

7

27

13 15

3

1

66

1

1

0

5

10

15

20

25

30

De 1a. a 4a. 4,44%

De 5a. a 8a. 15,56%

Superior Incompleto

11,10%

Superior Completo

11,67%

Pós Graduação

1,67%

Qua

ntid

ade

de P

esso

as

Outros Estados

Minas Gerais

Itabirito

GRÁFICO 21 - Escolaridade

• A predominância do nível de escolaridade foi o ensino médio, 100 entrevistados, sendo

84 de Itabirito, 15 de Minas Gerais e 1 de Outros Estados, o equivalente a 55,56% dos

180 entrevistados. As outras opções, que vão de “sem estudo” a “Pós graduação”,

ficaram assim distribuídas conforme Gráfico 21.

16 20

94

14 2 1

4

13

4

2

0

20

40

60

80

100

120

Não possui 10%

Até 1 SM 3,89%

De 1 a 5 SM 0,56%

De 5 a 9 SM 10%

De 9 a 13 SM 1,67%

De 13 a 17 SM 0,55%

Qua

ntid

ade

de P

esso

as

Outros EstadosMinas GeraisItabirito

GRÁFICO 22 – Renda mensal

• Para o tópico “Renda Mensal” também foram oferecidas diversas alternativas, das quais

serão apresentadas apenas as que receberam marcação. Entre os níveis marcados, há

uma predominância da opção “De 1 a 5 SM”, retratando a realidade financeira da maior

parte dos freqüentadores do evento. Do total de entrevistados, 6 (3,33%) não

responderam a esta pergunta. Obs.: SM significa “salário mínimo”.

87

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Baseado no estudo de caso apresentado, mesmo tendo como maioria de

freqüentadores do Festival do Pastel de Angu o público interno/local, percebe-se que um

patrimônio cultural é capaz de movimentar pessoas e, principalmente, fazer com que a

economia local seja ativada.

Quando trabalhado de forma consciente, cuidadosa e visando desenvolvimento

gradativo do bem cultural enquanto objeto de consumo destinado também a um público

externo – visitantes e turistas – este mesmo patrimônio que movimenta a cidade com a

comunidade local atinge um novo patamar. Transforma-se, vai além, passa a gerar

alternativas de renda e de emprego ativando e incrementando a economia local através de

diversos setores.

No caso da cidade de Itabirito, o trabalho desenvolvido com o pastel de angu,

atingiu e incentivou, em níveis diversificados, o comércio, o artesanato, a área de

hospedagem, o setor gastronômico, empresas e profissionais envolvidos com organização

de eventos e fornecimento de equipamentos para eventos em prol da valorização, do

reconhecimento e da difusão de um bem na qualidade de patrimônio cultural imaterial do

município.

Outras experiências que se iniciaram com características próximas às do Festival

do Pastel de Angu, que perduraram e já ultrapassaram a décima edição como as citadas no

corpo do texto – Tiradentes (Festival Gastronômico), Blumenau (Oktoberfest), São Luiz

(Projeto Sustentar), Campo Mourão (Festa Nacional do Carneiro no Buraco), Caxias do

Sul (Festa da Uva) etc – podem ser analisadas como exemplos positivos que demonstram

que um bem cultural pode tornar-se o eixo de uma engrenagem turística favorável ao

desenvolvimento local no seu aspecto mais amplo, desde a educação, engajamento da

população em prol de novas perspectivas de vida e fontes alternativas de renda,

reconhecimento e reafirmação identitária até a geração e circulação de divisas para o

município como um todo.

O patrimônio cultural imaterial, indiferente de ser trabalhado separadamente ou

em conjunto com o patrimônio cultural material, apresenta-se como algo passível de

receber mais atenção, tanto da iniciativa pública quanto de empresários e da comunidade

88

de maneira geral, para que, com a junção real de esforços se alcance o benefício comum

que a atividade turística deve impulsionar.

Tendo sido o pastel de angu e a cultura local os principais motivos da presença de

visitantes na Festa do Pastel de Angu, reafirma-se, então, que um evento com base em um

patrimônio cultural gastronômico possui real potencial de atratividade turística.

Através da pesquisa realizada, percebe-se que há interesse de turistas e visitantes

pelo evento, porém, a quantidade relativa da freqüência dessas pessoas é, ainda, um pouco

insipiente em relação ao montante do público que a Festa do Pastel de Angu recebe

anualmente – aproximadamente 4.000 pessoas/noite (Apêndice 11), conforme estimativa

dos organizadores em 2008.

Visto que, entre os turistas e visitantes, há uma predominância de pessoas com

nível superior de formação ou em andamento, renda mensal de até 5 salários mínimos e

que vão acompanhados para o evento, seria interessante trabalhá-los como público alvo

vislumbrando o aumento no número destes participantes para as próximas edições.

A atratividade do evento e da iguaria gastronômica poderia ser maior se houvesse

um plano de marketing adequado, buscando seu público alvo, visto que grande parte dos

freqüentadores do evento foi informada sobre sua realização, por outras pessoas – amigos e

parentes – o que demonstra que a divulgação em meios de comunicação oficiais (out-door,

cartazes, folders, TV, rádio etc.) não conseguiu cumprir efetivamente sua função de

informar e atrair.

Elevando-se o número de participantes da festa, automaticamente seriam

aumentadas a injeção e a circulação de divisas no município, aquecendo a economia local

de maneira mais significativa durante o período de realização do evento.

Se as ações para o aumento do número de participantes forem trabalhadas em

conjunto com o aumento do tempo de permanência na cidade, possibilita-se, ainda, geração

de divisas no setor de hospedagem e de alimentos e bebidas (bares e restaurantes),

beneficiando, assim, setores da economia que, ainda, não se apresentam como tendo

ligação direta e significativa com o evento.

89

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, José Vicente de. Turismo: fundamentos e dimensões. São Paulo: Ática, 1995. 215 p.

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6. APÊNDICES

APÊNDICE 01 Fotos do XI Festival de Gastronomia de Tiradentes / 2008.

FOTO: Elaine Cristina Linhares Diniz

APÊNDICE 02

Umbigo de Bananeira e Pastel de Angu

FOTOS: Elaine Cristina Linhares Diniz

APÊNDICE 03

Umbigo de bananeira

FOTOS: Elaine Cristina Linhares Diniz

APÊNDICE 04

Entrevista com o Sr. Ubiraney (Secretário Municipal de Patrimônio Cultural e Turismo) e

Sra. Gilmara (Chefe da Divisão de Memória e Patrimônio)

.

MISSÃO (SEMCULT):

Promover a oportunidade de negócios e desenvolvimento social e intelectual através de programas e ações que envolvam o bem estar, a promoção humana e obtenção de resultados por mecanismos de fomento e desenvolvimento das atividades cultural e turística de nossa cidade.

O SEBRAE deu um treinamento para os artesãos e elegeram dois temas como foco dos trabalhos – as Flores de Maio e o Pastel de Angu (que são tradições aqui de Itabirito) – e aí, eles fizeram vários produtos. A Geralda, por exemplo, desenvolveu uma linha artesanal em cima da história do Pastel de Angu, com a Maria Conga e a Filó, que são essas bonecas pretas, mas elas vêm sempre com um cesto com o pastel de angu ou com fubá. Então, uma série de coisas foi desenvolvida entorno do Pastel de Angu. A Geralda já foi parar na Ana Maria Braga, já fez Terra de Minas, foi página do Estado de Minas, já fez todas essas redes de TV locais e já foi também pro MAIS VOCÊ com esta história das bonecas dela e, agora, ela está preparando uma exposição.

UBIRANEY:

A Festa do Pastel de Angu foi um evento que é um movimento escolar, mas que a gente começou a dar um trato mais turístico pra ela e no ano que vem a tendência é ela aumentar ainda mais, porque nós estamos fazendo uma ponte com o Ralf (que faz o Festival de Gastronomia de Tiradentes) para podermos dar um “plus” na Festa do Pastel de Angu. Não deixar perder a essência de festa escolar, mas dar a ela, também, uma conotação mais voltada para o Pastel como um ícone de gastronomia.

A Secretaria de Educação da administração passada, que era do Ricardo (Historiador), então ele criou um movimento para fortalecer essa identidade do Pastel de Angu nas escolas aí se criou uma festa. Só que festa dá muito trabalho. Então, as diretoras ficaram muito mais envolvidas no sentido de se organizarem para vender bem e ter retorno do que propriamente estudar o Pastel de Angu. Quando nós entramos, ficamos assim: continua ou não continua, continua ou não continua? Gente! Se a festa dá certo vamos continuar, isso é que é importante. Porém, a Festa do Pastel de Angu e a Julifest são muito próximas, então ficava aquela festa pobrezinha de escola (a do Pastel de Angu) e a Julifest uma super, tipo prima rica e prima pobre, uma a um mês da outra. Isso não faz sentido. Então, vamos dar identidades diferentes. A Festa do Pastel de Angu, uma festa tipicamente escolar, não exige grandes artistas, não exigia grandes estruturas (mas agora está exigindo), ou seja, no Julifest eu gasto R$ 500 mil e numa Festa do Pastel de Angu gasto R$ 40 mil e tem uma mídia espontânea muito maior que a própria Julifest. Isto, porque é Pastel de Angu, porque é educação patrimonial, porque nós estamos trabalhando esta questão da aproximação de uma comida com o turismo e as escolas, em dois dias, vendem 50 mil pastéis de angu, então, as coisas começaram a tomar proporções muito grandes. Hoje, já temos procura (mas é até engraçado, porque eu não sei explicar isso, foi meio que um fenômeno), na Julifest temos que ficar atrás de datas de cantores para ver quem pode e quem não pode vir, porque ela depende de um grande nome para se efetivar, enquanto que na Festa do Pastel de Angu, as pessoas ficam atrás de mim para vir se apresentarem.

A “Educação” é que fazia a Festa, agora, a nossa Secretaria junto com a Secretaria de Educação promove a Festa do pastel de Angu. Hoje em dia nós temos que ficar adequando as datas porque, por exemplo, o Minas ao Luar liga querendo se apresentar próximo à Festa do Pastel de Angu. Começou a inverter, o que é muito bom, porque começa a consolidar. Quando você conta isso, as diretoras já começam a ter um trato mais especial com a Festa e já se dedicam mais. Criou uma identidade forte. Se eu fosse perguntar, ano passado, se as diretoras queriam continuar com a Festa do Pastel de Angu, elas não queriam, porque dá mais trabalho que lucro e elas são professoras e diretoras, não são festeiras. A Festa paralisa as escolas. Na semana elas ficam por conta do pastel de angu. Ano passado, eu e a Lívia (Secretária de Educação) fizemos uma sensibilização para envolver, igual “Semana da Criança” que é tudo para a criança, na semana da Festa do Pastel é tudo para o Pastel de Angu. Então os meninos comem o Pastel de Agu na escola, eles aprendem a fazer o Pastel, fazem trabalhos a respeito disso, fazem os convites da Festa e tudo isso sempre com o Pastel de Angu aparecendo. Então, começou a ter um outro tipo de envolvimento com a Festa. Nesse meio tempo, a “Memória e Patrimônio” começou a perceber que o Pastel de Angu poderia ser um bem imaterial que poderia ser protegido. Existe uma competição entre algumas cidades que querem que o Pastel de Angu seja de lá.

ELAINE: Como que se chegou a uma conclusão de que o Paste surgiu aqui mesmo?

Quais os fatos que comprovam isso? UBIRANEY: A partir dessa pesquisa da Maria Conga e da Philó que eram duas

escravas que faziam o Pastel, em fim, aquela história que está no site. Isso foi fruto de pesquisa do Vitor e de outras pessoas, não foi assim “vamos falar que é daqui e foi”, é pesquisa mesmo. Esse Dossiê que a Gilmara (Memória e Patrimônio) preparou para o IPHAN tem todo um respaldo que nos fez vislumbrar essa possibilidade de requerer do IPHAN esse título de bem imaterial e até, de repente, buscar um tombamento mesmo, por uma série de fatores, até para o próprio benefício do ICMS Cultural. O IPHAN alega que eles não vão fazer isso mais, porque tem gente pedindo de tudo, então já tem gente querendo tombar cachaça aqui, queijo ali, pastel, então eles vão fazer uma seleção do quê que é passível de ser considerado ou não, em fim, jogaram um balde de água fria.

Independente disso, a cidade apropriou da questão do Pastel de Angu e, na verdade, era o que a gente queria.

A FIAT promovia um concurso Tesouros do Brasil. Ano passado, alguns trabalhos daqui de Itabirito foram selecionados e uma escola defendeu o Pastel de Angu. Nesta última versão a FIAT ligou pedindo para a versão toda da divulgação ser feita em cima do Pastel de Angu, pela caracterização que foi feita na defesa da escola. Além desse conteúdo histórico, é mais uma relação de identidade da comunidade com o produto.

DANILO: Na verdade o IPHAN jogou uma água fria na questão do tombamento,

mas nem precisou, porque a comunidade/cidade incorporou isso. UBIRANEY: No caso de Itabirito, a gente pensou nisso para ter essa propriedade

formalizada e pra isso valer. Está em processo, ta tudo lá, eles não falaram que não definitivamente, só falaram que não estão dando tanta atenção para isso porque teve um excesso de pedidos, mas nem sempre as coisas têm a mesma consistência que vá dar subsídio para uma decisão por parte do órgão federal.

ELAINE: Você sabe de outros exemplos tipo o do Pastel de Angu?

UBIRANEY: Eles deram exemplo no contato que foi feito com a Gilmara, ela te fala. ELAINE: Como e de quem surgiu a idéia de solicitar o registro do Pastel de Angu?

Quando? UBIRANEY: Foi da Divisão de Memória e Patrimônio, devido a própria importância

que ele (o pastel) criou. Foi feito no ano passado. A Secretaria é nova, era Indústria e Comércio, o Vitor ficava com o turismo, mas lá era no âmbito de Divisão.

A inclusão dos alunos, a gente pode explorar isso de várias formas, porque a Divisão de Memória e Patrimônio trabalha em várias vertentes dentro das escolas, com educação patrimonial, preparando os professores e eles fazem uma oficina Memória Vida, então as coisas são em torno, também, desses materiais e o pastel de angu também já foi objeto dessas oficinas.

GILMARA: Estamos em estudo, pesquisando vários documentos de outros

municípios que já possuem legislação sobre Patrimônio Imaterial, para montarmos a nossa própria legislação. O IPHAN nos respondeu que eles não vão priorizar nenhum prato típico de nenhuma localidade, eles vão fazer, por exemplo, os derivados do fubá, os derivados de tal coisa...

DANILO: Uma coisa que é importante para a gente, é saber se tem gente vindo aqui

exclusivamente por causa do Pastel de Angu? Atrai um turismo significativo para a cidade? GILMARA: Tem sim, principalmente na Festa. Fora do período da Festa também

acontece. O consumo do Pastel de Angu aumentou muito dentro e fora da cidade. Minha mãe faz Pastel de Angu e ela recebe muita encomenda de gente de fora. Já tem as fábricas, agora que o produto já virou um produto industrializado. Não tinha essa proporção de consumo do pastel até uns 15 anos atrás. Algumas famílias que detinham as receitas, então, isso era uma coisa muito de família, mas o negócio alastrou em nível municipal e agora, já atingiu o regional e o estadual até.

DANILO: Então, hoje Itabirito é conhecido como a cidade do Pastel de Angu? GILMARA: É sim. ELAINE: Você acha que esta proposta de Itabirito, de valorizar o Pastel de Angu,

ajuda outras cidades que também têm Pastel de Angu? GILMARA: Sim, eu acho que sim. Tem o pessoal de Conceição do Mato Dentro que

também trabalha isso. Mas, eu acho que aqui em Itabirito nós estamos mais bem estruturados para poder utilizar isso em benefício do turismo, do desenvolvimento turístico. Nós já criamos produtos com isso, a própria Festa do Pastel de Angu é um produto turístico.

ELAINE e DANILO: Virou estratégia mercadológica, isso é muito da época da

escravidão, de esconder a carne no meio do angu... GILMARA: Acho que pode até ter sido de outras cidades também, mas, acontece

que nós estamos aproveitando a oportunidade e a pesquisa e trabalhando encima disso.

UBIRANEY: Hoje, comercialmente falando, tem duas fábricas de pastel de Angu em

Itabirito que geram empregos, o Pastel de Angu não pode mais faltar nos supermercados que o pessoal reclama, bares e restaurantes têm que ter porções. Se a gente for olhar o volume do fluxo que se dá com a Festa do Pastel de Angu, você pode por aí que por causa do Pastel de Angu, em um final de semana, a gente movimenta, no mínimo R$ 1,5 milhão na cadeia produtiva, considerando hotéis todos ocupados, maior consumo de combustível, sabe, você provoca uma mecanização, no artesanato não tem só a Geralda, tem um grupo de artesãs que trabalha com o Pastel de Angu, uma delas faz o pano com bordado de Pastel de Angu e assim por diante. Hoje, qualquer escola aqui tem uma pesquisa ou trabalhinho sobre Pastel de Angu.

NO ARQUIVO DA GILMARA TEM: Gravações do programa “Terra de Minas”

(duas); Uma boneca “Maria Conga” (feita pela Geralda); Um pano de prato com o bico de crochê em formato de Pastel de Angu; Programa Espaço Gastronômico da TV Horizonte; Entrevista no MGTV; Abaixo assinado de lideranças comunitárias pedindo o registro do Pastel de Angu; Projeto de Educação Patrimonial – Pastel de Angu (com o qual uma escola participou do concurso Tesouros do Brasil, da FIAT); Entrevistas e depoimentos (gravados e transcritos) de pessoas da cidade para documentar como a comunidade vê esta apropriação, expansão e o próprio surgimento desta idéia do Pastel como patrimônio imaterial;

Segundo a GILMARA, tem pessoas que diziam que o Pastel de Angu não era coisa

antiga, era coisa atual. Mas diziam isso porque simplesmente não conheciam, o Pastel de Angu era uma coisa muito de família tradicional, que foi passando de mãe para filha e não havia se disseminado entre a população em geral.

UBIRANEY: No caso da Geralda, ela é uma dona de casa que fazia bonecas de

cerâmica, então, ela optou por acrescentar o pastel de angu às bonecas e transformá-las em Philó e Maria Conga, como isso, a venda dela aumentou tanto que as filhas também tiveram que aprender a fazer para dar conta das encomendas. Ela já fez uma Maria Conga de 1 metro e 20 centímetros de altura.

APÊNDICE 05

ENTREVISTA com Dona Inês de Souza Lima (Principal quitandeira do pastel de angu de Itabirito)

D. Inês: Sou de Bocaiúva. Vim morar em BH com 9 anos para trabalhar de babá. Depois casei, vim morar em Itabirito e aqui eu estou conseguindo tudo o que era sonho da minha vida. Vou determinando aquilo que eu quero e vou conseguindo fazer tudo.

Elaine: De que forma a Senhora começou a trabalhar com o pastel de angu? D. Inês: Eu comecei quando vim morar aqui. Eu fui pesquisar o que era o forte daqui que é a gastronomia de Itabirito. Eu falo muito que o pastel é o ouro de Itabirito, pela cor, porque dá renda pra todo mundo. Todo mundo que quer ganhar um dinheiro, este pastel de angu é o ouro de Itabirito e eu falo isso porque eu ganho com ele. Meu trabalho é o pastel de angu. Elaine: Aqui tem muita gente que trabalha com o pastel de angu, fazendo para vender?

D. Inês: Sim. Todo mundo aqui meche com pastel de angu. Como eu estou lhe falando, é a gastronomia que rende dinheiro aqui, é o pastel de angu de Itabirito.

Elaine: Conte um pouquinho da história da vida da Senhora depois do pastel de angu, por favor.

D. Inês: A minha história de vida dá pra fazer um livro, dá pra fazer uma novela, inclusive, eu quero e já determinei que vou escrever um livro, vou arrumar uma pessoa que queira por este livro em prática pro mundo, porque tudo o que eu quero e determino é pro mundo mesmo, é pra correr mundo mesmo, é pra viajar mesmo, como eu já fui com o pastel de angu. Eu já cheguei até no Japão. Já fiz uma filmagem da receita do pastel de angu para passar nos vôos da GOL, já fui fazer filmagem com a GLOBO, 3 vezes já fui pra GLOBO, tem filmagem minha na BAND, tem filmagem minha na REDE MINAS que passa receitas no sábado e tem também que eu ganhei pra representar Itabirito, olha como é muita responsabilidade, na gastronomia no mundo. Já representei Itabirito aqui por perto, na festa do Alphaville (grande, né?), só gente da “alta” e eu na minha humildade entrei ali para ensinar pra gente “grande” a humildade e forte da gastronomia de Itabirito. Pela segunda vez, este ano representei Itabirito em Congonhas, na Festa das Quitandas (é dez) e todo lugar que eu vou, não estou me gabando querendo me exaltar não, mas isso “é dez” por causa do meu jeito de ser – humilde - e saber trabalhar. De curso, toda vida eu fiz cursos, eu estou com 127 cursos, então, da alimentação, tudo o que você me perguntar da alimentação natural, industrial, eu sei. E o meu pastel de angu está ganhando espaço porque é todo natural – artesanal, todo manual (na mão), com muito amor, com muito carinho. Eu estou recebendo aqui muitas visitas de fora que querem me conhecer e querem me levar para lugares pra dar curso, que é um curso para dona de casa ganhar dinheiro, para a pessoa abrir uma empresa (entendeu?) e ganhar dinheiro. O umbigo de banana, que eu trabalho com ele e que é o forte daqui, é rico em proteína, vitamina, caloteno, cicatrizante e muita fibra, que todo mundo necessita da fibra no seu organismo.

Elaine: Já percebi que a senhora está trabalhando com alguns tipos diferenciados de recheio. Conta pra gente qual que é o original e com que outros tipos o pastel de angu fica gostoso tanto quanto com o original.

D. Inês: Bem, o recheio original de Itabirito é o umbigo de banana puro ou umbigo de banana com carninha de porco ou o umbigo de banana com carninha moída (de boi). Agora, eu faço, eu compro o queijo – o melhor que tem que é o queijo minas – tempero ele, tenho o meu tempero que eu tempero e que sai muito bem, eu faço de carninha moída, faço a carne de sol que é minha – eu falo “de sol” mas não tem nada de sol, é sereno, é eu mesma que trabalho com ela, trabalho com o umbigo puro, trabalho com couve e torresmo, eu trabalho com calabresa e umbigo, trabalho com vatapá e camarão, eu trabalho com chuchu e bacalhau, trabalho com o chucrute, eu trabalho com o chante – que é eu mesma que faço – de frutas, trabalho com goiaba e queijo, com pernil, com frango defumado com tomate seco – o tomate é eu mesma que desidrato, trabalho com conserva de berinjela, com bacalhau puro, camarão puro, trabalho com uma farofa diferenciada, de coco, que eu faço. Que mais?! Ahh! Costelinha de boi com mandioca. Isso tudo, pra mim, é recheio.

Elaine: Tudo isso é recheio de pastel? D. Inês: Tudo isso! E estou buscando muito mais. E faço pastel de qualquer tamanho, artesanalmente. Elaine: Por falar em tamanho do pastel, tem tido muito pedido, muita encomenda do pastelzinho tamanho “festa”? D. Inês: Sim. Inclusive, quando as pessoas me convidam, porque eu também trabalho em festas, ou infantil ou adulto, eu tenho 4 tamanhos de pastel: o de degustação e os de festas – como aqui é uma festa eu tenho o tamanho “G”, porque eu ponho assim, “P” “M” e “G”. São os tamanhos que eu coloquei pra identificar. Então, o “G” é de festa de lanchonete, tem o de degustação que é o pequenininho, mas nunca que o meu fica aquele pequeninho (você pode filmar depois). A massa tem que ser aberta na mão, fininha. Elaine: O pessoal tem utilizado muito o pastel para festas dentro de casa, festinhas mesmo, inclusive festas com comidas mais chiques, tem a encomenda do pastelzinho de angu para ser servido aos convidados?

D. Inês: Sim. Eu pego festa, eles me encomendam o pastel, se me encomenda comida encomenda o pastel pra entrada – é uma entrada que arrebenta – se a pessoa me encomenda o pastel eu falo: escolhe a fruta que você quer e eu vou fazer pra você servir com o chantre que sua festa vai ficar chiquérrima.

Elaine: Agora vamos falar da oficina. O que a Senhora usa para poder elaborar essa oficina, como é dada a oficina, que tipo de gente que procura fazer a oficina durante o Festival de Pastel de Angu? D. Inês: Minha oficina eu distribuo a touca e a máscara – isso é necessário. A luva eu não distribuo, nem o avental, porque tem pessoas que não querem o avental, e a luva agarra na massa, então, nós lavamos as mãos, esterilizamos e viemos trabalhar com a massa. Eu separo um tanto de massa pra cada um e cada um vai mexer com a sua massa, porque a massa do pastel de angu não pode muitas pessoas estarem mexendo com ela porque ela pode até azedar, pois não tem química nenhuma, é toda natural. Outra coisa que eu patrocino pro curso, os recheios. Qualquer tipo de recheio. Eu trago 4 a 5 tipos de recheio pra pessoa escolher o que ela quer, e a pessoa faz a oficina, leva uma bandejinha pra casa, embalada com o pastel que ele fez, tem uma degustação comigo do pastel de angu, a pessoa tem o custo que ela paga, colabora com R$ 35,00, mas é uma coisa pra pessoa, na semana, já começar a trabalhar, expandir, ter a sua firma, ganhar muito dinheiro. Quando você fala pastel de angu o pessoal fala assim: xi, pastel de angu! Mas o forte do salgado que está saindo agora, que saiu e que está expandindo, é o pastel de angu! E eu tive essa

coragem de colocar isso no mundo, é “mundi” como diz minha colega, agora é mundi. Também, a pessoa que vem fazer o curso é de toda a classe, entendeu? Pessoa que você vê que está querendo expandir uma coisa nova pra ela ganhar um dinheiro. Elaine: Criança, às vezes, quer também fazer o curso?

D. Inês: Sim! Eu dou o curso, também em escolas. A prefeitura me convida pra dar o curso pra adolescente ou criança. De 6 até 80 que queira fazer o curso eu estou disponível a dar. A minha casa tem uma sala, que depois do curso que eu fiz de turismo (tem 4 anos e todo ano eu renovo este curso com a prefeitura), dou o curso lá em casa, pra turista que vem de for a. Os turistas que vêm querem fazer o pastel de angu e agora tá no site a receita e eles querem ver como faz e entram em contato comigo no meu e-mail, vai lá na minha casa, eu dou o curso e eles vão embora sorrindo, satisfeitos. Eu recebi gente aqui, maravilhosa, e eles encantam comigo, porque, a minha simplicidade de ensinar, de não ser egoísta, porque eu estou vivendo do pastel de angu. Elaine: A Senhora já recebeu, atendeu, já vendeu o pastel pra estrangeiros, aqui em Itabirito mesmo? D. Inês: Sim. Inclusive foi uma pessoa da prefeitura que mandou, é parente dele que mora fora. Ele foi lá em casa pegar o pastel pra levar pra fora. Em casa eu já tenho as embalagens de isopor, se for de vôo, carro, não sei pra onde vai, 8 horas de viagem aguenta o meu pastel congelado. Elaine: Qual que é a importância que a senhora acha da divulgação, de difundir a história do pastel de angu, a receita original do pastel de angu de Itabirito, qual é a maior importância disso tudo para o povo do Itabirito?

D. Inês: É pra Itabirito expandir essa cultura que tem, porque, dessa cultura das duas escravas – Philó e Maria Conga – muita gente está sobrevivendo aqui, como eu também, aqui em Itabirito tem muito serviço, mas nem firma quer pessoa da minha idade, mas eu, com meus cursos, estou sobrevivendo e muitos estão sobrevivendo e o que eles estão divulgando, está sendo importantíssimo pra Itabirito, não só pra mim, é pra Itabirito todinha. Vou falar, lógico, não tenho egoísmo, é pra todo mundo conhecer lá fora e vir os turistas, né? Estão vindo turistas de longe pra conhecer a gastronomia de Itabirito que é rica, como eu já te falei. Onde me mandar ir eu vou, e dou o curso. Minhas receitas são todas na minha cabeça, agora, eu tenho já escrito, mas pra eu dar, eu já sei tudo. Fica tudo no computador da cabeça. Mas não pode ficar assim não, né? Tem que ir passando pro papel, pra um DVD pra ficar futuramente pra filhos, netos, as pessoas que forem procurar os meus familiares terem aquela cultura. Inclusive, agora vou te passar uma novidade: em cima desta massa de pastel de angu, eu fiquei um mês desenvolvendo uma massa, que eu vou patentear, do pastel de angu assado, que dá 12 salgados de outras qualidades. Uma massa dá 12 salgados. Eu não joguei ainda, porque eu quero patentear primeiro, mas estou com isso guardado. Estou procurando um jeito de patentear pra ganhar mundo também, porque a hora que eu for pra “glória” – não sou eterna – fica aí, foi Dona Inês quem fez, como eu recebi ali uma imagem de uma estátua minha. Eu quero isso tudo em vida, depois que eu morrer não interessa. A prefeitura tem uma casa no Alphaville e eu já fiquei sabendo que tem um pôster meu lá, entendeu? Não via ainda, mas também não dá tempo não, mas eu quero ir lá ver, olha só, um pôster de uma mulher igual a mim, humilde, entrar ali no Alphaville, igual eu entrei só pra dar um curso pra americanos, é uma honra pra Itabirito e pra mim também, porque eu não sou daqui, mas eu estou ajudando com alguma coisa a cidade, fazendo um reboliço pra cidade crescer e as pessoas crescerem também.

Elaine: E a importância pra meninada de escola? Qual é a importância para eles de estarem sempre estudando e trabalhando em cima do pastel de angu?

D. Inês: Chique!!! Sabe por que? Quando eu dou o curso eles estão crescendo e aprendendo. Já vem com aquela mente de que “eu vou prestar atenção, porque eu vou crescer, vou trabalhar e vou ganhar dinheiro igual a Dona Inês”. Esse meu nome vai ter que ficar, porque eu estou conseguindo alguma coisa com o dinheiro de pastel de angu. Então, a mente, isso é uma terapia também, trabalhar com a massa é uma terapia, você modela o pastel artesanal, o primeiro fica assim o segundo fica assim e daí você ganha espaço, porque eu quando comecei (eu cheguei aqui há 33 anos) eu pesava a massa e agora eu não peso, eu já sei tudo. E eles aprendem a cultura de Itabirito, que são as escravas que trouxeram o pastel de angu pra Itabirito. Eles já estão, na escola, fazendo pesquisas sobre a cultura de Itabirito, a gastronomia de Itabirito, os escravos de Itabirito. Isso está sendo muito importante, está sendo muito divulgado, as escolas todas estão ajudando com as crianças a trabalhar em cima disso e é forte, é um alimento muito forte pra elas. O que eu acho, pras escolas, não só aqui de Itabirito, mas de todo lugar, que ficam com merenda aí, uma merenda mais cara, pode por este pastel de angu no lanche das crianças, com o umbigo de banana, os meninos ficam satisfeitos. Dois pasteizinhos desses é um alimento, é um almoço, porque é rico, tem tudo e barato, baratíssimo. Então, não fica buscando coisas lá fora se nós temos aqui. Nós temos plantação de banana, temos a plantação de milho. Elaine: Só pra finalizar o nosso papo, a Senhora tem uma noção de quantos pastéis de angu são vendidos durante a festa, pelas barraquinhas? D. Inês: Olha, é muito pastel. Cada barraquinha dessas é na faixa de 10 mil pastéis – cada barraca. Em 24 horas. Vem gente do mundo todo aqui nestes dois dias. E no Julifest, na segunda quinzena de julho, falado também no mundo todo, entra o pastel de angu porque este não falta mesmo. Estou convidando todos que venham participar conosco desta festa maravilhosa como esta do Pastel de Angu. É 6 dias de festa.

APÊNDICE 06

Boneco alusivo à escrava PHILÓ

Obs.: Decoração do Festival do Pastel de Angu – 2008.

FOTO: Elaine Cristina Linhares Diniz

APÊNDICE 07

Boneco alusivo à escrava MARIA CONGA

Obs.: Decoração do Festival do Pastel de Angu – 2008.

FOTO: Elaine Cristina Linhares Diniz

APÊNDICE 08

Bonequinhas PHILÓ e MARIA CONGA, em cerâmica.

Obs.: Peças produzidas em oficina realizada durante o Festival do Pastel de Angu de 2008.

FOTO: Elaine Cristina Linhares Diniz

APÊNDICE 09

Detalhe das bonequinhas de cerâmica

FOTO: Elaine Cristina Linhares Diniz

FOTO: Elaine Cristina Linhares Diniz

APÊNDICE 10

PESQUISA DE DEMANDA PARTICIPANTES DO FESTIVAL DO PASTEL DE ANGU 2008

Entrevistador: ____________________________________ Data: _________________

1. CARACTERÍSTICAS SOBRE A PARTICIPAÇÃO NO EVENTO

1.1. Origem – Local de Residência A ( ) Itabirito B ( ) Minas Gerais. Cidade: ___________________________ C ( ) Outros Estados ou Países. País/Estado/Cidade: ___________________________________ 1.2. Principal motivação para vir ao evento ___________________________________________________________________________ 1.3. Companhia para o evento A ( ) Sozinho B ( ) Em casal C ( ) Com familiares D ( ) Em grupo/Com amigos E ( ) Outros ________ 1.4. Participação no evento

A ( ) 1 dia B ( ) 2 dias

2. AVALIAÇÃO DO EVENTO

2.1. Como você avalia:

Item/Avaliação ÓTIMO BOM REGULAR RUIM PÉSSIMO N.S/N.U Programação Cultural Alimentação nas barracas Decoração do Festival Local do evento Acesso ao local do evento Limpeza do local Informações turísticas Segurança

2.3. O que mais agradou no evento? ______________________________________________________________________________ 2.4. O que desagradou no evento? ______________________________________________________________________________ 2.5. Você participou da Festa do Pastel de Angu em 2007? A ( ) Sim B ( ) Não 2.5.1. Em termos gerais de avaliação, você considera o Festival do Pastel de Angu 2008, em relação ao de 2007: A ( ) Muito inferior B ( ) Inferior C ( ) Igual D ( ) Superior E ( ) Não sabe responder 2.6. Avaliação geral do Festival do Pastel de Angu 2008

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 2.7.Pretensão de gastos no evento e no período em que permanecerá em Itabirito (individual, incluindo transporte, hospedagem, alimentação, compra, diversão etc) A ( )Até 30 reais B ( )Entre 30 e 60 reais C ( )Entre 61 e 90 reais D ( )Entre 91 e 120 reais E ( )Entre 121 e 150 reais F ( )Entre 151 e 180 reais G ( )Entre 181 e 210 reais H ( )Entre 211 e 240 reais I ( )Entre 241 e 270 reais J ( )Entre 271 e 300 reais K ( ) A partir de 301 reais.

(Cont. do Apêndice 10 - pesquisa) 3. QUESTÕES RELATIVAS SOMENTE

3.1. Qual foi o meio de transporte utilizado para vir a Itabirito? AOS VISITANTES

A ( ) Carro particular B ( ) Ônibus de linha C ( ) Van D ( ) Ônibus de excursão E ( ) Outros. Qual? __________________________________________________________ 3.2. Você utilizou ou utilizará algum Meio de Hospedagem? A ( ) Hotéis urbanos B ( ) Hotéis no meio rural C ( ) Pensão D ( ) Sítio ou fazenda E ( ) Casa de parentes ou amigos F ( ) Não se hospedará G ( ) Hospedado em localidade próxima. Qual? __________________ H ( ) Outros. _______________ 3.2.1. Como você o avalia:

ÓTIMO BOM REGULAR RUIM PÉSSIMO N.S/N.U N.R 3.3. Você utilizou algum bar ou restaurante do Município? ( ) Sim ( ) Não 3.3.1. Como você o avalia:

ÓTIMO BOM REGULAR RUIM PÉSSIMO N.S/N.U N.R 3.4. Quantos dias você pretende ficar em Itabirito? A ( ) Menos de 1 dia B ( ) Entre 1 e 2 dias C ( ) Entre 3 e 4 dias D ( ) Mais que 4 dias 3.5. Como você ficou informado sobre o Festival do Pastel de Angu 2008? A ( ) TV B ( ) Internet C ( ) Indicação de pessoas D ( ) Rádio E ( ) Jornais/Revistas F ( ) Participação em outros anos G ( ) Outros. ____________________ 3.6. Quantas vezes você já veio a Itabirito? A ( ) 1ª. Vez B ( ) Entre 2 e 4 vezes C ( ) Entre 5 e 7 vezes D ( ) Mais de 7 vezes E ( ) Não sabe 3.7. Você já visitou ou pretende visitar algum atrativo turístico de Itabirito? A ( ) Sim. Qual? ________________________________________________ B ( ) Não 3.8. Você tem pretensão de retorno a Itabirito? A ( ) Sim B ( ) Não C ( ) Talvez Se afirmativo: Você retornaria a Itabirito em que ocasião? (Eventos, feriados prolongados etc) _______________________________________________________________________________________ 3.9. Avaliação geral do Município:

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

4. QUALIFICAÇÃO DO ENTREVISTADO 4.1. Sexo: A ( ) Masculino B ( ) Feminino 4.2. Faixa Etária A ( ) Menor que 21 B ( ) De 21 a 30 C ( ) De 31 a 40 D ( ) De 41 a 50 E ( ) De 51 a 60 F ( ) Mais que 60 G ( ) Não Respondeu 4.3. Escolaridade A ( ) Sem estudo B ( ) Fundamental 1ª. a 4ª. Série C ( ) Fundamental 5ª. a 8ª. série D ( ) Ensino médio E ( ) Superior completo F ( ) Superior incompleto G ( ) Pós graduação 4.4. Renda Mensal A( ) Não possui renda B( ) < 1 s.m. C( ) > 1 s.m. < 5 s.m. D( ) > 5 s.m < 9 s.m. E( ) > 9 s.m < 13 s.m. F( ) > 13 s.m. < 17 s.m. G( ) > 17 s.m. < 21 s.m. H( ) > 21 s.m. < 25 s.m. I( ) > 25 s.m. < 29 s.m. J( ) > 29 s.m. Referência: Salário mínimo: R$ 415,00 Interessados em receber informações: Nome: _________________________________________________. E-mail: _______________________________________

APÊNDICE 11

Público do Festival do Pastel de Angu – 2008.

FOTO: Elaine Cristina Linhares Diniz

7. ANEXOS ANEXO 01- Folder da Oktoberfest de Blumenau

ANEXO 02 - Localização de Itabirito na Estrada Real

FONTE: www.descubraminas.com.br

ITABIRITO

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