a função comunicativa de alguns procedimentos de reparo
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3.A FUNÇÃO COMUNICATIVA DE ALGUNSPROCEDIMENTOS DE REPARO
A descrição de diferentes categorias de reparo exposta no capítulo anterior
incluiu – não como foco - a consideração de procedimentos distintos de reparo.
Ou seja, na tentativa de resolver problemas envolvidos na atividade de
compreensão e processamento da fala em interação, os participantes precisam, ora
corrigir um erro, ora unicamente repetir o que foi dito, ora explicitar o contedo
de sua fala por meio de par!frases. "les precisam tamb#m, inmeras ve$es, adiar
sua produção, gan%ar tempo para processar seus enunciados. &este capítulo,
discutiremos mais detidamente a funcionalidade desses tipos de atividades, aç'es
envolvidas nas operaç'es de reparo descritas at# aqui.
Os trabal%os de (c%egloff mencionados anteriormente abordam
procedimentos como a correção, a repetição, a repetição exata, a explanação
dentre outros, sem se deterem em especificidades ou nos aspectos interacionais e
funcionais envolvidos nessas operaç'es. )ara os prop*sitos desta pesquisa, estas
são dimens'es importantes da an!lise.
Abordagens interacionais e comunicativas do fen+meno do reparo,
sobretudo de sua manifestação mais comum na fala em interação – os auto-
reparos intraturnos – gan%aram sistemati$ação em trabal%os reali$ados no
rasil. )elo que pudemos observar da descrição feita at# aqui, os procedimentos
envolvidos em operaç'es reali$adas enquanto auto-reparos estendem-se a outras
categorias de reparos, embora sua função interacional possa sofrer variação em
virtude da forma como se manifestam, da posição que ocupam e de quem reali$a
esses procedimentos.
)ara uma an!lise mais detida desses aspectos, nas seç'es seguintes,
tomamos as contribuiç'es advindas dos estudos sobre a organi$ação textual
interativa vinculados ao )rojeto da ram!tica do )ortugus /alado. 0aremos aqui
especial atenção a uma revisão te*rica dos procedimentos parafr!sticos 12ilgert,
34546 e de repetição 17arcusc%i, 34486 dada sua import9ncia para a an!lise do
material ling:ístico que sustenta uma das proposiç'es assumidas por nossotrabal%o de pesquisa.
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Organi$amos a descrição dos procedimentos, considerando duas grandes
categorias de reparo j! mencionadas anteriormente quando da an!lise dos auto-
reparos 1seção ;.;.36. <ais categorias foram propostas em trabal%o inicial da
An!lise da =onversação 1(c%egloff, 34>46. (ão elas? a dos reparos de orientação
retrospectiva 1regressivos6 e a dos reparos de orientação prospectiva
1progressivos6.
3.1.Reparos regressios
0escreveremos os procedimentos de reparos regressivo considerando,
basicamente, sua distribuição em trs subcategorias, organi$adas a partir decrit#rios sem9nticos? a correção, a par!frase e a repetição. =onsiderando-se os
pontos de aproximação e distanciamento entre esses mecanismos de reformulação
do texto falado, os estudiosos desses fen+menos costumam locali$!-los num
continuum, conforme proposição em 2ilgert 13454, p.34@6?
&/B7ACDO B"</=ACDO )ABE/BA(" FGA("-B")"<CDO B")"<CDO
0esse modo, entre as categorias da correção ou infirmação 1que se
caracteri$aria pela anulação total do termo repar!vel6 e da par!frase, situa-se a
retificação 1categoria tamb#m denominada correção parafr!stica6, que se
caracteri$aria por uma anulação parcial do termo repar!vel3;. )or outro lado,
par!frases e repetiç'es são tamb#m estrat#gias bastante pr*ximas, intermediadas
pela categoria da Hquase-repetiçãoH.
O fato de que qualquer ação ling:ística implica reflexão sobre a linguagem e
controle do ambiente interacional fica particularmente evidenciado nos
procedimentos de reparo regressivo, operaç'es retrospectivas atrav#s das quais
o falante, refletindo sobre o material ling:ístico utili$ado, promove retomadas
sint!ticas associadas a uma esp#cie de revisão textual. A atividade de revisão, ou
3; 2ilgert 13454, p.38I6 atribui aos enunciados tidos como correção a característica de anulaçãototal ou parcial do sentido de "/ 1enunciado fonte ou alvo de reparo6. A partir dessa definição domecanismo da correção prop'em-se os termos infirmação e retificação. /!vero 1344>, p.33I6
afirma não ser tarefa f!cil a delimitação dessas categorias, j! que o que se deve entender por HerroHnuma atividade de correção di$ respeito J compreensão do processo de geração de sentido e de suareali$ação expressiva pelo pr*prio falante.
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reavaliação, de seus procedimentos discursivos pode lev!-lo a operar correç'es
1infirmaç'es e retificaç'es6 - reajustando o contedo do enunciado j! formulado -
ou par!frases e repetiç'es - recursos auxiliares na determinação do sentido, dado
seu car!ter enf!tico e explicitativo.)odemos apontar, portanto, reparos regressivos - correç'es, par!frases e
repetiç'es – como procedimentos indiciadores de maior controle sobre o discurso,
procedimentos que revelam um tipo de competncia epiling:ística que mel%or
transparece quando da utili$ação de marcadores metaformulativos do tipo aliás,
ou seja, isto é, recursos freq:entes nesse tipo de procedimento de reparo. &as
subseç'es abaixo, descrevemos mais detidamente cada um dos procedimentos
citados.
3.1.1.A !orre"#o
(egundo /!vero 13448, p.KL56, proceder a uma atividade de correção
significa Hprodu$ir um enunciado ling:ístico que reformula um anterior
considerado HerradoH aos ol%os de um dos interlocutoresH. Betomamos o
fragmento 136 utili$ado na seção ;.3. para ilustrar uma operação de auto-reparo
auto-iniciado com orientação regressiva3K?
136 At 3, p.;;5
3 (amuel X-gás (amuel bom dia.; Alice bom dia??, # o seguinte, eu gostaria de- de %um marcar uma
instalaçãoK do rel*gio no meu no meu Mpr#d-N no meu apartamento, no caso,I porque ... ainda não tem.
(egundo as categorias acima citadas, o fragmento exibe uma infirmação. O
falante interrompe-se antes de completar a produção de um item recon%ecendo,
rapidamente, um equívoco na seleção lexical. (ubstituiç'es lexicais aparecem
como um procedimento muito comum nesse tipo de procedimento que se
caracteri$a pela anulação total do material ling:ístico erroneamente selecionado.
3KOs fragmentos analisados nesta seção exibirão colc%etes para indicar o enunciado alvo de reparoe grifo para indicar o enunciado reformulador.
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7as %! ainda outro tipo de correção – a c%amada correção parafrástica ou
retificação – que anularia apenas parcialmente o material alvo de revisão.
ejamos o exemplo a seguir, um pequeno fragmento que corresponde ao início de
um atendimento, com a cliente, 2ilda, fornecendo, tão logo atendida, seu nmero
de cliente?
1346 At 3I, p.;LL
3 Pi$andra X-gás Pi$andra boa tarde.; 2ilda boa tarde Pi$andra. Meu souN, meu nmero de cliente de vocs #K sete oito $ero, nove sete nove traço seis.
O turno que nos interessa 1P;-K6 exp'e a participação de uma cliente
bastante familiari$ada com a agenda de procedimentos prevista pela empresa.
<anto o termo repar!vel 1H"u souH6 quanto o procedimento de reparo 1Hmeu
nmero de cliente de vocs #H6 são f*rmulas de apresentação. Ao substituir o
pronome HeuH pelo sintagma nominal correspondente Hmeu nmero de cliente de
vocsH, o falante anula parcialmente seu enunciado inicial, j! que ambas as
f*rmulas remetem J mesma pessoa. Ao contr!rio do que ocorre no exemplo
anterior, tem-se aqui um mesmo referente. <odavia, # evidente que o
procedimento de reparo altera parcialmente a significação inicial e permite ao
falante constituir uma nova identidade – a identidade de cliente – que o autori$a
como falante e l%e permite iniciar sua negociação com a empresa que l%e presta
serviço.
3.1.$.A par%&rase
Gm outro procedimento de formulação retrospectiva # a par!frase, definida
em 2ilgert 13448, p.3K;6 como? Hum enunciado ling:ístico que, na seq:ncia do
texto, reformula um enunciado anterior M...N com o qual mant#m, em grau maior
ou menor, uma relação de equivalncia sem9ntica.H
"nquanto procedimento de 1re6formulação textual, a par!frase # tamb#m um
procedimento envolvido na solução de problemas de compreensão, tendo como
sua função mais geral a tarefa de explicitação do contedo de enunciados j!
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formulados3I. 2!, no entanto, especificidades a serem consideradas no que
respeita J função das paráfrases, especificidades relativas a aspectos ling:ísticos,
discursivos e interacionais envolvidos em sua produção.
)rocedimento largamente utili$ado na conversa, este recurso est! ilustrado
em v!rios dos fragmentos analisados no capítulo anterior 1ver em 1>6, 13@6, 13366,
compondo diferentes manifestaç'es de reparo. 0estacamos abaixo um outro
exemplo do fen+meno que nos permita observar uma das principais funç'es da
par!frase, a de garantir a intercompreensão, explicitando o contedo da fala,
função observ!vel sobretudo em procedimentos de auto-par!frases3L, como os que
se observam no fragmento 1;@6, no qual a atendente "lena procura responder a
uma cliente que quer esclarecimentos a respeito do alto valor de sua ltima conta.
1;@6 At 8, p.;K4
;L "lena entra em contato na sexta. se a gente j! tiver o val- esse resultado no;8 sistema, Ma gente vai l%e informar.N e aí a gente vai l%e di$er se t!;> correto ou não essa essa leitura. se não, Ma gente deixa a crit#rio do;5 cliente.N pro cliente saber se vai pagar ou se que?? Mse se quer pagar ou;4 não.K@ 9nia M# porque dobrou.K3 não tem como dobrar.K; "lena sendo que Mms passadoN e%?? consta aqui que ela foi estimadaN no ms
KK de maio. ou seja, a leitura dela não foi real. foi estimada. então podeKI ter sido isso que acumulou um pouco pra esse ms Q
eja-se que a fala da atendente organi$a-se por v!rios procedimentos
parafr!sticos38 atrav#s dos quais procura ser o mais explícita possível,
antecipando-se, inclusive, a alguns possíveis problemas de compreensão como,
por exemplo, a compreensão do que seja um Hvalor estimadoH 1PK;-KK6, cujo
3I A investigação de 2ilgert 13454, p.IK;6 demonstra que, por meio de par!frases, garante-se aintercompreensão Hexplicitando 1tamb#m por meio de exemplificaç'es6 e especificando,resumindo ou denominando informaç'es da matri$H.3L O trabal%o de 2ilgert 134546 sobre a par!frase resultou da an!lise de H0i!logos entre doisinformantesH, uma das categorias de texto falado do corpus do )rojeto &GB=. "mbora renamtrec%os dialogados, pudemos observar, na maioria dos fragmentos analisados, a predomin9ncia deturnos longos de um nico falante com algumas pequenas contribuiç'es do outro. Os resultados daan!lise da ocorrncia de par!frases nesse contexto apontam para a predomin9ncia deautoparáfrases auto-iniciadas. "sses resultados, assinala 2ilgert 13454, p.;4L6, reforçam
proposição da An!lise da =onversação a respeito da preferncia por auto-reformulaç'es auto-iniciadas. =onstata-se ainda que a preferncia por autopar!frases auto-iniciadas # ainda maior eminteraç'es com turnos muito longos e com poucos HsinaisH do ouvinte.38
Os colc%etes demarcam enunciados alvo de reparo 1ou o Henunciado-matri$H como prefere2ilgert6. "m grifo sinali$amos os procedimentos de reparo, ou reformuladores, de car!ter parafr!stico.
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sentido mel%or define-se pelo contedo da par!frase Ha leitura dela não foi realH, J
qual se acrescenta ainda um outro procedimento, a repetição de Hfoi estimadaH.
)ar!frases de enunciados menores3>, como as acima destacadas, permitem
mais facilmente a identificação de procedimentos reformuladores como aexpansão ou a redução sintagm!tica 1procedimentos de car!ter parafr!stico6, cada
um deles associado a uma função específica. Betomemos uma das par!frases do
fragmento 1;@6, reformatada abaixo de modo a facilitar a observação do
fen+meno?
HM...N a gente vai l%e informar
e aí a gente vai l%e dizer se está correta ou não essa essa leitura"
"sse procedimento parafr!stico promove a expansão do sintagma inicialR
atrav#s dele explicita-se o tipo de informação ao qual a cliente ter! acesso.
)rocedimentos de redução sintagm!tica, ao contr!rio, costumam ser
denominativos ou resumitivos, precisando mel%or, pela síntese, enunciados vagos,
complexos no seu sentido 12ilgert, 3454, p.IK;6.
"ssas especificidades funcionais dos procedimentos parafr!sticos podem ser
observadas se considerarmos, ainda, aspectos interacionais diretamente associados
J forma assumida pela operação de reparo. "stamos falando da diferença entre
procedimentos auto-iniciados e procedimentos efetuados pelo outro. (obre a
função de par!frases efetuadas pelo outro 1por 2ilgert denominadas
H%eteropar!frasesH6, a pesquisa aponta para a import9ncia desse procedimento
enquanto recurso sinali$ador de uma Hação convergente entre os interlocutoresH
12ilgert, 3454, p.;48,IK@6. )arafrasear o outro indicia intercompreensão,
colaboração na construção do envolvimento conversacional35.
3> 2ilgert 13454, p.;3;6 prop'e uma classificação formal para as par!frases denominando par!frases simples Jquelas que tem a dimensão de uma Hunidade conversacionalH 1categoriaaparentemente correspondente a uma <=G6R par!frases segmentais Jquelas que constituem umsegmento 1ou um sintagma6 de uma unidade conversacionalR par!frases complexas Jquelasformadas por mais de uma unidade conversacional.35 "sta # outra importante função da par!frase tamb#m assumida pela repetição. &a seção seguinteexpomos um fragmento que a ilustra. &a verdade, os dois procedimentos são bastante pr*ximos,
sobretudo quando se consideram aspectos relativos a sua funcionalidade. 7uitas das funç'es das par!frases indicadas na pesquisa de 2ilgert 134546 podem ser observadas na an!lise que 7arcusc%i134486 fa$ da repetição.
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2ilgert analisa, ainda, uma outra manifestação da par!frase, a autopar!frase
iniciada pelo outro, procedimento apontado como de exceção no corpus
analisado por ele. A an!lise demonstra ser este um procedimento implicado na
existncia de problemas reais, manifestos, permeando o processo de construção desentidos na interação. Alguns exemplos do fen+meno foram descritos no capítulo
anterior 1ver em 1>66. (ão casos em que o ouvinte de um enunciado inicia um
reparo levando o falante do turno problema a operar uma autopar!frase
interturno34.
Ao contr!rio, no caso das auto-par!frases intraturno, muitas ve$es, a ação de
parafrasear a pr*pria fala decorre da consideração de uma possibilidade de
problema que possa afetar a interação. O falante autoparafraseia-se mais para
evitar a emergncia de um problema de compreensão que propriamente para sanar
um problema j! emergente. <rata-se de uma ação preventiva, das mais comuns na
fala-em-interação, que sinali$a esforço na construção da intercompreensão e do
envolvimento conversacional.
Al#m das funç'es acima elencadas, %! ainda que se destacar o importante
papel das auto-par!frases na tarefa de organi$ação do t*pico discursivo. 2ilgert
13454, p.;>;6 aponta para a função resumitiva de par!frases que se locali$am ao
final de uma unidade discursiva, sinteti$ando, indicando o t*pico central da
argumentação, de modo a efetivar sua conclusão. A função de organi$ação macro
do discurso # assumida por essa categoria particular de par!frase, as c%amadas
par!frases não adjacentes, ou seja, aquelas que se apresentam distanciadas de sua
matri$.
A pesquisa aponta ainda outras funç'es relativas J condução e organi$ação
do t*pico assumidas por procedimentos parafr!sticos. A noção de Hrefrão
parafr!sticoH 12ilgert, 3454, p.;886, por exemplo, indica a relev9ncia da
ocorrncia de par!frases sucessivas em situaç'es nas quais se deseja manter a
conversa centrada num determinado t*pico discursivo.
34 &a verdade, a observação do fen+meno promovida at# aqui, pela an!lise dos pequenos
fragmentos de nosso corpus de pesquisa situados no capítulo ;, aponta para uma ocorrncia bastante expressiva de auto- paráfrases e repetições iniciadas pelo outro em nosso contexto, aocontr!rio do que ocorre nas situaç'es analisadas em 2ilgert 134546.
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3.1.3.A repe'i"#o
7arcusc%i 13448, p.4>-3;46 trata do fen+meno da repetição, definindo-o
como Ha produção de segmentos discursivos idnticos ou semel%antes duas ou
mais ve$es no 9mbito de um mesmo segmento comunicativoH. (ua alta incidncia
na produção do texto falado tem sido tomada como evidncia do alto grau de
formulaicidade da fala. (egundo <annen 13454, p.K>6 Ha fala # menos livremente
gerada, mais pr#-padroni$ada do que a maioria das atuais teorias ling:ísticas
recon%ecemH.
A an!lise do fen+meno promovida em 7arcusc%i 134486, a partir dos dados
do )rojeto &GB=, avalia a funcionalidade da estrat#gia da repetição considerando
manifestaç'es distintas do fen+meno;@. A pesquisa dedica-se J investigação de
repetiç'es lexicais, sintagm!ticas e oracionais.
0entre as categorias em estudo destacam-se, como manifestação mais
comum, as auto-repetições adjacentes de itens lexicais. <amb#m os dados dessa
pesquisa, a exemplo dos avaliados por 2ilgert 134546, apontam para a preferncia
por efetuar reformulaç'es no mesmo turno, se possível dentro da mesma unidade
construcional de turno.(egundo 7arcusc%i 13448, p.4L6 da maleabilidade funcional da repetição
resulta Huma textualidade menos densa e maior grau de envolvimento
interpessoalH. 0estacaremos algumas das funç'es mais gerais apontadas para essa
estrat#gia. &o plano discursivo, a repetição tem um nmero consider!vel de
funç'es, atuando, sobretudo na garantia da coesividade e na condução dos
t*picos;3. )or outro lado, enquanto recurso de ênfase e explicitação, as
repetiç'es, mais precisamente auto-repetiç'es, tm um papel estritamentevinculado aos processos de construção da compreensão, como procura demonstrar
o fragmento abaixo, no qual a cliente, <elma, encamin%a um pedido de ação J
empresa.
;@ Fuanto ao segmento ling:ístico repetido tem-se? repetiç'es fonol*gicas, de morfemas, de itenslexicais, de construç'es suboracionais, de oraç'es. Fuanto J produção? auto-repetiç'es eH%eterorrepetiç'esH. Fuanto J distribuição na cadeia textual? repetiç'es adjacentes e nãoadjacentes.;3 Gma estrat#gia importante, nesse sentido, # o princípio da listagem, ou seja, a organi$ação deestruturas paralelas que atuam na conexão interfr!stica e possibilitam um maior envolvimentoentre os interlocutores.
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1;36 At K, p.;K;
3 alter X-gás alter. om dia.; <elma bom dia. #?? eu fi$ um pedido de verificação no? medidor, pra saber seK %avia algum tipo de Mmarcação errada,N leitura errada, entendeuS por I causa do valor que veio muito alto.
O fragmento recortado exp'e o que a pesquisa c%amaria uma quase-
repetição. A cliente, que pede a verificação de um erro possivelmente cometido
pela empresa ao medir seu consumo, repete parte do sintagma para garantir que
seu pedido ser! compreendido. Auto-repetiç'es, bem como auto-par!frases, em
posição adjacente muito freq:entemente assumem essa função facilitadora da
compreensão.
Auto-repetiç'es funcionam tamb#m como recurso argumentativo. &oexemplo abaixo, a cliente, depois de receber a informação de que a empresa não
era a respons!vel pela execução do serviço solicitado por ela, procura contra-
argumentar a essa posição da empresa, e o fa$ auxiliada pelo recurso J repetição.
1;;6 At 4, p.;IK
I> Peda esta avaliação t#cnica e%? )"lo que eu entendo, quem d! é a X-gás. é aI5 X-gás que di$. não é a companhia de gás? é ela ue diz se est!
I4 va$ando, se o meu cano j! est! estragado, se eu ten%o que trocar. #L@ porque eu moro num pr#dio muito antigo, entendeuS então pode at#L3 acontecer de precisar trocar os canos. eu não sei se # cano, #L; tubulação em geral. o que leva o g!s pra dentro da casa da pessoa.LK pode at# ser que que precise trocar e eu não saiba. mas eu não vouLI acreditar numa pessoa que bate na min%a porta e di$ que eu ten%o queLL trocar porque eu ten%o que trocar, e não justifica mais nada, entendeuSL8 uma? uma uma uma... uma atitude isolada. eu quero um parecer e% e%L> e% 1S6 no caso da companhia de gás Q
&o plano interativo, %! que se destacar, particularmente, a import9ncia de
repetiç'es efetuadas pelo outro 1ou H%eterorrepetiç'esH como prefere 7arcusc%i6.
(ão elas recursos indiciadores de alta cola!oração entre os interlocutores, ora
sinali$ando concord9ncia com o contedo da fala, ora sinali$ando escuta atenta,
ora indicando que o outro pode prosseguir. ejamos um exemplo no fragmento
1;K6 no qual a atendente =leide, para encamin%ar o serviço solicitado, pede
informaç'es J cliente.
1;K6 At 35, p.;83
44 =leide a sen%ora tem os dados do locat!rio em mãosS
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3@@ Paura ten%o. um instantin%o s*.3@3 13@ seg63@; oi, o que voc quer saberS3@K =leide primeiramente =)/ do locat!rio por favor.3@I Paura do locat!rio, que est! alugando, n#S
3@L =leide sim.3@8 Paura e%?? cinco dois meia,3@> =leide cinco dois meia ,3@5 Paura oito dois,3@4 =leide oito dois ,33@ Paura cinco meia,333 =leide cinco meia ,33; Paura trs sete,33K =leide trs, sete ,33I Paura sete tracin%o vinte e um.33L 13@ seg6 1barul%o de digitação6
O fragmento registra sucessivas repetiç'es da fala do outro 1em grifo6. Aqui
a repetição sinali$a o recebimento da informação, oferecendo tamb#m, como se
pode observar pela organi$ação da seq:ncia, o sinal que autori$a o cliente a
prosseguir com sua fala.
Bepetiç'es apresentam, portanto, funç'es vari!veis na produção do texto
falado, funç'es que abrangem desde aspectos relativos J legibilidade da fala a
aspectos associados ao andamento da conversa e J promoção da interação e do
envolvimento interpessoal. Algumas dessas funç'es são, conforme j! assinalamos,
tamb#m claramente assumidas pelas par!frases. &a verdade, parece-nos, em
alguns casos, bastante difícil dissociar os dois fen+menos.
=onsiderando o continuum proposto por 2ilgert, par!frases e repetiç'es
constituem estrat#gias bastante pr*ximas, intermediadas pela categoria da Hquase-
repetiçãoH. 0efiniç'es de um ou de outro fen+meno ilustram a imprecisão dos
limites que demarcam suas fronteiras. "m 7arcusc%i 13448, p.4>6 define-se a
repetição como sendo Ha produção de segmentos discursivos idnticos ousemelhantes duas ou mais ve$es no 9mbito de um mesmo evento comunicativoH.
0e outro lado, segundo a definição de 2ilgert 13448, p.3K;6, uma par!frase
mant#m com o enunciado alvo de reparo, Hem grau maior ou menor, uma
relação de euivalência semnticaH 1grifos nossos6.
"stamos pretendendo c%amar a atenção, na definição do primeiro autor, para
o termo Hsemel%anteH e, no caso do segundo, para a expressão Hequivalncia
sem9ntica, em maior ou menor grauH, a fim de assinalar a dificuldade de se c%egar a uma precisão terminol*gica que distinga as duas categorias.
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&esse sentido, 2ilgert 13454, p.3>K6 apresenta uma importante ponderação?
Ora, se a relação de equivalncia sem9ntica leva a identificar um enunciado como par!frase, então ser! ela tamb#m a identificar a relação de repetição. "sta, ali!s,
pode ser considerada um Hcaso-limiteH da par!frase? admitindo-se que a relação deequivalncia sem9ntica entre os enunciados da relação parafr!stica pode variar deum grau mínimo a um grau m!ximo, a repetição situar-se-ia nesta extremidade, isto#, ela seria uma par!frase que mantivesse com o seu enunciado de origem o graum!ximo de equivalncia sem9ntica, tradu$ido pela sinonímia denotativa.
Argumenta o mesmo autor, no entanto, %aver motivos para que se resguarde
a categoria das repetiç'es, considerando-a diversa das demais atividades de
reformulação. (eriam eles? i6 a distinção entre repetiç'es e par!frases, dada a
existncia de diferentes traços formais 1par!frases não repetem as mesmas palavras na mesma ordem sint!tica em que aparecem no enunciado de origem6;;R
ii6 o fato de repetiç'es apresentarem algumas funç'es específicas na perspectiva
interacionalR iii6 a necessidade de não se ampliar demais a categoria das
par!frases.
"strat#gias distintas de construção do texto conversacional, repetiç'es e
par!frases apresentam-se, muitas ve$es, como fen+menos convergentes, sobretudo
se considerarmos as motivaç'es contextuais determinantes de sua ocorrncia. "ssaconsideração # particularmente importante para esta pesquisa, posto que um dos
fen+menos de reparo recorrentes no corpus sob an!lise abrange ambas as
estrat#gias, particularmente pr*ximas devido ao papel interacional assumido nos
eventos focados.
Ainda a prop*sito da an!lise da função de repetiç'es, particularmente de
repetiç'es da fala do outro, fen+meno ilustrado no fragmento 1;K6, vale mencionar
aqui o estudo de s%iTaUa 13443, p.LLK-L5@6 que prop'e o recon%ecimento da
forte relação entre o formato do texto conversacional e o jogo interativo a ponto
de postular a existncia de um valor Hic+nicoH para algumas estrat#gias de
formulação da fala em interação.
;; A esse respeito, a afirmação que se segue constitui outro dado problemati$ador na nossatentativa de distinção dos dois fen+menos. (egundo 7arcusc%i 13448, p.446, Ha repetição integral,aquela que reprodu$iria a matri$ exatamente, # mais rara do que a repetição com variação, sendoque essa variação aumenta se consideramos o aspecto pros*dicoH. 0o mesmo artigo recortamosoutro fragmento importante que sinali$a a intersecção entre os dois fen+menos. Ao analisar ocorrncias de repetição de um mesmo item lexical, observa o autor que? Hidentidade e diferença
sob o aspecto lexical não equivalem a identidade e diferença sob o aspecto referencial. =aso típico# o da par!frase que em geral manifesta-se com diferenças lexicais para gerar identidadesreferenciais, o que não # garantido nem mesmo no caso da repetição integral.H
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=onsiderando Has propriedades interacionais do significadoH conforme
proposto por <annen 134546, o autor argumenta ser o fen+meno da repetição na
fala uma esp#cie de Hsigno ic+nicoH similar ao fen+meno da reduplicação de
morfemas em algumas línguas
;K
. 2averia, portanto, uma forte correspondncianão apenas entre forma e significado 1significado ic+nico6, mas entre forma e
função interacional, relação J qual o autor se refere como um fen+meno de
Hiconicidade interacionalH.
A partir da an!lise do corpus em Vapons, o autor aponta algumas funç'es
interativas de auto-repetições e repetições pelo outro, argumentando que J
repetição de enunciados corresponde - mais diretamente do que se costuma
recon%ecer – alguma função interacional específica.
0essa forma, são apontados alguns Hsignificados ic+nicosH da autorrepetição
intraturno – bem como da reduplicação - quais sejam? intensidade, iteração,
continuidade;I. <ais funç'es comunicativas tm sido, de fato, atribuídas a esse
tipo de repetição, facilmente recon%ecível como uma estrat#gia argumentativa e
como recurso de nfase, conforme j! discutimos.
&o entanto, # ao discutir as funç'es de repetições efetuadas pelo outro que
se ilustra, de fato, a %ip*tese da Hiconicidade interacionalH. "m conson9ncia com
<annen 134546, o autor aponta a repetição pelo outro como recurso que garante
envolvimento interpessoal;L. A an!lise dos dados exp'e v!rias ocorrncias desse
tipo de repetição em unidades discursivas formuladas a partir das contribuiç'es
conjuntas dos falantes que constroem colaborativamente o texto conversacional
1H joint idea constructionsH6. &esses contextos, o procedimento da repetição pode
ser usado pelo falante para confirmar a fala do outro, para ratificar o seu papel de
ouvinte, para ratificar a contribuição do interlocutor demonstrando compreensão,
aceitação ou concord9ncia, para sinali$ar que o discurso pode prosseguir.
A %ip*tese da iconicidade interacional # ilustrada pela demonstração de que
o vínculo formal expresso pela repetição tem correspondncia na vinculação dos
;K A an!lise de construç'es lexicais, por reduplicação na língua turca demonstra a estreitacorrespondncia entre a forma e o significado. 0esse modo, a expressão muito feliz nesse idiomatem a id#ia de intensidade garantida pela reduplicação da forma? rame Q feli$R ramerameQ muitofeli$.;I O significado Hic+nicoH de continuidade # ilustrado por formas verbais que, repetidas, denotamduração da ação.;L (egundo <annen, a repetição, al#m de criar a coerncia do discurso, garante o envolvimentointerpessoal, o qual gera identificação emocional. A repetição #, portanto, um poderoso recursocognitivo e interacional.
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selfs constituídos na interação, ou seja, J conexão da forma corresponde algum
tipo de conexão 1intercompreensão, compartil%amento, foco mtuo de atenção6
entre os participantes. )ortanto, a recorrncia de padr'es de turno representaria as
relaç'es entre auele ue repete e auele ue é repetido.
3.$.Reparos progressios
<ratamos na seção anterior de tipos de reparos que se apresentam como
solução para problemas de formulação manifestados textualmente 17arcusc%i,
344L apud /!vero, 344>, p.3;@6, ou seja, reparos associados a uma esp#cie de
revisão textual. Aqui trataremos de um tipo de reparo que não inclui retomadas eque est! associado J tentativa de solução de problemas on line 17arcusc%i, 344L
apud Woc% 3448, p.K>4-I3@6. Ao contr!rio do que ocorre no caso das categorias
acima descritas, ao promover um reparo progressivo, o falante, muitas ve$es,
parece não saber exatamente o ue ou como di$er. 0essa forma, reparos
progressivos associam-se J busca da expressão.
)arece-nos bastante complexa a tarefa de construir um conjunto restrito de
categorias no caso desse tipo de reparo, dada a variedade de procedimentosreformuladores a que o falante pode recorrer na tentativa de avançar, prosseguir
com o discurso, encontrando a mel%or forma de expressão. <emos observado, em
diferentes estudos, uma curiosa variedade de ocorrncias, algumas das quais
recorrentes e indubitavelmente modeladas contextualmente.
Gm exemplo de reparo progressivo foi analisado na seção ;.3 deste
trabal%o. "numeramos abaixo outro exemplo que julgamos ser um procedimento
bastante comum em contextos diversos.
1;I6 At 34, p.;8L
3 7arcos X-gás, 7arcos boa tarde.; Vos# boa tarde 7arcos, eu #% eu %oje recebi aqui na?? %oje um comunicadoK que a partir de aman%ã, vai ser trocado MumaN v!rios #%??I medidores Mde g!sN t! 7arcos.L 7arcos M certo N8 Vos# a pergunta que eu faço # a seguinte, se por acaso voc pode> informar??, o tempo m#dio pra trocar um um um medidor desse,5
voc tem uma uma id#iaS
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Os turnos do cliente exibem apenas um procedimento de reparo regressivo
1sinali$ado com colc%etes e grifo6. Os demais procedimentos de reparo comp'em
uma atividade de construção progressiva da fala, esforço marcado por v!rias
sinali$aç'es de %esitação 1em vermel%o6. Beformatamos parte da fala do cliente
para mel%or visuali$ação dessas ocorrncias de reparo?
Heu #%
eu %oje recebi aqui na???
%oje recebi um comunicado que a partir de aman%ã vai ser trocado uma-
v!rios #%??
medidores de g!s ta 7arcosH
"sse trec%o exibe particularmente bem o esforço de construção on line da
fala que aqui # paulatinamente gerada por acr#scimos sucessivos de material
ling:ístico que se introdu$em ap*s procedimentos de %esitação. O falante
monitora a construção progressiva de seu enunciado, valendo-se da repetição e de
pequenas pausas como recurso de preparação da fala.
3.3.I(i!ia"#o )e reparo
&ão nos parece conveniente atribuir a algumas atividades envolvidas na
tarefa de processamento textual o mesmo status das subcategorias de reparo at#
aqui descritas. "strat#gias de processamento textual como a hesitação e a
ruptura são descritas em (c%egloff 134>4, p.;>K6 como Hiniciaç'es de reparoH, ou
seja, como sinali$aç'es de que alguma atividade de reformulação dever! ser efetuada. &o entanto, podemos tamb#m admitir que cortes, pausas preenc%idas,
prolongamentos voc!licos, fen+menos observ!veis em muitos dos fragmentos
analisados, não apenas anunciam operaç'es de reparo, como tamb#m constituem
os pr*prios procedimentos de reparo.
Woc% 13445, p.>@6 distingue o fen+meno da %esitação dos demais
procedimentos de reformulação, tratando a %esitação como atividade indissoci!vel
da produção da fala, atividade ling:ística que se caracteri$a pela simultaneidade
entre planejamento e verbali$ação. (ua pesquisa demonstra que Hnão existe trec%o
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de fala sem %esitaç'es, ao passo que podem existir trec%os de fala, mais ou menos
longos, sem inserç'es ou reformulaç'es, quer ret*ricas, quer saneadoras.H
Abordagem semel%ante em 7arcusc%i 1344L, apud Woc% 3448, p.K>4-I3@6
aponta a %esitação como indício de Hdificuldade de processamento verbal naestrutura sintagm!ticaH, não sendo, portanto, uma solução apresentada para um
dado problema de formulação textual, mas anncio de tentativa de solução de
problemas on line. O autor enumera alguns procedimentos de %esitação que
surgem na fala como evidncia de problemas de formulação. (ão eles?
prolongamentos voc!licos, repetiç'es de pequenos voc!bulos, pausas, pausas
preenc%idas, falsos começos.
Alguns desses procedimentos podem ser observados no fragmento 1;I6,
acima destacado. O exemplo permite demonstrar que reparos são operaç'es
sempre anunciadas, ou por procedimentos de %esitação ou por rupturas como a
que constitui o reparo regressivo operado em? Ha partir de aman%ã vai ser trocado
uma- v!rios #%?? queimadoresH. Bupturas são interrupç'es repentinas da seq:ncia
discursiva ou rompimentos bruscos da sintaxe em curso. (ão observ!veis sempre
que o falante trunca o enunciado e, sem %esitar, opta por outra alternativa de
formulação. Betomemos o fragmento 1;6, analisado no capítulo anterior?
1;6 At K, p.;K;
88 alter Qmas sen%ora, então esse consumo de trinta metros cbicos seria-8> estaria correto. j! que j! que nesse período a sen%ora passou a utili$ar 85 o aquecedor do fogão.84 <elma nã??o.>@ alter dia vinte e doisQ>3 <elma Qeu passei- eu usei- eu comecei- uando eu fiz a-, quando a min%a>; conta c%egou, eu liguei no mesmo dia, porque eu estran%ei o valor.>K tin%a assim uma semana que o meu aquecedor tin%a sido instalado. e
>I não não existe o consumo assim de ficar duas %oras no c%uveiro, com>L o aquecedor ligado. entendeuS o fogão tamb#m # utili$ado o normal,>8 não faço bolos, não faço, entendeuS então eu to eu to tentando te di$er >> o seguinte que o meu consumo normal, eu creio, que não passa desse->5 desse mínimo não. porque eu morei num outro endereço, não pelo fato>4 de ser, manufaturado ou não, porque a tarifa voc disse # a mesma5@ coisa.
&a lin%a >3, temos quatro rupturas sucessivas que constituem uma operação
de reparo progressivo pondo J mostra o esforço empen%ado na busca da
expressão. )or sua ve$, a ruptura que observamos no fragmento 1;I6 comp'e uma
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operação de reparo regressivo e evidencia a competncia do falante em encontrar
uma solução r!pida para o problema enfrentado.
Gma avaliação inicial de HrupturasH est! apresentada em nossa primeira
investigação do fen+meno do reparo 1arbosa, 34446. &esse trabal%o c%egou-se Jidentificação de duas categorias de rupturas, as quais nomeamos? i6 rupturas com
função discursivaR ii6 rupturas sem função discursiva.
&o primeiro grupo reunimos ocorrncias de reparo associadas ao sucesso da
expressão. (ão casos semel%antes ao que se apresenta no fragmento 1;I6. &eles
rupturas antecedem reformulaç'es bem sucedidas, retrospectivas ou prospectivas.
O falante trunca o enunciado por ter encontrado solução mais apropriada. &o
outro grupo reunimos rupturas que, a exemplo do que ocorre em 1;6, sinali$am
extrema dificuldade de processamento. Ou seja, o falante descarta a primeira
tentativa de formulação por l%e faltar a palavra. &o caso de 1;6 o que se observa
são quatro tentativas descartadas quando do início da construção do argumento
que a cliente apresenta ao atendente.
A an!lise do fen+meno da ruptura ajudou-nos a demonstrar de que modo
situaç'es de estresse comunicativo podem levar a um nível de disfluncia
altamente prejudicial J comunicação. Bupturas sem função discursiva
identific!vel interacionalmente compun%am fragmentos que expun%am o falante
lutando pela expressão e mesmo, em alguns momentos, tendo que enfrentar o
constrangimento da perda da palavra.
Bupturas e %esitaç'es são, portanto, segundo a teoria que aborda
particularmente a sintaxe intraturno 1(c%egloff, 34>46, procedimentos que
constituem operaç'es de reparo, mais propriamente sinali$aç'es de problemas
envolvendo o processamento da fala. "ssas categorias de iniciação de reparo
somam-se a outras envolvidas na construção de seq:ncias de turnos 1como
pedidos de confirmação ou pedidos para repetir6, constituindo um sistema que
inclui os componentes indiciadores de problemas de processamento e
compreensão e as atividades voltadas para a resolução desses problemas.
Os estudos apresentados neste capítulo analisam a função comunicativa de
alguns procedimentos de reparo. Begistram-se importantes variaç'es da
funcionalidade relativas J forma de organi$ação do reparo e ao agente que o
promove 1eu ou outro6. (ão estudos que oferecem categorias para a an!lise dotexto falado e contribuem com investigaç'es focadas na relação entre o jogo
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interativo e a promoção de reparos na fala. &o capítulo que se segue, em parte
dele, dedicamos atenção especial a este t*pico, abordando estudos que se ocupam
da compreensão de processos interativos que envolvem operaç'es de reparo como
dado revelador do que est! em jogo para os participantes.