a fotografia sob o impacto da eletronica

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grall

impacto a eletrnicaARLlNDOadvento recente da fotografia ele trnica (a fotografia que registra da diretamente em suporte magr ntico ou ptico e mais comumente conhe~'cida como stilluideo),bem como dos inme~ ros recursos informatizados de conservao e armazenamento de fotos (comoo Photo-CD da Kodak),ou ainda dos dispositivos de processamento digital da fotografia (como as mquinas da empresa Scitex Corporation ou programas de computador tais como Photoshop ou PhotoStyler),ou mesmo dos recursos de mo delao direta da imagem no computador, sem auxlio de cmara, tudo isso tem causado o maior impacto sobre o . conceito tradicional de fotografia e promete daqui para a frente introduzir mudanas substanciais tanto na prtica quanto no consumo de imagens fotogrficas em todas as esferas de utilizao. A hegemonia dessas novas imagens fcil de ser verificadas. Basta observar o crescimento vertiginoso das telas eletrnicas ao nosso redor. Em casa, no trabalho, nas escolas, nas empresas, nos bares, nos estdios, nos aeroportos, nos metrs, nas ruas, nos hospitais, aonde quer que se v, h sempre um (ou vrios) monitor(es) ligado(s), espalhando para todos os quadrantes uma imagem granulosa, mosaicada, estilizada,

MACHADOtranslcida e flamejante, que apenas remotamente pode ser associada imagem muito mais definida, mais consistente e mais homognea da fotografia. Emesmo nos meios impressos, como jornais e revistas de massa, j nos estamos acostumando a conviver com um certo tipo de imagem que, apesar de muitas vezes lembrar estreitamente a familiar imagem fotogrfica, pode j no ter sido captada por uma cmara ou, se o foi, pode estar de tal forma alterada que no-guarda mais que plidos traos de seu registro original em pelcula. A fotografia eletrnica, ou o tratamento eletrnico da fotografia, ou a simulao da fotografia por meio de recursos digitais, tudo isso j so hoje fatos consumados. Muitos fotgrafos podero simplesmente ignorar tal assdio, muitos devero mesmo resistir heroicamente e persistir at o fim da vida buscando o "momento decisivo" das coisas que se oferecem cmara. Mas o problema - se que se trata de procurar problemas - que essas novas prticas ou esses novos fenmenos encontram-se hoje to estreitamente inseridos, misturados, permeados nas prticas fotogrficas convencionais, que se torna cada vez mais difcil saber o que ainda especificamente foto-grafia, ou seja, registro da luz sobre uma pelcula revestida quimi'! '!

i

~camente

e o que , por outro lado, metamorfose, ou seja, converso dos gros fotoqumicos em unidades camente tanto de cor e brilho, matematis quais damos o em controlveis, imagens

na fotografia, a msica que se ouve nu co no mais, em grande parte das vez registro da performance de um instrume ta, mas o resultado de um trabalho d gerado' de o de sons eletronicamente que remonta tenberg, tribudo

nome de pixels. Uma vez que hoje se pode converter fotogrficas eletrnicas, a nenhuma quanto eletrnicas em fotogrpermane-

mesmo o velho e tradicional livro impr ao tempo da imprensa no sculo XV, est sendo ra pelo livro eletrnico, discos CD-RO . em disquetes,

ficas, sem que nessas passagens

marca do seu estado anterior,

mente substitudo diretamente

vive-se hoje uma situao de indiferenciao entre os meios, situao essa que contagiante e ameaa dos flagrantes. A situao vivida hoje no universo da fotografia no muito diferente da situao vivida, por exemplo, no cinema, que v o vdeo e a informtica rolo compressor cantes, tomando pas de elaborao penetrarem como um signifiem seus processos at mesmo o mais singelo

atravs de cabos telefnic' uma:

redes de fibras ticas. A fotografia no vive, portanto, tuao especial, nem' particular: corrobora um movimento ramos caracterizar ela ape~

maior, que se: co

em todas as esferas da cultura, e que poa resumidamente sendo um processo implacvel de "pixelio" (converso em informao

o controle de todas as etado filme. Modemamente,

eletrnica

de informatizao

de todos os sistemas A tela m hoje o 10 que perf (e tambm deste finl

no cinema, a edio j est toda informatizada, a filmagem assistida por vdeo, quando no gravada duo so gerados diretamente eletronicamente em meio e at magntico, a maioria dos efeitos de ps-promesmo o roteiro e o storyboard so editados em microcomputadores. guagem da televiso, deve ser pensado em considerao tela pequena, A prpria linguauma vez que o filme levando-se na em gem do cinema hoje uma derivao da line produzido

expresso, de todos os meios de cornunir o do homem contemporneo. saicada do monitor representa de convergncia zem o panorama da musicalidade, mente, arrastando incalculvel ando problemas e das sensibilidades emergentes

de todos os novos saber' da visualidade da verbalidade)

de sculo. Esse fenmeno

surge, evidentedesencade-

atrs de si um nmero de toda ordem e so justa

de conseqncias,

a sua funcionalidade

quando ele for distribudo

mente essas derivaes que nos devem ocu par daqui para a frente. Mas seria um equvoco descomunal se estivssemos olhar para tudo isso corn diante de uma catstrofe, ao se multiplitambm

fitas de videocassete muito diferente:

ou nos canais de teleno

viso. Na rea da msica, a situao so "samplerizados" tras) ou sintetizados (construdos

os sons dos instrumentos por amosao eletronicamente,

como se as telas eletrnicas, anunciando

carem ao nosso redor, estivessem

passo que as peas musicais no consistem em outra coisa que uma edio desses sons numa tela de computador, por meio de separa esse fim.

a chegada do Apocalipse. A nova

situao criada pelo advento dos meios eletrnicos e digitais oferece uma boa ocasio para se repensar a fotografia e o seu destiboa parte de no, para colocar em questo

qenciadores especificamente

O que quer dizer que, tal como ocorre agora

s mitos ou de seus pressupostos tudo, para redefinir estratgias

e, sobre-

da prpria imagem, at mesmo no nvel do gro mais elementar Certamente de informao: o pixel. j se manipulava a foto em

de interven-

o capazes de fazer desabrochar na fotograa uma fertilidade nova, de modo a recolor o seu papel no milnio que se aproxima.

outros tempos e a histria da fotografia est repleta de exemplos de alterao a informao luminosa impressa no negativo para fins publicitrios, polticos ou at mesmo est-

Realismo em criseA conseqncia "eada da hegemonia mais bvia e mais alarda eletrnica a per-

ticos. Em 1986, o jornalista Alain ]aubert organizou em Paris uma exposio denominada As Fotos que Falsificaram a Histria, onde foram expostas quase uma centena de fotos "histricas" reconhecidamente adulteradas atravs de retoque ou colagem, como a clebre imagem de Lnin na tribuna (em 1920) de onde Trtski foieliminado, o famoso enterro de Mao Ts-Tung (1976) de onde foram apagadas as figuras da Camarilha dos Quatro, e o retrato de Fidel Castro tomado no Chile em 1971, de que o lder cubano mandou suprimir a figura do General Pinochet, que posava ao seu lado. Mas a manipulao fotogrfica que se fazia em outros tempos era grosseira e podia ser facilmente cpio. Hoje extremamente impossvel) manipulao descoberta com um simples exame atravs de microsdifcil (seno saber se houve algum tipo de numa foto, pois o processanuma re-

da do valor da fotografia como documento, " como evidncia, como atestado de uma prexistncia da coisa fotografada, ou como r'bitro da verdade. A crena mais ou menos generalizada de que a cmara no mente e de que a fotografia , antes de qualquer outra coisa, o resultado do imaculado de um registro dos raios de luz refletidos pelos seres e objetos do mundo, enfim, toda essa mitologia a que a fotografia a desaparecer manipulao tem sido associada No tempo da desde as suas origens, tudo isso est fadado rapidamente. digital das imagens, a fotograe no pode atestar

fia no difere mais da pintura, no est mais isenta de subjetividade mais a existncia de coisa alguma. Qualquer imagem fotogrfica pode ser profundamente alterada, alguns de seus elementos de outras imagens, poo ou dem ser importados

mento digital, uma vez realizado

nariz de um modelo pode ser alongado

soluo mais fina que a do prprio gro fotogrfico, no deixa marca alguma da interveno. Uma vez que agora se pode fazer qualquer tipo de alterao do registro fotoimpossvel de ser verifino ligrfico e com um grau de realismo que torna a manipulao cada, a concluso lgica que, no limite, todas as fotos so suspeitas mite, nenhuma ticamente e, tambm foto pode legal ou jornalis-

reduzido e at mesmo trocado com o de outra figura, rugas ou excesso de gorduras podem ser eliminados dos corpos fotografados, a posio dos objetos no quadro pode ser alterada para possibilitar um novo enquade obturadramento, at mesmo erros de foco, de mensurao da luz ou de velocidade o podem ser corrigidos na tela do computador. O conceito de edio da fotografia se amplia e compreende hoje no apenas o tramas tambm constitutivos a balho de recorte do quadro e a sua insero na pgina de uma revista, manipulao dos elementos

provar coisa alguma. A foto per-

de o seu poder de produzir verosssimilhana e, como tal, bem provvel que dentro de mais algum tempo ela seja excluda at mesmo de nossos documentos de identidade.

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