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ANDRÉ ROBERTO DA SILVA PINTO A FORMAÇÃO DE ENGENHEIROS EM PERNAMBUCO: algumas histórias CAMPINAS 2015

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ANDRÉ ROBERTO DA SILVA PINTO

A FORMAÇÃO DE ENGENHEIROS EM

PERNAMBUCO: algumas histórias

CAMPINAS

2015

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RESUMO

O objetivo central desta investigação foi estudar as características da formação de

engenheiros civis-professores de matemática, pela Escola de Engenharia de Pernambuco,

entre finais do século XIX e inícios do século XX. Pautados em autores da História

Cultural, especialmente em Carlo Ginzburg, buscamos rastros, no sentido atribuído por este

autor, que nos ajudaram a construir ―o fio do relato‖ e a nos orientar ―no labirinto da

realidade‖ (GINZBURG, 2007, p. 7). Para compor o fio das narrativas, utilizamos rastros

deixados em diversos tipos de documentos, como livros, entrevistas, artigos, textos oficiais

e escolares, encontrados em diferentes lugares de memória. Os rastros encontrados nos

levaram à produção de três textos independentes, que não têm como fio condutor a

cronologia. No primeiro deles, adentramos no universo da engenharia no Brasil, buscando

identificar tipos diferentes de formação de engenheiros. No segundo texto, composto de

duas partes, apresentamos duas narrativas históricas, uma centrada em memórias

institucionais e outra em memórias de alguns personagens que fizeram parte do cotidiano

da Escola de Engenharia de Pernambuco. O terceiro texto centra sua atenção nas discussões

teórico-filosóficas que ocorriam nas primeiras décadas do século XX, particularmente, na

visão de Luiz de Barros Freire, que foi aluno, professor e diretor da EEP.

Palavras-Chave: Escola de Engenharia de Pernambuco; Escolas de Engenharia;

professores; engenheiros; matemática.

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ABSTRACT

The central objective of this investigation was to study the characteristics of

engineers civil-math teachers‘ formation, by Engineering School of Pernambuco State,

during the late 19th century and early 20th century. Based on authors of Cultural History,

especially Carlo Ginzburg, we look for traces, in the sense attributed by this author, who

helped us to build "thread of narration" and guided us "in the labyrinth of reality"

(GINZBURG, 2012, p. 1). To compose the thread of the narrative, we use traces left in

several types of documents, such as books, interviews, articles, official and educational

texts, found in different places of memory. These traces led us to produce three independent

texts, which do not have chronology as their guiding principle. In the first one, we enter the

universe of engineering in Brazil, seeking to identify different types of training to

engineers. The second text, composed of two parts, we present two historical narratives,

one centered on institutional memories and the other on memories of some characters who

were part of the daily life of the Engineering School. The third text focuses on theoretical-

philosophical discussions that occurred in the first decades of the 20th century, particularly,

in the vision of Luiz de Barros Freire, who was a student, a teacher and Director of the

EEP.

Keywords: Engineering School of Pernambuco State; Engineering schools; teachers;

engineers; mathematics.

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xi

SUMÁRIO

RESUMO ............................................................................................................................................. vii

ABSTRACT ........................................................................................................................................... ix

SUMÁRIO ............................................................................................................................................ xi

AGRADECIMENTOS ........................................................................................................................... xiii

LISTA DE FIGURAS .............................................................................................................................. xv

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 1

CAPÍTULO 1 – A matemática e escolas militares no Brasil ................................................................. 6

Com as mãos sujas de cal e de tinta.................................................................................................... 7

Com as mãos sujas de giz e tinta ....................................................................................................... 19

Com as mãos ‘na massa’ ................................................................................................................... 26

CAPÍTULO 2 – A Escola de Engenharia de Pernambuco em movimento .......................................... 30

Memórias Insitucionais ..................................................................................................................... 31

Professores, Alunos e Disciplinas ...................................................................................................... 41

Entre Doutores e Bacharéis ............................................................................................................... 50

CAPÍTULO 3 – Luiz de Barros Freire: Reflexões sobre Ciência .......................................................... 55

Da Sciencia Matehmatica, Sua Methodologia .................................................................................. 57

Outros Escritos .................................................................................................................................. 66

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................... 73

FONTES BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................. 77

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................................ 79

ANEXOS ............................................................................................................................................. 86

Anexo 1: Grade curricular apresentada na Lei n° 84 de 1895 que decretou a criação da Escola de

Engenharia de Pernambuco .............................................................................................................. 86

Anexo 2: Grade curricular apresentada no Regulamento de 1898 ................................................... 87

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Anexo 3: Grade curricular apresentada no Regulamento de 1901 ................................................... 89

Anexo 4: Grade curricular apresentada nos Estatutos de 1905 ....................................................... 90

Anexo 5: Tabela com os nomes de professores da EEP e o ano em que se formaram Engenheiros

na EEP ................................................................................................................................................ 92

Anexo 6: Lista de Formandos da EEP de 1897 até 1925 ................................................................... 93

Anexo 7: Lista de Professores da EEP de 1895 até 1916 ................................................................... 99

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xiii

AGRADECIMENTOS

À minha família e à minha esposa, que estão comigo desde o início. Um

agradecimento especial para minha Larissa, que além de todo o apoio ainda colaborou

imensamente para finalização deste texto.

À Maria Ângela Miorim, pela orientação singular, por todo suporte e atenção. Aos

professores André Luiz Paulilo e Virgínia Cardia Cardoso, que colaboraram de forma

decisiva para a confecção do texto final desta pesquisa.

Às pessoas que trabalham na Fundaj, no Arquivo Público Estadual de Pernambuco, na

Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco, no Arquivo Geral da UFPE, na Biblioteca

―Prof. Joel Martins‖ da Faculdade de Educação da Unicamp.

Às pessoas que nos atenderam no Centro de Tecnologia e Geociência da UFPE, em

especial ao professor Maurício Pina, que auxiliou em etapas fundamentais da busca por

fontes.

Ao professor Roldão Gomes Torres, pela atenção, disponibilidade e por seus livros

―Nos degraus da rua do Hospício 1 e 2‖ que muito colaboraram para a pesquisa. Ao Bruno

Dassie, que nos enviou arquivos de difícil localização e que foram muito importantes para o

estudo.

Aos amigos que me deram apoio em Pernambuco: Luiz Miguel e Patrícia Sanches.

Aos colegas do grupo HIFEM e do CEMPEM, pelas boas conversas.

À CAPES, pelo apoio financeiro dedicado a esta pesquisa.

Aos amigos e mestres que aqui não nomeei, mas que fizeram parte desta etapa da

minha formação, um grande e sincero:

Muito Obrigado.

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xv

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: Fortaleza do Brum......................................................................... ...6

FIGURA 2: Capa Do Livro ―Método Lusitânico de Desenhar as Fortificações das Praças

Regulares e Irregulares, Fortes de Campanha e outras obras pertencentes a Architectura

Militar‖, 1680........................................................................................................................11

FIGURA 3: Capa do Livro ―Exame de Bombeiros‖............................................13

FIGURA 4: Capa do Livro ―Exame de Arthilheiros‖..........................................14

FIGURA 5: Capa do Livro ―Novo Curso de Matemática‖...................................16

FIGURA 6: Teatro de Santa Isabel e Palácio do Campo das Princesas em 1850...32

FIGURA 7: Capa do ―Regulamento‖ da Escola de Engenharia de Pernambuco de

1898.............................................................................................................. .....34

FIGURA 8: Prédio da Escola Livre de Engenharia na rua do Hospício, n° 71.....39

FIGURA 9: Atual sede do Clube de Engenharia de Pernambuco.........................41

FIGURA 10: Luiz de Barros Freire................................................... .................55

FIGURA 11: Capa da tese ―Da sciencia Mathematica Sua Methodologia‖...........57

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1

INTRODUÇÃO

Durante a escrita desta versão final de minha dissertação de mestrado, rememorei

diferentes tempos, não apenas aqueles que me motivaram a realizar uma investigação em

História da Educação Matemática brasileira, mas também os de busca por textos, artigos,

livros e outros documentos, localizados em variados espaços de memória, bem como os

tempos de ansiedade e dúvidas geradas nos momentos da escrita da História.

Nesta rememoração, me ocorreram algumas aulas da disciplina EL 284 – Educação

Matemática Escolar I, quando tive meu primeiro contato com textos de História da

Matemática e da Educação Matemática, que tinha como docente a professora Maria Ângela

Miorim, orientadora desta dissertação. Eu estava, então, no segundo semestre do Curso de

Licenciatura em Matemática da UNICAMP. Esta disciplina despertou em mim um interesse

que somente no término do curso de graduação ficaria mais nítido: o gosto pela história ou

por histórias, pela busca de textos e documentos, por levantar questões e buscar

possibilidades de respostas ou, quem sabe, como ocorria muitas vezes na disciplina

mencionada, levantar novas questões.

Durante o Curso de Matemática, fui me aproximando cada vez mais do campo

educacional, não só por experiências como professor, mas, também, por outras experiências

em disciplinas da área de pesquisa em Educação Matemática, que levantavam questões

sobre educação, professores, sobre o ensino de matemática, sobre histórias de professores.

Quando concluí o meu Curso, pensei em fazer mestrado na área que tinha me

despertado maior interesse: a História da Educação Matemática. Decidi, então, procurar a

professora Maria Ângela Miorim para conversarmos sobre este meu interesse. Em reunião,

conversamos sobre meus anseios, minha história, minha situação de vida e estudo daquele

momento. Concluímos que seria possível entrelaçar o meu interesse pela História da

Educação Matemática com o estado em que estava residindo: Pernambuco. Conversando

sobre um possível período para meu estudo, a professora Ângela e eu pensamos no começo

do século XX, um período rico em mudanças, porém, comparado a outros períodos da

história, ainda pouco explorado por estudos da História da Educação Matemática brasileira.

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Após esta conversa inicial, realizei algumas buscas por documentos, elaborei meu projeto

de mestrado e fui aprovado na seleção da FE-UNICAMP.

O objetivo central do projeto era investigar como professores-engenheiros de

matemática, que viveram no começo do século XX no Recife, eram constituídos, ou seja,

como eles se tornavam professores. Para realizar a investigação, incentivado por leituras e

discussões realizadas em reuniões do Grupo de Pesquisa HIFEM – História, Filosofia e

Educação Matemática; bem como em disciplinas cursadas na FE-UNICAMP, que

priorizavam textos de historiadores vinculados à História Cultural, como Roger Chartier,

Michel de Certeau e Carlo Ginzburg, pensava em centrar minha atenção em práticas do

ensino de Matemática realizadas na Escola de Engenharia de Pernambuco. Acreditava,

então, que iria localizar alguns registros mais diretamente relacionados às aulas de

Matemática, tais como: ementas de disciplinas, diários de professores, provas, exames,

cadernos de alunos, etc. Essas expectativas foram criadas durante meus primeiros contatos

com a Escola de Engenharia de Pernambuco, quando fui informado de que esse material se

encontrava em uma repartição do Centro de Tecnologia e Geociência (CTG)1 da UFPE,

Universidade Federal do Pernambuco, denominada Escolaridade, que há cerca de dois anos

tinha passado por uma reforma.

Minhas expectativas iniciais, no entanto, não se confirmaram. Nesta reforma,

segundo informações do CTG, a Escolaridade e seu acervo foram divididos em duas partes:

a primeira referente ao corpo discente e a outra ao administrativo. Todavia, ao iniciar

minhas buscas, descobri que os documentos que procurava não estavam em nenhuma

dessas novas seções da Escolaridade. Fui orientado, então, a realizar nossas buscas no

arquivo Geral da UFPE, que também não tinha registro dos documentos que procurávamos.

As pessoas que me auxiliaram no Arquivo Geral sugeriram que eu voltasse a procurar nos

arquivos do CTG, que era o local onde os documentos do período de meu estudo estariam

guardados. Retornei ao CTG, mas novamente não consegui localizar nenhum documento

anterior a década de 1970. Após alguma insistência em diversas seções do CTG, fui

1 ―O Centro de Tecnologia e Geociências - Escola de Engenharia de Pernambuco (CTG-EEP) resultou da

fusão da antiga Escola de Engenharia de Pernambuco, fundada em 1895, com a Escola de Química, a Escola

de Geologia, o Laboratório de Ciências do Mar e o Centro de Energia Nuclear. Suas instalações, no Campus,

ocupam uma área construída de 50.163m2, abrigando laboratórios de ensino e pesquisa e uma biblioteca

setorial‖. Disponível em: https://www.ufpe.br/ctg/index.php Acesso em: 14/04/2015.

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informado que estes arquivos talvez não estivessem mais disponíveis, que possivelmente

eles se ―perderam‖ durante a reforma da Escolaridade ou ao longo dos anos.

Grande foi a decepção. Mesmo assim não desanimei. Existiam outros locais de

memória que eu poderia, ainda, encontrar materiais de interesse para o meu trabalho.

Visitei, então, a Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco, o Arquivo Público Estadual

de Pernambuco e a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). Nestes locais, consegui localizar

alguns documentos: Regulamentos, Relatórios e Estatutos da EEP; uma tese do professor

Luiz Freire e alguns artigos seus e de outros autores publicados no Boletim de Engenharia

de Pernambuco2, bem como artigos de Freire na Revista Brasileira de Matemática; atas

manuscritas de Congregações realizadas entre 1898 e 1902. Também tive acesso a alguns

livros que abordam aspectos históricos da Escola de Engenharia de Pernambuco:

―Engenheiros do Tempo‖, uma organização coletiva, que apresenta 18 entrevistas de

professores da EEP; ―Outras Histórias‖, uma coletânea que se propõe a complementar o

texto ―Apontamentos para História da Escola de Engenharia de Pernambuco‖ de Newton da

Silva Maia; e ―Nos degraus da Rua do Hospício‖ (1 e 2), de Roldão Torres, que traz

aspectos históricos da Escola de Engenharia e de seus professores, além de crônicas, em

dois livros que comemoram os 40 anos de formação da turma de Engenharia Civil de 1967.

A leitura deste material levou-me a centrar a atenção na Escola de Engenharia de

Pernambuco e na formação de seus engenheiros, tendo a seguinte questão orientadora da

investigação: Quais as características da formação de engenheiros-professores de

matemática na Escola de Engenharia de Pernambuco entre os anos finais século XIX e anos

iniciais do século XX?

A decisão por não definir explicitamente o período ocorreu durante a escrita do

trabalho final, após a realização do Exame de Qualificação, momento em que os membros

da banca sugeriram uma maior atenção para a delimitação do tempo. A opção foi pela não

definição de datas limites, uma vez que o trabalho transita em vários tempos, priorizando

finais de 1800 e inícios de 1900. Tempos de que trata a maior parte da documentação que

conseguimos localizar. Tempos de Engenheiros.

A Escola de Engenharia de Pernambuco foi uma das cinco escolas criadas logo após

a implantação da República. A cidade de Recife já era um importante centro do Nordeste

2 Trata-se do periódico do Clube de Engenharia de Pernambuco, publicado no período de 1923 a 1937.

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brasileiro. Pelo seu porto eram realizadas grandes movimentações de importação e

exportação. Com a República, a criação de empreendimentos industriais é intensificada. O

crescente aumento da exportação gerou a necessidade de modernizações, mecanizações,

construções. As Escolas de Engenharia criadas no período tinham o objetivo primordial de

formar profissionais para atender essa demanda.

Com o objetivo central de estudar as características da formação desses engenheiros

civis-professores de matemática, pela Escola de Engenharia de Pernambuco, entre finais do

século XIX e inícios do século XX, pautei-me, especialmente, em Carlo Ginzburg. Busquei

rastros, no sentido atribuído por este autor, que me ajudaram a construir ―o fio do relato‖ e

a me orientar ―no labirinto da realidade‖. Como Ginzburg, procurei neste trabalho,

―servindo-me dos rastros‖, contar ―histórias verdadeiras‖ (GINZBURG, 2007, p. 7).

A busca pelos rastros, acabou levando-me à escrita de três capítulos independentes,

que não têm como fio condutor a cronologia. Optei por não terminar um capítulo e começar

o próximo atrelado à continuidade temporal. Decidi, durante o percurso da investigação,

escrever capítulos que de várias maneiras se complementam, e que a leitura de um pode

servir de suporte ao outro. Dessa forma, tentei romper com a obrigatoriedade de leitura

contínua. Os capítulos podem ser lidos na ordem desejada pelo leitor. Busquei ―flutuar‖

sobre os períodos, dar liberdade de ―oscilação‖, por isso, ao longo do texto ocorrem ―idas e

vindas‖.

O primeiro capítulo, intitulado ―A Matemática e Escolas Militares no Brasil‖, tem

como objetivo adentrar no universo da engenharia no Brasil, buscando identificar tipos

diferentes de formação desses engenheiros e a participação da matemática nessas

formações. Na primeira parte, denominada ―Com as mãos sujas de cal e tinta‖, expressão

que compõe o título de um artigo de Beatriz Piccolotto Bueno, o engenheiro realizava seu

trabalho em constante diálogo com o local em que a obra seria construída. Sob o título

―Com as mãos sujas de giz e tinta‖, discuto a formação de engenheiros que ocupavam

diferentes funções, dentre as quais a docência. A formação que denomino ―Com a mão na

massa‖ é aquela em que os engenheiros assumem funções específicas de sua profissão.

O Capítulo 2, intitulado ―A Escola de Engenharia de Pernambuco em movimento‖,

é composto por dois textos. No primeiro deles, ―Memórias Institucionais‖, são apresentadas

algumas mudanças ocorridas na instituição, em especial as relacionadas à formação dos

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alunos. No segundo texto, ―Professores, alunos e disciplinas‖, apresento uma narrativa

histórica sobre a Escola de Engenharia centrada em alguns personagens que fizeram parte

da história desta instituição, tais como alunos, professores e diretores. Para compor o fio

desta narrativa, utilizei rastros deixados em diversos tipos de documentos, como livros,

entrevistas, artigos, textos oficiais e escolares. Busquei nesses documentos, em especial,

rastros sobre o cotidiano da Escola de Engenharia.

No capítulo seguinte, o Capítulo 3, centrei minha atenção nas discussões teórico-

filosóficas que estavam ocorrendo na Escola de Engenharia de Pernambuco nas primeiras

décadas do século XX. Para isso, analisei textos do professor Luiz de Barros Freire, que foi

aluno, professor e diretor da EEP. Busquei, nessa análise, compreender aspectos da

formação de um profissional de engenharia, bem como temas e autores que estavam na

pauta das discussões desses profissionais nas décadas iniciais da República. O primeiro

texto de Freire que analisei, provavelmente o primeiro publicado pelo autor, foi a tese,

intitulada ―Da Sciencia Mathematica, Sua Methodologia‖, apresentada no concurso para

professor da disciplina Geometria da Escola Normal Oficial de Pernambuco. Outros artigos

de Freire foram também analisados.

Para finalizar o trabalho, trago algumas Considerações Finais, momento em que

apresento algumas reflexões sobre os estudos realizados, bem como algumas considerações

sobre a Escola de Engenharia de Pernambuco e seus professores-engenheiros, além de

tratar sobre caminhos que surgiram ao longo e ao fim do trabalho.

Nos Anexos estão disponibilizados: Grade curricular apresentada na Lei n° 84 de

1895, que decretou a criação da EEP; Grade curricular apresentada no Regulamento de

1898; Grade curricular apresentada no Regulamento de 1901; Grade curricular apresentada

nos Estatutos de 1905; Tabela com os nomes dos professores da EEP e o ano em que se

formaram Engenheiros na EEP; Lista de Formandos da EEP de 1897 até 1925; Lista de

Professores da EEP de 1895 até 1916. As grades foram transcritas a partir das fontes

encontradas. Ao longo do texto desta dissertação, algumas referências serão feitas a essas

grades, assim como a alguns personagens da EEP que se encontram nas listas.

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CAPÍTULO 1 – A MATEMÁTICA E ESCOLAS MILITARES NO BRASIL

FIGURA 1. FORTALEZA DO BRUM3

Um dos pontos turísticos da cidade de Recife, capital de Pernambuco, é o Forte do

Brum, também conhecido por Forte Novo de São Jorge (Figura 1). Os visitantes ficam

impressionados com a construção do século XVII. Paredes altas e largas, poucas janelas,

canhões em lugares estratégicos. A construção aparenta ser forte, ser uma fortaleza. Se

estiverem assessorados por um guia, certamente, conhecerão um pouco sobre a história do

Forte e de Recife. Como é comum entre os guias, eles recitam uma história para os turistas,

apontando datas e nomes de alguns personagens importantes. Talvez sejam mencionados

alguns engenheiros que participaram na construção da Fortaleza. Sobre a formação desses

engenheiros responsáveis pela obra, provavelmente, nada será mencionado. Alguns turistas-

ouvintes talvez não se importem com essa ausência. Outros, no entanto, talvez fiquem se

perguntando: como fizeram isto em uma época que não existiam instrumentos? Carros

pipas? Concreto?

No período colonial, a Capitania de Pernambuco ―era uma das mais prósperas da

Coroa Portuguesa, estendia-se do eixo da barra sul do Canal de Santa Cruz até o Rio São

3 Disponível em: http://www.7rm7de.eb.mil.br/ass_cult/forte.php?opc=2# Acesso em: 25/02/2015.

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Francisco, limitando-se ao norte com a Capitania de Itamaracá, que tinha seu limite norte

na Baía da Traição, hoje Estado da Paraíba.‖ (ALBUQUERQUE, 2007, p. 44). Os ataques

de piratas invasores, ingleses e franceses, eram frequentes. Era necessário construir, em

locais estratégicos, fortalezas para a defesa contra os invasores, que levavam ―pau-brasil,

juntamente com jóias e alfaias4 de igrejas‖ (ALBUQUERQUE, 2007, p. 44). A construção

do Forte do Brum, para a defesa do litoral de Recife, onde ficava o porto, foi iniciada ainda

no século XVII, com um projeto do jesuíta Frei Gaspar de Samperes, que foi responsável

também pelo projeto da Fortaleza dos Reis Magos no Rio Grande do Norte. Um frei jesuíta

engenheiro? Talvez isso possa causar estranheza, mas alguns jesuítas se destacaram no

estudo de matemática, astronomia, etc. Samperes era um deles, formado ―mestre nas traças

de engenharia na Espanha e Flandres, antes de entrar para a Companhia de Jesus.‖

(CASCUDO, 1984:24, apud LIMA, 2009, p. 7).

Naquele período, como ocorre atualmente, a execução dos projetos não era de

responsabilidade de seu idealizador. No entanto, para a elaboração de um projeto, era

necessário que o engenheiro fosse ao campo avaliar as condições do terreno, em relação ao

tipo de obra que seria construída. No caso da construção de um Forte, ―sua localização do

ponto de vista estratégico, bem como uma avaliação do ecossistema no qual o forte esteja

inserido, constitui-se ainda em algo de suma importância para o entendimento de sua

funcionalidade e operacionalidade, inclusive para a sobrevivência de sua tropa em caso de

sítio.‖ (ALBUQUERQUE, 2007, p. 43).

COM AS MÃOS SUJAS DE CAL E DE TINTA5

Segundo os estudos de Bueno (2011), ―247 engenheiros militares‖ trabalharam no

Brasil durante o período colonial. A atuação desses profissionais, ―braço direito das coroas

europeias‖ era ampla, não se limitava à construção para a defesa do país, as fortificações.

―Num contexto de indefinição das profissões em moldes atuais, foram homens

polivalentes, que atuaram em campos diversos, cuidando de fazer igrejas,

palácios de governadores, casas de câmara e cadeia, alfândegas, aljubes,

hospitais, quartéis, casas de pólvora, além de projetar estradas, pontes, cais,

4 Objetos de Igrejas.

5 Esta frase compõe o título do artigo de Bueno (2011).

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aterros, portos, chafarizes, fontes, aquedutos e hortos botânicos. O mapeamento

do território e o projeto de cidades e vilas, envolvendo expedições de

adentramento nas entranhas do sertão, roubaram-lhes boa parte do tempo a partir

do século XVIII.‖ (BUENO, 2011, p. 1).

Para construir o seu projeto, o engenheiro não se limitava a levantar medidas e

dados gerais do terreno e a elaborar o mapa em seu escritório. Como acontecia desde ―os

tempos dos primeiros engenheiros italianos como Francesco di Giorgio e Mariano

Taccola‖, o desenho era elaborado em constante diálogo com o local onde a obra seria

construída. ―Daí as soluções arquitetônicas e urbanistas amalgamadas à paisagem, tendendo

à máxima regularidade possível sem se limitar aos modelos geométricos ideais‖ (BUENO,

2011, p. 2). Além de estabelecer diretrizes para a elaboração de seu projeto, o engenheiro

também precisava ―orquestrar mestres dos diversos ofícios e peões‖, estabelecendo um

diálogo contínuo entre ―canteiro e escritório‖, o que está na origem da denominação

engenheiro:

―A formação nesta ―arte‖, desde o século XV nas cortes italianas e no século XVI

em Portugal, envolveu ―ciência‖ (doutrina) e ―fábrica‖ (construção), mesclando

conhecimentos eruditos das artes liberais - Aritmética, Geometria (elementar e

prática), Desenho, ―razão dos céus‖ (astronomia e astrologia), Letras (Gramática

e Retórica), Filosofia, Direito e Medicina -, a práticas do cotidiano dos canteiros

de obras que permitiam empiricamente verificar a qualidade, propriedade e

capacidade estrutural dos materiais como cal, areia, terra, pedra e madeira‖

(BUENO, 2011, p. 2).

A grande dependência de contratação de engenheiros estrangeiros para trabalhos em

Portugal e em suas colônias, durante os séculos XVI e XVII, gerava vários problemas de

diferentes naturezas. Com o objetivo de minimizar essa dependência, a Coroa Portuguesa

propôs a criação de escolas militares para formação desses profissionais. Essas escolas,

denominadas inicialmente Aulas de Artilharia e Fortificações, foram criadas no Reino

Português em um período em que essas artes começavam a exigir conhecimentos técnicos,

que envolviam algumas áreas, em particular a matemática. Com a intenção de atualizar a

sua defesa por meio da introdução de técnicas mais modernas, além de minimizar a

dependência de outros países, o governo português contratou estrangeiros para ―exercerem

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9

comandos militares‖ e ―para ensinarem aos portugueses do reino e do ultramar os seus

ofícios6‖ (VALENTE, 1999, p. 43).

A política adotada pela Coroa Portuguesa não parece ter produzido efeitos a curto

prazo, ao menos no Brasil. A ―Aula de Fortificação‖ criada no Rio de Janeiro, por exemplo,

tinha como responsável o português Capitão Engenheiro Gregório Gomes Rodrigues,

enviado ao Brasil em Janeiro de 1694, mas que iniciou suas atividades didáticas cinco anos

depois. No entanto, as aulas não ocorriam em um local específico para a atividade. Segundo

Pirassinunga (1958, p. 8-9), as aulas eram ―ministradas na Cadeia da Cidade do Rio de

Janeiro‖, uma vez que o professor estava preso desde 1697, por ter sido responsabilizado

por ―culpas‖ ocorridas em ―erros de seu ofício‖. Não foram esclarecidos ―os erros de

ofício‖ cometido pelo engenheiro. O que se mencionou foi que, mesmo preso, o engenheiro

continuava a supervisionar as obras iniciadas, ―com escolta e sob muita cautela‖, e a dar

aulas ―aos Condestáveis7 e Artilheiros das fortificações da Cidade‖. Ele era o único

engenheiro ―existente no Brasil‖. (PIRASSINUNGA, 1958, p. 11).

Em carta datada de 15 de janeiro de 1699, D. Pedro II, Rei de Portugal, esclarece ao

Governador e Capitão Geral do Rio de Janeiro, Artur de Sá e Menezes, que para a Aula de

Fortificação,

―Os discípulos seriam no máximo três e com idade máxima de dezoito anos (...).

A Aula procuraria atender ao plano do Soberano, de ensinar os naturais: (...) para

que assim possa nessa mesma Conquista haver engenheiros, e se evitem as

despesas que se fazem com os que vão deste Reino, e as faltas que fazem ao meu

serviço enquanto chegam os que se mandam depois dos outros serem mortos (...)‖

(MACEDO, s.d., p. 1)8

Em suas aulas, o Capitão Engenheiro Gregório Gomes Rodrigues, utilizava como

material didático o Método Lusitânico de Desenhar as Fortificações das Praças Regulares

e Irregulares, Fortes de Campanha e Outras Obras Pertencentes a Architectura Militar‖

6 ―O holandês Miguel Timermans foi um dos engenheiros estrangeiros contratados para trabalhar na capital do

reino em 1645. Entre 1648 e 1650 esteve no Brasil dando aula de artilharia e fortificações.‖ (CARDOSO,

2011, p. 3). 7 Condestável era o nome dado àqueles que tinham sob sua responsabilidade ―o preparo da artilharia e a

arrumação dos cartuchos e balas, segundo o calibre‖, em navios e fortalezas e terços – unidades militares.

(PIRASSINUNGA, 1958, p. 8). 8 Entendemos que o Soberano seria o Rei e naturais os nativos.

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10

do Tenente-General Luís Serrão Pimentel9 (1613-1678), editado em 1680 (Figura 2). O

Método de Pimentel ―ensinava na primeira de suas seis teses: 1- "Não há arte, em uma

república, mais necessária que a fortificação", 2- "Sem ela, não pode príncipe algum

segurar seu Estado".‖. (MACEDO, s.d., p.1) O autor ressalta a função do engenheiro que,

no período colonial, era ligada a terra dividindo-se entre conquistar e proteger.

Na obra de Serrão Pimentel, inicialmente, são discutidos conceitos geométricos

associados às suas medidas. Em seguida, são apresentadas as práticas de medição, as

formas de medição e os aparelhos de medida. Tudo é feito por meio de exemplos, figuras e

apresentações de tabelas. Nesse estudo vão sendo abordados diferentes temas geométricos,

tais como ângulo plano retilíneo, semicírculo, polígonos regulares. Em seguida, são

iniciadas as orientações para desenhos de projetos de fortificações e suas várias partes,

assim como: fortes, cidadelas, coroas10

, castelos, parapeitos, etc. Nessas orientações, são

destacadas palavras e letras usadas em plantas de prédios de fortificações e medidas de

diferentes países e suas transformações, momento em que são discutidas diversas operações

aritméticas. O texto apresenta diferentes métodos e é sempre acompanhado de figuras, pois

trata-se de um texto de geometria prática associada a projetos de fortificações. Apenas no

último capítulo, intitulado ―Dos teoremas acerca das linhas‖, são apresentados 33 teoremas

e suas demonstrações. Para o autor, ―teorema é aquela demonstração que inquire e descobre

alguma propriedade de uma ou muitas quantidades juntas.‖ (PIMENTEL, 1680, p. 658).

9 "Na parte do livro onde constam as ―censuras‖, o Tenente General da Artilharia do Reino, Diogo Gomez de

Figueiredo (?-1684), se refere a Serrão Pimentel, como ―lente de Matemática na Aula Régia, cosmógrafo-mor

e engenheiro-mor do Reino.‖." (MORMÊLLO, 2010, p. 40) 10

Trata-se de um ornamento que termina o alto de um edifício ou de um elemento arquitetônico. ―coroa‖, in

Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/DLPO/coroas

[consultado em 28-01-2015].

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11

FIGURA 2. CAPA DO LIVRO “MÉTODO LUSITÂNICO DE DESENHAR AS FORTIFICAÇÕES DAS PRAÇAS REGULARES

E IRREGULARES, FORTES DE CAMPANHA E OUTRAS OBRAS PERTENCENTES A ARCHITECTURA MIL ITAR”,

168011

Já adentrando ao século XVIII, vale destacar o Brasil com um contexto de grande

movimentação por conta do que podemos classificar como uma verdadeira corrida pelo

ouro. Essa busca pelo ouro trouxe algumas consequências, como um crescente número de

portugueses vindo para a Colônia atrás do metal e, além disso, ―a Coroa toma sucessivas

providências para arrecadar sempre o máximo possível. Fisco e militares assumiam o

comando da organização, fundação de vilas e construção da vida civil em regiões surgidas

pela mineração.‖ (VALENTE, 1999, p. 43).

O ensino de artilharia, no mesmo período, começa a contar com uma aula específica

dos "Fogos Artificiaes‖, como então se dizia. Segundo Valente (1999, p. 44), a necessidade

crescente de defesa é um ―determinante‖ para a criação do Ensino Militar. Para mestre foi

nomeado ―Alpoym, promovido a sargento-mór, por ordem régia‖. (FAZENDA, 1927, p.

346).

José Fernandes Pinto Alpoim iniciou suas atividades como professor em 1738,

permanecendo nelas até ser nomeado Brigadeiro em 1752. (PIRASSINUNGA, 1958, p.

11

Disponível em: http://www.dec.eb.mil.br/historico/livroOrientacao/criacaoDom_principal.html Acesso em:

03/08/2013.

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12

19). Pela Ordem Régia que nomeou Alpoim, o ensino militar ―torna-se obrigatório a todo

oficial. Nenhum militar poderá ser promovido ou nomeado se não tiver aprovação na Aula

de Artilharia e Fortificações, após cinco anos de curso.‖ (VALENTE, 1999, p. 44). Alguns

anos após o início de suas atividades didáticas no Brasil12

, Alpoim publica dois livros,

intitulados Exame de Artilheiros e Exame de Bombeiros, respectivamente em 1744 e em

1748 (Figuras 3 e 4). Um dos principais motivos que o levou a escrever estes livros foi a

escassez de material que havia no Brasil naquele período, era muito complicado conseguir

livros, em qualquer área de conhecimento, mas especificamente nesta área "nada exista

escrito em português". (VALENTE, 1999, p. 47).

Estes livros eram frutos de suas experiências como professor e foram escritos em

forma de perguntas e respostas. Diferentes de outros livros-texto, os livros de Alpoim

apresentam uma matemática prática. O Exame de Artilheiros é ―estruturado em três partes

(Aritmética, Geometria e Artilharia), que Alpoim chama de tratados.‖ (MORMÊLLO,

2010, p. 47). O Exame de Bombeiros, uma continuação do livro anterior, trata de Geometria

e Trigonometria. Os dois livros são acompanhados de várias ilustrações. Segundo

Mormêllo (2010, p. 52-53), no Exame de Bombeiros é perceptível um cuidado maior com

relação às respostas. Em muitas delas, o autor menciona os autores nos quais está se

apoiando. Durante algum tempo acreditava-se que os livros de Alpoim haviam sido escritos

e publicados no Brasil, todavia, atualmente, sabe-se que eles foram apenas escritos neste

país e publicados em outros, Espanha e Portugal. Desta forma, os livros de Alpoim são

apenas os primeiros a serem escritos no território brasileiro e não os primeiros a serem

escritos e publicados.

―Vários escritores quiseram dar aos livros do ―grande Alpoim‖ o mérito de terem

sido os primeiros livros impressos no Brasil. Mas está hoje provado que as duas

obras não foram impressas no Brasil, mas saíram dos prelos de José Antonio

Plates em Lisboa e de Francisco Marizez Abad em Madri, tal como vem escrito

na página de rosto do ―Exame de Artilheiros‖ e do ―Exame de Bombeiros.‖

(VALENTE, 1999, p. 60).

Esses livros foram utilizados não apenas nas aulas de Alpoim, mas também em

aulas militares de outras regiões brasileiras. Como afirma Mormêllo (2010, p. 47), no

prefácio da edição fac-similar do Exame de Artilheiros, Lygia da Fonseca Fernandes da

12

Alpoim foi professor substituto na Academia Militar de Viana em Portugal.

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13

Cunha menciona que este livro ―extrapola a Capitania do Rio de Janeiro em decorrência da

grande falta que há de livros em nosso idioma que ensinem a profissão de artilheiro‖,

mencionando uma correspondência do Governador de Mato Grosso, que aponta indícios de

uso deste livro naquela Capitania.

FIGURA 3. CAPA DO LIVRO “EXAME DE BOMBEIROS”13

13

Disponível em: http://www.debatesculturais.com.br/o-brigadeiro-alpoim/ Acesso em: 10/04/2015.

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14

FIGURA 4. CAPA DO LIVRO “EXAME DE ARTHILHEIROS”14

Segundo Valente (1999, p. 60), temos que:

―Tanto o ―Exame de Artilheiros‖ quanto o ―Exame de Bombeiros‖ tornaram-se

obras célebres por causa da lenda que as envolvia sobre a origem de sua

impressão. Entretanto, elas representam muito mais que esse interesse

bibliográfico: são testemunhas do renascimento dos estudos de matemática e

engenharia em Portugal e reflexo desse movimento no Brasil.‖ (VALENTE,

1999, p. 60).

Na segunda metade dos setecentos, em um período de constantes ameaças de

guerras, o governo português reorganizou seu exército, inspirando-se em organizações

militares de países da Europa, em particular da França. Nessa nova ordenação, que seria

seguida pelo vice-reinado brasileiro, o ―Regimento de Artilharia‖ era orientado pelos livros

de Bernard Forest de Bélidor, traduzidos para o português. Essas mudanças, no entanto,

parecem não ter agradado os professores da Metrópole, que:

14

Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-40422008000400036

Acesso em: 10/04/2015.

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15

―de uma maneira geral, só tinham duas preocupações: uma a de se aferrarem às

―especulações‖ que antecedentemente haviam estudado, querendo persuadir aos

alunos que só elas eram boas e que tudo o que surgia de novo eram ‗invenções de

estrangeiros‘ sem nenhuma utilidade prática e outra a de quererem utilizar para o

ensino livros que não os mandados pelo Rei.‖ (PIRASSINUNGA, 1958, p. 23).

Com a intenção de evitar que o mesmo ocorresse em terras brasileiras, o Rei de

Portugal manda uma ―ordem severa‖ para que o Vice-Rei do Brasil cumpra na íntegra o

Regimento. Nessa mensagem, é ordenado que o Vice-Rei:

―Declare a todos os oficiais do dito Regimento nos termos mais significantes e

mais positivos que Sua Magestade não quer absolutamente nem por uma parte

que esse Regimento de Artilharia tenha outra formatura, outros exercícios, outras

manobras, outra forma de serviço, senão em tudo e por tudo os mesmos que se

praticam nos mais Regimentos deste Reino; nem por outra parte quer que na Aula

desse se ditem ou estudem outras doutrinas, se façam outros ou se leia por

outros livros que não sejam os do referido Bellidoro e dos mais Autores que

foram prescritos nas Instruções particulares ordenadas por Sua Magestade para as

referidas Lições e Estudos.‖ (PIRASSINUNGA, 1958, p. 23, grifos nossos).

A formação do engenheiro começou a passar por uma significativa mudança que

seria o aumento da prioridade do ensino teórico perante o ensino prático. Em 1774, à Aula

de Artilharia foi incluída a disciplina de Arquitetura Militar e passou a se denominar ―Aula

Militar‖, tendo como objetivos ―o preparo dos artilheiros‖ e ―de oficiais técnicos em

engenharia militar‖ (PIRASSINUNGA, 1958, p. 27). A bordo de um mesmo navio,

chegaram ao Rio de Janeiro o lente da aula do Regimento de Artilharia, juntamente com

seus auxiliares e alguns materiais para as aulas, dentre os quais estavam:

―quatorze jogos de Novo Curso de Matematicas de Belidor‖, ―um volume da La

Science de Ingenieurs‖, do mesmo autor, além dos seguintes materiais ―estojos

matemáticos15

; quadrantes de latão com suas caixas de madeira; três círculos

dimensórios com suas caixas de madeira; pranchetas de madeira com alidadas de

latão; bussolas com caixas de madeira; níveis de ar, com suas caixas de madeira;

níveis de madeira para nivelar as plataformas cum suas réguas de madeira.‖

(PIRASSINUNGA, 1958, p. 26).

Quando a ―Aula Militar‖ é transformada em ―Real Academia da Artilharia,

Fortificação e Desenho da Cidade do Rio de Janeiro‖, em 1792, ―o plano de ensino

compreendia o Curso Matemático e os Exercícios Práticos‖. O livro indicado para os dois

15

O estojo matemático era composto por compassos, transferidores e réguas.

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16

primeiros anos do Curso Matemático era também o de Bélidor. (PIRASSINUNGA, 1958,

p. 29).

O Novo Curso de Matemática de Bélidor16

está organizado em 16 livros, o primeiro

deles é dedicado a definições usadas em um texto matemático17

. Em seguida, o autor

introduz uma discussão sobre as letras e a geometria, momento em que apresenta o uso de

álgebra para representar objetos da geometria; discute algumas regras do cálculo algébrico

e demonstra alguns teoremas relacionando operações algébricas e geometria. Seguindo

sempre uma mesma estrutura, em que apresenta proposições, teóricas ou práticas, que são

demonstradas e acompanhadas de figuras colocadas ao final de cada capítulo, o autor

aborda temas variados de interesse para os engenheiros, dentre os quais: razões,

progressões aritméticas e geométricas, logaritmos, posições de retas, superfícies, círculo,

figuras regulares, proporções em figuras, trigonometria retilínea e nivelamento, elipse,

hipérbole, parábola, movimento de corpos, bombas, mecânica prática, hidráulica, etc.

FIGURA 5. CAPA DO LIVRO “NOVO CURSO DE MATEMÁTICA”18

16

Trata-se de Noveau Cours de Mathématique, 9ª edição, publicada em Paris, no ano de 1757. (Figura 5) 17

As definições apresentadas são: geometria, proposição, axioma, teorema, problema, lema, corolário,

dimensões, linhas, comprimento, largura e profundidade, quadrados, retângulos, cubo, paralelepípedo. 18

Disponível em: https://archive.org/details/nouveaucoursdema00beli. Acesso em: 12/01/2013

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17

A Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, do Rio de Janeiro

―destinava-se a formar oficiais de todas as Armas e engenheiros para o Brasil-Colônia‖

(LUCENA, 2005, p. 7). Existiam três tipos de formação: três anos para os Oficias da

Infantaria e da Cavalaria, cinco para os Artilheiros e seis anos para os Engenheiros.

―Essa Academia era, portanto, não uma simples aula, como os cursos anteriores,

mas um verdadeiro instituto de ensino superior, com organização comparável aos

congêneres de sua época. Note-se que, pela primeira vez, são incluídas disciplinas

específicas de engenharia civil, embora a Academia fosse um estabelecimento

militar. Eram também aceitos alunos civis, denominados de particulares.‖

(TELLES, 1984, p. 68).

O livro de Bélidor parece ter sido considerado muito teórico para os estudantes da

Real Academia, ao menos é o que sugerem os Estatutos da ―Nova Academia de Aritmética,

Geometria Prática, Fortificação, Desenho e Língua Francesa‖, criada no Rio de Janeiro em

1795, para os Oficiais de Infantaria. O texto dos Estatutos dessa Nova Academia,

considerando que seria muito ―árduo o estudo que se prescreve aos Alunos da Aula Militar

do Regimento de Artilharia‖, propõe que nos primeiros seis meses fosse estudado o Curso

de Aritmética de Bezout e, nos seis meses seguintes, a ―Geometria Prática, extraída do

Curso de Bélidor‖ (PIRASSINUNGA, 1958, p. 44). Não é sugerido o uso de todo o texto

de Bélidor, mas apenas uma parte mais prática. Esse cuidado para uma matemática mais

prática está contemplado explicitamente quando os Estatutos, nas orientações aos Lentes

(professores), sugerem que ―conformando-se a capacidade dos Discípulos‖, os professores

podem ―omitir aquelas demonstrações que não puderem compreender ao princípio, e

contentando-se de que os mesmos hábeis saibam as definições e construções de todas as

figuras de Geometria e Fortificação‖ (PIRASSINUNGA, 1958, p. 45).

O Vice-Rei do Brasil, o Conde de Resende, em uma correspondência ao Ministro do

Reinado de D. Maria I, Marechal de Campo dos Exércitos Reais, D. Luiz Pinto de Souza,

justificou a sua opção por um curso menos teórico e pela opção de Bezout:

―Quanto às ciencias julguei que seria por agora bastante a Aritmética de Bezout, a

Geometria de Bélidor, a Fortificação, o Desenho e a Língua Francesa; omitindo-

se porém nestas ciencias aquilo que elas tem de mais abstrato, em atenção à falta

de luzes e de principios que tinha a maior parte dos discípulos‖.

(PIRASSINUNGA, 1958, p. 49-50).

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18

Ainda durante o século XVIII, alguns autores mencionam iniciativas de criação de

escolas militares em outras capitanias, como em Pernambuco, Minas Gerais e Bahia. As

informações sobre elas, no entanto, são às vezes vagas e conflitantes. De qualquer forma,

podemos conjecturar que algumas tentativas de criação de escolas militares nesses estados

tenham ocorrido durante o século XVIII. Segundo Lucena (2005), em 1710, na cidade de

Salvador, surgiu a aula de Fortificação e Artilharia; já em Recife a aula de Fortificação,

com ensinamentos matemáticos, surgiu em 1718 e em 1795 foi criada a aula de Geometria,

que em 1809 incluiu estudos de Cálculo Integral, Mecânica e Hidromecânica, que perdurou

até 1812. Localizamos também rastros da inclusão nas legislações de 1809 na seção de

Cartas de Lei, Alvarás, Decretos e Cartas Régias. A carta régia que ―manda estabelecer na

Capitania de Pernambuco uma cadeira de Cálculo Integral, Mechanica e Hydrodinamica‖,

data 7 de março de 1809:

―Caetano Pinto de Miranda Montenegro, do meu Conselho Governador e Capitão

General da Capitania de Pernambuco. Amigo, Eu o Principe Regente vos envio

muito saudar. Tendo presentes os serviços e reconhecido merecimento litterario

do Dr. Antonio Francisco Bastos, Capitão de Infantaria, e Lente proprietario da

cadeira de Geometria que fui servido mandar crear nessa Capitania no anno de

1795, na qual pela sua ausencia foi ultimamente provido Joaquim Ignacio Lima;

houve por bem ordenar agora que o dito Antonio Francisco Bastos fosse exercer

ahi com a patente de Sargento-mor de Infantaria a cadeira de Calculo integral,

Mechaniva e Hydrodinamica, que mando estabelecer o ordenado de 500$000

annuaes, devendo ele regular como outro Lente Joaquim Ignacio Lima o curso

mathematico dos estudantes de artilharia e engenharia dessa Capitania. O que

assim tereis entendido e fareis executar. Escripta no Palacio do Rio de Janeiro em

7 de Março de 1809.‖ (CARTA RÉGIA de 7 de março de 1808)

Segundo Telles (1984, p. 67), ―em 1719, havia no Recife uma Aula de Fortificação,

provavelmente a mesma que em 1788 foi transformada em Academia Militar”. Os

Estatutos desta Academia foram inspirados nos da Academia do Rio de Janeiro,

mencionados anteriormente. Nesses Estatutos foi proposto o ensino daquelas ―partes mais

essenciais do curso Matemático de Bélidor e Bezout, que necessário seja para qualquer

ação do real serviço‖ (PIRASSINUNGA, 1958, p. 80-81). Como ocorria no Rio de Janeiro,

neste Estatuto de Recife o curso era aberto a ―todas as pessoas que quiserem estudar‖, ―quer

sejam militares ou paisanos‖. A exigência para o ingresso na Academia era que o aluno

mostrasse, em um exame, que tinha experiência na ―prática das quatro regras fundamentais

da Aritmética‖ (PIRASSINUNGA, 1958, p. 81). A Academia Militar de Recife, no entanto,

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19

parece ter tido curta duração. Em 1795 foi criada uma Aula de Geometria, ―funcionando no

Regimento de Artilharia e sob a direção do Capitão de Infantaria Antonio Francisco

Bastos‖ (PIRASSINUNGA, 1958, p. 84). Encontra-se em um exemplar do Diário de

Pernambuco de 1830 uma menção de venda do livro do Bezout em uma livraria de Recife,

o que pode indicar que neste período o livro era utilizado em alguma Aula ou Escola no

Recife.

As aulas das escolas militares tinham um caráter técnico (prático), cada região tinha

a sua necessidade e suas aulas eram voltadas para elas. Elas ocorriam onde se encontrava

alguma atividade econômica de destaque e, por isso, tentava-se com essas aulas formar

brasileiros que pudessem trabalhar de forma mais apta, a fim de não ter que se importar

toda a mão de obra qualificada do país. Essas aulas, naquele período, eram frequentadas na

maior parte das vezes por nobres, que teriam altos cargos em funções governamentais.

O título que era atribuído aos primeiros engenheiros militares, segundo Telles

(1984), era o de ―oficial de engenheiros, e não oficial-engenheiro, ou simplesmente

engenheiro‖. Era comum encontrar também as expressões ―capitão de engenheiros‖ ou

―coronel de engenheiros‖, o que na interpretação de Telles (1984, p. 4), pode significar

―que os subalternos e soldados comandados por esses oficiais seriam também‖

considerados ―engenheiros, já que se dedicavam igualmente a fazer obras‖. Telles (1984, p.

5) cita o General Aurélio Lyra Tavares para passar as funções desempenhadas pelos

oficiais-engenheiros pelo menos durante o período colonial, e dentre elas estão: ―obras de

defesa, no litoral‖ e também ―ao longo das fronteiras‖; ―demarcação de fronteiras‖;

―ensino, para a formação de engenheiros no Brasil‖; e ―obras civis diversas‖ como

―construções civis e religiosas, estradas, serviços públicos‖, entre outras.

COM AS MÃOS SUJAS DE GIZ E TINTA

Com a transferência da Corte Portuguesa para o Brasil, ―a Companhia dos Guardas-

Marinha, o seu comandante e os Lentes da Academia, acompanharam o Príncipe Regente‖,

Dom João VI, para o Rio de Janeiro (PIRASSINUNGA, 1958, p. 57). ―Por Decisão Oficial

em maio de 1808, a Real Academia dos Guardas Marinha foi instalada e funcionou nos

primeiros tempos nas dependências do Convento de S. Bento, com o mesmo Comandante e

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Diretor da Academia José Maria Dantas Pereira‖ (MIORIM, 2011, p. 4). Pela Carta de Lei

de 04 de Dezembro de 1810, foi criada a Academia Real Militar, com ―aprovação de seu

Estatuto, assinada pelo Príncipe Regente D. João‖. Sob a concepção de ―D. Rodrigo de

Souza Coutinho, Ministro dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, esta escola de ensino

superior nascia com dupla finalidade: formar oficiais para o Exército e engenheiros

militares para atender também às necessidades da colônia.‖ (MARTINO, 2001, p. 18).

A Academia Real Militar vem ocupar ―o lugar da Real Academia de Artilharia,

Fortificação e Desenho‖, criada em 1792, ―que teria sido o primeiro instituto militar

acadêmico das Américas‖. Esta escola funcionou até 1810, quando ―foi substituída pela

Academia Real Militar pela vontade de D. Rodrigo, que queria uma organização mais

moderna para acompanhar o progresso cultural que se verificava na Europa‖ (MARTINO,

2001, p. 18). Ao propor a criação da Academia Real Militar, D. João afirma estar

estabelecendo na Cidade do Rio de Janeiro:

―Um Curso regular das Ciências exatas, e de Observação, assim como de todas

aquelas que são aplicações das mesmas aos Estudos Militares e Práticos, que

formam a Ciência Militar em todos os seus difíceis e interessantes ramos, de

maneira que dos mesmos Cursos de estudos se formem hábeis oficiais de

Artilharia, Engenharia e ainda mesmo Oficiais da classe de Engenheiros

Cartógrafos e Topógrafos, que possam também ter o útil emprego de dirigir

objetos administrativos de Minas, de Caminhos, Portos, Canais, Pontes, Fontes, e

Calçadas: Hei por bem, que na minha atual Corte e Cidade do Rio de Janeiro, se

estabeleça uma Academia Real Militar para um Curso completo de Ciências

Matemáticas, de Ciências de Observação, quais a Física, Química, Mineralogia,

Metalurgia, e História Natural, que compreenderá o Reino Vegetal e Animal, e

das Ciências Militares em toda sua extensão tanto de Tática como de Fortificação

e Artilharia." (BARATA, 1973, p. 48, Apud MARTINO, 2001, p. 22).

A Academia Real Militar, pelas palavras de D. João, pretendida formar engenheiros

para diferentes funções, por meio de um ―Curso Completo de Ciências Matemáticas‖,

―Ciências de Observação‖ e ―Ciências Militares‖. Esta formação buscava se aproximar da

que era oferecida pela École Polytechnique de Paris.

―Foi grande a influência francesa na engenharia brasileira, como aliás em toda a

nossa cultura, durante o Séc. XIX, e praticamente até cerca de 1950. Na

engenharia essa influência foi principalmente no ensino: quase todos os livros em

que se estudava eram franceses, ou traduzidos do francês; os programas e

regulamentos da Escola Politécnica eram também baseados em modelos

franceses, e alguns professores franceses ensinaram nessa escola, sem falar na

Escola de Minas de Ouro Preto, que era inteiramente uma escola francesa. Essa

influência traduziu-se também, em procedimentos de cálculo e de trabalho, e em

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21

terminologia técnica. Por outro lado, foi relativamente pequeno o número de

engenheiros franceses que para aqui vieram‖ (TELLES, 1984, p. 476).

O curso completo, de sete anos, era exigido apenas para a formação dos ―Officiaes

Engenheiros e de Artilharia‖, dele faziam parte um ―Curso matemático‖ de quatro anos e

um ―Curso Militar‖ de três (CASTRO, 1999, p. 25). A Academia dos Guardas-Marinha,

por outro lado, que iniciou seu funcionamento logo após a chegada da Corte Portuguesa ao

Brasil, ―tinha o objetivo de oferecer estudo de Ciências que são indispensáveis, não só para

se instruírem, mas também para se aperfeiçoarem na Arte, e prática da Navegação.‖

(SILVA, 1828, p. 230, Apud MIORIM, 2011, p. 4).

Sobre o período colonial podemos dizer que o maior destaque com relação ao

ensino de engenharia ficou por conta do começo da formação e da caracterização do ensino

através das aulas avulsas, do surgimento da Academia dos Guarda-Marinha e da Academia

Real. Podemos definir como um momento em que o ensino se dava de um modo mais

prático, sem estar voltado plenamente para um aporte teórico. De acordo com Moraes e

Vargas:

―Durante todo o período colonial, não houve aporte de conhecimentos teóricos

nas práticas construtivas ou fabris – o que na Europa já se vinha fazendo sentir na

arquitetura, com um Alberti, ou nas práticas de mineração e metalurgia, com um

Agrícola. Os processos de construção militares ou religiosos na colônia eram, em

geral, semelhantes aos das artes medievais. As obras eram feitas pelo aprendizado

prático, a partir de mestres, padres construtores ou engenheiros militares

portugueses, geralmente não versados em teorias científicas. A mão-de-obra era

suprida por soldados rasos, índios e caboclos e, talvez, em escala menor, por

escravos.‖ (MORAES; VARGAS, 2005, p. 11)

A transferência da família real para a colônia gera uma mudança nas relações de

poder existentes no Brasil. ―Inicia-se desta forma, um projeto da elite nativa que procura

fundamentar novas relações entre o Estado e a sociedade‖. (MARTINS, 2005, p. 2). O

ensino superior exerce um papel fundamental na constituição dessa elite.

―Evidentemente, a estrutura sociopolítica do Império assemelhava-se a uma

sociedade do Antigo Regime, pois possuía uma estrutura estamental e uma

sociedade de corte. A sociedade se estratificava, tendo em seu ápice o estamento

senhorial, os grandes proprietários de terras e escravos, os cidadãos plenos deste

período. Esta camada detinha o monopólio de prerrogativas e recursos

inatingíveis aos grupos inferiores na hierarquia‖ (MARTINS, 2005, p. 3).

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22

Apesar da denominação Academia Real Militar no início de suas atividades, a

escola ―introduziu em seu currículo matérias que eram típicas da engenharia civil para

atender ao serviço público, indo além dos estudos peculiares da engenharia militar‖. Em

seus primeiros tempos, a Academia esteve voltada, exclusivamente, à tarefa ―de formar

engenheiros, e o seu curso só foi considerado condição indispensável ao ingresso e

ascensão hierárquica no corpo de oficiais a partir de 1850.‖ (MARTINO, 2001, p. 23). O

currículo proposto para curso matemático era:

―Aritmética, Álgebra até às equações de terceiro e quarto graus, Geometria,

Trigonometria Retilínea, dando também as primeiras noções da Esférica. [...] o

lente ensinará a Álgebra, cingindo-se quanto puder ao método do célebre Euler

[...] debaixo de cujos princípios e da Aritmética e Álgebra de La Croix, formará o

seu compêndio do curso e depois explicará a excelente Geometria, Trigonometria

Retilínea de Le Gendre, dando também as primeiras noções de Trigonometria

Esférica; abrangendo assim princípios de Curso Matemático muito interessante,

no qual procurará fazer entender aos alunos toda beleza e extensão do cálculo

algébrico nas potências, quantidades exponentivas, logaritmos e cálculos de

anuidades, assim como familiarizá-los com as fórmulas da Trigonometria de que

lhe mostrará suas vastas aplicações, trabalhando muito em exercitá-los nos

diversos problemas e procurando desenvolver aquele espírito de invenção, que

nas ciências matemáticas conduz às maiores descobertas.‖ (BARATA, 1973, p.

48, Apud MARTINO, 2001, p. 23-24).

O objetivo da Academia Real Militar era formar engenheiros com um vasto

conhecimento em Ciências Matemáticas, Física e Química, além de todo conteúdo possível

sobre os estudos militares. Essa dupla função da Academia, sempre colocada em discussão

em momentos de redefinição da formação dos alunos da escola, levou em um primeiro

momento ao desdobramento da Academia, no ano de 1855, em duas Escolas: Central e de

Aplicação; para em seguida, em 1874, ocorrer um rompimento. ―A Escola Central foi

entregue ao Ministério do Império, com o nome de Escola Politécnica, passando a formar

apenas engenheiros civis‖ (MARTINO, 2001, p. 21). O número de engenheiros na Capital

do Brasil foi significativamente ampliado após a criação da Escola Politécnica do Rio de

Janeiro. Segundo Telles (1984, p. 474), ―no Almanack Laemmert19

de 1870, constam, no

Rio de Janeiro, os nomes de 28 engenheiros, subindo esse número para 126, em 1883, dos

quais 30, no Ministério da Agricultura e 6, na Municipalidade.‖

19

O Almanak Laemmert (1844 – 1889), considerado o primeiro almanaque publicado no Brasil, tratava de

questões administrativa, mercantis e industriais do Rio de Janeiro.

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23

Novamente em Martins (2005) é possível localizar rastros sobre a elite no período

do Império, e desta vez o autor aborda uma parte da elite que se constituiu em meio à

década de 1870, baseada em ideias contrárias ao Império.

―O século XIX brasileiro pode ser visto como um período no qual as idéias

provenientes de um contexto externo, particularmente a Europa, atingiram um

alto grau de penetração entre a elite. Conseqüentemente, a ideologia elitista

acerca do papel do Estado também se condiciona sobre este vetor de apropriação

moldando, assim, as relações entre a elite e o Estado. Durante o reinado de D.

Pedro II, iniciou-se a formação de um grupo social distinto da elite tradicional

que ficaria mais tarde conhecida como a ―Geração de 1870‖. Tal Geração

forneceu argumentos políticos que contrapunham os cânones imperiais.‖

(MARTINS, 2005, p. 6).

E foi exatamente na década de 1870 em conjunto com o espírito de inovação e

busca pelo o que podemos chamar de expansão do estudo e da ciência, que houve a criação

da Escola de Engenharia, Minas e Metalurgia, na cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais.

Dentre alguns motivos possíveis para seu surgimento, talvez o que mais se destaca é a

necessidade de mão de obra qualificada para o trabalho de extração mineral, que ainda era

muito forte na época, somado ao interesse que Dom Pedro II tinha por ciência.

―A criação da Escola de Minas em Ouro Preto, constitui-se num momento

decisivo para a constituição de um saber técnico e prático do engenheiro, a partir

desta política de desenvolvimento técnico empreendida pelo Estado. Nota-se

nesta instituição elementos diferenciados em relação as outras escolas de

engenharia, como por exemplo o chamado ―espírito Gorceix‖.‖ (MARTINS,

2005, p. 6).

Gorceix20

trocou cartas com Dom Pedro II que, segundo nossa leitura, serviam para

informar o Imperador sobre a situação da escola, mas também para conversar sobre

variados assuntos. As cartas mostram uma proximidade entre os dois homens interessados

em desenvolver a ciência no Brasil, apesar das dificuldades existentes:

―Esperamos com impaciência a publicação do nosso regulamento e a divisão do

curso em 3 anos de estudo. Espero que o próximo ano nós tenhamos tantos alunos

que a Escola não possa conter.

Aí estão, Sire, nossos trabalhos. Eu faço o melhor possível, porém eu estou longe

de me sentir feliz comigo mesmo, e espero com impaciência o dia em que eu

20

Claude-Henri Gorceix (1842-1919) mineralogista francês. Em 1876 foi o primeiro diretor da Escola de

Minas de Ouro Preto. Disponível em: http://www.em.ufop.br/em/diretores/gorceix.php Acesso em: 15/04/15.

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24

poderei dizer à Vossa Majestade, como para a Escola Normal Bersot a Jules

Simon:17 ―Há um canto do Brasil onde tudo funciona!

Daqui, eu peço a indulgência em favor da minha boa vontade tanto pelo teor e

pela forma de comunicação que me dirijo à Vossa Majestade.

Sinto-me muito honrado, Sire, de ser etc‖. (Cartas de Gorceix a Dom Pedro II)

Nas cartas, Gorceix, muitas vezes em tom de pouca formalidade, relata ao

Imperador suas atividades e sobre as pessoas com quem trabalha, além de trazer à tona as

dificuldades do projeto de uma Escola naquele período no Brasil, como livros, professores

e materiais. A Escola servia como um centro de formação profissional e como centro de

pesquisa, pois em muitas cartas é comum o relato do andamento dos estudos sobre a

mineralogia da região. Gorceix se refere à Escola de Minas de Ouro Preto como um lugar

que seria a tentativa de Dom Pedro II de trazer para o Brasil mais pesquisas sobre a

descoberta e a exploração de recursos minerais.

―Gorceix alertava, seja em ofícios enviados ao Imperador, ao Ministério do

Império ou ao Presidente da Província de Minas Gerais, para a necessidade de

uma exploração racional dos recursos naturais, já que o território de Minas Gerais

destacava-se como uma das maiores reservas do mundo em minerais de valor

comercial.‖ (SANTOS e COSTA, 2005, p. 281).

A Escola tinha grande apoio por parte do Imperador, que a visitou em duas

oportunidades, em ―31 de março de 1881, tendo ele como de costume em todas as visitas a

estabelecimentos de ensino, assistido a aulas, provas e exames de alunos. Nesta ocasião,

assistiu também à primeira experiência feita no Brasil com uma lâmpada incandescente‖.

Dom Pedro II voltou à Escola de Minas pouco antes do fim de seu reinado, ―em 23 de julho

de 1889, em companhia da Princesa Isabel‖ e nesta ocasião pode presenciar a ―inauguração

do ramal ferroviário de Ouro Preto‖.21

―O que muito auxiliou, tanto a Gorceix como principalmente à própria Escola de

Minas, foram os laços de amizade e de admiração mútua, que se desenvolveram

entre ele e o Imperador. Foi justamente devido a essa amizade, que Gorceix

sentiu-se obrigado a pedir demissão de Diretor da Escola, logo após a

Proclamação da República.‖ (TELLES, 1984, p. 429).

21

A Escola de Minas – 1876-1976 – 1° Centenário. Ouro Preto, Oficinas Gráficas da Universidade Federal de

Ouro Preto, 1976, p. 50.

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25

De forma geral, ao estudar a formação do engenheiro no período do Império,

passamos também por outros temas que envolvem o engenheiro no século XIX, como sua

vida profissional. Encontramos vestígios de que estes profissionais tinham algumas

dificuldades e uma delas era a de conseguir emprego. Não havia muita oferta de trabalho, o

engenheiro tinha à sua disposição alguns cargos públicos e algumas obras, que durante este

século foram basicamente voltadas para a expansão da malha ferroviária. Segundo Telles

(1984), havia vários exemplos de como a engenharia durante este período não foi muito

valorizada, assim como seus profissionais: ―Apesar de tudo, o mercado de emprego para os

engenheiros ainda era excessivamente restrito. As estradas de ferro eram, de longe, o maior

empregador, chegando a absorver, por volta de 1880, cerca de 75% de todos os

engenheiros‖ (TELLES. 1984, p. 471). Uma opção de trabalho para os engenheiros era a

docência.

Havia, na época, uma preferência por empregar pessoas que fizessem Direito ou

Medicina, pois o positivismo ainda estava por se difundir e iniciar uma inversão deste

quadro e a formação na área técnica passava a ter uma grande importância. Foi, segundo

Telles, em torno de 1860 que os engenheiros começaram ―a sair de sua posição secundária

para ter papel mais relevante na sociedade‖. Começavam a participar de obras de

infraestrutura nas cidades, ―bem como melhoramentos nos portos‖, mas ainda se

concentravam na construção de estradas de ferro (TELLES, 1984, p. 470). Havia também

engenheiros que ocupavam cargos políticos no século XIX, porém em quantidade reduzida

se comparada a de bacharéis em Direito, ainda um reflexo de uma sociedade humanista.

―Entretanto, o exercício da engenharia no período imperial é visto como uma

função que não adquire status social. Neste sentido, os engenheiros

permaneceram vinculados ao serviço público, constituindo-se enquanto corpo

burocrático do Estado. Se por um lado a sociedade não lhes dava crédito e

respaldo social, por outro, o Estado constituía-se enquanto uma oportunidade de

ascensão social contrapondo o bacharelismo imperial.‖ (MARTINS, 2005, p. 6-

7).

Além disso, merece destaque a baixa remuneração dos engenheiros que estavam

empregados, conforme afirma Telles (1984, p. 471), era comum ver em jornais da época o

anúncio de oferecimento de serviços por parte dos engenheiros, porém eram ―raríssimos os

anúncios de alguém precisando de engenheiros‖. A expansão na contratação destes

profissionais começou antes do fim do Império, devido a fatores como uma pequena

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industrialização que havia se iniciado e o aumento das cidades e de suas necessidades.

Assim, os engenheiros passaram a fazer parte de cargos que traziam maior notoriedade para

a classe. Tratando-se desta configuração social dos anos finais do período Imperial,

encontramos em Simões Júnior mais detalhes sobre como estava a sociedade brasileira

neste momento:

―No contexto brasileiro e mesmo sul-americano, as ressonâncias do processo de

industrialização na Europa e América do Norte já se fazem perceber desde a

década de 1880, uma vez que esses países passam a assumir posição de

retaguarda em relação à revolução industrial, ficando responsáveis pelo

fornecimento de matérias primas e produtos agrícolas para os países mais

avançados: o Brasil fornecendo café e borracha, a Argentina, carne e lã, o Chile,

cobre e salitre, etc. No Brasil, a riqueza proveniente desta economia agro-

exportadora lançaria as bases para as mudanças no quadro cultural e social do

país: o surgimento de uma elite econômica com fortes laços com a cultura

européia, em especial a francesa; a formação de um mercado elitizado e

consumidor de produtos industrializados importados; a substituição do trabalho

escravo pela mão de obra assalariada do imigrante europeu. Tais fatores

contribuiriam decisivamente para alterar o quadro cultural da sociedade

brasileira, com forte impacto no âmbito da arquitetura e do urbanismo. A

referência ao modelo francês seria ainda reforçada pelo forte poder que o modelo

da república francesa exercia sobre a classe política brasileira, assim como pelo

ideário positivista comteano.‖ (SIMÕES JÚNIOR, 2007, p. 4).

COM AS MÃOS ‘NA MASSA’

A Proclamação da República, como nos lembra Celso Castro em seu livro com este

título, não tem um herói, nem uma ―imagem consagrada‖, como em outras datas

comemorativas. Houve apenas uma proclamação, "um anúncio público‖ de que o Brasil

havia mudado a sua forma de organização política (CASTRO, 2000, p. 7). Não houve

participação popular e nem de republicanos civis. A Proclamação foi organizada e

executada por militares. Mas não por todos os militares. A Marinha não teve participação e

os oficiais superiores do Exército ―podiam ser contados nos dedos, e o que mais se destacou

entre eles não exercia posição de comando de tropa: trata-se do tenente-coronel Benjamin

Constant, professor de matemática na Escola Militar.‖ (CASTRO, 2000, p. 7).

Os militares que ―conspiraram pela República‖ e desencadearam ações que

culminaram com a derrubada do Império foram oficiais com patentes inferiores do

Exército. Alferes-alunos, tenentes e capitães, ou ―a mocidade militar‖, como eram

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chamados esses jovens militares, tinham uma formação superior científica, obtida em

cursos oferecidos pela Escola Militar da Praia Vermelha. Eles foram alunos de Benjamin

Constant, engenheiro também formado pela Escola Militar. Segundo Castro, para muitos

autores, ―principalmente os vinculados à tradição positivista‖, Benjamin Constant teria

desempenhado um papel central nos acontecimentos que levariam à República. Para o

autor, no entanto, não era o líder que catequizava os jovens estudantes, ao contrário, era a

―mocidade militar‖ seduzindo e convertendo o mestre ―para o ideal republicano.‖

(CASTRO, 2000, p. 10).

De qualquer forma, o engenheiro-professor Benjamin Constant assumiu o ideal

republicano e desempenhou importantes papéis no início da República, propondo reformas

para escolas de diferentes níveis, que privilegiavam um ensino cientificista em moldes

positivistas. No entanto, a implantação de suas propostas é abruptamente interrompida em

1891, por ocasião de seu falecimento.

Este período de transição do Império para a República, assim como ocorre em

qualquer período de transição, é marcado pelo embate de ideais entre os defensores da

República e da Monarquia.

―Os republicanos caminhavam em busca de uma legitimação e os monarquistas

em busca de uma permanência. No meio desse processo de mudança, as correntes

políticas democráticas foram se cristalizando no seio da sociedade ao longo dos

anos, e encontraram na necessidade de progresso instaurada pelas correntes

científicas uma forma de superação da cultura política imperial.‖ (SOUZA, 2013,

p. 15-16).

―Com a proclamação da República, em 1889, a engenharia brasileira entrou numa

nova fase‖ (MORAES; VARGAS, 2005, p. 15). Era preciso modernizar as cidades,

construir estradas de ferro. Era necessário formar mais profissionais engenheiros. Com isso,

tem-se uma valorização quanto ao papel do engenheiro. Na década de 1890, foram criadas

escolas de engenharia em vários estados brasileiros: Escola Politécnica de São Paulo,

Escola de Engenharia de Pernambuco, Escola de Engenharia Mackenzie, Escola de

Engenharia de Porto Alegre e Escola Politécnica da Bahia.

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―Um dos mais importantes eventos dessa nova fase, foi a criação da Escola

Politécnica de São Paulo, em 189422

. Seu fundador, Antonio Francisco de Paula

Souza, era neto paterno de um ministro liberal do Segundo Império e materno de

grande fazendeiro de café. Republicano e anti-escravagista, escreveu, ainda

durante o Império, o revolucionário panfleto ―A República Federativa do Brasil‖,

que encarnava exatamente o espírito liberal, porém autoritário, da República

Velha.‖ (MORAES; VARGAS, 2005, p. 15).

A primeira Escola de Engenharia no ambiente republicano e a segunda Escola

destinada à formação de engenheiros civis, a Escola Politécnica de São Paulo oferecia

outros cursos de engenharia: engenharia agrícola e engenharia industrial. Segundo Vargas

(1994, p. 17), a Politécnica de São Paulo teria o ―poder de conferir o título de Agrimensor

aos alunos que se habilitassem em cadeiras básicas do curso civil‖.

A Escola Politécnica de São Paulo teve resistências para ser implantada. Em 1892,

―Paula Souza foi eleito deputado Estadual‖ e com seu poder político tentou criar em São

Paulo ―uma simples escola técnica‖ através do ―Projeto de Lei n° 9 autorizando o Estado a

criar o Instituto Polytechnico de São Paulo.‖ (VARGAS, 1994, p. 17). Entretanto, seu

projeto sofreu duras críticas e oposições de pessoas que também tinham considerável

influência no cenário político da época, como, por exemplo, Euclides da Cunha e o então

deputado Gabriel Passos. Segundo Vargas (1994, p. 17), essa oposição poderia ser ―uma

reação dos fazendeiros paulistas‖ que temiam ―o desenvolvimento industrial‖.

―A Politécnica de São Paulo, à diferença da do Rio, foi criada segundo o modelo

das Escolas Superiores Técnicas germânicas, onde se ensinava engenharia com

base nas ciências físicas e matemáticas, porém, acompanhada de um intenso

ensino técnico em oficinas e gabinetes experimentais.‖ (MORAES; VARGAS,

2005, p. 15).

Os engenheiros começaram a assumir papéis centrais nas ações de reurbanização de

grandes centros e na política. Aos poucos eles iam tomando o lugar que os bacharéis em

Direito assumiram durante o Império. ―Era o velho estamento imperial e agrarista que cedia

seus lugares nas funções públicas a uma nova geração, composta por engenheiros, com

ideário positivista e republicano‖. (SIMÕES JUNIOR, 2007, p. 7)

―Os engenheiros, através da constituição profissional, conseguem elaborar um

projeto de sociedade, no qual o conhecimento por eles adquiridos possui um

22

M. C. Loschiavo dos Santos.

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papel central na tentativa de modernização do Estado e da sociedade, além de

conseguirem uma efetiva representação no imaginário.‖ (MARTINS, 2005, p.

11).

Tendo como lema o ―engrandecimento da pátria pelo trabalho‖, os engenheiros

―tencionaram constituir-se nos principais interlocutores do poder público e da iniciativa

privada, nas matérias diretamente ligadas ao campo material da sociedade‖. Assumindo

diversificados trabalhos em diferentes segmentos ―da infraestrutura e das forças

produtivas‖, os engenheiros tiveram ―papel de destaque na formulação e na execução dos

principais projetos implementados com vistas à modernização do Brasil‖, especialmente na

construção de ferrovias e em trabalhos de urbanização. (CURY, 2004, p. 1)

O Clube de Engenharia do Rio de Janeiro, fundado em 1880, com a República ―viu

o seu prestígio crescer como instituição representativa do campo técnico.‖ (AZEVEDO,

2013, p. 274). Ele representou um papel fundamental para a valorização dos engenheiros

nas primeiras décadas da República. Em um cenário em que as ―oportunidades de trabalho

eram relativamente escassas‖, articulações políticas foram responsáveis pelo ―controle

sobre os melhores postos de trabalho, sobretudo nas obras públicas‖ (CURY, 2004, p. 6).

Esse era o principal papel desempenhado pelo Clube de Engenharia: ―assegurar para os

seus membros – em especial, para a cúpula do Conselho Diretor da entidade – os cargos de

maior projeção no cenário da República‖. (CURY, 2004, p. 6)

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CAPÍTULO 2 – A ESCOLA DE ENGENHARIA DE PERNAMBUCO EM

MOVIMENTO

Conta-se23

que o professor de física Luiz Freire, da Escola de Engenharia da Rua do

Hospício, em uma de suas provas, propôs duas questões para os alunos resolverem, que

valiam 3 e 7 pontos. Após passar as questões, o professor comunicou que iria se ausentar

por duas horas e voltaria para recolher as provas. Pediu para um funcionário da escola ficar

sentado na mesa do professor e saiu. Os alunos resolveram facilmente a primeira questão. A

segunda, no entanto, ninguém estava conseguindo resolver. Para distrair o servente, os

alunos lhe deram um jornal, e começaram a trocar informações sobre a questão. Ninguém

tinha ideia nem de como começar a resolver a questão. Um aluno teve uma ideia. Existia

um bom professor de Física que estava dando aula em uma escola próxima. O aluno

conseguiu enganar o servente e foi até a escola para perguntar ao professor sobre a questão.

No entanto, o professor também não conseguiu resolver. Quando o professor Freire

entregou as provas corrigidas, apenas a primeira questão foi acertada por todos. O professor

―então, com ar sábio, superior, falou: Esta segunda questão só três pessoas resolveram:

Albert Einstein, Mario Schemberg24

e EU‖.

Esta história, que foi rememorada por um dos alunos de Freire25

, nos revela algumas

características deste professor da Escola de Engenharia de Pernambuco, que teve muito

destaque naquele período, não apenas em seu Estado, como em todo o Brasil, em particular,

por ter incentivado e encaminhado vários de seus alunos a seguir a carreira de cientista em

centros de pesquisa nacionais e internacionais.

Muitos outros personagens participaram de diferentes formas na constituição da

Escola de Engenharia de Pernambuco. Neste capítulo, pretendemos centrar nosso olhar em

alguns desses personagens, que se manifestam em memórias de alunos e professores, e em

diferentes documentos – livros, entrevistas, artigos, textos oficiais e escolares – localizados

em diferentes tipos de arquivos, dentre os quais se encontram os da Biblioteca Pública do

Estado de Pernambuco, do Arquivo Público de Pernambuco e da Fundação Joaquim

23

Torres (2001, p. 154). 24

Físico brasileiro que estudou na escola. 25

Falaremos mais das atividades do professor Freire, em especial de suas publicações, no Capítulo 3.

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31

Nabuco – Fundaj. Da mesma maneira, buscamos apresentar algumas memórias

institucionais, em especial as que se relacionam à formação dos alunos.

MEMÓRIAS INSITUCIONAIS

A terceira escola criada no Brasil, voltada especificamente à formação de

engenheiros não militares, ou civis, foi a Escola de Engenharia de Pernambuco, com sede

na cidade de Recife. Oficializada através da Lei n° 84, de junho de 1895, expedida pelo

então governador do Estado de Pernambuco, José Alexandre Barbosa, as atividades da

escola foram iniciadas logo após a publicação do Decreto de 12 de fevereiro de 1896, que a

regulamentava e lhe atribuía o status de instituição estadual.

A cidade de Recife, desde a segunda metade do século XIX, já era um importante

centro político, econômico e cultural do Nordeste brasileiro. Pelo seu porto eram

exportadas as produções de cana-de-açúcar e algodão, e importados ―gêneros e artigos de

consumo‖. O grande movimento portuário foi acompanhado pela ampliação do comércio e

o ―surgimento de indústrias e manufaturas‖ (DUARTE, 2012, p. 2). Com a República, a

criação de empreendimentos industriais é intensificada, tendo sido instaladas, dentre outras,

a Fábrica de Tecidos Paulista e a Companhia Industrial de Pernambuco, em 1891, e a

Companhia de Fiação de Goiana, em 1894.

Embora o setor industrial estivesse em crescimento, no final do século XIX, e até as

primeiras décadas do século XX, a exportação do café ainda era a base da economia

brasileira. O crescente aumento da exportação gerou a necessidade de ―mecanização das

indústrias rurais‖, instalação de manufaturas e construção de estradas de ferro. As escolas

de Engenharia criadas no período, como a Escola de Engenharia de Pernambuco, tinham o

objetivo primordial de ―formar profissionais aptos a trabalharem na estrutura burocrática e

política que a agricultura exigia‖. (SANTOS; SILVA, 2008, p. 23-24). Dessa forma, ―as

oportunidades de trabalho para os engenheiros‖ eram dirigidas à ―expansão dos setores

ferroviários, hidrelétricos, edificações e de serviços públicos, decorrentes da produção

agroexportadora‖. (LAUDARES, 1992, p. 25, apud SANTOS; SILVA, 2008, p. 24).

Em um período de crescimento econômico, a cidade de Recife contratava

engenheiros e arquitetos, em sua maioria franceses, para a construção de obras públicas.

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32

Muitos prédios do atualmente denominado Recife Antigo foram construídos neste período.

O Teatro Santa Isabel (Figura 6), por exemplo, cujas obras foram concluídas em 1850, teve

como construtor responsável o engenheiro francês Louis Leger Vauthier. Não eram,

portanto, apenas as atividades ligadas ao setor cafeeiro que impunham a necessidade de

formação de engenheiros brasileiros para atuar no Norte e Nordeste brasileiros. Se, por um

lado, a expansão da exportação cafeeira necessitava do trabalho de engenheiros, por outro

lado, como nos lembra Roldão Gomes Torres (2008, p. 18), a construção de prédios

governamentais e de empreendedores de várias áreas era outro setor que seria contemplado

pela criação da Escola de Engenharia de Pernambuco.

FIGURA 6. TEATRO DE SANTA ISABEL E PALÁCIO DO CAMPO DAS PRINCESAS EM 185026

No início de suas atividades, em 1896, sob a direção de Antonio Urbano Pessoa

Montenegro, a Escola de Engenharia de Pernambuco oferecia cursos para agrimensores e

engenheiros civis e geógrafos, respectivamente, com dois e cinco anos de duração. Como

ocorria com outras escolas superiores, para ingressar nos cursos o aluno deveria prestar o

vestibular da época, denominado, então, Exame de Admissão. O Exame contemplava

questões sobre Aritmética, Álgebra, Geometria e Trigonometria retilínea e esférica.

Nos cinco anos de curso, os futuros engenheiros cursavam quinze cadeiras27

e cinco

aulas28

. Todas as aulas eram destinadas a estudos de desenho e realização de projetos

26

Disponível em: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=543485. Acesso em: 02/04/2015.

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33

gráficos. Cada um dos cinco anos era composto por três cadeiras e uma aula. (Anexo I, p.

86-87) As cadeiras compreendiam diferentes áreas e iniciavam com disciplinas gerais –

como Geometria Analítica e Projetiva, Cálculo Diferencial e Física – para nos últimos anos

contemplar disciplinas específicas de engenharia – como Estradas de Ferro e Esgotos, e

Saneamento das Cidades. Para adquirir o diploma de agrimensor, no entanto, era necessário

que o aluno concluísse apenas as duas primeiras séries do curso de Engenharia, que era

encerrado com as cadeiras de Topografia, Desenho Topográfico e Exercícios Práticos.

Dois anos depois de iniciadas suas atividades, a Escola de Engenharia de

Pernambuco foi equiparada à Escola Politécnica do Rio de Janeiro que era, então, o modelo

de Escola de Engenharia no Brasil, através do Decreto Federal n° 3022, de 3 de outubro de

1898. Para obter a equiparação, que garantia a equivalência de diplomas, o plano de estudos

da EEP teve que ser alterado. Isso ocorreu por meio do Regulamento expedido em 7 de

Fevereiro de 1898 (Figura 7), como explicitado em sua página inicial:

―O Governador do Estado, usando da autorização constante do art. I.° n. XI das

Disposições Geraes da lei n. 249 de 30 de Junho do anno passado, resolve expedir

o seguinte regulamento, para o fim de equiparar o plano de estudos da Escola de

Engenharia ao da Escola Polytechnica e assim poderem ser concedidas áquelle

estabelecimento as vantagens e regalias conferidas a este Instituto Federal (...)‖.

Com o novo Regulamento, o curso de Engenharia passa a ter seis anos e várias

mudanças ocorrem nas disciplinas. (Anexo II, p. 87-88) O novo curso aponta para a

formação de um engenheiro mais direcionado às novas necessidades de modernização das

cidades. Algumas disciplinas mais voltadas ao campo e à agricultura são retiradas e em seu

lugar aparecem outras relativas à área urbana ou à modernização do campo. A disciplina

―Botânica. Corte e preparo de madeiras. Conservação de matas‖, por exemplo, não aparece

no novo Regimento. Em um momento em que há uma ampliação da Agricultura e aumento

na participação de colonos de outros países nas lavouras brasileiras, o novo Regulamento

reserva um espaço para discutir ―Legislação de terras e princípios gerais de colonização‖.

Ao lado de disciplinas que abordam as estradas de ferro, são incluídas as que discutem as

27

A palavra cadeira era usada para designar matéria ou disciplina escolar. Originária da palavra grega

kathédra e da latina cathedra, o significado diz respeito à autoridade de quem fala, no caso o professor, sobre

os assuntos que serão apresentados aos alunos, com conhecimento e tom doutoral. 28

As aulas provavelmente se referiam a estudos práticos realizados em uma sala específica, no caso em uma

sala para desenho.

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estradas de rodagem, bem como as pontes e os viadutos. Novas disciplinas relacionadas ao

Direito e à Economia, também, começam a fazer parte da formação do engenheiro.

FIGURA 7. CAPA DO “REGULAMENTO” DA ESCOLA DE ENGENHARIA DE PERNAMBUCO DE 189829

Naquele período, como ocorre ainda hoje em algumas instituições de ensino

superior, o Governador do Estado era o responsável pela indicação de um professor para

assumir o cargo de Diretor. Para ocupar este cargo era necessário ser um professor ou

―lente‖. A Escola, por outro lado, devia manter o Governador informado de todas as

atividades escolares. Em relatórios anuais, eram explicitadas as atividades realizadas no

estabelecimento, incluindo observações sobre o comportamento de alunos e as atividades

dos docentes, destacando aqueles ―lentes catedráticos, substitutos e preparadores do

estabelecimento que mais tiverem se esforçado pelo progresso da ciência e do ensino.‖

(Regulamento da Escola de Engenharia de Pernambuco de 1898, p. 14). Além do controle

de todas as atividades realizadas na Escola, esta avaliação institucional, denominada

Regulamento de Procedimento Civil e Moral, tinha o objetivo de identificar aqueles

29

Arquivo pessoal. Fotografia tirada do exemplar que se encontra no Arquivo Público Estadual, em

10/02/2013.

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35

docentes que seriam recompensados com uma bolsa-viagem, com duração de um ano, para

realizar estudos em países mais avançados, como explicitado no Artigo 42:

―Poderá o Governo, como recompensa ao merecimento, mandar um membro do

corpo docente em viagem de instrucção aos paizes mais adiantados, concedendo-

lho os meios necessários á sua subsistencia, transportes e pesquizas. A indicação

será sempre feita pelo Diretor, competindo a este dar as devidas instrucções.‖

(Regulamento da Escola de Engenharia de Pernambuco de 1898, p. 14)

Atendendo a uma nova determinação do Governo Federal para manter a

equivalência com a Escola Politécnica do Rio de Janeiro, em 1901 outras mudanças são

realizadas na EEP, através da publicação de um novo Regulamento. Uma das mudanças diz

respeito aos ―actos do diretor‖, que estão agora sob ―exclusiva inspeção do Governador do

Estado‖ e não mais do Secretário do Interior. O período de envio do relatório também sofre

mudanças, passa a ser até fevereiro e não mais até o fim do ano letivo, como previsto

anteriormente. Também foi alterada a duração do curso de Engenharia Civil, que passa a ter

cinco anos e não mais seis, como definido em 1898.

No início do novo Regulamento, o Governador do Estado esclarece os motivos

pelos quais são necessárias as mudanças:

―O governador do Estado, considerando que é de necessidade modificar-se o

regulamento de 7 de fevereiro de 1898 de accordo com o decreto federal n. 3926

de 10 fevereiro ultimo e as disposições do código de ensino que lhe são

applicaveis, afim de que a Escola de Engenharia continue a gosar das vantagens e

regalias da Escola Polytechnica, para o que foi marcado, a contar de 23 de maio

do corrente ano, o prazo de 6 mezes pelo Ministério da justiça e negócios

interiores em aviso de igual datas dirigido ao delegado legal junto áquelle

estabelecimento, resolve expedir o seguinte REGULAMENTO PARA A

ESCOLA DE ENGENHARIA.‖ (Regulamento da Escola de Engenharia de

Pernambuco de 1901, p. 1)

No Regulamento de 1901, não houve grandes alterações na concepção de formação

dos engenheiros. O que parece ter sido prioritário foi a redução de tempo destinado às

matérias, que foram agrupadas em cinco anos, mantendo a mesma formação.

Mesmo com a equiparação à Escola Politécnica do Rio de Janeiro e contando com

alunos de outros estados do Norte e Nordeste, a quantidade de alunos formados pela Escola

de Engenharia de Pernambuco era muito reduzida. O curso de agrimensores, que teve uma

breve existência, segundo Torres (2008, p. 21), teria formado apenas seis alunos. O mesmo

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acontecia com os cursos de engenharia. Nos anos de 1902 e 1903, foram formados 9

engenheiros civis e 6 engenheiros geógrafos.

Em seus anos iniciais, até 1904, a Escola funcionava em um ―prédio na Praça da

República, em frente ao Teatro Santa Isabel, do outro lado da Praça, e ao lado do Palácio

das Princesas, com os fundos para o Rio Capibaribe‖. Esta localidade, na época, era o

centro de Recife e onde estavam suas principais construções. O prédio já não existe mais.

Ele foi demolido e no local atualmente encontra-se uma avenida ―beira rio, que contorna a

Praça da República‖, região popularmente conhecida como Recife Antigo, segundo Torres

(2008, p. 19).

A Escola de Engenharia de Pernambuco teve vida curta. Menos de dez anos após a

sua criação, ela encerrou suas atividades. A Lei30 que anuncia o fechamento da escola não

apresenta detalhes sobre os motivos que teriam levado a essa decisão, apenas comunica que

a Escola será extinta ao final daquele ano letivo, de 1904, e dá algumas orientações sobre os

professores do estabelecimento. Várias versões sobre o fechamento manifestam-se em falas

de ex-professores e alunos.

Dificuldades encontradas para transformar a Escola de Engenharia de Pernambuco

em uma instituição do nível da Politécnica do Rio de Janeiro, tanto nas questões de ensino

como nas administrativas e financeiras, segundo alguns autores, foram responsáveis pelo

fechamento da Escola. Para outros autores, no entanto, as dificuldades estavam

relacionadas ao protecionismo político vigente naquele período, em particular, por parte do

governador Sigismundo Gonçalves, que tentou diversas vezes, sem sucesso, nomear

professores para a Escola sem uma aparente qualificação e sem uma seleção prévia,

baseado apenas em seus conhecimentos pessoais. A resistência a essa prática, por parte de

professores da Escola, teria sido o estopim para o governador encerrar os trabalhos. A

reprovação do filho ―de um político de grande evidência e prestígio‖, bem como

―manifestações dos estudantes por ocasião do ingresso dos feras31, considerado uma

rebeldia ou um comportamento não civilizado, devido à proximidade do centro do Poder

Executivo‖, teriam também contribuído para o fechamento da Instituição (TORRES, 2008,

p. 25-26).

30 Lei N° 659. Diário Oficial de Pernambuco, 15 de maio de 1904. 31

Fera é a denominação usada na região de Recife – PE para os ingressantes na faculdade.

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Professores e alunos, no entanto, não acataram de forma passiva a decisão de

encerramento das atividades da Escola de Engenharia de Pernambuco, decidindo buscar

apoio político para tentar reverter o fechamento da Escola. Em passeata, uma ―caravana de

alunos, barulhenta, movimentava-se pelas ruas, atraindo olhares dos transeuntes, seguindo

da Escola, na Praça da República, até a pracinha.‖ (TORRES, 2008, p. 27). Estavam se

dirigindo ao gabinete do Senador Conselheiro Rosa e Silva. Mesmo sendo o Governador

um defensor de muitas propostas de Rosa e Silva, quando este foi interceder pela Escola de

Engenharia de Pernambuco, não houve negociação. O Governador apenas concordou em

dar um maior tempo para o encerramento da escola, para que alunos e professores

pensassem em novas ações. E isso realmente aconteceu. Outra Faculdade de Engenharia

seria, então, criada na capital de Pernambuco no ano seguinte, contando com a participação

de vários professores da recém-fechada Instituição.

―Ante perspectiva tão sombria para o Estado de Pernambuco, mesmo para o

nordeste brasileiro, de se ver fechar um estabelecimento de ensino superior, único

no gênero em todo o norte do país, sério pelas suas diretrizes normais e úteis,

indispensável mesmo, para o seu progresso tecnológico, um grupo de doze dos

mais dedicados mestres, idealistas, tomou a iniciativa de fundar outra Escola de

Engenharia, associando-se a outros elementos do magistério e à profissionais de

engenharia, de renome já firmado‖. (MAIA, 1966, p. 24)

As diferentes versões apresentadas para o fechamento da Escola de Engenharia de

Pernambuco, seguido pela criação da Escola Livre de Engenharia, nos levam a algumas

reflexões. A Lei que determinou o fechamento da Instituição de Ensino não apresenta

nenhuma justificativa, apenas anuncia a decisão, aprovada em uma sessão da Câmara dos

Deputados de Pernambuco, no dia 11 de maio de 1904. A decisão do Congresso Legislativo

do Estado de Pernambuco é assinada pelo presidente e dois deputados e autorizada pelo

Governador do Estado três dias depois. Não temos informações sobre os debates ocorridos

naquela sessão, nem se eles chegaram a ocorrer. No entanto, podemos conjecturar que a

influência e o poder do Governador de Pernambuco foram decisivos para que a Câmara

apoiasse a decisão de fechamento da Escola. Mas, quais teriam sido os argumentos

apresentados pelo Governador? É muito provável que esses argumentos foram de natureza

financeira. Afinal, a Escola não estava dando um retorno que justificasse os gastos

investidos. O número de alunos diplomados era muito reduzido e os gastos com a

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manutenção da Instituição era alto. No entanto, questões relacionadas ao protecionismo

político podem ter ajudado a acelerar o fechamento da Escola.

A nova Escola, criada em 1905, recebeu a denominação de Escola Livre de

Engenharia de Pernambuco, permanecendo com este nome até 1925, quando voltou a ser

Escola de Engenharia de Pernambuco, por problemas gerados pela existência de outra

Escola Livre no Rio de Janeiro. Uma sociedade de engenheiros foi criada para dirigir a

Escola Livre de Pernambuco, que seria mantida com fundos obtidos ―através de taxas e

mensalidades cobradas aos alunos‖ e salários de professores que ―se propuseram a não

receber salário até que a situação se normalizasse‖, ou seja, ofereciam seus salários para

manter as despesas da nova Escola. (TORRES, 2008, p. 29).

Sobre o período de transição da Escola de Engenharia de Pernambuco para a Escola

Livre de Pernambuco, o professor Paulo Guedes, ex-aluno da Escola Livre, se recorda que

foram grandes as dificuldades enfrentadas. A sua turma, que iniciou com 10 alunos

matriculados regularmente e treze ouvintes, no segundo ano tinha apenas ―três ou quatro‖.

Essa brusca diminuição do número de alunos, segundo Guedes, não teria ocorrido apenas

pela rigorosidade dos exames, mas, especialmente, pelas mudanças institucionais.

(GUEDES, 1995, p. 237)

No final do mesmo ano de sua criação, a Escola Livre de Engenharia de

Pernambuco foi reconhecida como estabelecimento de Ensino Superior. Não tendo mais

uma vinculação direta com o Governador, embora contasse com apoio variado do governo

do Estado, a Escola Livre de Engenharia de Pernambuco, gerida por uma Associação

―formada pelos lentes e professores‖, tinha o objetivo de ―difundir o ensino das matérias

constitutivas dos cursos de engenharia civil e agronômica nos moldes do regimento e

programas do Instituto congênere da União.‖ (Estatutos da Escola Livre de Engenharia de

1905, p. 3). Nessa nova organização, a direção da Escola é de responsabilidade do

presidente da Congregação.

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FIGURA 8. PRÉDIO DA ESCOLA LIVRE DE ENGENHARIA NA RUA DO HOSPÍCIO, N° 7132

Alguns anos após a criação da Escola Livre de Engenharia de Pernambuco,

divergências entre professores, particularmente com relação ao tipo de formação, mais

teórica ou mais prática, ambas permitidas pela Lei Rivadávia33

, acabaram gerando algumas

dissidências de professores que defendiam uma formação mais prática. Esses dissidentes

seriam os fundadores de uma nova Escola de Engenharia em Pernambuco, denominada

Escola Politécnica de Pernambuco, em 6 de março de 1912:

―(...) a nova Escola já se houvera instalado, desde o dia 06 de março de 1912, na

vigência da Lei Rivadávia. Esta disposição normativa, com 144 artigos e

inúmeros parágrafos, tomou o número 8.659 e foi publicada pelo Diário Oficial

em 05 de abril de 1911, no governo do Gen. Hermes da Fonseca.‖ (SANTOS,

1991, p. 38)

Esta nova Escola buscava formar engenheiros mais voltados para o trabalho, não

tinha a pretensão de formar professores ou estudiosos e, por isso, se pautava por um ensino

mais técnico do que o existente na Escola Livre de Engenharia. Segundo Torres (2008, p.

31), ―dois professores da congregação, um deles Joaquim Leal de Barros, da Escola Livre 32

Disponível em: http://cafehistoria.ning.com/photo/recife-pe-1920-escola-de?context=latest. Acesso em

10/03/2012. 33

Implantada através do decreto n° 8.659, em 5 de abril de 1911, pelo Dr. Rivadávia Correia, a lei liberava as

escolas da fiscalização federal, proporcionava total liberdade aos estabelecimentos escolares.

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de Engenharia, em 1912, a pretexto de que o ensino ali era demasiadamente teórico, se

afastaram e criaram a Escola Politécnica de Pernambuco, a Poli‖.

Com a restituição da fiscalização do Governo Federal e com a reorganização do

ensino, a Escola Livre de Engenharia de Pernambuco cria novos estatutos, que desta vez

excluem o curso de formação de engenheiros agrônomos. Segundo Torres (2008), a

formação destes profissionais caberia entre 1915 e 1919 à Escola Agronômica do Estado de

Pernambuco, conhecida popularmente como Escola de Agronomia de Socorro, nome do

local onde ficava instalada. Esta Escola seria fechada em 1919, praticamente pelo mesmo

motivo pelo qual o curso havia sido retirado da EEP: falta de alunos, o que acarretava em

decrescimento da Escola até seu fechamento; além da sua distância para Recife, o que

dificultava ainda mais a presença de novos alunos. Segundo Moraes Rego (1925, p. 21), o

curso foi extinto em 1915 porque ―não logrou frequencia sufficiente e regular‖ e os lentes

responsáveis pelas cadeiras deste curso ficaram à disposição da EEP e poderiam ser

convocados para novas vagas independentemente de concurso.

A partir de 1919, a Escola Livre poderia formar engenheiros mecânico, elétrico,

agrônomo e industrial, embora por alguns anos só tenha formado engenheiros civis. Neste

período, o Governo Federal liberou uma subvenção para algumas escolas de formação

superior, segundo Maia (1966, p. 28):

―Baseado na lei orçamentária federal n° 3991 de 5 de janeiro de 1920 a qual

consignava com uma subvenção anual para cada um dos sete primeiros cursos de

―Química Industrial‖ a serem criados no pais, o Ministério da Agricultura,

Indústria e Comércio, assinou o convênio com a Escola a 18 de julho de 1920

para a fundação e manutenção de um daqueles cursos.‖

O fortalecimento da classe dos engenheiros, com a ampliação do oferecimento de

cursos e de empregos, impôs uma maior organização da categoria, que criou, em 1919, o

Clube de Engenharia de Pernambuco (Figura 9). Nesse Clube seriam discutidas questões

teóricas, profissionais, políticas, etc. Uma das ações do Clube foi a publicação do periódico

―Boletim de Engenharia‖, no período de 1923 a 1937. Nas páginas de sua publicação, o

Boletim de Engenharia fazia propaganda de seus engenheiros e de seus serviços,

apresentava textos sobre ensino, teorias matemáticas, químicas e físicas, histórias de vida

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de cientistas, artigos sobre a modernização e problemas urbanos de Recife, além de textos

que discutiam a própria consolidação da engenharia enquanto classe profissional.

FIGURA 9. ATUAL SEDE DO CLUBE DE ENGENHARIA DE PERNAMBUCO34

O Clube de Engenharia de Pernambuco foi o segundo Clube de Engenharia do

Brasil. Ele foi importante para a divulgação e reconhecimento desses profissionais-

engenheiros. A leitura de textos dos Boletins de Engenharia evidencia a estreita relação

entre a política e os engenheiros nas décadas de 1920 e 1930. Cabe ainda ressaltar a relação

do Boletim com a Escola de Engenharia, pois em sua maioria, seus editores e escritores

estudaram e, posteriormente, se tornaram professores da EEP.

PROFESSORES, ALUNOS E DISCIPLINAS

A maior parte dos alunos da Escola de Engenharia de Pernambuco, como acontecia

com outras instituições educacionais no período, era composta por filhos da elite do Estado

– fazendeiros e/ou funcionários ligados ao Governo. Apenas alguns poucos estudantes

provinham de famílias de uma classe social de menor renda. Os rastros também nos

apontam que os alunos da Escola, formados no período estudado, eram de diferentes

estados das regiões Norte e Nordeste, embora a maior parte fosse natural de Pernambuco.

Identificamos alunos do Pará, Paraíba, Ceará, Alagoas. Esta informação nos leva a crer que

34

Arquivo Pessoal. Fotografia tirada em 10/02/2013.

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a EEP também era um centro de formação de engenheiros não apenas para Recife e região,

mesmo que em menor escala.

Para entrar na Escola de Engenharia, os alunos deveriam prestar os exames

preparatórios para o ingresso nos cursos superiores, em um momento em que cursos de

nível secundários começavam a ser regularizados. Para preparação a esses exames, cursos

anexos às faculdades foram sendo criados.

―Até a década de 30, o acesso restrito ao ensino superior, no Brasil, fazia com que

o ensino secundário se caracterizasse como uma parte da formação de elite,

associada à preparação, originalmente, para os exames preparatórios e, depois,

para os vestibulares, instituídos em 1915, com a reforma promovida pelo

Ministro Carlos Maximiliano.‖ (ALVES, 2004, p. 2).

O Curso Anexo, ou também chamado Curso Preparatório, foi tema de algumas

histórias abordadas nas fontes estudadas. O Curso era anual e, dependendo do período em

que o aluno era admitido, não seria possível realizar os próximos exames, que ocorriam no

início do ano. As disciplinas matemáticas eram centrais no Curso e vários professores da

Escola iniciaram suas atividades ali. Luiz Ribeiro, Paulo Guedes, Newton Maia e Augusto

Victor Martins, foram lembrados como professores. Alguns deles, inclusive, foram alunos

da Escola. Paulo Guedes, por exemplo, teve uma participação na EEP por mais de 30 anos

e quando foi aluno no Curso Anexo de Matemática em 1903, teve como professor Augusto

Victor Martins. (GUEDES, 1995, p. 234).

Os Estatutos de 1926, que oficializaram o fim da associação Escola Livre de

Engenharia de Pernambuco e o retorno da Escola de Engenharia de Pernambuco, afirmam

que o Curso Preparatório era sustentado pela própria Escola e que seria mantido enquanto

fosse conveniente. As disciplinas ensinadas seriam as determinadas pela legislação federal

como obrigatórias para o exame de admissão ou vestibular para os cursos técnicos. A

denominação ―vestibular‖ só é utilizada para o exame referente ao ingresso nos cursos

técnicos e não nos de engenharia.

Como ocorria em outras escolas, no Curso Anexo da Escola de Engenharia de

Pernambuco o quadro docente era composto por professores da própria Escola, como

Newton Maia, e por professores de outros colégios, como os do Ginásio Pernambuco. Além

de lecionar no Curso e na EEP, o professor também poderia fazer parte da banca avaliadora

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do Exame de Admissão, o que aponta o grande controle exercido por esses professores

sobre o processo de seleção da Escola. O professor Luiz Ribeiro, por exemplo, era docente

da Escola e do Curso Anexo, e compunha as bancas examinadoras do exame para ingresso

na EEP. Além disso, Ribeiro foi professor de vários alunos desde que eles frequentavam o

Ginásio Pernambucano. Nas lembranças de Romildo Cordeiro Pessoa, o docente Luiz

Ribeiro era considerado o ―bicho papão‖ do exame, que era oral, e estava sempre presente

na banca que era constituída por três professores. (PESSOA, 1995, p. 257)

―Em março de 1932, matriculei-me num curso para preparação do vestibular na

própria Escola de Engenharia, Curso anexo, tendo por professor e orientador o

famoso Dr. Luiz Ribeiro (conhecido como professor mais rigoroso e indesejado

pelos alunos do Ginásio Pernambucano, onde ele era também professor).‖

(PESSOA, 1995, p. 256).

Ao receber o título Honoris Causa pela Universidade Federal de Pernambuco, o

físico José Leite Lopes, ex-aluno da EEP, relembrou os tempos em que foi aluno do

professor Newton Maia no Curso Preparatório, quando teve as primeiras aulas com o

professor. Nessas aulas, Maia lecionava temas necessários ao ingresso na EEP: ―as bases da

matemática, da álgebra superior, os fundamentos da Geometria de Euclides e da

trigonometria‖. Em suas lembranças, Lopes recorda-se que o professor Newton

―transmitia‖ esses conteúdos com muita ―clareza, simplicidade e elegância‖ (LOPES, 1986,

p. 2). Foi neste Curso que Lopes teve o seu ―primeiro choque de experiência política‖.

―Pois em plena aula, na presença de seus alunos, [o professor Newton] recebeu a

visita – a intimação – de um agente da Polícia Política para levá-lo preso: era

1935, o ano do levante militar comandado por Luis Carlos Prestes, e as pessoas

que integraram a frente ampla da época, a Aliança Nacional Libertadora, eram

automaticamente marcadas como subversivas.‖ (LOPES, 1986, p. 2).

José Leite Lopes diz que essa experiência com Newton Maia, ―que era um liberal-

democrata‖, numa época em que ―muita gente foi presa‖ o deixou bastante chocado

―porque foi a primeira vez que [teve] a experiência de ver isso.‖ (LOPES, 1977, p. 3).

As turmas do Curso eram formadas de acordo com os conhecimentos dos alunos,

avaliados previamente pelos professores. Todos os alunos que pretendessem prestar os

exames preparatórios deveriam passar pelo Curso Anexo. Só seria desconsiderada esta

regra, caso o aluno provasse que estava preparado para realizar os exames. Isso ocorreu,

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por exemplo, com Antônio Mário Mafra, que era de Maceió e como conta Torres (2008),

quando chegou, em março de 1932, e foi procurar o professor e lente Newton da Silva Maia

no curso preparatório, a fim de tentar realizar os exames daquele ano, foi advertido pelo

professor de que deveria entrar para a turma que realizaria os exames no ano seguinte.

Mafra, no entanto, não concordou com o professor, uma vez que entendia ter os

conhecimentos necessários para realizar os exames para o ingresso no curso de Engenharia

naquele ano. Diante da relutância do aluno, que não mudava sua posição, Newton Maia

decidiu testar Mafra naquele exato momento. Entregou para ele um giz e foi fazendo

perguntas e mais perguntas que eram prontamente respondidas corretamente. Ao fim,

Newton Maia concordou que Mafra realizasse os exames, uma vez que demonstrou estar

preparado. Alguns dias depois, Mafra passou pelo processo seletivo com nota máxima, a

única até então na EEP. Segundo Torres (2008, p. 55), a decisão sobre Mafra foi acertada.

Ele se destacou na Escola, ―suas provas orais eram show e as pessoas iam assistir‖.

A história de Mafra nos acena para o poder e a influência de professores, como

Newton Maia, nas decisões da Escola de Engenharia. Aponta-nos, ainda, como este grupo

de professores que estamos estudando tomava decisões que ultrapassavam o limite da

competência de um professor. Todavia, devemos considerar que isto ocorria em um

momento em que EEP era uma Escola pequena e que tinha poucos formandos e poucos

cursos oferecidos. Sendo assim, o andamento da Escola poderia ficar sujeito a uma maior

influência de seus professores. Além disso, é valido lembrar que no fim século XIX e

começo do século XX, o professor detinha um maior poder dentro da sala de aula.

Nas fontes que trabalhamos, os engenheiros civis-professores da Escola de

Engenharia de Pernambuco, grande parte deles, são caracterizados como ríspidos e com

grande poder de decisão dentro do espaço de aula. Os alunos eram passivos, devendo

apenas aceitar o que o professor oferecesse sem questionamentos, repetindo e memorizando

o que era ensinado. Nesta época não cabia ao aluno o papel de questionador, afinal,

acreditava-se que o esforço repetitivo levaria a melhor aprendizagem. Isso significava que

não havia, por parte dos professores, a preocupação com aulas que mantivessem os alunos

entretidos ou que oferecessem dinâmica e interatividade, parte pelo perfil da época, parte

pela não exigência destas características em um bom profissional. Buscando fazer uma

analogia mais palpável desta realidade, a forma como as aulas eram dadas naquela época

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45

seria comparável a maneira como são dadas as palestras atualmente, pois os docentes

chegavam à sala de aula, cumprimentavam os alunos para, em seguida, passarem o

conteúdo programado para o dia, com poucas pausas até o fim da aula – estas, quando

ocorriam, eram ditadas em prol do professor e não buscando oferecer um descanso

cognitivo aos alunos.

Podemos perceber um vestígio sobre este estilo de aula na fala de Lima (1995, p.

67) quando se refere aos professores de maior destaque como figuras dominantes, e entre

eles destaca as ―aulas excelentes‖ de Luiz de Barros Freire, ―verdadeiras conferências‖.

Além disso, as aulas diziam respeito a estudos teóricos, nada ligados à prática:

―A formação dos engenheiros foi também representativa dessa mentalidade.

Durante muito tempo, seu principal objetivo era o de preencher os quadros

administrativos do Estado, e seu ensino se baseava nas matemáticas abstratas e

nas ciências físicas e não sobre a aplicação prática. Esta orientação é visível nos

programas escolares os quais, inspirados naqueles da Politécnica francesa não

conduziam à uma formação técnica ou às ciências aplicadas; ela está presente na

titulação conferida pela Escola de Engenharia do Rio de Janeiro: além do título de

engenheiro, a escola fornecia também aqueles de bacharel e de doutor em

matemática, química, etc; e ela também se manifestava pela ausência de

laboratórios e de ensino prático e experimental.‖ (ARAÚJO, 1998, p. 9).

Os engenheiros civis-professores da EEP ficaram conhecidos por suas aulas

teóricas, por seus estudos e pela valorização desta forma de lidar com a engenharia. Um

exemplo é o engenheiro Luiz de Barros Freire que, em 1953, fundou o Instituto de

Matemática e Física da atual UFPE, juntamente com outros três professores portugueses.

Outro exemplo, relatado por Baltar (1995, p. 43), retrata o professor catedrático João

Holmes Sobrinho que decidiu, em 1938, depois de mais de vinte anos ensinando ―mecânica

racional usando o método cartesiano‖, adotar o método vetorial. Segundo Baltar (1995, p.

43):

―Ele chegou, pegou o giz, separou um pequeno retângulo de uns 60 centímetros

com um metro mais ou menos de altura no canto do quadro e começou a

desenvolver o raciocínio cartesiano que ocupou todo esse quadro que era a parede

de todo o fundo da sala. Ocupou toda a parede lateral, ocupou toda a parede do

outro lado para, finalmente, chegar às fórmulas finais. Aí ele disse assim: ―Você

viu que belo raciocínio, baseado no método cartesiano? Agora, para vocês verem

o que significa economia de pensamento, a adoção do cálculo vetorial, nesse

retangulozinho aqui, eu vou resolver o mesmo problema vetorialmente‖.‖

(BALTAR, 1995, p. 43).

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46

O professor não tentou apenas passar um novo método de resolução de problemas,

mas buscou através da demonstração rigorosa do método antigo, mostrar como o método

novo se tornava mais eficiente. Não só neste exemplo abordado por Baltar, mas em vários

outros textos de vários autores, pudemos perceber essa preocupação com a parte teórica,

com o detalhamento da teoria, com o rigor e com as demonstrações.

O rigor pelo qual os professores são lembrados constituiu-se em um aspecto

marcante da EEP. Muitas histórias remetem à prática do medo que os docentes exerciam

sobre os alunos. Através da intimidação imposta por algumas técnicas como provas difíceis,

constrangimento e até para demonstrar a superioridade de conhecimento, pode-se afirmar

que ―era a cultura da época, na Escola de Engenharia‖ (TORRES, 2008, p. 155). A EEP

tinha a fama de ser uma escola rigorosa e essa característica não dizia respeito apenas ao

rigor de seu corpo docente, mas à organização geral da instituição. Os comentários sobre

essa rigidez extrapolavam as paredes da Escola. Segundo Torres (2008, p. 46),

particularmente quando Moraes Rego era o diretor, ―dizia-se na cidade, nas brincadeiras

dos boêmios e nas mesas de bar, que só existiam duas coisas sérias no Recife: o jogo do

bicho e a Escola de Engenharia‖.

Há diversas histórias sobre o estilo de aula que também destacam especificidades

dos professores da EEP. Os professores Luiz de Barros Freire e Newton da Silva Maia,

lembrados por suas ―brilhantes‖ aulas teóricas e pela rigorosidade com que conduziam

aulas e provas, tinham outras características diferenciadas, que também são mencionadas.

Luiz Freire é comumente recordado por suas decisões excêntricas, sua irreverência e pelo

incentivo aos bons alunos.

―A influência do Prof. Luiz Freire era de outra natureza. Ao lado de uma

profunda irreverência em relação àqueles que dominavam "os sábios da

província", ele estimulava os alunos que considerava talentosos a seguirem uma

carreira científica.‖35

Newton Maia é lembrado pela sua boa ―didática‖:

―Mas paralelamente ao Curso Anexo, matriculei-me no curso do prof. Newton

Maia, conhecido como um professor mais didático e mais eficiente. Prof. Newton

Maia também professor da Escola de Engenharia, mantinha um curso pré-

35

Disponível em: http://matematicauniversitaria.ime.usp.br/Conteudo/n16/n16_Entrevista.pdf Acesso em:

13/09/2013.

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47

vestibular particular de grande valia, efetivamente muito melhor do que o tal

Curso Anexo.‖ (PESSOA, 1995, p. 256).

No entanto, o rigor e a rispidez do professor Maia são destacados por Torres (2008,

p. 125): ―O Prof. Newton, com esse seu velho estilo ríspido, amedrontador, realmente inibia

os alunos que se atrevessem a perguntar ou tirar dúvidas‖. O rigor é tema presente e

contínuo. Enquanto diretor da EEP ―o professor e Diretor Newton Maia era como nos

velhos tempos, rígido, autoritário e que não se deve pedir nada, nem para aplicar bem o

dinheiro público, para ele, se não se usa na forma prevista, devolve." (TORRES, 2008, p.

63). Este dizer se refere a um acontecimento em 1964 no qual Newton Maia foi criticado

pelo professor Mário Antônio durante uma aula de Cálculo Infinitesimal II, por ter

devolvido a verba federal que restou para o Ministério da Educação, no lugar de ter

investido em outras áreas. Pode-se inferir que Newton Maia era uma pessoa que não

costumava mudar seus métodos e o modo como foram determinadas as suas ações.

Outro professor e diretor que também ficou conhecido pela rigidez de condução da

EEP foi Manoel Antonio de Moraes Rego. Grande parte das fontes investigadas sua figura

como um diretor que conduzia os caminhos da EEP através de linhas mais rígidas e tentava

sempre que possível trazer melhorias, mesmo que de forma conservadora. As histórias

contam que Moraes Rego não permitia de forma alguma a banalização da Escola e fazia

com que a sua fama fosse inerte ao meio corruptível que vivia o Recife. ―Os jornais da

cidade quando se referiam à Escola era sempre com grande respeito e admiração. Afinal,

nomes como de Moraes Rego e Heitor Maia36

, professores da EEP, eram celebridades na

cidade‖ (TORRES, 2008, p. 44). Esta linha que ele seguia para guiar a EEP fez com que ela

ficasse conhecida como ―a casa de Moraes Rego‖. (TORRES, 2008, p. 46).

Como professor, Moraes Rego é lembrado por seu conhecimento teórico bem como

pelo seu método de expor o conteúdo, sem que houvesse nenhuma interferência dos alunos.

Segundo Baltar (1995, p. 48), ―o velho Moraes Rego, por exemplo, tinha estudado muito,

sabia bem a matéria que ensinava. Agora não permitia interferência do aluno na aula dele,

de jeito nenhum‖. Baltar relata uma situação em que Moraes Rego teria se enganado em um

―cálculo algébrico tolo‖. Um aluno o alertou: ―Doutor Moraes, essa transformação aí não

36

Heitor da Silva Maia, pai de Newton da Silva Maia, foi professor e diretor da EEP, além de diretor do

Clube de Engenharia de Pernambuco em 1922.

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está certa não‖. Sem responder o questionamento do aluno, o professor Rego ―pôs o giz no

quadro, botou o chapéu na cabeça, pegou os livros dele e foi embora, sem dizer uma

palavra.‖ (BALTAR, 1995, p. 48).

Outra situação relembrada sobre Moraes Rego diz respeito ao período em que Paulo

Guedes inicia sua carreira como professor na Escola. Guedes (1995) afirma que sua

primeira passagem pela Escola de Engenharia foi em 1919 para ministrar o curso

complementar de Mecânica Aplicada e Resistência dos Materiais. Entretanto, essa

passagem foi muito rápida porque uma lei federal fez com que as cátedras fossem dadas

apenas pelos catedráticos. O retorno para a profissão de docente ocorreu, segundo Guedes

(1995, p. 242), em ―30/07/1931‖ recebendo ―do Dr. Moraes Rego, convite para dar o curso

complementar de Hidráulica‖. Durante este ―novo período de magistério‖, Guedes teve

―sobre os ombros, em várias fases Estabilidade, substituindo o professor contratado,

Construção, Arquitetura Higiene e Saneamento‖. Em março de 1934 torna-se catedrático,

devido aos ajustes que a Escola de Engenharia passaria para poder fazer parte da futura

Universidade do Recife, assumindo a cadeira de Física Industrial para o curso de Química

Industrial, através da indicação do professor Luiz de Barros Freire, e a cadeira facultativa

de Elementos de Eletrotécnica, que Guedes afirma ter aceitado ―para não perturbar a boa

marcha, que orientava a Escola‖ (1995, p. 243), referindo-se a criação da Universidade em

Pernambuco e ao enquadramento da Escola de Engenharia nesta. A cadeira de Elementos

de Eletrotécnica foi fechada em 1947.

Guedes ainda seria responsável pela cátedra de Construção Civil, que foi passada

por Heitor Maia, pois Heitor acreditava ser impossível assumir a cátedra ―por estar

ocupando cargo público‖. (GUEDES, 1995, p. 243) Além desta cadeira, Heitor Maia

passou para Paulo Guedes a responsabilidade sobre a diretoria da EEP em novembro de

1934 e, após o falecimento de Heitor Maia em 1942, coube a Guedes assumir a cadeira de

Higiene.

―o então Diretor, Dr. Moraes Rego, providenciando o preenchimento da vaga,

disse-me textualmente: Cabe a você assumir a Cadeira, uma vez que a vinha

regendo desde antes da sua criação e, em todos os impedimentos do catedrático, e

a seu próprio convite. Faça–me um ofício, dizendo os trabalhos prestados e peça

a transferência para a cadeira, que eu a encaminharei.‖ (GUEDES, 1995, p. 244).

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49

Nessas histórias que trazem algumas informações sobre a relação entre professores e

disciplinas, encontramos indícios não apenas com relação ao modo como os professores

trabalhavam, mas também sobre as disciplinas que lecionavam. Em uma entrevista, José

Leite Lopes (1977, p. 2) conta que no primeiro ano do curso de engenharia teve ―os

primeiros ensinamentos de Cálculo Diferencial e Integral‖ nas aulas de Newton Maia, e que

as ―aulas magistrais‖ de Física foram ministradas pelo professor Luiz Freire, que tinha

livros que eram disponibilizados aos alunos em sua biblioteca.

O professor Luís Ribeiro, que era professor de Matemática no Ginásio Pernambuco,

―era sempre enaltecido quando os alunos passavam por sua disciplina. Os sentimentos dos

alunos eram de temor antes de passar e de alívio e rejúbilo, depois.‖ (TORERS, 2008, p.

55). Jônio Pereira Lemos comenta sobre Luís Ribeiro no Ginásio Pernambucano como uma

―figura estranha e rigorosa‖ que ―dizimou turmas inteiras, mas que para alguns foi o

introdutor do estudo de matemática.‖ (LEMOS, 1995, p. 158). Essa contradição aparente,

se analisarmos de acordo com o período em questão, era frequente entre os professores da

época e pode-se notar que não há oposição entre as ações.

Ainda se tratando do Ensino de Matemática na EEP, tem-se Joaquim Cardozo como

lente da cadeira de Cálculo Infinitesimal e Geometria Analítica:

―Na cadeira inicial da Escola de Engenharia, Cálculo Infinitesimal, tive a sorte,

no primeiro ano em que estudei, de ter como professor Joaquim Cardozo, uma

das figuras mais notáveis do ensino de engenharia em Pernambuco. Cardozo foi

meu professor de cálculo infinitesimal e depois também de geometria analítica

durante todo o primeiro ano.‖ (BALTAR, 1995, p. 42).

A cadeira de Cálculo Infinitesimal, dirigida por Newton da Silva Maia, segundo

Pontual, ―em trinta e seis aulas, foi da Teoria do Corte de Dedekind até à solução de todos

os tipos de equações integrais e de equações diferenciais de qualquer ordem.‖ (PONTUAL,

1995, p. 91).

Outro lente com destaque, João Holmes Sobrinho, era considerado um professor de

muita segurança com relação aos conteúdos por ele trabalhados. Foi professor das cadeiras

de Mecânica Racional e Astronomia. Em Mecânica Racional utilizava o mesmo método da

Escola Politécnica de Paris.

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―Aliás, no curso de Engenharia, além de Luís Freire e Newton Maia, havia um

professor de grande reputação, chamava-se João Holmes Sobrinho, que era o

professor de Mecânica Racional. O título da cadeira era de influência, herança

francesa: Mécanique Rationale‖. (LOPES, 1977, p. 6).

Já Astronomia, lecionada por João Holmes Sobrinho, era dividida em três partes

(astronomia, topografia e geodésia) sendo este curso, segundo Romildo C. Pessoa,

trabalhado com aulas práticas e ―precedido por um intensivo curso de trigonometria

esférica e teorias dos instrumentos‖. Este curso de trigonometria esférica ―era engolido a

pulso pelos estudantes, pelo fato de ser constituído de uma teoria complicada e cheia de

fórmulas imensas e demonstrações intermináveis‖. (PESSOA, 1995, p. 258) O autor ainda

diz que o conteúdo aprendido na parte de trigonometria esférica não era mais utilizado após

a realização da disciplina e que ele guardou suas anotações de aula caso viesse a precisar, o

que só ocorreu muitos anos mais tarde quando, para ajudar seus alunos em navegação,

Pessoa ministrou um curso sobre trigonometria esférica.

João Holmes Sobrinho criou no telhado da EEP um observatório para suas aulas

práticas de Astronomia, mas com o passar do tempo a disciplina foi sendo considerada

―ultrapassada‖ até culminar em seu fechamento. Holmes era conhecido por não interagir

muito, era um professor que entrava na sala de aula passava o conteúdo e saia, sem trocar

nenhuma palavra com os alunos. Holmes ficou conhecido, assim como parte dos

professores da Escola, por sua linha rígida e que cobrava de seus alunos um alto nível de

conhecimentos acerca dos conteúdos dados em aula. Um professor intransigente na hora da

avaliação e que para aprovar um aluno, este realmente deveria ter o conhecimento

necessário. Baltar conta que poucos ―em toda a história da Escola‖ se candidataram e

passaram ao fazer o exame final na primeira vez que cursavam a cadeira de Mecânica

Racional. (1995, p. 43)

ENTRE DOUTORES E BACHARÉIS

Os tipos de diplomas concedidos pela Escola no período inicial da EEP, os ―grãos‖,

de acordo com os Regulamentos, são também parte do funcionamento da Escola. Tendo

como série documental central os Regulamentos de 1898 e de 1901, e os Estatutos de 1905,

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é possível encontrar, detalhadamente, o que era necessário para obter os diplomas de

Doutor e de Bacharel pela EEP.

Nesse período a Escola ainda formava engenheiros geógrafos e, para tanto, o aluno

precisava concluir apenas os três primeiros anos do curso de engenharia civil, ou seja, ao

fim dos cinco anos de curso o formando estaria de posse de dois diplomas. Já para obtenção

do título de bacharel, o aluno teria que ter concluído o curso de engenharia civil com

―aprovações plenas ou distintas em todas as cadeiras, aulas e exercícios praticos‖

(Regulamento de 1901, p. 30).

O processo para obtenção do título de doutor era mais complexo. Apenas pessoas

com o título de bacharel em ciências físicas e matemáticas poderiam tentar defender uma

tese e assim alcançar o título de doutor. Para isso, de acordo com o Regulamento de 1901,

era necessário entrar com um requerimento, anexar o comprovante do grau de bacharel e

solicitar ao Diretor da Escola a inscrição para a defesa da tese. Os temas das teses eram

definidos entre um leque de dez questões escolhidas pelos lentes da EEP no início de cada

ano letivo, estas questões eram aprovadas nas seções da Congregação e depois ficavam na

secretaria à disposição dos candidatos. Caso o requerimento fosse aprovado, o Diretor

convocava a Congregação para definir a data da defesa e a comissão avaliadora, que era

composta por três lentes da Escola. Já a tese deveria, dentre os temas escolhidos pelo

bacharel, conter ―tres proposiçoes, pelo menos, sobre cada uma das sciencias do gráo‖

(Regulamento de 1901, p. 31). A comissão tinha o prazo de três dias para avaliar se a tese

estava apta e se, dessa forma, o candidato poderia participar da defesa. Após ter a tese

aprovada, o bacharel deveria enviar à secretaria da Escola 120 cópias em, no máximo, 20

dias. ―O frontespio das theses deve conter simplesmente o seu objeto e fim e o nome do

autor‖ (p. 31). Assim que a secretaria recebesse as cópias, o Diretor teria de ser avisado

para, em conjunto com a Congregação, em seção pública, estabelecer a comissão

examinadora da defesa, que era composta por cinco lentes.

Com relação ao dia da defesa, o doutorando deveria apresentar:

―uma dissertação sobre assumpto importante, a sua escolha, de qualquer das

sciencias de gráo. A dissertação sera lida pelo doutorando, na primeira hora e

entregue logo ao presidente do acto. Sobre ella arguil-o-há, si quiser, o lente mais

antigo. Sera tambem impressa à custa do doutorando, si fòr aprovado, e

distribuída pelos lentes do dia da colação do gráo‖. (Regulamento de 1901, p. 34-

35).

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A defesa da tese era marcada exatamente oito dias após a escolha da banca

examinadora, ou em caso de feriado no dia seguinte. Ainda consta no Regulamento de 1901

toda a descrição de como a sala deveria estar no dia da defesa, com detalhes que vão desde

a posição dos lentes e professores, que considerava a hierarquia escolar começando pelo

diretor, professores mais antigos até os mais novos, além de informações sobre os

procedimentos, tais como o de que o doutorando deveria sair da sala na hora em que a

banca analisaria o trabalho. Os resultados possíveis eram: aprovado com distinção,

aprovado plenamente, aprovado simplesmente ou reprovado. Em caso de reprova da tese, o

doutorando só poderia participar de nova defesa dois anos depois. Quando aprovada, ficava

a cargo do Diretor enviar ao Governador quatro cópias da tese e a cargo do doutorando

entregar oitenta cópias na secretaria da EEP. Os doutorandos que não fossem aprovados

poderiam alterar este resultado defendendo novas teses e ficando com o novo julgamento.

Entre 1905 e 1914, a Escola de Engenharia também formou engenheiros

agrônomos, além de engenheiros geógrafos e civis, bacharéis em ciências físicas e

matemáticas, bacharéis em ciências físicas e naturais e, por fim, doutores. Consta nos

Estatutos de 1905 da Escola que para se formar engenheiro geógrafo deveria o aluno ter

concluído três anos de qualquer dos dois cursos da EEP. Para formar-se bacharel era

necessário ter sido aprovado plenamente ou com distinção em todas as cadeiras, aulas e

exercícios práticos, e o formando que assim terminasse o curso de engenharia civil obteria

o diploma de bacharel em ciências físicas e matemáticas. O engenheiro agrônomo poderia

ter o título de bacharel em ciências físicas e naturais. Assim como previa o Regulamento de

1901, o processo para um bacharel tornar-se doutor era o mesmo. Transcrevemos o modelo

dos diplomas de Bacharel e Doutor da EEP, presente nos Estatutos da Escola Livre de

Engenharia de Pernambuco de 1905:

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55

CAPÍTULO 3 – LUIZ DE BARROS FREIRE: REFLEXÕES SOBRE CIÊNCIA

FIGURA 10. LUIZ DE BARROS FREIRE37

O engenheiro-professor Luiz de Barros Freire não é reconhecido por ter realizado

algum experimento inédito ou escrito uma teoria própria. Nesse sentido, ele não é incluído

na categoria dos cientistas brasileiros. O seu grande reconhecimento é por ter sido um

―pioneiro da ciência no Brasil‖38

e um ―semeador de vocações científicas‖39

. Realmente,

Luiz Freire foi um grande estudioso e divulgador de estudos científicos desenvolvidos em

seu tempo, em especial, os de matemática e física. Além da divulgação direta aos seus

alunos, tanto nas aulas como em conversas e reuniões em sua residência, Freire

disponibilizava seus livros e periódicos para alunos e outros interessados, publicava artigos 37

Disponível em:

https://www.ufpe.br/dmat/index.php?option=com_content&view=article&id=321%3Alfreire&catid=1&Itemi

d=249 Acesso em 15/09/2012. 38

Este é o título do artigo de Albuquerque, Ivone Freire Mota de; Hamburger, Amélia Império. ―Retratos de

Luiz de Barros Freire como Pioneiro da Ciência no Brasil‖. Ciência e Cultura 40, 857 (1988). 39

Este é o subtítulo do artigo de Antonio Augusto Passos Videira e Cássio Leite Vieira, publicado na Revista

Brasileira de Ensino de Física, v. 35, n. 2, 2602 (2013). O título do artigo é ―Luiz Freire: Semeador de

vocações científicas‖.

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e proferia conferências, nas quais discutia autores e teorias filosóficas, matemáticas e

físicas atuais; aspectos históricos da matemática e de personagens envolvidos com a

matemática, na maior parte das vezes brasileiros; e questões relacionadas ao ensino. Além

disso, Freire escreveu duas teses para concursos de escolas em Recife, a primeira para

concorrer a uma vaga de professor de Geometria na Escola Normal Oficial de Pernambuco

e a outra para o concurso de professor do Curso de Engenharia Civil da Escola de

Engenharia de Pernambuco.

O interesse de Luiz Freire por textos científicos e filosóficos, segundo alguns

autores, começou ainda na adolescência. Vivendo em Recife, onde foi criado o primeiro

grupo de positivistas brasileiros, conhecido pelo nome de Grupo de Recife, Freire tomou

contato com as discussões que estavam acontecendo e concordava com a postura positivista

até meados de seu curso de Engenharia, realizado na Escola de Engenharia de Pernambuco,

de 1914 e 1918, onde teve diversos professores positivistas. O seu afastamento da doutrina

positivista, dentre outras razões, estaria vinculado à ―sua participação na "Escola de

Alexandria", um grupo que se reunia na casa de Waldemar Carneiro Monteiro para

discussões filosóficas, desde 1916‖. No grupo, que contava com a participação de José

Cordeiro, Aurino Duarte e outros, os jovens estudantes de engenharia discutiam ―Kant,

Bergson, Poincaré, Whitehead, Russel‖. As discussões neste grupo, bem como o interesse

―pela lógica matemática e pelas novas matemáticas do fim do século XIX – Gauss,

Riemann, Abel, Jacobi, Cauchy, etc. que Comte ignorava‖, levaram Freire a trilhar novos

caminhos e a se afastar definitivamente dos princípios positivistas. (ALBUQUERQUE;

HAMBURGER, 1988, p. 11-12).

No ano seguinte à conclusão de seu curso de Engenharia Civil na Escola de

Engenharia de Pernambuco, em 1919, Freire presta um concurso para a disciplina

Geometria da Escola Normal Oficial de Pernambuco. Uma das exigências do concurso era

a apresentação de uma tese sobre a Geometria e sua metodologia. No entanto, o título deste

seu primeiro texto público é Da Sciencia Mathematica, Sua Methodologia. Em uma página

que antecede o texto, Freire já manifesta a postura polêmica que irá manter em textos

futuros. Antes de iniciar, apresenta uma ―Advertência‖ para justificar a não obediência ao

que foi solicitado.

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57

―Em vista da inter-dependencia reinante nos differentes ramos da sciencia

mathematica, julguei não dever falar somente a respeito da geometria e sua

methodologia, razão pela qual segui o criterio aqui exposto, como aquelle

naturalmente indicado.‖ (FREIRE, 1919, p. 7).

DA SCIENCIA MATEHMATICA, SUA METHODOLOGIA

FIGURA 11. CAPA DA TESE “DA SCIENCIA MATHEMATICA SUA METHODOLOGIA”40

Freire defende que a matemática está presente em tudo e que através dela podemos

alcançar um estágio de evolução maior e melhor, e ainda ―conquistas infinitas, uteis e belas,

e à qual, em muito grande parte, deve a humanidade o bem estar que ora lhe é

proporcionado‖ (FREIRE, 1919, p. 20). Para Luiz de Barros Freire, a Matemática não

40

Arquivo pessoal. Fotografia tirada do exemplar que se encontra na Biblioteca Pública do Estado de

Pernambuco em 12/02/2013.

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estaria apenas presente na origem de tudo, ela é também a parte vital e mais importante da

evolução da humanidade.

Freire cria ao longo da sua escrita um texto que segue um formato que começa da

informação geral seguida pelo detalhamento de alguma particularidade dentro dessa

informação, e isto ocorre sucessivamente até que, por fim, ele traz um exemplo sobre o que

explicou.

―Comprehende-se por quantidade tudo aquilo que poderia ser maior ou menor do

que é: um objeto material qualquer, fazendo-se abstracção de sua natureza

physica, apresenta-se a nossos olhos como um agregado de paries, isto é, como

um todo susceptível de ser augmentado e diminuído.‖ (FREIRE, 1919, p. 7)

Apresentada em 69 páginas, a sua tese está dividida em três capítulos: ―Da

Mathematica‖, ―Methodologia Mathematica‖ e ―Sob o ponto de vista do ensino‖. Esses

capítulos têm respectivamente, 53, 12 e 4 páginas. A quantidade de páginas já nos aponta a

priorização de Freire na apresentação de seu trabalho, em que o ensino merece apenas

alguns comentários.

O primeiro capítulo, ―Da Mathematica‖, com muitos subtítulos, é iniciado por uma

definição: ―consideradas em seu conjunto ou como constituindo uma só ciência, podem as

matemáticas ser definidas como a ciência das quantidades‖ (FREIRE, 1919, p. 7). Freire

pretende ser muito ―preciso‖ em suas considerações e definições. Explica que a quantidade

―é tudo aquilo que poderia ser maior ou menor do que é‖. E, complementa, explicando que

um objeto material qualquer, quando fazemos a abstração de sua parte física, ―apresenta-se

aos nossos olhos como um agregado de partes, como um todo suscetível de ser aumentado

ou diminuído‖ (FREIRE, 1919, p. 7). Ou seja, todos os objetos do mundo físico são

quantidades. O espaço e o tempo também são quantidades e são ―as puras intuições do

espaço e tempo que serve de base a todas aquelas que temos dos objetos‖ (FREIRE, 1919,

p. 7). Essas considerações são retiradas dos trabalhos de Josef Maria Hoëné-Wronski41

, que

definiu as matemáticas como ―as ciências do tempo e do espaço.‖ (FREIRE, 1919, p. 8).

41

Josef Maria Hoëné-Wronski (1776 – 1853), filósofo e matemático, ficou conhecido por seus estudos

matemáticos na área de equações diferenciais e linearidade de funções, através do cálculo de determinantes de

matrizes, conhecidos como Wronskiano. Disponível em: http://www-history.mcs.st-

and.ac.uk/Biographies/Wronski.html Acesso em: 28/02/2014.

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Em vários momentos, Freire parece se aproximar de ideias positivistas, embora não

declare explicitamente sua posição. Na verdade, segundo estudos de Albuquerque e

Hamburger, Freire se distanciou do positivismo ainda no terceiro ano de seu curso de

engenharia, que tinha muitos professores positivistas, como ocorria com outras escolas de

engenharia brasileiras. É possível, como sugeriu a professora Virgínia Cardia de Cardoso,

no exame de qualificação desta dissertação, que ele estivesse usando um discurso menos

radical, uma vez que estava concorrendo a um concurso em que, provavelmente, alguns

examinadores fossem positivistas.

Para ele ―as ciências matemáticas têm sempre formado a base dos conhecimentos

positivos da humanidade‖ (FREIRE, 1919, p. 8). As matemáticas forneceriam as bases para

qualquer outra ciência e/ou arte. Ele exemplifica casos de diferentes ciências que se

utilizam da matemática para resolver seus problemas. A Química, por exemplo, já havia

ultrapassado o método pré-matemático, ―pelo qual principiam todas as ciências.‖ (FREIRE,

1919, p. 10). Outras áreas, tais como as Ciências Médicas e as Políticas, a Economia

Política, também são exemplificadas para mostrar a importância da Matemática para o

estabelecimento de leis nestas áreas. Para isso, Freire apresenta nomes de cientistas de

diferentes áreas que chegaram a resultados importantes: leis, equações, funções e teorias

matemáticas são mencionadas. ―Na própria Linguística‖, fazendo uma projeção, Freire

afirma que chegará um dia em que as matemáticas se tornarão ―úteis e muito necessárias‖.

(FREIRE, 1919, p. 12). Para finalizar, afirma que:

―Todo saber real, toda ciência positiva, toda arte, se não se baseiam inteiramente

ou em parte sobre os conhecimentos matemáticos, ligam-se a esses

conhecimentos ou pelo menos calculam sobre o seu método. Assim já o indicava

a posição por ela ocupada na escala enciclopédica de Comte, em que, com um

simples golpe de vista se descobre que ela constitui a base espontânea de todas as

ciências.‖ (FREIRE, 1919, p. 13).

Ao finalizar a sua introdução, em que destaca a importância da Matemática, que não

exige o conhecimento de qualquer outra ciência e ―é o guia real que nos inicia no estudo do

mundo, base fundamental do estudo do homem‖, manifesta seu descontentamento pelo fato

de existir poucos ―cursos sistemáticos dessa ciência.‖ (FREIRE, 1919, p. 14).

Em seguida, Freire apresenta um esboço histórico, intitulado ―Sucessivos progressos

das ciências matemáticas e seu estado atual‖. A palavra progresso, novamente, nos remete

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ao positivismo, cujo lema era: O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por

meta. O texto é denso, muito informativo, com poucos comentários e observações. Parece

querer mostrar seu conhecimento e sua erudição. O texto é separado em quatro períodos. O

primeiro período é aquele em que as verdades matemáticas eram percebidas apenas ―in

concreto‖, ou seja, era o período em que os casos particulares eram verificados

concretamente. No segundo período, que vai de Tales até a Escola de Alexandria, a

matemática começa a ter abstrações de casos particulares. O terceiro período é o de

―Cardano, Bombelli, Fermat e Descartes até Kepler, Cavalleri e Wallis‖. Neste período,

segundo Freire, ocorre o surgimento de ―leis gerais, isto é, o surgimento da Álgebra‖, O

quarto período seria o ―dos matemáticos modernos‖, iniciado com Leibniz e Newton e a

criação do Cálculo Diferencial e Integral. (FREIRE, 1919, p. 15).

Apesar dos grandes avanços causados pelos trabalhos que foram gerados a partir do

Cálculo Diferencial e Integral, segundo Freire, ainda faltava ―um princípio universal‖

(FREIRE, 1919, p. 17). Foi nesse período, em 1811, que guiado por Wronski e seus

estudos, havia alcançado o estágio de Ciência única e deixado sua característica plural de

―As Matemáticas‖. Isto por conta da resolução do Problema Universal das Matemáticas

que, segundo o autor, seria ―a expressão que apresenta a forma universal de todas as

equações possíveis, a qual resolvida, nos fornece a solução do problema Universal das

Matemáticas‖, que por sua vez seria uma questão que resumiria todas as outras questões

que pudessem ―as Matemáticas apresentarem‖. (FREIRE, 1919, p. 19)

A conclusão de Wronski de que ―todas as questões das matemáticas se reduzem a

equações‖, segundo Freire, teria conduzido a matemática ―ao estado de ciência definitiva‖.

Concordando com Condorcet e Comte, ao afirmar que ―não há ciências matemáticas; todas

se entresubsidiam, completam-se e ás vezes se confundem‖, Freire conclui o seu texto

dizendo que o que há é ―uma vasta ciência, a Matemática‖ (FREIRE, 1919, p. 20). É

interessante observar que após fazer esta afirmação, Freire introduz em seu trabalho um

novo item, denominado ―Ramificações das Ciências Matemáticas‖. Uma só Ciência, a

Matemática? Ou várias Ciências Matemáticas? Naquele período estas questões não apenas

estavam sendo discutidas, como o autor parece ainda não ter se posicionado totalmente com

relação a elas. Muitos resultados novos surgiram, que colocam em discussão as fronteiras

entre as disciplinas matemáticas.

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No texto ―Ramificações das Ciências Matemáticas‖, Freire trabalha com a ciência

dos números, Algoritmia; com a ciência das extensões, Geometria; com a ciência do

movimento, Phoronomia; com a Aritmética, ―modos de agir dos números‖; com a Álgebra,

que estuda as ―leis dos números‖. A Álgebra, por sua vez, é dividida em teoria e técnica.

Ao finalizar esta parte, Freire discute as questões de Aritmética, que tem tido vários

resultados enunciados, mas não demonstrados. Menciona, como exemplo, o Teorema de

Goldenbach – todo número par é a soma de dois números primos42

, que não havia sido

demonstrado até aquele momento, o que ocorria com outros resultados da matemática.

Provavelmente, Freire ficaria muito assustado ao saber que o Teorema de Goldenbach,

agora denominado Conjectura de Goldenbach, não foi até hoje demonstrado43

. Para Freire

as dificuldades encontradas nas questões de Aritmética estavam relacionadas à falta de

métodos adequados. A noção de congruência módulo n, para Freire, seria ―um manancial‖

na resolução das questões dessa área.

Ao encerrar a discussão sobre a Teoria dos Números, Freire presta uma homenagem

a Eduardo Lucas, o matemático francês François Édouard Anatole Lucas44

, que como

―Galois, Hertz e Abel‖ morreu ainda jovem e foi ―ignorado‖ no seu tempo (FREIRE, 1919,

p. 25). Para homenagear o autor, Freire transcreve uma parte da apresentação do livro

Théorie des nombres, Gauthier-Villars et fils, Paris 1891.

No texto sobre Geometria, afirma que ela é considerada ―a ciência da extensão‖ e

não a ―medida da terra‖ como era nos primórdios, e que o objetivo geral dela é estudar ―o

espaço particular ocupado por um objeto físico no espaço absoluto e sem limites que em

torno de nós se estende em todos os sentidos.‖ (FREIRE, 1919, p. 27). Embora não

mencione nenhum autor, em sua concepção de espaço Freire manifesta aproximação com

concepções defendidas por Descartes, Isaac Newton e Kant, em particular, a de ser o

espaço absoluto, ―no sentido de que não precisa de mais nada para existir‖. Nessa

concepção,

42

Por exemplo: 4 = 2+2, 8 = 3+5. 43

Alguns resultados parciais da Conjectura já foram provados. 44

Além de resultados teóricos de aritmética, provavelmente, ligado a eles, Lucas escreve o livro Recreations

Mathématiques, Gautier Villare, Paris, 1882, e cria o jogo matemático Torre de Hanoi.

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―o espaço é uma espécie de ‗caixote infinito‘, ocupado pelos objetos físicos. Mais

precisamente: ele é um meio imutável e sem fronteiras, no qual estão contidas

todas as coisas; como escreveu Newton nos Principia, ‗o espaço absoluto, em sua

própria natureza, sem relação com qualquer coisa externa, permanece sempre

idêntico e inalterável‘.‖ (COSTA, 2002)

Dedicando vinte e seis páginas à Geometria, Freire aborda rapidamente aspectos de

diferentes geometrias. Seu primeiro item, de apenas uma página, tem o título ―A geometria

dos antigos‖. É interessante observar que o autor não menciona nenhum geômetra antigo,

nem Euclides de Alexandria. Com o título ―A geometria moderna‖, o texto apresenta

rapidamente o Teorema de Chasles, da relação harmônica entre quatro pontos, que segundo

o autor seria a gênese da Geometria Moderna. O tema seguinte é Transformações

Geométricas45

, o autor considera que casos particulares existiam desde a antiguidade. A

Geometria Projetiva seria um primeiro exemplo. Em seguida, talvez por uma decisão

cronológica, Freire apresenta uma área que foi importante no final do século XIX,

denominada a Geometria do Triângulo. Mencionando o autor M. Davis, que não

conseguimos identificar, afirma que esta era a área que apresentava o maior progresso nas

matemáticas elementares dos últimos tempos.

Para Freire, a Geometria é considerada ―a parte da ciência matemática que tem por

objeto o estudo das propriedades das figuras, e por fim especial a medida de sua extensão.‖

(FREIRE, 1919, p. 31). Para gerar uma extensão, pode-se utilizar linhas retas ou curvas.

Outra forma para gerar uma extensão, que seria uma ―transição da linha reta à linha curva‖

é o ângulo: ―a abertura sobre o espaço indefinido‖. (FREIRE, 1919, p. 37). O ângulo é

considerado análogo ao algoritmo da reprodução46

, provavelmente uma referência aos

algoritmos genéticos que começam a ser realizados a partir da teoria da evolução de

Darwin, momento em que a computação também estava nascendo. Em sua classificação das

Geometrias, aparecem: a Geometria dos Indivisíveis, ligada aos trabalhos de Cavalleri; a

Geometria Centrobárica, que se relaciona ao trabalho de Poisson; a Geometria das

Transversais ou de posição de Carnot; Geometrias Euclidiana e Não Euclidianas.

45

―Definimos uma transformação geométrica como sendo uma correspondência, um a um, entre pontos de um

mesmo plano ou de planos diferentes. Algumas transformações recebem nomes especiais por apresentarem

algumas características específicas‖. Disponível em:

http://penta.ufrgs.br/edu/telelab/mundo_mat/malice1/transf.htm. Acessado em: 15/03/2015. 46

Algoritmo genético.

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Em suas reflexões sobre as Geometrias Euclidiana e não Euclidianas, Freire

manifesta certa estranheza com relação às últimas. Apesar da manifestação de

estranhamento do autor em relação as Geometrias não Euclidianas, ele discute tentativas de

substituição do quinto postulado, bem como do surgimento de discussões teóricas acerca

das geometrias não euclidianas.

Para ele, a Geometria Euclidiana foi sendo construída durante séculos, tem

resolvido os problemas, é cômoda e simples. É o mesmo que ocorre com o Espaço e o Éter,

uma referência às questões que estavam começando a ocorrer sobre a Teoria da

Relatividade. Aqui ele manifesta que ainda não assumiu a postura relativista e que defende

o positivismo de Comte. Para ele, assim como a Geometria Euclidiana, a teoria do Éter

―achando-se em sua juventude, para nós não se reveste do mesmo grau de comodidade e de

simplicidade, razão pela qual sentimos ainda tanta dificuldade de pensar em éter segundo

a própria expressão de Langevin‖. Conclui que o tempo ajudará à familiarização das novas

teorias, afinal ―não são senão reflexos da grande lei universal do hábito estabelecida por

Augusto Comte, o grande pensador.‖ (FREIRE, 1919, p. 42, grifos do autor).

É interessante observar que Freire não coloca como um tema específico a Geometria

Analítica, nem comenta sobre Pierre de Fermat (1601-1665) e René Descartes (1596-1650).

Provavelmente, isto tenha ocorrido porque Freire já começava a ter uma ―tendência para o

realismo newtoniano, em oposição ao racionalismo idealista cartesiano‖

(ALBUQUERQUE; HAMBURGER, 1996, p. 212), que se manifestaria explicitamente em

escritos posteriores. Em uma parte posterior de seu texto, Freire comenta a contribuição de

Riemann, Helmhontz e Sophus Lie na consideração do espaço sob um ponto de vista

analítico, define ―o ponto por um sistema de três números chamados coordenadas do ponto‖

e conclui afirmando que ―a noção de plano e de reta já não é estabelecida, partindo-se do

ponto como elemento.‖ (FREIRE, 1919, p. 44).

O segundo capítulo da Tese, intitulado ―Methodologia Mathematica‖, é iniciado

com a seguinte afirmação: ―As verdades existem por si próprias; o método e o raciocínio

não são senão os meios que os homens empregam para reconhece-las‖ (FREIRE, 1919, p.

54). Os métodos empregados para provar as verdades são a análise e a síntese. Embora

Freire pareça estar se aproximando de Descartes, após discutir aspectos gerais da análise e

da síntese, retoma ao método positivo de Comte ―induzir para deduzir afim de construir‖.

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(FREIRE, 1919, p. 57). Em seguida, comenta sobre recursos, que denomina métodos,

específicos para serem usados para resolver situações particulares: lugares geométricos,

utilizado por Platão e outros usos de figuras geométricas em demonstrações de geometria; o

Método de Poncelet de transformação de figuras; o Método da Translação de Ivan

Alexandroff; o Método do Problema Contrário, método por extensão, que consiste em

provar um caso particular para depois ampliar a prova para outros mais gerais; Método

Algébrico, para provar afirmações geométricas.

Ao encerrar seu capítulo sobre metodologia da matemática, Freire faz um alerta:

―Os métodos particulares que acabam de ser expostos e que são os principais empregados

em Geometria, não tem senão um valor relativo; o grande segredo está em saber emprega-

los de acordo com a natureza da questão que se quer resolver‖. (FREIRE, 1919, p. 57).

No último capítulo, ―Sob o ponto de vista do ensino‖, em apenas quatro páginas,

Freire defende o uso do Método Experimental. Iniciando o seu texto com uma

caracterização de como ocorre o ensino de matemática, que prioriza o Método Mnemônico,

Freire utiliza o livro de Psicologia47

do autor francês Gustavo Le Bon48

, que defende que

―toda educação consiste na arte de fazer intervir o consciente no inconsciente‖ (FREIRE,

1919, p. 67). O método que seria adequado, segundo Freire, é o experimental, que estava

sendo utilizado nos países anglo-saxões e estava dando bons resultados. Por isso, defende o

uso do concreto, como Laisant49

. Defende o uso do método gráfico e da não introdução,

inicialmente, do método dos geômetras gregos, que é ―fatigante e antirracional‖. O autor

encerra o seu texto com a seguinte frase em negrito: ―aprender é compreender e saber é

poder demonstrar‖. (FREIRE, 1919, p. 69).

O autor Le Bon também foi utilizado por outro candidato ao mesmo concurso,

Antonio de Menezes, formado pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Esse autor, Le

Bon, nos chamou a atenção pelo fato de nunca ter sido citado em trabalhos de História da

Educação Matemática que tivemos acesso. Ao procurar informações sobre ele, descobrimos

47

Trata-se do livro La Psychologie de l‘éducation (1910). O autor é Gustave Le Bon. 48

Gustave Le Bon (1841—1931) psicólogo francês. Foi o autor de várias obras com teor racial, nacional e de

psicologia de massas. Ficou primeiramente famoso pelo livro "Psychologie des foules" (1895). Disponível

em: http://www.gustave-le-bon.com/ Acesso em: 15/04/2015. 49

Trata-se do matemático Charles-Ange Laisant (1841–1920), que foi um dos fundadores da Revista

"L'Enseignement Mathématique", em 1899, e teve grande participação no denominado Primeiro Movimento

Internacional do Ensino de Matemática, ocorrido no início do século XX. Disponível em:

https://cienciaeanarquismo.milharal.org/files/2014/01/Rodrigo-Rosa.pdf. Acesso em 15/04/2015.

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que se trata de um estudioso da psicologia social, autônomo, e que suas obras tiveram um

―estrondoso sucesso (...) ao longo do período que vai do início de sua produção intelectual,

nos anos 1870, até sua morte, em 1931‖, tendo sido traduzidas para mais de ―dezesseis

línguas‖. (CONSOLIM, 2008, p. 1).

Le Bon defendia que ―os fatores biológicos e psicológicos de uma raça são

hereditários‖. Além disso, considerava a existência de grupos diferenciados: os inferiores e

os superiores. Como eram hereditários, os fatores biológicos e psicológicos limitavam ―a

evolução dos grupos sociais inferiores (...), tais como mulheres, crianças e classes

populares‖. Suas posições, contrárias às defendidas por republicanos, ―lhe rendeu vários

inimigos no campo do poder e no campo intelectual‖ (CONSOLIM, 2008, p. 4). Suas teses

davam ―força às correntes e movimentos nacionalistas e xenófobos‖, conhecidos como

―darwinista social‖. (CONSOLIM, 2008, p. 10). Em sua "Psicologia das Multidões‖, Le

Bon considerava que ―a instrução não tornaria os homens mais felizes ou morais‖, uma vez

que alteraria ―seus instintos ou paixões hereditárias‖ e que poderia ―até mesmo produzir o

aumento da criminalidade e instigar o conflito social‖. (CONSOLIM, 2008, p. 14).

Le Bon realizou suas experiências e escreveu seus livros sem ligação com a

Academia. Teve seu prestígio fundado ―no discurso da ‗vivência‘ e da ‗experiência‘, por

oposição tanto ao conhecimento especializado quanto à formação clássica dos manuais

escolares‖. Na Educação, defendia ―pedagogias mais pragmáticas e escolas privadas com

vocação profissionalizante‖. (CONSOLIM, 2008, p. 12).

Estudiosos das obras de Le Bon não concordam com relação às suas convicções

políticas: ―ele foi considerado desde um liberal-democrata até um proto-fascista‖.

(CONSOLIM, 2008, p. 15). No entanto, parece não existir dúvida de que suas obras teriam

―inspirado líderes políticos tais como Mussolini ou Hitler‖ (CONSOLIM, 2008, p. 14).

No Brasil, pelo que pudemos inferir pela leitura das teses de Freire e Menezes, a

obra de Le Bon, em particular, a sua Psicologia da Educação, estava em circulação nos

meios educacionais. No entanto, não era apenas este livro que era lido por intelectuais

brasileiros. Monteiro Lobato, por exemplo, teria escrito o seu romance O Presidente Negro

inspirado na leitura de trabalhos de Le Bon50

.

50

Informações sobre o livro ―O Presidente Negro‖ podem ser localizadas, dentre outros, no artigo ―Noções de

Raça e Eugenia em Monteiro Lobato: vida e obra‖. De Maria Ana Quaglino. Disponível em:

www.rj.anpuh.org/resources/rj/Anais/2004/ Acesso em: 15/12/2014.

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A tese era um dos pré-requisitos para o concurso que Freire estava participando.

Além dela existia uma prova escrita que, segundo Albuquerque e Hamburger (1996, p.

208), ―avançava ideias da geometria não euclidiana, apresentando o problema da

quadratura do círculo‖. Aqui, Luiz Freire mostra seu conhecimento e defesa da matemática

moderna. Na época do concurso, o autor tinha 22 anos e havia terminado o curso de

Engenharia Civil na Escola de Engenharia de Pernambuco no final do ano anterior. O texto

que apresentou para o concurso mostrava um alto nível de conhecimento não só de

matemática como também de outras temáticas, pois ao longo deste texto Luiz Freire aborda

diversas áreas do conhecimento, mostrando o seu saber de alguns conceitos e teorias. Não

temos registro de que o autor tenha trabalhado como professor antes de assumir o cargo na

Escola Normal, mas lecionou em várias escolas depois.

A defesa da tese de Freire para o concurso na Escola Normal Oficial de Recife, na

qual teria usado ―artigos então recém-divulgados de autor francês, Monteuil, alcançou

notoriedade pela controvérsia estabelecida‖. Desde este período, Freire ―polemiza

publicamente com o pensamento tradicional da comunidade instruída da cidade‖ e com

autores que escrevem sobre ensino e/ou ciência, em artigos publicados em diversos

periódicos. (ALBUQUERQUE; HAMBURGER, 1996, p. 208).

Em um discurso em homenagem ao marechal positivista Roberto Trompowsky, em

1953, Freire faz uma análise sobre o positivismo no Brasil e reflete sobre sua relação com

essa doutrina. Após um período inicial em que assumiu a doutrina positivista, Freire se

afasta e faz crítica a ela. Para Freire, Comte querendo disciplinar a ciência e a filosofia ―cai,

lamentavelmente, em pólo oposto: negando ao pensamento o direito que lhe é intrínseco de

interrogar, de sempre interrogar, sem que a isto possa reconhecer limites traçados por

nenhuma doutrina, por mais genial que seja o seu arauto‖. (ALBUQUERQUE;

HAMBURGER, 1996, p. 216).

OUTROS ESCRITOS

O jovem engenheiro, no texto apresentado ao Concurso da Escola Normal,

menciona diversos autores. No entanto, provavelmente, seria após o início de suas

atividades como professor que Luiz Freire, como ocorria com outros intelectuais da época,

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ampliaria a sua biblioteca particular com livros de autores estrangeiros e periódicos

internacionais, para atualizar-se sobre as discussões ocorridas em outros países, em especial

na França.

Sua biblioteca foi sendo ampliada, em especial, a partir de 1921, quando Freire

ingressou como professor na Escola de Engenharia de Pernambuco, onde permaneceu até a

sua morte em 1963. Como o contrato na Escola de Engenharia não era de tempo integral,

nem tinha dedicação exclusiva, e o salário não era suficiente para manter a família e suas

necessidades, Freire lecionou em outras escolas secundárias de Recife, dentre as quais a

Prytaneu, que tinha uma publicação própria, na qual escreveu seus dois primeiros artigos. O

primeiro deles estava ligado à sua atividade como professor no ensino de geometria e é

intitulado A Geometria como fator Pedagógico.

O segundo artigo, intitulado Filosofia de Henri Poincaré e seus

Incompreendedores, que também foi publicado no Boletim de Engenharia no mesmo ano,

está escrito em estilo polêmico, muito habitual nas primeiras décadas republicanas, que

Freire utiliza com frequência. No texto, o autor discute propostas de Poincaré presentes no

livro A Ciência e a Hipótese e em um artigo publicado no Boletim da Sociedade Francesa

de Astronomia de 1904. Freire defende, neste artigo, a postura de Poincaré com relação à

forma como a criação matemática ocorre, que se diferencia da nominalista e da empirista.

Ele concorda com Poincaré que as hipóteses representam ―a obra da livre atividade de

nosso espírito‖. A escolha das hipóteses, no entanto, não é arbitrária. A ciência nos ajuda a

conhecer alguma coisa da realidade, ―mas o que ela pode atingir não são as coisas em si

próprias, (...) são somente as relações entre as coisas: fora dessas relações não há realidade

conhecível‖. (FREIRE, 1924, p. 4). Com relação às geometrias surgidas no século XIX,

Freire comenta a posição de Poincaré sobre não ser possível dizer qual geometria é a

verdadeira, mas apenas que a de Euclides é a ―mais cômoda‖. Após um exemplo sobre um

mundo diferente que não perceberíamos se acordássemos nele, observa: ―Belos exemplos

destinados a bem fazerem compreender a relatividade do espaço e do tempo, tornando

ainda mais judiciosas as suas palavras... Daí a Einstein era só um passo, embora de

gigante...‖ (FREIRE, 1924, p. 4).

Essa última observação de Freire nos leva a pensar se ele já teria tido contato com

questionamentos, que ainda hoje são colocados, sobre os responsáveis pela criação da teoria

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da relatividade. Estudos históricos atuais apontam que Einstein não teria sido o descobridor

da famosa fórmula E = MC2 e nem de alguns conceitos importantes da teoria da

relatividade. Para Martins (2005, p. 21): ―A maior parte dos resultados da teoria da

relatividade já estava presente no artigo que Poincaré escreveu em 1905, mas que só foi

publicado no ano seguinte, na Itália‖.

Além deste artigo mencionado, Freire escreveu outros textos discutindo aspectos da

teoria da relatividade. O interesse pela temática, sem dúvida, está relacionado à atualidade

do tema, que tinha defensores e críticos em diferentes países, mas também ao papel que o

Brasil desempenhou na validação dessa teoria.

―Refiro-me ao famoso episódio ocorrido do eclipse em Sobral, no Ceará, em 29

de maio de 1919, quando lá esteve uma expedição formada, dentre outros, pelos

astrônomos ingleses Charles Davidson e Andrew Crommelin, que tinha o

objetivo de ‗verificar a existência do ‗efeito Einstein‘.‖ (VIDEIRA, 2005, p. 83).

Esse efeito relaciona-se à teoria da gravitação proposta por Einstein em 1915 e

publicada em 1916, que pode ser resumida da seguinte forma:

―Os corpos, que se encontram sob a ação de um campo gravitacional, têm as suas

trajetórias diretamente determinadas pela massa responsável pelo campo. Uma

trajetória, que em uma geometria plana seria retilínea, na teoria de Einstein

passou a ser uma geodésica do espaço, tornado curvo devido à presença de corpos

maciços‖. (VIDEIRA, 2005, p. 84).

Para verificar que sua teoria estava correta, Einstein planejou uma situação

envolvendo estrelas e o Sol. Era necessário, no entanto, tirar duas fotos: ―uma do campo de

estrelas durante a passagem do corpo maciço (por exemplo, o Sol) diante dele e outra do

mesmo campo de estrelas sem a presença desse corpo‖. Se sua teoria estivesse certa, após a

passagem do sol, ―a posição dessas estrelas estaria ligeiramente modificada‖. (VIDEIRA,

2005, p. 85). Para obter essas fotos, era necessário que o Sol estivesse encoberto, o que

seria possível apenas durante um eclipse solar. A escolha de Sobral para a realização da

experiência ocorreu por estudos sobre as condições climáticas no dia do eclipse. Após

alguns meses de estudos das fotografias, não apenas de Sobral como também de Porto

Príncipe, onde ocorreu outra expedição no mesmo dia, a teoria da relatividade de Einstein

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foi comprovada. Com isso, a teoria da gravitação de Newton passou a ser entendida como

um caso particular da de Einstein.

Os resultados obtidos com o experimento realizado em Sobral, ―alçou Einstein ao

panteão dos grandes gênios da ciência, impulsionando também o interesse da comunidade

científica brasileira pela relatividade‖. A realização e o sucesso da experiência realizada no

Brasil ―fizeram com que físicos, matemáticos e engenheiros brasileiros voltassem sua

atenção para o significado daquele experimento que tinha atraído os olhos da comunidade

física internacional para o sertão do Brasil‖. (ÁVILA, 2009, p. 75). Em um período em que

as Escolas Politécnicas eram os locais de desenvolvimento de investigações científicas,

alguns professores se destacaram no estudo e na difusão da teoria da relatividade. Manuel

Amoroso Costa, da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, antipositivista, destacou-se pela

escrita do primeiro livro brasileiro sobre o tema, em 1922, intitulado Introdução à Teoria

da Relatividade, bem como pela divulgação da teoria em conferências e em artigos.

Certamente, Luiz Freire acompanhou o trabalho que Amoroso Costa realizava no Brasil e

teve acesso ao seu livro.

A vinda de Albert Einstein ao Brasil, em maio de 1925, quando proferiu duas

conferências: Observações sobre a situação atual da luz (Academia Brasileira de Ciências)

e Teoria da Relatividade (Escola Politécnica do Rio de Janeiro):

―fez recrudescer a polêmica entre os positivistas e não positivistas, polêmica essa

que resultou no artigo Relatividade Imaginária de autoria do positivista Licínio

Cardoso, publicado em O Jornal (16/05/1925), criticando essa teoria e em

algumas sessões da Academia Brasileira de Ciências, nas quais a defesa de

Einstein foi ardorosamente feita por diversos acadêmicos‖. (BASSALO, 1960, p.

7, grifos nossos).

Após a escrita de A Filosofia de Henri Poincaré e seus Incompreendedores, nos

anos seguintes Freire continuou a discutir a questão da relatividade em outros artigos,

sempre defendendo essa teoria: Um Interessante Aspecto da Teoria da Relatividade (1925);

A Experiência de Michelson (1925); A Questão Prévia contra a Teoria de Einstein –

Contradita ao trabalho do físico H. Bouasse, de Toulouse – França, subordinado ao

mesmo título (1926). Em diversos artigos Freire apresenta estudos históricos, normalmente

de matemáticos reconhecidos no Brasil ou no mundo. Dentre estes artigos, encontram-se:

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Poincaré e Sundmann, 1925; Felix Klein, 1926; José Cordeiro, 1927; Amoroso Costa,

1930; Papyrus Rhind, 1930; Sofia Kovalewskaia, 1931; Joaquim Gomes de Souza, 1931.

Embora os temas abordados por Freire em seus artigos estejam centrados em

questões de natureza histórica ou teórico-filosóficas relativas à ciência de seu tempo, em

particular a matemática e a física, em um artigo Freire discutiu especificamente uma

questão que diz respeito à aprendizagem da matemática: se existe uma aptidão inata para

que uma pessoa aprenda a matemática ou se todos podem aprendê-la. A escrita desse texto

foi inspirada, como aconteceu com vários de seus artigos, em um artigo escrito por um

autor estrangeiro, M. Stuyvaert, que foi publicado na Revista Brasileira de Mathematica

Elementar, em 1929.

No artigo, intitulado A Bossa da Matemática, Stuyvaert inicia o seu texto dizendo

que existe um preconceito em relação às ciências exatas: ―nasce-se geômetra como se nasce

poeta; tem-se ou não a bossa51

matemática‖. Criada por Gall, em uma ciência então

denominada ―pherenologia‖, segundo a qual através do estudo ―de saliências e depressões

da abóboda cranial‖ era possível identificar os ―dotes físicos, as aptidões, a capacidade

intelectual e até as paixões‖ de cada indivíduo. (STUYVAERT, 1929, p. 26). Stuyvaert não

concorda com a bossa ou aptidão para a matemática. Para ele, com um bom método de

ensino é possível que todos os alunos aprendam matemática. A Geometria, segundo o autor,

pode começar pelo concreto e não por definições e axiomas, e exemplifica com autores que

utilizam a intuição e o concreto: ―No livro de Méray, o movimento de translação é

explicado por meio de um jogo de gavetas‖ (STUYVAERT, 1929, p. 29). Ao concluir o seu

texto, o autor afirma ―a Bossa da Matemática é um mito‖ e complementa: ―qualquer

indivíduo normal, pelo menos de inteligência mediana, poderá aprender matemática‖. Para

que isso ocorra, no entanto, ―o ensino deve se preocupar de concretizar o começo, de visar

a estabilidade e não o brilho, de diminuir os programas, de repetir, repisar o aprendido,

finalmente, de fazer inúmeras aplicações concretas, bem graduadas, interessantes e não

ridículas‖. (STUYVAERT, 1929, p. 29).

O artigo de Freire, após comentar rapidamente sobre Stuyvaert e outros estudiosos

que defendem a importância de novos métodos de ensino, afirma discordar daqueles que

51

―A palavra bossa foi cunhada por Franz Joseph Gall, em sua obra ―A anatomia e fisiologia do sistema

nervoso em geral e do cérebro em particular‖, de 1796.‖ (MATTEDI DIAS, 2002, p. 223).

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defendem que está ―no método de ensino a causa principal dos insucessos constatados. Se o

ensino das matemáticas é defeituoso, (com o que estamos, aliás, de pleno acordo) não

menos será o de línguas, o de ciências físicas, etc.‖ (FREIRE, 1930, p. 90). Freire, então,

questiona: se todas as disciplinas utilizam métodos de ensino baseados em regras e

definições, sem uso de materiais concretos e aplicações, por que apenas na matemática

existe a aversão? E, conclui: ―a bossa das matemáticas é um fato‖. Complementando com

uma citação de Poincaré: ―Nasce-se matemático, não se vem a ser.‖ (FREIRE, 1930, p. 90).

Em seguida, Freire questiona a competência matemática de Stuyvaert. ―Não sabemos se

Stuyvaert é na Universidade de Gand professor de matemática‖, e complementa,

―pensamos que não, pois, o que conhecemos são obras de metodologia da matemática, e tão

somente‖. Além disso, Freire afirma que nessas obras encontrou ―precariedade, ideias

falsas mesmo, a respeito de umas tantas questões de matemática‖. (FREIRE, 1930, p. 90).

Em seguida, generaliza a sua crítica à incompetência de alguns profissionais em relação à

matemática: ―não basta ser psychologo ou pedagogo para penetrar em cheio na alma

caprichosa dos Galois e dos Abel...‖ (FREIRE, 1930, p. 90).

Após tecer muito elogios a Poincaré, Galoi e outros ―gênios‖ da matemática,

expressa a sua posição com relação à questão central de seu artigo: ―A bossa matemática é

pois essa intuição que os Poincarés e os Galois possuíram no mais alto grau, que não se

consegue transmitir ou criar, sejam quais forem os métodos de ensino seguidos‖. (FREIRE,

1930, p. 82).

Para Mattedi Dias (2002), ao atacar a bossa da matemática e manifestar a crença na

universalização de sua aprendizagem, Stuyvaert ―atacou uma característica identitária, uma

condição de pertencimento à corporação dos matemáticos, que remonta à Grécia Clássica‖,

em que ―somente cidadãos com aptidões e capacidades especiais poderiam ser versados em

geometria‖. Além disso, Stuyvaert também retira dos matemáticos as decisões sobre o

ensino de matemática ―transferindo essa tarefa para uma esfera externa, aquela dos

pedagogos, dos psicólogos, dos didatas, dos educadores‖. Por outro lado, ―Freire contrapôs-

se às ambições coorporativas de Stuyvaert defendendo a bossa das matemáticas e atacando

a posição profissional de seu adversário, negando-lhe competência e legitimidade para falar

de assuntos matemáticos.‖ (MATTEDI DIAS, 2002, p. 197-198).

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Talvez o maior reconhecimento que Freire teve pelos seus trabalhos pela ciência no

Brasil foi o de ―semeador de vocações científicas‖. Os autores Videira e Vieira manifestam

esta posição, apesar de reconhecerem a ―competência didática‖ e a ―enorme cultura

científica e filosófica‖ de Freire (VIDEIRA; VIEIRA, 2013, p. 2002-2003). Realmente,

Freire encaminhou muitos jovens que moravam em Recife para outros estados ou para o

exterior, que se tornaram respeitáveis cientistas. Dentre esses jovens estão Leopoldo

Nachbin, Manfredo Perdigão do Carmo, José Leite Lopes e Maria Laura Mousinho Leite

Lopes. Será que esses alunos foram ―descobertos‖ por Freire por eles terem ―Bossa

Matemática‖?

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A investigação que apresentamos nesta dissertação teve como objetivo central

discutir características da formação de engenheiros civis-professores de matemática,

diplomados pela Escola de Engenharia de Pernambuco, entre finais do século XIX e inícios

do século XX. Este objetivo, no entanto, não era o proposto no projeto inicial, apresentado

para a seleção do mestrado da FE-UNICAMP. Naquele texto, o objetivo propunha um

estudo da formação de engenheiros-professores de matemática da Escola no início do

século XX, centrado nas práticas do ensino de Matemática realizadas na Escola de

Engenharia de Pernambuco. Como mencionado na Introdução deste trabalho, a não

localização de alguns documentos levou a mudanças no projeto inicial, que foi sendo

reconstruído na medida em que era constituída a série documental desta pesquisa.

Naquele período inicial do trabalho, realizamos alguns estudos preliminares com o

objetivo de identificar características da formação de engenheiros no Brasil, em vários

momentos históricos. Buscávamos, então, identificar diferenças tanto na atuação quanto na

formação desses profissionais em diversos períodos. Esse estudo foi importante, pois

forneceu elementos para analisar as características de formação propostas pela EEP no

período republicano. Após a realização do Exame de Qualificação, aceitando uma decisão

da banca examinadora, optamos pela escrita de três capítulos independentes, sendo o

primeiro deles uma versão modificada dos estudos iniciais que havíamos realizado.

O capítulo dois também passou por vários momentos durante sua construção.

Iniciado com um estudo que tinha o objetivo de situar o leitor nos aspectos sócio-político-

econômicos que levaram ao surgimento, à extinção e à inauguração de uma Escola de

Engenharia no estado de Pernambuco, o capítulo mudou de fisionomia a partir da inclusão

de um novo olhar, que centrava em seu cotidiano, em seu movimento, a partir de

lembranças de ex-alunos e ex-professores. Se, por um lado, o primeiro estudo aproximou-se

de uma história institucional, o segundo foi construído a partir de rastros do cotidiano

escolar, que surgiram por meio de falas de ex-alunos e professores, encontradas em vários

tipos de documentos. Estes rastros que perseguimos permitiram olhar para a Escola sob

ângulos diferentes do apresentado pelos documentos oficiais e imaginar como poderia ser

parte do seu cotidiano, no seu movimento, em conjunto com seus personagens. Com este

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modo de pensar a EEP, fomos compondo textos sobre como era a Escola que

imaginávamos, em movimento. Não encontramos nenhum outro trabalho que tenha

abordado histórias da Escola de Engenharia de Pernambuco desta maneira, os localizados

traziam histórias factuais e lineares.

Com essas intenções, buscou-se constituir uma narrativa história e, depois de

trilhados os caminhos, foi possível identificar algumas características de professores e

alunos, relacionamento entre esses personagens, formas de ingresso na Escola, etc. Enfim,

tecer uma narrativa que busca centrar seu olhar sobre os personagens possibilitou análises

que, além do aspecto social, perpassou por questões políticas e institucionais da Escola. Os

personagens utilizados na confecção deste texto foram pessoas que, em sua maioria, eram

de famílias influentes em diversas áreas da sociedade Recifense, como na política e

economia. Ficou mais claro ao abordar diversos personagens, o modo como a Escola de

Engenharia de Pernambuco era dirigida a um grupo restrito de pessoas, em sua maioria,

oriundas de famílias abastadas, assim como outras instituições de Ensino Superior do

período.

Ao fim deste estudo, quando pensamos na Escola em movimento, consideramos

algumas características que podem ser denominadas como intrínsecas à instituição, como o

fato de a figura do professor ser a de alguém intocável, superior aos demais, em especial,

pelo seu conhecimento. Outra característica diz respeito à ―linha rígida‖, pautada por regras

que os professores seguiam como meio de garantir um ambiente de disciplina, de ordem.

Quando falamos em disciplina e ordem pensamos em um conjunto de regras que são

compartilhadas pelos personagens, a fim de obter o que denominam ser um ensino de

qualidade e respeito aos superiores, no caso dos alunos, respeito aos seus professores.

Com o objetivo de abordar visões de ciência e ensino presentes no cotidiano da

Escola de Engenharia de Pernambuco, apresentamos um texto sobre as posturas do

professor Luiz de Barros Freire manifestadas em artigos e teses. Foi após muito tempo e

várias análises que identificamos Freire como um divulgador das ciências e não um

cientista, como indicavam alguns estudos iniciais. Esta visão sobre Freire foi decorrente da

leitura e reflexão de vários textos sobre o autor e de seus próprios textos, entre eles

entrevistas, livros e artigos. A ausência de textos de investigações realizadas por Freire em

revistas e periódicos analisados no período estudado, foi outro indicativo que pareceu

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confirmar essa hipótese. Trabalhar sobre Freire e com seus textos foi algo extremante

enriquecedor para a pesquisa, pois a todo momento surgia algo novo, novos rastros, que

encaminhava outros questionamentos.

Nestas considerações finais, apresentamos nossa visão da construção dos textos

sobre a Escola de Engenharia de Pernambuco, que compõem esta dissertação, com o

objetivo de ressaltar algumas escolhas realizadas. Entendemos que essas escolhas foram

ocorrendo em função de leituras de diferentes textos, incluindo os da série documental, bem

como de conversas com a orientadora desta pesquisa e com outros colegas do HIFEM, e,

também, aquelas ocorridas em disciplinas da Faculdade de Educação da UNICAMP.

Acreditamos, no entanto, que outros trabalhos sobre a EEP podem contemplar outras visões

acerca do mesmo objeto, ou investigar outros aspectos relacionados à Escola de Engenharia

e/ou aos engenheiros de Pernambuco.

Durante este estudo, identificamos um grande potencial de investigação nos

volumes do Boletim de Engenharia de Pernambuco52

. Seria interessante a realização de

estudos, por exemplo, sobre a relação do Boletim com a EEP, seus professores e alunos.

Nas edições do periódico do Clube de Engenharia de Pernambuco, há muitos rastros sobre

engenheiros, engenheiros-professores e até sobre a própria Escola de Engenharia. Este

numeroso volume de informações se deve em grande parte ao modelo de periódico que

buscava abordar tudo o que se relaciona à vida do engenheiro naquele período, indo desde

propagandas de seus serviços até discussões teóricas. Até onde pudemos averiguar, o

Boletim era uma espécie de escape sócio-político do grupo de engenheiros, que em sua

maioria tinha ligações com a EEP. Enfim, perseguir rastros no e do Boletim de Engenharia

pode apontar novos caminhos, com novos rumos e objetos de estudo, que surgiram através

dos estudos para a confecção deste texto de dissertação.

Consideramos, ainda, que outro veio de pesquisa que se manifestou em nossa

dissertação de mestrado diz respeito a estudos que possam explorar mais a chamada Bossa

da Matemática, nos anos iniciais do século XX, no Brasil. Algumas questões que poderiam

52

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orientar algumas dessas investigações poderiam ser: Como se dava o ensino de matemática

no período? Qual era a cultura do ensino de matemática? Quem tinha Bossa para a

Matemática? Todos os engenheiros tinham Bossa? E outros futuros profissionais de outras

áreas, tinham Bossa?

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VIDEIRA, Antonio Augusto Passos; VIEIRA, Cássio Leite. Luiz Freire: Semeador de

vocações científicas. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 35, n. 2, 2602 (2013).

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ANEXOS

ANEXO 1: GRADE CURRICULAR APRESENTADA NA LEI N° 84 DE 1895

QUE DECRETOU A CRIAÇÃO DA ESCOLA DE ENGENHARIA DE

PERNAMBUCO

1° ANNO

1ª Cadeira Geometria analytica. Complemento algébrico. Calculo differencial e integral.

2ª Cadeira Geometria descriptiva e suas applicações. Á theoria das sombras, perpectiva e estereotomia

3ª Cadeira Physica experimental e meteorologia.

Aula Desenho á mão livre. Trabalhos graphicos.

2° ANNO

1ª Cadeira Mechanica geral.

2ª Cadeira Chimica. Noções de geologia mineralogia. Trabalhos de laboratório.

3ª Cadeira Topographia: planimetria e nivelamento. Pratica dos instrumentos respectivos. Legislação

de terras, agrimensura.

Aula Desenho topographico.

3° ANNO

1ª Cadeira Astronomia e geodesia.

2ª Cadeira Resistencia dos materiaes. Technologia das profissões elementares. Architectura:

estabilidade e hygiene das construcções.

3ª Cadeira Estradas de rodagem; pontes e calçadas.

Aula Desenho de architectura. Projectos e trabalhos graphicos.

4° ANNO

1ª Cadeira Machinas.

2ª Cadeira Estradas de ferro.

3ª Cadeira Hydraulica, abastecimento d‘agua.

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Aula Projectos e trabalhos graphicos.

5° ANNO

1ª Cadeira Navegação interior, canaes, portos de mar, pharões, hydrografia, irrigação, açudes, regimem

dos Rios.

2ª Cadeira Esgotos e saneamento das cidades. Iluminação: electricidade e suas pricipaes applicações.

3ª Cadeira Botanica. Corte e preparo de madeiras. Conservação das mattas.

Aula Trabalhos graphicos.

ANEXO 2: GRADE CURRICULAR APRESENTADA NO REGULAMENTO

DE 1898

1° ANNO

1 Cadeira Geometria analytica. Calculo differencial e integral

Geometria descriptiva.

Physica experimental. Meteorologia.

Aula Desenho geométrico. Desenho de aguadas e sua applicação ás sombras.

2° ANNO

Calculo das variações. Mechanica Racional.

Topographia. Legislação de terras e princípios geraes de colonisação.

Chimica geral. Chimica inorgânica. Processos geraes de analyse chimica.

Aula Desenho topographico.

3° ANNO

Trigonometria espherica. Astronomia theorica e pratica. Geodesia.

Mechanica applicada ás machinas. Cinematica e dinâmica applicadas:

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Mineralogia e geologia

Aula Desenho de cartas geodésicas e de mecanismos.

4° ANNO

Estudo dos materiaes de construcção. Technologia das profissões elementares. Resitencia

dos materiaes. Estabilidade das construcções. Grapho –statica.

Hydraulica: liquidos e gaszes. Abastecimento d‘agua. Exgottos. Hydraulica agrícola.

Geometria descriptiva applicada.

Aula Trabalhos graphicos de abastecimento d‘agua, exgottos e hydraulica agrícola.

5° ANNO

Estrada de ferro e de rodagem. Pontes e viadutos.

Navegação interior. Portos de mar, Pharões.

Economia política e Finanças.

Aula Trabalhos graphicos de estradas, pontes e construcções hydraulicas.

6° ANNO

Architectura. Hygiene dos edificios. Saneamentos das cidades.

Machinas motrizes e operatrizes, precedidas do estudo dos motores e industrias mechanicas

corrrespondentes.

Direito constitucional. Direito administrativo e estatistica e suas applicações á engenharia.

Aula Desenho de architectura.

―Art. 2°. Os estudos serão dirigidos por dez lentes cathedraticos, cinco substitutos e

três professores.‖ (Regulamento de 1898 da EEP, p. 3).

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ANEXO 3: GRADE CURRICULAR APRESENTADA NO REGULAMENTO

DE 1901

1° ANNO

1ª Cadeira Geometria analytica. Calculo differencial e integral

2ª Cadeira Geometria descriptiva e suas applicações.

3ª Cadeira Physica molecular. Optica applicada á engenharia. Electro-technica. Meteorologia.

Aula Desenho de aguadas e suas applicações as sombras. Trabalhos graphicos de geometria

descriptiva applicada.

2° ANNO

1ª Cadeira Calculo das variações. Mechanica Racional.

2ª Cadeira Topographia. Legislação de terras e princípios geraes de colonisação.

3ª Cadeira Chimica geral. Chimica inorgânica. Processos geraes de analyse chimica.

Aula Desenho topographico. Trabalhos graphicos de topografia.

3° ANNO

1ª Cadeira Trigonometria espherica. Astronomia theorica e pratica. Geodesia.

2ª Cadeira Mechanica applicada: cinematica e dinâmica applicadas; theoria da resistência dos

materiaes .Grapho-estatica.

3ª Cadeira Mineralogia systematica. Geologia e Paleontologia.

Aula Desenho e construcção de cartas geodésicas e de mecanismos. Desenho e projectos de

mecanismos.

4° ANNO

1ª Cadeira Estudo dos materiaes de construcção e determinação experimental da sua resistencia. .

Estabilidade das construcções. Technologia das profissões elementares e do constructor

mecânico.

2ª Cadeira Hydraulica: liquidos e gazes. Abastecimento d‘agua. Exgottos. Hydraulica agrícola.

3ª Cadeira Estrada de ferro e de rodagem. Pontes e viadutos.

4ª Cadeira Economia política e Finanças.

Aula Trabalhos graphicos relativos á technologiado constructor mecanico, a estradas de ferro e

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respectivo materaail fixo e rodante e á ponte e viaductos.

5° ANNO

1ª Cadeira Architectura. Hygiene dos edificios. Saneamentos das cidades.

2ª Cadeira Navegação interior. Portos de mar, Pharões.

3ª Cadeira Machinas motrizes e operatrizes.

4ª Cadeira Direito constitucional. Direito administrativo e estatistica e suas applicações á engenharia.

Aula Desenhos e projectos de architectura, contrucções hydraulicas e saneamento das cidades.

ANEXO 4: GRADE CURRICULAR APRESENTADA NOS ESTATUTOS DE

1905

1° ANNO

1ª Cadeira Geometria analytica. Calculo differencial e integral

2ª Cadeira Geometria descriptiva e suas applicações.

3ª Cadeira Physica molecular. Optica applicada á engenharia. Electro-technica. Meteorologia.

Aula Desenho de aguadas e suas applicações as sombras. Trabalhos graphicos de geometria

descriptiva applicada.

2° ANNO

1ª Cadeira Calculo das variações. Mechanica Racional.

2ª Cadeira Topographia. Legislação de terras e princípios geraes de colonisação.

3ª Cadeira Chimica inorgânica analytica e descriptiva.

Aula Desenho topographico. Trabalhos graphicos de topografia.

3° ANNO

1ª Cadeira Trigonometria espherica. Astronomia theorica e pratica. Geodesia.

2ª Cadeira Mechanica applicada: cinematica e dinâmica applicadas; theoria da resistência dos

materiaes .Grapho-estatica.

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3ª Cadeira Mineralogia systematica. Geologia e Paleontologia.

Aula Desenho e construcção de cartas geodésicas e de mecanismos. Desenho e projectos de

mecanismos.

4° ANNO

1ª Cadeira Estudo dos materiaes de construcção e determinação experimental da sua resistencia. .

Estabilidade das construcções. Technologia das profissões elementares e do constructor

mecanico.

2ª Cadeira Hydraulica: liquidos e gazes. Abastecimento d‘agua. Exgottos. Hydraulica agrícola.

3ª Cadeira Estrada de ferro e de rodagem. Pontes e viadutos.

4ª Cadeira Economia política e Finanças.

Aula Trabalhos graphicos relativos á technologiado constructor mecanico, a estradas de ferro e

respectivo materaail fixo e rodante e á ponte e viaductos.

5° ANNO

1ª Cadeira Architectura. Hygiene dos edificios. Saneamentos das cidades.

2ª Cadeira Navegação interior. Portos de mar, Pharões.

3ª Cadeira Machinas motrizes e operatrizes.

4ª Cadeira Direito constitucional. Direito administrativo e estatistica e suas applicações á engenharia.

Aula Desenhos e projectos de architectura, contrucções hydraulicas e saneamento das cidades.

―Atr. 24. O curso de engenharia agronômica constará dos três primeiros annos de

engenharia civil e mais dos dous seguintes‖: (Estatutos da Escola Livre de Engenharia de

Pernambuco de 1905)

4° ANNO

1ª Cadeira Chimica orgânica, descriptiva e analytica

2ª Cadeira Botanica systematica, especialmente do Brazil.

3ª Cadeira Zoologia systematica, especialemente do Brazil.

4ª Cadeira A 4ª do 4° anno do curso de engenharia civil.

Aula Desenho organographico.

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5° ANNO

1ª Cadeira A 1ª do 4° anno do curso de engenharia civil.

2ª Cadeira A 2ª do 4° anno do curso de engenharia civil.

3ª Cadeira Agricultura. Physica e chimica agrícola, agricultura geral e especial, machinas agrícolas.

Zootechnica.. Veterinaria.

4ª Cadeira A 4ªdo 5° anno do curso de engenharia civil.

Aula Trabalhos graphicos de contrucção e de hydraulica.

―Atr. 25. Haverá ainda na escola um curso que sob o titulo de << curso de

admissão>> constará do ensino das seguintes matérias: álgebra, geometria, trigonometria

retilínea, álgebra superior e desenho geométrico.‖ (Estatutos da Escola Livre de Engenharia

de Pernambuco de 1905, p. 9)

ANEXO 5: TABELA COM OS NOMES DE PROFESSORES DA EEP E O

ANO EM QUE SE FORMARAM ENGENHEIROS NA EEP

NOME DOS PROFESSORES ANO DE

FORMAÇÃO

HERMÍLIO LYDIO DE OLIVEIRA 1901

ANTÔNIO DE GÓES DE CAVALCANTI 1904

LAFAYETE MOSCOSO FERREIRA

BANDEIRA 1904

PAULO GUEDES PEREIRA 1908

JOÃO HOLMES SOBRINHO 1912

NESTOR MOREIRA REIS 1912

JOSÉ APOLLINARIO DE OLIVEIRA 1914

LUIZ JOSÉ FERNANDES RIBEIRO 1914

LUIZ DE BARROS FREIRE 1918

AURINO JOSÉ DUARTE 1919

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93

ANEXO 6: LISTA DE FORMANDOS DA EEP DE 1897 ATÉ 1925

Os nomes dos formandos da EEP foram retirados de Maia (1966) e Rego (1925).

Relação de Engenheiros Civis e Geógrafos

1901

Anselmo Medeiros Peretti

Domingos Acatanasú

Hermílio Lydio De Oliveira

João Chrispiniano Coêllho Brandão

Miguel Augusto De Oliveira

Octavio Brígido Arantes (Engenheiro Geógrafo)

Oscar Duarte De Barros (Engenheiro Geógrafo)

1902

Gastão De Mendoça Vasconcelos

Júlio Américo De Medeiros

Sulpício Soter Cordovil

José Barreto De Carvalho (Engenheiro Geógrafo)

José Paulo Barbosa Lima (Engenheiro Geógrafo)

1903

Antônio Clementino Carneiro Da Cunha

Franscisco José Da Costa Barros

José Gervásio De Amorim Garcia Júnior

Santino Vieira De Moraes

Theogenes Da Rocha Moreira

Vicente Antônio Manés

Anselmo Machado Da Cunha Cavalcanti (Engenheiro Geógrafo)

Cap. José Capitulino Freire Carneiro (Engenheiro Geógrafo)

José Gervásio De Amorim Garcia Júnior (Engenheiro Geógrafo)

Santino Vieira De Moraes (Engenheiro Geógrafo)

Theogenes Da Rocha Moreira (Engenheiro Geógrafo)

Vicente Antônio Manés (Engenheiro Geógrafo)

NEWTON DA SILVA MAIA 1921

NAPOLEÃO JUVENCIO DE

ALBUQUERQUE 1921

ANNIBAL RAMOS DE MATTOS (Químico

Industrial) 1923

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1904

Alcides Agripino Nogueira Lima

Antônio De Góes Cavalcanti

Belmino Correia De Araújo

Eduardo Jorge Pereira

José Gomes Parente

Lafayete Moscoso Ferreira Bandeira

Manoel Porfírio Brito

Paulo José De Lima E Silva

Philignesio Augusto Pena De Carvalho

Rodrigo Carneiro De Almeida

Romino Fernandes De Araújo

Ubaldo Gomes De Mattos

Décio Fonseca (Engenheiro Geógrafo)

Elino Souto (Engenheiro Geógrafo)

Franscico Cesar Ribeiro Campos (Engenheiro Geógrafo)

Francisco Cornélio Da Fonseca Lima Júnior (Engenheiro Geógrafo)

Franscisco Tertuliano De Albuquerque (Engenheiro Geógrafo)

Gercino Ferreira (Engenheiro Geógrafo)

Heráclio Hélio Fernandes Lima (Engenheiro Geógrafo)

Jacinto Ignacio Torres Júnior (Engenheiro Geógrafo)

João Borba Carvalho (Engenheiro Geógrafo)

João Gualberto Dantas (Engenheiro Geógrafo)

José De Oliveira Fonseca (Engenheiro Geógrafo)

José Eugênio Moreira Alves (Engenheiro Geógrafo)

José Henorique Cesar De Albuquerque Jr. (Engenheiro Geógrafo)

Luiz Villares Fragoso (Engenheiro Geógrafo)

Mateus Augusto De Oliveira (Engenheiro Geógrafo)

Raimundo Bayma Da Serra Martins (Engenheiro Geógrafo)

1905

José Oscar Moreira De Mendonça

1906

José Gomes Parente

1907

Silvestre Gomes De Araújo (Engenheiro Geógrafo)

1908

Te. Heitor A. Borges

Te. João da C. Pinheiro

Paulo Guedes Pereira

1909

Abdias De Pinho Borges

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95

Affonso X. C. De Albuquerquer

Bernardo J. Da Camara Junior

Eurico Berardo C. Da Cunha

João Augusto De A. Maranhão Filho

Alvaro Silva (Engenheiro Geógrafo)

Leonardo Siqueira Barbosa Arcoverde (Engenheiro Geógrafo)

1910

João Pinto Pessôa

Luiz A. Porto Carreiro

Maximo De Sá Cavalcanti De Albuquerque

Mario C. De Gusmão Lyra

Nestor Moreira Reis Alvaro Silva (Engenheiro Geógrafo)

Augusto Câmara Alves Da Silva Alvaro Silva (Engenheiro Geógrafo)

1911

Augusto Moreira Caldas

Carlos Caminha Sampaio

Luiz Ramos E Silva

Mario M. Vieira Neves

Urbano De Andrade Borba

1912

João Holmes Sobrinho

Nestor Moreira Reis

Themistocles C. De Melo

1913

Carlos Affonso Viriato De Medeiros

Francisco De Paula Dias Fernandes

José Estellita De Barros E Silva

João Caminha Franco

Miguel Soares Bilro

João De Gusmão Castelo Branco Alvaro Silva (Engenheiro Geógrafo)

Manoel Da Silva Gusmão Alvaro Silva (Engenheiro Geógrafo)

1914

Alvaro José Correia De Oliveira

Antonio Cavalcanti Vieira Da Cunha

Annibal De Araujo Lima

José Apollinario De Oliveira

Luiz José Fernandes Ribeiro

Oscar Cox

Joaquim Cardoso Da Silveira

1915

Luiz Carlos Da C. Netto

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96

Manoel Da Silva Gusmão

Odilon De Lima Souza Leão

Massilon Wanderley

Pedro C. De Sá Leitão

1916

Alde Feijó Sampaio

Antonio Celso Uchôa Cavalcanti

Domingos Da Silva Ferreira

João Da Cunha Magalhães

Antonio Moreira De Mendonça

1917

Adherbal De Mello Duarte

Luiz Nogueira Baptista

Alvaro Celso Uchôa Cavalcanti

Gercino Malagueta De Pontes

Isaac Magalhães De Albuquerque Gondim

José Arruda De Albuquerque

José Sabino De Araujo Pinheiro

Manoel Caminha Sampaio

1918

Herculano Pires Ferreira

Henrique Doria De Vasconcellos

Domingos Gomes De Medeiros

Luiz De Barros Freire

Manoel Silvino De Barros Falcão Filho Alvaro Silva (Engenheiro Geógrafo)

Lindolpho Da Silva Faria Alvaro Silva (Engenheiro Geógrafo)

João Carneiro Vieira Da Cunha Alvaro Silva (Engenheiro Geógrafo)

1919

Waldemar Nery Carneiro Monteiro

Aurino José Duarte (Diretor Definitivo em 1950, após saída de Moraes Rego em 1948)

Joel Francisco J. Galvão

Heitor De Andrade Lima

Octavio Hygino De Moraes Guerra

João Carneiro Vieira Da Cunha

Gorgônio Da Nóbrega Filho Alvaro Silva (Engenheiro Geógrafo)

1920

Oscar Ferreira Da Silva

Antonio Moniz Machado

Eurico Britto De Oliveira Andrade

José Bellarmino Lustosa

Clovis De Almeida Castro

Antonio Gomes Vieira De Souza

Maviael Ferreira Da Silva

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97

José Caminha Sampaio

1921

Newton Da Silva Maia

Camillo Collier

Napoleão Juvencio De Albuquerque (Diretor em 1948, após a Saída de Moraes Rego)

Oswaldo M. De Abreu

Julio Marinho De Souza

Abelardo De Araujo

Adherbal Gomes Vieira De Souza

Rubem Rodrigues Da C. Ribeiro

Apollonio Zenaide

Humberto Guedes Gondim Alvaro Silva (Engenheiro Geógrafo)

1922

Clovis De Barros Lima

João Ignácio Cabral De Vasconcellos Filho

Armando Da Paixão Carneiro Campello

Antonio Barreto Gonçalves Ferreira

1923

Romeu Jacobina De Figueiredo

Manoel Cezar De Moraes Rego

Luiz Conçalves Da Rocha

Joaquim Carneiro Da Cunha

Jorge Bezerra Martins

Osorio De Carvalho E Silva

José Candido De Moraes Nascimento

Luiz Britto Pinheiro Passos

José Zacharias Amaral De Mattos

Aguinaldo Porto Da Costa

1924

Fernando José Tinôco

João Pereira Borges

Luiz Osorio De Siqueira Netto

Augusto Ribeito Pessôa

Relação dos Agrônomos e Engenheiros Agrônomos formados pela Escola de

Engenharia de Pernambuco de 1920 a 1924

1920

Gonçalo Santiago Do Nascimento

Samuel De Pontes Botelho

Esperidião Lopes De Farias Junior

Juvencio Mariz De Lyra

Clarindo Misael De Barros Gouveia

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98

Evaristo Da Costa Leitão

José Leopoldo De Mendonça Filho

1921

Leoncio Gomes De Araujo

Francisco José Gomes De Mattos Nogueira

Almiro Freitas De Paiva

Manoel Ferreira Leite Junior

Antonio Da Cunha Bayma

Raul Pires Xavier

Nilo De Albuquerque Mello

1922

Renato Ramos De Farias

Ismar Gomes Do Amorim

Elpidio Domingues Lins

Alvaro Diniz Filho

Olival Da Costa Leitão

Paulo Luiz Paranhos

1923

Eladio Camboim De Vasconcellos

João Gomes De Mattos Nogueira

1924

Edgard Lopes De Castro

Eduardo Jacintho Pinto Malheiro

Osman Antonio Da Silveira

Chimico Industrial

1923

Annibal Ramos De Mattos

Relação de Agrimensores

1896

Ildefonso Alfreu Accioly

1897

Anselmo Medeiros Pereti

Domingos Acatanasú Nunes

Fausto Freire De Carvalho Figueredo

Hermílo Lydio De Oliveira

Octavio Brígio Arantes

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99

ANEXO 7: LISTA DE PROFESSORES DA EEP DE 1895 ATÉ 1916

Os nomes dos professores da EEP foram retirados de Maia (1966, p. 23, 25, 27)

―Nesta primeira fase de existência da Escola, exerceram o magistério, além do Dr. Martins

Costa, já mencionado como diretor, os seguintes lentes (das cadeiras) e professores (das

aulas de desenho)‖.

Eng° Luiz Lombard

Eng° José Antônio de Almeida Pernambuco

Jerônimo Telles Júnior (pintor)

Dr. Epaminondas Jacome

Bernardino Henrique de Oliveira

Eng° Carlos Alberto Machado

Eng° Edgar F. Gordilho

Eng° Antônio de Barros Vieira Cavalcanti

Eng° Arthur Martins de Barros

Eng° Antônio Urbano Pessoa Montenegro

Manoel Silvino de Barros Falcão Filho

Bel. Antônio Pedro das Neves

Eng. Francisco Vieira Bolitreau

Bel. Thomé Joaquim de Barros Gibson

Walfrido Odon Arantes

Dr. Caetano Alberto de Castro Nascimento

Bel. Luiz Cavalcanti Lacerda de Almeida

Eng° Augusto Victor Martins

Eng° Frederico Cesar Bulamarqui

Eng° Manoel Antônio de Moraes Rego

Eng° Ozório de Cerqueira

Eng° e Bel. em Ciências Físicas e Matemáticas Hermilo Lydio de Oliveira

Eng° Victoriano Borges de Melo

―Destarte, a 26 de janeiro de 1905, reuniram-se numa sala do prédio à rua do Hospício 71

(onde hoje está edificado o Quartel General da 7ª Região Militar) aqueles que iriam ser os

professores da Escola Livre de Engenharia, continuadora da instituição estadual extinta.

Foram eles:‖

Dr. Euzébio de Almeida Martins Costa

Eng° Francisco Vieira Bolitreau

Eng°. Heitor da Silva Maia

Eng. Eugênio Ozório de Cerqueira

Eng. Hermilo Lydio de Oliveira

Bel. Joaquim Cavalcanti Leal de Barros

Eng°. Cândido Acauã Ribeiro

Dr. Raul de Almeida Azêdo

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100

Dr. João Jerônimo Pontual

Eng°. Augusto de Almeida Castro

Eng°. José Antônio de Almeida Pernambuco

Eng°. Augusto Victor Martins

Eng°. Vitoriano Borges de Melo

Eng°. Lafayette M. F. Bandeira

Eng°. M. A. de Moraes Rego

Eng°. Paulino Lopes da Cruz

Bel. Luiz C. Lacerda de Almeida

Bel. Antônio Pedro das Neves

Eng°. Edgar Gordilho

Prof. Manoel Silvino Falcão Filho

Prof. Jerônimo J. Melo Júnior

Prof. Walfrido Odon Arantes

Eng°. Luiz Correia de Brito

Eng°. Ignácio de Barros Barreto

―Êsses estatutos, que vigoram a partir de 1 de janeiro de 1916, foram aprovados pela

congregação, já então reduzida aos seguintes membros:‖

Dr. Euzébio Martins Costa

Eng°. Manoel A. Moraes Rêgo

Eng°. Heitor da Silva Maia

Eng°. Armando Xavier Carneiro de Albuquerque

Eng°. Afonso Fernandes Barros

Eng°. Antônio de Góes Cavalcanti

Eng°. José C. Tôrres Cotrim

Eng°. Paulino Lopes da Cruz

Eng°. José Apolinário de Oliveira

Eng.o João Holmes Sobrinho

Eng°. Luiz José Fernandes Ribeiro

Eng°. Ubaldo Gomes de Matos

Bel. Antônio Pedro Neves

Bel. Luiz C. Lacerda de Almeida

Dr. Antônio Hermenegildo de Castro

Dr. José A. Regueira Costa

Prof. Walfrido Odon Arantes

Prof. Manoel de Barros Falcão

―Como professores substitutos haviam sido admitidos os Engenheiros‖

Graciliano Martins Filho

José Oscar Moreira de Mendonça

Eurico Monteiro de Matos