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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática A FORMAÇÃO DO SUJEITO ECOLÓGICO POR MEIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA A PARTIR DE CONCEPÇÕES PEDAGÓGICAS PAULO FREIREANAS Vicente Simão de Vasconcelos Belo Horizonte 2011

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Page 1: A FORMAÇÃO DO SUJEITO ECOLÓGICO POR …CIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática A FORMAÇÃO DO SUJEITO ECOLÓGICO

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática

A FORMAÇÃO DO SUJEITO ECOLÓGICO POR MEIO

DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA A PARTIR DE

CONCEPÇÕES PEDAGÓGICAS PAULO FREIREANAS

Vicente Simão de Vasconcelos

Belo Horizonte

2011

Page 2: A FORMAÇÃO DO SUJEITO ECOLÓGICO POR …CIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática A FORMAÇÃO DO SUJEITO ECOLÓGICO

Vicente Simão de Vasconcelos

A FORMAÇÃO DO SUJEITO ECOLÓGICO POR MEIO

DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA A PARTIR DE

CONCEPÇÕES PEDAGÓGICAS PAULO FREIREANAS

Dissertação apresentada ao Programa Mestrado

Profissional de Ensino de Ciências e Matemática

da Pontifícia Universidade Católica de Minas

Gerais, como requisito parcial para obtenção do

título de Mestre em Ensino de Biologia.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Cláudia de Vilhena S.

Sabino

Belo Horizonte

2011

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FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Vasconcelos, Vicente Simão de V331f A formação do sujeito ecológico por meio da educação ambiental crítica

a partir de concepções pedagógicas Paulo Freireanas / Vicente Simão de Vasconcelos. Belo Horizonte, 2011.

105 p.

Orientadora: Cláudia de Vilhena Schayer Sabino

Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Biologia.

1. Sujeito (Filosofia). 2.Educadores. 3. Educação Ambiental – Estudo e

ensino. 4. Ecologia urbana 5.Conscientização. 6. Emancipação. 7. Freire, Paulo, 1921-1997. I. Sabino, Cláudia Vilhena Schayer. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Biologia III. Título.

CDU: 577.4:37

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À minha querida mãe e demais familiares, pelo

incentivo e apoio permanentes.

Aos que acreditam que a educação pode ser, apesar

de tudo e de muitos, uma opção de formação de um novo ser

humano, aliada na defesa do meio ambiente e um caminho

para um mundo melhor.

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AGRADECIMENTOS

À minha orientadora, Professora Cláudia de Vilhena S.

Sabino, pela atenção e sugestões sempre dadas quando foram

solicitadas.

A todos os colegas do programa do mestrado, sobretudo

os da turma de biologia, especialmente à Flavinha, Renata,

Daniela, Richarlen e Nívea, pelo convívio valioso e

enriquecedor, e pela certeza de que vale a pena continuá-lo,

apesar das distâncias.

A todos os meus familiares, colegas de trabalho e demais

pessoas, que por diferentes formas, sempre me incentivaram.

Page 7: A FORMAÇÃO DO SUJEITO ECOLÓGICO POR …CIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática A FORMAÇÃO DO SUJEITO ECOLÓGICO

Educar para outros mundos possíveis é educar para

conscientizar, para desalienar, para desfetichizar.

(...) Por isso, educar para outros mundos possíveis é

também educar para a ruptura, para a rebeldia, para a recusa,

para dizer “não”. Para gritar, para sonhar com outros mundos

possíveis. Denunciando e anunciando.

(...) Por isso, uma educação para outros mundos possíveis

é, sobretudo, a educação para o sonho, uma educação para a

esperança.

Moacir Gadotti

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RESUMO

Este trabalho teve como propósito abordar a formação do sujeito ecológico crítico e autônomo

em um cenário de crise socioambiental mundial a partir da educação ambiental crítica, esta

fundamentada nas concepções pedagógicas do educador Paulo Freire, por meio de muitas

categorias utilizadas por ele. A educação ambiental crítica, enquanto processo de

conscientização, intervenção e transformação da realidade, propõe a superação do falso

dualismo entre reflexão e ação e adota novos olhares sobre as questões socioambientais,

considerando que elas estão inseridas em uma realidade caracterizada por múltiplos aspectos

de profunda complexidade, a partir de uma visão de totalidade em um cenário de crise. O

sujeito visto como foco principal foi o educador, por ele ter um papel crucial a cumprir no

processo formativo do sujeito ecológico, tanto na escola como no conjunto da sociedade, mas

sendo necessário para isso uma formação capaz de capacitá-lo à função de formador de outros

sujeitos. Como forma de contribuição direcionada especificamente para educadores, a opção

feita foi de produzir um portfólio com textos diversos abordando questões relacionadas com a

causa ambiental, com a educação ambiental crítica e com vários temas vinculados à educação,

todos voltados para a formação do sujeito ecológico a partir de perspectivas históricas,

críticas, transformadoras, emancipatórias e cidadãs. Este portfólio foi analisado em uma

pesquisa por diversos educadores, sendo possível realizar um diagnóstico a respeito de como

eles avaliaram o seu conteúdo e qual a opinião que os mesmos apresentaram sobre diversos

assuntos relacionados com a prática docente em relação à educação ambiental crítica. Foi

possível constatar o interesse dos educadores pela educação ambiental, mas ao mesmo tempo

a necessidade de haver um processo contínuo de formação e a implementação de ações mais

organizadas e concretas de educação ambiental no processo educativo escolar como forma de

evitar a fragmentação e aproveitar o potencial existente nesse meio, para traduzir anseios e

necessidades que estão postos pelas exigências do momento em toda sociedade.

Palavras-chave: Crise. Formação do Sujeito. Educação Ambiental Crítica. Educador. Paulo

Freire. Concepções Pedagógicas. Conscientização, Transformação e Emancipação.

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ABSTRACT

This study was intends to deal with the formation of a critical and autonomous green person

in a period of global socio environmental crisis from environmental education, grounded in

the pedagogical conceptions of the educator Paulo Freire, through many categories used by

him. The critical environmental education as a process of awareness, intervention and

transformation of the reality, is proposed to overcome the false dichotomy between thought

and action and adopt new perspectives on environmental issues, considering that they are

inserted into a reality characterized by multiple aspects of deep complexity from a vision of

wholeness in a crisis scenario. The subject seen as the main focus was the educator, because

he has a crucial role to fulfill in the formative process of the green person, both at school and

in society, but needing a formation to enable them to be trainers of other subjects. As a

contribution aimed specifically for educators, the choice was to produce a portfolio with

various texts dealing with issues related to the environmental cause, with the critical

environmental education and various critical issues related to education, all focused on the

formation of the green person based on historical critical, transforming, emancipating and

citizen perspectives. This portfolio was reviewed in a survey by several educators, been

possible to make a diagnosis on how they evaluated the content and what opinion that they

presented on various subjects related to teaching practice in relation to a critical

environmental education. It was possible to see the interest of educators in environmental

education, but at the same time the need for an ongoing process and implementation of

actions more organized and practical about environmental education in the school educational

process as a way to avoid fragmentation and harness the potential existing to translate goals

and needs that are the demands now in the whole society.

Keywords: Crisis. Formation of the Subject. Critical Environmental Education. Educator.

Paulo Freire. Pedagogical Conceptions. Awareness, Transformation and Emancipation.

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LISTA DE SIGLAS

ONGs – Organizações não-governamentais

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................11

1.1 Justificativa.......................................................................................................................13

1.2 Objetivos...........................................................................................................................15

1.2.1 Objetivo Geral.................................................................................................................15

1.2.2 Objetivos Específicos......................................................................................................15

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..........................................................................................17

2.1 A questão ambiental e a educação ambiental como processo formador.....................17

2.1.1 A questão ambiental em evidência em um cenário de crise e adversidade....................17

2.1. 2 A educação como meio de formação do ser humano ....................................................19

2.1.3 Os limites do processo educativo....................................................................................25

2.2 Educação ambiental crítica.............................................................................................27

2.3 O pensamento pedagógico de Paulo Freire...................................................................32

2.3.1 A contribuição de Paulo Freire para a educação ambiental crítica..............................32

2.3.2 Algumas categorias pedagógicas de Paulo Freire.........................................................36

2.3.2.1 Diálogo/Dialogicidade................................................................................................37

2.3.2.2 Consciência/Conscientização..........................................................................................39

2.3.2.3 Libertação ...............................................................................................................42

2.3.2.4 Humanismo ...............................................................................................................43

2.3.2.5 Autonomia ...............................................................................................................45

2.3.2.6 Criticidade ............................................................................................................. .46

2.3.2.7 Interdisciplinaridade..... ............................................................................................47

2.3.2.8 Problematização ...................................................................................................49

2.3.2.9 Práxis ......................................................................................................................... 50

2.4 O educador ambiental.....................................................................................................52

2.4.1 O educador ambiental enquanto mediador da formação do sujeito ecológico..............52

2.4.2 O educador e o seu papel diante das possibilidades e riscos.........................................54

3 METODOLOGIA ...............................................................................................................58

3.1 Pesquisa bibliográfica......................................................................................................58

3.2 Elaboração do conteúdo do material didático (Portfólio) ............................................60

3.3 Aplicação do recurso didático voltado para a formação de educadores....................63

3.4 Aspectos do questionário aplicado.................................................................................65

4 O PRODUTO ......................................................................................................................67

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5 RESULTADOS ...................................................................................................................71

5.1 O perfil dos participantes da pesquisa...........................................................................71

5.2 Interpretação dos resultados..........................................................................................72

5.2.1 Resultados da oficina pedagógica..................................................................................72

5.2.2 Resultados do questionário.............................................................................................73

5.3 Interpretação das respostas das questões específicas relacionadas à análise do

produto (portfólio) ..................................................................................................................74

5.4 Outras considerações.......................................................................................................88

6 CONCLUSÃO .....................................................................................................................90

REFERÊNCIAS .....................................................................................................................94

APÊNDICE ...........................................................................................................................103

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1 INTRODUÇÃO

Posto que nas últimas décadas intensificou-se o quadro de uma crise socioambiental

sem precedentes no planeta Terra, derivada do modelo civilizatório atualmente em vigor, que

gradativa e crescentemente veio se agravando a olhos vistos em um cenário de

imprevisibilidade para todas as sociedades e culturas, torna-se oportuno desenvolver uma

abordagem que possa contemplar essa questão a partir de uma perspectiva de elaboração e

implementação de alternativas viáveis, adequadas e funcionais como forma de resistência e

contraponto a essa situação, tendo a educação ambiental crítica como fio condutor de

iniciativas voltadas para desenvolver o aspecto formativo do sujeito ecológico.

Por considerar que a educação não é somente escolarização com instrução e

transmissão de conteúdo, mas, sobretudo, possibilidade de formação, conscientização,

transformação e emancipação das pessoas e do mundo, e dadas as circunstâncias

desfavoráveis da questão socioambiental no momento atual, é impensável e impossível

abdicar da educação como aliada e opção na busca de meios capazes de enfrentar e superar,

ou ao menos minimizar, esse quadro de adversidades e riscos prementes que ora se

apresentam.

A partir do exposto acima, torna-se evidente a importância do entendimento e

desenvolvimento da educação ambiental crítica como meio e oportunidade de elaboração e

implementação de ideias, ideários, projetos, iniciativas e ações individuais e coletivas, ao

mesmo tempo concretas e objetivas, a favor da formação do sujeito ecológico crítico,

consciente e emancipado, focado prioritariamente no segmento de educadores, pois estes

possuem a missão de promover a educação ambiental, na modalidade formal, ao conjunto da

comunidade escolar, podendo a partir disso, haver parcerias com outros segmentos

representativos da sociedade, com possíveis desdobramentos para as modalidades não-formal

e informal, todas podendo ter amplo alcance ao conjunto da sociedade.

Tendo essa perspectiva, a formação do educador ambiental pode ocorrer fundamentada

pelo pensamento pedagógico de Paulo Freire, um educador com enormes contribuições para a

educação escolar e popular libertadora, podendo as várias categorias elaboradas e propostas

em suas obras e aplicadas por ele em seus trabalhos - e que ainda continuam vivas, aplicáveis

e atuais -, serem utilizadas na formação do educador enquanto sujeito ecológico. Além de

Paulo Freire, diversos outros autores, identificados e seguidores de uma concepção

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educacional crítica, inserida no contexto histórico, portadoras de propostas transformadoras e

emancipatórias também podem completar as fontes de subsídios necessários para a elaboração

de processos formativos de educadores com o perfil acima descrito.

No entanto, qualquer proposta de formação de educadores precisa ser precedida de

diversas informações, como quem são esses educadores, seus perfis, a percepção e o

envolvimento que os mesmos têm em relação à formação de educadores, a emergência e

atualidade da educação ambiental crítica, o debate atual sobre meio ambiente, entre tantas

outras questões necessárias e fundamentais, pois são vários os aspectos norteadores da

formação de educadores, e sem o conhecimento dos mesmos, qualquer iniciativa nesse

sentido poderia não corresponder às suas reais possibilidades, necessidades e alcance.

Considerando essas particularidades, é possível avançar no sentido de planejar e

implementar atividades que visem justamente desenvolver ações especificamente voltadas

para a formação do educador. Uma delas, sem dúvida, consiste na possibilidade de produção

de materiais didáticos e pedagógicos adequados, que devidamente aplicados, sejam capazes

de contribuírem com a formação desses profissionais a partir de uma visão crítica, plural e

interdisciplinar.

Mas se a necessidade exige a tomada de medidas eficazes nesse sentido, é dada aos

responsáveis por implementá-las a função de serem sabedores que o segmento de educadores

possui um perfil heterogêneo em vários aspectos, apresentando vivências e experiências muito

singulares, com concepções e posturas díspares e até antagônicas em muitas situações, além

de profundas e diferenciadas limitações e carências quanto à percepção e noção do significado

e da importância que recaem sobre eles no que diz respeito ao aspecto de formação pessoal,

que em seu real significado prático, extrapola o conceito da palavra.

Se quanto ao aspecto da formação de educadores há defasagens e necessidades

pedagógicas ainda não atendidas, por outro lado esse quadro reforça a preocupação de haver

iniciativas mais imediatas para superar essas deficiências e aproveitar o potencial existente,

mas ainda estancado no segmento dos educadores, iniciativas essas que sejam capazes de

dotá-los coletivamente à condição de sujeitos ecológicos críticos, função precípua cabível ao

papel de educadores inseridos em contextos socioambientais diversos, multifacetados e

complexos, mas que não podem prescindir da permanente e ativa atuação de educadores

ambientais comprometidos com a nobre função de educar para conscientizar e transformar.

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1.1 Justificativa

Este trabalho justifica-se por ir ao encontro de várias questões que estão em evidência

tanto na área educacional, em seus múltiplos aspectos, como também por conta da inserção

das mesmas no debate moderno das preocupações e demandas socioambientais que têm sido

cada vez mais relevantes, cabendo aos educadores um papel de notório destaque nesse cenário

a partir de perspectivas direcionadas para a importância de o processo educacional estar

voltado para a formação do sujeito ecológico.

Lidar com a questão ambiental tornou-se, em função da conjuntura do momento, uma

responsabilidade coletiva, na qual se deve incluir os educadores, a escola e todo o significado

que a sua função impõe como compromisso societário, histórico e de cidadania. Por isso ser

importante e necessário, é esperado que os mesmos assumam a condição de protagonista

nesse debate, não devendo esquivar-se dessa exigência enquanto imperativo ético-profissional

e compromisso social e político, ao contrário, assumindo-a com objetividade, embora devam

saber que a tarefa de educar não seja exclusividade a ser desempenhada somente pela escola.

Em função disso, é necessário que o educador se constitua de fato em um sujeito

ecológico, condição que para ser alcançada exige dele formação permanente a partir de

concepções críticas, transformadoras e de compromissos com a cidadania ambiental. Mas

considerando que há entre os educadores condições diferenciadas quanto à percepção que os

mesmos possuem em relação ao significado de seu papel e da educação ambiental, é

necessário conhecer o que eles realmente pensam e fazem sobre essas questões.

Assim, a razão de por que realizar uma pesquisa com os educadores ser uma forma de

obter informações a respeito deles e conhecê-los melhor, dando-lhes, inclusive, a

oportunidade de analisarem e avaliarem um material didático voltado para a formação desse

segmento na área de educação ambiental, e decorrente disso, interpretar essas informações

como forma de provocar transformações em vários aspectos, estas sempre a partir da práxis,

do debate dialético crítico e propositivo e da reciprocidade permanente.

O processo de formação de educadores voltado para a constituição do sujeito

ecológico é uma exigência emergencial e processual da educação ambiental crítica, que exige

o conhecimento da realidade para transformá-la, de forma a romper com a unanimidade

estabelecida pelo discurso hegemônico e dominante do senso comum, que contribui para

perpetuar o modelo de crise socioambiental. Assim, convém adotar sempre uma postura a

partir de uma orientação crítica e desmistificadora, sabendo da importância do conhecimento

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interagir com a realidade na qual os educadores estão inseridos, inclusive com o ambiente não

escolar.

Também é significativo notar que a educação ambiental não pode ser um amortecedor

da crise socioambiental, servindo para ignorar, negar, justificar ou atenuar o significado desta,

pelo contrário, é papel dela desvelar seus meandros e contribuir para sua superação. Quanto a

isso, cabe aos educadores ficarem permanentemente atentos, a fim de não legitimarem uma

situação que a eles é dada a função de conhecer, questionar e enfrentar.

O sujeito ecológico enquanto educador ambiental não pode ser caudatário e refém de

modismos, romantismos, aventuras inconsequentes e de incongruências em sua prática

educativa. Tampouco ele deve ter a pretensão de pontificar em sua função, pois, enquanto

protagonista do processo educacional, ele precisa conhecer e conviver com a pluralidade e as

vozes discordantes, uma vez que a própria educação ambiental crítica apresenta

indubitavelmente um caráter contestador, questionador e de abertura para o novo. Daí a

importância de a educação ambiental crítica extrair do pensamento pedagógico de Paulo

Freire as categorias ou concepções capazes de sustentar essas propostas, reinventado-as

continuamente, pois tanto o ato de educar quanto o de formação é uma construção histórica e

social, portanto, deve ser um processo dinâmico, preferencialmente enriquecido e

enriquecedor de cultura, conhecimento, sentido, compromisso, posturas e ações.

Para o educador, a escola como meio de formação deve se constituir como um espaço

para a abertura e construção do diverso. Daí a importância do discurso e da prática ambiental

serem mais permeáveis e devidamente assimilados por aqueles que se encontram no interior

da escola e no espaço social onde ela se encontra inserida, espaços esses quase sempre

envoltos por um turbilhão de problemas socioambientais que continuam se agravando. A

educabilidade de todos os que compõem esses espaços estará condicionada muito em conta ao

papel desempenhado pelo educador, por isso ser importante que o mesmo tenha uma

formação diferenciada para saber problematizar essas questões a partir da educação ambiental

crítica e com uma prática pedagógica comprometida com a inserção de todos e com a

transformação do contexto.

Por fim, é oportuno registrar o desejo de buscar por meio deste estudo e da pesquisa,

apesar de suas limitações, a totalidade e a compreensão de sua importância e significado, e

por meio dos seus possíveis desdobramentos, a possibilidade de aflorar e alcançar a ascensão

a uma outra cena socioambiental e educacional, com a mediação da educação ambiental

crítica, a favor da formação do sujeito ecológico, tendo como objetivo principal e inicial os

educadores.

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1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivo Geral

a) Dissertar sobre o significado, a necessidade e a viabilidade de elaboração e

aplicação permanente de um modelo de educação ambiental que seja caracterizada por

aspectos pedagógicos críticos e emancipatórios a partir da utilização de diversas categorias do

pensamento pedagógico do educador Paulo Freire, utilizando como recurso didático-

pedagógico na pesquisa com educadores, o estudo e a análise de um portfólio educativo

produzido com diversos textos, que objetiva contribuir como suporte teórico na formação do

educador como sujeito ecológico consciente, atento e atuante em sua área.

1.2.2 Objetivos Específicos

a) Elaborar um corpo teórico, fundamentado na leitura e no estudo de uma ampla

referência bibliográfica e teórica, que seja capaz de contribuir com a formação do cidadão e

sujeito ecológico, sobretudo dos educadores, tendo como perspectiva fundamentar estudos e

ações concretas a serem desenvolvidas pelos mesmos, possibilitando a sistematização e a

aplicação de uma educação ambiental, crítica, adequada e funcional, que favoreça o

surgimento e o exercício permanente do diálogo, de debates, da criticidade, da autonomia, da

práxis, da emancipação, da transformação social, entre outros aspectos necessários ao

contexto e ao conjunto dos envolvidos, considerando as particularidades e características

específicas do meio em que estiverem inseridos e diante das necessidades e dos desafios que

estão postos pelo momento atual, com sua realidade e complexidade.

b) Divulgar e contribuir com a contextualização da educação ambiental crítica, que

pode ser implementada por vários meios nos diversos ambientes, sobretudo o escolar, como

grupo de estudos, reuniões, debates, atividades de campo, etc., profundamente correlacionada

e interdependente com os diversos aspectos presentes no conjunto da sociedade, tais como o

político, o social, o econômico, o cultural, o histórico, o científico e tecnológico, o ético, o

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estético, entre outros, de forma a potencializar a formação de um ser humano que seja de fato

consciente e ativo no aspecto ambiental, considerando que ele se apresenta como sendo a

síntese das interações dinâmicas e contínuas entre esses vários aspectos em seu cotidiano;

c) Produzir, para o desenvolvimento do trabalho de pesquisa com educadores, um

portfólio sobre temáticas socioambientais e educacionais, com textos que abordem diversos

assuntos das respectivas áreas, fundamentados por uma ampla referência bibliográfica,

considerando as demandas existentes e identificadas, tanto as locais como as relacionadas

com os aspectos regionais, nacionais e globais, que será distribuído a profissionais da

educação (professores e pedagogos) para ser analisado, tendo o mesmo o objetivo e a função

de ser um recurso didático e pedagógico que possa contribuir como suporte para o

desenvolvimento de estudos e com o processo de informação e de formação continuada de

educadores e cidadãos ecologicamente conscientes e atuantes, aptos a desempenharem a

função de formadores diante das necessidades, exigências e complexidade da atual crise

socioambiental;

d) Realizar um levantamento de informações, para constatar, por meio de conversas,

debates, aplicação de questionário, entre outros meios possíveis e necessários, quais são as

concepções, demandas, carências, objetivos, características e necessidades apresentadas pelos

envolvidos na pesquisa em relação aos aspectos relacionados à sua formação na área de

educação ambiental crítica que tenha como objetivo a formação permanente tanto de

educadores como de educandos.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 A questão ambiental e a educação ambiental como processo formador

2.1.1 A questão ambiental em evidência em um cenário de c rise e adversidade

A questão ambiental tem sido nas últimas décadas um tema de ampla abordagem, com

notável destaque no cenário mundial, principalmente a partir dos últimos anos, devido o

agravamento da crise socioambiental sem precedentes que se apresenta em nível planetário.

Pode-se definir a crise socioambiental atualmente existente, em termos mais simples e

objetivos, como sendo um processo histórico, cumulativo e crescente no interior do modelo

civilizatório em voga, caracterizado por sucessivos desequilíbrios, desordens, antagonismos,

incorreções e desvios generalizados, ocorridos nas várias áreas com profundos, significativos

e complexos desdobramentos que se tornaram relevantes, evidentes, incompatíveis,

ameaçadores e imprevisíveis, a partir, sobretudo, das últimas décadas, sem que tenha havido,

até o momento, qualquer perspectiva de superação prática e consensual, ou ao menos, de

minimização de seus efeitos deletérios a toda humanidade e ao planeta Terra como um todo.

Essa crise socioambiental “é apenas uma faceta de uma crise mais ampla que envolve

nossa sociedade” (BRÜGGER, 2004, p. 17), que se manifesta de diferentes formas, não

poupando nenhuma região do planeta, povo e país, ainda que possa ocorrer em graus

diferenciados de intensidade, ameaças, gravidade e consequências para os que por ela são

atingidos e se tornam vítimas.

E se por algum tempo, houve indiferença ao que estava ocorrendo, havendo inclusive

uma procrastinação na busca de entender suas causas e consequências e na tomada de

iniciativas reais e objetivas a fim de evitar que ocorresse um agravamento no quadro da crise,

os sinais e ameaças que dela agora surgem “podem acarretar o fim das condições de

sustentabilidade da vida – especialmente a humana” (VASCONCELLOS; LOUREIRO;

QUEIROZ, 2010, p. 2) e devem levar obrigatoriamente a uma mudança de posição por parte

dos que têm a responsabilidade direta em lidar com essa situação.

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Como parte desse processo, torna-se necessário e urgente alcançar meios de enfrentar

esse problema, que tende a agravar crescentemente o já atual quadro de imprevisíveis

resultados para o planeta Terra, incluindo toda a humanidade, notadamente as populações

historicamente mais empobrecidas, vítimas permanentes das injustiças, das vulnerabilidades,

dos conflitos e dos riscos ambientais (LAYRARGUES, 2002, 2009), além de se constituir em

uma ameaça aos diversos e importantes ambientes naturais e à existência das inúmeras e

variadas formas de vida que evoluíram ao longo do tempo, sendo muitas delas raras, mas

fundamentais para os ambientes onde se encontram e ainda não conhecidas pela ciência.

O ser humano, por meio de suas várias ações nefastas e cumulativas, vem

demonstrando ser historicamente o único responsável pelo fortalecimento e agravamento

dessa crise, que se sustenta em complexas questões já estruturadas, fortes ideologias

antiecológicas e desumanas e em um processo civilizatório e societário que já não consegue

impedir que novos e incômodos desdobramentos de crises cíclicas cada vez mais amplas e

diversificadas ocorram frequentemente, conforme vários autores já abordaram (WILSON,

2008; DIAMOND, 2007; HOBSBAWM, 2008; MINC, 1998; SANTOS, 2008; BOFF, 2002,

2008, 2009; LEFF, 2006, 2007; PORTO-GONÇALVES, 2004, 2006; LOVELOCK, 2006,

2010; SAGAN, 2008; KEMPF, 2010).

É consenso por parte de muitos pensadores, estudiosos, cientistas e por diversos

militantes e representantes dos vários segmentos do movimento social e de Organizações

Não-Governamentais (ONGs) que a construção de alternativas para superar, ou ao menos

minimizar, os inúmeros problemas socioambientais do momento, deverá necessariamente

considerar e envolver as mais diversas áreas do conhecimento e dos diversos setores

presentes nas mais diferentes sociedades.

Tendo em vista que a crise socioambiental já alcançou uma dimensão planetária, não

havendo mais como qualquer segmento (governamental, político, empresarial, científico,

sociedade organizada, meios de comunicação, etc.) se eximir de responsabilidades na busca

de soluções concretas, funcionais e mais imediatas, já que “pensar a gravidade do tempo em

que vivemos, é pensar também as possibilidades de sua superação” (UNGER, 2009, p. 152),

incluindo o envolvimento de amplos setores da sociedade, urge entendê-la em sua totalidade.

Convém reforçar que em função da amplitude, seriedade e complexidade dessa crise

socioambiental e considerando as inúmeras dificuldades já conhecidas e as que ainda estão

por surgir em todos os aspectos, a possibilidade de superação da crise, incluindo suas causas e

consequências, em um curto espaço de tempo, é inexistente, “pois é uma crise de paradigmas

civilizatórios” (GADOTTI, 2007, p. 191), o que também significa dizer “uma crise da razão,

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do pensamento, do conhecimento” (LEFF, 2009, p. 18), e ainda “estrutural e generalizada”

(GAUDIANO; KATRA, 2009, p. 54), “e cada vez mais, uma crise mais profunda, que

envolve um paradigma, um projeto de mundo e um modelo de sociedade que emergiu a partir

desse paradigma e desse específico projeto de mundo” (BRÜGGER, 2006, p 77), que para ser

assimilada, enfrentada e superada, demanda tempo e a elaboração de novas concepções e

projetos de vida, de mundo e de sociedade pelo conjunto da humanidade.

Assim, a mesma deverá ser vista como parte de um longo e árduo processo ativo,

contínuo e transformador a ser constituído pela humanidade, incluindo aí vários atores das

inúmeras áreas, pois como se sabe, a crise atualmente existente não é somente limitada ao

aspecto naturalista, mas comporta diversas áreas, com interesses, significados, realidades e

riscos diversos.

Partindo desse contexto e sabendo que o ser humano é um sujeito que se encontra

histórica e socialmente situado em uma realidade dinâmica de múltiplas facetas e em

permanente processo de formação de seu ser, em sua evolução biológica e cultural, na

construção de sua história e por meio de sua ação concreta sobre o meio, transformando-o e

sendo transformado por ele, podendo ocorrer avanços e retrocessos em todas as áreas em

função de suas ações ao longo do tempo, deve-se reconhecer que “sua capacidade de intervir

na situação está na dependência do grau de consciência que possui da situação” (SAVIANI,

2004, p. 64), sem o qual pouco adiantará qualquer iniciativa, ainda que bem-intencionada e

necessária.

Considerando o que acima foi exposto, cabe ressaltar a necessidade de, por meio de

um processo educacional - que também se concretiza ao longo da história e se insere

socialmente -, buscar meios de formar um novo ser humano em seu jeito de pensar e de agir

em sociedade e em relação ao meio ambiente, tendo uma perspectiva de superação de um

processo de acúmulo histórico de irracionalidades e degradação ambiental, pois as mesmas

têm sido contínuas e perturbadoras do equilíbrio ecológico e socioambiental do planeta,

acarretando imensos e significativos prejuízos à vida e ao planeta Terra como nunca antes

ocorridos.

2.1.2 A educação como meio de formação do ser humano

A educação é um processo que pode ocorrer em um determinado contexto e que

possibilita às pessoas que a ela têm acesso a oportunidade de serem portadoras dos mais

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diversos conhecimentos, dos saberes e das inúmeras informações sobre os mais variados

assuntos que ao longo da história vêm sendo produzidos e disponibilizados pelos inúmeros

meios. Percebe-se que “a educação acontece como parte da ação humana de transformar a

natureza em cultura, atribuindo-lhe sentidos, trazendo-a para o campo da compreensão e da

experiência humana e estar no mundo e participar da vida” (CARVALHO, 2004, p. 77). A

partir disso, entende-se que a relação entre cultura e natureza é permanente, mas não

dicotômica e dualista.

Como uma construção humana, o processo educativo tem a função formativa e está

sujeito às características e vicissitudes do meio onde é sistematizado e desenvolvido. Assim,

as concepções e as práticas educativas existentes seguem a lógica das condições nas quais

foram sendo elaboradas, de acordo com os contextos históricos, políticos, econômicos,

culturais, científicos e tecnológicos, entre tantos outros existentes e possíveis em determinado

espaço e tempo. E isso sinaliza para a necessidade de considerar, sobretudo tendo em vista a

mediação da educação ambiental crítica nesse processo de formação, que:

O processo educativo deveria ajudar os sujeitos a perceber que há determinantes (econômicos, políticos, etc.) exercendo influências na formação, agravamento e também no encaminhamento de soluções para os problemas ambientais – evitando, assim, a construção de uma visão ingênua sobre a realidade (MANZOCHI; CARVALHO, 2008, p. 108).

E é justamente pela necessidade de considerar toda essa complexidade e abrangência,

que a educação como possibilidade e potencialidade de formação de um novo ser humano

extrapola o ambiente físico da escola bem como o trabalho escolar.

Educação de fato, é mais do que escolarização, ainda que esta possa fazer parte do

processo educacional. Por isso ela pode ocorrer em vários lugares, como no seio familiar, nas

mais diferentes atividades do sindicato, na mobilização da associação de moradores, nos

trabalhos de muitas organizações não-governamentais sérias e comprometidas, nas iniciativas

de formação política da militância de partidos críticos e progressistas, mediante os meios

eletrônicos e tecnológicos modernos, entre tantos outros espaços e meios possíveis.

Com essas múltiplas possibilidades de efetuar a prática educacional, o ato de educar

em si que se propõe crítico e comprometido com a formação plena do ser humano e com as

transformações sociais necessárias deve reconhecer as particularidades presentes na

diversidade cultural humana e nos diferentes espaços onde ela existe, sabendo identificar

neles aspectos diferenciados que se constituem em pluralidade e riquezas do ser humano,

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evitando assim cometer equívocos muito comuns por parte de vários educadores, como a

invasão cultural (FREIRE, 1992, 2009). A possibilidade de educar para essa diversidade

torna-se um imperativo, daí a importância de saber reconhecer as várias maneiras de ocorrer o

processo educacional nos vários espaços e tempos existentes.

Diante disso, tendo como adequadas a iniciativa, a postura e a necessidade de não se

impor nenhum padrão único de prática educativa em função da existência de diferentes

realidades que necessitam de abordagens também diferentes, convém então considerar a

flexibilidade no ato de “educar para outros mundos possíveis” (GADOTTI, 2007, p. 188),

também como condição para que o significado do ato educativo de fato possa justificar-se

enquanto possibilidade de potencializar a formação do ser humano diante das exigências cada

vez maiores nos tempos atuais.

É certo que a educação deve servir para a promoção do ser humano (SAVIANI, 2004),

capaz de transformá-lo em um sujeito crítico, reflexivo, livre, emancipado e atuante em seu

meio, buscando assim a construção de uma sociedade e de um mundo sempre melhores em

todos os aspectos e sentidos. E hoje, mais do que nunca, há necessidade urgente de se

promover uma educação que possa cuidar e preparar verdadeiramente o ser humano para

torná-lo consciente, de fato, de sua existência, do que isso significa e de sua historicidade.

E é principalmente por meio da educação que se deve buscar a formação plena e

contínua do indivíduo, considerando que “educar é substantivamente formar” (FREIRE, 2005,

p. 33) a fim de dotá-lo da capacidade de intervir no meio onde se encontra inserido, em uma

relação contínua por meio da práxis (ação-reflexão, teoria-prática), superando a passividade e

a alienação, que o impedem de se tornar um sujeito verdadeiramente histórico e emancipado,

pois “educar é emancipar a humanidade, criar estados de liberdade diante das condições que

nos colocarmos no processo histórico e propiciar alternativas para irmos além de tais

condições” (LOUREIRO, 2005, p. 1484). Por isso que o significado e o sentido do ato

educacional é muito mais do que simplesmente o ato de alfabetizar em uma sala de aula, pois

somente esta condição, ainda que ela seja de fundamental importância e imprescindível, não é

suficiente para a inserção das pessoas como sujeitos ativos e emancipados no conjunto da

sociedade.

A educação, para que seja avançada sob o ponto de vista da formação das pessoas,

precisa verdadeiramente contemplar as múltiplas questões que se fazem presentes no

cotidiano delas, abordando temas importantes e diversificados, como partes do mundo

concreto e real no qual todas vivem. Dessa forma, o processo educativo deverá contribuir

enormemente com a construção e a disseminação do saber e do conhecimento e na

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assimilação crítica das informações, condições necessárias para a formação e o exercício da

cidadania plena.

E nesse caso, vale citar a necessidade de uma formação voltada para a consciência e o

exercício específico da cidadania ambiental, que apresenta particularidades de grande

importância no mundo atual diante de um contexto tomado e caracterizado por complexas

questões socioambientais que estão a exigir das pessoas um mínimo de conhecimento e de

ação concreta alternativa.

A educação é um processo que não pode ser concebido e encarado de forma

descontextualizada das circunstâncias e da realidade onde se encontra inserida, independente

das condições dessa realidade serem ou não favoráveis, a saber:

O processo educativo não é um processo neutro e objetivo, destituído de valores, interesses e ideologias. Ao contrário, é uma construção social repleta de subjetividade, de escolas valorativas e de vontades políticas dotado de uma especial relevância social por sua capacidade de reproduzir ou transformar a ordem social. Assume, portanto, uma função estratégica por estar diretamente envolvida na socialização e formação dos indivíduos e de sua identidade social e cultural (LIMA, 2009, p. 152).

O desafio da educação que seja de fato comprometida com a formação e com a

melhoria das pessoas e com a ação crítica transformadora voltada para a construção de uma

sociedade melhor em todos os seus aspectos, é de ser justamente um contraponto a todas as

condições e fatores que impedem que isso aconteça, tornado-se um meio de denúncia e de

resistência a tudo aquilo que se mostra inadequado para o crescimento do ser humano, à vida

e ao conjunto da sociedade, e, ao mesmo tempo, ser anúncio, alternativa e suporte para a

concretização do novo, do necessário, do diferente e do melhor, “afinal de contas, a prática

educacional tem como objetivo central fazer avançar a capacidade de compreender e intervir

na realidade para além do estágio presente, gerando autonomia e humanização”

(CORTELLA, 2009, p. 102-103), aspectos tão necessários à formação plena do ser humano.

Por isso, é necessário ter a devida precaução com os discursos e com as propostas

provenientes da educação conservadora (GENTILI, 2005), esta podendo ser entendida como

sendo a concepção e a prática educativa caracterizadas e comprometidas apenas com a

hegemonia, os ideários e pressupostos elitistas, com a legitimação dos interesses do capital,

com a adesão acrítica à ordem estabelecida, e sua consequente reprodução, com o discurso da

neutralidade da educação e da ciência, refém do senso comum estabelecido (SAVIANI, 2003;

FRIGOTTO, 2001; GADOTTI, 2008), apenas preocupada com propostas pedagógicas

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voltadas para a transmissão de conteúdos, que “se parece mais com uma forma de

adestramento, disciplinarização, treinamento e docilização dos indivíduos” (ORSO, 2008, p.

51), direcionada para a formação de mão-de-obra para o mercado, e sempre se posicionando

“para produzir tanta conformidade ou “consenso” quanto for capaz, a partir de dentro e por

meio dos seus próprios limites institucionalizados e legalmente sancionados” (MÉSZÁROS,

2005, p. 45). Em função disso, também deve haver por parte dos educadores críticos e

comprometidos a devida atenção em identificar e conhecer o que é continuamente proposto

pelos teóricos e representantes desse modelo educativo.

Daí a necessidade de o processo educacional transformador ser dotado da capacidade

permanente de se posicionar criticamente e de desmistificar e superar as posturas pedagógicas

consideradas conservadoras e atrasadas, que somente servem para reproduzir esse modelo de

sociedade que tem sido, dentre tantas outras coisas, profundamente antiecológico, alienante e

desumano, podendo adotar como contraponto a esse quadro, o recurso do pensamento e da

produção pedagógica crítica, revolucionários e comprometidos com a formação de um ser

humano elevado em todos os sentidos e por um mundo melhor.

Também é papel da educação realmente comprometida com mudanças significativas,

procurar desenvolver e potencializar a prática da análise e da reflexão, pois “somente a

educação que parte da reflexão, do crescimento em consciência, pode ser uma educação

verdadeiramente libertadora” (GUARESCHI, 2005, p. 26), sobretudo diante das verdades

apresentadas como sendo definitivas e dos pensamentos monolíticos, estes muito comuns em

vários locais, com destaque em muitos espaços escolares, e por muitos meios, mas que não

contribuem para construção da consciência crítica e social, com a libertação do ser humano

das amarras que o prendem e o mantêm tolhido em condições de atraso, impedindo-o de ter

ações concretas e objetivas capazes de emancipá-lo historicamente.

Igualmente, é função da educação libertadora se insurgir e superar os falsos consensos

no campo da formação, da elaboração e da assimilação do conhecimento, das informações e

dos saberes, que frequentemente são estabelecidos por e a favor de alguns em detrimento do

que interessa à maioria e ao bem comum. Além disso, a educação deve se posicionar

contrariamente às condições de alienação, de injustiças, de atrasos, de ameaças a toda forma

de vida e à dignidade das pessoas, condições estas que em muitas circunstâncias, se

estabelecem mediadas e fortalecidas pelo próprio processo educativo conservador praticado

pelos que temem a pluralidade e a emancipação da população.

A educação “não transforma o mundo, transforma as pessoas e estas transformam o

mundo” (BATISTA, 2007, p. 170-171), portanto, a mesma deve ser um suporte para o ser

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humano ver e encarar o mundo com novos e diferentes olhares, significados, perspectivas,

conhecendo-o melhor e se sentindo como parte dele e, mais do que isso, assumindo a

responsabilidade por ele, mas também com e pelos que estão nele, que significa dizer não

apenas o ser humano, mas todas as formas de vida e de relações estabelecidas entre elas.

Por certo, a educação de fato crítica, formativa e transformadora precisa ser uma base

de apoio, de fundamentos teóricos e práticos consolidados e coerentes, e se comprometer

verdadeiramente e das diferentes formas, com todos aqueles que se organizam e se esforçam

continuamente para a construção de uma outra realidade e de um novo ser humano, que seja a

melhor para todos e para o meio onde estão inseridos nos mais diferentes sentidos, conforme

Carvalho (2006) expõe:

A ideia de mudanças radicais abarca não apenas uma nova sociedade, mas também um novo sujeito da educação, que se vê como parte dessa mudança societária e a compreende como uma revolução de corpo e alma, ou seja, uma reconstrução do mundo, incluindo o mundo interno e os estilos de vida pessoal (CARVALHO, 2006, p. 314).

Tudo isso reforça a posição da não neutralidade da educação, embora, mesmo sabendo

que há entre educadores, os que defendem o contrário, consequência de uma postura e de uma

formação não reflexiva e tampouco crítica e aprofundada.

Construir uma educação de fato diferente e capaz de ser profunda e amplamente

inserida na realidade do cotidiano das pessoas, com perfil, formativo, funcional, plural,

humanista e crítico, entre tantas outras possibilidades, é ter que se arriscar diante das

condições adversas, ser capaz de criar mecanismos para superar conceitos, ideias, princípios,

convicções, hábitos e posturas que se apresentam ultrapassados, descontextualizados e

enviesados, mas já muito estruturados, cristalizados e influentes o suficiente para dificultar ou

impedir que o processo de formação de sujeitos pensantes, críticos e atuantes possa ocorrer.

Dessa forma, o significado de educar é muito profundo e pertinente, pois é a partir do

ato educativo crítico, dialógico, plural, participativo e contestador que se poderá promover a

formação do sujeito ecológico (CARVALHO, 2004), voltado para a construção e o exercício

contínuo e significativo da cidadania plena, sobretudo em um mundo socioambientalmente

desequilibrado, injusto e cada vez mais degradado em vários sentidos por conta das nefastas

ações humanas.

Nesse sentido, o ato de educar deve está voltado “para conscientizar, para desalienar,

para desfetichizar (...), para a ruptura, para a rebeldia, para a recusa, para dizer “não”, para

gritar, para sonhar com outros mundos possíveis” (GADOTTI, 2007, p. 189), havendo por

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isso a necessidade de fazer dele um gesto generoso, valioso e necessário, principalmente para

os que ainda não tiveram a percepção de seu profundo significado e importância no cotidiano

das pessoas e da sociedade.

O papel da educação comprometida com a formação e a emancipação do ser humano,

com a valorização da vida e com um futuro melhor para todas as sociedades e culturas se

torna ainda mais valioso e necessário diante da crise socioambiental que já é concreta e

perceptível em praticamente todos os lugares, com o agravante de se caracterizar por

imprevisíveis consequências ao longo do tempo.

E quanto a isso, sempre é necessário considerar que “a preservação do meio ambiente

depende de uma consciência ecológica, e a formação da consciência depende da educação”

(GADOTTI, 2004, p. 405), o que coloca a educação crítica e transformadora em um ponto de

destaque no que diz respeito ao seu caráter formativo em relação ao desafio de construir essa

consciência, que precisa ser simultaneamente individual e coletiva, local e global, enfim,

planetária, mas cada vez mais urgente.

Posto que “a educação visa o homem; na verdade, que sentido terá a educação se ela

não estiver voltada para a promoção do homem?” (SAVIANI, 2004, p. 35), torna-se factível

que ela esteja voltada para a formação plena do ser humano em todas as suas potencialidades,

mas considerando as inúmeras possibilidades de ocorrerem progressos/retrocessos,

acertos/erros, crescimento/estagnação, entre tantas outras opções.

2.1.3 Os limites do processo educativo

O ser humano, em suas múltiplas e complexas dimensões, necessita continuamente,

sobretudo nos dias atuais, dos benefícios advindos do processo educativo crítico e

transformador contínuo, formal ou não, pois o mesmo possibilita a formação do ser humano

enquanto cidadão e sujeito histórico, tendo como certo que “em qualquer processo pedagógico

os atores são diversos e múltiplos, carregando dentro de si representações que foram, e

continuam sendo construídas a partir de inúmeras relações e experiências” (BARCHI, 2009,

p. 75). Logo, há necessidade de uma maior atenção a esses aspectos, pois os mesmos podem

se constituir em fatores determinantes para um melhor ou não aproveitamento da prática

educativa.

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Mas uma ressalva é pertinente fazer. A educação, por mais necessária e importante que

seja em qualquer circunstância, não pode ser vista e entendida como sendo o caminho único e

a redentora de todos os males e atrasos existentes nas mais diferentes sociedades, pois seria

ingenuidade não associar a educação existente com o contexto no qual ela está inserida e suas

múltiplas facetas e possibilidades, favoráveis ou não. Nesse sentido, “é idealismo ingênuo e

simplista creditar à educação a “salvação do planeta”” (LOUREIRO, 2004, p. 97). Essa

postura, quando estabelecida como consenso, contribui enormemente para impedir que o

entendimento das reais possibilidades da educação seja de fato conhecido e utilizado

adequadamente, pois o torna caudatário de interesses, posturas e concepções inadequadas,

fantasiosas e contraproducentes.

Os vários problemas existentes na sociedade, que têm causas estruturais e conjunturais

as mais diversas, inclusive as relacionadas com as questões ambientais do momento e com as

condições humanas em sociedade, e também no que diz respeito à sua formação plena

enquanto sujeito complexo, dadas sua amplitude e significado, exigem a participação,

intervenção e a mediação de outras áreas.

Também são necessários outros meios e recursos formativos que vão além dos

utilizados pela natureza da prática educacional, sobretudo daqueles produzidos a partir dos

espaços e tempos escolares formais, mesmo por mais eficientes que eles sejam no aspecto

funcional, pois não conseguem contemplar satisfatoriamente a totalidade das questões que

envolvem a sociedade.

Quando se pensa na formação do ser humano enquanto sujeito crítico, atento e atuante,

é sempre valioso perceber as limitações e até mesmo os desvios de propósitos, intencionais ou

não, existentes no ato educativo, que sob muitas circunstâncias, podem anular ou

descaracterizar o que a prática educacional autêntica e crítica poderia fazer ao longo do

tempo.

Também convém ressaltar a necessidade de considerar a importância e a validade de

outros meios e áreas que influenciam decisivamente os rumos da sociedade, como a política, a

economia, os meios de comunicação de massa, a ciência, a religião, a sociedade civil

organizada, e o tipo de ser humano existente nela, fatores esses de notável significado no

contexto atual.

Ter de forma clara o entendimento das limitações da educação enquanto meio e

caminho de possibilidade no processo de formação do ser humano e de construção de uma

sociedade que seja melhor nos seus mais diferentes aspectos, é uma condição para todos

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aqueles que se empenham em elaborar propostas e práticas que objetivem a formação

contínua do cidadão e sujeito ecológico em um mundo tomado por constantes desafios.

Além disso, é uma forma de evitar os extremos opostos do otimismo ingênuo, que

“atribui à Escola uma missão salvífica, ou seja, ela teria um caráter messiânico”

(CORTELLA, 2009, p. 110) e/ou o pessimismo ingênuo, que segundo o mesmo autor,

“defende a ideia de que a função da Escola é a de reprodutora da desigualdade social, com um

caráter dominador” (CORTELLA, 2009, p. 112). Dessa forma, ainda que seja necessário

entender as limitações da educação, tanto na formação dos sujeitos quanto para a colaboração

na construção de uma nova sociedade em sua plenitude, não se deve adotar e aceitar,

sobretudo acriticamente, a postura de ilusão ou de rendição que as condições acima citadas

apresentam, pois ambas se posicionam ao mesmo tempo em extremos opostos e não

contribuem para uma leitura real do verdadeiro papel e possibilidade da educação a favor do

ser humano e do tecido social.

Entender que a educação, sozinha, não pode tudo, é tão importante como também

entender que sem ela não haverá qualquer possibilidade de avanço na busca de superação

dessa forte crise socioambiental estabelecida, “daí surge o desafio dos processos educativos

de contribuir para reverter tal situação” (GAUDIANO; KATRA, 2009, p. 54), sendo para isso

necessária uma postura livre de condicionamentos míticos e antidialógicos e com mais

capacidade de análise, reflexão e criticidade. Dessa forma, a educação deve contribuir como

mediadora, mas nunca como a única forma de alcançar, sobretudo isoladamente, qualquer

avanço significativo e contínuo no conjunto da sociedade.

2.2 Educação ambiental crítica

Dentro das várias correntes e abordagens existentes sobre o pensamento ambiental e

sobre educação ambiental, inclui-se a que concebe a educação ambiental crítica como sendo

aquela que mais próxima esteja de contribuir com a análise e a formação de uma visão mais

profunda, ampla, realista e propositiva do assunto.

As definições possíveis sobre o que seja educação ambiental crítica são várias, pois

elas contemplam múltiplas possibilidades e visões, podendo haver entendimentos

diversificados sobre os seus significados, mas buscam convergir em muitos pontos, sobretudo

naqueles que se diferenciam de leituras e entendimentos conservadores do que seja educação

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ambiental e meio ambiente ainda muito em voga e com forte penetração em vários setores da

sociedade.

De acordo com Avanzi:

Não é nova a discussão a respeito daquilo que se camufla sob um consenso construído em torno de uma identidade chamada “educação ambiental” – uma diversidade de posturas educacionais, metodológicas e conceituais, além de posturas políticas e ideológicas de diversos matizes (AVANZI, 2007, p. 171).

Por isso, a educação ambiental crítica pode ser definida e caracterizada como:

a) um processo teórico, prático e pedagógico, com objetivo formativo, voltado para a

conscientização e mobilização do sujeito, a partir de concepções críticas, pertinentes,

emancipatórias e transformadoras, de forma ampla e profunda, que estejam comprometidas

com uma abordagem que englobe e contextualize as questões de todas as áreas (política,

econômica, social, cultural, histórica, antropológica, filosófica, científica e tecnológica,

estética, moral, ética, etc.);

b) a construção do conhecimento e a elevação intelectual das pessoas;

c) a formação de valores, ideias, hábitos, atitudes, comportamentos e projetos

fundamentados na consciência crítica, na ética e no humanismo;

d) com o empoderamento consciente e comprometido das pessoas (coletividade);

e) a leitura do mundo real, almejando ações que possam implementar a inserção e a

cidadania plena e planetária;

f) pelo comprometimento com a democracia, a justiça social, a liberdade e a paz;

g) em prol de toda forma de desenvolvimento equilibrado e justo;

h) a favor da proteção da vida como um todo;

i) com a construção de um mundo melhor em todos os aspectos.

Essa visão de elaboração de uma educação ambiental crítica, emancipatória ou

transformadora é um contraponto ao modelo de educação ambiental conservador ou

comportamentalista, que pauta suas elaborações e ações em aspectos mais individualistas,

naturalistas, pontuais, ocasionais, apolíticos, atemporais e, em alguns casos, até mesmo muito

românticos, mas completamente descontextualizados da realidade.

Conforme muito bem comparam Loureiro (2005), Jacobi (2005) e Lima (2009), é

recomendável saber distinguir as características e a natureza dessas formas de entendimento

da educação ambiental, até mesmo para evitar que ocorram deturpações e desvios na

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formulação e implementação de práticas educativas que tenham o objetivo de construir

propostas de conscientização e ações continuadas no campo da formação.

Somente se justifica uma educação ambiental crítica como forma de contribuir com

essa proposta em função da necessidade de superar as demandas socioambientais que há

muito tempo exigem soluções, que até então, pelo modelo educacional e formativo tradicional

adotado, não foram superadas, pois o mesmo, caracterizado por uma postura conservadora em

suas abordagens, acabou por legitimar tal situação. Dessa forma:

A Educação Ambiental transformadora é aquela que possui um conteúdo emancipatório, em que a dialética entre forma e conteúdo se realiza de tal maneira que as alterações da atividade humana, vinculadas ao fazer educativo, impliquem mudanças individuais e coletivas, locais e globais, estruturais e conjunturais, econômicas e culturais (LOUREIRO, 2004, p. 89).

Para Sorrentino e outros (2005), “a educação ambiental trata de uma mudança de

paradigma que implica tanto uma revolução científica quanto política” (p. 287), sugerindo

entender que ela deve extrapolar os espaços escolares, se constituindo assim em um campo de

atuação profundamente imbuído de propostas capazes de sinalizar mudanças profundas e

transformadoras para as pessoas e a sociedade, e seguindo nessa linha de raciocínio até

mesmo para reforçá-lo, entende-se que “a educação ambiental elimina fronteiras entre escola

e comunidade, ao tomar como eixo do trabalho pedagógico a problemática socioambiental”

(JACOBI; TRISTÃO; FRANCO, 2009, p. 70), clareando dessa forma a ampla atribuição que

à educação ambiental crítica é dada.

O alcance dessa atuação passa por todas as áreas, não apenas pela educação escolar ou

pelos aspectos e questões mais próximos da concepção mais estrita do que seja meio

ambiente, mas tendo uma perspectiva de transversalidade que possa superar, e muito, os

conceitos conservadores de educação e meio ambiente, e vale sempre reforçar, ainda muito

vigorosos e predominantes, que foram estabelecidos paulatinamente pelo senso comum, mas

que no momento já não satisfazem mais diante do que é exigido e necessário para promover

qualquer tipo de mudança significativa.

Não há dúvida que o significado e o compromisso a ser verdadeiramente assumido

pela educação ambiental crítica pressupõe uma outra percepção de mundo – ter visões de

mundo (BOER; MORAES, 2006), das coisas, dos valores estabelecidos nas diferentes

sociedades, do significado concreto e libertador do ato de educar e de formar-se, de construir

consciência individual e coletiva, de possibilitar uma práxis que possa remeter e balizar

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mudanças em todos os aspectos no cotidiano da sociedade, capazes de alimentar

transformações, não superficiais e elementares, mas com profundidade e significado.

Por meio da educação ambiental crítica, é preciso desconstruir certos padrões e

posturas adotados por esse modelo societário, que cada vez mais tem se mostrado desumano e

antiecológico, devendo apresentar, “portanto, um caráter formador, que favorece a

compreensão e desvela as determinações da realidade humana, de forma a reconstruir em si

valores de civilidade e humanidade construídos historicamente” (JANKE; TOZONI-REIS,

2008, p. 148). Dessa forma, pela necessidade do momento exigir uma alternativa, os

pressupostos da educação ambiental crítica precisam se colocar na contramão de muitos

aspectos estruturais apresentados pela modernidade atual e o que eles significam e promovem

de concreto para a civilização.

Na ação educativa e formativa do ser humano, a educação ambiental crítica é vista por

muitos como um importante processo denunciador da cultura antiecológica do mundo

moderno e anunciador de uma prática imprescindível para a construção de um novo tempo

civilizatório, societário, humanitário e ambiental, considerando que “enquanto dimensão

fundamental da educação contemporânea contribui para a construção crítica do conhecimento

transformador da realidade socioambiental” (CARNEIRO, 2006, p. 27) do tempo presente.

Esta realidade, por sua vez, convém muito reforçar, tem se apresentado cada vez mais

de forma explícita e ameaçadora, com aspectos mais complicados e graves, apesar da

existência de inúmeras possibilidades de acesso a informações e conhecimentos, exigindo

dessa forma uma capacidade de intervenção que seja imediata.

Em função das necessidades, particularidades e constantes transformações concretas e

observáveis nesse universo amplo, complexo e profundo que é a sociedade humana atual e

com tudo que ela significa, a educação ambiental crítica passa a ser, sem dúvida alguma, um

instrumento útil, de intervenção no conjunto da sociedade, envolvente, desafiador e cada vez

mais crescente nesse debate que ainda não se aprofundou nem se ampliou o suficiente para

acarretar mudanças significativas na formação das pessoas.

Conforme a definição de Loureiro:

A Educação Ambiental é uma práxis educativa e social que tem por finalidade a construção de valores, conceitos, habilidades e atitudes que possibilitem o entendimento da realidade de vida e a atuação lúcida e responsável de atores sociais individuais e coletivos no ambiente. Nesse sentido, contribui para a tentativa de implementação de um padrão civilizacional e societário distinto do vigente, pautado numa nova ética da relação sociedade-natureza. Dessa forma, para a real transformação do quadro de crise estrutural e conjuntural em que vivemos, a Educação Ambiental, por definição, é elemento estratégico na formação de ampla

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consciência crítica das relações sociais e de produção que situam a inserção humana na natureza (LOUREIRO, 2002, p. 69).

Ora, qualquer processo educativo comprometido com novas perspectivas formadoras e

transformadoras, e no caso aqui explicitado, voltado para a formação do ser humano em

relação à questão ambiental, necessita desvelar as limitações, superficialidades e

fragmentações das informações, dos conhecimentos, dos discursos e das ações e,

simultaneamente, desarmar as armadilhas que estão postas, muitos comuns e ao mesmo tempo

quase imperceptíveis, mas capazes de comprometer a efetividade de uma educação que seja

de fato construtiva e transformadora, considerando, inclusive, que “o desenvolvimento de

uma educação ambiental crítica demanda, fundamentalmente, a formação inicial e continuada

de educadores, sob perspectiva interdisciplinar” (CARNEIRO, 2006, p. 31), não por

modismo, mas como uma necessidade da natureza do processo pedagógico e mesmo da

conjuntura socioambiental existente.

Dessa forma, uma educação ambiental que seja de fato ampla e profundamente

alicerçada em princípios, informações, conhecimentos, ideários, compromissos e perspectivas

de minimização ou de superação do atual cenário de crise socioambiental e civilizatória que

predomina no mundo, deverá ter essa percepção e proposta.

Daí a necessidade de uma preocupação com o aspecto da formação permanente dos

educadores e das pessoas, missão que se faz inadiável, sobretudo em relação às novas

gerações, conforme Jacobi, Martha e Franco (2009) reforçam:

As práticas educativas ambientalmente sustentáveis nos apontam para propostas pedagógicas centradas na criticidade e na emancipação dos sujeitos, com vistas à mudança de comportamento e atitudes, ao desenvolvimento da organização social e da participação coletiva (JACOBI, TRISTÃO e FRANCO, 2009, p. 67).

Logo, assimilar as possibilidades e limites existentes no horizonte dessa questão, exige

de todos os que com ela estiverem envolvidos, uma atenção permanente, aberta e vigilante,

sem a qual os riscos de ocorrerem iniciativas fracassadas serão maiores, pois nem sempre o

que surge como novo e necessário é devidamente assimilado e aceito como tal, mesmo que

não se queira com isso promover alterações abruptas.

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2.3 O pensamento pedagógico de Paulo Freire

2.3.1 A contribuição de Paulo Freire para a educação ambi ental crítica

Dada a existência de uma crise socioambiental sem precedentes que se agrava no

mundo atual, cada vez mais se torna necessária a elaboração e a implementação imediata de

um corpo teórico, projetos, programas, atividades e atitudes que visem contribuir com o

processo de formação plena e contínua do cidadão ecológico, que convém ressaltar, para que

de fato se concretize, exige-se um amplo e profundo conjunto de elaborações teóricas e de

ações que se constituam em uma práxis afirmativa e alternativa em prol desse objetivo.

Ora, considerando a importância da educação ambiental crítica nesse contexto, uma

vez que ela tenha um caráter progressista, dinâmico, crítico, emancipatório e transformador, a

mesma poderá ser instrumento permanente a ser utilizado na formação do sujeito ecológico

(CARVALHO, 2004), este tão necessário para o século vinte e um.

A educação ambiental crítica tem sido elaborada a partir de referenciais teóricos

diversos, com a contribuição de vários pensadores de inúmeras áreas do conhecimento, sendo

produzida e sistematizada de forma ampla e interdisciplinar, sobretudo a partir das últimas

décadas.

Uma das formas para concretizar tal proposta é buscar suporte, referenciais e ideias em

fontes e autores que apresentam um acúmulo de contribuições elevadas à educação, e como

meio de inspiração, fundamentação e suporte teórico na construção desse processo, é de

grande valia utilizar todo o arcabouço teórico e o legado de Paulo Freire, que por meio de

seus escritos, ideários e testemunho vivo e concreto ao longo de uma longa vida, muito

contribuíram, de acordo com Streck (2009), para que de fato a educação pudesse ser, além de

um direito de todos, um meio de superação das condições de opressão e exclusão e também

uma possibilidade real e constante de elevação do ser humano como sujeito histórico em seu

meio e no mundo, ainda que atualmente haja um conjunto enorme de desafios e demandas a

ser superado.

O seu pensamento pedagógico sempre foi enriquecido pelo constante pensar, escrever

e agir em prol de uma educação que fosse necessária e naturalmente dialógica, dialética,

humanista, autônoma, crítica, histórica, emancipatória, transformadora, entre outras

categorias, que são essenciais em um educador e para a educação progressista, podendo

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“ajudar a construir uma resposta aos problemas educativos gerados pela atual diversidade

cultural” (SOUZA, 2002, p. 44) que estão a exigir soluções e alternativas.

As categorias elaboradas e utilizadas no pensamento pedagógico e nos trabalhos

desenvolvidos por Paulo Freire foram aplicadas em várias áreas, situações e lugares, com

notável e reconhecido valor, funcionalidade e resultados. A alfabetização foi apenas uma

delas.

A sua pedagogia e as suas ações sempre estiveram voltadas para a conscientização, a

criticidade, a libertação, o aprendizado e a produção do conhecimento de forma individual e

coletiva, a dialogicidade, a prática dialética, a práxis (ação e reflexão), o humanismo, o papel

da educação, a necessidade de formação continuada, rigorosa e atual, a problematização, a

coerência entre o discurso e a prática, entre tantos outros aspectos relevantes e sempre

essenciais no trabalho educativo e formativo do ser humano.

Assim:

Na pedagogia de Paulo Freire vemos que educar é um ato de conhecimento da realidade concreta, das situações vividas, um processo de aproximação crítica da própria realidade: compreender, refletir, criticar e agir são as ações pedagógicas pretendidas (TOZONI-REIS, 2006, p. 102).

Por isso ser adequado e viável, no trabalho educativo voltado para a formação do

sujeito ecológico, utilizar a produção teórica e o legado pedagógico e humanista de Paulo

Freire, considerando que “a sua pedagogia continua válida, não só porque ainda há opressão

no mundo, mas porque ela responde a necessidades fundamentais da educação de hoje”

(GADOTTI, 2008a, p. 102) que exigem um posicionamento claro, assumido e transformador

do educador.

Diante da realidade socioambiental atual e muito conturbada, há a necessidade, como

forma de contraponto ao quadro atual, da presença de sujeitos ecológicos devidamente

preparados na construção de alternativas que deem conta de superar, ou ao menos atenuar, os

impactos socioambientais deletérios provocados pelo modelo societário e civilizatório

atualmente vigente. E por meio do pensamento e da prática pedagógica de Paulo Freire, é

possível pensar e promover a formação desse sujeito.

O legado humanístico e a práxis de Paulo Freire, que tiveram um papel muito

marcante no passado, continuam a tê-lo no presente e, sobretudo, se mantêm atuais, viáveis,

necessários, aplicáveis e funcionais para o futuro, sendo, portanto, imprescindíveis em

qualquer concepção pedagógica séria e comprometida, e se constituem, ao mesmo tempo, em

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um alicerce e incentivo a uma educação ambiental que tenha um caráter socioambiental

crítico e libertador.

Por isso ser viável a elaboração de uma educação ambiental, que inspirada em vários

educadores progressistas, também possa, por meio do legado de Paulo Freire, se sustentar e

avançar na construção da consciência ambiental e de uma práxis educativa ambiental possível

e tão necessária face a urgente necessidade de enfrentamento da crise socioambiental do

mundo atual.

Uma educação ambiental elaborada a partir das categorias pensadas e praticadas por

Paulo Freire poderá contribuir enormemente com a formação do sujeito ecológico (FREIRE,

2003), pois nela há o espaço e o reconhecimento para a construção do sujeito crítico,

autônomo, dialético e histórico, sobretudo em um cenário tão caracterizado por atores

passivos e fortemente tomados por romantismos ineficazes e quase sempre por posturas

alienadas e alienantes, em um meio onde a crise socioambiental existente se apresenta

fortemente ideologizada e concretizada sob vários aspectos e interesses difíceis de serem

superados, mas não impossíveis.

A sistematização e, sobretudo, a aplicação desse processo educativo, não é neutra,

porque “(...) é impossível, na verdade, a neutralidade da educação (...)” (FREIRE, 2005, p.

110), mas estará diretamente relacionada com uma concepção de mundo, imbuída de um

processo de problematização acompanhado de uma ação transformadora. Ou seja, a

consciência e a ação geram a conscientização, que deve ser não apenas individual, mas,

sobretudo, coletiva, característica de sujeitos históricos, que possuem a capacidade de

entender e de intervir na realidade para transformá-la.

Uma educação para ser progressista, deve cumprir o papel libertador do ser humano, ir

ao âmago das questões que estão postas no dia a dia do mundo contemporâneo, emancipar o

ser humano integralmente, dotá-lo da capacidade de ser um sujeito consciente, atento e

atuante nas várias esferas da sociedade, e Paulo Freire contribuiu enormemente para que esse

modelo de educação pudesse ser uma realidade no cotidiano das escolas, na dinâmica dos

vários movimentos sociais, no perfil dos educadores, não como modismo, mas como

compromisso e práxis.

Um aspecto importante para uma educação ambiental adequadamente formativa e

diferenciada em um cenário conturbado como o da atualidade, é o papel do educador, não

como sendo aquele responsável apenas em transferir informações e conteúdo – educação

bancária -, aliás, postura muito criticada por Paulo Freire (2009), mas como personagem

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central na mediação do processo de aprendizagem e de construção do conhecimento, por meio

de uma relação dialógica e dialética contínua e permanentemente viva e democrática.

Essa relação entre educador e educando, para ser humanizante e verdadeiramente

libertária e transformadora, precisa considerar vários aspectos que são intrínsecos ao processo

educativo que Paulo Freire (2005) muito bem expôs em seus pensamentos e nas diversas

publicações, e sem os quais dificilmente a prática educativa poderia avançar.

Cabe ao educador possibilitar, na forma de relacionar-se com os educandos, no

testemunho coerente e permanente e na sua linguagem, o diálogo, as vivências humanizantes,

a socialização, criar as oportunidades para o surgimento de iniciativas individuais e coletivas,

a criticidade e a autonomia daqueles que devem alcançar a condição de sujeitos ecológicos

coletivamente.

Convém frisar que inspirado em Paulo Freire, o necessário é uma educação ambiental

crítica e não um adestramento ambiental comportamentalista (BRÜGGER, 2004), que é

castrador de potencialidades individuais e coletivas, além de ser uma forma de apropriação de

uma causa justa para legitimá-la de forma deturpada.

É pertinente ressaltar que a atual crise socioambiental é uma crise de valores, de

amplos e profundos significados, da (des)razão humana, que se constituiu historicamente a

partir de uma complexidade de fatores. Ela não surgiu por acaso. As forças que regem a

dinâmica do capital, na sua essência e inteireza, são antiecológicas e anti-humanas, o que

ocorre em todo lugar, atingindo, indistintamente a todos, sobretudo os mais empobrecidos

historicamente, inclusive com um forte alcance na área educacional (MÉSZÁROS, 2005),

com desdobramentos significativos, que obrigatoriamente exigem dos educadores uma

atenção maior.

O educador, por sua vez, precisa estar capacitado para entender e se inserir nesse

contexto, sabendo que “o que capacita o homem a tornar-se histórico é, antes e acima de tudo,

sua condição de sujeito” (PARO, 2010, p. 24), enfrentando e superando as adversidades, mas

consciente de suas limitações e também das reais possibilidades e limitações da educação

ambiental crítica, para não incorrer no risco de assumir posturas caracterizadas pelo excesso

de improviso, de inocência, de modismos, de espontaneísmo, de messianismo e de

salvacionismo, que além de inoportunas, são contraproducentes e frustrantes, sobretudo

considerando a dinâmica e a complexidade de um processo de formação do sujeito ecológico

inserido em um contexto de múltiplas facetas.

É função dos educadores verdadeiramente conscientes, comprometidos com um

autêntico projeto de educação transformadora e inspirados no pensamento pedagógico de

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Paulo Freire, romper com as amarras que os impedem de serem protagonistas juntamente com

os educandos na ação educativa ambiental, superar os falsos consensos estabelecidos e evitar

as ideias e projetos ingênuos, que frequentemente surgem nas escolas e na luta ambiental,

tornando-se verdadeiros embustes e simulacros, que em nada contribuem com uma educação

verdadeiramente comprometida com mudanças amplas e profundas, particularmente em

relação à crise socioambiental e com a emancipação do ser humano como sujeito histórico

ativo.

2.3.2 Algumas categorias pedagógicas de Paulo Freire

O pensamento pedagógico de Paulo Freire, além de ser comprometido com um projeto

de educação transformadora, é profundamente rico e diversificado em abordagens,

concepções e significados, que podem ser aplicados em qualquer trabalho educativo e

formativo nos dias atuais. O legado vivo e útil de Paulo Freire continua cada vez mais atual,

necessário e funcional, principalmente diante da necessidade urgente de formação do sujeito

ecológico crítico e atuante em uma sociedade marcada por uma crise sem precedente e

poderosamente ameaçadora do planeta e da vida.

Várias são as categorias (STRECK; REDIM; ZITKOSKI, 2008; VASCONCELOS;

BRITO, 2006) utilizadas por Paulo Freire em suas falas, por meio de seu testemunho prático

de educador, em seus inúmeros livros e demais escritos, com amplo alcance, aceitação e

aplicação.

Elas foram sendo elaboradas e aplicadas ao longo de sua vida, promovendo a

capacidade das pessoas que conseguiram assimilá-las, se conscientizarem e se emanciparem, e

hoje se constituem em instrumentos legítimos e adequados para educadores comprometidos

com projetos que estejam relacionados com a educação escolar, com a formação política, com

a educação popular, em trabalhos formativos de sindicatos, por meio das diversas associações,

com as Organizações Não-Governamentais (ONGs), entre tantos outros seguimentos sociais e

populares em seus múltiplos espaços de atuação, com perspectivas de emancipação do ser

humano e de transformação da realidade atual para um mundo sempre melhor em seus mais

diferentes aspectos.

Dessa forma, visando a possibilidade de enriquecer e ampliar a formação do sujeito

ecológico via educação ambiental crítica, por meio de concepções freireanas, torna-se

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necessário e valioso abordar e elaborar reflexões e considerações sobre algumas categorias

que foram aplicadas por esse educador, uma vez que as mesmas podem ser de grande

validade, mas sem querer esgotar aqui sua diversidade, profundidade, aplicabilidade e o

potencial que as mesmas possuem no universo educacional.

A seguir, estão algumas categorias utilizadas por Paulo Freire que são consideradas

essenciais, não necessariamente na ordem dada, em qualquer trabalho educativo voltado para

a formação do sujeito ecológico, em um processo educacional plural, crítico e transformador.

2.3.2.1 Diálogo/Dialogicidade

A prática dialógica permanente entre educador e educando é uma condição essencial

em qualquer processo educativo que almeja alcançar resultados objetivos e transformadores

na ação educacional voltada para a formação do sujeito pensante, consciente, autônomo,

crítico e atuante em seu meio e no mundo. Mas para alcançar esse nível, são necessárias

muitas condições, entre elas, “o diálogo crítico, a fala, a vivência” (GADOTTI, 2008b, p. 33).

Por certo, é impossível haver prática educativa transformadora e dinâmica sem a mediação

dialógica entre os envolvidos nesse processo.

O diálogo atento, respeitoso e construtivo permite que as palavras possam ser

clareadas e tragam significados teóricos e práticos inseridos na realidade vivida pelos

participantes do ato dialógico. Este, por sua vez, “consiste em uma relação horizontal e não,

vertical entre as pessoas implicadas, entre as pessoas em relação” (GADOTTI, 2000, p. 103).

Por isso a necessidade de entender que na relação dialógica deve haver uma reciprocidade

respeitosa e igualitária entre os sujeitos envolvidos.

Daí a importância do saber ouvir o outro, pois isso favorece a relação com o outro,

permite a pluralidade de ideias e concepções, porque o diálogo rompe com a mania das

certezas, pois “são as certezas, e não as incertezas, que geram todos os conflitos. São as

certezas, e não as incertezas, que dificultam a convivência, porque criam obstáculos ao

diálogo” (ROMÃO, 2007, p. 120), e sem diálogo, o outro é desconsiderado, rebaixado e

anulado, condições que impedem qualquer possibilidade de desenvolvimento de uma prática

educativa humanista e crítica.

O diálogo possibilita às pessoas que foram, por vários motivos, silenciadas e

impedidas de manifestarem o seu pensamento, poderem fazê-lo, além de ser um momento de

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aproximação e facilitação do ato educativo, de reconhecimento da expressão e da identidade

do outro, de respeito à pluralidade e às diferenças, que constantemente estão presentes no

convívio humano.

A prática dialógica permite a construção do saber e contribui com o desenvolvimento

da reflexão e ação coletivas e permanentes, da criticidade e da autonomia, tendo em vista que

“não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão”

(FREIRE, 2009, p. 90), silêncio aqui entendido não como aquele momento de reflexão, esta

tão necessária, mas como consequência da imposição de outros, ou como o afastamento e a

indiferença para com a realidade, uma espécie de fuga ou até mesmo de covardia diante da

necessidade de enfrentar e superar as adversidades.

Enquanto necessidade permanente, mas, sobretudo, enquanto possibilidade de

concretude, o diálogo “abre caminhos para repensar a vida em sociedade, discutir sobre nosso

ethos cultural, sobre nossa educação, a linguagem que praticamos e a possibilidade de

agirmos de outro modo de ser, que transforme o mundo que nos cerca” (ZITKOSKI, 2008, p.

130), entre tantas outras possibilidades.

Mas a realidade concreta mostra que é justamente por falta de diálogo, da não abertura

para o outro e para o diferente, de práticas impositivas verticalizadas de cima para baixo e de

sucessivos monólogos, que muito do que já poderia ter sido feito no que diz respeito à

formação, deixou de sê-lo, pois não é possível construir nenhuma relação educativa

verdadeira, promissora e emancipatória sem diálogo franco, sincero, livre e democrático. Para

Bertolini:

O conceito de dialogicidade para Paulo Freire, vai além de uma ação comunicativa entre as pessoas; significa a necessidade de resgatar a dimensão dialógica da aprendizagem, inerente à natureza humana, de compreender num processo coletivo de ação-reflexão, os condicionantes, a alienação, a determinação de classe; a problematização da própria vida; um processo dialógico dá sentido aos conteúdos socialmente elaborados, faz emergir novos modos de pensar e agir numa contínua conscientização (BERTOLINI, 2001, p. 135).

Dada a importância da ação dialógica no trabalho educativo, a capacidade de

promover o diálogo amadurecido e elevado no processo educacional e formativo, seja ele

formal ou não, se constitui em uma iniciativa e, ao mesmo tempo, em uma exigência que já

deveria ter sido concretizada há muito tempo por todos os educadores conscientes e

comprometidos com essa necessidade.

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De acordo com Barreto (2003), se referindo à visão de Paulo Freire sobre esse tema,

“o diálogo mais que um instrumento do educador é uma exigência da natureza humana” (p.

65), o que confere ao diálogo uma importância ainda maior. Então, pode-se concluir que

ignorar essa condição que é um fundamento da prática educacional crítica e formativa é adiar,

eliminar, anular ou castrar a possibilidade de concretização de uma educação de fato

transformadora e comprometida com as melhores perspectivas humanistas para os educandos.

Se hoje a humanidade atravessa uma crise socioambiental séria, que exige de todas as

pessoas comprometidas uma postura diferente e voltada para a conscientização acerca do que

está ocorrendo e ao mesmo tempo em como promover a superação dessa crise, e isso passa

obrigatoriamente pela mediação da educação ambiental crítica, torna-se necessário então,

como condição sine qua non, estabelecer a prática verdadeiramente dialógica entre educando

e educadores, em qualquer trabalho de formação voltada para essa questão, nas diferentes

modalidades educacionais, mas tendo em vista que “somente o diálogo, que implica o pensar

crítico, é capaz, também, de gerá-lo” (FREIRE, 2009, p. 96), pois é com criticidade que se

permitirá entender a amplitude, o significado, os meandros, as ameaças e as armadilhas dessa

crise que está posta.

2.3.2.2 Consciência/Conscientização

Para que as pessoas possam alcançar níveis mais elevados de consciência sobre as

mais diversas questões presentes no seu dia a dia, é necessário que elas passem por um

intenso processo de conscientização coletiva como condição necessária para se tornarem de

fato sujeitos conscientes, críticos e atuantes em seu meio, que é o mundo concreto e real com

as inúmeras situações que nele existem.

Por meio da conscientização, o ser humano pode sair de uma condição de

domesticação, de condicionamentos e manipulações, de possuidor de uma mera percepção

superficial e de entendimento limitado, para não dizer inexistentes dos vários assuntos e

situações, e romper com o estado no qual se encontra de falsa consciência dessa realidade

(alienação), podendo, a partir disso, alcançar níveis sucessivos, crescentes e significativos de

entendimento e emancipação em meio a essa realidade, que em princípio sequer era

devidamente assimilada.

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Mas convém sustentar, que “a conscientização não pode parar na etapa do

desvelamento da realidade. A sua autenticidade se dá quando a prática do desvelamento da

realidade constitui uma unidade dinâmica e dialética com a prática da transformação da

realidade” (FREIRE, 2001, p. 172). Assim, além de conhecer a realidade, é fundamental agir

imbuído do propósito de transformá-la radicalmente, e essa postura é recomendável,

sobretudo aos educadores, que precisam saber, segundo o mesmo Freire, que “a consciência

não se transforma através de cursos e discursos ou de pregações eloquentes, mas na prática

sobre a realidade” (FREIRE, 2001, p. 126), que define as condições a que todos estão

submetidos.

A possibilidade de construir um processo de conscientização exige evidentemente

vontade, tempo, compromissos e condições favoráveis, combinados e fundamentados em

princípios, práticas e formulações constantes e comprometidas com essa proposta, sem as

quais as etapas de construção de consciência crítica não ocorrerão por completo. Ter

consciência crítica é conhecer profunda e amplamente a realidade na qual o indivíduo se

encontra inserido, é possuir a capacidade de entender as condições e os significados dessa

realidade, suas causas e consequências, mas, sobretudo, a possibilidade de transformá-la

continuamente. Dessa forma:

Conscientização é, portanto, um processo de construção, ativa e refletida dos sujeitos, rumo à consciência crítica, assim, supera a apropriação de conhecimentos, referindo-se a articulação radical entre conhecimento e ação, não qualquer ação, mas uma ação política, transformadora, libertadora e emancipatória (TOZONI-REIS, 2006, p. 106).

É necessário que haja a compreensão de que o estado de consciência avançado sobre

as diversas questões da realidade não é alcançado imediatamente, pois a sua concretização

demanda algum tempo. Por isso é comum, sobretudo na fase inicial dos que começam a

adquirir uma etapa de consciência ainda mínima sobre determinado assunto, conhecido como

consciência ingênua, conforme Kronbauer (2008) ajuda a entender, ocorrerem frequentemente

dúvidas e confusões teóricas.

É importante reconhecer essa particularidade durante o processo de conscientização,

até mesmo para que os educadores possam entender a dificuldade existente quando se propõe

implementar esse tipo de atividade e, ao mesmo tempo, se preparar para lidar com eventuais

adversidades e retrocessos que ocorrem durante o desenvolvimento de ações educativas

voltadas para a formação das pessoas.

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O rompimento entre a fase de predomínio de condições de alienação que são evidentes

para a de conscientização, além de ser processual, é caracterizada por situações que exigem,

tanto de educadores como dos educandos, muita paciência, perseverança, fundamentação

teórica consolidada e mediações pedagógicas que possam enriquecer e se constituir em

suportes para facilitar o processo educativo.

É preciso reconhecer que a inexistência de uma realidade de adequada e necessária

consciência, inclusive ambiental, entre a maioria das pessoas, é devido ao longo período de

predomínio das condições de alienação que se sucedem no cotidiano, por meio da

incapacidade de assimilação das informações transmitidas, da inexistência de práticas

transformadoras, em função do acomodamento e das manipulações de todo tipo a que as

pessoas estão submetidas continuamente, situações que exigem dos educadores o

conhecimento prévio de seus significados e o preparo necessário para lidar com essas

adversidades, sem, no entanto, serem continuamente absorvidos por elas.

O processo educativo, que vise a conscientização dos educandos como uma

necessidade de sua própria natureza, “que emerge do pensamento de Paulo Freire, é um

processo radicalmente comprometido com a transformação da sociedade compreendida como

injusta e desigual” (LOUREIRO et al, 2009, p. 87), e a sociedade atual, é profundamente

injusta e desigual em praticamente todos os aspectos, como no educacional, no social, no

econômico, no político, no ambiental, o que sugere a necessidade de um processo educativo e

formativo que seja atualizado e profundamente radical no sentido de se contrapor a essa

situação.

Alcançar consciência crítica está diretamente relacionado ao um processo de formação

que tanto pode ocorrer na modalidade formal, não-formal ou informal de educação, mas que

para ser alcançado “necessita-se de uma educação que valoriza a reflexão, que forme um ser

crítico, questionador e transformador da sua própria realidade” (VASCONCELOS; BRITO,

2006, p. 62), e quanto a isso, é preciso admitir que lamentavelmente ainda não seja uma

situação comum na maioria dos lugares, e isso ajuda também a entender o porquê de tanta

alienação em amplos setores da população no que diz respeito à maioria das questões do

mundo moderno, incluindo as áreas educacional e ambiental.

Dessa forma, procede a necessidade de se ter a educação ambiental crítica como meio

de promover a formação que seja capaz de entender que a “ação conscientizadora é mútua,

envolve capacidade crítica, diálogo, a assimilação de diferentes saberes, e a transformação

ativa da realidade e das condições de vida” (LOUREIRO, 2004, p. 29), condições essas que se

impõem em qualquer projeto que vislumbre a possibilidade de superação da alienação

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humana e das crises cíclicas que ocorrem frequentemente, ambas responsáveis por inúmeros

problemas nas mais diferentes áreas, entre elas a educacional e a ambiental.

A pedagogia freireana está voltada para, entre outras coisas, superar a consciência

ingênua que impede avanços concretos na emancipação das pessoas. Por isso a importância de

sua aplicação na formulação da educação ambiental crítica, que esteja diretamente voltada

para a consciência ambiental.

Seria desnecessário insistir na essencialidade da categoria conscientização como

condição para o desenvolvimento de trabalhos educativos e formativos que objetivam a

formação do sujeito ecológico. A consciência ambiental das pessoas - que se alcança por meio

da reflexão e ação sobre a realidade -, que se faz tão necessária nos dias atuais, depende de

um processo educativo que saiba entender e construir coletivamente essa conscientização

permanente na relação entre educadores e educandos voltada para a emancipação de todos.

2.3.2.3 Libertação

A libertação se constitui em uma categoria essencial no pensamento pedagógico de

Paulo Freire, não apenas na prática educacional como também em todas as demais áreas,

sobretudo onde a alienação, a opressão e a injustiça se encontram estabelecidas. Impossível

entender e aplicar suas outras concepções sem considerar esse conceito como parte integrante

de qualquer iniciativa a ser tomada no trabalho educativo que objetive a conscientização

humana e a transformação social.

Considerando que a “educação libertadora é politicamente transformadora”

(LOUREIRO et al, 2009, p. 87) pressupõe entender que qualquer proposta de educação que

estiver comprometida com essa linha de entendimento deva se voltar para a conscientização e

emancipação do ser humano, rompendo assim com o modelo de educação tradicional que se

sustenta e se reproduz de forma completamente injusta, danosa e contraditória em todos os

aspectos, deixando suas marcas sobre o ser humano aprisionado, oprimido e castrado de sua

possibilidade de ser.

O processo de libertação do ser humano em seu meio “será possível na medida em que

houver uma assunção crítica dessas contradições, não apenas na teoria nem apenas na prática,

mas na práxis que integra ação e reflexão como dois movimentos complementares em

permanente tensão” (STRECK, 2009, p. 544), tendo o ser humano o papel a desempenhar de

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sujeito construtor dessa realidade, pois “será livre aquele que puder questionar o estado das

coisas que o cercam e, o que é mais relevante, capaz de fazer parte deste contexto como

agente transformador” (VASCONCELOS; BRITO, 2006, p. 134). Dessa forma, pode-se

entender que a libertação do ser humano das forças que o oprimem não ocorrerá de forma

espontânea e nem é dada por qualquer modelo determinista ou pré-elaborado, mas mediante a

conscientização, o engajamento e enfrentamento das condições adversas, tarefas a serem

construídas continuamente e coletivamente.

Por isso ser importante uma prática educacional que tenha como opção mediadora essa

categoria pedagógica essencial de Paulo Freire (SEMERARO, 2007), sobretudo quando ela

está relacionada à necessidade socioambiental de educadores e educandos fazerem esse debate

e poderem contribuir para a libertação do ser humano enquanto sujeito histórico.

Superar as adversidades, crises e contradições existentes na sociedade e, mais

especificamente, na prática educativa, se constitui em uma missão necessária aos que

assumem o compromisso de uma educação crítica e transformadora. Dessa forma, “a

libertação autêntica, que é a humanização em processo, não é uma coisa que se deposita nos

homens. Não é uma palavra a mais, oca, mitificante. É práxis, que implica a ação e a reflexão

dos homens sobre o mundo para transformá-lo” (FREIRE, 2009, p. 77), e vale considerar que,

uma vez transformando o mundo, o ser humano é também transformado por ele, em um

processo dinâmico e concreto.

Em função dessa possibilidade de surgimento de um novo ser humano que se liberta

por meio da conscientização, da ação e reflexão recíproca, “o sujeito do ato de libertação é

portador de virtudes como autonomia, dialogicidade, humildade, esperança e fé no ser

humano” (STRECK, 2009, p. 544), tornando-se muito mais capaz de coletivamente e

dialeticamente superar as estruturas históricas das variadas formas de opressão estabelecidas

na sociedade, sendo conveniente especificar aqui as estruturas de opressão socioambiental, e

pelo que significam, exigem cada vez mais a formação do sujeito ecológico pleno em seu

significado histórico.

2.3.2.4 Humanismo

O humanismo se constitui em uma condição necessária para a efetivação da prática

educacional transformadora, reconhecendo o ser humano enquanto sujeito pensante, histórico

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e inserido em um dado contexto de metabolismo social e cultural, em constante processo de

modificação.

Propor, assumir, reivindicar e, sobretudo, atuar incansavelmente a favor de uma

educação comprometida com um mundo mais humanizado, se constituem em necessidades

cada vez maiores, sobretudo em um contexto de banalização e coisificação da vida,

superficialização das relações pessoais e imediatismo nos propósitos a serem alcançados.

Por outro lado, é bom que fique claro que a concepção humanista não significa a

constituição de uma visão e postura antropocêntrica de mundo. Esta tem sido historicamente

uma concepção de entender rigidamente o ser humano como sendo a razão única e superior de

todo e qualquer interesse e significado, independente das demais formas de vida, contextos e

perspectivas, o que tem causado muitos problemas à própria humanidade e ao planeta Terra,

sobretudo ao longo das últimas décadas.

O humanismo freireano “propõe a elevação concreta do ser humano como sujeito

pensante, por meio de seu desenvolvimento integral e da transformação das estruturas sociais”

(VASCONCELOS; BRITO, 2006, p. 124), ou seja, o ser humano não como objeto de

manipulação, de crendices, de submissão e obediência cega, mas como sujeito histórico,

observador, crítico, pensante e atuante em seu espaço e tempo, condições necessárias para a

formação crítica e libertadora em um processo educacional comprometido de fato com a

humanização plena do ser humano.

A humanização significa a superação da desumanização “que não se verifica apenas

nos que têm sua humanidade roubada, mas também, ainda que de forma diferente, nos que a

roubam, é a distorção da vocação do ser mais” (FREIRE, 2009, p. 32), condição que torna

impeditiva a plena realização do ser humano enquanto sujeito histórico.

Entender que a humanização é uma conquista a ser buscada permanentemente, e não

uma condição natural, já dada, é uma necessidade para qualquer trabalho educativo voltado e

comprometido com essa conquista, sabendo que “o sonho pela humanização, cuja

concretização é sempre processo, e sempre devir, passa pela ruptura das amarras reais,

concretas, de ordem econômica, política, social, ideológica etc., que nos estão condenando à

desumanização” (FREIRE, 1999, p. 99), ou seja, alcançá-la significa estar inserido e ativo nos

mais diversos contextos.

A partir desse entendimento, tem-se com mais clareza o desafio que cabe ao processo

educativo de contribuir com a humanização em seu significado profundo e “o papel da

educação libertadora é potencializar esse dinamismo da natureza humana e cultivar a dialética

ação-reflexão na busca de concretização histórica de um patamar mais elevado de

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humanização do mundo” (ZITKOSKI, 2008, p. 216). Dessa forma, a formação do ser humano

deve ser permeada de preocupações que vão muito além dos aspectos educacionais voltados

apenas para a transmissão de conteúdos e o acúmulo de informações.

2.3.2.5 Autonomia

Propor a autonomia no processo educacional consiste em aceitar e possibilitar a

capacidade do outro de tomar decisões, de amadurecer com o tempo, de assumir papéis e

responsabilidades, de acumular experiências, de conviver amistosamente com a diferença, de

ser capaz de superar as adversidades, de ser de fato sujeito livre e consciente de sua existência

e de seu papel enquanto ser social, não aceitando a crença comum em muitos, em certos

fatalismos e determinismos, que se tornam justificativas (ainda que injustificáveis) para

legitimar as diversas formas de refúgio, de acomodamento e de rendição às condições de

muitas situações adversas.

Essa categoria do pensamento pedagógico de Paulo Freire é necessária em qualquer

prática educacional que esteja comprometida com a emancipação do ser humano. E ela

“enquanto amadurecimento do ser para si, é processo, é vir a ser” (FREIRE, 2005, p. 107), se

constitui em construção contínua, com várias significações, comprometida com as questões do

cotidiano e com a historicidade do ser humano.

E a educação, enquanto possibilidade de formação do sujeito, não pode abdicar em

nenhum momento, ainda que sob condições desfavoráveis, de promover a autonomia que

poderá potencializar a consciência crítica, a problematização e a capacidade de intervenção de

educadores e educandos, não somente nos ambientes educativos, mas como no conjunto da

sociedade, a favor de várias áreas, entre elas, a questão socioambiental.

Tendo em vista a necessidade permanente de construção de uma nova sociedade, e que

a educação tem um papel fundamental a contribuir, mediante a formação humana, torna-se

assim essencial que a autonomia de educadores e educandos seja promovida constantemente,

respeitando as particularidades e diferenças de cada um, a sua condição de inacabamento

(FREIRE, 2005), mas ao mesmo tempo, procurando desenvolver suas potencialidades, que

em muitas situações são castradas pelo sistema de ensino e de formação.

Dessa forma, mesmo sabendo que “educador e educando são diferentes” (PUIGGRÓS,

2001, p. 109), a conquista da autonomia e o crescimento recíproco de ambos em uma relação

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dialética devem ser estimulados a todo tempo como meio de promoção e de formação crítica e

cidadã inserida na realidade do contexto vivido por eles, que entre outros aspectos, precisa ser

de democracia, de liberdade e de implementação de alternativas que se apresentem adequadas.

2.3.2.6 Criticidade

A capacidade de desenvolver e praticar permanentemente a criticidade no processo

educacional e formativo do ser humano é uma condição necessária para que possa haver de

fato uma formação plena e emancipatória do sujeito em sociedade. Sem a dimensão da

criticidade, qualquer proposta educacional, por melhor que tenha sido elaborada, se torna

incipiente e insatisfatória sob o aspecto funcional voltado para a formação do sujeito e para as

mudanças significativas nas estruturas da sociedade.

Desenvolver a criticidade é passar da curiosidade ingênua para a curiosidade

epistemológica (FREIRE, 2005), superando dessa forma as limitações impostas pelo senso

comum e pelas condições de alienação estabelecidas que impedem a percepção do real e seu

desvelamento, e procurar, por meio do olhar crítico e da reflexão dos fatos e da realidade, se

inserir nela a fim de transformá-la em função das necessidades existentes. Logo, a partir dessa

perspectiva, “a criticidade, para Freire, é a capacidade do educando e do educador refletirem

criticamente a realidade na qual estão inseridos, possibilitando a constatação, o conhecimento

e a intervenção para transformá-la” (MOREIRA, 2008, p. 105). Isto sugere o reconhecimento

do desafio que está colocado para o educador em relação ao entendimento do significado e

amplitude do processo educacional comprometido com as demandas socioambientais em

voga.

O exercício da criticidade exige de seu praticante – educadores e educandos -, se

elevar à condição de sujeito autônomo e livre de amarras ideológicas, culturais, históricas,

entre outras, que o anestesiam e o prendem às situações de submissão, coisificação e de

rebaixamento da sua capacidade de ser.

Para desenvolver e concretizar o compromisso crítico das pessoas com a

transformação das questões relacionadas à realidade socioambiental, a formação contínua do

educador e do educando deve ocorrer com o rigor da práxis pedagógica comprometida com

essa proposta, aliando a reflexão com a análise das informações, dos saberes e dos

conhecimentos disponíveis, procurando sistematizá-las e aplicá-las em ações planejadas e

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objetivas que visem o desvelamento dos meandros e adversidades existentes no contexto no

qual eles estão inseridos e, por consequência e necessidade, sua superação.

Sendo assim, o desenvolvimento da criticidade em todos os aspectos, mais

especificamente para aqueles voltados para a abordagem das questões ambientais, precisa ter

por parte dos educadores ambientais “uma percepção crítica do processo educativo”

(GUIMARÃES, 2004, p. 137), tendo em vista que “o pensar certo é o pensar crítico que deve

fundamentar uma pedagogia da libertação, que, problematizando as condições da existência

humana no mundo, desafia para a luta e a busca de superação das condições de vida

desumanizadoras” (MOREIRA, 2008, p. 105), entendendo essas condições também a partir

dos desdobramentos que a crise socioambiental existente provoca, se constituindo em um

fator determinante para o agravamento das condições de existência de amplos setores da

população.

2.3.2.7 Interdisciplinaridade

A interdisciplinaridade se constitui em uma categoria abordada por Paulo Freire já nos

seus primeiros livros, onde ela é vista como necessária na prática educativa e formativa, não

sendo, portanto, um recurso pedagógico tão recente assim, ainda que em muitos trabalhos e

espaços educativos, ela sequer seja considerada, muito em função de também não ser

devidamente conhecida e aplicada.

Hoje, com a fragmentação dos diversos saberes, o que causa o isolamento, o

esvaziamento e a abordagem superficializada dos conhecimentos em sua riqueza e

complexidade, “a interdisciplinaridade é estabelecida, por Freire, como requisito para uma

visão da realidade nas perspectivas da unidade e da totalidade do real” (ANDREOLA, 2008,

p. 236), e mais do que nunca, se torna uma necessidade recorrente em qualquer prática

educativa que almeja alcançar resultados satisfatórios na formação dos educandos, tendo em

vista que “a visão do todo, a perspectiva da totalidade impõe-se como necessidade”

(ANDREOLA, 2001, p. 68) da qual educadores e educandos não podem abdicar.

Considerando a abrangência de temas que envolvem a questão ambiental e, acima de

tudo, a reciprocidade que deve haver por parte da educação ambiental crítica como meio de

promover e potencializar o entendimento desse assunto no cotidiano das pessoas, é adequado

e necessário que se adote a prática da interdisciplinaridade como recurso didático-pedagógico

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para alcançar uma melhor assimilação dessas questões que estão presentes no debate

educacional relacionado à questão ambiental com amplas implicações.

Dessa forma, “articular saber, conhecimento, vivência, escola, comunidade, meio

ambiente, etc., tornou-se, nos últimos anos, o objetivo da interdisciplinaridade que se traduz,

na prática, por um trabalho coletivo e solidário na organização da escola” (GADOTTI, 2000,

p. 223-224), ou ainda, em trabalhos educativos que sejam desenvolvidos pela modalidade

educativa não-formal, pois se pode aplicar a interdisciplinaridade em qualquer espaço e ato

educativo.

A metodologia interdisciplinar não pode ser vista e encarada como mais um modismo

da prática educativa, pois o que se propõe a partir desse recurso é uma educação ambiental

crítica para a formação do sujeito ecológico, e isso significa uma perspectiva duradoura, e não

temporária, visto que a crise ambiental não é algo passageiro, mas resultado direto de um

modelo civilizatório e societário que se constituiu e se ampliou ao longo de séculos.

Portanto, a formação do sujeito ecológico é uma condição necessária para a

humanidade enfrentar essa questão, pressupondo assim uma visão global e da totalidade dos

conhecimentos existentes, que somente serão devidamente assimilados a partir de uma

perspectiva pedagógica interdisciplinar, que seja capaz de superar o excesso de

especialização, o isolamento disciplinar, a visão monolítica, limitada e unidimensional

(BRÜGGER, 2006).

Convém assinalar que “a interdisciplinaridade está no âmago de cada disciplina. As

disciplinas não são fatias do conhecimento, mas a realização da unidade do saber nas

particularidades de cada uma” (GADOTTI, 2000, p. 224). Assim, a interdisciplinaridade

pressupõe o diálogo e a integração de conhecimentos de áreas diferentes, mas que não se

anulam e nem são antagônicas entre si, pelo contrário, se complementam, mantendo sua

autonomia e peculiaridades em meio à diversidade de saberes.

Voltando mais diretamente a interdisciplinaridade para a questão ambiental, como não

considerar as profundas relações existentes, por exemplo, entre a diversidade biológica dos

vários ambientes, os interesses econômicos sobre eles, a ocupação, apropriação e utilização

desses espaços por determinados segmentos populacionais, os múltiplos interesses envolvidos

e, em muitos casos, antagônicos, os desequilíbrios ambientais e as injustiças socioambientais

que podem surgir a partir dessa relação, a percepção das pessoas sobre essas questões, etc.?

Assim, qualquer prática educativa que propõe entender os meandros dessa questão,

necessariamente irá aplicar a prática interdisciplinar como recurso pedagógico na formação

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das pessoas, o que consolida e valida sua utilização enquanto possibilidade de conhecimento,

aproximação e religação dos múltiplos saberes.

2.3.2.8 Problematização

Problematizar a prática educativa é procurar entender e transformar a realidade por

meio do contexto onde se atua com a fundamentação pedagógica adequada. A

problematização é um pressuposto pedagógico tão necessário à prática educacional crítica e

deve ser desenvolvida permanentemente, pois é uma das características do pensamento

pedagógico de Paulo Freire, que concebeu a educação problematizadora como “futuridade

revolucionária” (FREIRE, 2009, p. 85).

Considerando a questão ambiental, deve-se buscar uma orientação teórica e prática

para um modelo de educação ambiental que seja capaz de permitir aos envolvidos no processo

educacional entender a realidade e transformá-la, construindo a emancipação humana e a

melhoria socioambiental.

Os mais diversos temas geradores estruturantes existentes no debate ambiental e na

educação ambiental crítica “que servem ao processo de codificação-decodificação e

problematização da situação” (TOZONI-REIS, 2006, p. 104), convergem para uma

abordagem educacional socioambiental que pode enriquecer o processo pedagógico de

problematização do ato educativo conscientizador e emancipador, evitando dessa forma a

possibilidade de supostas práticas educativas tradicionais e conservadoras descompromissadas

com propósitos críticos e transformadores (LOUREIRO, 2005), que em sua essência não

contemplam as necessidades de mudanças do momento.

Não há como negar em uma realidade socioambiental caracterizada por injustiças e

oprimidos ambientais a necessidade urgente de uma prática educacional capaz de

problematizar, no processo formativo humano, todas essas questões que estão presentes a

olhos vistos. Por isso, é necessário se inspirar em Paulo Freire, com o “processo educativo

dialógico que problematiza as relações sociais de exploração e dominação (processo de

conscientização)” (LOUREIRO et al, 2009, p. 87) como forma de alcançar uma leitura mais

completa da realidade.

Nesse sentido, o educador tem um papel valoroso a desempenhar cada vez mais, pois

sua tarefa “é a de problematizar aos educandos o conteúdo que os mediatiza, e não a de

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dissertar sobre ele, de dá-lo, de estendê-lo, de entregá-lo, como se tratasse de algo já feito,

elaborado, acabado, terminado” (FREIRE, 1992, p. 81), promovendo a investigação e a

construção do saber crítico e coletivo a partir de situações concretas do cotidiano.

Dessa forma, a concretização do processo educacional não ocorre de forma vertical,

unilateral e linear, ou seja, do educador para o educando, mas por meio da problematização

das questões presentes no cotidiano junto a todos os participantes do processo, tendo em vista

que “a problematização é a tal ponto dialética, que seria impossível alguém estabelecê-la sem

comprometer-se com seu processo” (FREIRE, 1992, p. 82). Assim, a reflexão e a ação

(práxis) podem ocorrer de acordo com as necessidades da situação dada, considerando suas

particularidades e os sujeitos participantes que se comprometem com as questões existentes.

Concluindo, pode-se afirmar que adotar a problematização no processo pedagógico é

um comprometimento com o processo educacional crítico, conscientizador, transformador e

emancipatório dos envolvidos.

2.3.2.9 Práxis

A práxis se constitui no desenvolvimento simultâneo da ação e da reflexão sobre as

questões do mundo, voltada preferencialmente para o compromisso transformador que esteja

inserido no contexto de atuação do sujeito. A práxis “é uma síntese entre teoria-palavra e

ação” (ROSSATO, 2008, p. 331) permanente e voltada para entender e modificar a realidade

existente seja ela qual for, em qualquer área e local.

É dentro da realidade do cotidiano do indivíduo que a práxis se torna necessária, mas

“para que haja práxis, é essencial, que o indivíduo seja levado a tomar consciência de sua

realidade para que, então, possa refletir sobre ela e, finalmente, questioná-la”

(VASCONCELOS; BRITO, 2006, p. 157), a fim de evitar leituras deturpadas, parciais e

distantes, mas sabendo que a formação do sujeito ecológico via educação ambiental crítica

exige uma percepção de totalidade daquilo que se propõe alcançar.

E essa postura de questionamento e de superação das estruturas estabelecidas por meio

da reflexão e da ação precisa ser concreta e constante em todo processo educativo,

especificamente naquele voltado para a abordagem das questões ambientais mediada pela

educação ambiental crítica.

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Sendo assim, pensar as questões ambientais do momento, as particularidades da crise

socioambiental existente nesse contexto, incluindo o seu significado, entender as opções feitas

e os interesses presentes, suas causas e causadores, os diversos problemas que se desdobram a

partir dela, exigem reflexões e ações que sejam capazes de formarem um novo ser humano, o

sujeito ecológico, como forma de promover o contraponto necessário para a construção de

uma outra realidade como possibilidade viável de superação da que predomina atualmente.

A crítica, a contestação necessária e a superação do modelo societário atualmente

vigente e responsável pela crise socioambiental somente irão surtir efeito a partir de um

modelo de práxis comprometida, que não é somente verbalismo ou ativismo, mas como

proposta de “transformação do mundo” (FREIRE, 2009, p. 141), sendo a práxis entendida

“como a estreita relação que se estabelece entre um modo de interpretar a realidade e a vida e

a consequente prática que decorre desta compreensão levando a uma ação transformadora”

(ROSSATO, 2008, p. 331) comprometida, permanente e emancipatória.

Dessa forma, pode-se entender que qualquer proposta educacional (esta,

necessariamente, vai muito além da alfabetização) que vislumbre essa possibilidade precisa

incorporar em sua prática essas considerações, sem as quais dificilmente alguma conquista

significativa será alcançada a favor da formação transformadora do ser humano e de uma

nova sociedade, que apresente como uma de suas características a dimensão ambiental como

condição necessária.

Tendo em vista que “o ser humano não pode ser analisado como um indivíduo isolado,

mas como um ser histórico-social, síntese de um conjunto complexo de relações sociais”

(BATISTA, 2007, p. 172), deve-se dessa forma construir uma práxis coletiva, que seja capaz

de aprofundar e concretizar reflexões e ações críticas, transformadoras e comprometidas com

projetos de emancipação do ser humano e da sociedade.

No entanto, convém evidentemente ressalvar que esse processo deva ocorrer sem

qualquer perspectiva imediatista, superficial ou reducionista, de viés conservador, mas sim a

partir da percepção de realidades concretas e vividas, tendo a educação ambiental crítica um

papel notável a desempenhar “como espaço de construção de uma visão crítica de mundo”

(LOUREIRO et al, 2009, p. 85). Dessa forma, a elaboração e o desenvolvimento de uma

práxis pedagógica muito poderão contribuir com a implementação de prática educativa e a

formação contínua de sujeitos ecológicos atuantes.

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2.4 O educador ambiental

2.4.1 O educador ambiental enquanto mediador da formação do sujeito ecológico

O educador ambiental se constitui no principal responsável pelo desenvolvimento de

práticas educativas voltadas para a formação do sujeito ecológico por meio da educação

ambiental crítica.

É pela sua mediação enquanto parte integrante do processo educativo que se poderá

alcançar a concretização da formação crítica junto a todos os que se mostram dispostos a se

educarem permanentemente como necessidade da prática formativa emancipadora e

transformadora.

O ato de educar verdadeiramente é tão sublime, necessário e exigente, que os seus

desdobramentos estão muito condicionados pela postura do educador que o executa, mas “se

o educador não tiver desenvolvido a capacidade de refletir profundamente, rigorosamente e

globalmente, suas possibilidades de êxito estão bastante diminuídas” (SAVIANI, 2004, p. 23).

Entende-se que dessa forma são exigidos do educador o envolvimento e a permanente atenção

e dedicação a essas condições peculiares da prática educativa comprometida com a formação

do ser humano e com a transformação da sociedade.

O desenvolvimento do ato educativo somente irá promover a formação do educando à

medida que o próprio educador tiver a consciência do significado do ato de educar em todos

os seus sentidos e também se ele se propuser a educar-se e formar-se (LIBANIO, 2002a,

2002b) continuamente pelos vários meios, pois essas são condições indispensáveis para

qualquer pessoa que se dispõe a desempenhá-lo satisfatoriamente.

A formação do educador deve ser encarada como um ato permanente, na reciprocidade

com os educandos, considerando que “o educador necessita, por sua vez, ser educado”

(MARX; ENGELS, 2004, p. 35), pois “o educador já não é o que apenas educa, mas o que,

enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa”

(FREIRE, 2009, p. 79). Tal possibilidade requer, evidentemente, uma permanente capacidade

dialógica, de abertura e de envolvimento pedagógico entre o educador e o educando.

Cabe ao educador se apropriar dos saberes necessários à prática educativa (FREIRE,

2005; PUENTES; AQUINO; NETO, 2009), para, entre outros aspectos:

a) sistematizar e conduzir o ato educativo;

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b) possibilitar e estabelecer a reflexão crítica, a leitura da realidade e a consciência

social;

c) promover a capacidade de análise da conjuntura existente;

d) dialogar com os segmentos que estão constituídos na sociedade;

e) desenvolver o debate livre, crítico, questionador e construtivo;

f) favorecer o engajamento e a participação ativa nas mais diversas causas como forma

de possibilitar as mudanças necessárias na sociedade;

g) despertar e envolver os educandos para desenvolverem a curiosidade, a permanente

observação dos acontecimentos e seus desdobramentos, a iniciativa em prol do novo, a

superação da passividade;

h) perceber a necessidade do estudo contínuo, rigoroso e objetivo, etc.

Quando voltado mais especificamente para a educação ambiental crítica:

O educador ambiental como liderança percebe o ambiente educativo como movimento e, ao se inserir criticamente nesse movimento, será capaz de dinamizá-lo em uma perspectiva crítica. É esse o seu ambiente de educador, que se movimenta dentro do real; que nos mostra os limites e o ideal; que descortina as possibilidades; que estabelece relações entre o micro e o macro; entre o local e o global (GUIMARÃES, 2004, p. 141).

Ao educador, cabe ser junto aos educandos, um “mediador do processo de

apropriação” (LOUREIRO et al, 2009, p. 88), dos diversos saberes, conhecimentos e

informações, que podem significar o suporte para eles se afirmarem enquanto sujeitos ativos e

transformadores das estruturas sociais, cabendo especificar, sobretudo as demandas

relacionadas com a questão ambiental que tanta divulgação tem tido ultimamente, mas para

serem devidamente entendidas e atendidas, precisam que esse conjunto de informações,

conhecimentos e saberes sejam adequadamente elaborados, sistematizados, assimilados e

vivenciados pela práxis educativa no contexto onde estiver inserido.

Em meio aos diversos desafios inerentes ao processo educacional, cabe ao educador se

posicionar como alguém que possua condições de conviver com a diversidade humana

envolvida na prática educativa, diante das imprevisibilidades e adversidades que surgem e se

estabelecem, como também com as dificuldades e limitações impostas ao papel educativo,

que não são poucas, mas sem abdicar de sua missão de ser permanentemente um mediador do

ato educativo e formativo.

O papel do educador ambiental jamais tem fim em função das sucessivas demandas

ambientais que surgem e pelo motivo de o ser humano se apresentar sempre como um ser

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finito e inacabado, mas “ainda que inacabado, ele tem consciência - ou ao menos capacidade

para ter consciência – de que é um ser inacabado” (ZAIDAN, 2009, p. 60), e “ao

compreender-se inacabado, a busca por superar essa condição está justamente na necessidade

de compreender-se enquanto ser social, e socialmente superar suas próprias limitações”

(CANABARRO; OLIVEIRA; SILVA, 2009, p. 388), havendo dessa forma a necessidade dele

formar-se continuamente.

A educação, na modalidade formal ou não, por sua vez, é um meio de possibilitar que

ele evolua em sua formação, a fim de superar as limitações que se apresentam

frequentemente. Ao educador consciente e preparado, cabe o exercício contínuo de promover

a práxis (reflexão e ação) permanente de um processo educativo comprometido com essa

concepção.

2.4.2 O educador e o seu papel diante das possibilidades e riscos

Para a efetivação de uma educação ambiental de fato crítica, é necessário que o

educador ambiental conceba a questão ambiental como sendo mais do que os aspectos

naturalistas e biologizantes, pois entender o assunto somente a partir dessa concepção

reducionista, é limitá-lo e fragmentá-lo, com abordagens pontuais e ocasionais, impedindo

que ele seja entendido em sua plenitude. Assim, abordar a questão ambiental é contemplar

todos os temas que estão relacionados no conjunto da sociedade, a partir de uma percepção

socioambiental, e o educador ambiental precisa estar atento quanto a isso, sob pena de

comprometer a essência e os objetivos de sua prática educativa.

É dado ao educador o desafio de elaborar uma síntese crítica, construtiva e alternativa

para as exigências das questões ambientais da atualidade e para a formação de um novo ser

humano inserido no tempo de hoje e com perspectivas para o amanhã por meio da educação.

Por isso, a necessidade dele rebelar-se e de se posicionar com a necessária e devida

transgressão do status quo que predomina com suas mazelas e obscuridades em todos os

aspectos, superando-o continuamente, sabendo que avanços somente serão alcançados com o

tempo e com as devidas condições favoráveis a serem construídas paulatinamente, pois “falar

em uma educação para a emancipação em nossa sociedade só faz sentido como uma

proposição para o futuro, pois a pressão do mundo real tem superado e muito o poder da

educação” (GUEDES; DEPIERI, 2006, p. 313), daí então a necessidade de se preparar

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também para conviver com os percalços, pois há riscos de retrocessos, considerando que o

processo é dinâmico e não linear.

Decorrente disso torna-se importante o educador estar atento e sempre aberto à

possibilidade de fazer sua autocrítica e de observar as críticas que lhe são feitas sobre sua

prática, de perceber o quanto sua formação ou ainda sua atuação no dia a dia pode está

engessada e condicionada por fatores e influências alheias e adversas que precisam ser

devidamente assimiladas e, se necessário, superadas.

Os educadores também precisam ficar precavidos em seus trabalhos quanto aos

modismos educacionais que frequentemente surgem com várias propostas, aos slogans

esvaziados de significados e compromissos valiosos, à imposição de padronização de

determinados programas educacionais, aos clichês (muitos já gastos) e certas metas que

devem ser alcançadas em um curto espaço de tempo, mas que objetivam apenas obter dados

estatísticos e aspectos quantitativos favoráveis em detrimento do significado e compromisso

que devem existir da prática educacional e da formação em si.

É necessário ressaltar que esses aspectos acima apresentados são engendrados em

muitas situações por pessoas e órgãos governamentais quase sempre distantes da realidade do

educador/educando, sem considerar as particularidades de como o seu trabalho é

desenvolvido. Todas essas questões podem se constituir em fatores que impedem uma melhor

ação do educador e comprometer os verdadeiros propósitos e significados da prática

educativa.

Cabe ao educador assumir verdadeira e corajosamente a posição de sujeito atuante,

crítico e contestador da perversa ordem antiecológica e desumana existente atualmente,

correlacionar suas causas, causadores e consequências, evitar, superar e, quando necessário,

se opor às prováveis propostas e posturas assumidas por muitos de neutralidade do papel da

educação e do educador em relação aos vários aspectos estruturais e conjunturais da

sociedade, pois “toda neutralidade proclamada é sempre uma opção escondida” (FREIRE,

2001, p. 115). Estes supostos argumentos - que a educação e os educadores devem ser neutros

-, sempre favorecem aos já beneficiados pelas condições estabelecidas, e são evidências

incontestáveis de interesses (re)velados e de posturas consideradas conservadoras, que

procuram justificá-los como sendo uma forma de evitar conflitos com os diferentes e

antagônicos.

Ocorre que o “conflito também faz parte da essência do próprio pensamento e, assim,

quaisquer perspectivas de mundo ficariam incompletas sem ele” (BRÜGGER, 2004, p. 105).

E o ato de educar para a formação do sujeito ecológico crítico se constitui em uma nova

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perspectiva de vida, de mundo e de um novo ser humano, e isso exige dos que o fazem, a

tomada de posição frente ao que impede a concretização da plenitude do significado do ato de

educar.

Ao educador também é necessário perceber que o conhecimento e a cultura e as

relações destes com as demandas socioambientais existem e são encontradas em todos os

lugares, ainda que sob formas diferentes, e não apenas na sala de aula, mesmo sabendo que o

espaço e o tempo escolares devam ser constantemente e devidamente aproveitados para esse

fim, pois se constituem em uma grande oportunidade de iniciativas e construção de

conhecimentos, consciência e cidadania ambiental junto a um grande número de pessoas.

Em função disso, nunca se deve perder o foco e o entendimento de que os demais

ambientes fora da escola não podem ser vistos como a periferia da escola, ou alheios à

realidade do ambiente escolar, mas sim como espaços diversos e complementares para a ação

educacional, inclusive em parceria e alianças com as próprias escolas, pois as relações

existentes entre eles são tênues e os interesses e as necessidades muito semelhantes, tendo em

vista que “a educação ambiental elimina fronteiras entre escola e comunidade, ao tomar como

eixo do trabalho pedagógico a problemática sociambiental” (JACOBI; TRISTÃO; FRANCO,

2009, p. 70), englobando dessa forma o conjunto das questões sociais em evidência.

O educador que concebe o processo educacional como possibilidade de construção

coletiva de saberes, conhecimentos e ações sempre voltados para a formação crítica e

profundamente comprometida com a transformação e a melhoria do ser humano e da

sociedade, incluindo obviamente a complexa questão socioambiental, não impõe sua

autoridade de forma vertical e unidirecional, também não adota apenas a postura palavresca e

livresca como recurso didático-pedagógico, mas estabelece uma relação de reciprocidade a

partir de uma perspectiva de diálogo, reflexão crítica, ação crítica, dinamismo e integração.

O papel do educador é de contribuir com a desconstrução ou superação de uma

educação tradicional, seja ela escolar ou não, que não seja para elevar e emancipar o ser

humano em todos os aspectos de sua vida e da sociedade, devendo se opor permanentemente

ao modelo de educação que seja superficial e fragmentado em suas abordagens, formador de

recebedores passivos de informações, acomodativo e castrador das potencialidades, voltado

apenas para o adestramento, a manipulação, a obediência cega, a submissão servil dos

educandos e servindo apenas para a formação de mão-de-obra técnica e profissional, dentre

tantos outros aspectos a serem evitados em sua prática educacional.

Considerando que a construção de um mundo melhor passa, necessariamente, pela

educação, “mas entendendo a educação não como o único meio para a transformação, mas

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como um dos meios sem o qual não há mudança” (LOUREIRO, 2004, p. 58), torna-se assim

uma exigência por parte do educador entender o significado e a dimensão de seu papel como

sujeito capaz de ser protagonista juntamente com os educandos nessa difícil tarefa, mas ao

mesmo tempo, tão necessária que é a educação do ser humano, e neste caso específico, à que

esteja voltada para debater a questão ambiental em sua plenitude e importância.

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3 METODOLOGIA

3.1 Pesquisa bibliográfica

Como há, nos dias atuais, a possibilidade de acesso fácil a várias publicações

consideradas de qualidade voltadas para a área de formação geral em educação, em educação

ambiental, sobre Paulo Freire, as publicadas por ele mesmo ao longo de sua vida e as várias

obras referentes à questão ambiental geral, publicados a partir de propostas oriundas de

concepções históricas, críticas, cidadãs e transformadoras, sabendo e considerando inclusive

que “a educação ambiental brasileira é conhecida pelo seu engajamento político na construção

de uma sociedade justa, sustentável e democrática” (REIGOTA, 2008a, p. 61), houve a

preocupação de utilizar fontes que pudessem respaldar esses aspectos e procurassem manter a

diversificação e a riqueza dessas contribuições.

A primeira etapa deste trabalho foi desenvolvida e fundamentada por uma revisão

bibliográfica, buscando dessa forma o desenvolvimento de um raciocínio e entendimento que

pudesse aliar a abordagem do tema escolhido com profundidade, diversidade teórica e rigor

científico, tendo sempre em vista as intrínsecas e complexas relações existentes entre

educação, questões ambientais, sociedade e formação humana, que permeiam a linha de

pesquisa proposta por este trabalho, que é a formação do sujeito ecológico por meio da

educação ambiental crítica.

Inicialmente, foi realizada a seleção minuciosa e rigorosa dos livros (ou capítulos

destes) reconhecidos como imprescindíveis na área de pesquisa, de contribuição teórica e na

produção acadêmica, visando incluir autores de renome na área de educação ambiental e do

pensamento pedagógico, que têm contribuído ao longo das últimas décadas com essa questão,

bem como os vários artigos científicos publicados em diversos periódicos (impressos ou

eletrônicos), muitos deles vinculados, sobretudo, às diversas universidades já reconhecidas

por suas pesquisas e produções acadêmicas nas áreas aqui tratadas.

Também existiu a preocupação de utilizar somente artigos científicos que

preferencialmente foram publicados a partir dos últimos anos, procurando dessa forma, ter o

cuidado e a prioridade de utilizar fontes que fossem as mais atualizadas e diversificadas de

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acordo com os vários estudos e pesquisas desenvolvidos nas áreas de educação, meio

ambiente e formação pedagógica cidadã.

Em seguida, houve o início da leitura e análise dos textos escolhidos como sendo

essenciais para um embasamento teórico significativo, capaz de contribuir com a elaboração

de um conjunto de pensamento, de ideias e textos que pudessem contemplar uma visão

rigorosa, plural e convergente sobre a formação teórica e prática do sujeito ecológico por

meio da educação ambiental crítica, fundamentada por concepções oriundas do pensamento

pedagógico e do legado de Paulo Freire e de seus colaboradores mais diretos.

Esta etapa contribuiu muito para delinear e explicitar o tema abordado, pois ofereceu

múltiplas alternativas existentes no interior do pensamento pedagógico e a oportunidade de

profundas reflexões concernentes às reais potencialidades e possibilidades da educação

ambiental enquanto mediadora e formadora do sujeito histórico, crítico e consciente.

Como existe a possibilidade de elaboração, abordagens, utilização e desenvolvimento

de um pensamento, do esboço teórico e de textos com deturpações, fragmentações,

superficialismos e limitações, todos possíveis e frequentes na área educativa e ambiental, uma

vez que “estamos bem familiarizados com muitas atividades que se autodefinem como sendo

de educação ambiental, mas desprovidas de embasamento político e pedagógico” (REIGOTA,

2008b, p. 19), houve a preocupação de considerar e estar atento a essas questões e riscos,

procurando evitá-los, a fim de não comprometer os propósitos deste trabalho, que estão

voltados para “a formação dos sujeitos capazes de exercer o seu protagonismo na sociedade”

(SILVEIRA; ALVES, 2008, p. 134), função de uma educação crítica, humanizadora e

comprometida com o bem comum, tendo como foco a educação ambiental crítica,

particularmente voltada para a formação do sujeito em um contexto de profundas contradições

socioambientais, e ao mesmo tempo, de necessidade de superação das mesmas.

Por isso, foi considerada a preocupação de ser rigoroso e criterioso, a fim de evitar que

equívocos e retrocessos teóricos significativos, com suas indesejáveis consequências práticas

e cumulativas ocorressem, e pudessem desviar e comprometer o foco da pesquisa, sobretudo

em um momento tão importante como o da atualidade, marcado por uma crise de valores e de

caráter socioambiental sem precedentes, que vem se constituindo e acumulando ao longo da

história da humanidade, com o qual o processo educativo não pode compactuar.

Essa situação exige dos processos educacionais formativos uma maior atenção e

comprometimento, sobretudo daqueles diretamente relacionados com a formação de

educadores, haja vista que estes, por meio do trabalho educativo continuado e prolongado, são

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60

os que poderiam contribuir enormemente com a formação das pessoas a partir de concepções

e perspectivas transformadoras.

Dessa forma, ao longo do desenvolvimento deste trabalho, levou-se em consideração

que não bastaria apenas ter acesso a fontes variadas de pesquisa vistas como críticas e

comprometidas com propostas de formação e transformação do ser humano e da sociedade a

partir de uma perspectiva socioambiental crítica e inserida na complexa realidade do

cotidiano, pois seria preciso conhecê-las e saber contextualizá-las de acordo com a realidade a

ser estudada.

Assim, se quis que as mesmas pudessem se constituir em um suporte teórico capaz de

enriquecer e potencializar as elaborações educacionais e concepções teóricas e práticas que

estivessem voltadas para o aspecto formativo de educadores e dos cidadãos, tendo em vista

que “a educação não é apenas um processo institucional e instrucional, seu lado visível, mas

fundamentalmente um investimento formativo do humano, seja na particularidade da relação

pedagógica pessoal, seja no âmbito da relação social coletiva” (SEVERINO, 2006, p. 621).

Logo, foi necessário estar atento a todas as particularidades e aspectos existentes para

haver de fato um substantivo e melhor aproveitamento dos vários autores e das diversas

concepções teóricas envolvidas e utilizadas como fonte de pesquisa.

Sendo assim, houve a utilização de várias publicações elaboradas com a contribuição

de conhecidos autores que se destacam no campo da pesquisa e da produção acadêmica

voltadas para o pensamento pedagógico, a educação ambiental e as questões relacionadas com

a ecologia vistas a partir de uma perspectiva educativa e formativa mais ampla, de forma a

enriquecer a elaboração deste trabalho.

3.2 Elaboração do conteúdo do material didático (Po rtfólio)

O conteúdo do portfólio intitulado Educação ambiental crítica, sociedade e

cidadania: questões para o cotidiano do educador, foi elaborado considerando as seguintes

necessidades:

a) produzir um recurso didático acessível a todos os profissionais da educação que

viessem utilizá-lo;

b) ter a função de ser um suporte teórico atualizado, com temas diversificados e de

leitura rápida e de fácil compreensão;

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c) desperta, nos educadores, o interesse pelos temas socioambientais;

d) contribuir com a formação mais plural de educadores voltados para as diversas

questões ambientais do cotidiano.

Este último ponto propõe considerar que as questões ambientais estão presentes em

praticamente todos os lugares e situações, mas que nem sempre são adequadamente

observadas, consideradas e assimiladas pelas pessoas, e convém incluir, por diversos

educadores, uma vez que estes deveriam se constituir em protagonistas na missão de

construção da consciência ambiental, especificamente no interior da modalidade formal.

Esse quadro ocorre muito em função de a concepção da questão ambiental recebida,

aceita ou elaborada pelas pessoas ter ocorrido a partir de valores e percepções fragmentadas,

reducionistas e acríticas, estabelecidos pelo senso comum, com um forte predomínio da visão

naturalista ou biologizante, mas que em função da existência de um cenário socioambiental

em crise nos dias atuais, já não dão conta de entender a complexidade do assunto e suas

exigências, inclusive contribuindo para obstaculizar a possibilidade de compreensão de sua

natureza e significados concretos, que para serem alcançados, exigem uma formação mais

ampla e profunda da questão.

Por isso, a necessidade de construir alternativas teóricas, didáticas e pedagógicas que

possam colaborar e significar o desvelamento dessa realidade adversa, sinalizando para a

necessidade de uma leitura crítica do contexto que se apresenta, e como desdobramento, de

propostas e posturas que levem à sua superação.

Dessa forma, o conteúdo do portfólio foi produzido considerando o exposto acima,

havendo a preocupação de diversificar seus assuntos, contemplando os vários temas que hoje

compõem o debate da questão ambiental, o tornando compreensível e acessível para os que

dele fizeram uso, sem, no entanto, empobrecer o foco dos assuntos abordados, ainda que não

se tivesse a pretensão de esgotar todos os temas possíveis de serem considerados, evitando

também produzir o discurso que “se sustenta na mesma lógica desenvolvimentista,

artificializante dos modos de viver e homogeneizante das subjetividades” (MARIN;

KASPER, 2009, p. 278), que também não iria contribuir com a proposta de formação crítica e

emancipatória proposta por este trabalho.

O conteúdo dos textos do portfólio também procura desconstruir a visão romântica,

atemporal e até, pode-se dizer, mítica, muito presentes nas abordagens da questão ambiental,

propondo dessa forma, inseri-la e contextualizá-la às diversas áreas constituintes da

sociedade, função que cabe também à educação ambiental crítica promover, sobretudo quando

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a mesma se propõe a contribuir com o aspecto formativo de educadores voltados para

desenvolver atividades nessa área.

A linguagem utilizada na elaboração do conteúdo do portfólio, enquanto recurso

didático a ser aplicado por meio de uma prática pedagógica comprometida com propostas

transformadoras, trouxe como objetivo almejar um processo de formação de educadores por

meio de um conteúdo crítico, emancipatório, diversificado e aberto às contribuições de várias

áreas do conhecimento, considerando a realidade do cotidiano vivenciado pelos educadores e

os desafios existentes em seu meio.

Tendo como necessário a formação contínua e crítica de educadores, mas ao mesmo

tempo sabendo que os mesmos vivem uma realidade ainda carente nesse aspecto,

especificamente no que diz respeito àquele voltado para a questão ambiental, a escolha e a

elaboração do conteúdo do portfólio buscou incluir temas que pudessem inserir a formação

dos educadores à realidade do contexto socioambiental vivido pela humanidade nos dias

atuais, procurando também relacioná-los às situações existentes no cotidiano local, almejando

dessa forma manter a relação de permanente ligação entre a realidade local, regional, nacional

e global.

Assim, com o conteúdo do portfólio, houve o intuito de despertar e ao mesmo tempo

possibilitar aos educadores o desenvolvimento da percepção para a complexidade e os

desafios do tema, existentes inclusive no interior da escola, pois ela “faz parte do problema,

não é somente parte da solução” (GADOTTI, 2008c, p. 13), já que a escola também contribui

no processo de reprodução do modelo societário existente, incluindo a cultura antiecológica,

mas ao mesmo tempo, se constitui em um espaço rico de possibilidades diversas e viáveis de

contraponto a essa conjuntura.

Todo o conteúdo do portfólio foi distribuído em dezoito textos, que são independentes

entre si, podendo ser lidos e debatidos sem necessariamente seguir a ordem na qual foram

colocados, mas ao mesmo tempo eles mantêm uma inter-relação de complementaridade,

sendo que no final de cada um deles foram formuladas algumas questões para estudos e

debates, que podem ser realizadas de forma individual, mas preferencialmente em grupos,

com o propósito de aprofundamento e ampliação do tema lido, mas sempre procurando incluir

aspectos da realidade local, por eles estarem inseridos no cotidiano dos educadores, mesmo

que em muitas situações não sejam percebidos e debatidos.

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3.3 Aplicação do recurso didático voltado para a fo rmação de educadores

A fase de aplicação do material produzido foi iniciada com a realização de uma oficina

pedagógica, utilizando na apresentação e no desenvolvimento da mesma o auxílio de recurso

didático visual, tendo a presença de vários educadores que foram convidados a participarem

da pesquisa de avaliação do material didático (portfólio) elaborado.

Vários foram os propósitos para a realização da oficina, a saber:

a) possibilitar aos participantes a oportunidade de conhecerem o objetivo do trabalho

desenvolvido com a elaboração do portfólio;

b) sinalizar para o sentido e a urgência de a formação de educadores para a abordagem

crítica da questão ambiental ser, de fato, concretizada enquanto necessidade pessoal,

profissional e de comprometimento com a cidadania;

c) apresentar os temas do conteúdo do portfólio;

d) explicitar a proposta da educação ambiental crítica;

e) expor os dilemas cada vez mais pertinentes da questão ambiental atual, as demandas

que recaem sobre o papel dos educadores, das escolas e suas implicações;

f) conhecer as possíveis contribuições do pensamento pedagógico de Paulo Freire a

esse tema em consonância com as especificidades referentes à formação de

educadores.

A oficina se constituiu em um momento para o encontro de muitos educadores com a

verdadeira dimensão, significado e desafio da questão ambiental por meio da educação

ambiental crítica e a oportunidade de explicitar as intrínsecas relações destas com a

necessidade de formação dos educadores.

Tendo em vista que “a realização de oficinas para a elaboração de uma proposta de

Educação Ambiental pode ser um caminho para a preparação e adequação de professores para

a prática da Educação Ambiental” (ALMEIDA; BICUDO; BORGES, 2004, p. 130),

procurou-se, ao longo de sua realização, promover um espaço de descoberta e debate que

pudesse ser um momento de crescimento e de despertar dos participantes para o tema

apresentado.

Já no final da oficina, como forma de constatar e registrar tais informações, foi

distribuído aos participantes da pesquisa o portfólio, composto por diversos textos, abordando

a questão ambiental, para ser estudado e debatido individual e/ou coletivamente. Este

momento possibilitou aos participantes manusearem o material elaborado e conhecerem os

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diversos assuntos apresentados em seu conteúdo e suas características, bem como a

oportunidade de fazerem algum comentário sobre o mesmo. Acompanhando o portfólio, foi

entregue aos participantes da oficina o questionário.

Considerando que todos os participantes da pesquisa são profissionais da educação

comprometidos com uma carga horária extensa de trabalho, vivendo os dissabores da

profissão e das dificuldades que ela impõe a todos no cotidiano, foi acordado entre o autor do

material didático e responsável pela pesquisa e os educadores envolvidos, um prazo adequado

para que todos pudessem ter o tempo suficiente para realizarem a leitura e a análise do recurso

didático e a devolução do questionário respondido em uma mesma data.

Também foi pedido a todos os educadores participantes da pesquisa que, ao

responderem as perguntas do questionário de avaliação do material didático a ser analisado,

fosse manifestada com sinceridade a opinião que realmente eles tivessem sobre o portfólio, de

forma a fazer uma avaliação com a maior isenção possível, procurando evitar uma análise

condicionada ou camuflada por quaisquer questões de caráter pessoal ou profissional

impeditivas de uma postura rigorosa e independente, que não viesse a corresponder de

maneira única e exclusiva ao objeto de análise.

Esse procedimento teve como objetivo realizar um diagnóstico de como os

profissionais da educação participantes da pesquisa analisariam e interpretariam o conteúdo

do portfólio, a possibilidade, viabilidade e funcionalidade de sua aplicação, seu formato e a

utilidade didática que ele possui, e ainda, a contribuição pedagógica que o referido material

poderia oferecer à aplicação do tema como atividade informativa, formativa e,

automaticamente, educativa para os que vierem a utilizá-lo em eventuais projetos e ações

voltados para a formação do sujeito ecológico, tendo os educadores como foco principal e,

obviamente, por extensão, os que compõem o conjunto da comunidade escolar, mas

considerando que em uma pesquisa “os problemas podem apresentar diferentes níveis de

complexidade” (GIL, 2005, p. 585).

A todo instante foi colocado para os educadores, ainda na oficina como também nos

diálogos e esclarecimentos ocorridos nos dias após a realização da mesma, que a formação

deles é uma condição essencial para que de fato também pudessem se tornar formadores de

outras pessoas.

Assim, antes de se pensar em elaborar propostas de ação em educação ambiental junto

às escolas onde eles atuam e até mesmo no seu entorno, foi reforçado o argumento da

necessidade de os mesmos procurarem ser minimamente e adequadamente formados tanto nos

aspectos teóricos como práticos, e que o manual ora sob análise e avaliação tinha como

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objetivo ser um instrumento, e apenas isso, de contribuição, entre tantas outras formas

existentes e disponíveis, para possíveis iniciativas que objetivassem alcançar esse fim.

Dessa forma, com o desenvolvimento de todas as etapas acima descritas, buscou-se

alcançar informações, dados e o suporte necessário para a concretização dos objetivos

propostos no desenvolvimento desta pesquisa.

3.4 Aspectos do questionário aplicado

O questionário de avaliação do material didático distribuído aos educadores foi

formulado objetivando, primeiramente, obter informações de caráter pessoal e profissional,

como a idade, o sexo, os anos de docência, as disciplinas lecionadas pelos educadores, as

áreas de formação e o número de escolas que os mesmos exercem a função de educadores.

Também se quis saber se os mesmos, em algum momento ao longo da vivência do

exercício do magistério, abordaram ou desenvolveram atividades relacionadas à temática

ambiental, como forma de constatar alguma experiência ou vivência prévia com o assunto.

As perguntas mais especificamente relacionadas com o conteúdo e as características

do manual foram doze, que apresentaram opções de resposta e, dependendo das mesmas, a

possibilidade e/ou a necessidade de o educador participante da pesquisa explicar o porquê das

mesmas.

Com as perguntas do questionário, buscou-se alcançar a avaliação por parte dos

educadores do material didático elaborado e distribuído, tendo como perspectiva que as

informações e os dados a serem obtidos, pudessem ser analisados e interpretados conforme

Gil (2005), com o objetivo de fornecer um quadro real da percepção, de entendimento e de

eventuais iniciativas que estivessem sendo tomadas no trabalho educativo desses profissionais

no que diz respeito ao tema escolhido para esta pesquisa, e, sobretudo, como e quais as

possíveis contribuições concretas que o portfólio poderia se constituir em um aliado na

formação de educadores voltados para a abordagem da educação ambiental crítica.

Dessa forma, procurou-se:

a) conhecer a concepção que os mesmos já possuíam sobre a necessidade do aspecto

formativo e continuado em educação ambiental crítica se constituir em uma prioridade

para os educadores;

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b) analisar qual o entendimento que os mesmos têm sobre o que seja educação

ambiental crítica;

c) saber se há experiências acumuladas de atividades desenvolvidas nas escolas onde

eles desenvolvem a docência e ação pedagógica;

d) entender a importância da formação de educadores para o cotidiano escolar e social

no contexto de atuação deles;

e) interpretar o significado teórico e prático do pensamento pedagógico de Paulo

Freire, e suas implicações no processo formativo dos educadores;

f) analisar como essas questões poderão ser elaboradas e aplicadas conjuntamente

pelos educadores no ambiente escolar e educativo, a fim de propiciar benefícios na

formação crítica e na atuação dos profissionais da educação, de maneira que os

mesmos possam, posteriormente, desenvolvê-las junto aos seus alunos bem como

estendê-la a toda comunidade escolar pelos vários meios didáticos e pedagógicos

possíveis.

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4 O PRODUTO

O produto desenvolvido como recurso didático-pedagógico na condição de exigência

parcial para a realização desta pesquisa foi um portfólio voltado para a formação de

educadores, intitulado Educação ambiental crítica, sociedade e cidadania: questões para o

cotidiano do educador.

A razão de elaborar esse material como recurso didático-pedagógico se deu em função

da demanda existente e da necessidade de abordagem da formação em educação ambiental a

partir de uma perspectiva crítica e emancipatória, o que pressupõe se opor às concepções e

práticas estagnadas pelo senso comum e por posturas equivocadas e conservadoras que

concebem a educação ambiental como processo acrítico e descontextualizado das várias áreas

que caracterizam a sociedade moderna, tendo estas inclusive uma forte penetração e

influência no interior das escolas e no processo educacional.

O portfólio também propõe desconstruir a visão romântica do assunto, na qual muitos

educadores se baseiam, concebendo-a a partir de modismos e práticas educacionais sem um

maior comprometimento do significado verdadeiramente conscientizador, mobilizador e

transformador que cabe à educação ambiental cumprir (GUIMARÃES, 2006) em todos os

segmentos da sociedade, sobretudo no espaço e no tempo escolar.

Sendo assim, ao longo da elaboração do portfólio, houve a preocupação de produzir

textos que pudessem estar ligados diretamente às questões socioambientais em evidência nos

tempos atuais, de forma a possibilitar aos que dele viessem fazer uso uma leitura crítica,

contestatória e propositiva, e capaz de ser uma forma e fonte de inspiração, sensibilização e

comprometimento com um modelo de formação crítica, e ao mesmo tempo, inserida no

cotidiano por meio de uma práxis educacional transformadora.

A estruturação do portfólio segue o padrão básico de acordo com as normas técnicas,

tendo a seguinte sequência: uma capa, com o título, uma didicatória, uma epígrafe, o sumário,

a introdução com duas páginas, dezoito textos, que apresentam o tamanho máximo de uma

página e meia cada um, com letra tamanho doze e espaçamento de um e meio entre linhas, e a

referência bibliográfica, totalizando quarenta e cinco páginas.

O quadro na página seguinte apresenta toda a estruturação, os temas presentes e a

sequência na qual eles foram apresentados no portfólio.

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Capa

(Título)

EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA, SOCIEDADE e

CIDADANIA: QUESTÕES PARA O COTIDIANO DO

EDUCADOR

Dedicatória

Epígrafe

Sumário

Introdução

Texto 1 O ser humano e o meio ambiente

Texto 2 A educação como aliada da educação ambiental

Texto 3 A escola como espaço e meio de construção da consciência ambiental

Texto 4 O que é educação ambiental crítica?

Texto 5 O educador como mediador do processo de construção da consciência

ambiental

Texto 6 O legado de Paulo Freire para a educação ambiental crítica

Texto 7 Meio ambiente e interdisciplinaridade

Texto 8 O analfabetismo ambiental

Texto 9 Os problemas ambientais do momento

Texto 10 Organização, mobilização e lutas sociais em prol do meio ambiente

Texto 11 A cidade, seus problemas e o debate da questão ambiental

Texto 12 A formação do sujeito ecológico

Texto 13 Meio ambiente, desigualdades, injustiças e conflitos socioambientais

Texto 14 Consciência ambiental

Texto 15 O ecochatismo

Texto 16 Pensar e agir local e globalmente

Texto 17 O exercício da cidadania ambiental

Texto 18 Dilemas da questão ambiental

Referências Bibliográficas

Considerando que o portfólio foi feito para ser um recurso a mais na formação de

educadores, e estes por sua vez, têm ou terão a missão contribuir, ainda que minimamente,

com a formação dos estudantes de todos os níveis da educação básica, todos os textos que o

compõem procuram englobar temas e questões variados, mas diretamente relacionados à

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questão ambiental, e ao mesmo tempo, a vários aspectos intimamente ligados ao processo

educacional, procurando dessa forma possibilitar aos educadores um conteúdo diversificado e

capaz de despertar a necessidade de procurar em outras fontes complementares o

aprofundamento necessário dos conteúdos nele presentes.

Os textos do portfólio abordam temas diversificados, voltados para a formação do

educador, com uma linguagem familiarizada com questões, conceitos e vocabulário

específicos do campo educacional e ambiental, mas sem cair no vício do academicismo, do

tecnicismo e do cientificismo desnecessários, enfadonhos e dificultadores de uma assimilação

clara, crítica e objetiva. Por ser formado por textos curtos e temas específicos, mas que estão

profundamente relacionados entre si, o portfólio foi elaborado de forma a possibilitar aos que

o lerem a apreensão de seu significado e objetivo.

Ao fim de cada texto, há três ou quatro questões para estudos e debates, que visam

promover a análise crítica, a reflexão, o debate coletivo e propositivo e o aprofundamento

sobre os respectivos assuntos, inclusive considerando as questões relacionadas com cotidiano

local dos educadores, mas, ao mesmo tempo, contextualizadas com os aspectos regionais,

nacionais e globais complexos e presentes no debate ambiental atual, pois se deve considerar

que tão importante quanto à informação que se alcança por meio da leitura, é a formação

crítica possível e necessária que pode ocorrer quando se usa adequadamente um material

didático.

Pode-se observar que os títulos dos textos que constituem o material produzido não

esgotam os diversos temas possíveis a serem considerados em um material didático e

pedagógico sobre educação ambiental voltado para a formação de educadores, pois não foi

este o propósito do trabalho apresentado.

Por outro lado, por meio do portfólio procurou-se oferecer temas geradores que

pudessem ser associados aos diversos assuntos possíveis, contribuir e despertar o educador

para a necessidade de ampliar e aprofundar suas informações, seus conhecimentos e sua

formação, formar opinião, e ao mesmo tempo, reforçar e possibilitar uma capacidade

individual e coletiva maior de inserção transformadora no cotidiano educacional e escolar e

até mesmo no conjunto da sociedade, já que somente “rejeitar um presente inaceitável não

significa necessariamente formular, quanto mais fornecer, uma solução para seus problemas”

(HOBSBAWM, 1995, p. 545) que de fato são muitos e reconhecidamente complexos.

Na elaboração do texto de cada título apresentado, houve a tentativa de utilizar uma

linguagem com grau de complexidade adequado para o nível de formação dos educadores,

mesmo considerando que entre eles há formação profissional, experiências com a educação

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ambiental e diferentes concepção, percepção e relação com a questão ambiental como um

todo completamente diversificados, o que evidentemente não diminuiu nem empobreceu o

propósito do trabalho e de todas as considerações que foram observadas ao longo da pesquisa.

O conteúdo do portfólio objetiva desmistificar a questão ambiental a partir das

concepções existentes e oriundas da educação ambiental crítica, tirá-la do senso comum, da

visão conservadora e reducionista que ainda existe no interior da maioria das escolas e

contestar as muitas posturas e práticas pedagógicas que a entende como sendo função

específica de professores de ciências, biologia e, no máximo, de geografia. Também é uma

forma de se contrapor aos modismos de ocasião em relação ao assunto, que não contribuem

com mudanças significativas, podendo, inclusive, contribuir para alcançar resultados

contrários, como a possibilidade de banalização do assunto e esvaziamento de seu significado

e sentido, com muitos prejuízos didáticos e pedagógicos.

Dessa forma, o portfólio procura evidentemente conceber e apresentar a questão

ambiental, a educação ambiental e o papel do educador de forma crítica e abrangente como

uma necessidade do mundo atual, levando-se em consideração que “o desenvolvimento do

pensamento e, consequentemente, a produção de conhecimentos surgem de finalidades

práticas” (ABRANTES; MARTINS, 2007, p. 318).

E a partir disso, despertar para a possibilidade de um processo de formação de

educadores com novas perspectivas e compromissos a serem assumidos diante de tantos

desafios que se acumulam, não somente para as escolas e os educadores, mas como para os

diversos segmentos das mais diferentes sociedades.

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5 RESULTADOS

5.1 O perfil dos participantes da pesquisa

Ao todo, participaram da pesquisa dezenove profissionais da educação, sendo treze do

sexo feminino e seis do sexo masculino. A graduação deles é diversificada e todas em

licenciatura, a saber: um em filosofia, um em letras, um em matemática, um em educação

física, um em ciências biológicas, dois em física, dois em história, dois em normal superior,

três em geografia e cinco em pedagogia.

Dos dezenove educadores pesquisados, um deles tem dois anos de docência, dois têm

três anos de experiência profissional, três deles já estão lecionando há quatro anos, há três

educadores com cinco, sete e nove anos, respectivamente, de experiência no magistério, dois

com dez anos de docência, outros quatro com onze, doze, quatorze e dezessete anos,

respectivamente, dois com vinte e dois anos, um com vinte e seis anos e um já com trinta e

dois anos de trabalho docente.

A idade dos educadores pesquisados se situa entre vinte e dois anos a quarenta e nove

anos, sendo cinco deles com 22, 26, 30, 31, 32 anos, dois com 33 anos, outros cinco com 34,

36, 38, 39 e 40, anos, dois com 41 anos, dois com 43 anos e outros três com 44, 46 e 49 anos,

respectivamente.

Entre os dezenove educadores, onze deles trabalham apenas em uma escola, alguns

deles com dois cargos na mesma escola, e os outros oito educadores trabalham em duas

escolas. Todos são educadores de escolas públicas, desenvolvendo atividades na educação

básica, desde a alfabetização até o ensino médio, sendo seis delas escolas estaduais e uma

municipal.

É válido dizer que “estas considerações a respeito das características pessoais e

profissionais (...) auxiliam bastante na composição de um perfil” (FLÔR; SOUZA, 2008, p. 5)

dos educadores, o que facilitou conhecer um pouco mais sobre aqueles a quem cabe a função

de educar, e no caso específico, desenvolver atividades educativas voltadas para a questão

ambiental, tendo em vista a necessidade de considerar diversidade, as diferenças e

especificidades que o conjunto dos educadores apresentou.

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5.2 Interpretação dos resultados

5.2.1 Resultados da oficina pedagógica

A realização da oficina foi um momento importante, pois muitos dos participantes

tiveram a oportunidade de fazerem seus comentários, se inteirarem mais sobre o assunto e

sanarem algumas dúvidas existentes em relação à questão, sobretudo por perceberem os

desafios e a dimensão multifacetada envolvidos no processo de formação de professores, com

destaque para a área específica de educação ambiental, que ainda se constitui em uma

necessidade e, ao mesmo, em uma carência no interior das escolas.

A realização e os desdobramentos de uma oficina pedagógica “remetem a temas, a

determinados movimentos pedagógicos, a referenciais teóricos, a demandas sociais, a

demandas da práxis do professor etc.” (SOUZA; GOUVÊIA, 2006, p. 309). Por isso foi

possível perceber que muitos dos educadores conseguiram compreender a função de

transversalidade que a educação ambiental pode ter entre as diversas disciplinas escolares,

sobretudo quando sua abordagem contempla as várias áreas do ensino, não se tornando refém,

monopólio ou privilégio de algumas disciplinas em detrimento de outras e do processo

educacional como um todo.

Ao longo dos dias após a realização da oficina, ocorreram entre o responsável pela

pesquisa e os profissionais da educação envolvidos com a mesma - professores, pedagogos e

coordenadores -, vários momentos de conversas, comentários, rápidos encontros, diálogos e

acompanhamentos para orientações, objetivando contribuir para um melhor conhecimento e

efetivo aproveitamento da leitura do portfólio e, por consequência, da valorização e

importância da pesquisa proposta.

Este fato possibilitou entender “que oficinas com professores parecem ser uma

maneira de formar profissionais ou capacitá-los para uma prática educativa renovada,

buscando-se a recuperação dos valores sociais, culturais e ambientais” (ALMEIDA;

BICUDO; BORGES, 2004, p. 130), sobretudo tendo em vista que esses profissionais - uma

vez possuindo uma percepção mais profunda e compreensível da necessidade de uma

formação continuada dos educadores, e no caso específico, na área de educação ambiental

crítica -, são aqueles que poderão se envolver diretamente no desenvolvimento de trabalhos

educativos voltados para as atividades de educação ambiental nas escolas onde atuam.

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5.2.2 Resultados do questionário

A primeira pergunta do questionário de avaliação não está relacionada diretamente

com o material didático-pedagógico analisado, que é o foco e objetivo principal desta

pesquisa, mas buscou obter uma informação sobre os participantes da pesquisa em relação a

alguma experiência anterior de prática docente dos mesmos direcionada à questão ambiental.

A pergunta é pertinente e tem sua importância em função da familiaridade que ela

apresenta em relação a algum vínculo com a questão ambiental, ainda que ocasional e

temporário, à experiência pessoal, à formação e atuação dos educadores com a área de

educação ambiental, sobretudo no cotidiano escolar, temas que estão muito presentes no

conteúdo do portfólio elaborado, no propósito da pesquisa desenvolvida e que poderiam

ajudar a conhecer e entender o perfil dos mesmos.

A pergunta apresenta a seguinte formulação:

Você, em algum momento do exercício da do ciência, já abordou, em suas aulas

ou em outras atividades pedagógicas, temas relacionados à questão ambiental?

Todos os participantes da pesquisa responderam que sim, ou seja, na sala de aula ou

em outra forma de atividade pedagógica (palestra, oficina, debate, atividade de campo, etc.)

eles desenvolveram ao longo do exercício da docência alguma abordagem relacionada a temas

ambientais, podendo, dessa forma, classificá-las como sendo a demonstração de práticas

educativas ambientais formais.

É sensato considerar que o fato de a totalidade dos educadores pesquisados ter

respondido sim, não significa entender e afirmar que todos eles já desenvolveram atividades

educativas contínuas ou elaboraram projetos relacionados com a questão ambiental enquanto

tema transversal, interdisciplinar e de promoção da cidadania. Ou ainda que possuíssem

fundamentos ou noção do ponto de vista conceitual, teórico e prático do significado de

educação ambiental crítica e dos possíveis desdobramentos didáticos e pedagógicos que ela

pudesse possibilitar aos participantes mediante as supostas atividades educativas

desenvolvidas, ou mesmo que estivessem minimamente informados, por meio de leituras e

estudos, dos diversos assuntos em evidência no momento relacionados à questão ambiental.

Por outro lado, dada a evidência do assunto e por conta da amplitude que o debate

ambiental alcançou atualmente em escala planetária, e a educação escolar não poderia ficar

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alheia a essa situação, é normal que a maioria dos educadores já tenha, em algum momento de

sua prática educativa, tomado parte em alguma atividade relacionada com a educação

ambiental, o que não deixa de ser um ponto positivo e até louvável, ainda que caibam

ressalvas e questionamentos quanto ao real alcance e à fundamentação teórica e pedagógica

de muitas particularidades dessas ações educativas, mesmo considerando não ser esse o

objetivo do momento.

5.3 Interpretação das respostas das questões especí ficas relacionadas à análise do produto (portfólio)

Foram doze as perguntas do questionário formuladas para a realização da análise e

avaliação do material didático distribuído aos dezenove educadores participantes da pesquisa.

Da primeira questão até a oitava, as opções de respostas dadas para as perguntas foram sim,

não e em parte, havendo a necessidade de justificativa da resposta dependendo da opção

feita.

Abaixo, serão apresentadas as perguntas tais como foram formuladas, com as

respostas dadas e suas respectivas interpretações.

Pergunta 1: Os textos do portfólio abordam a questão ambiental relacionada com

as diversas áreas do conhecimento presentes no conjunto da sociedade?

De acordo com todos os participantes da pesquisa, sim. Dessa forma, pela

compreensão dos educadores, os temas considerados no portfólio e os seus respectivos

conteúdos, inserem e contextualizam o debate da questão ambiental junto às diversas outras

questões existentes na sociedade atualmente, como, a título de exemplos, as múltiplas funções

da educação, a sociedade civil, o modelo econômico vigente, as diferentes formas de saberes

existentes, o papel dos governos, a política enquanto busca do bem comum, a importância e o

significado da cidadania, entre tantos outros aspectos presentes e necessários na constituição

da sociedade e intimamente relacionados com temas ambientais.

Mesmo havendo a intenção de que os textos produzidos para o portfólio em nenhum

momento tiveram a pretensão de esgotar o debate a que ele propôs, pode-se afirmar que eles

buscaram ampliar o debate da questão ambiental para além da visão reducionista e naturalista,

portanto, fragmentada e superficial, sobre o assunto, na qual eles poderiam ficar limitados,

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conforme muitos autores (BRÜGGER, 2004; CARVALHO, 2004; LOUREIRO, 2004;

REIGOTA, 1999) em diversas ocasiões já alertaram.

Na introdução do portfólio, já havia a sinalização no sentido de o seu conteúdo propor

justamente a abordagem integrada às diversas questões que constituem e caracterizam a

sociedade, deixando bem claro que a educação ambiental crítica voltada para a formação de

educadores deveria considerar todos esses assuntos para que tivesse sentido e pudesse de fato

contribuir com um processo de formação comprometido de fato com a visão crítica e com um

conjunto de propostas transformadoras e emancipatórias, principalmente de educadores.

Apresentar e debater a questão ambiental a partir do processo educacional via,

sobretudo, educação ambiental crítica, pressupõe inserir todos os assuntos à realidade

complexa da sociedade, ainda que ela se apresente de forma adversa, e não cabe, portanto,

insistir em propostas pedagógicas descoladas dessa realidade, como por exemplo, o discurso

de neutralidade da educação em relação a todos os aspectos constituintes da sociedade.

Para essa pergunta, em função das respostas terem sido todas sim, não houve a

necessidade de justificativa das mesmas, pois esta somente seria necessária em caso de

respostas com as opções não ou em parte.

Pergunta 2: O portfólio poderia ser utilizado tanto na formação de educadores

quanto de estudantes e demais pessoas interessadas?

Dezesseis educadores responderam que sim, ou seja, independente do público alvo, o

portfólio poderia ser utilizado como recurso didático-pedagógico em trabalhos educativos

voltados para a formação de estudantes e de outras pessoas na área ambiental, ainda que não

tenha sido necessário explicitar como isso poderia ser feito e especificamente com qual

público, em função de sua idade, formação, necessidades e interesses diversificados, aspectos

a serem considerados quando se pretende utilizar qualquer material didático de forma a extrair

dele resultados satisfatórios voltados para a formação de educadores.

No entanto, dois educadores responderam com a opção em parte, apresentando as

seguintes justificativas: “para trabalhar com alunos dos anos iniciais, teria que fazer algumas

adaptações” e “(...) Porém, com estudantes, (...) deveria ser nos anos finais do ensino

fundamental”, o que é bem compreensível, em função de a linguagem, a diversidade de temas

e a profundidade de alguns textos não estarem, ainda em suas formas originais, plenamente

acessíveis à capacidade de assimilação de alunos da educação fundamental por motivos

compreensíveis e naturais.

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Quanto ao aspecto da aplicação prática com outros segmentos que não os de

educadores, é conveniente considerar, embora não tenha sido feito pelas justificativas desses

educadores, que para o ensino médio, sobretudo para o seu último ano, os textos poderiam, se

trabalhados de forma preferencialmente interdisciplinar, proporcionar um aproveitamento

satisfatório, em função de serem os estudantes já mais amadurecidos intelectualmente.

Também houve um educador que optou pela resposta não, mesmo não tendo

especificado algum tipo de público com o qual não se deveria utilizar o material, adotando

como justificativa que “a linguagem não é adequada”, sendo sua posição também

compreensível e aceita, uma vez que o objetivo dos textos é voltado preferencialmente para a

formação de educadores, daí possibilitando a ampliação de considerações sobre o assunto e a

utilização de referências bibliográficas originárias de muitos livros e artigos científicos,

oriundos principalmente de vários campos do pensamento pedagógico com linguagem e

profundidade teórica diversificadas, estes nem sempre de fácil compreensão para a maioria

dos estudantes da educação básica.

Por fim, é necessário frisar que outras pessoas, pertencentes a outros segmentos, como

militantes ambientalistas e estudiosos, estes principalmente das questões ambientais,

poderiam ter interesse em utilizar o portfólio, possibilidade a ser considerada, pois muitos

desses, em tese, teriam condições de compreenderem satisfatoriamente o conteúdo dos textos,

e assim, poderem utilizá-lo para diversos fins, inclusive no desenvolvimento de parcerias com

as escolas ou em trabalhos formativos não-formais ou informais, também importantes e

necessários na formação do sujeito ecológico.

Pergunta 3: O conteúdo dos textos do portfólio são claros, pertinentes e aplicáveis

para um trabalho de formação de educadores ambientais?

Para essa pergunta, todos os educadores responderam sim, não havendo nenhuma

ressalva, comentário ou observação a ser considerada com o intuito de sugerir alguma

modificação, mesmo tendo em conta a abertura para essa possibilidade, dando a entender que

não encontraram nenhuma dificuldade de assimilação dos significados do conteúdo, o mesmo

quanto ao estilo, à construção e coesão textual, bem como em relação à diversidade,

abrangência e profundidade dos assuntos abordados e à inserção e importância dos mesmos

em meio à realidade do momento.

Em decorrência desse posicionamento dos educadores em relação à pergunta acima

descrita, é possível entender a viabilidade de o portfólio ser utilizado como uma opção de

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recurso didático e pedagógico voltado para a formação de educadores ambientais, sobretudo

os das escolas de educação básica, notadamente por ser uma “tarefa considerada um desafio

para a educação na medida em que se espera que os professores se apropriem de

conhecimentos teóricos e os articulem com sua prática docente” (ALTARUGIO et al, 2005, p.

2), cumprindo o papel de se constituir em um recurso formativo introdutório, mas tendo em

vista que os temas que ele contempla e a amplitude de sua abrangência não podem, por si só,

serem considerados suficientes para dar conta de uma formação plena e contínua voltada para

esse propósito, pois a formação, por ser um processo, pela sua própria natureza exige

múltiplas alternativas e opções a serem utilizadas continuamente de forma intercalada e

convergente.

Por ser um portfólio com assuntos diversificados, foi possível perceber o quanto o

trabalho formativo de educadores voltados para a área ambiental exige a abertura dos mesmos

para uma variada gama de temas do cotidiano, para muitos aparentemente sem nexo com o

tema educação ambiental, alguns dos quais nem sempre estão presentes nos debates sobre o

assunto no espaço escolar ou mesmo em outros materiais impressos, que em diversas

situações, tratam de assuntos mais específicos, não alcançando a totalidade e necessidades

existentes sobre essa questão.

Pergunta 4: A linguagem utilizada nos textos do portfólio é adequada e

compreensível para os educadores?

À pergunta acima apresentada, os educadores foram unânimes em responder sim,

entendendo que a linguagem dos textos estava à altura da capacidade de compreensão dos

mesmos, possibilitando uma fácil assimilação de seu conteúdo e significado, não havendo

exageros linguísticos e excessos de termos técnicos na construção textual, fatores esses que

desfavorecem enormemente a leitura e maior absorção das ideias apresentadas, notadamente

pela análise ter sido feita por um grupo de educadores com formação diversificada, pois

algumas áreas do conhecimento não possuem muita familiaridade com determinados

conceitos essenciais e muito utilizados pela educação ambiental crítica.

Como se sabe, o hábito de leitura, mesmo entre educadores, é diferenciado, não apenas

no aspecto quantitativo, como também no tipo específico de leitura feito por eles, havendo

grandes variações entre uns e outros, e para ocorrer um melhor aproveitamento nessa área,

deve-se procurar favorecer o conjunto da categoria, considerando as características que ele

apresenta. Assim, a linguagem dos textos do portfólio procurou levar em conta essa

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heterogeneidade dos educadores, tendo como preocupação maior a necessidade de estabelecer

de fato a educação ambiental (preferencialmente a de perfil crítico) enquanto tema transversal.

Tendo sido considerado que são várias as particularidades no aspecto formativo

existentes no grupo de educadores pesquisados em relação à familiaridade com a educação

ambiental, os textos foram produzidos levando-se em conta essa realidade, tendo como

objetivo não exigir dos mesmos nenhuma formação específica e evitando impor a eles

qualquer tipo de dificuldade, como a necessidade de informações e conhecimentos prévios

mais abrangentes de áreas voltadas para a questão ambiental, pois o que se quis foi justamente

submeter o material produzido à análise dos educadores a partir de um contexto pedagógico

amplo e interdisciplinar e de uma realidade socioambiental geral, e para isso ocorrer, foi

necessário que os mesmos pudessem compreendê-lo em sua plenitude.

Por possibilitar a confluência de informações, saberes e conhecimentos de várias

áreas, a temática ambiental abarca uma diversidade de assuntos, e estes, uma vez

estabelecidos e apresentados de forma clara e objetiva, podem remeter para uma linguagem

plural e rica em termos técnicos e acadêmicos. Ao mesmo tempo, já existe uma considerável e

rica produção acadêmica proveniente do pensamento pedagógico, com o enorme potencial de

subsidiar processos formativos em educação ambiental, capaz de considerar essas

particularidades.

Assim, as áreas ambiental e pedagógica, quando apresentadas em conjunto, sempre

possibilitarão a elaboração e a sistematização de assuntos derivados dessa síntese, que

naturalmente já são complexos, havendo por isso o risco de se tornarem demasiadamente

complicados, ininteligíveis e inacessíveis àqueles que deveriam utilizá-los como fonte de

informação e formação permanente. Daí a necessidade de ter havido permanentemente a

preocupação de evitar que isso ocorresse, e os cuidados com a linguagem utilizada foram

sempre considerados.

Pergunta 5: O conteúdo do portfólio está contextualizado com a realidade local

vivida pelos educadores ambientais?

A esta pergunta, quinze educadores optaram pela resposta sim, entendendo que as

abordagens feitas pelo portfólio estão voltadas para a realidade que eles, educadores, vivem

no cotidiano local. Ou seja, de acordo com esses educadores, os temas que foram

desenvolvidos nos textos não estão alheios e distantes do contexto socioambiental local

existente, portanto, podem ser relacionados e servirem até como suporte para um melhor

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entendimento dos desafios locais e na forma de contribuição para encontrar soluções e

alternativas em função das demandas existentes.

Mas quatro educadores fizeram a opção pela resposta em parte, e neste caso, de acordo

com essa opção, havia a necessidade de explicitar a resposta, o que foi feito, mas devendo

considerar que as justificativas dadas não foram especificamente em função do conteúdo do

portfólio, que foi o foco da pergunta, mas sim em relação ao papel desempenhado pelas

escolas e pelos educadores frente a esse tema.

Um deles argumentou “(...) que a escola é uma ferramenta que podemos usar para

despertar na sociedade o prazer pela preservação ambiental, o que tem faltado é

comprometimento”. Um outro educador justificou “(...) que existem pequenas ações que

podem ser trabalhadas junto à sociedade e escolas e que não são desenvolvidas pela falta de

consciência e iniciativa de alguns. É necessário unirmos forças”.

Um terceiro educador explicitou sua posição com as seguintes palavras: “Porque os

momentos são realizados de forma fragmentada e não na sua totalidade, como deveriam ser”.

E por último, outro educador escreveu que “Ainda falta muito que fazer, pois por mais que a

escola seja um ambiente propício para a construção da consciência ecológica, ela poderia

adotar mais procedimentos e ações mais concretas em relação ao meio ambiente”.

Pode-se observar pelas quatro justificativas feitas que em nenhum momento foi

apresentado pelos educadores, a partir de seus argumentos, qualquer discordância em relação

ao conteúdo do portfólio, mas os mesmos exprimiram uma posição de visão crítica ao que é

feito pelas escolas e pelos professores, sobretudo localmente, e os argumentos são bem claros

em demonstrar que os próprios educadores têm consciência das limitações de suas ações, pois

eles não têm feito tudo aquilo que poderiam enquanto educadores em relação à área

ambiental, mesmo havendo diversos motivos, explicações e justificativas que se constituem

em fatores impeditivos e limitadores de uma melhor atuação dos educadores.

Quanto a esses posicionamentos, pode-se constatar que existem vários fatores para

explicá-los, os quais se diagnosticados e investigados, poderiam possibilitar um melhor

entendimento dos diversos significados desse quadro, mas não há dúvidas de que o aspecto da

formação de educadores voltada para a área de educação ambiental se constitui em uma

necessidade a ser pensada e analisada, provavelmente sendo um dos pontos centrais mais

preocupantes dessa questão, sem o qual haverá permanentemente um comprometimento da

capacidade de intervenção satisfatória dos educadores.

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Pergunta 6: Há alguma parte dos textos do portfólio que pode ser considerada

desnecessária para o trabalho de formação de educadores ambientais?

Dos dezenove educadores participantes da pesquisa, dezoito deles responderam não,

entendendo que todos os textos são adequados e necessários para o desenvolvimento de

propostas pedagógicas, de conteúdos e de trabalhos voltados para a formação de educadores

ambientais.

Como já demonstrado anteriormente, o portfólio é constituído de dezoito textos, cada

um focado sobre determinado assunto, mas todos inseridos nos aspectos socioambientais,

humanos, pedagógicos e educacionais, objetivando, prioritariamente, a formação de

educadores inseridos na realidade do mundo atual. A partir desse perfil do portfólio, os

educadores optaram em definir os textos como adequados para o propósito a que foram

destinados, mesmo sabendo ser natural que alguns textos tenham sido vistos com mais

prioridade e simpatia em relação a outros.

No entanto, houve um(a) educador(a) que optou pela resposta sim, dando a entender

que alguns textos, a saber, O analfabetismo ambiental (texto 8) e O ecochatismo (texto 15), os

quais inclusive citados nos comentários finais do questionário, foram considerados

desnecessários para o propósito do portfólio, embora sejam dois assuntos muito comumente

inseridos no debate e nas produções acadêmicas referentes às áreas educacional como

ambiental.

A leitura, interpretação e assimilação de cada educador dos textos certamente

apresentaram variações de um em relação aos outros, com pontos de vista diferenciados em

função de vários fatores a serem observados, como a vivência prévia de cada um com os

temas abordados nos textos, a formação acadêmica individual, a familiaridade, em alguns

casos, mesmo que somente teórica, com alguns temas, em detrimentos de outros, sendo

alguns deles sequer conhecidos, as ideias já pré-concebidas, embasadas pelo senso comum,

entre tantas outras possibilidades, que ajudam a entender as diferenças existentes na forma de

interpretar os significados.

Com base no exposto acima, torna-se também normal que ocorram, mesmo entre

educadores, concepções, elaborações, opiniões e até posicionamentos em relação a um mesmo

assunto de formas distintas, dado que as condições acima descritas interferem e fundamentam

esses posicionamentos. Quanto a isso, cabe aos educadores evitar que essas diferenças não

levem nem justifiquem a falsa consciência, o ocultamente e distanciamento da realidade

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socioambiental e o comprometimento da prática pedagógica e educacional, que são aspectos

realmente de maior interesse face às necessidades da prática docente.

Pergunta 7: Há necessidade de incluir no portfólio alguma temática ambiental

que não tenha sido contemplada em seu conteúdo?

Quanto a esta pergunta, todos os educadores responderam não, considerando que o

conteúdo do portfólio já abordou temas diversificados e suficientes para ser utilizado em

trabalhos de formação de educadores na área de educação ambiental.

Obviamente, um material didático constituído por dezoito textos, totalizando quarenta

e cinco páginas, não tem a pretensão de esgotar as possibilidades de abordagem de questões

ambientais, pedagógicas e educacionais que estejam voltadas para a formação de educadores

oriundos de diversas áreas do conhecimento e com experiências e familiaridades variadas e

diferenciadas em relação à educação ambiental de perfil crítico, que para ser satisfatoriamente

absorvida e vivenciada, exige muito mais do que isso.

Por outro lado, a intenção inicial ao produzir o portfólio foi a de justamente apresentar

um conteúdo de caráter introdutório para essa formação voltada para a educação ambiental

crítica, dispensando assim qualquer intenção de aprofundamento imediato em qualquer tópico

ou de abranger todos os temas possíveis, o que somente seria possível com sucessivas e

organizadas leituras de vários artigos e livros aliadas com atividades práticas e a participação

contínua em encontros, seminários, congressos e outros meios formativos que possam de fato

contribuir com uma formação mais ampla e profunda, rica em informações e conhecimentos.

Mas estes aspectos inerentes e tão necessários à formação do educador, somente se

concretizam ao longo do tempo, exigindo dos que se interessarem percorrer esse caminho,

muita pesquisa, vontade, disposição e disciplina, sem as quais não ocorre uma formação

avançada em qualquer área do conhecimento.

Por isso, também é necessário entender a resposta dos educadores a partir dessa

perspectiva, o que, aliás, já tinha sido adiantado e comentado ao longo da realização da

oficina com muitos de seus participantes ainda antes de o portfólio ser lido por eles, para não

ficar a impressão de que todos os temas abordados fossem suficientes no processo de

formação plena.

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Pergunta 8: Após a leitura dos textos do portfólio, ocorreu a absorção de novas

informações e conhecimentos até então não considerados pela sua formação anterior,

que possibilitaram a você ter um novo olhar e entendimento da questão ambiental?

As respostas dadas a esta pergunta apresentaram um resultado bastante heterogêneo,

possibilitando entender que houve da parte dos educadores participantes da pesquisa

diferentes leituras e entendimentos do conteúdo e da proposta do material.

Nove educadores responderam sim, o que significa uma contribuição positiva do

conteúdo do portfólio no sentido de ampliar e melhorar a compreensão e percepção, por meio

de informações, conhecimentos e propostas, do alcance da questão ambiental nos dias atuais,

alguns apresentando suas justificativas com argumentos, entre outros, como “Passei a ver a

questão ambiental como um todo (...).” e “(...) sem esta abordagem crítica, ousada e

contextualizada, não seria possível uma conscientização. Ela veio incrementar e fixar ideias

sobre o meio ambiente”. A partir dessas palavras, pode-se entender que para esses

educadores, o conteúdo do material serviu como um suporte e reforço para melhorar a visão

do assunto em relação ao que existia antes de sua leitura.

Alguns também especificaram alguns textos, como o da interdisciplinaridade, do

ecochatismo, o dos dilemas da questão ambiental, o do exercício da cidadania ambiental,

entre outros, como tendo sido importantes para alcançar uma opinião e entendimento diferente

e mais amplo dos temas em relação à compreensão que tinham antes da leitura do portfólio,

constatando, de acordo com um dos educadores, ser “(...), portanto, necessário repensar as

nossas práticas (...)”, sugerindo um aproveitamento do material como contribuição importante

para a formação pessoal.

Porém, quatro dos educadores responderam não, o que sugere entender que a leitura

dos textos não contribuiu significativamente para os mesmos adquirirem uma outra percepção

da questão ambiental em relação à que já possuíam antes.

Várias poderiam ser as razões que levaram a essa posição, entre elas as de que esses

educadores certamente teriam estudos, vivências, pesquisas, informações e conhecimentos já

acumulados sobre o assunto, condições que possibilitariam aos mesmos possuírem uma

formação mais abrangente, específica e diferenciada sobre a área ambiental em relação aos

demais educadores, que em caso positivo, justificaria essa posição.

Por fim, mas não menos importante, houve cinco educadores que responderam a opção

em parte, permitindo assim interpretar que o portfólio tenha sido útil para a formação dos

mesmos, acrescentado algumas informações e considerações, ainda que com algumas

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limitações e ressalvas a serem feitas, aspectos comuns a qualquer material didático com a

proposta de estar voltado para a formação de educadores, pois dificilmente algum material

com esse propósito contemplará todos os interesses e necessidades existentes ao mesmo

tempo.

Em tempo: Ouve um questionário que não teve essa pergunta respondida por uma dos

educadores, certamente por esquecimento do mesmo.

Pergunta 9: O conteúdo do portfólio, após ser estudado e debatido, possibilita aos

educadores ambientais terem iniciativas junto à comunidade escolar e à sociedade,

objetivando a construção coletiva da cidadania ambiental?

Para a pergunta acima descrita, todas as respostas foram sim. Dessa forma, a

interpretação que se pode fazer é a de o portfólio poder se constituir em um recurso auxiliar

capaz de contribuir com iniciativas que visem melhorar a formação dos educadores na área de

educação ambiental, e estes, por sua vez, a partir disso, poderiam adotar condutas e iniciativas

educacionais capazes de, junto à comunidade escolar (direção, professores, pedagogos,

funcionários, alunos e pais) e por extensão, à sociedade como um todo, por vários meios

existentes e possíveis, construir um processo contínuo de exercício pleno da cidadania

ambiental.

Tendo em vista que a educação ambiental, em sua modalidade formal, para ocorrer

necessita da presença vital do educador, sem a qual o processo não se concretizará a partir de

uma perspectiva crítica, construtiva e cidadã, obviamente que qualquer iniciativa nesse

sentido deverá acontecer tendo como pressuposto o preparo mínimo do educador voltado para

esse objetivo, condição para que de fato o processo ocorra também com o mínimo de

significado e envolvimento coletivo.

Como o portfólio foi apresentado como sendo apenas um recurso informativo e

formativo introdutório, com a proposta inicial de ser um meio capaz de despertar o educador

para a necessidade da busca contínua de formação, e por consequência, de atuação e

comprometimento com a comunidade escolar e com a sociedade na qual ele está inserido

pelos vários meios disponíveis, possíveis e necessários, espera-se a partir disso que os

desdobramentos pedagógicos e práticos ocorram.

E é a partir dessa proposta, que os educadores, em função da necessidade de

justificarem suas respostas após a leitura e análise do portfólio, apresentaram seus

argumentos, tais como: “A educação é o elemento indispensável para a transformação da

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consciência ambiental”, e “Após a leitura e comentário do mesmo, passamos a conhecer mais

o assunto e entendê-lo melhor, facilitando a nossa prática pedagógica”, reforçando dessa

forma a necessidade do significado da prática pedagógica ser revisto e voltado para as

questões ambientais nos espaços e tempos escolares.

Um educador comentou que “o material estudado nos faz tomar consciência da

complexidade do assunto e que gestos concretos coletivos precisam ser tomados”, argumento

compartilhado por outros, ao se referirem ao portfólio, com as seguintes palavras: “Permite

aos mesmos terem iniciativas pertinentes e acessíveis para a realização de uma mobilização

junto à sociedade”, “A escola, juntamente com a sociedade, devem desenvolver trabalhos em

parceria (...)”, e “(...) possibilitando que diversas áreas possam exercer seu devido papel na

construção coletiva da cidadania ambiental”.

Essas opiniões que reforçam a necessidade de o trabalho educativo voltado para a área

ambiental extrapolar os limites dos espaços físicos das escolas, indo ao encontro das

demandas da sociedade, embora para isso ocorrer de fato seja preciso superar muitos entraves

e dificuldades existentes, sobretudo junto a certos setores do segmento de educadores, ainda

não muito acostumados a formar alianças, parcerias e tomar iniciativas conjuntas com

segmentos da sociedade organizada, situação que ainda mantém muitas escolas literalmente

fechadas e distantes para a realidade concreta do cotidiano.

Pergunta 10: Considerando o conteúdo do portfólio, após a sua leitura, o mesmo

poderia ser classificado como:

As opções de resposta a esta pergunta foram três, a saber: De grande importância,

Importante, mas nem tanto, pois é limitado e Totalmente irrelevante.

Um educador, certamente por esquecimento ou descuido, não respondeu a essa

pergunta, mas dezessete educadores avaliaram que o portfólio, quanto ao seu conteúdo, é de

grande importância, validando com essa opção de resposta a forma como o portfólio foi

elaborado e a sua importância e utilidade voltadpara a formação de educadores, ponto de vista

já demonstrado em várias respostas e justificativas de perguntas anteriores.

Houve um educador que optou pela resposta importante, mas nem tanto, pois é

limitado, argumentando que o portfólio “deveria conter algum projeto que pudéssemos pôr em

prática”, ou seja, na opinião desse educador, faltaram propostas de iniciativas e ações mais

práticas, concretas e diretas voltadas para as diversas demandas da questão ambiental do

cotidiano, inclusive local, mais precisamente no espaço escolar.

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De fato, o portfólio não propôs sugestões ou modelos específicos de projetos

educacionais para este ou aquele problema ambiental, tanto para a realidade local quanto para

questões de alcance regionais, nacionais ou planetárias, tendo em vista serem tantas as

necessidades e possibilidades de desenvolvimento de projetos, que esse aspecto seria mais

apropriado em um trabalho voltado especificamente para esse fim.

Talvez fosse melhor que a elaboração e implementação desses projetos partissem

diretamente dos interesses dos educadores a partir de suas condições, circunstâncias,

necessidades e opções feitas por eles no dia a dia do exercício da docência em função da

realidade com a qual eles convivem, pois as mesmas podem se apresentar de forma diferente,

dependendo de onde se exerce a prática educacional e do significado que se dê a esse

processo.

Como a própria introdução do portfólio explicita, um dos seus principais objetivos é o

de justamente, por meio do seu estudo, despertar o educador para o entendimento da

importância e totalidade do assunto, e, ao mesmo tempo, a partir disso, promover seu

engajamento a essa causa, por meio de propostas e ações educacionais formativas capazes de

contribuírem com a construção da consciência ambiental e ações concretas em prol da questão

ambiental.

Entendendo assim, é a partir do interesse, da autonomia, da formação e do

comprometimento do educador, que a elaboração de projetos e a implementação de ações

concretas de educação ambiental poderão ocorrer, evitando também a cultura pedagógica

ainda existente em várias escolas e adotadas por muitos educadores de aceitar pacotes ou

projetos já prontos, que em muitas situações são elaborados por pessoas distantes a partir de

outra realidade com a qual os educadores não se identificam.

Pergunta 11: As perguntas apresentadas ao final de cada texto para estudos e

debates, se utilizadas adequadamente, podem contribuir com o processo de formação de

educadores?

Para dezoito dos dezenove educadores, sim, as perguntas elaboradas ao final de cada

texto do portfólio foram importantes, pois possibilitaram a análise e a reflexão dos temas

apresentados no seu conteúdo, podendo contribuir para um melhor aproveitamento no

processo de formação dos educadores.

E foi este o propósito de incluir as questões para estudos e debates após cada texto,

como forma de possibilitar aos que o lerem, a oportunidade de ampliar o entendimento e a

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visão do assunto para além do que foi apresentado, de procurar entendê-lo a partir do que

ainda não foi considerado, inclusive contextualizá-lo à realidade de cada educador, mas sem

perder o foco que a questão ambiental precisa ser continuamente pensada e debatida pela

educação a partir da interação de seus aspectos globais.

A intenção de inserir as perguntas após os textos foi a de justamente possibilitar aos

educadores irem além do simples hábito de leitura de textos sem maiores compromissos, mas

também provocar o hábito de pensar o lido a partir da reflexão crítica de seu significado para

o cotidiano e a realidade vivida por cada um deles e extrair deles a razão de uma práxis de

profundos significados e compromissos com a causa socioambiental mediante a intervenção

de um processo educacional crítico, comprometido e transformador do seu meio.

Textos acompanhados de questões para serem analisadas, refletidas e debatidas podem

ser repensados, reescritos, ampliados e melhor assimilados, além de proporcionar aos que os

lerem um melhor aproveitamento de seu conteúdo e a possibilidade de uma prática mais

enriquecida a partir de uma fundamentação teórica que tenha sido claramente entendida.

O educador não pode ser apenas um mero recebedor passivo e transmissor automático

de informações e conhecimentos. Ele próprio precisa ser um sujeito reflexivo, questionador e

provocador, capaz de ser um promotor de rupturas com o senso comum estabelecido. Mas

para isso, se faz necessário que ele tenha uma formação fundamentada no desenvolvimento

dessas capacidades, capazes de dotá-lo de iniciativas nesse sentido.

A formulação das questões foi pensada a partir da perspectiva de serem motivadoras e

geradoras de desdobramentos significativos do conteúdo lido no contexto e na capacidade de

intervenção do educador enquanto sujeito político formador de opinião.

Mas as perguntas elaboradas não tiveram a intenção de alcançar a plenitude dos

assuntos abordados, sendo oportuno, por isso, considerar a possibilidade e até mesmo a

necessidade de formulação de outras perguntas associadas aos textos escritos, tanto que houve

um educador que respondeu a opção de resposta em parte, por certamente ter percebido a

viabilidade de inserção de outras questões relacionadas com os assuntos do portfólio que

pudessem contribuir para um melhor aproveitamento do mesmo, sobretudo no que diz

respeito a aspectos da realidade local, por eles estarem diretamente vinculados à formação de

educadores.

Pergunta 12: Após a leitura e análise do material didático, e considerando que a

educação ambiental é um tema transversal, foi possível concluir que a sua formação

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voltada para a área ambiental é suficiente para desenvolver atividades educativas

ambientais junto à comunidade escolar?

Para esta pergunta, o questionário apresentou duas opções de resposta, com as

seguintes formulações: sim, o suficiente para o desenvolvimento de práticas educativas na

área e não, há necessidade de um processo de formação continuada.

Uma das propostas do conteúdo do portfólio foi a de despertar o interesse do conjunto

de educadores participantes da pesquisa, que apresentaram entre outras características,

formação e experiências em áreas diferentes, mas, independente desse aspecto, um conteúdo

constituído de temas sempre recorrentes ao longo do processo educacional, não importando a

área de formação, além, é claro, de estarem presentes no cotidiano da sociedade e da vida das

pessoas, noticiados e divulgados pela mídia, etc.

Por isso, a pergunta se justifica considerando que o portfólio tenha, de algum modo,

contribuído ou não para esse fim, sobretudo porque colaborar com a formação dos educadores

é o seu objetivo, e a partir disso, diagnosticar se a formação que eles possuem sobre os

assuntos tratados pelo portfólio é o suficiente para o desenvolvimento de atividades

educacionais ou se há necessidade de alcançar uma formação diferenciada, tendo em vista que

esse aspecto é decisivo nos rumos de qualquer prática educacional.

Quanto às respostas, quinze educadores responderam sim, deixando claro que possuem

uma formação minimamente adequada para fundamentar o desenvolvimento de atividades

educativas junto à comunidade escolar, independente, é bom frisar, da área de formação e de

algumas experiências anteriores que já possuíam.

O significado dessa resposta poderia ser analisado e confrontado de forma minuciosa,

principalmente se fosse comparado com a realidade do cotidiano das escolas no que diz

respeito ao desenvolvimento de atividades educacionais voltadas para a questão ambiental,

não apenas com os alunos, mas notadamente com o conjunto da comunidade escolar.

Sem dúvida que é extremamente positivo ter a maioria dos educadores participantes da

pesquisa se considerando com formação suficiente para desenvolverem atividades

educacionais junto à comunidade escolar, mas a realidade vivida pela maioria das escolas,

para não dizer todas, e de seus integrantes, parece sinalizar em um sentido contrário, embora

sempre tenham ocorrido com frequência diversas experiências com bons resultados, mas

aleatoriamente, e que infelizmente ainda não se tornaram comuns e difundidas, a ponto de

alcançar permanentemente os vários segmentos da comunidade escolar.

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Seria a forma de abordagem dessas questões com característica excessivamente

fragmentada, disciplinar, romântica, pontual, ocasional e descontextualizada da realidade que

estaria impedindo um melhor aproveitamento dessas iniciativas? Ou tudo isso seria mesmo

decorrente de carências, limitações e deficiências em um ponto central e melindroso dos

educadores, que é o aspecto de sua formação?

As respostas para estas e outras perguntas cabíveis exigem uma investigação mais

profunda e demorada, o que não é o objetivo maior desta etapa do trabalho, mas são

provocativas e pertinentes.

Mas quatro educadores preferiram responder não, ou seja, assumirem a condição de

não se considerarem preparados adequadamente para o desafio de desenvolverem as múltiplas

atividades educacionais voltadas para os aspectos socioambientais junto à comunidade

escolar, havendo um deles que fez uma observação, dizendo que “os problemas estão se

agravando e o que se aprende fica defasado”, dando a entender a necessidade de existir um

processo de formação continuada como forma de suprir essa lacuna existente na formação que

os educadores possuem em relação à educação ambiental crítica com perfil socioambiental

voltada para a aplicação educacional, sobretudo, nas escolas.

Não seria nenhuma novidade para qualquer pessoa familiarizada com a educação

escolar, com a educação ambiental crítica e com as questões pedagógicas e socioambientais

do momento entender que idealizar e possibilitar aos educadores a capacidade de elaborarem,

implementarem e desenvolverem continuamente e satisfatoriamente atividades e projetos

educativos com o perfil crítico e transformador junto à comunidade escolar exigem uma

formação muito abrangente em vários aspectos, que vale notar, ainda por ora não foi

institucionalizada junto às escolas, e sem a qual dificilmente haverá progressos na prática

pedagógica dos mesmos a curto, médio e longo prazo.

5.4 Outras considerações

Após as doze perguntas do questionário relacionadas com a análise do conteúdo do

portfólio, foi ainda apresentada a décima-terceira questão, não com o formato de pergunta

para ser respondida, mas apenas como um espaço disponível para os educadores, caso

quisessem, de forma voluntária, opinarem, fazerem suas sugestões, comentários, críticas e

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propostas para a melhoria da qualidade do material, ou mesmo algumas considerações sobre

os assuntos tratados pelo seu conteúdo.

Oferecer em uma pesquisa um espaço aberto como instrumento para vários educadores

se manifestarem é uma postura que contribui para que os mesmos possam, a partir da

percepção que têm sobre o que está sendo debatido, se expressarem e contribuírem com suas

experiências, concepções, dilemas e expectativas, que muito podem enriquecer qualquer

proposta que vá ao encontro de interesses da causa educacional e ambiental nos tempos atuais.

Neste caso, dezesseis educadores optaram por aproveitar esse espaço disponível e

manifestaram suas opiniões, demonstraram a satisfação de terem participado da pesquisa e da

leitura dos textos do portfólio, fizeram comentários sobre a importância que o material teve

para a formação deles, apontaram o que poderia ser acrescentado ao conteúdo do material,

elaboraram suas críticas construtivas e propositivas, sugeriram ideias sobre o trabalho docente

e sentiram a necessidade de haver iniciativas práticas mais imediatas e constantes por parte

dos educadores, objetivando ações concretas em prol da causa ambiental e educacional.

Alguns educadores manifestaram a preocupação com o que precisa ser feito diante dos

problemas e desafios existentes, sobretudo por eles mesmos a partir das escolas junto à

sociedade, demonstrando assim uma sensibilização mínima necessária para o

desenvolvimento de atividades relacionadas ao que foi tratado pelo conteúdo do portfólio.

Um portfólio e um questionário de pesquisa, por si só, não atendem a todas as

necessidades nem transmitem tudo aquilo que há para ser debatido sobre formação de

educadores, educação ambiental, meio ambiente, entre tantos outros temas de relevância na

área educacional, mas ao menos é um meio de aproximação desses tópicos e vai ao encontro

dessas questões que afloram no debate educacional, sinalizando no sentido de criar

possibilidades e perspectivas quanto a isso, o que já é de grande importância.

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6 CONCLUSÃO

O debate acerca da questão ambiental encontra-se estabelecido e em evidência em

todas as sociedades, em função da inegável e imprevisível crise sociambiental atualmente

existente, notadamente naquelas que se apresentam com maior destaque no cenário mundial.

E quanto a isso, não há mais como se manter distante e alheio, sobretudo para os educadores e

ao papel que a eles cabe desenvolver por meio do processo educacional.

Dentre as várias facetas apresentadas pelo debate sobre o meio ambiente, sobretudo a

partir das preocupações socioambientais, a da educação ambiental crítica tem se destacado,

inclusive na sociedade brasileira, em função de a mesma se constituir em uma forte e

necessária aliada a ser devidamente aproveitada como suporte adequado para a elaboração,

implementação e desenvolvimento de projetos e iniciativas voltados para a sensibilização,

organização, mobilização e conscientização socioambiental do ser humano nos mais diversos

espaços e tempos possíveis.

Considerando que o processo de educação ambiental crítica pode ser desenvolvido nas

modalidades formal, não-formal e/ou informal, capitaneado por vários atores, inclusive,

havendo a possibilidade de elas ocorrerem de forma entrelaçada, sendo todas bem-sucedidas

quando adequadamente implantadas, este trabalho procurou abordar justamente a necessidade

de conhecer e contribuir, pelos vários meios possíveis e necessários, se voltando

prioritariamente para o aspecto da formação do sujeito ecológico por meio dos fundamentos

básicos da educação ambiental crítica, sendo o educador visto como um potencial formador

de opinião e possível agente multiplicador de um modelo educacional capaz de cooperar

enormemente com essa questão.

A formação do sujeito ecológico, uma vez estabelecida como meta a ser alcançada

pela via educacional, para de fato ocorrer, necessariamente deve ter à disposição um quadro

de educadores minimamente informados e adequadamente formados e amadurecidos sob

vários aspectos didáticos, pedagógicos e das várias áreas do conhecimento, sem os quais

quaisquer iniciativas nesse sentido estarão comprometidas, pois dada a complexidade do

desafio apresentado pelas inúmeras demandas, essas condições se fazem necessárias, não

sendo nenhum exagero afirmar que no Brasil elas ainda estão atrasadas, aquém do ideal e do

necessário, particularmente nas escolas que oferecem a educação básica.

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A formação continuada e crítica do educador enquanto sujeito ecológico, objeto de

análise e de pesquisa específico no desenvolvimento deste trabalho se constitui em um

desafio, um compromisso e, acima de tudo, uma necessidade que está posta, a qual não se

pode mais ignorar, subestimar e postergar, porque é papel do educador assumir a posição de

protagonista enquanto sujeito crítico e contestador da ordem socioambiental antiecológica e

desumana estabelecida, e ao mesmo tempo contribuir, ajudando a promover o contraponto

necessário a essa situação de profunda adversidade e imprevisibilidade.

Por ser entendida dessa forma, também cabe aos educadores evitar, mas quando

preciso e possível, se opor e superar supostas concepções ideológicas e posturas enrustidas e

ainda reinantes de neutralidade do papel da educação em relação aos vários aspectos da

sociedade, pois o processo educacional, juntamente com outras formas de ação, precisa se

posicionar a favor da criticidade, da transformação e da emancipação das pessoas e da

sociedade, o que inclui a questão ambiental por meio da educação ambiental crítica.

Pautar e fundamentar a prática da educação ambiental enquanto meio responsável pela

formação do sujeito ecológico a partir de perspectivas pedagógicas progressistas e críticas,

entre as quais, as embasadas em concepções decorrentes do pensamento pedagógico de Paulo

Freire e de outros educadores de perfil semelhante, consistem na possibilidade de transformar

a prática educacional em um fazer significativo, possibilitando ao educador/educando o papel

de fazer a leitura crítica do mundo mediada pelo diálogo e por uma práxis enriquecida e

comprometida com a constituição do sujeito crítico, histórico e transformador frente aos

inúmeros desafios que estão colocados.

Mas para isso acontecer, a educação ambiental precisa deixar de ser, sobretudo para os

educadores da educação básica, uma área do conhecimento e da prática educativa

fragmentada e inconsistente, refém da compartimentação estanque, da existência de

disciplinas distantes e fechadas, que por conta de muitos educadores e da prática pedagógica

adotada, não dialogam entre si, condições que contribuem consideravelmente para o

empobrecimento teórico e prático de suas propostas e a limitação e enfraquecimento de seu

potencial transformador.

A educação ambiental, tal como tem sido frequentemente entendida e desenvolvida,

por enquanto não foi devidamente explorada em suas múltiplas possibilidades e

potencialidades, ainda que caibam ressalvas e observações quanto à forma de desenvolvê-la

no processo educacional, pois a escola como espaço para a prática pedagógica ambiental

necessita ser adequadamente inserida na realidade social existente.

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Os saberes, os conhecimentos e as informações são construções históricas e sociais,

portanto, não são neutros nem atemporais, mas condicionados pela dinâmica que caracteriza

os múltiplos interesses e particularidades dos diversos segmentos constituintes da sociedade,

mesmo que muitos deles se apresentem de forma antagônica, conflituosa e permanentemente

sujeitas a externalidades, que precisam ser devidamente assimiladas pelos educadores.

Os resultados alcançados com a pesquisa feita com educadores que analisaram o

material didático produzido com fins voltados para a formação de educadores atuantes na

educação básica possibilitaram obter um diagnóstico que sinaliza para a urgência de

implementar um processo de formação continuada na área de educação ambiental crítica para

esse segmento, tendo em vista as exigências e a necessidade de concebê-la a partir de outros

olhares e da inserção dos mesmos em uma realidade que se apresenta caracterizada por

inúmeros desafios, incertezas e mudanças contínuas.

Muitas informações obtidas pela pesquisa realizada retratam aspectos já conhecidos e

que têm sido observados, com raríssimas exceções, como regras já há muito tempo

estabelecidas e demasiadamente aceitas nas escolas de educação básica quanto à

implementação da educação ambiental: iniciativas isoladas, improvisos, abordagens

fragmentadas, limitadas, ocasionais e descontínuas, entre outras, que são incapazes de

possibilitarem o desenvolvimento de estudos e atividades permanentes voltadas para a

formação crítica do sujeito, inclusive dos próprios educadores, o que dirá dos estudantes.

Conhecer o que é dito por educadores em uma pesquisa, saber interpretar o significado

de suas percepções e de seus posicionamentos diante de uma proposta pedagógica que tem

como perspectiva a formação deles enquanto sujeitos ecológicos voltada para um segmento

possuidor de um forte potencial educativo, ser capaz de diagnosticar as necessidades

existentes entre os mesmos e, principalmente, propor alternativas viáveis, aplicáveis e

funcionais para o campo educacional, devem se constituir em elementos fundamentais para a

concretização de iniciativas pedagógicas voltadas para uma melhor formação do sujeito

ecológico.

Dada a possibilidade de formação do sujeito ecológico crítico, entre os quais se

incluem os educadores e demais membros da comunidade escolar, por eles serem atores

importantes no cenário educativo sociambiental, e pela necessidade (um fato positivo) de

implementação de processos de formação continuada específicos para educadores, mesmo que

para muitos deles o significado de formação continuada ainda não tenha sido devidamente

valorizado e compreendido na sua essência, necessidade e importância, não há mais dúvidas

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que esses aspectos e particularidades precisam ser considerados a partir da educação

ambiental crítica que se quer implementar.

Se a educação ambiental não for assumida de antemão de forma integral, corajosa e

responsável por pessoas, instituições e movimentos sociais sérios, todos eles voltados e

comprometidos com a construção de um mundo melhor, e aqui vale incluir e destacar o papel

a ser desempenhado pelas escolas e pelos educadores conscientes, ela será indubitavelmente

assumida e indevidamente apropriada, instrumentalizada e banalizada por aqueles que

certamente não têm os mesmos compromissos, podendo, inclusive, esvaziar seu significado e

sentido, impor distorções, adotar posturas acríticas, falsos consensos e mudanças superficiais

e parciais, que não satisfazem às necessidades exigidas pelo momento atual, mas apenas se

constituirão em uma maquiagem para legitimar e reforçar o injusto, nefasto e temerário

modelo socioambiental existente, que dada a tamanha visibilidade na qual se encontra, já salta

aos olhos de quase todos.

Afinal, ninguém em sã consciência acredita que a consciência ambiental crítica

ocorrerá a partir de um acidente fortuito. Ela, enquanto processo contínuo, somente será

alcançada por uma educação ambiental de fato crítica, libertadora, emancipatória e

transformadora do ser humano e da sociedade, aberta a constantes revisões e atualizações,

sem dogmatismos de qualquer ordem, livre de adjetivos apenas simpáticos e atraentes e sem a

pretensão de exclusividade, primazia e de se entronizar a partir de qualquer forma de

messianismo calcado em velhas certezas.

Finalizando, pode-se afirmar que a formação e o empoderamento do sujeito ecológico

a partir da educação ambiental crítica, focada, sobretudo, nos educadores, é uma necessidade

do momento atual, haja vista que os mesmos, por meio do espaço escolar e em parcerias com

outros segmentos sociais, podem se constituir em agentes multiplicadores de propostas e

ações concretas objetivas capazes de terem um alcance significativo a todo conjunto da

sociedade, e dessa forma, facilitar a superação do enorme abismo que claramente continua

existindo entre a maioria das pessoas – a sociedade de uma forma geral, com seu inexorável

modelo civilizatório desumano e antiecológico - e o idealizado, necessário e ainda não

formado sujeito ecológico crítico e emancipado.

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REFERÊNCIAS

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APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO

DADOS PESSOAISIdade: ____________ Sexo: _____________ Anos de docência: ______________

Disciplina que leciona: _______________ Área de formação: ___________________ Trabalha em quantas escolas? __________

Você, em algum momento do exercício da docência, já abordou, em suas aulas ou em outras atividades pedagógicas, temas relacionados à questão ambiental? ( ) Sim ( ) Não Em relação ao material didático analisado, pode-se afirmar que: 1) Os textos do portfólio abordam a questão ambiental relacionada com as diversas áreas do conhecimento presentes no conjunto da sociedade? ( ) sim ( ) não ( ) em parte Caso tenha respondido não ou em parte, explicitar por quê: 2) O portifólio poderia ser utilizado tanto na formação de educadores quanto de estudantes e demais pessoas interessadas? ( ) sim ( ) não ( ) em parte Cão tenha respondido não ou em parte, explicitar por quê: 3) O conteúdo dos textos do portfólio são claros, pertinentes e aplicáveis para um trabalho de formação de educadores ambientais? ( ) sim ( ) não ( ) em parte Caso tenha respondido não ou em parte, explicitar por quê: 4) A linguagem utilizada nos textos do portfólio é adequada e compreensível para os educadores? ( ) sim ( ) não ( ) em parte

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Caso tenha respondido não ou em parte, explicitar por quê: 5) O conteúdo do portfólio está contextualizado com a realidade local vivida pelos educadores ambientais? ( ) sim ( ) não ( ) em parte Caso tenha respondido não ou em parte, explicitar por quê: 6) Há alguma parte dos textos do portfólio que pode ser considerada desnecessária para o trabalho de formação de educadores ambientais? ( ) sim ( ) não ( ) em parte Caso tenha respondido sim ou em parte, explicitar qual(is): 7) Há necessidade de incluir no portfólio alguma temática ambiental que não tenha sido contemplada em seu conteúdo? ( ) sim ( ) não ( ) em parte Caso tenha respondido sim ou em parte, explicitar qual(is): 8) Após a leitura dos textos do portfólio, ocorreu a absorção de novas informações e conhecimentos até então não considerados pela sua formação anterior, que possibilitaram a você ter um novo olhar e entendimento da questão ambiental? ( ) sim ( ) não ( ) em parte Caso tenha respondido sim explicitar quais e por quê: 9) O conteúdo do portfólio, após ser estudado e debatido, possibilita aos educadores ambientais terem iniciativas junto à comunidade escolar e à sociedade, objetivando a construção coletiva da cidadania ambiental? ( ) sim ( ) não ( ) em parte

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Justificar sua resposta: 10) Considerando o conteúdo do portfólio, após a sua leitura, o mesmo poderia ser classificado como: ( ) De grande importância. ( ) Importante, mas nem tanto, pois é limitado. ( ) Totalmente irrelevante 11) As perguntas apresentadas ao final de cada texto para estudos e debates, se utilizadas adequadamente, podem contribuir com o processo de formação de educadores? ( ) sim ( ) não ( ) em parte 12) Após a leitura e análise dos textos do material didático produzido, e considerando que a educação ambiental é um tema transversal, foi possível concluir que a sua formação voltada para a área ambiental é suficiente para desenvolver atividades educativas ambientais junto à comunidade escolar? ( ) sim, o suficiente para o desenvolvimento de práticas educativas na área. ( ) não, há necessidade de um processo de formação continuada. 13) Caso queira e haja necessidade, relacione abaixo, tantos os aspectos positivos como os negativos que podem ser considerados importantes com relação ao material didático (portfólio) analisado. Além disso, fique à vontade para comentar, fazer suas considerações e sugerir suas ideias e opiniões que possam contribuir para melhorá-lo em todos os aspectos.