a formação da opinião pública - monique augras

Upload: anna-carolina-cavalcante

Post on 17-Jul-2015

470 views

Category:

Documents


19 download

TRANSCRIPT

  • 5/14/2018 A Formao da Opinio Pblica - Monique Augras

    1/16

    /

    \,If

    CAPiTULO 2

    Aforma~ooda opinioo publica

    - d ma corrente. r da forma

  • 5/14/2018 A Formao da Opinio Pblica - Monique Augras

    2/16

    22 Parte I: A TeoriaEscata N' de presos

    (mais importante) 12345678910

    70392219121410662menos importante)

    Representando graficamente os resultados por umacurva de trequencla. : encontramos urn L tfpico. A grandemaioria dos detentos considera a desobediencia ao VIMandamento como muito grave.A curva L, como a curva em J que Ihe e sirnetrica(no caso, expressaria que a maioria nao considera irn-portante 0 VI Mandamento) e uma Curva de Acordo.Examinemos agora a curva expressando as opinioesem relacao ao VII Mandamento (

  • 5/14/2018 A Formao da Opinio Pblica - Monique Augras

    3/16

    24 Parte I: A Teoriacia de do is subgrupos nltidarnente distintos. Essa curvapoderia, por exemplo, ter sido encontrada na sociedadefrancesa do fim do Seculo XIX, em relacao ao famosoAffaire Dreyfus, que realmente dividiu os franceses emdois blocos antagonicos e irredutiveis.A definicao estatistica oferece a vantagem de ser clara,

    sem ambigiiidades, e permite apreender, num momentopreciso, 0 estado da opiniao, Nao nos leva muito longe,po rem, na cornpreensao do Ienomeno. Nao explica porqu-e aparece urn movimento de opiniao, como se estru-tura, como evolui.E' necessario investigar quais sao os fatOres que ba-sicamente influem na formacao da opiniao. Para Iaci-litar a exposicao, distinguiremos:- os fatOres psicol6gicos: nivel interpessoal (for-macae de atitudes e opinioes; rnotivacoes e mecanismosde defesa);- os Iatores sociol6gicos: nivel social (terreno em

    que se constroem as atitudes do grupo);- os tatores circunstanciais: nivel historico (aconte-cimentos que desencadeiam a conscientizacao do opiniaopublica) .

    A) OS FATORES PSICOLoGICOS1. OPINIAO E ATITUDEAnt~ de_ mais nada, e preciso definir esses termos.Frequentemente sao tornados como sinonimos, Nao e

    bern 0 caso.- p . . opiniao, cornojavimos, relaciona-se com 0 sistemade crencas efdeologiasjlo individuo. Na atitude, have-iia -urii"aspecto mais concreto.y Allport define a atitudecomo estado de disposicao mental e nervosa, organiza-do peJa experiencia, que exerce influencia direta ou di-narnica, sobre as respostas individuais a todos os ob-

    A fonnat;ao da opiniao publicaV II M AN DA ME NT O30 -

    ?o -

    10 -

    2 3 4 5 6 7 8 9 10Figura 3

    Figura 4Curva em U

    25

  • 5/14/2018 A Formao da Opinio Pblica - Monique Augras

    4/16

    L_

    26 Parte I: A Teoriauais se relacionas J' Na fo~-ietos e situacoes com os q encontrar aspectos percepti-~ar;ao das atitu~e~, vamos

    vos, afetivos, socials. . 1956) ressaltam na at!tudeSmith, Brunner e W~lte. ( ara agir. iUma predispo-

    a caracterfst!ca ~e ten~::~:r ':notivado, para agi~ ~m re;sir;ao para vrvenciar, p bi etos de maneira pre~I~~veb ..lar;ao a uma cl~ss~ de 0 J ais diretamente a. opimao e~=A atitude estaria hgada ~stema de referencias. A~ ~htatica tomecendo-lhe 0 s. passagem para a opmiao,, . t esse haveria tar se delizar-se o. 10 ere, . pessoa a compor _ _ue por seu turno, levan a a m constante vaivern e~-~co~do. Haveria, portanto, t 0 individual, a distincao'1 'o-'es e atitudes. No p anre opmnao e nitida. calas elaboradas pa~a a_valiarMuito sabiam~nt:, as es das sob a denorninacao .deesses fenomenos. ~~o agArut.Pt~de.Nao pode haver maiorid d Opiniao e 1 itMe?1 ~ da . terpenetracao dos concer os.evidencia am. atitude parece serd mos dizer que at' dor Finalizando, po e a agir em certo sen I . .\ uma disposidio constante Pd~s de expressiio desta dis-J A opiniao seria urn dos ~~t de urn acontecimento de--"" . d a proposi 0'I posicao, surgm 0

    ( terminado. t yes de tecnicas de Me-d . estigacao a ra traNo caso a mv. 'demos considerar que, _dida de Opiniao e Ahtude, ~~t des nas respostas a urntando-se de expres~ar as ~alt~ coloca imediatamente aquestionario, este slm~es piniao. Nesse caso, 0 aconte-investigacao no plano a? obviamente, 0 encontro en....d cadeante sena,cimento es~n d 0 entrevistado ."tre 0 entrevista or eH ndbook of So-C Murchlnson (ed. a

    ALLPORT,O. W., Attti~Ud~(ark U~lv. P re ssR, 1&5. Opinions and Perso-h logy Worces e , S e WHITE, . .,c ia ! P sy c 0 'B BRUNNER, J. ", nude" SMITH, ~. k" Wilwy, !956.. I ente amb igua: "tomar uma a I"~;'}~:.;..;,,,,",~, P"'""''' "salda honrosa" para o P:~'a e aglr. nllo e mera tentatlva d;ado que a reali7a~lio dio deI Essa exptlcacao d Iinguagem. Est4 pr~ Istadas A consClentl7i\ Ie"blema da precisao e :s leva as pessoasd en reves ladO de "opln ll io a en .lnquertto multas v 7 m tsto terra fica 0 eml im a t en d e nc ra que, se ,

    A fOrnta~iio da opini iio publica

    Isto Constltul urn problema serlo: em que medida a opiniao e asstrnprOVocada? Em que medi da ur n inquer ilo represenla a realidade objetiva?Ao examinar 0 al cance e as Iimila~i ies das sondagens de Opiniao, volta-ernos a o a ss un to , (Ver Capitulo 8). Op, clt,1EYSENK, H. LThe Psychology of Politics, London !954, Ver Cap, 7B; Medlda da Oplnlii o e Atl tude.

  • 5/14/2018 A Formao da Opinio Pblica - Monique Augras

    5/16

    28 Parte I: A TeoriaT - duro)

    o,@ @.It) < 0",. @ < 0,

    , R - 20(conservotismo)

    T + (

  • 5/14/2018 A Formao da Opinio Pblica - Monique Augras

    6/16

    30 Parte I: A Teoriaquencia de uma vez por sernana. Em seguida, verifica-ram qual era a retencao de cad a texto: a mernorizacaoia no mesmo sentido das atitudes anteriores. 0 grupofavoravel ao comunismo tinha gravado melhor os argu-mentos pr6-comunistas. E inversamente para 0 grupoanticomunista. 0 esquecimento e mais rapido quando setrata de algo que nao agrada.Outra experiencia, de Katz e Cantril (1939}, levou aconclusao analoga: a atitude de estudantes fascistas oucomunistas nao se baseia nos conhecimentos objetivosque tern dessas doutrinas. Dos tres aspectos, afetivos,perceptivos e sociais, 0 afetivo parece dominar.A GestaIttheorie ensina que a percepcao do objeto seconstr6i a partir de relacoes complexas entre a figura

    (0 objeto) e ofundo (0 contexto). 0 contexto inclui,n f io s omen t e os demais objetos, mas t a rnbe rn imp li c acoe ssociais e afetivas.Urn born exemplo da influencia dos Iatores sociaissobre a percepcao e fornecido pela experiencia de Brun-

    ner e Goldman (1947). Consistia em apresentar paradois grupos de criancas uma serie de manchas lumino-sas circulares, pedindo que avaliassem 0 tamanho, emrelacao a moedas. Verificou-se que 0 tamanho das moe-das era superestimado em relacao ao dos discos decartolina, que nao possuiam significacao social. 0 pri-meiro grupo cornpunha-se de criancas ricas (pais ne-gociantes ou profissionais Iiberais), 0 segundo de po-bres (favelados) .sse ultimo grupo superestimou 0tamanho das moedas muito /fuais do que 0 primeiro.Deu-se ate 0 seguinte: a inoeda de 20 cents foi a maissuperestimada, no tocante ao tamanho; a de' 50 centsfoi vista como menor do que a precedente: a quantiaera tao descomunal que houve, em reacao, uma su-bestimacao de seu valor ..Nesse caso, nao ha apenas urn fenomeno de valori-za~ao social, mas tambem a expressao das frustracoesde urn grupo.

    A fonna~lio da opiniao publ icaA tO e urna fun~aoaparentemente obi .cepcao, fica submetida as . fl ~ . Jehva,. como a per-o que nao acontecera ua~~ uenc.las afehvas e sociais.

    ~as:oes profundas Iigada; ao i~ceShv~rem ~m _ i 0 I ; 0 moti-tiva do grupo e do individuo? o~~clente, ~ ?Istoria afe-os fundamentos dos sistema d necessano examinardes socia is que se chama s te crenca e dessas atitu-m es ereohpos.

    31

    2. As REPRESENTA

  • 5/14/2018 A Formao da Opinio Pblica - Monique Augras

    7/16

    32 Parle J : A TeonaEsse mecanismo apresenta duas tacetas que presidemao estabelecimento da relacao dialetica entre 0 egoe 0 outro: a I iniro jerGO (assimilar as caracteristicasdos outros) e a proiedio (atribuir ao outro suas pro-prias caracteristicas). Assim 0 individuo chega a reco-nhecer que outro ser humano e ao mesmo. tempo seme-

    lhante e diferente.No plano da conduta, podernos distinguir varios n i-veis de identificacao: simples simpatia, identificacao mo-tora (imitar os movimentos, as posturas, as atitudes fi-sicas) e identificacao dramdtica, que supoe a inter-rela-~ao reciproca, 0 jogo de varias personagens, A identi-ficacao pode nao ser positiva e acompanhar-se de senti-mentos de hostilidade, constituindo entao 0 mecanismeda rejeici io.Identificacao, projecao, rejeicao, sao mecanismos ba-sicos para interpretacao do relacionamento social; sobo angulo objetivo. Vao permitir a elaboracao de hipo-teses explicativas para os tenornenos de lideranca (iden-tificacao dos membros do grupo com uma pessoa), decrenca (projecao dos desejos num mito) , de comporta-mento agressivo (rejeicao de urn grupo ou de membrosdeste grupo). Fugiria ao nosso proposito descrever de-talhadamente a elaboracao e funcao social das represen-tacoes coletivas. Por esses terrnos, Durkheim definiu oselementos subjetivos que compdern a visao do mundo deurn grupo (incluindo a imagem que 0 grupo tern de si).Consistem em conjunto estruturado de ideias, atitudesou crencas que exprime os valores do grupo, Nessesentido, tern por funcao afirmar 0 grupo perante osdemais e perante si proprio, proporcionando urn sistemade reterencias atraves do qual van ser avaliadas - ejulgadas - as acoes dos individuos. Sua acao e portan-to de controle, de estabilizacao. Um sistema de cren-cas define-se nltidamente como 0 produto social, oriun-do da matriz da interacao simbolica. 11

    11 KIMBALL YOUNG, Social Psychology. New York, Appleton Century.Crofts 1956, p. 187>

    A forma~iiO da opiniao publicat As repre,se?ta~6es coletivas incluem desdeamen to rnagrco e as crencas . r . ,0 compor-cientificos Isto nao que :I'd' re IglOsas, ate os sistemas. r rzer que esse 'It'meras crendices mas ' A S U Imos sejamsistema de refe;encias slmd que, IAno angulo relative aodee va ores do grupram-se nas crencas. As teo' " ' 0, enqua-afastar-se das impJica~6es f ~~as clenhflcas procurame aceitac;:ao pelo grupo ~ a ~ I ~as. Mas ~ valoriza9aomagicas, Por outro ladona~s e rsenta de .I~terferenciaspraticas magrcas nao de ' cren~as .rellglOsas e asvern ser subestJmada N-encontram apenas na s civiliza _ '.. S. ao seescolas. de psicanaJise evid ,c;:oes pnmltJv~s. Variasatitudes magicas no pens enctlaram a sobrevlVencia dasti amen 0 moderno Jicular, encontrou nela urn ' h . ung, em par-E carnm 0 para a terapia 12m resurno, tudo aquilo que di . .simbolicos, sejam intelectuar IZ :e~pelto a sistemasd uais ou maglcos e b0, na medida em que rna' trei " so retu-mecanismos afetivos pod IS es reltamente dependam dos

    s en ta ro es co/ et ivas Atrave'e dselr enquadrado nas repre-, , . seas podemos dcaractenstJcas subjetivas da 0 ul _ apreen er ascomo se retrata? como rea e~ p ac;:ao_(como ~~ define?der melhor suas atitude ~' ), que vao perrnitir enten-estudo mais completo s. e,ssa perspectiva, devemos 0e mals rico de e '~ma equipe de psicologos e etnolo os nSI?amentos afiados por Margaret Mead 13 N g amencanos, che-dial, tiveram de fazer . did a Segunda Guerra Mun-dos Unidos, 0 levanta'm:nfoe ~a~ do Gov~r~o dos Esta-do~ ~ovos envolvidos no conflito ca~~ctenstJc~~ ~ulturais/ obJetlvo era fornecer as bases d' a lados ~ Inlmlgos. 0ganda, a' fim de saber . e u,ma acao de propa-v~is de ser Iacilmente r;~~lsad~s atJtudes rnais suscet i-rninadn comportamento. c;: para provocar deter-.A epoca de guerra nao faciJitav ' _foi precrso recorrer it a 'I' ,. a as comumcac;:oes:dna rs e a dlsUincia d 'e representa

  • 5/14/2018 A Formao da Opinio Pblica - Monique Augras

    8/16

    34 Parte I: A Teoria,. que a si-odas as tecnicaspesquisadores rec?~rera~. a. trevista com informantetuacao Ihes perrnitia ut~hzar't ~~da' discussoes de gru-roveniente da populacao ~s u. . 5es e os costumes de

    ~o de imigrantess6b'~~si~~st~~I\Uistosde im~g,antesseu povo; estudo soclOlog. . . ao espacial, tipos de(organlzacao da aldeia, ?I~tnb~~ rofundidade de imi-autoridade), estudo pSlcol~glco d ~lmes, de romances;T de conteudos egrantes; an~ I~e roe das linguas.estudo do srm 0 Ism rtamento que se julgaria des-Ate aspectos ~e co~po s em detalhes. Por exem~l_?',preziveis foram. Illvesbgadt~1 proprio dos russos no l _ O -o estudo minucioso ? ? e.s~0ir hipoteses sobre 0 e.shlogo de xadrez per~!t~u III e~a maneira de conduzir 0da diplomacia sovlehca. el it i internacional, tjogo da po I rca . e ica dos poloneses, os a~ oresAnalisando a poesia p f t que para 0 polones, 0'd~ ia 0 a 0, ~Ipuseram em eVI enc . .. E' antes aque e queher6i. nao e quem vence ''. 11lI~Tl1gp~~tante ; atitude demorre pel a patria. 0 mars rm a de fugir. De fato,

    morte e a recusdesafio perante ~ . h tido varias dificuldades. como coman do amencano tin a ~ tes de bravura, IllCO-seus aliados polon~ses, por~~~areSate' 0 ultimo, em v~zmum preferiam deixar-se fo~sse ditado por necessi-. , e 0 recuo it dde recuar, ~e~ qu a' intormacao sobre as ah u ~sdades estrategicas. Com~d utilizar os poloneses em s~-nacionais, 0 coman dodPo (por exemplo, defender POS1-tuacces mais adequa as~oes dese~pe:adas). . _ das caracteristicas nacionais,Na propna descricao d imagem subjetiva do grupoapreende~os a pas.sagem Noaplano que inte,ress~ ~_on

  • 5/14/2018 A Formao da Opinio Pblica - Monique Augras

    9/16

    36 Parte I: A Teoria. . _ de uma imagem po-po mais forte sera a cnstahza~ao , 0 estere6t ipo de-sitlva. ae Mais negativo tan:bem, se~aconsider ado 0 res-finindo 0 outro grupo~ aquele queponsavel pel~ fru~tra~ao. 0 l'illg_daJan1~sia.

    -J > ~Ihc!~~~tiln~tit~de social, e umaMas tratando-se de um bpo_, l' ~aofantasia que pode ev~r. a a .. ais que se nutrem deOs preconceitos raclals Ae naclon ~ssar-se atraves de, . h a s vezes a expr .estereohpo, c egam N simples terreno da OP1-acoes vlOlentas (Pogrom). \ roes iriconscientes, le-niao a simplifica~ao e as mo way. a repetitiva e quase, - eagir de m aneir " .yam a popula~ao a r. fA emero de estereobposmecanica. Quanto matolr or 0a~ monoliticas serao asque comportam uma cu tura:bml. s r_ .. - u Ica.manifesta~oes da Aopmlao P ra ida ryisJa.._d_2_~_l1t~d.!l~Chegando ao ter~. 0. . desta., .-)~~-7d-- de nascera a, . _---das 0.Emlo~~L_\,e on .ment~~Os '. -;_ ~ortancia

    la~ ao const ituida pe-ento das atitudes da popu 60) verificamos essa.. Ao fazer 0 levanta~ ao fluvial, na Fran~a (19 amente perigosa, alos marinheiros d6 inavAg ;ida do marinheiro \ extArraves do lornal dafun

  • 5/14/2018 A Formao da Opinio Pblica - Monique Augras

    10/16

    38 Parte I: A Teoriacance. Oaf 0 seu imediatismo e 0 desinteresse por as-suntos gerais.Nos proprios termos que usamos, podemos verificarque, ao falar de nivel econornico, aludimos. antes ~o

    status social que Ihe e Iigado e ao nivel de intorrnacaoque de ambos depende. Na realidade, como bern ressa!-ta 0 proprio Kornhauser, e diffcil isolar 0 fator econ,o-mico dos demais __Trata-se de variaveis complexas. Alemdisso, muitos individuos n ao fazern parte de uma clas-se apenas. Como veremos mais tarde ao falar das pres-soes dentro dos grupos, pode acontecer, por exemplo,que uma pessoa, pertencendo por sua familia a umac1asse econornica determinada, venha a ascender em se-guida a urn nlvel rnais elevado. Suas atitudes nao depen-derao apenas do nivel economico em que. s: ~ncontrana hora da pesquisa , mas tarnbem das vrvencias quetinha enquanto se encontrava mais pobre.Nesse terreno, como em outros, 0 observador deveprecaver-se contra a simpllficacao exagerada. A reali-

    dade compoe-se de variaveis complexas e interdependen-tes. Os determinantes especificos sao indicios uteis doponto de vista estatfstico. Urn matutino costuma apre-sentar resultados de inqueri tos realizados na Guanaba racom a classificacao : Classe A, Classe B, Classe C. Estacerto mas seria err6neo atribuir exclusivamente ao fa-tor economico as diferencas entre as cifras. Do pon-to de vista psicologico, conclui Kornhauser, 0 deter-minismo econ6mico das opinioes sociais, simples, auto-ry{atico, e uma pura ficcao.2. FATllRES ECOL6G1cosllinire__aL~ontexto social, os._fa1Qres_ec_o-=

    IQgico~__sL~1!!P~Jlham!!l!__~2e.1 .nad.a_de~l2f~zfvel. ~araa__ _ fQ rma~ aQ _ _ da s _- -a ti tu d es _ .g _QPJ1 lJQ e s- " . .A s _ _3r.a_cJ~n~J!_C2s~QgrafLca~,_~li!1}~J~E!~~I_!~~l!m

  • 5/14/2018 A Formao da Opinio Pblica - Monique Augras

    11/16

    40 Parte I: A Teoriabern, no plano politico, i1ustrando a bipolaridade con-servatismo-reformismo.Determinando as formas de habitat e a estruturac;aoconseqiiente das relacoes sociais, as caracteristicas geo:-graticas influenciam ainda em grande parte a economiade urna regiao. Numa area de economia predominan-temente rural, sera de esperar maior resistencia a J ; I1U-danca por parte da populacao. Mas isso ainda dependedos produtos de base, do tipo de cultivo ou de cria-c;ao (agricultura purarnente extrativa, culturas diversi-ficadas, monocultura). A w.eltstangshaung do vaqueirodo agreste da Bahia e bern diferente da do trabalhadorde plantacao de cacau no suI do mesmo Estado. Ao es-tudar 0 comportamento eleitoral no Brasil (Capitulo 4),eneontraremos nos estudos das diferenC;as regionais ainterferencia desses fatores ambientais.Seria necessario todo um tratado para descrever, alern

    das influencias geograficas gerais, a importancia da na-tureza e tamanho da comunidade, a densidade da po-pulacao, as redes de comunicac;ao e dtstrtbutcao. Istonos leva ao nivel mais diretamente sociol6gico.

    3. Os GRUPOSTomamos a palavra grupo na sua maior extensao.

    signifieando conjuntos ~shIltu@gQ.~_de,_ind_iYJQ1!Q.~~,denJI.Q~fLP_QllYlaao ",~al. Assirn, distinguiremos catego-rias naturais (na realidade sao mais artetatos classifi-eat6rios) e grupos estritamente sociais, .ern que a es-truturacao e patente e corresponde a interesses comuns.As categorias naturais sao subpopulac;6es definidas

    por uma caraeteristica eomum. Classicamente destaea-rem os: sexo, ida de, etnia.Sob 0 angulo do estudo da opiniao publica, a dife-renciacao sexual nao intervem diretamente (ernbora te-nhamos visto Eysenck declarar que as mulheres sao maisternas do que os homens, logo propensas a atitudes

    t A forma~iioda opioiiio publica 41men,os radicai~): Sua influencia e patente, porern quan-to a ~~!ae.tensh~a natural do sexo aerescentamos aconse9uenCla sociologica de status. Nas sociedades oci-dentais, de estrutura nitidamente patriarcal, 0 status dasmulheres coloca-se em nivel inferior ao homem. Ate bepoueo tempo, ~a. maioria das nacoes, era vedada ~mulheres a participacao eleitoral, que e a instituicao pe-la . qual, nas. democracias, se expressa a opiniao. Ateh~Je, n~m pais como a Franca, dois tercos das absten-coes nao politicas sao de mulheres. Se, para expres-sa~-se, as m~lher.es poueo utilizam os meios -institucio-nal~, ~os quais ainda nao dorninaram 0 manejo, sua in-fluencia, ~o~t~do, pode ser determinante no seio dosgrupos pnmanos, em particular a familia.A in!luencia dos grupos de idade deve ser encarada

    sob _0 angulo do. status e tam bern dos interesses e moti-vacoes, ,~os palses europeus os jovens possuem urnstatus nlt idamente inferior ao das pessoas de mais ida-de. A revolta. de maio de 1968, na Franca nao tevecausas essencialmente politicas: tratava-se antes d 'I - d . ' ,a ex-po~ao e jovens que procuravam ser reconhecidos pelasociedade como forc ;as atuantes. 2 . Nos paises america-nos, pel~ contrario, e urn trunfo ser jovern. Basta com-p.arar a idade dos governantes europeus com ados arne-ncanos. De urn lad?,. temos urn Adenauer, que chega aos83. ~nos no exercicro da presidencia do Conselho deM!llIstros, do outro, encontramos presidentes da repu-b:IC~, com pouco mais de quarenta anos (John Kennedy,[anio ~uadros,~ [oao Goulart). Toda a literatur

  • 5/14/2018 A Formao da Opinio Pblica - Monique Augras

    12/16

    42 Parte I: A Teoriasinalamos para os grupos de idade. Alem dos interessese motivacoes que podem variar (logo determinando asatitudes), 0 que mais importa e 0 status, ou seja, a va-lorizacao social adstrita ao fa to de pertencer a deter-min ado grupo. No Brasil, isto e bern nitido. A rigor,nao M preconceito de cor. Mas ha estere6tipos. As pes-soas de cor situam-se geralmente nas classes mais bai-xas da escala social. Os individuos vao clareando a me-dida que sobem. Status e cor se completam. E' conhe-cida a anedota do pai (pardo) que diz as filhas: Ca-sar com operario, s6 se fOr branco; com preto, so sefor doutor."Ha uma compensacao ligada ao status. Entre os gru-

    pos estruturados, podemos incluir desde 0 grupo secun-dario rna is ample (nacao) ate pequenos grupos queagregam amigos, vizinhos, colegas.Como nos demais setores da Psicologia Social, os Es-

    tados U nidos lideram as pesquisas sobre a influenciados grupos (administrativos, empresariais, sindicais, reli-giosos, politicos, etc.). Alguns estruturam-se exclusiva-mente em funcao da opiniao : e 0 caso, 6bvio, dos par-tidos politicos. Estudaremos mais adiante sua influen-cia sobre 0 comportamento ele itora l. Autores americanosdernonstrararn, porern, que a influencia de grupos naopoliticos e tao importante - e as vezes mais - quantoa dos politicos. As associacoes de Veteran os, por exem-plo, os sindicatos, desempenham urn papel preponderante .Talvez seja rnais acertado dizer: qualquer grupo pode

    influenciar urn individuo de maneira determinante, e is toquanta mais reproduza as caracteristicas de envolvimen-to afetivo e emocional que se processam num grupoprimario.Urn aspecto importante e 0 da cornunicacao dentro

    de cada grupo. Em primeiro lugar, podemos considerartodas as relacoes entre individuos como processos de.. RENt; RIBEIRO, Situacao etnica no Nordeste, in "Sociologia", SlioPaulo 1953. v. XV. n9 3. pp. 210-258.

    ,+,t A forma~iio da opinii io publ ica 4 3I transmissao de inforrnacao. Em sezundo lugar 1 :> , 0 gru-po no _seu conjunto atua como receptor e fonte de in-formacao: receptor de inforrnacoes provindo de grupO'sextenores, transmiss?r destas infO'rma

  • 5/14/2018 A Formao da Opinio Pblica - Monique Augras

    13/16

    44 Parte I: A Teoriapos. A comunicacao entre dois grupos de que faz partepode muito bern processar-se atraves dele. Desse pontode vista, 0 individuo passa a ser urn canal de trans mis-sa o entre os grupos. 0 que aconteceria se os grupos es-tivessem em conflito uns com os outros? Que seria doindividuo, do seu equilibrio, da sua vida? Muitas neu-roses de nosso tempo provern precisamente da dificul-dade que tern 0 individuo em assumir papeis extrema-mente variados, as vezes antagonicos. Ao status defini-do, estavel, simples, do membro do grupo primario, vernsubstituir-se a mult iplicidade de papeis, numa sociedadeem mudanca.No plano da opuuao, as pressiies coniraditorias( cross-pressures) podem levar a reacoes de fuga dasituacao conflitiva. Varies autores mostraram que hanesse caso 0 reforcamento das atitudes afetivas.Lazarsfeld alude a situacao conflitiva dos eleitores ju-deus nas eleicoes para escolher 0 prefeito de NovaIorque, em 1945. 0 candidato O'Dwyer, dernocrata, opu-nha-se a Goldstein, republicano. Este era muito respei-tado na comunidade israelita; aquele, por ser democrata,estava identificado com 0 grupo a favor do New D eal,apoiado pela comunidade judaica. Eis uma situacao tipi-ca de press6es contradit6rias: votar no judeu contra 0New D eal, ou no irian d es, a favor? Escolheram urn ter-ceiro candida to. 22 0 excesso de2r~~,ao provoca..-a..csatu~C) FATORES HISToRIC OSAs variaveis ja passadas em revista podem ser cons i-deradas como basicas para a formacao das atitudes e

    opini6es. Mesmo que sejarn tortalecidas, no decorrer dotempo, por uma serie de acontecimentos, na sua essen-cia nao dependem deles. Tudo isso diz respeito a opi-. . LAZARSPELD P. F., Should Political Forecasts be made?, in Meier .eSaunders, eds, 'The Polls and the Public Opinion, New York, Hol t, 1949.

    A fonna~iio da opiniiio publica 45niao latente, estatica, que, como vimos, esta diretamen-te Iigada as atitudes.E' necessario agora examinar os fatOres desencadean-tes de uma corrente de opiniao. Ao contrario dos prece-dentes, esses tatores circunstanciais sao extremamentem6veis e podem definir-se em torno de urn so tema: 0assunto.A natureza do assunto, em si, pode ser variada, sub-

    metida que esta ao fluxo dos acontecimentos hist6ricos.Na semana passada, 0 assunto era a primeira via gemdo homem a lua." Agora, 0 interesse da opiniao inter-nacional esta dividida entre as observacoes do Mariner7 e a ultima viagem do Papa.Nao s6 varia a natureza do acontecimento, como tam-bern sua importancia. Parece evidente que, para 0 fu-turo da humanidade, a viagem a lua ou ate Marte sejamuito mais importante do que a viagem do Papa ate aAfrica. No plano imediato, po rem, esta pode ter maio r esrepercuss6es. Mais uma vez encontramos a caracteristicasubjetiva: 0 assunto que interessa a opiniao e, por isso

    mesmo, sumamente importante. Pouco importa que daquia urn mes todos 0 tenham esquecido. 0 problema, logo,nao e 0 de saber quais sao os acontecimentos que provo-cam a mobilizacao da opiniao, mas sim porque atuamdesta maneira. Kimball Young (1956) descreve as diver-sas funcoes do acontecimento em relacao a opiniao. HEm primeiro lugar, 0 acontecimento pode ter uma in-fluencia objetiva sobre as instituicoes, e portanto sobreo status dos individuos, afetando, em consequencia, s}1asopini6es e atitudes: e 0 caso das crises nacionais, revo-lucoes, guerras, enfim, dos acontecimentos realmentedrarnaticos para a sociedade e os individuos. Alern dasinstituicoes, urn acontecimento desse tipo pode provocaruma mudanca nos padr6es eticos e sistemas de valoresde uma nacao, logo afetando os do individuo.

    23 Escrevemos essas linhas no mes de julho de 1969 ... Op. cit.

  • 5/14/2018 A Formao da Opinio Pblica - Monique Augras

    14/16

    I

    46 Parte I: A TeoriaC ! acontecimento pode tambem levaraceitar nova maneira de I 0 indivfduo areso ver os problem Ncaso, a opiniao latente evolui t' as. esseen cia de que, por exem I 'a e a tomada de consci-resolver 0 problema. p 0, somente a guerra permitiriaEnfim (parece uma boa interpr t -cas subjetivas que determinam e. acao ~as. caracteristi-

    to), 0 aconte~imentoPIQP_QI~LQ~aln:;o;t~ncl.a. do assun-base para raclOnali '. .----,-'-J:LdlVJQlJ9's umat d' '_"__ __~?:~.,ejUstJfJcar suas oni'- -------:-u es, Jilientes. A

  • 5/14/2018 A Formao da Opinio Pblica - Monique Augras

    15/16

    48 Parte I: A Teoriarnaes, as cartas estavam dad a s ), nao havia mais necessidade de entrar em guerra. Mas depois de Pearl Harbour, po rem, as respostas afirmativas alcancam 82%. Eiurn caso de fato traurnatico, que mobiliza a opiniao, 2Interessante exemplo de mudanca progressiva da opiniao ate uma espetacular reviravoIta e-nos fornecida pouma serie de artigosdo jornal Le Moniieur, na Francaem 1815, acompanhanc, '1 evasao de Napoleao da Ilh.de Elba, para reconquistar (). trono. 0 Mapa anex.perrnitira melhor acompanhar a evolucao :Mes de marco de 1815Dia 9 - 0 monstro fugiu do local do exilio.Dia 10 - 0 ogro desembarcou em Cabo Juan.Dia I I - 0 tigre apareceu em Gap. As tropas estao chegandide todos os lados para deter-lhe a marcha. A miseravel aventura acabara em fuga nas montanhas.Dia 12 - E' verda de que 0 monstro adiantou-se ate GrenobleDia 13 - 0 tirano agora esta em Lyon. 0 terror apoderou-sde todos os que 0 viram chegar.Dia 18 - 0 usurpador arriscou-se a chegar a umas 60 horade marcha da capital.Dia 19 - Bonaparte adianta-se a marchas forcadas, mas e impossivel que alcance Paris.Dia 20 - Napoleao chegara amanha aos muros de Paris.Dia 21 - 0 Imperador Napoleao esta em Fontainebleau.Dia 22 ____:_ntem a t arde , Sua Majestade 0 Imperador entrosolenemente em Paris e chegou ao Palacio. Nadpede ultrapassar a alegr ia universal.Nesse exemplo impar de vira-casaca, nao deverno:confundir opiniad publica e opiniao da imprensa. Parece, contudo, fefletir aquele entusiasmo que se apoderou da maio ria do povo frances. Nao e urn oportunismo apenas, mas tarnbem mudanca progressiva de cons

    ciencia. Observa-se que os primeiros titulos, hostis ,Napoleao, sao redigidos em termos excIusivamente emocionais: e 0 monstro, 0 ogro, 0 tigre (simbolos de ter" HADLEY CANTRIL, "Public Opinion and Flux", cit. por Kimball Younjop. cit.

    -..--.----~?;

    A formacao da oplniao publica 49

    Paris; or.Fontainebleau

    lyon.Grenoble

    "igura 6

    Opiniilo Publica - 4

  • 5/14/2018 A Formao da Opinio Pblica - Monique Augras

    16/16

    50 Parte I: A Teoriaror, mas tambern da imagem paterna todo-poderosa).Ao descrever a alegria universal os termos perrnane-cern emocionais: 0 Imperador e ainda a figura paternapoderosa, desta v ez idealizada. 0 inconsciente ignora anegac;ao." 0 arquetipo subsiste, valorizado negativamen-te ou nao, mas sempre exaItado. Dai a facilidade depassar de urn polo ao outro.Mais uma ve z verificamos 0 predominio dos fato res

    afetivos e irracionais no desencadeamento de uma cor-rente de opiniao. Ao estudar as tecnicas de manipula-c;ao da opiniao, em particular a persuasao e a propa-ganda, veremos 0 quanto sao utilizadas.

    " S. FREUD, El Sentido Antitetico de las Voces Primitivas.

    /

    CAPITULO 3

    As recnicas de forma~ooda opiniao publica

    A) 0 PROBLEMA DO CONTROLEObservando as variedades da expressao da Opiniao PU-blica, ao longo da historia, verificamos que houve umatranstorrnacao das relacoes entre 0 Estado e 0 indivi-duo, a partir do corneco do S eculo X X. Ate ai, lutava-se pela livre expressao da opiniao (reivindicacao da li-bdadc de palavra, por exemplo). Hoje em dia, a Iutae dominar 0 conjunto das tecnicas de [ormadio daOrio Publica, luta essa que op6e 0 Estado a diver-SOf :rupos nacionais e internacionais. De que gruposse t,Jta? Orupos econornicos sobretudo, ou melhor, gru-pos de qualquer natureza que disponham de poderioeconornico.Este seculo viu agigantarem-se os meios de comunica-c;ao. A inforrnacao do individuo ja nao depende exclusi-vamente de suas relacoes com os grupos que Ihe saomais pr6ximos. Vivemos a era da cuItura de massa,da comunicacao de massa. Para manipular tais meios decomunicacao, e preciso dispor de recursos financeirosvuItosos. Basta urn exemplo: para fundar urn diario, ava-- lia-se 0 capital necessario em 10 a 12 milh6es de cru-zeiros novos, no minimo.Em Paris, em 1939, havia 43 diaries em 1951, 29 em 1952, 19 em 1953, 17 1

    1Dados encontr ados in O. Berger, op. cit.4*