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A FORMAÇÃO DA MÃO DE OBRA PARA O TRABALHO AGRÍCOLA: OS OFÍCIOS NA ESCOLA AGRÍCOLA DE URUTAÍ-GO (1960 -1976) Sílvia Aparecida Caixeta Issa Mestranda do PPGEDUC- UFG-Câmpus Catalão Email: [email protected] RESUMO: O estudo teve por objetivo caracterizar os diferentes tipos de certificação para o trabalho agrícola realizados na Escola Agrícola de Urutaí-GO, entre os anos de 1960 a 1976, na perspectiva da cultura escolar vigente durante o período estudado, recortada por práticas e normas instituídas. Os cursos ofertados se classificavam em formato de treinamento e preparação temporária, como os ofícios de Arador Tratorista, Qualificação em Mão de Obra Rural. O de Mestre Agrícola e o Ginasial Agrícola tinham como diferencial uma formação propedêutica e profissionalizante, com ênfase na educação para o campo. Metodologicamente tomamos por base empírica o livro de registro de diploma e os diários das disciplinas técnicas oferecidas no Ginásio Agrícola como fonte histórica e memória dos processos formativos na área da história da educação. O estudo está inserido em um levantamento histórico, documental e bibliográfico mais amplo, por meio de consultas à legislação, como o Decreto de Lei n. 9.613 de 20 de agosto de 1946, e às LDB's 4.024/61 e 5.692/71, documentos oficiais, programas, normativas, dentre outras fontes, com a finalidade de analisar as atividades de formação do trabalhador agrícola desenvolvidas nos cursos específicos da instituição. Fundamentam a investigação autores como Borges (2000), Buffa e Nosella (1996), Magalhães (2004) dentre outros. Os dados obtidos trazem a lume um conjunto de práticas formativas diferenciadas e direcionadas para a qualificação da mão de obra rural típica da época em que os cursos foram implantados; contribuiu para a compreensão da cultura escolar em uma instituição técnica de formação do trabalhador agrícola, os interesses e as estratégias mobilizadas pelo Estado em torno da formação do trabalhador, concretizados por meio desta escola técnica inserida no contexto de expansão das atividades produtivas no sudeste goiano, com interfaces na política nacional de desenvolvimento econômico preconizada pelo governo federal no período estudado. Palavras-chave: Cultura Escolar; História das Instituições Escolares; Qualificação para o Trabalho Agrícola. ABSTRACT: The study aimed to characterize the different types of qualification for agricultural work carried out in the Agricultural School in Urutaí-GO, between the years 1960 to 1976, from the perspective of the prevailing school culture during the study period, dotted with established standards and practices. The courses then offered were classified as training and temporary preparation, such as Plowing Tractor Driver and Qualification in Rural Labor. Both Mestre Agrícola and Ginasial Agricola outstood because they had an introductory and professionalizing curriculum, with emphasis on education for the countryside. Methodologically we empirically based on the diploma record book and gradebook for technical subjects offered at the Agricultural Junior High as a historical source and training process memory for History of Education. The study is part of a historical survey, documentary and bibliographic wider consultations through legislation such as the Law

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A FORMAÇÃO DA MÃO DE OBRA PARA O TRABALHO AGRÍCOLA:

OS OFÍCIOS NA ESCOLA AGRÍCOLA DE URUTAÍ-GO (1960 -1976)

Sílvia Aparecida Caixeta Issa

Mestranda do PPGEDUC- UFG-Câmpus Catalão

Email: [email protected]

RESUMO:

O estudo teve por objetivo caracterizar os diferentes tipos de certificação para o trabalho

agrícola realizados na Escola Agrícola de Urutaí-GO, entre os anos de 1960 a 1976, na

perspectiva da cultura escolar vigente durante o período estudado, recortada por práticas e

normas instituídas. Os cursos ofertados se classificavam em formato de treinamento e

preparação temporária, como os ofícios de Arador Tratorista, Qualificação em Mão de Obra

Rural. O de Mestre Agrícola e o Ginasial Agrícola tinham como diferencial uma formação

propedêutica e profissionalizante, com ênfase na educação para o campo. Metodologicamente

tomamos por base empírica o livro de registro de diploma e os diários das disciplinas técnicas

oferecidas no Ginásio Agrícola como fonte histórica e memória dos processos formativos na

área da história da educação. O estudo está inserido em um levantamento histórico,

documental e bibliográfico mais amplo, por meio de consultas à legislação, como o Decreto

de Lei n. 9.613 de 20 de agosto de 1946, e às LDB's 4.024/61 e 5.692/71, documentos

oficiais, programas, normativas, dentre outras fontes, com a finalidade de analisar as

atividades de formação do trabalhador agrícola desenvolvidas nos cursos específicos da

instituição. Fundamentam a investigação autores como Borges (2000), Buffa e Nosella

(1996), Magalhães (2004) dentre outros. Os dados obtidos trazem a lume um conjunto de

práticas formativas diferenciadas e direcionadas para a qualificação da mão de obra rural

típica da época em que os cursos foram implantados; contribuiu para a compreensão da

cultura escolar em uma instituição técnica de formação do trabalhador agrícola, os interesses e

as estratégias mobilizadas pelo Estado em torno da formação do trabalhador, concretizados

por meio desta escola técnica inserida no contexto de expansão das atividades produtivas no

sudeste goiano, com interfaces na política nacional de desenvolvimento econômico

preconizada pelo governo federal no período estudado.

Palavras-chave: Cultura Escolar; História das Instituições Escolares; Qualificação para o

Trabalho Agrícola.

ABSTRACT:

The study aimed to characterize the different types of qualification for agricultural work

carried out in the Agricultural School in Urutaí-GO, between the years 1960 to 1976, from the

perspective of the prevailing school culture during the study period, dotted with established

standards and practices. The courses then offered were classified as training and temporary

preparation, such as Plowing Tractor Driver and Qualification in Rural Labor. Both Mestre

Agrícola and Ginasial Agricola outstood because they had an introductory and

professionalizing curriculum, with emphasis on education for the countryside.

Methodologically we empirically based on the diploma record book and gradebook for

technical subjects offered at the Agricultural Junior High as a historical source and training

process memory for History of Education. The study is part of a historical survey,

documentary and bibliographic wider consultations through legislation such as the Law

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Decree. N. 9.613 of August 1946, and the LDB's 4.024/61 and 5.692/71, official documents,

programs, regulations, among other sources, in order to analyze the training activities for

agricultural workers developed in specific courses held in the institution. The research is

based on authors like Borges (2000), Buffa and Nosella (2005), Magalhães (2004) among

others. The data bring to light a set of differentiated and targeted training practices for the

qualification of rural labor, typical of the era in which courses were implanted. That

contributed to the understanding of school culture in a technical training institution of the

agricultural worker, the interests and strategies mobilized by the State around the worker

training, achieved through this technical school into the context of expansion of productive

activities in south east Goiás, with interfaces in national economic development policy

advocated by the federal government in the period studied.

Keywords: School Culture, History of Institutions School; Qualification for Agricultural

Labor.

Introdução

A preparação necessária para o desempenho de um ofício, isto é, de uma determinada

função se fez presente na história da humanidade desde os tempos mais remotos, quando

consideramos a importância dos mestres artesãos, responsáveis por repassar seus

conhecimentos aos aprendizes. Era uma estratégia para perpetuar e garantir a existência deste

ofício para as gerações posteriores. A transmissão do conhecimento era tarefa que se

realizava entre o mestre e o discípulo por meio da convivência cotidiana e da instrução oral,

reforçada pela execução de tarefas em diferentes etapas, começando pelas mais simples até o

domínio das habilidades mais complexas. Esse processo informal de aprendizado, fundado na

experiência prática, ainda, é recorrente em algumas profissões em que o domínio de técnicas e

a confecção de objetos se fazem pela observação e execução de pequenas tarefas pelo

aprendiz. Alguns exemplos podem ser encontrados no ofício de sapateiro, marceneiro, oleiro

dentre outras atividades de cunho artesanal, em evidência nas diferentes regiões do país.

Nesse processo, aquele que ensina (o mestre) e aquele que aprende (aprendiz/discípulo) são os

sujeitos individuais que assumem papel central na experiência vivida, tendo a oralidade e a

observação como fonte principal de transmissão das informações e conhecimentos. Por

conseguinte, o espaço onde esta relação se realiza é o ambiente de trabalho: a oficina, onde as

atividades alusivas ao ofício são desempenhadas.

Ao final da Idade Média, as corporações de ofícios foram associações de trabalhadores

de uma mesma atividade, que assumiram um dos primeiros formatos de organização de que se

tem registro histórico. A manutenção e as atividades desenvolvidas pela corporação eram

asseguradas por meio de contribuições dos próprios associados.

No Brasil, embora tenham ocorrido diferentes iniciativas anteriores1 a instrução

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profissional institucionalizada teve no início do século XX (1909), a referência de criação de

dezenove Escolas de Aprendizes Artífices, sendo uma no Estado de Goiás.

No sentido formal, a qualificação adquire novo status quando realizada em uma

instituição, ou seja, quando se tornou um processo qualificado no âmbito de um espaço

próprio, a escola. Desse modo, ao definir o que seria “os ofícios” praticados em uma escola

agrícola, promove-se a cisão de dois processos, quais sejam, o ensino e o aprendizado de uma

determinada função, realizados dentro de uma instituição especialmente estruturada como

espaço de formação. Tal condição confere outro formato para o processo formativo, com a

inclusão de diferentes sujeitos e o caráter coletivo (composição de grupos/turmas), que

permitem a qualificação em massa para uma mesma atividade.

Nesse caso, em particular, os ofícios se caracterizam pelos cursos ofertados pela

Escola Agrícola de Urutaí, direcionados para a formação da mão de obra no campo, ou seja, o

preparo dos indivíduos para o desempenho de tarefas específicas em propriedades rurais.

A formação da mão de obra para o trabalho agrícola é um recorte que se insere na

história institucional do atual Instituto Federal de Ciência e Tecnologia Goiano - Câmpus

Urutaí, cuja história de quase um século, teve início como Escola Agrícola de Urutaí através

da Lei 1.923 de 28 de julho de 1953, sendo beneficiada por toda a estrutura de bens móveis e

imóveis, propriedades, máquinas e animais da Fazenda Modelo de Criação2

que funcionou no

local entre os anos de 1918 a 1951.

Neste artigo, a caracterização e análise dos ofícios de qualificação da mão de obra para

o trabalho agrícola se organizam em três momentos distintos, porém entrelaçados nas relações

e configurações da instituição e o contexto regional. No primeiro tópico apresentamos uma

breve contextualização da instituição e sua origem; no segundo, situamos os marcos legais da

instalação e o fomento dos cursos na Escola Agrícola, tomando como referente as Leis

Orgânicas e as Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Por fim, caracterizamos o

objeto do estudo, com a análise e interpretação dos dados obtidos no Livro de Registros de

Diplomas e os diários do Ginásio Agrícola.

Contexto e origem da Escola Agrícola de Urutaí

A cidade de Urutaí na década de vinte era um distrito de Ipameri, e onde se localizava

grandes fazendas dedicadas à pecuária e agricultura. O abastecimento, a comercialização e

escoamento de produtos e derivados era favorecido pela presença da ferrovia, que

possibilitava o transporte de mercadorias desta região de Goiás com os estados de Minas

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Gerais e São Paulo. Esta seria uma condição que facilitava a compra de produtos

industrializados vindos da região sudeste do Brasil e a venda de produtos agrícolas

produzidos no sudeste goiano. Barsanufo Borges, pesquisador e estudioso do

desenvolvimento econômico de Goiás na obra “O Despertar dos Dormentes” mostra que esta

região despontava pelo maior crescimento econômico no estado de Goiás. Em particular

sobre Urutaí, Borges (1990) explica que:

Urutaí foi o nome que a Companhia Estrada de Ferro de Goiás deu à sua

penúltima estação, nesta primeira etapa da construção da linha. Estação

inaugurada em 1914, no município de Ipameri, Urutaí se desenvolveu como

cidade a partir de um dinâmico centro comercial, produtor e exportador de

bens agropecuários. Localizada numa zona de terras férteis, Urutaí contava

com as maiores fazendas de gado do município de Ipameri e era a estação

que se localizava mais próximo às grandes fazendas da região, o que ressalta

o papel econômico do povoado. (p.107).

Este autor, ao tecer uma análise na qual articula diversas variáveis, indica que a

posição geográfica de Ipameri e Urutaí possibilitou o desenvolvimento econômico da região.

Os agricultores e pecuaristas levavam (para os estados do sudeste) os produtos produzidos em

suas propriedades (arroz, feijão, animais) e compravam produtos industrializados, tais como:

sal, querosene, tecido, sapatos. As cidades e povoados da região contavam com todas as

características de zona de ocupação e expansão da economia capitalista.

As atividades educativas da Escola Agrícola de Urutaí iniciaram-se em 1957, os

representantes políticos do sudeste goiano cobraram explicações pelo atraso das atividades

educativas na Escola Agrícola de Urutaí através do jornal “O Ipameri”. O jornal questiona

junto ao Ministério da Agricultura quais as providências foram tomadas para o início das

atividades educativas na referida instituição. Observe o trecho do jornal:

Quais providências foram tomadas pelo Ministério da Agricultura para fazer

funcionar a Escola Agrícola de Urutaí, no Estado de Goiás, criada pela Lei n.

1.923, de 25 de julho de 1953?

Deu o Ministério aplicação à verba de Cr$ 1.500.000,00, destinada a

instalação daquela Escola, conforme se vê do orçamento federal para 1954,

publicado pelo Diário Oficial de 21 de Dezembro de 1953, p.182? (O

IPAMERÍ, 24 de abril de 1955, Edição n. 542, S/P).

O ministro Costa Pôrto justificou que em 1953 não deu para fazer nada, pois a Escola

foi criada no meio do ano; em 1954 a verba destinada a Escola não foi suficiente para fazer as

adaptações necessárias, e também não encontrou pessoal técnico que aceitasse a incumbência,

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e pessoal para trabalhar na instituição pública só pode ser admitido segundo as normas do

Departamento Administrativo do Serviço Público mediante concurso ou prova de habilitação.

O mesmo jornal tornou pública a dificuldade:

O Ministério fica na dependência de obter pessoal técnico com que possa

fazer funcionar a Escola para, então, aplicar, nas obras de adaptação dos

imóveis os recursos constantes do orçamento. Do contrário, pode acontecer

que se gaste o dinheiro e que a Escola não funcione por falta de professores.

Só ultimamente, tendo sido encontrado um técnico que resolvesse aceitar a

direção do estabelecimento, foi o mesmo designado pela portaria n. 108, de

20 de dezembro de 1954. (O IPAMERÍ, 24 de abril de 1955, Edição n. 542,

S/P).

De acordo com o Sr. Adilson dos Santos Borges, aluno da primeira turma do curso de

Iniciação Agrícola, a Escola iniciou suas atividades em 1957, expectativa registrada no

memorial “Urutaí, Memórias de uma Juventude”.

Felizmente nossa maior alegria aconteceu quando a Fazenda Modelo (aquela

onde o Joaquim e sua família moraram um tempo) foi transformada numa

escola agrícola. A abençoada Escola Agrícola de Urutaí nos oferecia os

cursos de Adaptação e Iniciação Agrícola. Eu tive a honra de pertencer à

primeira turma que ocupou os pátios daquela escola. (SANTOS BORGES,

2005, p.62).

O ex-aluno realça a oportunidade de estudar, frequentando o curso de Iniciação

Agrícola, uma novidade para a região e época. A satisfação e deslumbre diante da inserção no

ambiente da escola revelam a importância da instituição, pois confere aos alunos um novo

espaço de formação e sociabilidade.

(SANTOS BORGES, p. 63)

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Alguns marcos legais

A lei Orgânica do Ensino Agrícola de 1946, no capítulo 1 – que diz sobre as

finalidades do ensino agrícola, no artigo 2º esclarece sobre os cursos de formação de mão de

obra: “Aos interesses das propriedades ou estabelecimentos agrícolas, proporcionando-lhes,

de acordo com as suas necessidades crescentes e imutáveis, a suficiente e adequada mão de

obra.”. O curso de Arador Tratorista de acordo com a bibliografia era um curso necessário

para que as propriedades agrícolas tivessem mão de obra qualificada para trabalhar nas

lavouras e formação de pastagens.

A transformação da Escola Agrícola em Ginásio Agrícola ocorreu legitimada pela

LDB 4.024 de 1961, que definia o curso ginasial com duração de quatro anos, com disciplinas

específicas da área técnica e disciplinas do curso ginasial. Sobre o ensino técnico a primeira

LDB expõe:

Art. 47. O ensino técnico de grau médio abrange os seguintes cursos:

a) industrial;

b) agrícola;

c) comercial.

Parágrafo único. Os cursos técnicos de nível médio não especificados nesta

lei serão regulamentados nos diferentes sistemas de ensino.

Art. 48. Para fins de validade nacional, os diplomas dos cursos técnicos de

grau médio serão registrados no Ministério da Educação e Cultura.

Art. 49. Os cursos industrial, agrícola e comercial serão ministrados em dois

ciclos: o ginasial, com a duração de quatro anos, e o colegial, no mínimo de

três anos.

§ 1º As duas últimas séries do 1° ciclo incluirão, além das disciplinas

específicas de ensino técnico, quatro do curso ginasial secundário, sendo

uma optativa.

Os cursos técnicos da área agrícola continuaram sob a supervisão e responsabilidade

da Superintendência de Ensino Agrícola e Veterinário (SEAV) do Ministério da Agricultura.

Em decorrência à Lei 4.024/61 as antigas escolas de iniciação agrícola e escolas agrícolas

foram agrupadas sob a denominação de ginásios, ministrando as 4 (quatro) séries do 1º ciclo

(ginasial) e mantendo a expedição do certificado de Mestre Agrícola. As Escolas Agrotécnicas

passaram a denominarem-se Colégios Agrícolas, ministrando as 3 (três) séries do 2º ciclo

(colegial) e conferindo aos concluintes o diploma de Técnico em Agricultura.

O Ensino Agrícola esteve subordinado ao Ministério da Agricultura até 1967. Nesse

ano, pelo Decreto nº. 60.731, de 19 de maio, a SEAV, do Ministério da Agricultura, transferiu-

se para a jurisdição do Ministério da Educação e Cultura, com a denominação de Diretoria do

Ensino Agrícola (DEA), cujo Art. 1º diz:

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Os órgãos de ensino vinculados ou subordinados ao Ministério da

Agricultura ficam transferidos para o Ministério da Educação e Cultura, nos

termos do art. 6º da lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961combinado com

o art. 154 do Decreto Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967.

O DEA com o decreto passou a ter como competência: “coordenar, dirigir, orientar e

fiscalizar o ensino da agricultura e indústrias rurais nos seus diferentes graus e especialidade,

promovendo o seu desenvolvimento no país”.

No ano em que o ensino agrícola passa para o Ministério da Educação não houve

nenhum registro de diploma no livro pesquisado e também não foi encontrado nenhum outro

documento que comprove certificações pela instituição no ano de 1967.

Em julho de 1966, um edifício construído em Rio Verde com recursos do Estado de

Goiás foi repassado ao Ministério da Agricultura. Tal iniciativa teve por objetivo fomentar a

implementação de cursos na área de agropecuária. O Decreto n. 62.178 de 1968, que versava

acerca da transferência de estabelecimento de ensino agrícola para universidade, mencionava

que:

[...] Art. 5º São autorizados a funcionar como colégios o Ginásio Agrícola de

Rio Verde, em Goiás e os Ginásios Agrícola de Passo Fundo, no Rio Grande

do Sul, e de Rio Pomba, em Minas Gerias e, como Centro de Formação de

mão de obra qualificada em pecuária, o Ginásio Agrícola de Urutaí, em

Goiás. (BRASIL, 1968)

Júlio Brandão de Albuquerque3, então Diretor do Ginásio Agrícola de Urutaí foi o

responsável por receber os prédios de Rio Verde e providenciar a organização do curso

ginasial. Este mesmo diretor foi responsável por definir o fechamento do Ginásio Agrícola em

Urutaí, transferindo os alunos do curso ginasial para as novas instalações em Rio Verde. Com

tais medidas, em Urutaí, a instituição funcionou nos anos de 1968 e 1969 como Centro de

Formação de Mão de Obra Qualificada em Pecuária (CEMOP).

A LDB 5.692 de 1971 estabelecia no Art. 1º “O ensino de 1º e 2º graus tem por

objetivo geral proporcionar ao educando a formação necessária ao desenvolvimento de suas

potencialidades como elemento de auto-realização, qualificação para o trabalho e preparo para

o exercício consciente da cidadania.”

Os acordos MEC-Usaid (Ministério da Educação e Cultura e United States Agency for

Internacional Development), pelos quais o Brasil receberia assistência técnica e cooperação

financeira para a implantação da reforma. Em linhas gerais a LDB de 1971 atendeu ao acordo

que teve como repercussão, profissionalizar todo o 2º grau.

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No caso da instituição de Urutaí, voltada para a formação em nível de 1º Grau, tais

mudanças ocorreram somente em 1978, quando o Curso Técnico em Agropecuária em nível

de 2º Grau foi implantado nos moldes da nova legislação.

Os ofícios da Escola: preparação da mão de obra para o trabalho agrícola

Os registros conservados no livro permitiram localizar alunos que pertenceram à

primeira turma como o Sr. Adilson autor do livro, que mora em Brasília, e o Sr. Pedro Martins

da Costa, aposentado e reside em Goiânia e concederam uma entrevista sobre os dois anos

que estudaram na instituição. Por meio do contato com alguns desses alunos foi possível ter

acesso aos certificados de diferentes cursos. Os cursos registrados são de Arador Tratorista,

Mestre agrícola, Qualificação em Mão-de-Obra Rural e o Ginasial Agrícola.

Os cursos de Arador Tratorista e Qualificação em Mão-de-Obra Rural são

caracterizados como cursos rápidos, de curta duração, com formação técnica desvinculada da

formação propedêutica, ou seja, tiveram como formato a instrução e treinamento de mão de

obra e uso prático de máquinas e equipamentos de manejo; o curso de Mestre Agrícola foi um

curso diferenciado dos dois descritos acima, porque compreendia a formação técnica e

propedêutica, no nível do curso ginasial agrícola

O primeiro curso que consta no livro de registro é o de Arador Tratorista no ano de

1962 e 1963. Era um curso técnico, para atender ao preparo de mão-de-obra rural. A

instituição foi denominada no registro como Centro de Arador Tratorista da Escola Agrícola

de Urutaí. Isto mantém correspondente com a chamada vocação produtiva de Goiás, que era

nesta década um estado essencialmente agrícola. Segundo Borges (2000, p.98) “O estado

contava em 1950, com apenas 86 tratores. Em 1960, este número havia se elevado para

1.349.” Pela elevação do número de tratores em uma década no estado, é possível inferir a

crescente demanda pela formação de mão-de-obra para trabalhar com as máquinas na lavoura.

Ao analisar a origem dos alunos concluintes do curso de Arador Tratorista, a

predominância da região é confirmada. De um total de quarenta (sendo vinte e cinco em 1962

e de quinze em 1963), 60% pertenciam a Urutaí e as cidades vizinhas (Orizona, Pires do Rio,

Goiandira, Ipameri e Santa Cruz); 12,5% de Minas Gerais; 12,5% do Nordeste (Bahia e

Piauí). Apenas 15% não informaram a naturalidade nos registros. A média de idade dos alunos

era de 19 anos.

Nos anos de 1962 e 1963 a instituição era denominada Escola Agrícola de Urutaí, na

qual deveriam funcionar os cursos de Iniciação Agrícola e Mestre Agrícola. Contudo, ao

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consultar os documentos verificou-se que a instituição iniciou o curso de Mestre Agrícola em

1963, juntamente com o início do curso ginasial, apesar do Decreto de Lei n. 53.5584

de 13 de

fevereiro de 1964, que assegurou sua transformação em Ginásio Agrícola ter sido aprovado

apenas em 1964. Estas particularidades puderam ser percebidas nos registros que indicam

uma turma concluindo o curso de Mestre Agrícola em 1966 e a matrícula desses mesmos

alunos no ano de 1963 na primeira série do curso ginasial, ou seja, pressupõe-se que os cursos

tenham sido cursados (frequentados) concomitantes.

No ano de 1964 o Ginásio Agrícola de Urutaí não registrou nenhum diploma. Em 1966

foram certificados quinze alunos no curso de Mestre Agrícola, este curso, integrava formação

técnica e propedêutica. Os alunos que concluíram o curso de Mestre Agrícola em 1966 eram

na sua maioria de Urutaí e cidades vizinhas (Ipameri, Catalão, Cumari e Nova Aurora); havia

alunos de Goiânia, Anápolis, Formosa e um número representativo de alunos de Minas

Gerais.

Acredita-se, que esta procura tenha sido motivada pela proximidade, visto que Urutaí

fica a 180 km da divisa de Minas Gerais. As condições oferecidas pela Escola como

alojamento, alimentação, vestuário completo e produtos de uso pessoal de higiene – sabonete,

pasta dental –, podem também ter contribuído para que alunos de diferentes localidades

buscassem a instituição para a sua formação. O aluno que estudou na primeira turma do curso

de Iniciação Agrícola relata sobre os benefícios oferecidos pela instituição aos alunos, em seu

livro de memória:

Estudávamos em regime de internato e semi-internato. Começávamos às sete

horas com o café da manhã. [...] às dez paravam o trabalho e praticavam

algum esporte por quarenta minutos. Daí vinha a hora de tomar banho e se

encaminhar para o refeitório. A comida era de muito boa qualidade com

direito a sobremesa e tudo. [...] às quatorze horas fazíamos um pequeno

intervalo e nos dirigíamos ao refeitório para o devido lanche.[...]

Entre tantas coisas boas de nossa escola, ainda tínhamos direito a uniformes

e botinas por conta do estabelecimento de ensino. Tínhamos um uniforme de

mescla azul, calça e camisa da mesma cor, que era usado no dia-a-dia, tudo

costurado sob medida, pois a escola tinha seu próprio alfaiate. Tínhamos,

ainda, o uniforme de “gala” composto de calça, camisa e quepe todo feito de

brim na cor caqui. (SANTOS BORGES, 2005, p.65).

Eram poucas as instituições de ensino que dispunham desse suporte aos alunos, além

da oferta do ensino secundário e técnico, as pessoas não mediam esforços para oportunizar

aos seus filhos esse ensino, a educação secundária não era obrigatória e para ingresso no curso

ginasial o estudante tinha que prestar o exame de admissão5 de acordo com o art. 36

6 da Lei

4.024 de 1961. Acredita-se que muitos desses alunos não tinham em casa o conforto que a

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instituição oferecia. Eles foram certificados em Mestre Agrícola em média com dezoito anos

de idade.

No período de 1966 e 1967 foi oferecido o curso de Qualificação em Mão de Obra

Rural em 1968 formaram trinta e cinco alunos e 1969 formaram trinta e três alunos no total de

sessenta e oito alunos, desses a maioria 95% eram de Urutaí e cidades vizinhas, 2% não

constam a cidade de origem no livro de registro de diploma e 3% de Minas Gerais;

certificaram com a uma média e 18 anos de idade. Barsanufo Gomides Borges, historiador,

professor aposentado da Universidade Federal de Goiás, concluiu o curso de formação em

Mão de Obra Agrícola em 1968, com 19 anos de idade, conforme o registro abaixo.

Livro de Registro de Diploma, p.67

Sebastião Alves Araújo, atual diretor administrativo da instituição de ensino, concluiu

o curso de Qualificação em Mão de Obra Rural em 1969, e no seu certificado é possível

comprovar que este curso buscava treinar o aluno a fim de desenvolver habilidades para atuar

no setor primário da economia do país, a agropecuária, de formação rápida para atender às

necessidades urgentes de mão de obra especializada de um mercado em expansão.

Documento do acervo pessoal de Sebastião Alves Araújo

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O curso foi executado em menos de um mês: iniciou no dia onze de novembro e foi

concluído em sete de dezembro, o que comprova que se tratava de um curso rápido.

No ano de 1970 a instituição retomou a condição de Ginásio Agrícola de Urutaí e

voltou a oferecer o curso de Ginásio Agrícola. No ano de 1973 foram certificados vinte e seis

aluno; em 1974 dezenove alunos e 1975 apenas oito alunos, todos receberam o certificado de

Mestre Agrícola. Quanto à origem, a maioria dos alunos eram de Urutaí e cidades vizinhas

66%; cerca de 2% de Brasília, 18% de Minas Gerais, 10% do Nordeste (Bahia e

Pernambuco), 2% do Paraná e 2% não declararam a origem. Já a média de idade era de 18

(dezoito) anos.

O ano de 1976 os alunos foram certificados apenas com a Conclusão do Curso

Ginasial, mas nos diários de 1976 e diplomas expedidos é possível constatar, que a instituição

continuava oferecendo o curso ginasial com formação agrícola, pois ministraram disciplinas

do Ginásio Agrícola – Mecânica Agrícola, Técnicas de Indústrias Rurais, Horticultura,

Zootecnia, Agricultura e Técnicas Comerciais –, foram certificados trinta e sete alunos no ano

de 1976 com a média de idade de 18 anos. Metade dos alunos eram de Urutaí e região,

aproximadamente 3% de Goiânia, 3% do Rio de Janeiro, 13% de Minas Gerais,

aproximadamente 9% do nordeste (Ceará, Bahia e Pernambuco) e quase 20% dos discentes de

diferentes regiões de Goiás.

De 1963 até 1978 o curso Ginasial oferecido pela instituição de ensino foi o curso

ginasial agrícola e cursos de formação rápida na área de agropecuária.

Em síntese, os cursos de Arador Tratorista e Qualificação de Mão de Obra Rural

foram cursos de formação rápida para atender o mercado agrícola em expansão no estado de

Goiás, pois “O estado contava em 1950, com apenas 86 tratores. Em 1960, este número havia

se elevado para 1.349.” (BORGES, 2000, p.98) Pela elevação do número de tratores em uma

década no estado, é possível constatar a necessidade de formação de mão de obra para

trabalhar com as máquinas na lavoura. Estes cursos ofereciam uma formação técnica e

propedêutica, com maior duração e envolvia um conhecimento mais amplo. Pela Lei Orgânica

do Ensino Agrícola de 1946, as Escolas Agrícolas poderiam oferecer o Curso de Mestre

Agrícola e o Ginásio Agrícola continuaria a oferecer o curso ginasial integrado com o curso

técnico.

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A Cultura Escolar inscrita nas Disciplinas Escolares

Os componentes curriculares pelo Curso Ginasial Agrícola abrangiam as disciplinas

técnicas e as disciplinas de caráter propedêutico, como: Língua Portuguesa, Inglês, Educação

Artística, História, Geografia, O.S.P.B (Organização Social e Política do Brasil), Matemática

e Ciências. Nos componentes curriculares deste curso, os alunos recebiam formação para

atuar na agropecuária, os registros dos diários revelam a cultura escolar do ensino agrícola.

As disciplinas referentes à parte técnica constituíam em: Zootecnia, Agricultura,

Horticultura, Técnica de Indústrias Rurais, Mecânica Agrícola, Vocacional Agrícola, Desenho

e Técnicas Comerciais. Nas disciplinas da área agrícola era oportunizado ao aluno conhecer

modernas técnicas agrícolas para trabalhar em grandes e pequenas culturas; a zootécnica

proporcionava conhecimento de diferentes raças de animais. A disciplina Vocacional Agrícola

era direcionada para o cooperativismo, tipos de propriedades e projetos de produção.

Além dos conhecimentos na área agrícola, o Ginasial Agrícola por meio das Técnicas

Comerciais possibilitava conhecimentos no âmbito da administração de negócios.

Pelos registros dos diários é possível identificar o conteúdo ministrado pelos docentes

no curso Ginasial Agrícola, demonstrados nos fragmentos abaixo:

I- Marcação de suínos ( sistema australiano), espécies zootécnicos e

evolução, mutação, hibridação ou misturas de espécies e raças,

seleção, aula prática cuidados com os recém nascidos; evolução do

gado holandês por mutação, no seu ajustamento ao ambiente

tropical; seleção natural; definição de espécie; aula prática de

mochação dos recém nascidos; raças,sub-raças ou variedades

definição e importância; indivíduos univitelinos e bivitelinos.

(DIÁRIO DA DISCIPLINA DE ZOOTECNIA, 3º SÉRIE DO

CURSO GINASIAL, 1974).

II- O estudo do solo agrícola, noções fundamentais sobre o solo

conceituar formação e perfil do solo e sub-solo comparado a solo de

superfície; Os quatro componentes principais dos solos( ar,água,

matéria mineral e matéria orgânica;composição volumétrica de um

solo;propriedades físicas do solo textura, estrutura, permeabilidade,

densidade, porosidade, cor, profundidade efetiva; organismos do

solo; métodos de análise dos solos; coleta de amostra de solo para

análise de fertilidade do solo,capacidade de absorção do

solo;práticas de roçagem, desmatamento, enleiramento, destoca,

aração, gradagem; noções de curva de nível; aparelhos e métodos;

conhecimento dos aparelhos, aula prática de demarcação,desgaste do

solo agrícola; estudo de erosão de solo,agentes causadores de

erosão(água, vento,solo); tipos de erosão, controle de erosão dos

solos,necessidade de controle, práticas de controle de erosão,rotação

de culturas, controle de queimadas, manejo de pastagens, medidas

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agrárias, cálculo de medidas agrárias, importância da agricultura;

classificação agronômica das plantas.(DIÁRIO DA DISCIPLINA

DE AGRICULTURA, 6ª SÉRIE DO CURSO GINASIAL,1974)

III- Introdução ao estudo da máquina, partes importantes do

funcionamento da máquina; órgãos de alimentação; órgãos anexos

tempo do motor (admissão, compressão, explosão, escapamento),

órgãos de distribuição da máquina, aula prática; constituição do

mecanismo da máquina órgãos móveis; aula prática- órgãos fixos e

móveis, funcionamento da máquina; importância das peças;

manutenção da máquina agrícola, peças fixas e móveis que compõe

a máquina do trator agrícola; diferença entre motor a explosão e o

motor a diesel; tempos do motor, descrição das fases de

funcionamento; manutenção das máquinas agrícola; mecânica do

trator; o motor do trator agrícola, manutenção da máquina, filtro de

ar, alimentação; óleo lubrificante do motor; pneus e rodas;

contrapesos nas rodas, aula prática com a turma dividida, relatório

das aulas práticas; acoplamentos de implementos; limpeza de filtro

de ar; aula prática regulagem do arado com a turma dividida,

regulagem da grade, trabalho da plantadeira e roçadeira .(DIÁRIO

DA DISCIPLINA MECÂNICA AGRÍCOLA, 8ª SÉRIE, 1976).

IV- As vitaminas, histórico da conservação de alimentos; alterações dos

alimentos; por que o leite se estraga? fungos; destruição de fungos;

fermentos úteis ao homem;estudo de bactérias; as enzimas;

conservação de alimentos utilizando o frio; utilização do calor;

secagem e desidratação; aproveitamento das frutas; fabricação de

suco de frutas; fabricação de polvilho doce; operações efetuadas na

fabricação do polvilho;preparação de carnes; fabricação de

goiabada; fabricação de extrato de tomate; fabricação de doce de

banana. Importância da indústria rural; estudo das vitaminas;

produtor industrializador no meio rural, tecnologia agrícola;

aproveitamento de produtos não alimentares; alteração dos alimentos

– agentes das alterações - fungos, enzimas, bactérias, fermentos;

alterações de alimentos por fermentos e bactérias; como evitar a

alteração dos alimentos, outras alterações dos alimentos; alterações

dos alimentos por agentes químicos,físicos, e recipientes, processos

de conservação de alimentos, refrigeração e banho-maria; fabricação

de geleia de uva; industrialização do tomate, fabricação de iogurte e

coalhada; industrialização da mandioca; cuidado no transporte das

raízes do campo para a indústria, fabricação caseira de doce de

banana- prática.( DIÁRIOS DA DISCIPLINA INDÚSTRIA

RURAL, 7ª, 8ª SÉRIE, 1976).

V- Produção e fatores da produção; crédito, funções e vantagens;

crédito comercial, crediário, bancos, organização de empresa

comercial; venda; escritório; organização do escritório; mobiliário;

comando; instrumento de crédito; cheques; letra de câmbio; nota

promissória; duplicatas; como fazer uma duplicata; protestos de

títulos; carta de crédito; instrumento de crédito, ações; como fazer

uma carta de crédito; empréstimo compulsório; documentação

comercial; correspondência, pedidos, modelos de pedidos e

correspondência, nota de vendas. (DIÁRIO DA DISCIPLINA

TÉCNICAS COMERCIAIS, 8ª SÉRIE, 1976).

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Em todas as disciplinas ficava explícita a preocupação com questões referentes a

conteúdo, experimento; teoria e prática. Mediante os conteúdos constitutivos da teoria, os

alunos precisavam adquirir habilidades práticas para desempenhar bem as atividades

agropecuárias, ou seja, há ênfase no saber fazer. Esta prática deve-se ao fato que a partir de

1972, foi implantado, gradativamente o Sistema Escola-Fazenda, baseado no princípio

“aprender a fazer e fazer para aprender” que orientou os currículos e as práticas educativas. A

instituição possuía toda estrutura para assegurar as práticas educativas, tais como núcleo

zootécnico, pomar, aviário, hortas, máquinas agrícolas. Estas diferentes instalações eram

utilizadas para a experimentação prática, também chamada de Laboratório de Prática de

Produção. A Lei de Diretrizes e Bases da educação regulamenta o ensino técnico,

“proporcionar ao educando a formação necessária ao desenvolvimento de suas

potencialidades como elemento de auto-realização, qualificação para o trabalho e preparo para

o exercício consciente da cidadania.”(LDB 5.692/71 art. 1º)

A análise dos cursos entre 1960-1976 oferecidos pela instituição foi realizada

imbricada com a história da mesma.

Organismos vivos, as instituições educativas como os grupos sociais e como

as pessoas angustiam-se, pensam, tomam decisões, analisando o presente na

sua complexidade e no jogo de probabilidade de desenvolvimento,

perspectivando o futuro e inquirindo, fazendo balanço, atualizando o seu

próprio passado. É uma história material, social, cultural, biográfica,

reflexiva, que procura uma objetividade e um sentido no inquérito, na

conceitualização, descrição, narrativa, compreendendo e explicando o

presente-passado por referência ao destino dos sujeitos e à evolução da

realidade. (MAGALHÃES, 2004, p.70).

A prática pedagógica desenvolvida pela instituição, ou seja, a maneira como foi

desenvolvida na prática os cursos de formação para o trabalho agrícola, atendia a legislação

do ensino técnico no Brasil, mas com características próprias da instituição, desenvolvendo

assim sua própria ideia pedagógica: “Por ideias pedagógicas entendo as ideias educacionais,

não em si mesmas, mas na forma como se encarnam no movimento real da educação,

orientando e, mais do que isso, constituindo a própria substância da prática educativa”

(SAVIANI, 2010, p.6).

Para efeito de algumas considerações

Sem nenhuma pretensão de esgotar as questões anunciadas, as quais merecem

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pesquisas e estudos mais abrangentes, indicamos alguns aspectos que nos parecem marcantes

nas práticas formativas da instituição que é objeto de investigação.

Os cursos estudados são marcados pelos ideais e princípios defendidos pelos governos

ditatoriais7

, que tiveram lugar ao longo do século XX no Brasil. As LDB’s promulgadas entre

as décadas que compreendem este estudo (1961 e 1971) deram visibilidade à estruturação do

Ensino de 1º e 2º Graus. Contudo, verifica-se que os cursos oferecidos pela instituição

seguiram as orientações da Lei Orgânica do Ensino Agrícola de 1946, que estabeleceu a base

da organização e do regime do ensino agrícola no Brasil, destinavam-se à preparação

profissional dos trabalhadores para agricultura e pecuária.

A Escola Agrícola de Urutaí (1953-1963) e Ginásio Agrícola de Urutaí (1964-1978),

apresentam questões em sua história que possibilita considerá-la uma instituição “filha de seu

tempo” (NOSELLA e BUFFA, 1996, p.14), ou seja, recortada e entrelaçada por

circunstâncias históricas específicas de sua época, dentre as quais, os cursos oferecidos

estariam imbricados por questões sócio-políticas e econômicas, de âmbito regional e nacional

em destaque nas décadas de 1960 e 1970.

Notadamente o contexto e as circunstâncias de instalação e funcionamento dos cursos

analisados, confirmam a presença de uma cultura escolar específica, marcada pela definição

de rotinas, práticas e normas que disciplinam o saber fazer dos alunos no espaço da escola. A

instrução de conteúdos teóricos e a vivência de ações práticas seriam as principais novidades

dos ofícios que envolveram a formação para o trabalho agrícola praticada na Escola Agrícola

de Urutaí no período estudado.

1 Em 1808 criado por Dom João VI o Colégio das Fábricas, destinado a formação de artistas e aprendizes vindos

de Portugal; 1906 o Congresso de Instrução estimula a criação de campos e oficinas escolares, além de indicar ao

Congresso Nacional o aumento da dotação orçamentária para o ensino prático industrial, agrícola e comercial)

2 Fazenda criada pelo presidente Wenceslau Bráz pelo Decreto Lei 13.197 de 25 de setembro de 1918, com o

objetivo de promover cruzamento de gado para assim desenvolver a pecuária da região

3 Veterinário já aposentado do Ministério da Agricultura e Professor ativo no ano de 1966.

4 Art.1 As Escolas de Iniciação Agrícola, Escolas Agrícolas e Agrotécnicas da rede federal, em regime de acordo

entre Ministério da Agricultura, Estados e Municípios, passam a denominar-se as duas primeiras Ginásios

Agrícolas e a última Colégios Agrícolas.

5 De acordo com o Decreto n. 19.890, de 18 de abril de 1931, o exame de admissão constaria de provas escritas,

uma de português (redação e ditado) e outra de aritmética (cálculo elementar), e de provas orais sobre elementos

dessa disciplina e mais sobre rudimentos de geografia, História do Brasil e Ciências Naturais (Cf. Bicudo,

1942,p.13 Apud Souza,2008,p.151).

6Art. 36. O ingresso na primeira série do 1° ciclo dos cursos de ensino médio depende de aprovação em exame

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de admissão, em que fique demonstrada satisfatória educação primária, desde que o educando tenha onze anos

completos ou venha a alcançar essa idade no correr do ano letivo.

7Governo ditatorial de Getúlio Vargas (1937-1945) e Governo ditatorial militar (1964-1985).

Referências:

BRASIL. Decreto Lei n. 9.613, de 20 de agosto de 1946. Lei Orgânica do Ensino Agrícola

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação, 4.024 de 1961.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação, 5.692 de 1971.

BRASIL. Decreto Lei n.53.558 de 13 de fevereiro de 1964

BRASIL. Decreto Lei n. 62.178 de 1968

BRASIL, MEC, Centenário da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica.

Brasília,DF:http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/centenario/historico_educacao_profissiona

l.pdf

BORGES, Barsanufo Gomides. O Despertar dos Dormentes. Goiânia, Cegraf, 1990.

BORGES, Barsanufo Gomides. Goiás nos Quadros da Economia Nacional: 1930-1960.

Goiânia: Editora da UFG, 2000. São Francisco, 2004.

MAGALHÃES, Justino Pereira de. Tecendo Nexos: história das instituições educativas.

Bragança Paulista: Editora Universitária

NOSELLA, Paolo; BUFFA, Éster. Schola Mater: a Antiga Escola Normal de São Carlos.

São Carlos: EDUFSCar,1996.

OLIVEIRA, Sandra Regina de. O fio da História: a gênese da formação profissional no

Brasil. In.: http://www.anped.org.br/reunioes/23/textos/0904t.PDF

SAVIANI, Dermeval. História das Ideias Pedagógicas no Brasil. Campinas, SP: Autores

Associados, 2010.

SANTOS BORGES, Adilson. Urutaí Memórias de uma Juventude. Brasília, 2005.

SOUZA, Rosa Fátima de. História da Organização do Trabalho Escolar e do Currículo no

Século XX: (ensino primário e secundário no Brasil). São Paulo: Cortez, 2008.

VAZ, Benedito. A Escola Agrícola de Urutaí. In: O Ipameri, Ipameri, 24 de abril de 1955,SP.