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A força-tarefa da paz Ministério Público lidera movimento pela redução da violência nas escolas ano 7 nº 44 outubro/novembro/dezembro de 2010 Uma publicação da Escola Superior do Ministério Público de São Paulo

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A força-tarefa da pazMinistério Público lidera movimento pela redução da violência nas escolas

ano 7 nº 44 outubro/novembro/dezembro de 2010

Uma publicaçãoda Escola Superiordo Ministério Públicode São Paulo

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editorial

PluralBoletim informativo da Escola Superior do Ministério Público

DiretoraEloisa de Sousa [email protected]

AssessoresEduardo Luiz Michelan CampanaEverton Luiz ZanellaKarina Keiko KameiTomás Busnardo [email protected]

Jornalista responsável:Carina Rabelo (MTB: 48.211 / SP) [email protected]

Direção de arteGuen Yokoyama

Editora de arteVanessa Merizzi

Revisor de textoSárvio Nogueira Holanda

CTP, impressão e acabamentoImprensa Oficial do Estado de São Paulo

Tiragem3 mil

PeriodicidadeTrimestral Escola Superior do Ministério PúblicoRua 13 de Maio, 1259 Bela Vista – São Paulo/SPTelefone: (11) 3017-7990www.esmp.sp.gov.br

Caro leitor, no trimestre setembro-dezembro de 2010, procuramos dar cumpri-mento ao compromisso de fazer Plural a nossa Escola Superior do Ministério Público.Transitamos entre temas sobre Filosofia do Direito, Medicina e Direito, Infância e Juventude, Meio Ambiente, Direitos Humanos, Habitação e Urbanismo, Edu-cação, Direito do Consumidor, Criminalidade Organizada e Justiça Terapêutica. Foram eventos que proporcionaram inestimável difusão do conhecimento, pro-dutivo compartilhamento de idéias e feliz congraçamento. Além disso, realizamos a cerimônia de batismo de nossa Biblioteca “Hermínio Alberto Marques Porto”, daquelas emoções que marcarão para sempre a me-mória da instituição. Na linha da merecidas homenagens àqueles que construíram a história do Ministério Público, comemoramos os 20 anos do Código do Consumidor, com a honrosa presença de muitos dos que participaram da elaboração desse im-portante diploma legislativo que mudou a história das relações do consumo no Brasil.Em épocas de novo ano, destaco o “Cultura de paz nas escolas” pelas muitas palestras e depoimentos edificantes que não apresentaram problemas, mas sim soluções. Saímos todos acreditando na força mobilizadora do trabalho em rede, da solidariedade e do amor ao próximo. Que seja este o mote de nossas ações em 2011.Encerradas as edições da Plural do ano de 2010, aproveito para cumprimentar e agradecer os integrantes do Conselho Curador do CEAF/ESMP, por todo o suporte que deram às nossas iniciativas. Agradeço também aos assessores do CEAF/ESMP, pela extrema dedicação e inabalável fidelidade com que exerce-ram suas funções. Formamos uma equipe coesa, companheira, sempre unida nos momentos difíceis e nas muitas alegrias e recompensas que tivemos. Agradeço ainda aos servidores do CEAF/ESMP que souberam compreender as mudanças que introduzimos e aderiram ao projeto com esforço e dedicação. Não posso deixar de agradecer ainda a todos os colegas de nosso Ministério Público que, neste ano de 2010, de algum modo contribuíram com a Escola, quer propondo e participando ativamente dos congressos, seminários, pales-tras, cursos e oficinas, quer nos prestigiando com sua presença nos eventos. Que fique registrado o meu reconhecimento a estes muitos e valiosos colegas, pelo trabalho que desenvolvem em prol da Justiça e da Cidadania e que aceitaram compartilhar seus co-nhecimentos e experiências com as platéias presen-tes.

Um abraço a todos e votos de muita paz!

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índice

artigo

entrevista

seminários

matérias

capa

Luiz Roberto Alves Por uma Cultura de Paz nas Comunidades Escolares 4

Entrevista: Fernando Capez 7

A Força-Tarefa da Paz. “Seminário Cultura de Paz nas Escolas” 11

Gilmar Mendes e Eros Grau debatem a filosofia do Direito 14

Inauguração em grande estilo. “Biblioteca Hermínio Marques Porto” 16

Uma revolução na justiça brasileira. “20 Anos do Código de Defesa do Consumidor” 18

A Cidade em Risco. “Planejamento Municipal e Áreas de Risco” 20

Cirurgias Plásticas na Mira da Justiça. “Segurança e Responsabilidade em Cirurgias Plásticas” 24

Culpados ou Vítimas? “Justiça Terapêutica” 28

Freios e Contrapesos. “Justiça e Administração Pública” 32

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palestras

congresso

livros

notas

painel

Luiz Roberto Alves Por uma Cultura de Paz nas Comunidades Escolares 4

Direito de Viver e de Morrer. “O Direito e a Medicina no Início e no Fim da Vida” 33

Educação é prioridade no Plano Estratégico 2011. “O Ministério Público e a Educação” 35

Em busca do anonimato. “Transexualidade e Direitos Humanos” 37

O enfrentamento à adulteração de combustíveis 40

Os 20 Anos do Estatuto da Criança e do Adolescente 41

O lucro do bem-estar social. “Capitalismo Humanista” 44

Os promotores do verde. “14º Congresso de Meio Ambiente e 8º Congresso de Habitação e Urbanismo do MPSP” 46

49

Eventos no interior de SP – outubro, novembro e dezembro de 2010 52

Entrevista: Fernando Capez 7

A Força-Tarefa da Paz. “Seminário Cultura de Paz nas Escolas” 11

Gilmar Mendes e Eros Grau debatem a filosofia do Direito 14

Inauguração em grande estilo. “Biblioteca Hermínio Marques Porto” 16

Uma revolução na justiça brasileira. “20 Anos do Código de Defesa do Consumidor” 18

A Cidade em Risco. “Planejamento Municipal e Áreas de Risco” 20

Cirurgias Plásticas na Mira da Justiça. “Segurança e Responsabilidade em Cirurgias Plásticas” 24

Culpados ou Vítimas? “Justiça Terapêutica” 28

Freios e Contrapesos. “Justiça e Administração Pública” 32

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artigo

O que garantiu a presença e o trabalho da Cátedra de Gestão de Cidades da Meto-dista neste coletivo cidadão, nesta força tarefa da paz, foi a convergência de sen-tidos entre a cultura de paz e a cultura de cidadania, que é linha de pesquisa da própria Cátedra. A diretriz acadêmica da Universidade, que pressupõe e sugere a inserção dos educadores no espaço da ci-dade e o esforço construtivo de inclusões sociais, encontrou no grupo estimulado pela Dra. Vera Acayaba um lugar fecun-do para a construção de fundamentos e metodologia para a cultura de paz nas comunidades escolares de São Bernardo do Campo e a partir daí estender-se para muitas outras cidades.

Por uma Cultura de Paz nas Comunidades EscolaresLuiz Roberto Alves

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Acostumados a refletir e levantar dados sobre a condição dos vulneráveis e empobrecidos ado-lescentes e crianças, a acompanhar os processos de aprendizagem das populações para as tomadas de decisão orçamentárias sobre políticas públicas nos municípios, a questionar a qualidade das ges-tões das coisas públicas, a discutir a força da cul-tura como transversalidade das políticas sociais, pesquisadores e pesquisadoras da Universidade vêem na cultura da paz escolar a metáfora do seu trabalho intelectual, isto é, a construção pedagó-gica da paz poderá ser a melhor lição no exercício da sociedade justa. Essa pedagogia será metáfora porque o microcosmo cultural denominado es-cola intercambiará valores na sociedade ampla e esta abrirá seus olhos para o direito pleno de se-rem as novas gerações alegres e felizes. A nossa escola popular, lugar onde podem estar e preci-sam estar as grandes maiorias dos filhos e filhas dos trabalhadores, reconstruirá a aura imaginada e proposta pelos educadores da Escola Nova, no início dos anos 30 do século passado e buscada

insistentemente pelos setores mais conscientes da sociedade, quer sob a humilhação da ditadura, quer sob o entusiasmo ainda burocrático contem-porâneo. Essa aura é a consecução do direito, cujo melhor nome passa a ser paz. Provavelmente aí se entenda melhor a imagem repetida por Paulo Frei-re: a educação não faz tudo na sociedade, mas não poderá haver uma sociedade realmente humana sem educação.

A Cátedra de Gestão de Cidades fica feliz, pois, com a sua representação nesse trabalho, que hoje apresenta alguns de seus frutos e organiza forças para as próximas etapas. O livro Nova Aquarela, cujos organizadores e autores se comprometem nessa cultura de desafios, espera ser mais que obra literária para ser veículo expressivo de com-promissos.

Os fundamentos e a metodologia trabalhados nos textos do Nova Aquarela sugerem que tenha-mos a maior clareza quanto aos sentidos dos sig-nos com que nos comprometemos: cultura e paz. De fato, cultura da paz. Quando este articulista

Luiz Roberto AlvesCátedra Celso Daniel de Gestão de Cidades

Faculdade de Administração e Economia

Universidade Metodista de São Paulo

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tinha 20 anos acorria, não poucas vezes, para ou-vir dois homens que naquele tempo simbolizavam para mim o direito e a justiça, Mário Carvalho de Jesus e Alceu Amoroso Lima. O que ficou deles no aprendiz não foi pouco (Drummond de Andrade garante que sempre fica algo dos outros em nós), pois aprendeu que a paz é fruto da justiça. Portan-to, a paz não será instrumento factual do discurso retórico, mas sim o coroamento de um processo, provavelmente trabalhoso, mas fecundo, de ação humana, de ação simbólica, portanto cultural. Dado que a escola é o lugar em que a cultura se formaliza e se organiza em saberes codificados pelos currículos, programas e projetos pedagó-gicos, todas as ações educativas ocorridas nela e em seu entorno serão partes da metáfora da paz. O currículo de estudos e projetos não será mais a imposição do saber catalogado, mas uma base de saberes que se integram na paz. E assim ocorrerá com a biblioteca, o planejamento, a festa, a segu-rança, a quadra, a excursão, o prédio e a relação comunitária. Nada será estranho à paz, ou extra--paz, como costuma ocorrer no pensamento frag-mentador e compartimentado. Criar cultura es-colar passa a significar criar a paz. Para os seres em formação, a cultura da paz pode vir a conter todo o significado da paz segundo a nossa herança cristã, hebraica e islâmica: o chalom/çalam nunca significou a mera ausência da guerra e das armas; ao contrário, essa idéia de paz tem o sentido de integralização, de caminhada para a plenitude da pessoa em sua relação com os outros. A paz é um valor de relação, individual e coletivo, crescente, envolvente, que convém ir e deve ir no rumo da to-talidade da vida. Talvez esse valor e essa direção não fossem exigidos se não fôssemos seres sim-bólicos (e as crianças fazem transparecer plena-mente seus gestos simbólicos); por isso, em nos-sos intercâmbios de fala, escrita e gestualidade

dão-se confrontos, desafios e até intrigas. Mas, outra vez porque somos simbólicos e expressivos, faremos dessa cultura simbólica um valor de paz no contexto das diferenças e não das inimizades. Aliás, as sementes da paz (infelizmente distorcidas pelos mitos de interesse individual e corporativo, de lucro e exploração) se encontram no próprio mundo infantil e juvenil: na conversa descontraída, no desafio ao novo, na linguagem em mutação, na grandeza dos desejos. Uma cultura de paz terá aí, na natureza dessa idade despojada e corajosa, sua boa disputa simbólica, que pode resultar em cida-dania ativa e garantia de bem-comum.

Quando éramos pequenos (talvez isso ainda ocorra...) dizíamos depois de uma briguinha: va-mos fazer as pazes? O signo lingüístico paz pos-to no plural acompanha a dimensão da pessoa. Se há duas pessoas, há duas pazes. Todos temos uma paz (como temos uma animação espiritual) e quando celebramos a harmonia a alma pacífica in-trínseca acompanha as pessoas – e especialmente as crianças - em intercâmbio: são as pazes, a pazi-nhas que se juntam para uma paz maior. Reside aí outra fonte para o trabalho cultural da paz.

Enfim, visto que na caminhada pela cultura de paz nas escolas laboraremos em um processo simbólico-cultural, em que o microcosmo-escola se liga ao macrocosmo da sociedade e a relação não pode produzir alienações, nosso trabalho cole-tivo não será uma campanha, nem uma onda, nem uma experiência no sentido da exclusiva funciona-lidade. Será uma ação educativo-cultural contínua, ao modo de pintura com a nova aquarela da pala-vra, do gesto, do canto, do atendimento, da dança, do estudo e da festa da escola, capaz de, como não se conheceu antes na escola brasileira e popular, fazer as pazes ao modo da juventude e dar sinais claros de uma cultura da integralidade da vida, um nome justo para a paz.

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entrevista

Fernando Capez

“Eu ainda me sinto um Promotor de Justiça”

Nas eleições realizadas em 2010, Fernando Capez foi reeleito Deputa-do Estadual, destacando-se como um dos três candidatos mais popula-res em São Paulo, com 214.592 votos. Defensor incansável dos direitos do consumidor, ele relembra com saudades dos tempos em que atuou como promotor de justiça e diz jamais se afastar da veia jurídica que o conduziu à vida pública. Em entrevista à Revista PLURAL, falou sobre as dificuldades na aprovação dos projetos de lei na Assembleia Legislativa, a importância de fortalecer os PROCONS e de garantir a autonomia fi-nanceira do Ministério Público.

plural. Como foi a decisão de se afastar do Judi-ciário e abraçar a função legislativa?

FC – A decisão foi tomada em cima da hora. Eu passava o Carnaval de 2006 com a minha família e amigos do MP. Até que um deles me perguntou: “Por que não se candidata a deputado?”. Eu não le-vei a sério, mas o assunto prosseguiu. Após muito meditar, tomei uma decisão audaciosa. Resolvi me licenciar do Ministério Público no final de março de 2006 e me filiar ao PSDB, para disputar uma vaga no Parlamento Estadual de São Paulo. A minha esposa foi totalmente contra, mas resolvi levar a ideia adiante. A campanha foi muito difícil. Foi feita em apenas dois meses porque, logo no início, sofri uma impugnação por parte da Justiça Eleitoral. O argumento foi que a Emenda 45, de dezembro de 2004, impedia representantes do Ministério Público de se candidatarem a cargos eletivos. No entanto, a Constituição diz claramente que os membros do MP que tomaram posse antes da sua promulgação,

não estão submetidos às vedações posteriores. O TSE entendeu da mesma forma. Até que a polêmica fosse decidida, o curso da minha campanha ficou prejudicado. Tivemos apenas os meses de agosto e setembro para expor a candidatura. Utilizamos muito a Internet e fizemos cerca de 50 palestras universitárias, com público entre 500 a mil pesso-as. Ganhamos a eleição com quase 100 mil votos no primeiro mandato.

plural. A atividade legislativa atende às expec-tativas na propositura de leis dentro das questões ansiadas durante o seu trabalho como promotor?

FC – Sem dúvida. É muito importante que o par-lamentar não esqueça nem abandone as suas ori-gens. Desde o momento que me elegi deputado, eu coloquei em mente que deveria manter inabalável a lealdade à Instituição de onde vim. Procurei fazer uma atuação muito voltada a todo o segmento jurí-dico, com o objetivo de compreender os pleitos do

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Poder Judiciário seja com relação aos magistrados ou servidores. Hoje, o Poder Judiciário, de acordo com a Lei de Responsabilidade Fiscal, tem direito de receber até 6% da receita líquida anual do orça-mento do Estado. Isso não tem sido possível. Nós temos lutado para que haja uma maior participa-ção. Em primeiro lugar, para que os serventuários – mais de 70% recebem salários inferiores a R$ 5 mil – possam ter uma remuneração que os estimu-le e dê tranqüilidade para exercer as suas funções. E que existam investimentos capazes de acelerar a tramitação. Cada escrevente fica encarregado de mil processos e o TJSP, em primeira e segunda ins-tância, tem que arcar com 20 milhões de processos em andamento. Isto demanda a contratação de pes-soal, funcionários bem remunerados e uma maior participação no orçamento. Com relação ao Minis-tério Público, tanto os servidores como os mem-bros, necessitam de uma dotação orçamentária compatível com a importância da Instituição.

plural. Quais foram as soluções encontradas pela Frente Parlamentar para a autonomia fi-nanceira do Ministério Público do Estado de São Paulo?

FC - A Constituição diz que as custas e emolu-mentos cobrados pela Justiça deverão ser desti-nados à manutenção dos seus próprios serviços. O Poder Judiciário e as instituições essenciais à Justiça, entre elas, o Ministério Público, são auto--subsidiáveis. Apenas o pagamento das custas e emolumentos de processos em andamento, se fos-se destinados exclusivamente para a Justiça, por si só, já tornaria o MP financeiramente autônomo e independente. Eu presido esta Frente Parlamentar com o objetivo de construir com o Poder Executivo um diálogo para fazer com que esta verba não seja depositada em um fundo comum, onde será dissi-pada com outras despesas.

plural. No primeiro mandato, o senhor já apre-sentou 280 proposituras, entre projetos de lei, in-dicações, moções, emendas constitucionais, proje-tos de resolução e requerimentos. De qual destas proposições tem mais orgulho?

FC – Na Assembleia Legislativa, não é fácil aprovar um Projeto de Lei. Destas proposições, só conseguimos transformar um único em lei até o momento. As empresas que prestam serviços pú-blicos na prestação de água, luz e telefone, todo o começo de ano, estão obrigadas a enviar aos con-sumidores os recibos de quitação de débitos dos anos anteriores. É bom que o Ministério Público fi-que atento porque muitas não estão cumprindo esta determinação. Estamos lutando para que, no pró-ximo mandato, alguns projetos possam ser trans-formados em Lei. Entre eles, o que proíbe hospi-tais públicos ou privados de exigirem qualquer tipo de caução para internação de pacientes em estado emergencial. Outro obriga aeroportos, shoppings centers e hipermercados a destinar uma sala para instalação do PROCON, que só poderia atender às reclamações dos consumidores daquele local. Os estabelecimentos, cientes de que naquela unida-de há um PROCON, naturalmente vão se abster de qualquer tipo de abuso. Outro projeto importante é o que proíbe o uso de celulares, IPads, IPhones e qualquer tipo de rádio ou comunicador dentro de agências bancárias, para evitar que meliantes se comuniquem com o restante da quadrilha dando dicas sobre pessoas que estão sacando dinheiro. Temos um projeto que disciplina o ‘procedimento sem dano’, para que a oitiva de crianças vítimas de abuso sexual preste depoimento num ambien-te lúdico, com a presença de uma psicóloga. Outro projeto obriga a inserir na grade curricular do en-sino médio uma matéria sobre os efeitos nocivos das drogas. Defendemos também um projeto que confere aos transplantados os mesmos direitos

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dos portadores de deficiência. Por último, destaco um projeto que foi aprovado, e posteriormente ve-tado, que obriga os estádios de futebol a numerar as cadeiras e multar quem sentar no lugar do ou-tro. Cumprindo e efetivando o Estatuto do Torce-dor, traremos mais segurança, atraindo outro tipo de público para os estádios. Estamos lutando para derrubar o veto.

plural. Um das comissões mais importantes que presidiu foi a CPI do Transportes Aéreos. Quais foram as conclusões das investigações e o que fazer para evitar um novo caos?

FC – É preciso construir mais aeroportos e abrir a possibilidade de novas companhias aéreas entra-rem no sistema. Hoje, vivemos um oligopólio em que duas empresas dominam o sistema do trans-porte aéreo. Isto não é bom. Também precisamos trabalhar a manutenção das aeronaves e mecanis-mos de controle. Fizemos uma série de sugestões que, aos poucos, estão sendo acatadas na regulação dos transportes. Entre as determinações da CPI, estão a proibição dos abastecimentos econômicos nos aeroportos que operam em nível crítico, a obri-gatoriedade de testes regulares sobre tripulantes e técnicos para evitar o uso de álcool e drogas; e a implementação em todos os aeroportos da área de segurança no final da pista de pouso.

“Precisamos oferecer aos colegas condições de aprimoramento na sua formação e capacitação, dando a eles condições humanas e materiais para que possamos obter uma resposta razoável.”

plural. Em 2010, o Código de Defesa do Consu-midor completou 20 anos. Quais são os desafios nos próximos anos para a efetividade dos direitos do consumidor?

FC – Instrumentalizar e dar maior estrutura aos PROCONS, e dotá-los de mecanismos legais para que possam impor sanções quase que imediatas. O Brasil está muito avançado nesta questão. O po-der público deve fazer investimentos neste órgão, com a contratação de mais funcionários. Também é fundamental que o PROCON seja instalado em shoppings, aeroportos e supermercados, através da descentralização. A impunidade e a demora na solução de conflitos é o que estimula a leniência das empresas para cumprir a legislação.

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plural. O senhor encaminhou solicitação ao Governador José Serra para a criação do PRO-COND, órgão específico para condomínios. Qual serão as principais questões atacadas nas rela-ções condominiais?

FC – Cinco milhões de pessoas vivem em condo-mínios na capital e grande São Paulo. Há conflitos que não são tão graves a ponto de merecer aten-ção da polícia, como discussões entre vizinhos. Há questões que não se resolvem porque há sempre um morador que se impõe ou intimida os demais. A reunião de condomínio torna-se insuficiente para resolver este tipo de problema. Há também a fal-ta de transparência na contabilidade por parte dos síndicos ou da administradora. O condômino se vê oprimido e sem um canal para reclamar. A ideia foi propor ao Poder Executivo a criação de um órgão, ligado à Secretaria da Justiça, para solucionar con-flitos entre condôminos, com a possibilidade de im-por multas aos infratores. Este órgão encaminharia à Polícia e ao Ministério Público os casos mais gra-ves, e tentaria uma câmara de conciliação para re-solver os casos intermediários. A única crítica que se faz é que o nome lembra o PROCON, e os críticos sustentam que não existe uma relação de consumo em condomínios. Mas o PROCOND não é um órgão de defesa dos condomínios, mas que se destina a resolver questões entre condôminos.

plural. Quais são os seus planos para a sua carreira política? Pretende assumir algum car-go no Executivo ou pensa em voltar ao Ministério Público?

FC – Desde o início da atividade política, so-mos consumidos por uma carga de trabalho muito grande. Eu acordo às seis da manhã e só sei que irei dormir após a meia-noite. Não tenho sábados ou domingos. A minha família é muito sacrificada. Por incrível que pareça, tenho poucas oportunida-

des de fazer planos para o futuro. Sou consumido por uma rotina diária que me impede de raciocinar neste sentido. Ás vezes, não sei o que vou fazer no dia seguinte. Acordo e sou surpreendido pela agen-da. Estou muito feliz como deputado, mas eu ainda me sinto um promotor de justiça. Eu gosto muito da minha instituição. Tudo que consegui, devo ao Ministério Público. Tenho certeza que os 100 mil votos que tive não foram para o Dr. Fernando Ca-pez, mas para o promotor Fernando Capez.

plural. Como você avalia o Governo Lula e quais as suas expectativas para a gestão de Dilma Rousseff?

FC - Nós aprendemos em Política que não po-demos brigar com a vontade popular. Se o Pre-sidente Lula conseguiu ser reeleito e fazer a sua sucessora eleita, é sinal de que existem méritos que não podem ser desconsiderados. Ele pode ser parabenizado por manter a estabilização da eco-nomia, conquistada por Fernando Henrique Car-doso, e por nomear o Henrique Meirelles como presidente do Banco Central. O que pouca gente se lembra é que quem acabou com a inflação foi o Governo FHC, através de um sistema que tirou o ônus dos ombros do Estado através de um bem sucedido programa de privatização. O funciona-mento dos serviços públicos foi profissionaliza-do com a criação das agências reguladoras. FHC também devolveu ao País a dignidade econômica através da constituição de uma moeda forte. Lula também tem o mérito de trazer avanços sociais, isso pôde ser sentido. Desejo que a Dilma Rous-seff - que agora não é a presidente dos petistas, mas de todos os brasileiros - seja iluminada na sua gestão, que possa tomar medidas de caráter social e consiga fazer com que serviços públicos, sobretudo da saúde e da educação, funcionem de forma adequada.

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A força-tarefa da Paz

Ministério Público lidera movimento pela redução da violência nas escolas

capa

Depredações, xingamentos, agressões físicas, morte. Infelizmente, a rea-lidade típica do ‘estado de guerra’ não se restringe aos campos de batalha. Está cada vez mais presente nos lares e, consequentemente, nas escolas. O processo da universalização do ensino, iniciado a partir da redemocra-tização do Brasil, colocou 97% das crianças em idade escolar dentro da sala de aula. No entanto, o aluno não veio sozinho. Trouxe com ele todos os problemas sociais da sua geração. “São crianças e adolescentes que tem problemas com drogas, são hiperativas, sofrem maus tratos em casa ou abuso sexual. É na escola que estes problemas vão extravasar”, ava-lia Suzana Aparecida Dechechi Oliveira, dirigente regional de ensino dos municípios de São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul da Secretaria Estadual de Educação. Os conflitos enfrentados pelas novas gerações se manifestam no aumento crescente da violência escolar.

Foto: SXC.hu

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A Udemo – Sindicato de Especialistas de Edu-cação do Magistério Oficial do Estado de São Paulo – realiza anualmente uma pesquisa entre as princi-pais instituições de ensino da rede pública para ava-liar o quadro da violência. O último levantamento, realizado em 2008, revela que os relatos de violên-cia estão presentes em 86% das 683 escolas da rede pública estadual pesquisadas. Em 88% dos casos, foi verificado o desacato aos professores, funcioná-rios ou membros da direção. Em 85% das situações houve agressão física e 21% registram ameaças de morte. Do total de alunos, 5% foram flagrados com arma de fogo. Segundo o estudo, 70% das escolas registraram boletins de ocorrência.

A violência não se restringe na relação entre as pessoas. Relatos de danos contra a estrutura físi-ca das instituições de ensino revelam que houve depredação dos prédios (65%); arrombamento de portões e cadeados (46%); danos a veículos (62%); furto de equipamentos (32%) e explosão de bombas (38%). Entre outras infrações cometidas pelos alu-nos estão o porte ou consumo de bebidas alcoóli-cas (36%) e tráfico ou consumo de drogas (32%). Na Grande São Paulo, os índices de violência atingem 97% das escolas públicas.

Diante desta realidade, entrou em cena o Minis-tério Público. No dia 10 agosto de 2007, em São Ber-nardo do Campo – município com 256 escolas esta-duais e municipais e 160 mil alunos – a Promotoria de Justiça instaurou um inquérito civil para a co-lheita de elementos. Desde então, foi estabelecida uma força tarefa com a participação de promotores de justiça, assistentes sociais, professores, psicó-

logos, policiais e membros de conselhos tutelares. Uma grande rede de atendimento multidisciplinar. O objetivo do grupo é a construção de uma cultura de paz nas escolas, com a redução de 40% dos atos infracionais de pequeno potencial ofensivo pratica-dos por crianças e adolescentes em ambiente esco-lar. “Pretendemos atingir esta meta até dezembro de 2011”, afirmou a promotora de justiça Vera Lú-cia Acayaba de Toledo, idealizadora do programa. O grupo se reúne todas as quintas-feiras para avaliar os avanços do programa.

Mas onde termina o trabalho da escola e onde começa a atuação do Ministério Público? “O ato de indisciplina é de responsabilidade da escola, de acordo com o seu regimento interno”, esclareceu o promotor de justiça Luiz Antônio Miguel Ferrei-ra, coordenador da área de educação do Centro de Apoio Operacional Cível e de Tutela Coletiva. O ato infracional, que poder um crime ou contravenção penal, quando praticado por criança, é de compe-tência exclusiva do Conselho Tutelar. Quando pra-ticado por adolescente, trata-se de uma atribuição da Polícia e do Ministério Público. A partir deste momento, o jovem é encaminhado á rede de aten-dimento multidisciplinar, que considera as causas que deram origem à violência.

Para replicar a experiência de sucesso reali-zada pela Promotoria de Justiça de São Bernardo do Campo, a Escola Superior do Ministério Públi-co promoveu no dia 12 de novembro o seminário “Cultura de Paz nas Escolas”. “Se tivermos um pro-grama parecido em outras comarcas, com certeza, diversos municípios conseguirão concretizar a cul-

Ainda tem professor que manda bilhetes para a família do aluno e esquece que os pais são analfabetos

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tura de paz”, afirmou a promotora de justiça Vera Lúcia Acayaba de Toledo.

Os palestrantes consideraram que a sociedade precisa encarar o atual desafio apresentado na Es-cola Pública sem transferir as responsabilidades. “Não podemos continuar procurando culpados”, afirmou Cleuza Rodrigues Repulho, secretária mu-nicipal de educação de São Bernardo do Campo. Ao fazer uma análise histórica, Cleuza relembrou que há sempre um novo pivô a ser responsabilizado pela precária situação na educação brasileira. Primeiro, foram as crianças, acusadas de não aprender por não serem suficientemente ‘inteligentes’. Depois, os professores, que não sabem lidar com todas as necessidades dos alunos. Por fim, a família, que de-legaria à Escola a tarefa da educação. “Precisamos aprender a encontrar soluções”, afirmou a secre-tária, que defende que as universidades preparem os novos professores para a realidade do sistema público de ensino – sem ilusões. “Ainda tem pro-fessor que manda bilhetes para a família do aluno e esquece que os pais são analfabetos”.

O evento reuniu os participantes de diversas áreas de atuação do programa Cultura de Paz nas Escolas, que se emocionaram ao narrar as experi-ências e a trajetória do grupo nos últimos três anos. Também ministraram as exposições a professo-ra Vera Lúcia de Oliveira; a advogada especialista em Direito Constitucional Rosemeire Aparecida Mantovan; a psicóloga Ângela Letícia dos Santos; a pesquisadora Dagmar Silva Pinto de Castro; o pro-fessor Roberto Joaquim de Oliveira; o coordenador da Universidade Metodista de São Paulo Luiz Ro-berto Alves; e a professora Cristiane Gandolfi. “Não adianta termos propostas sem conteúdo”, afirmou Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo do Campo, que parabenizou a realização do evento. “Este pro-grama é um bom exemplo de proposta concreta, que não visa holofotes ou vitrines”.

Organizadores: Dagmar Silva Pinto de Castro, Cristiane Gandolfi, Roberto Joa-quim de Oliveira Editora: UMESP Ano: 2010

O programa denominado “Parceria na Construção de uma Cultura de Paz” traz a exitosa experiência de trabalho em rede fundamentado na construção coletiva. Es-truturada pela Promotoria de Justiça local e os demais responsáveis pelo Sistema de Garantia de Direitos da Infância e Juven-tude, a rede tem como objetivo superar a realidade dos conflitos escolares. O livro, de caráter interdisciplinar, traz 30 artigos de abordagem conceitual e a apresentação de casos concretos aplicados no município de São Bernardo do Campo.

Uma nova aquarela

Desenhando políticas públicas integradas para o enfrentamento da violência escolar em São Bernardo do Campo

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Gilmar Mendes e Eros Grau debatem a Filosofia do DireitoMinistros participam de evento na Escola Superior

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única resposta para um fenômeno, traz diversas respostas corretas para uma mesma questão”, afirmou o ministro. “Surge aí o conceito da juris-prudência”. Segundo o magistrado, toda a decisão jurídica é produzida na singularidade. “Muitas ve-zes, para uma decisão ser justa, ela precisa trans-gredir o texto da lei, para que ele seja adequado à realidade”.

Gilmar Mendes falou sobre as responsabilidades e os desafios de um ministro no STF. “Temos que considerar que uma decisão na corte suprema irá afetar muitas outras decisões”. O ministro enfatizou as dificuldades do julgar diante de situações não previstas na Constituição. “O Tribunal pode ape-lar para que o legislador elabore a lei, mas jamais poderá suprir esta lacuna”. Mendes citou um caso concreto que ficou no limbo entre a Ação por Omis-são, a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) e a Ação de Descumprimento de Preceito Fundamen-tal (ADPF). Dentro do tema, fez referência à Lei 9868 (artigo 27) – “Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de se-gurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha efi-cácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado”.

O ministro também citou diversos exemplos de decisões que competem em relação à inconstitu-cionalidade. Um das ações citadas foi o questiona-

Caracterizados por mo-dos distintos de julgar no Supremo Tribunal Fe-deral, os ministros Eros Grau e Gilmar Mendes

participaram de um rico debate so-bre os temas “O Dramático do De-

cidir” e “A Decisão Judicial e o seu impacto social no século XXI”. O

encontro “A Filosofia do Direi-to”, coordenado pelo professor Marcelo Neves (PUC-SP), foi

realizado na Escola Superior do Ministério Público e promovido pela Editora WMF Martins Fontes nos dias 25 e 26 de novembro de 2010. “A decisão é a transformação de texto em re-alidade e norma jurídica”, afirmou Eros Grau. “Não se interpreta a norma. Ela já é o resultado de uma interpretação”, reiterou o ministro ao se referir aos Códigos como um conjunto de normas, portanto, com diversas interpretações distintas. Eros Grau criticou a popularização da justiça, que permite aos leigos comentar e julgar as decisões da corte su-prema em rádios, jornais e programas de TV. “Hoje tratamos o fenômeno jurídico como se fosse um processo midiático”, disse Eros Grau, defensor da preservação do ambiente hermético nas decisões da Corte Suprema.

O ministro enfatizou ainda a impossibilidade da objetividade total na interpretação da lei. “A prudência, ao contrário da ciência que busca uma

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“A prudência, ao contrário da ciência, traz diversas respostas corretas para uma mesma questão”Eros GrauMinistro aposentado do STF

mento sobre o número abusivo de vereadores em diversas cidades brasileiras, desrespeitando o prin-cípio da proporcionalidade em relação ao número de habitantes. “Seria uma catástrofe aplicar a ADIN naquele momento”, afirmou o ministro. “Teríamos que invalidar as eleições e discutir a todo tempo cada lei municipal considerada inconstitucional”. A Corte determinou a mudança para as próximas eleições. Em relação às omissões no texto consti-tucional, o ministro citou como exemplo a lei que permite a existência de municípios que dependem em até 70% das verbas da Federação. “É uma lei in-constitucional. Mas se cortarmos a verba do Estado, estas cidades vão desaparecer. Fixamos um prazo para que o legislativo normatize a questão”. Outra solução alternativa para uma situação prática não prevista na norma constitucional foi o debate sobre o direito de greve dos servidores públicos. “Trans-ferimos as decisões aos tribunais regionais, esta-duais e ao Supremo Tribunal Federal, de acordo com a esfera do órgão público”, afirmou o Ministro.

Outros temas abordados no evento foram “Li-berdade e Igualdade”, por Álvaro Vita (USP), “Há es-paço para o positivismo jurídico no século XXI?”, por Dimitri Dimoulis (FGV-SP), “Fundamentos do Ensi-

no Jurídico no Séc. XXI, por Jean-Paul Rocha (USP); “A Dignidade da Pessoa Humana no Séc. XXI”, por Ingo Sarlet (PUC-SP), e “Problemas Jurídicos Fun-damentais: a partir e além do Estado”, por Oswaldo Duek (PUC-SP) e Marcelo Neves (PUC-SP), que mi-nistrou uma brilhante palestra sobre as perspecti-vas do transconstitucionalismo.

O evento reuniu 160 pessoas, entre advogados, promotores de justiça e estudantes de Direito, que participaram ativamente do debate.

Evento reúne especialistas em filosofia do direito de diversos estados brasileiros

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Às 19h15 do dia 20 de outubro de 2010, pouco an-tes do início da cerimônia de inauguração da nova biblio-teca da Escola Superior do Ministério Público, em cada roda de amigos presentes, surgia uma lembrança do saudoso Hermínio Alber-to Marques Porto, um dos maiores ícones da história da justiça brasileira. Os mais veteranos tinham muitas histórias para contar. Do quanto Dr. Hermínio era dó-cil e gentil com alunos e co-legas, ao mesmo tempo em que tinha uma postura firme no júri. Do quanto era compreensivo com o nervosismo dos jovens aspi-rantes a promotores de justiça, assustados com a banca de seleção. Do quanto era culto – um verda-deiro apaixonado pelas letras jurídicas. Os grupos mais jovens se recordavam das memoráveis aulas nos últimos anos de vida do grande professor da PUC-SP. Os estudantes e estagiários, em silêncio, ouviam com curiosidade a história viva sobre o íco-

Inauguração em grande estilo

Abertura da biblioteca da ESMP reúne expoentes da Justiça em homenagem ao professor Hermínio Marques Porto

ne jurídico que apenas co-nheciam pelos livros.

A mesa de abertura da “Cerimônia de Inauguração da Biblioteca Hermínio Al-berto Marques Porto”, reali-zada no auditório Julio Fab-brini Mirabete, contou com a presença do subprocurador--geral de justiça de relações externas Francisco Stella Júnior, representando o Procurador Geral de Justiça Fernando Grella Vieira; da procuradora de justiça Eloi-sa de Sousa Arruda, diretora da ESMP; do secretário de

Estado da Casa Civil Luiz Antônio Guimarães Mar-rey, do Presidente da Associação Paulista do Minis-tério Público (APMP) Washington Epaminondas Me-deiros Barra; do Reitor da PUC-SP Dirceu de Mello; do advogado Antônio Tito Costa, representando a Turma de 1950 da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (USP); do secretário do Conselho Superior do Ministério Público Antônio Carlos da Ponte; do desembargador Marco Antônio Marques

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da Silva, representando o presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e a Escola Paulista da Magistratura; do diretor da Faculdade de Direito da PUC-SP Marcelo Figueiredo; e de Hermínio Al-berto Marques Porto Júnior, que representou a fa-mília do homenageado.

Após a emocionante apresentação do coral do Projeto Guri, o promotor de justiça Tomás Busnardo Ramadan, assessor da ESMP e mestre de cerimô-nia, apresentou uma detalhada biografia de Hermí-nio Marques Porto, destacando o perfil sensato do procurador. “Ele foi responsável por uma mudança significativa na Corregedoria do Ministério Público”, afirmou o promotor. “O órgão deixou de ser mera-mente punitivo e passou a ser orientador”. Washing-ton Barra, que sucedeu Hermínio na diretoria da APMP, parabenizou a escolha pelo homenageado. “A nossa instituição tem memória. Estamos testemu-nhando isto com esta justíssima homenagem”, disse.

Durante a exibição do filme sobre a vida do me-morável Hermínio Marques Porto, era raro encon-trar alguém que não escondesse as lágrimas. O vídeo, concedido pelo deputado estadual Fernan-do Capez, mostrava as fotos e recordações da vida profissional e familiar do inesquecível ‘mestre do júri’, que inspirou muitas gerações da área jurídica. “Quando Hermínio fez parte da banca do Ministério Público de seleção dos novos promotores de justi-ça na época da ditadura, ignorou as fichas enviadas

pelos militares que comprometiam candidatos en-volvidos em movimentos estudantis”, relatou Luiz Antônio Guimarães Marrey.

Assim que assumiu a direção da Escola Superior do Ministério Público, a procuradora de justiça Eloisa de Sousa Arruda, ao conhecer as novas instalações do prédio do CEAF, localizado na Rua Treze de Maio, não hesitou. “Quando entrei na biblioteca, rapidamente tive a idéia de homenagear este homem que tanto amava as letras”, afirmou a procuradora. Desde então, Eloisa Arruda e os seus assessores se movimentaram para agilizar as tratativas oficiais, a obtenção do acervo de fotos do homenageado e os preparativos para a refor-ma das instalações da biblioteca, sob o comando do arquiteto Luiz Carlos Saraiva. Foram instalados sete painéis da altura do pé-direito da biblioteca, com fo-tos em preto e branco do professor Hermínio, além de uma placa de bronze em aço escovado ao lado da porta principal da biblioteca.

O acervo conta com mais de 500 doações nos úl-timos 10 meses, concedidas por outras instituições, procuradores, promotores, juízes e advogados, que integram desde já a lista “amigos da biblioteca”.

A Escola Superior do Ministério Público agra-dece a presença de todos e informa que, em bre-ve, todo o acervo da Biblioteca Hermínio Alberto Marques Porto, sob a coordenação da bibliotecária Elizabeth Canineo, estará disponível para consulta online no site: www.esmp.sp.gov.br

Nascido em 1926, no município paulista Batatais, Hermínio Alberto Mar-ques Porto foi criado em Bebedouro (SP). Em 1945, mudou-se para a capi-tal e, em 1950, se formou em direito pela Universidade de São Paulo (USP). Conhecido como ‘mestre do júri’, foi Promotor de Justiça em diversas cida-des do estado e Corregedor-Geral do Ministério Público, entre os anos de 1977 e 1978 e, posteriormente, de 1981 a 1982. Também exerceu os cargos de professor titular de Direito Processual Penal da PUC e vice-reitor da Universidade Paulista (Unip). Aposentado como Procurador de Justiça do Estado, atuou como advogado criminalista e professor de pós-graduação da PUC. Faleceu no dia 23 de junho de 2009.

Biografia

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Há 20 anos, os direitos do consumidor não tinham lei própria. Vagavam ao sabor dos humores das leis do mercado e da boa vontade de alguns magistrados. A devolução de produtos defeituosos, os problemas relativos à má prestação de serviços ou até mesmo os casos de morte em decorrência de falhas em pe-ças automotivas ou por alimentos contaminados não encontravam norma jurídica que garantisse a efeti-vidade da justiça na crescente sociedade de massa.

Para mudar esta realidade, a Constituição Brasi-leira determinou a elaboração de um Código Brasi-leiro do Consumidor. Para isto, o Ministério Justiça designou uma comissão de juristas para elaborar um anteprojeto de lei federal. A comissão, presi-dida por Ada Pellegrini, reunia Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin, Daniel Roberto Fink, José Geraldo Brito Filomeno, Kazuo Watanabe, Nelson Nery Júnior e Zelmo Denari, com o apoio de demais colaboradores. Foram juristas que literalmente co-locaram a mochila nas costas e defenderam o Pro-jeto do Código pelo Brasil a fora. O texto jurídico re-lativo à área penal foi fruto fundamental do trabalho dos membros do Ministério Público. A legislação teve como matéria prima 14 leis estabelecidas em outros países, sob a adequação do olhar dos juristas brasileiros mais modernos da época.

Para prestar as justas homenagens àqueles que participaram do marco jurídico, a Escola Superior do

Uma revolução na Justiça BrasileiraEscola Superior comemora os 20 anos do Código de Defesa do Consumidor

Ministério Público, com o apoio da APMP, realizou no dia 24 de novembro de 2010 o evento “20 Anos do Código de Defesa do Consumidor”, com a presença de José Geraldo Brito Filomeno, ex-procurador geral de justiça de São Paulo e coordenador da comissão de elaboração do Código; Kazuo Watanabe, desem-bargador aposentado do TJSP e membro da mesma comissão; Paulo Salvador Frontini, ex-procurador geral de justiça de São Paulo e ex-secretário de de-fesa do consumidor do estado; e dos promotores de justiça Roberto Senise Lisboa e Adriana Borghi.

“O Código de Defesa do Consumidor apresentou as bases revolucionárias para o projeto jurídico bra-sileiro”, afirmou o procurador de justiça Jorge Luis

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Ussier, coordenador do Centro de Apoio Operacional Cível do Ministério Público de São Paulo. Filomeno explicou que havia na época um clamor em colocar a defesa do consumidor como uma obrigação esta-tal. “Em uma sociedade de contratação em massa, o consumidor é a parte mais vulnerável”, disse. O objetivo inicial da comissão era determinar a re-clusão como pena aos crimes contra o consumidor, mas a iniciativa gerou polêmica. “Os empresários exigiam a troca do termo ‘reclusão’ por ‘detenção’, o que faz uma enorme diferença no aspecto jurídico.

Entre outras dificuldades históricas enfrentadas pela comissão, Paulo Frontini acrescentou que os opositores do projeto queriam retirar do texto legal os imóveis, por se tratarem de ‘bens inconsumíveis’. “Tivemos que recorrer a figuras políticas fortes na época como o Ulisses Guimarães e o Fernando Hen-rique Cardoso”, afirmou o advogado. “O presidente de uma grande montadora de carros chegou a dizer na ocasião que o Código iria matar a indústria brasi-leira, o que não ocorreu”. O grupo de juristas tam-bém foi responsável por outras inovações na legisla-ção, como a Lei de Pequenas Causas e a restrição à publicidade abusiva ou enganosa. “Há sempre os que querem tirar dos tribunais as grandes questões”.

Kazuo Watanabe - que fez parte da comissão que elaborou o CDC, a Lei de Pequenas Causas e a Ação Civil Pública - falou sobre a importância da

unidade entre o Procon e o Ministério Público na percepção das infrações contra os direitos do con-sumidor. “Apesar da comemoração dos 20 anos do Código, precisamos ficar alertas e ter a cons-ciência de que muito ainda precisa ser feito para melhorá-lo”.

A procuradora de justiça Deborah Pierri, que homenageou oficialmente os integrantes da co-missão, ressaltou o avanço da humanização do consumo após o CDC e parabenizou a o grupo pela determinação em fazer vale os direitos da cidada-nia. “O Código foi considerado um ato de terroris-mo jurídico pela mídia da época”.

Sobre os desafios para o futuro após 20 anos, Roberto Senise Lisboa falou sobre novos projetos de lei relativos ao tema - como o que visa reduzir o superendividamento social - e ressaltou a impor-tância da contribuição contínua dos juristas precur-sores do Código. Adriana Borghi parabenizou o CDC como o único dispositivo jurídico que trata simul-taneamente dos direitos difusos, coletivos e indivi-duais, mas ressaltou a importância da inclusão de novas medidas protetivas ao consumidor. “Ainda há muitas vistas grossas por quem deveria punir, como o Banco Central e as agências reguladoras”.

O Código Brasileiro de Defesa do Consumidor foi instituído pela Lei 8.078, no dia 11 de setembro de 1990.

“Em uma sociedade de contratação em massa, o consumidor é a parte mais vulnerável”José Geraldo Brito Filomeno, procurador de justiça aposentado; membro da Comissão que elaborou o CDC

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Com a proximidade do verão, seria impossível não recordar o dilúvio que assolou o Estado de São Paulo durante 45 dias, entre os meses de dezembro de 2009 e fevereiro de 2010. Com a iminência das chuvas, fica a pergunta: corremos o risco de novos deslizamentos e enchentes neste ano?

Para discutir a situação das 475 áreas de risco identificadas pelo Instituto de Pesquisas Tecnológi-cas (IPT) na cidade de São Paulo, a Escola Superior do Ministério Público promoveu, de 6 a 8 de outubro, o Seminário Planejamento Municipal e Áreas de Risco, realizado na sede da instituição. Na oportu-nidade foi divulgada a publicação da nova recomen-dação para atuação dos Promotores de Justiça de Habitação e Urbanismo e Meio Ambiente em ques-tões relacionadas às áreas de risco, que acompanha a carta da ABGE e a manifestação técnica do IPT. Durante as palestras ministradas por operadores do direito e representantes de diversas instituições públicas e da sociedade civil, uma TV LCD apresen-tava as obras da exposição fotográfica ‘Inundações

em São Paulo’ no saguão da ESMP, com a mostra de imagens históricas de aguaceiros que alteraram a rotina da cidade.

“As enchentes não são o resultado de uma obra divina”, afirmou Fernando Kertzman, Presidente da Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental (ABGE), que defende na cidade a estru-turação de um setor de gerenciamento de áreas de risco. “O trabalho não pode estar limitado ao aten-dimento de emergência. Deve incluir a prevenção”. Durante o processo de urbanização, a vazão (o vo-lume de água escoado) aumentou de 174 m3/s para 1.350 m3/s nos últimos 100 anos. “Ainda há uma cultura que privilegia a adaptação dos terrenos aos projetos, quando deveria ser o contrário. O desliza-mento é a forma que a natureza encontra para vol-tar à sua posição de equilíbrio”, afirmou o geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos, ex-diretor de gestão e planejamento do IPT.

O geólogo Agostinho Tadashi Ogura, pesquisa-dor do IPT, falou da importância da elaboração de

A cidade em riscoSeminário debate mecanismos

de prevenção das tragédias decorrentes do dilúvio

seminário

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cartas geotécnicas para o embasamento das cons-truções urbanas. Os membros do IPT se compro-meteram a enviar estes documentos ao Ministério Público para conhecimento do que deverá ser exe-cutado pelos gestores públicos.

Solucionar o processo de desocupação em áreas de risco esbarra no problema do déficit habitacional na cidade de São Paulo, que chega a 8 milhões de unidades. “As pessoas não têm onde morar”, afir-mou Mariana Moreira, advogada da Fundação Pre-feito Faria Lima, em sua palestra sobre a atuação municipal no planejamento urbano. Um dos fatores que promove a ocupação irregular é a especulação imobiliária, que torna o valor da terra inacessível para muitos.

O impacto psicológico da perda da casa pode tor-nar o indivíduo incapaz de perceber o risco da sua permanência na área de risco. “Quando a polícia militar chega ao local após a catástrofe, ela é muito bem vinda”, disse Mário Augusto Vicente Malaquias, promotor de justiça de Habitação e Urbanismo da

Capital. “Mas quando chega ao local antes da tra-gédia para cumprir uma liminar de remoção, sofre uma resistência muito grande dos moradores que se recusam a deixar o local”. Portanto, a retirada deve ser a última medida. “O ideal seria podermos manter as pessoas onde elas estão”, afirmou Ma-riana Moreira, que defende a análise criteriosa de riscos para a possibilidade de manutenção da mo-radia. “A remoção envolve um processo complexo pelo custo emocional e financeiro sobre as pessoas que deixam as suas casas”. O promotor de justiça José Carlos de Freitas citou como exemplo uma ação civil pública de remoção ajuizada por ele que enfrentou resistências de uma associação de bair-ro que temia a evasão escolar após a retirada das famílias. “Temos que pensar que ao solucionar o problema da habitação pode-se criar um problema social para aquelas famílias”.

Malaquias apresentou um rico histórico da atu-ação do Ministério Público nas ações de desocupa-ção de áreas de risco e trouxe ao debate algumas

Promotores de justiça e técnicos do MP participam de vistoria nas áreas de risco

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decisões dos tribunais superiores que determinam a responsabilização do gestor público que tinha co-nhecimento dos riscos de uma determinada região através de laudos técnicos e não tomou as devidas providências para remover os moradores da área. Entre os exemplos apresentados:

“Nega-se provimento aos agravos retidos e ao apelo da Municipalidade de São Paulo e dá-se provi-mento ao recurso do Ministério Público para julgar--se inteiramente procedente a ação, nos termos do pedido inicial, com imposição de multa diária de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) pelo descumprimento de obrigação de fazer, com a expressa advertência que o atraso injustificado que provocar dano ao erário público em razão da sanção ora imposta, constitui ato de improbidade administrativa de responsabili-dade pessoal dos gestores públicos, razão pela qual se impõe a intimação pessoal do Sr. Prefeito Muni-cipal e do Secretário de Habitação, assim como do Administrador Regional daquela área.

Ap. Cível 735.444.5/9 – S. Paulo – Aptes e Apdos PMSP e MP – Rel. DES. MAGALHÃES COELHO

“A omissão do administrador público não pode ser permitida”, afirmou o promotor José Carlos. “Os

vereadores também devem ser responsabilizados por não priorizarem esta questão na assembléia le-gislativa”. A advogada Mariana Moreira acrescentou que a responsabilização direta do gestor é a medida mais eficaz para a solução do problema. “O TAC foi banalizado”, disse. “Os administradores públicos pensam que basta assiná-lo e está tudo resolvido”. A geóloga Andrea Mechi, assistente técnica do Mi-nistério Público, explicou que a Prefeitura entende que apenas o risco geológico autoriza a operação de remoção. “Para estes órgãos, os riscos oferecidos pelas enchentes não determinam a retirada das fa-mílias”, disse.

A ocupação irregular do solo não afeta apenas os moradores da área de risco, mas todos os cida-dãos. Ela não apenas gera os problemas ambien-tais recorrentes da falta de saneamento, erosão das encostas e proliferação de doenças, mas tam-bém favorece a criminalidade, com a formação de favelas de difícil acesso da polícia - uma das prin-cipais causas do domínio do tráfico de drogas.

Durante a abertura de perguntas para a plateia, o biólogo Roberto Varjabedian, assistente técnico do Ministério Público, questionou a possibilidade jurídica de anulação de um plano diretor que não

Casa e entulhos ameaçam escorregar nas próximas chuvas

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atenda às necessidades da comunidade. Mariana Moreira ressaltou que o artigo 42 do Estatuto da Cidade determina o mínimo que o plano deve con-templar. O promotor Malaquias ressaltou que se o plano trouxer alguma medida que não esteja pre-viamente legislada, não poderá ser executada. “A participação da população na elaboração do plano diretor é essencial para evitarmos a aprovação de projetos encomendados”, afirmou.

O geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos apre-sentou o mapa geológico da Bacia do Alto Tietê, que mostra como os bairros cresceram em dire-ção aos terrenos montanhosos ou de várzea. “São Paulo não tem mais área plana para se expandir”, disse. O geólogo também apresentou algumas su-gestões de retenção das chuvas, entre elas, solu-ções naturais, como a jardinagem. “A prefeitura deveria oferecer um benefício em IPTU a cada mo-rador que jardinar a frente da sua casa”.

No segundo dia do evento, 45 participantes - entre promotores de justiça e técnicos do MP, IPT e prefeituras - realizaram vistoria de campo na ocupação do Jaguaré, onde, nos últimos qua-tro anos, mais de 600 famílias foram removidas das áreas de risco e transferidas para unidades

seguras de moradia. “Outras 400 famílias foram deslocadas para permitir a realização das obras necessárias à remoção”, explicou Luis Fernando Fachini, engenheiro da Secretaria de Habitação da Prefeitura de São Paulo. No local, foi identificado um exemplo de moradia que corre sério risco em dias de dilúvio. “Se houver uma chuva forte nos próximos meses, esta casa vai deslizar”, aler-tou a geógrafa Kátia Canil, pesquisadora do IPT. “Além da casa, o entulho no entorno também vai escorregar”. O IPT realizou o monitoramento dos variados níveis de risco no local para posterior en-vio dos resultados à prefeitura. O último grande deslizamento na comunidade ocorreu durante as chuvas de 2008.

O terceiro dia do evento contou com enriquece-dores esclarecimentos nas palestras ministradas por Celso Santos Carvalho, Secretário Nacional de programas Urbanos do Ministério das Cidades, e Lair Krähenbühl, Secretário da Habitação do Estado de São Paulo.

No dia 25 de novembro, o seminário “Planeja-mento Municipal e Áreas de Risco” foi realizado no município de São Luiz do Paraitinga, cidade assola-da pelas chuvas em 2010.

Na ocupação do Jaguaré, mais de 600 famílias foram removidas das áreas de risco

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Na sociedade do culto ao belo, as pequenas im-perfeições não são mais aceitas. É possível eliminar gordura, esculpir o nariz, os seios, as pernas, eli-minar qualquer efeito do tempo. Todas as possibi-lidades de intervenção estética estão nas pratelei-ras do mercado da cirurgia plástica. A atividade, de fundamental importância na medicina, é exercida no Brasil tanto por excelentes profissionais da área – que estudaram no mínimo 11 anos para exercer a atividade – como por prestadores de serviços cuja formação se limita a um curso de fim de semana. Desavisados em relação ao histórico da formação do médico, muitos pacientes – especialmente as mulheres – confiam as suas vidas a profissionais que ofertam cirurgias plásticas em carros de som em até 36 vezes de R$ 200. Alguns realizam consul-tas em cabeleireiros e aliciam as pacientes a reali-zarem cirurgias a metade do preço.

O resultado da popularização da cirurgia plás-tica se vê nas manchetes da mídia e na pauta dos tribunais. Levantamento do Conselho Regional de

Medicina de São Paulo revela que as cirurgias de lipoaspiração lideram os processos contra médicos no estado. Dados da Sociedade Brasileira de Cirur-gia Plástica (SBCP) indicam que 40% das cirurgias de nariz precisam ser refeitas. Segundo o Cremesp, 97% dos médicos que respondem por processos éticos na entidade estão relacionados à cirurgia plástica sem o título de especialista na área.

Para debater o tema, a Escola Superior do Minis-tério Público, com o apoio da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, realizou o seminário “Segurança e Responsabilidade em Cirurgias Plásticas” nos dias 29 e 30 de novembro. O promotor de justiça Reynaldo Mapelli Júnior, coordenador da área de saúde pública do Centro de Apoio Operacional Cível e de Tutela Co-letiva, falou sobre as atribuições do Ministério Públi-co na instauração de inquéritos civis e na checagem do cumprimento das normas de segurança. Criada em 1999, a promotoria de saúde recebe anualmente um grande número de reclamações contra médicos, principalmente, por cirurgias de lipoaspiração.

Cirurgias plásticas na mira da justiça

Seminário debate a responsabilidade médica na busca pela beleza

seminário

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“O número de mortes por este tipo de proce-dimento tem sido muito grande”, afirmou Mapelli, ressaltando que o MP já obteve algumas vitórias na Justiça, determinando inclusive o pagamento de pensões vitalícias à família da vítima. “Muitos médi-cos fazem publicidade enganosa, sem ter a especiali-dade”, afirma o promotor. “Me assusta muito a exis-tência de profissionais que respondem a processos e continuam sendo procurados pela população”.

A realidade na MedicinaO exercício exclusivo da cirurgia plástica por

médicos especialistas na área está previsto na Resolução nº 1.711 do Conselho Federal de Me-dicina, de 10 de dezembro de 2003, que determi-na ‘a indispensável habilitação prévia do cirurgião plástico na área de cirurgia geral’. No entanto, a norma entra em conflito com a Lei 3.268 de 30 de setembro de 1957, que permite que o médico atue em qualquer área após a sua formação. A saída informal para o impasse definida pelo mercado foi

a divisão das cirurgias entre ‘reparadoras’ (exe-cutadas apenas por especialistas em plásticas) e ‘estéticas’ (realizada por médicos de qualquer es-pecialidade).

Os membros da SBCP refutam a divisão e defen-dem que não existe diferença entre cirurgias repa-radoras e estéticas. Todos os procedimentos fazem parte da cirurgia plástica, de execução exclusiva dos especialistas. Os médicos defendem que pala-vra ‘estética’ seja proibida nas clínicas por funcio-nar como um atrativo para o paciente. “Os grandes problemas nos procedimentos envolvem as com-plicações que ocorrem durante o ato cirúrgico que o profissional ‘estético’ não saberá resolver”, afir-mou José Teixeira Gama, médico secretário geral da SBCP. A Justiça acompanha o entendimento. Decisão da 6ª Vara Cível da Justiça Federal de São Paulo confirmou a necessidade de especialização regulamentada, julgando improcedente o mandado de segurança impetrado por dois médicos contra o Cremesp, que requeria o registro como especialis-

Regras para cirurgia de LipoaspiraçãoResolução CFM nº 1.711, de 10 de dezembro de 2003

Resolve:

Art. 1º - Reconhecer a técnica de lipoaspiração como válida e consagrada dentro do arsenal da cirurgia plástica...

Art. 2º - ...não devem ter indicação de emagrecimento.

aArt. 3º - …indispensável a habilitação prévia em área cirúrgica geral, de modo a permitir a abordagem invasiva do método, prevenção, reconhecimento e tratamento das complicações possíveis.

Art. 5º - …devem ser executadas em salas de cirurgia equipadas para atendimento de intercorrências inerentes a qualquer ato cirúrgico.

Art. 7º - Parágrafo único - O apurado controle de líquidos infiltrados mais líquidos infundidos e, também, do volume aspirado deve ser feito para evitar a super-hidratação ou a desidratação e seus efeitos indesejáveis.

Art. 9º - Que os volumes aspirados não devem ultrapassar 7% do peso corporal quando se usar a técnica infiltrativa; ou 5% quando se usar a técnica não-infiltrativa. Da mesma forma, não deve ultrapassar 40% da área corporal. Seja qual for a técnica usada.

Art. 10 - Que a associação com procedimentos cirúrgicos outros deve ser evitada quando as relações entre o volume e a área corporal estejam próximas ao máximo admitido.

Art. 11 - Que devem ser tomadas medidas preventivas usuais para a ocorrência de TVP e acidentes tromboembólicos.

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ta em medicina estética. Tal ‘especialidade’ não é reconhecida pelo CFM, AMB ou Comissão Nacional de Residência Médica.

A formação de um profissional em cirurgia plás-tica é composta por seis anos de curso médico, dois anos de residência em cirurgia geral e três anos em cirurgia plástica. A revalidação do título deve ser re-alizada a cada cinco anos. “A situação ficou compli-cada com a publicidade abusiva de cirurgiões plás-ticos”, afirmou Dênis Valter Calazans Loma, médico diretor do Departamento de Defesa Profissional da SBCP. Calazans lembrou que a publicidade médica apelativa é vedada pela resolução 1836 de 2008, do Conselho Federal de Medicina (quadro abaixo), as-sim como é proibida a oferta de cirurgias plásticas

como prêmio dos consórcios. “Conseguimos redu-zir o número deste tipo de clínica de 46 unidades para oito”, afirmou. O diretor também enfatizou a importância dos médicos aprenderem a lidar com a ansiedade das pacientes, que muitas vezes enxer-gam em seus corpos deformidades que não exis-tem. “Para alguns casos, recomenda-se a indicação a um psiquiatra”.

Os palestrantes criticaram o Ministério da Edu-cação pela proliferação de médicos não capacitados para exercer a atividade. A abertura desenfreada de faculdades de Medicina em um mercado saturado e a liberação dos cursos de fim de semana – ou até mes-mo a distância - que prometem formar cirurgiões em poucas horas são algumas das situações permitidas pelo MEC. “O número de hospitais e residências no Brasil não tem capacidade de absorver este número de recém formados, que muitas vezes cedem às ten-tações do enriquecimento rápido através das cirur-gias plásticas”, afirmou Dênis. “O MEC permite a re-alização destes cursos e muitos juízes entendem que apenas o órgão tem a competência para fechá-los”, acrescentou Luiz Otávio Ferreira, advogado da SBCP.

Pesquisa do Cremesp revela que a propaganda irregular representa 67% dos processos contra mé-dicos e 28% deles são acusados de má prática pro-fissional, respondendo por negligência, imperícia ou imprudência. O órgão analisou os processos que envolvem 289 médicos, de janeiro de 2001 a julho de 2008. “A França e o México já determinaram a obri-

Reynaldo Mapelli Junior, promotor de justiça da àrea de saúde pública

“O médico deverá provar que utilizou todos os meios e técnicas necessárias e respeitou as condições específicas do caso para evitar o dano”Roberto Senise Lisboa, promotor de justiça da área do consumidor

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gatoriedade da especialidade da cirurgia plástica. No Brasil, temos apenas leis isoladas nos estados”, afirmou Osvaldo Saldanha, médico diretor do de-partamento científico da SBCP, que apresentou no evento um rico check-list de normas de seguranças em procedimentos cirúrgicos.

A realidade no DireitoO Supremo Tribunal de Justiça tem 30 julgados

relativos ao tema e todos eles responsabilizam os médicos pela ‘obrigação de resultados’. “O STJ en-tende que quando o médico executa uma cirurgia meramente estética, ele tem a obrigação de dar o resultado esperado pela paciente”, afirmou Roberto Senise Lisboa, promotor de justiça do consumidor. O membro do Ministério Público de São Paulo expli-cou que o Código de Defesa do Consumidor prevê para serviços de saúde que o ônus da prova seja in-vertido da vítima para o acusado, na perspectiva da ‘boa fé objetiva’. “O médico deverá provar que utili-zou todos os meios e técnicas necessárias e respei-tou as condições específicas do caso para evitar o dano”. O promotor de justiça considera que é confu-sa a relação dos tribunais com o tema, pelo fato do Direito não ter evoluído junto com a Medicina. “A lei precisa considerar o aumento das especialidades e da tecnologia disponível para a realização dos pro-cedimentos cirúrgicos”.

O promotor de justiça criminal Luiz Henrique Pacini Costa apresentou casos concretos de al-

gumas ações que moveu contra médicos sem es-pecialidade que realizaram cirurgias plásticas. Entre elas, o caso do médico ginecologista Van-derson Bullamah, que assumiu o risco de morte da paciente Helen de Moura Buratti, de 18 anos, submetida a uma cirurgia de lipoaspiração. “He-len, você tem o rosto tão bonito, mas gordinha as-sim, não vai arranjar namorado”, dizia o médico à garota, na época, com apenas 14 anos. Após a ação movida por Pacini, o médico, que já havia sido processado pela morte de outras duas outras pa-cientes, foi condenado por homicídio doloso com pena de 18 anos de reclusão. Além da inexistência de indicação médica para a realização do proce-dimento, a cirurgia foi realizada em clínica sem estrutura e sem a presença do anestesista em tempo integral. “Há uma grande dificuldade em responsabilizarmos os médicos por dependemos dos laudos de outros médicos”, afirmou o promo-tor. “Muitos deles se protegem, acham que podem ser os próximos”. No entanto, a parceria não vai muito longe. “Depois, eles começam a responsa-bilizar os demais da equipe pelo que deu errado”, afirmou Pacini.

Em março de 2011, a SBCP lança um manu-al com normas de segurança para a realização de procedimentos cirúrgicos no pré e pós-ope-ratório. O documento é urgente no Brasil, que já ocupa o 2º lugar no ranking mundial de cirurgias plásticas.

Palestra multidisciplinar apresenta os pontos de vistas dos médicos e operadores do direito

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O encarceramento representa um custo mensal por detento de R$ 479 em um presídio comum e de R$ 1.790 em um presídio de segurança máxima. Levantamento realizado pelo Ministério da Justiça em junho de 2010 revela que o Brasil possui uma população carcerária de 494.237 pessoas. A reinci-dência do delito ocorre em 85% dos casos. Em rela-ção aos dependentes químicos, dados revelam que o cárcere não recupera, não trata, não reinsere so-cialmente e ainda promove a escola do crime. Após cumprir pena, o acusado encontra dificuldades de conseguir emprego e, na maioria das vezes, recorre novamente às drogas. Como alternativa do sistema jurídico para lidar com o usuário de drogas que pra-tica o pequeno delito, surgiu o Programa de Justiça Terapêutica, que enxerga além do conflito com a lei. Observa o problema da dependência química.

Para debater o tema, a Escola Superior do Mi-nistério Público e o Consulado-Geral dos Estados

Culpados ou vítimas?Seminário discute a Justiça Terapêutica como alternativa aos infratores dependentes químicos

Unidos em São Paulo promoveram nos dias 13, 14 e 15 de outubro o “Seminário Justiça Terapêutica”. “O objetivo do programa é a aplicação de uma pena alternativa, a oferta de um atendimento integral através de um trabalho conjunto entre os operado-res do direito e os profissionais de saúde”, afirmou Ricardo de Oliveira Silva, procurador de justiça do Rio Grande do Sul, estado pioneiro na elaboração do programa no País. O evento reuniu entre os pa-lestrantes renomados promotores de justiça, juízes e médicos, e contou com a ativa participação da pla-teia de psicólogos, assistentes sociais e operadores do Direito de outros estados, além de grandes es-tudiosos no tema, entre eles, o médico Ronaldo La-ranjeiras, uma das maiores referências nacionais no tratamento de dependentes químicos.

Para falar da experiência norte-americana de justiça terapêutica, o seminário contou com a ex-posição de David Kahn, ex-promotor de justiça em

seminário

Foto

: SXC

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Miami (EUA) e membro do Addiction Services Board (comissão governamental que oferece assistência aos dependentes químicos do Condado de Miami Dade). “Os tribunais de saúde mental têm papel sig-nificativo no conjunto de respostas para o número desproporcional de pessoas com doenças mentais no sistema judiciário”, afirmou.

Ao citar o discurso de posse do Presidente Ba-rack Obama, David ressaltou que a ampliação do programa é uma das metas atual Governo America-no. “Quero garantir que o Congresso destine fundos aos programas de prevenção e tratamento. Fui um dos patrocinadores da ‘Lei da Segunda Chance’ e um dos proponentes dos tribunais para dependen-tes químicos. Continuarei a apoiar esses programas como Presidente”, afirmou Obama. O Programa de Justiça Terapêutica foi fundado nos Estados Unidos em 1989, através da criação dos Tribunais das Dro-gas (Drug Court). No País, os gastos com o siste-ma penitenciário excedem US$ 60 bilhões por ano. Em média, os estados gastam anualmente US$ 65 mil para construir novas prisões e US$ 23 mil para operá-las. A cada ano, as prisões nos Estados Uni-dos abrigam cerca de 1,2 milhão de infratores de-pendentes químicos que não representam grande

ameaça à segurança pública. Do total de usuários que concluem o programa americano da Justiça Terapêutica, 75% continuam livres por pelo menos dois anos.

Em 1996, a temática chegou à Justiça Brasileira. Promotores de justiça do Ministério Público do Rio Grande do Sul se reuniram com psiquiatras para dar palestras em escolas sobre o álcool e drogas ilícitas. O entendimento era que se o Estatuto da Criança e do Adolescente previa o tratamento penal diferenciado para menores dependentes químicos, o mesmo poderia ser oferecido aos maiores adictos - um estímulo para que eles se tratem. Dados das promotorias da infância e juventude do Rio Grande do Sul revelam que 90% dos adolescentes recebi-dos pelo Ministério Público do estado usam álcool, tabaco e outras drogas.

Logo após o Rio Grande do Sul, a temática che-gou ao Nordeste. Em 2001, foi criado em Pernam-buco o Centro de Justiça Terapêutica, vinculado ao Tribunal de Justiça do Estado - o primeiro da Amé-rica Latina com o objetivo de criar uma vara espe-cializada com promotores de justiça, defensores públicos e juízes para receber os casos. Não se tra-tava de atenuar a punição pelo uso de drogas, mas

“Os tribunais de saúde mental têm papel significativo no conjunto de respostas para o numero de pessoas com doenças mentais no sistema judiciário”David KahnEx-promotor de justiça em Miami (EUA) e membro do Addiction Services Board

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oferecer aos dependentes químicos que praticaram crimes de pequeno potencial ofensivo a possibili-dade de optar por responder ao processo ou obter o tratamento de saúde. Quando o indivíduo esti-vesse curado, ele seria devolvido à sociedade sem precisar cumprir pena. “Cabe ao centro de justiça terapêutica avaliar, acompanhar, instruir, produzir relatórios e laudos provenientes dos processos das varas criminais e juizados especiais criminais da capital”, relatou o juiz Flávio Fontes.

A operacionalização do programa começa com a proposta do promotor de justiça, a aceitação pelo envolvido e a avaliação do mesmo por equipe mul-tidisciplinar que ateste a existência da dependência química. Entre os pontos forte do programa estão o baixo custo, o interesse dos alunos universitários, o apoio da população e os resultados favoráveis nos exemplos concretos. Entre as dificuldades, os

métodos de testagem do uso das substâncias quí-micas, o monitoramento e a garantia do acesso do indivíduo à saúde, educação, moradia e trabalho.

“Trabalhos científicos demonstram a diminui-ção de 10% na recidiva criminal”, afirmou Antônio Carlos Cabral, diretor clínico do Hospital Lacan. Do total de internos na enfermaria da instituição, espe-cifica para tratamento de pacientes com dependên-cia química, alcoolismo e transtornos mentais, 31% foram presos e 24,5% respondem a processos. “Os usuários infratores têm mais doenças psiquiátricas e físicas do que os demais”.

Um dos debates travados entre os especialistas da Justiça Terapêutica é a eficácia do tratamento coercitivo. Ao contrário da corrente dominante no Direito que defende o tratamento só funciona para quem procura ajuda, pesquisa realizada pelo juiz Flávio Fortes junto ao Centro de Atenção Psicosso-cial de Recife revela que 12,5% dos encaminhados ao tratamento pela Justiça Terapêutica obtiveram alta clínica. Entre os que procuraram o tratamento de forma espontânea, apenas 3,5% receberam alta. No total, foram analisados 792 casos.

Relatório realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1999 confirma a tese. “Sabe-se que a demanda por tratamento voluntário é muito pequena. A relutância para buscá-lo só é supera-da por pressões da família, de amigos, da escola, do empregador, pelo aumento do custo de man-ter o uso da droga ou pelo medo da instauração de um processo criminal”, diz o documento. “Não existe tratamento voluntário para dependentes de crack”, ressalta a psiquiatra Carmen Có Freitas, diretora de tratamento da Associação Brasileira de Justiça Terapêutica, também favorável à interna-ção obrigatória.

Resultados parciais do I Levantamento sobre o Programa de Justiça Terapêutica no Brasil revelam que apenas 2% dos 94 promotores de justiça entre-

Vantagens do Programa de Justiça Terapêutica

• Evita a prisão

• Diminui a reincidência para 12,5%• Diminui o custo para R$ 53,00 por

participante

• O acusado não terá antecedentes criminais

• O processo é arquivado no final do tratamento

Fonte: Ministério Público do Rio Grande

do Sul / Manual de Penas Alternativas (MJ)

Todo o material apresentado no evento está disponível no link: www.esmp.sp.gov.br/material_justica_terapeutica

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vistados no estado de São Paulo aplicam o progra-ma no dia-a-dia. Deste total, 15% revelaram o inte-resse em receber capacitação e 75% desejam obter mais informações sobre o Programa. No último dia do evento, a Escola Superior do Ministério Público reservou o período da tarde para a elaboração de uma oficina de caráter prático no Fórum Regional de Santana. O grupo foi coordenado pelo juiz de di-reito da 1ª vara criminal Carlos Barros Nogueira, e pelos promotores de justiça Airton Buzzo Alves, Hélio Loma Garcia, José Romão de Siqueira Neto e Waleria Garcelan Loma Garcia.

A promotoria do Fórum de Santana realizou no ano de 2010 um estudo referente às penas alter-nativas que foram aplicadas no período de 2009. O levantamento indica que 96% das penas aplicadas são oriundas de transação penal em contrapos-to à suspensão (4%). A partir do estudo, pode-se observar que a pena mais aplicada foi a de pres-tação pecuniária, 71%, seguida pela prestação de serviços, 19%, e inclusão em programas de Justiça Terapêutica, 10%. Neste modelo, 81% foram enca-minhados aos Narcóticos Anônimos (N.A.), 36% aos Alcoólicos Anônimos (A.A.), 6% ao Amor Exigente e 1% à Associação Anti-alcoólica. Dos encaminhados ao N.A., 78% foram enquadrados no Artigo 28 da Lei 11.343/06, que pune os portadores de drogas para consumo pessoal. Entre os levados ao A.A, 19% res-pondem pelo artigo 306 da Lei 9.503/97, que penali-za os motoristas que dirigem sob o efeito de álcool.

Também participaram do evento o promotor de justiça José Roberto Rochel de Oliveira e o médico especialista em dependência química Luiz Alberto Chaves de Oliveira, coordenador de atenção às dro-gas da cidade de São Paulo.

Acima, o promotor de justiça Airton Buzzo Alves;O procurador da justiça do MPRS Ricardo de Oliveira Silva;O juiz de direito de Pernambuco Flávio Fontes

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seminário

Para debater a responsabilidade civil do Estado por omissão legislativa inconstitucional; a privatiza-ção da função pública; o princípio do direito à sufi-ciente defesa no processo administrativo e o princí-pio da proporcionalidade na administração pública e na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a Escola Superior do Ministério Público promoveu, nos dias 2 e 3 de dezembro, o Seminário Justiça e Administração Pública. Ministraram as palestras o promotor de justiça de Araraquara Raul de Mello Franco Júnior e as advogadas e professoras Pris-cilla Nascimento Ramos Rátis, Cledi de Fátima Ma-nica Moscon e Ebe Pimentel Gomes Luz.

“A experiência histórica confirma que em todos os Estados, inclusive naqueles qualificados como democráticos de direito, muitas das operações e an-seios do constituinte não se concretizam pela indo-lência dos órgãos públicos”, afirmou o promotor de justiça, doutorando em Ciências Jurídico-Políticas

Freios e ContrapesosEvento debate o papel da Justiça na fiscalização da administração pública

pela Universidade de Lisboa. “Direitos elementares dos cidadãos são negligenciados pela leniência de órgãos que descuidam do cumprimento de encargos básicos que conformam o rol de suas obrigações”.

Durante a exposição, Raul de Mello sustentou que a omissão do legislador não deve ser encarada como uma ociosidade corriqueira, resultante da complexida-de dos órgãos, da malha intrincada de normas do pro-cesso legislativo ou da multiplicidade de funções que se amontoam no Parlamento e ressaltou que o Poder Judiciário tem o dever de cobrar regulamentação. “As omissões legislativas inconstitucionais podem ensejar o uso de instrumentos judiciais de enfrentamento”.

Os trabalhos acadêmicos desenvolvidos pelos palestrantes podem ser conferidos na obra:

A advogada Priscilla Nascimento e o promotor de justiça de Araraquara Raul de Mello Franco Júnior

Temas de Direito Público

Justiça e Administração PúblicaOrganizadora: Cledi de Fátima Manica MansonEditora: Nuria Fabris • Ano: 2010

Os autores da coletânea reuniram os seus rela-tórios divulgando resultados de suas investigações, facultando aos seus leitores dados do mais recente Direito Europeu. São textos variados, com níveis de análise e de síntese diferentes e preocupações cien-tíficas e pedagógicas distintas. A obra reúne trabalhos acadêmicos caracterizados pela contemporaneidade de uma experiência singular, contribuindo para for-mar novos conceitos em Direito Público. Os estudos elaborados afastam ou revogam posições tidas até agora como intransponíveis ou inconciliáveis.

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palestra

Severina, moradora da Chã Grande, município de Pernambuco, ficou conhecida após o sucesso do do-cumentário “Uma História Severina”, dirigido pela professora Débora Diniz e pela jornalista Eliane Brum. A vida comum desta mulher contrasta com o seu raro drama, que chegou às tribunas do STF. Grávida de um anencéfalo – feto desprovido de en-céfalo – Severina batalhou durante toda a gestação por uma autorização judicial para efetuar o aborto. Ao lado desta pauta do Supremo, também há mui-tas outras que solicitam permissão para eutanásia de doentes terminais, que sobrevivem em estado vegetativo na dependência de máquinas. As ações colocam a discussão na ordem do dia: onde começa e onde e termina a vida na perspectiva do Direito?

Para debater o tema, a Escola Superior do Mi-nistério Público promoveu no dia 1º de dezembro a

Direito de viver e de morrerPalestra discute o início e o fim da vida no Direito e na Medicina

palestra: “O Direito e a Medicina no Início e no Fim da Vida”, reunindo grandes especialistas no tema. No caso da anencefalia, os pesquisadores avalia-ram os direitos do feto e da mãe. “Ainda que seja precária e vegetativa, há uma vida humana no útero da mulher”, afirmou a professora Carolina Alves de Souza Lima, autora do livro “Aborto e Anencefalia – Direitos Fundamentais em Colisão”. Janaína Lima Penalva e Silva, pesquisadora do Instituto de Bio-ética Direitos Humanos e Gênero (Anis), ressalta a importância do olhar para a saúde física e psicoló-gica da gestante. “A mulher enfrenta a tortura física e psíquica de substituir o berço pelo caixão”, disse. “Ela carrega um ser humano que não vai existir”.

No caso Severina, o Supremo não decidiu a questão. A gravidez teve que ser levada até o fim e a criança nasceu morta. “O anencéfalo não apresen-

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“Quando a mulher tem o direito de escolha, o seu sofrimento é minimizado”Carolina Alves de Souza LimaProfessora e autora do livro Aborto e anencefalia – Direitos fundamentais em colisão

taria nenhum grau de consciência e não poderia ter qualquer experiência humana”, afirmou Carolina, que defendeu que o direito da mãe deve prevalecer ao direito do feto, pelo princípio Constitucional da proporcionalidade. “Cabe à legislação infraconsti-tucional regulamentar a questão”, analisou a pro-fessora doutora em Direito pela PUC-SP. “Quando a mulher tem o direito de escolha, o seu sofrimento é minimizado”.

Sobre o direito do indivíduo de interromper a sua própria vida, o evento contou com as brilhan-tes exposições do médico Daniel Forte, doutorando pela Unifesp, e do advogado criminalista Luciano de Freitas Santoro, especialista em Direito pela ESMP. “A medicina evoluiu muito com o foco na cura para prolongar a vida”, afirmou Daniel. “Temos que nos questionar até que ponto a tecnologia disponível é adequada a um paciente em estado terminal”. Para estes casos, o médico defende a substituição do tra-tamento curativo pelo paliativo, que considera não apenas a melhora biológica, mas também, a psico-lógica. Daniel defende que o momento de inverter a prioridade da cura pela qualidade de vida ocorre quando se verifica a disfunção aguda de um órgão vital. Segundo ele, se seis órgãos apresentam esta disfunção, o paciente tem 99% de chance de morrer. “Vale a pena prolongar a vida por 1%?”, questionou.

Forte também ressaltou a importância da comu-nicação entre o médico e o paciente, para que este não se sinta abandonado. A sensação de amparo é uma conseqüência da linguagem apropriada. “Faz

toda a diferença substituir a frase ‘vamos suspender o seu tratamento’ por ‘vamos suspender este trata-mento que causa dor”, explicou o médico, ao relem-brar à plateia que saúde não significa ausência de doença. “Saúde é bem estar físico, psíquico e social”.

Relatório elaborado pela Economist Intelligence Unit (EIU), divulgado em julho de 2010, revela que o Brasil é o 3º pior em qualidade de morte em um ranking de 40 países. O estudo considerou itens como sistema de saúde, custos, barreiras culturais e o acesso a analgésicos.

“A Constituição determina o direito à vida na perspectiva de que ela não seja retirada de forma ilícita ou injusta”, avaliou o advogado Luciano San-toro. “Cabe ao Estado e à sociedade garantir ao seu povo o direito a esta vida com dignidade”.

Confira o filme “Uma História Severina” no site www.esmp.sp.gov.br

Daniel Forte, médico doutorando pela

Unifesp, falou sobre a importância da

medicina paliativa

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palestra

Em 2010, o Ministério Público do Estado de São Paulo propôs 18 ações civis públicas, instaurou 238 inquéritos civis, ofereceu 163 representações e fir-mou oito Termos de Ajustamento de Conduta na área da educação. Os principais temas atacados pela instituição foram a falta de vagas em creches, o fechamento de salas de aula, a ausência de con-dições de funcionamento das unidades de ensino e a evasão escolar. Apesar dos esforços, a Instituição reconhece que muito ainda precisa ser feito para melhorar o quadro da educação no estado. “O plano de atuação para 2011 estabelece a matéria da edu-cação como uma prioridade, inclusive na área cri-minal”, afirmou Fernando Grella Vieira, procurador geral de justiça.

Para debater as possibilidades de atuação institu-cional no sistema de ensino, a Escola Superior do Mi-nistério Público promoveu no dia 23 de novembro a palestra “O Ministério Público e a Educação”. Na oca-sião, foi lançada a campanha “Bullying não é legal” e o livro “Temas de Direito à Educação”, do promotor de justiça Luiz Antônio Miguel Ferreira, coordenador da área no MP. “O objetivo é formular uma política institucional que induza o promotor de justiça a no-vas práticas voltadas para a área educacional”, afir-

Educação é prioridade no plano estratégico 2011

Ministério Público lança livro e cartilha para orientar a população

mou. “Não conseguimos universalizar a inclusão da criança no ensino fundamental, apenas garantimos a sua matrícula”, disse o PJ, ao fazer uma avaliação crítica da atual realidade do ensino no Brasil.

Se no passado, o paradigma da educação era a escola exclusiva – com o objetivo de oferecer um ensino seletivo – no presente, a realidade é oposta. “O paradigma atual é a inclusão. A escola deve ser para todos”, afirmou Luiz Antônio. As conseqüên-cias da inclusão são inevitáveis. A partir da demo-cratização do ensino, o Estado teve que aprender a lidar com a diversidade de comportamentos em sala de aula, que reúne crianças e adolescentes indisciplinados, portadores de deficiência, hiperati-

Luiz Antônio Miguel Ferreira, promotor de justiça da área da educação

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vos, comportados, usuários de drogas, bons alunos e até mesmo superdotados. “Ensinar hoje é dife-rente do que era no passado. Os problemas sociais estão presentes na Escola”, afirmou o promotor.

Os desafios não se restringem ao universo do aluno. “Aumentaram muito as exigências em rela-ção ao professor”, afirmou Luiz Antônio. “Espera-se que ele seja um pedagogo, psicólogo, enfermei-ro, ainda que com uma única formação”. Segundo o membro do Ministério Público, o trabalho dos pro-fessores ainda sofre outras distorções. “Além das aulas, devem desempenhar tarefas administrativas, programar, avaliar, reciclar-se, orientar os alunos e atender os pais, organizar atividades e assistir a seminários”. Se no passado, a figura do professor gozava de plenos poderes, hoje, é bombardeada de inúmeros deveres, na contramão dos alunos, que conquistam cada vez mais direitos. “A irreverência dos jovens em sala de aula é um reflexo daquilo que ocorre nas famílias de hoje, que estão mais permis-sivas à indisciplina”.

O tema ‘Ministério Público e Educação’ tem sido abordado em diversas cidades pela Escola Superior na gestão de 2010. As palestras foram realizadas nos núcleos regionais da ESMP em Pre-

sidente Prudente (16 de abril); Ribeirão Preto (30 de abril); Campinas (28 de maio); Araçatuba (30 de julho); Santa Cruz do Rio Pardo (24 de setembro); e em Bauru (22 de outubro). O fechamento do ciclo de debates ocorreu na capital paulista no dia 23 de novembro.

Também participaram do evento a procuradora de justiça e diretora da ESMP Eloisa de Sousa Ar-ruda; o promotor de justiça e secretário da APMP Eduardo Roberto Alcântara Del Campo; o procura-dor de justiça e coordenador geral do CAO Cível e de Tutela Coletiva Jorge Luiz Ussier; e o diretor-presi-dente da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo Hubert Alquéres.

Segundo relatório do Índice de Desenvolvimento Humano divulgado pela ONU em novembro, a mé-dia de anos de estudo no Brasil é de 7,2 anos. No ranking da América Latina, o País está atrás do Chi-le (9,7); Peru (9,6); Argentina (9,3) e Uruguai (8,4). Este foi um dos aspectos fundamentais que colocou o País no vergonhoso 73º lugar no IDH mundial, o que prova que a educação não está mais restrita ao sistema educacional. Faz parte do sistema de ga-rantia de Direitos e do desenvolvimento social de toda a nação.

Livro: Temas de Direito à Educação

Autor: Luiz Antônio Miguel Ferreira

Ano: 2010

Editora: Imprensa Oficial

O promotor de justiça Luiz Antônio Miguel Ferreira agrega numa abordagem

objetiva, didática e integradora textos de sua autoria e dos renomados

educadores Carlos Roberto Jamil Cury e Gilza Maria Zauhy Garms,

disponibilizando informações legais, reflexões e orientações aos atores

sociais para tomarem decisões e ações ponderadas e justas em situação de

conflitos com crianças e adolescentes.

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palestra

O transexual não quer levantar bandeiras, sair em passeatas, viver exposto. Tudo que deseja é andar despercebido na multidão em um corpo compatível com a sua identidade de gênero. A cada sexta-feira, três novas pessoas procuram o ambulatório de transtorno de identidade, de gê-nero e orientação sexual do Hospital das Clínicas com o objetivo de realizar a cirurgia de mudança de sexo. Do total de interessados, entre 70% e 80% são diagnosticados como ‘trans’ e, portanto, po-dem se submeter à intervenção cirúrgica. Desde 1998, o HC já realizou 32 cirurgias em transexu-ais, que conquistaram o direito de utilizar o nome social em documentos oficiais. Em todo o mundo, um a cada 30 mil adultos masculinos e uma a cada 100 mil adultas femininas buscam a cirurgia de mudança de sexo.

Para debater o diagnóstico trans, a intervenção cirúrgica, a adaptação psicológica ao novo corpo e o avanço dos direitos dos transexuais, a Esco-la Superior do Ministério Público promoveu nesta quarta-feira, 27 de outubro, a palestra “Transexu-alidade e Direitos Humanos”. O evento contou com a exposição do médico Alexandre Saadeh, coorde-nador do ambulatório de transtorno de identida-de, de gênero e orientação sexual do Hospital das Clínicas; e dos Promotores de Justiça Reynaldo Mapelli Júnior, coordenador do CAO Cível – área

de Saúde Pública, e Deborah Kelly Affonso, asses-sora jurídica da Procuradoria-Geral de Justiça.

O debate sobre o tema – inédito na história do Ministério Público – foi enriquecido com a partici-pação de mulheres que realizaram a cirurgia de mudança de sexo e que, hoje, assumem cargos de liderança na luta pelo reconhecimento de direitos e cidadania ‘trans’ - a psicóloga Clara Cavalcante, do Ambulatório de HIV/AIDS do Centro de Refe-rência e Treinamento em DST/AIDS da Secretaria do Estado da Saúde; e Carla Machado, coordena-dora executiva do Fórum Paulista de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT). Participou da mesa de abertura Dimitri Salles, co-ordenador para Política de Diversidade Sexual da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo. A abordagem multidiscipli-nar do evento garantiu ao público o contato com visões distintas sobre o tema – partindo da medi-cina, passando pelo direito e finalizado com a vi-vência prática dos transexuais.

Os palestrantes fizeram críticas ao Decreto Es-tadual 55.588/2010, que permitiu aos transexuais o direito de modificar o ‘nome social’ em documen-tos oficiais. A lei determina que o novo nome seja colocado entre parênteses após o nome de batis-mo, permitindo assim a exposição do nome que nega a identidade de gênero do indivíduo. “É terrível

Em busca do anonimato

Escola Superior do Ministério Público debate o direito à cidadania dos transexuais

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mostrar a nossa cédula de identidade e lidar com o preconceito na cara das pessoas”, afirmou Carla Machado, que, por diversas vezes, enfrentou situa-ções semelhantes. “As pessoas olham, têm medo da gente e nos ridicularizam pelas costas. A nossa identidade não pode estar entre parênteses”. A Pro-motora de Justiça Deborah Kelly também contes-tou a norma. “Não tem cabimento o Estado garantir a cirurgia de mudança de sexo e criar obstáculos, impedindo que a nova identidade do transexual seja assumida de forma integral”, disse assessora jurí-dica da PGJ.

O nome social entre em parênteses, segundo Alexandre Saadeh, promove justamente o efeito contrário ao objetivo da intervenção cirúrgica. “A importância desta cirurgia é fazer com que esta pessoa não se sinta uma anormalidade”. Na Ingla-terra, a lei determina a privacidade obrigatória do histórico médico e social do indivíduo que realizou a cirurgia, sob pena de 5 anos de reclusão e multa de 5 mil libras. O Brasil anda a passos trôpegos na garantia deste direito.

A promotora de justiça Deborah Kelly criticou o Projeto de Lei 72/2007, que determina que o termo ‘transexual’ qualifique o sexo do indivíduo nos docu-mentos oficiais. A assessora da PGJ apresentou al-gumas jurisprudências controversas, entre elas, uma que reconhece a alteração do nome e do sexo, mas que determina que esta concessão se torne pública, e outras que alteram o nome, mas negam a alteração do sexo. “Deve haver uma coerência na concessão dos direitos”, contestou a Promotora de Justiça.

Deborah Kelly apresentou uma rica diversida-de de decisões internacionais sobre os direitos dos transexuais e informou que, no dia 26 de ou-tubro, foi levada à Comissão Interamericana dos Direitos Humanos uma reclamação contra o Bra-sil pelo alto índice de assassinatos contra homos-sexuais no Brasil – o número de mortes cresceu 62% nos últimos três anos, sendo os transexuais as vítimas mais vulneráveis. “Normalmente, eles não tem coragem de ir às delegacias por serem os mais discriminados”, afirmou Deborah. Se-gundo a promotora, as cortes internacionais são

“É terrível mostrar a nossa cédula de identidade e lidar com o preconceito na cara das pessoas”Carla Machado, coordenadora executiva do Fórum Paulista de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transsexuais

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acionadas quando se esgotam as tentativas nas instâncias nacionais.

A principal polêmica entre os palestrantes foi a categorização da transexualidade como uma do-ença – o transexualismo é identificado pelo CID 10 – F 64.0. Alexandre Saadeh sustentou que, de fato, trata-se de um transtorno de identidade de gênero e citou os aspectos psiquiátricos forenses. No en-tanto, o médico acredita que a inclusão no CID não é o aspecto mais importante a ser discutido. “O que precisamos garantir é o atendimento integral aos transexuais”. O Promotor de Justiça Reynaldo Ma-pelli Júnior discordou. “Faz toda a diferença para um indivíduo ser visto como um doente”.

Em relação à cobertura do Sistema Único de Saúde das cirurgias de mudança de sexo – que correria o risco de não ser concedida caso o tran-sexualismo seja retirado do CID – Mapelli sus-tentou que o conceito de saúde não se restringe à ausência de enfermidades. “Saúde é bem estar físico, psicológico e social”. Na visão do promotor, portanto, o SUS deve continuar oferecendo o ser-viço para garantir o bem estar psíquico do cidadão, independente da exclusão da transexualidade do CID. Saadeh ressaltou que, para os médicos, será muito difícil justificar uma intervenção cirúrgica sem um fundamento científico. “O que se busca hoje é uma causa biológica para o transexualis-mo”, afirmou o psiquiatra, ao citar a grande influ-ência de andrógenos circulantes durante a gesta-ção do transexual. “O desenvolvimento do cérebro deles é diferente do resto do corpo”.

Saadeh ressaltou que nem todos que desejam a ci-rurgia estão enquadrados no perfil para mudar de sexo devido à grande incidência de pessoas que passam por uma fase de instabilidade sexual e que não são, neces-sariamente, transexuais. “É fundamental a vivência do indivíduo no papel do gênero”, disse. “Por isso, é im-possível determinar se uma criança é um transexual”.

Clara Cavalcante questionou a percepção social de que os transexuais são todos iguais. “Não pode-mos padronizar os transexuais em um CID”, disse. “Temos trajetórias diferentes porque andamos com pés diferentes”. A psicóloga também alertou para a confusão que a sociedade faz entre os termos ‘transexualidade’ e ‘homossexualidade’. “Se a lei de criminalização da homofobia não for bem elabo-rada, podemos ser excluídos dela por não sermos homossexuais”, ponderou. A falta de entendimento das terminologias também foi ressaltada pelo mé-dico Alexandre Saadeh. “É possível ter uma identi-dade de gênero com o sexo oposto e uma orienta-ção sexual pelo mesmo sexo”, esclareceu o médico, diferenciando a transexualidade da homossexuali-dade. “Um homem pode desejar ter o corpo de uma mulher para se relacionar com outras mulheres ou com homens”.

Os direitos dos transexuais e homossexuais é um tema novo no universo jurídico. A Promotoria de Justiça Direitos Humanos foi criada há pouco mais de um ano e, apenas em 2008, foi realizada a 1ª Conferência Nacional LGBT no País. A Secretaria Nacional de Direitos Humanos aprovou um 2009 o ‘Plano Nacional da Cidadania e Direitos Humanos LGBT’ - o primeiro marco normativo dos direitos desta população no Brasil. O projeto de criminali-zação da homofobia anda a passos lentos e ainda encontra barreiras jurídicas e religiosas. “Este é um dos grandes eventos alinhados com uma das propostas da Escola Superior do Ministério Público: a discussão sobre os temas mais atuais ligados aos Direitos Humanos”, afirmou a Procuradora de Jus-tiça Eloisa de Sousa Arruda, diretora do Centro de Estudos do Ministério Público.

“A maioria dos transexuais não sabem que o Mi-nistério Público pode nos ajudar. Por isto, é tão im-portante a realização de eventos desta natureza”, parabenizou Carla Machado.

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palestra

A adulteração de combustível e os crimes re-lacionados à prática geram inúmeros prejuízos ao consumidor final, ao Poder Público e ao meio am-biente, devido ao transporte de substâncias peri-gosas e tóxicas. O Sindicato Nacional das Distri-buidoras de Combustíveis (Sindicom) calcula que a sonegação no mercado de combustíveis chega a R$ 2,6 bilhões por ano. O álcool seria responsável por uma evasão fiscal de R$ 1 bilhão. Em São Paulo, são apreendidos mensalmente cerca de 120 mil litros de combustível adulterado.

Para discutir o tema, a Escola Superior do Minis-tério Público promoveu a palestra “Aspectos práti-cos da Atuação do Ministério Público no Enfrenta-mento à Adulteração de Combustíveis”, realizada na Universidade São Francisco, em Bragança Paulista, durante a abertura da ‘Semana Jurídica’ da institui-ção de ensino. Ministrou a exposição o promotor de justiça Luiz Alberto Segalla Bevilacqua, com a pre-sença do debatedor e promotor de justiça Cristiano Pereira Moraes Garcia, também coordenador do 15º Núcleo Regional da ESMP – Bragança Paulista.

Luiz Alberto Bevilacqua, que desbaratou um esquema altamente organizado de adulteração de combustíveis na cidade de Limeira, destacou os principais aspectos que devem nortear a investiga-ção de um promotor de justiça no combate a este crime. O membro do MP também enfatizou a impor-tância da investigação não se limitar ao delito prin-cipal e ampliar o foco para as outras práticas ilegais que acompanham a adulteração, entre elas, a lava-gem de capitais, sonegação fiscal, crimes ambien-tais, crimes contra as relações de consumo, forma-

O enfrentamento à adulteração de combustíveis

ção de quadrilha e crimes de falsidade. O promotor de justiça, que exerce um trabalho de referência no combate à adulteração de combustíveis, mapeou o sistema completo de inteligência da organização criminosa que, durante oito anos, burlou as blitz de fiscalização dos órgãos públicos.

O evento contou com a grande participação do promotor Cristiano Pereira. O debatedor tratou da necessidade de um trabalho integrado nas áreas cri-minal e de proteção ao consumidor, devendo, neste sentido, ser o inquérito civil um instrumento eficaz de produção probatória, não somente para o ajuiza-mento da ação civil pública, mas também para per-mitir o posterior oferecimento da denúncia em face dos responsáveis pela adulteração do combustível.

Além do Ministério Público, outras instituições do Estado se movimentam para combater a prática criminosa. Em dezembro do ano passado, foi apro-vada pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo a Lei 13.918, que eleva a alíquota de ICMS in-cidente sobre os solventes de 18% para 25%, igua-lando-se à da gasolina. O aumento busca eliminar a vantagem econômica gerada pelo uso fraudulento do solvente na adulteração.

Luiz Alberto Bevilacqua, promotor de justiça em Limeira

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palestra

Até 1990, as crianças e adolescentes estavam desprotegidas pelo sistema jurídico. Durante a vi-gência do Código de Menores – conjunto de leis que regulamentavam a conduta de indivíduos com menos de 18 anos - não havia qualquer distinção entre crianças e adolescentes. Nos orfanatos, os adultos não se relacionavam com os pequenos, que chegavam a desenvolver um dialeto próprio para se comunicar. Eram os anos de chumbo, em que qualquer criança poderia ser apreendida sem ordem judicial, flagrante de crime ou contravenção penal. “Bastava que ele tivesse em situação irre-gular”, relembrou o procurador de justiça Jurandir

Os 20 anos do ECAHá duas décadas, Estatuto inovador incluiu as crianças menos favorecidas no sistema de direitos

Norberto Marçura. Nesta época, eram comuns os casos de apreensão por perambulação ou simples-mente porque a criança jogava bola na rua. O direi-to de defesa praticamente não existia. De natureza discriminatória, o Código associava pobreza a de-linquência, percebendo nos menores carentes uma ‘tendência natural à desordem’.

A situação se tornou incompatível a partir da promulgação da Constituição de 1988, fundamenta-da no princípio da dignidade da pessoa humana, e da Convenção Internacional dos Direitos da Criança da ONU (1989), que proclamou que a infância tem direito a cuidados e assistência especiais. O Bra-sil precisava se atualizar. Até que o Ministério da Justiça propôs a formação de um grupo de estudos para delinear as diretrizes básicas da infância e da adolescência. O objetivo era elaborar um novo esta-tuto que incluiria no sistema de direitos os meno-res carentes e portadores de deficiência. “Foi uma revolução no ordenamento jurídico brasileiro”, afir-mou Francisco Stella Júnior, subprocurador geral de Justiça. “Surgia uma lei que não mais trataria as crianças e adolescentes pobres como objetos, mas sujeitos de direitos”.

Para celebrar as duas décadas da lei que tornou a sociedade brasileira mais humanitária, a Escola Superior do Ministério Público realizou no dia 13 de outubro a palestra “20 anos de vigência do Estatuto da Criança e do Adolescente”, prestando as justas homenagens aos procuradores de justiça Munir

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Cury, Paulo Afonso Garrido de Paula e Juradir Nor-berto Marçura, membros do grupo que formatou o ECA. “Acompanhei de perto o momento da elabora-ção do Estatuto. É uma legislação que serve de mo-delo para diversos países no mundo. Foi elaborada por pessoas que plantaram uma árvore que cresceu e frutificou. Hoje, a terceira geração deve cuidar des-tes frutos”, afirmou a procuradora de justiça Eloisa de Sousa Arruda, diretora da Escola Superior.

Jurandir Norberto Marçura relembrou da impor-tância de Paulo Salvador Frontini, procurador geral de justiça que resgatou as curadorias de menores, esquecidas ao longo dos anos. “Era muito reduzido o número de promotores designados para atuar na área”, disse o procurador. “Os despachos vinham prontos do cartório e os promotores e juízes ape-nas assinavam os documentos”. Munir Cury, procu-rador de justiça aposentado, ressaltou que, nestes anos, a atuação do MP dependia da benevolência do magistrado. “Não conseguíamos dar nenhum pas-so de transformação”, disse. “Estávamos de pés e mãos atados”.

Além da intensa burocracia que comprometia a motivação dos promotores de justiça para atuar na área, os direitos da infância e da juventude não eram prioridade nas instituições do judiciário. A partir da iniciativa do MP de São Paulo, foram es-tabelecidas reuniões periódicas para estimular os

membros da instituição a atuar exclusivamente na área. “Foi graças às ações civis interpostas pelo Mi-nistério Público Estadual que foi possível erradicar a falta de vagas no ensino fundamental”, afirmou Jurado STF que utilizam o princípio constitucional da ‘frat o debate na esfera do Poder Judiciário – ha-via um conflito entre o Código de Menores e a Dou-trina da Proteção Integral. A partir da contribuição técnica do grupo de juristas na elaboração da nor-ma legal, membros da sociedade civil organizada tiveram uma participação efetiva na formulação do ECA. “Foi uma grande revoada cívica que conferiu liberdade às crianças e adolescente no território nacional”, disse Munir.

O procurador de justiça Paulo Afonso Garrido de Paula ilustrou a atmosfera favorável dos tempos da formulação da lei, elaborada com intensa participa-ção do povo, que ansiava pela democracia. “O ECA foi fruto da resistência democrática à ditadura mi-litar”, afirmou Paulo. “Hoje, podemos ingressar em juízo para questionar políticas públicas e defender o direito à educação, à saúde e ao lazer. Naquele tempo, isto era inconcebível”.

Sobre as prospecções atuais do Estatuto, Luiz Roberto Jordão Wakim, promotor de justiça da in-fância e da juventude em Barueri (SP), criticou a falta de dados nos Conselhos de Direitos e Conse-lhos Tutelares, que não coletam informações para

“Graças às ações civis interpostas pelo Ministério Público Estadual foi possível erradicar a falta de vagas no ensino fundamental”Jurandir Norberto Marçura, procurador de justiça

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a formulação de políticas públicas na área da infân-cia e juventude. Segundo o promotor, um estudo da Secretaria de Direitos Humanos revela que apenas 23% dos conselhos de direitos elaboraram algum tipo de diagnóstico nos estados brasileiros para um plano municipal de ação. “O judiciário também de-veria se aproximar destes órgãos”, afirmou Wakim. “Nós, operadores do Direito, temos a propensão histórica de trabalhar dentro dos gabinetes”.

A respeito dos novos desafios propostos na área, o promotor de justiça Fernando Henrique de Moraes Araújo foi enfático. “O nosso desafio é tirar o ECA do papel”, afirmou o promotor, que defende a criação de delegacia especializadas no atendimento ao menor e a formulação de políticas públicas para lidar com o grande número de jovens dependentes químicos. O promotor de justiça também ressaltou que o Projeto de Lei 2.654/2003 – conhecida como ‘lei da palmada’ - será um desafio para toda uma geração que rea-giu de maneira negativa à proposta. “Não vai ser do dia para a noite que vamos reeducar a população e mudar esta cultura”. Entre os desafios previstos para 2011, o promotor ressalta a discussão em torno da redução da maioridade penal e a lei do depoimento sem dano, que visa beneficiar os menores que sofre-ram abuso sexual.

“Precisamos centralizar os esforços para for-çar o poder público a investir na recuperação de

crianças e adolescente vítimas das drogas. Para cada menor recuperado, teremos um adulto a menos ocupando as vagas nos presídios”, afir-mou Jurandir.

Sobre os Projetos de Lei que tramitam no Con-gresso Nacional que visam reduzir a maioridade penal e a atuação do Ministério Público na apura-ção de atos cometidos por adolescentes em conflito com a lei, Franciso Stella Júnior clama para uma reação da comunidade jurídica. “São propostas que podem colocar por terra as conquistas obtidas na mais significativa Lei do nosso País”, considerou o subprocurador.

Também participaram do evento Irandi Pereira, doutora em educação pela USP, a Irmã Maria do Ro-sário Leite Cintra e Ruth Pistori, membros da Pas-toral do Menor (CNBB). Entre os presentes na pla-teia, registrou-se a presença do vereador Floriano Pesaro e José Roberto Bellintani, superintendente do Instituto São Paulo contra a Violência.

“O trabalho com a infância e a juventude muda a vida de quem atua nesta área”, afirmou o promo-tor de justiça Lélio Ferraz de Siqueira Neto, coor-denador da área da infância e juventude do Centro de Operacional Cível e de Tutela Coletiva, um dos mais entusiastas membros do Ministério Público na defesa dos direitos dos menores, idealizador da homenagem aos precursores do Estatuto.

“O trabalho com a infância e a juventude muda a vida de quem atua nesta área”Lélio Ferraz de Siqueira Neto, promotor de justiça, coordenador da área da infância e juventude do Centro de Operacional Cível e de Tutela Coletiva

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painel

O Brasil é o 73º no ranking de 169 nações e ter-ritórios do IDH 2010 (Índice de Desenvolvimento Hu-mano). A Argentina, país vizinho e com o Produto Interno Bruto quatro vezes menor que o brasileiro, ocupa o 46º lugar. Próximos ao Brasil estão a Co-lômbia (79º), o Equador (77º), o Irã (70º) e a Vene-zuela (75º). Os dados foram divulgados na quinta--feira, 4 de novembro, pelo Programa Nacional das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). No Brasil, 19,7% da população estão abaixo da linha da miséria (renda inferior a R$ 120/mês), e 10 milhões de pessoas, em situação de miséria extrema, ga-nham menos de US$ 1 por dia.

Oportunamente, na mesma data do lançamento do relatório, a Escola Superior do Ministério Público reuniu especialistas nas áreas de Direito Econômi-co e Direitos Humanos no painel “Capitalismo Hu-manista”, realizado nos dias 4 e 5 de novembro de 2010. O evento colocou em discussão como o atual capitalismo pode comprometer o bem estar social das sociedades democráticas e apresentou novas perspectivas jurídicas para a preservação da liber-dade oferecida pelo capital sem comprometer a igualdade necessária ao desenvolvimento humano.

O professor doutor Ricardo Hasson Sayed, coor-denador da disciplina de Direito Econômico da PUC--SP, ressaltou que a Constituição Federal aponta

O lucro do bem estar socialEvento debate o capitalismo humanista como o novo modelo econômico para o Séc. XXI

para a necessidade de um capitalismo com inter-ferência jurídica, baseado na valorização do traba-lho humano. “É uma lógica diferente do capitalismo neoliberal, onde não está prevista a intervenção do Estado na economia”, disse. Sayed explicou ainda que o capitalismo tradicional está historicamente estruturado nas liberdades inatas – a primeira di-mensão dos direitos humanos – excluindo os prin-cípios da igualdade e da fraternidade, previstos na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. “Precisamos fazer a substituição da mão invisível do mercado pela mão visível do Direito”, afirmou Marcelo Benacchio, juiz de direito.

Os palestrantes defenderam a substituição do conceito do antropocentrismo – que coloca o ho-mem como o centro de todas as coisas – pelo an-tropofilismo, que entende os direitos difusos como o centro de todas as coisas. “Quando percebemos o homem como um ser super poderoso, conferimos a ele o poder de aviltar os seus pares”, considerou o professor Sayed. “O homem não é um ato isolado da criação, mas o fruto de um trabalho em rede”.

Apesar da abordagem do capitalismo humanista ainda se manifestar de forma teórica nos debates jurídicos, há exemplos de decisões das instâncias superiores que já utilizam as bases de conceitos relativos ao tema nas sentenças. “Não há dignida-

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de da pessoa humana sem solidariedade”, afir-mou o promotor de justiça Roberto Senise Lisboa, ao apresentar três acórdãos do STF que utilizam o princípio constitucional da ‘fraternidade’ para fundamentar as decisões em prol dos Direitos Hu-manos. Entre os exemplos citados, uma decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo do dia 30 de setembro de 2010 admitiu a suspensão dos juros cobrados de um pai que tentava reorganizar a vida financeira após a perda de um filho, vítima de leu-cemia. Na mesma direção, o STF garantiu a gratui-dade do transporte público aos idosos, decidindo contra o argumento da Associação Nacional das Empresas de Transporte Urbano, de que o disposi-tivo atinge o direito constitucional da preservação do equilíbrio econômico-financeiro nos contratos. A ministra Carmen Lúcia, relatora da decisão, res-saltou que o artigo 39 da Lei 10.741/03 e o artigo 230 da Constituição asseguram o direito de uma dignidade humana mínima no sentido da integra-ção social do idoso.

O promotor de justiça Ronaldo Porto Macedo ilustrou entre os exemplos da prática do capitalis-mo humanista a formação de empresas em coope-rativa ou Joint Ventures, além das iniciativas esta-tais da seguridade social para atender ao princípio constitucional da solidariedade. “É uma forma de

todos contribuírem para custear os riscos de al-guns”, disse.

Ao refletir sobre a responsabilidade constitu-cional dos três poderes e da iniciativa privada, os membros do grupo de estudos do Capitalismo Hu-manista também defenderam que a sociedade ci-vil deve assumir o seu papel para a efetividade dos Direitos Humanos. “Não se pode cobrar tudo do Estado. A sociedade precisa formar associações e se organizar para zelar pelos interesses de todos”, afirmou o procurador de justiça Motauri Ciocchet-ti de Souza, que ressaltou a importância de uma mudança cultural na sociedade brasileira para o triunfo da solidariedade. “O egoísmo tem que ser retirado da nossa cultura social e pessoal no nosso dia-a-dia”, afirmou.

Também participaram do evento os promoto-res de justiça Vidal Serrano Nunes Júnior e Eduar-do Dias de Souza Ferreira, o procurador de justiça Oswaldo Henrique Duek Marques, a professora as-sistente mestre da PUC-SP Carolina Alves de Souza Lima, o professor titular da PUC-SP Wagner Balera, o professor de direito econômico da PUC-SP Thiago Lopes Matsushita, o professor Willis Santiago Guer-ra Filho, PhD em filosofia pela UFRJ, e o professor Cláudio Finkelstein, doutor em Direito Internacional pela PUC-SP.

“Não há dignidade da pessoa humana sem solidariedade.”Roberto Senise Lisboa, promotor de justiça da área do consumidor

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Há 14 anos, foi realizado o primeiro Congresso do Meio Ambiente do Ministério Público do Esta-do de São Paulo. Desde então, o evento se tornou uma referência por reunir as maiores autoridades jurídicas na área ambiental que colocam em debate os temas mais atuais relativos à saúde do planeta. “Muitas das decisões do STJ foram fundamentadas nas teses apresentadas neste Congresso”, relem-brou o procurador de justiça Jorge Luis Ussier, co-ordenador geral do Centro de Apoio Operacional das promotorias cíveis e de tutela coletiva. “As grandes mudanças conquistadas no Código Florestal se de-vem às intervenções do Ministério Público”.

Entre os temas centrais, foram discutidos ‘a tu-tela da biodiversidade e do ordenamento urbano’ e ‘a atuação do Ministério Público como indutor de políticas públicas’. Em vídeo gravado especialmen-te para o evento, o Ministro do STJ Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin, que não pode estar presente, relembrou que foi o MP de São Paulo, no campo ambiental, o primeiro no País a forçar os contornos tradicionais daquilo que o Poder Judici-ário denominava ‘políticas públicas’.

“Se os seres humanos desaparecerem da Terra, os animais e as plantas não seriam prejudicados. Ao contrário, se os animais desaparecessem o homem desapareceria com eles”Wallace. Citado por BELTRÁN BALLESTER, E. El delito ecológico, en medio ambiente.

Os promotores do ‘Verde’Congresso de Meio Ambiente, Habitação e Urbanismo reúne membros do Ministério Público para discutir a biodiversidade e as alternativas de ocupação do solo

congresso

O ministro relembrou as dificuldades, inclu-sive institucionais, de inserir o tema na pauta da Justiça. Herman citou o caso de um promotor de justiça que ingressou com uma ação civil pública para obrigar a municipalidade da sua comarca a tratar o esgoto doméstico, barrada nas instâncias superiores do MP. “Um procurador de justiça deu um parecer demolidor dizendo que o Ministério Público não teria atribuição de interferir em po-líticas públicas”, disse. O Tribunal de Justiça se-guiu a mesma orientação. “Quem perdeu não foi o MP, mas milhares de paulistas que deixaram de ter o saneamento básico”, afirmou o Ministro, que comemora a mudança na mentalidade. Hoje, os Tribunais chancelam a posição do MP na indução de políticas públicas e produzem cada vez mais ju-risprudência pela imprescritibilidade do dano am-biental. “O MP pode e deve cobrar a execução de políticas públicas legisladas. O que não pode de-terminar ao administrador a forma de execução”, pontuou o ministro.

O professor doutor João Carlos Nucci ministrou exposição sobre o planejamento da ocupação do

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espaço, apresentando imagens de pontos de inun-dação em espaços urbanos que deveriam ser de-socupados no Centro de São Paulo e edificações no bairro da Barra Funda que agravam a impermeabi-lização do solo. “Uma das possibilidades para evitar

A palestra inaugural do Congresso foi ministra-

da pelo magistrado emérito do Tribunal Supremo

da Espanha José Antonio Martín Pallín, que enume-

rou algumas medidas adotadas na União Europeia

quanto à questão ambiental, como a entrada em vi-

gor, a partir de fevereiro de 2011, da maior reforma

ambiental do bloco, determinando graves sanções

àqueles que cometerem danos ambientais nos pa-

íses-membros da Comunidade. Entre as mudanças,

uma ampla revisão do impacto ambiental gerado

pelos trens de alta velocidade.

Pallín também falou sobre a expansão da bolha

imobiliária na Espanha, “com um crescimento no

número de moradias que supera o dos demais pa-

íses”, e sobre norma que entrou em vigor no dia 23

de dezembro, enrijecendo a punição contra os cons-

trutores de obras irregulares. Para ele, “a constru-

ção de uma obra ilícita também é um problema da

administração pública da cidade”. O magistrado to-

cou em pontos revolucionários na esfera do Direito

Ambiental, como a possibilidade de um único indiví-

duo ingressar com uma ação popular e a responsa-

bilização penal do agente do dano.

A Espanha e a Corrupção no Meio Ambiente

José Antonio Martín Pallín, magistrado emérito do Tribunal Supremo da Espanha

o dano é a construção de muros de contenção nas regiões ameaçadas”, afirmou.

Eduardo Soares de Macedo, técnico do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) falou sobre a ne-cessidade da elaboração de um banco de dados so-bre áreas de risco. “O mapeamento é decisivo para a distribuição de verbas aos municípios”, avaliou. Em novembro, o Governo Federal disponibilizou R$ 221,3 milhões para obras do PAC 2 nos municípios de Araraquara, Barretos, Franca, Ribeirão Preto, São Carlos e Sertãozinho. Entre outras aplicações, os re-cursos serão utilizados para controle de enchentes e na remoção de famílias das ocupações irregula-res. “Levaremos pelo menos 50 anos para sanar os problemas das áreas de risco no estado”, afirmou Eduardo. São Paulo tem cerca de 1,6 mil favelas com mais de 1,5 milhões de habitantes – o equivalente a quatro vezes a cidade de Florianópolis.

Sobre o amplo debate da compensação ambien-tal, o professor da USP Jean Paul Metzer, doutor pela Universidade de Toulouse (França), apresen-tou um material sobre o histórico do desmatamento na Floresta Amazônica, que entre os anos de 1984 e 1998, perdeu grande parte da sua reserva ambien-tal. “Não se pode realizar compensação ambiental em áreas distintas”, afirmou Jean Paul. “Isto afeta todo o ecossistema local”.

A complexidade dos efeitos do dano ambiental também foi objeto da palestra do professor José Rubens Morato Leite, da Universidade Federal de Santa Catarina, que diferenciou os direitos am-bientais de primeira geração – que realizavam ações pontuais de reparação – e os de segunda ge-ração – que consideram os efeitos globais do dano sob justificativa científica ancorada na pluralidade jurídica. “24 anos após o acidente de Chernobyl, a radiotividade ainda faz vítimas”, disse. “A conta-minação tem efeitos transtemporais infindáveis e sem fronteiras”.

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O professor defendeu um entendimento mais completo do desenvolvimento sustentável pela so-ciedade, que ainda percebe o conceito pelo viés do crescimento econômico e não pela preservação do meio ambiente. “O estudo prévio do impacto am-biental ainda é negligenciado pelo poder público”, disse José Rubens. “A idéia de que o econômico prevalece ao sustentável foi incorporada à legisla-ção brasileira”, acrescentou o promotor de justiça Luis Roberto Proença.

José Rubens apresentou ainda decisões do STJ que resguardam o conceito da sustentabilidade, en-tre elas, a do Ministro Herman Benjamin, que deter-minou a remoção de um hotel para interromper o dano ambiental. O desembargador Sérgio Seiji Shi-mura, ao palestrar sobre a execução de Termos de Ajustamento de Conduta (TACs) e acordos judiciais, apresentou decisão da mesma corte de que o TAC não tranca a ação penal. “A esfera administrativa é independente do crime”, disse. Levantamento do Ministério Público de São Paulo revela que entre os 573 TACs propostos pela instituição, apenas 64 previam a compensação ambiental. A obrigação de destinação de verba municipal ocorreu em apenas 1,56% dos termos.

Sobre o papel do Ministério Público como indu-tor de políticas públicas, Luis Roberto Proença de-fende a atuação repressiva da instituição à madeira e carne bovina de procedência ilegal, comerciali-zadas em todo o estado. “É uma forma de conter o desmatamento no Cerrado e na Floresta Amazô-nica”, disse. O promotor também sugeriu o uso do transporte público não dependente de combustíveis fósseis e a retirada de circulação dos automóveis obsoletos. “Também precisamos garantir o apro-veitamento energético do gás metano proveniente dos aterros sanitários”, disse. As propostas do pro-motor, formuladas em tese, foram aprovadas por unanimidade.

Também ministraram as palestras Adilson Dallari; Jean Paul Metzger, Paulo Kageyama, Cláu-dia Terdiman Schaalman; Alvaro Luiz Valery Mirra; Eládio Luiz da Silva Lecey; José Carlos de Freitas, Guilherme Athaide e Ivan Carneiro Castanheiro.

O evento também foi de grandes homenagens.

No ultimo dia do ciclo de palestras, o Congresso

reverenciou o procurador de justiça aposentado An-

tônio Visconti, pelo seu importante papel na efetivi-

dade da democracia institucional durante os anos da

ditadura militar no Brasil. “A carreira do Dr. Visconti

foi de ‘amassar o barro’, percorrer o sertão e verifi-

car o acesso das estradas para os municípios duran-

te a expansão do Ministério Público para o interior”,

relembrou Francisco Stella Júnior, que proferiu as

homenagens ao nobre colega. “Ele sempre lutou

pelo contraste de idéias, é um verdadeiro defensor

do espaço dinâmico”. Com a palavra, Visconti agra-

deceu as homenagens e parabenizou a realização do

Congresso. “A sociedade espera o gigantismo con-

quistado pelo Ministério Público na defesa do Meio

Ambiente”, afirmou o procurador, fundador do Mo-

vimento Ministério Público Democrático. “É preciso

valorizar cada funcionário do MP. Somos nós que

resguardamos o papel de tutores da sociedade para

fazer valer os seus direitos”.

* Confira o material das apresentações na página

http://www.esmp.sp.gov.br/2010/material_congresso_

meio_ambiente.html

Antônio Visconti, procurador de justiça aposentado

O defensor da pluralidade

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livros

Uma breve história da teoria do direito ocidentalAutor: John M. Kelly Editora: WMF Martins Fontes 1º Edição

Esta obra única esboça o desenvolvimento da teoria jurídica desde os tem-pos pré-romanos até o século XX. Ela visa relacionar a evolução da teoria do direito com os desenvolvimentos paralelos da teoria e da história polí-ticas e dos importantes acontecimentos políticos, religiosos, econômicos e contemporâneos. Cada capítulo começa com um panorama histórico ge-ral do período pertinente, ancorando a teoria do direito na história geral contemporânea, evitando a abordagem mais convencional do estudo das ‘tradições’ ou ‘escolas’. John Maurice Kelly lecionou Ciência Jurídica e Di-reito Romano na University College, em Dublin. A coleção também traz as obras: “O Conceito de Direito”, de H. L. A. Hart; “A Economia da Justiça”, de Richard A. Posner; e “Domínio da Vida”, de Ronald Dworkin.

Crimes contra a administração públicaAspectos PolêmicosCoordenação: Marcelo Xavier de Freitas Crespo Editora: Quartier Latin 1ª Edição

A administração pública é muito dinâmica em seu sentido estrutural e or-gânico, de modo que, além das contínuas transformações que sofre, gravi-tam ao redor dela uma série de entidades híbridas ou, pelo menos, mal de-finidas e que geram dúvidas quanto a pertencerem ou não à Administração para fins penais. Leis específicas instituíram crimes contra a Administração Pública, mas sem essa natureza expressa, de modo a dificultar o respectivo enquadramento como, por exemplo, os crimes da Lei de Licitações. De ou-tra parte, a legislação atribui tal natureza a crimes que remotamente pode-riam ter como bem jurídico nuclear a regularidade da administração, como a Lei de Loteamentos que, para o loteamento clandestino, atribui expressa a natureza de crime contra a administração pública.

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Panorama atual das tutelas individual e coletivaEstudos em homenagem ao professor Sérgio ShimuraCoordenação: Alberto Camiña Moreira, Anselmo Prieto Alvarez e Gilberto Gomes BruschiEditora: Saraiva1ª Edição

A obra oferece mais de 50 estudos sobre tema indispensável ao aprofun-damento na área do direito processual: as tutelas individual e coletiva. Os coordenadores reuniram os nomes mais expressivos da doutrina à luz das novas teorias do direito processual, marcado por intenso movimento de renovação. Sérgio Shimura é bacharel, mestre, doutor e livre-docente em Direito pela PUC-SP. Membro associado do Instituto Brasileiro de Direito Processual e titular, da Academia Paulista de Direito, é ex-procurador de Justiça e desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo. Há décadas, cultiva a atividade docente, a produção literária e a orientação de teses, influenciando gerações de processualistas brasileiros e contribuindo para a evolução da doutrina jurídica nacional.

Lavagem de DinheiroSérie: Legislação Penal EspecialAutor: Cássio Roberto ConserinoEditora: Atlas1ª Edição

O livro tem como objetivo examinar as questões sobre a criminalidade que envolvem o delito de lavagem de dinheiro, escorando os entendimentos nos julgados do STJ e STF. Discorre sobre a origem, conceituação, normatiza-ção internacional e nacional que trata do tema, inclusive, trazendo à baila cartas–circulares e resoluções do Banco Central. Entre outras abordagens, discorre sobre os bens jurídicos tutelados pela lavagem e sobre o rol ta-xativo dos crimes anteriores à prática. A coletânea também traz as obras: “Crime organizado e institutos correlatos”, de Cássio Roberto Conserino,; Estatuto do desarmamento”, de Armando de Mattos Júnior; “Interceptação Telefônica”, de Clever Rodolfo Carvalho Vasconcelos; e “Tribunal do Júri”, de Walfredo Cunha Campos.

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Morte DignaO direito do paciente terminalAutor: Luciano de Freitas SantoroEditora: Juruá1ª Edição

A leitura do livro permite constatar que as conclusões apresentadas servirão de norte e poderão contribuir para solucionar questões polêmicas e atuais relacionadas à ortotanásia. A obra se inicia com o estudo da dignidade hu-mana como fundamento de todo o ordenamento jurídico brasileiro e analisa os princípios da Bioética que alicerçam toda a atividade dos profissionais de saúde. O último capítulo é destinado ao exame da Resolução 1.850 do Conse-lho Federal de Medicina, e do Anteprojeto do Código Penal Brasileiro. Lucia-no de Freitas Santoro é mestre em Direito das Relações Sociais pela PUC-SP; pós-graduado em Direito Penal Econômico e Europeu pela Universidade de Coimbra; especialista em Direito Penal pela Escola Superior do Ministério Público e membro da World Association for Medical Law.

Código Brasileiro de Defesa do ConsumidorComentado pelos autores do anteprojetoAutores: Ada Pellegrini Grinover, Antônio Herman de Vasconcellos e Ben-jamin, Daniel Roberto Fink, José Geraldo Brito Filomeno, Kazuo Watana-be, Nelson Nery Júnior, Zelmo DenariEditora: Forense Universitária9ª Edição

Sem fugir ao rigor analítico da ciência jurídica conceitual, os autores deste código – membros da comissão de juristas encarregada de elaborar o ante-projeto submetido à apreciação do Congresso Nacional – escreveram uma obra que também preenche suas finalidades práticas, a fim de assegurar aos profissionais do Direito e ao público em geral, melhor compreensão de matéria de interesse tão relevante a atual. A obra desenvolve de maneira singular o tema da proteção aos direitos do consumidor, inscrito no Título II – dos Direitos e Garantias Fundamentais, da Constituição de 1988, e conver-tido na Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. São efetivos os resultados desta legislação para a assimilação do conceito de cidadania.

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Eventos nos Núcleos RegionaisOutubro e Novembro de 2010

notas

A Atual Crise das Santas Casas de MisericórdiaData: 6 de outubro, em Fernandópolis O evento abordou as crises financeiras que assolam as instituições de saúde na capital e no interior. Par-ticiparam do evento o promotor de justiça Reynaldo Mapelli Júnior, coordenador da área de saúde pública do Centro de Apoio Operacional Cível e de Tutela Coletiva; João Márcio Garcia, médico e coordenador do Departamento de Fiscalização do Conselho Regional de Medicina de São Paulo; e o promotor de justiça Dênis Henrique Silva.

O Ministério Público e a EducaçãoData: 22 de outubro, em BauruDando continuidade ao ciclo de palestras promovido pela Escola Superior do Ministério Público em conjun-to com Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça Cíveis e de Tutela Coletiva – área da edu-cação, o promotor de justiça Luiz Antônio Miguel Ferreira abordou o Estatuto da Criança e do Adolescente e os reflexos da lei na educação. O promotor de justiça Luis Fernando Rocha, da comarca de Assis, falou sobre a prática do Bullying nas escolas.

Acolhimento e Conselho Tutelar: Trabalho em RedeDatas: 26 de outubro, em Registro / 26 de novembro, em São José do Rio PardoO promotor de justiça Lélio Ferraz de Siqueira Neto - coordenador da área da Infância e Juventude do Cen-tro Operacional Cível e de Tutela Coletiva - abordou nas duas cidades a importância do trabalho em rede entre promotores, psicólogos e órgãos públicos para uma abordagem multidisciplinar das questões que envolvem a criança e o adolescente. Lélio ressaltou a importância de o Ministério Público reforçar o seu papel de articulador social e investir na reintegração familiar do menor, seja na sua família de origem ou nas novas famílias acolhedoras. .

Nova Lei de Adoção e Acolhimento InstitucionalData: 30 de novembro, em Porto FelizEm continuidade ao ciclo de debates sobre a nova Lei de Sistematização da Convivência Familiar (nº 12.010, de 03 de agosto de 2009), as exposições foram ministradas pelo promotor de justiça Lélio Ferraz de Siquei-ra Neto - coordenador da área da Infância e Juventude do Centro Operacional Cível e de Tutela Coletiva – e Isabel Campos de Arruda, assistente social do MP.